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Prova de Aptidão Artística

Música Tradicional Chinesa e Japonesa

Rúben Miguel Conceição Carvalho


14 de junho de 2016
Índice:

Introdução......................................................................................................................1
Citação Textual..............................................................................................................2
Música Antiga................................................................................................................3
Música Tradicional Chinesa..........................................................................................4
Shi-er-lu.........................................................................................................................5
Sistema de Notação Chinesa.........................................................................................6
Música Tradicional Japonesa........................................................................................8
Música Japonesa Antiga................................................................................................8
Shomyo: Um Cântico Budista........................................................................................9
Música do Período Medieval até Séc. XIX....................................................................9
Flor de Jasmim............................................................................................................11
Canção de Ano Novo...................................................................................................12
Flor de cerejeira..........................................................................................................13
Gonbee está a semear..................................................................................................14
Canção de Casamento.................................................................................................15
Música de Festival.......................................................................................................16
Lua de Outono sobre o Calmo Rio..............................................................................17
Conclusão....................................................................................................................18
Bibliografia..................................................................................................................19
Anexos..........................................................................................................................20
Introdução

No âmbito da Prova de Aptidão Artística foi-me proposta a realização de um projeto que


demonstrasse os conhecimentos e as capacidades técnico-artísticas adquiridas ao longo do percurso
escolar.
A realização deste consiste em duas partes: uma primeira parte onde iniciarei um trabalho
escrito, onde se insere uma pequena contextualização da música antiga e uma pesquisa sobre o que
é a música tradicional chinesa e japonesa desde os primórdios da Humanidade; de seguida,
concluirei a minha apresentação com uma performance de obras folclóricas de cada país e uma
breve apresentação de cada uma.
A música tradicional japonesa é bastante diversificada mas, originalmente, a maior parte foi
importada da China. Com o passar dos anos, foi sofrendo alterações tornando-se nos diversos estilos
característicos japoneses.
Já a música tradicional chinesa, por outro lado, é conhecida desde os primórdios dos tempos.
Para os chineses, esta foi inventada por um dos primeiros imperadores da china mas, como sabemos
atualmente, a sua invenção não pode ser atribuída a ninguém. Para eles, a música é a alma da
harmonia entre o céu, a terra e o Homem.

1
“A música é originada no coração do Homem.
A harmonia do coração produz a harmonia da respiração,
a harmonia da respiração produz a da voz,
e a harmonia da voz é o símbolo da harmonia existente entre o céu e a terra.”
~Musical Recorder

2
Música Antiga

A origem da música e o aparecimento do Homem na Terra encontram-se interligados


cronologicamente. Com o decorrer do tempo, o ser humano tentou agrupar os sons naturais da sua
voz em sistemas, para poder reorganizá-los e torná-los em melodias agradáveis ao ouvido, e, mais
tarde, para poder fazer instrumentos, nos quais as melodias poderiam ser executadas.
Não existiu nenhuma nação no planeta Terra que não amasse essa arte encantadora, essa
necessidade da alma, a música. Esta é tão poderosa que tanto pode excitar, como acalmar, e tanto é
utilizada para animar nos tempos de guerra, como na vida pastoral.
Os Gregos, os Egípcios, os Chineses, e todas as outras nações da antiguidade, registaram e
referiram a influência mágica e misteriosa da música. Mesmo que esta na época fosse mais simples,
não se pode negar que a música nacional de cada país, ou nação, tem uma presença mística na
paixão dos seus habitantes.
A música sempre esteve bastante ligada à religião. Nas religiões politeístas apenas ocupa um
lugar de subordinada, estando as artes plásticas num patamar mais elevado, mas nas nações cujas as
venerações tinham um carácter mais espiritual, a música passava a residir o primeiro lugar. Por
exemplo, os chineses adoradores de Shang-ti, um Deus Supremo, possuem um tipo de música
desconhecida para os veneradores de Buda e de Tao. Um facto indiscutível é que a música tem
evoluído com o Cristianismo. Através do seu carácter de espiritualismo inexprimível, esta arte de
sons era capaz de transmitir as ideias cristãs de um Deus sem princípio.
Platão chega a afirmar que a música afeta, consideravelmente, a constituição do Estado. De
facto, todos os hábeis e sábios políticos tem noção que não podem olhar para os seus subordinados
como abstrações, sem considerarem que os Homens também têm sentidos e sentimentos. Os
chineses tinham as mesmas ideias.

3
Música Tradicional Chinesa

A música, na China, tem sido, sem dúvida, conhecida desde a antiguidade mais remota. É se
dito que foi inventada pelo Imperador Fu Hsi (2852 a.C.), mas a sua invenção não pode ser
atribuída a ninguém. Para os chineses, a música é a principal essência da harmonia entre o céu, a
terra e o Homem.
Os primeiros invasores de certo que trouxeram consigo um tipo de noções musicais. Os
aborígenes já possuíam um tipo de sistema musical, cujo os ocupantes admiravam e misturaram
com o seu próprio.
Podemos observar no T’ung-tien (通典), que é uma enciclopédia institucional histórica, que
a música, ao longo dos impérios foi mudando de nome, tendo vindo a chamar-se de fu-lai ou
mesmo de hsien-chih. O verdadeiro significado destes e outros nomes é-nos desconhecido, mas
podem ser comparados aos termos musicais da Bíblia. Nesta altura a música não possuía regras
fixas, cada imperador utilizava o seu próprio sistema de música, visto que nem sempre
concordavam entre si. Com o início do Império de Huang Ti (2697 a.C.), o “Imperador Amarelo”, a
música chinesa assume a sua forma mais característica: uma nota é tomada como a nota base; os
sons eram fixos e cada um recebia um nome; havia uma comparação entre as notas e os corpos
celestes; a música torna-se numa necessidade do Estado.
Segundo eles, a música assenta em dois princípios fundamentais: o shên-li, o espírito; e o
ch’i-shu, a substância material. Tudo o que são produções naturais, ou shên-li, são representadas por
união e tudo o precisa de aperfeiçoamento pelas mãos do Homem, ou ch’i-shu encontra-se num
patamar inferior, representado pela separação, ou pluralidade. A união é o céu e a separação, ou
pluralidade, é a terra. O princípio espiritual, ou shên-li, é a essência dos corpos, a sua origem; o
princípio material, ou ch’i-shu, é a forma física do shên-li. Portanto, quando o princípio material da
música, ou seja, os instrumentos, é feito corretamente, o princípio espiritual correspondente, ou
seja, a essência, o próprio som da música, é manifestado com perfeição.
Esta teoria dos princípios da música é a única informação que permanece sobre a música
antiga. Quando o Imperador Qin Shi Huang-ti (246 a.C.), conhecido como o destruidor de livros,
subiu ao trono ordenou a aniquilação de todos os livros que não fossem sobre medicina, agricultura
ou a veneração. Esta ordem foi exigida para não existir quaisquer lembranças do passado, e os
livros sobre música e os instrumentos musicais sofreram o mesmo destino. Longos anos de
ignorância dominaram o país até ao início da dinastia Han. A incultura era tanta que o grande
mestre-músico Chi, no início desta dinastia, mal se lembrava de qualquer coisa sobre música, para

4
além do som que os sinos e os tambores dos dançarinos produziam. Durante as dinastias seguintes
fizeram-se grandes esforços para reviver a música, encontrando livros e instrumentos antigos,
escrevendo novos livros e fazendo novos instrumentos. Durante esta demanda de obter novamente
cultura musical, esta mesma arte tão honrosa e ilustre entrou numa decadência até chegar ao ponto
mais baixo possível. Portanto, a música chinesa teve de ser dividida em dois tipos: a música sagrada
e música teatral, ou popular.
Devido ao grande período de incultura do Império de Qin Shi Huang-ti, a população passou
a adorar os sons mais simples e os instrumentos que não necessitam de estudo para tocar, como por
exemplo, o Pien-chung ( 編 鐘 ), um conjunto de sinos cerimoniais feitos de bronze. A música
ocidental não era apreciada na China de todo, devido à sua complexidade.

Shi-er-lu
十二律

O lu (律) era um conjunto de doze tubos de bambo, medindo o primeiro 23cm, que poderão
ser comparados aos doze meios-tons de uma oitava.
A sua descoberta e invenção é atribuída ao imperador Huang Ti, que mandou um dos seus
subordinados encontrar tubos de bambo para fazer o lu. O seu subordinado, Ling Lun, encontrou
doze tubos de bambo e organizou-os de acordo com as ideias do seu mestre, e estes receberam o
nome de lu (律), visto que este também significa lei, princípio, ordem. Existem muitas teorias sobre
o porquê da divisão em doze meios-tons mas a causa mais possível será, provavelmente, a de
origem natural.
Os chineses sempre procuraram equilíbrio entre semelhanças e diferenças, tanto que
acreditam que existe uma harmonia perfeita entre o céu e a terra. Eles atribuíram o número três
como símbolo do céu, e o número dois como emblema da terra, logo, se dois sons estiveram na
proporção de três para dois, estes vão obter uma harmonia perfeita. Seguindo este princípio, o
segundo tubo foi cortado de maneira a que medisse exatamente dois terços do comprimento do
primeiro tubo, gerando assim um intervalo sonoro entre os dois equivalente a uma quinta perfeita.
O terceiro tubo de bambo foi tratado da mesma maneira, medindo dois terços do
comprimento do anterior, originando então uma quinta perfeita acima. Visto que esta nova nota

5
parecia se encontrar muito longe da nota do primeiro tubo, a medida do terceiro foi dobrada, sendo
assim quatro terços do segundo, e, assim, a nota soaria uma oitava abaixo.
Todos os outros tubos eram tratados e cortados usando o mesmo princípio da representação
da harmonia, alternando entre medir dois terços ou quatro terços do seu tubo anterior. Por
conseguinte, o lu foi dividido em dois tipos: os yang lus (陽律) e os yin lus (陰律), os perfeitos e os
imperfeitos. Os bambos de número ímpar eram considerados os yang, e os de número par eram os
yin. Esta distinção, como é óbvio, não alterava nem afetava os tons, foi apenas criada para satisfazer
as ideias dos Chineses da altura.
O primeiro tubo, o que originou todos os outros, recebeu o nome de huang-chung (黃鐘) e o
som produzido por este recebeu o nome de kung (宫), e tornou-se um género de “nota-chave” de
uma escala de doze tons quase idêntica à ocidental 1, sendo que a nossa era “temperada” enquanto a
dos chineses não, daí alguns intervalos soarem quer muito altos ou muito baixos.

Sistema de Notação Chinesa

Apesar de existirem 12 lu que formam um género de escala dividida em meios-tons, os


antigos da dinastia Yin (1300 a.C.) usavam apenas cinco notas, os sons emitidos pelos cinco
primeiros lu.2 Estas notas eram: kung (宫), shang (商), chiao (角), chih (徵) e yu (羽).
Duzentos anos mais tarde, com o início da dinastia Chou (1100 a.C.), foram acrescentadas
mais duas notas, emitidas pelos dois tubos seguintes. Estas eram: pien-kung (夔宫) e pien-chih (夔
徵). Tsai Tzu explica o acréscimo destas duas notas dizendo: “Entre kung e shang, shang e chiao,
chih e yu, existe o intervalo de um lu, ou seja, saltamos um lu e usamos o seguinte. Mas entre chiao
e chih, yu e kung, existe o intervalo de dois lu. Quando as notas estão separadas apenas por um lu, a
distância não é muito grande e a sua sucessão soa satisfatória, mas quando se encontram dois lu
entre duas notas, a ligação entre estas parece estar interrompida, daí se adicionarem as notas pien-
kung e pien-chih.”
Estas notas e os seus caracteres ficaram inalterados até a ascensão da dinastia Yuan (séc.
XIV), quando os mongóis invadiram a China e trouxeram consigo o seu sistema de notação.3
1
Ver anexo 1 – Diagrama que ilustra o shi-er-lu.
2
Ver anexo 2 – Diagrama que ilustra como cada lu provêm do anterior.
3
Ver anexo 3 – Sistema de notação mongol.

6
Este foi rapidamente adotado devido à simplicidade de caracteres, comparando com os da antiga
escala. O sistema de notação na China sofreu mais algumas alterações até que, no século XV com a
dinastia Ming, todas as notas que produzissem meios-tons fossem removidas, obtendo, então, uma
escala pentatónica.1
Mesmo com estas alterações, e esta última escala ser a mais utilizada, os chineses admitem
que existem sete sons numa escala, mas apenas utilizam os cinco apresentados anteriormente.
Como, para eles, há sempre uma ligação entre tudo, essas cinco notas são comparadas: aos cinco
planetas (Mercúrio, Júpiter, Saturno, Vénus e Marte), aos cinco pontos (Norte, Este, Centro, Oeste e
Sul), às cinco cores (Preto, Roxo, Amarelo, Branco e Vermelho), como também aos seus cinco
elementos (Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água).
A música chinesa e as suas escalas não podem ser consideradas Maiores nem menores. A sua
escala pentatónica não possui nenhum intervalo de terceira maior ou menor perfeito, nem nenhuma
nota sensível, para poder ser caracterizada como maior ou menor e, mesmo que se tenha em
consideração a sua escala heptatónica, como as notas não estão temperadas, os intervalos de
terceiras nunca sairão perfeitos. Como a escala mais usada pelos chineses é composta por intervalos
irregulares e não possui notas sensíveis, esta escala não é caracterizada nem como maior nem como
menor, mas sim como se fizesse parte de ambas. As melodias chineses não são majestosas e tão
festivas como as nossas de modo maior, como também não exprimem delicadeza nem tristeza como
as nossas de modo menor.

Com tanta diversificação da música chinesa, esta foi transportada e adotada noutros países,
como na Tailândia, na Mongólia e mesmo no Japão.

1
Ver anexo 4 – Escala pentatónica.

7
Música Tradicional Japonesa

A história da música tradicional japonesa é bastante rica e variada. Muitas formas musicais
foram importadas da China, à vários milénios, mas, com o passar dos anos, sofreram alterações e
foram remodeladas para estilos característicos japoneses. Os instrumentos ou eram adaptados dos
chineses, ou eram criados de raiz para satisfazer as necessidades locais, sendo os mais importantes o
shamisen1, o shakuhachi2 e o koto3. A música, no Japão, era quase sempre usada para acompanhar
teatros, e foi daí que surgiu o Noo4, na Idade Média. O Noo é um drama que perdura até a atualidade
e que utiliza máscaras, combinando a declamação de poemas, que possuam um carácter denso, com
um conjunto de percussão e flautas. Mais tarde, a classe social mais desfavorecida, que não tinha
direito a assistir às interpretações de Noo, constataram, pela primeira vez, a expressividade no teatro
Kabuki, sendo o seu próprio nome constituído por ideograma, como muitas palavras japonesas.
Kabuki é formado a partir de kanji ka ( 歌 ), que simboliza canto, bu ( 舞 ), a dança, e ki ( 伎 ), a
habilidade. Muitas vezes kabuki também significa “a arte de cantar e dançar”. No Japão de hoje-em-
dia a música ocidental tem vindo a ofuscar as formas tradicionais, mas estas continuam a ser
interpretadas e apreciadas, sendo consideradas como uma ligação viva ao passado do país.

Música Japonesa Antiga

Quase nada se sabe sobre a música pré-histórica do Japão, durante os períodos Jomon e
Yayoi, apesar de existirem figuras de rituais que se apresentam como músicos, sugerindo a
importância da música desde cedo. Período Jomon foi o nome dado à primeira civilização japonesa,
tendo este prevalecido desde 8 000 a.C. até, por volta de, 200 a.C., com o surgimento da cultura
Yayoi. Esta última durou cerca de 550 anos, desde 300 a.C. até 250 d.C.. O pouco que se mantém
dessa era pré-histórica são algumas canções, lendas e rituais, todos registados nos dois livros mais
antigos sobre a história do Japão, o Kojiki e o Nihon Shoki. Quando o Kojiki foi escrito, durante o
1
Ver anexo 5 - Shamisen
2
Ver anexo 6 - Shakuhachi
3
Ver anexo 7 – Koto
4
Ver anexo 8 – Noo

8
Império de Temmu, que governou entre 673 e 686 d.C., as canções aí compiladas já faziam parte da
tradição da corte.

Desde as épocas mais remotas da história do Japão, a poesia e a música sempre foram muito
importantes e a distinção entre os dois nunca foi muito clara. A palavra uta tanto quer dizer
“canção” como “poesia”, usando apenas, atualmente, kanjis diferentes, sendo uta (歌) para canção e
uta (詩) para poesia. Apesar do Japão ter uma cultura bastante característica e demarcada, o estado
imperial usa a escrita chinesa, os kanjis, e importava a cultura para o entretenimento e cerimónias.

Shomyo: Um cântico Budista

O Budismo, nos períodos Nara (710 – 794 d.C.), tendo sido neste estabelecido, e Heian (794
– 1185 d.C.), encontrava-se acessível e conhecido apenas para a corte imperial e para os membros
da elite. Existia um grande ênfase em criar rituais e cânticos bastante elaborados, fazendo com que
apenas os profissionais mais bem treinados os conseguissem interpretar.
Uma forma de música budista é o Shomyo. Isto é um estilo musical que entrou no Japão no
período Nara e consiste em recitar sutras, adicionando uma melodia. Os sutras eram textos
sagrados com ensinamentos transmitidos oralmente, criados pelo Buda Gautama, sendo apenas
mais tarde escritos. Foram encontrados três estilos de Shomyo: o Bonsan, que era cantado em
sânscrito, o antigo dialeto indiano e o idioma original dos sutras; o Kansan, que era cantado em
chinês; e o Wasan, que era cantado em japonês.

Música do Período Medieval até Séc. XIX

A época medieval japonesa engloba o período Kamakura (1185 – 1392), o período


Muromachi (1392 – 1568), o período Momoyama (1568 – 1600) e o começo do período Edo (1603
– 1868) até ao início do séc. XVIII. Apesar da corte imperial continuar a ser a fonte de legitimidade
e a mediadora da cultura clássica, o verdadeiro poder foi, gradualmente, adquirido por alguns
líderes militares e o Japão começou a ser liderado por estes. O período Kamakura ficou conhecido
pela sua simplicidade e, em vez dos rituais complexos do Budismo do período Heian, o destaque foi

9
dado à salvação do povo com rezas simples e através da meditação Zen. No período Muromachi,
um novo shogunate apareceu, Ashikaga Takauji. Os Shogun eram os líderes militares regentes do
Japão. Foi nesta época que se desenvolveram muitas coisas nitidamente japoneses, como a
cerimónia do chá, os conhecidos tapetes tatami e o teatro Noo. Até esta data a classe militar era
vista como inferior, mas as formas de arte, como o Noo, forneceram um espaço cultural onde os
guerreiros mais importantes e os membros da corte imperial se podiam encontrar. Passado pouco
tempo o shogunate regente desapareceu e iniciou-se uma guerra civil entre clãs militares durante
décadas, até o Japão ser unificado por Oda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu, no
final do séc. XVI. Entretanto, a cultura estrangeira entrou no país, trazendo consigo armas, vinho, o
Cristianismo e roupas exóticas portuguesas. Por fim, com Tokugawa Ieyasu, um shogunate ficou
instalado em Edo, o antigo nome para Tóquio, e o Japão cortou negócios e comunicações com o
Oeste.

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Flor de Jasmim
茉莉花

Moo Lee Hwa é uma música popular chinesa anterior ao século XVIII. Com o passar do
tempo foi ganhando bastantes variantes regionais, tornando-se popular quer na China como pelo
resto do mundo. Foi criada na era de Qianlong (1735 – 1796), durante a dinastia de Qing e, embora
haja bastantes variantes da música, as duas mais conhecidas são as da província de Jiangsu e da
província de Zhejiang, tendo cada um letras e melodias diferentes. Uma descreve o costume de
oferecer flores de jasmim, enquanto que a outra narra o medo de arrancar esta mesma flor. Utiliza a
escala pentatónica desenvolvida e característica da China. Foi uma das primeiras músicas
tradicionais chinesas a ficar conhecida fora do seu país. Atualmente, já foi utilizada durante alguns
eventos, como as Olimpíadas de Verão de 2004 e de 2008. As duas letras são as seguintes:

A que descreve o costume de oferecer as flores:

Mandarim Simplificado Hanyu Pinyin Tradução


好一朵美丽的茉莉花 Hǎo yī duǒ mĕi lì de mò li huā Que linda flor de jasmim
好一朵美丽的茉莉花 Hǎo yī duǒ mĕi lì de mò li huā Que linda flor de jasmim
芬芳美丽满枝桠 Fēn fāng měi lì mǎn zhī yā Cheirosa, bela, com rebentos
又香又白人人夸 Yòu xiāng yòu bái rén rén kuā Perfumada, que todos querem
让我来将你摘下 Ràng wǒ lái jiāng nǐ zhāi xià Deixa-me te apanhar com carinho
送给别人家 Sòng gěi bié rén jiā E dar-te a alguém
茉莉花呀茉莉花 Mò li huā ya mò li huā Flor de jasmim, flor de jasmim.

A que narra o medo de a arrancar:

Mandarim Simplificado Hanyu Pinyin Tradução


好一朵茉莉花 Hǎo yī duo mòlìhuā Uma flor de jasmim!
满园花开香也香不过它 Mǎn yuán huā kāi xiāng yě De todas as flores perfumadas, e

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xiāng bùguò tā ervas no jardim, não existe
nenhuma como tu,
我有心采一朵戴 Wǒ yǒuxīn cǎi yī duo dài Quero apanhar uma e usá-la
又怕看花的人儿要将我骂 Yòu pà kàn huā de rén er Mas o jardineiro ralharia comigo
yào jiāng wǒ mà

好一朵茉莉花 Hǎo yī duo mòlìhuā Uma flor de jasmim!


茉莉花开雪也白不过它 Mòlìhuā kāi xuě yě bái bu guò tā Quando floresce, nem a neve é
tão branca.
我有心采一朵戴 Wǒ yǒuxīn cǎi yī duo dài Quero apanhar uma e usá-la
又怕旁人笑话 Yòu pà pángrén xiàohuà Mas tenho medo que me zombem

好一朵茉莉花 Hǎo yī duo mòlìhuā Uma flor de jasmim!


满园花开比也比不过它 Mǎn yuán huā kāi bǐ yě bǐ De todas as flores, nenhuma se
bùguò tā compara a ti
我有心采一朵戴 Wǒ yǒuxīn cǎi yī duo dài Quero apanhar uma e usá-la
又怕来年不发芽 Yòu pà láinián bù fāyá Mas tenho medo que não brotem
no próximo ano.

Canção do Ano Novo


はる の うた

A única informação que é possível encontrar sobre Haru no uta é o nome do seu compositor
e do escritor da sua letra, Hajime Uchida e Kunizo Kishi, respetivamente, como também que esta
retrata o dia do ano novo.

A letra é a que se segue:

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Hiragana Romanji Tradução
ちとつ と や Chitotsu to ya Quando as nuvens da noite voam
ちと や あかれえば Chito ya akareeba O amanhecer do novo ano
abrange todo o céu;
にんぎやか でえ Ningiyaka dee Ouvem-se vozes alegres,
にんぎやか でえ Ningiyaka dee Ouvem-se vozes alegres.
かさり たてえたる Kasari tateetaru Penduram-se ramos de pinheiros
まつ かさり Matsu kasari Por toda a parte,
まつ かさり Matsu kasari Por toda a parte.

ふたつ と や Futatsu to ya Deixa tão elegantemente


ふた ば の まつ わ Futa ba no matsu wa Recém colhida, com um brilho
elegante;
いろ よ てえ Iro yo tee Brilhante na luz,
いろ よ てえ Iro yo tee Brilhante na luz.
さんがい まつ ああ Sangai matsu aa Desde o alto pinheiro de Kadusa
かづさ やま Kadusa yama Acenando do alto,
かづさ やま Kadusa yama Acenando do alto.

Flor de Cerejeira
さくら

Sakura é uma música que representa a primavera, a época das flores de cerejeira no Japão.
Esta melodia era popular no período Edo (1603 – 1868) e não dos tempos mais antigos, como maior
parte das pessoas pensam. Esta música tornou-se popular desde o período Meiji (1868 – 1912) e a
sua letra foi estabelecida nessa época e, atualmente, esta peça possuí várias funções, quer seja uma
peça adotada para os alunos iniciantes de koto, quer seja para representar o Japão. A Sakura usa
uma melodia que consiste numa escala pentatónica. A letra original da música era só a segunda
estrofe mas, em 1941, o Ministério da Educação Japonesa acrescentou a primeira estrofe.

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Hiragana Romanji Tradução

さくら さくら Sakura sakura Flor de cerejeira, flor de cerejeira


のやま も さと も Noyama mo sato mo Nos campos, montanhas e vilas
みわたす かぎり Miwatasu kagiri O quão longe os olhos conseguem ver
かすみ か くも か Kasumi ka kumo ka Será nevoeiro, ou nuvens?
あさひ に におう Asahi ni nioo Perfumado no sol matinal.
さくら さくら Sakura sakura Flor de cerejeira, flor de cerejeira
はな ざかり Hana zakari Flores completamente floridas

さくら さくら Sakura sakura Flor de cerejeira, flor de cerejeira


やよい の そら は Yayoi no sora há Através do céu da primavera
みわたす かぎり Miwatasu kagiri O quão longe os olhos conseguem ver
かすみ か くも か Kasumi ka kumo ka Será nevoeiro, ou nuvens?
におい ぞ いずる Nioi zo izuru Fragrâncias pelo ar.
いざや いざや Izaya Izaya Vem, vem,
みに ゆかん Mini yukan Vamos vê-las!

Gonbee está a semear


ごんべい が たねまく

Pouco se consegue encontrar sobre esta peça, nomeadamente, apenas uma muito breve
descrição e a sua letra. Gonbee ga tanemaku é uma canção alegre e jocosa das classes mais baixas e
a sua letra é a seguinte:

Hiragana Romanji Tradução


ごんべい が たね まきや Gonbee ga tame makiya Quando Gombee planta sementes

14
カラス が ほじくる Karasu ga hojikuru O corvo apanha-o outra vez;
さんど に いちど わ Sando ni ichido wa A cada terceira vez
おわずば なるまい Owazuba narumai Ele tem de os afugentar outra vez
ずんべら ずんべら Zunbera, Zunbera
ずんべら よ Zunbera yo

A palavra “Gonbee” ( ご ん べ い ) não tem uma tradução própria, sendo, nesta música,
substituída por um nome próprio. Os últimos dois versos são simples sons como “tralala”.

Canção de Casamento
こんいん の うた

Existe pouca informação sobre Konin no uta, somente que era cantada e tocada nos
casamentos. Encontra-se dividida entre parte de solista e parte com coro. Existe, ainda, uma
referência a um jovem pinheiro, que simboliza a união de casal recém casado.
A letra é a seguinte:

Hiragana Romanji Tradução


Solo:
めでた めでた わ Medeta medeta wa Louvem o jovem pinheiro
わかまつ さま よ Wakamatsu sama yo Louvem com todo o respeito
よだ も さかゆりや Yoda mo sakayuriya Permitam que os seus ramos se
espalhem
は も しげる めでた や Ha mo shigeru! Medeta ya! E que as suas agulhas cresçam
fortes juntas! Louvem!

Coro: ちよ の こ めでた や Chiyo no ko medeta ya! Louvem as crianças de milhares


de gerações!

15
Canção de Festival
まつり ばやし

Matsuri Bayashi é uma música que acompanha os festivais tradicionais japoneses, chamados
de matsuri. O seu nome mais preciso é o já referido, mesmo que, popularmente, se denomine
hayashi, pois hayashi também é usado para designar a música de kabuki, de noo, de kagura, entre
outros espetáculos. Existem diversos matsuri no Japão, com melodias, harmonias e instrumentação
diferentes, visto que é um festival regional, portanto, não se pode afirmar com certeza qual é a sua
origem e se proveem todos dessa mesma origem.
Uma dessas letras fala sobre uma lenda popular que conta a história de uma rapariga do
século VIII, Tekona, que vivia na cidade de Mama, fazendo agora parte de Tóquio. A beleza desta
rapariga causou tanta violência e desgraça que ela acabou por se afogar no seu próprio desespero.
Essa letra é a que se segue:

Hiragana Romanji
こえ かまびすしく Koe kamabisushiku
わりだけ に Waridake ni
さき を はらわそ Saki wo harawasu
かなぼう わ Kanaboo wa
ママ の てこな か Mama no Tekona ka
てこまえ が Tekomae ga
おんあ と も みえ Onna to mo mie
おとこ と も みえと Otoko to mo mieto
やさしき うめ やなぎ Yasashiki ume yanagi
いろ か を ます の Iro ka wo masu no
あごしょうじ Agoshooji
おどり やたい と Odori yatai to
みぎ ひだり Migi hidari.

16
Tradução:
O barulhento murmurar das vozes em todo o lado; com um ruidoso bastão de bambo, divido
no topo, um caminho é aberto em frente. A rapariga com a vareta de ferro, com anéis tilintantes, que
se parece com uma mulher mas também com um homem, não é ela a bela Tekona de Mama? Uma
rapariga bonita, na janela aberta, espalha cor e fragrâncias pelas árvores à frente da sua casa; e
depois dança por toda a parte, para que, quer à direita, quer à esquerda, haja algo lindo para se ver.

Lua de Outono sobre o Calmo Rio


平湖秋月

Escrita por Lü Wencheng ( 吕 文 成 ) (1898 – 1981), nos anos 30 do séc. XX, esta música
tradicional é considerada o seu expoente máximo. Foi composta quando este fez uma visita ao Lago
do Oeste (西湖), em Hangzhou (杭州) e é a manifestação sublime da sua adoração pela natureza e
aquele cenário que vivenciava. O Lago do Oeste sempre foi considerado, já desde os tempos mais
antigos, um lugar magnifico que transmite tranquilidade, e esta música ilustra essa mesma
atmosfera com a sua serena e calma flexibilidade. Wencheng incorporava elementos da música
folclórica de Zhejiang, uma região da China, com o estilo Guangdong, outra região da China, pelo
qual ele é famoso. Apesar da sua composição original não ser para piano, Chen Peixun (陳培勳) fez
a transcrição para piano e desde então a música tem crescido em popularidade e até faz parte do
repertório de muitos pianistas chineses.

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Conclusão

A música tradicional asiática encontra-se interligada, quer seja entre países que partilham
fronteiras, como a Mongólia e a China, ou entre países que são separados por mar, como a China e
o Japão. Apesar desta interligação, a música de cada país não deixa de ser única visto que se
encontra bastante enraizada nas tradições e na cultura.
Tendo em conta que estes países se situam a grandes distâncias dos países da Europa
Ocidental, é natural que a música evolua de forma diferente, considerando as diversas culturas e
tradições de ambos. Portanto, não é correto afirmar que a música asiática se encontra menos
desenvolvida.
A música tradicional chinesa sofreu muitas modificações até chegar ao que conhecemos
hoje-em-dia, a típica escala pentatónica. No início até era uma espécie de escala dividida em doze
meios-tons, como é a nossa, apesar de esses doze tons não corresponderem exatamente aos nossos,
pois ou eram muito altos ou muito baixos. Os instrumentos ocidentais de hoje-em-dia, como o
piano, não conseguem reproduzir, com fidelidade, as melodias chinesas.
Não ocorreram tantas alterações na música tradicional japonesa pois esta foi importada da
China, e parte da Índia. O seu regime político da altura também não permitia muita evolução em
termos musicais, chegando ao ponto de expulsar culturas ocidentais do seu país.

Com a realização da Prova de Aptidão Artística fiquei a conhecer um pouco mais sobre a
música chinesa e japonesa, suas origens e evolução, sendo já eu bastante interessado na cultura e
costumes destes países, especialmente do Japão. São culturas com traços comuns mas que foram
sofrendo alterações ao longo dos milénios devido às influências e governos dos seus imperadores,
tonando-as únicas em cada país.

18
Bibliografia:
• VAN AALST, J. A.. China, Imperial Maritime Customs: II – Special Series: nº 6: Chinese
Music. Shangai: The Inspector General oof Costums, 1884.
• “Traditional Japanese Music”.
Disponível em: < http://web-japan.org/kidsweb/virtual/koto/koto01.html >
Visitado a: 15 de maio de 2016
• “History of Japanese Traditional Music”.
Disponível em: < http://jtrad.columbia.jp/eng/history.html >
Visitado a: 15 de maio de 2016
• “Noh”.
Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Noh >
Visitado a: 22 de maio de 2016
• “Kabuki”.
Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Kabuki >
Visitado a: 22 de maio de 2016
• “Autumn Moon Over the Calm Lake”.
Disponível em: < https://en.wikipedia.org/wiki/Autumn_Moon_Over_the_Calm_Lake >
Visitado a: 29 de maio de 2016
• “Daisyfield Archive of Japanese Traditional Music: About ‘Gonbe ga Tanemaku’”
Disponível em: < http://www.daisyfield.com/music/htm/japan/GonbeGaTanemaku.htm >
Visitado a: 29 de maio de 2016
• “Sakura Sakura”.
Disponível em: < https://en.wikipedia.org/wiki/Sakura_Sakura >
Visitado a: 29 de maio de 2016
• “Daisyfield Archive of Japanese Traditional Music: About ‘Matsuri-Bayashi’”
Disponível em: < http://www.daisyfield.com/music/htm/japan/Matsuri-Bayashi.htm >
Visitado a: 29 de maio de 2016
• “Matsuri-bayashi”
Disponível em: < https://fr.wikipedia.org/wiki/Matsuri-bayashi >
Visitado a: 29 de maio de 2016
• “Mo Li Hua”.
Disponível em: < https://en.wikipedia.org/wiki/Mo_Li_Hua > Visitado a: 29 de maio de
2016

19
Anexos:

Ilustração 1: Diagrama que ilustra o shi-er-lu

Fonte: VAN AALST, J. A.. China, Imperial Maritime Customs

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Ilustração 2: Diagrama que demonstra como cada lu provém do anterior.

Fonte: VAN AALST, J. A.. China, Imperial Maritime Customs

Ilustração 2: Sistema de notação dos mongóis trazido para a China, por estes, durante a sua invasão.

Fonte: VAN AALST, J. A.. China, Imperial Maritime Customs

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Ilustração 3: Escala pentatónica obtida na dinastia Ming.

Fonte: VAN AALST, J. A.. China, Imperial Maritime Customs

Ilustração 4: Shamisen, instrumento tradicional japonês.

Fonte: < http://www.senzoku-online.jp/TMDL/e/02-


shamisen.html > Visitado a: 9 de junho de 2016

22
Ilustração 5: Sakuhachi, instrumento tradicional japonês.

Fonte: < http://harpgear.com/gome/ > Visitado a: 9 de junho


de 2016

Ilustração 6: Koto, instrumento tradicional japonês.

Fonte: < http://www.mfa.org/collections/object/miniature-zither-koto-50712 > Visitado a: 9 de


junho de 2016

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Ilustração 7: Noo, drama que utiliza máscaras.

Fonte: < http://www.osaka-info.jp/en/facilities/cat2/post_308.html > Visitado a: 9 de junho de


2016

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