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http://dx.doi.org/10.5540/DINCON.2011.001.1.

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ESTUDO COMPARATIVO DE ARQUITETURAS DE CONTROLADOR PID PARA


VEÍCULOS AERODINAMICAMENTE INSTÁVEIS
João Paulo de Souza1 and Waldemar de Castro Leite Filho2
1
Instituto de Aeronáutica e Espaço, São José dos Campos, Brasil, joaopaulojps@iae.cta.br
2
Instituto de Aeronáutica e Espaço, São José dos Campos, Brasil, waldemarwclf@iae.cta.br
3
Afiliação, cidade, país, e-mail

Resumo: O objetivo deste trabalho é comparar o desem- pressão dinâmica:


penho de duas arquiteturas de controle de atitude quando
aplicadas a veículos aerodinamicamente instáveis. A utiliza-
ção de uma arquitetura de controle PID, diferente da que vem θ(s) Mβ
Gp (s) = = 2 z (1)
sendo utilizada em estudos anteriores de um veículo especí- βz (s) s + Mα
fico, é proposta. O modelo do foguete foi obtido aplicando-se
a técnica de pólos congelados. Desta forma, foi possível rea- Sendo Mα o coeficiente de aceleração angular de arfa-
lizar uma análise linear invariante no tempo. Neste trabalho, gem em relação à α, medido em [rad/s2 /rad] e Mβz o co-
os valores dos ganhos foram calculados de modo que o veí- eficiente de aceleração angular de arfagem em relação à βz ,
culo cumprisse os requisitos de desempenho e estabilidade medido em [rad/s2 /rad].
determinados. Assim, os ganhos de cada controlador pude- Se Mα < 0 os pólos de Gp (s) são positivos, assim o mo-
ram ser determinados baseados no tempo de subida, tempo vimento é instável. Se Mα > 0 os pólos são imaginários
de assentamento, máximo sobressinal e máximo erro à en- puros, o movimento é estável e oscilatório, pouco amorte-
trada rampa. Desta maneira, fixam-se as características da cido, e os pólos se movem à esquerda do eixo imaginário.
resposta no tempo, permitindo com que pólos e zeros variem Estudos anteriores, além de desenvolver as equações de
dentro de certa faixa. movimento do veículo (mísseis e/ou aeronaves), focam a es-
Palavras-chave: Controle de Atitude, Estabilidade Aerodi- tabilidade aerodinâmica do ponto de vista de sistemas de
nâmica, Veículo Aerodinamicamente Instável. controle em malha fechada, [2], [4]. Estudos da malha de
pilotagem e sua estabilidade para modelos simplificados de
1. INTRODUÇÃO veículos lançadores são realizados em [1], [3] e [5].
Trabalhos anteriores tiveram o veículo lançador de saté-
Veículos lançadores são sistemas não-lineares e variantes lites (VLS), que é um veículo aerodinamicamente instável,
no tempo. Devido a queima de combustível, ocorrem varia- como objeto de estudo [6], [7], [8] e [9]. Estes trabalhos
ções de massa, posição do CG e momentos de inércia. Os apresentaram diferentes abordagens para a determinação dos
parâmetros aerodinâmicos também mudam de acordo com o ganhos do controlador, tais como: algoritmo genético, teo-
número de Mach. Portanto, são sistemas de análise complexa ria de controle linear quadrático, solução analítica e teoria
e, a princípio, não permitem a aplicação da teoria de sistemas de controle adaptativo. Contudo, a arquitetura do sistema de
lineares, tais como funções de transferência. Porém, as pro- controle, que é a mesma apresentada em [2], [4] e [5] perma-
priedades de massa/inércia e aerodinâmicas do veículo po- neceu inalterada.
dem ser consideradas constantes dentro de um intervalo de Neste trabalho é realizado um estudo de pilotagem, ou
tempo [1]. Assim, pode-se aplicar a técnica dos pólos conge- seja, o controle de atitude do veículo em torno do seu centro
lados [2], realizando-se um estudo linear invariante no tempo de massa (CM) apenas no plano de arfagem. O controle é do
para cada intervalo de tempo. tipo PID (proporcional-integral-derivativo). Um estudo com-
Podemos definir a função de transferência do veículo em parativo entre duas arquiteturas é feito de modo que seu uso
relação ao desvio de jato (ou desvio equivalente, se a pilo- satisfaça os requisitos de desempenho e também é verificado
tagem utiliza um dispositivo diferente) [3], baseada em um qual o impacto causado no projeto do controlador baseado na
modelo de corpo rígido simplificado para grandes valores de escolha da arquitetura.
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2. MÉTODOS projeto para a pilotagem do veículo. As especificações são


baseadas nos seguintes requisitos:
Com base na literatura consultada, foi possível notar o
uso de duas arquiteturas básicas de controle de atitude, am- • Tempo de subida (tr ) em função da flexão do veículo.
bas com derivada na realimentação. Contudo, como dito an- Tempos de subida muito curtos podem excitar os modos
teriormente, todos os trabalhos anteriores que tiveram como de flexão do veículo e instabilizar sua trajetória.
objeto de estudo o VLS se utilizaram de uma mesma arqui-
tetura. A Figura 1 apresenta esta configuração, a qual será • Limitar o tempo de assentamento (ts ), tal que o veículo
chamada de Arquitetura 1. seja suficientemente rápido.
• Minimizar o sobressinal (Mp [%]) e eliminar oscilação.
• Limitar o ganho proporcional do controlador em virtude
da saturação do atuador.
• O perfil da trajetória do veículo, para fins de projeto, é
formado por uma seqüência de rampas. Desta forma,
deve-se limitar o máximo erro à entrada rampa (r ).

Figura 1 – Arquitetura 1 da malha de controle PID de atitude As especificações de tempo de subida, tempo de assen-
com perturbação do vento. tamento e sobressinal serão avaliadas segundo a resposta no
tempo dos sistemas para uma entrada degrau unitário. Assu-
A função de transferência de malha fechada da Arquite- mindo que o tipo de atuador e sua dinâmica é conhecida, o
tura 1 é dada por: ganho proporcional do controlador deverá ser menor que 3.
A especificação de máximo erro à entrada rampa será tratada
analiticamente a seguir.
Mβz (Kp s + Ki )
Gf (s) = (2) Dado um sistema com função de transferência G(s) da
s3 + Kd Mβz s2 + (Kp Mβz + Mα )s + Ki Mβz
forma:

Neste trabalho é proposto o uso de uma outra arquitetura


de controle PID para o VLS, que será chamada de Arquite- B(s) b m sm + · · · + b 2 s2 + b 1 s + b 0
G(s) = = (4)
tura 2. A Figura 2 apresenta esta arquitetura, a qual é apli- A(s) an s n + · · · + a2 s 2 + a1 s + a0
cada em [1] e [3] objetivando especificamente veículos espa-
ciais. O erro à entrada rampa é definido em [10] como sendo:

a0 − b 0  a0 b1 − b0 a1
r (t) = t− (5)
a0 a20

Contudo, para que este erro seja finito, devemos ter a0 =


b0 . Neste caso, a Eq. 5 torna-se:

a0 b1 − b0 a1 b1 − a1
r (t) =

2
= (6)
a0 a0

Figura 2 – Arquitetura 2 da malha de controle PID de atitude O tempo de subida mínimo desejado é de 0.8 a 1 segundo,
com perturbação do vento.
o tempo de assentamento máximo é de 6 segundos, o sobres-
sinal deve ser menor que 20% e o erro à entrada rampa dese-
A função de transferência de malha fechada da Arquite- jado é r = 0. Estas especificações de desempenho condizem
tura 2 é dada por: com [6] e [7].

3. RESULTADOS
num(s)
Gf (s) = = (3)
den(s) Usando-se a Eq. 6 com o objetivo de anular o máximo
erro à entrada rampa e utilizando os parâmetros das funções
Mβz (Kp s + Ki ) de transferência de malha fechada, temos:
s3 + Kp Kd Mβz s2 + (Ki Kd Mβz + Kp Mβz + Mα )s + Ki Mβz
• Arquitetura 1: r = 0 quando Mα = 0
As duas estruturas são utilizadas para implementar um • Arquitetura 2: r = 0 quando Ki Kd = Mα /Mβz
controle PID. Entretanto, como pode ser observado através
das equações 2 e 3, as funções de transferência de malha Desta forma, teoricamente, é possível anular o erro em
fechada são diferentes. Para comparar o desempenho, será regime para uma entrada rampa com o uso da Arquitetura 2
avaliada a estrutura que melhor atenda às especificações de apenas ajustando-se os ganhos Ki e Kd . Já com o uso da
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Arquitetura 1 isso só seria possível quando Mα = 0, o que


ocorre apenas em fases de vôo fora da atmosfera.
Foram utilizados dados aerodinâmicos para o veículo
considerando o pior caso. No caso, Mα = -9 rad/s2 /rad
e Mβz = 10 rad/s2 /rad. Em seguida, foram projetados os
ganhos dos controladores de modo a atender aos requisitos
de desempenho, cujos valores são: Kp = 2, 5, Ki = 1, 125
e Kd = 0, 8.
As Figuras 3 e 4 apresentam as respostas dos sistemas
para uma entrada rampa unitária.

Figura 5 – Controle PID de atitude: Arquitetura 1 - Malha fe-


chada com entrada degrau unitário.

Figura 3 – Controle PID de atitude: Arquitetura 1 - Malha fe-


chada com entrada rampa unitária.

Figura 6 – Controle PID de atitude: Arquitetura 2 - Malha fe-


chada com entrada degrau unitário.

margem de ganho obtida é igual a -11 dB e a margem de fase


é igual a 85 graus.
A Figura 7 apresenta a resposta para uma entrada rampa
unitária para a Arquitetura 1 incluindo a flexão no modelo
do veículo. A margem de ganho obtida é igual a -8,53 dB
e a margem de fase é igual a 21,9 graus. O tempo de su-
bida, de assentamento e o sobressinal do sistema não foram
Figura 4 – Controle PID de atitude: Arquitetura 2 - Malha fe-
modificados significativamente.
chada com entrada rampa unitária.

As Figuras 5 e 6 apresentam as respostas dos sistemas


para uma entrada degrau unitário.
Para os mesmos parâmetros aerodinâmicos do veículo e
ganhos dos controladores, é possível observar um melhor de-
sempenho empregando-se a Arquitetura 2. Os resultados ob-
tidos para esta arquitetura foram: tempo de subida (tr ) igual
a 1,36 segundos, tempo de assentamento (ts (2%)) igual a 6,7
segundos, sobressinal (Mp ) igual a 18%, ganho proporcional
do controlador Kp igual a 2,5, e por fim, erro em regime per-
manente para uma entrada rampa (r ) igual a zero.
De maneira geral é recomendada uma margem de ganho
de 6 dB e uma margem de fase de 30 graus [11]. A mar-
Figura 7 – Controle PID de atitude: Arquitetura 1 com flexão -
gem de ganho obtida na Arquitetura 1 é igual a -8,37 dB e a Malha fechada com entrada rampa unitária.
margem de fase é igual a 42,6 graus. Para a Arquitetura 2 a
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A Figura 8 apresenta a resposta para uma entrada rampa para abandonar a proposta de utilização da Arquitetura 2 em
unitária para a Arquitetura 2 incluindo a flexão no modelo substituição à utilizada atualmente.
do veículo. A margem de ganho obtida é igual a -11,1 dB e a
margem de fase é igual a -34,8 graus. Assim como na Arqui- 5. CONCLUSÕES
tetura 2 o tempo de subida, de assentamento e o sobressinal
Este trabalho apresentou os resultados de resposta no
do sistema não foram modificados significativamente.
tempo de uma arquitetura de controle PID de atitude para um
específico veículo aerodinamicamente instável. Esta arquite-
tura, chamada de Arquitetura 2 e já utilizada em trabalhos
anteriores, mostrou resultados promissores quando compara-
dos aos resultados obtidos com a arquitetura atual.
Este estudo preliminar mostrou que é possível anular
o erro em regime permanente para uma entrada rampa,
cumprindo-se todos os demais requisitos de desempenho do
projeto. E também mostrou que esta alternativa apresenta
uma maior margem de estabilidade.
Futuros trabalhos devem ser feitos de modo a incluir de-
mais requisitos e dinâmicas presentes no processo. Estu-
dos detalhados, como os realizados para validar a estrutura
de controle atual, poderão afirmar se a proposta apresentada
Figura 8 – Controle PID de atitude: Arquitetura 2 com flexão -
neste trabalho é adequada.
Malha fechada com entrada rampa unitária.
Referências
[1] A.L. Greensite, “Analysis and Design of Space Vehicle
4. DISCUSSÕES Flight Control Systems - Control Theory”, 2nd Edi-
tion. New York: Spartan Books, 1970.
Algumas considerações devem ser feitas antes de se afir-
mar que a Arquitetura 1 deve ser substituída pela Arquitetura [2]/, H. Blakelock, “Automatic Control of Aircraft and Mis-
2. siles”, John Wiley and Sons Inc., 1991.
Em relação ao modelo utilizado do veículo (simplificado), [3] H. Lazennec, “Pilotage des Missiles et des Véhicules
assim como em [6], a dinâmica dos atuadores e sensores foi Spatiaux”, Éditeur: Dunod, Paris, 1966.
desprezada, pois são dinâmicas rápidas em relação à dinâ-
mica de corpo rígido do lançador. Os ganhos obtidos não são [4] R.B. Dow, “Fundamentals of Advanced Missiles”,
ótimos, portanto, é possível serem obtidos melhores resulta- John Wiley and Sons, 1958.
dos em termos de desempenho no tempo para ambas as ar- [5] C.T. Leondes, Ed., “Guidance and Control of Aeros-
quiteturas, principalmente no caso da Arquitetura 1. Todavia, pace Vehicles”, New York: McGraw-Hill, 1963.
foi provado que para os mesmos valores de ganhos do contro-
lador PID, é possível obter melhores resultados utilizando-se [6]38% D.C. Campos, “Estudo de um Método para Cálculo
a Arquitetura 2. Além disso, foi mostrado ser possível anu- GHGanhos da Malha de Controle de Atitude de um-
lar o erro em regime permanente para uma entrada rampa, /DQçador de Satélites”, Master Thesis, INPE, Brasil, 2004.
cumprindo-se os demais requisitos de desempenho. [7] W.C. Leite Filho, D.C. Campos, “Analytical Me-
Quanto aos requisitos de estabilidade, a Arquitetura 2 thod for Computing the Controller Gains of a Satel-
apresentou margens de ganho (absoluto) e fase duas vezes lite Launcher”, 16th IFAC Symposium on Automatic
maior que a Arquitetura 1. Com a inclusão da flexão as Control in Aerospace, S. Petersburg, Russia, 2004.
margens de fase são reduzidas significativamente. Contudo,
como a Arquitetura 2 possui uma margem de fase maior, não [8]38%A.G. Brito, W.C. Leite Filho, F.O. Ramos,“Approach
se espera que esta redução comprometa a estabilidade. Desta Comparison for Controller Design of a Launcher”, 6th
forma, com relação à robustez nas duas situações (com e sem International ESA Conference on Guidance, Naviga-
flexão) a Arquitetura 2 possui maior margem de estabilidade tion and Control Systems, Loutraki, Greece, 2005.
do que a Arquitetura 2. [9] A.G. Brito, W.C. Leite Filho, “Genetic Approach on
Os parâmetros aerodinâmicos do veículo variam de LQ Weighting Matrices Selection and its Applica-
acordo com o tempo de vôo do mesmo, portanto, devem ser tion in the VLS Attitude Control”, 18th International
feitos estudos com a Arquitetura 2 para vários instantes de Congress of Mechanical Engineering, Brazil, 2005.
vôo. Desta forma, será possível avaliar o comportamento do
controlador aplicando-se a técnica de pólos congelados em [10]38% C.T. Chen, “Analog and Digital Control System-
uma simulação completa de vôo. Adicionalmente, estudos 'Hsign”, Saunders College Publishing, 1993.
de robustez à perturbação (vento), margem de ganho e mar- [11]/, K. Ogata, “Engenharia de Controle Moderno”, 4rd
gem de fase precisam ser realizados e avaliados. Edition. Prentice Hall. São Paulo. 2003.
Portanto, até o momento não foram observadas razões

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