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12/05/2020
Número: 0601236-07.2018.6.07.0000
Classe: RECURSO ORDINÁRIO
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Superior Eleitoral
Órgão julgador: Ministro Og Fernandes
Última distribuição : 05/09/2019
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0600112-86.2018.6.07.0000
Assuntos: Cargo - Deputado Distrital, Abuso - De Poder Econômico, Captação Ilícita de Sufrágio,
Ação de Investigação Judicial Eleitoral
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
JOSE GOMES FERREIRA FILHO (RECORRENTE) MURILLO GUILHERME ANTONIO DE OLIVEIRA
(ADVOGADO)
JULIANA MARIA SOARES RODRIGUES (ADVOGADO)
GUSTAVO TRANCHO DE AZEVEDO (ADVOGADO)
JOSE WELLINGTON MEDEIROS DE ARAUJO (ADVOGADO)
GUSTAVO PRIETO MOISES (ADVOGADO)
CLEBER LOPES DE OLIVEIRA (ADVOGADO)
MARCEL ANDRE VERSIANI CARDOSO (ADVOGADO)
DIOGO HENRIQUE DE OLIVEIRA BRANDAO (ADVOGADO)
RAINER SERRANO ROSA BARBOZA (ADVOGADO)
RAPHAEL CASTRO HOSKEN (ADVOGADO)
NINA RIBEIRO NERY DE OLIVEIRA (ADVOGADO)
EDUARDA CAMARA PESSOA DE FARIA (ADVOGADO)
GABRIEL FIDELIS FURTADO (ADVOGADO)
MAYTA VERSIANI CARDOSO GALVAO (ADVOGADO)
RITA NOGUEIRA MACHADO (ADVOGADO)
FRANCISCO DOMINGOS DOS SANTOS (RECORRIDO) RAMON OLIVEIRA CAMPANATE (ADVOGADO)
EDUARDO OCTAVIO TEIXEIRA ALVARES (ADVOGADO)
Procurador Geral Eleitoral (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
26387 19/03/2020 19:07 Parecer da Procuradoria Parecer da Procuradoria
588
MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
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Egrégio Tribunal Superior Eleitoral,
PA R E C E R
Eleições 2018. Deputado Distrital. Recurso Ordinário. Ação de
1. A única regra suscetível de ser extraída do disposto nos arts. 28, § 4º e 19,
parágrafo único, do Código Eleitoral, é a de que a cassação do registro ou do
diploma apenas é possível pelo voto da maioria absoluta dos membros do
respectivo Tribunal Eleitoral.
2. Não satisfaz o requisito do prejuízo efetivo reclamado pelo preceito inscrito
no art. 219 do Código Eleitoral, a mera, remota e teórica possibilidade de que o
voto do Presidente da Corte Regional alterasse o veredito questionado,
sobretudo quando fruto de votação unânime (6x0).
3. Ao exigir a publicação da escolha dos candidatos – no prazo de 24 horas e
em qualquer meio de comunicação – a reforma introduzida pela Lei nº
12.891/2013 e mantida, no ponto, pela Lei nº 13.165/2015, possibilitou que a
AIJE pudesse ser ajuizada após a convenção partidária, momento em que já
está configurada a condição de candidato.
4. É tempestiva a AIJE proposta na mesma data em que formulado o pedido de
registro de candidatura.
5. O acervo fático probatório dos autos revela que o recorrente, assim como o
gerente, supervisores e encarregados da Real JG impuseram aos empregados
um ambiente profissional em que a democracia e o livre pensamento acerca de
convicções políticas foram tolhidos ou até mesmo serviram de motivação para,
imotivadamente, ser causa de demissão.
6. Referido quadro compromete substantivamente a higidez, lisura e
normalidade do pleito – bens jurídicos protegidos pela Constituição da
República em seu art. 14, § 9º e pelos arts. 19 e 22, XIV, da Lei Complementar
nº 64/1990 –, o que deve ser refutado pela Justiça Eleitoral, devendo ser
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-I-
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1. Trata-se de recurso ordinário interposto por José Gomes Ferreira Filho
(ID 16184238) contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Eleitoral do
Distrito Federal (ID 16182338).
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votos computados a seu favor, demitindo os que não tivessem nele votado e, por
outro lado, garantindo o emprego daqueles que assim o fizessem.
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9. Devidamente processada a ação, a Corte Regional rejeitou as preliminares
de intempestividade da ação e de inépcia da inicial e acolheu a preliminar de
extemporaneidade da juntada de documentos.
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Representado, patrão dos colaboradores. Ameaças de demissão para aqueles
que não revelem o apoio exigido pelos encarregados e supervisores da empresas,
cargos hierarquicamente superiores entre os empregados.
5. Envio de mensagens de WhatsApp antes do período eleitoral, a demonstrar
inequívoco conhecimento, por parte do Representado, das condutas que
visavam a angariar votos entre o plantel de colaboradores.
6. Áudios que instruem a inicial que revelam que a empresa possui informações
dos funcionários que permitem saber quantos votaram no Representado e
quantos não o fizeram, causando temor e apreensão entre os colaboradores da
empresa com a possibilidade de perda de seus empregos.
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que comprometeu a lisura das eleições e a igualdade de condições entre os
candidatos no pleito de 2018.
14. Procedência dos pedidos da ação de investigação judicial eleitoral com
fundamento no artigo 22, inciso XIV, da Lei Complementar no 64, de 18 de
maio de 1990, com a redação da Lei Complementar nº 135, de 4 de junho de
2010, cassado o diploma e, por consequência, o mandato de deputado distrital
do Representado, José Gomes Ferreira Filho, e declarada a sua inelegibilidade
para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes ao pleito de
2018.
13. Contra estas decisões, José Gomes Ferreira Filho deduz o presente recurso
ordinário, fundado no art. 121, § 4º, III e IV, da Constituição Federal (art. 276, II,
“a”, do Código Eleitoral), aduzindo, em síntese, as seguintes teses (ID 16184238):
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eleitores empregados na empresa” (ID 16184238, p. 30);
- II -
- III -
17. Quanto à alegada nulidade do acórdão por ter a Presidente da Corte a quo
deixado de proferir seu voto, não assiste razão ao recorrente.
1
O acórdão que julgou os embargos de declaração foi publicado em 12.08.2019 (segunda-feira),
tendo a parte interposto, tempestivamente, o recurso ordinário em 14.08.2019 (quarta-feira).
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poderão ser tomadas com a presença de todos os seus membros
22. É dizer, em outros termos, que a norma exige que ao menos 4 magistrados
– isto é, a maioria dos 7 membros que compõem os tribunais – se façam presentes
para a abertura da sessão, e que no mínimo 3 deles – a maioria do quórum de
instalação (4) –, votem no mesmo sentido.
23. Nada mais fez, portanto, do que impor um piso – tanto de instalação da
sessão (4) quanto de votação (3) –, dispensando, ante a observância desses
quantitativos mínimos, a necessidade de que todos os magistrados presentes
proferissem voto.
2
Ações que importem cassação de registro, anulação geral de eleições ou perda de diplomas.
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27. Logo, por imperativo lógico, a mesma compreensão que vigorou – e até
hoje vigora – em relação ao caput, deve alcançar a exceção prevista no § 4º. Significa
dizer que, observados os quantitativos mínimos de instalação da sessão (7) e de
tomada de decisão (4), não há nulidade na ausência de manifestação e voto de um
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ou mais magistrados presentes.
31. O simples cotejo dos arts. 28, § 4º e 19, parágrafo único, do referido
Diploma Legal, permite chegar a essa conclusão, como demonstra o quadro a seguir
colacionado:
ART. 28, § 4º (DESDE 2015) ART. 19, PARÁGRAFO ÚNICO (DESDE 1965)
Art. 28. Os Tribunais Regionais deliberam por Art. 19. O Tribunal Superior delibera por maioria
maioria de votos, em sessão pública, com a presença de votos, em sessão pública, com a presença da
da maioria de seus membros. maioria de seus membros.
[…]
§ 4o As decisões dos Tribunais Regionais sobre Parágrafo único. As decisões do Tribunal Superior,
quaisquer ações que importem cassação de registro, assim na interpretação do Código Eleitoral em face
anulação geral de eleições ou perda de diplomas da Constituição e cassação de registro de partidos
somente poderão ser tomadas com a presença de políticos, como sobre quaisquer recursos que
todos os seus membros. importem anulação geral de eleições ou perda de
diplomas, só poderão ser tomadas com a presença
de todos os seus membros. […]
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32. A despeito disso, é indispensável registrar que essa Corte Superior nunca
perfilhou o entendimento de que o voto do Presidente seria imperativo, mesmo nas
hipóteses previstas no parágrafo único do art. 19 do Código Eleitoral.
33. Prova disso são as diferentes redações que, ao longo do tempo, foram
conferidas à alíena “c” do art. 9º de seu Regimento Interno (Resolução TSE nº
4.510/1952), assim resumidas:
Art. 9º Compete ao Presidente do Tribunal:
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[…]
REDAÇÃO ORIGINAL:
3
REspe nº 35627/AL, relator designado o Ministro Marco Aurélio, acórdão proferido em 2 de
agosto de 2011.
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37. Como autoridade máxima do órgão judiciário regional, incumbe-lhe
promover e manter as relações interinstitucionais com os demais poderes,
necessárias não apenas ao seu funcionamento regular mas, especialmente, à
consecução das eleições, sabidamente calcada no princípio da colaboração.
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45. Delineado tal contexto, verifica-se que o presente recurso ordinário oferece
oportunidade para, com a urgência necessária, ajustar-se o entendimento firmado
no julgamento do RO nº 729906/RJ, relatado pelo Ministro Jorge Mussi6.
4
(1) TRE/AC (art. 19, III, c/c 111, § 1º, I) – (2) TRE/AL (art. 18, III, c/c 47, § 1º) – (3) TRE/AP
(art. 16, II e III c/c 58, § 3º) – (4) TRE/AM (art. 18, V, c/c 7º, § 1º) – (5) TRE/CE (art. 23, II, c/c
60, §§ 1º e 2º) – (6) TRE/ES (art. 11, V c/c 33, § 3º) – (7) TRE/GO (art. 15, II c/c 52, § 1º) – (8)
5
TRE/BA (art. 8º, I e II c/c 77, § 1º; cf. regimento aprovado em 2017) – TRE/MA (art. 18,
XXVIII c/c 74, parágrafo único; cf. redação inserida em 2019) – TRE/MT (art. 19, II; cf. redação
inserida em 2017) – TRE/PB (art. 26, II; cf. redação inserida em 2018) – TRE/PE (art. 19, I c/c
50 § 5º; cf. regimento aprovado em 2017) – TRE/RJ (art. 26, II, cf. redação inserida em 2018) –
TRE/RN (art. 20, II c/c 93, § 3º c/c 94, II e IV, cf. redação inserida em 2018) – TRE/SE (art. 28,
III, cf. regimento aprovado em 2016) – TRE/TO (art. 20, III, cf. redação inserida em 2018).
6
Assim ementado: RECURSOS ORDINÁRIOS. ELEIÇÕES 2014. GOVERNADOR. VICE-
GOVERNADOR. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE). ABUSO DE
PODER POLÍTICO E ECONÔMICO. QUÓRUM COMPLETO. ART. 28, § 4º, DO CÓDIGO
ELEITORAL. INOBSERVÂNCIA. NULIDADE. PROVIMENTO. 1. O TRE/RJ, em Ação de
Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) por abuso de poder econômico e político (art. 22 da LC
64/90), cassou os diplomas dos recorrentes e os declarou inelegíveis com votos de apenas cinco de
seus sete membros, por maioria mínima de três a dois, deixando de votar o Presidente e Juíza da
classe dos advogados, em afronta ao art. 28, § 4º, do Código Eleitoral e à jurisprudência. 2. Incabível
afirmar que o voto do Presidente seria necessário apenas em caso de empate, de incidente de
inconstitucionalidade ou de feito em que atue como Relator. O art. 26, II, do RI – TRE/RJ é de
2014, anterior, portanto, à introdução do § 4º ao art. 28 do Código Eleitoral, e, ademais, o próprio
Regimento Interno foi alterado em 2015 para se adequar ao novo texto legal. 3. Irrelevante a
circunstância de uma das Juízas que integrava a classe dos advogados declarar suspeição no curso
do julgamento, pois o TRE/RJ contava com Juíza titular da mesma classe que ingressara na Corte a
posteriori. Cabia, assim, renovar o relatório e as sustentações orais (precedentes e Regimentos
Internos da c. Suprema Corte e do c. Superior Tribunal de Justiça). 4. Anulado o julgamento por
inobservância de quórum, fica prejudicada a análise das demais questões – preliminares e de mérito
– trazidas no recurso. Precedentes. 5. Recursos ordinários providos para anular os acórdãos
regionais, determinando-se o retorno dos autos a fim de que o TRE/RJ rejulgue a causa. Execute-se
este aresto logo após sua publicação.
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47. Merece registro o fato de que a Presidente da Corte, embora presente, não
proferiu voto, dado o comando ínsito no art. 17, XXVI, do Regimento Interno, que
assim dispõe:
Art. 17. São atribuições do Presidente do Tribunal:
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[...]
XXVI – tomar parte na discussão sobre a matéria em julgamento, proferir
voto no caso de empate e em caso de matéria de natureza constitucional e,
ainda, apresentar e relatar matéria administrativa
48. Não obstante isso, é dado constatar que o veredito ora impugnado
ultrapassou, em muito, a maioria absoluta dos componentes do órgão colegiado,
não havendo que se falar, portanto, em violação ao disposto no art. 28, § 4º, do
Código Eleitoral.
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53. Há que se convir que a decisão que se pretende anular dificilmente seria
alterada, uma vez que proferida em votação unânime (6x0), mesmo após um dos
membros do Tribunal ter formulado pedido de vista (ID 16182138).
55. Dessa feita, a compreensão de que somente a chance – ainda que longínqua
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– de reversão de determinado ato judicial seria suficiente para anulá-lo,
comprometeria a celeridade processual, atentando diretamente contra o preceito
constante do art. 97-A da Lei das Eleições.
56. Por fim, cabe recordar que esse particular entendimento foi recentemente
adotado por este Tribunal Superior, em caso similar ao que ora se examina 7. Na
ocasião, a nulidade do acórdão questionado, apoiada no fato do Presidente da Corte
Regional não ter proferido voto, foi afastada ante a remota probabilidade de
57. Sendo esse o contexto, impõe-se concluir que a tese de nulidade do acórdão
regional pelo cogitado descumprimento do art. 28, § 4º, do Código Eleitoral, não
merece ser acolhida.
- IV -
58. Tampouco se sustenta a alegada ofensa aos arts. 22, caput, da Lei
Complementar nº 64/90 e 16 da Constituição da República.
59. No ponto, a parte recorrente afirma que não obstante o termo inicial para o
ajuizamento da AIJE seja a data do registro da candidatura, a presente ação foi
proposta em 14/8/2018, antes, portanto, de referido marco.
60. Alega, ainda no ponto, que esse particular entendimento está consolidado
na jurisprudência dessa Corte Superior e, por isso mesmo, não poderia ser alterado
abruptamente sem que fosse violado o princípio da anualidade da lei eleitoral,
também aplicado às orientações jurisprudenciais.
61. É assente, nesse Tribunal Superior, que “a conduta vedada do art. 73, § 10,
da Lei nº 9.504/97 e o abuso de poder do art. 22 da LC nº 64/90, como objeto de ação
7
AgR no REspe nº 4248/CE, relator designado o Ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto,
julgamento concluído em 27 de agosto de 2019.
8
Naquela circunstância, além da votação unânime, foi destacado o fato do então Presidente ter
proferido voto no mesmo norte em julgamento posteriormente anulado.
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62. A partir deste pronunciamento, duas conclusões podem ser alcançadas: (i)
o termo inicial para ajuizamento da ação de investigação judicial eleitoral recai sobre
a data do registro da candidatura, e (ii) é possível a apuração de fatos ocorridos
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antes do registro de candidatura, inclusive anteriores às convenções partidárias.
63. Como cediço, a data final para requerer o registro de candidatura é o dia 15
de agosto, nos termos do art. 1110, da Lei nº 9.504/1997, o que não significa dizer
que o candidato não a possa formalizar antes desse prazo final.
64. No caso concreto, foi precisamente o que ocorreu. É possível aferir, a partir
da página oficial do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal na internet, que
9
Recurso Especial Eleitoral nº 57611, acórdão relatado pelo Min. Tarcisio Vieira de Carvalho Neto,
publicado no Diário de Justiça Eletrônico de 16/04/2019.
10
Art. 11. Os partidos e coligações solicitarão à Justiça Eleitoral o registro de seus candidatos até as
dezenove horas do dia 15 de agosto do ano em que se realizarem as eleições.
11
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947d24cc5287931becda3cb09fc8cc47f
12
http://consultapublicapje.tse.jus.br/detalhar-processo?
pNumProcesso=b4532b11927749e33b18940c4ddd55a0679dcb29dbf5677af379e48211bf12144193891bdf7
3714e
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66. Destarte, é dado concluir que a parte recorrente se equivocou ao afirmar
que a vertente ação foi ajuizada antes do registro de sua candidatura, sendo
inequívoco que, em verdade, sua formalização ocorreu no dia 14 de agosto de 2018,
mesma data em que foi proposta a AIJE.
67. Não obstante isso, é incontroverso o fato de que José Gomes, à época do
ajuizamento da ação, já havia sido escolhido como candidato em convenção
partidária realizada pelo seu partido (PSB).
69. Em suma, não subsiste a alegada afronta aos arts. 22, caput, da Lei
Complementar nº 64/90 e 16 da Constituição da República.
-V-
70. No que se refere ao abuso de poder econômico, melhor sorte não assiste ao
recorrente.
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72. As provas são contundentes e robustas quanto às condutas acima descritas,
as quais, por sua vez, configuram inegável abuso de poder econômico.
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“Bom dia.
Hoje terei um tempinho para passar para vocês a importância que todos nós
temos nessa empresa, o quanto somos fundamentais para o andamento da
mesma.
Somos a máquina trabalhadora más [sic] também somos o escudo de
proteção, que devemos valorizar e priorizar tudo o que temos nela, daqui
levamos fartura as nossas mesas e condições de melhoria a toda nossa
família, somos a maior família de Brasília, isso graças a persistência de um
homem que começou com uma pequena empresa que hoje é uma das maiores
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empregadoras do DF, sei que posso falar dele para vocês pois estamos juntos
há alguns anos, gostaria de dizer para vocês que no momento de grandes
dificuldades que nosso país está passando muitos se encontram desiludidos
sem saber em quem acreditar.
Portanto, temos reflexo de um trabalho que está dando certo que com sua
persistência e profissionalismo possa trazer uma nova história para o meio
político, vamos abraçar essa causa juntos e acreditar em uma mudança que
possa beneficiar a todos com um trabalho honesto e íntegro.
Não vamos só vestir a camisa, vamos também pegar essa causa de coração e
juntos construiremos um novo futuro para a nossa nação.
78. Colhe-se ainda dos autos que os empregados foram obrigados a entregar
ficha cadastral em que constam as informações eleitorais dos trabalhadores e que
Douglas Ferreira Laet, na qualidade de gerente da empresa, em reunião realizada
com os empregados, afirmou que o recadastramento seria exigência governamental
(ID 16175238).
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ficou de fora, alguém está com a gente, eu tô dizendo do nosso pessoal,
porque eu já tenho, se o Chico tava preocupado com isso, eu não preciso do
título de eleitor duas vezes. Eu já tenho o título de eleitor. E essa equipe que
está ali já tem também aonde todo mundo aqui vai votar, porque eu tendo
o título de eleitor [...]”. (Grifos nossos).
82. Como arma de coação, o gerente afirma aos empregados que o candidato
teve proposta para que demitisse seus funcionários e contratassem outros que
serviriam de cabos eleitorais e trariam à José Gomes, em troca do emprego, mais
duas pessoas da família, o que possibilitaria que viesse a ser facilmente eleito.
IV.1, não apontou elementos técnicos indicativos de edição fraudulenta, como inserção, supressão,
superposição ou substituição. Ressalta-se, entretanto, que não foi encaminhado a exame o(s) aparelho(s)
gravador(es), o que impossibilita a realização de algumas das análises descritas no item IV.1, diminuindo por
conseguinte a robustez do exame.
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seiscentas e nove pra ser mais exato, e pintou aqui gente, 6 mil pessoas?
Pois é, você pega aqui cinco mil, pega seus encarregados todos, que são
duzentos e quarenta, e coloca aqui para fazer as contratações, que faz num
dia ou dois, o que vai acontecer? Você pega, contrata cada um e pra cada
um você pergunta: quantas vagas você me dá, você traz? Você me traz seu
irmão, o seu pai? Só preciso de mais duas além da sua. Qualquer um vai
falar sim, lógico, eu quero um emprego, tô precisando; pessoal que tava aí
fora qualquer um faria isso, e traria três votos, três vezes cinco, quinze,
{que} ele tá eleito. Fácil ser eleito com uma empresa desse porte, desse
tamanho. Só que ele enxotou os caras, por quê? Porque ele nunca aceitou
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negociar com nenhum político, nunca aceitou, e por outro grande motivo, hoje
vocês têm a responsabilidade por isso, ele não quis trocar o emprego de
vocês por uma sacanagem dessa, porque senão ele seria só mais um, e agora
eu tenho uma responsabilidade com ele, vocês também, encarregados. O
que? Fazer com que realmente ele vá, mas de uma fora limpa, ou seja, ele
protegeu o emprego de vocês, porque ele poderia ter feito isso, não
poderia?
84. Ora, por certo que o discurso do gerente da empresa Real JG alcançou
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trabalho, que houve outras reuniões de empregados com a empresa, mas quase
ninguém ia e a declarante só participou desta que mencionou; depois que a
declarante estava na empresa, ficou sabendo que José Gomes sairia
candidato a Deputado Distrital; a declarante foi demitida; segundo o
responsável pela empresa, no ato de demissão, foi dito à declarante que sua
demissão se devia ao excesso de empregados; a declarante comentou que
não votaria em José Gomes para Deputado Distrital e chegou a pensar que
tinha sido demitida por esta motivo; ficou sabendo que a sua indicação
para trabalhar na JG partiu do Deputado Roosevelt Vilela, a pedido da
senhora França; confirma o que está escrito na reclamação trabalhista no
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sentido de que “após alguns meses de prestação de serviços, o proprietário da
Reclamada, senhor José Gomes Ferreira Filho lançou-se como candidato à
Câmara intempéries e transtornos suportados pela reclamante”; confirma
também o que consta na petição inicial da reclamação trabalhista, no
sentido de que “com a pré-candidatura acima relatada veio também a corrida
e disputa pelos votos e esta se deu no melhor dos cenários, de forma agressiva e
desrespeitosa com a reclamante e diversos outros empregados do Grupo Real”;
confirma também o que consta na petição inicial da reclamação trabalhista
que lhe foi lido, no sentido de que “os pedidos até então velados de apoio à
candidatura se iniciaram com pedidos de comparecimento a comícios (sic),
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declarante levou cópia do título de eleitor, juntamente com outros
documentos, por ocasião de sua contratação, porém não entregou de forma
isolada o título; não ouviu falar e nem conhece a expressão “time da empresa”
como referência a pessoas que estivessem relacionadas a eventuais pretensões
políticas de José Gomes, pois a declarante não participava de nada; a reunião
de que participou a declarante ocorreu no período da tarde após o seu horário
de trabalho, uma vez que foi para a empresa para buscar o seu uniforme. Dada
a palavra ao ilustre Representante do Ministério Público, às suas perguntas
respondeu: que nunca esteve pessoalmente com o Deputado Chico Vigilante;
a declarante trabalhava como auxiliar de serviços gerais; a declarante recebia
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[…] que foi empregada da Real JG; que foi demitida sem justa causa; que
recebeu todos os direitos; que foi demitida por falta de posto de trabalho e
porque não se interessavam pelos serviços da depoente; que trabalhava como
ascensorista no STJ e lá ficou por cinco anos; que tem três advertências na sua
ficha funcional; que uma das advertências foi em 2016, outra em 2017 e a
outra em junho de 2018; que saiu da empresa em outubro de 2018; que a
última advertência foi porque, em reunião de trabalho, a depoente fez uma
pergunta ao supervisor e este se sentiu ofendido; que perguntou se aquela
reunião era por causa da depoente e se os fatos comentados na reunião eram
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87. A testemunha Patrícia Oliveira Duarte afirmou em juízo ter sido demitida
por negar-se a fazer campanha eleitoral para José Gomes. Disse, ainda, que além de
Douglas Ferreira Laet, os supervisores David e Eliane pressionaram os funcionários
a realizar atos de campanha para o proprietário da Real JG e que Douglas diminuiu
o ritmo das demissões após a repercussão dos fatos. Confira-se os excertos abaixo
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(ID 16179988, p. 1-4):
[…] que trabalhava nas dependências da EBSERH, como funcionária da Real;
que, lá a encarregada Eliane (ou Eliana) Freitas pediu cópia do título de eleitor
para um recadastramento na Real JG; que Eliane era chefe da depoente; que
também foi passado um formulário nos setores, inclusive ressaltado por
Eliane, que era de suma importância informar o número do título de eleitor;
que recebeu aviso prévio em 26 de setembro e saiu no mês de outubro de
2018; que foi demitida sem justificativa plausível, apenas disseram que a
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informação era substituir os empregados que não apoiavam José Gomes
por voluntários de campanha ou por indicados por pessoas que apoiavam a
campanha; que, antes de receber aviso prévio, a depoente treinou Bruno
Euclides, que depois veio a substituí-la, sendo que esta pessoa era
voluntário de campanha.
[…] (sem grifos no original)
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sabe dizer se a empresa realiza treinamentos com seus funcionários; que não
presenciou nenhuma das mencionadas reuniões; que os empregados
mostraram vídeos das reuniões e neles o depoente viu o representado, daí
afirmar que o representado participava de tais reuniões; que, nos vídeos,
não viu coação do representado; que os funcionários comentavam que eram
coagidos a postar nas redes sociais fotos e mensagens de apoio ao
representado; que o depoente não tem rede social; que viu tais postagens nos
celulares dos próprios empregados; que os empregados para comprovar a
coação e comprovar que faziam a campanha para o candidato a deputado; que,
dentro do Ministério, havia uma mulher encarregada, funcionária da Real
89. Extrai-se dos depoimentos supra transcritos que estes são coesos e
harmônicos entre si, evidenciando a coação e pressão sofrida pelos empregados do
recorrente e candidato ao cargo de Deputado Distrital, para que participassem da
campanha eleitoral, sob pena de “sofrer as consequências”, leia-se, serem demitidos.
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Depoimento de Márcio Cordeiro de Azevedo:
[…]
que Douglas era gerente operacional na empresa e era o chefe operacional
do declarante, que, depois do expediente da empresa, aconteceram
reuniões em residências com o objetivo de conhecer as propostas do senhor
José Gomes como candidato ao cargo de Deputado Distrital da Câmara
Legislativa; que, para essas reuniões, eram convidadas pessoas em geral
para conhecer o candidato José Gomes e suas propostas, inclusive
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reunião privada, esclarece que apenas comentou com o gerente tal reunião
para que outras pessoas pudessem comparecer;
[…]
que foi a própria depoente quem convidou o representado para a reunião
em sua casa através de uma terceira pessoa, de cujo nome não se lembra, e
que trabalhava na campanha do representado; (sem grifos no original)
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estas tenham sido realizadas apenas e tão somente como forma de demonstrar
gratidão à José Gomes Ferreira Filho por ser ele um excelente empregador ou,
ainda, por pura convicção política.
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funcionários da empresa e algumas delas foram em casa de funcionários;
[...]; que tomou conhecimento do áudio atribuído a Douglas através dos
próprios subordinados, na própria sala de trabalho; que esse áudio era
conhecido de uma maneira geral pelos empregados, inclusive,
constantemente compartilhado entre eles. Pelos advogados nada mais foi
requerido. Nada mais. […] (sem destaques no original)
97. Ora, se o áudio era de conhecimento de muitos dos funcionários, para não
dizer de todos, é certo que os empregados estavam cientes das “consequências” que
lhe seriam impostas caso não vestissem a camisa ou não abraçassem a causa de seu
patrão.
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99. Nessa mesma linha de intelecção, Rodrigo Lopez Zílio16 afirma que o
abuso de poder econômico “consiste no emprego de recursos financeiros em espécie ou
que tenham mensuração econômico para beneficiar determinado candidato, partido ou
coligação, interferindo indevidamente no certame eleitoral.”
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requisitando que estes demonstrassem lealdade e apoio político, assim como
por ter descaracterizado o objeto social da empresa Real JG, utilizando-a como
engrenagem propulsora de sua candidatura.
101. O acervo fático probatório dos autos revela que o recorrente, assim como o
gerente, supervisores e encarregados da Real JG, impuseram aos empregados um
ambiente profissional em que a democracia e o livre pensamento acerca de
convicções políticas foram tolhidos ou até mesmo serviram de propulsão para,
- VI -
104. Para a ocorrência do abuso de poder, o inciso XVI do art. 22 da Lei das
Inelegibilidades traz um requisito imprescindível à configuração dos ilícitos
mencionados no inciso XIV do mesmo artigo, qual seja, a gravidade das
circunstâncias que os caracterizem17.
16
ZÍLIO, Rodrigo Lopez. Direito Eleitoral. 6a ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2018, p.644.
17
Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá
representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e
indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso
indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida
de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político,
obedecido o seguinte rito:
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106. Não por outro motivo, esse Tribunal Superior já consolidou o entendimento
de que o requisito da gravidade dos fatos sempre se faz presente quando há ofensa
aos “cânones fundamentais da igualdade de chances e da legitimidade e normalidade do
prélio eleitoral”18.
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107. No caso em tratativa, a gravidade da conduta está caracterizada na medida
em que o investigado, pessoalmente ou por intermédio de seus gerentes,
supervisores e encarregados, impingiram aos empregados da empresa Real JG
verdadeiro temor do desemprego, especialmente no atual momento do país de
imensas dificuldades socioeconômicas, além de espalharem tensão no ambiente de
trabalho em decorrência de possíveis retaliações aos que não demonstrassem
gratidão pelo trabalho e lealdade ao “patrão”, o que seria demonstrado/retribuído por
[…]
XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal
declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato,
cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos
subsequentes à eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato
diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder
de autoridade ou dos meios de comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério
Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando
quaisquer outras providências que a espécie comportar;
[…]
XVI – para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o
resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam.
18
Recurso Especial nº 458-67, relatado no Tribunal Superior Eleitoral pelo ministro Luiz Fux,
acórdão publicado no Diário de Justiça de 30 de agosto de 2016. Sem destaque no original.
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consubstancia a prática de captação ilícita de sufrágio e de abuso de poder
econômico.
- VII-
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7. A conduta praticada, conforme concluiu o acórdão regional, enquadra-se
perfeitamente no art. 73, inciso V, da Lei nº 9.504/1997, pois os servidores
receberam vantagem em período vedado (redução da carga de trabalho sem a
redução de vencimentos), o que dispensa a análise da finalidade eleitoral do
ato, pois esse requisito foi valorado pela legislação, quando afirma que "são
proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas
tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos
eleitorais" (art. 73, caput, da Lei nº 9.504/1997), salvo quando a própria
norma exige uma qualificação especial da conduta, como "fazer ou permitir
uso promocional em favor de candidato, partido político ou coligação, de
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Fonte: Tribunal Superior Eleitoral: http://divulga.tse.jus.br/oficial/index.html
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https://pje.tse.jus.br:8443/pje-web/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20031919073846400000026059084
Número do documento: 20031919073846400000026059084
MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
PROCURADORIA-GERAL ELEITORAL
116. Há, dentre as provas colhidas dos autos, mensagem do próprio candidato
ressaltando a importância dos trabalhadores em sua campanha eleitoral e
convocando-os a “abraçar a causa” para que todos “sejam beneficiados”.
Documento assinado via Token digitalmente por RENATO BRILL DE GOES, em 19/03/2020 18:32. Para verificar a assinatura acesse
118. Esse, aliás, é o entendimento desse Tribunal Superior Eleitoral, segundo o
qual “a inelegibilidade constitui sanção de natureza personalíssima e aplica-se apenas a
quem cometeu, participou ou anuiu com o ilícito21”.
- VIII -
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Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 1635, relatado pelo Min. Jorge Mussi,
acórdão publicado no Diário de Justiça eletrônico de 17.4.2018.
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