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Contributo à sustentabilidade de políticas públicas de turismo em


Moçambique

Research · August 2015


DOI: 10.13140/RG.2.1.2137.2642

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1 author:

Daniel A. Zacarias
Eduardo Mondlane University
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Contributo à Sustentabilidade de
Políticas Públicas de Turismo
em Moçambique

Daniel Augusta Zacarias

Relatório Final
Agosto, 2015
Contributo à sustentabilidade das políticas
públicas de turismo em Moçambique

Daniel Augusta Zacarias

Agosto de 2015
As opiniões aqui expressas não representam necessariamente as opiniões
da Escola Superior de Hotelaria e Turismo de Inhambane (ESHTI) nem da
Universidade Eduardo Mondlane (UEM), sendo responsabilidade única e
exclusiva do autor.

Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução em qualquer


formato e sua utilização somente para fins académicos, recomendando-se
o devido reconhecimento da fonte.

Sugestão para citação:


Zacarias, D.A. (2015). Contributo à sustentabilidade das políticas públicas
de turismo em Moçambique. Relatório não publicado. Inhambane: ESHTI
ÍNDICE

Lista de figuras
Lista de tabelas
Acrónimos e abreviaturas
Resumo

Capítulo 1: Introdução geral


1.1 Introdução ............................................................................................ 1
1.2 Objectivos ............................................................................................ 2
1.3 Relevância ........................................................................................... 3

Capítulo 2: Enquadramento e contexto teórico


2.1 Turismo, sustentabilidade e políticas públicas ..................................... 6
2.2 Utilização de indicadores para planeamento sustentável do turismo .. 9
2.3 O Estado e processos de planificação do desenvolvimento turístico
.................................................................................................................. 12
2.4 Turismo no contexto de políticas públicas em Moçambique .............. 19

Capítulo 3: Aspectos metodológicos


3.1 Processo de recolha de dados ........................................................... 33
3.2 Procedimentos de análise de dados .................................................. 37

Capítulo 4: Apresentação e discussão dos resultados


4.1 Impacto das políticas públicas no desenvolvimento do turismo em
Moçambique: desafios para a sustentabilidade ....................................... 40
4.2 Factores prioritários no desenvolvimento de políticas de turismo
sustentável em Moçambique .................................................................... 47
4.3 Processos a ser seguidos para o desenvolvimento de políticas de
turismo sustentável em Moçambique ....................................................... 49
4.4 Mecanismos de gestão para a implementação de políticas de turismo
sustentável em Moçambique .................................................................... 52
4.5 Mecanismos de operacionalização de políticas de turismo sustentável
em Moçambique ....................................................................................... 54
4.6 Estratégias para desenvolvimento do turismo sustentável em
Moçambique ............................................................................................. 58

Capítulo 5: Conclusão e recomendações


Referências
Lista de figuras
Figura 1 Modelo do ciclo de vida de destinos turísticos

Figura 2 Estrutura orgânica do Ministério do Turismo de


Moçambique

Figura 3 Demonstração da dimensão económica e social do


turismo em Moçambique

Figura 4 Evolução dos indicadores do ambiente de negócios em


Moçambique, 2008-2012

Lista de quadros e tabelas


Quadro 1 Variáveis utilizadas para avaliar os processos de
desenvolvimento do turismo em Moçambique

Tabela 1 Análise descritiva dos dados

Tabela 2 Processos a ser seguidos para o desenvolvimento de


políticas de turismo sustentável em Moçambique (valores
médios e grau de consenso)

Tabela 3 Variáveis de gestão para implementação de políticas de


turismo sustentável em Moçambique (valores médios e
grau de consenso)

Tabela 4 Variáveis para a operacionalização de políticas de turismo


sustentável em Moçambique (valores médios e grau de
consenso)

Tabela 5 Factores determinantes para a elaboração e


implementação de políticas de turismo sustentável em
Moçambique (valores médios e grau de consenso)
Acrónimos e abreviaturas

AFCP Análise factorial por componentes principais

AGP Acordo Geral de Paz

CV Coeficiente de variação

Máx Valor máximo

MICOA Ministério para a Coordenação da Ação Ambiental

Min Valor mínimo

MITUR Ministério do Turismo

N Número de observações

OMT Organização Mundial do Turismo

PARP Plano Alargado para Redução da Pobreza

PARPA Plano Alargado para Redução da Pobreza Absoluta

PEDTM Plano Estratégico para Desenvolvimento do Turismo


em Moçambique

s/d Sem data

UNEP United Nations Environmental Program (Programa das


Nações Unidas para o Meio Ambiente)
Resumo
O turismo, para nações em desenvolvimento, constitui uma plataforma
importantíssima para a geração de riqueza e financiamento da despesa
publica mediante a atracão de divisas resultantes da movimentação e
permanência de pessoas. Moçambique não foge a esta realidade, tendo o
turismo já sido identificado como prioridade de desenvolvimento, tendo
como alvo acolher cerca de 4 milhões de turistas todos os anos.
Considerando os desafios associados à gestão desta quantidade de
pessoas, bem como tendo em conta a necessidade de garantir a
salvaguarda das condições ambientais, a integridade das comunidades
locais e a valorização económica advinda da atividade, este trabalho
procura, a partir de uma abordagem holística, identificar os principais
pilares para a elaboração de políticas estratégicas de desenvolvimento do
turismo com fundamentos sustentáveis. A metodologia consistiu da
aplicação de um inquérito em plataformas em rede, onde os inquiridos e
interessados em participar respondiam a questões associadas aos
processos a ser seguidos para o desenvolvimento de políticas de turismo
sustentável, os mecanismos para gestão e implementação, bem como os
mecanismos de sua operacionalização. Os resultados, identificados
através da análise de componentes principais de 71 respostas a 28
indicadores, revelam a necessidade de se prestar atenção a nove pilares
fundamentais de pilares de desenvolvimento do turismo que integram a
valorização do capital humano no sector, criação de uma nova imagem do
turismo em Moçambique, planeamento e ordenamento dos territórios
turísticos e empoderamento das instituições locais.

Palavras-chave: análise de componentes principais, políticas públicas de


turismo, sustentabilidade, destinos emergentes, Moçambique
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO GERAL

1.1 Introdução
O turismo é uma atividade económica que tem vindo a granjear
simpatia em diversos países, com destaque para países mais pobres que
vêm nesta atividade uma importante fonte de geração de divisas e
estabilidade da balança de pagamentos. Neste contexto, assiste-se a uma
corrida desenfreada para atrair mais e mais visitantes a determinados
destinos, muitas vezes em detrimento da qualidade ambiental, da
deterioração dos padrões culturais das comunidades receptoras e inflação
dos preços nos locais de visitação.

Em muitos casos, os agentes mais fortes de turismo nem sequer se


preocupam com os males acima apresentados, nem manifestam interesse
em garantir experiencias de qualidade para os grupos de visitantes. Neste
contexto, o turismo se desenvolve sem alicerces profundos, assistindo-se
em muitos casos projetos de desenvolvimento da atividade que violam as
regras de planeamento e ordenamento territorial, danificando os
ecossistemas.

Esta realidade não foge ao contexto de Moçambique. Por exemplo,


os processos de preparação e implementação do primeiro plano
estratégico para o desenvolvimento do turismo em Moçambique (2003-
2012), não tomaram em consideração a componente de planeamento
espacial, tendo apenas identificado as principais áreas para investimento
turístico (Governo de Moçambique, 2004). Para além desta experiência,

Daniel A. Zacarias 1
!
!

nenhuma outra realidade demonstra o contexto de planeamento em


Moçambique.

Entretanto, a literatura científica sobre os processos de


desenvolvimento do turismo (McLennan et al., 2014; Wang e Ap, 2013; Liu
et al., 2012; McLennan et al., 2012; Beni, 2003; Sautter e Leisen, 1999)
impõe como condição para o desenvolvimento sadio da atividade, a
necessidade de se inventariar os recursos existentes, as capacidades de
desenvolvimento e as capacidade de gestão do mesmo como argumentos
bases para efetiva planificação.

Diante destes modelos de planeamento dos processos de


desenvolvimento do turismo, e considerando a realidade vivida em
Moçambique, que elementos devem ser considerados para a planificação
dos processos de desenho e implementação de políticas de turismo
sustentável em Moçambique? É no sentido de buscar respostas a esta
questão que o presente documento se desenvolve, tomando em
consideração que a identificação de mecanismos, embora não constitua
resposta aos problemas, constitui a base para a reflexão dos diferentes
stakeholders envolvidos no sector de turismo (comunidades, mercado e
sector público), contribuindo, assim, para o desenvolvimento sadio de um
sector que tem cada vez mais peso na balança de pagamentos de
Moçambique.

1.2 Objectivos
Enquadrado nos processos de planificação do turismo a nível nacional,
este documento tem como objectivo contribuir para a definição dos pilares

2 Daniel A. Zacarias
!
estratégicos para a garantia da sustentabilidade do turismo em
Moçambique. Para lograr este objectivo, este relatório:

! Identifica o quadro político-legal e institucional para gestão do


turismo em Moçambique;
! Dimensiona o impacto das políticas públicas no desenvolvimento do
turismo em Moçambique, apresentando os desafios no contexto da
sustentabilidade
! Avalia os factores prioritários para o desenvolvimento de políticas
de turismo sustentável em Moçambique
! Identifica os processos a ser seguidos para o desenvolvimento de
políticas de turismo sustentável em Moçambique
! Identifica os mecanismos de gestão para a implementação de
políticas de turismo sustentável em Moçambique
! Identifica os mecanismos para a operacionalização de políticas de
turismo sustentável em Moçambique; e
! Avalia as estratégicas para desenvolvimento do turismo sustentável
em Moçambique

1.3 Relevância
O turismo em Moçambique já está alicerçado como estratégia de
desenvolvimento. Para esta realidade é preciso referir Jones (2008),
Governo de Moçambique (2003), Ernesto (2012). Como consequência
deste posicionamento, este sector tem atraído um grande volume de
investimentos, perdendo somente para o sector de mineração e
agricultura 1 . Estes investimentos poderão ter retorno no contexto de

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
1
Vejam-se os relatórios de investimentos em Moçambique, produzidos pelo Centro de
Promoção de Investimentos (CPI)

Daniel A. Zacarias 3
!
!

grandes projetos e atração de um número cada vez maior de turistas que


visitarão o país. Entretanto, a gestão dos fluxos de turistas é uma tarefa
árdua que necessita do empenho e envolvimento dos atores públicos a
vários níveis e esferas (Medaglia et al., 2013; Cristina de Paula, 2012;
Song et al., 2010; Alves de Moura e Montini, 2010), uma vez que estes
podem gerar descompensações económicas (inflação), destruição dos
ecossistemas e desvalorização e perda da cultura local (Brida et al., 2012;
Brida et al., 2011; Aledo et al., 2010; Ferreira, 2005; Dutra et al., 2005).

Utilizando a teoria do ciclo de vida de destinos turísticos (Butler,


1980) como exemplo, é possível verificar que os destinos apresentam uma
tendência crescente de desenvolvimento que pode ser facilmente invertida
levando o destino, antes promissor, ao declínio (Figura 1).

Esta situação não é desejável para Moçambique, na medida em


que o país tem grande potencial para o desenvolvimento da atividade e
este potencial deve ser utilizado de forma a que reverta a favor da balança
de pagamentos nacional, do melhoramento da qualidade dos
ecossistemas, da preservação dos hábitos culturais das comunidades
locais e da melhoria da qualidade de vida destas comunidades, onde o
turismo realmente acontece.

4 Daniel A. Zacarias
!
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

fases de exploração, investimento, desenvolvimento, consolidação, estagnação, declínio e,


talvez, rejuvenescimento.

Rejuvenescimento
A

B
Estágio Crítico da Estagnação
Capacidade dos
atrativos Consolidação
C
NÚMERO DE TURISTAS
Declínio
D

Desenvolvimento

Envolvimento

TEMPO
Figura 2 Ciclo de Vida das Destinações Turísticas
Figura
Fonte: (BUTLER, 1:
1980). Modelo do ciclo de vida de destinos turísticos

Durante a fase de exploração, as vendas de um produto prosseguem lentamente no


início, experimentam uma taxa de crescimento rápida, se estabilizam, e declina
Refletir sobre
subseqüentemente a sustentabilidade
maturidade do produto. das políticas públicas de turismo
Os visitantes virão a uma área em números pequenos inicialmente, pela falta do
é, na acesso,
concepção
das facilidades, deste documento,
e do conhecimento base fase,
local. Na primeira para a reflexão
a população cria algumas da
facilidades para os primeiros visitantes, caracterizados como aventureiros por Plog (2001).
sustentabilidadeEnquantodoasturismo
facilidadescomo atividade,
são fornecidas na medida
e a consciência em
cresce, os que do
números a definição
visitante
aumentarão. Com o marketing, a disseminação da informação e facilidades de acesso, a
adequada dos da
popularidade mecanismos de gestão
área crescerá rapidamente. do turismo
Eventualmente, entretanto, aservirá de guião
taxa de aumento em
números do visitante declinará quando o nível de capacidade máxima é alcançado.
metodológicoOspara fatoresodebom encaminhamento
saturação das atividades
da área podem ser identificados por fatoresrelacionadas
ambientais (por ao
exemplo escassez da terra, qualidade de água, qualidade do ar), da planta física (por exemplo
lazer e transporte,
recreação. Espera-se,
acomodação, desteou modo,
outros serviços), de fatores que
sociaisa(por
definição dos pilares
exemplo aglomeração e
ressentimento pela população local). (BUTLER, 1980).
para o desenho, Conforme implementação
se desenvolve o destino e turístico,
gestão hádas grandepolíticas
aumento nopúblicas
número de de
visitantes, e são ultrapassados os níveis de capacidade de suporte ambiental e social, fazendo
turismo,surgir
refletidas nesteEntrando
problemas graves. documento,
numa fase deacompanhem
estagnação, diminui aos processos
lucratividade com os de
turistas, os equipamentos turísticos se deterioram, a concorrência passa a superar a demanda e
planificação do terceiro
a localidade ciclo de gestão deste sector e ajudem na definição
entra em declínio.
Segundo Ruschmann (1997), para manter o nível de ocupação dos equipamentos, os
das melhores estratégias para que o turismo em Moçambique seja uma
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
atividade duradoira e com
Sociedade benefícios
Brasileira para
de Economia, todos ose envolvidos.
Administração Sociologia Rural

Daniel A. Zacarias 5
!
!

CAPÍTULO 2
ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.1 Turismo, sustentabilidade e políticas públicas


O turismo é uma atividade complexa cuja compreensão exige a
interligação de diversos ramos de conhecimentos, uma vez que representa
o conjunto de turistas e os fenómenos e relações por aqueles produzidas
em suas viagens (Fuster, 1978). Neste contexto, este atividade pode ser
percebida como processo que contem um conjunto de relações e
fenómenos existentes nos deslocamentos voluntários, caracterizados pelo
afastamento da morada permanente – com intenção de retorno – com
utilização total ou parcial dos bens e serviços orientados para a satisfação
das necessidades dos viajantes, considerando os diferentes motivos de
deslocamento (Bacal, 1999), o que ressalta a necessidade de se estudar
em um mix de abordagens multidisciplinar e interdisciplinar que integrem
todas as diversas abordagens do fenómeno turístico (Azevedo et al.,
2013).

Sendo uma atividade complexa, é mais prudente procurar


compreende-la através da sua visualização como um sistema integrado
em que as partes funcionam para gerar um todo. Tal como concebido por
Santos (1998:25), um sistema pode ser idealizado como

“O conjunto de partes que interagem de modo a atingir um


determinado fim, de acordo com um plano ou principio; ou
conjunto de procedimentos, doutrinas, ideias ou princípios
logicamente ordenados e coesos com intenção de descrever,
explicar ou dirigir o funcionamento de um todo”.

6 Daniel A. Zacarias
!
A teoria de sistemas no turismo serve como ferramenta de
desenvolvimento, para que o sistema funcione de forma organizada e
correta. Nesta perspectiva, o turismo deve ser considerado um sistema
aberto que permite a identificação de suas características básicas, que se
tornam os elementos do sistema. Sendo um conjunto de vários elementos,
o turismo sustentável também precisa dar resposta às componentes
sociais, ecológicas e económicas da sociedade onde se insere, uma vez
que segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), define o turismo
sustentável como atende às necessidades dos turistas de hoje e das
regiões receptoras, ao mesmo tempo em que protege e amplia as
oportunidades para o futuro (OMT, 2003).

O turismo sustentável é considerado o fio condutor para a gestão


de todos os recursos, não só privilegiando as componentes acima
referidas mas também salvaguardando a manutenção da integridade
cultural, dos processos ecológicos essenciais, a diversidade biológica e os
restantes sistemas que o suportam (OMT, 2003). Neste caso tem como
objectivo a gestão do meio ambiente dos recursos e das comunidades
receptoras, onde as atividades devem ser desenvolvidas para usufruto da
natureza e dos sistemas onde se reproduzem.

Com estas premissas, o turismo sustentável é uma atividade de


grande potencial para os processos de desenvolvimento de uma região,
pois permite o crescimento econômico socialmente justo, a conservação
dos recursos naturais, a valorização da identidade cultural da sociedade, e
contribui para a melhoria das condições de vida das comunidades
receptoras e demais atores sociais.

Daniel A. Zacarias 7
!
!

Entretanto, o debate sobre a sustentabilidade do turismo não reúne


ainda consensos, pois os diversos fatores, critérios e dimensões da
sustentabilidade quando inseridas no contexto de planeamento geram
controvérsias entre os atores do turismo que buscam, cada um valorizar
os aspectos positivos que lhes dizem respeito. Como sugerido por Cuello
Neto (1997):

“A ideia de desenvolvimento sustentável como uma visão


holística implica em mudanças fundamentais nos níveis de
estruturas social, econômica, política e cultural, que significa
reestruturação fundamental da presente sociedade”.

Considerando que o desenvolvimento turístico sustentável é um


processo de mudança qualitativa, produto da vontade política que, com a
participação imprescindível da população local, adapta o marco
institucional e legal, assim como os instrumentos de planeamento e
gestão, a um desenvolvimento turístico baseado em um equilíbrio entre a
preservação do patrimônio natural e cultural, a viabilidade econômica do
turismo e a equidade social do desenvolvimento (Vera Rebollo e Ivars
Baidal, 2003), é imprescindível a existência de um quadro legal e
institucional que dê suporte ao desenvolvimento sadio da atividade, uma
vez que as fronteiras do sistema turístico são permeáveis, permitindo
entradas e saídas de/para o ambiente de entorno (Bossel, 1999).

Como referido por Beni (2001:177), “a política de turismo é a


espinha dorsal do processo de formulação, do pensamento, da ação, da
execução e do fomento do desenvolvimento do turismo de um país ou
região e seus produtos finais, afigurando-se pertinentes, não só por o
turismo ser uma atividade económica chave para o desenvolvimento de

8 Daniel A. Zacarias
!
nações, como também por ser impulsionador do desenvolvimento de
outras atividades económicas e fomento de infraestruturas (Dias, 2003
citado por Zacarias, 2013).

2.2 Utilização de indicadores para planeamento sustentável


do turismo
Em todas as áreas há tempos de mudança, uns mais importantes
que outros, e alguns se movendo mais rapidamente do que outros. Esta
realidade não foge à regra no contexto de turismo, uma vez que os
processos de planificação muitas vezes são realizados em ciclos de
gestão e desenvolvimento. Em Moçambique esta situação também é uma
realidade, uma vez que o país já atravessou 2 ciclos de gestão do turismo,
preparando-se atualmente para inaugurar o terceiro ciclo. Entretanto, e
como evidenciado em diversas realidades, existe ainda uma grande
carência de planeamento do turismo, uma vez que em muitos locais a
atividade se desenvolveu de forma espontânea (Turatti de Rose, 2002).

A análise de indicadores como medida de avaliação turística, parte


do suposto que, quanto maior for o valor de um determinado recurso ou
destino turístico, maior interesse ele despertará entre seus usuários
potenciais. Esta relação de fácil compreensão permite fazer com que as
metodologias com indicadores sejam de fácil acesso para grande maioria
dos planeadores turísticos na atualidade (Moraes et al., 2013). Para os
benefícios desta atividade serem percebidos, o seu desenvolvimento deve
ser pautado em um planeamento mensurável, realístico e exequível desde
o ponto de vista da comunidade embasado nas possibilidades
mercadológicas presentes (Moraes et al., 2013; Choi e Sirakaya, 2006; Ko,
2005).

Daniel A. Zacarias 9
!
!

Qualquer atividade turística implica a ocupação do espaço e de


lugares, pelo que o seu desenvolvimento deve ser tomado em
consideração no planeamento e gestão dos locais, de forma a que não
haja uma descaracterização do território, nem uma segregação social ou
espacial. É assim necessário que seja efectuado um planeamento correto
das atividades turísticas, de modo a que estas sejam adaptadas à
comunidade local (Twininng-Ward e Butler, 2002, Vera Rebollo e Ivars
Baidal, 2003a; Vera Rebollo e Ivars Baidal, 2003b). O turismo não pode
ser visto como uma atividade isolada. Esta encontra-se dentro de um
sistema que comporta várias atividades económicas, sociais e ambientais,
o que leva a que seja necessário enquadrar a atividade turística dentro de
um determinado contexto social. Desta forma, não é possível separar o
turismo sustentável do desenvolvimento sustentável.

Uma das formas mais aplicáveis ao processo de planeamento do


turismo sustentável é a definição de indicadores que permitam a
verificação do grau de implementação dos planos e políticas. Entretanto,
construir um conjunto de indicadores para a sustentabilidade do turismo
não é tarefa fácil (Zucarato e Sansolo, 2006), na medida em que podem
envolver escalas espaciais (problemas globais, regionais e locais), exigem
abordagem integrada (do ponto de vista económico, social e ambiental),
dificuldades de mensuração da sustentabilidade (a sustentabilidade é
ampla e envolve diferentes escalas) e principalmente os conflitos de
interesse que podem surgir da sua definição (Hanai, 2009; Siena et al.,
s/d; Estender e Pitta, s/d).

Como refere Salvati (2004), enquanto os governos buscam gerar


desenvolvimento económico e social, projetar áreas geográficas como

10 Daniel A. Zacarias
!
destinos turísticos e garantir a arrecadação e circulação de divisas, o
sector privado vê o desenvolvimento do turismo como uma oportunidade
para gerar dinheiro, enquanto as comunidades locais buscam com o
desenvolvimento do turismo a melhoria das suas condições de vista, o
respeito pelos seus direitos e tradições e os turistas buscam conforto e
segurança e qualidade dos serviços e da experiencia de visitação.

Embora tenham uma ambiguidade associada, os indicadores do


turismo sustentável quando bem definidos permitem o monitoramento das
mudanças que ocorreram durante determinado período de forma
constante e consistente (UNEP, 2005), na medida em que ajudam a medir
diversos aspetos do desenvolvimento do turismo medindo o atual estagio
do sector, os principais entraves do sistema, o nível de proteção do
destino e os resultados de ações de conservação.

Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), os indicadores


fornecem informações indispensáveis para avaliar as mudanças e as
transformações ocasionadas pelo desenvolvimento do turismo em uma
área e servem como instrumento para destacar problemas, examinar
tendências e predizer condições futuras (OMT, 2003). Neste contexto, a
seleção de indicadores e seu monitoramento periódico constitui
componente fundamental para o planeamento e gestão da
sustentabilidade do turismo (Hanai, 2009).

Sendo componentes essenciais na avaliação global do progresso


rumo ao desenvolvimento sustentável (Gallopín, 1997, Gallopín, 1996),
fornecendo informações indispensáveis para a compreensão do mundo,
para tomada de decisões e para planificação de ações (MEADOWS,

Daniel A. Zacarias 11
!
!

1998), os indicadores ajudam no processo de identificação das principais


marcas de um sistema e ajudam no esclarecimento das complexas
relações existentes entre as variáveis envolvidas no turismo, constituindo-
se, deste modo, em instrumentos vitais para análise objectiva de
fenómenos (Hanai, 2009). Neste contexto, neste trabalho os indicadores
são utilizados como mecanismos de identificação do que deve ser inserido
no processo de planificação dos processos de desenvolvimento em
Moçambique.

2.3 O Estado e processos de planificação do


desenvolvimento turístico

O turismo é uma atividade marcadamente reconhecida como


geradora de impactos adversos nos locais onde ocorre, principalmente
quando as premissas básicas de seu desenvolvimento não são
respeitadas. Destaca-se na literatura científica, a degradação dos
ecossistemas, ruptura dos modos de vida das comunidades receptoras,
alienação de práticas culturais, subida desenfreada dos preços, bloqueio
dos acessos aos recursos turísticos para a população residente,
surgimento de mercados inflacionados de terra.

Uma das formas de evitar o surgimento destes resultados e garantir


que o turismo beneficia as comunidades residentes, o estado e a
economia local, bem como garanta experiencias satisfatórias para os que
a praticam, é o desenvolvimento da atividade de forma planeada, com
metas bem definidas e indicadores de medição também bem definidos.
Neste contexto, o planeamento turístico é visto como o ato de definir os
objetivos a alcançar, estipular a forma de atingir as metas propostas e

12 Daniel A. Zacarias
!
monitorar a implementação para o desenvolvimento de destinos turísticos
(Alvares, 2008).

Segundo Tyler et al., (2001), o entendimento do planeamento


turístico inicia-se com a noção de que as decisões tomadas em relação ao
turismo refletem as dinâmicas inerentes aos processos políticos, sociais e
culturais específicos de uma localidade, onde o planeamento reflete o
contexto em que se insere, seja o meio econômico, social, político e/ou
administrativo (Molina e Rodrígues, 2001). Como refere Alvares (2008),
para compreender o processo de planeamento turístico de maneira
holística, é fundamental analisar o posicionamento e as estratégias
adotadas pelos gestores públicos, a partir da reflexão sobre o ambiente
adjacente.

Para Molina e Rodrigues (2001), a compreensão deste ambiente


passa necessariamente pela análise de um conjunto de variáveis2 que dão
a possibilidade de visualização do problema e suas implicações e
possibilita o entendimento integral do ambiente, no qual o processo de
planeamento turístico está alicerçado, determinando, assim, o êxito das
ações implementadas.

Assim, o planeamento turístico enquanto factor de desenvolvimento


e base estruturante do turismo, deveria se utilizado como ferramenta para
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
2
Variáveis culturais (valores, “usos” e costumes da sociedade de um determinado destino
turístico), sociais (indicadores sociais, como saúde, educação, habitação e nível de vida),
psicológicas (comportamento dos indivíduos dessa sociedade), político-legais (aspectos
legais que regulamentam a forma de atuação dos integrantes dessa sociedade),
ecológicas (indicadores físico-ambientais com grande incidência na qualidade de vida
dessa comunidade) e econômicas (indicadores económicos).

Daniel A. Zacarias 13
!
!

todos os destinos (Molina e Rodriguez, 2001), facto que não acontece na


realidade de muitos países em desenvolvimento. Como refere Baptista
(2003), diversos destinos não executam o planeamento pró-ativo,
realizando apenas melhorias pontuais atuando somente sobre
necessidades específicas. São várias as razões para a elaboração e
implementação de planos de desenvolvimento turístico, destacando-se
segundo Faulkner e Tideswell (2006) cinco razões principais:

(i) potencializa um enquadramento comum para as organizações e


empresas que operam no sector; esse enquadramento mais
estruturado e com enfoque estratégico assegura que os
decisores incorporem considerações a longo prazo nas suas
decisões quotidianas,
(ii) o investimento moderado em planeamento turístico evita a
necessidade de meditar desde o início numa situação de crise,
criando alguma preparação para o imprevisível,
(iii) um planeamento adequado facilita a transição de aspirações
individuais para a ação coletiva/institucional,
(iv) sistemas de planeamento desenvolvidos criam uma
aprendizagem institucional e um sistema com memória, e
(v) permite reduzir as possibilidades de repetir erros passados e/ou
“reinventar a roda”.

Uma vez que o planeamento turístico tem como objectivo organizar


a atuação humano no contexto de turismo, é necessário perceber quais os
principais agentes e suas responsabilidades no processo. À semelhança
do processo de turistificação, atuam no processo de planeamento
turísticos diversos agentes tais como o Estado, o sector privado, os
turistas e as comunidades receptoras do turismo (inserir fontes). Não

14 Daniel A. Zacarias
!
constitui objecto deste trabalho a análise das intervenções de cada um
destes elementos. Neste contexto, procura-se compreender o papel do
Estado nos processos de planificação do turismo e suas responsabilidades
na sustentabilidade da atividade, à luz da moderna sociedade capitalista
(Jenkins, 2006).

Segundo este autor, o Estado3 é mais do que o governo e todas


atividades humanas são por este influenciadas através de um conjunto de
instituições (Jenkins, 2006). Segundo um dos clássicos do pensamento
político,

“More than ever before men now live in the shadow of the state.
What they want to achieve, individually or in groups, now mainly
depends on the state’s sanction and support. . . It is possible not
to be interested in what the state does; but it is not possible to
be unaffected by it” (Miliband, 1973:3)

Nesta abordagem, o papel do Estado no desenvolvimento do


turismo resume-se às decisões e ações que afectam o desenvolvimento
do turismo e recreação em áreas protegidas, domínio da economia
corporativa por poucas companhias e/ou indivíduos, elevada concentração
do mercado no transporte e outras áreas da industria do turismo, estrutura
do turismo, mecanismos de fixação dos preços e barreiras à entrada em
área como o transporte aéreo, a economia política do turismo,
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
3
Definido como “an ensemble of agencies of legitimate coercion and . . . an amalgamated
set of collective resources which intentionally and unintentionally produce policy
outcomes. It is a structure of different political forces and institutions which attempt to
justify chosen policy directions and objectives. In policy terms, the state is a contingent
polit- ical entity which reflects the interchanges of values, the outcomes of interest
clashes, and accumulated patterns of resource usage. . . . The state is a complex
structure which defies precise definition, but which remains of crucial importance in under-
standing the contours of public policy” (Davis et al., 1993: 18-19)

Daniel A. Zacarias 15
!
!

comportamento organizacional e desenho de políticas de turismo e na


relação entre as políticas desenvolvidas e as comunidades locais (Jenkins,
2006).

Neste contexto, assume-se o papel preponderante do Estado nos


processos de desenvolvimento do turismo sustentável, uma vez que

“O Estado tem como um dos principais elementos, senão o


principal, o papel de organizar a sociedade em suas diferentes
dimensões (económica, política, social, cultural, ambiental e
jurídica). Para isso, ele tem diversas formas de conduzir este
processo, estas formas se apresentam como características
mais explícitas, como por exemplo, na elaboração de leis, já
outras são incutidas de formas menos incisivas, como a
condução de ações através de projetos que interessam o
próprio Estado e sociedade como um todo” (Azevedo et al.,
2013).

Assim, o Estado surge como o elemento-chave que rege o


desenvolvimento do turismo sustentável, através da definição de um
quadro de políticas públicas 4 , permitindo a distinção entre o que se
pretende fazer e o que se faz, o envolvimento dos diversos atores e níveis
de decisão, os objectivos a ser alcançados e os impactos a curto prazo
(Souza, 2006). Assim, é possível colocar a política pública como o
elemento através do qual se analisa a configuração de um programa, a
sua implementação e impacto, o grau de satisfação e o seu nível de
eficiência, devendo os resultados influenciar, modificar ou terminar
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
4
Entenda-se como “um conjunto de regulamentações, regras e diretrizes, diretivas,
objectivos e estratégias de desenvolvimento e promoção que fornece uma estrutura na
qual são tomadas as decisões coletivas e individuais que afetam diretamente o
desenvolvimento e as atividades diárias dentro de uma circunscrição” (McIntosch,
2002:294).

16 Daniel A. Zacarias
!
politicas anteriormente definidas (Zacarias, 2013).

Reconhecido o papel do Estado como elemento aglutinador dos


processos de desenvolvimento do turismo, torna-se pertinente perceber
como as políticas públicas de transformam em guiões de desenvolvimento.
Neste contexto, o papel do Estado se vê reforçado quando as políticas
públicas se traduzem em planos ou processos de desenvolvimento, ou
seja se tornam mediadores entre a decisão e o ato de investir e entre a
ação planeada e sua execução (Alvares, 2006).

Para Lourenço (2003) citado por Alvares (2006), os planos-


processo são processos contínuos de planeamento, onde
necessariamente os planos são utilizados como instrumentos essenciais,
sendo elaborados e implementados com posterior avaliação para o
estabelecimento de novos planos. Lamentavelmente, e como atrás
referenciado, nem todos os destinos atravessam este ciclo de
programação, sendo esta metodologia ainda pouco utilizada como
instrumento de gestão, ou quando existente consiste de documentos
isolados sem integração com processos contínuos de planeamento e
implementação (Ruschmann, 2001; Gunn, 1994).

Albuquerque e Rocha (2007) propuseram um modelo de


preparação de planos-processo com aplicação no desenvolvimento do
turismo, divido em 6 fases (Figura 2). Neste modelo, a primeira fase
corresponde ao diagnóstico da organização e ao nivelamento do
conhecimento; a segunda corresponde ao levantamento da situação atual
do processo, para detectar dificuldades e processos críticos; a terceira

Daniel A. Zacarias 17
!
Capítulo 2. Turismo e Ciclos de Vida: Estado da Arte
!
influenciam as diretrizes estratégicas da organização, sendo que seu redesenho
corresponde à elaboração do novo processo, a partir da definição das
possibilita uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes - fase 2; (iii) a
novas atividades, assim como dos indicadores de gestão; a quarta
elaboração do novo processo, a partir da definição das novas atividades, assim como
concentra-se na implantação do novo processo, através da identificação
dos indicadores de gestão - fase 3; (iv) a implantação do novo processo, através da
das inovações e diferenças entre o processo atual/novo, e da definição do
identificação das inovações e diferenças entre o processo atual/novo, e da definição do
cronograma e da forma de utilização dos recursos; a quinta concentra-se
cronograma e da forma de utilização dos recursos - fase 4; (v) a divulgação, a
na divulgação, mobilização e a capacitação de todos os atores sociais
mobilização, a capacitação de todos os atores sociais envolvidos no processo, sendo que
envolvidos no processo; e finalmente se faz o acompanhamento e
o plano deve ser adequado à participação de cada ator, em espefícico - fase 5; e, por fim,
avaliação do novo processo, através de análise das fases de
(vi) ao acompanhamento e avaliação do novo processo, através de análise das fases de
implementação, dos gaps e dos indicadores.
implementação, dos gaps e dos indicadores - fase 6.

FiguraFigura
2.6: Etapas da da
2: Etapas implantação dodosincronismo
implantação sincronismo organizacional
organizacional
através do redesenho dos processos
Fonte: Albuquerque e Rocha (2007)

É importante realçar que a análise de gaps e processos críticos já


Ao refletir sobre a proposição dos referidos autores, e tomando como base a atividade
constitui em si uma forma de verificar o andamento dos processos de
turística, observa-se que ao analisar de forma crítica a realidade dos processos de
desenvolvimento do turismo, constituindo um campo fértil à inovações e à
desenvolvimento turístico, em um determinado destino, há a possibilidade de identificar
geração de maior capacidade competitividade, fortalecendo, assim, os
gaps e processos críticos, assim como potencialidades a serem desenvolvidas, com
destinos turísticos que se utilizam dessas ferramentas de análise (Alvares,
posterior readequação e, caso necessário, redesenho de processos. A apreciação
2006).
minunciosa dos atuais processos de desenvolvimento turístico é um dos pressupostos
sobre os quais se constitui um campo fértil (i) a inovações e (ii) a geração de maior
capacidade de competitividade, fortalecendo, assim, os destinos turísticos que se
utilizam dessas
18 Daniel ferramentas de análise. Ressalta-se que será proposta uma releitura das
A. Zacarias
!
análises de Albuquerque e Rocha (2007), aplicada ao turismo, no tópico 4.4.3.
2.4 Turismo no contexto de políticas públicas em
Moçambique

O contexto de desenvolvimento de Moçambique impõe desafios e novas


perspectivas no contexto de turismo. Por um lado, o passado histórico recente do
país desdobrado em inúmeros desafios, principalmente no período pós-
independência, impôs restrições ao desenvolvimento pleno do turismo, materializado
pela destruição das poucas infraestruturas hoteleiras existentes, depauperação da
anteriormente exuberante fauna bravia e desestabilização social e política. Estes
fenómenos, que são considerados no contexto de turismo como as principais bases
para o afugentamento de potenciais visitantes, ainda hoje prevalecem, embora em
escala cada vez mais reduzida e com impacto variável.

Com a assinatura dos Acordos Gerais de Paz (AGP), Moçambique relançou-


se numa nova campanha de desenvolvimento a todos os níveis, marcadamente
ombreada pela elaboração da Agenda 2025, dos Planos de Ação para a Redução
da Pobreza Absoluta (PARPA, hoje na sua versão mais recente – Plano de Ação
para a Redução da Pobreza (PARP) e outros mecanismos que ditam as linhas
mestras a ser seguidas para um Moçambique melhor.

Entretanto, é importante referir que grandes passos estão sendo


implementados neste período (pós-guerra) para o melhoramento do sector do
turismo no país, com destaque para a criação do Ministério do Turismo que passou a
responsabilizar-se por este sector, para a elaboração da política de turismo e
legislação complementar, e fundamentalmente para a elaboração do planos
estratégicos para o desenvolvimento do turismo em Moçambique.

Daniel A. Zacarias 19
!
!

Para além destes documentos é notório o enquadramento que os diversos


instrumentos-guia do processo de desenvolvimento dão ao sector de turismo. Por
exemplo, no primeiro Plano de Ação para a Redução da Pobreza Absoluta (2001-
2005) reconhece-se a importância da expansão da procura de bens e serviços e o
turismo internacional como alavancas de desenvolvimento não só do sector de
turismo, como da economia em geral. Como se define neste documento,

A expansão da procura de bens e serviços de produção local é


um factor importante para o aumento dos rendimentos dos
produtores locais bem como para a expansão e elevação da
eficiência das suas atividades produtivas. O sector do turismo
tem potencial de contribuir para essa expansão da procura,
abrangendo também os pequenos produtores e comunidades.
Assim este sector contribui para o alargamento das
oportunidades de emprego (Governo de Moçambique, 2001:89).

Ademais, considera-se no mesmo documento que

O turismo internacional é aquele que tem merecido mais


atenção, provavelmente porque proporciona a entrada de
moeda externa. Porém deve sublinhar-se que o turismo interno
é igualmente importante, cumpre também a função de
expansão da procura de bens e serviços locais. Embora os
turistas internos tenham individualmente baixo rendimento, as
suas despesas no conjunto, pelo potencial elevado número de
turistas, poderá mesmo superar as do turismo internacional.
Note-se por outro lado que no curto médio prazo, o turismo
interno poderá ser menos exigente em termos de infraestruturas
e incidir a sua procura sobre um leque mais vasto de produtos e
serviços locais (Governo de Moçambique, 2001:89).

20 Daniel A. Zacarias
!
No segundo Plano de Ação para a Redução da Pobreza Absoluta
(2006-2009), estabelece-se que

A indústria turística e de viagens é, neste momento, a primeira


em termos de geração de receitas a nível mundial, a indústria
que mais empregos regista, assim como o sector que tem
demonstrado uma mais rápida adaptação face às crises que
têm abalado a economia mundial. Nos últimos cinco anos, o
turismo no país tem vindo a expandir os investimentos, os
postos de emprego e a revitalizar as áreas de conservação, que
constituem um património valioso da sociedade moçambicana.
Neste sentido, é preciso sublinhar que os recursos naturais são
a principal base de sustentação e de atração do turismo em
Moçambique (Governo de Moçambique, 2006:130-131).

Neste contexto, e tendo consciência da riqueza paisagística e


patrimonial de Moçambique, o Governo resolveu aproveita-los para
desenvolver e posicionar o país como destino turístico de classe mundial,
ao mesmo tempo assegurando a exploração ambientalmente saudável
dos recursos naturais que constituem a base do seu potencial turístico
(Governo de Moçambique, 2005). Neste sentido, Moçambique estabeleceu
uma visão ambiciosa do processo de desenvolvimento do turismo,
estabelecendo como meta tornar-se referência do turismo internacional até
ao ano 2025. Como está plasmado no Plano Estratégico para o
Desenvolvimento do Turismo (2004-2013),

Até ao ano de 2025 Moçambique será o destino turístico mais


vibrante, dinâmico e exótico de África, famoso pelas suas praias

Daniel A. Zacarias 21
!
!

e atrações litorais tropicais, produtos de ecoturismo excelentes


e pela sua cultura intrigante, que dá boas-vindas a mais de 4
milhões de turistas por ano. As áreas de conservação
constituem uma par- te integrante do turismo e os seus
benefícios darão um contributo significativo para o PIB,
trazendo riqueza e prosperidade para as comunidades do País
(Governo de Moçambique, 2004:50).

Estranhamente e sem explicação aparente, pouca importância se


dá ao sector de turismo e hotelaria no Plano de Ação para a Redução da
Pobreza. A análise dos instrumentos de desenvolvimento acima
apresentados e as diversas perspectivas de análise do turismo
apresentadas neste livro, elucidam o potencial que Moçambique tem para
o desenvolvimento do turismo. Entretanto, qualquer processo de
desenvolvimento deve ser acompanhado por uma base científica apurada
e que colabore no processo de definição e redefinição dos modelos de
desenvolvimentos. Apesar dos avanços que se vêm conquistando, é
importante a criação de uma cultura científica na sociedade moçambicana
e a implementação de políticas públicas que priorizem o conhecimento
científico como elemento propulsor de competitividade e geração de
riqueza.

2.3.1 Quadro institucional para gestão do turismo em Moçambique5

Após permanecer durante alguns anos sob tutela do Ministério da


Indústria e Comércio, a partir do ano 2000 todas as atividades
relacionadas com o turismo são geridas pelo Ministério do Turismo (Figura
3) criado pelo Decreto Presidencial nº 1/2000 de 23 de Maio. Neste
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
5
Parte dos materiais aqui apresentados são extraídos de Zacarias (2013), tendo alguns
pontos sido expandidos ou contraídos para ajustar a este documento

22 Daniel A. Zacarias
!
contexto, o Ministério do Turismo (MITUR) “é o órgão central do aparelho
do Estado que dirige e planifica a execução das políticas nos domínios das
atividades turísticas, da indústria hoteleira e similar, bem como nas áreas
de conservação para fins turísticos” (Decreto Presidencial nº9/2000, artº1).

Figura 3: Estrutura orgânica do Ministério do Turismo de Moçambique (MITUR).


DINATUR = Direção Nacional do Turismo; DNAC = Direção Nacional de Áreas de
Conservação; DNPC = Direção Nacional de Planificação e Cooperação; DNPT = Direção
Nacional de Promoção Turística; IGT = Inspeção Geral do Turismo; DAF = Departamento
de Administração e Finanças; DRH = Direção dos Recursos Humanos; DJ =
Departamento Jurídico; INATUR = Instituto Nacional do Turismo; HEA = Hotel-Escola
Andalucia

Com base nesta estrutura, o Ministério do Turismo de Moçambique


(MITUR) tem como funções:

Daniel A. Zacarias 23
!
!

i) promover o desenvolvimento sustentável do turismo com vista a


contribuir para o desenvolvimento económico e social do País;
ii) promover a conservação da fauna bravia na sua utilização
como uma das componentes necessárias para o desenvolvimento do
turismo;
iii) contribuir para o aumento das receitas do Estado através da
promoção e desenvolvimento do turismo interno e externo;
iv) promover o aumento de oportunidades de emprego com
vista a garantir uma melhoria do nível de vida das populações;
v) incentivar o desenvolvimento do turismo com vista a
contribuir para o reforço da unidade nacional, para melhor
conhecimento do País pelos cidadãos e para o intercâmbio cultural
com os outros povos;
vi) contribuir para o estabelecimento de uma política de
licenciamento para a expansão da prática do jogo em
estabelecimentos hoteleiros e similares, tendo em vista o aumento da
qualidade da oferta turística nacional e arrecadação de receitas para
a economia nacional; e
vii) promover a formação de profissionais com vista a melhorar a
qualidade dos serviços prestados pelo sector do turismo (artº2 do
Decreto Presidencial nº9/2000 de 23 de Maio).

Para dar cobro a estas funções o MITUR dissocia-se em várias


direções como ilustrado na Figura 3. Assim no domínio das atividades
turísticas e da indústria hoteleira e similar, o MITUR atua através da
DINATUR, cujas principais competências concentram-se em i) orientar
disciplinar e apoiar o desenvolvimento da atividade turística, da indústria
hoteleira e similar; ii) definir e propor a aprovação de políticas e estratégias

24 Daniel A. Zacarias
!
de desenvolvimento do turismo e da indústria hoteleira e similar e garantir
a sua aplicação efetiva; iii) regulamentar, licenciar, fiscalizar e acompanhar
o exercício das atividades turísticas, indústria hoteleira e similar; iv) propor
a criação de zonas de turismo; e v) coordenar e apoiar as atividades de
informação e promoção do turismo nacional no país e no estrangeiro (artº3
do Decreto Presidencial nº9/2000 de 23 de Maio).

No que concerne ao desenvolvimento de atividades turísticas nas


áreas de conservação, o MITUR atua através da DINAC cujas
competências se circunscrevem à definição, em coordenação com outros
órgãos do Estado, dos termos e condições para a gestão turística das
mesmas em parceria com os sectores público e privado; ao licenciamento,
fiscalização e acompanhamento da exploração das áreas de conservação
para fins turísticos, bem como o estudo e proposta, em coordenação com
outros sectores, da criação de zonas de proteção parcial para o turismo
(artº4 do Decreto Presidencial nº9/2000 de 23 de Maio; O grifo é nosso)

Para além destes organismos de nível central, o MITUR é também


representado por outras entidades como o Instituto Nacional do Turismo
(INATUR) cuja principal função é apoiar a realização de estudos, reuniões,
seminários e actividades de formação e outras iniciativas que contribuam
para a elevação do nível técnico e de conhecimentos para a promoção e
coordenação de acções respeitantes ao fomento do turismo, bem como
apromoção do desenvolvimento turístico integrado, criação e gestão de
destinos turísticos através de aprimoração de serviços e certificação da
qualidade dos mesmos e de produtos vis-à-vis a integração regional e
outros destinos concorrentes e estabilização do mercado através de

Daniel A. Zacarias 25
!
!

criação de condições para atrações dos grandes e melhores investidores e


operadores turísticos (Decreto 36/2008 de 17 de Setembro), pelo Hotel-
Escola Andalucia cuja missão é fomentar as bases que permitam uma
sistematização na capacitação de técnicos e quadros em matéria de
hotelaria, tendo em conta as necessidades do sector definidas pelo
departamento de formação e pelas representações provinciais cujas
funções se circunscrevem à implementacao a nivel local das directrizes de
desenvolviment do turismo (Governo de Mocambique, 2004).

2.3.2 Quadro legal para gestão do turismo em Moçambique

No contexto da gestão pública de turismo, a primeira geração de


legislação turística inicia no regime colonial (anos 60) com a aprovação de
mecanismos legais que criam as primeiras áreas de conservação na então
província de Moçambique. Com efeito estabelece-se o Decreto-lei no 1993
de 23 de Julho de 1960 que cria o parque nacional da Gorongosa, o
Diploma Legislativo 47, de 26 de Junho de 1962 que cria o parque
nacional de Zinave e Diploma Legislativo 46 de 25 de Maio de 1971 que
cria o Parque Nacional de Bazaruto.

Este processo enfrenta severas dificuldades para o seu


prosseguimento, nos anos 70 com a “fuga” dos técnicos do governo
colonial e posteriormente com a guerra civil que dizimou grande parte dos
recursos faunísticos e impossibilitou o acesso as áreas de conservação e
alguns destinos turísticos do país. Com o fim da guerra, dão-se os
primeiros passos para o rejuvenescimento do turismo com a requalificação
do Parque Nacional do Bazaruto e a implantação do Ministério do Turismo.
Por conseguinte, destacam-se na estrutura legislativa para gestão de

26 Daniel A. Zacarias
!
turismo a Lei de Turismo, a Política de Turismo e Estratégia de
Implementação, o Plano Estratégico para Desenvolvimento do Turismo em
Moçambique e a Estratégia de Marketing de Turismo.

Lei do Turismo de Moçambique

A Lei do Turismo de Moçambique (Lei nº 4/2004, de 17 de Junho),


foi publicada na sequência da aposta de Moçambique no desenvolvimento
do turismo e como mecanismo para suprir a escassez de legislação que
regulamentasse a atividade na época. Como referido por Torres (2005),
este mecanismo legal que passou a substituir a legislação da indústria
hoteleira e estabelecimentos similares publicada em 1969, permite uma
considerável amplitude em sede regulamentar, porquanto matérias
consideradas fulcrais, como a tipologia dos estabelecimentos hoteleiros,
serão livremente concebidas na fase agora iniciada, tornando-a, assim,
muito estimulante do ponto de vista da arquitetura do novo edifício
normativo.

Como plasmado no artigo 3º, de entre os vários objetivos da Lei de


Turismo, destacam-se a necessidade de promover o desenvolvimento
económico e social com a inerente criação de emprego e redução da
pobreza, respeitando, o património natural, arqueológico e artístico; o
estímulo ao sector privado moçambicano na participação, promoção e
desenvolvimento dos recursos turísticos; o incentivo de medidas de
segurança e tranquilidade dos turistas, consumidores e fornecedores de
serviços turísticos, bem como a consecução de um princípio da igualdade
de direitos e oportunidades (Moçambique, 2004; Torres, 2005).

Daniel A. Zacarias 27
!
!

Política de Turismo e Estratégia de Implementação (PTEI)

Considerando a dinâmica do turismo e a necessidade de


implementação de mecanismos sustentáveis para o desenvolvimento de
atividades, dando ênfase ao turismo doméstico e estabelecendo uma
relação mais estreita entre o produto e o mercado (Resolução nº 14/2003
de 20 de Abril), o Governo de Moçambique aprovou a Política de Turismo
e Estratégia de Implementação que identifica os princípios gerais, os
objetivos do turismo e as áreas prioritárias de intervenção e atuação.
Estes mecanismos consideram o sector do turismo como um motor de
crescimento face aos vários benefícios diretos que possam resultar do seu
desenvolvimento. Esses benefícios podem ser avaliados no âmbito da
geração dos rendimentos para a economia nacional, emprego aos
nacionais, a conservação ecológica e ambiental, investimento público e
privado, expansão das Infraestruturas, prestígio do País que pode criar um
bom ambiente de atração de negócios.

A linha de produtos turísticos (turismo de sol e praia, ecoturismo,


turismo cultural, turismo de aventura, turismo temático e de aventura), a
globalização, a integração horizontal e vertical, o Investimento Direto
Estrangeiro (IDE) e as novas tecnologias de informação são aspetos
considerados de base no impulso do Turismo global e que Moçambique
tem de tomá-los em consideração para se tornar num destino turístico
competitivo. Analisa também os princípios, objetivos (económico, social e
ambiental), as prioridades de intervenção e atuação bem como a estrutura
organizacional que deve ser tomada em consideração para a prossecução
dos objetivos traçados tomando em linha de conta a transversalidade que
caracteriza o sector.

28 Daniel A. Zacarias
!
Este mecanismo de gestão adota como princípios fundamentais a
integração do turismo no quadro de planificação e desenvolvimento do
País, descentralização como medida de controlo dos padrões de
desenvolvimento da atividade, a planificação e coordenação do
desenvolvimento dos mercados e infraestruturas turísticas, a
consciencialização sobre a importância do turismo e do valor do
património turístico (natural e cultural), a formação e profissionalização
como garante da qualidade e reconhece o sector privado como força
motriz para o desenvolvimento da indústria turística nacional.

Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em


Moçambique (PEDTM), 2004-2013

Tomando em consideração o grande potencial que Moçambique


tem na área do turismo e o seu inquestionável contributo para o
crescimento económico, o Governo de Moçambique definiu, no PEDTM
(2004-2013), como visão estratégica do sector de turismo, a criação de um
ambiente institucional que garanta o desenvolvimento sustentável do
turismo contribuindo para o desenvolvimento económico e social nas
comunidades locais e no País em geral. Este mecanismo define as áreas,
as linhas e as ações estratégicas, e os antecedentes que conduziram à
formulação das ações estratégicas resumidas, bem como, faz uma
avaliação do potencial de mercado, da base de recursos do turismo, do
papel atual e potencial da conservação para o turismo, apresentado de
forma detalhada as ações estratégicas de desenvolvimento de recursos
humanos no turismo e o quadro espacial para o turismo. Com este
mecanismo, o Governo de Moçambique, segundo a qual,

Daniel A. Zacarias 29
!
!

“até ao ano de 2025 Moçambique será o destino turístico mais


vibrante, dinâmico e exótico de África, famoso pelas suas praias
e atrações litorais tropicais, produtos de ecoturismo excelentes
e pela sua cultura intrigante, que dá boas-vindas a mais de 4
milhões de turistas por ano. As áreas de conservação
constituem uma parte integrante do turismo e os seus
benefícios darão um contributo significativo para o PIB,
trazendo riqueza e prosperidade para as comunidades do País”
(Governo de Moçambique, 2004:50).

Ainda segundo mesmo documento, a materialização desta visão


passa, dentre outras, pelo estabelecimento de (i) um quadro institucional,
com mecanismos adequados de planificação e de controlo e uma
capacidade de implementação efetiva de programas aos níveis nacional,
provincial e distrital; (ii) estabelecimento de mecanismos de marketing
efetivo que resultem na criação de uma imagem forte do país através dos
programas nacionais de marketing, bem como resultantes das parcerias
com o sector privado; (iii) desenvolvimento de mecanismos para o
estabelecimento de produtos turísticos prósperos e a criação de um
ambiente de investimento harmonioso para investidores nacionais e
internacionais; (iv) criação de condições para o envolvimento efetivo das
comunidades no desenvolvimento do sector do turismo; bem como
desenvolvimento de uma base de recursos humanos a todos os níveis
profissionais no sector privado e público e dentro das comunidades
através da educação e formação (idem, pg.50).

Estratégia de marketing de turismo de Moçambique (2006-2013)

A estratégia de marketing de turismo de Moçambique representa a


materialização das medidas impulsionadoras do desenvolvimento do

30 Daniel A. Zacarias
!
turismo plasmadas no PEDTM. Neste sentido, este documento visa
contribuir para posicionar Moçambique como um destino turístico de
classe mundial através da produção de materiais promocionais,
estabelecimento de escritórios de promoção no exterior, desenvolvimento
de relações públicas, promoção de visitas de familiarização dos média e
operadores turísticos e participação nas principais feiras de turismo
internacional dos principais mercados emissores e emergentes (Governo
de Moçambique, 2006).

Adicionalmente, este mecanismo legal prioriza a implantação de


ações combinadas de marketing que devem abranger principalmente os
âmbitos de promoção de investimentos e a promoção de produtos estrela
ou produtos chave, tendo como objetivo a atração de investimentos diretos
estrangeiros para operações conjuntas ou "joint ventures" para a
reabilitação ou construção de hotéis elevar a cabo ações de promoção
direcionadas ao incremento da estadia média e da ocupação dos hotéis de
categorias superiores.

A Estratégia, identifica o ecoturismo, o turismo de aventura e o


turismo cultural como áreas do mercado de nicho que Moçambique deverá
procurar promover e define ações que devem ser realizadas com o fim de
promover e desenvolver o sector do turismo, entre outras o melhoramento
da recolha de dados, o melhoramento do marketing e o desenvolvimento
de infraestruturas (Governo de Moçambique, 2006), objetivando um
crescimento anual de 6% no turismo do mercado regional; melhor
marketing de Moçambique como destino; oferta competitiva de serviços de
transporte aéreo; infraestrutura melhorada nos aeroportos principais;

Daniel A. Zacarias 31
!
!

melhor atendimento aos viajantes por parte dos oficiais estatais nas
fronteiras e dentro do país; e a concepção e promoção duma marca
distinta para o turismo moçambicano (ACIS, 2008).

Para além dos mecanismos de gestão acima apresentado,


Moçambique adotou um conjunto extenso de legislação complementar,
abrangendo as mais variadas áreas, desde investimentos, gestão
ambiental até ao uso de terra. Por exemplo, para muitos empreendimentos
turísticos, a obtenção do direito ao uso de terra é fundamental, uma vez
que a Constituição da República de Moçambique estipula que, em
Moçambique a terra é propriedade do Estado, não podendo ser vendida,
hipotecada ou por qualquer outra forma alienada, sendo o uso e
6
aproveitamento da terra direito de todo o povo moçambicano
(Moçambique, 2004).

Por outro lado, a implantação de projetos turísticos deve estar em


concordância com a legislação ambiental em vigor, com destaque para a
Lei e Política do Ambiente e o regulamento de avaliação de impacto
ambiental, uma vez que o abrigo da Lei do Ambiente qualquer atividade
que pode afetar o meio ambiente carece de autorização, cujo processo
baseia-se numa avaliação do potencial impacto das atividades planeadas
para determinar a sua viabilidade ambiental, e termina com a emissão
duma licença ambiental pelo Ministério para a Coordenação de Ação
Ambiental (MICOA).

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
6
Artigos 109 e 110 da Constituição da República de Moçambique

32 Daniel A. Zacarias
!
CAPÍTULO 3
ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.2 Processo de recolha de dados


A construção metodológica deste capitulo tem bases na abordagem
apresentada por Fernández e Sánchez (2013). Neste sentido, foi utilizado
um instrumento de pesquisa do tipo questionário com 28 perguntas
divididas em 3 grupos principais de atributos, a saber: processos de
desenvolvimento, mecanismos de gestão para implementação e
mecanismos de operacionalização da política de sustentabilidade de
turismo.

Neste instrumento, os atributos associados aos processos de


desenvolvimento (Quadro 1) “fazem referência aos métodos, técnicas,
equipamentos e/ou habilidades utilizados de forma lógica para
proporcionar melhores bens e/ou serviços turísticos, tendo estes impacto
direto na proposta de valor do bem ou serviço associado (Fernandez e
Sanchez, 2013: 535). Como referem os autores, este tipo de objectivos
esta orientado ao melhoramento da eficiência e da produtividade e
incorporou, neste trabalho, elementos como alternativas de
desenvolvimento, alteração dos padrões de gestão, quadro legal e
institucional, dentre outros.

Quadro 1: Variáveis utilizadas para avaliar os processos de


desenvolvimento do turismo em Moçambique
Variável Atributos
VAR001 Substituir a planificação turística tradicional por uma

Daniel A. Zacarias 33
!
!

planificação integral, consensual e adaptável

VAR002 Identificar alternativas ao atual modelo de desenvolvimento


dos destinos turísticos moçambicanos
VAR003 Assumir que os objectivos da política turística devem
apresentar-se de forma a tornar sustentável o crescimento
futuro da atividade
VAR004 Favorecer um quadro jurídico e institucional que contribua a
transição para o turismo sustentável
VAR005 Gerar uma nova cultura turística conducente a
sustentabilidade
VAR006 Abordar de forma definitiva o problema secular do
financiamento dos destinos turísticos moçambicanos
VAR007 Impulsionar a definição de um novo modelo urbanístico e de
ordenamento do território, sustentável e que respeite a
identidade local
VAR008 Abordar a formação integral dos gestores turísticos públicos
(especialmente os níveis) em matéria de sustentabilidade
VAR009 Reforçar as intervenções das administrações públicas na
supervisão e controle da sustentabilidade do turismo
VAR010 Favorecer uma gestão adaptativa dos destinos turísticos
moçambicanos
VAR011 Gerar e gerir novos conhecimentos aplicáveis a criação de
mais valor com menor uso de recursos
VAR012 Ativar o capital humano como elemento estratégico para a
geração de valor
VAR013 Melhorar a gestão do conjunto de interações do sistema
turístico moçambicano

34 Daniel A. Zacarias
!
VAR014 Melhorar a eficiência na gestão do investimento e orçamento
publico dedicado ao turismo
VAR015 Abordar de forma integral a mobilidade turística em
Moçambique, prestando especial interesse ou atenção a
intermodalidade
VAR016 Estimular o investimento estrangeiro no sector de turismo em
Moçambique através de propostas que revalorizem os
elementos de identidade e atributos próprios de cada destino
VAR017 Incentivar a inovação administrativa na gestão de projetos
estratégicos para os destinos turísticos nacionais
VAR018 Desenvolver politicas de desincentivo do “residencialismo” e
do “tudo incluído”
VAR019 Reorganizar o processo produtivo turístico, favorecendo a
integração do conjunto de agentes que participem
VAR020 Favorecer a incorporação de politicas de demanda
VAR021 Assegurar maior controle do produto turístico moçambicano e
da imagem de Moçambique por parte das empresas e destinos
moçambicanos
VAR022 Avançar para uma nova imagem corporativa de Moçambique
como destino turístico que destaque os valores de
sustentabilidade
VAR023 Gerar estratégias claras de distribuição e comercialização
multicanal
VAR024 Impulsionar uma maior integração entre tipologias turísticas,
com objectivo de gerar oferta mais atrativa
VAR025 Incorporar atributos adicionais ao produto turístico tradicional
que justifiquem estágios mais amplos e preços mais elevados
em relação a competência

Daniel A. Zacarias 35
!
!

VAR026 Desenvolver estratégias de pós-consumo orientadas a clientes


que defendem os valores de sustentabilidade
VAR027 Renovar as estruturas receptivas dos destinos turísticos
moçambicanos
VAR028 Desenvolver mecanismos para a luta contra a “banalização” e
“desculturalização” dos destinos moçambicanos
Fonte: adaptado de Fernández e Sánchez (2013)

Por outro lado, os atributos associados a gestão da sustentabilidade


do turismo “relacionam-se com o processo de tomada de decisões dos
agentes envolvidos com a finalidade de melhorar o desempenho na gestão
turística dos destinos” (idem, p.535). Como referem estes autores, estes
objectivos verificam o alcance dos resultados óptimos no processo de
utilização dos recursos disponíveis para a satisfação das necessidades
apresentadas (consumidores, mercados, residentes, dentre outros) e
incluem atuações orientadas para a construção de espaços para promover
e tornar possível a interação entre os atores do conjunto do sistema
turístico, gerando consensos em torno dos princípios da sustentabilidade.
Para este trabalho, incluíram aspectos como a necessidade de reforço das
intervenções das administrações publicas, gestão adaptativa, capital
humano, dentre outros.

Já os objectivos de produto (Quadro 3), que se relacionam com a


exigência de melhoramento dos mecanismos para satisfação das
necessidades dos clientes, abertura de novos mercados e/ou melhor
posicionamento do produto ou serviço turístico no mercado para
incrementar as vendas” (Fernández e Sánchez, 2013: 535), incluíram
atributos como a reorganização do produto turístico, incorporação de

36 Daniel A. Zacarias
!
políticas de procura, melhoramento da imagem de Moçambique, e
melhoramento dos canais de distribuição, dentre outros.

Todas as questões foram avaliadas no sistema de escalas de 5


pontos de Likert, onde “1 = discordo completamente, 2 = discordo, 3 = não
concorda nem discorda, 4 = concorda e 5 = concorda completamente”. A
escala de Likert é uma escala psicométrica comummente envolvida na
pesquisa que emprega questionários, sendo a abordagem mais
amplamente utilizado para a ampliação respostas em pesquisa de opinião.
Ao responder a um item do questionário Likert, os respondentes
especificam seu nível de concordância ou discordância em uma escala
simétrica concordo-discordo de uma série de instruções. Assim , o
intervalo de captura a intensidade de seus sentimentos para um
determinado item (Burns e Burns, 2008). A escala pode ser criada como a
simples soma de respostas ao questionário sobre a gama completa da
escala. Ao fazê-lo, a escala de Likert assume que distâncias em cada item
são iguais. É importante ressaltar que todos os itens são considerados
repetições de outro ou em outras palavras, os itens são considerados
instrumentos paralelos (Carifo e Perla, 2007; Alexandrov, 2010; Winter e
Dodou, 2012; Murray, 2013).

3.2 Procedimentos de análise de dados


A abordagem geral de análise dos dados fundamentou-se na
aplicação da teoria de resposta ao item (Lord, 1952; Lord, 1980) que
oferece modelos matemáticos para o traço latente, propondo formas de
representação da relação entre a probabilidade de um individuo responder
corretamente a um determinado item, o seu traço latente e características
(parâmetros) dos itens, no campo do conhecimento estudado (Andrade et

Daniel A. Zacarias 37
!
!

al., 2000 apud Araújo et al., 2009). Neste contexto, os procedimentos para
analíticos basearam-se na analise descritiva simples de dados e análise
multivariada com enfoque na analise factorial por componentes principais
(AFCP) com rotação varimax.
A análise descritiva simples de dados consiste, segundo Reis
(1996) na recolha, análise e interpretação de dados numéricos através da
criação de instrumentos adequados como quadros, gráficos e indicadores
numéricos, conceito reforçado por Huot (2002) ao apresentá-la como o
conjunto de técnicas e regras que resumem a informação recolhida sobre
uma amostra ou população, sem distorção nem perda de informação.
Considerando que este procedimento metodológico permite resumir o
conjunto de dados recolhidos e organizá-los através de números, tabelas e
gráficos (Dalfovo et al., 2008), a sua aplicação neste estudo consistiu no
cálculo da média, moda, valor mínimo, valor máximo e desvio padrão.

Com estes resultados foi possível perceber a tendência de


avaliação dos dados e descortinar os elementos que obtiveram maiores e
menores pontuações dentre os 24 itens pesquisados. Para aprofundar a
compreensão dos dados foi aplicada a análise factorial por componentes
principais (Bouroche e Saporta, 1980). Segundo Pestana e Gageiro
(2008), Pereira (2008), a análise factorial é um conjunto de técnicas
estatísticas que procura explicar a correlação entre as variáveis
observáveis, simplificando os dados através da redução do número de
variáveis necessárias para os descrever.

Nesta perspectiva, a extração por componentes principais permite


transformar um conjunto de variáveis quantitativas iniciais correlacionadas
entre si, noutro conjunto com um menor numero de variáveis não
correlacionadas resultantes de combinações lineares das variáveis iniciais,

38 Daniel A. Zacarias
!
reduzindo, deste modo, a complexidade de interpretação dos dados
(Pestana e Gageiro, 2008). A sua aplicação neste estudo resultou da sua
capacidade de agrupar variáveis que os participantes descrevem ou
avaliam de forma similar (Perez-Nebra e Torres, 2010; Firetti et al., 2010,
Figueiredo Filho e Alexandre da Silva Júnior, 2010). Estando associado à
redução e sumarização de dados (Cerqueira e Freire, 2008, Cerqueira e
Freire, 2010), a análise fatorial compreende a determinação da matriz das
correlações entre as variáveis originais, cálculo dos factores necessários
para representar as variáveis e extração dos factores por rotação, de tal
modo que os indicadores com correlação mais forte entre si estejam
dentro de um mesmo factor, facilitando a interpretação dos mesmos
(Cerqueira e Freire, 2008, Pinto, 2010, Araújo et al., 2008, Carvalho, 2010,
Amend, 2001, Machado, 2010).

A sua operacionalização foi desenvolvida mediante a aplicação de 3


medidas, nomeadamente a medida de adequação da amostra de Keiser-
Meyer-Olkin (KMO), o teste de esfericidade de Bartlett e determinação do
número de fatores com base em auto-valores (eigen-values). O teste de
adequação da amostra de KMO permite verificar a consistência dos dados
originais (Cerqueire e Freire, 2008) ao testar a hipótese da matriz das
correlações ser a matriz identidade, cujo determinante é igual a 1 (Pereira
e Gageiro, 2008), ou seja, permite comparar as magnitudes dos
coeficientes de correlação “rij” observadas com relação aos coeficientes de
correlação parcial “aij”.

Daniel A. Zacarias 39
!
!

CAPÍTULO 4
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS

4.1 Impacto das políticas públicas no desenvolvimento do


turismo em Moçambique: desafios para sustentabilidade7

Um dos aspetos que se pode considerar positivo o processo de


gestão de turismo é sem muita sombra de dúvidas o desaparecimento da
imagem de guerra, miséria e fome que acompanhou Moçambique durante
longos tempos. Como referiu o Ministro do Turismo de Moçambique,

“…a nível mundial Moçambique deixou de ter


imagem de guerra, fome e carência. Passou a ser um
país alegre, um país de referência. As pessoas
quando falam da cidade de Maputo dizem que é um
país alegre, onde as pessoas têm uma boa relação
com o visitante; olham para as ilhas e arquipélagos e
até fazem lua-de-mel nesses sítios. Portanto, é um
país de muita alegria, de muita intensidade e que a
imagem negativa que existia do país está
desaparecendo (...), de tal modo que não devemos
deixar de falar dos problemas que existem no país,
porque não tentamos escamotear nada…).

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
7
Material extraído e desenvolvido de Zacarias (2013)

40 Daniel A. Zacarias
!
Ademais,

“…o país desenvolveu um segmento de taxa de densidade


de alto rendimento, que permite desenvolver
empreendimentos de luxo, mas com pouca pressão de
volume de pessoas que se deslocam para lá. Trata-se dum
produto virado para um segmento muito específico, que é
daqueles turistas que selecionam com muito rigor o local
onde pretendem ir, pretendem ter sossego, querem ter
tranquilidade, contacto com a natureza e querem ter uma
relação muito intensiva com as comunidades e pessoas que
se encontram no local. Desenvolvemos e conseguimos
posicionar-nos. Se olhar para as principais referências
sobre o turismo moçambicano, a nível mundial, poderá
notar que as maiores e melhores revistas sobre turismo
fazem elogio àquilo que acontece em Moçambique,
particularmente no arquipélago das Quirimbas. Já fazem
referências ao Niassa; ao arquipélago do Bazaruto, onde
temos estâncias de belíssima qualidade; e também à cidade
de Maputo devido à sua atividade muito vibrante, à
característica muito especial da relação entre o turista e a
população local, bem como o negócio informal. neste
sentido, podemos dizer que Moçambique é um destino de
referência a nível mundial”.

Como se pode depreender, já existem evidências suficientes de que


a implantação de mecanismos legais para gestão do turismo começam a
surtir efeitos positivos, através da “limpeza” da imagem de guerra e
apresentação de uma imagem mais sadia e alegre que é característica de

Daniel A. Zacarias 41
!
!

Moçambique. A elevada qualidade do potencial turístico nacional tem


determinado fluxos turísticos cada vez maiores, que reporta as estatísticas
de hóspedes em Moçambique para o ano 2004 e 2005 (INE, 2005).

Como se pode depreender, Moçambique recebeu um total de


319836 hóspedes, sendo 161871 estrangeiros e 157965 nacionais para no
ano posterior (2005) registou uma movimentação de cerca de 339051
hóspedes dos quais 171557 eram estrangeiros e os restantes 167494
eram nacionais, o que representa uma taxa de crescimento de 6,01%.
Quando associado a abertura das fronteiras e relativa acessibilidade das
políticas públicas de turismo e associadas, o potencial turístico é
compensado pela cada vez maior procura tanto a nível internacional como
a nível nacional, estando o sector de turismo a contribuir positivamente
para a economia nacional (Figura 4).

42 Daniel A. Zacarias
!
Figura 4: Demonstração da dimensão económica e social do turismo em Moçambique. a)
Entrada de turistas por país/região de residência permanente (INE, 2005); b) Estatísticas
de turismo em Moçambique, 2004-2005 (INE, 2005); c) Turismo na balança de
pagamentos em US$ milhões (Jones, 2007); d) Taxa média de ocupação e estadia média
anual, 1997-2004 (INE, 2005 apud Jones, 2007)

O potencial turístico e o nível de procura (nacional e estrangeira)


têm surtido resultados positivos medidos através dos valores de
investimentos que se têm verificado no sector de turismo e hotelaria no
país (Tabela 1).

Daniel A. Zacarias 43
!
!
Tabela 1: Tendências de investimento em turismo e hotelaria em Moçambique e volume de empregos gerados

Valor (USD)
Ano Projetos Empregos %
IDE IDN Total

2003 16 11.129.256 5.234.794 16.364.050 588 4,31

2004 22 50.701.016 5.562.553 56.263.569 1.770 13,39

2005 39 83.972.426 2.914.300 86.886.726 3.967 26,25

2006 58 76.629.638 3.459.409 80.089.047 3.120 16,11

2007 48 138.714.763 7.177.294 145.892.057 4.952 18,04

2008 37 124.699.251 17.352.057 142.051.308 2.836 14,18

2009 57 73.972.570 43.779.179 117.751.749 2.264 8,46

Total 277 559.818.920 85.479.586 645.298.506 19.497 14,39

Fonte: Dados do Centro de Promoção de investimentos (CPI). IDE = Investimento direto estrangeiro; IDN = Investimento direto
nacional

44 Daniel A. Zacarias
!
Embora o nível de investimentos esteja em constante crescimento,
a operacionalização das políticas diretas e indiretas de gestão tem criado
constrangimentos de variadas ordens, com destaque para morosidade na
tramitação do acesso e exploração da terra e obtenção de energia elétrica,
como alguns exemplos (Figura 4).

Abertura de
empresas
200
Resolução de Obtenção de alvarás
insolvências 160 de construção
120

Execução de 80 Obtenção de
contratos 40 eletricidade

Comércio entre Registo de


fronteiras propriedade

Pagamento de
Obtenção de crédito
impostos
Proteção de
investidores

2008 2009 2010 2011 2012

Figura 5: Evolução dos indicadores do ambiente de negócios em


Moçambique, 2008-2012 (fontes múltiplas)

Como se pode depreender, de entre vários aspetos que influenciam


o processo de desenvolvimento turísticos, apenas dois conheceram
melhoramentos significativos, como sejam a proteção aos investidores e
processo de abertura e empresas, atributos amplamente associados à
Daniel A. Zacarias 45
!
!
elite económica de Moçambique. As principais fragilidades ao
desenvolvimento do turismo são fundamentalmente associadas à
deficiente integração da indústria no quadro geral de desenvolvimento,
permanecendo, ainda, como uma atividade isolada das restantes e com
um quadro legislatório não associado a outras componentes, Isto significa
que o turismo, embora seja uma atividade transversal, a nível político-
institucional continua uma atividade isolada.

Os dados acima apresentados suportam, deste modo, as


conclusões apresentadas por Domingos (2012) quando afirma que “as
políticas públicas, em Moçambique, não estão participando a
implementação de programas de desenvolvimento turístico devido ao
carácter conservador e centralizado como são formulados tais programas”
(o destacado é do autor). Deste modo,

“…cria-se um excesso de regulamentações, programas e


serviços governamentais que não são aplicados, ou
simplesmente servem para alimentar as tendências
naturais dos políticos e burocratas de expandirem seus
poderes na sociedade, exagerando nos benefícios dos
programas governamentais e subestimando os custos,
com as chamadas ilusões fiscais, impostos ocultos e
deduções em financiamentos do deficit” (Dye, 2010 citado
por Domingos, 2012:90).

46 Daniel A. Zacarias
!
4.2 Factores prioritários no desenvolvimento de políticas
de turismo sustentável em Moçambique
Como foi atrás referido, neste estudo verificou-se a validade de 28
variáveis que integram o processo de desenvolvimento de políticas e
estratégias de desenvolvimento do turismo. Os resultados, apresentados
na Tabela 1, indicam que o desenvolvimento de mecanismos para a luta
contra a “banalização” e “desculturalização” dos destinos moçambicanos
(média = 4.82, desvio padrão = 0.39)”, o incentivo à inovação
administrativa na gestão de projetos estratégicos para os destinos
turísticos nacionais (4.76±0.43), a definição de um novo modelo
urbanístico e de ordenamento do território, sustentável e que respeite a
identidade local (4.72±0.64)”, a formação integral dos gestores turísticos
públicos (a vários níveis) em matéria de sustentabilidade (0.69±0.47)” e
maior controle do produto turístico moçambicano e da imagem de
Moçambique por parte das empresas e destinos moçambicanos
(4.69±0.55) foram considerados aspectos de maior prioridade no contexto
do alcance da sustentabilidade no sector de turismo.

Tabela 1: Análise descritiva dos dados


Média (desvio Erro
Variável N Min Max Rank
padrão) padrão
VAR028 71 4 5 4,82 (0,39) 0,046 1
VAR017 71 4 5 4,76 (0,43) 0,051 2
VAR007 71 3 5 4,72 (0,64) 0,076 3
VAR008 71 4 5 4,69 (0,47) 0,055 4
VAR021 71 3 5 4,69 (0,55) 0,065 5
VAR014 71 3 5 4,68 (0,65) 0,077 6

Daniel A. Zacarias 47
!
!
VAR012 71 1 5 4,65 (0,87) 0,102 7
VAR022 71 3 5 4,61 (0,58) 0,068 8
VAR019 71 4 5 4,54 (0,51) 0,060 9
VAR024 71 3 5 4,54 (0,68) 0,080 10
VAR004 71 1 5 4,51 (0,92) 0,110 11
VAR005 71 3 5 4,51 (0,59) 0,069 12
VAR003 71 1 5 4,44 (1,01) 0,120 13
VAR026 71 3 5 4,42 (0,77) 0,091 14
VAR002 71 1 5 4,37 (1,02) 0,121 15
VAR016 71 1 5 4,37 (1,05) 0,124 16
VAR011 71 1 5 4,35 (1,09) 0,129 17
VAR027 71 2 5 4,34 (0,83) 0,098 18
VAR013 71 3 5 4,32 (0,77) 0,091 19
VAR001 71 2 5 4,30 (1,01) 0,119 20
VAR009 71 1 5 4,30 (1,03) 0,121 21
VAR015 71 1 5 4,20 (0,97) 0,115 22
VAR020 71 1 5 4,18 (0,98) 0,116 23
VAR023 71 2 5 4,11 (0,91) 0,107 24
VAR010 71 1 5 3,96 (1,18) 0,140 25
VAR006 71 2 5 3,93 (0,99) 0,118 26
VAR025 71 1 5 3,89 (1,18) 0,140 27
VAR018 71 1 5 3,73 (1,03) 0,122 28
Fonte: elaboração própria. Para detalhes das variáveis, veja-se o Quadro
1

Percebe-se, aqui, a importância da consolidação da imagem do


destino, a descentralização dos mecanismos de gestão do turismo e a
gestão do entorno dos destinos e núcleos turísticos como aspectos-chave
48 Daniel A. Zacarias
!
para que se alcance a sustentabilidade do turismo. Por outro lado, os
dados indicam a necessidade de associação destes indicadores com
outros aspectos relevantes ao turismo tais como o melhoramento da
eficiência na gestão do investimento e orçamento público dedicado ao
turismo, a ativação do capital humano como elemento estratégico para a
geração de valor, ou seja, a valorização do capital humano existente no
sector de turismo e geração de nova imagem corporativa de Moçambique
como destino turístico que destaque os valores de sustentabilidade.

Já questões associadas com a gestão adaptativa e financiamento


dos destinos turísticos moçambicanos, melhoramento do produto turístico
tradicional com objectivo de torna-lo mais oneroso, e o desincentivo do
residencialismo e do “tudo incluído”, embora tenham sido consideradas
importantes, não obtiveram grande margem de consensos. Percebe-se
nestes resultados que o protecionismo do produto turístico tradicional a
favor das camadas mais pobres e do turismo doméstico, o
desenvolvimento do segmento turístico de segunda residência e a
autonomização dos destinos para obtenção de financiamento próprio são
componentes que devem considerados na pretensão de desenvolvimento
sustentável da atividade turística.

4.3 Processos a ser seguidos para o desenvolvimento de


políticas de turismo sustentável em Moçambique
Após a definição das percepções dos entrevistados em relação aos
principais eixos estratégicos de políticas de turismo sustentável em
Moçambique, buscou-se identificar os principais conteúdos a ser
incorporados nos processos de definição dos eixos da sustentabilidade do
turismo, ou seja, procurou-se identificar os métodos, técnicas e
Daniel A. Zacarias 49
!
!
habilidades cuja utilização lógica proporcionará melhor serviço turístico,
eficiência e produtividade.

Como indicado na Tabela 2, é prioritário a definição de novos


modelos urbanísticos e de ordenamento do turístico, que sejam
sustentáveis e que respeitem a identidade loca e o estabelecimento de um
processo de formação integral dos gestores públicos em assuntos ligados
à sustentabilidade. Segundo a Lei dos Órgãos Locais do Estado (LOLE), o
processo de gestão territorial foi devolvido às instituições de base a quem
cabe coordenar os processos de desenvolvimento a nível local. Embora
este processo de devolução de poderes já seja uma realidade no país, no
contexto de turismo a realidade continua a quem das expectativas na
medida em que a baixa qualidade técnico-profissional dos quadros a nível
local não permite o acompanhamento pleno dos processos de
desenvolvimento, o que obriga a um sistema de descentralização com
gestão centralizada. Evidentemente, a baixa qualidade dos recursos
humanos a nível local não permite que os processos de desenvolvimento
do turismo sejam conduzidos a bom termo, daí a preocupação em relação
à formação e treinamento dos gestores públicos.

Por outro lado, torna-se pertinente a adequação do quadro jurídico


e institucional do sector de turismo, adequando-o para o cumprimento dos
esforços da descentralização dos processos de gestão do
desenvolvimento. Por exemplo, o sector de turismo não conta com
representações diretas a nível dos distritos que é onde o turismo
realmente acontece, estando representada pelo sector de atividades
económicas. Lamentavelmente, esta situação não permite a cobertura
plena dos processos associados ao turismo, uma vez que os distritos

50 Daniel A. Zacarias
!
estão mais preocupados com a agricultura, pesca e exploração madeireira
(Chiziane, s/d). Neste contexto, os entrevistados realçam também a
necessidade de geração de uma nova cultura de sustentabilidade,
associada à definição clara dos objectivos das políticas públicas de
turismo e a substituição da planificação tradicional por um modelo mais
integral, consensual e adaptável. Mais uma vez aspectos associados ao
financiamento dos destinos turísticos em Moçambique não reuniu grande
consenso no seio dos entrevistados.

Tabela 2: Processos a ser seguidos para o desenvolvimento de políticas


de turismo sustentável em Moçambique (valores médios e grau de
consenso)
Variáveis Média CV
Impulsionar a definição de um novo modelo urbanístico e
de ordenamento do território, sustentável e que respeite a 4,72 0,13
identidade local
Abordar a formação integral dos gestores turísticos
públicos (a todos os níveis) em matéria de 4,69 0,10
sustentabilidade
Favorecer um quadro jurídico e institucional que contribua
4,51 0,20
a transição para o turismo sustentável
Gerar uma nova cultura turística conducente a
4,51 0,13
sustentabilidade
Assumir que os objectivos da política turística devem
apresentar-se de forma a tornar sustentável o 4,44 0,23
crescimento futuro da atividade
Identificar alternativas ao atual modelo de
4,37 0,23
desenvolvimento dos destinos turísticos moçambicanos

Daniel A. Zacarias 51
!
!
Substituir a planificação turística tradicional por uma
4,30 0,23
planificação integral, consensual e adaptável
Abordar de forma definitiva o problema secular do
3,93 0,25
financiamento dos destinos turísticos moçambicanos
Legenda: CV = coeficiente de variação
Fonte: Elaboração própria

4.4 Mecanismos de gestão para a implementação de


políticas de turismo sustentável em Moçambique
O processo de planificação para a sustentabilidade de turismo não
se circunscreve unicamente à definição dos processos a ser seguidos,
mas também requer o desenvolvimento e adoção de mecanismos que
facilitem o processo de implementação das políticas (Zacarias, 2013;
Santos et al., 2012; Hanai, 2011). Neste contexto, os entrevistados
consideram o incentivo à inovação administrativa na gestão de projetos
estratégicos, a melhoria de eficiência na gestão do investimento e
orçamento público dedicado ao turismo e na valorização do capital
humano para geração de valor como atributos fundamentais para que a
sustentabilidade no sector de turismo seja alcançada (Tabela 3).

Depreende-se, mais uma vez, a necessidade de continuidade dos


processos de descentralização das competências, a atração e
manutenção dos investimentos e ganhos gerados pelo turismo no local
exato onde a atividade ocorre. Embora exista um compromisso para a
devolução de 20% dos ganhos associados ao turismo em áreas protegidas
em prol das comunidades locais, a estrutura de gestão do turismo, no
geral, não apresenta grande flexibilidade, devendo os ganhos do sector
ser transferidos para o sistema de gestão financeira a nível central e
52 Daniel A. Zacarias
!
depois redistribuído pelos vários sectores. Como referido por Lamarque e
Magane (2007), o atual sistema impossibilita mecanismos de
financiamento sustentáveis e que envolvam todos os parceiros,
impossibilita a celebração direta de acordos com parceiros, não envolve as
comunidades e o sector privado, nem resolve ou assume compromissos
internacionais.

Tabela 3: Variáveis de gestão para implementação de políticas de turismo


sustentável em Moçambique (valores médios e grau de consenso)
Variáveis Média CV
Incentivar a inovação administrativa na gestão de
4,76 0,09
projetos estratégicos para os destinos turísticos nacionais
Melhorar a eficiência na gestão do investimento e
4,68 0,14
orçamento público dedicado ao turismo
Ativar o capital humano como elemento estratégico para
4,65 0,19
a geração de valor
Estimular o investimento estrangeiro no sector de turismo
em Moçambique através de propostas que revalorizem os
4,37 0,24
elementos de identidade e atributos próprios de cada
destino
Gerar e gerir novos conhecimentos aplicáveis a criação
4,35 0,25
de mais valor com menor uso de recursos
Melhorar a gestão do conjunto de interações do sistema
4,32 0,18
turístico moçambicano
Reforçar as intervenções das administrações públicas na
4,30 0,24
supervisão e controle da sustentabilidade do turismo
Abordar de forma integral a mobilidade turística em
4,20 0,23
Moçambique, prestando especial interesse à

Daniel A. Zacarias 53
!
!
intermodalidade
Favorecer uma gestão adaptativa dos destinos turísticos
3,96 0,30
moçambicanos
Desenvolver políticas de desincentivo do
3,73 0,28
“residencialismo” e do “tudo incluído”
Legenda: CV = coeficiente de variação
Fonte: Elaboração própria

Ademais, é importante destacar a percepção dos entrevistados em


relação à necessidade de melhoramento das variáveis que estruturam o
sistema de turismo, mediante a geração e gestão de capacidades para
agregar valor aos recursos existentes sem os sobre-explorar, melhorar o
sistema de mobilidade e de comunicação, garantindo, por outro lado, o
reforço das intervenções a nível de base para controle e supervisão dos
processos de desenvolvimento turístico.

4.5 Mecanismos de operacionalização de políticas de


turismo sustentável em Moçambique
Após a definição dos processos e dos mecanismos de gestão de
políticas de turismo sustentável, procurou-se identificar os mecanismos
que facilitassem a operacionalização das políticas (Tabela 4). Neste
contexto, os entrevistados consideraram importante a introdução de
mecanismos contra a banalização e desculturalização dos destinos, maior
responsabilização dos moçambicanos em relação à imagem dos destinos
e geração de uma nova imagem corporativa de Moçambique, como
destino turístico. Fica aqui patente o conceito de responsabilidade, em que
os entrevistados assumem que o desenvolvimento sustentável do turismo
depende dos moçambicanos, a partir do momento em que estes adoptam
54 Daniel A. Zacarias
!
novas práticas, normas e procedimentos que estejam associados aos
princípios da sustentabilidade.

Tabela 4: Variáveis para a operacionalização de políticas de turismo


sustentável em Moçambique (valores médios e grau de consenso)
Variáveis Média CV
Desenvolver mecanismos para a luta contra a
“banalização” e “desculturalização” dos destinos 4,82 0,08
moçambicanos
Assegurar maior controle do produto turístico
moçambicano e da imagem de Moçambique por parte 4,69 0,12
das empresas e destinos moçambicanos
Avançar para uma nova imagem corporativa de
Moçambique como destino turístico que destaque os 4,61 0,12
valores de sustentabilidade
Reorganizar o processo produtivo turístico, favorecendo a
4,54 0,11
integração do conjunto de agentes que participem
Impulsionar uma maior integração entre tipologias
4,54 0,15
turísticas, com objectivo de gerar oferta mais atrativa
Desenvolver estratégias de pós-consumo orientadas a
4,42 0,17
clientes que defendem os valores de sustentabilidade
Renovar as estruturas receptivas dos destinos turísticos
4,34 0,19
moçambicanos
Favorecer a incorporação de políticas de demanda 4,18 0,23
Gerar estratégias claras de distribuição e comercialização
4,11 0,22
multicanal
Incorporar atributos adicionais ao produto turístico
3,89 0,30
tradicional que justifiquem estágios mais amplos e preços
Daniel A. Zacarias 55
!
!
mais elevados em relação a competência

Legenda: CV = coeficiente de variação


Fonte: Elaboração própria

Ademais, solicita-se maior integração dos diversos atores


envolvidos nos processos de planeamento e desenvolvimento do turismo e
melhoramento das infraestruturas existentes a nível dos locais onde se
realiza o turismo. Por outro lado, verifica-se a necessidade de redefinição
das políticas de demanda, ou seja, torna-se necessário repensar a
tipologia de turistas que Moçambique deve atrair, uma vez que no
segundo ciclo de gestão do turismo em Moçambique (2004 - 2013) não
está expresso, de forma clara, que público Moçambique deve atrair. No
Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em Moçambique
(PEDTM), os processos de geração e atração da demanda concentram-
se, maioritariamente, na derivação dos turistas que visitam a vizinha África
do Sul e não numa estratégia clara de atração direta de turistas para o
país. Por exemplo, neste documento se define claramente que

“A ligação com o sector do turismo da África do Sul é uma


condição primordial para Moçambique, cuja oportunidade
geográfica é primordial, considerando mesmo que os
padrões estandardizados do turismo na África do Sul
poderão ter uma certa influência na futura estrutura do
sector em Moçambique (Governo de Moçambique,
2003:44”

e que

56 Daniel A. Zacarias
!
“Ainda neste mesmo contexto africano, o mercado
angolano oferece outras interessantes oportunidades para
Moçambique. A semelhança de culturas e de língua e a
existência de um segmento com altos rendi- mentos
constituem uma base sólida para a sua exploração. Num
futuro próximo, Moçambique também pode beneficiar dos
fluxos africanos existentes para a África do Sul através da
oferta de pacotes “Fun and Sun”, ligando os produtos de
entretenimento e de retalho de Gauteng com o turismo de
sol, praia e mar da zona costeira do sul de Moçambique
(Governo de Moçambique, 2003:46”.

Como de pode perceber, Moçambique não definiu ainda uma


estratégia de angariação da procura turística, estando completamente dos
fluxos turísticos que “sobrem” dos fluxos para a África do Sul. Neste
sentido é recomendável que esta seja estratégia seja claramente definida
para o terceiro ciclo de gestão do turismo, bem como os mecanismos de
sua operacionalização. Por outro lado, reconhece-se a necessidade de
implementação de canais mais eficientes de distribuição e comercialização
do produto turístico, uma vez que as condições atuais não correspondem
às expectativas.

Neste contexto, refere-se a existência de falhas de coordenação


entre os operadores aéreos e os turísticos, exemplificado pelo facto de “o
Governo ter uma proposta de incremento e crescimento do turismo
nacional, e ao mesmo tempo proteger a companhia aérea de bandeira”
(Cabo, 2013:343), o que restringe a possibilidade de inserção de outras
companhias no mercado e flexibilização do sistema de transporte, e o “não

Daniel A. Zacarias 57
!
!
uso de ferramentas que permitam a interação em tempo real com o cliente
de forma grátis e a fraca adesão aos sistemas globais de distribuição”
(Azevedo e Sumale, 2013:330). Estes factores, servem sobremaneira, de
impedimento ao fluxo normal de informação para atração dos turistas e
condicionam a vinda dos turistas para visitar os destinos moçambicanos.

4.6 Estratégias para desenvolvimento do turismo


sustentável em Moçambique
Como explicado nos procedimentos metodológicos, as respostas do
questionário foram submetidas à análise de componentes principais,
extraídas segundo o método de rotação ortogonal varimax. Nove
componentes apresentaram valores de eigen superiores a 1 (explicando
por si só 85.4% da variância total dos dados), tendo sido retidos como
variáveis explicadas do novo modelo de desenvolvimento do turismo em
Moçambique. Todos os factores apresentaram valores de consistência
superiores a 0.7 (ver Apêndice 1), indicando elevada consistência interna
e a validade da instrumento de medição (Raykov e Marcoulides, 2000;
Nunnally e Bernstein, 1994).

Com base na interação entre os indicadores e os factores


explicativos foram definidos 9 componentes principais como mecanismos
determinantes para a elaboração, implementação e gestão do turismo
sustentável em Moçambique (Tabela 5). Neste contexto, o primeiro
componente associou-se positivamente com as variáveis 12, 15, 9, 20, 11,
10, 28 e 5, revelando a necessidade de associação entre o capital
humano, a mobilidade dos turistas, a supervisão e o controle, a gestão da
procura turística, agregação de valor e gestão adaptativa como estratégia
primordial para o desenvolvimento do turismo. Deste modo, reconhece-se
58 Daniel A. Zacarias
!
que o principal factor para o desenho e implementação de políticas de
turismo sustentável assenta no desenvolvimento de mecanismos de
gestão adaptativa do capital humano e da demanda como estratégia para
agregar valor às áreas reservadas para o desenvolvimento do turismo em
Moçambique.

A segunda componente associou-se positivamente com as


variáveis 4, 2 e 3, espelhando a necessidade urgente de melhoramento do
quadro jurídico e institucional ligado à gestão de atividades turísticas e
estabelecimento de novos modelos de gestão do turismo como
mecanismos para o crescimento do sector. Neste contexto, manifesta a
necessidade de desenvolvimento de quadro jurídico e institucional que
favoreça a idealização de novos modelos de desenvolvimento que
contribuam para o crescimento do turismo, assumindo a necessidade de
os objectivos da política de turismo serem apresentados de forma clara e
facilmente mensuráveis como base para a salvaguarda do futuro da
atividade no país.

Adicionalmente, a terceira componente associa as variáveis 7, 13 e


6 para realçar a necessidade de conjugação de esforços entre a
planificação e ordenamento espacial, o financiamento dos destinos
turísticos e o entrosamento do turismo nas mais variadas vertentes
(relações ambientais, organização estrutural e ações operacionais - Beni,
2003). Assim, afigura-se como terceira prioridade, a necessidade de
definição de novos modelos de planificação territorial das áreas
reservadas para o desenvolvimento do turismo como forma de garantir
maior interação das variáveis do sistema turístico e facilitação de maior
fluxo de capital no sector.

Daniel A. Zacarias 59
!
!

A quarta componente associa a mobilidade dentro do segmento


turístico e a valorização do produto tradicional às estratégias de
distribuição e comercialização multicanal como fundamento para o
desenvolvimento sadio da atividade turística (variáveis 16, 23 e 25). Neste
sentido, esta componente reconhece a necessidade de melhoramento das
condições de movimentação de pessoas e bens em Moçambique e
densificação da utilização das tecnologias de informação e comunicação
associados ao turismo, como forma de garantir a distribuição e
comercialização do produto turístico nacional.

Tabela 5: Factores determinantes para a elaboração e implementação de


políticas de turismo sustentável em Moçambique (valores médios e grau
de consenso)
Factores Média CV
Desenvolver mecanismos de gestão adaptativa do
capital humano e da demanda para agregar valor aos 0,749 0,129
destinos turísticos
Desenvolver um quadro jurídico e institucional que
favoreça a idealização de novos modelos de
0,82 0,091
desenvolvimento que contribuam para o crescimento do
turismo
Definir novos modelos de planificação territorial dos
destinos turísticos, garantindo maior interação do 0,752 0,15
turismo como sistema e facilitando maior fluxo de capital
Priorizar a mobilidade turística e as estratégias de
distribuição e comercialização do produto turístico 0,686 0,281
tradicional

60 Daniel A. Zacarias
!
Melhorar o fluxo de investimento e orçamento no sector
de turismo para garantir maior integração das tipologias
0,337 2,259
turísticas com destaque para o turismo residencial e
pacotes completos
Melhorar os mecanismos de gestão estratégica para
reorganização do processo produto turístico e 0,735 0,218
integração dos diversos agentes
Estabelecer mecanismos de treinamento dos gestores
públicos para criação de nova imagem corporativa do 0,658 0,106
turismo em Moçambique
Substituir a planificação turística tradicional por uma
0,862 -----
planificação integral, consensual e adaptável
Renovar as estruturas receptivas dos destinos turísticos
0,891 -----
moçambicanos
Fonte: Elaboração própria

Por outro lado, os entrevistados definiram a necessidade de


melhoramento do fluxo de investimentos e orçamento no sector de turismo
para garantir maior integração das tipologias turísticas com destaque para
o turismo residencial e pacotes completos. Neste sentido, o caminho para
a sustentabilidade do turismo em Moçambique passa necessariamente
pela capacidade dos intervenientes de garantir investimentos sustentáveis
para o turismo que contribuam não só para o planeamento e
desenvolvimento sadio da atividade, mas também introduzam mecanismos
para integração do produto turístico de Moçambique. Esta realidade já
visionada no segundo ciclo de gestão do turismo deve ser reforçada para
o terceiro ciclo, tomando em consideração facto de que o melhoramento
da qualidade do produto turístico nacional e dos serviços que dão apoio à

Daniel A. Zacarias 61
!
!
atividade se poderá reduzir o fenómeno de entrada de turistas com todos
os seus mantimentos e necessidades, que não gera ganhos para o sector
comercial nacional.

Os restantes pilares selecionados pelos entrevistados para a


sustentabilidade do turismo relacionam-se com a necessidade de
melhoramento dos mecanismos de gestão estratégica para reorganização
do processo produto turístico e integração dos diversos agentes,
estabelecimento de mecanismos de treinamento dos gestores públicos
para criação de nova imagem corporativa do turismo em Moçambique,
substituição da planificação turística tradicional por uma planificação
integral, consensual e adaptável e renovação das estruturas receptivas
dos destinos turísticos moçambicanos.

62 Daniel A. Zacarias
!
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho buscou-se identificar as pilares para o


desenvolvimento do turismo sustentável em Moçambique, à luz das
políticas públicas. Deste modo, foram considerados como alicerces a
definição de factores prioritários para o desenvolvimento de políticas
públicas de turismo sustentáveis, a definição dos processos a ser
seguidos para o desenvolvimento destas políticas, os mecanismos de
gestão para a sua implementação, os mecanismos de operacionalização
das políticas públicas rumo à sustentabilidade do turismo e por fim os
principais factores estratégicos de desenvolvimento do turismo sustentável
em Moçambique.

De forma geral, pode-se afirmar que a participação efetiva de todos


os atores do sector turístico (sector público, mercado e comunidades
locais) foi destaca a todos os níveis de atuação pelos entrevistados, bem
como a necessidade de descentralização (ou descontração) de poderes
para tomada de decisão sobre os processos de desenvolvimento do
turismo a nível dos locais onde a atividade turística realmente acontece e
a necessidade de se procurar um novo paradigma de desenvolvimento
baseado na renovação da imagem corporativa de Moçambique como
destino turístico baseado na valorização do produto tradicional, abertura
ao mercado doméstico, viabilização e flexibilização dos mecanismos de
distribuição e comercialização do produto turístico e o envolvimento das
comunidades locais.

Daniel A. Zacarias 63
!
!
Neste contexto, foram definidos como pilares estratégicos para que
o turismo se torne sustentável em Moçambique a introdução de
mecanismos de gestão adaptativa do capital humano e da demanda para
agregar valor aos destinos turísticos, a preparação de quadro jurídico e
institucional que favoreça a idealização de novos modelos de
desenvolvimento que contribuam para o crescimento do turismo, a
definição de novos modelos de planificação territorial dos destinos
turísticos, garantindo maior interação do turismo como sistema e
facilitando maior fluxo de capital, o melhoramento da mobilidade turística e
das estratégias de distribuição e comercialização do produto turístico
tradicional, melhoramento do fluxo de investimento e orçamento no sector
de turismo para garantir maior integração das tipologias turísticas com
destaque para o turismo residencial e pacotes completos e dos
mecanismos de gestão estratégica para reorganização do processo
produto turístico e integração dos diversos agentes, o treinamento dos
gestores públicos para criação de nova imagem corporativa do turismo em
Moçambique, a substituição da planificação turística tradicional por uma
planificação integral, consensual e adaptável e a renovação das estruturas
receptivas dos destinos turísticos moçambicanos.

Entretanto não se deve assumir que estes pilares por si só sejam


capazes de alavancar o turismo para patamares sustentáveis e mais
competitivos, devendo se prestar particular atenção à dinâmica do
mercado internacional, a estabilidade político-social a nível interno e a
flexibilização dos mecanismos de tomada de decisão.

64 Daniel A. Zacarias
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