10º ANO
PROFESSORA FÁTIMA CRISÓSTOMO
ARGUMENTAÇÃO E RETÓRICA
Desde quando pratica o homem a argumentação? Estaríamos tentados a dizer: desde que
comunica. Ou melhor ainda: desde que tem opiniões, crenças, valores, e desde que faz tudo para
os fazer partilhar pelos outros. Quer dizer desde sempre, na medida em que o homem se identifica,
ao contrário do animal, com uma palavra, com um ponto de vista próprio sobre o mundo em que
vive.
Desde quando tem o homem saber sobre a argumentação? Tudo depende do que se entender por
«saber». No sentido mais lato que essa palavra pode ter, é provável que as práticas
argumentativas, por mais antigas que sejam, tenham sempre sido acompanhadas par um saber
espontâneo, empírico. Ainda hoje, ( ... ) só raramente a argumentação é objeto de um programa
de ensino e (...) cada um, na vida quotidiana, é confrontado com numerosas situações de
argumentação (...).
Philippe Breton, A Argumentação na Comunicação, Publicações Dom Quixote
Ideias a reter:
- O homem pratica a argumentação desde que comunica.
- O homem comunica desde sempre, partilhando informações e opiniões com os outros.
- Todos argumentamos de modo espontâneo e empírico.
- A argumentação pode ser ensinada.
- Podemos aperfeiçoar a habilidade natural, inconsciente e, eventualmente com erros, e transformá-
la numa técnica rigorosa, pensada e sistematizada.
A Antiguidade clássica (grega e romana) chamou retórica à arte de persuadir através da
palavra; a arte de falar com eloquência, com o objetivo de conseguir o acordo e a adesão do auditório.
O termo é usado pelos sofistas que, tradicionalmente, são responsabilizados pela conotação
negativa do termo, devido à excessiva preocupação com o estilo em detrimento da verdade dos
conteúdos. No entanto, atualmente alguns autores defendem uma perspetiva distinta daquela que a
história da Filosofia lhes atribuiu.
Com Aristóteles a retórica assume um estatuto de técnica de argumentação do verosímil
(provável, plausível, aparentemente verdadeiro), legítima para os debates no espaço público da cidade.
Com o crescente êxito da demonstração (nas ciências exatas e experimentais) e das evidências da
matemática, a arte do discurso que continua a utilizar a língua natural, ambígua, prestando-se a erros
de interpretação, ficou reduzida a uma mera teoria das figuras de estilo, um mero ornamento do
discurso.
Atualmente, a retórica readquiriu importância, sob a forma de nova retórica, com os
contributos de Chaim Perelman, Stephen Toulmin, Michel Meyer e outros.
A abordagem lógico-formal tem limitações, não é capaz de dar conta da complexidade da
linguagem natural com a qual pensamos e comunicamos.
“Saber argumentar não é um luxo, mas uma necessidade. Não saber argumentar não será, por
outro lado, uma das grandes fontes recorrentes da desigualdade cultural, que se sobrepõe,
reforçando-as, às tradicionais desigualdades sociais e económicas? Não saber usar da palavra para
convencer não será, no fim de contas, uma das grandes fontes de exclusão? Uma sociedade que
não ofereça a todos os seus membros os meios de serem cidadãos, isto e, de terem uma verdadeira
competência para usar da palavra, será verdadeiramente democrática? “
Philippe Breton, A Argumentação na Comunicação, Publicações Dom Quixote
Muitos argumentos não podem ser avaliados à luz da lógica formal, mas sim a partir de critérios
dialéticos, ou seja, trata-se de argumentos meramente prováveis ou desencadeados a partir de
opiniões geralmente aceites. Entramos assim no domínio da retórica.
No entanto, nem sempre a argumentação tem a eficácia desejada: neste exemplo, nem sempre
o auditório deixa de fumar.
Por vezes o auditório adere cognitivamente à tese, mas não adota o comportamento desejado.
O processo argumentativo deverá ter em conta os objetos de acordo: premissas admitidas pelo
auditório.
âmbito do real - factos, verdades e presunções.
Objetos de acordo
âmbito do preferível - valores, hierarquias e juízos de valor.
O orador deve começar por escolher o objeto de acordo que melhor se ajuste às motivações do
auditório para captar a sua atenção, quer a adesão vise reforçar os objetos de acordo, quer vise
modificá-los.
A argumentação e a retórica têm alguns objetivos específicos:
A relação retórica liga um orador a um auditório através da linguagem, o que lhes torna possível a
comunicação. À dimensão do orador, Aristóteles chama-lhe ethos, já que nada e mais convincente
nem mais sedutor do que a força moral, o carácter e as virtudes de autoridade de que deve fazer
prova numa certa matéria aquele que procura persuadir ou agradar. À dimensão do auditório,
Aristóteles caracteriza-a como pathos, porque aquele que ouve passivamente o discurso do orador
é percorrido por paixões desencadeadas pelos enunciados proferidos (daí o conceito de emoção).
Quanto à dimensão abarcada pela linguagem, Aristóteles chamou-lhe logos, que é definido
simultaneamente pelo estilo e pela razão, pelas figuras e pelos argumentos, ou, como se diz hoje
em dia, pelo figurado e pelo literal.
Michel Meyer, Manuel M. Carrilho e B. Timmerrnans, Hist6ria da Ret6rica, Temas e Debates
Ideias a reter:
Ethos - tipo de prova centrado no caráter do orador. Este deve ser virtuoso e credível para conseguir
a confiança do seu auditório (dimensão moral do orador).
Pathos - tipo de prova centrado no auditório, nas emoções nele despertadas que o predisponham
para uma atitude favorável à tese que se defende (dimensão psicológica ou afetiva).
Logos - tipo de prova centrado nos argumentos, na força argumentativa do discurso. O discurso deve
estar bem estruturado do ponto de vista lógico-argumentativo, para que a tese convença o auditório
(dimensão racional).
Um dos exemplos mais fortes de discursos que pretendem cativar a atenção do auditório é o
discurso publicitário.
A refutação
O discurso só é argumentativo se for aberto e suscetível de contra-argumentação e de
refutação. A refutação faz parte das “regras do jogo” para merecer o título de argumentação e não
degenerar num discurso autoritário, em que se impõe em vez de propor.
Argumentar, para além de apresentar razões, argumentos em favor de uma tese, é também
refutar o ponto de vista oposto. Refutar um argumento é mostrar que ele não é bom/forte. Podemos
refutar um argumento mostrando que a conclusão não se segue das premissas, que algumas das
premissas não são plausíveis, ou mostrar que o argumento não se relaciona com a tese que se quer
provar
Quem se dispõe a entrar no jogo comunicativo/argumentativo de argumentos e contra-
argumentos tem de aceitar a possibilidade de contra-argumentação, a possibilidade de surgirem
argumentos opostos à nossa tese que a debilitem ou a destruam. A argumentação deve prever a
contra-argumentação e até inclui-la na sua estratégia. O auditório pode levantar objeções quando o
orador está a expor a tese devendo este refuta-la de imediato, se o orador colocar várias objeções é
melhor refutá-las no final, para não prejudicar a sua apresentação. Existindo um ponto de vista
contrário à tese que o orador defende, se os argumentos forem fracos devem ser refutados um a um,
se forem fortes o melhor é refutá-los em conjunto, procurando romper a estrutura lógica da
argumentação contrária.
Estrutura e organização do discurso argumentativo