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Tribunal Superior Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

12/05/2020

Número: 0601236-07.2018.6.07.0000
Classe: RECURSO ORDINÁRIO
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Superior Eleitoral
Órgão julgador: Ministro Og Fernandes
Última distribuição : 05/09/2019
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0600112-86.2018.6.07.0000
Assuntos: Cargo - Deputado Distrital, Abuso - De Poder Econômico, Captação Ilícita de Sufrágio,
Ação de Investigação Judicial Eleitoral
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
JOSE GOMES FERREIRA FILHO (RECORRENTE) MURILLO GUILHERME ANTONIO DE OLIVEIRA
(ADVOGADO)
JULIANA MARIA SOARES RODRIGUES (ADVOGADO)
GUSTAVO TRANCHO DE AZEVEDO (ADVOGADO)
JOSE WELLINGTON MEDEIROS DE ARAUJO (ADVOGADO)
GUSTAVO PRIETO MOISES (ADVOGADO)
CLEBER LOPES DE OLIVEIRA (ADVOGADO)
MARCEL ANDRE VERSIANI CARDOSO (ADVOGADO)
DIOGO HENRIQUE DE OLIVEIRA BRANDAO (ADVOGADO)
RAINER SERRANO ROSA BARBOZA (ADVOGADO)
RAPHAEL CASTRO HOSKEN (ADVOGADO)
NINA RIBEIRO NERY DE OLIVEIRA (ADVOGADO)
EDUARDA CAMARA PESSOA DE FARIA (ADVOGADO)
GABRIEL FIDELIS FURTADO (ADVOGADO)
MAYTA VERSIANI CARDOSO GALVAO (ADVOGADO)
RITA NOGUEIRA MACHADO (ADVOGADO)
FRANCISCO DOMINGOS DOS SANTOS (RECORRIDO) RAMON OLIVEIRA CAMPANATE (ADVOGADO)
EDUARDO OCTAVIO TEIXEIRA ALVARES (ADVOGADO)
Procurador Geral Eleitoral (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
26387 19/03/2020 19:07 Parecer da Procuradoria Parecer da Procuradoria
588
MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
PROCURADORIA-GERAL ELEITORAL

PGE Nº 129.332 3.573/19/MPE/PGE/RBG


BRASÍLIA/DF E 2018
RECURSO ORDINÁRIO Nº 0601236-07.2018.6.07.0000
RECORRENTE José Gomes Ferreira Filho
ADVOGADOS Murillo Guilherme Antônio de Oliveira e Outros
RECORRIDO Francisco Domingos dos Santos
ADVOGADOS Ramon Oliveira Campanate e Outro
RELATOR Ministro Og Fernandes

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Egrégio Tribunal Superior Eleitoral,

PA R E C E R
Eleições 2018. Deputado Distrital. Recurso Ordinário. Ação de

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investigação judicial eleitoral. Abuso de poder econômico. Prova robusta.
Configuração. Gravidade das circunstâncias. Comprovação. Sanção
personalíssima. Cometimento, participação e anuência do candidato
eleito.

1. A única regra suscetível de ser extraída do disposto nos arts. 28, § 4º e 19,
parágrafo único, do Código Eleitoral, é a de que a cassação do registro ou do
diploma apenas é possível pelo voto da maioria absoluta dos membros do
respectivo Tribunal Eleitoral.
2. Não satisfaz o requisito do prejuízo efetivo reclamado pelo preceito inscrito
no art. 219 do Código Eleitoral, a mera, remota e teórica possibilidade de que o
voto do Presidente da Corte Regional alterasse o veredito questionado,
sobretudo quando fruto de votação unânime (6x0).
3. Ao exigir a publicação da escolha dos candidatos – no prazo de 24 horas e
em qualquer meio de comunicação – a reforma introduzida pela Lei nº
12.891/2013 e mantida, no ponto, pela Lei nº 13.165/2015, possibilitou que a
AIJE pudesse ser ajuizada após a convenção partidária, momento em que já
está configurada a condição de candidato.
4. É tempestiva a AIJE proposta na mesma data em que formulado o pedido de
registro de candidatura.
5. O acervo fático probatório dos autos revela que o recorrente, assim como o
gerente, supervisores e encarregados da Real JG impuseram aos empregados
um ambiente profissional em que a democracia e o livre pensamento acerca de
convicções políticas foram tolhidos ou até mesmo serviram de motivação para,
imotivadamente, ser causa de demissão.
6. Referido quadro compromete substantivamente a higidez, lisura e
normalidade do pleito – bens jurídicos protegidos pela Constituição da
República em seu art. 14, § 9º e pelos arts. 19 e 22, XIV, da Lei Complementar
nº 64/1990 –, o que deve ser refutado pela Justiça Eleitoral, devendo ser

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mantida, por conseguinte, a cassação do diploma do investigado e sua


inelegibilidade por 8 (oito) anos.
7. A sanção de inelegibilidade decorrente da prática de abuso de poder é
perfeitamente aplicável ao candidato que participou e anuiu com o ilícito.
Precedentes.

- Parecer pelo improvimento do recurso ordinário.

-I-

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1. Trata-se de recurso ordinário interposto por José Gomes Ferreira Filho
(ID 16184238) contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Eleitoral do
Distrito Federal (ID 16182338).

2. Na origem, foi proposta ação de investigação judicial eleitoral por Francisco


Domingos dos Santos, candidato eleito ao cargo de Deputado Distrital pelo
Partido dos Trabalhadores – PT, em desfavor de José Gomes Ferreira Filho, eleito
ao mesmo cargo pelo Partido Socialista Brasileiro – PSB, imputando-lhe a prática

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de abuso de poder econômico e captação ilícita de sufrágio, nos termos do art. 22,
XIV, da Lei Complementar nº 64/1997 e art. 41-A, da Lei nº 9.504/1997 (ID
16175288).

3. Segundo narrou a petição inicial, o ora recorrente, proprietário da empresa


Real JG Serviços Gerais, promoveu reuniões políticas com seus empregados, cuja
presença era obrigatória, visando angariar votos.

4. Acrescentou que, após a publicação em redes sociais pelo próprio


candidato de vídeo relatando a realização de ditos encontros, ex-funcionários da
empresa comentaram a prática abusiva.

5. Aduziu que a demissão de funcionários que não declararam apoio político


ao representado foi objeto de reportagem do jornal Metrópoles e que há gravações
que evidenciam o abuso de poder econômico, ante a ameaça do candidato de
demitir seus empregados caso não o apoiem.

6. Noticiou, ainda, que a presença dos funcionários em eventos políticos,


como a convenção partidária, eram controlados por meio de página na internet, em
que era exigido o registro de informações pessoais, tratando-se de instrumento de
monitoramento e identificação dos eleitores.

7. Asseverou, também, que o abuso de poder consistia na coação moral


infligida aos empregados, decorrente da exigência por parte do candidato de
lealdade eleitoral, ameaçando seus funcionários de rastrear, por seção eleitoral, os

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votos computados a seu favor, demitindo os que não tivessem nele votado e, por
outro lado, garantindo o emprego daqueles que assim o fizessem.

8. No âmbito do TRE/DF, a Procuradoria Regional Eleitoral no Distrito


Federal manifestou-se pela procedência dos pedidos contidos na inicial e a
consequente cassação do diploma do então representado, bem como a declaração de
sua inelegibilidade por 8 (oito) anos, ante a configuração do abuso de poder
econômico (ID 16181188).

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9. Devidamente processada a ação, a Corte Regional rejeitou as preliminares
de intempestividade da ação e de inépcia da inicial e acolheu a preliminar de
extemporaneidade da juntada de documentos.

10. No mérito, afastou a configuração de captação ilícita de sufrágio, ante a


constatação de que os fatos ocorreram antes da formulação do pedido de registro da
candidatura. Julgou, todavia, procedente a ação quanto à prática de abuso de poder
econômico, determinando a cassação do diploma do investigado e declarando-o

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inelegível por 8 (oito) anos.

11. Eis a ementa do acórdão (ID 16182338):


ELEITORAL. ELEIÇÕES 2018. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO
JUDICIAL ELEITORAL. ABUSO DO PODER ECONÔMICO
CONFIGURADO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO
IMPROCEDENTE. COAÇÃO VELADA DE FUNCIONÁRIOS PARA
QUE VOTEM NO PROPRIETÁRIO DE EMPRESA SOB PENA DE
PERDEREM O EMPREGO. PRELIMINAR DE
INTEMPESTIVIDADE DA AIJE REJEITADA. PRELIMINAR DE
INÉPCIA DA INICIAL POR AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA
REJEITADA. PRELIMINAR DE INADMISSÃO DE DOCUMENTOS
JUNTADOS APÓS O ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO
PROBATÓRIA REJEITADA QUANTO À SENTENÇA
TRABALHISTA PROFERIDA E ACOLHIDA QUANTO À AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. PROVAS TESTEMUNHAIS E DOCUMENTAIS
QUE CONFIRMAM O ABUSO. ÁUDIOS E VÍDEOS QUE REVELAM
A PRÁTICA ABUSIVA DE PRESSÃO E CONSTRANGIMENTO
SOBRE OS FUNCIONÁRIOS. PERÍCIA. DEGRAVAÇÃO DE ÁUDIO
QUE CONFIRMA A NECESSIDADE DE LEALDADE POR PARTE
DOS FUNCIONÁRIOS PARA A MANUTENÇÃO DE EMPREGOS.
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. CASSAÇÃO DO DIPLOMA.
DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE POR OITO ANOS.
1. Devem ser rejeitadas as preliminares de intempestividade da ação, de inépcia
da inicial por ausência de justa causa e de inadmissão de juntada de
documentos após o encerramento da instrução probatória quanto às cópias de
sentença trabalhista.

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2. Deve ser acolhida a preliminar de inadmissão de cópias de ação civil pública,


vez que não preenchidos os requisitos previstos no art. 435 do CPC.
3. Conjunto probatório amplo constituído por áudios, vídeo, depoimentos
testemunhais, provas emprestadas oriundas de sentença proferida em
reclamação trabalhista e processo administrativo do Superior Tribunal de
Justiça, a evidenciar a coação e o constrangimento dos funcionários de empresa
de propriedade do Representado, com fins a lhe angariar votos.
4. Pressão exercida de forma velada, consubstanciada na manutenção dos
empregos dos funcionários caso demonstrada a lealdade eleitoral para com o

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Representado, patrão dos colaboradores. Ameaças de demissão para aqueles
que não revelem o apoio exigido pelos encarregados e supervisores da empresas,
cargos hierarquicamente superiores entre os empregados.
5. Envio de mensagens de WhatsApp antes do período eleitoral, a demonstrar
inequívoco conhecimento, por parte do Representado, das condutas que
visavam a angariar votos entre o plantel de colaboradores.
6. Áudios que instruem a inicial que revelam que a empresa possui informações
dos funcionários que permitem saber quantos votaram no Representado e
quantos não o fizeram, causando temor e apreensão entre os colaboradores da
empresa com a possibilidade de perda de seus empregos.

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7. Realização de reuniões na empresa com finalidades políticas, porém
camufladas como de treinamento. Reuniões fora da empresa com a participação
do Representado, algumas nas casas de empregados. Alegações de que os
encontros foram espontâneos por parte dos colaboradores sob o argumento de
que o Representado, dono da empresa, é muito querido por seus funcionários.
Empresa com mais de 10.000 (dez mil) colaboradores, segundo informações da
defesa.
8. Ação trabalhista julgada procedente concluindo pela coação de funcionária
para que votasse no candidato proprietário da empresa, culminando com sua
dispensa por motivos políticos.
9. Discurso uníssono das testemunhas que ocupam cargos de hierarquia
superior dentro da empresa, relatando que: a) desconheciam qualquer conduta
que ensejasse coação, ameaça ou pedido de voto para o representado; b) o
senhor Douglas Ferreira Laet não trabalhava mais na empresa, desde final de
2017, em conflito com depoimentos de ex-empregados que confirmaram que o
senhor Douglas continuava atuante na empresa; c) não foram orientados a
pedir votos ao Representado, nem para admitir ou demitir empregados em
razão de questões políticas; e d) os funcionários da Real JG Serviços, em que
pese em quantidade acima de dez mil e a alta rotatividade, conforme a própria
defesa informa, são gratos ao Representado, sendo muito querido pelos
empregados.
10. Comprovação robusta e contundente da prática de condutas por agentes a
mando do Representado. Comprovado à saciedade o uso da estrutura da Real
JG Serviços Gerais Ltda., empresa de grande porte, em benefício e privilégio da
candidatura do Representado, afetando a legitimidade e a normalidade do
pleito em seu benefício.

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11. Aplicação de sanção de cassação do diploma do candidato eleito, uma vez


comprovado o benefício auferido em razão da prática do ato considerado ilícito.
12. Restou comprovada a participação direta do réu nos atos de abuso de poder
econômico, seja por meio de mensagens enviadas aos colaboradores da empresa,
por sua participação de reuniões com a presença de empregados, seja pela
insistente coação exercida pelos supervisores e encarregados sobre os
funcionários, o que enseja a declaração da inelegibilidade para os próximos 8
(oito) anos posteriores ao pleito de 2018.
13. Circunstâncias do caso que revelam especial gravidade da conduta ilícita

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que comprometeu a lisura das eleições e a igualdade de condições entre os
candidatos no pleito de 2018.
14. Procedência dos pedidos da ação de investigação judicial eleitoral com
fundamento no artigo 22, inciso XIV, da Lei Complementar no 64, de 18 de
maio de 1990, com a redação da Lei Complementar nº 135, de 4 de junho de
2010, cassado o diploma e, por consequência, o mandato de deputado distrital
do Representado, José Gomes Ferreira Filho, e declarada a sua inelegibilidade
para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes ao pleito de
2018.

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12. Opostos embargos de declaração (ID 16182888), estes foram desprovidos
(ID 16183838).

13. Contra estas decisões, José Gomes Ferreira Filho deduz o presente recurso
ordinário, fundado no art. 121, § 4º, III e IV, da Constituição Federal (art. 276, II,
“a”, do Código Eleitoral), aduzindo, em síntese, as seguintes teses (ID 16184238):

a) violação ao art. 28, § 4º, do Código Eleitoral e à jurisprudência


do TSE, por não ter sido colhido o voto da Presidente do
Tribunal Regional Eleitoral;

b) desrespeito à norma inserta no art. 22, caput, da Lei


Complementar nº 64/90, tendo em vista que o termo inicial para
o ajuizamento da AIJE é o registro da candidatura, cujo prazo era
15.08.2019, sendo a presente ação proposta em 14.08.2018,
portanto, antes de referido marco;

c) contrariedade ao art. 16 da Constituição da República, na


medida em que a jurisprudência firmou-se no sentido de que o
termo inicial para o ajuizamento da ação de investigação judicial
eleitoral é o registro da candidatura e que a eventual “mudança de
entendimento consolidado não tem aplicabilidade imediata sobre o
caso concreto” (ID 16184238, p. 24);

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d) não caracterização de abuso de poder, porquanto o candidato


não exerceu pressão interna em sua empresa Real JG para angariar
votos de seus empregados, sendo que “a fala do Douglas Ferreira de
Laet é uma resposta às imputações do Deputado Chico Vigilante,
realizadas por intermédio do Facebook”, bem como que “a busca pelo
apoio de seus funcionários na caminhada política, por si só, não
configura qualquer ilícito eleitoral, uma vez que não foi evidenciado
qualquer ato tendente a retirar da liberdade de escolha intrínseca aos

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eleitores empregados na empresa” (ID 16184238, p. 30);

e) ainda quanto ao ponto, as reuniões para entrega de uniforme


ocorreram e nelas não houve pedido de voto e nem de apoio e que
a demissão de funcionários ocorreu não por questões políticas,
mas empresariais, pois a empresa contrata ou demite empregados
terceirizados a depender da demanda de trabalho e/ou por
motivos de histórico profissional insatisfatório;

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f ) o depoimento da testemunha Douglas ganha relevo, na medida
em que contradiz os áudios colacionados aos autos cuja
autenticidade é duvidosa;

g) a sanção de inelegibilidade não pode ser aplicada, por ser de


caráter personalíssimo, sendo que, in casu, não foi comprovado que
ele coagiu ou anuiu com as condutas perpetradas.

14. Apresentadas contrarrazões (ID 16184488), os autos foram remetidos a


esse Tribunal Superior Eleitoral.

15. Vieram os autos à Procuradoria-Geral Eleitoral, nos termos do art. 269, §


1º, do Código Eleitoral.

- II -

16. O recurso foi tempestivamente interposto 1 (ID 16184238) e a parte possui


representação processual regular (ID 16181588).

- III -

17. Quanto à alegada nulidade do acórdão por ter a Presidente da Corte a quo
deixado de proferir seu voto, não assiste razão ao recorrente.

1
O acórdão que julgou os embargos de declaração foi publicado em 12.08.2019 (segunda-feira),
tendo a parte interposto, tempestivamente, o recurso ordinário em 14.08.2019 (quarta-feira).

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18. É certo que o Código Eleitoral prescreve no parágrafo 4º do artigo 28 que,


havendo decisão que importe cassação do registro ou perda do diploma, deverão
estar presentes todos os membros do Tribunal Regional. A ver:
Art. 28. Os Tribunais Regionais deliberam por maioria de votos, em sessão
pública, com a presença da maioria de seus membros.
[...]
§ 4º As decisões dos Tribunais Regionais sobre quaisquer ações que importem
cassação de registro, anulação geral de eleições ou perda de diplomas somente

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poderão ser tomadas com a presença de todos os seus membros

19. Todavia, ao contrário do que afirma a parte recorrente, a interpretação


desse particular dispositivo não permite concluir que o termo “presença” deve ser
compreendido como um mero sinônimo da palavra “voto”.

20. Nota-se, a propósito, que o caput do artigo nitidamente distingue o


significado dos vocábulos em referência ao consignar que os tribunais deliberam
“por maioria de votos [...] com a presença da maioria de seus membros”.

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21. A regra inscrita no caput, como se vê, é bastante clara ao vincular o termo
“presença” apenas ao quórum necessário para a instalação das sessões.

22. É dizer, em outros termos, que a norma exige que ao menos 4 magistrados
– isto é, a maioria dos 7 membros que compõem os tribunais – se façam presentes
para a abertura da sessão, e que no mínimo 3 deles – a maioria do quórum de
instalação (4) –, votem no mesmo sentido.

23. Nada mais fez, portanto, do que impor um piso – tanto de instalação da
sessão (4) quanto de votação (3) –, dispensando, ante a observância desses
quantitativos mínimos, a necessidade de que todos os magistrados presentes
proferissem voto.

24. Essa é a razão por que a doutrina e a jurisprudência jamais consideraram


nula as inúmeras regras regimentais que permitem ao Presidente da Corte votar
apenas em casos excepcionais.

25. Com a reforma eleitoral de 2015 – Lei nº 13.165 – o legislador inseriu o §


4º ao art. 28, criando uma exceção à regra descrita no caput, notadamente quanto ao
quórum de instalação para julgamento de casos específicos 2, o qual foi elevado de 4
(maioria dos membros) para 7 (total de membros).

2
Ações que importem cassação de registro, anulação geral de eleições ou perda de diplomas.

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26. Em consequência, também acabou por aumentar o quantitativo mínimo de


votos necessários à tomada de decisão nessas hipóteses, que passou de 3 (maioria do
quórum de instalação previsto no caput) para 4 (maioria do total de membros dos
tribunais – ou seja, a maioria absoluta).

27. Logo, por imperativo lógico, a mesma compreensão que vigorou – e até
hoje vigora – em relação ao caput, deve alcançar a exceção prevista no § 4º. Significa
dizer que, observados os quantitativos mínimos de instalação da sessão (7) e de
tomada de decisão (4), não há nulidade na ausência de manifestação e voto de um

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ou mais magistrados presentes.

28. Sendo esse o contexto, é preciso ter em mente que o acatamento do


entendimento defendido pela parte recorrente implicaria, fatalmente, a conclusão de
que também o caput estabelece a obrigatoriedade de que todos os presentes votem,
conduzindo ao inevitável reconhecimento de que grande parcela dos julgados
proferidos pelos tribunais regionais – nos quais o Presidente não votou – estaria
inquinada de nulidade.

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29. Não apenas isso: essa mesma compreensão também reverberaria na
validade das decisões proferidas por essa Corte Superior.

30. Isso porque a exceção introduzida no § 4º do art. 28 por meio da reforma


de 2015, apenas reproduziu a regra que, desde a publicação do Código Eleitoral
(1965), vigora em relação aos julgamentos procedidos pelo Tribunal Superior
Eleitoral.

31. O simples cotejo dos arts. 28, § 4º e 19, parágrafo único, do referido
Diploma Legal, permite chegar a essa conclusão, como demonstra o quadro a seguir
colacionado:

ART. 28, § 4º (DESDE 2015) ART. 19, PARÁGRAFO ÚNICO (DESDE 1965)
Art. 28. Os Tribunais Regionais deliberam por Art. 19. O Tribunal Superior delibera por maioria
maioria de votos, em sessão pública, com a presença de votos, em sessão pública, com a presença da
da maioria de seus membros. maioria de seus membros.
[…]
§ 4o As decisões dos Tribunais Regionais sobre Parágrafo único. As decisões do Tribunal Superior,
quaisquer ações que importem cassação de registro, assim na interpretação do Código Eleitoral em face
anulação geral de eleições ou perda de diplomas da Constituição e cassação de registro de partidos
somente poderão ser tomadas com a presença de políticos, como sobre quaisquer recursos que
todos os seus membros. importem anulação geral de eleições ou perda de
diplomas, só poderão ser tomadas com a presença
de todos os seus membros. […]

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32. A despeito disso, é indispensável registrar que essa Corte Superior nunca
perfilhou o entendimento de que o voto do Presidente seria imperativo, mesmo nas
hipóteses previstas no parágrafo único do art. 19 do Código Eleitoral.

33. Prova disso são as diferentes redações que, ao longo do tempo, foram
conferidas à alíena “c” do art. 9º de seu Regimento Interno (Resolução TSE nº
4.510/1952), assim resumidas:
Art. 9º Compete ao Presidente do Tribunal:

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[…]

REDAÇÃO ORIGINAL:

c) tomar parte na discussão, e votar no caso de empate, assinando, com o


relator, as resoluções e acórdãos do Tribunal;

REDAÇÃO CONFERIDA PELA RESOLUÇÃO Nº 23.172/2009:

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c) tomar parte na discussão, e votar no caso de empate;

REDAÇÃO ATUALMENTE EM VIGOR, CONFERIDA PELA RESOLUÇÃO Nº 23.226/2009:

c) tomar parte na discussão, e proferir voto de qualidade nas decisões do


Plenário, para as quais o Regimento Interno não preveja solução diversa,
quando o empate na votação decorra de ausência de Ministro em virtude de
impedimento, suspeição, vaga ou licença médica, e não sendo possível a
convocação de suplente, e desde que urgente a matéria e não se possa convocar o
Ministro licenciado, excepcionado o julgamento de habeas corpus onde
proclamar-se-á, na hipótese de empate, a decisão mais favorável ao paciente.

34. É sem dificuldade, portanto, que se depreende que em todas as versões


regimentais – e, notadamente, na que atualmente se encontra em vigor –, há
previsão de que o voto do Presidente seja proferido unicamente em situações
excepcionais.

35. O próprio Ministro Ricardo Lewandowski – em interpretação autêntica –


explicitou essa compreensão, ao assim se referir 3 à emenda regimental aprovada por
meio da Resolução nº 23.226/2009, que conferiu a redação atual da alínea “c” do art.
9º:
Fui relator da emenda regimental em que introduzimos o voto de qualidade
nesta Corte, calcado na emenda regimental feita no Supremo Tribunal Federal,

3
REspe nº 35627/AL, relator designado o Ministro Marco Aurélio, acórdão proferido em 2 de
agosto de 2011.

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e tomamos o cuidado de estabelecer e consignar que o voto de qualidade do


Presidente só se daria em situações excepcionalíssimas.

36. As razões que dão suporte à dispensa do voto do Presidente da Corte –


nos julgamentos cujo veredito já tenha sido alcançado pela maioria absoluta de seus
membros – perpassam, certamente, as atribuições inerentes ao cargo, mormente no
âmbito da Justiça Eleitoral que, como cediço, exerce além da típica função
jurisdicional, a atividade administrativa de organizar o pleito eleitoral.

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37. Como autoridade máxima do órgão judiciário regional, incumbe-lhe
promover e manter as relações interinstitucionais com os demais poderes,
necessárias não apenas ao seu funcionamento regular mas, especialmente, à
consecução das eleições, sabidamente calcada no princípio da colaboração.

38. Ao buscar resguardar o Presidente do Tribunal Eleitoral de participar das


discussões que visam, justamente, examinar a validade do processo pelo qual os
membros dos poderes Executivo e Legislativo – municipal ou estadual –
ascenderam aos cargos, a norma regimental em questão pretende desvincular sua

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imagem do posicionamento perfilhado pelo colegiado.

39. De fato, a normativa impugnada pelo recorrente presume – corretamente –


que a atuação institucional do Presidente da Corte tende a ser desempenhada com
maior eficácia em havendo limitação de sua atividade jurisdicional a situações
excepcionais.

40. Em suma, não apenas a interpretação sistemática do § 4º do art. 28, como


também o entendimento que, ao longo da história, esta própria Corte Superior tem
conferido ao teor do parágrafo único do art. 19, refutam a ideia de que o Presidente
deve invariavelmente votar nas ações que importem cassação de registro, anulação
geral de eleições ou perda de diplomas.

41. Ao ver do Ministério Público Eleitoral, portanto, a única regra estampada


na norma inscrita nos arts. 28, § 4º e 19, parágrafo único, do Código Eleitoral, é a
de que a cassação do registro ou do diploma apenas é possível pelo voto da maioria
absoluta (logo, 4) dos membros do respectivo Tribunal Eleitoral.

42. Qualquer entendimento distinto fatalmente expõe à nulidade incontáveis


decisões proferidas pelos tribunais regionais e, também, por este Tribunal Superior
Eleitoral.

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43. A esse respeito, sobreleva destacar que 16 tribunais regionais eleitorais 4 do


país dispõem, atualmente, de normas regimentais que dispensam o respectivo
Presidente de votar na maior parcela dos julgamentos, aí incluídos os que têm por
objeto as ações mencionadas no art. 28, § 4º, do Código Eleitoral.

44. E o exame dos regimentos internos das outras 11 Cortes eleitorais


evidencia que, na maioria delas, a exigência do voto do Presidente nessas matérias
passou a integrar o texto normativo apenas recentemente5.

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45. Delineado tal contexto, verifica-se que o presente recurso ordinário oferece
oportunidade para, com a urgência necessária, ajustar-se o entendimento firmado
no julgamento do RO nº 729906/RJ, relatado pelo Ministro Jorge Mussi6.

4
(1) TRE/AC (art. 19, III, c/c 111, § 1º, I) – (2) TRE/AL (art. 18, III, c/c 47, § 1º) – (3) TRE/AP
(art. 16, II e III c/c 58, § 3º) – (4) TRE/AM (art. 18, V, c/c 7º, § 1º) – (5) TRE/CE (art. 23, II, c/c
60, §§ 1º e 2º) – (6) TRE/ES (art. 11, V c/c 33, § 3º) – (7) TRE/GO (art. 15, II c/c 52, § 1º) – (8)

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TRE/MS (art. 22, V c/c 93) – (9) TRE/MG (art. 17, II c/c 95, §§ 1º e 2º) – (10) TRE/PI (art. 16,
II c/c 46, § 2º) – (11) TRE/RS (art. 17, II e III c/c 60, §3º) – (12) TRE/RO (art. 12, § 1º c/c 14,
I) – (13) TRE/RR (art. 16, II e III c/c 80, § 4º) – (14) TRE/PR (art. 23, III c/c 66, §§ 3º e 4º) –
(15) TRE/SP (art. 24, II c/c 68, § 1º) – (16) TRE/DF (art. 17, XXVI)

5
TRE/BA (art. 8º, I e II c/c 77, § 1º; cf. regimento aprovado em 2017) – TRE/MA (art. 18,
XXVIII c/c 74, parágrafo único; cf. redação inserida em 2019) – TRE/MT (art. 19, II; cf. redação
inserida em 2017) – TRE/PB (art. 26, II; cf. redação inserida em 2018) – TRE/PE (art. 19, I c/c
50 § 5º; cf. regimento aprovado em 2017) – TRE/RJ (art. 26, II, cf. redação inserida em 2018) –
TRE/RN (art. 20, II c/c 93, § 3º c/c 94, II e IV, cf. redação inserida em 2018) – TRE/SE (art. 28,
III, cf. regimento aprovado em 2016) – TRE/TO (art. 20, III, cf. redação inserida em 2018).

6
Assim ementado: RECURSOS ORDINÁRIOS. ELEIÇÕES 2014. GOVERNADOR. VICE-
GOVERNADOR. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE). ABUSO DE
PODER POLÍTICO E ECONÔMICO. QUÓRUM COMPLETO. ART. 28, § 4º, DO CÓDIGO
ELEITORAL. INOBSERVÂNCIA. NULIDADE. PROVIMENTO. 1. O TRE/RJ, em Ação de
Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) por abuso de poder econômico e político (art. 22 da LC
64/90), cassou os diplomas dos recorrentes e os declarou inelegíveis com votos de apenas cinco de
seus sete membros, por maioria mínima de três a dois, deixando de votar o Presidente e Juíza da
classe dos advogados, em afronta ao art. 28, § 4º, do Código Eleitoral e à jurisprudência. 2. Incabível
afirmar que o voto do Presidente seria necessário apenas em caso de empate, de incidente de
inconstitucionalidade ou de feito em que atue como Relator. O art. 26, II, do RI – TRE/RJ é de
2014, anterior, portanto, à introdução do § 4º ao art. 28 do Código Eleitoral, e, ademais, o próprio
Regimento Interno foi alterado em 2015 para se adequar ao novo texto legal. 3. Irrelevante a
circunstância de uma das Juízas que integrava a classe dos advogados declarar suspeição no curso
do julgamento, pois o TRE/RJ contava com Juíza titular da mesma classe que ingressara na Corte a
posteriori. Cabia, assim, renovar o relatório e as sustentações orais (precedentes e Regimentos
Internos da c. Suprema Corte e do c. Superior Tribunal de Justiça). 4. Anulado o julgamento por
inobservância de quórum, fica prejudicada a análise das demais questões – preliminares e de mérito
– trazidas no recurso. Precedentes. 5. Recursos ordinários providos para anular os acórdãos
regionais, determinando-se o retorno dos autos a fim de que o TRE/RJ rejulgue a causa. Execute-se
este aresto logo após sua publicação.

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46. Volvendo a atenção ao caso concreto, infere-se que o acórdão regional


resultou da votação unânime dos membros da Corte Regional, tendo obtido 6 votos
a favor da condenação pela prática de abuso de poder econômico.

47. Merece registro o fato de que a Presidente da Corte, embora presente, não
proferiu voto, dado o comando ínsito no art. 17, XXVI, do Regimento Interno, que
assim dispõe:
Art. 17. São atribuições do Presidente do Tribunal:

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[...]
XXVI – tomar parte na discussão sobre a matéria em julgamento, proferir
voto no caso de empate e em caso de matéria de natureza constitucional e,
ainda, apresentar e relatar matéria administrativa

48. Não obstante isso, é dado constatar que o veredito ora impugnado
ultrapassou, em muito, a maioria absoluta dos componentes do órgão colegiado,
não havendo que se falar, portanto, em violação ao disposto no art. 28, § 4º, do
Código Eleitoral.

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49. Para além dessas considerações, o exame desse específico ponto do recurso
ordinário impõe, ainda, a lembrança de que a decretação de qualquer nulidade na
seara eleitoral exige, indispensavelmente, a demonstração de dano efetivo.

50. O princípio do prejuízo, que inspira o microssistema de nulidades


processuais, encontra expressa previsão no artigo 219 do Código Eleitoral, que
assim dispõe:
Art. 219 Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins e
resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades sem
demonstração do prejuízo.

51. Na espécie, a parte recorrente não se desincumbiu do ônus de demonstrar


que a ausência do voto da Presidente da Corte Regional lhe implicou dano
concreto. Evocou, apenas em teoria, o potencial que o voto de qualquer dos
membros tem de alterar o convencimento já firmado por um de seus pares.

52. Ocorre, no entanto, que a mera e remota possibilidade de que essa


circunstância viesse a ocorrer – caso fosse proferido o voto da Presidente – não
satisfaz o requisito do prejuízo efetivo reclamado pelo preceito inscrito no art. 219
do Código Eleitoral.

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53. Há que se convir que a decisão que se pretende anular dificilmente seria
alterada, uma vez que proferida em votação unânime (6x0), mesmo após um dos
membros do Tribunal ter formulado pedido de vista (ID 16182138).

54. Necessário destacar, ainda, que a jurisdição eleitoral é também marcada


pelo princípio da celeridade e, como tal, não é suscetível ao excessivo rigor formal
que, em tese, direciona o rito adotado em outros campos judiciais.

55. Dessa feita, a compreensão de que somente a chance – ainda que longínqua

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– de reversão de determinado ato judicial seria suficiente para anulá-lo,
comprometeria a celeridade processual, atentando diretamente contra o preceito
constante do art. 97-A da Lei das Eleições.

56. Por fim, cabe recordar que esse particular entendimento foi recentemente
adotado por este Tribunal Superior, em caso similar ao que ora se examina 7. Na
ocasião, a nulidade do acórdão questionado, apoiada no fato do Presidente da Corte
Regional não ter proferido voto, foi afastada ante a remota probabilidade de

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alteração do veredito, então tomado por unanimidade8.

57. Sendo esse o contexto, impõe-se concluir que a tese de nulidade do acórdão
regional pelo cogitado descumprimento do art. 28, § 4º, do Código Eleitoral, não
merece ser acolhida.

- IV -

58. Tampouco se sustenta a alegada ofensa aos arts. 22, caput, da Lei
Complementar nº 64/90 e 16 da Constituição da República.

59. No ponto, a parte recorrente afirma que não obstante o termo inicial para o
ajuizamento da AIJE seja a data do registro da candidatura, a presente ação foi
proposta em 14/8/2018, antes, portanto, de referido marco.

60. Alega, ainda no ponto, que esse particular entendimento está consolidado
na jurisprudência dessa Corte Superior e, por isso mesmo, não poderia ser alterado
abruptamente sem que fosse violado o princípio da anualidade da lei eleitoral,
também aplicado às orientações jurisprudenciais.

61. É assente, nesse Tribunal Superior, que “a conduta vedada do art. 73, § 10,
da Lei nº 9.504/97 e o abuso de poder do art. 22 da LC nº 64/90, como objeto de ação
7
AgR no REspe nº 4248/CE, relator designado o Ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto,
julgamento concluído em 27 de agosto de 2019.
8
Naquela circunstância, além da votação unânime, foi destacado o fato do então Presidente ter
proferido voto no mesmo norte em julgamento posteriormente anulado.

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de investigação judicial eleitoral, terão a sua apuração deflagrada após o registro da


candidatura, termo inicial para o manejo dessa via processual, podendo, contudo,
levar a exame fatos ocorridos antes mesmo das convenções partidárias, porquanto
não cabe confundir o período em que se conforma o ato ilícito com aquele no qual se
admite a sua averiguação”9.

62. A partir deste pronunciamento, duas conclusões podem ser alcançadas: (i)
o termo inicial para ajuizamento da ação de investigação judicial eleitoral recai sobre
a data do registro da candidatura, e (ii) é possível a apuração de fatos ocorridos

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antes do registro de candidatura, inclusive anteriores às convenções partidárias.

63. Como cediço, a data final para requerer o registro de candidatura é o dia 15
de agosto, nos termos do art. 1110, da Lei nº 9.504/1997, o que não significa dizer
que o candidato não a possa formalizar antes desse prazo final.

64. No caso concreto, foi precisamente o que ocorreu. É possível aferir, a partir
da página oficial do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal na internet, que

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o ora recorrente formalizou o pedido de registro de sua candidatura no dia 14 de
agosto de 201811.

65. Essa mesma informação consta, ainda, do Sistema de Divulgação de


Candidaturas – DivulgaCand – disponível no sítio eletrônico deste Tribunal
Superior Eleitoral12 na internet, de onde é possível extrair a seguinte informação:

9
Recurso Especial Eleitoral nº 57611, acórdão relatado pelo Min. Tarcisio Vieira de Carvalho Neto,
publicado no Diário de Justiça Eletrônico de 16/04/2019.
10
Art. 11. Os partidos e coligações solicitarão à Justiça Eleitoral o registro de seus candidatos até as
dezenove horas do dia 15 de agosto do ano em que se realizarem as eleições.

11
Processo nº 0601278-53.2018.6.07.0000, andamento processual obtido em
https://pje.tse.jus.br:8443/pje-web/Processo/ConsultaProcesso/Detalhe/listAutosDigitais.seam?
idProcesso=33589&ca=0cf2fd6820e19fd263d8ee1d19e738f394c96f60fe8e96a41b71adf7b5aae8c
947d24cc5287931becda3cb09fc8cc47f

12
http://consultapublicapje.tse.jus.br/detalhar-processo?
pNumProcesso=b4532b11927749e33b18940c4ddd55a0679dcb29dbf5677af379e48211bf12144193891bdf7
3714e

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66. Destarte, é dado concluir que a parte recorrente se equivocou ao afirmar
que a vertente ação foi ajuizada antes do registro de sua candidatura, sendo
inequívoco que, em verdade, sua formalização ocorreu no dia 14 de agosto de 2018,
mesma data em que foi proposta a AIJE.

67. Não obstante isso, é incontroverso o fato de que José Gomes, à época do
ajuizamento da ação, já havia sido escolhido como candidato em convenção
partidária realizada pelo seu partido (PSB).

68. Logo, agiu corretamente a Corte Regional ao concluir que a reforma


introduzida pela Lei nº 12.891/2013 e mantida, no ponto, pela Lei nº
13.165/2015, ao exigir a publicação da escolha dos candidatos – no prazo de 24
horas e em qualquer meio de comunicação – possibilitou que a AIJE pudesse ser
“ajuizada após a convenção partidária, posto que configurada a condição de candidato”
(ID 16182488).

69. Em suma, não subsiste a alegada afronta aos arts. 22, caput, da Lei
Complementar nº 64/90 e 16 da Constituição da República.

-V-

70. No que se refere ao abuso de poder econômico, melhor sorte não assiste ao
recorrente.

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71. Do acervo fático probatório, extrai-se que os empregados da empresa Real


JG Serviços Gerais, cujo proprietário é o recorrente, foram coagidos e assediados
para que manifestassem apoio político em favor de sua candidatura, assim como a
trabalharem por sua eleição, seja “bandeirando”, utilizando dísticos do candidato ou
divulgando seu nome para servidores públicos nos locais de trabalho, sendo,
inclusive, alguns deles, obrigados a preencherem planilha com número mínimo de
eventuais eleitores, sob pena de, não o fazendo, sofrerem prejuízos em sua relação
de emprego.

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72. As provas são contundentes e robustas quanto às condutas acima descritas,
as quais, por sua vez, configuram inegável abuso de poder econômico.

73. A coação e assédio experimentados pelos empregados da Real JG Serviços


Gerais, que culminou na demissão de empregados não comprometidos com a causa,
foram, inclusive, noticiados no Jornal Metrópoles, cuja matéria foi intitulada “Pré-
candidato à CLDF é acusado de demitir mulheres indicadas por rival” e publicada no
dia 27/07/201813.

http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 7343F329.ABD9ACFE.CE5FB783.A0803D2D


74. Por sua vez, na petição inicial da reclamação trabalhista distribuída sob o
nº 0000753-78.2018.5.10.0015 (ID 16176288, p. 8-19), posteriormente julgada
parcialmente procedente (ID 16180938), a ex-empregada da reclamada Real JG
Serviços Gerais, Andrea Palhares de Lima, relatou ter sido dispensada
injustificadamente por não ter se submetido às intimidações e ameaças do gerente
da empresa, Douglas Ferreira Laet, em reuniões de obrigatória presença dos
funcionários, com o fito de angariar votos para o proprietário da empresa e ora
recorrente.

75. A prática de abuso de poder econômico também pode ser constatada no


Procedimento Preparatório Eleitoral nº 08190.025063/18-39 (ID 16176288, p.
128-131), no qual restou comprovado o envio de mensagens por meio de aplicativo
WhatsApp em grupo criado, exclusivamente, com o intuito de divulgar informações
profissionais, chamando os empregados a participarem de atos de campanha do
proprietário da empresa e convocando-os a “abraçar essa causa juntos e acreditar em
uma mudança que possa beneficiar a todos”.

76. Consta, ainda, em referido Procedimento Preparatório Eleitoral,


mensagem enviada pelo aplicativo em que o próprio candidato ressalta a
importância dos trabalhadores, incitando-os a “abraçar a causa” para que todos
sejam beneficiados Confira-se o teor da mensagem enviada pelo próprio recorrente
(ID 16176288, p. 223):
13
Disponível em <http://www.metropoles.com/distritofederal/politica-df/pre-candidato-a-cldf-e-
acusado-de-demitir-mulheres-indicadas-por-rival>.

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“Bom dia.
Hoje terei um tempinho para passar para vocês a importância que todos nós
temos nessa empresa, o quanto somos fundamentais para o andamento da
mesma.
Somos a máquina trabalhadora más [sic] também somos o escudo de
proteção, que devemos valorizar e priorizar tudo o que temos nela, daqui
levamos fartura as nossas mesas e condições de melhoria a toda nossa
família, somos a maior família de Brasília, isso graças a persistência de um
homem que começou com uma pequena empresa que hoje é uma das maiores

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empregadoras do DF, sei que posso falar dele para vocês pois estamos juntos
há alguns anos, gostaria de dizer para vocês que no momento de grandes
dificuldades que nosso país está passando muitos se encontram desiludidos
sem saber em quem acreditar.
Portanto, temos reflexo de um trabalho que está dando certo que com sua
persistência e profissionalismo possa trazer uma nova história para o meio
político, vamos abraçar essa causa juntos e acreditar em uma mudança que
possa beneficiar a todos com um trabalho honesto e íntegro.
Não vamos só vestir a camisa, vamos também pegar essa causa de coração e
juntos construiremos um novo futuro para a nossa nação.

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José Gomes
Dep. Distrital”

77. Não há dúvidas de que a mensagem possui finalidade eleitoreira. Além de


coagir seus empregados-eleitores, afirma que ele (ou sua empresa) é “escudo de
proteção”, por meio da qual terão “fartura” e “condições de melhoria”, cobrando-lhes,
contudo, apoio político, o que pode ser constatado pelo uso das expressões
“vestindo a camisa” e “abraçando essa causa”, ou seja, advertindo os funcionários a
votar nele, assim como a participar de sua campanha política.

78. Colhe-se ainda dos autos que os empregados foram obrigados a entregar
ficha cadastral em que constam as informações eleitorais dos trabalhadores e que
Douglas Ferreira Laet, na qualidade de gerente da empresa, em reunião realizada
com os empregados, afirmou que o recadastramento seria exigência governamental
(ID 16175238).

79. Ocorre que, na mencionada reunião, ameaçou os funcionários ao afirmar


que saberia quem traiu e quem não traiu o candidato José Gomes. É o que se
verifica do áudio nº 1, a partir de 1:23min, cuja integridade 14 foi verificada pelo
14
Confira-se a conclusão alçada pela Polícia Federal:
V – CONCLUSÃO
O Perito realizou a transcrição e o exame de verificação de edição dos registros de áudio digital dos arquivos
AUDIO 1.mp3 e AUDIO 2.mp3, que estavam contidos na mídia encaminhada a exame.
As transcrições encontram-se nas seções III.1 e III.2 para os arquivos AUDIO 1.mp3 e AUDIO2.mp3,
respectivamente.
O exame de verificação de edição, realizado conforme as técnicas e procedimentos especificados no item

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corpo técnico da Polícia Federal, conforme Laudo Pericial nº 1343/2018-SETEC/


SR/PF/DF (ID 16180438).

80. Confira-se (ID 16180438, p. 5):


“Então, só para deixar claro: eu já tenho o título de eleitor de vocês, sei a
zona aonde vão votar, e sei quem vai trair e não vai trair a Real, o senhor
José Gomes. Sei quem vai dar tapinha nas costas e sei quem no dia não vai
estar, porque se naquela zona tinha que votar dez e votou só nove, alguém

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ficou de fora, alguém está com a gente, eu tô dizendo do nosso pessoal,
porque eu já tenho, se o Chico tava preocupado com isso, eu não preciso do
título de eleitor duas vezes. Eu já tenho o título de eleitor. E essa equipe que
está ali já tem também aonde todo mundo aqui vai votar, porque eu tendo
o título de eleitor [...]”. (Grifos nossos).

81. No áudio 2, colacionado à inicial, Douglas conclama os trabalhadores a


demonstrar gratidão pelo emprego e salário pagos pelo candidato José Gomes,
assim como lealdade ao seu empregador, “bastando” que eles se empenhem em sua
candidatura, porque, afinal, quem garante o emprego deles é José Gomes (ID

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16185388, p. 5-6), o qual poderia demitir os empregados-eleitores e contratar
aqueles que fossem nele votar.

82. Como arma de coação, o gerente afirma aos empregados que o candidato
teve proposta para que demitisse seus funcionários e contratassem outros que
serviriam de cabos eleitorais e trariam à José Gomes, em troca do emprego, mais
duas pessoas da família, o que possibilitaria que viesse a ser facilmente eleito.

83. Confira-se (ID 16185388, p. 5-6):


O que eles estão pedindo para mim, e que não {entrar} dentro da casa de
vocês, o que eles estão querendo aqui, é isso, aqui, é o emprego de vocês,
que é o único que deu e hoje dá pra vocês é o José Gomes, porque vocês
podem olhar no contracheque, a Real {ininteligível} paga. Então por esse
motivo é só pra vocês pensarem um pouquinho,
[…]
Mas o que ele {fez}, o que eles falaram pra ele, manda cinco mil embora,
simples, cinco mil, inclusive vocês, gente, que vai... Cinco mil inclui....
[…]
Cinco mil engloba muita gente, né? Pode ser qualquer um, manda cinco mil
embora, você vai ser eleito. Como assim? Eu vou mandar cinco mil embora,
minha empresa e tudo. Não, você não, não colocou seiscentas vagas aqui,

IV.1, não apontou elementos técnicos indicativos de edição fraudulenta, como inserção, supressão,
superposição ou substituição. Ressalta-se, entretanto, que não foi encaminhado a exame o(s) aparelho(s)
gravador(es), o que impossibilita a realização de algumas das análises descritas no item IV.1, diminuindo por
conseguinte a robustez do exame.

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seiscentas e nove pra ser mais exato, e pintou aqui gente, 6 mil pessoas?
Pois é, você pega aqui cinco mil, pega seus encarregados todos, que são
duzentos e quarenta, e coloca aqui para fazer as contratações, que faz num
dia ou dois, o que vai acontecer? Você pega, contrata cada um e pra cada
um você pergunta: quantas vagas você me dá, você traz? Você me traz seu
irmão, o seu pai? Só preciso de mais duas além da sua. Qualquer um vai
falar sim, lógico, eu quero um emprego, tô precisando; pessoal que tava aí
fora qualquer um faria isso, e traria três votos, três vezes cinco, quinze,
{que} ele tá eleito. Fácil ser eleito com uma empresa desse porte, desse
tamanho. Só que ele enxotou os caras, por quê? Porque ele nunca aceitou

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negociar com nenhum político, nunca aceitou, e por outro grande motivo, hoje
vocês têm a responsabilidade por isso, ele não quis trocar o emprego de
vocês por uma sacanagem dessa, porque senão ele seria só mais um, e agora
eu tenho uma responsabilidade com ele, vocês também, encarregados. O
que? Fazer com que realmente ele vá, mas de uma fora limpa, ou seja, ele
protegeu o emprego de vocês, porque ele poderia ter feito isso, não
poderia?

84. Ora, por certo que o discurso do gerente da empresa Real JG alcançou

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grande repercussão entre seus empregados, na medida em que todos entenderam
que a manutenção de seus postos de trabalho condicionava-se ao engajamento na
campanha eleitoral de José Gomes Ferreira Filho.

85. Para corroborar a prática de abuso de poder econômico, tem-se, ainda,


trechos de mensagens de WhatsApp reproduzidos na petição inicial e confirmados
no depoimento da ex-empregada Andrea Palhares de Lima, colhido em audiência
de instrução, no qual ela relata ter sido pressionada a votar no réu para manter-se
empregada e, por ter se recusado, foi demitida. Confira-se (ID 16177488, p. 1-4):
[…] que não sabe dizer quem são os sócios da empresa Real JG Serviços
Gerais Ltda; deixou seu currículo com pessoa, de nome Fran, na
Administração Regional do Núcleo Bandeirante, com o objetivo de entregá-lo
na empresa Real JG; Fran trabalha na Administração Regional do Núcleo
Bandeirante e foi o contrato inicial da declarante com a Real JG; sabe que o
dono da Real JG é o senhor José Gomes; a declarante nunca teve contato
pessoal com o senhor José Gomes, a não ser quando este cumprimentava os
empregados e comunicava sobre algum assunto relacionado à empresa; a
declarante foi convocada pela encarregada da empresa para participar de uma
reunião que tinha por objetivo entregar uniformes; não tem certeza, mas
parece à declarante que esta reunião ocorreu em junho ou julho deste ano; a
declarante participou desta reunião para receber o seu uniforme; a declarante
permaneceu nesta reunião por 30 ou 40 minutos; nesta reunião, o senhor José
Gomes apareceu, apresentou-se para todos como dono da empresa e contou a
sua história para todos, inclusive, narrou que havia recebido a empresa de seu
pai; a declarante recebeu seu uniforme e saiu; a declarante não presenciou
pedido de voto em favor de José Gomes, feito por ele próprio ou por outra
pessoa; nesta reunião, não houve pedido de votos; soube, por suas colegas de

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trabalho, que houve outras reuniões de empregados com a empresa, mas quase
ninguém ia e a declarante só participou desta que mencionou; depois que a
declarante estava na empresa, ficou sabendo que José Gomes sairia
candidato a Deputado Distrital; a declarante foi demitida; segundo o
responsável pela empresa, no ato de demissão, foi dito à declarante que sua
demissão se devia ao excesso de empregados; a declarante comentou que
não votaria em José Gomes para Deputado Distrital e chegou a pensar que
tinha sido demitida por esta motivo; ficou sabendo que a sua indicação
para trabalhar na JG partiu do Deputado Roosevelt Vilela, a pedido da
senhora França; confirma o que está escrito na reclamação trabalhista no

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sentido de que “após alguns meses de prestação de serviços, o proprietário da
Reclamada, senhor José Gomes Ferreira Filho lançou-se como candidato à
Câmara intempéries e transtornos suportados pela reclamante”; confirma
também o que consta na petição inicial da reclamação trabalhista, no
sentido de que “com a pré-candidatura acima relatada veio também a corrida
e disputa pelos votos e esta se deu no melhor dos cenários, de forma agressiva e
desrespeitosa com a reclamante e diversos outros empregados do Grupo Real”;
confirma também o que consta na petição inicial da reclamação trabalhista
que lhe foi lido, no sentido de que “os pedidos até então velados de apoio à
candidatura se iniciaram com pedidos de comparecimento a comícios (sic),

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disfarçados de reuniões de trabalho, progredindo para exigência de
comparecimento em convenções do partido à qual pertence o dono da
reclamada, assinasse obrigatoriamente a lista de presença do evento, sob a
alegação de que houvesse um controle de quem havia apoiado o pré-candidato,
além da obrigatoriedade de uso das camisetas do pré-candidato”; a declarante
não recebeu camiseta e também não usou camiseta de José Gomes; não sabe
quem é José Vilela, referido no final do trecho cujo passagem acaba de
confirmar; que confirma algumas passagens do seguinte trecho “e foi o que
de fato ocorreu, a reclamada, principalmente na pessoa do senhor Douglas,
iniciou uma empreitada ardilosa no sentido de constranger a reclamante e
diversos outros empregados a apoiarem e votarem no senhor José, e diante da
recusa da reclamante em se submeter àquela situação degradante e humilhante,
culminou com a sua dispensa 'imotivada', ocultando a verdadeira motivação:
dispensa discriminatória (sic) de cunho exclusivamente político”; a declarante
não leu a petição inicial da reclamatória elaborada por seu advogado contra a
reclamada; a declarante concorda com algumas coisas ditas por seu advogado
na reclamação trabalhista; que não concorda que tenha participado de
comícios ou reuniões, pois participou de apenas uma reunião; não sabe o que
significa "empreitada ardilosa”; se sentiu humilhada por ter sido demitida
por justa causa porque cumpria com todos os seus deveres trabalhistas,
pois sempre cumpriu seu horário de trabalho e desempenhou com zelo o
seu serviço; hoje, a declarante não sabe dizer e também ainda não concluiu se
a sua demissão teve motivação política; não conhece o Reclamante; não
conhece o senhor Sílvio Alves; a depoente não usa rede social porque não
gosta; a depoente não sabe se a sua demissão foi objeto de conversas em
grupos de Whatsapp; a declarante não pediu nem recebeu vantagens para
votar em José Gomes e não tomou conhecimento se algum dos empregados da
Real obteve vantagem; a depoente se sentiu pressionada a votar em José

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Gomes no sentido da manutenção do seu emprego; a depoente tinha


preocupação em manter o seu emprego; conhece as pessoas de Alcione Gomes
da Silva e Alessandra Marques da Silva; conhece, da empresa, mas não tinha
contato, com Políana de Sousa Miranda e Jéssica dos Santos Nascimento; nos
dias de hoje, a declarante tem contato com essas pessoas porque elas também
ingressaram com reclamação trabalhista contra a empresa; não sabe quem é
José Rodrigues Neto Almeida; conhece, da empresa, Douglas Ferreira Laet,
com quem todavia não matem contato; lido o inteiro teor do Áudio 1,
constante da petição inicial da AIJE, a declarante confirma ter conhecimento
deste teor porque recebeu mensagem de uma coleta no Whatsapp; a

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declarante levou cópia do título de eleitor, juntamente com outros
documentos, por ocasião de sua contratação, porém não entregou de forma
isolada o título; não ouviu falar e nem conhece a expressão “time da empresa”
como referência a pessoas que estivessem relacionadas a eventuais pretensões
políticas de José Gomes, pois a declarante não participava de nada; a reunião
de que participou a declarante ocorreu no período da tarde após o seu horário
de trabalho, uma vez que foi para a empresa para buscar o seu uniforme. Dada
a palavra ao ilustre Representante do Ministério Público, às suas perguntas
respondeu: que nunca esteve pessoalmente com o Deputado Chico Vigilante;
a declarante trabalhava como auxiliar de serviços gerais; a declarante recebia

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salário de R$ 1.080,00 (um mil e oitenta reais), além de ticket alimentação e
convênio médico; que ficou sabendo, dentro da empresa, que o senhor José
Gomes seria candidato e comentou com duas pessoas que não iria vota
nele e que ainda não havia decidido em quem iria votar; que essas duas
pessoas foram Alessandra e Alcione, com as quais tem mais contato, pois
trabalhavam juntas; que, logo que tomou conhecimento da candidatura de
José Gomes, comentou com as colegas que não votaria nele; esse
comentário ocorreu bem antes, cerca de dez ou quinze dias, da reunião;
uma semana após a reunião, a declarante foi chamada na empresa, no setor
de recursos humanos, mas não foi atendida pelo responsável; que uma
semana após dessa passagem, a declarante retornou na empresa, onde ficou
em uma sala com outras pessoas que estavam em uma lista de empregados
a serem demitidos em razão, segundo o responsável, de excesso de
funcionários na empresa; não sabe dizer se as demais pessoas que estavam na
sala para serem demitidas haviam comentado que não votariam em José
Gomes, até porque a declarante não conhecia tais pessoas; a declarante não
chegou a ver colegas de trabalho usando camisas de José Gomes, inclusive
porque trabalhavam de uniforme; não foi oferecida para a declarante camiseta
de José Gomes; acredita a declarante que suas colegas demitidas se
sentiram ameaçadas de perder o emprego porque não votariam em José
Gomes, uma vez que, efetivamente, foram demitidas da empresa Real JG.
Dada a palavra aos advogados do Representante, afirmaram não ter mais
perguntas. Dada a palavra aos advogados do Representado, às suas perguntas,
a testemunha respondeu que: ninguém na empresa ameaçou diretamente a
declarante de que seria demitida se não votasse em José Gomes; a declarante
se sentiu ameaçada de perder seu emprego, caso não votasse em José
Gomes, por pressão interna, pelo fato de José Gomes ter se candidato a

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Deputado Distrital e a declarante ter medo de perder o emprego. Pelos


advogados nada mais foi requerido. Nada mais. […] (original sem destaques)

86. A testemunha Eronilda Morais de Aguiar, em seu depoimento em juízo,


confirma que foi demitida da empresa Real JG por recusar-se a participar das
reuniões e assinar formulários, bem como confirmou que o gerente da empresa,
Douglas Ferreira Laet e o recorrente, José Gomes, compeliram os empregados a
vestirem a camisa da empresa, realizando atos de campanha para seu proprietário.
Nesse sentido são os excertos abaixo transcritos (ID 16179938, p. 1-3):

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[…] que foi empregada da Real JG; que foi demitida sem justa causa; que
recebeu todos os direitos; que foi demitida por falta de posto de trabalho e
porque não se interessavam pelos serviços da depoente; que trabalhava como
ascensorista no STJ e lá ficou por cinco anos; que tem três advertências na sua
ficha funcional; que uma das advertências foi em 2016, outra em 2017 e a
outra em junho de 2018; que saiu da empresa em outubro de 2018; que a
última advertência foi porque, em reunião de trabalho, a depoente fez uma
pergunta ao supervisor e este se sentiu ofendido; que perguntou se aquela
reunião era por causa da depoente e se os fatos comentados na reunião eram

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uma “indireta”; que, depois que saiu da empresa, ficou sabendo de uma
reclamação vinda de um gabinete de um Ministro; que sua demissão foi por
razões políticas porque a depoente se negava a ir para reuniões e a assinar
formulários; que ninguém da empresa disse para a depoente que a
motivação era política, mas a depoente interpretou desta forma e se sentiu
perseguida; que a empresa não pediu para a depoente ir em reuniões
porque eles sabiam que a depoente não iria; que outros funcionários que
não foram às reuniões foram demitidos; que o supervisor Sílvio dizia aos
subordinados que tinham que ir às reuniões políticas do representado após
o expediente, inclusive ligou para a funcionária Mariane, que estava
viajando, dizendo que ela tinha que dar um jeito para ir; que o formulário
era sobre alegada renovação cadastral, sendo que tinha como informações
adicionais o número do título de eleitor, da zona e da sessão eleitoral; que não
ouviu dizer que esse cadastro era para o e-social; que participou de uma
reunião política feita pelo Sílvio dentro do STJ; que nessa reunião o
supervisor Sílvio disse que o formulário era para cadastro na empresa e,
em seguida, começou a exaltar as qualidades do representado, ressaltando
que Roberto Negreiros, também empresário, demitia funcionários que não o
apoiassem; que um funcionário então perguntou ao supervisor: “Então nós
temos que votar nele?” [José Gomes]; que o supervisor gesticulou em
sentido afirmativo, embora não tenha verbalizado. Dada a palavra ao
advogado do Representante, às suas perguntas respondeu: que conhece
Douglas Ferreira; que cumpriu aviso prévio até 26/10/2018; que até esta data,
Douglas diariamente estava na empresa, dando ordens e exercendo funções;
que, nesses quase seis anos de empresa, a depoente nunca participou de cursos
de treinamento ou reciclagem; que, em razão da campanha, alguns
funcionários se sentiram perseguidos ou ameaçados; que os funcionários, de

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uma certa maneira, eram obrigados a trabalhar na campanha porque


“quem não vestir a camisa, não fica”.
[…] (negritei)

87. A testemunha Patrícia Oliveira Duarte afirmou em juízo ter sido demitida
por negar-se a fazer campanha eleitoral para José Gomes. Disse, ainda, que além de
Douglas Ferreira Laet, os supervisores David e Eliane pressionaram os funcionários
a realizar atos de campanha para o proprietário da Real JG e que Douglas diminuiu
o ritmo das demissões após a repercussão dos fatos. Confira-se os excertos abaixo

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(ID 16179988, p. 1-4):
[…] que trabalhava nas dependências da EBSERH, como funcionária da Real;
que, lá a encarregada Eliane (ou Eliana) Freitas pediu cópia do título de eleitor
para um recadastramento na Real JG; que Eliane era chefe da depoente; que
também foi passado um formulário nos setores, inclusive ressaltado por
Eliane, que era de suma importância informar o número do título de eleitor;
que recebeu aviso prévio em 26 de setembro e saiu no mês de outubro de
2018; que foi demitida sem justificativa plausível, apenas disseram que a

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empresa não precisava mais dos serviços da depoente; que no curso da relação
de trabalho nunca foi advertida, nem mesmo verbalmente; que a encarregada
Eliane, no dia 25/9/2018, disse para a depoente ir para a sede da empresa sem
dizer por qual motivo; que chegou lá às 15h e ficou até às 18h esperando sem
qualquer notícia; que recebeu uma mensagem de Eliane dizendo que
retornasse à empresa no dia seguinte para falar com o Douglas; que não sabe
se Douglas é parente do representado, mas sabe que ele é gerente da empresa;
que ficou esperando no corredor da empresa, de 8 da manhã às 17h, para ser
recebida por Douglas, para no fim do dia saber que receberia aviso prévio e
que não poderia cumprir o aviso na sede da contratante; que, em meados de
maio de 2018, quando se cobrou o número do título de eleitor, a depoente
se recusou a fazer campanha para o representado, alegando que já tinha o
seu próprio candidato; que a encarregada [Eliane] levou adesivos de veículos
e adesivos similares a botons, entre maio e junho de 2018, para que os
empregados fizessem campanha com esse material, desde que não fosse dentro
do órgão; que não pegou esse material; que Eliane disse que “quem não
vestir a camisa da Real, vai sofrer as consequências”, sem dizer que
consequências eram estas; que foi chamada para uma reunião política sob a
alegação de ser para a troca de uniformes; que disse para a encarregada que
não iria porque tinha aula na pós-graduação e, se fosse o caso, apresentava
uma declaração; que a encarregada disse que ia passar uma lista de
presença e os ausentes sofreriam as consequências; que passou nove meses
na Real; que a reunião para a suposta troca de uniformes era em dia de sábado,
fora do expediente, que essa reunião foi em julho ou agosto; que soube que
outra funcionária de nome Luciana também se recusou a apoiar campanha do
representado e ir à reunião, inclusive a depoente soube que recentemente ela
foi demitida; que não sabe porque Luciana foi demitida, se tem relação com a
política; que cumpriu o aviso prévio dentro do RH e ouviu quando
Douglas, na sala ao lado, disse que iria suspender as demissões porque

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havia um alvoroço e mencionou denúncias contra a empresa ao Ministério


Público, por causa da campanha e das demissões ; que desconheceu um
áudio atribuído a Douglas; que conseguiu o emprego na Real através de uma
seleção normal feita pelo RH; que desconhece que funcionários da Real,
lotados na EBSERH fosse obrigados a fazer campanha fora do expediente;
que a encarregada ia “bandeirar” e panfletar após o expediente, não sabendo
dizer se por vontade própria ou porque fora obrigada; que viu e ouviu,
durante o cumprimento do aviso prévio, que Douglas, David e Eliane
(supervisora do SEDUC) faziam pressão sobre os encarregados para saber
quais empregados não apoiavam o representado; que o objetivo dessa

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informação era substituir os empregados que não apoiavam José Gomes
por voluntários de campanha ou por indicados por pessoas que apoiavam a
campanha; que, antes de receber aviso prévio, a depoente treinou Bruno
Euclides, que depois veio a substituí-la, sendo que esta pessoa era
voluntário de campanha.
[…] (sem grifos no original)

88. A testemunha Carlos Roberto Novais de Almeida declarou que os


empregados da Real JG, lotados no Ministério de Minas e Energia, sempre

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chegavam atrasados porque, segundo relatos desses, eram obrigados a “bandeirar”,
tendo presenciado reclamações de que eram coagidos a participar de atos políticos
em favor de candidato, sob pena de perder o emprego. Confira-se o inteiro teor de
suas declarações em juízo (ID 16179888, p. 1-3):
[…] que: trabalha no Ministério de Minas e Energia e é coordenador de
administração; é servidor público; trabalha em contato com empregados
terceirizados e sempre ouvia por parte desses a reclamação de que eram
coagidos a participar de atos políticos em favor de candidato, sob pena de
perder o emprego; que esses empregados tinham vínculo com a empresa
Real JG e se referiam ao candidato José Gomes; que não tem conhecimento
se algum desses empregados foi demitido em razão de não ter apoiado José
Gomes; que esses empregados eram obrigados a “bandeirar” e por vezes
chegavam atrasados ao trabalho por estarem fazendo atos de campanha;
que ouviu tais reclamações de três ou quatro empregados; que também
ouviu desses empregados que outros empregados da Real JG, que
trabalhavam em escolas do GDF, também estavam sendo coagidos da
mesma forma; que não é filiado a nenhum partido político. Dada a palavra ao
ilustre Representante do Ministério Público, às suas perguntas respondeu: que
exerce a função de Coordenador de Apoio ao Gabinete do Ministro; que duas
ou três pessoas se dirigiram ao depoente noticiando as coações, e, por vezes,
ouvia tal assunto pelos corredores; que sabe o nome das pessoas que
comentaram, mas gostaria de não mencionar para que essas pessoas não
sofram represálias; que também ouviu comentários dos empregados que havia
pressão para votar no representado e não apenas praticar atos de campanha;
que os atos de campanha eram praticados fora do horário de expediente, não
sabendo dizer se também nos fins de semana; que os empregados
manifestavam receio de sofrerem represálias, caso não atendessem às

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ordens de fazer campanha; que também soube que os empregados eram


obrigados a participar de reuniões políticas, não sabendo dizer em que local
tais reuniões se realizavam; que soube que o candidato representado
comparecia a tais reuniões; que não sabe dizer se os empregados eram
remunerados para praticar atos de campanha. Dada a palavra ao advogado do
Representante, afirmou não ter mais perguntas. Dada a palavra aos advogados
do Representado, às suas perguntas, a testemunha respondeu: que não
presenciou atitude de coação da empresa contra os funcionários; que reafirma
que as informações que chegaram ao seu conhecimento foram a partir de
empregados da Real J G que eram coagidos a votar no representado; que não

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sabe dizer se a empresa realiza treinamentos com seus funcionários; que não
presenciou nenhuma das mencionadas reuniões; que os empregados
mostraram vídeos das reuniões e neles o depoente viu o representado, daí
afirmar que o representado participava de tais reuniões; que, nos vídeos,
não viu coação do representado; que os funcionários comentavam que eram
coagidos a postar nas redes sociais fotos e mensagens de apoio ao
representado; que o depoente não tem rede social; que viu tais postagens nos
celulares dos próprios empregados; que os empregados para comprovar a
coação e comprovar que faziam a campanha para o candidato a deputado; que,
dentro do Ministério, havia uma mulher encarregada, funcionária da Real

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JG, que ia atrás dos funcionários da Real para que esses fizessem atos de
campanha; que não procurou a encarregada porque não era a sua atribuição,
assim como não é fiscal de contrato; que não viu essa encarregada fazer pressão
ou ameaçar aos funcionários. Pelos advogados nada mais foi requerido. Nada
mais. […] (sem destaques no original)

89. Extrai-se dos depoimentos supra transcritos que estes são coesos e
harmônicos entre si, evidenciando a coação e pressão sofrida pelos empregados do
recorrente e candidato ao cargo de Deputado Distrital, para que participassem da
campanha eleitoral, sob pena de “sofrer as consequências”, leia-se, serem demitidos.

90. É nítido que os encarregados e supervisores se dedicaram com veemência à


campanha do recorrente, realizando reuniões em suas casas ou outros locais
privados a fim de angariar votos para José Gomes de pessoas não ligadas à empresa,
como vizinhos e conhecidos de suas respectivas comunidades.

91. Nesse sentido os depoimentos de João Vitor Mazetto Peixoto (ID


16177638, p. 2-3), Rosineide Alves de Souza (ID16180038) e Márcio Cordeiro de
Azevedo (ID 16177688) – que também confirmaram ser de Douglas Ferreira Laet
a voz na mídia periciada. Confira-se:
Depoimento de João Vitor Mazzeto Peixoto:
[…]
o declarante participou de reuniões com o senhor José Gomes, fora da
empresa; o declarante participou de uma reunião no Riacho Fundo para
debate político acerca da candidatura do senhor José Gomes; não sabe dizer

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se empregados obteriam vantagem por participar dessas reuniões políticas


com o senhor José Gomes, na reunião em que o declarante compareceu não
identificou a presença de outros empregados da empresa. Dada a palavra ao
Procurador Regional Eleitoral, às suas perguntas, respondeu a testemunha:
que para a reunião que o declarante participou no Riacho Fundo, na QN 7,
foi convidado por seu colega de empresa José Carlos; não sabe qual era a
função exercida por José Carlos; o declarante não sabe ao certo, mas lhe
parece que José Carlos exerce a função de encarregado, inferior à do
declarante; o declarante não fez campanha a favor de José Gomes. Pelos
advogados nada mais foi requerido. Nada mais. […] (sem negrito no original)

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Depoimento de Márcio Cordeiro de Azevedo:
[…]
que Douglas era gerente operacional na empresa e era o chefe operacional
do declarante, que, depois do expediente da empresa, aconteceram
reuniões em residências com o objetivo de conhecer as propostas do senhor
José Gomes como candidato ao cargo de Deputado Distrital da Câmara
Legislativa; que, para essas reuniões, eram convidadas pessoas em geral
para conhecer o candidato José Gomes e suas propostas, inclusive

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empregados também compareciam; nessas reuniões, havia salgadinhos,
oferecidos pelos donos da casa; o próprio José Gomes falava para as
pessoas sobre as suas propostas nas reuniões; o declarante não lembra de
que o Douglas tenha participado de tais reuniões; tais reuniões não eram
convocadas por Douglas; o declarante ouviu o áudio contendo a voz do
Douglas, mas com muitas falhas; o declarante reconheceu a voz do Douglas
nesse áudio; as reuniões em torno da candidatura de José Gomes tiveram
início com o período da campanha eleitoral e terminaram no mesmo período;
os funcionários são desligados da empresa tão logo é confirmado que não
atendem à demanda dos setores em que trabalham; o senhor José Gomes, nas
reuniões, não mencionava que as pessoas obteriam melhorias caso fosse eleito;
não conhece a pessoa de Fran ou França; não conhece e nunca viu na empresa
o Deputado Roosevelt Vilela. Pelos advogados nada mais foi requerido. Nada
mais. […] (sem grifos no original)

Depoimento de Rosineide Alves de Souza:


[…]
que fez uma reunião política na sua própria casa, com a presença do senhor
José Gomes, quando outros empregados também se faziam presentes,
acredita que eram três empregados; que havia cerca de vinte e cinco
pessoas na reunião ocorrida na casa da depoente; que não participou de
outras reuniões; que fez tal reunião porque o representado era um candidato
em que a depoente ia votar; que não fez reuniões para outros candidatos a
outros cargos; que não houve despesa para esta reunião; que fez a reunião por
vontade própria, com a permissão do gerente, senhor Boliva; que, indagada
sobre o motivo pelo qual pediu permissão ao gerente para fazer uma

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reunião privada, esclarece que apenas comentou com o gerente tal reunião
para que outras pessoas pudessem comparecer;
[…]
que foi a própria depoente quem convidou o representado para a reunião
em sua casa através de uma terceira pessoa, de cujo nome não se lembra, e
que trabalhava na campanha do representado; (sem grifos no original)

92. Ocorre que, não obstante os supervisores e encarregados tentem imprimir


ares de naturalidade às reuniões realizadas em suas casas, não parece verossímil que

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estas tenham sido realizadas apenas e tão somente como forma de demonstrar
gratidão à José Gomes Ferreira Filho por ser ele um excelente empregador ou,
ainda, por pura convicção política.

93. Ao contrário, referidas reuniões – em confronto com os depoimentos de


empregados demitidos e de pessoas que com estes tinham contato e não possuem
interesse no deslinde da causa, como é o caso de Carlos Roberto Novais de
Almeida, servidor público do Ministério de Minas e Energia –, objetivaram
demonstrar que esses empregados efetivamente “vestiram a camisa” e foram “leais” à

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José Gomes.

94. O que se verifica dos autos, em suma, é que os supervisores e encarregados


não pouparam esforços para demonstrar sua lealdade e empenho na campanha de
José Gomes. É o caso do supervisor da Real JG no STJ, Anicésio Arantes
Fortunato, que reuniu grupo de funcionários lotados naquele órgão para
manifestarem seu apoio ao candidato, ainda que referido ato importasse em grave
violação do Código de Conduta daquele Tribunal Superior – conforme apurado no
Processo Administrativo SEI nº 007747-20.2018.6.07.8100 (ID 16177988, p. 1).

95. Não obstante sua predileção e empenho demonstrados durante a


campanha eleitoral, em seu depoimento judicial confessou conhecer as mídias
colacionadas à inicial, afirmando que estas eram de amplo conhecimento dos
empregados, as quais eram reiteradamente compartilhadas por estes por meio de
aplicativos (ID 16179838). Confira-se:
[…] que tomou conhecimento dos fatos pela internet através das postagens do
Deputado Chico Vigilante, que viralizou; que trabalha no STJ como
encarregado da empresa Real JG; que atualmente é empregado da empresa;
que alguns empregados diziam que foram demitidos por razões políticas,
inclusive empregados que tinham penalidades funcionais e precisam apontar
um “bode expiatório” para a sua demissão; que possui 158 empregados sob a
sua responsabilidade e dois desses foram devolvidos para a empresa em razão
de problemas diversos, como atrasos, faltas e indisciplinas; que não sabe se
esses dois empregados foram demitidos; que fez uma reunião dentro do
órgão, no horário do almoço, com um vídeo de quinze a vinte segundos, em

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que alguns funcionários manifestaram apoio ao José Gomes; que, no vídeo,


o depoente manifesta apoio ao candidato e, ao final, todos manifestam que
estão com o candidato ; que foi recriminado pelo STJ por isso; que nenhum
dos empregados que não participou desse vídeo sofreu retaliação; que
participou de outras reuniões externas de apoio ao candidato José Gomes;
que essas reuniões eram no período noturno; que em apenas uma delas o
representado não se fez presente e mandou um representante; que deve ter
ido a quatro reuniões desse tipo; que fez isso por lealdade ao seu patrão e
por acreditar ser ele um bom candidato; que fez campanha na internet para
o candidato Jair Bolsonaro; que nas quatro reuniões de que participou havia

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funcionários da empresa e algumas delas foram em casa de funcionários;
[...]; que tomou conhecimento do áudio atribuído a Douglas através dos
próprios subordinados, na própria sala de trabalho; que esse áudio era
conhecido de uma maneira geral pelos empregados, inclusive,
constantemente compartilhado entre eles. Pelos advogados nada mais foi
requerido. Nada mais. […] (sem destaques no original)

96. O abuso de poder econômico salta aos olhos na confissão do depoente e


apoiador do candidato ora recorrido, Anicésio Arantes Fortunato, explicitada ao

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declarar que o áudio em que o gerente Douglas Ferreira Laet ameaça os empregados
de demissão, caso não apoiem José Gomes, “era conhecido de uma maneira geral pelos
empregados, inclusive, constantemente compartilhado entre eles”.

97. Ora, se o áudio era de conhecimento de muitos dos funcionários, para não
dizer de todos, é certo que os empregados estavam cientes das “consequências” que
lhe seriam impostas caso não vestissem a camisa ou não abraçassem a causa de seu
patrão.

98. Frederico Alvim15, inspirado nas lições de Noberto Bobbio, identifica as


raízes do abuso de poder econômico da seguinte forma:
O poder econômico deriva da desigualdade na distribuição e na apropriação
dos recursos necessários para a subsistência e para a qualidade de vida daqueles
dos quais se espera determinada postura. Bobbio define-o como o poder que se
vale da posse de certos bens necessários (ou assim considerados) em uma
situação de escassez, para induzir pessoas que não o possuem a adotarem
um comportamento desejado por quem quer que o detenha. Para o mestre
italiano, a posse de grandezas econômicas representa uma enorme fonte de
poder, haja vista que, em geral, qualquer agente que possua abundância de bens
é capaz de condicionar o comportamento de quem se encontra em situação de
penúria, por meio do oferecimento ou da entrega de alguma espécie de
compensação. O poder econômico, nesse passo, viabiliza uma “compra de
obediência”, no ponto em que se demonstra capaz de submeter tanto aqueles
que carecem de recursos como os que os têm em escassos, ou ainda, os que
os possuem, e, no entanto, querem mais.
15
ALVIM, Frederico Franco. Curso de Direito Eleitoral. 2a ed. Curitiba: Juruá, 2016, p. 524.

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99. Nessa mesma linha de intelecção, Rodrigo Lopez Zílio16 afirma que o
abuso de poder econômico “consiste no emprego de recursos financeiros em espécie ou
que tenham mensuração econômico para beneficiar determinado candidato, partido ou
coligação, interferindo indevidamente no certame eleitoral.”

100. In casu, o abuso de poder econômico está configurado, na medida em


que o candidato, José Gomes, exorbitando de sua condição de empresário e
empregador de milhares de pessoas, valeu-se dessa condição para coagir e
ameaçar seus funcionários a se engajarem em sua campanha eleitoral,

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requisitando que estes demonstrassem lealdade e apoio político, assim como
por ter descaracterizado o objeto social da empresa Real JG, utilizando-a como
engrenagem propulsora de sua candidatura.

101. O acervo fático probatório dos autos revela que o recorrente, assim como o
gerente, supervisores e encarregados da Real JG, impuseram aos empregados um
ambiente profissional em que a democracia e o livre pensamento acerca de
convicções políticas foram tolhidos ou até mesmo serviram de propulsão para,

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imotivadamente, ser causa de demissão.

102. Referido quadro compromete substancialmente a higidez, lisura e


normalidade do pleito – bens jurídicos protegidos pela Constituição da República
em seu art. 14, § 9º, e pelos arts. 19 e 22, XIV, da Lei Complementar nº 64/1990 –,
o que deve ser refutado pela Justiça Eleitoral, mantendo-se, por conseguinte, a
cassação do diploma de José Gomes Ferreira Filho e sua inelegibilidade por 8 (oito)
anos.

- VI -

103. Importante destacar ainda que as condutas perpetradas pelo recorrente e


por seus gerentes, supervisores e encarregados, são graves e merecem reprimenda da
Justiça Eleitoral.

104. Para a ocorrência do abuso de poder, o inciso XVI do art. 22 da Lei das
Inelegibilidades traz um requisito imprescindível à configuração dos ilícitos
mencionados no inciso XIV do mesmo artigo, qual seja, a gravidade das
circunstâncias que os caracterizem17.
16
ZÍLIO, Rodrigo Lopez. Direito Eleitoral. 6a ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2018, p.644.
17
Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá
representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e
indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso
indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida
de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político,
obedecido o seguinte rito:

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105. O requisito da gravidade, pois, utilizando-se como evidente vetor


interpretativo o art. 14, § 9º, da Constituição Federal, estará presente caso haja
comprometimento da legitimidade e normalidade das eleições por meio da prática
do ato abusivo.

106. Não por outro motivo, esse Tribunal Superior já consolidou o entendimento
de que o requisito da gravidade dos fatos sempre se faz presente quando há ofensa
aos “cânones fundamentais da igualdade de chances e da legitimidade e normalidade do
prélio eleitoral”18.

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107. No caso em tratativa, a gravidade da conduta está caracterizada na medida
em que o investigado, pessoalmente ou por intermédio de seus gerentes,
supervisores e encarregados, impingiram aos empregados da empresa Real JG
verdadeiro temor do desemprego, especialmente no atual momento do país de
imensas dificuldades socioeconômicas, além de espalharem tensão no ambiente de
trabalho em decorrência de possíveis retaliações aos que não demonstrassem
gratidão pelo trabalho e lealdade ao “patrão”, o que seria demonstrado/retribuído por

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meio de seus votos e da divulgação do nome do candidato.

108. A conduta dos investigados e dos empregados da empresa detentores de


poder de mando e direção demonstra que estes pretendiam criar um verdadeiro
curral eleitoral para o candidato José Gomes, ameaçando-os com a perda do
emprego caso não colaborassem, seja “bandeirando”, ou demonstrando lealdade e
gratidão.

109. E, como modo de impor medo e assombro aos empregados, recolheram


seus dados eleitorais, o que capacitava a empresa saber quem tinha traído o
investigado na hora de depositar seu voto na urna, bastando para tanto, cruzar os

[…]
XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal
declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato,
cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos
subsequentes à eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato
diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder
de autoridade ou dos meios de comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério
Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando
quaisquer outras providências que a espécie comportar;
[…]
XVI – para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o
resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam.
18
Recurso Especial nº 458-67, relatado no Tribunal Superior Eleitoral pelo ministro Luiz Fux,
acórdão publicado no Diário de Justiça de 30 de agosto de 2016. Sem destaque no original.

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dados de determinada seção eleitoral com os votos recebidos pelo proprietário da


empresa, fato este explicitado no áudio que reproduz a fala de Douglas.

110. Em última linha, é digno de nota o pronunciamento que esse Tribunal


Superior proferiu no exame do RO nº 437764/DF 19, no qual assentou o
entendimento de que a utilização lícita da estrutura de determinada empresa para
constranger seus empregados a apoiar um particular candidato político

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consubstancia a prática de captação ilícita de sufrágio e de abuso de poder
econômico.

111. Inegáveis, portanto, a finalidade eleitoral do abuso de poder econômico, a


cooptação de apoio político pela subjugação dos empregados-eleitores e a flagrante
desigualação de forças entre os candidatos ao cargo de Deputado Distrital.

- VII-

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112. Por fim, cumpre registrar que não se desconhece que a mera condição de
beneficiário das condutas tidas por ilícitas é insuficiente para fazer incidir a sanção
de inelegibilidade, de modo que a responsabilidade pela prática do ato revela-se
fator de definição para a incidência da inelegibilidade por abuso de poder.

113. Isso porque, a inelegibilidade possui natureza personalíssima, razão pela


qual incide apenas sobre quem efetivamente praticou a conduta, conforme já se
decidiu no julgamento do RESPE nº 69541/GO, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe
26.6.2015, cuja ementa segue transcrita abaixo:
ELEIÇÕES 2012. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. AÇÃO DE
INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. CANDIDATOS ELEITOS
A PREFEITO E VICE. ABUSO DE PODER. CONDUTA VEDADA E
CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. CASSAÇÃO DE DIPLOMAS.
APLICAÇÃO DE MULTAS. DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE.
DESPROVIMENTO DOS RECURSOS.
[...]
5. Abuso do poder político. Configura grave abuso do poder político a
expedição de decreto pelo prefeito candidato à reeleição, a menos de 15
dias do pleito, reduzindo a jornada dos servidores comissionados, quiçá
dos contratados, sem reduzir os vencimentos, para participarem de
campanhas eleitorais, o que provocou situação ilegal de privilégio na
19
Relatado pelo Ministro Marcelo Ribeiro, acórdão publicado no Diário de Justiça Eletrônico de 17
de novembro de 2011.

RBG/ACM/FO/RKBC – RO nº 0601236-07.2018.6.07.0000 31/33

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disputa, interferindo no processo eleitoral de 2012, em manifesta


contrariedade ao princípio da impessoalidade e da eficiência.
6. A normalidade e a legitimidade do pleito, previstas no art. 14, § 9º, da
Constituição Federal decorrem da ideia de igualdade de chances entre os
competidores, entendida assim como a necessária concorrência livre e
equilibrada entre os partícipes da vida política, sem a qual se compromete
a própria essência do processo democrático, qualificando-se como violação
a expedição do referido decreto, com as circunstâncias indicadas no
acórdão recorrido, a ensejar a sanção de cassação de diploma.

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7. A conduta praticada, conforme concluiu o acórdão regional, enquadra-se
perfeitamente no art. 73, inciso V, da Lei nº 9.504/1997, pois os servidores
receberam vantagem em período vedado (redução da carga de trabalho sem a
redução de vencimentos), o que dispensa a análise da finalidade eleitoral do
ato, pois esse requisito foi valorado pela legislação, quando afirma que "são
proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas
tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos
eleitorais" (art. 73, caput, da Lei nº 9.504/1997), salvo quando a própria
norma exige uma qualificação especial da conduta, como "fazer ou permitir
uso promocional em favor de candidato, partido político ou coligação, de

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distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou
subvencionados pelo Poder Público" (inciso IV). Precedentes.
8. Cassação de diploma do vice-prefeito. O mero benefício é suficiente para
cassar o registro ou o diploma do candidato beneficiário do abuso de
poder, nos termos do art. 22, inciso XIV, da LC nº 64/90, segundo o qual,
"além da cassação do registro ou diploma do candidato diretamente
beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso
do poder de autoridade ou dos meios de comunicação". A declaração de
inelegibilidade pressupõe a prática de ato ilícito, razão pela qual o
Regional não a declarou em relação ao vice-prefeito. Precedentes.
9. Recursos desprovidos.
(Recurso Especial Eleitoral nº 69541, acórdão relatado pelo Min. Gilmar
Ferreira Mendes, publicado no Diário de Justiça Eletrônico de 26/06/2015)
(Grifos acrescidos)

114. Como se vê, consoante a jurisprudência desta Corte, a inelegibilidade


constitui sanção de natureza personalíssima e aplica-se apenas a quem cometeu,
participou ou anuiu com o ilícito.

115. No caso em tela, como visto, existem provas robustas e contundentes de


que o investigado – ao coagir seus empregados a participarem da campanha
eleitoral e a demonstrarem lealdade no momento do voto, ameaçando demiti-los,
caso não o fizessem – participou e anuiu com as condutas perpetradas, tanto é que
obteve o total de 16.53720.

20
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral: http://divulga.tse.jus.br/oficial/index.html

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116. Há, dentre as provas colhidas dos autos, mensagem do próprio candidato
ressaltando a importância dos trabalhadores em sua campanha eleitoral e
convocando-os a “abraçar a causa” para que todos “sejam beneficiados”.

117. Consequentemente, considerando-se as conclusões fático-probatórias do


aresto regional, forçoso reconhecer que a declaração da inelegibilidade de José
Gomes foi acertada, pois o então candidato não apenas beneficiou-se como
também anuiu e participou ativamente das ameaças e coação perpetradas.

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118. Esse, aliás, é o entendimento desse Tribunal Superior Eleitoral, segundo o
qual “a inelegibilidade  constitui sanção de natureza  personalíssima  e aplica-se apenas a
quem cometeu, participou ou anuiu com o ilícito21”.

- VIII -

119. Diante de todo o exposto, o Ministério Público Eleitoral manifesta-se pelo


improvimento do recurso ordinário.

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Brasília, 16 de março de 2020.

RENATO BRILL DE GÓES


Vice-Procurador-Geral Eleitoral

21
Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 1635, relatado pelo Min. Jorge Mussi,
acórdão publicado no Diário de Justiça eletrônico de 17.4.2018.

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