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Bibliografia recomendada
Alexandre Câmara Vol. I e II.
Marinoni – Vol. II (indicado para qualquer concurso). O Vol. I não deve ser lido se não for para Procurador da
República ou Magistratura. Ed. RT.
Marcus Vinícius Gonçalves – Novo curso de Processo Civil. Ed. Saraiva – Vol. I e II.
Fredie Didier Vol. I e II. Professor www.frediedidier.com.br
PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL
Processo e direitos fundamentais:
Estamos vivenciando o neoconstitucionalismo – esse período tem basicamente três características:
1) Consolida-se a teoria dos direitos fundamentais – pilar do direito constitucional contemporâneo;
2) A força normativa da constituição – atualmente não há mais dúvida de que a CF é uma norma
que pode ser realizada concretamente, independentemente do legislador – realiza-se imediatamente. Não é
uma carta de intenções, mas norma com força normativa;
3) Expansão da jurisdição constitucional. Hoje, há o controle concentrado e difuso de
constitucionalidade. Qualquer juiz pode não aplicar uma lei que entenda inconstitucional.
Esse neoconstitucionalismo repercutiu no estudo do processo. O estudo do processo tem que partir dessas
premissas metodológicas.
Essa fase atual da evolução processual passou a ser chamada de neoprocessualismo – é o estudo do
processo a partir dessa nova metodologia do neoconstitucionalismo.
OBS: no Rio Grande do Sul, seguem essa metodologia, só que com o nome de “fase do formalismo-
valorativo” – o processo tem que ser compreendido a partir dos valores da constituição, não é a forma pela
forma (Carlos Alberto Alvaro de Oliveira).
OBS: Qual é, então, a relação entre o processo e os direitos fundamentais? No rol de direitos
fundamentais há diversos direitos fundamentais processuais. Os princípios do processo são também direitos
fundamentais. Ex.: contraditório, ampla defesa, proibição de prova ilícita.
Os direitos fundamentais têm duas dimensões:
1) Dimensão subjetiva: os direitos fundamentais são direitos. Quer dizer, p. ex., que todos têm direito
ao contraditório.
2) Dimensão objetiva: os direitos fundamentais são normas, além de serem direitos. São normas que
orientam a produção de toda legislação infraconstitucional. O legislador não pode criar norma extinguindo o
direito ao contraditório.
Para responder à pergunta, faz-se necessário observar cada uma das dimensões: a) A relação com a
dimensão subjetiva: o processo tem que ser adequado à tutela, à proteção dos direitos fundamentais. É por
isso que se criou o habeas corpus. b) Relação com a dimensão objetiva: o processo tem de ser estruturado
de acordo com as normas de direitos fundamentais. Ex.: o processo não pode impedir o contraditório.
PRINCÍPIOS EM ESPÉCIE
O rol não é exaustivo. Há determinados princípios que serão estudados em outros momentos.
Devido Processo Legal:
É a tradução brasileira da expressão Due Process of Law  Law, aqui, é Direito – é o devido processo em
conformidade com o direito. É expressão que existe há 800 anos – tempo em que foi a jurisprudência que
estabeleceu o que é processo devido para eles. Texto x norma – o texto é o mesmo há 800 anos, mas a
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norma se modificou. A partir daí surgiram outras garantias. Este é o princípio mais importante. É dele que
surgem os demais princípios do processo. É uma cláusula geral (toda norma principiológica cujo conteúdo é
aberto, ou seja, não é definido pelo texto normativo) permite que se extraia desse enunciado um número
indefinido de normas. À medida que se vai percebendo a necessidade (historicamente preenchido) vai se
extraindo normas desse princípio; é um conjunto de garantias típicas e atípicas. Proteção geral. Ele que gera
os demais princípios – princípio mãe – É preenchido historicamente. É conjunto de garantias já
consagradas e, também, uma cláusula que permite extrair outras garantias ainda não consagradas.
Algumas características são:
a) Legal: qualquer fonte normativa. Sentido amplo. Alguns autores usam a expressão: “devido
processo constitucional” para evitar que se pense que é só norma infraconstitucional (legal) – ao invés de
valorizar a lei, valoriza-se a Constituição.
b) Processo: significa método ou meio de criação de normas jurídicas. Toda norma jurídica é
resultado de um processo. O processo é um meio para que o direito se crie. Qualquer modo de criação de
normas jurídicas. Aqui também é processo administrativo; também existe o devido processo legal
legislativo; existe também o devido processo legal privado (relações entre os particulares) – são as
normas produzidas pela autonomia privada. Ex.: regulamentos de clubes, regimentos de condomínio,
contratos etc. – caso: mesmo no âmbito privado a pessoa tem direito de ser ouvida. As sentenças são fruto
de um processo jurisdicional. Todos eles têm que ser devido. Estudaremos apenas o devido processo legal
jurisdicional.
OBS: Eficácia HORIZONTAL dos direitos fundamentais: ocorre nas relações entre os particulares. Ex:
Expulsar uma criança de uma escola. Só pode ocorrer se deixar a menina se manifestar (relação privada 
devido processo legal). Não se pode aplicar sanção sem conceder a defesa à criança. Vejamos o disposto no
art. 57, CC:
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que
assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.

OBS: Eficácia vertical dos direitos fundamentais – ocorre nas relações entre o Estado e o particular.
O STF (Outubro / 2005) examinou a questão da eficácia horizontal dos direitos fundamentais (é um marco
histórico). O STF anulou a exclusão tendo em vista o art. 57, CC. RE 201819 (informativo do STF – direitos
fundamentais e relações privadas).
O Devido Processo Legal divide-se em duas DIMENSÕES:
1) Formal: devido processo legal processual (“Procedural Due Process of Law”) é o conjunto das
garantias processuais que tornem a decisão válida e legítima.
2) Substancial ou material (“Substantive Due Process of Law”): limite ao conteúdo das decisões.
Exigência de proporcionalidade nas decisões (razoáveis). Para o professor o devido processo legal
(Common Law = direito comum – esparso) substantivo é igual ao princípio da proporcionalidade (direito
escrito). Ambos visam resgatar a ética no direito; as decisões jurídicas devem ser justas; há um limite de
conteúdo (direitos fundamentais e princípio da proporcionalidade ou devido processo legal substantivo).
O STF trata ambos (devido processo legal substancial e princípio da proporcionalidade) como sendo a
mesma coisa. Substantive due process – O princípio da proporcionalidade decorre do devido processo legal
tendo em vista o aspecto substancial.
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OBS: Princípio da proporcionalidade x Devido processo legal substancial. O princípio da proporcionalidade


tem origem Germânica. O devido processo legal tem origem na Common Law. Ambos são construções da
jurisprudência para reprimir o abuso de poder. São “o mesmo vinho em garrafas diferentes” – no final
das contas é a mesma coisa. O STF diz que o princípio da proporcionalidade decorre do princípio do
devido processo legal substancial.
OBS: Os quatro próximos princípios serão estudados de forma conjunta  Efetividade, Adequação, Duração
razoável do processo e Lealdade. Isso porque eles ajudam a compreender a frase “PROCESSO DEVIDO É
PROCESSO EFETIVO, TEMPESTIVO, ADEQUADO E LEAL”. Essa frase revela quatro adjetivos que se deve
dar ao processo para que ele seja devido.
Princípio da Efetividade:
NÃO está consagrado em texto expresso! É um corolário do devido processo legal, é extraído do devido
processo legal. É o direito de efetivar os seus direitos – é aquele que impõe que os direitos
reconhecidos sejam efetivados. Não basta só que se reconheça, mas tem que efetivar (realizar). Direito
fundamental à efetividade = direito fundamental à execução.
Segundo Marinoni, “a efetividade é o mais importante dos direitos processuais fundamentais. Garante
que todos os outros direitos fundamentais sejam realizados (efetivados)”.
Caso de aplicação: o único imóvel é bem de família, impenhorável. Todavia, se o devedor, hoje, tiver um
imóvel de um milhão, ele pode ser obrigado a vender o apartamento para pagar uma dívida de cem mil e
comprar outro apartamento de novecentos.
Princípio da Duração razoável do processo:
Não é o princípio da rapidez! Processo rápido é processo tirano/autoritário. É um conceito aberto. Os
critérios para se dizer se a demora é razoável ou não são quatro: complexidade da causa, estrutura do
juízo, comportamento do juiz e comportamento das partes.
O ordenamento jurídico prevê meios para manter a razoável duração do processo. Ex: art. 198, CPC e
Art. 555, §§ 2° e 3°, CPC.
Art. 198. Qualquer das partes ou o órgão do Ministério Público poderá representar ao presidente do Tribunal de
contra o juiz que excedeu os prazos previstos em lei. Distribuída a representação ao órgão competente, instaur
procedimento para apuração da responsabilidade. O relator, conforme as circunstâncias, poderá avocar os au
que ocorreu excesso de prazo, designando outro juiz para decidir a causa.
rt. 555. No julgamento de apelação ou de agravo, a decisão será tomada, na câmara ou turma, pelo voto de 3 (três) juízes.
Não se considerando habilitado a proferir imediatamente seu voto, a qualquer juiz é facultado pedir vista do pro
evendo devolvê-lo no prazo de 10 (dez) dias, contados da data em que o recebeu; o julgamento prosseguirá na 1
essão ordinária subseqüente à devolução, dispensada nova publicação em pauta.
No caso do § 2o deste artigo, não devolvidos os autos no prazo, nem solicitada expressamente sua prorrogação pelo
residente do órgão julgador requisitará o processo e reabrirá o julgamento na sessão ordinária subseqüente, com publicaç

Princípio da Adequação:
As regras processuais devem ser adequadas. Este princípio decorre do devido processo legal. Não
tem norma própria. É preciso que ele produza resultados adequados para aquilo que se busca tutelar.
Processo inadequado é processo indevido. Há três critérios de adequação:
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1) Adequação objetiva – o processo tem que ser adequado ao tipo de direito material que será
tutelado. Por isso criou-se o procedimento especial (Ações possessórias, Ações de alimentos, Usucapião);
2) Adequação subjetiva – o processo tem que ser adequado aos sujeitos que dele participam. Ex:
Regras processuais específicas para os idosos, incapazes, pessoa jurídica de direito público, prazos, etc.
Nada mais é do que uma manifestação do princípio da igualdade no processo;
3) Adequação teleológica – o processo tem que ser adequado em relação aos seus fins, ou seja, se
eu quero um processo para executar, não posso criar um processo que tumultue esse fim. É preciso adequar
o processo aos seus fins. Se o processo for de execução deve-se adequar ao fim de execução. Ex: não é
adequado ter muita discussão nesse tipo de processo.
A visão tradicional desse princípio diz que ele é dirigido ao legislador, ou seja, cabe a ele criar regras
processuais adequadas.
Caso: prazo de 15 dias para contestar. Todavia, em caso concreto, a parte juntou 10.000 documentos. Esse
prazo de 15 dias seria adequado? Poderá o juiz adequar a regra às peculiaridades do caso concreto? Sim.
Esse princípio evoluiu para uma ADEQUAÇÃO JURISDICIONAL DO PROCESSO, e não apenas
legislativa. Ou seja, cabe ao juiz, no caso concreto, se deparar-se com a regra inadequada para o caso
concreto, fazer a adequação. Se é um direito fundamental, cabe ao juiz implementá-lo. Essa adequação
jurisdicional do processo é chamada por alguns de PRINCÍPIO DA ADAPTABILIDADE DO PROCESSO.
Princípio da Lealdade (ou da boa fé objetiva processual):
A boa fé objetiva é uma expressão criada pela doutrina para tratar da conduta que se deve ter (aqui o foco é
a conduta que se deve ter no processo). Já a boa fé subjetiva é aquilo que está dentro da cabeça do agente.
OBS: Essa idéia de boa fé surgiu no âmbito do direito civil (contratos). Veio a jurisprudência e disse que
esse princípio deve ser aplicado a toda e qualquer relação jurídica (idéia de expansão da boa fé
objetiva).
A boa fé objetiva é um princípio que impõe aos litigantes o dever de respeitar os outros sujeitos processuais,
agindo com lealdade, ética, de modo a proteger a confiança (Fair Trial).
A aplicação desse princípio no âmbito do processo civil é recente na doutrina brasileira (em alguns outros
países já se trata de assunto bastante consagrado).
OBS: Fredie Didier leciona que esse princípio decorre do Devido Processo Legal (nesse sentido, RE
464963-2 STF). Já para outros autores, a exemplo de Menezes Cordeiro, o fundamento da boa fé objetiva
(âmbito processual) é o princípio da igualdade. Para os civilistas em geral, o fundamento encontra-se no
princípio da dignidade da pessoa humana.
Além de encontrar fundamento no devido processo legal, a boa fé objetiva processual encontra
fundamento em dispositivos legais, como por exemplo:
14 do CPC. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo:
- proceder com lealdade e boa-fé;

Princípio do contraditório:
O princípio do contraditório possui uma dupla dimensão:
1) Dimensão formal: garante às partes o direito de participar do processo.
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2) Dimensão substancial: garante às partes aquilo que se chama poder de influência. Não basta
que se garanta à parte participação no processo; a parte tem, também, direito de influir (e essa influência há
de ser legítima) no conteúdo da decisão que será proferida.
OBS: O direito à ampla defesa consiste justamente nessa vertente substancial do contraditório.
Algumas decisões no processo podem ser tomadas ex officio pelo juiz (sem que haja provocação). Ex:
inconstitucionalidade de lei; decadência. Então, pode o juiz decidir com base em questão conhecida ex officio
sem tê-la submetido antes à manifestação das partes? Não, pois isso viola o princípio do contraditório (a parte
não teve a oportunidade de influenciar na decisão, que foi tomada com base em uma questão sobre a qual
não se manifestou).
Princípio da cooperação:
O princípio da cooperação é um produto do princípio da boa fé com o princípio do contraditório. O
contraditório precisa ser substanciado pelo dever de cooperação processual. Todos que têm que cooperar
para a melhor solução do conflito.
Esse princípio precisa ser estudado devido ao impacto da cooperação sobre a atividade do magistrado, pois o
referido princípio gera para o juiz três deveres:
1) Dever de consulta: é o dever de consultar as partes sobre ponto relevante a respeito do qual não
houve contraditório.
2) Dever de esclarecimento: o juiz tem o dever de esclarecer os pontos obscuros de suas
manifestações e, além disso, o juiz tem o dever de pedir esclarecimento às partes sobre ponto que não
compreendeu.
3) Dever de proteção ou de prevenção: se o juiz se depara com uma falha no processo, tem o dever
de apontar essa falha e indicar o meio como deve ser corrigida.
OBS: O STJ já disse que o juiz não pode indeferir a petição inicial sem antes intimar o autor para que ele a
corrija (sem antes oportunizar a sua correção).
Princípio da instrumentalidade:
O processo é um instrumento de realização do direito material. Não há entre processo e direito material
uma relação de subordinação. A relação que se estabelece entre ambos é complementar (há entre eles uma
relação de complementaridade): um serve ao outro. Há entre eles uma relação de mutualismo. O
direito material precisa do direito processual para se realizar. Por sua vez, o processo só existe
porque existe o direito material (cuja satisfação é o fim maior). Essa é a teoria circular dos planos
processual e material. Resumindo, o processo serve ao direito material ao tempo em que é servido por ele.
Princípio da preclusão:
Preclusão é a perda de um poder jurídico processual. A preclusão atinge às partes e ao juiz (existe
preclusão dos poderes das partes e existe preclusão dos poderes do juiz).
A preclusão é um princípio, porque não existe processo sem preclusão (o processo tem que acabar; o
processo tem que andar pra frente). O que pode haver é um processo em que a preclusão seja estimulada ou
mitigada, a depender da situação.
A doutrina costuma classificar a preclusão de acordo com os fatos que a geram:
1) Preclusão temporal: é a perda de um poder jurídico processual porque se perdeu um prazo.
2) Preclusão consumativa: é a perda de um poder jurídico processual pela sua prática, pelo seu
exercício (uso do poder jurídico processual).
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3) Preclusão lógica: É a aplicação no processo da “proibição do venire contra factum proprium”  eu


não posso me comportar contra os meus próprios atos. É a perda de um poder jurídico processual em
decorrência de um comportamento anterior incompatível / contraditório ao ato que estou realizando.
4) Preclusão sanção: é possível que a preclusão resulte de um ato ilícito no processo (ex: existe no
processo uma figura chamada de “atentado” – ex: a parte destrói o bem penhorado). Quando a parte comete
um ato ilícito no processo, perde a possibilidade de falar nos autos (a preclusão aqui funciona como
uma sanção).
OBS: Preclusão e questões de ordem pública:
a) Há preclusão para o exame das questões de ordem pública? Não. Enquanto o processo
estiver pendente é possível examinar as questões de ordem pública a qualquer tempo (não há
preclusão para examiná-las). Aplica-se o parágrafo 3º do art. 267 do CPC.
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:
IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e
regular do processo;
V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;
Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a
legitimidade das partes e o interesse processual;
O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a
sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não alegar, na
primeira oportunidade em que lhe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento.

b) Há preclusão para o reexame das questões de ordem pública?


 1ª corrente (majoritária): não há preclusão para o reexame de questão de ordem pública.
 2ª corrente (Barbosa Moreira e Fredie Didier): há preclusão para o reexame de questão de ordem
pública (a questão, uma vez decidida, acabou).
JURISDIÇÃO
Conceito e características da jurisdição: Jurisdição é um poder / uma função atribuída a terceiro imparcial
para mediante um processo reconhecer, efetivar ou proteger situações jurídicas concretamente deduzidas,
em decisão criativa, insuscetível de controle externo e com aptidão para a coisa julgada.
a) Jurisdição é um poder / uma função (não se trata de uma recomendação);
b) Atribuída a terceiro (um estranho ao problema a ser resolvido – solução do problema por
heterocomposição – substitutividade. OBS: esse terceiro pode ser o Estado – a jurisdição é monopólio do
Estado – ou outros sujeitos autorizados pelo Estado – o Estado pode delegar a outro sujeito o exercício do
poder jurisdicional – ex: arbitragem) imparcial (desinteressado – sem qualquer interesse na causa – aspecto
subjetivo). OBS: Não confundir imparcialidade com neutralidade (a neutralidade não existe – é incompatível
com o ser humano – ninguém é despido de valor);
c) Para mediante um processo (não existe jurisdição instantânea – tem que haver um processo para
controlá-la);
d) Reconhecer, efetivar ou proteger (tutela dos direitos);
e) Situações jurídicas CONCRETAMENTE deduzidas (a atividade do magistrado é concreta, e não
abstrata como a do legislador). Esse problema sobre o qual atua a jurisdição normalmente é uma lide – um
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conflito entre dois sujeitos. Mas há processos em que o problema a ser resolvido não é uma lide (ex: processo
de mudança de nome);
f) Em decisão insuscetível de controle externo (um outro poder não atinge a jurisdição – e a atividade
jurisdicional é a ÚNICA que possui essa característica). OBS: por isso as decisões do CADE não são
jurisdicionais;
g) E com aptidão para a coisa julgada (a jurisdição é o ÚNICO ato de poder que pode tornar-se
definitivo, indiscutível, até mesmo para a própria jurisdição);
h) E criativa (a jurisdição é uma atividade criativa – o juiz cria uma norma jurídica nova que vai regular
aquele problema concreto que lhe foi submetido).
OBS: A criatividade judicial se revela de duas maneiras:
1) O juiz, ao julgar, cria a norma jurídica do caso concreto (que é uma norma individualizada – que
está sempre no dispositivo da decisão).
2) Para chegar à decisão, o juiz precisa examinar o ordenamento jurídico como um todo, de modo a
identificar qual é a norma jurídica geral que fundamenta a norma individual que ele acabou de criar. A norma
geral que fundamenta a norma individual, por sua vez, é uma norma que o juiz cria ATRAVÉS DA
INTERPRETAÇÃO (norma geral do caso concreto – está sempre na fundamentação da decisão). Ex:
caso do Zeca Pagodinho; caso da filha infértil, cuja mãe de 39 anos congela os seus óvulos e os deposita
para que a filha possa, futuramente, gerar filhos – A LEI NÃO DÁ RESPOSTAS A TODAS AS SITUAÇÕES
CONCRETAS! Aliás, a jurisprudência nada mais é do que uma norma geral de casos concretos criada por
Tribunais (ao decidir, o juiz cria um precedente judicial). As SÚMULAS integram-se neste mesmo contexto.
Equivalentes jurisdicionais: São técnicas não jurisdicionais de solução de conflito. Fazem as vezes de
jurisdição, mas não são jurisdicionais.
1) Autotutela: é a solução egoísta do conflito, pois a solução do conflito é imposta por um dos
conflitantes (pela força). Em princípio, a autotutela é vedada (é, inclusive, crime – fazer justiça com as
próprias mãos). Mas, ainda há hipóteses excepcionais de autotutela permitida. É o que acontece com a
legítima defesa; com a greve; com o desforço incontinenti – com “i” mesmo (é a reação do possuidor diante
de violência à sua posse); com o fato de a Administração Pública poder executar suas próprias decisões (a
autoexecutoriedade é um exemplo de autotutela); com a guerra etc. Sempre que é possível a autotutela,
também é possível submeter a situação à análise do Poder Judiciário para o seu controle.
2) Autocomposição: é a solução negocial do conflito (o conflito é resolvido pelos próprios litigantes).
A autocomposição é estimulada / é incentivada (ao contrário da autotutela, que é desestimulada), pois
se entende que é a melhor forma de solução do conflito.
OBS: A autocomposição é o mais emblemático exemplo dos ADR (alternative dispute resolution – solução
alternativa do conflito).
OBS: O acordo extrajudicial pode ser homologado pelo Poder Judiciário.
A autocomposição ou se dá por transação (com ambas as partes fazendo concessões recíprocas) ou quando
uma parte abdica em nome da outra (quando quem abdica é o autor, fala-se em renúncia; quando é o réu
quem abre mão, fala-se em reconhecimento da procedência do pedido).
3) Mediação: consiste na intervenção de um terceiro no conflito, terceiro esse que tem a função de
estimular o acordo (encaminhar os conflitantes a um acordo). É muito comum a presença da figura do
mediador (facilitador do acordo) nos conflitos de família, nos conflitos societários, nos conflitos internacionais,
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nos conflitos trabalhistas (as Comissões de Conciliação Prévia são bons exemplos). O mediador não deve
sugerir a solução, mas tentar fazer com que as partes cheguem ao acordo.
4) Solução de conflito por tribunais administrativos: julgam o conflito por heterocomposição. Até
parecem jurisdição, mas não são porque não possuem definitividade e podem ser controladas externamente.
Ex: as decisões do CADE; os Tribunais de Contas; Tribunais do contribuinte (que julgam conflitos entre o
FISCO e o contribuinte).
Arbitragem: um terceiro, escolhido pelas partes, é chamado para resolver o conflito (grande diferença para a
mediação). Por isso, a arbitragem é uma solução por heterocomposição (um terceiro resolve o conflito).
A fonte da arbitragem é um negócio jurídico, que se chama convenção de arbitragem (então a fonte da
arbitragem é a autonomia privada). Somente pessoas capazes podem optar pela arbitragem, e somente
se a situação envolver direitos disponíveis. O árbitro pode ser qualquer pessoa capaz (não precisa sequer
ser bacharel em direito). Pode, inclusive, ser uma junta de árbitros.
Hoje, fala-se muito em arbitragem nos contratos administrativos. Fala-se, inclusive, em arbitragem nas
Parcerias Público-Privadas.
A arbitragem é estimulada, tanto na CF (âmbito trabalhista) quanto na legislação infraconstitucional (Lei
9.307/96).
O que o juiz estatal pode fazer diante de uma decisão arbitral? O juiz pode:
a) Executar a decisão arbitral (porque a decisão arbitral é um título executivo JUDICIAL), pois o
árbitro não tem poder para executar essa decisão.
b) O Judiciário pode ainda anular a decisão arbitral, se houver um vicio formal (Ação Anulatória da
Sentença Arbitral – prazo de 90 dias a contar da prolação da Sentença Arbitral). O Judiciário não pode,
entretanto, revisá-la; não pode alterá-la. O Judiciário não pode decidir o conflito, pois já foi decidido pelo
árbitro.
Não podemos esquecer que a arbitragem não é compulsória, mas uma escolha das partes. Por isso,
não é inconstitucional (a parte tem assegurada a sua opção de ir a juízo, pois não é obrigada a
escolher a via da arbitragem).
Fredie Didier segue a linha que acredita ser majoritária, de que a arbitragem foi alçada à qualidade de
jurisdição, pois, à luz da Lei de Arbitragem, o árbitro é juiz de fato e de direito. O Estado brasileiro
confere ao árbitro o poder de resolver o conflito de forma definitiva!
Argumentos contrários:
a) A jurisdição tem que ser estatal. Este argumento é bom, mas parece ser dogmático demais.
b) Segundo Marinoni, a arbitragem só não é jurisdição porque o árbitro não pode executar suas
decisões. Fredie Didier contesta este argumento, alegando que o Juiz Penal também não pode executar suas
decisões (não se trata de uma questão de falta de jurisdição, mas de ausência de competência).
O STF já entendeu que é válida essa regra que impede à parte que optou pela arbitragem de ir ao Judiciário
posteriormente contestar o mérito da decisão. Portanto, decisão na arbitragem faz coisa julgada!
A “Ação Rescisória” da decisão arbitral é a Ação Anulatória ajuizável em até 90 dias após a decisão ter sido
proferida.
Existem duas espécies de convenções de arbitragem:
a) Cláusula compromissória: é uma convenção de arbitragem para o futuro (refere-se a conflitos
futuros, que ainda não existem). Essa cláusula é utilizada em muitos contratos.
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OBS: Existe, inclusive, uma Ação Judicial para que se constitua o árbitro caso a parte se negue a fazê-lo (a
cláusula deve ser cumprida). Se a parte, no entanto, foi demandada em juízo e não opõe a cláusula
compromissória: revogação tácita da cláusula compromissória pela aceitação da Ação Judicial.
b) Compromisso arbitral: já existe um conflito (concreto), e as partes resolvem submetê-lo a uma
decisão arbitral.
Princípios da Jurisdição:
1) Princípio da investidura: só pode exercer jurisdição quem tiver sido devidamente investido na
função jurisdicional (seja por concurso público, seja por indicação – no caso de Ministros do STF, por
exemplo).
OBS: Na arbitragem, a investidura se dá pela convenção de arbitragem.
2) Princípio da inevitabilidade da jurisdição: eu não posso evitar os efeitos da decisão judicial
sobre mim (ex: “não aceito ser executado”). Eu não posso recusar “ser processado” (ex: “não aceito ser
processado por essa pessoa”).
3) Princípio da indelegabilidade: o órgão jurisdicional não pode delegar o exercício de suas funções
a ninguém. Aqui, fala-se em indelegabilidade dos atos decisórios  a própria CF admite que o STF
delegue a prática de atos executivos (art. 102 I, “m” da CF). A doutrina, de forma unânime, admite que outros
tribunais também façam isso.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-

I - processar e julgar, originariamente:


execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de
atribuições para a prática de atos processuais;

O poder instrutório também pode ser delegado.


Vejamos o disposto no art. 162, p. 4º do CPC:
Art. 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos.
Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho,
devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessários.

4) Princípio da territorialidade: a jurisdição sempre é exercida dentro de um determinado território


(sempre há delimitação territorial – maior ou menor). Esse território se chama foro. Na Justiça Estadual, os
foros se chamam comarcas. As comarcas ou se referem a uma cidade (isso é o mais comum) ou a um grupo
de cidades (geralmente pequenas). A comarca pode ser subdividida em distritos (que pode ser uma cidade –
no caso em que a comarca é um grupo de cidades – ou um bairro – quando a comarca é muito grande). No
âmbito da Justiça Federal, o foro se chama Seção Judiciária. Cada Seção Judiciária corresponde a um
estado. As Seções Judiciárias (que sempre têm nomes de estados) podem ser subdivididas em subseções
(que sempre têm nomes de cidades).
OBS: Existem comarcas contiguas (são aquelas comarcas fronteiriças) e comarcas metropolitanas (que não
necessariamente são contiguas – mas podem ser). Quando as comarcas forem contiguas ou da mesma
região metropolitana, o oficial de justiça pode atravessar as fronteiras para realizar atos de comunicação
processual (esse é um caso de extraterritorialidade). Vejamos o art. 230 do CPC:
Art. 230. Nas comarcas contíguas, de fácil comunicação, e nas que se situem na mesma região
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metropolitana, o oficial de justiça poderá efetuar citações ou intimações em qualquer delas.

OBS: Imaginemos um imóvel que esteja situada em duas comarcas (parte do imóvel na comarca “A”, parte na
comarca “B”). Esse é mais um caso de extraterritorialidade ! A jurisdição poderá ser exercida para além do
seu território.
Art. 107 do CPC. Se o imóvel se achar situado em mais de um Estado ou comarca, determinar-se-á o
foro pela prevenção, estendendo-se a competência sobre a totalidade do imóvel.

OBS: Uma coisa é saber onde a decisão tem que ser proferida (é o mesmo local onde se deve propor a
Ação). Outra coisa é saber onde ela produzirá efeitos (uma sentença de anulação de contrato proferida em
Salvador produzirá efeitos em todo o território nacional; poderá produzir efeitos, inclusive, fora do Brasil, caso
o outro país homologue a sentença). Mas, tudo isso, que acabamos de constatar não foi atentado pelo
legislador no art. 16 da Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85), in verbis:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão
, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que
qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

Essa norma é absolutamente desarrazoada / inconstitucional, pois torna inviável a Ação Coletiva, uma vez
que se eu quero produzir efeitos em todo o território nacional, eu teria que ajuizar ações coletivas em todo o
território nacional. Não há sentido nisso! OBS: Esse posicionamento deve ser seguido em um concurso para o
MP. Não obstante todas essas considerações, o STJ vem aplicando o citado dispositivo.
5) Princípio da inafastabilidade da jurisdição: vejamos o art. 5º XXXV da CF:
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça (tutela preventiva

Esse é o princípio da jurisdição que garante o acesso à Justiça.


Não há nada, do ponto de vista jurídico, que possa ser afastado da apreciação do Poder Judiciário.
OBS: Atos administrativos discricionários também podem ser levados à apreciação pelo Poder
Judiciário (não quanto ao mérito, mas quanto à legalidade em sentido amplo – razoabilidade /
proporcionalidade / moralidade administrativa etc.).
OBS: As questões desportivas somente podem ser levadas ao Judiciário após o exaurimento das
instâncias desportivas (trata-se de uma exceção). É a própria CF que faz essa limitação (art. 217, p.
1º):
Art. 217 § 1º - O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas
após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.

Porém, no plano infraconstitucional, várias leis condicionam a ida ao Poder Judiciário ao esgotamento da
esfera administrativa (ex: Lei do MS; Lei do HD; Lei do acidente do trabalho; Lei da CCP no âmbito
trabalhista; Lei da Súmula Vinculante etc.). Essas leis devem ser interpretadas de acordo com a
Constituição: a exigência de esgotamento da esfera administrativa só pode ser exigida se não houver
urgência, pois se não há urgência, a exigência é razoável (a Justiça deve ser a ultima ratio). Porém, se a
situação é urgente, não se pode exigir que se finde o processo administrativo para que se recorra ao
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Judiciário (sob pena de afronta ao princípio da inafastabilidade da jurisdição). A análise deve ser feita caso a
caso!
6) Princípio do juiz natural: não possui um inciso próprio. É extraído do Princípio do Devido
Processo Legal e de dois incisos do art. 5º da CF:
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção (é um órgão judicial criado extraordinariamente para
julgar determinada causa; ex: Tribunal de Nuremberg – Alemanha; outro exemplo: hipótese em que o
Presidente de um Tribunal designa determinado juiz para julgar a causa. O tribunal de exceção é
chamado “juízo ad hoc” ou “ex post facto”. ESSE INCISO VISA À GARANTIA DE IMPARCIALIDADE
DO JUIZ – aspecto material / substancial do princípio do juiz natural);
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente (não basta que o
juiz seja imparcial; é preciso que ele seja competente para julgar a causa – e a competência é
atribuída ao juiz pela Lei – aspecto formal do princípio do juiz natural);

Jurisdição Voluntária: é uma atividade de fiscalização e integração de direitos, de modo a permitir que
determinado ato jurídico produza efeitos. Para integrar, deve o Estado-Juiz fiscalizar.
Características gerais indiscutíveis:
1) A jurisdição voluntária, em regra, tem natureza constitutiva, ou seja, pela jurisdição voluntária
criam-se, extingue-se ou modificam-se situações jurídicas.
2) É, em regra, necessária, o que significa dizer que alguns atos jurídicos só podem produzir efeitos
se você for ao Judiciário (ex: interdição; alteração de nome).
Mas, há casos em que a jurisdição voluntária é opcional, e não necessária (ex: separação, divórcio,
arrolamento de bens – inventário – consensuais não havendo incapazes). Quem faz acordo extrajudicial
PODE (mas não precisa) homologar esse acordo em juízo.
3) O juiz da jurisdição voluntária tem as mesmas garantias que um juiz qualquer.
4) Na jurisdição voluntária há contraditório, ou seja, os interessados na causa (aqueles que,
de qualquer forma, podem sofrer alguma conseqüência com a decisão) podem intervir no processo.
Art. 1.105 do CPC. Serão citados, sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como o
Ministério Público.
Art. 1.106. O prazo para responder é de 10 (dez) dias.

5) A jurisdição voluntária é um procedimento que se encerra por sentença (cabe apelação dessa
sentença).
6) Existem vários procedimentos de jurisdição voluntária que podem ser instaurados ex officio.
Vejamos alguns dispositivos do CPC a respeito:
Art. 1.129. O juiz, de ofício ou a requerimento de qualquer interessado, ordenará ao detentor de
testamento que o exiba em juízo para os fins legais, se ele, após a morte do testador, não se tiver
antecipado em fazê-lo.
Parágrafo único. Não sendo cumprida a ordem, proceder-se-á à busca e apreensão do testamento, de
conformidade com o disposto nos arts. 839 a 843.
Art. 1.142. Nos casos em que a lei civil considere jacente a herança, o juiz, em cuja comarca tiver
domicílio o falecido, procederá sem perda de tempo à arrecadação de todos os seus bens.
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Art. 1.160. O juiz mandará arrecadar os bens do ausente e nomear-lhe-á curador na forma
estabelecida no Capítulo antecedente.

7) Na jurisdição voluntária, o juiz não é obrigado a observar à legalidade estrita. A idéia é que o
magistrado não se prenda à letra fria da lei, dando ao caso concreto a solução mais adequada (maior
liberdade / discricionariedade ao juiz). Vejamos o art. 1.109 do CPC:
Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a observar
critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente
ou oportuna (esse dispositivo permite um juízo de equidade por parte do magistrado).

Esse louvável dispositivo se contrapõe à antiga mentalidade dos arts. 126 e 127 do CPC, in verbis:
Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No
julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos
costumes e aos princípios gerais de direito. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
Art. 127. O juiz só decidirá por eqüidade nos casos previstos em lei.

OBS: Na prática, o que o legislador previu no art. 1.109 do CPC para a jurisdição voluntária é hoje a
regra para qualquer tipo de processo!
8) A leitura do art. 1.105 do CPC dá a entender que o MP deve intervir em qualquer procedimento de
jurisdição voluntária.
Art. 1.105. Serão citados, sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como o Ministério
Público.

Mas, não é bem assim. Há casos em que a manifestação do MP é desnecessária (ex: separação judicial). Ou
seja, o MP só intervém em causas de jurisdição voluntária quando couber intervir.
Até este ponto da matéria de jurisdição voluntária não há grandes controvérsias. A partir daqui, “o bicho
pega”.
Natureza jurídica da jurisdição voluntária:
a) 1ª corrente doutrinária (majoritária): jurisdição voluntária não é atividade jurisdicional, mas
administrativa. Ou seja, jurisdição voluntária não é jurisdição, mas atividade administrativa.
Argumentos:
 Não há lide e, portanto, não há jurisdição.
 Como não há jurisdição, não há ação (mas requerimento).
 Se não tem jurisdição, nem há ação: não há processo (só há procedimento).
 Não há partes (há interessados).
 Concluindo, não há coisa julgada na jurisdição voluntária.
b) 2ª corrente: defende que a jurisdição voluntária tem natureza jurisdicional.
Argumentos:
 Há lide (pensemos no exemplo de eventual pedido de interdição de Silvio Santos). Pode não haver
lide, o que não significa, de forma alguma, dizer que nunca há lide. E mais: não é correta a premissa teórica
de que não há jurisdição se não houver lide (a jurisdição atua sobre uma situação concreta – não
necessariamente litigiosa).
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 Há ação (pois há jurisdição).


 Há processo. A corrente contrária é muito antiga, de uma época em que não se falava em processo
administrativo (não se falava em contraditório no âmbito administrativo). A existência do contraditório no
âmbito administrativo foi uma novidade trazida pela CF/88. Por isso, dizer que não há processo de jurisdição
voluntária é inconcebível (mesmo para quem adota a corrente contrária). Essa é a crítica / reflexão de Fredie
Didier.
 Há partes.
 Há coisa julgada em jurisdição voluntária (essa discussão sobre coisa julgada na jurisdição
voluntária é o que mais pode dar problema no concurso público – por isso, é preciso ter atenção).
Vejamos o art. 1.111 (que fundamenta ambas as correntes):
Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se
ocorrerem circunstâncias supervenientes.

Se o fato é posterior / superveniente à coisa julgada, não tem nada a ver com revisão / modificação da coisa
julgada. Esse fato novo vai exigir uma nova decisão sobre essa nova realidade. Essa nova decisão não está
negando a coisa julgada; está apenas criando uma nova decisão, baseada em uma nova realidade. Isso pode
acontecer em qualquer processo (e não apenas nos de jurisdição voluntária). Ex: ação de alimentos / revisão
de alimentos; divórcio / casamento de novo com a mesma pessoa de quem já se divorciou.
Para os que pensam que não há coisa julgada em jurisdição voluntária, uma história: o sujeito quer mudar de
nome – se o juiz negar, não há coisa julgada, então o sujeito pode fazer o pedido quantas vezes forem
necessárias, até que um juiz acate. Isso é um absurdo!
OBS: Cabe ação rescisória em jurisdição voluntária? Se for adotada a concepção tradicional, não. Se for
adotada a concepção moderna, sim.
COMPETÊNCIA
CONCEITO: competência é a quantidade de poder atribuída a um determinado órgão / ente. É a medida do
poder que lhe cabe. Fala-se em competência legislativa / competência administrativa / competência
jurisdicional (que estudaremos aqui).
A competência está intimamente relacionada ao controle de poder em um Estado de Direito, pois se não
houvesse a noção de competência, viveríamos em uma tirania.
A competência é regida por dois princípios básicos:
1) Princípio da indisponibilidade da competência (o órgão não pode dispor sobre as regras de
competência);
O próprio legislador, que cria essas regras, pode permitir que elas sejam alteradas / modificadas em certas
circunstâncias. Mas essa é uma possibilidade do legislador, e não do titular da competência.
2) Princípio da tipicidade das competências (as competências devem estar tipicamente previstas /
decorrem do direito positivo – não existe competência oriunda do direito natural).
OBS: não obstante este princípio há competências implícitas no sistema. Ex: o STF pode delegar a outros
juízes a execução de seus julgados, por previsão constitucional expressa (mas entende-se que esta também
é uma competência implícita do STJ). Alguém tem que ser competente, até porque não há “vácuo” em
matéria de competência.
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DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA: é feita pelo legislador / é tarefa legislativa. A primeira grande


distribuição de competência que se faz é pela Constituição Federal, ao criar as cinco justiças (Justiça
Federal/do Trabalho/Eleitoral/Militar/Estadual – que será residual – tudo o que não for competência das outras
quatro – por isso o legislador constituinte não tratou da competência estadual).
OBS: Problema teórico: O juiz, atuando fora da sua competência constitucional, produz decisões
nulas ou inexistentes? Ada Pellegrini entende que se trata de decisão inexistente. Mas, a concepção
majoritária entende que a decisão é nula. Essa distinção é relevante, uma vez que se o entendimento for de
que se trata de decisão inexistente, não há que se falar em coisa julgada. Se o entendimento for de que a
decisão é nula, cabe rescisória, por exemplo.
As constituições estaduais também repartem / distribuem competência. As leis (federais e estaduais) também.
Os regimentos internos dos tribunais também (pegam a competência do tribunal e a organizam internamente).
É preciso saber, agora, quem potencialmente tem condições de julgar a SUA causa.
FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA: é a identificação de qual órgão irá julgar determinada causa. Isso se dá
pela aplicação do art. 87 do CPC:
Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta (é a data da propositura da
ação que determina qual juiz julgará a causa – o momento da propositura da ação é o momento da
distribuição ou o momento do despacho inicial, nos casos em que só houver um juiz e um juízo – isso está no
art. 263 do CPC). São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas
posteriormente (fixada a competência, a causa ficará naquele juízo, pouco importando o que vá acontecer
depois – fatos supervenientes não tirarão a causa daquele juízo  trata-se de uma regra de estabilidade do
processo, chamada de “perpetuação da jurisdição”), salvo quando suprimirem o órgão judiciário
exceção à perpetuação da jurisdição) ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia
onde se lê “competência em razão da matéria ou da hierarquia”, leia-se “competência absoluta” – ou seja, se
houver mudança superveniente de competência absoluta, quebra-se a perpetuação da jurisdição e a causa
terá que ser remetida a outro juízo – é assim que se interpreta o dispositivo há muitos anos
remetem-se as causas que ainda não foram julgadas; se já foram julgadas, mesmo que haja apelação,
o processo não deve ser remetido – entendimento do STF).

OBS: Para todos os ramos do direito: um ato nunca pode ser invalidado por fatos supervenientes à
sua produção. O defeito é congênito / o ato nasce defeituoso. Por isso, lei anterior à Constituição não pode
ser taxada de inconstitucional; ela não existe mais porque foi revogada pelo novo texto constitucional.
CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA:
A primeira classificação divide a competência em absoluta e relativa:
COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA
As regras de incompetência absoluta são
As regras
regrasde incompetência relativa são regras criadas
criadas para atender o interesse público e, portanto,
para atender
não podem
o interesse particular e, portanto, podem ser
ser alteradas pela vontade das partes. O alteradas
desrespeito
pela
a vontade
essas das partes. A incompetência relativa não
regras gera a chamada incompetência absoluta,
pode ser
incompetência
conhecida ex officio (Súmula 33 do STJ); só o réu pode
essa que pode ser conhecida ex officio ou alegar
pela provocação
incompetência
de relativa (e no primeiro momento que lhe
qualquer das partes enquanto durar o processo
couber falar
(enquanto
nos autos,
o sob pena de preclusão, ou seja, sob pena
processo estiver pendente). E, se o processo
de oterminar,
juiz que
ainda
era relativamente incompetente tornar-se
cabe Ação Rescisória. A incompetência competente).
absoluta pode
A incompetência
ser relativa só pode ser alegada por
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alegada por qualquer forma (não há forma preestabelecida).


meio de “exceção de incompetência”.
A jurisprudência consolidada do STJ diz que é
possível admitir a alegação de incompetência relativa no
bojo da contestação, se isso não causar prejuízo ao autor
O MP pode alegar incompetência relativa em favor do
incapaz!

OBS: “Kompetenzkompetenz” (competência sobre a competência): todo juiz SEMPRE tem competência
para julgar a própria competência (é o mínimo de competência que sempre existe – ainda que se trate de
incompetência absoluta para julgar a causa).
OBS: A incompetência não gera a extinção do processo (nem na absoluta e nem na relativa). A
incompetência gera remessa dos autos a outro juízo. Há duas exceções (apenas): 1) juizados especiais
(nos juizados a incompetência gera a extinção do processo); 2) Incompetência internacional (também gera a
extinção do processo).
OBS: A incompetência absoluta, além de gerar remessa dos autos a outro juízo, gera também a
anulação dos atos DECISÓRIOS. Já a incompetência relativa só gera a remessa dos autos (os atos
decisórios não são anulados).
OBS: Vimos que as regras de incompetência relativa podem ser alteradas pela vontade das partes. Essa
possibilidade gera duas espécies de modificação da incompetência relativa:
a) Tácita (gerada pelo silêncio do réu – não oposição da exceção de incompetência);
b) Expressa (se dá por meio daquilo que se chama de foro de eleição).
Foro de eleição é uma cláusula contratual escrita na qual os negociantes escolhem em que território as
causas relacionadas àquele negócio devem ser ajuizadas.
Em muitos contratos de adesão (normalmente de consumo) há cláusulas que estabelecem foro de eleição.
Admite-se foro de eleição em contrato de adesão em consumo? Sim. No entanto, há possibilidade de
essas cláusulas serem abusivas. Essas cláusulas abusivas, em contratos de consumo, podem (segundo o
STJ) ser invalidadas ex officio pelo juiz e podem, ainda, ser remetidas ao domicílio do consumidor (mesmo
tratando-se de incompetência relativa).
Em 2006 foi acrescentado o parágrafo único do art. 112 do CPC:
Art. 112. Argúi-se, por meio de exceção, a incompetência relativa.
Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser
declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu

Esse dispositivo consagra a jurisprudência do STJ, ampliando o entendimento para qualquer que seja o
contrato de adesão (mesmo os que não sejam de consumo).
Porém, também foi alterado o art. 114 do CPC. Vejamos:
Art. 114. Prorrogar-se-á a competência se dela o juiz não declinar na forma do parágrafo único
do art. 112 desta Lei ou o réu não opuser exceção declinatória nos casos e prazos legais

Ou seja, se o réu e o juiz se calam no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, prorroga-se a
competência e não se discute mais o assunto. Essa é uma situação nova (ainda não enfrentada pela
jurisprudência), que acaba criando um sistema misto, híbrido (pois a incompetência pode ser reconhecida ex
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officio, mas não pode a qualquer tempo – o não reconhecimento no momento oportuno gera a prorrogação da
competência).
Vejamos, agora, a diferença entre competência originária e derivada (uma segunda classificação de
competência):
a) Competência originária: é a competência para julgar a causa em primeiro lugar (originalmente). A
regra é que os juízos singulares tenham competência originária. Mas, há casos em que os tribunais têm
competência originária (ex: ação rescisória).
b) Competência derivada: é a competência para julgar os recursos (competência recursal). A regra é
que a competência derivada seja dos tribunais. Mas, há casos excepcionais em que o juiz singular tem
competência derivada (ex: em execuções fiscais de pequeno valor – algo em torno de R$ 500,00 – o recurso
contra sentença é julgado pelo juiz da causa – isso está previsto na Lei 6.830/80, art. 84; outro exemplo:
Embargos de Declaração). Os Juizados Especiais não se enquadram nessas exceções (de competência
recursal atribuída a juiz).
CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA:
Existe uma sistematização muito antiga desses critérios:
a) Critério objetivo: é aquele que leva em consideração para distribuir a competência A DEMANDA.
A demanda tem três elementos:
 Partes;
 Pedido;
 Causa de pedir.
Qualquer um dos três elementos da demanda pode ser levado em consideração pelo legislador para distribuir
a competência. Por isso, se diz que há três sub-critérios objetivos:
 Competência em razão da pessoa (leva em consideração o elemento “partes”). Ex: é o que
acontece nas varas privativas da Fazenda Pública; é o que acontece com base em boa parte das regras de
competência dos juízes federais.
 Competência em razão do valor da causa (é o critério objetivo que leva em consideração o
elemento “pedido”). Ex: Juizados Especiais.
 Competência em razão da matéria (é a competência objetiva que leva em consideração o
elemento “causa de pedir”): leva-se em consideração a natureza jurídica da relação discutida. Ex: varas de
família; varas do trabalho; varas cíveis.
OBSERVAÇÕES:
 A competência em razão da matéria e em razão da pessoa é uma competência absoluta. Já a
competência em razão do valor da causa é um pouco mais complexa. Se o juiz extrapola o teto que lhe
foi estabelecido, ele é absolutamente incompetente. Mas, estando dentro do teto, é uma opção do
demandante, por exemplo, ajuizar uma ação perante o Juizado Especial ou perante a Justiça Comum.
Hoje, se o autor pede um valor que exceda o limite dos Juizados está renunciando ao valor excedente.
Nos Juizados Estaduais, as causas que estão dentro do teto (40 salários mínimos), o demandante por optar
pelos Juizados Estaduais.
Já nos Juizados Federais, causas que estão dentro do teto têm que ser processadas nos Juizados Federais.
Portanto, nos Juizados Estaduais  a competência em razão do valor da causa é relativa; já nos Juizados
Federais  a competência é absoluta.
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 Há uma combinação desses critérios (ex: vara privativa da Fazenda Pública – pode ser uma vara
com competência em razão da pessoa e em razão da matéria – ex: licitação).
 A competência objetiva é sempre uma competência de vara.
 Súmula 206 do STJ:
A existência de vara privativa (de Fazenda Pública), instituída por lei estadual, não altera a
competência territorial resultante das leis de processo.

Ex: se um cidadão da cidade de Cocos, no Estado da Bahia, quiser demandar o estado, ficará em Cocos (não
precisa se deslocar a Salvador, onde há vara privativa da Fazenda Pública).
b) Critério funcional: quando as diversas funções que devem ser exercidas em um processo são
distribuídas entre vários órgãos, fala-se em competência funcional (que é a competência para exercer
funções em um processo). Ex: função de receber a petição inicial, de instruir, de julgar, de executar, de julgar
o recurso, de julgar reconvenção, de julgar ação cautelar que eventualmente seja ajuizada etc.
A competência funcional pode ser examinada sob duas dimensões:
 Dimensão vertical: entre instâncias diversas. E x: julgamento de apelação.
 Dimensão horizontal: é uma distribuição de competência funcional que se faz na mesma instância
(no mesmo nível). Ex: no júri (processo penal): um juiz pronuncia, o júri condena e outro juiz dosa a pena.
Outro exemplo (agora no processo civil): os tribunais só podem dizer que uma lei é inconstitucional pela
maioria absoluta dos seus membros (ou dos membros do órgão especial).
A competência funcional é absoluta!
c) Critério territorial: é aquele que vai identificar em que lugar a causa deve ser processada. A
competência territorial é, em regra, relativa. Mas há casos (excepcionais) de competência territorial absoluta
(há doutrinadores que lecionam que não existe competência territorial absoluta – seriam casos de
competência funcional – que é absoluta). Ex: art. 2º da LACP; art. 209 do ECA; art. 80 do Estatuto do Idoso.
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo
terá competência funcional para processar e julgar a causa.
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva
ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas
a competência da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais superiores.
As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do domicílio do idoso, cujo juízo
terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da Justiça Federal e
a competência originária dos Tribunais Superiores.

Temos duas regras gerais de competência territorial:


 Art. 94 do CPC.
Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens
móveis (ex: avião) serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu.
Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for
encontrado ou no foro do domicílio do autor.
Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do
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domicílio do autor. Se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer

Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de
qualquer deles, à escolha do autor.

 Art. 95 do CPC.
Art. 95. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da
situação da coisa (forum rei sitae). Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio
(do réu) ou de eleição (portanto, há três foros possíveis para as ações fundadas em direito
real sobre imóveis), não recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança,
servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova (se a causa for
uma dessas, o autor não pode optar pelo foro do domicílio do réu ou pelo foro de eleição –
nestas sete hipóteses, o foro da situação da coisa é de competência absoluta).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA:
Conceito: é uma situação em que dois ou mais órgãos jurisdicionais discutem em torno da competência para
julgar uma ou mais de uma causa. Esse conflito pode ser positivo ou negativo.
O conflito é um incidente processual de competência originária de um tribunal (o conflito sempre será
resolvido por um tribunal).
O conflito é um incidente que pode ser provocado pelas partes, pelo MP ou pelos próprios órgãos
conflitantes. Se o incidente não foi suscitado pelo MP, este deve intervir obrigatoriamente (trata-se de
um caso de intervenção obrigatória do MP).
Vejamos o art. 117 do CPC:
Art. 117. Não pode suscitar conflito a parte que, no processo, ofereceu exceção de incompetência
proibição é para que isso ocorra simultaneamente – ou seja, a parte não pode, ao mesmo tempo,
conflito e oferecer exceção de incompetência).

Dispõe o art. 120, parágrafo único:


Art. 120. Poderá o relator, de ofício, ou a requerimento de qualquer das partes, determinar, quando o conflito
for positivo, seja sobrestado o processo, mas, neste caso, bem como no de conflito negativo, designará um
dos juízes para resolver, em caráter provisório, as medidas urgentes.
Parágrafo único. Havendo jurisprudência dominante do tribunal sobre a questão suscitada, o relator
poderá decidir de plano o conflito de competência, cabendo agravo, no prazo de cinco dias, contado
da intimação da decisão às partes, para o órgão recursal competente.

A Súmula 59 do STJ estabelece:


Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado, proferida por um dos
juízos conflitantes.

Outra coisa importante: não existe conflito se existe diferença hierárquica entre os conflitantes! Ex: não
existe conflito que envolva o STF.
A Justiça Federal se divide em cinco regiões:
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a) Primeira região: engloba todo o restante (que não está compreendido entre a segunda e a quinta
região).
b) Segunda região: engloba Rio de Janeiro e Espírito Santo.
c) Terceira região: engloba Mato Grosso do Sul e São Paulo.
d) Quarta região: engloba toda a região sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).
e) Quinta região: engloba Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
O principal tema de conflito de competência em concursos públicos é o seguinte: saber de quem é a
competência para julgar o conflito de competência. Vejamos:
a) STF: se o conflito envolve um tribunal superior;
b) STJ: julga “tudo o que sobrou”.
c) TRF/TJ: só julgam conflitos entre juízes (vinculados ao próprio tribunal – pois se os juízes
conflitantes forem vinculados a tribunais diversos, a competência é do STJ). Ex: Juiz Federal do RS e Juiz
Federal de SP: quem julga é o STJ. Juiz Federal do DF e Juiz Federal de GO: quem julga é o TRF da 1ª
Região.
Existe uma figura “esdrúxula” que é o “juiz estadual investido de jurisdição federal” (os recursos de sua
decisão vão para o TRF). Quem julga o conflito entre juiz federal da BA e juiz estadual investido de jurisdição
federal do AM é o TRF da 1ª Região. Vejamos a Súmula 3 do STJ:
Compete ao Tribunal Regional Federal dirimir conflito de competência verificado, na respectiva Região,
entre Juiz Federal e Juiz Estadual investido de jurisdição federal.

E o conflito entre um juiz federal e um juiz de juizado (estadual ou federal): quem julga? Competência
do STJ (não há previsão expressa pra isso – a CF é silente a respeito  trata-se de uma construção
jurisprudencial). E isso é constitucional? Sim. Trata-se de uma competência implícita. A competência tem
que ser de alguém (afinal de contas, não há “vácuo” em matéria de competência).
OBS: No âmbito trabalhista, se os juízes do trabalho forem vinculados à mesma região: competência do
TRT. Se forem de regiões diversas: competência do TST. Se o conflito for entre um juiz do trabalho e um juiz
cível, por exemplo: competência do STJ.
CONEXÃO E CONTINÊNCIA:
Se duas causas IGUAIS estão pendentes ao mesmo tempo, temos litispendência (um dos processos será
extinto).
OBS: Existe um outro sentido da palavra “litispendência” (isso já caiu em concurso): período que
compreende o momento do início e do término do processo (é o “fluir da existência do processo”).
Há possibilidade de haver causas que não são exatamente iguais, mas que guardam entre si alguma
relação / alguma semelhança / algum vínculo: o nome disso é “conexão”.
A conexão produz um efeito importante: implica na reunião das causas em um mesmo juízo, para que
um mesmo juiz as julgue. Motivos:
a) Economia processual;
b) Harmonia dos julgados.
Por isso, diz-se que a conexão é um caso de modificação da competência relativa (conexão só
modifica competência relativa). Não se pode reunir as causas se isso implicar modificação de
competência absoluta! Portanto, pode haver conexão sem haver reunião (quando houver diferença de
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competência absoluta entre um juízo e outro). Ex: causas de família e cível (competências materiais
distintas); causas de tribunal e juiz (competências funcionais distintas).
Vejamos a Súmula 235 do STJ:
A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado.

Se houver possibilidade de reunião dos processos: tudo ok! Mas, se não for possível reunir as causas, uma
delas será suspensa (é uma questão de harmonia dos julgados). Mas essa suspensão deve ser por tempo
razoável (aqui temos outro valor em jogo: a duração razoável do processo).
A conexão poderá ser conhecida de ofício pelo juiz. E pode ser suscitada por qualquer das partes.
Precisamos sanar uma confusão muito comum:
MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA RELATIVA ALEGAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA RELATIVA
Pode ser alegada por qualquer um. Só o réu pode alegar.
Pode ser alegada de oficio. Não pode ser alegada de ofício.
Pode ser alegada a qualquer tempo. Não pode ser alegada a qualquer tempo.
Deve ser alegada como preliminar de contestação
Alegada por meio de “exceção de incompetência”.
(CONEXÃO SE ALEGA EM MATÉRIA DE DEFESA, E NÃO
COMO “EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA”).

O CPC resolveu conceituar conexão (art. 103):


Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando Ihes for comum o objeto ou a causa de pedir
conceito legal de conexão).

O art. 104 cria um outro instituto, chamado continência:


Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às partes e à
causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras (conceito legal de
continência).

OBS: Apesar de o CPC dar a esses institutos nomes diferentes, o tratamento jurídico (o regime jurídico) é o
mesmo.
Toda continência é uma conexão? Sim (inclusive, continência é uma espécie de conexão – que tem o
mesmo tratamento das outras espécies), mas nem toda conexão é uma continência!
Os conceitos legais de conexão e continência são INSUFICIENTES, ou seja, são apenas hipóteses de
conexão (há conexão fora das hipóteses do art. 103 do CPC).
Para saber se há conexão é preciso responder a duas perguntas: a solução da causa de alguma forma
interfere na solução da outra?
Em caso afirmativo, há conexão, isto é, há um vínculo entre as causas que justifica a reunião dos processos
(ex: ação de alimentos e ação de investigação de paternidade; outro exemplo: despejo por falta de
pagamento e ação de consignação em pagamento – dos aluguéis).
Sempre que a solução de uma causa tiver o condão de interferir na outra  há conexão. O nome disso é
“conexão por prejudicialidade” (a prejudicialidade implica conexão).
Um contribuinte vai a juízo pedindo para não pagar determinado tributo sob o fundamento de que ele é
inconstitucional. Um outro contribuinte vai a juízo pedindo para não pagar o mesmo tributo sob o fundamento
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de que é inconstitucional. Há conexão em uma situação como essa? Nos termos do art. 103 não há
conexão, porque os pedidos não são iguais e as causas de pedir também não são iguais. Nesse caso, ainda,
a solução de uma causa não interfere na outra (também não há conexão por prejudicialidade). Esse exemplo
revela aquilo que hoje se chama de “causas repetitivas” (é o tipo de causa em que as petições iniciais são
iguais – só muda o autor) que geram as chamadas “sentenças repetitivas” (trata-se de um fenômeno
contemporâneo/recente). Há entre essas causas AFINIDADE, e não PREJUDICIALIDADE. O que mais se
investiga hoje na doutrina é como lidar com as causas repetitivas. Por isso, está se desenvolvendo um novo
sistema de julgamento de causas repetitivas. Há alguns institutos novos que servem como exemplo desse
novo tipo de processo que está surgindo: Súmulas Vinculantes; art. 285-A do CPC (que trata do julgamento
liminar de causas repetitivas); arts. 543-B e 543-C do CPC (esses dois dispositivos criaram um novo
tipo/modelo de conexão, adaptado à realidade dos milhares de processos repetitivos  havendo recursos
extraordinários repetitivos, os tribunais superiores podem escolher algum ou alguns desses recursos como
“recursos modelos”, como “amostras”; enquanto isso os outros milhares de processos ficam suspensos; o
julgamento que se der a eles dar-se-á a todos). Outro exemplo de causas repetitivas: vítimas do acidente da
GOL; expurgos inflacionários do FGTS.
É possível reunir, por conexão, uma ação de conhecimento e uma de execução? Sim, em razão da
prejudicialidade (isso hoje é bastante difundido no STJ). Não se reúnem para que ambas “caminhem juntas”
(até porque não há como), mas para que sejam julgadas pelo mesmo juízo (para que se evitem decisões
contraditórias).
Qual é o juízo onde as causas serão reunidas? Serão as causas reunidas no juízo prevento (no juízo que
está resguardado para o julgamento de causas conexas). A conexão não modifica a competência; a
conexão é um critério de escolha de em qual juízo serão as causas reunidas.
O CPC prevê duas regras de prevenção (arts. 106 e 219 do CPC):
1) Se as causas estiverem na mesma comarca, prevento é o juízo que primeiro despachou.
2) Se as causas estiverem em comarcas distintas, prevento é o juízo onde primeiro ocorreu a citação
válida.
OBS: na Lei de Ação Civil Pública há um terceiro critério, que só se aplica às ações coletivas, segundo o qual
prevento é o juízo onde primeiro a ação foi proposta (leia-se: distribuição).
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL:
Está prevista em dois artigos da CF (109 – que prevê a competência dos juízes federais; e 108 – que prevê a
competência do TRF).
A competência dos juízes federais divide-se em:
a) Competência em razão da pessoa (art. 109, incisos I, II e VIII);
b) Competência em razão da matéria (art. 109, incisos III, V-A, X e XI);
c) Competência funcional (art. 109, inciso X).
Antes de examinar os dispositivos mencionados é importante fazer um breve comentário: existe uma figura
esdrúxula chamada “juiz estadual investido de jurisdição federal” (previsto no art. 109 p. 3º da CF). Dois
pressupostos devem ser preenchidos para que um juiz estadual julgue causas federais:
1) É preciso que na localidade não haja sede da justiça federal;
2) É preciso de autorização legal expressa (a própria CF já faz uma autorização: causas contra o
INSS – tanto as previdenciárias quanto as assistenciais – podem processar-se na justiça estadual se no
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domicílio do autor não houver sede da justiça federal; ademais, a CF permite que leis federais façam essas
autorizações; exemplos famosos: execução fiscal; usucapião especial rural; cumprimento de cartas
precatórias federais; justificações etc.).
Eventual recurso será remetido ao TRF. E mais: se no curso do processo for criada uma vara federal, os
processos serão imediatamente remetidos para ela.
Temos, ainda, que examinar três situações:
1) Súmula nº 216 do TFR (extinto – substituído pelo STJ): “Compete à Justiça Federal processar e
julgar mandado de segurança impetrado contra ato de autoridade previdenciária, ainda que localizada em
comarca do interior” (essa súmula continua sendo aplicada).
2) Súmula 689 do STF: “O segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o
juízo federal do seu domicílio ou nas varas federais da Capital do Estado-Membro”.
3) Posso demandar uma ação coletiva FEDERAL perante o juízo estadual se lá não houver sede
da justiça federal? Não (por ausência de lei que autorize). Ação Civil Pública FEDERAL (que envolve
questões federais) é na Justiça Federal, e ponto final. Somente as Ações Civis Públicas ESTADUAIS é que
se processam na justiça estadual.
Vamos, finalmente, aos incisos do art. 109 (apenas aqueles que dizem respeito à competência CÍVEL da
Justiça Federal):
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
as causas em que a União, entidade autárquica (gênero que abrange as seguintes espécies: autarquias
– como o BC e o INSS; as fundações públicas – como a FUNAI; os conselhos de fiscalização profissionais; e
as agências reguladores federais) ou empresa pública federal (CUIDADO: o artigo não fala em Sociedade
de Economia Mista – como o BB e a Petrobrás) forem interessadas na condição de autoras, rés,
assistentes ou oponentes, EXCETO as de falência (as causas de falência – leia-se também insolvência
civil e recuperação empresarial – são sempre da Justiça Estadual, independente de interesse federal)
acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho (essas são quatro
exceções em que as causas não vão para a Justiça Federal);
OBS: A PRESENÇA DO MPF EM JUÍZO NÃO TORNA A CAUSA DA JUSTIÇA FEDERAL (O MPF PODE
ESTAR PRESENTE EM UMA CAUSA QUE TRAMITA PERANTE A JUSTIÇA ESTADUAL)!
Vejamos três importantes súmulas do STJ:
Súmula 150 do STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse
jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.
Súmula 224 do STJ: “Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a
declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito”.
Súmula 254 do STJ: “A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente
federal não pode ser reexaminada no Juízo Estadual”.
as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada
ou residente no País (ex: eu proponho uma ação contra o Reino da Espanha; o município de SP propõe
uma ação contra a ONU);
OBS: OS RECURSOS, NESSAS CAUSAS, VÃO PARA O STJ, E NÃO PARA O TRF!
OBS: IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO (INTERNACIONAL) É PARA IMPEDIR QUE SE DISCUTAM
QUESTÕES RELACIONADAS À SOBERANIA DO ESTADO ESTRANGEIRO. O INCISO II DIZ RESPEITO
23

A QUESTÕES PRIVADAS.
as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo
internacional (SÓ irá para a Justiça Federal se a causa SÓ for regulada por tratado – ex: alimentos
internacionais  só são regulados pela Convenção de Nova Iorque);
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a
competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema
financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII - os "habeas-corpus", em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal, excetuados os
casos de competência dos tribunais federais;
OBS: Há autoridades federais privadas (ex: autoridade de uma instituição de ensino superior privada
– ex: reitor de uma universidade católica  Súmula 60 do extinto TFR).
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;
os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória,
após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação (competência funcional)
causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
a disputa sobre direitos indígenas (esse inciso XI diz respeito aos direitos dos índios coletivamente
considerados – ex: demarcação de terra indígena/genocídio indígena; direito de um índio só – Justiça
Estadual).
OBS: uma tribo indígena, que não é PJ e nem PF (mas é um tipo de sujeito de direito), pode ser parte
nesse processo!
Vejamos o teor da Súmula 140 do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime
em que o indígena figure como autor ou vítima”.
§ 1º - As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio a outra

§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o
autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa,
ou, ainda, no Distrito Federal.
§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários,
as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja
sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam
também processadas e julgadas pela justiça estadual.
§ 4º - Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal na
área de jurisdição do juiz de primeiro grau.
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Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a


finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de
direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de
Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para
a Justiça Federal (esse parágrafo 5º se aplica ao processo penal e civil). (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
OBS: SÓ É POSSÍVEL A TRANSFERÊNCIA SE SE DEMONSTRAR A INEFICIÊNCIA E A INAPTIDÃO
DAS AUTORIDADES ESTADUAIS (SEGUNDO O STJ – TRATA-SE DE UM “PRESSUPOSTO
IMPLÍCITO”).

Vamos ao art. 108 da CF (competência do TRF):


Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais (esse artigo facilita a nossa vida, pois a competência
do TRF é sempre funcional: ou originária ou derivada):
processar e julgar, originariamente:
os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do
Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;
as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região
os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal
os "habeas-corpus", quando a autoridade coatora for juiz federal;
os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal;
julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no
exercício da competência federal da área de sua jurisdição.

TEORIA DA AÇÃO
Acepções da palavra “ação”:
1) Acepção constitucional: Direito de acesso à justiça / ao Judiciário / aos tribunais (decorre do
princípio da inafastabilidade da jurisdição).
É um direito fundamental, público, abstrato e autônomo (distinção entre processo e direito material  foi
desta acepção que surgiu o processo).
Esse direito de ação é um direito em conformidade com o Devido Processo Legal. Segundo Marinoni, o direito
de ação é um direito a técnicas processuais adequadas (ele pega o princípio da adequação e joga para
dentro do conceito de ação). Mas, para Fredie Didier, não é só isso. O direito de ação abrange todos os
princípios processuais (principalmente o devido processo legal).
2) Acepção processual: Ação, em sentido processual, corresponde à demanda, ou seja, é o ato de
provocar a atividade jurisdicional. A demanda é o exercício do direito de ir a juízo levando a afirmação de
um direito! Então, o direito de ação é abstrato; mas a demanda é SEMPRE concreta!
3) Acepção material: Ação, em sentido material, é uma situação jurídica substancial ativa.
Facilitando, a palavra ação, nesse sentido, se confunde com o próprio direito (ex: ação de regresso = direito
de regresso). Ex: Art. 195 do CC:
Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação (= direito) contra os seus
assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem
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oportunamente.

ELEMENTOS DA AÇÃO:
O estudo dos elementos da ação deve partir de uma premissa: em toda demanda há a afirmação de uma
relação jurídica (ao menos). Essa relação jurídica afirmada pelo demandante tem um nome: “res in iudicium
deducta”. O processo é a certeza dos meios e a incerteza do resultado.
Vejamos o seguinte quadro comparativo:
ELEMENTOS PARTE
DA GERAL
RELAÇÃO
ELEMENTOS
DO CC CONDIÇÕES
DA AÇÃO DA AÇÃO
CRITÉRIOS OBJETIVOS DE
JURÍDICA DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA
Sujeitos Das pessoas Legitimidade “ad causam”
Em razão da pessoa
Dos bens Possibilidade jurídica
Emdo
razão
pedido
do valor da causa
Dos fatos jurídicos
Causa de pedirInteresse de agir. Em razão da matéria.

A partir de agora, estudaremos os elementos da ação:


Parte: é o sujeito parcial do processo. As partes principais do processo são o demandante e o demandado
(autor e réu). Mas há também a parte auxiliar / coadjuvante, que também é parte (é o que acontece com o
assistente).
OBS: Qual é a diferença entre parte do processo e parte do litígio? Às vezes, a parte do processo não
coincide com a parte da “briga” (parte do litígio/parte em sentido material). Ex: uma ação de alimentos
proposta pelo MP.
OBS: Não podemos achar que parte ilegítima não é parte (tanto é parte que pode alegar ao juiz que é parte
ilegítima).
OBS: O que é a chamada “parte complexa”? Quando o incapaz está em juízo, ele não pode estar sozinho,
mas deverá estar acompanhado de seu representante. Essa dupla incapaz + representante chama-se “parte
complexa” (é uma designação antiga).
Pedido: será examinado depois.
Causa de pedir:
Fenômeno jurídico: FATO + HIPÓTESE NORMATIVA  FATO JURÍDICO  RELAÇÃO JURÍDICA (direitos
e deveres)  PEDIDO.
Fato jurídico é um fato da vida que recebeu a incidência de uma hipótese normativa (ou, como diz Pontes de
Miranda, é um fato que foi colorido pelo direito). Esse fato jurídico gera uma relação jurídica (direitos e
deveres).
Causa de pedir = fatos jurídicos + relações jurídicas dele decorrentes (fundamentos jurídicos). OBS:
fundamento jurídico do pedido não é a hipótese normativa; é a relação jurídica decorrente do fato jurídico
(direito que eu afirmo ter).
Ex: acidente de trânsito  o fato jurídico é o acidente danoso ou culposo de trânsito; a relação jurídica
decorrente do fato é o direito de ser indenizado; o pedido é a indenização.
Ex: ação para anular o contrato por dolo  o fato jurídico é o contrato celebrado com dolo; a relação jurídica é
o direito de anulação do contrato; o pedido é a anulação do contrato.
Ex: eu entro com uma ADI afirmando que determinada lei é inconstitucional  o fato jurídico é a
inconstitucionalidade da lei; a relação jurídica é o direito de retirar a lei do sistema jurídico; o pedido é a
decretação da inconstitucionalidade.
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Ex: o cidadão não cumpriu o contrato e eu entro com uma ação para cobrar o seu cumprimento o fato
jurídico é o inadimplemento do contrato; a relação jurídica é o direito de pedir o seu cumprimento; o pedido é
a cobrança.
O nosso sistema adotou a “teoria da substanciação da causa de pedir”  a causa de pedir é composta de
fatos + fundamentos jurídicos!
Causa de pedir próxima = relação jurídica!
Causa de pedir remota = fato jurídico!
Nelson Nery inverte (e apenas ele inverte).

Uma causa de pedir só é igual à outra se as causas de pedir próximas e remotas corresponderem uma à
outra.
“Teoria da individualização (ou individuação) da causa de pedir”: para essa teoria, a causa de pedir é o
direito que se afirma ter (os fatos não seriam relevantes na definição da causa de pedir). Não é a teoria
adotada pelo nosso Código (e não é a teoria dominante na doutrina).
A causa de pedir REMOTA (fato jurídico) pode ser subdividida em duas causas de pedir:
 Causa de pedir ativa  é o fato-título (fato gerador do direito). Ex: contrato.
 Causa de pedir passiva  é o fato que impulsiona a ida ao judiciário. Ex: inadimplemento.
CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES (de acordo com a causa de pedir próxima):
1) Reais / pessoais;
Reipersecutória  quando vou ao Judiciário pedir a entrega de uma coisa.
2) Ações mobiliárias / imobiliárias;
OBS: nem toda ação imobiliária é real (ex: despejo  é uma ação imobiliária e pessoal).
3) Ações necessárias  alguns direitos só podem ser efetivados se nós formos ao Judiciário (ex:
interdição de alguém; falência; ação rescisória; ação anulatória de um contrato – OBS: Cuidado! O distrato
não é anulação do contrato, mas resilição do contrato).
O que são processos necessários? Processos necessários são exatamente aqueles que surgem das ações
necessárias.
4) Ações dúplices: é designação com duas acepções:
 Sentido processual  é aquela em que se permite ao réu a formulação de um pedido contra o autor
dentro da contestação (na contestação o réu se defende e ataca). Esse pedido que o réu pode formular
dentro da contestação é chamado de “pedido contraposto”. É possível nos juizados especiais, nas ações
possessórias (pedido de indenização), no procedimento sumário.
Não é o sentido mais correto, mas é o mais utilizado.
 Sentido material  é aquela em que a defesa do réu já é o seu ataque. O réu, ao se defender do
que o autor quer, já está atacando. Ex: toda ação declaratória é dúplice; oferta de alimentos; ação de
consignação em pagamento.
5) Ações de conhecimento / ações de execução /ações cautelares (classificação conforme o tipo
de tutela jurisdicional que se pleiteia).
Ação de conhecimento  certificação de direitos; ação de execução  efetivação de direitos; ação cautelar
 proteção de direitos.
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Esta classificação está em crise! Atualmente as ações não servem a apenas um desses propósitos; hoje em
dia, os tipos de tutela jurisdicionais pretendidas se misturam. Por isso, essas ações são chamadas de “ações
sincréticas”. Essa é a tendência, hoje, do nosso direito positivo (que se pauta no sincretismo processual).
6) Classificação das ações de conhecimento em:
 Ações condenatórias
 Ações mandamentais
 Ações executivas lato senso
 Ações constitutivas
 Ações meramente declaratórias
Há uma divisão teórica dos direitos, da mais alta relevância, que divide os direitos em direitos a uma
prestação (ou subjetivos) e direitos potestativos.
Direito a uma prestação é o poder (PRETENSÃO) de exigir de outrem o cumprimento de uma prestação
(CONDUTA EXIGIDA – obrigação de fazer, de não fazer ou de dar dinheiro ou coisa que não seja dinheiro).
Os direitos a uma prestação são os direitos que se submetem à prescrição! A prescrição atinge à
pretensão (ex: inadimplemento/lesão). Art. 189 do CC:
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos
prazos a que aludem os arts. 205 e 206.

Os direitos a uma prestação exigem “efetivação material” (é preciso que a conduta se realize
materialmente/concretamente). A execução é exatamente o instrumento para que se dê o cumprimento
forçado da prestação devida.
Art. 580 do CPC.  A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa,
líquida e exigível, consubstanciada em título executivo.
Art. 617 do CPC. A propositura da execução, deferida pelo juiz, interrompe a prescrição, mas a citação
do devedor deve ser feita com observância do disposto no art. 219.

A execução pode se basear em título judicial ou em título extrajudicial. A execução pode realizar-se como
fase de um processo sincrético (eu quero certificar um direito e já executá-lo) ou em um processo autônomo.
A execução direta é aquela em que o Estado prescinde do executado e realiza a execução por ele (ex: venda
de um bem em hasta pública). Na execução indireta o Estado pressiona o devedor a cumprir a prestação (ex:
“faça sob pena de multa”; “faça sob pena de prisão”; “faça e tenha o benefício do desconto de honorários” –
essa recompensa tem um nome técnico: chama-se “sanção premial”).
Até 1994, no Brasil, as ações de prestação eram não-sincréticas (só serviam à certificação, ao
reconhecimento do direito). Se você quisesse executar, teria que voltar a juízo para fazê-lo. A regra, então,
era que as ações de prestação eram puras (no máximo, te davam um título executivo para que você pudesse
ajuizar uma ação de execução). Portanto, a natureza dessas ações de prestação era condenatória. Mas,
nessa época havia algumas exceções (nessa época havia algumas ações de prestação sincréticas), a
exemplo das ações possessórias. As ações de prestação sincréticas eram chamadas de ações
mandamentais ou ações executivas em sentido amplo. As mandamentais são ações de prestação sincréticas
que se efetivam por execução indireta. Já as executivas em sentido amplo são ações de prestação sincréticas
que se efetivam por execução direta. Essas três ações de prestação, somadas à ação constitutiva e à ação
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meramente declaratória formam o que se chama de “classificação quinária das ações” (ex: Pontes de
Miranda). OBS: Havia um grupo de doutrinadores que não aceitava essa tripartição (dizer que existia três
tipos de ação: condenatória, mandamental e executiva), entendendo que todas deveriam ser chamadas de
ações condenatórias, pois todas servem à realização de direitos a uma prestação. Para esse grupo de
doutrinadores só existem três tipos de ações: as condenatórias, as meramente declaratórias e as constitutivas
 eis a “classificação trinária” (ex: Barbosa Moreira; Dinamarco).
Há uma 2ª fase, que vai e 1994 a 2002. Em 1994, houve uma grande reforma legislativa. Todas as ações de
prestação de fazer e não fazer se tornaram ações sincréticas (houve uma “sincretização” de todas as
ações de fazer e não fazer. Essa reforma fez surgirem duas correntes doutrinárias:
 1ª corrente: agora não se pode falar em condenatória de fazer ou não fazer.
 2ª corrente: está vendo como não tem diferença? Tudo é condenatória! Não há porque distinguir as
ações condenatórias.
Em 2002, generalizou-se o sincretismo para as ações de entrega de coisa. E a doutrina continuou na
mesma ladainha...
Em 2005, o legislador “sincretizou” todas as ações de prestação por quantia. E, com isso, o legislador
“sincretizou” tudo! AGORA, TODAS AS AÇÕES DE PRESTAÇÃO SÃO SINCRÉTICAS! E a doutrina
continua na mesma ladainha...
Segundo Fredie Didier, a corrente prevalente é que ação condenatória, hoje, é ação de prestação!
Mandamentais e executivas, hoje, passam a ser espécies de condenatórias. As mandamentais são ações de
prestação sincréticas que se efetivam por execução indireta. Já as executivas em sentido amplo são ações de
prestação sincréticas que se efetivam por execução direta.
Houve ao longo da história, portanto, uma alteração no sentido do que vem a ser uma ação condenatória.
Direito potestativo é o direito de criar, alterar ou extinguir situações jurídicas. No direito potestativo não há
conduta devida; não há inadimplemento; não há que se falar, ainda, em execução de um direito potestativo.
Não se fala em prescrição, mas em decadência. Mas, nem todo direito potestativo tem prazo decadencial
(o direito potestativo pode não ter prazo de exercício), mas se houver prazo, esse prazo é decadencial (ex: o
direito de se separar judicialmente é um direito potestativo sem prazo decadencial). Ex: direito de anular ou
rescindir uma sentença; direito de excluir herdeiro legítimo da herança; direito de extinguir um condomínio;
direito de resolver o contrato; direito ao divórcio; direito à separação etc.
Eu posso demandar em juízo veiculando um direito potestativo. Essa demanda que veicula um direito
potestativo tem nome  ação constitutiva!
É muito freqüente a afirmação de que as ações constitutivas não produzem efeitos retroativos. Essa
afirmação é equivocada, pois há exemplos de ações constitutivas que produzem efeitos retroativos (embora a
regra seja que as ações constitutivas não produzam efeitos retroativos). Ex: art. 182 do CC  “anulado o
negócio jurídico, restituir-se-ão as partes à situação em que antes se encontravam (efeitos retroativos)”.
Exemplos de ações constitutivas pacíficas na doutrina: ação anulatória; ação rescisória; ação de separação;
ação de extinção do condomínio; de resolução do contrato. Exemplos de ações constitutivas (seguindo a
doutrina de Fredie Didier) não pacíficas na doutrina: ação de interdição; ação de falência; ação de nulidade de
ato jurídico; ADI (mas a maior parte da doutrina entende que a ADI é declaratória); investigação de
paternidade (fenômeno da “desbiologização” do direito de família – ex: família adotiva; inseminação artificial
heteróloga  portanto, para Fredie, a ação de investigação de paternidade tornou-se uma ação de atribuição
29

de paternidade, e não meramente de declaração de paternidade; genitor é uma coisa, enquanto pai é outra;
genitor é uma relação natural, enquanto pai é uma relação jurídica).
Ação meramente declaratória: É a que tem por objeto a declaração da existência, inexistência ou modo de
ser de uma situação jurídica. Não existe ação declaratória de fatos, mas tão somente de situações jurídicas
(exceção: só existe um caso de ação declaratória de fato: autenticidade ou falsidade de um documento).
Vejamos a Súmula 181 do STJ:
admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto à exata interpretação de cláusula
contratual.

Exatamente porque as ações meramente declaratórias só servem para certificar (só dar certeza), não há
prazo para elas; as ações meramente declaratórias são imprescritíveis! Exemplos de ação declaratória:
ação de usucapião; ação de consignação em pagamento; ADC; ação declaratória de inexistência de relação
tributária. Vejamos o art. 4º, parágrafo único, do CPC:
Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.

Admite-se ação declaratória quando já seria possível a propositura de uma ação declaratória. Ex: Clarice
Herzog, esposa do falecido Vladimir Herzog, que ajuizou uma ação meramente declaratória de que a morte
do marido foi de responsabilidade da União (mesmo podendo ter ajuizado uma ação condenatória). Clarice
ganhou a ação. Clarice poderia executar essa sentença meramente declaratória? Há duas correntes:
 1ª corrente (tradicional): se Clarice quiser executar, tem que entrar com uma ação condenatória,
cuja sentença dá ensejo à execução.
Crítica: o que será discutido nessa nova ação? Já há coisa julgada...
 2ª corrente (moderna – Fredie Didier; prevalece no STJ – precursor: min. Teori Albino Zavascki):
pode haver execução de sentença meramente declaratória. Atribui-se eficácia executiva a essa sentença
meramente declaratória.
Sentença declaratória tem eficácia executiva sempre que declarar direito a uma prestação QUE AINDA
É EXIGÍVEL!
Vejamos, agora, o art. 475-N, I, do CPC:
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer,
entregar coisa ou pagar quantia; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

Conseqüência prática do fato de Clarice Herzog ter ajuizado uma ação meramente declaratória, ao
invés de ajuizar uma ação condenatória: não há interrupção da prescrição!
CONDIÇÕES DA AÇÃO:
1) Corrente concretista:
Direito de ação é o direito a um julgamento favorável; direito de ação é o direito de quem ganhou a causa.
Para os concretistas, carência de ação, que é a falta do direito de ação, é a mesma coisa que improcedência
da ação.
Os concretistas falam em condição da ação. Mas, para eles, condições da ação são condições para um
julgamento favorável (para ganhar a causa). Portanto, carência de ação e improcedência da ação são a
mesma coisa!
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Para os concretistas, no processo se discutiam dois tipos de questão: as questões relacionadas à


regularidade do processo (pressupostos processuais); e as questões de mérito (acolhimento ou rejeição do
pedido).
As condições da ação, para eles, são questões de mérito (pois são questões relacionadas ao acolhimento ou
rejeição do pedido).
2) Corrente abstrativista:
O direito de ação é um direito a qualquer decisão. Por isso, os abstrativistas não falam em condições da
ação. Para os abstrativistas, assim como ocorre com os concretistas, só há dois tipos de questões no
processo: as questões relacionadas à regularidade do processo (pressupostos processuais); e as questões
de mérito (acolhimento ou rejeição do pedido). Repito: não se fala em condição da ação!
3) Corrente mista ou eclética:
O direito de ação é o direito a uma decisão de mérito. Condições da ação são condições para uma decisão
de mérito. Para os ecléticos, o juiz passa a examinar três tipos de questão, e não apenas dois: os
pressupostos processuais; as condições da ação; e o mérito. Para os ecléticos, carência de ação é diferente
de improcedência da ação. Para os ecléticos, não sendo decisão de mérito não há coisa julgada.
Liebman é o autor da concepção eclética. Alfredo Buzaid, discípulo de Liebman e autor do CPC/1973,
embutiu a corrente eclética no CPC!
A partir de agora, as questões são muito polêmicas.
O problema é que a teoria eclética de Liebman é bastante criticada pela doutrina! As críticas decorrem da
incoerência e da inaplicabilidade desta teoria.
Ex: investigação de paternidade: para Liebman, ou a ação é julgada procedente ou a ação é extinta sem
julgamento do mérito (não tem como a ação ser julgada procedente).
Para Liebman, o preenchimento das condições da ação tem de ser objeto de prova (as partes precisam
provas que preencheram as três condições da ação). Mas, para a doutrina e para a jurisprudência
majoritárias, o preenchimento das condições da ação será verificado a partir da afirmação que a parte feita.
Teoria da asserção. Teoria da prospettazione.
Vamos ao estudo das condições da ação propriamente dito.
POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO:
Trata-se da aptidão genérica de um pedido ser acolhido.
É absolutamente impossível separar esta condição do mérito da causa...
O próprio Liebman deixou de desconsiderar a possibilidade jurídica do pedido como condição da ação (mas
não deu tempo de corrigir o CPC, à época). E aqui estamos nós, estudando até hoje esta condição da ação,
que já havia sido deserdada por seu próprio criador.
Para Cândido Dinamarco, deve-se falar em “possibilidade jurídica da demanda”, e não apenas em
“possibilidade jurídica do pedido”. Todos os elementos da demanda devem ser analisados neste momento.
Ex: cobrança de dívida de jogo.
INTERESSE DE AGIR:
Trata-se de uma condição da ação relacionada à causa de pedir e consiste no seguinte: há interesse de agir
quando o processo for ÚTIL e NECESSÁRIO ao demandante.
Nos casos das ações necessárias, a necessidade se presume (porque só se pode obter o proveito indo ao
Judiciário).
31

Na USP, fala-se em um terceiro aspecto do interesse de agir: a ADEQUAÇÃO do pedido e do procedimento


ao proveito almejado. Ex: impetração de MS com pedido de perícia. Trata-se “inadequação da via eleita”.
LEGITIMIDADE “AD CAUSAM”:
Conceito: É um poder / aptidão / capacidade de conduzir um processo, no pólo ativo ou no pólo passivo, em
que se discute uma determinada situação jurídica.
A legitimidade é um atributo / um poder que se dá alguém (o poder de conduzir o processo). Essa
legitimidade será conferida de acordo com a situação que se discute no processo.
Classificação da legitimidade:
1) Legitimidade exclusiva e concorrente.
 Legitimidade exclusiva  apenas um sujeito pode propor discutir em juízo aquele problema. É a
regra.
 Legitimidade concorrente  a legitimidade é atribuída a mais de um sujeito. Ex: ADI; os
condôminos (cada condômino pode propor uma ação para proteger o condomínio).
A noção de legitimação concorrente é indispensável à compreensão do litisconsórcio unitário.
2) Legitimidade ordinária e extraordinária.
 Legitimidade ordinária  há legitimidade ordinária quando coincidem as figuras do legitimado e do
titular da relação jurídica discutida. Há legitimação ordinária quando alguém está em nome próprio defendo
seus próprios interesses. Ex: quem se alega credor é legitimado ordinário para cobrar a dívida; quem se alega
possuidor é legitimado ordinário da ação possessória.
 Legitimidade extraordinária  há legitimidade extraordinária quando o legitimado não coincidir com
o titular da relação discutida. Ex: todos os legitimados a propor uma ação coletiva são legitimados
extraordinários. Legitimado extraordinário é aquele que está em juízo defendendo em nome próprio interesse
alheio. Ex: o MP pode propor alimentos para o incapaz.
Por vezes o sujeito está em juízo, em nome próprio, defendendo interesse próprio e alheio (atuando,
portanto, como legitimado ordinário e extraordinário). Ex: o condômino vai a juízo defender o seu
próprio interesse, mas esse interesse não é só dele (é dele e de outros condôminos).
Características da legitimidade extraordinária:
a) Decorre da lei (somente a lei pode atribuir legitimidade extraordinária), ainda que implicitamente.
Não há legitimação extraordinária contratual. Isto está dito no art. 6º do CPC.
b) O legitimado extraordinário é parte (a parte é ele). Ele é quem paga custas; ele é quem pode sofrer
multa por litigância de má-fé. Porém, ele não é parte do litígio (exatamente porque não é dele o interesse
discutido).
c) A coisa julgada que resulte do processo conduzido pelo legitimado extraordinário vai atingir o titular
do direito discutido. Isso é curioso, pois se trata de um caso em que a coisa julgada atinge a terceiros (ou
seja, a coisa julgada é ultra partes)! Para que a coisa julgada não se estenda a terceiros, é preciso que a lei
faça essa ressalva.
d) A falta de legitimidade extraordinária implica decisão que não é de mérito (o juiz não está decidindo
se há ou não o direito, mas tão somente se aquela pessoa pode ou não discutir aquilo).
Distinções terminológicas:
1) Legitimidade extraordinária VS. Substituição processual  para a maior parte da doutrina (inclusive
Fredie Didier) trata-se de expressões sinônimas. Mas, há uma parcela da doutrina (a exemplo de Barbosa
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Moreira) que distingue. Eles entendem que substituição processual é um exemplo (é uma espécie) de
legitimidade extraordinária. Substituição processual é uma legitimidade extraordinária em que o substituto
está sozinho em juízo defendendo o interesse do titular do direito (o titular do direito não pode estar ao lado
dele). Ex: o MP quando pede alimentos para o incapaz.
2) Substituição processual VS. Representação processual  na representação alguém age em nome
alheio defendendo interesse alheio. Ex: uma mãe pedindo alimentos para seu filho menor.
3) Substituição processual VS. Sucessão processual  há sucessão processual quando alguém entra
no lugar de outrem no processo.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
São divididos em pressupostos de existência e pressupostos de validade do processo.
PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA:
1) Órgão investido de jurisdição;
2) Ato inicial  demanda.
3) Capacidade de ser parte  é aptidão de ser PARTE em um processo (não estamos falando na
aptidão de ser parte legítima, mas tão somente de ser parte). A capacidade de ser parte é a personalidade
processual (relaciona-se à personalidade civil). A capacidade de ser parte é absoluta (quem tem para uma
causa, tem para todas).
Quem tem capacidade de ser parte? As pessoas físicas; as PJ; condomínio; massa falida; espólio;
nascituro; tribos; nondum conceptus (é a prole eventual, ou seja, os filhos ainda não concebidos de alguém).
Todo sujeito de direito tem capacidade de ser parte!
Quem não tem capacidade de ser parte? Os mortos e os animais. OBS: Há quem diga que o natimorto tem
direito ao nome, à imagem e a uma sepultura. Então, morto teria, sim, capacidade de ser parte. Seria um
incapaz representado. OBS: Há quem defenda que os grandes primatas (ex: chipanzés, gorilas,
orangotangos) são sujeitos de direito incapazes.
PRESSUPOSTOS DE VALIDADE:
Considerações gerais:
a) Alguns autores preferem falar em requisitos processuais de validade em detrimento de
pressupostos processuais de validade.
b) Não devo me preocupar muito com a classificação dos pressupostos de validade.
c) Só se pode avaliar a validade do processo se ele existir. Então, primeiro se examina a existência do
processo, para depois examinar se ele é válido ou inválido.
d) Um processo é formado por vários atos. Existem pressupostos de cada um dos atos do processo e
há pressupostos do processo como um todo. Pressupostos processuais dizem respeito aos pressupostos do
conjunto de atos (que se chama processo).
e) Atualmente, há uma corrente doutrinária que defende que o exame dos requisitos processuais de
validade deve submeter-se ao sistema de invalidades do código  “Não há invalidade sem prejuízo” (ex: em
processo que envolve incapaz o MP tem que participar; se o MP não participou: falta de pressupostos de
validade; porém, se o incapaz ganhou não houve prejuízo, não se devendo falar em invalidade). O nome
dessa teoria é “teoria da instrumentalidade substancial das formas” (ou seja, a idéia de que as formas são
instrumentais, podendo ser ignoradas se a falta delas não causar prejuízo, mesmo em relação aos
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pressupostos processuais)  quem defende isso: Fredie Didier, Marinone, Bedaque (titular de direito
processual da USP), Daniel Hertel.
Analisemos, agora, cada um dos pressupostos de validade, que devem ser divididos em pressupostos de
validade objetivos e pressupostos de validade subjetivos.
Pressupostos de validade OBJETIVOS:
Dividem-se em:
1) Pressupostos objetivos intrínsecos: é o respeito ao procedimento / às regras procedimentais. É por
conta disso que se exige que a petição inicial seja apta. É por conta disso que se exige a CITAÇÃO.
Há uma corrente minoritária – a exemplo da PUC/SP – Nelson Nery, Arruda Alvim, Teresa Wambier – que
citação é pressuposto de existência. Na verdade, para a maioria, a citação é uma condição de eficácia do
processo para o réu e só será possível proferir uma sentença contra o réu se ele for citado. Se uma sentença
foi proferida contra o réu que não está nos autos por não ter sido citado, para a PUC/SP essa sentença é
inexistente (é um nada jurídico). Para a outra corrente, essa sentença é nula (ela existe, mas é defeituosa).
Para a PUC/SP, essa sentença inexistente pode ser alvo de uma ação declaratória de inexistência,
imprescritível (não sujeita a nenhum prazo para o exercício), que se chama querela nullitatis. Para os demais,
essa sentença seria alvo de uma ação de nulidade, também não sujeita a prazo, que se chama querela
nullitatis. Cada uma das correntes, portanto, dá ao nome querela nullitatis um significado distinto.
O art. 285-A prova que a citação é pressuposto de validade. Vejamos:
Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido
proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação
e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada. (Incluído pela Lei nº 11.277,
de 2006)

2) Pressupostos objetivos extrínsecos (ou negativos): são fatos estranhos ao processo que não
podem acontecer para que o processo seja válido. Ex: inexistência de coisa julgada; inexistência de
litispendência; inexistência de perempção.
Barbosa Moreira entende que estes pressupostos devem ser considerados como condições de ação. Trata-se
de um pensamento minoritário, porém relevante (pois se trata de Barbosa Moreira).
Pressupostos de validade SUBJETIVOS:
1) Competência do juízo;
2) Imparcialidade do juiz;
3) Capacidade processual (ou capacidade de estar em juízo; ou legitimação ad processum): é a
aptidão para a prática de atos processuais sozinho, independentemente de representação. É o mesmo que
capacidade civil. A regra é que haja uma correspondência entre capacidade civil e capacidade processual, de
modo que quem tem capacidade civil tenha capacidade processual. Mas há exceções (ex: pessoas casadas
têm, em regra, capacidade civil; mas para alguns atos processuais, as pessoas casadas sofrem restrições em
sua capacidade; outro exemplo: pessoa com 16 anos de idade pode votar, então também poderia propor
ação popular).
Diante da falta de capacidade processual, a primeira conseqüência é a determinação da correção do defeito
pelo juiz (o juiz vai determinar que se corrija o defeito). Se o defeito não for corrigido (art. 13 do CPC): a. Se
for o autor, o processo será extinto; b. Se for o réu, o processo seguirá à sua revelia; c. Se for o terceiro, o
terá excluído do processo.
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CAPACIDADE PROCESSUAL DAS PESSOAS JURÍDICAS: costuma-se dizer que as PJ são representadas
em juízo. Ao pensar dessa forma, poderíamos crer que as PJ são processualmente incapazes, o que não é
verdade (a despeito da opinião de Frederico Marques). Na verdade, as PJ são presentadas. Se há
representação é porque há dois sujeitos; na presentação não há dois sujeitos, mas um só. Na presentação a
relação é orgânica (ex: minha boca é uma parte de mim; quando ela fala, quem fala sou eu; trata-se de uma
relação orgânica; outro exemplo: Lula presenta o Brasil – quando ele fala na ONU, quem fala é a ONU; outro
exemplo: o sócio presentenante que vai à audiência de conciliação não precisa de carta de preposição, pois é
a própria PJ).
CAPACIDADE PROCESSUAL DAS PESSOAS CASADAS:
a) No pólo ativo: a regra é de que não haja qualquer peculiaridade. Mas há exceções (em que há
peculiaridades):
 Art. 10 do CPC: um cônjuge somente pode propor uma ação real imobiliária se o outro consentir –
CUIDADO: não se trata de litisconsórcio ativo necessário;
 CUIDADO: essa exigência não se exige nos casos de separação absoluta (art. 1.647 do CC);
 CUIDADO: o juiz pode suprir a falta de consentimento em duas situações: a. se o cônjuge não
puder dar o consentimento; b. quando a negativa de consentimento for injusta – por puro capricho – art. 11 do
CPC e art. 1.648 do CC;
 Essa exigência de consentimento se aplica à união estável? Não há consenso na doutrina e na
jurisprudência.
 O juiz pode recusar uma demanda de ofício pela falta de consentimento do cônjuge? Não.
Essa questão não é de ordem pública, mas de ordem privada (relacionada ao cônjuge preterido); somente o
cônjuge preterido pode pedir a invalidação do ato (arts. 1.649 e 1.650 do CC).
b) Capacidade processual das pessoas casadas no pólo passivo (art. 10, p. 1º do CPC): a regra é que
não haja peculiaridades. Mas, há casos de litisconsórcio necessário passivo:
 Em ações reais imobiliárias propostas contra os cônjuges é preciso citar ambos.
 Para a cobrança das obrigações solidárias entre os cônjuges (a. obrigações solidárias
decorrentes da prática de ato ilícito; b. dívida contraída pelo cônjuge para a economia doméstica – para o
bem da família – obriga a ambos), é preciso citar ambos.
c) Capacidade dos cônjuges nas ações possessórias (art. 10, p. 2º do CPC): esse parágrafo repercute
tanto no pólo ativo quanto no passivo (se for no pólo ativo  consentimento; se for no pólo passivo 
litisconsórcio necessário). Essas peculiaridades só se aplicam a duas espécies de possessórias: a.
possessória quando houver composse (ambos são possuidores); b. quando se tratar de ato praticado por
ambos os cônjuges (ex: ambos esbulharam).
CURADOR ESPECIAL: trata-se de um representante de incapaz. Quando uma pessoa é interditada, recebe
um curador (alguém que vai cuidar de sua vida). O curador especial é o representante de um incapaz
processual. Trata-se de um representante tão somente para aquele processo. Quando acabar o processo,
cessa a representação especial.
O curador especial tem natureza de representante processual.
Hoje, a curatela especial é exercida pela Defensoria Pública (trata-se de uma função atípica, pois não está
necessariamente relacionada à insuficiência de recursos). Se não houver Defensor Público, o juiz pode
designar qualquer pessoa capaz para ser curador especial (normalmente os juízes designam o advogado,
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“matando dois coelhos com uma cajadada só”). A curatela especial é um dever / um munus público (o curador
especial tem o dever de defender o curatelado – sob pena de destituição da curatela – ex: contestar; recorrer;
MS contra ato judicial; MAS NÃO PODE RECONVIR).
Casos em que o curador especial tem que ser nomeado:
a) Quando o incapaz não tiver representante legal;
b) Quando o incapaz estiver em conflito com o seu representante;
c) Réu revel citado por edital ou por hora certa;
d) Réu preso (que é tido como incapaz processual).
OBS: essa última hipótese não ocorre muito na prática (ex: Paulo Maluf não tem capacidade de se defender
porque está preso? Claro que não! Ele tem os melhores advogados do Brasil).
4) Capacidade postulatória:

AULA: 27/10
1.1 Assistência
É uma intervenção de terceiro espontânea. O terceiro pede para ingressar no processo. Pode ocorrer a
qualquer tempo e em qualquer dos pólos do processo. A assistência não agrega ao processo nenhum pedido
novo. O assistente adere ao pedido, às pretensões de uma das partes (não faz nenhum pedido novo).
A assistência apenas amplia subjetivamente a causa (e não objetivamente). Para que alguém intervenha
como assistente precisa demonstrar interesse jurídico na causa. Os interesses moral, afetivo ou econômico
não justificam o ingresso do assistente no processo.
Qual é o interesse jurídico que justifica o ingresso do assistente no processo?
I – Interesse jurídico forte, direto, imediato
A demanda contra B discutindo a relação X. C é o terceiro. C pede para intervir e ser assistente de A,
afirmando ter forte interesse no processo, uma vez que A está discutindo com B uma relação à qual C
pertence. Então C faz parte da relação X.
Ex. C é um condômino, A é outro condômino. X é um condomínio discutido. O interesse é forte na medida
que o terceiro pede para entrar no processo para discutir uma relação à qual ele pertence. Também pode
haver interesse forte se C for co-legitimado à propositura da ação. Nesse caso pedirá ao juiz para entrar
porquanto tão legitimado a propor a ação quanto A, ou seja, a ação proposta por este poderia ter sido
proposta por C.
Ex. uma associação pode intervir em uma ACP proposta pelo MP. Nesse caso o interesse da associação será
forte, gerando por isso assistência litisconsorcial. O assistente é chamado litisconsorte do assistido quando for
co-legitimado ou quando for parte no processo (interesse forte). É um litisconsórcio facultativo ulterior,
ativo ou passivo, unitário.
A assistência litisconsorcial é um litisconsórcio unitário formado tardiamente, por isso será mais comum no
pólo ativo, pois é neste que se dá, em regra, o litisconsórcio facultativo.
O assistente litisconsorcial (unitário) é parte do processo.
II – Interesse jurídico fraco, indireto, mediato
A demanda contra B em uma relação X. C pede ao juiz para ingressar no processo dizendo querer intervir
para ajudar B por ter com ele uma relação jurídica Y conexa à relação X. De modo que a solução que se der
à relação X afetará a relação Y.
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C não intervém para discutir direito próprio, mas alheio (relação X de A com B), cujo resultado o atingirá de
modo reflexo.
Ex. A relação X é de locação e a Y de sublocação: o interesse do sublocatário é reflexo (interesse mediato).
Se a locação cai, cai também a sublocação.
A x B em relação X. C tem uma relação Y com B, que não é a relação discutida, mas é conexa com ela. C diz
ao juiz que a solução de X afetará a relação Y.
Ex. ação de despejo em que A quer despejar B. C é o sublocatário e quer ajudar B, pois se este perder C
sofre reflexamente. C pode intervir por interesse reflexo (fraco).
Ex.2 – A x União – ação de responsabilidade civil. C é o funcionário que praticou o ato e, temendo ação de
regresso, que será conexa, intervém por interesse reflexo, discutindo na ação de responsabilidade algo que
não lhe diz respeito. O interesse nesse nível gera a assistência simples. A assistência simples decorre de
interesse reflexo/mediato. O assistente simples não é litisconsorte do assistido, mas seu auxiliar (existe o
assistente litisconsorcial). O assistente fica subordinado à vontade do assistido e nada poderá fazer contra
acordo, renúncia, transigência, desistência que o assistido fizer na ação.
O assistente simples é um legitimado extraordinário subordinado. Sua atuação fica na dependência
(subordinada) ao comportamento do assistido. O assistente litisconsorcial, como litisconsorte que é,
submete-se à coisa julgada. E o assistente simples? O assistente simples não se submete à coisa julgada,
mas se submete a outra espécie de eficácia preclusiva, em um sentido mais forte do que a coisa
julgada, e em outro, mais fraco. É a eficácia da intervenção; eficácia preclusiva da intervenção; submissão
à justiça da decisão.
A eficácia da intervenção submete o assistente aos fundamentos da decisão contra o assistido, ou seja, ele
fica vinculado aos fundamentos da decisão. Tudo que ficar decidido vincula o assistente e este não pode mais
discutir os fundamentos da decisão. Exemplo do caso do sublocatário: imagine que a ação de despejo tivesse
como fundamento o fato de B ter transformado o imóvel em prostíbulo. Se o juiz decidir com base nisso, tais
fundamentos vinculam o assistente que interveio. Isso é mais forte do que a coisa julgada porque esta não
atinge a fundamentação, mas só o dispositivo.
Em que sentido a eficácia da intervenção é menos rigorosa do que a coisa julgada?
A coisa julgada só pode ser quebrada em ação rescisória. E para superar a eficácia da intervenção é mais
fácil (ver art. 55 do CPC):
Art. 55. Transitada em julgado a sentença, na causa em que interveio o assistente, este não poderá, em
processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que: I - pelo estado em que recebera
o processo, ou pelas declarações e atos do assistido, fora impedido de produzir provas suscetíveis de influir
na sentença; II - desconhecia a existência de alegações ou de provas, de que o assistido, por dolo ou culpa,
não se valeu.
Esses dois casos (CPC 55 I e II) de intervenção são chamados exceptio male gestio processus (defesa de
má gestão do processo) – permitem que o assistente escape da eficácia da intervenção de terceiros.
Ver editorial (mais ou menos n. 40, de março 2008) do site do professor – STF julga caso de assistência
simples: uma indústria de tabaco de SP entrou com ação questionando a constitucionalidade de um Decreto
de SP. Chegou ao STF para analisar o Decreto. Veio o sindicato das empresas de tabaco e pediu para intervir
como assistente da empresa de tabaco, sob argumento de que aquele caso poderia gerar um precedente do
STF que servirá de base para todos os outros casos de outras empresas e tabaco, o sindicato pediu para
37

ajudar a empresa para a formação desse precedente. O sindicato não tem interesse direto nem reflexo na
decisão. O interesse reflexo é da categoria de empresas de tabaco. O STF admitiu a intervenção do sindicato
como legitimado coletivo nessa ação individual (é uma intervenção de assistente simples de um legitimado
coletivo em uma ação individual, para a formação de um precedente). É uma nova visão da assistência
simples.
Resumo: Execução de interesse fraco
A x B em relação X. C tem uma relação Y com B, que não é a relação discutida, mas é conexa com ela. C diz
ao juiz que a solução de X afetará a relação Y.
Ex. ação de despejo em que A quer despejar B. C é o sublocatário e quer ajudar B, pois se este perder C
sofre reflexamente. C pode intervir por interesse reflexo (fraco).
Ex.2 – A x União – ação de responsabilidade civil. C é o funcionário que praticou o ato e, temendo ação de
regresso, que será conexa, intervém por interesse reflexo, discutindo na ação de responsabilidade algo que
não lhe diz respeito. O interesse nesse nível gera a assistência simples. A assistência simples decorre de
interesse reflexo/mediato. O assistente simples não é litisconsorte do assistido, mas seu auxiliar (existe o
assistente litisconsorcial). O assistente fica subordinado à vontade do assistido e nada poderá fazer contra
acordo, renúncia, transigência, desistência que o assistido fizer na ação.
O assistente simples é um legitimado extraordinário subordinado. Sua atuação fica na dependência
(subordinada) ao comportamento do assistido. O assistente litisconsorcial, como litisconsorte que é,
submete-se à coisa julgada. E o assistente simples? O assistente simples não se submete à coisa julgada,
mas se submete a outra espécie de eficácia preclusiva, em um sentido mais forte do que a coisa
julgada, e em outro, mais fraco. É a eficácia da intervenção; eficácia preclusiva da intervenção; submissão
à justiça da decisão.
A eficácia da intervenção submete o assistente aos fundamentos da decisão contra o assistido, ou seja, ele
fica vinculado aos fundamentos da decisão. Tudo que ficar decidido vincula o assistente e este não pode mais
discutir os fundamentos da decisão. Exemplo do caso do sublocatário: imagine que a ação de despejo tivesse
como fundamento o fato de B ter transformado o imóvel em prostíbulo. Se o juiz decidir com base nisso, tais
fundamentos vinculam o assistente que interveio. Isso é mais forte do que a coisa julgada porque esta não
atinge a fundamentação, mas só o dispositivo.
Em que sentido a eficácia da intervenção é menos rigorosa do que a coisa julgada?
A coisa julgada só pode ser quebrada em ação rescisória. E para superar a eficácia da intervenção é mais
fácil (ver art. 55 do CPC):
Art. 55. Transitada em julgado a sentença, na causa em que interveio o assistente, este não poderá, em
processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que: I - pelo estado em que recebera
o processo, ou pelas declarações e atos do assistido, fora impedido de produzir provas suscetíveis de influir
na sentença; II - desconhecia a existência de alegações ou de provas, de que o assistido, por dolo ou culpa,
não se valeu.
Esses dois casos (CPC 55 I e II) de intervenção são chamados exceptio male gestio processus (defesa de má
gestão do processo) – permitem que o assistente escape da eficácia da intervenção de terceiros.
Ver editorial (de março 2008) do site do professor – STF julga caso de assistência simples: uma indústria de
tabaco de SP entrou com ação questionando a constitucionalidade de um Decreto de SP. Chegou ao STF
para analisar o Decreto. Veio o sindicato das empresas de tabaco e pediu para intervir como assistente da
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empresa de tabaco, sob argumento de que aquele caso poderia gerar um precedente do STF que servirá de
base para todos os outros casos de outras empresas e tabaco, o sindicato pediu para ajudar a empresa para
a formação desse precedente. O sindicato não tem interesse direto nem reflexo na decisão. O interesse
reflexo é da categoria de empresas de tabaco. O STF admitiu a intervenção do sindicato como legitimado
coletivo nessa ação individual (é uma intervenção de assistente simples de um legitimado coletivo em uma
ação individual, para a formação de um precedente). É uma nova visão da assistência simples.
-----fim de assistência------

1.2 Intervenções especiais dos entes públicos (Lei 9469/97)


Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés, autarquias, fundações
públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas federais.
Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexos,
ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da demonstração de interesse
jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados
úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de deslocamento de
competência, serão consideradas partes.
A intervenção do caput é uma intervenção espontânea, a qualquer tempo, em qualquer dos pólos, sem
agregar pedido novo. Mas somente a União pode se valer dela. Dispensa a demonstração de interesse
jurídico quanto houver interesse de entidade autárquica, empresa pública e sociedade de economia mista.
A intervenção do Parágrafo Único, com as mesmas características da do caput (a qualquer tempo, em
qualquer dos pólos, sem agregar pedido novo). Enquanto a intervenção do caput é só para a União, a do p.ú.
é para qualquer pessoa jurídica de direito público – “em qualquer processo”, mas requer demonstração de
interesse econômico na causa. É caso de intervenção espontânea por interesse econômico (diferente da
União que não precisa demonstrar qualquer interesse).
A PJDP pede para intervir para prestar informações ao juiz, juntar memoriais, esclarecer situações de fato
sobre o assunto em discussão. Essa característica faz com que tal intervenção (5º p.u.) seja tratada por
muitos como intervenção de amicus curiae.
-----fim de intervenções especiais-----

1.3 Alienação da coisa ou do direito litigioso


A litiga com B pela coisa X. Pergunta: B pode vender a coisa litigiosa X para C. Resposta: pode. É possível
vender a coisa ou direito litigioso e assim deve ser, caso contrário nenhuma empresa em dificuldade poderia
ser vendida. O fato de ser a coisa litigiosa não a exclui do comércio. O que se deve saber é como esse
fenômeno repercute no litígio.
C nesse caso é o adquirente ou cessionário da coisa ou direito litigioso. B é o alienante ou cedente. E A é o
adversário comum de B e de C.
1.3.1 Impactos dessa transferência no processo
I – B (alienante ou cedente) não perde a legitimidade ad causam (significa dizer que o processo continuará a
correr contra B).
II – C (adquirente ou cessionário) pode interferir no processo? Resposta: C tem de poder interferir, porque a
coisa julgada vai lhe atingir.
39

III – C pode pedir para entrar no lugar de B, ou seja, C pode pedir para suceder B. O adquirente pode suceder
o alienante, mas para que isso aconteça A (adversário comum de B e C) tem de consentir na sucessão de B
por C.
IV – Se A não concordar com a sucessão, C pode intervir como assistente de B (mas que tipo de assistência
é essa?). Ele vai intervir para defender direito próprio e não de terceiro. Então é assistente litisconsorcial.
Nesse caso, B ficará no processo (pois A não consentiu na substituição) defendendo em nome próprio direito
alheio (de C), como legitimado extraordinário superveniente (ele se torna legitimado extraordinário).
V – Se A consentir na sucessão: B sai do processo, pois C entrou em seu lugar. Ainda assim B poderá ser
assistente de C (assistência simples), pois se C perder B terá que indenizá-lo. Sucessão processual,
legitimação extraordinária (superveniente pq ele não era, se tornou depois que a coisa foi vendida),
assistência litisconsorcial e assistência simples (CPC 42).
Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato entre vivos, não altera a
legitimidade das partes.
§ 1º O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar em juízo, substituindo o alienante, ou o cedente,
sem que o consinta a parte contrária.
§ 2º O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto, intervir no processo, assistindo o alienante ou o
cedente. (assistência litisconsorcial)
§ 3º A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao adquirente ou ao
cessionário.
Se a coisa litigiosa for um imóvel cabe ao autor da ação (A) averbar na matrícula do imóvel a pendência da
ação (isso está na LRP), sob pena de arcar com as conseqüências. Essa regra visa a dar publicidade do
litígio envolvendo o imóvel, para que terceiro que o adquira saiba da pendência a fim de que se submeta à
decisão que venha a ser proferida no processo.

1.4 Oposição
É a intervenção pela qual o terceiro entra no processo pleiteando a coisa disputada. A e B estão se afirmando
donos da coisa e C entra no processo opondo-se a ambos, dizendo-se dono da coisa disputada.
C é o opoente. A e B são os opostos. A oposição traz ao processo um pedido novo (o processo passa a ter
mais um pedido) e nisso difere da assistência, que não acrescenta pedido ao processo. O processo passa a
ter a seguinte configuração: A contra B e C contra A e B. A demanda 1 é de A x B; a demanda 2 é a demanda
de C x A e B. Na sentença o juiz terá de julgar ambas as demandas. Na sentença qual será a demanda a ser
examinada primeiro? É a oposição, pois se esta resultar de que a coisa disputada é de C então não é de A
nem de B
A oposição gera um litisconsórcio ulterior (superveniente) entre A e B, passivo, necessário e simples (por que
é simples? Porque A pode sair do pólo e a demanda ficar entre C e A).
Normalmente o litisconsórcio gera a dobra do prazo, mas na oposição o prazo é comum de 15 dias, ou seja,
sem dobra.
Os opostos serão citados nas pessoas de seus advogados.
40

1.5 Classificação da oposição


O CPC divide o processo em 3 momentos para analisar a oposição. 1º vai até a audiência de instrução; um 2º
vai até de entre a audiência e a sentença, e o terceiro momento depois da sentença. Para o CPC não cabe
oposição depois da sentença (se o processo já foi sentenciado não cabe mais oposição).
 Se a oposição for oferecida até o início da audiência ela é espécie de intervenção de terceiro (OPOSIÇÃO
INTERVENTIVA) regulada pelo art. 59 do CPC. Nesse caso é um incidente no processo (as intervenções de
terceiros são incidentes processuais).
 Se oferecida entre a audiência e a sentença (momento 2) é regulada pelo CPC 60. Nesse caso recebe o
nome de OPOSIÇÃO AUTÔNOMA e não é intervenção de terceiro, é um processo incidente, um processo
novo gerado por um terceiro (o 3º não se mete em processo alheio, gera um novo).
CPC Art. 60. Oferecida depois de iniciada a audiência, seguirá a oposição o procedimento ordinário, sendo
julgada sem prejuízo da causa principal. Poderá o juiz, todavia, sobrestar no andamento do processo, por
prazo nunca superior a 90 (noventa) dias, a fim de julgá-la conjuntamente com a oposição.
Art. 61. Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação e a oposição, desta conhecerá em primeiro lugar.
Na oposição autônoma o julgamento simultâneo pode acontecer ou não. Não há imposição de julgamento
simultânea como na oposição interventiva. A oposição autônoma é um processo incidente proposto por um
terceiro.
Com isso terminam as intervenções espontâneas. Agora começam as intervenções provocadas.
Nesta aula as 2 mais simples e na próxima aula a denunciação da lide.
============================================================
- DICA GERAL PARA RESOLVER AS LIDES PROVOCADAS POR INTERVENÇAO DE TERCEIRO -
A demanda contra B; B traz ao processo C. Existe uma técnica para se distinguirem as intervenções
provocadas (as mais complexas). Para não confundir faça sempre a pergunta: “O terceiro trazido ao
processo tem relação com o adversário daquele que provocou a sua intervenção”? Ou seja: C tem
relação com A? A resposta para essa pergunta é a chave para se entender a intervenção provocada.
============================================================

1.6 Chamamento ao processo (intervenção provocada)


O chamamento ao processo é uma intervenção de terceiro provocada pelo réu, e é uma faculdade dada ao
réu, ele não é obrigado a fazer isso (é direito dele). O chamamento ao processo cabe nos casos em que o
chamado é devedor solidário do chamante em relação a A. O chamamento ao processo pressupõe
solidariedade.
O chamamento ao processo revela certa incompatibilidade com o direito material, pois este permite que o
credor escolha o devedor com o qual queira demandar, o que é incompatível com o chamamento. Ao trazer
os outros devedores ao processo a sentença valerá contra todos, nesse caso o autor vai poder executar
todos, e aquele que vier pagar a dívida (chamante ou chamado), p.ex., aquele que tiver o bem penhorado, vai
poder voltar-se contra os outros para cobrar os respectivos quinhões. Lado positivo, pois não será necessária
uma ação autônoma interposta por aquele que pagou a divida para cobrar os outros, a sentença se torna um
titulo executivo judicial. Resumindo, o chamamento ao processo é uma convocação ao litisconsórcio passivo
( e também ulterior, facultativo e unitário – se o bem for indivisível – ou simples – quando o bem for divisível).
41

CPC Art. 80. A sentença, que julgar procedente a ação, condenando os devedores, valerá como título
executivo, em favor do que satisfizer a dívida, para exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou de cada um
dos co-devedores a sua quota, na proporção que Ihes tocar.
Pergunta: C tem relação com A? Resposta: sim tem, também (B tem relação com A e C também tem a
mesma relação, por isso é trazido ao processo).
Cabe chamamento ao processo quando B é o fiador, pode chamar C (devedor ou co-fiador). Se B for devedor
poderá chamar C (outro devedor). Mas o devedor não pode chamar ao processo o fiador, salvo se esse fiador
se ponha no contrato como se fosse devedor (aí é devedor chamando devedor), mas se o fiador for simples
(aquele que for apenas responsável), não pode ser chamado pelo devedor. O inverso sim, pois se o fiador
pagar pode voltar-se contra o devedor, mas não o contrário.
Só cabe chamamento ao processo em processo de conhecimento (em execução não). E notem, o
chamamento ao processo transforma o terceiro em litisconsorte passivo, facultativo e ulterior. Mas, simples ou
unitário? Depende: a solidariedade leva à unitariedade? Nem sempre. Só se o bem for indivisível. Ver art. 77.

Quem pode ser chamante? Quem pode ser chamado?


Devedor
Co-fiador
Devedor Devedor

ATENÇAO
DEVEDOR NÃO PODE CHAMAR O FIADOR

1.7 Nomeação à autoria


A nomeação à autoria é uma intervenção provocada pelo réu (até aqui é igual ao chamamento). Mas o réu
tem o dever de nomear à autoria (não é facultativo). De modo que se o caso é de nomeação e réu não
nomeia, este arca com as custas do processo e com as perdas e danos (gera punição).
Nomeação à autoria é indicar o réu legitimo. Então, a nomeação à autoria parte do pressuposto de que o réu
é parte ilegítima do processo, por isso ele nomeia a parte legítima (o réu alega sua ilegitimidade e tem o
dever de apontar a parte legítima). O objetivo da nomeação à autoria é o de corrigir o pólo passivo. É de gerar
uma sucessão processual. Mas o réu não tem de nomear sempre a parte legítima à autoria. O dever de
nomear surge de acordo com previsão legal.
A lei impõe ao réu o dever de nomear à autoria nas situações em que a aparência faça presumir ser a pessoa
o legítimo (exemplo, se A entra com uma ação contra B que aparentemente é o dono do carro. Só que B era
somente o motorista. B tem a obrigação de nomear o verdadeiro dono, ou seja, proceder a nomeação do
correto dono).
Hipóteses de nomeação:.a)nas ações reipersecutórias propostas contra o mero detentor (CPC 62), este tem o
dever de nomear o dono da coisa. b) Também nas ações indenizatórias propostas contra o preposto – longa
manus (CPC 63).

CPC Art. 62. Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe demandada em nome próprio, deverá
nomear à autoria o proprietário ou o possuidor.
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Art. 63. Aplica-se também o disposto no artigo antecedente à ação de indenização, intentada pelo
proprietário ou pelo titular de um direito sobre a coisa, toda vez que o responsável pelos prejuízos alegar que
praticou o ato por ordem, ou em cumprimento de instruções de terceiro.

Se o réu nomeia alguém e o juiz aceita, o nomeante sai do processo. A nomeação à autoria tem por objetivo
gerar a sucessão processual (situação ideal).
Pergunta: C tem relação com A? Tem, e só ele tem (a lógica da nomeação é trazer para o processo a pessoa
que tem relação jurídica com o autor). Lembre-se que a nomeação à autoria só cabe em processo de
conhecimento.
Há uma regra bizarra no CPC de que o nomeado pode se recusar a fazer parte do processo, hipótese em que
o processo segue contra o nomeante e este passa a ser legitimado extraordinário do processo. O nomeante
(B) passará a defender interesse alheio (legitimado extraordinário do nomeado). É um caso de legitimação
extraordinária superveniente.
CPC Art. 66. Se o nomeado (C) reconhecer a qualidade que Ihe é atribuída, contra ele correrá o processo; se
a negar, o processo continuará contra o nomeante.
CC 932 III. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que
lhes competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para
fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.
Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do
dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no
art. 932.
No caso do preposto não se está diante de correção do pólo passivo. Na verdade há chamamento ao
processo e não nomeação. Há ampliação do pólo passivo, em razão da solidariedade, hipótese prevista pelo
Código Civil.
Próxima aula: denunciação da lide e começa petição inicial.
-------perguntas-------
O chamamento não pode ser no processo de execução porque há necessidade de uma sentença
condenatória, só possível no processo de conhecimento.

AULA – 10.11.08
V – Fatos e fundamentos jurídicos do pedido: constituem a causa de pedir (ver ponto).

VI – Pedido:
43

VII – Requerimentos obrigatórios: a) pedido de citação do réu; b) requerer a produção de provas (“todos os
meios de prova em direito admitidos” – incabíveis no MS).

VIII – Documentos indispensáveis à propositura da ação: dividem-se em dois grupos: a) indispensáveis


por força de lei: procuração; título executivo na execução; prova escrita na ação monitória; b) indispensáveis
porque o autor os tornou indispensáveis (ao fazer referência a eles na petição inicial – se não estiverem na
posse do autor, este pode requerer exibição de documentos a quem os tenha).

IX – Atribuição de valor à causa: toda causa tem um valor que deve constar da petição inicial, e cabe ao
autor informá-lo. Tem múltiplas utilidades: base de cálculo de custas processuais e multas processuais; para
definir competência; para definir procedimento. Obs. a expressão “para fins fiscais” é errada, não pode
constar isso na petição.

a) Valor legal da causa: CPC 259 (Art. 259. O valor da causa constará sempre da petição inicial e será: I
- na ação de cobrança de dívida, a soma do principal, da pena e dos juros vencidos até a propositura da
ação; II - havendo cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles; III
- sendo alternativos os pedidos, o de maior valor; IV - se houver também pedido subsidiário, o valor do pedido
principal; V - quando o litígio tiver por objeto a existência, validade, cumprimento, modificação ou rescisão de
negócio jurídico, o valor do contrato; VI - na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações mensais,
pedidas pelo autor; VII - na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, a estimativa oficial para
lançamento do imposto).

b) Valor atribuído pelo autor. Quando a causa não se encaixa em nenhuma das hipóteses do CPC 259,
cabe ao autor estipular um valor para a causa, p.ex., danos morais: o valor da causa será o valor pedido. A
atribuição de valor à causa pode ser controlada ex officio ou por provocação do réu. Se o réu quiser se voltar
contra o valor atribuído à causa pelo autor terá que instaurar o incidente de impugnação ao valor da causa, o
qual recebe autos apartados. Esse incidente processual será resolvido por decisão interlocutória impugnável
por agravo de instrumento.
Impugnação do valor da causa x impugnação do pedido. O réu pode impugnar o valor da causa se este
estiver em desacordo com as regras processuais (CPC 259), mas não porque o valor é muito alto, uma vez
que o valor deverá ser o do pedido. Se o valor está fora da realidade, não é causa de impugnação do valor da
causa, mas de impugnação do pedido. Tratando-se de valor legal (CPC 259), o controle deverá ser feito com
base neste. Se o valor for atribuído pelo autor o critério é o da razoabilidade.

* Emenda à petição inicial


O juiz não pode rejeitar a petição inicial por um defeito dela, sem que antes dê ao autor a oportunidade de
consertá-la (a emende). Existe, portanto, um direito à emenda. Seu prazo é de 10 dias (art. 284, CPC).
Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283, ou
que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o
autor a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.
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*Alterar a petição inicial


É trocar elementos dela. Esta pode ser subjetiva, ou seja, o autor pode pedir para trocar/substituir o réu.
Sendo permitido ocorrer até a citação.
Também há a alteração objetiva da Petição Inicial, sendo aquela onde se troca o pedido ou a causa de pedir.

-----------------------------/--------------(3)------------------/------------------------
Até a citação (1) Até o saneamento (2)
(1) o autor pode alterar sem problemas;
(2) O autor não pode alterar;
(3) O autor só pode altera se tiver a anuência da outra parte (art. 264,CPC).
Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir, sem o consentimento do
réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por lei.(Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
Observaçao
Essa opção do Código é muito criticada, pois deu rigidez ao sistema.

* Aditamento da Petição Inicial


É agregar pedido novo, e só é possível até a citação (art.294, CPC).
Art. 294. Antes da citação, o autor poderá aditar o pedido, correndo à sua conta as custas acrescidas em
razão dessa iniciativa. (Redação dada pela Lei nº 8.718, de 14.10.1993)

* Redução da Petição Inicial


É a retirada de algum pedido da petição Inicial. Pode ocorre de várias maneiras. Quais sejam:
a) pela desistência parcial – o autor desiste de um dos pedidos;
b) pela renuncia parcial;
c) pela transação parcial;

* Indeferimento da petição inicial


É uma decisão que não admite a petição inicial e SEMPRE ocorre antes mesmo de o réu ser citado. Portanto,
será o indeferimento SEMPRE uma decisão liminar, ou seja, proferida no inicio do processo.
É um tipo de extinção do processo, peculiar.
Conseqüência, não haverá condenação ao pagamento de honorários advocatícios.
Da sentença que indefere a PI, cabe apelação e esta, excepcionalmente, permite juízo de retratação (permite
que o juiz se desdiga, que volte atrás), revogando, assim, a decisão. Caso o juiz não se retrate, a apelação
subirá ao tribunal sem ouvir o réu.
Se a apelação for provida, desce, para que o réu seja citado.
O indeferimento pode ser:
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a) total – o juiz indefere toda a PI (recurso cabível: apelação);


b) parcial – o juiz aceita uma parte da PI e rejeita outra. Desta forma, o processo não se encerra, prossegue
em relação a parte que foi deferida. O recurso cabível é o Agravo de Instrumento, já que o provimento foi
parcial.

Se o indeferimento da PI for em Tribunal, será uma decisão monocrática do relator (impugnável por
AgRg) ou o indeferimento será um acórdão (impugnável por um dos recursos contra acórdãos).
NUNCA caberá apelação.

O indeferimento da PI gera uma decisão sem exame do mérito.

- CASOS DE INDEFERIMENTO DA PETIÇAO INICIAL COM ANÁLISE DO MÉRITO.

Há hipóteses especiais do indeferimento da petição especial com análise do mérito.


- aqui o mérito será julgado sem que o réu tenha sido citado;
- a decisão é apta a coisa julgada material
- é uma decisão definitiva;
- chama-se de julgamento antecipadissimo da lide. O prof. Freddie chama de improcedência ’PRIMA FACIE’.

Hipóteses:
a) Indeferimento por prescrição ou decadência – é preciso que, nessa hipótese, o
juiz possa conhecer de oficio da prescrição (O juiz pode conhecer de oficio a prescrição em favor de
absolutamente incapaz e segundo o art. 219, parágrafo 5 – qualquer prescrição poderá ser conhecida de
oficio) e decadência (só se for da decadência legal).

Para Câmara fere a autonomia privada o reconhecimento de oficio da prescrição.


E segundo o prof. Freddie só será possível se for relativo a direito indisponível.

- Parágrafo 6 do art. 219, CPC - § 6o Passada em julgado a sentença, a que se refere o parágrafo anterior, o
escrivão comunicará ao réu o resultado do julgamento.

ATENÇÃO
O art. 267,inciso I, CPC - Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: I - quando o juiz
indeferir a petição inicial;
Art. 295, inciso IV - Art. 295. A petição inicial será indeferida: IV - quando o juiz verificar, desde logo, a
decadência ou a prescrição (art. 219, § 5o);  
Art. 269. Haverá resolução de mérito: IV - quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição.
EXPLIQUE O CONFLITO ENTRE OS 3 DISPOSITIVOS.
Indeferimento com prescrição e decadência é com exame de mérito, apesar da contradição.
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b) Art. 285, a, CPC – improcedência nas causas repetitivas(daquelas que dispensam


de produção de provas em audiência e for daquelas em que o juiz já reconheceu pela improcedência. O juiz
fica dispensado de citar o réu, já que a decisão é favorável a ele, não há violação do contraditório). A
apelação contra esta sentença também permite juízo de retratação, e se o juiz não se retratar a apelação
subirá COM contra-razões, fazendo às vezes de contestação (para que se for o caso, o tribunal possa
reverter a sentença).
Para MARINONI o art. em comento só poderá ser aplicado se o pensamento do juiz estiver em
conformidade com o pensamento do Tribunal.

- CASOS DE INDEFERIMENTO DA PETIÇAO INICIAL SEM A RESOLUÇAO DE MÉRITO


a) inépcia da petição inicial (parágrafo único do art. 295, CPC) – é apenas um dos possíveis defeitos da PI.
Relaciona-se com o pedido ou a causa de pedir.

Casos: Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando:  (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)

I - Ihe faltar pedido ou causa de pedir; – a doutrina também diz que se aplica quando o pedido ou a
causa de pedir forem obscuros.

II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; - quando o pedido não tem nada a ver
com o decorrer dos fatos.

III - o pedido for juridicamente impossível;

IV - contiver pedidos incompatíveis entre si. – é a chamada de petição suicida, aquela que contém
pedidos incompatíveis entre si.

ATENÇAO
Art. 50, da lei 10.931/2004 – se um sujeito é devedor de um financiamento imobiliário e quer revisar
este financiamento ele tem que dizer quanto acha que deve, caso não o faça a petição será
considerada inepta.

b) Falta de interesse de agir;

c) Ilegitimidade ad causam;

d) Erro na escolha do procedimento - Se o juiz puder corrigir não deve gerar o indeferimento (art. 295, V -
quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não corresponder à natureza da causa, ou ao valor da
ação; caso em que só não será indeferida, se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal).

PEDIDO
- Diz qual é o objetivo do processo;
- e o nucleo da PI;
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- Pode ser dividido em 2:


1. pedido imediato – que é um pedido de decisão, um pedido para que o juiz decida;
2. pedido mediato – é o resultado pratico que eu busco alcançar com o processo.
- Requisitos do pedido:
i. o pedido tem que ser certo – ART. 293, CPC - ele tem que ser expresso, constar expressamente na PI. É
por isso que a interpretação do pedido é restritiva. Não se admite, portanto, pedido implícito (aquele que se
reputa formulado qndo não foi).

Os pedidos são interpretados restritivamente, compreendendo-se, entretanto, no principal os juros legais.

ATENÇÁO
Há, porém, casos de pedido implícito admitidos: a) juros legais e correção monetária; b) condenação
ao pagamento das verbas de sucumbência; c) quando eu vou à juízo pedir obrigação de prestação
periódica (aqui, as prestações vincendas elas se reputam incluídas no pedido) – art. 290, CPC; d)
alimentos provisórios.

ii. determinação – o pedido tem que ser liquido, determinado, delimitado em relação ao que e ao quantum.

ATENÇÁO
Há, porém, casos em que se admite pedido genérico (indeterminado) em relação ao quantum (art.
286):
Art. 286. O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular pedido genérico:  
I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens demandados;  

II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do ato ou do fato ilícito;  - nas
ações indenizatórias quando não se puder determinar a extensão do dano.

III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu. - ex:
prestação de contas, pois eu preciso que o réu me preste contas para eu saber o valor o meu pedido.

iii. clareza – um pedido obscuro gera inépcia.


iv. coerência– ou concludente - o pedido tem que ser resultado da causa de pedir.

ATENÇÁO
A sentença também deve ter os 4 requisitos comentados acima (o pedido é um projeto de conclusão da
sentença).

- Cumulação de pedido
- Pode se subdividir em:
a) cumulação inicial – quando o processo já nasce com a cumulação;
b) cumulação superveniente – quando a cumulação ocorre com o processo em andamento. Ex: a
reconvenção e a ação declaratória incidental.
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- Pode também ser classificada em cumulação:


a)homogênea – quando os pedidos são formulados pela mesma parte;
b) heterogênea – é aquela que provém de partes distintas (ex: reconvenção).

- Ainda pode também ser classificada a cumulação em:


a) própria (E) – formulam-se vários pedidos para que todos sejam acolhidos;
Esta se subdivide em 2:
a.1 – simples – o acolhimento de um pedido não depende do acolhimento do outro. Ex: danos morais E danos
patrimoniais.

a.2 – sucessiva – o acolhimento de um pedido depende do acolhimento do outro. Ex: investigação de


paternidade e alimentos.

b) imprópria (OU) – vários pedidos são formulados, mas só um pode ser acolhido.
Esta se subdivide em 2:
a.1 – eventual ou subsidiária – há uma hierarquia entre os pedidos formulados. O juiz só examina o segundo
pedido, se negar o primeiro. Caso o juiz passe para o segundo pedido sem analisar o primeiro, a sentença é
nula. E o autor poderá recorrer (apelar) se o seu segundo pedido for analisado antes do primeiro. Art. 289.

Art. 289. É lícito formular mais de um pedido em ordem sucessiva, a fim de que o juiz conheça do posterior,
em não podendo acolher o anterior.

a.2 – alternativa – não se estabelece hierarquia. Ele aceita qualquer dos pedidos. Entende-se que ela é
permitida pela existência de seu oposto, qual seja, a previsão expressa da cumulação eventual.

OBSERVAÇAO

PEDIDO ALTERNATIVO CUMULAÇAO ALTERNATIVO


Refere-se a uma obrigação alternativa. Aqui tem-se mais de um pedido, mas só um poderá ser
Existe mais de uma prestaçao possível acolhido.
para acabar com a
obrigação.
O pedido alternativo é ÚNICO e está previsto no art. 288,

(1) ------------< >------------(2)


Qual delas corresponde ao pedido alternativo? (1)
E a cumulação de pedidos? (2)
AULA – 17.11
49

1.7.1 Cumulação sucessiva

1.7.2 Cumulação eventual

1.7.3 Cumulação alternativa

Essas três cumulações poderão gerar litisconsórcios: litisconsórcio sucessivo, eventual e alternativo. Ex. mãe
e filho ingressam em litisconsórcio em face do pai (filho pede investigação de paternidade; a mãe pede
reembolso de despesas do parto). O pedido da mãe só será atendido se o pedido do filho for acolhido  É o
litisconsórcio sucessivo.
Litisconsórcio eventual: ex. denunciação da lide feita pelo autor. O 2º pedido só pode ser acolhido se o 1º
for rejeitado.
Litisconsórcio alternativo: ex. devedor está em dúvida quanto a quem seja o credor; pede ao juiz para
consignar o valor para “A” ou para “B”  há um pedido contra cada réu, mas só um será acolhido (em favor
de um credor).

1.7.4 Requisitos para cumulação de pedidos

I – Competência: é preciso que o juízo tenha competência para todos os pedidos cumulados.
II – Identidade de procedimentos: é preciso que os pedidos cumulados tramitem sob mesmo procedimento.
Se a cada um dos pedidos corresponder procedimento diverso a cumulação será admitida desde que se opte
pelo rito ordinário.
III – Compatibilidade dos pedidos: os pedidos cumulados hão de ser compatíveis entre si. Obs. esse
requisito (da compatibilidade) só se aplica à cumulação própria (a cumulação imprópria não exige
compatibilidade – já que apenas um será acolhido).
2. Resposta do réu
2.1 Teoria da exceção
Assim como a palavra “ação” remete ao autor, a palavra “exceção” remete ao réu. Há três sentidos da palavra
exceção simétricos aos da ação. A palavra exceção tem um sentido constitucional, que é o direito de defesa.
Exceção em sentido processual é tudo que o réu alega em sua defesa. Assim como a ação é direito de
demanda do autor, exceção é a defesa do réu.
Exceção em sentido material significa exceção substancial, e consiste em um direito. É um direito utilizado
como defesa ao ataque. A exceção substancial é um direito contradireito.
Quem exerce uma exceção substancial não nega o direito do autor, mas pressupõe-no para combatê-lo
(neutralizá-lo).

2.1.1 Exemplos de exceções substanciais

Exceção de contrato não cumprido: o réu não ignora o direito do autor, apenas exige que este cumpra sua
obrigação para ter direito à contraprestação.
Prescrição: direito de não pagar um crédito prescrito.
Compensação: é um contracrédito. Para muitos autores se trata de exceção substancial. O CC 190 fala da
prescrição da exceção substancial. Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.

 Classificação das defesas


50

a) Defesa de admissibilidade e Defesa de mérito


Defesa de admissibilidade Defesa de mérito
- são defesas que questionam a regularidade- do
é processo;
aquela que tem por objetivo, impedir o acolhimento do
- O réu questiona a possibilidade de um pedido ser examinado
pelo juiz; - Exemplo: pagamento, decadência, nulidade do negocio e todas
- Exemplos: incompetência, conexão, carência
as de
exceções
ação;... substanciais (exceção de contrato não-cumprido,
retenção, prescrição...).

b) Defesa direta e defesa indireta


Defesa direta defesa indireta
-é aquela em que o réu não acrescenta-onada
réu agrega
de novoao processo
ao fato novo;
processo. - o ônus da prova do fato novo é do réu;
- Há defesa direta quando o réu nega todos toda
os fatos
exceção
afirmados
substancial é defesa indireta de mérito.
pelo autor; toda defesa de admissibilidade é indireta;
- há também quando o réu reconhece que os fatos do autor
ocorreram só que o ele nega as conseqüências jurídicas
pretendidas pelo autor – chamada de CONFISSÃO
QUALIFICADA;
- Aqui o ônus da prova cabe ao autor;
- Não há direito de réplica;
toda defesa direta é de mérito.

Toda defesa de mérito é direta? R NÃO. Há defesa de mérito que é indireta, como as exceções
substanciais.
Toda defesa indireta é de admissibilidade? R não pq existe defesa indireta de mérito.
ATENÇAO
CONFISSAO COMPLEXA – O réu reconhece os fatos do autor, mas traz fatos novos que interferem
naquilo que o autor pretende. Fala-se, aqui, que ela é DIVISÍVEL (ou cindível), pois o juiz poderá
aceitar apenas uma parte dessa confissão.
Portanto, a confissão é, em regra, indivisível. Só será divisível se for complexa.
Art. 354, CPC

Art. 354. A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a parte, que a quiser invocar como prova, aceitá-la
no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que Ihe for desfavorável. Cindir-se-á, todavia, quando o confitente
Ihe aduzir fatos novos, suscetíveis de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção.

c) Objeções e Exceções
Objeções Exceções
- é a defesa que o juiz pode conhecer de ofício.
- neste sentido estrito, são as defesas que o juiz não pode
- exemplo: decadência legal, carência de ação,
conhecer
pagamento...
de oficio;
51

-exemplo: incompetência relativa e o compromisso arbitral.

d) Peremptórias e Dilatórias
Peremptórias Dilatórias
- exemplos: prescrição, pagamento, carência
- é a defesa
dequeação,
visa apenas retardar o que o autor pretende; ela
decadência... dilata no tempo a pretensão do autor.
- É a defesa que visa aniquilar com o que o autor
- exemplo:
pretende;
alegação de incompetência, de exceção de contrato
não cumprido....

EXISTE DEFESA DILATORIA DE MERITO? R Sim. Ex : exceção de contrtao não-cumprido, direito de


retenção.

CONTESTAÇÃO
1. Conceito
- É o instrumento da defesa.
2. Estrutura
- Princípio da concentração da defesa ou eventualidade = A contestação deve conter toda a defesa do
réu. O réu deve formular as suas defesas para a eventualidade que passar na cabeça do juiz, meramente
com fins ilustrativos, argumentativos.
Mitigações deste princípio – 1) existem defesas que devem ser alegadas fora da contestação, por imposição
legal. Ex: incompetência relativa, impedimento e suspeição; 2) existem defesas que poderão ser alegadas
depois da contestação. Ex: defesas decorrentes de fatos supervenientes a contestação; as objeções, pois se
elas podem ser conhecidas de oficio pelo juiz, poderão, portanto, ser alegadas a qualquer tempo; e aquelas
matérias autorizadas por lei a serem alegadas a qualquer tempo, como p.ex: a decadência convencional.
Art. 303, CPC
Art. 303. Depois da contestação, só é lícito deduzir novas alegações quando:
I - relativas a direito superveniente;
II - competir ao juiz conhecer delas de ofício;
III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer tempo e juízo.

- Ônus da impugnação especificada (art. 302, CPC) = O réu tem o ônus de impugnar cada um dos fatos
alegados pelo autor, especificadamente. Sob pena de reputarem-se verdadeiros os fatos não-impugnados.
Ou seja, não se admite contestação genérica.
Mitigaçoes - 1) alguns sujeitos estão dispensados deste ônus. É o caso do curador especial, advogado dativo
e MP. Grande parte da doutrina diz que a fazenda pública está dispensada deste ônus; 2) Alguns fatos não
podem ser provados pela simples não-impugnação do réu, ou seja, não dispensa a produção de provas. Ex:
fatos que não podem ser confessados (relacionado a direito indisponivel é fato que não pode ser confessado),
os fatos que só se provam por instrumento (no caso do testamento), ou quando o fato não-impugnado estiver
em contraste com o restante da defesa do réu.
Art. 302, CPC
Art. 302. Cabe também ao réu manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na petição inicial.
Presumem-se verdadeiros os fatos não impugnados, salvo:
I - se não for admissível, a seu respeito, a confissão;
52

II - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar da substância do
ato;
III - se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.
Parágrafo único. Esta regra, quanto ao ônus da impugnação especificada dos fatos, não se aplica ao
advogado dativo, ao curador especial e ao órgão do Ministério Público.

REVELIA
* Conceito
É a não apresentação tempestiva da contestação.
É, portanto, um fato que tem conseqüência jurídica.
* Efeitos processuais da revelia
a) Confissão ficta x revelia
A primeira É um dos efeitos da revelia
b) prosseguimento do processo sem a intimação do réu revel.
c) preclusão da possibilidade de apresentar algumas defesas;
d) possibilidade de julgamento antecipado da lide (efeito mediato da revelia). Entretanto, só ocorrerá se
houver a confissão ficta.

* As mitigações da revelia configuram o sistema de proteção do réu revel


São eles:
1 – revelia não significa vitória do autor. Não é pq o réu é revel que os fatos são procedentes;
2 – existem defesas que poderão ser alegadas depois do momento da contestação (art. 303);
3- o réu revel poderá intervir no processo a qualquer momento, e a partir desse momento ele deverá ser
intimado de todos os atos;
4 – réu revel que tenha advogado nos autos tem o direito de ser intimado;
5- a confissão ficta não é um efeito automático da revelia. Só haverá confissão ficta decorrente da revelia se o
contrário não resultar das provas dos autos;
6- Havendo revelia o autor só poderá o pedido ou a causa de pedir se promover nova citação (art. 321).
7- Sentença proferida contra réu revel, não citado ou citado invalidamente, pode ser impugnada a qualquer
tempo, por meio da chamada Querela nullitatis.
8- Réu revel citado por edital ou por hora certa, tem direito a curador especial;
9- O assistente simples pode contestar pelo assistido revel (art. 52, parágrafo único);
10- Havendo pluralidade de réus (litisconsórcio passivo), se algum deles contestar, aproveita ao réu revel
(isto, claro, no litisconsórcio unitário) – art. 320, I; Agora se o litisconsórcio for simples, a contestar de um
servirá ao outro no que tange aos fatos comuns.
11- Se o litígio versa sobre direitos indisponíveis, não caberá confissão ficta, já que não cabe confissão
expressa;
12- Se a petição inicial não estiver acompanhado a instrumento público, que a lei considere indispensável à
prova do ato, ou seja, a revelia não supri a falta do instrumento.
EXCEÇÕES INSTRUMENTAIS

1. Conceito
São alegações feitas as quais serão processadas em autos apartados.
53

São incidentes processuais.

2. Tipos
Exceção de suspeição
Exceção de incompetência relativa e
Exceção de impedimento
- o réu pode entrar em seu domicilio, ainda
- O
quecódigo
a causa
coloca
estejacomo resposta do réu, embora o autor possa
sendo processada em outro Estado; alegar (excipientes).
- Prazo: 15 dias, a partir da citação, sob pena
- Critica:
de preclusão.
se não é privativo do réu, não é propriamente uma
- Fazenda Pública: há um entendimento de
exceção.
que o prazo
É maisé adequado
em falar em argüição de suspeição.
quádruplo (60 dias). - Excepto: é sempre o suepito (juiz, perito, órgão jurisdicional,
- Objetivo – remeter os autos ao juízo competente;
promotor, escrivão...);
- Não gera nulidade dos atos decisórios; - Quando for alegado contra perito, escrivão e promotor, ou seja,
contra aquele que não é juiz, essa exceção NÃO suspende o
processo. Quem julga é o próprio juiz da causa, em decisão
interlocutória, impugnável por AI.
- Quando for dirigido ao órgão jurisdicional – neste caso, quem
julgará será SEMPRE um tribunal, através de um acórdão,
impugnável por RE ou Resp, conforme o caso.
- Suspeição da maioria absoluta (ou o tribunal inteiro) do Tribunal –
é o STF que diz que o tribunal é suspeito e que julga a suspeição.
- Suspeição de alguns ministros do STF – se este número
inviabilizar quórum de votação, serão chamados ministros do STJ.
- O advogado para alegar suspeição precisa ter poderes especiais
no instrumento procuratório? Não. Basta ter poderes gerais.
- Conseqüências: i- remetem-se os autos ao órgão substituto;
atos são anulados; iii- o juiz que não aceitou a suspeição, e que
depois foi reconhecida, ele arcará com as conseqüências pelo
retardamento processual (art. 314); iiii- produz efeitos externos;
- Prazo: 15 dias, contados da data do fato. Não serve para nada este
prazo, pois não há preclusão, já que poderá ser alegado a qualquer

Excipiente – aquele que alega a exceção. Sempre o réu. É o juiz da causa (numa decisão interlocutória,
impugnável por AI);
Excepto/exceto – aquele a quem se alega. Sempre o autor.

RECONVENÇÃO

1. Conceito
É resposta do réu, mas não é defesa. É um ataque (uma ação do réu) contra o autor no mesmo processo.
2. Considerações
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- A reconvenção não gera processo novo;


- É uma ação nova em processo que está em curso;
- Amplia objetivamente o processo;
- É um incidente do processo;
- Se o juiz indeferir a petição inicial da reconvenção, será uma decisão interlocutória, portanto, impugnável por
AI;
- O réu reconveio, é o correto.
- O réu que reconvem é o réu reconvinte. E o autor será chamado de reconvindo;
- Cabe reconvenção da reconvenção.
- O autor não precisa ser citado pessoalmente, poderá ser por diário ou na pessoa do seu advogado.
- Não se aplica ao autor revel da reconvenção que o processo vai seguir sem a sua citação.
- Não haverá, portanto, confissão ficta em relação a fotos já alegados pelo autor, anteriormente. Só haverá
confissão ficta do autor, na reconvenção, quanto a fatos novos;
- Prazo: é igual ao da contestação. Ente púbico, prazo em quádruplo.
- O réu deverá contestar e reconvir ao mesmo tempo, sob pena de preclusão consumativa;
- Reconvenção tem custas? Na JF há determinação legal dispensando as custas. Na JE varia conforme a lei
estadual.

AULA – 19.11
2.2 Requisitos da reconvenção
a) A reconvenção exige que o juízo da causa seja também competente para ela
b) A reconvenção tem de tramitar pelo mesmo procedimento da ação principal
Cabe reconvenção em procedimento especial?
Se, com a defesa, o procedimento especial se transforma em ordinário, cabe a reconvenção. É por isso que
cabe reconvenção em ação monitória (Súmula 292 do STJ: A reconvenção é cabível na ação monitória,
após a conversão do procedimento em ordinário).
Cabe reconvenção nos juizados especiais?
Não, mas cabe pedido contraposto. Do ponto de vista substancial não há diferença entre a reconvenção e o
pedido contraposto. Este é, substancialmente, uma demanda do réu contra o autor. A diferença entre o
pedido contraposto e a reconvenção é formal. O pedido contraposto é mais singelo do que a reconvenção, o
que significa dizer que é formulado na própria contestação e, além disso, fica limitado aos fatos deduzidos
pelo autor (o réu não pode, em pedido contraposto, trazer fato novo ao processo).
No procedimento sumário também não se admite reconvenção, embora não haja regra expressa nesse
sentido. O entendimento é doutrinário. Mas cabe pedido contraposto no procedimento sumário, e isso foi
interpretado como vedação à reconvenção.
c) A reconvenção tem de ser conexa com a ação principal ou com os fundamentos de defesa
A conexão é um pressuposto da reconvenção. Essa conexão não é a conexão estudada em competência.
Conexão para fins de reconvenção não é a conexão para fins de competência, mas simplesmente um “ter a
ver” com a ação principal ou com os fundamentos de defesa.
A reconvenção pode ampliar subjetivamente o processo?
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Sim, a reconvenção pode ampliar subjetivamente desde que seja proposta contra o autor e um terceiro, em
litisconsórcio necessário. Esse terceiro, trazido pela reconvenção, é sujeito novo, ampliando subjetivamente o
processo.
Se o autor é substituto processual, pode o réu reconvir? Ex. “A”, substituindo “C” propõe ação contra “B”.
Sim, desde que B (que é o réu) reconvenha contra C (substituído), e A (que é o autor) responda por C, como
seu legitimado extraordinário. Havendo reconvenção, A (substituto processual ativo) deve continuar sendo
substituto processual passivo na reconvenção.
Ver CPC 315 p.u.
2.3 Interesse na reconvenção
A questão é saber quando a reconvenção é necessária, isto é, quando há interesse de agir na reconvenção.
Não cabe reconvenção por falta de interesse quando o que se pretende por ela possa ser alcançado pela
contestação. Exemplos:
1. Cabe reconvenção para pedir improcedência do pedido do autor?
Não, pois o pedido de improcedência pode ser feito na contestação.
2. O autor entra com ação declaratória positiva – declaração da existência de uma relação jurídica.
Cabe reconvenção para pedir a declaração de inexistência da relação jurídica?
Não, pois essa declaração pode ser obtida com a simples defesa. Obs. cabe reconvenção em ação
declaratória, só não cabe para pedir o contrário, mas o reconvinte pode querer condenação. Ver Súmula 258
do STF.
Cabe reconvenção para pedir compensação?
Não, porque a compensação é um “contradireito” e como tal é alegada em defesa, assim não há necessidade
de reconvir para alegar compensação.
Regra: não cabe reconvenção para exercer exceção substancial, pois esta é defesa. O réu pode reconvir para
pedir uma eventual diferença de crédito que resulte da compensação.
3. Na ação de oferta de alimentos – que é ação dúplice em sentido material, não cabe reconvenção,
pois basta o réu se defender para que exerça sua pretensão.

3. Teoria da Prova

3.1.1 Acepções da palavra prova:

I – Prova como fonte de prova: é de onde jorra prova: a) pessoas; b) coisas (documentos etc.); c) fenômenos
(gravidez, hematoma etc);
II – Prova como meio de prova: é o modo pelo qual se extrai prova da fonte e a introduz no processo, p.ex.,
perícia, depoimento, inspeção judicial, juntada de documento. A doutrina cita que “Testemunha é fonte de
prova, enquanto o testemunho é meio de prova”.
Vigora no Brasil o princípio da liberdade ou atipicidade dos meios de prova. Significa que as partes têm o
direito de produzir prova por qualquer meio, previsto ou não em lei – a enumeração legal dos meios de prova
é meramente exemplificativa.
O que são provas atípicas? São os meios de prova atípicos (não previstos em lei). Exemplo de prova atípica:
prova emprestada (não está regulada e é amplamente utilizada). A prova emprestada é a importação de uma
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prova produzida em outro lugar. Em vez de produzir de novo a prova, pede-se a importação (empréstimo) de
prova alhures produzida, com base no princípio da atipicidade dos meios de prova.
Quais são os limites para obtenção de provas: são os meios de prova lícito. Cuja produção não ofende
qualquer regra jurídica. Assim, se a parte tem de invadir o domicílio para obter prova, essa prova terá sido
produzida por meio ilícito. A proibição de prova ilícita é direito fundamental.
A proibição de prova ilícita não é princípio absoluto. Em alguns casos se aceita a prova ilícita se, a partir de
ponderação, isso se revelar a opção mais justa.
III – Prova como resultado (prova como convencimento do juiz): a prova como resultado é o convencimento do
juiz, isto é, o resultado da prova. Prova como resultado é o que se pretende como meio de prova – ou seja,
convencer ao juiz que o que foi dito é verdade.
3.2 Prova e contraditório
A prova não é direito fundamental, mas é conteúdo do contraditório e nesse sentido consiste no direito de
produzir prova; no direito de participar da produção da prova e no direito de manifestar-se sobre a prova
produzida.
3.3 Poder instrutório do juiz
No CPC 130 há previsão do poder do juiz de determinar, de ofício, a produção de provas. É um poder
paralelo ao das partes. O juiz é sujeito ativo em matéria de produção de provas, por isso se diz que, em
matéria de produção de provas o processo brasileiro segue a linha inquisitiva. O sistema é misto. O juiz tem
poder instrutório em qualquer demanda cível. Na doutrina do processo penal é um pouco diferente, pois
vigora o princípio da presunção de inocência (o juiz que determina prova de ofício no processo penal é o juiz
que quer condenar). O poder instrutório é também do tribunal.

3.4 Verdade e processo


Verdade formal é a verdade dos autos, produzida pelas partes. É uma verdade construída pelas partes e que
está no processo. A verdade real é exatamente o que aconteceu. Durante muito tempo acreditou-se que o
processo civil é um processo de verdade formal e o processo penal é processo pautado na verdade real.
No moderno processo brasileiro, tanto no cível quanto no penal, a questão da verdade acha-se superada.
Tanto o penal não se limita à verdade real quanto o cível não se limita à verdade formal.
Hoje o processo não é um instrumento pelo qual se busca a verdade, mas para solucionar o litígio e
estabelecer a paz. A verdade real, de fato, não existe, uma vez que se deu no passado e quem a afirma está
imbuída de um pré-conceito.
“O segredo da verdade consiste em saber que não existem fatos, só existem histórias” (João Ubaldo Ribeiro).

3.5 Sistema de valoração da prova


a) Sistema da convicção livre (ou do livre convencimento) = o órgão jurisdicional
pode valorar a prova livremente, sem nenhuma restrição. Ex: adotado no Tribunal do júri.
b) Sistema da prova legal = o juiz não tem poder nenhum de valorar a prova, essa é
feita pelo legislador. Esse sistema está superado.
c) Sistema do livre convencimento motivado (ADOTADO) ou Persuasão Racional
= as provas não tem um valor previamente definido, mas o juiz se submete a uma série de restrições. Requer
algumas exigências, são elas: i- exigência de motivação; ii- o juiz se vincula tomando como base o
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contraditório; iii- ainda sobrevivem algumas regras legais de prova, as quais são responsáveis pela limitação
no provimento que será dado pelo juiz. Ex: contratos acima de 10 salários mínimos não podem ser provados
só com testemunha (art. 227, CC); iv- o juiz fica limitado pela racionalidade dos seus argumentos; v- o juiz fica
limitado às máximas ou regras da experiência (estas são regras extraídas da observação daquilo que
ordinariamente acontece). Essas regras servem para ajudar o magistrado a preencher os conceitos
indeterminados. As regras da experiência ajdam o juiz a valorar as provas. Auxilia o juiz a fazer as previsões
judiciais (resultados da aplicação das regras de experiência).

OBSERVAÇAO
Regras da experiência X Fatos notórios
FN = o fato notório de fato aconteceu e que em um dado momento histórico para uma dada comunidade é um
fato tido como notório.

O que é indício? R é um fato que se liga a outro fato e que, uma vez provado, autoriza que se presuma que
esse outro fato aconteceu.

O fato foi provado por presunção – NUNCA DIGA ISSO – a presunção não é um meio de prova, ela já é a
conclusão de que o fato aconteceu.

Meios de prova = indícios = é uma prova indireta.

Indicio é objeto e meio de prova.

 Presunção legal
a) Absoluta = é aquela em que o legislador toma o fato como ocorrido e considera
irrelevante discutir sobre sua ocorrência. Para ele o fato ocorreu e pronto. Não admite prova em sentido
contrário; Ex: quem compra imóvel em cuja matricula tenha sido averbada uma penhora, pressupõe que o
sujeito sabe da penhora; há casos em que a lei presume de maneira absoluta a repercussão geral, como no
caso quando a decisão recorrida contrariar súmula ou jurisprudência dominante do STF.
b) Relativa = o legislador aceita prova em sentido contrario. Ex: a presunção de
veracidade da declaração de pobreza.
c)

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