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O processo de descolonização da Etiópia

Osvaldo Orlando Lino1

História de África, de 1935-1941


Trabalho de pesquisa

Universidade Licungo, Quelimane, 2020.

Introdução

A expansão italiana no Nordeste da Africa fora bloqueada, em 1896,


pela vitoria decisiva do imperador Menelik, em Adowa. No interlúdio
entre as duas grandes guerras os objetivos italianos são reativados pelo
fascismo. O tratado de amizade não mascara, senão aparentemente, os
seus objetivos coloniais para a Etiópia, adiados ate o momento da
derrota da Sanusiyya, na Líbia, pelas tropas italianas. Uma querela de
fronteiras em Ogaden, entre a Somália e a Etiópia, serve como pretexto
ao fascismo. Escaramuças acontecem em Wal Wal. A Comissão de
Arbitragem designada pela SDN fracassa em sua missão. A Grã-Bretanha
e a Franca apoiam a Etiópia, embora não se mostrem dispostas a
impedir a agressão italiana. As tropas de Mussolini avançam em estradas
já preparadas, a partir de África desde 1935 Adowa, ao norte, e de
Mogadíscio, no Sudeste.

Palavra-Chaves: Etiópia; descolonização da Etiópia; Itália; Hailé selassié

1
Estudante da Universidade Licungo, extensão de Quelimane, Moçambique. Licenciando em ensino de história
com habilitação em Documentação. 2020.
Osvaldo Orlando Lino

O processo de descolonização da Etiópia

A conquista italiana da Etiópia, em 1935, faz desaparecer o último Estado africano


independente. Ela tem profundos efeitos junto aos nacionalistas africanos e na comunidade
negra americana.

O processo de descolonização da Etiópia, deu-se no interlúdio das duas grandes guerras, entre
1935-1941. "Quando a Itália declarou guerra a Etiópia, a elite africana e o conjunto das elites
negras de todo o mundo mobilizaram-se, qualificando essa afronta de conflito racial.
Numerosas associações surgiram então, como os Amigos internacionais da Abissínia de
Origem Africana, a Liga de Defesa da Raça negra, o Comité de Defesa da Independência
Nacional da Etiópia." (M’BOCOLO, 2003, p. 552).

Em Paris, os africanos organizaram uma vasta campanha de protesto e boicotaram tudo o que
provinha da Itália. Um pouco por todo lado, os negros mobilizaram-se e tentaram fazer pressão
sobre os impérios coloniais e sobre a Sociedade das Nações. A acção teve resultados que se
sabe e a crise etíope foi certamente um dos golpes mais graves infligidos as esperanças africanas:
da maior cidade do continente até a menor aldeia, todos estavam ao corrente do caso etíope e
comentavam o acontecimento, tomando crescentemente consciência da omnipotência dos
brancos, da impunidade que lhes estava garantida, dos direitos que se arrogavam, do tratamento
desigual reservado aos negros e aos brancos a escala internacional e da extrema fragilidade dos
africanos perante as agressões. (CHENNTOUF, 2010, p. 52).

Os italianos procuraram defender a todo custo a sua colónia, principal bastião de um império
quase imaginário. Nesse processo, receberam a ajuda preciosa de numerosos etíopes, hostis ao
negus e ao seu regresso, como, por exemplo, o ras Hailu e o intelectual Afa-Warq, bem como
de rebeldes e de bandidos que, aproveitando-se dos combates, se entregaram com toda a
impunidade a frutuosas razias, gerando assim uma desordem considerável que retardou o
avanço dos aliados que apoiavam a Etiópia. (M’BOCOLO, 2003, p. 556).

A campanha etíope assemelhou-se mais a uma corrida de perseguição do que a uma verdadeira
guerra: os italianos tinham adoptado o objectivo de se manter no país, mesmo sem poder real,
a fim de conservarem as suas colónias nas negociações globais para a paz.

No entanto, a resistência etíope não se havia deixado abafar; em Adis-Abeba, por exemplo, ela
organizou um ataque a granadas, contra o vice‑rei nomeado pelo governo italiano, além de ter
executado um atentado com gases tóxicos, contra o abuna Abraham, por ocasião da tentativa
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O processo de descolonização da Etiópia

do empossamento deste ultimo a frente da Igreja etíope, acção que lhe custaria a visão,
(MAZRUI, 2010, p. 1097).

A resistência etíope reduziu a impotência 56 batalhões italianos. No dia 20 de janeiro de 1941,


o imperador Hailé selassié, refugiado no Sudão, atravessou a pé a fronteira etíope, fazendo com
que se exilasse na capital Britânica, como afirma M’BOCOLO, 2003:

A entrada na guerra da Itália de Mussolini em Junho de 1940 deu origem a um novo


ponto de tensão (…) os italianos estavam presentes no continente africano desde a
recente conquista da Etiópia. Ora, o negus Hailé selassié e o seu governo no exílio em
Londres esperavam aproveitar o conflito para reconquistar o país. (p. 559)

Em 7 de março de 1941, as tropas metropolitanas e coloniais britânicas penetraram


maciçamente na Etiópia, com o aval do imperador.

Os rebeldes etíopes combateram sozinhos até 1940, quando se uniram a um pequeno


contingente de tropas britânicas, antes mesmo que a Grã-Bretanha, em março de 1941, tivesse
invadido a Etiópia, contando com a anuência do imperador Hailé selassié. Os britânicos,
apoiados por soldados africanos, tomaram Adis‑Abeba, em abril de 1941.

A nível externo, o The Voice of Ethiopia, “jornal da vasta comunidade universal dos negros e
amigos da Etiópia, espalhados mundo afora”, desempenhou um papel primordial no processo
de redefinição da africanidade:

“Nos não somos mais negros da Antilhas ou americanos, mas, verdadeiros etíopes”.
“Negros da América, a Etiópia vos pertence”. (…) “Pretos, uni‑vos”, “Nem mesmo um
preto derramara o seu sangue pela Europa enquanto a Etiópia não for libertada”, estes
slogans popularizaram‑se junto ao publico graças ao The Voice of Ethiopia, (HARRIS
& ZEGHIDOUR, 2010, p. 857).

Contudo, foi em finais de 1941, que tiveram de assinar a rendição, dando Victoria a Etiópia.
Ao final do mês de janeiro de 1942, o imperador dirigia novamente o país.

Impactos da descolonização da Etiópia

O Leão tinha retornado. Após a sua restauração, um dos primeiros actos de Hailé selassié era
garantir a protecção dos prisioneiros e civis italianos, em seus domínios. Em um tratado de
1947, a Itália reconheceu a sua irregularidade na Etiópia e se comprometeu a pagar essa nação
35 milhões de dólares em reparações, uma soma tolhida por 125 milhões de dólares da Itália
Osvaldo Orlando Lino

em reparações a Jugoslávia. O britânico na Etiópia tratada primeiro como uma colónia


conquistou estrangeiro, mas após a Segunda Guerra Mundial reconheceu a independência
total, (M’BOCOLO, 2003, p. 559).

Quando Hailé selassié retomou o seu trono, em 1941, o governo etíope patrocinou a criação
da primeira escola mista do país, fundada por Mignon Ford, antilhano de Barbados emigrado
dos Estados Unidos em 1930. Os médicos, pilotos, professores e outros afro‑americanos
vindos a Etiópia após a agressão italiana retornaram aos Estados Unidos, entretanto, graças a
William Leo Hansberry, muitos afro‑americanos puderam dirigir‑se a Etiópia para trabalharem
como professores ou jornalistas, (HARRIS & ZEGHIDOUR, 2010, p. 857).

A invasão da Etiópia pelos italianos igualmente suscitou, em 1937, a criação do Internacional


Committee on Africa, transformado em 1941 no Council on Africa Affairs. O Conselho
buscava promover a libertação dos africanos e melhorar a sua posição social e económica; com
este objetivo, ele dedicava‑se a difundir informações, facilitar a formação dos africanos na
Europa e na América, organizar intercâmbios, favorecer a cooperação entre os africanos,
(idem).

Referências Bibliográficas

HARRIS, Joseph E. & ZEGHIDOUR, Slimane. “A África e a diáspora negra”. in. MAZRUI
A. Ali. WONDJI, Christophe. História geral da África, VIII: África desde 1935, 6ª ed.
Brasília: Unesco, 2010.

M’BOCOLO, Elikia. África negra historia e civilização. Lisboa: editora vulgata, 2003.

MAZRUI, Ali. A. “O horizonte 2000”. in. MAZRUI A. Ali. WONDJI, Christophe. História
geral da África, VIII: África desde 1935, 6ª ed. Brasília: Unesco, 2010.

CHENNTOUF, Tayeb. “O chifre da Africa e a Africa setentrional”. in. MAZRUI A. Ali.


WONDJI, Christophe. História geral da África, VIII: África desde 1935, 6ª ed. Brasília:
Unesco, 2010.

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