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Saneamento Ecológico

Volume Básico

Bruno Azevedo e Flávio Duarte


Saneamento Ecológico

Bruno Azevedo e Flávio Duarte


Saneamento Ecológico
Edição 2018

©Bruno Azevedo e Flávio Duarte

Os autores visam instrumentar e possibilitar aos leitores a construção de ambientes saudáveis e sustentáveis, além de gerar
autonomia e qualidade dos tratamentos de água e saneamento.

1. Saneamento. 2.Construção Civil. 3.Água. 4.Tratamento de Águas. 5.TEVAP. 6.Sustentabilidade. 7.Meio Ambiente.
8.Salubridade 9. Tratamento de efluentes. 10.Efluentes. 11.Águas cinzas. 12. Águas negras. 13.Águas servidas. 14.Saude.
15.Estação tratamento de esgoto. 16.Tanque de Evapotrasnpiração (TEVAP). 17. Reuso. 18.Sanitario compostavel.
19.Compostagem. 20.Irrigação.

Nenhuma parte dessa publicação poderá ser reproduzida, por qualquer meio, sem autorização prévia, por escrito, de seus
autores.
Prefácio
A sustentabilidade, a saúde ambiental e publica tem relação direta com
a geração e tratamento de esgotos líquidos gerados pelas edificações.

Desde as primeiras ações da Biohabitate com projetos e obras de baixo


impacto, a atenção com sistemas de saneamento menos impactantes
foi essencial para maximizar a preservação ambiental e salubridade dos
ambientes que projetamos e construímos.

As edificações, desde a obra e uso, são responsáveis por boa parte pelo
consumo e poluição da agua. A maioria dessa agua consumida retorna
para o ambiente natural e urbano em forma de esgoto liquido, os
efluentes.

Estima-se que mais de 80% das doenças de causas hídricas esteja


relacionada com o ineficaz ou não tratamento desses efluentes.

Esse e-book tem como principal objetivo, apresentar opções de tratamento descentralizado, já normatizados e
consolidados, para efluentes com o mínimo de impacto possível.

Os sistemas que abordaremos nas páginas seguintes propõe tratamento eficaz, realizado no local em que o esgoto é
produzido, sem necessidade de estrutura urbanas onerosas, sem poluição do subsolo e lençóis freáticos, e com reuso
dos efluentes para irrigação e produção de alimento
Ficha Técnica

Autoria
Flávio Duarte
Bruno Azevedo

Imagens e Fotos
Arquivo Biohabitate

Organização
Fabiana Scalabrini
Karen Guedes
Fabrício Machado

www.biohabitate.com.br
Biohabitate
@biohabitate
Sumário 1. Saneamento ecológico e doméstico no jardim........................................ 9
2. Tratamento Biológico descentralizado de Efluentes................................. 10
Os ítens 2.1. Fluxograma - Círculo de Bananeiras........................................................ 11
cortados estão 2.2. Fluxograma - Valas de Infiltração............................................................ 12
presentes 3. Tratamento biológico das águas cinzas.................................................... 13
apenas no 3.1. Caixa de passagem e inspeção................................................................ 13
3.2. Caixa de gordura................................................................................... 14
Volume Avançado 3.3. Círculo de bananeiras............................................................................. 16
3.4. Valas de Infiltração................................................................................. 20
4. Tratamento biológico das águas negras................................................... 24
para mais informações
4.1. Tanque séptico....................................................................................... 24
http://www.biohabitate.com.br/ 4.2. TEVAP.................................................................................................... 30
produto/e-book-saneamento-
5. Dimensionamento - memória de cálculo................................................. 36
ecologico-vol-avancado/
6. Tabelas....................................................................................................51
7. Referências............................................................................................. 54
9
1. Saneamento Ecológico e Doméstico
Conceituação e contextualização
Em pesquisa realizada pelo IBGE em 2002 (PNSB – Pesquisa Nacional de Saneamento Básico), constatou que:
47,8% das cidades brasileiras não contam com serviço primário de esgoto (coleta e tratamento); e apenas 20,2%
dos municípios tratam seus esgotos. Ou seja, total de 11 bilhões de litros de esgoto gerado por residências,
aproximadamente 3/4 desse volume são lançados nos cursos d'água sem nenhum tratamento.
De acordo com o plano mundial de metas ambientais da Eco92: "aproximadamente 80% de todas as doenças de
origem hídrica (cólera, disenteria, hepatite, intoxicação alimentar entre outras) e mais de um terço das mortes em
países em desenvolvimento são causadas pelo consumo de água contaminada".
No Brasil a situação também é alarmante, em pesquisa feita em 1994 constatou que 85% da população urbana tinha
acesso a água potável e apenas 55% dessa parcela tinha cobertura de saneamento. A população rural apenas: 31%
com acesso a água e 3% a saneamento.
Na distribuição e divisão da água e saneamento, a renda e classe social são decisivas, sendo a população de baixa
renda a menos favorecida.
Uma solução para os problemas de tratamento de esgoto é o tratamento descentralizado dos efluentes gerados, no
qual consiste em tratá-los no local sem a necessidade de dispendiosas redes públicas de coleta e sistemas de
tratamentos centralizados. Podem ser instalados tanto em locais onde não há saneamento básico como também nos
locais onde há rede de esgoto e deseja-se reaproveitar as águas servidas.
Basicamente os sistemas de tratamento descentralizados atendem aos pressupostos da Agenda 21, quando propõem
uma solução local para os problemas ambientais causados pela geração de esgotos.
O sistema e nível de tratamento das águas residuais dependem diretamente da qualidade das águas servidas
disponíveis e da qualidade desejada para o reuso.

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2. Tratamento Biológico descentralizado de Efluentes

O tratamento biológico consiste na decomposição de matéria orgânica presente na água.


Para tratamento biológico das águas cinzas (sem fezes) e negras (com fezes) pode-se usar meios filtrantes alternados,
gerando diferentes ambientes propícios de forma que os contaminantes, sujeiras e os patógenos sejam retidos,
retirados e decompostos por microrganismos anaeróbios e aeróbicos.
para tratamento dos efluentes descentralizados o ideal é separar as águas cinzas daquelas que tem fezes. Assim é
possível realizar o tratamento dos efluentes com mais eficácia e com melhor dimensionamento e planejamento para
o reuso.

Segue abaixo os sistemas e componentes que a Biohabitate utiliza em seus projetos e obras.

NBR 13969 - Tanques sépticos - Unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos -
Projeto, construção e operação

NBR 7229 - Projeto, construção e operação de sistemas de tanques sépticos

NBR 12209 11/2011- Elaboração de projetos hidráulico-sanitários de estações de tratamento de esgotos


sanitários

Segue abaixo os componentes dos sistemas de tratamento descentralizado:

A - TRATAMENTO AGUAS CINZAS B - TRATAMENTO AGUAS NEGRAS


1– caixa de passagem e inspeção 5– caixa de passagem e inspeção
2– caixa de gordura 6– tanque séptico
3– caixa de distribuição 7- caixa de distribuição
4– valas de infiltração ou círculo bananeiras 8– tanques de evapotranspiração s/ infiltração
9- Sanitário compostável a seco
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2.1 Fluxograma
Círculo de bananeiras
TEVAP 1
CD
TANQUE
SÉPTICO
Cp1
TEVAP 2
Cp3

RS

CG

Cp4

LEGENDA CÍRCULO
Esgoto Cinza BANANEIRAS
Esgoto Negro
Cpx Caixa de passagem/inspeção
CG Caixa de Gordura
CD Caixa de Distribuição
RS Ralo Sinfonado
12
2.2 Fluxograma
Valas de infiltração
TEVAP 1
CD
TANQUE
SÉPTICO
Cp1
TEVAP 2 Cp3

RS

CG

Cp4

LEGENDA
Esgoto Cinza
Esgoto Negro
Cpx Caixa de passagem/inspeção VALAS DE
CG Caixa de Gordura INFILTRAÇÃO
CD Caixa de Distribuição
RS Ralo Sinfonado
13
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3. Tratamento biológico de águas cinzas

O tratamento biológico consiste na decomposição de matéria orgânica presente na água. Para tratamento biológico das águas
cinzas e negras podemos usar meios filtrantes alternados que geram diferentes ambientes propícios para que os contaminantes,
sujeiras e os patógenos sejam retidos, retirados e decompostos por microorganismos anaeróbios e aeróbios.

3.1- Caixa de passagem e inspeção (CP)

É destinada para permitir a inspeção, limpeza, desobstrução, junção, mudanças de declives e/ou direção das tubulações dentro
da planta do sistema de tratamento. As caixas de inspeção tem dimensões de 20cm altura x 20cm comprimento x 20cm
profundidade conforme o corte esquemático abaixo.

CAIXA DE PASSAGEM E INSPEÇÃO


CORTE ESQUEMÁTICO

TUBO DE PVC 100mm


ENTRADA DO EFLUENTE
DESDE TANQUE SÉPTICO TUBO DE PVC 100mm
20cm SAÍDA DO EFLUENTE
PARA TEVAP

30cm
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3.2- Caixa de gordura

A caixa de gordura atua na retenção de gorduras e óleos provenientes da pia da cozinha, recebendo óleos do
preparo de alimentos, evitando assim o entupimento dos ramais e tubulações de esgoto e também a colmatação dos
leitos filtrantes dos sistemas de tratamento que o efluente com gordura irá passar.

Além disso, a retenção da gordura é essencial para evitar um alto índice de contaminação dos efluentes, o que
diminui a eficiência dos sistemas de tratamento.
30 a 40cm

40 a 60cm
CAIXA DE GORDURA CAIXA DE GORDURA
CORTE ESQUEMÁTICO SEPTO FEITO COM CONEXÕES DE PVC
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3.3 Círculo de bananeiras

O círculo de bananeiras tem como função o tratamento e Parte da terra que foi retirada é colocada às margens
destinação final dos efluentes provenientes das águas do próprio buraco, conformando uma borda mais
cinzas. São criadas condições ambientais específicas para alta que o nível do terreno em pelo menos 30cm,
que os organismos decompositores possam se impedindo que as águas de enxurradas façam o
desenvolver e decompor a matéria orgânica e outros sistema transbordar, levando material ainda não
componentes indesejáveis do efluente. A estrutura deste decomposto para outras partes do terreno. No
sistema permite que as raízes das bananeiras tenham entorno dessas bordas é feito o plantio das mudas de
contato direto com os efluentes, possibilitando a bananeiras, que crescerão lançando suas raízes no
absorção dos contaminantes no esgoto, aproveitando buraco central.
para se “alimentarem” dos nutrientes encontrados no
efluente.
A técnica consiste em cavar um buraco redondo com
diâmetro de boca e profundidade variando entre 1m e
1,5m, sendo necessário forrar o fundo do buraco com
brita 4 ou seixos, formando uma camada de 40cm de
altura, impedindo a compactação de maneira indesejável.
Após a camada de brita, coloca-se uma camada de tocos,
pedaços de bambus, talos de bananeiras, troncos, ou
outros pedaços bem grosseiros de matéria orgânica,
formando uma camada de aproximadamente 50 cm de
altura. E, por último, acrescenta-se a camada final de
material orgânico seco (mulch) capim, palha, aparas ou
outro material orgânico que possa cobrir toda boca do
buraco, formando uma pilha aproximadamente40cm de
altura acima do nível do terreno natural. Tampando a
boca do buraco e impedindo a aproximação de insetos e
animais.
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3.3 Círculo de bananeiras | Planta

Para que este sistema funcione, é necessário “alimentar” o buraco com matéria orgânica sempre que o nível descer,
devido à decomposição do material anteriormente colocado no buraco. Antes de iniciar o uso do círculo de
bananeiras deve-se alimentá-lo com materiais orgânicos, para quando o efluente for lançado, o ambiente já possa
favorecer o crescimento dos microorganismos que se alimentarão dos contaminantes presentes no efluente.
Usa-se o buraco do círculo de bananeiras até que o nível do material
orgânico depositado dentro dele pare de baixar, significando que o
processo de decomposição (e tratamento do efluente) chegaram no
ponto de saturação para aquele círculo de bananeiras. Com isso, BORDA ALTA PARA DRENAGEM
ENXURRADA (CHUVA)
cobre-se o buraco com material orgânico seco e desvie
o efluente para o outro circulo de bananeira
previamente executado.
CÍRCULO BANANEIRAS
PLANTA | SEM ESCALA
TAMPA CAIXA DE PASSAGEM E INSPEÇÃO

TUBULAÇÃO DE 100mm
PARA ENTRADA EFLUENTE

MUDAS BANANEIRAS
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3.4 Círculo de bananeiras | Corte

CÍRCULO BANANEIRAS
CORTE | SEM ESCALA

PILHA DE MULCH, MATERIAL


ORGÂNICO FINO PALHA, FOLHAS
SECAS OU CAPIM SECO
NÍVEL TERRENO NATURAL

BORDA ALTA PARA DRENAGEM


CAIXA DE PASSAGEM DAS ÁGUAS DE ENXURRADA (CHUVA)
E INSPEÇÃO
TERRENO NATURAL

MATERIAL ORGÂNICO DE
TUBULAÇÃO DE 100mm PORTE MÉDIO GALHOS, CAULES
PARA ENTRADA DO EFLUENTE DE BANANEIRAS, ETC.

MATERIAL ORGÂNICO GROSSEIRO


TRONCOS, TOCOS, ETC.

BRITA 4 OU SEIXOS
VALAS DE INFILTRAÇÃO
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3.4- Valas de Infiltração

É um processos de tratamento clássico, consistindo na filtração do


esgoto através da camada de pedra britada, pedregulho ou areia,
onde se processa a depuração por meio tanto físico (retenção)
quanto bioquímico (oxidação), devido aos microorganismos fixos
nas superfícies dos grãos do leito filtrante, sem necessidade de
operação e manutenção complexas.
O sistema de vala de infiltração consiste em um conjunto de
canalizações assentado a uma profundidade determinada, em um
solo cujas características permitam a absorção do esgoto efluente
do tanque séptico. A percolação do líquido através do solo
permitirá a mineralização dos esgotos, antes que os mesmos se
transforme em fonte de contaminação das águas subterrâneas e de
superfície. A área por onde são assentadas as canalizações de
infiltração também são chamados de “campo de nitrificação”.
Deve ser construído e operado de modo a manter condição
aeróbica no interior da vala de infiltração, sendo previstos tubos de
ventilação/exaustão nas linhas de tubulação. esses tubos também
servem para manutenção da condição aeróbica no interior da vala
de infiltração e desobstrução dos poros do solo.
Na planta esquemática, a seguir, apresentamos 4 valas, cada uma
com 50% da capacidade total de trabalho e absorção. As valas
devem ser usadas de maneira alternada, sempre funcionando duas
a duas a cada 6 meses. Ou seja, duas em funcionamento por 6
meses, e duas paradas por esses 6 meses.
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3.4- Valas de Infiltração | Planta
TUBO 100mm
VENTILAÇÃO E INSPEÇÃO
VALA DE INFILTRAÇÃO
PLANTA | SEM ESCALA

TUBO 100mm
SOLDÁVEL ESGOTO
VEM DA CX. DISTRIBUIÇÃO
TUBO 100mm
ÁREA PREENCHIDA COM VENTILAÇÃO E INSPEÇÃO
BRITA 3

CAIXA DE DISTRIBUIÇÃO

TUBO DRENO
DISTRIBUIÇÃO HELEICODAL 100mm
INCLINAÇÃO DE 3mm A CADA METRO
TUBO 100mm, ENTRADA
EFLUENTE. VEM DA
CAIXA DE GORDURA
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3.4- Valas de Infiltração | Corte

VALA DE INFILTRAÇÃO ABRAÇADEIRA E


TELA ANTI INSETO REATERRO COM SOLO
CORTE TRANSVERSAL | SEM ESCALA
(1 areia + 1 terra) e plantas
TUBO 100mm
VENTILAÇÃO E INSPEÇÃO TELA MOSQUITEIRO OU GEOTEXTIL Op15
CONECTADO AO SOLO

TUBO DRENO 100mm


DISTRIBUIÇÃO HELEICODAL

VALA DE INFILTRAÇÃO
ÁREA PREENCHIDA COM BRITA 3

VALA DE INFILTRAÇÃO
CORTE LONGITUDINAL | SEM ESCALA
TEVAP - MG
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7. Referências

Livros e artigos

-CAMPBELL, S. Manual de Compostagem para Hortas e Jardins. 1995.


-LENGEN, V. Johan. Manual do arquiteto descalço. 2004
-SÁNCHEZ, Cristian. Abonos orgânicos e lombricultura. 2003
-DUARTE, Flávio. Apostila, Manejo Sustentável da Água. BIOhabitate. 2009.
-BUENO, Mariano. O Grande Livro da Casa Saudável. São Paulo. 1995.
-VON SCHIRNDING, Yasmin. Health in Sustainable Development Planning: The Role of Indicators. Geneva:
World Health Organization, 2002.
NBR 13969 - Tanques sépticos - Unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos -
Projeto, construção e operação
NBR 7229 - Projeto, construção e operação de
sistemas de tanques sépticos
NBR 12209 11/2011- Elaboração de projetos hidráulico-sanitários de estações de tratamento de esgotos sanitários

Sites

- Biohabitate – www.biohabitate.com.br
- IBN – Institut für Baubiologie + Ökologie - www.baubiologie.de/site/institut/grundregeln.php
- Pegada Ecológica - www.wwf.org.br/
-Ministerio do Meio mabiente - www.mma.gov.br/
Espelho - BA

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