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Curso de Introdução ao Ensino Religioso

Subsídios do 2.º Dia

Os povos negros trouxeram


Da África para o Brasil
A ternura e o sorriso
Da raça negra, que beleza! O lê lê, o lá lá
Borres Guilouski

ÍNDICE
PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS....................................................................................... 02
SUGESTÕES DE PLANEJAMENTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO.................................. 08
1.º ANO – O QUE OS POVOS AFRICANOS TROUXERAM AO BRASIL.............................................. 08
2.º ANO - A POVO NEGRO: BONITO, ALEGRE E PROFUNDAMENTE RELIGIOSO.......................... 11
3.º ANO – A RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA ................................................................................13
4.º E 5º ANOS - “A FORÇA DA NATUREZA NAS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS” ........................14
DICAS PARA PLANEJAMENTO DE UM TEMA...................................................................................... 17

Elaboração: Borres Guilouski e Emerli Schlögl

ASSINTEC/SME de Curitiba - 2010


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1. PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS

Cabe à escola instrumentalizar o aluno favorecendo-lhe uma


educação integral, contemplando assim as suas dimensões: física,
mental, emocional, intuitiva, espiritual, racional e social. “Conhecer
significa captar e expressar as dimensões da comunidade de forma cada vez
mais ampla e integral. Assim, entendendo a educação escolar como um
processo de desenvolvimento global da consciência e da comunicação entre
educador e educando, à escola compete integrar dentro de uma visão de
totalidade, os vários níveis de conhecimento: o sensorial, o intuitivo, o afetivo, o
racional e o religioso.” (Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) – Ensino
Religioso, 1997, p. 29).

1.1 – CONCEPÇÃO E OBJETO DE ESTUDO


O Ensino Religioso, sendo área do conhecimento, é diferente de
“aula de religião”, de catequese, de escola bíblica ou, ainda, de
qualquer modelo de doutrinação; não pressupõe a adesão e muito
menos o proselitismo ou a propagação de uma determinada crença
religiosa. Sua especificidade é a decodificação ou análise das
manifestações do sagrado, possibilitando ao educando, o
conhecimento e a compreensão do fenômeno religioso como fato cultural
e social, bem como, uma visão global de mundo e de pessoa,
promovendo assim, a formação do cidadão multiculturalista, portanto:
“Aprendendo a conviver com diferentes tradições religiosas, vivenciando
a própria cultura e respeitando as diversas formas de expressão cultural, o
educando está também se abrindo para o conhecimento. Não se pode
entender o que não se conhece. Assim, o conceito de conhecimento do Ensino
Religioso, de acordo com as teorias contemporâneas, aproxima-se cada vez
mais da ideia de que conhecer é construir significados” (PCNs – Ensino
Religioso, 1997, p. 39).
O objeto de estudo do Ensino Religioso são as diferentes
manifestações do sagrado no coletivo. O fenômeno religioso acontece no
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universo de uma cultura, é influenciado por ela e, consequentemente,


também a influencia.

1.2 – O CONHECIMENTO RELIGIOSO


As tradições religiosas e místicas, enquanto fenômeno cultural e
social, oferecem um vasto campo de investigação, permitindo ampliar a
visão de mundo, compreender as manifestações do sagrado, geralmente
vinculadas ao transcendente/ imanente1, a valorização do conhecimento
religioso como patrimônio da humanidade, construído ao longo da
história de maneira bastante peculiar, em diferentes contextos
geográficos e culturais.
Conforme os PCNs do Ensino Religioso (1997, págs. 18 e 19),
desde os primórdios da história da humanidade, o ser humano defronta-
se com grandes desafios e situações-limites: a enfermidade, a morte, a
separação, o heroísmo entre tantas outras. Diante desses
acontecimentos da vida, muitas vezes se questiona: Quem sou? Por que
estou aqui? Para onde vou? O que acontece depois da morte? Qual é o
sentido da vida? Na tentativa de dar respostas a estas questões surge o
conhecimento religioso.
As respostas a estas perguntas são a razão da busca empreendida
pelos seres humanos através dos tempos, na tentativa de desvendar “o
mistério”, superar a fragilidade e a finitude. Como consequência dessa
busca, surgiram diferentes manifestações religiosas, místicas e
filosóficas no transcurso da história. Assim, o conhecimento religioso é o
conjunto das respostas sistematizadas às questões fundamentais da vida
humana.

1
Segundo Eliade (1995), o sagrado implica nas manifestações de uma ordem diferente da ordem material,
segue uma lógica que não pertence a este mundo. O autor diferencia o sagrado do profano, consistindo em
palavras de significados opostos. Transcendente nesta relação, segundo o Diccionário del Cristianismo
(1974), significa aquilo que está além e imanente em oposição ao transcendente significa dentro, aquilo
que é interior ao ser.
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A construção e socialização do conhecimento religioso na escola


deve promover uma abertura ao diálogo inter-religioso, na perspectiva
dos valores comuns a todas as tradições, tendo por base a alteridade2 e
o direito à liberdade de consciência e opção religiosa. Deve ser
entendido como um processo interativo entre educador e aluno, na busca
da realização destes como seres humanos, reconhecidos e respeitados
como cidadãos inseridos numa realidade plural, onde as diferenças
configuram a realidade maior.

1.3 – METODOLOGIA
A metodologia do Ensino Religioso deve possibilitar uma relação
dialética, um “fazer pedagógico” dinâmico, permitindo a interação e o
diálogo no processo de construção e socialização do conhecimento, de
maneira que professor e aluno juntos possam (re)significar o
conhecimento. Não se trata de oferecer uma receita pronta e definitiva,
mas uma sugestão a partir da qual o professor possa desenvolver os
conteúdos desta disciplina, usando de sua criatividade.
Para tanto, sugerem-se três momentos metodológicos: o primeiro
sendo uma atividade de sensibilização, que permita integrar os
diferentes aspectos do educando: biofísico, afetivo, cognitivo, cultural,
social, religioso, ético e estético. Estas atividades de integração
(holopráxis) são orientadas com a intencionalidade de propiciar ao aluno
uma abertura ao outro, bem como a humanização e estabelecimento de
relações que favoreçam o aprendizado por meio do diálogo.
No momento seguinte, sugere-se como passo metodológico a
realização da observação-reflexão-informação. Segundo o FONAPER
(Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso, 2000, p. 34 e 35),
esses momentos se interligam, numa dinâmica, num movimento
constante, portanto, não são estanques e nem isolados. Desse modo,

2
Conforme o Dicionário de Filosofia (1970), alteridade significa “o ser outro, o colocar-se ou constituir-
se como outro” (p. 32).
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busca-se decodificar e analisar os elementos básicos que compõem o


fenômeno religioso, enfocando os conteúdos em uma rede de relações e
de forma progressiva, propiciando ao aluno a ampliação de sua visão de
mundo, o exercício do diálogo inter-religioso e a valorização das
diferentes expressões religiosas e místicas a partir do seu contexto
sociocultural.
O terceiro e último momento constitui-se em uma síntese final, na
qual o resultado de todo processo se estabelece por meio de
comportamentos éticos e articulação entre conteúdos.
A construção e socialização do conhecimento religioso é
subsidiado por meio dos esclarecimentos do professor, do compartilhar
de experiências entre os alunos, da pesquisa em diversas fontes, leitura
e interpretação de textos, análise de fotos, ilustrações e objetos
simbólicos, confecção de cartazes, maquetes, álbuns, acesso a filmes,
entre outros. Dessa forma, por meio do método fenomenológico, o
Ensino Religioso permite a releitura do fenômeno religioso, favorecendo
ao aluno uma análise e compreensão das manifestações do sagrado a
partir de sua realidade sociocultural.
Moacir Gadotti (2003) afirma que o “... fenômeno é o que se mostra,
o que se manifesta. A fenomenologia preocupa-se com o que aparece e o que
está escondido nas aparências, uma vez que aquilo que aparece, nem sempre
é. Contudo, a aparência também faz parte do ser. O método fenomenológico
procura descrever e interpretar os fenômenos, os processos e as coisas pelo
que elas são, sem preconceitos. Mais do que um método, é uma atitude
(GADOTTI, 2003, p. 160).

1.4 – AVALIAÇÃO
A avaliação faz parte do processo metodológico, portanto, um
elemento integrador no qual interagem aluno e professor. Seus critérios
estão vinculados à organização curricular e, entre outras funções no
processo ensino/aprendizagem, permite ao professor conhecer o
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progresso do aluno e reelaborar a sua prática pedagógica quando


necessário.
O seu registro poderá ser efetivado por meio de tabelas, gráficos,
listas, análise das produções, atividades da autoavaliação escrita ou oral,
na qual o aluno verifica o seu progresso na aprendizagem. Esse
mapeamento de resultados informa se o aluno atingiu os objetivos e
onde deve investir mais esforços para superar as dificuldades na
aprendizagem.
Avaliar pode ser instrumento insubstituível no processo de conhecer
aquilo que se apreendeu e como se aprendeu e também uma forma ímpar de
verificação do instrumento metodológico adotado pelo sistema de ensino e
professores.
A avaliação é um processo que influencia significativamente toda a
prática escolar e as relações interpessoais. Esta pode ser entendida como
parte integrante do processo ensino/aprendizagem e ter como função
diagnosticar e orientar a intervenção pedagógica. O caráter da avaliação no
Ensino religioso parte do princípio de inclusão, é processual e permeia toda a
prática no cotidiano da sala de aula.
O aluno se autoavalia e é avaliado para tomar consciência sobre o que
já aprendeu, ou seja, sobre os avanços atingidos no decorrer do processo e
saber onde deve investir mais esforços para melhorar e superar as
dificuldades. Ao professor, a avaliação possibilita conhecer o progresso do
aluno, rever e reelaborar a sua prática pedagógica.

1.5 – TRATAMENTO DIDÁTICO DOS CONTEÚDOS


O tratamento didático dos conteúdos considera:
• A necessidade de esclarecimento aos pais e responsáveis, sobre a
proposta do Ensino Religioso, enfatizando a característica não
proselitista desta área do conhecimento, evitando assim a imposição
religiosa no espaço escolar.
• O planejamento das atividades de acordo com o ciclo ou série e a
realidade de cada escola.
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• A organização do espaço (sala de aula) de forma a facilitar o diálogo e


a interação entre alunos e professor, de acordo com o conteúdo e a
metodologia.
• A organização do tempo, prevendo um horário específico para o
Ensino Religioso.
• O tratamento interdisciplinar do Ensino Religioso contextualizando e
estabelecendo a inter-relação dos conteúdos, saberes, facilitando o
diálogo na mediação de conflitos.
• A seleção e critério de uso de materiais (objetos simbólicos, fotos,
textos, entre outros) e recursos didáticos.
• Os conhecimentos anteriores do aluno, como ponto de partida para a
construção e socialização do conhecimento religioso.
• A complexidade do fenômeno religioso.
• A possibilidade de aprofundamento gradativo dada a amplitude dos
assuntos abordados sobre o fenômeno religioso.
• O uso da linguagem pedagógica adequada ao contexto escolar,
permitindo assim, a decodificação do conhecimento religioso e a sua
compreensão.
• O respeito e o reconhecimento do direito à liberdade de consciência e
de opção religiosa do aluno.
• A necessidade de múltiplas leituras na abordagem da pluralidade
religiosa.

1.6 – OBJETIVOS GERAIS


• Propiciar o conhecimento e a compreensão do fenômeno
religioso, analisando as diferentes manifestações do sagrado a
partir da realidade sociocultural do educando.
• Contribuir com a construção da cidadania, promovendo o
diálogo inter-religioso, o respeito às diferenças, a superação de
preconceitos e o estabelecimento de relações democráticas e
humanizadoras.
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2. SUGESTÕES DE PLANEJAMENTOS PARA O ENSINO


RELIGIOSO

1.º ANO – O QUE OS POVOS AFRICANOS TROUXERAM AO


BRASIL

Objetivo: Identificar elementos das tradições de matriz africana, destacando


algumas de suas expressões religiosas.

Atividades de construção e socialização do conhecimento: Professor(a),


organize com os alunos um círculo, depois ensine-os a cantar a canção que
segue, realizando a coreografia de acordo com o ritmo. Você pode também
cantar outra canção ou ainda ligar uma música com ritmo de samba e orientar
uma atividade de movimentação de acordo com este ritmo.

OS POVOS NEGROS NO BRASIL

Borres Guilouski

OS POVOS NEGROS TROUXERAM


DA ÁFRICA PARA O BRASIL
AS SAGRADAS CRENÇAS
DAS ANTIGAS TRADIÇÕES
COMO IORUBÁ E JÊJE

OS POVOS NEGROS TROUXERAM


DA ÁFRICA PARA O BRASIL
DOS ORIXÁS LINDAS DANÇAS
COM CANTOS DE FÉ
OS POVOS NEGROS TROUXERAM NOS TERREIROS DO CANDOMBLÉ
DA ÁFRICA PARA O BRASIL
ACARAJÉ, CUZCUZ, QUIBEBE OS POVOS NEGROS TROUXERAM
QUE COMIDA GOSTOSA! DA ÁFRICA PARA O BRASIL
MOQUECA E VATAPÁ A TERNURA E O SORRISO
DA RAÇA NEGRA, QUE BELEZA!
OS POVOS NEGROS TROUXERAM O LÊ LÊ, O LÁ LÁ
DA ÁFRICA PARA O BRASIL
O RITMO DO SAMBA O LÊ LÊ, O LÊ LÊ, O LÊ LÊ,
GINGADO DA CAPOEIRA O LÊ LÊ, O LÁ LÁ...
DO BATUQUE E DO MARACATÚ
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Atividades de socialização e construção do conhecimento:


1) Explique, professor(a), aos alunos, que o Brasil é o nosso país, que todos
nós somos cidadãos e cidadãs brasileiros. Aqui vivem muitas e muitas pessoas
de diferentes origens: indígenas, descendentes de africanos, de europeus, de
asiáticos. Explique também que os povos indígenas são os brasileiros originais,
eles foram os primeiros que aqui chegaram, muito, muito antes dos outros.

2) Comente que os povos negros vieram da África para o Brasil no tempo da


escravidão. A escravidão foi uma coisa triste feita pelos colonizadores
portugueses e que jamais deveria ter acontecido. Devido à escravidão,
milhares de pessoas negras foram forçadas a virem ao Brasil. Essas pessoas
trouxeram muita riqueza de sua cultura, dos seus costumes, tradições e de
suas religiões como o Candomblé, a Umbanda, o Tambor de Mina, entre
outras.

3) Explique também:
• Que acarajé, cuzcuz, quibebe, moqueca e vatapá são nomes típicos de
pratos dos povos negros, muito apreciados pelos brasileiros. Se for
possível, você pode preparar um desses pratos para os alunos saborearem,
com certeza eles vão gostar.

• Que o samba, a capoeira, o batuque e o maracatu são ritmos e danças


trazidas pelos povos da África. Se for possível, ligue uma música dessas e
oriente uma vivência ao ritmo da mesma em formação de roda.

• Que as palavras iorubá e jejê são nomes de dois idiomas importantes


falados pelos povos africanos.

• Que orixás são as divindades cultuadas em religiões africanas,


geralmente ligadas à natureza. Por exemplo: Oxossi é o orixá protetor
da floresta; Iemanjá é a rainha do mar; Xangô é o orixá da tempestade e
da justiça, etc.

• Que terreiro de Candomblé é o nome do local onde as pessoas se


reúnem para as práticas desta religião Afro-Brasileira.

4) Organize os alunos em equipes e oriente a confecção de cartazes com


recortes de revistas usadas que ilustrem alguns dos importantes aspectos da
cultura afro-brasileira. Você pode destacar os elementos presentes na canção
OS POVOS NEGROS NO BRASIL: a comida, a música, as religiões, a beleza
do homem negro e da mulher negra. Faça na escola uma exposição dos
cartazes escrevendo em destaque um título como: “A RIQUEZA DA CULTURA
AFRO-BRASILEIRA”.

Síntese e proposição ética: Se for possível, reúna os alunos em um local


tranquilo fora da sala de aula. Peça que se sentem em círculo e então leia ou
narre para eles a história intitulada “Os Segredos da Nossa Casa”, extraída da
tradição cultural africana. Depois, conduza um momento de conversação sobre
o conteúdo ético da história. Volte para a sala e oriente a produção coletiva de
um texto sobre a presença do povo negro no Brasil e sua contribuição para a
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cultura brasileira. Os alunos poderão ser organizados em equipes, cada equipe


poderá transcrever os parágrafos do texto produzido e ilustrá-lo criativamente
com desenhos. Para socializar as produções dos alunos, organize uma
exposição na escola.

Os Segredos da Nossa Casa

Certo dia, uma mulher estava na cozinha e, ao atiçar a fogueira,


deixou cair cinza em cima do seu cão.
O cão queixou-se:
__
A senhora, por favor, não me queime!
Ela ficou muito espantada: um cão a falar! Até parecia mentira...
Assustada, resolveu bater-lhe com o pau com que mexia a comida.
Mas o pau também falou:
__
O cão não me fez mal. Não quero bater-lhe!
A senhora já não sabia o que fazer e resolveu contar às vizinhas o que
se tinha passado com o cão e o pau.
Mas, quando ia sair de casa a porta, com um ar zangado, avisou-a:
__
Não saias daqui e pensa no que aconteceu. Os segredos da nossa
casa não devem ser espalhados pelos vizinhos.
A senhora percebeu o conselho da porta. Pensou que tudo começara
porque tratara mal o seu cão. Então, pediu-lhe desculpa e repartiu o
almoço com ele.

Comentário: é fundamental sabermos conviver uns com os outros,


assegurar o respeito mútuo, embora às vezes seja difícil...

Extraído do site: http://www.emack.com.br/sao/webquest/sp/2004/africa/segredo.htm


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2.º ANO - O POVO NEGRO: BONITO, ALEGRE E


PROFUNDAMENTE RELIGIOSO

Objetivo: Perceber a influência e a beleza da cultura dos povos negros no


Brasil, salientado aspectos de sua religiosidade.

Atividade de sensibilização: Ler para os alunos a história de Ana Maria


Machado, cuidando de torná-la bem interessante e viva por meio das inflexões
vocais e da riqueza na interpretação do texto.

Menina Bonita do Laço de Fita

Era uma vez uma menina linda, linda.


Os olhos dela pareciam duas azeitonas
pretas, daquelas bem brilhantes. Os cabelos
eram negros enroladinhos, feitos fiapos da
noite. A pele escura e lustrosa, que nem pêlo
de pantera negra quando pula na chuva. Ainda
por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas
no cabelo dela e enfeitar com laço de fita
colorida. Ela ficava parecendo uma princesa
nas Terras da África, ou uma fada do Reino do Luar.
Do lado da casa dela morava um coelho branco de orelha cor de rosa,
olhos vermelhos e focinho nervoso sempre tremelicando. O coelho achava a
menina a pessoa mais linda que ele tinha visto em toda a vida. E pensava: “ -
Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha, e perguntou”, “- Menina
bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?”
A menina não sabia, mas inventou: “- Ah, deve ser porque eu caí na tinta
preta quando era pequenina...”
O coelho saiu dali, procurou um vidro de tinta preta e tomou banho
nele. Ficou bem negro, todo contente. Mas aí veio uma chuva e lavou todo
aquele pretume, ele ficou branco outra vez.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez, “ -
Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo pra ser tão pretinha?”
A menina não sabia, mas inventou: “- Ah, deve ser porque tomei muito
café quando era pequenina...”
O coelho saiu dali e tomou tanto café que perdeu o sono e passou a
noite toda fazendo xixi. Mas não ficou nada preto.
Então, ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez: “ -
Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo pra ser tão pretinha?”
A menina não sabia, mas inventou: “ - Ah, deve ser porque eu comi muita
jabuticaba quando era pequenina.”
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O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba até ficar pesadão,


sem conseguir sair do lugar. O máximo que conseguiu foi fazer muito
cocozinho preto e redondo feito jabuticaba. Mas, não ficou nada preto.
Por isso daí a alguns dias, ele voltou lá na casa da menina e perguntou
outra vez: “ - Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo pra ser tão
pretinha?”
A menina não sabia e já ia inventando outra coisa, uma história da
feijoada, quando a mãe dela, que era uma mulata linda e risonha, resolveu se
meter e disse: “ - Artes de uma avó preta que ela tinha...”
Aí o coelhinho que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da
menina devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece
sempre com os pais, os tios, os avós e até com os parentes mortos. E se ele
queria ter uma filha pretinha e linda, tinha era que procurar uma coelha pra
casar. Não precisou procurar muito. Logo encontrou uma coelhinha escura
como a noite, que achava aquele coelho branco uma graça. Foram namorando,
casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho quando desanda a ter
filhotes não para mais.
Tinha coelho pra todo gosto: branco bem branco, branco meio cinza,
branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem
pretinha. Já se sabe, afilhada da tal menina bonita que morava na casa ao
lado.
E quando a coelha saía de laço colorido no pescoço, sempre encontrava
alguém que perguntava: “Coelhinha bonita do laço de fita, qual é o teu
segredo pra ser tão pretinha?”
E ela respondia: “ - Conselhos da mãe de minha madrinha”.

Atividade de construção e socialização do conhecimento:


1) Após a leitura da história, sem esquecer de contar aos alunos de quem é a
autoria, o(a) professor(a) conta um pouco sobre a história da invasão do Brasil
em 1500 pelos portugueses, salientando como se formou aqui no Brasil a
religião dos povos negros, conhecida pelo nome de Candomblé, que significa
“cantar e dançar em louvor”. É possível salientar aspectos da beleza desta
tradição, como: o respeito e devoção à natureza, o saber ouvir os
ensinamentos de pessoas mais velhas (em alguns lugares na África, considera-
-se que quando uma pessoa idosa morre, perde-se com ela uma vasta
biblioteca), a alegria presente em seus rituais por meio da dança e dos
cantos...

2) Sugerir que os alunos façam um desenho de uma menina negra muito linda
e escrevam abaixo do desenho tudo o que conseguirem lembrar da história que
ouviram. Eles estarão reescrevendo a história a sua maneira.

3) Fazer uma roda para que todos possam mostrar os seus desenhos e
orientar a leitura dos textos que escreveram.
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Síntese e proposição ética:


1) Organizar uma roda para cantar e dançar um samba, da escolha do(a)
professora (a), mostrando aos alunos que aí temos mais uma riqueza herdada
da cultura dos povos africanos. Sua riqueza rítmica e a alegria de sua música
estão presentes no estilo musical conhecido como samba.

2) Permitir que os alunos comentem sobre como o Brasil ficou mais bonito por
conta da cultura de povos africanos. Graças a eles, temos a feijoada, temos a
religião que dança, temos a capoeira...

3.º ANO – A RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA

Objetivo: Conhecer alguns elementos da religiosidade afro-brasileira,


desenvolvendo atitudes de respeito por essa expressão cultural.

Atividade de sensibilização – ponto de partida: Cantar e movimentar-se ao


ritmo da canção “MÃE ÁFRICA”. Professor(a), se preferir, você também pode
orientar uma leitura em forma de jogral com a letra desta canção ao invés de
cantá-la.

MÃE ÁFRICA

Lúcia Silva

Oh!... Mãe África! Mãe negra e de coração!


Teu canto é como a chuva/ Fecunda este chão
Teu canto é como o sol/ Clareia a nação

A dança, o gingado, o pandeiro/ Tambor violão


O canto, o colar, a pintura/ A cor é cultura desta
nação
No rosto um sorriso, um axé, um eterno louvor
O negro é ternura, é raça, é obra de arte/ Do Pai Criador

Em roda celebram a vida/ A fé, o fervor


Convocam os seus Orixás/ São pais e mães, acolhem com
amor!
Nas guerras resistem com sangue, com luta e suor
Vencendo correntes, canhões, sonhando com um mundo
Em que não haja dor

CD: Partilha – Paulinas/COMEP, 1996.

Atividades de construção e socialização do conhecimento:


1) Conduzir um momento de diálogo esclarecendo alguns termos presentes na
canção como: por que a África é nossa mãe? Porque segundo as teorias
científicas o ponto de origem da humanidade é o continente africano. Isso
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significa que em sua origem, todos os seres humanos são negros. E que todos
nós somos filhos e filhas da Terra. O que significa gingado, axé, Orixás?
Gingado é o jeito de requebramento do corpo ao andar ou dançar. Axé é a
força da vida ou força vital doada aos seres humanos pelos Orixás, segundo os
adeptos dos cultos Afro-Brasileiros. E Orixás são as divindades intermediárias
entre o Supremo Criador e os seres humanos, conforme as crenças das
tradições afro-brasileiras. Além disso, explore, professor(a), todo o conteúdo da
canção, auxiliando os alunos a fazerem uma análise e reflexão dele.

2) Oriente, em equipes, uma pesquisa sobre as religiões afro-brasileiras. Antes,


defina no quadro, com a participação dos alunos, o objetivo, os assuntos e as
fontes de pesquisa. Você pode trazer livros, revistas ou textos extraídos da
internet para os alunos pesquisarem.

3) Com os resultados da pesquisa, proponha a criação de cartazes e depois,


organize com os alunos, uma exposição na escola.

Síntese e proposição ética: Coletivamente, no quadro de giz, elaborem uma


lista de valores éticos importantes para uma convivência saudável e respeitosa
entre pessoas das diferentes crenças religiosas. Depois, cada aluno poderá
escolher duas palavras e criar um acróstico. Dê a oportunidade para cada
aluno socializar o seu acróstico entre os colegas.

4.º E 5.º ANOS - A FORÇA DA NATUREZA NAS RELIGIÕES


AFRO-BRASILEIRAS

Objetivo: Reconhecer a estreita ligação entre as forças natureza e as crenças


religiosas de matriz africana.

Atividade de sensibilização: Contar para os alunos a história apresentada a


seguir, de origem etíope. Antes, localizar no mapa a Etiópia e trazer algumas
informações sobre esta nação.
A Etiópia é uma nação africana,
uma das que resistiu bravamente à
ocupação europeia. Campos e
pastagens cobrem cerca de três
quartos das terras etíopes. Por conta
de guerras, a economia foi prejudicada
e os povos etíopes vivem em extrema
pobreza, apresentando muita fome e
subnutrição crônica. Apesar do
sofrimento, é um povo que apresenta
uma sensibilidade profunda e
sabedoria, isto é percebido claramente
na mensagem desta história. Foto acima: Uma menina etíope.
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O LEÃO E O MENINO

Certa vez, um menininho estava perdido na floresta e foi encontrado


por um forte e belo leão. Este, ao contrário do que todos podem imaginar,
não devorou o menino, mas sentindo muito carinho por ele passou a tratá-lo
como filho e a cuidar dele por incontáveis dias e noites. Protegido e amado,
o menino cresceu e o leão, preocupado em encontrar a família do menino,
correu muitos riscos se aproximando de povoados e pessoas a fim de um dia
encontrar a família do garoto.
Depois de muitos perigos e tentativas, ele finalmente encontra a
família de origem do rapaz. Então o nobre leão chamou o moço e disse: “-
Filho, você já está um rapaz, um homem feito e é de meu desejo que você se
case. Eu passei por uma aldeia de homens e observei que existem diversas
moças de sua idade. Eu quero que você vá até lá e fique por uma semana,
para que possa conseguir uma esposa”.
O rapaz obedeceu e foi para a tal aldeia, lá chegando seus traços
físicos denunciaram logo de quem ele era filho. Sua família mal acreditava
que ele estivesse vivo e prepararam imediatamente uma festa para
comemorar. Durante os festejos, o leão se aproximou da casa para observar
e escutou quando o pai biológico interrogava o filho: “ – Filho, como você
conseguiu viver tanto tempo com um bicho desses, com uma fera atroz e
selvagem?
“- Mas pai, o leão foi para mim um protetor. Ele sempre cuidou de mim e fez
de tudo para me proteger e para que eu vivesse bem, sempre dividiu seus
alimentos comigo. Porém, o que sempre me incomodou foi o seu mau cheiro,
sua catinga. No início eu sentia a barriga embrulhar, tinha náuseas horríveis.
Com o passar dos anos fui me acostumando, mas ainda sinto mal-estar com
aquele cheiro”.
Ao ouvir aquelas palavras o leão sentiu uma dor tão grande e triste;
voltou para casa. Alguns dias depois, o rapaz retornou. O leão ordenou que
ele empunhasse uma lança, o golpeasse. O rapaz relutou, mas por fim, acatou
as ordens do pai e desferiu um golpe de lança, ferindo o leão na barriga.
Algumas semanas se passaram e a ferida cicatrizou. O leão então chamou o
rapaz e lhe disse: “ – Filho, veja como as feridas que você me causou já
cicatrizaram. Mas as feridas que cortam mais profundamente e mais
difíceis de cicatrizar, são as causadas pelas palavras. Peço que volte para a
aldeia dos homens e passe a viver com a sua família de origem, onde o
perfume está presente como a abundância das chuvas de inverno. Eu estou
profundamente ferido pelas suas palavras e, de hoje em diante, renuncio a
continuar sendo seu pai.
Uma ferida causada por ofensa pode não cicatrizar jamais.
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Atividade de construção e socialização do conhecimento: As histórias


sagradas no Candomblé e na Umbanda, entre outras manifestações religiosas
de origem africana, muitas vezes, apresentam os Orixás, que são os
encantados, as divindades criadas por Olorum (Criador Supremo do Universo).
Estes Orixás, estas forças ativas da natureza, podem se comunicar com as
pessoas.
A natureza se comunica com as pessoas o tempo todo, então os Orixás
estão presentes na vida das pessoas todo o tempo, conforme estas crenças
religiosas.
Na Mitologia Yoruba, Olorum é o Deus Supremo do povo Yoruba, que
criou as divindades chamadas Orixás para representar todos os seus domínios
aqui na Terra. Mas, é importante lembrar que eles não são considerados
deuses. Os Orixás representam a personificação da natureza e de ancestrais
que deixaram marcas na memória histórica do povo.
O contato dos povos africanos com a natureza se estabeleceu de
maneira sagrada. Rios, animais, pedras, árvores, tudo está vivo, de toda a
natureza emana energia. É esta energia que forma os Orixás.

1) Os alunos podem pesquisar o nome de alguns Orixás, descobrindo qual é o


elemento natural que eles representam. Ex.: Iemanjá, as águas do mar; Oxum,
as águas doces; Iansã, os ventos e tempestades; Xangô, a força do trovão;
Ogum, senhor do ferro; Oxossi, senhor da caça; Ossãe é o Orixá das folhas,
preservador das matas e das florestas, conhecedor das folhas medicinais...

2) Cada aluno escolhe um orixá para fazer uma escultura, modelagem ou


pintura representando-o criativamente. É importante que sua obra represente o
Orixá e apresente os elementos da natureza que ele carrega em si.

3) Apresentar o trabalho para a classe. Nesta apresentação, os alunos tentam


identificar qual Orixá está sendo mostrado, ao término das tentativas, o aluno,
criador da representação, conta qual é o nome do Orixá que ele está
apresentando.

Síntese e proposição ética: Formar uma roda para que os alunos possam
discorrer livremente sobre o que aprenderam acerca das tradições afro-
brasileiras. Lançar o seguinte questionamento: Quais são as formas de
comportamento que podemos ter para com as pessoas que seguem o
Candomblé ou a Umbanda? A partir desta questão, cada aluno poderá produzir
um texto que depois será ilustrado com desenhos e socializado entre os
colegas.
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DICAS PARA O PLANEJAMENTO DE UM TEMA

Professor(a), os temas propostos para trabalhar o fenômeno


religioso, são geralmente amplos. Portanto, para aprofundar de modo
gradativo o conteúdo relacionado a cada tema, você precisará pelo menos
de duas a quatro aulas. Objetivando facilitar o desenvolvimento do seu
trabalho com o Ensino Religioso, sugerimos a seguir um roteiro básico de
planejamento:
1) Tema.
2) Objetivo.
3) Material necessário.
5) Introdução do tema – Ponto de partida
6) Desenvolvimento - Atividades de socialização e construção do
conhecimento (sobre o fenômeno religioso).
7) Conclusão: Síntese e proposição ética.
8) Avaliação.

SUGESTÃO DE TEMAS

1.º ANO As práticas religiosas.


Eu e os outros somos nós. O que são ritos e rituais?
Saber respeitar as diferenças. A função dos espaços sagrados.
Saber acolher o outro. A finalidade da vida segundo as
Eu e a natureza. religiões.
As pessoas e as religiões.
Ser amigo, caminhar junto. 5.º ANO
A família e a religião. Valores que aproximam as pessoas.
A vida é um presente valioso. A diversidade religiosa no Brasil.
O diálogo inter-religioso.
2.º ANO Textos sagrados orais e escritos.
Eu vivo em comunidade. Mitos da criação do mundo e do
A riqueza das diferenças religiosas. homem.
A religião na vida da família. As espiritualidades nas tradições
Eu e a humanidade. religiosas.
O que são símbolos religiosos? Os rituais de passagem e celebrativos.
O que são espaços sagrados? Lugares sagrados de peregrinação.
A vida é preciosa. A busca do sentido da vida nas
religiões.
3.º ANO
Os jeitos de ser e de crer.
As tradições religiosas da comunidade.
As religiões e a prática do bem
(caridade, solidariedade, amor, paz...).
Símbolos religiosos e seus significados.
Espaços sagrados da comunidade.
A vida é sagrada.

4.º ANO Responsáveis pela elaboração desta


A valorização de si mesmo e do outro. apostila: Borres Guilouski, Diná
A religião no cotidiano. Raquel Daudt Costa e Emerli Schlögl
A diversidade religiosa em nossa
comunidade.
O que são textos sagrados?

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