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RIO DE JANEIRO
SETEMBRO DE 2016
BIOMASSA, UMA FONTE DE ENERGIA
Examinada por:
____________________________________
____________________________________
____________________________________
Biomassa, uma fonte de energia/ Giovany Martins de Freitas. – Rio de Janeiro: UFRJ/
Escola Politécnica, 2016.
iii
AGRADECIMENTOS
A Deus, em primeiro lugar, pela oportunidade de estar aqui e poder curtir a vida.
Aos meus pais e irmãos, pela força e apoio em todos os momentos de minha vida e em
especial à minha mãe por sempre estar de braços abertos em momentos de dificuldades.
iv
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista.
Setembro/2016
Figura 2.1 Lago Ácido, tendo Aparados da Serra ao fundo, sul de Santa Catarina - Poluição
devido à exploração do Carvão Mineral tem até mercúrio metálico.. ......................................6
Figura 2.4: Barco tenta recolher petróleo no Golfo do México depois do acidente na
plataforma da BP.......................................................................................................................9
Figura 3.6 A palha é prensada na lavoura para ser transportada para a indústria....................38
vii
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 2.2 Geração de energia elétrica no mundo por tipo de fonte energética (1973 e
2012).........................................................................................................................................16
Gráfico 5.1: Percentual da energia teórica útil gerada a partir da biomassa em relação a energia
produzida no Brasil em 2014 em TWh...........................................................................................92
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.2 Produção de lenha, carvão vegetal, licor negro, resíduos de madeira em 2008 e seus
poderes caloríficos.....................................................................................................................32
Tabela 3.3 Poderes caloríficos inferiores de alguns resíduos agrícolas....................................50
Tabela 3.8 Produção de rejeitos sólidos urbanos por habitante e suas características..............62
Tabela 5.1 - Oferta mássica de biomassa por resíduo agrícola, agroindustrial e silvicultural
Brasil (106t/ano)........................................................................................................................90
Tabela 5.2 Quantidade de energia produzida através de rejeitos em TWh...............................91
Tabela 5.3 Número de Empregos Indiretos, por Setor..............................................................99
ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BP – BEYONDPetroleum GLOBAL
FAO – FoodandAgricultureOrganization
R$ – Real
xi
ÍNDICE
LISTA DE FIGURAS................................................................................................................vi
LISTA DE GRÁFICOS...........................................................................................................viii
LISTA DE TABELAS...............................................................................................................ix
LISTADE ABREVIATURAS....................................................................................................x
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................................1
1.2 METODOLOGIA…………....................……………………………….............................4
3.3.1 Cana-de-açúcar.................................................................................................................35
3.3.2 Arroz................................................................................................................................38
xii
3.3.3 Capim elefante..................................................................................................................41
3.3.4 Milho................................................................................................................................44
3.3.5 Soja...................................................................................................................................46
ELÉTRICA...............................................................................................................................79
xiii
4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................87
6 CONCLUSÕES ..........................……………………………………………….................104
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................108
xiv
1-INTRODUÇÃO
1
fósseis são matéria prima não renovável e pesquisas indicam que no futuro não muito distante
há o risco de seu esgotamento. Tais fatos levaram o petróleo a ter uma alta variação no preço
ao longo dos anos e tudo isso estimulou iniciativas para a substituição dessa matéria prima por
outras mais baratas e principalmente renováveis e menos poluentes, o que está forçando a
humanidade em conseguir equilibrar o desenvolvimento com o consumo de energia, ou seja,
desenvolvimento sustentável.
Um tipo de energia que vem recebendo muitos estímulos ao longo das décadas
passadas e que atualmente é cada vez mais utilizada é a energia elétrica. A pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias para transmissão, geração e distribuição possibilitaram o
crescimento da oferta e do consumo, assim como as perdas durante o transporte e o acesso de
grande parte da população a este tipo de energia. Muitos países, de acordo com suas
particularidades, desenvolveram tecnologias que utilizassem seus próprios recursos naturais,
permitindo, dessa forma, a exploração de muitas fontes de energia. No Brasil, a água é a fonte
de geração de energia elétrica mais utilizada e isso se deve principalmente a grande
capacidade hídrica do país. O grande aumento da exploração deste recurso natural
proporcionou ao Brasil a capacidade de ofertar energia elétrica necessária para manter o país e
seu crescimento econômico. Em muitos países a oferta de energia está ligada ao crescimento
econômico, principalmente nos países chamados emergentes e nos subdesenvolvidos e isso
inclui o Brasil. Nas últimas décadas do século XX no Brasil não houve muita expansão no
parque de geração de energia elétrica, tal fato é considerado um dos responsáveis pela crise de
energia em 2001, o que afetou o fornecimento de energia levando ao racionamento e causando
grandes perdas na economia do país. Uma consequência da crise foi a elaboração de um plano
de recuperação do setor de energia elétrica que obteve resultados que podem ser vistos hoje,
como um melhor planejamento do setor e investimento na geração de energia elétrica. As
usinas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte, todas na Amazônia, são produto desse
investimento posterior ao apagão de 2001. Desde então o governo investiu consideravelmente
na produção de energia elétrica, assim como houve mudanças para garantir a segurança de
suprimento e ainda ocorrem atualmente: mudança no modelo de tarifas, criando bandeiras
tarifárias (verde, amarela e vermelha) e tarifa social, para beneficiar os consumidores de baixa
renda. Isso mostrou a mudança na postura do governo sobre a geração de energia e
responsabilidade do planejamento do setor de energia elétrica. No Brasil, o crescimento da
geração de energia elétrica, acompanhado pelo crescimento econômico é um desafio
2
intermitente para o Estado, pois isso significa investimentos em pesquisas para o
desenvolvimento de novas tecnologias, novos combustíveis e novos modelos de transmissão.
Com a atual economia brasileira crescendo abaixo de 3%, em 2013 e 1% em 2014 (IBGE,
2015), sugere que o crescimento do parque de geração de energia deva ocorrer de maneira
semelhante ou superior para que garanta que não haverá problemas de fornecimento de
energia no futuro e transmita segurança à sociedade. Outro fator é que a geração de energia
hidroelétrica depende muito da disponibilidade hídrica e, dos índices pluviométricos. Esses
fatores são motivos para a busca da diversificação da matriz energética brasileira para deixá-la
mais segura e menos dependente de uma só fonte de energia.
A humanidade tem empenhado muitos esforços na busca de novas tecnologias que
possibilitem o uso de novas fontes energéticas e também no melhoramento no uso das fontes
vigentes. É dentro deste contexto que a biomassa vem ganhando força como uma fonte
alternativa de energia com aplicações reais em curto, media e longo prazo. Em curto prazo, a
biomassa pode substituir ou complementar o uso dos combustíveis fósseis, com pouca
modificação tecnológica e com perdas no rendimento dentro dos parâmetros aceitáveis. Esse é
o caso do uso da biomassa no segmento automotivo e em termoelétricas como uma opção a
mais. Se forem consideradas todas as medidas e investimentos necessários, a médio e longo
prazo, a biomassa se torna muito atrativa. Muito trabalho ainda precisa ser feito para dar uma
estimativa real do potencial brasileiro para a exploração da biomassa, porém, já existe
utilização desta fonte, comprovando a viabilidade econômica de vários tipos de biomassa na
geração de eletricidade. Em 2012, a biomassa ocupou o terceiro lugar nas fontes de geração
de energia elétrica, 6,8% do total da energia gerada, atrás apenas da energia hidroelétrica e da
energia gerada através do gás natural (ANEEL, 2012). Existem muitos caminhos para a
utilização da biomassa na geração de energia elétrica. Todos esses caminhos envolvem a
transformação da biomassa por intermédio de processos químicos, bioquímicos, físico-
químicos e termoquímicos. Alguns desses caminhos têm melhores condições de viabilidade
técnica e econômicas que outros, porém pesquisas e investimentos estão sendo feitos e isso
pode gerar frutos no futuro.
3
1.1 OBJETIVO DO TRABALHO
Este trabalho tem o objetivo de mostrar o estado da arte das fontes de biomassa no
Brasil, dando ênfase para aquelas que possuem produções significativas e que apresentam
potenciais energéticos incentivadores para exploração, além de ser uma atualização do projeto
final de engenharia elétrica Uso da Biomassa como Alternativa Energética (Cardoso, 2012) do
poderem ser usadas na geração termelétrica, o que seria uma valiosa justificativa para seu uso.
Além disso, também será mostrada a perspectiva da biomassa ocupar uma maior participação
na matriz do setor elétrico, a médio e longo prazo.
1.2 METODOLOGIA
5
2 GERAÇÃO DE ENERGIA DA BIOMASSA
2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Figura 2.1: Lago Ácido, tendo Aparados da Serra ao fundo, no sul de Santa Catarina - Poluição devido
6
à exploração do Carvão Mineral tem até mercúrio metálico. Foto: Tadeu S. Kane
Nesse contexto começou o processo de busca por fontes alternativas de energia, com
quesitos de sustentabilidade, renovabilidade, eficiência e disponibilidade de longa duração.
Muitas fontes foram apontadas como soluções definitivas para essa questão energética, sendo
que as principais são: a energia solar, a energia atômica, a energia eólica e a biomassa, tema
deste trabalho. Todas as fontes propostas possuem desvantagens e vantagens, principalmente
por causa da tecnologia atual empregada. Algumas fontes precisam de grande investimento
para se tornar economicamente viáveis, enquanto outras apresentam dificuldades tecnológicas
para o seu aproveitamento. Todas elas são atualmente foco de diversas pesquisas e trabalhos,
que têm como principal objetivo aprimorar as tecnologias e promover condições para o uso e
aproveitamento eficiente de cada fonte. Este capítulo tem o objetivo de introduzir o conceito
de biomassa e uma visão geral das condições de sua utilização como fonte energética.
A biomassa, que pode ser caracterizada como qualquer matéria orgânica que possa
ser transformada em energia térmica, mecânica ou elétrica (ANEEL, 2009) tem sido usada
como fonte de energia desde os primórdios da civilização humana. A biomassa mais simples e
abundante na natureza, a madeira, ajudou o homem a dar grandes saltos na evolução. Com a
madeira (utilizada na forma de lenha) o homem foi capaz de produzir fogo, ou seja, luz e
calor, o que permitiu a transformação de materiais, e foi a fonte de energia que por milhares
de anos permitiu o homem a evoluir suas tecnologias. Posteriormente, a descoberta de metais
e o surgimento de novas técnicas de combustão da lenha possibilitaram a fabricação e a
modelagem de armas e ferramentas, que facilitaram inúmeras atividades humanas.
Em meados do século XVIII começou na Inglaterra a Revolução Industrial, que,
posteriormente, durante o século XIX, foi difundida no restante do mundo. Tais
acontecimentos permitiram um conjunto de inovações tecnológicas com um grande impacto
na maneira de produzir e processar materiais jamais vista até então. Esses acontecimentos só
foram possíveis graças à capacidade de se conseguir gerar grande quantidade de energia a
partir de alguns materiais. Um desses materiais era o carvão vegetal, que é obtido a partir da
madeira no processo denominado pirólise ou carbonização, o mais antigo e simples dos
7
processos de conversão de um material energético sólido (lenha) em outro de maior conteúdo
energético (carvão). O processo consiste em aquecer a lenha em fornos até aproximadamente
500º C na ausência total ou parcial de ar. O resultado deste processo é o carvão vegetal, cuja
densidade energética é duas vezes maior que a do material original utilizado no processo.
Com o carvão vegetal, tornou-se possível obter uma quantidade maior de energia que seria
utilizada no aquecimento da água, transformando-a em vapor e este sendo utilizado nas
máquinas e motores a vapor que foram desenvolvidos durante o século XVIII. A Figura 2.2
mostra imagens de fornos utilizados na produção de carvão vegetal.
Figura 2.2: Fornos utilizados na produção de carvão vegetal. Foto: Beto Chagas
Com o decorrer dos anos a máquina a vapor foi sendo aprimorada e logo em seguida
veio a descoberta do motor a combustão interna. Tais fatos permitiram um aumento
significativo nos rendimentos nos processos e nas produções industriais. Isso incentivou o
homem na busca de novas matérias-primas que pudessem ser utilizados como fontes
energéticas. No começo do século XIX, as técnicas do refinamento do petróleo foram
descobertas e impulsionaram a procura por essa nova fonte de energia. Logo, o petróleo se
tornaria a principal fonte de energia do mundo e seus derivados serviriam como combustível
para máquinas e matéria-prima para a produção de vários materiais e outras aplicações.
Embora tenha se tornado extremamente importante como fonte energética, o petróleo
é um recurso com reservas naturais limitadas e não tão abundantes como se desejaria. Ainda
existem diversas questões ambientais relacionadas ao seu uso. Estes fatos estão fazendo a
humanidade repensar o atual modelo de consumo de energia e incentivando a busca por outras
fontes mais sustentáveis e eficientes. Com isso, ter uma variedade de fontes energéticas
8
passou a ser de grande importância para o desenvolvimento de países e, com isso, também, o
aumento de investimentos para a obtenção de novas fontes de energia cresceu rapidamente.
Em 2010, um acidente ocorrido em uma plataforma de petróleo da empresa multinacional
Beyond Petroleum, que operava no Golfo do México, evidenciou as implicações ambientais
do uso do petróleo como fonte energética. Estimativas feitas apontam que 206 milhões de
galões de petróleo foram lançados ao mar. Este evento é considerado pelo governo dos
Estados Unidos da América como o maior desastre ecológico da história daquele país. A
Figura 2.3 e a Figura 2.4 mostram cenas deste desastre.
Figura 2.3: Explosão que causou derramamento de petróleo no Golfo do México, em 2010 (Reuters/VEJA)
9
Figura 2.4: Barco tenta recolher petróleo no Golfo do México depois do acidente na plataforma da BP
(Foto: Eric Gay/AP)
É dentro desse cenário que a produção de energia utilizando a biomassa como uma
fonte de energia tem ganhado maior atenção além de um aumento dos incentivos e adesão de
organizações privadas e diversos países. Historicamente, a biomassa sempre esteve presente
como uma fonte de energia, na forma de lenha ou carvão, mas em meados do século XX
novas fontes de biomassa começaram a ganhar destaque. A busca por novas fontes de
biomassa ganhou um grande interesse principalmente devido a esta fonte energética ser
considerada pouco poluente e renovável. A utilização da biomassa como uma fonte de energia
oferece vantagens ambientais, como a não emissão de dióxido de enxofre e as sobras de
cinzas são menos agressivas ao meio ambiente que as provenientes de combustíveis fósseis,
além de vantagens econômicas, como o menor custo de sua aquisição e a menor corrosão dos
equipamentos (cadeiras, fornos, etc.).
Nas últimas décadas, a biomassa entrou no cenário energético como uma alternativa
para a diversificação da matriz mundial e com isso a diminuição da dependência dos
combustíveis fósseis. Mesmo sendo pouco expressiva nesta matriz, com apenas 13% do
consumo mundial de energia primária1(IEA, 2007), a biomassa é uma das fontes renováveis
que apresenta o maior potencial de crescimento nos próximos anos. Atualmente, existem
muitos países2 que utilizam a biomassa como fonte de energia elétrica e térmica, onde a
madeira (carvão e lenha) e resíduos agrícolas são as principais fontes utilizadas.
A China é um desses países que faz uso dessa fonte, sendo que cerca de 30 milhões
de habitantes vivem sem acesso a energia elétrica e utilizam biomassa tradicional como lenha,
resíduos agrícolas (286 milhões de toneladas por ano, em sua maioria, queimados em fogões
de baixa eficiência – 10% a 20%), e resíduos de animais (850 milhões de toneladas por ano)
para cocção e aquecimento, além de velas e querosene para iluminação. (GUARDABASSI,
2006).
1
Produtos energéticos providos pela natureza na sua forma direta, como petróleo, gás natural, carvão mineral,
resíduos vegetais e animais, energia solar, eólica.
2
Regiões em sua maioria com baixo índice de desenvolvimento econômico.
10
Existem outras biomassas além da madeira que podem ser usadas como fonte
energética para gerar energia mecânica, térmica e elétrica. Como recurso energético, a
biomassa é classificada nas seguintes categorias: biomassa energética florestal, com seus
produtos e subprodutos ou resíduos; biomassa energética agrícola, englobando as culturas
agro-energéticas e os resíduos e subprodutos das atividades agrícolas, agroindustriais e da
produção animal e rejeitos urbanos (MME:EPE, 2007). Dentro de cada um desses grupos
existem várias fontes de energia que dependem tanto da matéria-prima utilizada, já que o
potencial energético varia de tipo para tipo, quanto da tecnologia empregada para obtê-los.
A biomassa energética agrícola possui uma vasta quantidade de produtos e
subprodutos gerados pelo processamento de matérias-primas. Dentro desse grupo tem-se a
cana-de-açúcar, que é uma das fontes mais promissoras e com enorme potencial de geração de
energia no Brasil e no mundo.
Com a cana-de-açúcar pode-se obter, entre outros subprodutos, o bagaço da cana, o
etanol e a palha. O etanol é um biocombustível que se tornou uma fonte de energia alternativa
viável para complementar ou substituir a utilização de alguns combustíveis fósseis no Brasil e
vem sendo muito empregado em motores de combustão interna.
A palha e o bagaço, que são rejeitos da produção de etanol, podem ser utilizados
como combustível em fornos e caldeiras, gerando energia térmica utilizada em processos
internos das usinas e também utilizada para aquecer a água gerando vapor. Esse vapor pode
ser empregado para girar alguma turbina que esteja acoplada a um gerador para produzir
energia elétrica. Esse processo já é empregado por algumas usinas sucroalcooleiras.
Além da cana, o milho também tem despertado muito interesse nos últimos anos,
principalmente nos Estados Unidos, onde ocorre a maior produção mundial desse cereal. A
partir do milho também se pode obter o etanol, porém o milho apresenta uma desvantagem
em relação à cana, já que possui rendimento menor por área plantada.
Em um hectare é possível produzir cerca de 90 toneladas de cana-de-açúcar, de onde
é possível produzir em torno de 7 mil litros de etanol, enquanto que em um hectare de milho
se produz algo próximo de 20 toneladas de milho, que podem produzir cerca de 3500 litros de
etanol (UNICA, 2010). Outra desvantagem é que o milho é um cereal que faz parte da
alimentação humana e o uso desse grão para a produção de energia pode causar uma variação
de seu preço ou faltar em algumas regiões. O milho também oferece além do biocombustível,
11
rejeitos como sabugo, colmo, palha e folha. Esses rejeitos podem ser utilizados para gerar
energia térmica. Através das queimas desses rejeitos pode-se gerar calor que poderia ser
utilizado para a produção direta ou indireta de energia elétrica (usinas termelétricas). Os
Estados Unidos também produzem o etanol através do trigo, do switchgrass e do miscanthus.
O switchgrass é uma espécie de planta nativa das pradarias3. Além de necessitar de pouco
fertilizante para crescer, ela produz mais biomassa por área que a maioria das outras plantas.
Recentemente, está sendo estudada como uma fonte paralela ao milho na produção de
bioetanol. Além dela, pesquisadores americanos descobriram outra fonte de biomassa capaz
de produzir cerca de duas vezes e meia a quantidade de etanol que se pode produzir na mesma
área com milho, o miscanthus (ECODEBATE, 2008). O miscanthus é uma gramínea perene
de clima temperado, com rápido crescimento e alto potencial para produzir sacarose, em
moldes muito similares aos da cana. Na União Européia, a produção do etanol é baseada
principalmente na beterraba (MME, 2009).
Através da biomassa, pode-se produzir outro tipo de biocombustível com intenção
comercial, o biodiesel. Muitos produtos agrícolas podem ser utilizados como fonte de
biomassa para produzir este tipo de biocombustível. Esses produtos carregam entre si uma
característica comum, que é a existência de substâncias oleosas em suas sementes, folhas e
caule. As sementes, folhas e caule passam por um processo mecânico de pressão, onde são
divididos em pedaços menores e esmagados. Logo em seguida, passam por um processo
químico (transesterificação) onde utilizam algum tipo de álcool e solventes para poder se
extrair o óleo. Desse processo, obtém-se a glicerina e o biodiesel. Depois do processo de
extração, o óleo é refinado, desodorizado e classificado. Os resíduos do processo de extração
do biodiesel também são usados como combustível, normalmente em fornos e caldeiras. Uma
grande parte dessa biomassa é utilizada em usinas termelétricas para gerar energia elétrica.
No mundo, a Alemanha é um dos países que mais se destacam, sendo um grande
produtor e consumidor de biodiesel. Nesse país o biodiesel é produzido basicamente a partir
do óleo extraído da canola. Os rejeitos da canola são utilizados como ração animal.
No Brasil, o biodiesel pode ser produzido através de várias fontes de biomassa, sendo que as
3
Planície vasta e aberta normalmente sem árvores e arbustos, comumente encontrada na América do Norte. É similar ao
pampa gaúcho brasileiro
12
matérias-primas mais utilizadas para fins comerciais são a palma e o babaçu (região Norte), a
soja, o girassol e o amendoim (regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste) e a mamona (semi-árido
nordestino com possibilidade de ser utilizada em outras regiões do país) (BIODIESELBR,
2008). Outro tipo de biomassa que vem ganhando atenção são aquelas provenientes de
rejeitos urbanos e industriais, sólidos ou líquidos Destilarias, abatedouros, fábrica de
laticínios, esgotos domésticos (lodo), estações de tratamento de lixo urbano, entre outros
vários tipos de atividades que produzem um grande volume de resíduos que, quase sempre são
descartados ou passam por uma simples manipulação antes do descarte. Logo a quantidade de
carga de poluente é muito grande, o que faz com que seja necessário o desenvolvimento de
soluções para diminuir os impactos danosos no meio ambiente. Uma solução apresentada e
que tem mostrado uma boa atratividade e viabilidade econômica é a utilização desses rejeitos
para a geração de energia térmica, que é usada de várias formas, entre elas, para a geração de
energia elétrica. Essa biomassa apresenta duas maneiras de ser aproveitada que são: a
conversão termoquímica e a conversão biológica. Na conversão termoquímica, chamada de
gaseificação, esses resíduos sólidos e líquidos são transformados em combustível no estado
gasoso (composto por dióxido de carbono, hidrogênio, metano, nitrogênio e monóxido de
carbono), utilizando vapor d’água e oxigênio. O gás produzido através desse processo pode
ser utilizado em motores de combustão interna acoplados a geradores elétricos ou como
combustível para gerar vapor e movimentar turbinas para geração de energia elétrica. Além
disso, durante o processo de gaseificação é possível remover os componentes químicos que
prejudicam o meio ambiente e a saúde humana, o que torna um processo limpo. Na conversão
biológica, essa biomassa é transformada por intermédio da fermentação (biodigestão)
anaeróbica, onde os resíduos são decompostos na presença de bactérias que não necessitam de
oxigênio (anaeróbicas). O produto dessa fermentação é o biogás, composto principalmente
por metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). O biogás tem muitas aplicações, por exemplo,
para alimentar fogões a gás, para aquecer água e em motores térmicos. Em um local, que
exista uma grande concentração de rejeitos (lixões ou locais de despejo), é possível instalar
uma usina termoelétrica que produzirá o biogás a partir desses resíduos e o utilizará para
aquecer água, gerar vapor e movimentar turbinas que irão gerar energia elétrica. Os
subprodutos obtidos do processo de biodigestão anaeróbica (hidrogênio, nitrogênio, ácido
sulfídrico, fósforo e potássio) podem ser processados e empregados na fabricação de
fertilizantes e isso faz com que a conversão biológica possa ser um processo ambientalmente
13
sustentável.
A biomassa de origem animal, aquela que se origina diretamente de animais através
de excrementos e resíduos, não chama muita atenção comparativamente às várias fontes de
origem vegetal. O motivo pela diferença de interesse se deve a alguns fatores que torna a
biomassa animal menos atrativa, tendo como exemplos a dificuldade no armazenamento
desses componentes, dificuldade na obtenção de uma quantidade considerável de biomassa
para que o investimento necessário na infra-estrutura de geração de energia se torne viável
economicamente, entre outras. Mesmo com essas dificuldades, existem exemplos onde essa
fonte está sendo empregada com sucesso, como a Granja São Roque, que gera 424 kW de
energia elétrica através dos rejeitos de frango na cidade de Videira - SC (Aneel, 2015). Em
empreendimentos de pequeno e médio porte na zona rural estão sendo realizados testes com a
biomassa animal já que nesses lugares há a possibilidade de implantação de sistemas isolados
de obtenção de energia que utilizam como combustível um produto que antes era descartado
ou aproveitado de outras formas, como por exemplo, a distribuição dos excrementos na
lavoura. Os dejetos bovinos (esterco), os dejetos suínos e os dejetos provenientes de criações
de frango também passarão a ser utilizados para a obtenção de biogás através da construção
de estruturas que realizem a biodigestão anaeróbica. Estas estruturas de pequeno e médio
porte não exigem um investimento muito alto para sua construção, ou seja, podem ser uma
opção viável economicamente a longo prazo. Além da energia obtida (térmica ou elétrica), os
resíduos do processo de biodigestão também podem ser empregados como fertilizantes.
As usinas de geração de energia térmica e elétrica que geram em quantidade
considerável situam-se próximas a regiões que tem grandes criações de aves, suínos e
bovinos. Estas usinas utilizam os resíduos e dejetos produzidos pelas granjas de frango,
criadouros de suínos e de bovinos como combustíveis, queimando-os diretamente em
caldeiras, ou então os utilizando para obter o biogás através da biodigestão anaeróbica da
biomassa.
14
2.3 BIOMASSA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
Gráfico 2.2 Geração de energia elétrica no mundo por tipo de fonte energética (1973 e 2012).
Fonte: Ministério de Minas e Energia. Energia no Mundo, Matrizes energéticas e Matrizes elétricas.
Edição de outubro de 2014.
Por setores, conforme o Balanço Energético Nacional (BEN, 2014) demonstra que a
área industrial ainda lidera o ranking dos maiores consumidores de energia elétrica, sendo
responsável pelo consumo de 210083 GWh em 2013. O setor industrial também é o principal
responsável por uma tendência que tem crescido nos últimos anos: a autoprodução de energia,
ou seja, consumidores de grande porte estão passando a investir em usinas geradoras de
energia para suprimento próprio e o excedente é vendido ao mercado.
Conforme o Balanço Energético Nacional (BEN, 2014), em 2004 houve uma
autoprodução de energia 37913 GWh. Em 2013, a quantidade produzida por essa modalidade,
desde então, mais que dobrou, chegando a 86162 GWh. O aumento significativo dessa
modalidade reflete, além do desenvolvimento econômico das grandes empresas, a
preocupação em buscar suprir o próprio consumo de energia elétrica. Além desses fatos, a
autoprodução gera uma diminuição nos custo de energia elétrica para a empresa e a
possibilidade de implantação de um campo gerador que utilize como combustível os
subprodutos gerados pela própria empresa.
18
Além do setor industrial, o residencial também é responsável por um grande
consumo de energia e crescimento. Em 2013, ele absorveu 124896 GWh, valor muito inferior
à registrada pela indústria, porém continua sendo o segundo maior do país. No setor comercial
o consumo foi de 84388 GWh, no público, de 41288 GWh, agropecuário, 24129 GWh e
transportes, 1884 GWh, como mostra o Gráfico 2.3.
A biomassa é uma das fontes que tem um grande potencial para produção de energia.
No Brasil assim como em muitos outros países, ela é considerada uma ótima alternativa para
diversificação da matriz energética e com isso uma redução da dependência dos combustíveis
fósseis e da energia proveniente de hidrelétricas.
A quantidade estimada de biomassa existente na Terra é da ordem de 1,8 trilhões de
toneladas (ANEEL, 2009). Se for considerado este volume e levando-se em conta o grau de
eficiência das usinas em operação no mundo, a capacidade de geração de energia elétrica é de
aproximadamente 11 mil TWh por ano a longo prazo, ou seja, uma quantidade extremamente
significativa e equivalente a mais da metade da energia elétrica produzida no mundo em 2007,
que foi de 19,89 mil TWh (BP, 2009). Devido à necessidade de produção de biomassa em
grande escala para a produção de biocombustíveis e energia elétrica, os maiores fornecedores
potenciais de matéria-prima são os países com agroindústria forte e grandes dimensões de
19
terras cultiváveis. Logo, países com bom solo e boas condições climáticas para o uso da
agricultura possuem uma grande vantagem na utilização da biomassa como fonte de energia
quando se compara com outros países que possuem pouca extensão territorial ou que não tem
condições climáticas e solo adequados. Os maiores produtores de biomassa para a produção
de energia elétrica atualmente são os Estados Unidos, a Alemanha e o Brasil.
No Brasil, durante os últimos anos, o uso da biomassa como fonte de energia elétrica
tem aumentado. Em 2013, a biomassa ocupou a terceira posição em oferta de energia elétrica,
ficando na frente da nuclear e dos derivados de petróleo. O segundo lugar ficou com o gás
natural, que nos últimos anos vem tendo um maior aumento no seu uso devido ao aumento da
oferta e preço competitivo. A fonte hidráulica ocupou a primeira posição, respondendo por
70,6% da energia elétrica gerada no país (Figura 2.5).
Tabela 2.2 Quantidade de usinas termelétricas conforme matéria prima utilizada em 2014
Matéria Prima Quantidade Potencia Total em MW
Licor Negro 17 1785
Resíduos de Madeira 46 357,7
Carvão Vegetal 07 51,4
Capim-Elefante 03 65,7
Biogás 10 62,3
Casca de Arroz 10 35,5
Óleo de palmiste 03 19,11
Bagaço de cana-de-
açúcar 387 9901
Total 483 12278
21
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
22
3 FONTES DE BIOMASSA NO BRASIL
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A biomassa ao longo das últimas décadas vem adquirindo maior importância entre as
várias fontes de produção de energia elétrica no Brasil. Ela é peça vital para a diversificação
da matriz energética além de ser uma fonte de energia pouco poluente ou limpa.
A produção de energia elétrica a partir da biomassa atualmente é algo real e muito
defendido em vários países. Programas nacionais foram desenvolvidos para incentivar a
eficiência de sistemas para a combustão, gaseificação e pirólise da biomassa, como linhas de
créditos para investimentos fornecidos pelo BNDES e Fundo de Energia Sustentável e
Mudança Climática (Fundo SECCI) entre outros. Entre todos os tipos de biomassa utilizáveis
para a produção de energia elétrica, nem todos são economicamente viáveis. Apenas as
biomassas que podem ser produzidos em escala comercial é que recebem os principais
incentivos e investimentos e, por isso, estão sendo os mais explorados para o desenvolvimento
de tecnologias para que possam ser utilizados como uma fonte alternativa de energia.
Entre todos os tipos de biomassa existentes, os mais utilizados no Brasil para a
geração de energia elétrica são: a lenha, carvão vegetal, resíduos de madeira e lixívia negra
(biomassa de origem florestal); palha e bagaço de cana-de-açúcar, palha e casca de arroz,
capim-elefante, palha do milho, palha da soja (biomassa derivada de cultura agrícola); lixos
líquidos e sólidos (rejeitos urbanos e industriais).
As fontes de biomassa mencionadas acima já são utilizadas em várias usinas
termelétricas no Brasil. Por isso, no presente trabalho serão detalhados potenciais de geração,
rejeitos e resíduos gerados por essas fontes.
A biomassa florestal é uma fonte de energia com grande potencial para a produção
de energia elétrica já que é renovável e pode ser cultivado em várias partes do país. Isso
permite que a geração de energia a partir dessa fonte esteja perto dos centros consumidores, o
que diminuiria os gastos com linhas de transmissão. Essa fonte quando usada para a produção
de energia tem um balanço nulo no efeito estufa. Além disso, utilizando seus resíduos é
23
possível reduzir a emissão de gás metano, pois o consumo dos resíduos de madeira evita a
deposição em pilhas, que proporciona a digestão anaeróbica e consequente emissão de
metano. No Brasil, cuja área territorial é de 851 milhões de hectares, há 463 milhões de
hectares de cobertura florestal, e aproximadamente 1,55% (7,2 milhões de ha) do total é
ocupado por plantações florestais. Desse total de florestas plantadas, temos: 5102030 de
hectares são de eucalipto, 1562782 de hectares são de pinus, 521131 ha são de outras
espécies, como acácia negra, seringueira, araucária etc. (Ministério do Meio Ambiente, 2013).
O estado de Minas Gerais é o estado onde há a maior plantação de eucalipto no
Brasil, cerca de 1438971 de ha, seguido por São Paulo com 1041695 ha. O Gráfico 3.1 mostra
uma visão geral de plantações de eucalipto no Brasil.
O setor de base florestal brasileiro nos últimos anos teve uma participação
decrescente no PIB, sendo que atualmente responde por 1,25% do total, ou seja, 60 bilhões de
reais.
24
3.2.1 Lenha e carvão vegetal
Figura 3.1 Forno tipo 'rabo quente' usado no processo de carvoejamento. Foto: (Jose Patricio/AE)
25
Figura 3.2: Toras de Pinus e Eucalipto. Fonte MFRURAL
O Brasil é um país que apresenta um vasto território que possibilita uma grande
produção de madeira, fazendo com que o potencial para produção de energia a partir dessa
matéria-prima seja alto. Essa madeira é utilizada de várias formas, entre elas, a construção
civil, a indústria de papel e celulose e a indústria moveleira representam uma grande parte do
total consumido. A cadeia produtiva da madeira gera uma alta quantidade de resíduos se
considerarmos os processos de transformação primário, secundário e terciário. Esses resíduos
são constituídos pelo material florestal orgânico que sobra na floresta após sua colheita,
sobras de madeira, com ou sem casca, galhos grossos, galhos finos, tronco, casca, copa, touça
e raízes.
26
O processamento primário é composto pela extração da madeira da floresta (nativa
ou reflorestamento) transformando-a em “toras” e representa uma perda considerável de
madeira na forma de resíduos. Em plantios de Pinus, cerca de 28% do peso total da árvore fica
na floresta na forma de resíduos. Em plantios de Eucalipto, 22% se tornam resíduos. O setor
de base florestal (processamento secundário) se baseia na transformação das “toras” de
madeira em placas, barras, laminados, painéis, compensados etc. Aqui é gerada a maior
quantidade dos resíduos, pois para cada 1 tonelada de madeira bruta beneficiada, é gerado
algo em torno de 35% a 50% de resíduos. Finalmente essa madeira processada é utilizada na
montagem de móveis, construção civil, entre outras, o que também gera perdas nas operações
de corte e acabamento (BBER, 2007).
Um exemplo disso é a indústria de móveis, que pode ser segmentada em função da
matéria-prima utilizada ou do uso final dos móveis que produz. Como existem diferentes tipos
de matéria-prima à base de madeira utilizada na fabricação de diferentes tipos de móveis, as
empresas moveleiras apresentam diferentes características e produzem diferentes resíduos de
madeira e de seus derivados. Em geral esses resíduos apresentam-se na forma de serragem,
retalhos, cavacos, costaneiras, refilos, etc. Segundo a Food and Agriculture Organization
(FAO, 2006), para a fabricação de 1 m³ de lâminas é necessário 1,9 m³ de toras de madeira,
resultando em um aproveitamento de 52,6%. Para cada 1 m³ de compensado, necessita-se de
2,3 m³ de toras de madeira, o que representa um aproveitamento de 43,5%. Esses rendimentos
são obtidos considerando toda a cadeia produtiva, desde a extração da madeira da floresta até
a conclusão do produto final, nestes casos as lâminas e o compensado. O volume de geração
de resíduos pelas indústrias está relacionado: ao processo produtivo como um todo; às
características dos equipamentos utilizados e à qualidade da mão de obra. A utilização desses
resíduos de madeira além de evitar o descarte inadequado, apresenta uma série de vantagens:
baixo custo de aquisição, não emissão de dióxido de enxofre, cinzas menos agressivas ao
meio ambiente comparada às de combustíveis fósseis, menor risco ambiental, é recurso
renovável e as emissões não contribuem para o efeito estufa. Outro derivado da madeira que é
bastante utilizado como combustível para geração de energia elétrica é o licor negro (lixívia
negra) como mostrado na Figura 3.3.
27
Figura 3.3: Licor Negro Resultante do Processo Kraft da CENIBRA/Belo Oriente – MG Fonte:
Cenibra
4
Trata a madeira em cavacos com hidróxido de sódio e hidrossulfeto de sódio, que dissolve a lignina, liberando a celulose
como polpa de papel de maior qualidade.
28
Nesta operação mais da metade da madeira se solubiliza, saindo junto com os
produtos químicos na forma de uma lixívia escura, o licor negro. Este efluente, após ser
concentrado até um teor de sólidos de aproximadamente 60% é queimado em uma caldeira de
recuperação química, liberando calor e produzindo um fundido de sais inorgânicos, que
misturado em água fornece o licor verde, que posteriormente é caustificado para transformar-
se no licor branco novamente, fechando o ciclo (FAO, 2006).
As indústrias de celulose e as integradas (papel e celulose) utilizam como combustível
nas caldeiras, para a geração de vapor, lenha e óleo combustível, além dos subprodutos do
processo (lixívia e resíduos de madeira). Este vapor, além de ser necessário ao processo de
fabricação de papel e celulose, é também utilizado para produção de energia elétrica, por meio
da cogeração.
Com a utilização da biomassa e da lixívia tendo uma eficiência maior, gera uma interessante
possibilidade para o segmento, em vista das vantagens econômicas e ambientais e, havendo
excedente de eletricidade gerado, este pode ser vendido às concessionárias ou a terceiros.
Além disso, o licor negro, como estudos apontam a possibilidade de utilizá-lo como
componente para correção de acidez do solo. De acordo com as características da matéria
prima e as particularidades do processo, são produzidas de 1,0 a 1,4 kg de licor concentrado
por kg de celulose fabricada (FAO, 2006), com um poder calorífico da ordem de 2860 kcal/kg
de licor (MME:EPE, 2009). A energia disponível no licor, somada a dos resíduos de
biomassa, basicamente cascas de árvores e galhos, que também inevitavelmente são
produzidos e podem ser queimados, gera uma quantidade de vapor suficiente para suprir toda
a demanda de calor de processo, com excedentes. Considerando que a demanda média
específica de energia elétrica é de 850 kWh por tonelada de celulose, tem-se que a geração de
vapor a partir de 65 bar e 400 °C já praticamente assegura a auto-suficiência destas indústrias
(FAO, 2006). Normalmente, as indústrias de celulose brasileiras são projetadas para que
sejam capazes de suprir a maior parte da demanda de energia que elas utilizarão, sendo
comuns plantas com potências instaladas de cogeração superiores a 100 MW. Para ter-se uma
ideia do potencial desta tecnologia de geração elétrica para as condições nacionais, basta
verificar que adotando uma disponibilidade de 1000 kWh por tonelada de celulose produzida,
conservadora e factível para o atual estado de desenvolvimento tecnológico, associada à
produção nacional de 15129 mil toneladas em 2013 (BRACELPA, 2013), tem-se 15129
GWh, correspondendo, para um fator de capacidade de 80%, a 2158,9 MW instalados. O
29
Brasil é líder mundial na produção de celulose de eucalipto e é considerado referência
internacional pelas suas práticas sustentáveis. Além disso, 100% do eucalipto e do pinus
utilizado pelo setor de celulose são originários de florestas plantadas (BRACELPA, 2009).
As principais espécies de pinus no Brasil são a Pinus Elliottiie e Pinus taeda, ambas
mais indicadas às regiões Sul e Sudeste, e que se destacam na produção nacional de madeira
derivada destas espécies (EMBRAPA, 2012). Entretanto, dentre as centenas de espécies de
eucalipto que existem, as florestas plantadas se restringem a poucas espécies, pois estas
possuem características que as tornam mais viáveis economicamente, como por exemplo:
rápido crescimento, maior rendimento volumétrico e madeira mais densa. São elas,
Eucalyptus Grandis, E. Saligna e E. Dunnii. As densidades e poderes caloríficos inferiores da
lenha catada, lenha comercial, do carvão vegetal e da lixívia negra são mostrados na Tabela
3.1 (MME:EPE, 2009). Além disso, constam nessa tabela, os valores referentes às densidades
e poderes caloríficos dos resíduos mistos de eucalipto e pinus, compostos por: cavaco,
serragem, casca, etc, ambos calculados pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 2009).
As características dos resíduos de pinus e eucalipto dependem do teor de umidade, da espécie
de planta, entre outras. Portanto, os valores calculados pelo IPT demonstram valores médios
para os resíduos mistos, com teor de umidade em torno de 25%, que para fins de avaliação
econômica e energética, podem ser considerados aceitáveis.
Balanço Energético Nacional 2009. Brasília: MME:EPE, 2009. Fonte: Ministério de Minas e Energia:
Empresa de Pesquisas Energéticas
30
Para se ter uma noção do potencial de energia que é possível produzir com essas
fontes pode-se pegar os dados de produção do ano de 2008 e verificar a quantidade de energia
de acordo com Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) e Ministério de Minas e Energia
(MME). No ano de 2008, a produção nacional de lenha foi de 94,279 milhões de toneladas,
sendo que 38,892 milhões de toneladas foram transformadas em carvão vegetal, resultando
em 54,385 milhões de toneladas consumidas diretamente (MME:EPE, 2009). Considerando o
poder calorífico inferior de 3100 kcal/kg, essa produção equivale a 16,859 milhões de tep
(toneladas equivalentes de petróleo), conforme mostra a Tabela 3.2. A transformação dessa
quantidade de lenha em energia elétrica, considerando a base teórica térmica 1 kWh = 3132
kcal correspondente ao óleo combustível queimado numa usina térmica com rendimento de
27,5% (MME:EPE, 2009), produziria um equivalente a 3,82 TWh. Porém, em 2008 apenas
1,002 milhões de toneladas de lenha, equivalentes a 0,310 milhões de tep, foram
transformadas diretamente (combustão direta) em energia elétrica, gerando o equivalente a
0,99 TWh. O restante dessa produção foi utilizado pelos setores residencial, industrial,
agropecuário, entre outros, na produção de calor.
Para o carvão vegetal, a produção nacional em 2008 foi de 9,892 milhões de
toneladas e considerando seu poder calorífico inferior de 6460 kcal/kg foi produzido um
equivalente a 6,390 milhões de tep (Tabela 3.2). O equivalente em TWh para o carvão vegetal
(considerando a base térmica 0,3132 tep/MWh) é de 20,4 TWh. Em dezembro de 2014, a
potência instalada no Brasil, para este tipo de combustível, era de aproximadamente 51,3 MW
(ANEEL, 2014). Esta capacidade de geração de energia elétrica somente contabiliza a energia
elétrica comercializada, ficando excluída a parcela de autoprodução. O restante da produção
de carvão vegetal foi utilizado, principalmente em indústrias e residências, para geração de
calor.
O setor de celulose brasileiro produziu 12,85 milhões de toneladas de celulose em
2008. Esta produção foi responsável pela geração de 18,141 milhões de toneladas de lixívia
negra (licor negro) (ANEEL, 2009). Considerando seu poder calorífico inferior de 2.860
kcal/kg foi produzido um equivalente a 5,188 milhões de tep, conforme é mostrado na Tabela
3.2. O equivalente em TWh para a lixívia negra é de 16,56 TWh (adotando a base térmica
0,3132 tep/MWh). Em 2008, apenas 3,9 milhões de toneladas de licor negro (1,117 milhões
de tep) foram utilizados para gerar energia elétrica (MME:EPE, 2009) excedente, sendo esta,
31
comercializada. Isso equivale a geração de 3,56 TWh. Em dezembro de 2014, a potência
instalada no Brasil, para este tipo de combustível, era de 1785 MW (ANEEL, 2014),
respondendo por 14,56% do total de geração de energia elétrica utilizando biomassa como
combustível.
Tabela 3.2 Produção de Lenha, Carvão Vegetal, Licor Negro e Resíduos de Madeira em 2008
e seus Poderes Caloríficos.
Fonte: Ministério de Minas e Energia: Empresa de Pesquisas Energéticas. Balanço Energético Nacional 2009.
Brasília: MME:EPE, 2009. Agência Nacional de Energia Elétrica. Brasília: ANEEL: BIG, 2010. Associação
Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas. Brasília: ABRAF, 2008.
¹ Considerada a densidade do produto comercial. ² Petróleo de referência: 10000 kcal/kg. ³ Critério de
equivalência: base teórica térmica 1 kWh = 3132 kcal (0,3132 tep/MWh), correspondente ao óleo combustível
queimado em uma usina térmica com rendimento de 27,5%.
32
do total da madeira bruta processada, desde sua extração até a confecção do produto ou uso
final. Entretanto, desse total de perdas, devemos considerar as perdas que correspondem à
parte considerada inútil na utilização como combustível em termelétricas ou centrais de
geração térmica. Considerando, para fins de cálculos, 50% de perdas e a capacidade de
produção sustentável das florestas brasileiras (390 milhões de m³/ano), a produção de resíduos
florestais é de aproximadamente 67,25 milhões de m³/ano para o eucalipto, 24,55 milhões de
m³/ano para o pinus e 103,2 milhões de m³/ano para demais espécies. Considerando o poder
calorífico do eucalipto (4.024 kcal/kg) e do pinus (4174 kcal/kg), obtém-se um equivalente de
10,11 milhões de tep para resíduos de eucalipto e 3,58 milhões de tep para resíduos de pinus,
como mostra a Tabela 3.2. O equivalente em TWh (adotando a base térmica 0,3132
tep/MWh) para estes dois tipos de resíduos é de 32,28 TWh para o eucalipto e 11,43 TWh
para o pinus. Segundo o Banco de Informações de Geração (ANEEL, 2014), em dezembro de
2014, a potência instalada no Brasil era de 358,9 MW, utilizando como combustível: resíduos
de madeira, respondendo por 2,93% do total de energia elétrica gerada utilizando biomassa
como combustível. A última coluna mostra a comparação da energia elétrica que seria gerada
utilizando o total de cada fonte, em porcentagem, com o total de energia elétrica gerada no
ano de 2008, no Brasil, segundo dados do Balanço Energético Nacional (BEN, 2009), que foi
de 463,1 TWh.
3.3.1 Cana-de-Açúcar
37
Figura 3.5 Vinhoto da cana-de-açúcar. Fonte: site Pensamento Verde
Figura 3.6 A palha é prensada na lavoura para ser transportada para a indústria. Foto: Norbertino
Angeli.
3.3.2 Arroz
Outra cultura que é muito cultivada na nação brasileira e tem despertado o interesse
em aproveitamento de resíduos é o arroz (Figura 3.7). O arroz pode se desenvolver sob várias
condições climáticas, porém é muito exigente em relação a umidade do solo. Para sua cultura
ter um bom desempenho de produção necessita-se de água em quantidades elevadas,
necessário para manter a temperatura ambiente dentro de intervalos adequados, e nos sistemas
tradicionais precisa de mão-de-obra intensiva.
38
Figura 3.7: Planta do arroz. Fonte: SEAGRI
40
Figura 3.8: Briquetes de casca de arroz. Fonte site Biomaxind
A casca do arroz tem baixa densidade e peso específico e ainda soma-se a isso a sua
lenta biodegradação, o que significa permanecer em sua forma original por longo período de
tempo. Apresenta um alto poder energético, sendo que quase 80% de seu peso correspondem
ao carbono. Suas cinzas são compostas basicamente de sílica e, portanto, bastante alcalinas, o
que torna uma opção para a utilização como substrato nas lavouras. Tanto nas cascas de arroz
como em suas cinzas, não existem compostos tóxicos (Fonseca, 2000).
3.3.3 Capim-elefante
Outras culturas estão sendo pesquisadas e desenvolvidas para fins energéticos além
das culturas tradicionais (cana-de-açúcar e arroz) no Brasil embora algumas ainda estejam em
fase de avaliação de produção, produtividade e viabilidade econômica. Uma dessas culturas é
o capim-elefante, que já está sendo usada na geração de energia, porém está no seu período de
adaptação. No país, existem muitos tipos de capim que são chamados de capim-elefante e só
na última década que começou a chamar a atenção da sociedade para o seu valor energético.
Por ser algo relativamente recente, avaliações de produção entre outras informações ainda
estão sendo realizadas por empresas como Embrapa, Empresa de Pesquisa Energética, entre
outras. Por causa disso, para fins de avaliação no presente trabalho, serão utilizados os dados
e estudos utilizados pelos órgãos citados.
A planta é uma gramínea perene com altura entre 3 e 5 metros, que foi trazida da
África a pelo menos um século e é usado principalmente na alimentação de gado, como
mostrado na Figura 3.9. Três vantagens do capim-elefante fizeram com que ela chamasse a
41
atenção de cientistas: o período de crescimento é relativamente curto; pode ser plantada em
solos mais pobres em nutrientes, quando se compara com a cana-de-açúcar e o eucalipto
(espécies que são utilizadas como fontes de energia); e, em um hectare, produz uma maior
quantidade de biomassa do que cana-de-açúcar e eucalipto.
42
comprador interessado em transformar a planta em algum tipo de energia.
O processo para transformar o capim-elefante em energia não é muito complicado.
Após a colheita mecanizada, o capim deve ser colocado para secar. Logo depois da secagem,
ele é enviado para uma esteira e passa por uma máquina que o picará em pequenos pedaços
para retirar o resto da umidade. Depois esses pedaços serão usados em uma caldeira, onde
serão queimados e transformados em energia térmica que aquecerá a água gerando vapor sob
pressão que movimentará uma turbina acoplada a geradores elétricos. Também, existe a opção
de poder armazenar o capim para ser usado em uma data posterior ou para ser transportado.
Ou seja: ele pode ser compactado em peletes (tubos ocos feitos do capim macerado) ou nos
chamados briquetes (tubos em forma de cilindro compacto). Quando compactado na forma de
briquetes, isso permite ainda a transformação do capim em carvão vegetal, através da pirólise
dos briquetes. Somando a tudo isso, existe também a possibilidade de utilizar o capim-
elefante no processo de gaseificação e hidrólise da biomassa para produção do álcool.
Segundo Mazzarella (2007), a produtividade do capim-elefante é de aproximadamente 45
toneladas de biomassa (15% de umidade) por hectare, anual. O poder calorífico inferior do
capim é de 4200 kcal/kg, devido ao seu alto teor de fibras. Na biomassa vegetal do capim-
elefante o teor de carbono é de aproximadamente 42%, na base de matéria seca. Assim, uma
produção média de biomassa seca de capim de 45 ton/ha/ano, acumularia um total de 18,9
toneladas de carbono por hectare ao ano. Pode-se estimar que uma empresa com 100 ha de
capim-elefante sequestraria o equivalente a 1890 toneladas de CO2/ano e poderia captar
recursos advindos dos créditos de carbono (VICENTE, 2007).
No Brasil não existem dados suficientes da produção anual de capim-elefante, o que
torna os dados imprecisos. Com essa situação, a análise de viabilidade econômica e energética
do capim-elefante ainda se encontra no estado de pesquisa. Embora haja uma grande
expectativa em relação à produção de biomassa energética com capim-elefante, devem ser
feitas ainda algumas considerações que precisam entrar na avaliação: alta necessidade de
chuvas, pois o capim-elefante não é tolerante a períodos prolongados de seca; dificuldade da
secagem ao ar livre, também, o capim-elefante verde contém cerca de 80% de água e não
pode ser amontoado porque pode apodrecer; dificuldade e custos de compactação para o
armazenamento e transporte do capim diante do grande volume de matéria seca (EMBRAPA,
2008). Entretanto, mesmo com essas dificuldades, já existem pequenos produtores que
utilizam o capim-elefante na queima para produção de tijolos, ao invés de carvão vegetal de
43
eucalipto. Outro setor que demonstrou interesse é o de siderurgia, pois com essa fonte existe a
possibilidade de o carvão mineral utilizado ser substituído pelo carvão vegetal, que é uma
forma de biomassa.
Através de uma parceria com a Mineradora Samarco, controlada pela Companhia
Vale do Rio Doce, a Embrapa Agrobiologia desenvolve estudos para produzir capim-elefante
em grande escala para a indústria siderúrgica. A empresa necessita de 200 mil toneladas de
carvão mineral/ano para produzir 15 milhões de toneladas de pelotas de ferro. Para substituir
todo este carvão mineral, serão necessários pelo menos 13 mil hectares de capim-elefante
plantados. Isso demonstra que existe uma busca por uma fonte de energia renovável, barata e
que não prejudique o meio ambiente e, isso faz com que o futuro do capim-elefante pareça
bastante promissor.
3.3.4 Milho
O milho é uma cultura onde seus resíduos não são muito utilizados para a geração de
energia elétrica. O milho é uma planta que pode ser cultivada em vários tipos de clima, solos e
altura no mundo. A produtividade varia muito com o tipo de solo e com o manejo, sendo que
a produção média para colheitas no Brasil é de 5 t/ha. Os resíduos derivados do milho podem
ser divididos em sabugo, folha, palha (cobertura da espiga) e colmo (caule). Estudos de
KOOPMANS e KOPPEJAN (1997) indicam que a geração de resíduos na cultura do milho é
de aproximadamente 2,3 t/t de milho colhido, com 15% de umidade. Em termos de poder
calorífico inferior dos resíduos na forma de sabugo, colmo, folha e palha do milho, o trabalho
de KOOPMANS e KOPPEJAN (1997) apresenta o valor de 4227 kcal/kg. Na safra de
2012/2013 o cultivo do milho ocupou 15,83 milhões de hectares, representando a 2ª cultura
mais plantada no país e tendo uma produção nacional de 81,50 milhões de toneladas. Embora
a produção de milho seja grande, a utilização dos resíduos para a produção de energia elétrica
ainda não é atrativa economicamente. A Figura 3.10 mostra um exemplo de plantação de
milho.
44
Figura 3.10 Plantação de milho. Fonte: site Wikienergia
3.3.5 Soja
A soja é o grão de maior produção no Brasil, o que o faz com que tenha certo
destaque na análise energética. Na Figura 3.11 temos um exemplo desse grão. A soja requer
muitas exigências, não só em relação à temperatura, como também em relação à parte hídrica,
principalmente nas fases críticas que são a de enchimento dos grãos e a floração, parecidos
com a do milho. Apesar disso, a soja resiste melhor a períodos de escassez de água na fase
vegetativa, assim como tolera excesso de umidade no estágio de maturação colheita.
46
Figura 3.11 Plantação de soja. Fonte: site laboremus
47
esmagado, é produzida uma “massa” de soja, que também é vastamente utilizada para ração
animal. Portanto, os resíduos da cultura da soja, considerando a possibilidade de
aproveitamento energético, são obtidos somente no processo de colheita e são chamados de
palha. Segundo estudos de KOOPMANS e KOPPEJAN (1997), os resíduos agrícolas da soja
que permanecem no campo, que são denominados como palha, apresentam uma produção de
2,5 toneladas de biomassa (15% de umidade) por tonelada de soja colhida. Em termos de
poder calorífico inferior da palha de soja, os mesmos estudos indicam um valor de 3487
kcal/kg. Entretanto, semelhante ao caso do milho, os resíduos da cultura da soja que
permanecem no campo precisam ser recuperados e concentrados para a utilização em uma
planta geradora termelétrica. Isso acarreta em custos de colheita de resíduos, compactação e
transporte até a unidade geradora, o que torna o aproveitamento ainda pouco viável
economicamente. Além disso, a soja apresenta uma pequena desvantagem, pois os resíduos
deixados na lavoura apresentam efeitos positivos no solo, além de apresentarem uma alta
quantidade de minerais.
Apesar da necessidade de pesquisa e de desenvolvimento de tecnologias para
aproveitamento dos resíduos da soja em plantas de geração elétrica, a soja já é utilizada como
uma fonte de energia na forma de biocombustível, o biodiesel. O biodiesel é um combustível
que pode ser produzido a partir de uma série de matérias-primas (óleos vegetais diversos,
gordura animal, óleo de fritura) através dos processos de transesterificação e craqueamento. O
Brasil está entre os maiores produtores e consumidores de biodiesel do mundo, com uma
produção anual, em 2014, de 3,4 bilhões de litros e uma capacidade instalada, em janeiro de
2015, para 7,5 bilhões de litros (Aprobio, 2014). Devido à sua característica oleaginosa, a soja
em grão possui cerca de 20% de óleo (CEPEL, 2002). Comparativamente a outras culturas
como dendê (26%), babaçu (66%), girassol (38-48%), mamona (43-45%), amendoim (40-
50%) e caroço de algodão (15%), a soja apresenta uma baixa porcentagem de óleo, mas a sua
vantagem está na possibilidade de produção em escala e na qualidade do óleo extraído
(MME:EPE, 2007). Portanto, mesmo ainda apresentando um baixo aproveitamento dos
resíduos para geração de energia elétrica, a soja possibilita um grande aproveitamento
energético, visto que os resíduos são cerca de vinte vezes maiores que os de arroz, e sua
utilização na geração termelétrica precisa e pode ser utilizada como uma fonte alternativa de
produção de energia.
48
3.3.6 Análise energética
A Tabela 3.3 mostra informações sobre os poderes caloríficos inferiores dos resíduos
de algumas das culturas mais cultivadas no Brasil (MME:EPE, 2007). O poder calorífico
inferior é função do teor de umidade contida na amostra do resíduo. Para o bagaço de cana foi
considerado o teor de 50% de umidade, referindo-se ao bagaço resultante do processo de
moagem da cana in natura, sem qualquer tipo de secagem adicional. Para a palha da cana
também foi considerado o teor de 50%, correspondendo às folhas naturalmente secas. Para
obter-se um teor de umidade abaixo de 50% é necessário utilizar equipamentos de secagem. O
arroz vem da lavoura com 25-30% de umidade e precisa passar por um processo de secagem
para que sua casca seja retirada. O arroz com casca é secado até atingir 15% de umidade.
Portanto, para a casca do arroz foi considerado o teor de 15%. A palha do arroz também
passou por processo de secagem, até atingir 15% de umidade, para obter-se o poder calorífico.
As amostras de capim-elefante, palhada do milho e palha da soja também passaram por
processo de secagem para que fossem obtidos seus poderes caloríficos inferiores, com 15% de
umidade. É conveniente ressaltar que estas amostras vêm do campo com uma porcentagem de
umidade mais alta, em torno de 50%.
Fonte: Ministério de Minas e Energia: Empresa de Pesquisas Energéticas. Plano Nacional de Energia2030.
Brasília: MME:EPE, 2007. Centro de Pesquisas de Energia Elétrica. Rio de Janeiro: CEPEL, 2012. Instituto de
Pesquisas Tecnológicas. São Paulo: IPT, 2008. ¹ Considerado o bagaço e a palha da cana colhida in natura, com
50% de umidade.
49
No ano de 2013/14, a produção nacional de cana-de-açúcar foi de 648,1 milhões de
toneladas, com uma produtividade média de 66 toneladas por hectare ao ano (MAPA, 2014).
Considerando que 28% do total de cana-de-açúcar que entra no sistema de moagem é
transformada em bagaço (MME:EPE, 2009), foi produzido um total de 181,46 milhões de
toneladas de bagaço de cana no ano de 2014. O bagaço de cana possui um poder calorífico
inferior de 2130 kcal/kg, portanto, essa produção total de bagaço equivale a 38,65 milhões de
tep. A transformação dessa quantidade de bagaço em energia elétrica, considerando a base
teórica térmica 1 kWh=3132 kcal, correspondente ao óleo combustível queimado numa usina
térmica com rendimento de 27,5% (MME:EPE, 2009), produziria um equivalente a
123,41TWh. Outro resíduo da cana que também pode ser utilizado para geração de
eletricidade é a palha, composta pelas folhas e pontas. O valor médio da produção de palha
por tonelada de cana colhida, no Brasil, é 140 kg/ton (50% de umidade). Isso significa que
foram gerados 90,73 milhões de toneladas de palha de cana no ano de 2014. A palha da cana-
de-açúcar possui um poder calorífico inferior de 3105 kcal/kg. O total de palha gerada
equivale a 28,17 milhões de tep. A transformação dessa quantidade de palha em energia
elétrica, considerando a base teórica térmica, produziria um total de 89,95 TWh. Segundo o
Banco de Informações de Geração (ANEEL, 2014), existem atualmente 384 usinas
termelétricas que utilizam o bagaço de cana-de-açúcar como combustível, com uma potência
instalada de 9726 MW. Esta potência representa 81% do campo brasileiro de geração de
energia elétrica que utiliza biomassa como combustível. Esses números revelam o papel
importante do bagaço de cana-de-açúcar como uma fonte de geração de energia elétrica.
Também mostra a importância da avaliação econômica e aproveitamento da palha da cana que
hoje é pouco utilizada para este fim, sendo comumente descartada no campo e em alguns
lugares sendo queimada.
O arroz com casca foi a terceira cultura mais cultivada no ano de 2013 e apresentou
uma produção nacional de 11,819 milhões de toneladas. Os dois principais resíduos gerados
na cadeia de produção do arroz são a casca e a palha do arroz. O arroz vem da lavoura com
25-30% de umidade que necessita ser reduzida para 12-15% para que seja beneficiado. A
secagem é feita com queima de parte das cascas e os gases de combustão são empregados
como meio de aquecimento. Ao longo de um ano, aproximadamente 15% da casca produzida
é destinada à secagem do arroz. Além disso, considera-se uma indisponibilidade de outros
15%, referente à casca disponível em pequenas indústrias, espacialmente dispersas,
50
inviabilizando o transporte. No processamento industrial do arroz, onde ocorre a retirada de
sua casca, este resíduo corresponde a aproximadamente 22% do peso total do arroz com casca
(CEPEL, 2002). Portanto, considerando as perdas e a safra de arroz no ano de 2013, foram
geradas 1,82 milhões de toneladas de casca de arroz. A casca do arroz possui um poder
calorífico inferior de 3200 kcal/kg. O total de casca de arroz, considerando seu poder
calorífico, equivale a 0,58 milhões de tep. A transformação dessa quantidade de casca em
energia elétrica, considerando a base teórica térmica (1 kWh = 3132 kcal), produziria um
equivalente a 1,85TWh. A palha é outro resíduo que também é gerado na etapa de colheita do
arroz. A quantidade de palha gerada é de aproximadamente 0,38 tonelada por tonelada de
arroz colhido, com umidade de 15%. Isso significa uma produção de 4,49 milhões de
toneladas de palha de arroz. Esta palha possui um poder calorífico inferior de 3821 kcal/kg. O
total de palha equivale a 1,71 milhões de tep. A transformação dessa quantidade de palha em
energia elétrica, considerando a base teórica térmica, produziria um equivalente a 5,47 TWh.
Segundo o Banco de Informações de Geração (ANEEL, 2015), existem atualmente 11 usinas
termelétricas que utilizam a casca do arroz como combustível, com uma potência instalada de
39,53 MW. Além destas, uma nova usina está em construção, com potência instalada
estimada em 5,8 MW. A casca do arroz ainda é pouco utilizada na geração de energia elétrica
quando se compara o total de energia gerada no país. Isso demonstra a importância de estudos
e pesquisas para a viabilização do aproveitamento dessa fonte de biomassa como combustível
na geração de energia. A palha do arroz é uma fonte potencial que precisa de pesquisa e
adaptação no sistema atual de colheita, que descarta toda a palha na lavoura. Esse novo
sistema, além da colheita do grão, disponibilizaria a palha em carreiras, montes ou até mesmo
em um depósito na máquina de colheita, tornando mais fácil a reunião de grandes volumes de
palha. Isto demonstra a importância dos resíduos do arroz como fonte de biomassa para
geração e energia elétrica.
O capim-elefante não possui dados contabilizados como safra e produção por estado,
pois, diferentemente de culturas tradicionais como cana-de-açúcar, arroz, milho e soja, esta
cultura está em fase de avaliação de produção, produtividade e de viabilidade econômica.
Vários órgãos e entidades estão estudando o capim-elefante como fonte de geração de energia
elétrica então, dados apresentados por estes órgãos serão levados em conta na avaliação desse
trabalho. Segundo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, cada hectare plantado com capim-
elefante gera, em média, 45 toneladas de biomassa seca que podem virar energia. Isso é
51
possível, pois o capim-elefante pode ser colhido seis meses após o seu plantio e permite de 2 a
4 colheitas por ano.
Como exemplo de produção e utilização do capim-elefante na geração de energia
elétrica em larga escala, cita-se a empresa Sykué Bioenergya, localizada na Bahia. Em
operação desde novembro de 2008, a empresa possui uma área de 11 mil hectares onde 4600
hectares são cultivados com capim-elefante (Sykué Bioenergya, 2012).
A usina tem capacidade instalada de 30 MW e está conectada ao sistema interligado
nacional através da concessionária de energia do estado da Bahia, a COELBA. Os planos da
empresa são de construir mais usinas com o passar dos anos chegando a uma capacidade
instalada de 300 MW, todas utilizando capim-elefante como combustível. Considerado para
avaliação de geração elétrica no presente trabalho, o citado exemplo, e considerando a
produção de biomassa seca de capim-elefante por área, os 11 mil hectares da empresa Sykué
produzem anualmente 495 mil toneladas de biomassa seca. Utilizando o poder calorífico
inferior do capim-elefante, que é de 4200 kcal/kg, esse total de biomassa seca equivale a 0,20
milhões de tep (tabela 3.4). A transformação dessa quantidade de capim em energia elétrica,
considerando a base teórica térmica, produziria um total de 0,63 TWh.
Os resíduos provenientes da cultura do milho e da soja são derivados do processo de
colheita, ou seja, os grãos são colhidos e as folhas, caule, talos e cascas são retirados e
descartados na lavoura. Atualmente não existem empreendimentos que utilizam esses resíduos
para geração de energia elétrica e o motivo principal é devido aos resíduos estarem dispersos
por toda a área de plantio. Este é o maior empecilho para o atual aproveitamento energético
destes resíduos, pois o recolhimento destes após a colheita inviabiliza economicamente a sua
utilização energética. Comparativamente a outras fontes para geração de eletricidade, estes
resíduos acabam tornando-se combustíveis mais caros. Porém, com uma adaptação do atual
sistema de colheita dos grãos, estes resíduos podem passar de biomassa descartada para
biomassa energética. Para isso acontecer seria necessário que as empresas desenvolvam e
ofereçam colheitadeiras que beneficiem o grão e descartem os resíduos em montes, carreiras,
ou até mesmo armazenem temporariamente em depósitos na máquina. Essa tecnologia deve
ser pesquisada e desenvolvida, pois com esse grande volume de resíduos, a soja e o milho são
fontes de biomassa com alto potencial para servir como combustível na geração de energia
elétrica.
52
3.4 BIOMASSA ENERGÉTICA DERIVADA DE REJEITOS URBANOS E
INDUSTRIAIS
54
3.4.1 Rejeitos urbanos sólidos e líquidos
A biomassa contida nos rejeitos urbanos é composta por resíduos sólidos e líquidos.
Os resíduos sólidos, vulgarmente chamados de lixo, são compostos por muitos materiais
como: plástico, metal, vidro, madeira, papel e matéria orgânica como pode ser visto na Figura
3.12.
Figura 3.12 Lixão da cidade de Mongaguá no litoral de São Paulo. Fonte G1 notícias
55
Estes rejeitos, quando acumulados em área aberta durante algum tempo, se tornam um grave
problema ambiental, trazendo mau cheiro, doenças e dando origem a um líquido altamente
tóxico, o chorume5. A decomposição dos rejeitos contidos nos lixões dá origem a um líquido
com elevada carga orgânica e poder contaminante que, com a ação da água da chuva, é
carregado para mananciais, rios, córregos, podendo atingir lençóis freáticos, poluindo estes
recursos naturais.
O impacto ambiental da poluição de águas por este líquido é evitável, mas requer
investimentos em estrutura para reciclagem de alguns componentes presentes no lixo e
aproveitamento do restante que não é passível de reciclagem. Os rejeitos urbanos sólidos e
líquidos oriundos dos setores comerciais e residenciais poderiam, após recolhidos, passar por
um sistema de gerenciamento e seleção que identificaria sua destinação, em função de
algumas características, também poderiam ser feitos programas educativos que ensinassem e
incentivassem a população a fazer a separação do lixo de acordo com as características do
mesmo, dessa forma agilizaria o processo de recolhimento e de destino do lixo. Esta
destinação poderia ser para a reciclagem, para compostagem ou fabricação de adubos e
fertilizantes, para descarte em um aterro sanitário ou para a geração de energia elétrica – a
partir da queima direta, da gaseificação ou através do biogás gerado em um aterro energético.
Comparativamente ao grande volume de resíduos provenientes das explorações agrícolas,
pecuárias e agroindustriais, assim como aqueles produzidos por matadouros, abatedouros,
destilarias, fábricas de lacticínios, esgotos domésticos e estações de tratamento de lixos
urbanos (a partir dos quais é possível obter biogás), estes apresentam uma carga poluente mais
elevada que impõe a criação de soluções que permitam diminuir os danos provocados por essa
poluição, gastando o mínimo de energia possível em todo o processo.
Dentre as 3 rotas tecnológicas mais aceitáveis para o processamento dessa biomassa,
a biodigestão anaeróbica é a que apresenta maior comparativo de vantagens, pois além de ser
um processo com maior rendimento energético, possui considerável capacidade de despoluir,
permite valorizar um produto energético (biogás) e ainda obter um fertilizante, cuja
disponibilidade contribui para uma rápida amortização dos custos da tecnologia instalada.
5
Chorume: Líquido poluente, de cor escura, extremamente tóxico e com forte odor desagradável, originado de
processos biológicos, químicos e físicos da decomposição de resíduos orgânicos
56
A proporção em cada tipo de biogás gerado depende de vários parâmetros, como o
tipo de digestor e o substrato a digerir. Entre os tipos de substratos urbanos é possível citar o
lixo proveniente de residências, comércios e o lodo de estações de tratamento de esgoto
urbano. De qualquer forma, esta mistura é essencialmente constituída por metano (CH4), com
valores médios na ordem de 60 a 65%, e por dióxido de carbono (CO2), com
aproximadamente 35 a 45% de sua composição (MME:EPE, 2007). A Tabela 3.4 apresenta a
composição média do biogás.
Fonte: Ministério de Minas e Energia: Empresa de Pesquisas Energéticas. Plano Nacional de Energia 2030.
Brasília: MME:EPE, 2007
Fonte: Ministério de Minas e Energia: Empresa de Pesquisas Energéticas. Plano Nacional de Energia 2030.
Brasília: MME:EPE, 2007
58
dimensionada a planta de geração de energia, levando-se em consideração se há gás suficiente
para a operação da mesma. Além dos rejeitos urbanos sólidos, têm-se os rejeitos urbanos
líquidos, que são os efluentes líquidos, domésticos e comerciais. Na maioria das cidades estes
efluentes são descartados nas redes de esgoto, seguindo para estações de tratamento, quando
não são despejados em rios, riachos etc, poluindo este recurso natural. Nas estações, estes
efluentes são tratados e a parte reaproveitada é destinada a reservatórios, lagos, rios, entre
outros, sendo considerada apta a voltar para a natureza. O esgoto urbano é composto quase
totalmente de matéria orgânica residual diluída, cujo tratamento é uma imposição sanitária.
Após o tratamento, é produzida uma massa orgânica, popularmente chamada de lodo. O lodo
proveniente de estações de tratamento de esgoto está sendo alvo de pesquisas energéticas para
viabilizar o seu aproveitamento na produção de energia elétrica através da rota tecnológica de
digestão anaeróbica. Seu conteúdo energético não é grande, mas em cidades populosas o
elevado volume em que são produzidos justifica sua utilização, além de reduzir a poluição
ambiental. O poder calorífico do lodo depende de vários fatores, mas estudos variados
estimam um valor médio de 900 kcal/kg (UNIFEI, 2007). Ao final da produção do biogás, o
resíduo presente no gaseificador ainda pode ser utilizado como fertilizante em florestas
plantadas de eucalipto, fechando o ciclo de aproveitamento do lodo destas estações. Portanto,
a viabilização do aproveitamento energético do lodo resultante de estações de tratamento de
esgoto é um caminho que deve ser buscado, pois além da produção de energia elétrica, essa
massa com elevada carga orgânica terá um destino mais apropriado.
Além dos rejeitos sólidos e líquidos urbanos, outros rejeitos podem ser utilizados
para gerar o biogás, como rejeitos de criadouros, abatedouros, destilarias, fábricas de
laticínios, indústrias de processamento de carnes, entre outros. Os rejeitos urbanos sólidos,
localizados em aterros sanitários e os rejeitos urbanos líquidos, localizados nas estações de
tratamento de esgoto, levam vantagem no quesito de produção do biogás em grande escala.
Certamente esses locais possuem alta capacidade de fornecimento de biomassa, possibilitando
a instalação de plantas geradoras do biogás e posteriormente de energia elétrica, com foco na
comercialização dessa energia. Porém, os demais rejeitos, comumente são produzidos em
baixa escala e em locais dispersos. Mesmo considerando uma pequena geração de biomassa
59
anual nesses locais, estes rejeitos podem e devem ser utilizados para produzir o biogás, como
na Figura 3.13, o qual tem a possibilidade de ser usado na geração de energia elétrica. Esta
energia produzida será utilizada pela própria indústria, criadouro, destilaria, abatedouro,
fábrica de laticínio, etc, nos seus processos e, se possível, o excedente será comercializado.
Estes sistemas de cogeração distribuídos apresentam várias vantagens que tornam o
aproveitamento desses rejeitos interessante. Além de gerar energia elétrica para o próprio
consumo, as indústrias ficam menos dependentes da energia fornecida pela concessionária
local, proporcionam soluções para aproveitamento dos rejeitos produzidos em seus processos,
que muitas vezes não são destinados a locais corretos, diminuem os investimentos e os
impactos ambientais produzidos pelo descarte desses rejeitos etc.
Figura 3.13 Biodigestor para a produção de biogás a partir de dejetos de animais. Fonte: site
Farmpoint
60
Tabela 3.6 Produção diária de resíduos líquidos e sólidos de alguns animais.
Fonte: KONZEN, E.A., Avaliação quantitativa e qualitativa dos dejetos de suínos em crescimento e
terminação, manejados em forma líquida, 1980. 56p. Dissertação de Mestrado, Universidade federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.
Fonte: CASTANÓN, N.J.B., Biogás originado a partir dos rejeitos rurais. Trabalho apresentado na
disciplina: Biomassa como Fonte de Energia, Conversão e utilização. Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2002.
61
Tabela 3.8 Produção de rejeitos sólidos urbanos por habitante e suas características.
62
se uma produção média de biogás de 0,15 m³/kg de lodo, foi produzido um total de 26,55
milhões de m³ de biogás pela SABESP no ano de 2007. Tomando-se o valor do poder
calorífico do biogás como 5000 kcal/m³, o potencial energético gerado equivale a 0,013
milhões de tep (tabela 3.10). A transformação desta quantidade de biogás em energia elétrica,
considerando o critério de equivalência, onde 1 m³ de biogás é igual a 1,428 kWh, produziria
um equivalente a 0,042 TWh/ano.
Como outro exemplo de estímulo à utilização de rejeitos industriais para produção de
biogás e geração de energia elétrica, pode-se citar a COPEL, Companhia Paranaense de
Energia Elétrica. Em 2008, a ANEEL autorizou a COPEL a implantar um projeto-piloto para
a compra da energia elétrica excedente produzida em pequenas propriedades rurais do Paraná
a partir de dejetos de animais. Chamado Programa de Geração Distribuída com Saneamento
Ambiental, ele permitia a utilização do material orgânico resultante da criação de suínos,
evitando o seu lançamento em rios e em reservatórios como o da usina hidrelétrica de Itaipu.
Os resíduos serão transformados, por meio de biodigestores, em biogás, que será utilizado
como combustível na produção de energia elétrica (ANEEL, 2009). Além disso, a fiscalização
ambiental cada vez mais restritiva, para controle de odor e poluição de águas por rejeitos
animais está forçando os fazendeiros a investir em biodigestores como forma de
gerenciamento de dejetos. Isto poderá tornar estas fazendas auto suficientes em energia
elétrica, promovendo a geração distribuída de forma eficiente. Para se ter uma noção da
produção de biogás e geração de energia elétrica utilizando rejeitos de criadouros, simulou-se
o seguinte:
Adotou-se uma quantidade de 5000 cabeças de suínos em uma fazenda. De acordo
com a Tabela 3.7, a produção diária de rejeitos sólidos de suínos é de 2,3 kg/animal. A
quantidade de rejeitos sólidos produzida pelas 5000 cabeças durante 1 ano seria de 4198
toneladas. Considerando que para produzir 1 m³ de biogás seriam necessários 2,86 kg de
rejeitos secos de suínos, em um ano seria produzido um total de 1,47 milhões de m³ de biogás.
Tomando-se o valor do poder calorífico do biogás como 5000 kcal/m³, o potencial energético
gerado equivale a 0,735 mil tep (tabela 3.9). A transformação desta quantidade de biogás em
energia elétrica, considerando o critério de equivalência onde 1 m³ de biogás é igual a 1,428
kWh, produziria um equivalente a 0,002 TWh. A Tabela 3.9 reúne as informações e as
análises dos potenciais energéticos dos resíduos urbanos sólidos e líquidos e industriais.
63
Tabela 3.9 - Produção de rejeitos urbanos sólidos e líquidos, industriais (exemplo de
criadouro), potencial de geração de biogás, poderes caloríficos e equivalentes
energéticos.
Este aproveitamento também pode ser aplicado em fazendas onde existem sistemas
de criação intensiva de gado bovino e criação de aves. Os dejetos produzidos por estes
animais são os mais comuns no Brasil. Outra opção para extração de energia dos dejetos
animais é a queima direta dos resíduos. Desta forma, os dejetos da avicultura, suíno cultura e
bovinocultura podem ser utilizados para este fim. Mais estudo precisa ser realizado para
dimensionar a capacidade de geração de energia elétrica a partir dos rejeitos destas criações
no Brasil, que é um dos maiores criadores mundiais. Segundo o Banco de Informações de
64
Geração (ANEEL, 2014), existem atualmente 10 usinas termelétricas que utilizam biogás
como combustível, com uma potência instalada de 62,31 MW. Entre estas usinas, têm-se
instalações que utilizam o lodo de estações de tratamento de esgoto como a ETE da cidade de
Ouro Verde, cuja proprietária é a Companhia de Saneamento do Estado do Paraná, usinas que
utilizam biogás gerado em aterros – Usina Bandeirante, que extrai o biogás do aterro dos
Bandeirantes em SP – e usinas que utilizam rejeitos industriais de criatórios de frangos –
Cooperativa Agroindustrial Lar. Além destas, 3 novas usinas estão em construção, com
potência instalada estimada em 58 MW e 3 estão em processo de outorga, com potência
aproximada de 32 MW. Os exemplos de rejeitos urbanos e industriais, sólidos e líquidos,
utilizados para análise de potencial de produção, potencial energético e potencial de geração
de energia elétrica não devem ser comparados entre si, mas sim, tomados como estimativas de
aproveitamento em grande, média e pequena escala, pois possuem dimensões de produção
bastante diferentes. O aproveitamento energético de rejeitos urbanos e industriais, sólidos e
líquidos, existe e deve ser buscada, pois além da possibilidade de produção do biogás para
geração de energia elétrica, haverá um destino correto para estes rejeitos o que tende a
diminuir o impacto ambiental provocado pelo descarte inadequado. O que deve ser observado
e analisado é a capacidade de geração de biogás, capacidade de fornecimento de rejeitos,
custos de implantação da planta geradora do biogás e da planta geradora termelétrica, entre
outros aspectos. Tudo contemplado por um estudo de viabilidade econômica. Isto também
ajuda a tornar a matriz de energia elétrica mais limpa e menos impactante ao meio ambiente.
67
4 ROTAS TECNOLÓGICAS PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A
PARTIR DA BIOMASSA
Conforme visto nos capítulos anteriores, existem muitos tipos de fontes de biomassa
que podem ser utilizadas para o atendimento das demandas energéticas da humanidade.
Porém, apesar desta variedade de fontes, as formas de aproveitamento da energia da biomassa
para geração de eletricidade ainda são limitadas, tanto por fatores de viabilidade econômica
dos processos empregados, quando por fatores de maturidade das tecnologias.
Em termos de rotas tecnológicas para a geração termelétrica a partir da biomassa, há
um bom número de possibilidades. Sendo que em todas elas estão envolvidos processos de
conversão energética da biomassa em um produto intermediário, que posteriormente é
utilizado para geração de eletricidade, (MME:EPE, 2007). Algumas rotas possíveis são
explicitadas na Figura 4.1.
68
Figura 4.1 Rotas de conversão energética da biomassa.
Fonte: EPE, Plano Nacional de Energia 2030: Considerando a totalidade de vias tecnológicas para geração de
eletricidade a partir da biomassa, algumas rotas se destacam, por apresentarem boas condições de utilização na
atualidade ou por terem boas perspectivas de utilização no médio e longo prazo.
A Figura 4.2 traz uma visão geral das condições de viabilidade econômica e estado da arte
destas tecnologias, feitas para o cenário europeu no final do século XX (CORTEZ et al.,
2007).
69
Figura 4.2 Tecnologias de produção de eletricidade a partir da biomassa. Fonte: CORTEZ, Luiz Augusto
Barbosa; LORA, Electo Eduardo Silva, GÓMES, Eduardo Olivares. BIOMASSA para energia. Campinas:
Editora da UNICAMP, 2008.
De acordo com a Figura 4.2 pode ver-se que ciclos a vapor de maior capacidade já
estão bastante desenvolvidos, já que a maior parte das indústrias sucroalcooleiras utiliza este
método de geração de vapor com grandes caldeiras que permitem maior pressão. O ciclo a
vapor de menor capacidade, devido a menores pressões e menor capacidade da caldeira, já
tem modelos que podem ser utilizados comercialmente. Porém, devido a menor capacidade
são inviáveis economicamente. Junto com o ciclo a vapor de maior capacidade, é possível ver
que a gaseificação, turbina a vapor e células a combustível também já se mostram bem
desenvolvidos. Combustão e turbinas de ar quente, junto com a pirólise, motores de
combustão interna, turbinas a gás e motores stirling são inviáveis economicamente, embora,
alguns destes mencionados têm um bom desenvolvimento tecnológico atualmente. Mas,
quando se pensa no futuro a longo prazo, seus prospectos não são promissores.
Assim, este capítulo tem o objetivo de apresentar o estado da arte em tecnologias de
geração de energia elétrica a partir da biomassa, focando-se nas tecnologias que apresentam
melhores possibilidades de aproveitamento, no Brasil e no mundo, no curto, médio e longo
prazo.
70
4.2 PROCESSOS DE CONVERSÃO ENERGÉTICA DA BIOMASSA
6
Reação que ocorre com absorção de calor
7
Reação que ocorre com liberação de calor
71
Todo o energético, seja ele o combustível primário ou um subproduto deste, é
consumindo no processo, sendo que a queima total está condicionada ao fornecimento em
quantidade suficiente de oxigênio ao processo.
Neste método tem-se como produto final um gás de combustão a elevada temperatura,
composto, principalmente, de dióxido de carbono (CO2), nitrogênio (N2) e água (H2O)
(MME:EPE, 2007). Por outro lado, o procedimento de conversão energética adotado na
gaseificação converte um insumo líquido ou sólido em um gás combustível, como mostra a
Figura 4.3, por intermédio da oxidação parcial deste insumo a temperaturas intermediárias, ou
seja, temperaturas acima das adotadas no processo de pirólise e abaixo das temperaturas
praticadas no processo de combustão direta (CORTEZ et al., 2008).
72
Figura 4.4 Rotas de gaseificação baseada no tipo de agente gaseificante.
*Mistura basicamente de oxigênio e vapor de água ou ar enriquecido com oxigênio e vapor de água.
Fonte: CORTEZ, Luiz Augusto Barbosa; LORA, Electo Eduardo Silva, GÓMES, Eduardo Olivares.
BIOMASSA para energia. Campinas: Editora da UNICAMP, 2008.
Fonte: CORTEZ, Luiz Augusto Barbosa; LORA, Electo Eduardo Silva, GÓMES, Eduardo Olivares.
BIOMASSA para energia. Campinas: Editora da UNICAMP, 2008. (Modificada).
8
Polissacarídeo que entrelaça microfibrilas de celulose em paredes de células vegetais.
74
4.2.2 Conversão físico-química
9
Johannes Nicolaus Brönsted (1879-1947), químico holandês, que em conjunto com o também químico e compatriota,
Martin Lowry, desenvolveu a chamada teoria de Brönsted-Lowry. Segundo a teoria de Brönsted-Lowry, ácido é toda a
espécie que cede íons H+, isto é, prótons. E por outro lado, base é toda espécie que recebe estes íons.
75
Figura 4.6 Fluxograma do processo de produção do biodiesel.
Fonte: CORTEZ, Luiz Augusto Barbosa; LORA, Electo Eduardo Silva, GÓMES, Eduardo Olivares.
BIOMASSA para energia. Campinas: Editora da UNICAMP, 2008.
76
A fermentação alcoólica é um procedimento antigo e acompanha a história da
humanidade a milhares de anos, podendo ser definida, de forma simplificada, como sendo a
transformação biológica de um açúcar em etanol e gás carbônico. Essa transformação é
possível graças à ação metabólica de organismos biológicos, sendo as leveduras um bom
exemplo destes organismos. Atualmente, a fermentação alcoólica é um processo maduro,
comercial e tecnologicamente, situação que dificulta consideravelmente ganhos significativos
de eficiência ao processo. Ganhos incrementais podem advir de investimentos mais robustos
em pesquisa e desenvolvimento, ou por substituição dos procedimentos atuais por métodos
mais sofisticados, mas, infelizmente nenhuma das duas tendências é verificada na atualidade
(CORTEZ et al.,2008).
Já a destilação é um processo complementar à fermentação alcoólica, sendo usado
para alcançar padrões de qualidade e concentração de etanol, exigidos pela legislação do setor
sucroalcooleiro. É com a destilação do mosto açucarado da cana-de-açúcar, após a
fermentação, que são eliminados diversos contaminantes desta mistura e são separados seus
dois mais importantes componentes: o álcool etílico anidro combustível e o álcool etílico
hidratado combustível (CORTEZ et al., 2008).
Visando aumentar a eficiência dos processos de conversão bioquímica da biomassa, há
atualmente, significativos esforços para viabilizar o uso de material lignocelulósicos
hidrolisado, na produção de etanol e outros bioprodutos de alto valor agregado.
No estado tecnológico vigente há dois processos de hidrolise10 que podem ser aplicados: a
hidrólise ácida, que possui baixo custo, mas que por outro lado tem como subprodutos
resíduos poluentes, que inibem a fermentação posterior, e a hidrólise enzimática, que é menos
poluente, mas tem custos mais elevados. A hidrólise de biomassa no Brasil tem grande
potencial para o seu aproveitamento, pois além de o país possuir grande disponibilidade de
matéria-prima, ainda há a possibilidade da sua integração complementar aos processos usados
em usinas de açúcar, destilarias e plantas de cogeração (CORTEZ et al., 2008).
10
Hidrólise é reação química de quebra de uma molécula na presença de água.
77
Como citado anteriormente, o destaque nos processos bioquímicos de conversão da biomassa
é dado à biodigestão anaeróbica11, quando a finalidade é a obtenção de energia elétrica.
Esse processo tem como resultado final uma mistura de gases, denominada biogás,
composta principalmente de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), e, em menores
quantidades, por gás sulfúrico (H2S), nitrogênio (N2) e hidrogênio (H2) (CORTEZ et al.,
2008). A composição volumétrica do metano no gás varia dependendo da matéria orgânica
processada (MME:EPE, 2007). Esse método tem destaque, pois além de possibilitar que
resíduos orgânicos urbanos sejam aproveitados na geração de energia, pode ainda ser
implementado em áreas rurais para aproveitamento energético dos resíduos da atividade rural
e da agroindústria. Ainda, um dos produtos finais da biodigestão é um efluente (líquido) rico
em nitrogênio que é utilizado na fabricação de fertilizantes (CORTEZ et al, 2008). O processo
é realizado em recipientes (reatores) estanques chamados de biodigestores, onde populações
bacterianas degradam de forma natural a matéria orgânica. Desta forma, a tecnologia usada
nos biodigestores é dependente do tipo de matéria-prima utilizada, sendo considerada uma
tecnologia madura e bem estabelecida (MME:EPE, 2007).
11
Uma reação química anaeróbica se dá na ausência de oxigênio.
78
4.3 TECNOLOGIAS APLICADAS À BIOMASSA PARA A GERAÇÃO DE ENERGIA
ELÉTRICA
79
As tecnologias usadas para transformação da biomassa em vapor, com eficiência e
dentro dos requisitos de pressão e temperatura esperados, variam de acordo com a finalidade
de aproveitamento do vapor. Este pode ser aproveitado em processos industriais
termodinâmicos (aquecimento e trabalho mecânico) e em processos de geração termoelétrica,
sendo que o melhor rendimento e eficiência para os ciclos avapor são alcançados com a
combinação de ambos em unidades de cogeração.
Em uma unidade de cogeração, é fundamental o conhecimento das necessidades
energéticas do processo produtivo que utilizará a energia produzida pela planta, isso para a
obtenção da adequada integração entre ambos.
O conhecimento sobre as quantidades de trabalho mecânico, energia elétrica, calor ou
frio fornecem os subsídios inicias para determinação da configuração adequada ao processo e
a especificação dos equipamentos utilizados na unidade de cogeração (MME:EPE, 2007).
Considerando as principais características das tecnologias empregadas até o
momento, e dentre essas, aquelas que fazem parte do conjunto de inovações tecnológicas
propostas para viabilizar melhora no aproveitamento de recursos energéticos da biomassa, as
alternativas consideradas para geração de energia elétrica a partir da biomassa em ciclos a
vapor são: o ciclo com turbinas de contrapressão, empregado de forma integrada a processos
produtivos através da cogeração, e o ciclo com turbinas de condensação e extração, que
operam isoladamente ou de forma integrada ao processo produtivo também por intermédio da
cogeração. (TOLMASQUIM, 2004; MME:EPE, 2007).
Tradicionalmente, o fornecimento de energia em processos produtivos que dispõem
de biomassa combustível é realizado por ciclos de cogeração topping12 a vapor de
contrapressão.
Nestes sistemas a queima da biomassa é efetuada diretamente em caldeiras,
produzindo vapor que é utilizado no acionamento de turbinas para geração de energia elétrica,
podendo posteriormente acionar turbinas de trabalho mecânico e ser utilizado no atendimento
12
Sistemas de cogeração onde o calor inicialmente é usado para geração de energia elétrica e posteriormente, aproveitado
em processos térmicos. O processo inverso, onde o calor é aproveitado inicialmente em processos térmicos de alta
temperatura e posteriormente para geração de energia elétrica é realizado em sistemas de cogeração bottoming.
80
às necessidades térmicas do processo produtivo. As principais características deste tipo de
sistema são o reduzido desempenho energético e baixa capacidade de produção. Além disso,
neste tipo de arranjo a geração de energia elétrica é restringida pelo consumo de energia
térmica do processo de produção ao qual está integrado, devido ao vapor ser condensado
durante o processo, voltando ao seu estado líquido no fechamento do ciclo e bombeado de
volta à caldeira. A Figura 4.7 ilustra o arranjo de um ciclo tradicional de cogeração topping a
vapor em contrapressão. (TOLMASQUIM, 2004; MME:EPE, 2007).
Figura 4.7 Ciclo tradicional de cogeração topping a vapor em contrapressão. Fonte: TOLMASQUIM, Mauricio
Tiomno (Coord.). Alternativas energéticas sustentáveis no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará: CENERGIA,
2004.
Diferentemente, o ciclo a vapor com turbinas de condensação e extração, tem o vapor ao final
da realização de trabalho na turbina, totalmente ou parcialmente condensado em estrutura
própria para tal, disposta na exaustão da turbina, chamada de condensador. O vapor requerido
ao processo produtivo, para acionamentos mecânicos e aquecimento, é extraído em um ponto
intermediário da expansão do vapor ainda dentro da turbina. Com a adição do condensador,
elevação da temperatura e pressão, possibilitadas por uso de caldeiras mais tecnologicamente
desenvolvidas. Esse tipo de ciclo tem ganhos significativos de eficiência e capacidade de
geração, isso quando comparados à ciclos a vapor com turbinas de contrapressão. Fato que é
amplificado quando o sistema é usado somente para geração de energia, ou seja, não mais
como um sistema de cogeração. A Figura 4.8 ilustra o arranjo de um ciclo de extração e
condensação em cogeração topping (TOLMASQUIM, 2004; MME:EPE, 2007).
81
Figura 4.8 Ciclo a vapor de condensação e extração em cogeração topping.
Fonte: TOLMASQUIM, Mauricio Tiomno (Coord.). Alternativas energéticas sustentáveis no Brasil. Rio de
Janeiro: Relume Dumará: CENERGIA, 2004.
82
fabricação de turbinas a gás conferindo a estes sistemas confiabilidade e eficiência. Nas
turbinas a gás de ciclo aberto (turbinas de combustão), a energia liberada pelo combustível é
diretamente transferida ao fluido de trabalho, uma característica das máquinas de motrizes de
combustão interna (TOLMASQUIM, 2004).
Mesmo sendo considerável o desenvolvimento tecnológico alcançado pelos sistemas
baseados em gaseificação e turbinas a vapor, o verdadeiro ganho de produtividade e eficiência
é obtido quando estes sistemas são integrados a processos produtivos em sistemas de
cogeração denominados de ciclos combinados. Ciclos combinados estão entre as tecnologias
empregadas nas termelétricas de maior rendimento térmico. E quando são associados ao uso
de biomassa combustível, são conhecidos pela sigla BIG-CC (Biomass Integrated
Gasefication to Combined Cycles). Este tipo de instalação apesar de não ser considerada em
estágio comercial conforme pode ser visto na Figura 4.2, é o tipo de instalação a que se
credita maior potencial para uso em médio e longo prazo. Sendo que para instalações com
capacidade de geração de 30 a 50 MW podem ser alcançadas eficiências de 45% para a
geração de eletricidade no médio-longo prazo (CORTEZ et al, 2008).
Sistemas BIG-CC utilizam a combinação de turbinas a gás e a vapor (ciclo
combinado), integrada a um gaseificador de biomassa. Assim, a energia térmica contida nos
gases exauridos da turbina a gás, é aproveitada em uma caldeira de recuperação para geração
de vapor usado como fluido de trabalho em uma turbina a vapor. Acréscimos de potência da
ordem de, 50% da potência da turbina a gás são alcançados em ciclos combinados e a
eficiência global alcança patamares de 50 a 60% em ciclos combinados comerciais. A Figura
4.9 ilustra o arranjo de um sistema BIG-CC (TOLMASQUIN, 2004).
83
Figura 4.9 Ciclo BIG-CC em cogeração topping.
Fonte: TOLMASQUIM, Mauricio Tiomno (Coord.). Alternativas energéticas sustentáveis no Brasil. Rio de
Janeiro: Relume Dumará: CENERGIA, 2004.
84
pirólise, são rotas tecnológicas com boas condições comerciais para instalações de pequeno
porte. Para o caso da gaseificação, as potências alcançadas na geração elétrica são, em sua
maioria, da ordem de 150 kW, com grande potencial para uso desse sistema em áreas isoladas
com grande disponibilidade de biomassa. Já no caso da geração de eletricidade, com o uso de
MCI alimentado por combustíveis líquidos obtidos da pirólise de biomassa, estudos de
viabilidade indicam um nicho de mercado para aproveitamentos com capacidade de geração
de 5 a 25 MW. Com a vantagem comparativa de ser possível desvincular a produção de
biomassa da produção de eletricidade, devido à facilidade de transporte do combustível
líquido obtido no processo de pirólise (CORTEZ et al., 2008).
Outra rota tecnológica aplicada à biomassa para obtenção de eletricidade é o uso de
células de combustível associadas ao processo de gaseificação da biomassa. O funcionamento
das células combustível é baseado nos princípios de conversão eletroquímica de energia.
Nestes sistemas um anodo alimentado por um combustível, tipicamente hidrogênio (H2),
transfere íons positivos a um cátodo alimentado por um oxidante, tipicamenteo oxigênio (O2),
que por sua vez transfere íons negativos ao anodo através de um eletrólito, conforme ilustrado
na Figura 4.10. Diferentemente de uma bateria, não há reserva de energia em uma célula de
combustível, devendo haver um fluxo constante de combustível e oxidante no anodo e cátodo,
respectivamente (CORTEZ et al., 2008).
Figura 4.10 Representação esquemática de uma célula combustível. Fonte: FOGAÇA, Jennifer Rocha
Vargas. "Célula a combustível"; Brasil Escola.
85
Além do hidrogênio e oxigênio, outros compostos podem ser utilizados como
combustível e oxidante, na composição de células de combustível. Por exemplo, o metano
(CH4) pode ser usado como combustível em condições de temperatura adequadas e com a
escolha certa de compostos para comporem o ânodo. Este tipo de característica é o que
possibilita a integração de processos de gaseificação da biomassa à tecnologia de produção de
energia elétrica por intermédio das células de combustível. Em síntese, sistemas híbridos, que
integram células de combustível de alta temperatura com ciclos combinados de turbinas a gás,
parecem ser as melhores alternativas para geração de eletricidade no longo prazo. Há
limitantes a essa tecnologia na atualidade, devido aos altos custos de viabilização e riscos
inerentes ao processo (CORTEZ et al., 2008).
Por fim, há uma via tecnológica para geração de energia elétrica a partir da biomassa,
que merece ser citada: a utilização de motores de combustão externa, do tipo stirling13,
aproveitando a combustão direta da biomassa. Isso quando a geração termelétrica é
considerada para localidades isoladas e com disponibilidade de biomassa para este fim.
Motores Stirling têm seu princípio de funcionamento baseado em um ciclo fechado,
em que o gás de trabalho é mantido dentro de um cilindro e o calor é adicionado e removido
do espaço de trabalho por intermédio de grandes trocadores de calor (fato que os impede de
ser utilizados em automóveis). Protótipos recentes alcançaram níveis de eficiência de 30 a
45%, bem maiores que os níveis de eficiência de motores de combustão interna
convencionais.
O fato destes motores serem de combustão externa, possibilita a queima da biomassa
em estado sólido. Em projetos desenvolvidos na Europa e também nos Estados Unidos, foram
construídas unidades geradoras de pequeno porte com capacidade de geração de energia
elétrica de 30 a 150 kW.
13
Robert Stirling, reverendo escocês, patenteou em 1816 o ciclo de Stirling com um motor de combustão externa, que foi o
fim de muitas tentativas de simplificar o motor a vapor.
86
4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foram apresentadas neste capítulo, as principais rotas tecnológicas para a obtenção de energia
elétrica a partir da biomassa e um breve estudo do estado da arte para cada uma delas.
A apresentação teve foco nas tecnologias comercialmente aplicáveis na atualidade e
em rotas tecnológicas que apesar de estarem em fase de pesquisa e desenvolvimento
apresentam boas perspectivas para o futuro. Embora não exista um processo perfeito para a
obtenção de energia através da biomassa sem que haja poluentes, ainda é vantajoso quando se
compara com combustíveis fosseis. Na queima da biomassa, CO2 e outros gases são jogados
na atmosfera, porém em quantidades menores que na queima de gás natural ou outros
derivados do petróleo.
Cada biomassa gera uma quantidade de energia e uma quantidade de resíduo que
pode ser aproveitada ou descartada. Do arroz, aproveita-se o resíduo que é a casca, e a energia
produzida através dela gera como poluente CO2 e outros gases. Do milho é possível produzir
etanol. Além disso, pode se aproveitar os resíduos do milho como: A casca, a palha e o colmo,
que muitas vezes são despejados na lavoura e manejados de maneira errada. Também produz
CO2 e outros gases na produção de energia.
A cana-de-açúcar é parecida com o milho. Dela pode se produzir etanol e os resíduos
podem ser aproveitados na produção de energia, ao invés de serem queimados de maneira
inadequada.
É possível perceber que todos os processos de geração de energia através da
biomassa liberam CO2 e outros gases, logo alguns não são 100% limpos, porém os danos
ambientais são muito menores quando se comparam com a energia produzida através de
combustíveis fósseis.
O ideal seria que não houvesse nenhum poluente, porém esse nível ainda não foi
alcançado. Mas, existem medidas que podem atenuar isso, como colocando filtros nas saídas
dos gases antes de serem jogados na atmosfera.
Contudo, no caso do Brasil, as perspectivas para o aprimoramento tecnológico da
geração termelétrica a partir da biomassa são muito boas. Atualmente, no país existem em
funcionamento 483 termelétricas movidas a biomassa e muitas delas operando em regimes de
cogeração. E ainda há previsão de implantação de 19 novas plantas movidas a biomassa em
construção e de 32 em outorga (ANEEL, 2015).
87
O aumento no número de usinas com o uso de biomassa como fonte de energia
mostra que esse setor está crescendo e amadurecendo de uma forma segura, embora lenta.
Assim, cada vez mais o uso da biomassa como fonte de energia para eletricidade torna-se
competitiva comercialmente e por fim acaba recebendo novos investimentos.
88
5 ANÁLISE GERAL E RESULTADOS
89
Tabela 5.1 - Oferta mássica de biomassa por resíduo agrícola, agroindustrial e silvicultural
Brasil (106t/ano)
90
Tabela 5.2 Quantidade de energia produzida através de resíduos em TWh
.
Gráfico 5.1 Percentual da energia teórica útil gerada a partir da biomassa em relação a energia produzida no
Brasil em 2014 em TWh. Elaboração própria. Dados EPE, 2014.
Se fosse adicionar a esse valor, a energia proveniente do etanol, carvão vegetal etc, o
valor acima aumentaria significativamente podendo chegar de 35% a 50% de toda energia
produzida no Brasil em 2014, ou seja, uma aumento de no mínimo de 59 TWh aos 154,83
mencionados acima. Também esses valores são baseados na produção atual de biomassa, que
tende a ter um aumento anual, ou seja, o potencial de hoje provavelmente será
consideravelmente menor que o de 2030, como a Tabela 5.1 mostra, já que os resíduos
produzidos neste ano serão maiores. O Gráfico 5.2 mostra o potencial de cada biomassa no
Brasil de acordo com a quantidade de rejeitos produzido.
92
Gráfico 5.2: Potencial de geração de cada Biomassa em valores bruto em 2015 utilizando as
considerações sobre conversão da biomassa em energia mencionada no texto acima. Dados MME,
2014.
93
No Brasil, a imensa superfície do território nacional, quase toda localizada em
regiões tropicais e chuvosas, oferece excelentes condições para a produção e o uso energético
da biomassa em larga escala. Biomassas, como cana-de-açúcar, soja, além da produção de
álcool, queima em fornos, caldeiras e outros usos não-comerciais, apresentam grande
potencial no setor de geração de energia elétrica.
O Gráfico 5.3 e 5.4 mostra a quantidade de terras cultiváveis no mundo e no Brasil.
A área mundial de terras cultiváveis é de aproximadamente 13,4 bilhões de hectares, sendo
aproximadamente 5 bilhões de hectares usados na agricultura. Do total de área disponível
32,7% são florestas naturais ou plantadas (FAO, 2000). O Brasil apresenta uma grande
vantagem em relação a outros países, pois utiliza 384 milhões de hectares (34% da sua área
total de 835,56 milhões de hectares) e ainda mantém 49% (409,42 milhões de hectares) sob
vegetação de floresta ou como áreas protegidas. O país possui uma área de 103,32 milhões de
hectares que pode ser parcialmente incorporada ao processo produtivo.
94
Gráfico 5.4. Área cultiváveis no Brasil em milhões de hectares. Elaboração própria. Dados:
FAO, 2000
95
5.2 ASPECTOS SOCIOAMBIENTAIS
A biomassa é influenciada por muitos fatores como clima, relevo, solo entre outros.
A preocupação que surge a respeito da biomassa é que grande parte delas está intimamente
ligado a quantidade de alimentos produzida, ou seja, aumentando a produção agrícola é
possível aumentar a quantidade de biomassa disponível. O problema é que isso significará um
aumento da área cultivada, o que pode significar menos espaço para outras culturas, ou ainda,
a quantidade de grãos que era vendida como alimentos podem diminuir, já que uma maior
parte será direcionada para a produção de energia. Tais situações poderiam gerar um
desabastecimento de alimentos no mercado ou fazer com que o valor dos grãos tenha um
aumento significativo dos preços impossibilitando uma parcela da população de consumi-los
ou até mesmo gerar a fome. Quando se analisa só o aspecto ambiental, o problema encontrado
é que para aumentar a produção da matéria prima devem ser tomadas decisões que podem ser
prejudiciais ao meio ambiente. Por exemplo: um aumento na área produtiva, que muitas vezes
é alcançada através do desmatamento de florestas nativas ou através do aumento da eficiência
da lavoura, que pode ser obtida com o uso de fertilizantes e inseticidas, o que poderia causar
contaminação do solo, de rios ou lençóis freáticos ou até mesmo doenças para a flora e fauna
no entorno da área cultivada.
Os mesmos problemas citados acimas podem ser aplicados à biomassa florestal. Se
essa biomassa fosse explorada em larga escala comercialmente, poderia incentivar um maior
desmatamento de florestas nativas ou a substituição de produção de alimentos por florestas.
Os aspectos mencionados nos parágrafo anteriores referem-se às desvantagens. As
vantagens é que a biomassa permitiria produzir energia poluindo menos do que com outros
combustíveis fósseis, como: petróleo e carvão mineral. É o caso do etanol que lança menos
CO2 no ar que a gasolina. As termelétricas poluem menos utilizando a biomassa como fonte
de energia do que quando se utiliza algum combustível fóssil. Também vale mencionar que
existe a opção de produzir energia através de rejeitos urbanos, evitando que toneladas de lixo
sejam jogadas diretamente no solo ou em rios evitando assim a contaminação destes e a
proliferação de doenças. Porém, não só os rejeitos humanos deixariam de ir para locais
inadequados, os rejeitos agrícolas também passariam a ser utilizados para produzir energia.
Rejeitos como palha de arroz, milho e cana, que muitas vezes são deixados na lavoura de
maneira inadequada, ou são queimados, causando poluição, seriam transformados em energia.
96
Iniciativas, como “Projeto Renovação” feito pela ÚNICA (UNIÃO DA INDÚSTRIA
DE CANA DE AÇÚCAR) em parceria com o estado de São Paulo é um exemplo do que foi
mencionado acima. Esse projeto qualifica as pessoas do campo para que elas possam trabalhar
nas empresas sucroalcooleiras, dando treinamento em atividades mecanizadas do setor e
possibilitando que elas tenham uma renda maior e mais direitos trabalhistas. Esse projeto teve
uma duração de 4 anos e nesse período capacitou mais de 5700 trabalhadores em 30 diferentes
cursos. O projeto apresenta um elevado índice de recolocação dos profissionais formados. No
setor, esta recolocação alcança 78% dos trabalhadores. Esse indicador demonstra a efetividade
de seu modelo inovador. A inclusão de mulheres nos cursos é valorizada e o índice de
participação feminina foi de 1,2% no primeiro ano para 12% no último ano.
O uso da biomassa como energético tem se mostrado um grande gerador de
empregos nos países onde já foram implementadas políticas federais, regionais ou estaduais
para o setor. Talvez, o exemplo mais consistente desses bons resultados, seja o obtido pelo
“Programa Regional de Energia da Região dos Grandes Lagos”, nos Estados Unidos. Esse
programa tem o suporte administrativo e econômico fornecido pelo Conselho de
Governadores da Região dos Grandes Lagos e pelo Departamento de Energia do Governo
Americano. Estes órgãos são similares, respectivamente, à reunião dos Governadores da
Região Sul (RS, SC e PR) e ao Ministério de Minas e Energia.
O programa da Região dos Grandes Lagos teve início em 1985 e utiliza,
basicamente quatro tipos de recursos de biomassa: a madeira (em maior quantidade o resíduo
do processamento da mesma), o milho, o lixo urbano e o resíduo industrial. Esses materiais
são utilizados na produção de calor, energia elétrica, gás e álcool combustível. No ano de
início desse programa, cerca de 32000 empregos diretos e indiretos foram gerados pelo uso da
biomassa, dez anos depois 1995, já eram gerados cerca de 70000 empregos, com a
possibilidade de serem atingidos cerca de 95000 empregos na primeira fase do trabalho. Nos
próximos dez anos, o Conselho dos Grandes Lagos pretende incrementar o número de
empregos diretos e indiretos em uma faixa situada entre 175000 e 240000 novos empregos.
Esse incremento deverá ocorrer principalmente nos setores ligados à construção de novas
plantas e equipamentos para geração de energia baseadas em biomassa. Devemos notar que
esses números dizem respeito aos empregos gerados somente nos sete (7) estados que compõe
o Conselho, o que determina uma geração de cerca de mais de 30000 empregos em cada um
dos estados membros (Barum, 99). Para se ter uma noção do numero de empregos criados
97
pode comparar com uma termelétrica tradicional que usa combustível fóssil como a Endesa
Fortaleza, que tem 346,63 MW de potencia instalada, emprega 171 pessoas, sendo 90 de
empresas parceiras, 72 de colaboradores próprios e 9 estagiários. Isso se refere apenas a uma
termelétrica e o valor de empregos indiretos gerados também não ultrapassa em muitos o
números de empregos fixos, porém esses números podem ser ainda menores em outras
instalações termelétricas. Mesmo se extrapolarmos o número de termelétricas instaladas em
um estado, o valor de empregos gerados será menor quando se compara com a cadeia
produtiva da biomassa para a produção de energia.
No que diz respeito ao uso de biomassa para geração de energia, são considerados
empregos indiretos todos aqueles que não dizem respeito especificamente à geração da
energia. Desse modo todas as atividades relacionadas com o plantio, corte, beneficiamento,
comércio e fabricação de máquinas para essa atividade, são considerados empregos indiretos.
Se observarmos a Tabela 5.3 veremos que cerca de 1/3 dos 95000 empregos gerados, 36160,
são indiretos e destes 36160, 14080 são atividades realizadas no meio rural (agricultura, corte
e beneficiamento, serviços florestais e de agricultura e metais primários), 3810 são empregos
com atividades intermediárias entre o meio rural e meio urbano (transporte e manutenção),
4300 são ligados ao comércio de equipamentos, que podem ser localizados nas pequenas
cidades situadas próximas a zona rural. Estas cidades geralmente são pouco industrializadas e
a sua estrutura econômica está centralizada no comércio. Finalmente, os 9470 empregos
restantes são gerados em atividades típicas de cidades industrializadas. Como pode ser visto,
este é um setor que tem imenso potencial como gerador de empregos e principalmente como
fixador do homem no campo. A região sul do Brasil, de tradição ligada à atividade rural, tem
nesse setor da utilização de biomassa na geração de energia, uma ótima opção de
desenvolvimento e crescimento sócio-econômico.
98
Tabela 5.3 Número de Empregos Indiretos, por Setor
Média Anual de Empregos Indiretos, por Setor entre 1985-1995
Agricultura 7100
Química 690
Transporte 3340
Comércio 4300
Essa é uma região de atividade agrícola, com diversas áreas reflorestadas que
utilizam espécies exóticas à flora brasileira, tais como, o eucalipto, o pinus e a acácia negra.
Próximo a região de Piratiní, por exemplo, encontra-se a maior área plantada de pinus do
estado do Rio Grande do Sul. Essa área foi plantada para estimular a indústria moveleira da
região, entretanto, essa região encontra-se em um ponto denominado “ponta de rede”. Essa
localização faz com que o fornecimento de energia elétrica para essa cidade seja deficiente,
99
principalmente no que diz respeito à flutuação da energia. Com amparo na legislação
brasileira, os resíduos produzidos pela indústria moveleira poderiam ser utilizados como
combustível para fazer funcionar uma pequena central termoelétrica que poderia atenuar ou
solucionar o problema de flutuação do fornecimento de energia. Essa usina poderia pertencer
à prefeitura, a uma cooperativa ou até mesmo a um único proprietário que estivesse disposto a
gerar e comercializar energia elétrica. Se houvesse uma opção pela redução da produção da
indústria moveleira em detrimento à utilização de uma quantidade maior de madeira em
outros processos igualmente rentáveis e com capacidade de geração de um maior número de
empregos. Uma das opções seria o uso da madeira para a produção de álcool combustível
(etanol e metanol), ou então o processamento da madeira (pirólise ou gaseificação) com a
obtenção de carvão vegetal para uso na geração de energia elétrica. Os gases desses
processos, quando condensados, geram subprodutos de grande interesse econômico, tais como
alcatrão vegetal (livre de enxofre), ácido acético, vernizes, base para fabricação de tintas ou
fármacos.
Além da madeira, obtida de espécies exóticas, ainda poderá ser utilizado outro
componente da biomassa e que é encontrado em abundância Região Sul do Brasil. Trata-se da
casca de arroz. A casca de arroz, encontrada em abundância em Pelotas, é um resíduo que por
muito tempo foi tido como um problema sem solução, já que ela seria levada para aterros
onde ocuparia espaço e geraria gás metano (CH4), um dos gases do efeito estufa, muito mais
prejudicial do que o dióxido de carbono (CO2), visto que não era possível suspender o
beneficiamento desse grão. Não só o despejo inadequado da casca, mas também a queima
dela geram cinzas que se não manuseadas corretamente e podem prejudicar rios e outras
vegetações. Nos últimos anos, parte desse resíduo tem sido utilizada na geração de vapor para
o processo de beneficiamento do arroz. Entretanto as potencialidades desse resíduo são
inúmeras. A casca de arroz tem uma composição de cerca de 30% de matéria orgânica e 70%
de matéria inorgânica. Dependendo das características do solo onde esse grão é plantado essa
composição inorgânica do grão pode apresentar um considerável teor de alumínio, cobre ou
outros metais. Os japoneses já extraem alumínio da casca de arroz. Outros produtos que
podem ser retirados dessa casca são a sílica amorfa, com alto grau de pureza, com grande
aplicação na indústria eletrônica, tanto na confecção de células solares como na fabricação de
mostradores de cristal líquido. Além da sílica, a cinza pode ser utilizada na construção civil,
como demonstram os trabalhos que foram desenvolvidos na Engenharia Civil da Universidade
100
Católica de Pelotas. Parece óbvio que a exploração desses recursos possibilitaria o surgimento
de novas frentes de trabalho que poderiam atender diversas camadas da sociedade, que
atualmente enfrentam o problema de desemprego.
Analisa-se agora a outra face da moeda. O uso da biomassa como energético está
intimamente associado ao conceito de desenvolvimento sustentado. Falar nessa forma de
desenvolvimento significa, dentre outras coisas, não consumir mais do que a capacidade de
produção. Temos, aqui mesmo no Brasil, um exemplo do tipo de problema associado ao uso
da biomassa. Quando foi lançado o PRÓ-ÁLCOOL, acompanhado de uma série de benefícios
e estímulos dados pelo governo, uma série de áreas, onde eram cultivados grãos e
hortifrutigranjeiros, tiveram essas culturas substituídas pela monocultura da cana-de-açúcar.
As espécies de cana-de-açúcar sugeridas para a utilização, por serem exóticas, não estão
sujeitas a legislação do IBAMA referente ao corte. Mas por serem exóticas, não possuem
inimigos naturais e, desse modo, a falta de controle das áreas plantadas poderá promover uma
ampliação destas gerando um processo de “monoculturização”, em substituição ás áreas
agrícolas ou de pecuária. Talvez esse seja o maior problema a ser enfrentado. A falta de
controle do governo no tamanho das áreas plantadas, associado ao retorno financeiro desse
tipo de investimento pode tornar-se um problema de proporções maiores do que o problema
que essa tecnologia tenta solucionar.
Além disso, ainda tem os mesmos problemas já mencionados anteriormente no
trabalho como formação de desertos pelo corte não planejado ou incontrolado de arvores;
destruição do solo pela erosão; a poluição da própria queima da biomassa, como a emissão de
gases tóxicos e desprendimento de consideráveis quantidades de calor. Pois vale ressaltar que
a biomassa polui menos que as fontes de energia oriundas de matéria-prima fóssil logo não
são 100% livre de poluição.
102
Também existem os riscos ocupacionais que estão ligados aos possíveis acidentes de
corte da madeira, transporte e processamento. A rotina do carvoeiro o obriga a enfrentar o
calor 70 graus na boca dos fornos no frio noturno, do cerrado e por um período de 12 horas. O
metanol é bastante tóxico e deve ser manipulado com critério. No Brasil as termoelétricas de
Samuel (RO) e Balbina (AM) são dois exemplos de aproveitamento de lenha com a
tecnologia adequada para produção de energia elétrica.
Por fim existem resíduos (agrícolas, pecuários e urbanos). Os resíduos orgânicos
devem ser transformações por intermédio da digestão anaeróbica (processo de degradação da
matéria orgânica por determinado grupo de microorganismos), para resultar em gás
combustível com teores de metano em torno de 60 a 70 %, e dióxido de carbono, de 20 a
30%, além de outros gases. A borra do digestor pode ser utilizada como fertilizante. O biogás
possibilita diversas aplicações: cocção de alimentos, geração de energia em lampiões,
geladeiras, chocadeiras, fornos industriais e também geração de energia elétrica. A China e a
Índia, já utilizam biodigestores para produção de gás desde o inicio do século, com matéria
prima de dejetos de origem humana, animal e vegetal. No Sul do Brasil estima-se que existam
10 mil biodigestores rurais em funcionamento. Riscos ambientais e ocupacionais da
decomposição da biomassa e sua digestão estão ligados á possibilidade de explosões,
contaminação do ar doméstico por vazamento (gás sulfídrico, resultante da digestão da
matéria orgânica), contaminação da água, pelo descarte residual. Na Cidade de São Paulo são
produzidas 8000 toneladas de lixo por dia. Esse lixo vem sofrendo incineração, compostagem
e, finalmente, desova em aterros sanitários. Entretanto a otimização desse processo é essencial
para o futuro, produção de energia e reciclagem do lixo humano, que se avoluma nas grandes
cidades.
103
6 CONCLUSÕES
104
O aproveitamento do licor negro em processos de cogeração dentro de usinas de
papel e celulose permite a reciclagem da quase totalidade do licor, promovendo uma
destinação ambientalmente correta e econômica de energia em processos internos.
Atualmente a tecnologia de combustão direta do bagaço de cana-de-açúcar é a rota
mais consolidada em termos de utilização de biomassa para geração de energia elétrica e tem
uma capacidade instalada de 9901 MW (Tabela 2.2, pág.21) que serve tanto para atender o
consumo interno de indústrias específicas quanto para a comercialização do montante
produzido. Tal configuração deve servir de exemplo para outras biomassas existentes em
abundância, mas que ainda apresentam um baixo aproveitamento de seus respectivos
resíduos. Entretanto, outras culturas apresentam resíduos com poderes caloríficos e volumes
de geração mais atrativos, sendo necessária a viabilização da captação e fornecimento
contínuo próximo a plantas de geração. Em alguns casos, são necessárias pequenas
adaptações nos processos de colheita, o que possibilitaria a reunião dos resíduos decorrentes
dos processos de colheita.
O capim-elefante é uma nova alternativa para a produção de biomassa. Ele produz
mais que o dobro de biomassa que a cana-de-açúcar por hectare plantado e pode ser colhido
no mínimo duas vezes ano O Brasil apresenta uma dimensão territorial favorável a este tipo
de aproveitamento, o que pode permitir uma diversificação na matriz de geração elétrica.
Outras fontes que merecem estudos são os rejeitos urbanos e industriais, sólidos e líquidos.
Consultando a Tabela 3.9 (pág. 64) é possível perceber que essa fonte apresenta um potencial
significativo e que a energia gerada através do rejeito foi de 0,76% da energia consumida em
2008. Esse valor pode parecer pouco mas considera apenas uma parcela do lixo produzido no
Brasil, ou seja, esse valor na realidade pode ser maior que o constatado na Tabela 3.9.
Assim, o uso da biomassa como fonte de energia, no curto prazo, encontrará
melhores condições de ser desenvolvido em nichos específicos, que apresentam características
como: fornecimento contínuo de biomassa, busca por destinação mais adequada para rejeitos
produzidos pelas empresas, etc. A análise econômica de custos de insumos, custos de
produção, custos da biomassa, custos de transporte, análise dos custos de implementações das
plantas geradoras termelétricas, retorno dos investimentos, entre vários outros, precisam ser
feitos de maneira detalhada, para cada caso de aproveitamento, sendo necessária uma análise
criteriosa para se conhecer a rentabilidade dos investimentos.
105
No médio e no longo prazo, as melhores perspectivas são para uso da rota
tecnológica que emprega a gaseificação da biomassa aliada ao uso de turbinas a gás,
principalmente em processos baseados na cogeração em ciclos combinados, devido aos altos
índices de rendimento e eficiência energética alcançados no ciclo global. Porém, esta
perspectiva somente é procedente se forem verificadas as devidas ações institucionais de
incentivo ao uso desta tecnologia e também se sua utilização for disseminada a tal ponto que
fatores como economia de escala e aprendizado no uso da técnica favoreçam a viabilização
econômica dos empreendimentos baseados nessa via tecnológica. Aqui deve ser dado
novamente um destaque ao Brasil onde, principalmente no setor sucroalcooleiro, florescem
empreendimentos para geração de eletricidade por intermédio da biomassa, e o setor tem
fortes incentivos governamentais. A expressiva oferta de biomassa como recurso energético
no Brasil está essencialmente vinculada a sistemas integrados de produção agrícola,
agroindustrial e silvicultural. Essa oferta de biomassa pode ser confirmada consultando a
Tabela 5.1 (pág. 90). Entenda que ela refere-se apenas a rejeitos e ainda assim o potencial é
enorme. A realidade é que muita parte desses rejeitos não são utilizados e são muitas vezes
descartados de maneira inadequada, nesse sentido pode-se dizer que o Brasil está literalmente
jogando energia no lixo.
O Brasil é um país que já apresenta uma produção de biomassa com enorme
potencial de aproveitamento energético. As condições naturais e geográficas favoráveis,
aliadas à grande quantidade de terra agricultável com características adequadas de solo e
condições climáticas, fazem do Brasil um dos países que reúne o maior quantitativo de
vantagens comparativas para liderar a agricultura de energia. As grandes agroindústrias
necessitam de eletricidade e vapor para seus processos e se sistemas de cogeração fossem
implementados utilizando os resíduos gerados na própria agroindústria, uma parcela da
demanda por eletricidade poderia ser suprida.
Entretanto, alguns fatores devem ser observados na utilização da biomassa como
combustível. Os resíduos agrícolas, compreendidos pelo material resultante das colheitas, são
descartados diretamente nas lavouras. A retirada destes resíduos das lavouras deve ser feito de
modo racional, pois quando permanecem na zona de plantio exercem importante papel
agrícola, contribuindo para proteção do solo, retendo umidade, evitando a erosão e
restaurando os nutrientes que foram extraídos pelas plantas. O uso energético dos resíduos
poderá competir, no futuro, com outros usos, como adubação orgânica, controle de erosão,
106
alimentação de animais etc. Também será necessário consolidar o conceito de resíduo sob a
ótica da sustentabilidade da exploração, ou seja, não retirar do local de produção da biomassa
excesso de matéria orgânica, que venha a depauperar o solo e prejudicar futuras explorações.
São inegáveis os benefícios ambientais da exploração da biomassa como insumo
energético, porém, atrelado a este fato, deve ser verificado um modelo competitivo deste
aproveitamento junto ao setor elétrico. Outra grande vantagem do uso da biomassa para este
fim é que torna o setor elétrico mais robusto em termos das mudanças internacionais do
setor de petróleo e das variações cambiais, políticos e climáticos.
Em síntese, a produção de eletricidade a partir da biomassa precisa ser sustentável
do ponto de vista ambiental, social e econômico. Sendo essencial que os benefícios
ambientais fiquem garantidos em todas as etapas de produção da biomassa/eletricidade, pois a
questão ambiental e o potencial energético são as principais justificativas para o uso desta
tecnologia. É preciso apenas olhar o total de energia que poderia ser produzido para confirmar
essas vantagens. Com os valores já mostrados aqui anteriormente, viu-se que com apenas os
rejeitos da biomassa poderíamos alcançar 26% da energia total produzida em 2014 e 42% da
energia produzida através de hidrelétricas no mesmo ano, além de ser superior a energia
produzida através de termelétricas movidas a gás natural em 2014. Além deste fato existem
diversas tecnologias promissoras que devem ser desenvolvidas a ponto de se tornarem
competitivas comercialmente com as já existentes.
Novos estudos específicos sobre cada biomassa ou as principais rotas tecnológicas
para a produção de energia são sugestões temas de novos trabalhos sobre a biomassa.
Por fim este trabalho enriqueceu meu conhecimento e me mostrou que existem boas
alternativas para a produção de energia no mundo. Além disso, tornou minha graduação em
engenheiro eletricista mais rica e me permitiu ver que sempre existe soluções para os
problemas que poderão surgir no futuro.
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