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O guru e o iniciador: transações de conhecimento e moldagem da cultura do sudeste da

Ásia e na Melanésia
Thomas Henry Huxley foi um biólogo do século XIX conhecido, além de suas obras,
por defender a teoria da evolução de Darwin.
Barth inicia o capítulo apontando que Thomas Henry Huxley (mais conhecido por seu
trabalho como zoólogo do que como antropólogo) aderiu ao novo paradigma
experimental proposto por Darwin.
Barth segue o caminho desse novo paradigma, mesmo que no século posterior, tentando
enquadrar nossa concepção de fenômenos culturais e sociais através da comparação de
duas regiões etnográficas, sudeste da Ásia (Bali) e a Melanésia (Nova Guiné).
O autor percebe o contraste entre as selvas neolíticas da Nova Guiné e a grande
civilização letrada, avançada no arado e no cultivo, com mercados e templos
encontrados em Bali.
Foi em uma cerimônia de cremação em um dia MUITO abafado em Bali que ele
percebe as relações de similaridade com a Nova Guiné, viu ambos como um mundo:
- Animado e animístico
- Povo onde a moralidade interpessoal é governada pelo temor da feitiçaria
- Profunda dependência com os ancestrais
- Realizam cultos aos antepassados para garantir o bem-estar pessoal e a fertilidade
agrícola
- Similaridades com a cultura indiana, como a ideia de ciclos, eras da história e até a
ideia da moleira como porta para a comunicação espiritual
Barth começa a questionar como realizar comparações desse tipo depois que o
difusionismo caiu por terra, afirmando que em antropologia social só se pode fazer
comparações em termos de estruturas demasiadamente abstratas e parciais.
É necessário então pensar, nesse caso específico, como demonstrar que ambas as
culturas possuem elementos culturais semelhantes. E se isso estiver correto, como
demonstrar?
O meio proposta para sanar essa necessidade é transitar das teorias de uma sociologia do
conhecimento para o que chama de antropologia do conhecimento, essa deveria retratar
as condições de criatividade e assim as formas que se decorrem a partir disso.
Para pensar conhecimento e criatividade se debruça sobre a tradição do mistério na
Nova Guiné, a ideia é de que o conhecimento aumenta quando oculto e compartilhado
com e menor número de pessoas possível.
Esse pensamento é o extremo oposto em Bali, onde o conhecimento só é válido quando
ensinado, afirmação do Guru Ali Akbar.
O professor de Ali, o Guru Maxfuz, parava sempre ao ver algo errado e ensinava o
certo.
- Guru, em Bali, se realiza ao reproduzir o conhecimento
- Iniciador na Nova Guiné se realiza ao proteger o conhecimento
Barth afirma que seu objetivo não é narrar a estrutura de cada cultura a partir de seus
conceitos nativos e sim compreender duas economias informais distintas a partir das
diferenças entre os esforços intelectuais de cada grupo.
Há todo um ritual na Nova Guiné para transmitir o conhecimento a partir do iniciador,
possivelmente um rito metafórico cheio de simbolismo, ao final o iniciante deve ser
transformado PELO RITO em si e não pelo conteúdo.
Em contrapartida, o guru cria uma relação pessoal e duradoura, onde tanto revela como
oculta, só conclui sua tarefa quando transmite a mensagem.
A performance do Guru é mais poderosa que a do iniciador pois:
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Para Barth, ao invés de criar nomes para fenômenos que muitas vezes permanecem
inexplicáveis, prefere enfocar na sociologia das transações envolvendo o conhecimento
para assim compreender as dinâmicas desses conhecimentos.
- O guru FALA para a audiência enquanto o iniciador faz performances pouco verbais.
Duas formas diferentes de conhecer. O conhecimento é individualizado na memoria de
cada um e reproduzido através da comunicação.
- O trabalho do guru é conduzido por uma logica e integrado na explicação e na
conversação. Isso gera impactos na massa de imagens culturais produzidas em Bali.
- Há pressão sobre os alunos e discípulos pois eles fazem parte do projeto de transição e
a aprimoramento do conhecimento pelo guru.
Wikan investiga como os balineses moldam sua consciência se baseando no que
chamam “ngabe keneh” (administrando o coração).
Moldam assim os impulsos, pensamentos, atos, baseados no equilíbrio e pensamento
positivo.
Também devido aos gurus, esse discurso moral se propaga pelas gerações, coisa que
não é vista na Nova Guiné.
Gurus estabilizam uma relação como pai e filho com discípulos. Para os muçulmanos
estão em graus de respeito similar pai, o guru e deus. Os hinduístas acreditam que
alguns conhecimentos religiosos profundos só devem ser adquiridos por pessoas mais
velhas.
O autor compara a doutrina de Bali com Butão onde o país é totalmente budista. Há
uma hierarquia de transmissão do conhecimento, etapas de estudo que por sua vez é
individualizado para cada linhagem de mestres e aprendizes.
Cada linhagem é associada a origem do conhecimento até Buda. Uma das fontes do
conhecimento budista é o guru Rimpoche que levou a doutrina ao Tibete, Sikkim e ao
Butão, a reencarnação do senhor Buda. Barth ainda cita outras genealogias
discípulo/mestre.
Percebe que algumas tradições inteiras são transportadas por uma única pessoa.
Para mensurar a saga de um guru, Barth fala das distancias percorridas de forma
solitária na página 154. Pensa esse modelo para compreender a penetração hindu no
sudeste asiático de forma pacífica, levando filosofia, religiões e medicina para o
conjunto de ilhas.
Em certo ponto Barth distingue a penetrabilidade dos conhecimentos do Guru e do
iniciador e como essa diferença na proliferação afetou nas distribuições culturais.
Em Bali a família escolhe livremente o guru ao qual irá vincular o filho
permanentemente.
Os pais dão presentes e trabalham nas roças dos gurus (nulungin).
O Guru ao ver seu discípulo da a benção (barkat) e seu discípulo demonstra respeito.
Iniciador: Há ainda uma discussão sobre as relações de troca na Melanésia, afirmando
posteriormente que as trocas são simbolicamente ordenadas e fazem parte da construção
cultural dessa realidade e
discorre sobre essa forma de troca relacionada a posição social dada a valorização dos
objetos que pode ser transferível.
Essa posição também é somada a uma economia de transmissão e reprodução do
conhecimento, mantendo a posição social através da ocultação do segredo.
O homem que possui grandes segredos, que podem transmitir “para baixo”, mas não há
trocas para cima tem como último ato o sacrifício, uma transação com os ancestrais.
O esquema da página 160 explica perfeitamente a distribuição do conhecimento por
meio do iniciador e do guru.
Finaliza posteriormente o capítulo discutindo o caminho que seguiu para comparar os
dois grupos, não pensando historicamente ou economicamente, mas pelas
transformações e caminhos do conhecimento de cada grupo que conduziu cada um a
uma organização social.
Discute ainda sobre como chegar em tais modelos distintos sem seguir o caminho de
buscar traçar conexões entre os dois grupos para realizar esse tipo de discussão
comparativa, afirma então que a antropologia tem trilhado um caminho que reconhece a
multiplicidade e a multivocalidade da realidade.

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