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UMIDIFICAÇÃO E SECAGEM DE GASES


Em uma mistura gás-vapor, entende-se por gás (índice G) o componente que possui maior grau de
superaquecimento em relação ao outro, vapor (índice V), que encontra-se no ponto de condensação. Do
modo geral, a baixas pressões e temperaturas, a mistura apresenta comportamento ideal. O vapor é dito
umidade da mistura. Num grande número de operações, o gás é o ar atmosférico seco e o vapor é água.

1. DEFINIÇÕES

1.1 Umidade ou saturação molar, 𝐘𝐌


nV
YM = (1.1)
nG
p V
( RVT ) pV pV
YM = = ⟹ YM = (1.2)
pG V
( R T ) pG P − pV

1.2 Umidade ou saturação absoluta, 𝐘


mV
Y= (1.3)
mG
nV MV MV
Y= ⟹ Y = YM (1.4)
nG MG MG
1.3 Umidade ou saturação relativa, 𝐘𝐑
pV
YR = (1.5)
p0V

0 ≤ YR ≤ 1
YR < 1 ⟹ vapor superaquecido
YR = 1 ⟹ vapor saturado

O vapor pode condensar por:


▪ resfriamento à pressão constante (OA');
▪ pressurização à temperatura constante (OA).

1.4 Umidade ou saturação percentual, 𝐘𝐩


pV
Y YM (P − pV ) pV P − p0V P − p0V
Yp = 0 = 0 = = 0 ∙( ) ⟹ Yp = YR ( ) (1.6)
Y YM p0V pV P − pV P − pV
( )
P − p0V
Como p0V > pV ⟹ P − pV > P − p0V ∴ Yp < YR

1.5 Ponto de Orvalho, 𝐓𝟎


O ponto de orvalho (P.O.) é a temperatura alcançada pela mistura gás-vapor na saturação durante o
resfriamento da mesma realizado à pressão constante. A partir deste ponto inicia-se a condensação do vapor.
1.6 Volume específico do gás úmido, 𝛎
O volume espécifico do gás úmido é o volume ocupado por 1,0 kg de gás mais a massa de vapor que o
acompanha.
1 Y 1 Y RT 3
mG = 1 kg ⟹ nG = e nV = ⟹ ν=( + ) m ⁄kg de gás (1.7)
MG MV MG MV P

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1.7 Calor específico do gás úmido, 𝐂


O calor específico do gás úmido é o calor que deve ser fornecido a 1,0 kg de gás mais a massa de vapor
que o acompanha para elevar em 1°C a temperatura da mistura à pressão constante.
Q = mG CpG ∆T + mV CpV ∆T ⟹ C = CpG + Y CpV (1.8)
Para misturas de ar e vapor, a baixas temperaturas e pressões, tem-se:
C
= 0,24 + 0,45 Y kcal⁄kg de gás ∙ °C (1.9)

1.8 Entalpia específica do gás úmido, 𝐇


A entalpia específica do gás úmido é a soma do calor sensível de 1,0 kg de gás e o vapor que o
acompanha mais o calor latente de vaporização na temperatura a que se referem as entalpias. Assim, para a
temperatura de referência em 0°C (mesma das tabelas termodinâmicas):
mG C (T − TR ) +
H=⏟ m⏟V λR = C T + Y λR ⟹ H = C T + Y λR (1.10)
calor sensível calor latente

Para misturas de ar e vapor, resulta:


H = (0,24 + 0,45 Y) T + 597,556 Y (1.11)
1.9 Temperatura de saturação adiabática, 𝐓𝐒𝐀
Considere um equipamento de contato de fases isolado termicamente (ex.: coluna de parede molhada, de
bandejas, torre spray ou de recheio etc.), no interior do qual o gás úmido entra em contato com líquido.
Atingido o equilíbrio, as temperaturas do gás úmido e do líquido serão iguais a um valor denominado
temperatura de saturação adiabática.

Balanço de energia no saturado adiabático adotando TSA como temperatura de referência:


G H + L HL = G HSA + L HLSA
G [C (T − TSA ) + Y λSA ] + L CpL (TL − TSA ) = G [C (TSA − TSA ) + YSA λSA ] + L CpL (TSA − TSA )
G [C (T − TSA ) + Y λSA ] + L CpL (TL − TSA ) = G YSA λSA
Como a temperatura do líquido é praticamente constante durante a operação (TL ≅ TSA), resulta:
G [C (T − TSA ) + Y λSA ] = G YSA λSA
C
C (T − TSA ) + Y λSA = YSA λSA ⟹ Y − YSA = − (T − TSA ) (1.12)
λSA
O coeficiente angular −C⁄λSA não varia apreciavelmente com a temperatura. Deste modo, Y é função de T
segundo a reta descrita pela equação 1.12, que é denominada linha de saturação adiabática (LSA).

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1.10 Temperaturas de bulbo seco e de bulbo úmido, 𝐓𝐛𝐬 e 𝐓𝐛𝐮


Se dois termômetros, um com o bulbo normal e o outro com o bulbo envolto por um tecido poroso
umedecido com líquido forem imersos numa corrente de gás úmido, observa-se que o primeiro mede a
temperatura real do gás, chamada temperatura de bulbo seco (Tbs ), enquanto a temperatura indicada pelo
segundo vai diminuindo até atingir o valor chamado temperatura de bulbo úmido (Tbu ). Assim, a
temperatura de bulbo úmido é o limite de resfriamento de uma massa pequena de líquido quando em contato
com uma massa muito maior de gás úmido. Este fenômeno pode ser observado, por exemplo, nas torres de
resfriamento. A gotícula de água descendente vaporiza seu filme externo devido à diferença de
concentração imposta pelo ar seco ascendente, retirando calor latente de seu núcleo. Neste processo de
transferência de calor e massa, a gotícula é resfriada, tendo como limite mínimo de temperatura o valor Tbu .

Calor transferido ao bulbo úmido: q = hG A (T − Tbu ) (1.13)


Taxa de transferência de massa: N
= k Y A (Ybu − Y) (1.14)
Calor latente de evaporação do líquido: q = N λbu (1.15)
Substituindo a eq. 1.14 em 1.15 e igualando à eq. 1.13, tem-se:
k Y A (Ybu − Y) λbu = hG A (T − Tbu ) ⟹ k Y (Ybu − Y) λbu = hG (T − Tbu )
hG
Y − Ybu = − (T − Tbu ) (1.16)
k Y λbu
O coeficiente angular −hG ⁄k Y λbu não varia apreciavelmente com a temperatura. Deste modo, Y é função de
T segundo a reta descrita pela equação 1.16, que é denominada linha de bulbo úmido constante (LBU).

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Para a mistura de ar e água, as temperaturas de bulbo úmido, Tbu , e de saturação adiabática, TSA , são
iguais. Desta forma, as retas representadas pelas equações 1.12 e 1.16 são equivalentes. Assim, a LBU e a
LSA são linhas coincidentes para este tipo de sistema. Identificando as retas:
C hG hG hG
− (T − Tbu ) = − (T − Tbu ) ⟹ C = ⟹ =1 (1.17)
λbu k Y λbu kY C kY
A eq. 1.17 é conhecida como relação psicrométria ou de Lewis-Gesetz, sendo válida somente para a
mistura de ar e água. Para misturas de ar e vapores orgânicos, por exemplo, a temperatura de bulbo úmido,
em geral, é muito maior do que a de saturação adiabática (LBU e LSA distintas).
2. CARTA PSICROMÉTRICA

O estado de uma mistura gás-vapor a uma pressão específica pode ser determinado conhecendo-se duas
propriedades intensivas independentes. O restante das propriedades são calculadas com as relações
anteriormente deduzidas. O dimensionamento de um sistema de condicionamento de gases úmidos envolve
muitos cálculos, existindo assim uma motivação a se realizar estes cálculos por meio de computadores ou na
forma de diagramas. Esses diagramas são chamados cartas psicrométricas ou de umidade e são muito
utilizados nas aplicações de condicionamento de ar. Em geral, a pressão e a temperatura de referências são,
respectivamente, 1 atm e 0°C. Diversas propriedades podem ser lidas em uma carta psicrométrica: ponto de
orvalho, umidade absoluta, entalpia específica, volume específico, umidade relativa, temperatura de
saturação etc.

2.1 Construção da carta


a) Curva de saturação: os valores de Y0 são calculados em função da pressão de vapor, p0V , que consta na
literatura nas formas de tabela ou equações (ex.: Antoine).
p0V MV p0V 18
Y0 = ( ) ⟹ Y0 = ( ) (1.18)
P − p0V MG 760 − p0V 29
b) Curvas de umidade relativa constante: os valores de Y são calculados em função de YR :
YR p0V MV YR p0V 18
Y=( )
0 M ⟹ Y = ( 0 ) 29 (1.19)
P − YR pV G 760 − YR pV
c) Linhas de saturação adiabática: são descritas pela equação 1.12.
d) Curvas de entalpia específica do gás úmido: são descritas pela equação 1.10.
e) Curvas de volume específico do gás úmido: são descritas pela equação 1.7.
As figuras abaixo apresentam as diversas leituras que podem ser feitas na carta psicrométrica anexada.

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2.2 Utilização da carta


Todo ponto “A” situado abaixo da curva de saturação corresponde a uma mistura gás-vapor à temperatura
TA , com umidade YA pressão P (referida pela carta), umidade relativa YR , ponto de orvalho T0 , temperatura
de bulbo úmido Tbu , volume úmido ν e entalpia H.

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3. EXERCÍCIOS
1) (GOMIDE, 2005) Uma mistura gasosa de CO2 e água encerra 98,5% de CO2 em volume a 20°C e 700
mmHg. Calcular a umidade absoluta, a umidade relativa, a porcentagem de umidade, o calor úmido, o
volume úmido e a entalpia do gás úmido. São dados os calores específicos do CO2 (0,22 kcal/kg.°C) e do
vapor de água (0,45 kcal/kg.°C), a pressão de vapor a 20°C (17,5 mmHg) e a entalpia de vaporização da
água a 0°C (558,6 kcal/kg).
2) (GOMIDE, 2005) Para um local de pressão atmosférica normal, estimar:
a) a umidade absoluta do ar saturado com vapor de água a 40°C
b) o volume saturado
c) o calor úmido
d) a temperatura de saturação adiabática, sabendo-se que o ponto de orvalho é de 13°C.
3) (OCON & TOJO, 1967) Uma mistura de hidrogênio com CCl4 tem ponto de orvalho de 15°C, a 30°C e
760 mmHg. Calcule:
a) a umidade absoluta.
b) o volume específico.
c) o calor específico.
d) a temperatura até a qual deve-se resfriar a mistura, quando comprimida até 2 atm, a fim de separar 60%
do CCl4.
Dados: Pressão de vapor do CCl4 em função da temperatura.
T,°C 0 5 10 15 20 30 40
p, mmHg 14 18 25 33 91 143 216
Os calores específicos do vapor de CCl4 e do H2 podem ser adotados como 0,13 e 0,35 kcal/kg.°C.
4) (OCON & TOJO, 1967) Uma massa de ar está saturada com éter dietílico a 20°C e 745 mmHg. Calcule:
a) a composição volumétrica.
b) a umidade molar.
c) a umidade absoluta.
d) o volume específico
e) a umidade absoluta se a temperatura for reduzida até 0°C.
f) a quantidade de éter condensado se forem resfriados até 0°C 1000 m3 da mistura inicial.
Dados: Pressão de vapor do éter dietílico em função da temperatura.
T,°C −10 0 10 20 30
p, mmHg 112,3 185,3 291,7 442,2 647,3

5) (OCON & TOJO, 1967) 300 m3 de CO2 saturado com água se encontram a 20°C e 1 atm e são
comprimidos até 2,5 atm ao mesmo tempo em que se resfriam até 15°C, havendo condensação de parte da
água, que é separada do sistema. A mistura CO2-água resultante é expandida até 1,3 atm e aquecida até 20°C.
Calcule:
a) a umidade absoluta final.
b) a massa de água condensada.
c) a umidade relativa final.
d) o volume da mistura medidos nas condições finais.
6) (OCON & TOJO, 1967) Uma mistura acetona-nitrogênio a 800 mmHg e 30°C tem saturação relativa de
80%. Sabendo-se que a pressão de vapor da acetona a 30°C é de 283 mmHg, calcule:
a) a umidade molar.
b) a umidade absoluta.
c) a umidade relativa percentual.
d) o volume específico.
e) a massa de acetona contida em 1 m3 de mistura.

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7) (MORAES Jr & MORAES, 2012) Com a temperatura de bulbo seco de 30°C e a temperatura de bulbo
úmido de 20°C na carta psicrométrica, obtenha: a) a umidade relativa em porcentagem; b) a umidade
específica; c) a entalpia; d) o volume específico e e) o ponto de orvalho. Apresente em um esboço da carta
psicrométrica os principais processos de condicionamento de ar.
8) (ÇENGEL & BOLES, 2013) Considere uma sala que contenha ar a 1 atm, esteja a 35°C e tenha 40% de
umidade relativa. Usando o diagrama psicrométrico determine: (a) a umidade específica, (b) a entalpia, (c) a
temperatura de bulbo úmido, (d) a temperatura do ponto de orvalho e (e) o volume específico do ar.
9) (ÇENGEL & BOLES, 2013) Um sistema de condicionamento de ar deve tomar o ar externo a 10°C e 30%
de umidade relativa a uma taxa constante de 45 m3/min, e condicioná-lo até 25°C e 60% de umidade relativa.
Primeiro, o ar externo é aquecido até 22°C na seção de aquecimento e, em seguida, umidificado pela injeção
de vapor quente na seção de umidificação. Considerando que todo o processo ocorra a uma pressão de 100
kPa, determine: (a) a taxa de fornecimento de calor na seção de aquecimento e (b) a vazão mássica do vapor
necessária na seção de umidificação. Dados: calor específico do ar 1,005 kJ/kg.K; pressão de saturação da
água 1,2281 kPa a 10°C e 3,1698 kPa a 25°C; entalpia do vapor saturado 2.519,2 kJ/kg a 10°C e 2.541,0
kJ/kg a 22°C.
10) (ÇENGEL & BOLES, 2013) O ar entra em um condicionador de ar de janela a 1 atm, 30°C e 80% de
umidade relativa a uma taxa de 10 m3/min, e sai como ar saturado a 14°C. Parte da mistura do ar que se
condensa durante o processo também é removida a 14°C. Determine as taxas de remoção de calor e de
umidade do ar.
11) (ÇENGEL & BOLES, 2013) O ar saturado que sai da seção de resfriamento de um sistema de
condicionamento de ar a 14°C e taxa de 50 m3/min é misturado adiabaticamente com o ar externo a 32°C e
umidade relativa de 60% a uma taxa de 20 m3/min. Admitindo que o processo de mistura ocorre a uma
pressão de 1 atm, determine a umidade específica, a umidade relativa, a temperatura de bulbo seco e a vazão
volumétrica da mistura.
12) (ÇENGEL & BOLES, 2013) A água de resfriamento sai do condensador de uma usina e entra em uma
torre de resfriamento a 35°C, a uma taxa de 100 kg/s. A água é resfriada até 22°C na torre de resfriamento
pelo ar que entra a 1 atm, 20°C e 60% de umidade relativa e sai saturado a 30°C. Desprezando a entrada de
potência no ventilador, determine: (a) a vazão volumétrica do ar para a torre de resfriamento e (b) a vazão
mássica da água de reposição necessária.
13) (GOMIDE, 1979) Em uma operação de desumidificação de ar, certa quantidade do mesmo encontra-se
com 0,0182 kg H2O / kg ar seco. Este ar deve ser acondicionado a 0,0077 kg H2O / kg ar seco usando-se para
a secagem uma camada estacionária de sílica gel. Para se obter a umidade constante no final do processo,
parte do ar úmido é “by-passada” e misturada depois do secador com o “ar seco”. Calcular:
a) % do ar úmido que é desviado, sabendo-se que o ar que sai do secador tem 0,0020 kg H2O / kg ar seco;
b) a quantidade de água retida por hora pelo equipamento.
14) (GOMIDE, 1979) Um material contendo 1,562 kg de água / kg de material seco (MS) deverá ser secado
até conter 0,099 kg de água / kg de MS. Por quilograma de material seco passam pelo secador 52,5 kg/h de
ar isento de umidade, que deixa o secador com 0,0525 kg de água/ kg de ar seco (AS). Sabendo-se que o “ar
fresco” é admitido com umidade de 0,0152 kg de água / kg de AS, calcule a fração de ar recirculado.

4. REFERÊNCIAS
1) GOMIDE, R. Operações unitárias. São Paulo: Edição do autor, 2005. v.5 (2ª parte).
2) GOMIDE, R. Estequiometria industrial. 2ª ed. São Paulo: Edição do autor, 1979.
3) OCON, J.; TOJO, B. Problemas de ingenieria quimica, operaciones basicas. Madrid: Aguilar, 1967. v.1.
4) MORAES Jr, D.; MORAES, M.S. Laboratório de operações unitárias II. Santos: Unisanta, 2012.
5) ÇENGEL, Y.A.; BOLES, M.A. Termodinâmica. 7ª ed. Trad. P.M.C. Gomes. Porto Alegre: AMGH, 2013.

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PRESSÃO DE VAPOR DE ÁGUA


EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA

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