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Autora
Jane Rangel Alves Barbosa
2009
© 2003-2006 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do
detentor dos direitos autorais.
ISBN: 85-7638-248-2
CDD 378
Referências............................................................................................................................119
Apresentação
A
Educação Superior, ontem, era uma mais exigência de aprimoramento intelectual. Porém,
hoje, é uma exigência de sobrevivência e desenvolvimento de um país.
A Educação Superior, até bem pouco, tinha caráter humanístico, era privilégio
de poucos, quase todos provenientes de famílias dominantes no cenário político e econômico do
país. Seus estudantes buscavam mais um “aprimoramento pessoal” do que uma profissão. Mas, a
importância que adquire, hoje, as questões da ciência, da tecnologia e da comunicação no mundo
globalizado, provoca sensíveis transformações nas sociedades contemporâneas em todos os sentidos,
sinalizando a construção de uma nova sociedade, uma nova realidade social, obrigando a educação
escolar vincular-se às práticas sociais e ao mundo do trabalho.
No que se refere à formação de professores para o Ensino Superior, as pesquisas recentes na
área de educação mostram que os professores são profissionais essenciais nos processos de mudança
das sociedades. Por isso, é preciso investir na formação e no desenvolvimento profissional dos
professores.
Como a educação superior está inserida no contexto social global, é preciso situar a
instituição de Ensino Superior, analisá-la e criticá-la como instituição social que tem compromissos
historicamente definidos.
No decorrer das últimas décadas, a instituição universitária vem experimentando muitas
alterações, colocando em discussão esses compromissos e a sua relação com a sociedade em que está
inserida.
Albert Einstein
E
ntendendo que a profissão docente constitui uma unidade, qualquer que seja
o nível de atuação – Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Mé-
dio e Ensino Superior –, a profissão de professor adquirirá características
peculiares conforme o nível de escolaridade em que atue, sem prejuízo de sua
identidade básica.
A formação de professores para o Ensino Superior no Brasil não está re-
gulamentada sob a forma de um curso específico como na educação básica. De
um modo geral, a Lei de Diretrizes e Bases admite que esse profissional seja
preparado nos cursos de pós-graduação tanto stricto sensu como lato sensu. En-
tretanto, a exigência legal de que todas as instituições de Ensino Superior tenham
um mínimo de um terço de seus docentes titulados na pós-graduação stricto sensu
aponta para o fortalecimento desta, como o lugar para a formação do docente.
Paralelamente à questão legal, a docência universitária constitui tema re-
levante em diferentes países e, no nosso, só se admite a necessidade de as ins-
tituições de Ensino Superior desenvolverem programas de preparação de seus
professores para o exercício da docência. Preparação esta que os coloque a par
da problemática e complexidade do ensinar e do formar no Ensino Superior, do
formar profissionais, do formar pesquisadores e do formar professores. Daí, per-
guntarmos: Qual o papel da didática na formação de professores?
D outora e m Filo s o fia
O papel da didática na formação de professores não está, para muitos, ade- pela U n iv e rs id a d e Fe -
quadamente definido, o que gera indefinição do seu próprio conteúdo. Alguns deral do R i o d e J a n e i r o
(U FRJ). M e s tre e m Ed u -
estudiosos têm a sensação de que, ao tentar superar uma visão meramente ins- cação pe l a U n i v e r s i d a d e
do G rand e R io (U n i-
trumental da didática, esta se limita a suplementar conhecimentos de Filoso-
granrio). Es p e c ia lis ta
fia, Sociologia, Psicologia, passando a ser “invadida” por diferentes campos do em A dmin is tra ç ã o Es c o -
conhecimento e perdendo especificidade própria. Outros consideram que a didáti- lar, Supe rv is ã o Es c o la r,
didática d o En s in o Su -
ca deve ser entendida como um elemento articulador dos conhecimentos produzi- perior e Orie n ta ç ã o Ed u -
dos pelas disciplinas de Fundamentos da Educação e Prática Pedagógica. cacional p e l a F a c u l d a d e
Somley n o R io d e J a n e i-
ro. G rad u a d a e m Pe d a -
Trata-se de conhecimento de mediação, sendo, portanto, importante que se gogia pe la U n iv e rs id a -
baseie nas diferentes disciplinas da área de Fundamentos. Sua especificidade é ga- de Fede r a l F l u m i n e n s e
(U FF) e p e la Fa c u ld a d e
rantida pela preocupação com a compreensão do processo ensino-aprendizagem e de Filoso fia , C iê n c ia s e
a busca de formas de intervenção na prática pedagógica. Letras de N o v a Ig u a ç u .
Didática do Ensino Superior
A didática tem por objetivo o “como fazer” a prática pedagógica, mas este
só tem sentido q uando articulada ao “para que fazer” e ao “por que fazer”.
O ensino de didática parte de uma visão de totalidade do processo ensino-
aprendizagem, de uma perspectiva multidimensional; as dimensões humana, téc-
nica e político-social da prática pedagógica devem ser compreendidas e trabalha-
das de forma articulada.
Nessa linha de pensamento, a competência técnica e a competência política
do professor se exigem mutuamente e se interpenetram. Não é possível dissociar
uma da outra. A dimensão técnica da prática pedagógica tem de ser pensada à luz
do projeto político-social que a orienta.
Assim, a didática passa por um momento de revisão crítica. Há consciência
da necessidade de superar uma visão meramente instrumental e pretensamente
neutra do seu conteúdo. Trata-se de um momento de perplexidade, de denúncia e
anúncio, de busca de caminhos que têm de ser construídos por meio de um tra-
balho conjunto de profissionais da área com os professores da educação básica. É
pensando a prática pedagógica concreta articulada com a perspectiva de transfor-
mação social, que emergirá uma nova configuração para a didática.
O ensino de didática durante muito tempo tem dado prioridade ao estudo
das diferentes teorias do processo ensino-aprendizagem procurando ver as aplica-
ções e implicações destas teorias na prática pedagógica. Este modo de focalizá-lo
está formado por uma visão em que teoria e prática são momentos justapostos.
É necessário rever esta postura, partindo da prática pedagógica, procurando re-
fletir e analisar as diferentes teorias em confronto com ela. Trata-se de trabalhar
continuamente a relação entre teoria e prática procurando, inclusive, reconstruir a
própria teoria a partir da prática.
Estudos e pesquisas propõem discutir as questões referentes à docência no
Ensino Superior, destacando a importância dos professores e do seu trabalho nesse
nível de escolaridade, esta importância é relegada a planos inferiores tanto pelas
instituições quanto pelos próprios docentes.
Essa questão aponta para a problemática profissional do professor do Ensino Su-
perior, tanto no que se refere à identidade, que diz sobre o que é ser professor, quanto
no que se refere à profissão, que diz sobre as condições do exercício profissional.
Ao tratar da construção da identidade do professor, problematiza-a em relação
às diversas configurações das instituições universitárias, que têm seu corpo docente
composto de um conjunto de profissionais de diferentes áreas que, em sua maioria,
não tiveram formação inicial ou continuada para o exercício da profissão.
No tocante à formação de professores, os estudos têm mostrado que:
...o professor universitário aprende a sê-lo mediante um processo de socialização em parte
intuitiva, autodidata ou [...] seguindo a rotina dos “outros”. Isso se explica, sem dúvida, de-
vido à inexistência de uma formação específica como professor universitário. Nesse pro-
cesso, joga um papel mais ou menos importante sua própria experiência como aluno, o mo-
delo de ensino que predomina no sistema universitário e as reações de seus alunos, embora
não há que se descartar a capacidade autodidata do professorado. Mas ela é insuficiente.
(BENEDITO, 1995, p. 131).
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A docência no Ensino Superior
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Didática do Ensino Superior
Profissionalização continuada
e construção da identidade profissional
Constatada e reconhecida a importância do desenvolvimento profissional da
profissão docente para os professores que atuam na universidade, vários caminhos
são experimentados nos últimos anos.
Primeiro, a inclusão da disciplina Metodologia do Ensino Superior, resumi-
da a uma duração de 60 horas em média, a única oportunidade de uma reflexão
sistemática sobre a sala de aula, o papel do docente, o ensinar e o aprender, o pla-
nejamento, a organização dos conteúdos curriculares, a metodologia, as técnicas
de ensino, o processo avaliatório, o curso e a realidade social em que atuam.
Estudos mais recentes mostram que ações mais efetivas para a formação
docente ocorrem em processos de profissionalização continuada que contemplam
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A docência no Ensino Superior
11
Didática do Ensino Superior
Concluindo
Para se tornar professor universitário hoje, dependendo da instituição a que
o professor se vincule, será exigido dele um tipo específico de produção: docência,
atividades de extensão e pesquisa, sendo a docência a atividade comum a todas as
instituições que compõem o Ensino Superior.
Assim, a relação profissional do professor com as instituições de Ensino
Superior inicia-se pelo papel de docente.
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A docência no Ensino Superior
sor, de modo que as situações didáticas concretas requerem o “como” da intervenção pedagógica.
Este papel de síntese entre a teoria pedagógica e a prática educativa real assegura a interpenetra-
ção e interdependência entre fins e meios da educação escolar e, nessas condições, a didática pode
constituir-se em teoria do ensino. O processo didático efetiva a mediação escolar de objetivos,
conteúdos e métodos das matérias de ensino. Em função disso, a didática descreve e explica os
nexos, relações e ligações entre o ensino e a aprendizagem, investiga os fatores co-determinantes
desses processos; indica princípios, condições e meios de direção do ensino, tendo em vista a
aprendizagem, que são comuns ao ensino das diferentes disciplinas de conteúdos específicos. Para
isso, recorre às contribuições das ciências auxiliares da Educação e das próprias metodologias es-
pecíficas. É, pois, uma matéria de estudo que integra e articula conhecimentos teóricos e práticos
obtidos nas disciplinas de formação acadêmica, formação pedagógica e formação técnico-prática,
provendo o que é comum, básico e indispensável para o ensino de todas as demais disciplinas de
conteúdo.
A formação profissional para o magistério requer, assim, uma sólida formação teórica e
prática. Muitas pessoas acreditam que o desempenho satisfatório teórico-prático do professor na
sala de aula depende de vocação natural ou somente da experiência prática, descartando-se a
teoria. É verdade que muitos professores manifestam especial tendência e gosto pela profissão,
assim como se sabe que mais tempo de experiência ajuda no desempenho profissional. Entretanto,
o domínio das bases teórico-científicas e técnicas, e sua articulação com as exigências concretas
do ensino, permitem maior segurança profissional, de modo que o docente ganhe base para pensar
sua prática e aprimore sempre mais a quantidade do seu trabalho.
Entre os conteúdos básicos da didática figuram os objetivos e tarefas do ensino na nossa so-
ciedade. A didática se baseia em uma concepção de homem e sociedade e, portanto, subordina-se
a propósitos sociais, políticos e pedagógicos para a educação escolar a serem estabelecidos em
função da realidade social brasileira.
O processo de ensino é uma atividade conjunta de professores e alunos, organizado sob a
direção do professor, com a finalidade de prover as condições e meios pelos quais os alunos
assimilam ativamente conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções. Este é o objetivo de
estudo da didática. Os elementos constitutivos da didática, o seu desenvolvimento histórico, as
características do processo de ensino e aprendizagem, e a atividade de estudo como condição do
desenvolvimento intelectual.
Os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas do ensino, especialmente a aula,
constituem o objeto da mediação escolar.
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Didática do Ensino Superior
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A docência no Ensino Superior
2. Atividade individual.
Leia o capítulo “Educação, identidade e profissão docente” do livro Docência no Ensino Supe-
rior de Léa das Graças Anastasiou e Selma Garrido Pimenta.
3. Atividade em grupo.
Partindo da ótica das autoras, discuta e apresente as conclusões sobre as questões da identidade
e profissão docente.
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Didática do Ensino Superior
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Universidades
e faculdades isoladas:
diversos locais de trabalho
dos professores
A
Educação Superior, ontem, era mais uma exigência de aprimoramento intelectual. Porém,
hoje, é uma exigência de sobrevivência e desenvolvimento de um país.
A Educação Superior, até bem pouco tempo, tinha um caráter humanístico, era privi-
légio de poucos, quase todos provenientes de famílias dominantes no cenário político e econômico
do país. Seus estudantes buscavam mais um “aprimoramento pessoal” do que uma profissão. Mas,
a importância que adquire, hoje, as questões da ciência, da tecnologia e da comunicação no mundo
globalizado, provoca sensíveis transformações nas sociedades contemporâneas em todos os sentidos,
sinalizando a construção de uma nova sociedade, uma nova realidade social, obrigando a educação
escolar vincular-se às práticas sociais e ao mundo do trabalho, e, ao mesmo tempo, provocando mu-
danças significativas na Educação Superior brasileira.
No que se refere à formação de professores para o Ensino Superior, as pesquisas recentes na
área de educação mostram que os professores são profissionais essenciais nos processos de mudança
das sociedades. Por isso, é preciso investir em sua formação e desenvolvimento profissional.
Como a Educação Superior está inserida no contexto social global, é preciso situar a instituição
de Ensino Superior, analisá-la e criticá-la como instituição social que tem compromissos historica-
mente definidos.
No decorrer das últimas décadas, a instituição universitária vem experimentando muitas altera-
ções, colocando em discussão esses compromissos e sua relação com a sociedade na qual está inserida.
Finalidades da universidade
no contexto atual
As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos qua-
dros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão, de domínio e cultivo
do saber humano, que se caracterizam por:
I – produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e
problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural quanto regional e
nacional;
II – um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou
doutorado;
III – um terço do corpo docente em regime de tempo integral. (LDB, art. 52).
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Didática do Ensino Superior
cula nas instituições públicas foi de apenas 28%, enquanto nas particulares foi de
86% em razão da redução do orçamento para o Ensino Superior, especialmente,
para as universidades públicas.
Desigualdade de acesso
O processo seletivo do sistema público de Ensino Superior tende a excluir os
estudantes das camadas sociais menos favorecidas. Isto quer dizer que esse siste-
ma gratuito atende, em geral, aos estudantes oriundos das elites, já privilegiadas.
Má distribuição de recursos
Os cursos destinados ao sistema de Ensino Superior, especialmente, o sis-
tema público, estariam muito concentrados na região Centro-sul e Sudeste, em
detrimento de outras mais necessitadas.
Qualidade de ensino
A qualidade do Ensino Superior brasileiro e, sobretudo, a sua relevância
para o mercado de trabalho tem sido objeto de grandes discussões. Ficando a ima-
gem que o Ensino Superior deixa muito a desejar.
Tais questões nos levam a refletir sobre a formação de professores e sua
prática pedagógica nessas instituições.
No contexto das profundas transformações que são consideradas necessárias
ao sistema de Ensino Superior brasileiro, alguns pontos já são consensuais. Apre-
sentamos alguns dentre eles.
Expansão do sistema
O sistema de Ensino Superior brasileiro precisa se expandir e, pelo menos,
duplicar-se nos próximos dez anos.
O governo Lula propõe-se a ampliar as vagas, especialmente nas institui-
ções públicas, em taxas compatíveis com o Plano Nacional de Educação, que pre-
vê atingir 30% da faixa etária de 18 a 24 anos.
24
Universidades e faculdades isoladas: diversos locais de trabalho dos professores
2. Entreviste professores universitários sobre o seu ingresso e atuação nas instituições de Ensino
Superior.
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Didática do Ensino Superior
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Elementos para a
compreensão do cotidiano
e o processo didático
N
este milênio, o debate sobre as questões educacionais, em que a escola é chamada a ser mais do
que um locus de apropriação do conhecimento socialmente relevante, o científico, um espaço
de diálogo entre diferentes saberes científico, social... e linguagens, muitas são as formas de
acesso ao conhecimento, não se podendo atribuir à escola a quase exclusividade desta função.
A instituição social educativa assim concebida “é um espaço de busca, construção, diálogo e
confronto, prazer, desafio, conquista de espaço, descoberta de diferentes possibilidades de expressão
e linguagens, aventura, organização cidadã, afirmação da dimensão ética e política de todo o processo
de educativo”. (CANDAU, 2002, p. 18).
O impacto dos meios de comunicação de massa e, principalmente, da informática, está
revolucionando as formas de construir conhecimentos. Estas formas estão sendo chamadas a se mul-
tiplicar nos próximos anos. Por outro lado, a cultura escolar se relaciona com a articulação entre
igualdade e diferença, do aqui “são todos iguais”. Assim, as instituições educativas estão cada vez
mais desafiadas a enfrentar os problemas decorrentes das diferenças e da pluralidade cultural, étnica,
social... dos seus sujeitos e atores.
Hoje, os movimentos sociais são situados cada vez mais na perspectiva da promoção de uma
educação verdadeira intercultural e da construção de uma nova cidadania, como princípio configu-
rador de um sistema educacional como um todo e não somente orientada a determinadas situações e
grupos sociais.
Nessa nova escola para novos tempos e espaços, a questão da cidadania é fundamental; a partir
de uma abordagem que conceba a cidadania como prática social cotidiana, que perpassa os diferentes
âmbitos da vida, articula o cotidiano, o conjuntural e estrutural, assim como o local e regional, numa
progressiva ampliação do horizonte, sempre na perspectiva de um projeto diferente de sociedade e
humanidade.
Assim, a educação é um típico “que fazer” humano, ou seja, um tipo de atividade que se
caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação
dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas como um instrumento
de manutenção ou transformação social. Assim, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fun-
damentem e orientem os seus caminhos. A sociedade, dentro da qual a educação está, deve possuir
alguns valores norteadores de sua prática educativa.
A profissão docente é uma prática educativa, ou seja, como tantas outras, é uma forma de inter-
vir na realidade social, no caso, mediante a educação.
Didática do Ensino Superior
O conceito de educação
como fundamento da ação educativa
O problema fundamental com que se depara o professor ao planejar e imple-
mentar a ação educativa consiste na necessidade que tem de conceituar educação,
visto que a ação educativa é função direta do conceito de educação. Antes de ana-
lisar os aspectos didáticos, é muito importante refletir um pouco sobre o sentido
da atividade docente. Para ter consciência do sentido de sua atividade profissional,
o professor precisa se perguntar:
– Para que ensino?
– Para que serve o que estou fazendo?
Isso não quer dizer que os aspectos didáticos não sejam importantes. Isto
significa dizer que eles devem estar subordinados à definição de propósitos edu-
cativos válidos para orientar o trabalho docente.
E como, num sentido amplo, a educação considera a interação de todos os
aspectos da pessoa humana com a sociedade na qual está inserida, são múltiplos
os posicionamentos tomados pelos professores e, em decorrência, muitos são os
conceitos estabelecidos sobre a educação.
Necessariamente, um conceito de educação considera o homem e a sociedade.
Daí, decorrem os questionamentos:
– Que tipo de homem desejamos obter com o produto do nosso trabalho?
– Que tipo de sociedade interage com esse homem que pretendemos for-
mar?
Quanto ao tipo de homem que pretendemos formar, a educação é um
processo que se desenvolve no tempo, considerando:
o homem desenvolvido em todos os aspectos, que tem consciência de
suas possibilidades e limitações, munido de uma cultura que lhe permita
conhecer, compreender e refletir sobre o mundo;
o homem independente, mas não isolado, que, conhecendo suas capaci-
dades físicas, intelectuais e emocionais e dotado de uma visão crítica da
realidade, seja capaz de atuar de forma eficaz e eficiente nessa realida-
de.
Em relação à sociedade, a educação deve considerar o seu importante papel
de transformação social, tomando como pontos referenciais:
uma sociedade que supere os modelos econômicos e políticos de hoje,
em busca de uma solidariedade entre as pessoas e os povos;
uma sociedade que, apesar de integrar os indivíduos e os povos, respeite
profundamente as características individuais, favorecendo o desenvolvi-
mento das sociedades.
O professor necessita ter em mente a educação como um processo que se
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Elementos para a compreensão do cotidiano e o processo didático
desenvolve num tempo dinâmico e num espaço que sofre transformações cons-
tantes. Essas transformações por que passam o mundo ocorrem em decorrência,
sobretudo, dos avanços tecnológicos, da reestruturação do sistema de produção e
desenvolvimento, da compreensão do papel do Estado e das mudanças no sistema
educacional, na organização do trabalho e nos hábitos de consumo. Paralelamente,
a instituição social educativa é questionada acerca do seu papel ante as transfor-
mações econômicas, sociais, políticas e culturais do mundo contemporâneo.
Embora a didática se preocupe primordialmente com o “como ensinar”,
ou seja, com os métodos e técnicas de ensino, julgamos importante, antes de
estudá-los, refletir sobre o seu fundamento, sobre as raízes do seu emprego e sobre
os fatores que intervêm em sua aplicação. Caso contrário, corremos o risco de nos
converter em escravos dos instrumentos (métodos e técnicas). Para evitar isso, é
de fundamental importância refletirmos sobre a educação.
O que é educação?
Num mundo globalizado como o de hoje, faz-se necessário rever com ur-
gência os conceitos sobre a educação. Não se trata simplesmente de inventar no-
vas metodologias para melhorar o que existe. Faz-se necessário repensar, desde as
raízes, todo o sistema de educação. De nada adianta a reformulação dos métodos
e dos meios, se a educação oferecida não corresponde ao homem moderno.
O professor deve estar atento a este aspecto, a fim de planejar uma ação
educativa capaz de conduzir o aluno a um discernimento quanto aos valores e
concepções de vida, de homem e de sociedade.
Sintetizando, é necessário que o professor considere fundamentalmente a
educação um processo de ação da sociedade sobre o aluno, visando integrá-lo,
seguindo seus padrões sociais, econômicos, políticos e seus interesses. Portanto,
a educação tem como características:
um fato histórico, pois se realiza no tempo;
ser um processo que se preocupa com a formação do homem em sua
plenitude;
buscar a integração dos membros de uma sociedade ao modelo social
vigente;
simultaneamente, buscar a transformação da sociedade em benefício de
seus membros;
ser um fenômeno cultural, pois permite a cultura de um contexto de for-
ma global;
direcionar o aluno para a autoconsciência;
ser ao mesmo tempo, conservadora e inovadora.
Dessa forma, a educação é fundamental na manutenção da vida de um grupo ou
mesmo da sociedade. À medida que vai aumentando a complexidade da vida de um
grupo, a educação vai se tornando cada vez mais relevante, a tal ponto que, na socie-
dade contemporânea, a educação está sempre presente em lugar de destaque.
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Didática do Ensino Superior
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Elementos para a compreensão do cotidiano e o processo didático
Redentora da sociedade
A função redentora concebe a sociedade como um conjunto de seres hu-
manos que vivem e sobrevivem num todo orgânico e harmonioso, com desvios
de grupos e indivíduos que ficam à margem desse todo. Ou seja, a sociedade
está naturalmente composta com todos os seus elementos, o que importa é
integrar em sua estrutura tanto os novos elementos (novas gerações), quanto
os que, por qualquer motivo, encontram-se à sua margem. A educação como
instância social que está voltada à formação da personalidade dos indivíduos
para o desenvolvimento de suas habilidades e para a veiculação dos valores
éticos necessários à convivência social, que nada mais tem que fazer do que
se estabelecer como redentora da sociedade, integrando harmonicamente os
indivíduos no todo social já existente.
Reprodutora da sociedade
A função reprodutora afirma que a educação faz, integralmente, parte da
sociedade e a reproduz. Aborda a educação como uma instância dentro da socie-
dade e exclusivamente ao seu serviço. A educação atua sobre a sociedade como
uma instância corretora dos seus desvios, tornando-a melhor e mais próxima do
modelo de perfeição social harmônico idealizado.
Transformadora da sociedade
A função transformadora compreende a educação como mediação de um
projeto social. Ou seja, ela nem redime nem reproduz a sociedade, mas serve de
meio, ao lado de outros meios, para realizar um projeto de sociedade, que pode ser
conservador ou transformador. Não coloca a educação a serviço da conservação.
Pretende demonstrar que é possível compreender a educação dentro da sociedade,
com seus determinantes e condicionantes, mas com a possibilidade de trabalhar
pela sua democratização.
31
Didática do Ensino Superior
Além disso, Dermeval Saviani (1983, p. 36) nos alerta para a dificuldade,
dizendo-nos o seguinte:
O caminho é repleto de armadilhas, já que os mecanismos de adaptação acionados perio-
dicamente a partir dos interesses dominantes podem ser confundidos com anseios da clas-
se dominada. Para evitar esse risco, é necessário avançar no sentido de captar a natureza
específica da educação, o que nos levará à compreensão das complexas mediações pelas
quais se dá sua inserção contraditória na sociedade capitalista.
Perspectivas atuais
Estamos no Terceiro Milênio sob o signo da perplexidade, da crise de con-
cepções e paradigmas em todos os campos das ciências, da cultura e da sociedade.
É um momento novo e rico de possibilidades.
Entretanto, para não sermos omissos, vamos apresentar algumas tendências
atuais, apoiados naqueles educadores e filósofos que tentaram apontar caminhos
em meio a essa perplexidade.
Crises e alternativas
A educação tradicional e a educação nova têm um traço comum que é o de
conceber a educação como um processo de desenvolvimento pessoal e individual.
O traço mais original deste século, na educação, é o deslocamento da for-
mação puramente individual do homem para o social, o político, o ideológico. A
educação deste fim de século tornou-se permanente e social.
Há tendências universais, entre elas, a de considerar como conquista deste
século a idéia de que não existe idade para a educação, de que ela se estende pela
vida e que não é neutra.
Caminhamos para uma mudança da própria função social da escola. Entre
nós, chamamos essa nova educação de educação popular, não porque ela seja
destinada apenas às camadas populares, mas pelo caráter popular, socialista e
democrático que essa concepção traz.
Parece-nos que o melhor caminho de superação da crise educacional é
vivê-la intensamente, evidenciando suas contradições e disfunções. Contudo,
como a crise da educação e da sociedade são inseparáveis, o desenvolvimento das
contradições escolares e a sua transformação também são inseparáveis do desen-
volvimento e da superação das contradições sociais.
Falar em futuro da educação é, à luz da história da educação, antever os pró-
ximos passos associando teoria pedagógica e prática educacional a uma análise
sócio-histórica.
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Elementos para a compreensão do cotidiano e o processo didático
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Didática do Ensino Superior
1. Com base no texto complementar O compromisso social e ético dos professores, como se con-
cretiza o compromisso social e ético do professor na prática de sala de aula?
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Elementos para a compreensão do cotidiano e o processo didático
2. Discuta a posição dos autores sobre o conceito de educação (MARTINS, 1985, p. 31):
a) Álvaro Vieira Pinto (1982)
Que é Educação?
Em sentido amplo a educação diz respeito à existência humana em toda a sua duração e em todos os seus aspec-
tos. Dessa maneira, deve-se justificar lógica e sociologicamente o problema da educação de adultos. Daqui deriva
a verdadeira definição de educação:
“a educação é o processo pelo qual a sociedade forma seus membros à sua imagem em função de seus interesses.”
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Didática do Ensino Superior
4. Utilizando a Técnica Phillips 66, estude a colocação feita por Russel (1978):
Três diferentes teorias da educação têm seus defensores atualmente. Dessas três, a primeira considera que o
exclusivo propósito da educação é proporcionar oportunidades de progresso e afastar influências negativas. A se-
gunda sustenta que o propósito da educação é proporcionar cultura ao indivíduo e desenvolver suas capacidades
ao máximo. A terceira sustenta que a educação deve ser considerada mais em relação à comunidade do que em
relação ao indivíduo e que sua função é adestrar cidadãos úteis.
5. Organize uma Mesa Redonda e discuta que tipo de homem a sociedade solicita, sob os aspectos
físico, intelectual e integração na sociedade.
Bertrand Schwartz (1976)
Todo projeto social reduz-se imediatamente a certa perspectiva quanto à personalidade dos homens que o anima-
rão e quanto às relações que esses homens manterão entre si. A questão que se coloca é, pois, de saber qual é o
homem que fará viver nossa Europa no ano 2000.
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Prática educativa,
pedagogia e didática
O
trabalho docente é parte integrante do processo educativo mais global pelo qual os mem-
bros da sociedade são preparados para a participação na vida social. A educação, ou seja,
a prática educativa, é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana neces-
sária à existência e ao funcionamento de todas as sociedades.
Cada sociedade precisa cuidar da formação dos indivíduos, auxiliar no desenvolvimento de suas
capacidades, prepará-los para a participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vida social.
O que é pedagogia?
A palavra pedagogia vem do grego pais, paidós que significa criança; agein
que é conduzir e logos que quer dizer trabalho, ciência.
Na Grécia antiga, eram chamados de pedagogos os escravos que acompa-
nhavam crianças que iam para a escola. Como escravo, ele era submisso à criança,
mas tinha que fazer valer sua autoridade quando necessária. Por esse motivo, es-
tes escravos desenvolveram grande habilidade no trato com as crianças.
Hoje, pedagogo é o especialista em assuntos educacionais, e pedagogia é o
conjunto de conhecimentos sistemáticos relativos ao fenômeno educativo. Então,
pedagogia é o campo de conhecimento que investiga a natureza das finalidades da
educação numa determinada sociedade, bem como os meios apropriados para a for-
mação dos indivíduos, tendo em vista prepará-los para as tarefas da vida social.
Uma vez que a prática educativa é o processo pelo qual são assimilados co-
nhecimentos e experiências pela prática social da humanidade, cabe à pedagogia
assegurá-lo, orientando-o para finalidades sociais e políticas, e criando um conjunto
de condições metodológicas e organizativas para viabilizá-lo. Então, a pedagogia,
sendo a ciência da e para a educação, estuda a educação, a instrução e o ensino.
Conforme Libâneo (1998, p. 24), “a pedagogia é um campo de conhecimen-
tos sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo
tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa”.
38
Prática educativa, pedagogia e didática
39
Didática do Ensino Superior
E, o que é didática?
Agora que já vimos o que estuda a pedagogia e que situamos a didática den-
tro da pedagogia, vejamos o que é didática.
A didática é o principal ramo de estudo da pedagogia que investiga os fun-
damentos, as condições e os modos de realizar a educação mediante o ensino.
Sendo o ensino uma ação historicamente situada, a didática vai constituir-se como
teoria do ensino.
À didática cabe:
converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino;
selecionar conteúdos e métodos em função dos objetivos de ensino;
estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o
desenvolvimento das capacidades dos alunos.
A didática se divide em:
didática geral – estuda os princípios, as normas e as técnicas que devem
regular qualquer tipo de ensino, para qualquer tipo de aluno. Ela nos dá
uma visão geral da atividade docente.
didática especial – estuda os aspectos científicos de uma determinada
disciplina ou faixa de escolaridade. Analisa os problemas e as dificul-
dades que o ensino de cada disciplina apresenta e organiza os meios e
as sugestões para resolvê-los. Assim, temos as didáticas especiais das
línguas (inglês, espanhol etc.), as didáticas especiais das ciências (física,
química etc).
Didática e metodologia
A didática e a Metodologia estudam os métodos de ensino. No entanto, há
diferença quanto ao ponto de vista de cada uma. A metodologia estuda os méto-
dos de ensino, classificando-os e descrevendo-os sem fazer juízo de valor.
A didática, por sua vez, faz um julgamento ou uma crítica do valor dos mé-
todos de ensino. Podemos dizer que a Metodologia nos dá juízos de realidade e a
didática, juízos de valor.
Juízos de realidade são juízos descritivos e constativos, como por exemplo:
três mais três são seis;
acham-se presentes na sala 45 alunos.
Juízos de valor são juízos que estabelecem valores ou normas, como por exemplo:
os idosos merecem nosso respeito;
a democracia é a melhor forma de governo.
Assim, é possível concluir que podemos ser metodológicos sem ser didáticos,
40
Prática educativa, pedagogia e didática
mas não podemos ser didáticos sem ser metodológicos, pois não podemos julgar sem
conhecer. Por isso, o estudo da Metodologia é importante, porque, para escolher o
método mais adequado de ensino, precisamos conhecer os métodos que existem.
Os princípios, as normas e as técnicas de ensino são postos em prática por
meio das atividades de planejamento, orientação e controle do processo ensino-
aprendizagem.
Planejamento – previsão e programação dos trabalhos escolares para
todo o ano letivo e/ou semestre letivo.
Orientação – o professor executa o que planejou.
Controle – supervisão constante do processo de aprendizagem.
Pedagogia liberal
Tradicional
Renovadora progressista
Renovadora não diretiva
Tecnicista
Pedagogia progressista
Libertadora
Libertária
Crítico-social dos conteúdos
Pedagogia liberal
O termo liberal não tem o sentido de avançado, democrático, como costuma
ser usado.
A doutrina liberal defende a predominância da liberdade e dos interesses indivi-
duais da sociedade e estabelece uma forma de organização social baseada na proprie-
dade privada dos meios de produção, também denominada sociedade de classes.
41
Didática do Ensino Superior
A pedagogia liberal sustenta a idéia de que a escola tem por função preparar os
indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões indivi-
duais, por isso os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valores e às normas
vigentes na sociedade de classes por meio do desenvolvimento cultura individual.
Pedagogia progressista
O termo progressista, emprestado por Snyders, é usado para designar as
tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam
as finalidades sociopolíticas da educação, implicitamente. Há de ser um instru-
mento de luta dos professores ao lado de outras práticas sociais.
As tendências de cunho progressista interessadas em propostas pedagógicas
voltadas para os interesses da maioria da população foram adquirindo a importância
a partir dos anos 80. São também denominadas teorias críticas da educação.
Concluindo
Para melhor compreender o significado da prática docente como prática
educativa, Sacristán (1999) estabelece diferença entre prática e ação. A prática
é institucionalizada, são as formas de educar que ocorrem em diferentes contex-
tos institucionalizados, configurando a cultura e a tradição das instituições. Essa
tradição seria o conteúdo e o método da educação. A ação refere-se aos sujeitos,
seus modos de agir e pensar, seus valores, seus compromissos, suas opções, seus
desejos, seu conhecimento, seus esquemas teóricos de leitura do mundo.
Essa imbricação de sujeitos com instituições, de ação com prática, que é
preciso compreender, se se pretende alterar as instituições de Ensino Superior
com a contribuição das teorias.
A didática ocupa-se da busca do conhecimento necessário para a compre-
ensão da prática pedagógica e da elaboração de formas adequadas de intervenção,
de modo que o processo ensino-aprendizagem se realize de maneira que de fato
viabilize a aprendizagem dos educandos. Não para criar regras e métodos válidos
para qualquer tempo e lugar, mas para ampliar nossa compreensão das demandas
que a atividade de ensinar produz com base nos saberes acumulados.
E quem sabe com eles aprender, encontrar respostas, criar novos caminhos
de como proceder à educação nos espaços escolares, campo mais freqüente do
trabalho profissional dos professores.
Dessa forma, a didática oferece uma contribuição indispensável à formação
de professores, sintetizando, no seu conteúdo, a contribuição de conhecimentos
de outras disciplinas que convergem para o esclarecimento dos fatores condicio-
nantes do processo de instrução e ensino, intimamente vinculado com a educação
e, ao mesmo tempo, provendo os conhecimentos específicos necessários para o
exercício das tarefas docentes.
Conceituação de didática
(LIMA, 1984)
A princípio concebida como arte, foi pouco a pouco evoluindo e adquiriu matizes de ciência,
44
Prática educativa, pedagogia e didática
Criatividade
O termo criatividade ainda não rendeu tudo quanto poderia e já está desgastado. A expressão
como que se esvaziou, utilizada aqui e ali, a propósito de tudo ou de nada. Em nome da criativida-
de se fazem tolices e alguns atos criativos são tidos como perigosos e subversivos, pois “o criativo
é tomado como louco pelas pessoas padronizadas e acomodadas. Sua coragem de ser diferente
provoca a ira dos que não ousam Ser e Criar, conformando-se com o Ter e Imitar.”
A inserção da criatividade em seu contexto maior – o Imaginário – talvez pudesse restituir-lhe
seu sentido primeiro: a valorização do irreal, do que ainda não existe. Afinal, que seria da reali-
dade se não fosse o sonho?
Em geral, a Criatividade, retornando Guilford, aparece ligada ao novo, ao original, ao di-
vergente, ao flexível. Para Arthur W. Foshap, “ser criativo significa dar forma ao que é informe”.
É realmente um processo cujo produto pode ser a beleza ou um significado novo que venha inte-
grar o que se conhece dentro do que se acaba de descobrir. Processo e produto, o ciclo da Criati-
vidade se completa na produção de algo novo pelo menos para quem produz.
Criatividade exige investimento pessoal, envolvimento do eu, corte em amarras impeditivas
de um desabrochar, como os hábitos arraigados, os estereótipos, o vício de olhar o mundo sempre
com o mesmo olhar. A pessoa criativa é capaz de ver os fenômenos de sempre com os olhos de
nunca, de aventurar-se rumo ao desconhecido, com garra, porque, mesmo na incerteza, se sente
segura. Não se arrisca pelo simples arriscar-se, mas animada pelo algo mais que encontrará do
outro lado e que pode completá-la de suas imitações.
45
Didática do Ensino Superior
Como quem cria, não cria do nada (só Deus o teria feito), a Criatividade exige um lastro ante-
rior, pré-requisitos que justificam um insight, ou a coragem de romper com padrões conformistas;
exercida sobre estes a reflexão, verifica-se que muitos não têm razão de ser e merecem, pois, uma
ultrapassagem. A mera adesão ao status quo pode obstruir o futuro; além disso, “a ênfase na lei e
ordem pode, por si mesma, contribuir para a violência e se constituir num dos fatores que tornam
uma revolução mais sangrenta”.
O Criativo é aquele que critica o hoje e o ontem e equipado com o que sobrou da sua crítica,
vislumbra e enfrenta o amanhã.
Neste estudo, opta-se por considerar a Criatividade como a atitude ou capacidade de assumir
com ousada alegria até mesmo a possibilidade de errar...
Como a didática, a Criatividade é vista aqui como elemento mediador para atingir-se a fins
maiores. A Associação da didática à Criatividade seria o alicerce primeiro da construção de uma
Ampla didática, que se supõe possa [sic] aumentar também as suas possibilidades mediadoras.
Ou seja, a Ampla didática se faz criativa quando se coloca além do usual, quando admite riscos,
quando rompe o equilíbrio em busca de melhores resultados, porque também para ela “romper o
equilíbrio é um ato pedagógico: significa impulsionar os homens para a frente.”
46
Prática educativa, pedagogia e didática
c) Exemplifique, por meio de fatos ocorridos com você em sua sala de aula, o que é ser um
professor contemporâneo ou tradicional.
d) Você se julga um(a) professor(a) criativo(a)? Por quê? Dê exemplos de sua vivência
profissional que ilustrem a sua afirmativa.
47
Didática do Ensino Superior
48
Ensinar e aprender:
a construção do conhecimento
O
s últimos anos têm sido marcados em nosso país por uma rigorosa reflexão crítica sobre a pro-
blemática educacional e pela busca de caminhos para a promoção de uma ação efetiva realmente
comprometida com a construção de uma sociedade mais humana, solidária e democrática.
Nesse contexto, situam-se os sistemas educacionais que não constituem os únicos espaços de
formação e de produção de conhecimento. Mas, desde a construção dos modernos sistemas de edu-
cação de massa, iniciada na Europa na transição do século XVIII para o século XIX, que a escola se
tornou um espaço central de integração social e de formação para o trabalho.
A massificação dos sistemas educacionais conduz a uma mudança de forma da escola. Significa
transportar para a escola todos os problemas sociais que, desse modo, tornam-se problemas escolares.
A escola para todos, uma conquista social dos ideais democráticos modernos, ao abrir suas
portas a novos públicos escolares, torna-se uma realidade qualitativamente distinta, com a qual a
formulação de políticas públicas, os professores, os alunos, suas famílias e a escola têm dificuldade
de entender e lidar.
O modelo de escola de massa atual foi construído na base do princípio de ensinar a muitos como
se fosse a um só. Assim, durante anos e anos, professores e estudiosos procuraram encontrar os mais
eficazes métodos de ensino e as melhores formas de organização.
Se entendermos que a construção da cidadania se faz na dialética entre a igualdade e a diferen-
ça, a escola para todos precisa encontrar os meios e as estratégias de valorização dos percursos e das
experiências de vida dos alunos.
Cada situação pode ser uma situação de ensino e aprendizagem, que consiste
em ser capaz de indagar, pesquisar, procurar alternativas, experimentar, analisar,
dialogar, compreender, ter uma atitude científica perante a realidade. Hoje, mais
do que nunca, é necessário ter uma atitude indagadora perante tudo o que se
relaciona com a educação.
O que é ensino?
Segundo o conceito etimológico, ensinar é “colocar dentro”, “gravar no es-
pírito”. De acordo com esse conceito, ensinar é gravar idéias na cabeça do aluno.
Nesse caso, o método de ensino é o de marcar e tomar a lição.
Desse conceito, surgiu o conceito tradicional de ensino: ensinar é transmitir
conhecimentos. O método utilizado baseia-se em aulas expositivas e explicativas.
O professor fala aquilo que sabe sobre determinado assunto e espera que o aluno
saiba reproduzir o que ele lhe disse. Esse tipo de ensino passou a receber críticas
dando origem a um novo conceito de ensino.
Com a Escola Nova, o eixo da questão pedagógica passa do intelecto para o
sentimento, do aspecto lógico para o psicológico, dos conteúdos cognitivos para
os métodos e processos pedagógicos, do professor para o aluno, do esforço para
o interesse, da disciplina para a espontaneidade, da quantidade para a qualidade,
de uma pedagogia com inspiração filosófica para uma pedagogia de inspiração
experimental, baseada nas contribuições da Biologia e da Psicologia. Ensinar é
criar condições de aprendizagem. O importante não é aprender, mas aprender a
aprender. O professor passa a ser o estimulador e orientador da aprendizagem.
Na concepção tecnicista, o ensino se inspirou nos princípios de raciona
lidade, eficiência e produtividade. Por isso, deve-se planejar a educação e o
ensino de maneira a evitar as interferências subjetivas que possam pôr em ris-
co sua eficiência. Devem-se operacionalizar os objetivos e, em certos aspectos,
mecanizar o processo.
Resumindo
Concepção tradicional do ensino
A iniciativa cabe ao professor, que é, ao mesmo tempo, o sujeito do
processo, elemento decisivo e decisório no ensino.
A questão pedagógica é aprender.
50
Ensinar e aprender: a construção do conhecimento
O que é aprendizagem?
O ensino visa à aprendizagem. Mas o que é aprendizagem? É um fenômeno
bastante complexo, mas existem hoje muitas teorias sobre a aprendizagem.
Aprendizagem não é apenas um processo de aquisição de conhecimentos,
conteúdos ou informações. Aprendizagem é um processo de aquisição e assimila-
ção de novos padrões e formas de perceber, ser, pensar e agir. Assim, podemos dizer
que a aprendizagem é a mudança de comportamento, ou seja, são todas as transfor-
mações que o professor provoca no aluno nas maneiras de pensar, agir e sentir.
Aprendizagem cognitiva
A aprendizagem cognitiva abrange a aquisição de informações e conheci-
mentos, por exemplo: aprender os princípios e teorias educacionais.
51
Didática do Ensino Superior
Ensinar e aprender:
significados e mediações
Aprender e ensinar constituem duas atividades muito próximas da experiência
de qualquer ser humano. Aprendemos quando introduzimos alterações na nossa
forma de pensar e de agir, e ensinamos quando partilhamos com o outro, ou em
grupo, a nossa experiência e os saberes acumulados.
Refletir sobre a aprendizagem é, sobretudo, indagar-se sobre a natureza e a
variedade de aprendizagens a que estamos expostos, as variáveis e os mecanis-
mos que interferem no processo, as propostas que os estudiosos encontraram para
explicá-las e incrementá-las. Portanto, antes de aderir a qualquer concepção sobre
o modo como ensinar, o importante é refletir sobre a sua finalidade.
No desempenho adequado do papel de professor, o que não se pode deixar
de cumprir são as funções inerentes ao exercício de uma docência produtiva:
dar ao aluno o conhecimento de seus limites e fazer cumprir as regras previa-
mente estabelecidas;
selecionar os conteúdos que serão desenvolvidos em cada período;
apresentar aos alunos a programação da disciplina, incluindo as formas
de avaliação por ela privilegiadas, avaliação esta que deve ser contínua,
visando proporcionar eventuais correções de rumo tanto por parte dos
alunos como do professor;
planejar suas aulas, prevendo técnicas, materiais e conteúdos;
ouvir seus discentes e acatar, quando adequadas, as sugestões por eles
oferecidas, justificando quando não for aceitá-las;
considerar as experiências específicas de seus alunos, incorporando-as
52
Ensinar e aprender: a construção do conhecimento
Características
da aprendizagem no Ensino Superior
Segundo Masetto (2003, p. 85-88), a aprendizagem universitária pressupõe por
parte do universitário:
aquisição e domínio de um conjunto de conhecimentos, métodos e técni-
cas científicas de forma crítica;
iniciativa para buscar informações, relacioná-las, conhecer e analisar vá-
rias teorias e autores sobre determinado assunto, compará-las, discutir
sua aplicação em situações reais com as possíveis conseqüências para a
sociedade;
autonomia na aquisição dos conhecimentos, desenvolvendo sua capa-
cidade de reflexão e a realização de uma formação continuada que se
prolongará por toda a vida.
54
Ensinar e aprender: a construção do conhecimento
Colocação do universitário
mais em contato com sua realidade profissional
Em geral, a aprendizagem se realiza mais facilmente e com maior compreen-
são e retenção quando acontece nos vários ambientes profissionais, fora da sala de
aula, do que nas aulas tradicionais.
Aprender a aprender
Hoje, há um consenso de que “aprender a aprender” é o papel mais impor-
tante de qualquer instituição educacional.
55
Didática do Ensino Superior
Concluindo
O exercício do magistério superior se caracteriza pela atividade de ensino
das disciplinas. Nele se combinam objetivos, conteúdos, métodos e formas de
organização do ensino, tendo em vista a assimilação ativa, por parte dos universi-
tários, de conhecimentos, habilidades e hábitos, e o desenvolvimento de suas ca-
pacidades cognoscitivas. Portanto, há uma relação entre a atividade do professor
universitário (ensino) e a atividade do estudo dos universitários (aprendizagem).
As reflexões procuraram demonstrar que, para repensarmos nossas aulas,
não podemos deixar de analisar e discutir o paradigma que as orientará.
A didática deve partir de uma visão de totalidade do processo ensino-
a prendizagem, de uma perspectiva multidimensional; as dimensões humana, téc-
nica e político-social da prática pedagógica devem ser compreendidas e trabalha-
das de forma articulada.
Nessa linha, a competência técnica e a competência política do professor se
exigem mutuamente e se interpenetram. Não é possível dissociar uma da outra.
A dimensão técnica da prática pedagógica tem de ser pensada à luz do projeto
político-social que a orienta.
56
Ensinar e aprender: a construção do conhecimento
2. Trabalho em grupo.
Qual o conceito de ensino e aprendizagem predominante entre os professores?
57
Didática do Ensino Superior
58
Planejamento
da ação didática:
uma prática em questão
N
as últimas décadas, a sociedade passou por mudanças profundas, especialmente a educação,
que precisa acompanhar todos os processos de mudança nas sociedades.
Para melhor responder aos imperativos do momento e compreender a vida em socie-
dade, o homem precisa, basicamente, de reflexão e planejamento. Pela reflexão, o homem desenvolve
níveis cada vez mais aprimorados de discernimento, compreensão e julgamento da realidade, favo-
recendo a conduta inteligente em situações novas de vida. Pelo planejamento, o homem organiza e
disciplina a sua ação, partindo sempre para realizações cada vez mais complexas.
Assim, podemos concluir que planejamento é um conjunto de ações coordenadas entre si, que
concorrem para a obtenção de um resultado desejado. Cada vez mais a atitude de planejar ganha
importância e torna-se mais necessária, principalmente nas sociedades complexas do ponto de vista
organizacional.
Tinha chovido muito toda noite. Havia enormes poças de água nas partes
mais baixas do terreno. Em certos lugares, a terra, de tão molhada, tinha vi-
rado lama. Às vezes, os pés apenas escorregavam nela, às vezes, mais do que
escorregar, os pés se atolavam na lama até acima dos tornozelos. Era difícil
andar. Pedro e Antônio estavam a transportar, numa camionete, cestos cheios
de cacau, para o sítio onde deveriam secar.
Em certa altura, perceberam que a camionete não atravessaria o atoleiro
que tinham pela frente. Pararam, desceram da camionete, olharam o atoleiro,
que era um problema para eles. Atravessaram a pé uns dois metros de lama, de-
fendidos pelas suas botas de cano longo. Sentiram a espessura do lamaçal. Pen-
saram. Discutiram como resolver o problema. Depois, com a ajuda de algumas
pedras e de galhos secos de árvores, deram ao terreno a consistência mínima
para que as rodas da camionete passassem sem atolar.
Pedro e Antônio estudaram. Procuraram compreender o problema que
tinham de resolver e, em seguida, encontraram uma resposta precisa. Não se
estuda apenas nas escolas. Pedro e Antônio estudaram enquanto trabalharam.
Estudar é assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema.
LEITE, L. C. I. Encontro com Paulo Freire. Revista Educação e Sociedade.
São Paulo: Cortez e Moraes, n. 3, p. 68-69, maio, 1979.
Tipos de planejamento
na área da educação
Na área de educação e do ensino, há vários níveis de planejamento, que va-
riam de abrangência e complexidade:
planejamento de um sistema educacional;
planejamento geral das atividades de uma escola;
planejamento de currículos;
planejamento didático ou de ensino: plano de curso, plano de unidade e
plano de aula.
60
Planejamento da ação didática: uma prática em questão
Planejamento educacional
O planejamento de um sistema educacional é feito em nível sistêmico, isto
é, em nível nacional, estadual e municipal. Consiste no processo de tomada de
decisões sobre a educação no conjunto do desenvolvimento geral do país. A ela-
boração desse tipo de planejamento requer a proposição de objetivos a longo prazo
que definam uma política da educação.
Planejamento escolar
O planejamento geral das atividades de uma escola é o processo de tomada
de decisão quanto aos objetivos a serem atingidos e a previsão das ações, tanto
pedagógicas como administrativas, que devem ser executadas por toda a equipe
escolar para o bom funcionamento da escola.
Planejamento curricular
O planejamento do currículo consiste na formulação de objetivos educacio-
nais a partir dos objetivos gerais expressos nos documentos oficiais. Nesse senti-
do, a escola deve procurar adaptá-los às situações concretas, selecionando aquelas
experiências que mais poderão contribuir para alcançar os objetivos dos alunos,
das suas famílias e da comunidade.
Planejamento de ensino
O planejamento de ensino é a previsão das ações e procedimentos que o
professor vai realizar junto a seus alunos e a organização das atividades discentes
e das experiências de aprendizagem, visando atingir os objetivos educacionais
estabelecidos. Nesse sentido, o planejamento de ensino é a especificação e opera-
cionalização do plano curricular.
Existem três tipos de planejamento de ensino, de acordo com seu nível de espe-
cificidade crescente:
planejamento de curso;
planejamento de unidade;
planejamento de aula.
Planejamento de curso
Planejamento de curso é a previsão dos conhecimentos a serem desenvolvi-
dos e das atividades a serem realizadas em uma determinada classe, durante um
período de tempo, geralmente durante o ano ou semestre letivos.
O resultado desse processo é o plano de curso que é a previsão de um de-
terminado conjunto de conhecimentos, atitudes e habilidades a ser alcançado por
uma turma num certo período.
61
Didática do Ensino Superior
Curso: Professor:
Objetivos gerais
Estratégias
Objetivos Tempo Formas de
Conteúdos Procedimentos
específicos Recursos provável avaliação
de ensino
Bibliografia
62
Planejamento da ação didática: uma prática em questão
Planejamento de unidade
Planejado de unidade é uma especificação maior do plano de curso. Uma unidade é formada de
assuntos inter-relacionados.
Curso: Professor:
Tema central
Apresentação
Desenvolvimento
Integração
Bibliografia
63
Didática do Ensino Superior
Planejamento de aula
Planejamento de aula é a seqüência de tudo o que vai ser desenvolvido em um dia letivo. É a
especificação dos comportamentos esperados do aluno e dos meios – conteúdos, procedimentos e
recursos – que serão utilizados para sua realização.
Curso: Professor:
Tema central
Estratégias
Objetivos Tempo Formas de
específicos
Conteúdos Procedimentos provável avaliação
Recursos
de ensino
Bibliografia
64
Planejamento da ação didática: uma prática em questão
Ementa
A palavra ementa vem do latim ementum, que quer dizer idéia, pensamen-
to, sumário, resumo.
65
Didática do Ensino Superior
66
Planejamento da ação didática: uma prática em questão
Unidade 4: Avaliação
4.1 Tipos e funções.
4.2 Testes: tipos e construção do testes.
4.3 Avaliação para testes objetivos e dissertativos.
Unidade 5: Recursos de ensino
5.1 Do quadro ao computador.
5.2 Estudo da literatura específica ligada ao uso desses recursos em sala
de aula.
5.3 Avaliação de livros didáticos, seleção e utilização de textos em sala
de aula.
Redija a ementa.
resultados estão relacionados a seu sistema de ensinar, que toma como base a des-
crição específica do que se espera que o universitário possa fazer depois de viver
o processo ensino-aprendizagem.
Assim, o professor precisa definir de início o que o universitário será capaz
de fazer ao final do aprendizado.
Muitos professores acham difícil estabelecer os objetivos. Diria que é
trabalhoso. No entanto, uma hora que se perca planejando, ganha-se em qualidade
de trabalho.
Exemplificando
O objetivo geral da disciplina didática do Ensino Superior é:
capacitar profissionais de diversas áreas do conhecimento ao exercício
do magistério superior, por meio do desenvolvimento de atividades e
estudos teórico-práticos.
Este é o topo da escada. Mas, para que eu diga que preparei docentes univer-
sitários, é necessária uma série de passos ou “subidas” de degraus, não é mesmo?
Tente estabelecer objetivos. Lembre-se que já temos a ementa, os conteúdos
programáticos e estamos trabalhando os objetivos.
Agora que você já estabeleceu os objetivos específicos, compare os seus
com os meus e tire conclusões.
Conceituar didática.
Estabelecer as mudanças das idéias pedagógicas em determinada faixa
de tempo.
Traçar o perfil do docente por meio da literatura (perfil teórico) e de ob-
servações (perfil real).
Identificar as partes componentes de um programa de disciplina.
Elaborar programas de disciplina.
68
Planejamento da ação didática: uma prática em questão
Conteúdos programáticos
Quando você divide a carga horária da disciplina, deve levar em conta dois
princípios – o da seqüência e o da complexidade –, isto é, dar menor número de
horas/aula para os conteúdos menos complexos e maior número de horas/aula para
os que oferecem grau maior de dificuldade de aprendizagem.
Os conteúdos de ensino devem ser organizados em unidades didáticas,
conforme a carga horária disponível para disciplina, podendo ter, no máximo,
oito unidades.
Mas, podemos ter menos unidades ou mais unidades dependendo da carga
horária da disciplina (30, 60, 90 e 120 horas, por exemplo).
O importante é não esquecer que os conteúdos de ensino estão relacionados
aos objetivos propostos para o processo ensino-aprendizagem.
2. Faça a distribuição da carga horária da disciplina (60 horas), levando em consideração os prin-
cípios de seqüência e complexidade.
E a metodologia de ensino?
O professor universitário, no exercício de suas funções, deve utilizar uma
variedade de metodologias, que contribuam para tornar suas aulas mais interes-
santes, dinâmicas e vivas.
Nesta parte, o professor cita os métodos e as técnicas de ensino utilizados
para desenvolver o programa.
69
Didática do Ensino Superior
Como o professor
universitário avalia seus alunos?
A avaliação do rendimento escolar envolve a freqüência e o aproveitamento.
Ao avaliar o universitário, o professor deve utilizar técnicas diversas e
instrumentos variados, pois quanto maior for a amostragem, mais perfeita será
a avaliação.
Bibliografia básica
Ao indicar os livros básicos, o professor deve ter em mente a leitura mínima
obrigatória, parte do processo da aprendizagem fundamental.
Bibliografia complementar
A bibliografia complementar é a leitura recomendada para aumentar os co-
nhecimentos sobre determinados assuntos, criando a oportunidade de o aluno
adentrar nas idéias de diferentes autores.
Ao listar as obras, o professor universitário deverá obedecer às normas téc-
nicas vigentes da ABNT.
Organize a bibliografia básica de uma disciplina de seu interesse e de sua área de conhecimento.
Aproveite para adequá-la às normas técnicas da ABNT.
1. Atividade individual.
a) Na escola em que você trabalha, é feito algum tipo de planejamento?
70
Planejamento da ação didática: uma prática em questão
71
Didática do Ensino Superior
2. Atividade em grupo.
Discutir as respostas das questões acima e tirar conclusões.
72
Planejamento de ensino
numa perspectiva crítica
R
efletindo sobre a prática pedagógica universitária, observa-se que trata da metodologia do Ensino
Superior, da prática pedagógica e das didáticas, da epistemologia da prática profissional, da
sala de aula universitária e de sua gestão pedagógica, e da inovação na educação, entre outros.
Trata-se de um campo de possibilidades infinitas, em que o diálogo com os professores é fundamental
(GUSDORF, 1967, p. 56).
Assim, é abandonada a exclusividade atribuída à técnica, e os professores universitários mos-
tram-se favoráveis a um professor acolhedor, confiante no universitário, dialógico, questionador e
provocador. Em relação à disciplina ministrada, surge uma proposta mais global, relacionada a con-
teúdos, sentimentos, cooperação, participação e incertezas.
Nessa direção, temos a compreensão de que:
...não se pode falar em uma pedagogia universitária, mas sim pedagogias universitárias, quanto em relação aos
diferentes campos profissionais. Vive-se, assim, uma tensão constante entre o específico e o geral, entre o indiví-
duo e o coletivo, que interagem em processos em decisões pedagógicas na instância de cada curso e que adentram
na formação do professor e nas suas práticas pedagógicas, sem que, na maioria das vezes, se tenha consciência
dessas tensões e arbitrariedades presentes na estrutura de poder de cada profissão. (FERNANDES, 1999, p. 3).
O processo de planejamento
no Ensino Superior
No contexto atual, o processo de planejamento de ensino tem sido obje-
tivo de constantes reflexões, indagações e críticas quanto à sua validade como
um instrumento de intervenção, mudança e de melhoria da qualidade do tra-
balho docente.
A vivência do cotidiano universitário evidência situações questionáveis nes-
se sentido:
a) os objetivos educacionais propostos nos currículos dos cursos de graduação apresen-
tam-se confusos e desvinculados da realidade social;
b) os conteúdos a serem trabalhados, por sua vez, são definidos de maneira autoritária, pois
os professores, via de regra, não participam dessa tarefa;
d) quanto à metodologia utilizada pelo professor, observa-se que esta se caracteriza pela
predominância de atividades transmissoras de conhecimentos, com pouco ou nenhum
espaço para discussão e análise crítica dos conteúdos;
e) o aluno se mostra mais passivo do que ativo e, por decorrência, seu pensamento criativo
é mais bloqueado do que estimulado;
74
Planejamento de ensino numa perspectiva crítica
75
Didática do Ensino Superior
76
Planejamento de ensino numa perspectiva crítica
Concluindo
O projeto político-pedagógico é um documento sempre provisório que afir-
ma publicamente aquilo que acredita numa determinada comunidade educativa e
que busca fundamentar uma prática pedagógica concreta.
Este projeto tem origem num processo participativo de construção de
significados, no esforço de definir e configurar uma nova identidade à instituição,
traduzindo, ao mesmo tempo, a intenção do que se pretende realizar: projeções,
inovações, mudanças e rupturas e, principalmente, a coragem e a ousadia para
propô-las.
Desse modo, traz de forma implícita a utopia impulsionadora de uma coleti-
vidade que busca o novo e o desejado, constituindo uma prática vivida, num dado
77
Didática do Ensino Superior
1. Leia o texto O planejamento educacional e a prática dos educadores de José Cerchi Fusari,
publicado na Revista Ande.
2. No início do texto, o autor descreve uma situação que de fato acontece nas instituições de Ensi-
no Superior: a resistência de alguns professores universitários de fazer um plano por escrito.
Analise a situação descrita pelo professor Fusari, tentando indicar suas causas e possíveis soluções.
78
Planejamento de ensino numa perspectiva crítica
79
Didática do Ensino Superior
80
Objetivos, conteúdos
e metodologias
Em busca de um caminho
E você me pergunta:
– Que é viajar?
Santo Agostinho
Introdução
E
xiste hoje, em todos os setores da sociedade, uma pressão muito forte para a mudança. Isso
porque estamos vivendo uma situação de instabilidade geral, em que as coisas acontecem e se
transformam muito rapidamente. O tempo parece ter adquirido novas dimensões. São as marcas
dessa nova realidade que se sucedem à modernidade.
Em todas as partes, em todos os campos de atividade, as pessoas buscam o “novo”, as formas
alternativas e pouco convencionais de agir, em que possam imprimir a sua marca, o seu diferencial.
Nesse contexto, não estamos seguros quanto aos valores, atitudes e comportamentos que deve-
riam ser estimulados por meio do processo educativo.
Diante desse quadro, a relação professor-aluno se funda na criatividade epistemológica, no
compromisso com o rigor metódico e ético com os sujeitos que interagem a teia de relações que en-
volvem o conhecimento como categoria nos processos de ensinar e aprender.
Didática do Ensino Superior
O educador democrático não pode negar-se o dever de, na sua própria prática docente,
reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, suas tarefas primordiais e
trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que devem se “aproximar” dos
objetivos cognoscíveis. (FERNANDES; FREIRE, 1997, p. 28).
83
Didática do Ensino Superior
84
Objetivos, conteúdos e metodologias
85
Didática do Ensino Superior
Isso não quer dizer que outros verbos de ação não possam ser utilizados na
formulação de objetivos. Na verdade, eles podem ser utilizados, mas é necessário
indicar como essa aprendizagem vai ser identificada ou reconhecida no compor-
tamento do universitário.
Consideremos, por exemplo, o seguinte objetivo:
“Levar universitários a conhecer fatos básicos relativos à saúde e à doença.”
Como podemos observar, esse objetivo é muito vago, pois conhecer fatos
pode dar margem a muitas interpretações, tais como: memorizar preceitos de pro-
teção à saúde, lembrar nomes de doenças, lembrar sintomas de doenças, distinguir
sintoma de causa etc.
Em síntese, o professor deve vincular os objetivos específicos nos objetivos
gerais sem perder de vista a situação concreta (da escola, da disciplina e dos uni-
versitários) em que serão aplicados.
Algumas recomendações a serem observadas pelo professor no momento da
elaboração dos objetivos:
especificar conhecimentos, habilidades, capacidades que sejam funda-
mentais a serem assimiladas e aplicadas em situações futuras, na univer-
sidade e na vida prática;
observar a seqüência lógica, de forma que os conceitos estejam inter-
relacionados, possibilitando uma compreensão de conjunto;
expressar os objetivos com clareza, de modo que sejam compreensíveis
aos universitários e permitam, assim, que estes introjetem os objetivos
de ensino como objetivos seus;
dosar o grau de dificuldades, de modo que expressem desafios, proble-
mas, questões estimulantes e também viáveis;
formular objetivos como resultados a atingir, facilitando o processo de
avaliação;
indicar os resultados do trabalho dos universitários (o que devem saber, com-
preender, aplicar...)
86
Objetivos, conteúdos e metodologias
Por último, devemos lembrar que, para a educação escolar ser instrumen-
to de transformação social, nós, professores universitários, não podemos perder
de vista a formação de um cidadão consciente, crítico e participativo, capaz de
compreender a realidade em que vive e nela intervir, participando do processo de
construção da sociedade.
Os conteúdos de ensino
O professor universitário, ao planejar sua ação junto aos universitários, deve
considerar que o conteúdo é o conhecimento sistematizado e organizado de modo
dinâmico, sob a forma de experiências educativas. É sobre ele que se apóia a prá-
tica das operações mentais. Além disso, o conteúdo é o ponto de partida tanto para
a aquisição de informações, conceitos e princípios úteis como para o desenvolvi-
mento de hábitos, habilidades e atitudes.
Portanto, é por meio do desenvolvimento dos conteúdos programáticos que
atingimos os objetivos propostos para o processo ensino-aprendizagem. Assim,
quando o objetivo está formulado de forma clara e precisa, ele ajuda a selecionar
os conteúdos mais significativos e relevantes. Por outro lado, os conteúdos curri-
culares constituem uma fonte importante para a escolha dos objetivos, auxiliando
na sua definição.
Assim, os conteúdos de ensino devem ser “meios” para alcançar fins visa-
dos pelo processo ensino-aprendizagem.
87
Didática do Ensino Superior
Validade
Os conteúdos devem estar adequados e vinculados aos objetivos estabeleci-
dos para o processo de ensino e aprendizagem. O professor precisa fazer ajustes
na sua programação, incorporando os conhecimentos mais atualizados.
Utilidade
Quando há possibilidade de aplicar o conhecimento adquirido em situações
novas, ou seja, adequados às exigências e condições do meio em que os universi-
tários vivem, satisfazendo suas necessidades e expectativas, e quando têm valor
prático para eles, ajudando-os na vida cotidiana a solucionar seus problemas e a
enfrentar as situações novas.
Significação
Quando o conteúdo estiver relacionado às experiências vivenciadas pelos uni-
versitários. É a ligação do conhecido e vivenciado ao desconhecido e novo que torna
o conteúdo significativo e interessante.
Flexibilidade
Quando houver possibilidade de fazer alterações nos conteúdos seleciona-
dos, a fim de reajustá-los ou adaptá-los às reais condições, necessidades e interes-
ses dos universitários.
88
Objetivos, conteúdos e metodologias
Metodologias
O processo de ensino se caracteriza pela combinação das atividades do
professor e dos universitários. Estes, pelo estudo das matérias de ensino, sob a
direção do professor, atingem progressivamente o desenvolvimento de suas capa-
cidades mentais.
O sucesso na direção desse processo depende do trabalho sistematizado do
professor que, tanto no planejamento como no desenvolvimento das aulas, conju-
ga objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas do ensino.
Os métodos são determinados pela relação entre objetivo, conteúdo e refe-
rem-se aos meios para alcançar os objetivos gerais e específicos do ensino, ou seja,
os “como” do processo de ensino, englobando as ações a serem realizadas pelo
professor e pelos universitários para atingir objetivos e conteúdos.
Assim, temos as características dos métodos de ensino:
estão orientados para objetivos;
implicam uma sucessão planejada e sistematizada de ações, tanto do pro-
fessor quanto dos universitários;
requerem a utilização de meios.
Em virtude da necessária vinculação dos métodos de ensino com os obje-
tivos, a decisão de selecioná-los e utilizá-los nas aulas universitárias depende de
uma concepção metodológica mais ampla do processo educativo.
Nesse sentido, dizer que o professor universitário “tem método” é mais do
89
Didática do Ensino Superior
que dizer que domina procedimentos e técnicas de ensino, pois o método deve
expressar, também, uma compreensão ampla do processo educativo na sociedade:
os fins sociais e pedagógicos do ensino, as exigências e desafios que a realidade
social coloca, as expectativas de formação dos universitários para que possam
atuar na sociedade de forma crítica e criadora, as implicações da origem socioe-
conômica e cultural dos universitários no processo de aprendizagem, a relevância
social dos conteúdos e outras.
Concluindo
O professor universitário deve ter, perante a didática, uma atitude crítica.
Por isso, deve refletir sobre a melhor forma de ajudar seus alunos no processo de
reconstrução do conhecimento e sobre a eficácia de sua ação didática, expressa
nos resultados da avaliação do aproveitamento do aluno. A prática pedagógica
deve ser analisada e repensada continuamente pela reflexão.
Técnica painel
Entre as técnicas para grandes grupos, destaca-se a de painel, que é a técni-
ca da “mesa redonda” desenvolvida em uma situação de auditório.
Uma das características da técnica de painel é a discussão informal perante
um grande grupo. Então, a técnica de painel se caracteriza por um pequeno grupo
de pessoas que mantém uma discussão informal perante um grande grupo.
Estas são as principais características da técnica de painel. Se estabelecês-
semos uma relação com a técnica de simpósio, constataríamos que são técnicas
muito semelhantes. Por exemplo, o simpósio se caracteriza por uma apresentação
do tema, o painel por uma discussão informal sobre o tema.
92
Objetivos, conteúdos e metodologias
Recursos auxiliares
Recursos auxiliares são todas as modalidades que o professor utilizará du-
rante as atividades do semestre letivo. Textos, livros, apostilas, cartazes, transpa-
rências, computador e softwares educativos, quadros-de-giz e quadro branco, são
alguns dos recursos auxiliares mais usados pelos professores. A sua voz, profes-
sor, é o mais importante deles. Cuide bem dela!
Bibliografia
É necessária a organização de duas bibliografias: uma para o aluno e outra para
o professor. Na do professor, incluem-se os textos que serão usados, os exercícios,
número das páginas etc. A bibliografia deve ser redigida corretamente, seguindo as
Normas Técnicas vigentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
O trabalho interdisciplinar
no Ensino Superior
O trabalho interdisciplinar no Ensino Superior pode ocorrer e se concretizar:
em sala de aula, em disciplina isolada, no instante em que o professor liga
os conteúdos específicos que está lecionando a uma gama de tantos outros
conteúdos que os complementam dentro e fora do universo escolar;
por meio da disposição de concretizar os conteúdos aprendidos no
cotidiano profissional;
pela oposição às fronteiras estabelecidas e consagradas – níveis de ensi-
no, tipos de escola etc.;
por meio da predisposição dos professores a ensinar a seus alunos a
aprender o que vem a ser pesquisa;
pelo desenvolvimento de exercícios constantes de pesquisa – questionar,
responder, avaliar.
93
Didática do Ensino Superior
Pesquisa e comunicação.
94
Objetivos, conteúdos e metodologias
c) quais as principais limitações que você encontra para a utilização de métodos socializados
de ensino?
95
Didática do Ensino Superior
2. Após as entrevistas, cada grupo deverá apresentar uma síntese conclusiva das respostas aos
demais colegas e ao professor.
96
Repensando a aula
universitária no dia-a-dia
Introdução
N
as instituições de Ensino Superior, a técnica mais tradicional de ensino é a técnica expositiva
ou aula expositiva, que consiste na apresentação de um tema logicamente estruturado.
A aula é a forma predominante de organização do processo de ensino. Na aula, criam-
se e transformam-se as condições necessárias para que os universitários assimilem conhecimentos,
habilidades, atitudes e convicções e, assim, desenvolvam suas capacidades.
Devemos entender a aula como o conjunto dos meios e condições pelos quais o professor di-
rige e estimula o processo de ensino e aprendizagem em funções da atividade própria do aluno no
processo de aprendizagem escolar, ou seja, a assimilação consciente dos conteúdos. Isto quer dizer
que o processo de ensino, por meio das aulas, possibilita o encontro dos alunos e a matéria de ensino,
preparada didaticamente no plano de ensino e nos planos de aula.
Mesmo que a aula expositiva possa ser empregada para atingir uma ampla gama de objetivos
educacionais, normalmente está voltada à transmissão de conhecimentos. Buscando, fundamental-
mente, a aquisição e compreensão de novos conhecimentos por parte dos alunos, ela tem sido fre-
qüentemente criticada por estimular situações que favorecem aprendizagens do tipo reprodutiva, uma
vez que, na exposição, o conteúdo daquilo que deverá ser aprendido é apresentado ao universitário na
sua forma final.
Assim, o aluno fica privado do exercício das habilidades intelectuais mais complexas, como
aplicação, análise, síntese e julgamento. Estas e outras críticas têm sido dirigidas à aula expositiva,
considerada por muitos como uma forma excessivamente passiva e tradicional de ensino. No entanto,
acreditamos que um exame cuidadoso desta técnica poderá esclarecer melhor o seu papel no Ensino
Superior. Será que num paradigma que valoriza a aprendizagem essa técnica ainda tem lugar?
Como a aula expositiva é a mais utilizada pelo professor universitário, a maneira de utilizá-la,
no entanto, deve ser adequada às novas exigências do ensino.
98
Repensando a aula universitária no dia-a-dia
Segundo Barcells e Martin (1985), tais argumentos podem ser assim resu-
midos nos seguintes aspectos:
polpa tempo dos professores, uma vez que é de fácil preparo, possibili-
tando, em um tempo curto, a transmissão de muitas informações;
oferece aos alunos uma primeira e sintética explicação acerca de um
novo conhecimento;
apresenta visão mais equilibrada quando o tema é polêmico;
oferece a possibilidade de o aluno ser motivado pelo professor, que já
possui um profundo conhecimento sobre a matéria.
Quanto às limitações, as mais apontadas, segundo Godoy (1988), são:
pouca participação do aluno em função da comunicação, unilateral, ca-
racterística desta técnica de ensino;
considera a turma como um grupo uniforme, não levando em conta o fato
de que os alunos possuem estilos de aprendizagem diferenciados;
desconhece que muitos alunos não possuem conhecimentos prévios;
não favorece o desenvolvimento das habilidades intelectuais mais com-
plexas (aplicação, análise, síntese e julgamento) que levem o aluno a
pensar sobre o assunto;
não possibilita que o professor realize a função de avaliação,
acompanhando a aprendizagem do aluno.
Certamente, para que possamos tirar o máximo de proveito das vantagens
apontadas e minimizar as limitações, é necessário que o professor prepare e de-
senvolva suas aulas expositivas de forma adequada.
Para tal, apresentamos, a seguir, algumas sugestões que poderão auxiliar o
professor nesta tarefa.
Planejamento e desenvolvimento
da aula expositiva
Ao planejar uma aula expositiva, o professor universitário deve observar os
seguintes pontos:
dominar a matéria de ensino;
levar em conta o tipo de auditório a quem o expositor se dirigirá;
prever um começo (introdução), um núcleo (desenvolvimento) e um final
(conclusão);
planejar a estrutura da aula definindo exatamente o que o professor pre-
tende dar a conhecer à turma;
99
Didática do Ensino Superior
100
Repensando a aula universitária no dia-a-dia
Paradigma tradicional
A sala de aula dos cursos de graduação de Ensino Superior se constitui
como um espaço físico e um tempo determinado durante o qual o professor uni-
versitário transmite seus conhecimentos e experiências aos universitários.
Podemos dizer que se trata de um tempo e espaço privilegiados para uma
ação do professor, cabendo aos universitários atividades como:
copiar a matéria;
ouvir as preleções do mestre;
fazer perguntas, às vezes;
repetir o que mestre ensinou, na maioria das vezes.
Temos, também, as aulas práticas, ora demonstrativas, quando o profes-
sor assume o papel de mostrar o fenômeno, ora de aplicação de conceitos apren-
didos nas aulas teóricas nos laboratórios ou em estágios. As aulas práticas são
mais raras.
Paradigma atual
Esse conceito de aula universitária faz com que ela transcenda seu espaço
corriqueiro e habitual de acontecer só na universidade. Compreender a aula uni-
versitária como espaço e tempo de aprendizagem por parte do universitário muda
completamente esse paradigma.
É preciso compreender que onde quer que possa haver uma aprendizagem
significativa buscando intencionalmente objetivos definidos, aí encontramos uma
“aula universitária”.
Assim, a sala de aula é espaço e tempo durante o qual os sujeitos de um
processo de aprendizagem (docentes e universitários) se encontram para, juntos,
realizarem uma série de ações (interações), como estudar, ler, discutir, debater,
ouvir o professor, consultar e trabalhar na biblioteca, redigir trabalhos, participar
de eventos científicos de sua área, solucionar dúvidas, orientar trabalhos de inves-
tigação e pesquisa, desenvolver diferentes formas de expressão e comunicação,
realizar oficinas e trabalhos de campo.
101
Didática do Ensino Superior
Nesse contexto, tão importante quanto a sala de aula, onde se ministram au-
las teóricas na universidade, e os laboratórios, onde se realizam as aulas práticas,
são os outros locais onde se realizam as atividades profissionais daquele universi-
tário: empresas, fábricas, escolas, postos de saúde, fóruns, escritórios de adminis-
tração e contabilidade, hospital, escritórios de advocacia, casas de detenção, can-
teiros de obras, plantações, hortas, pomares, organizações não-governamentais,
movimentos sociais, laboratórios de informática, exploração na internet, institui-
ções públicas e privadas, ambulatórios, clínicas, congressos, seminários e outros.
Esses “novos espaços e tempos de aula universitária” são muito mais esti-
mulantes na aprendizagem dos universitários, mais instigantes para o exercício da
docência superior porque envolvem a realidade profissional de ambos e como tal
se apresenta complexa.
Universitário
Desenvolvimento de suas capacidades intelectuais – de pensar, de racio-
cinar, de refletir, de buscar informações, de analisar, de criticar, de argu-
mentar, de dar significado real às novas informações, de relacioná-las, de
pesquisá-las e de reproduzir conhecimentos.
Desenvolvimento de habilidades humanas e profissionais – trabalhar em
equipe, buscar novas fontes e pesquisas, dialogar com profissionais de
outras áreas, comunicar-se com pequenos e grandes grupos e apresentar
trabalhos.
Desenvolvimento de atitudes e valores integrantes à vida profissional – a
busca de soluções técnicas que, juntamente com o aspecto tecnológico,
contemplam o contexto da população, o meio ambiente, as necessidades
da comunidade, as condições culturais, políticas e econômicas da socie-
dade, os princípios éticos na condução de sua atividade profissional.
Pretendemos formar um profissional não apenas competente, mas também
comprometido com a sociedade em que vive.
102
Repensando a aula universitária no dia-a-dia
Docência universitária
Na universidade, no que diz respeito à docência superior:
103
Didática do Ensino Superior
Concluindo
A aula universitária então passa a ser, também, um espaço de avaliação, ou
seja, um espaço para o diagnóstico da aprendizagem, bem como de diálogo, dis-
cussões e sugestões para o seu desenvolvimento.
Pensar e repensar a docência universitária focalizada na transformação da aula
no Ensino Superior, produz reflexões que apontam para a necessidade de substituir
o paradigma de ensino por um “novo paradigma” que permita e dê fundamentação
às inovações que queremos fazer em nossas aulas.
Só a partir dessa concepção de aula universitária é que poderemos falar
em mudança, em dinamizar as aulas, em tornar nossas aulas “vivas”, em fazer
das aulas um espaço privilegiado de aprendizagem, de formação de profissionais
competentes, compromissados e cidadãos.
Uma das qualidades indispensáveis a um docente, seja ele de que grau for, é a de ser um bom
ouvinte. Leia o texto abaixo e resolva a tarefa proposta.
Telefone
Michel Quoist
104
Repensando a aula universitária no dia-a-dia
Após a leitura do texto Telefone, estabeleça as qualidades de um professor que é um bom ouvin-
te. Você também pode analisar os itens abaixo para embasar sua resposta.
Um bom ouvinte é capaz de:
questionar construtivamente;
controlar as ansiedades pessoais em prol dos componentes do grupo a que pertence;
prestar atenção ao que os outros dizem e/ou propõem;
levar as opiniões de seus colegas a sério;
simplesmente não complicar;
fazer ligações entre as contribuições dos que o cercam e/ou convivem com ele;
dar feedback sempre.
O texto desta tarefa deve conter:
análise minuciosa do texto Telefone;
comentário dos itens incluídos para aprofundamento;
ligação entre o texto e os itens que caracterizam um professor bom ouvinte;
ilustração com relatos de experiências (opcional).
105
Didática do Ensino Superior
2. Atividade individual.
a) Leia o capítulo “Docência universitária” do livro Ensinar e aprender no Ensino Superior:
por uma epistemologia da curiosidade na formação universitária, de António Teodoro e
Maria Lucia Vasconcelos.
Após a leitura, analise como organizar a seqüência de uma aula que coloque o universitário e o
professor trabalhando juntos durante o tempo da aula.
3. Atividade em grupo.
Discutam e apresentem as respostas, tirando conclusões.
106
Avaliação da aprendizagem:
avaliar não é o que muita
gente pensa
Introdução
É
colega. Chegamos ao ponto mais delicado do planejamento de ensino – a avaliação. Mas, antes
de escolher o seu paradigma avaliativo, leia atentamente o texto Aprendendo a pensar (ou de
como avaliar as idéias dos outros). Faça uma auto-avaliação: pense na maneira pela qual você
vem desempenhando suas tarefas de avaliador(a).
Aprendendo a pensar
(ou como avaliar as idéias dos outros)
Observe as cinco figuras e selecione a que for diferente das demais.
a) b)
c) d)
e)
Didática do Ensino Superior
Um momento de auto-avaliação
É uma grande responsabilidade selecionar e reunir itens de conteúdos para transmiti-los a
outros professores; missão árdua, mas desafiadora. A este respeito, só tenho uma certeza: tentarei
buscar o melhor. Nesta busca seletiva, surge o texto de Sant’Anna, que bem define aquele que vive
na “corda bamba” do conhecimento: equilibra, desequilibra, equilibra...
Desaprendendo a lição
Affonso Romano de Sant’Anna
“Há uma idade em que se ensina o que se sabe, mas em seguida vem outra idade em que se
ensina o que não sabe”. Esta frase de Roland Barthes é instigante. Desmistifica a prática usual
do ensino. Por isto, ele continua seu pensamento afirmando que é preciso “desaprender”, “deixar
trabalhar o imprevisível” até que surja a chamada “sapiência” uma sensação de “nenhum poder”,
“um pouco de saber”, mas com “o maior sabor possível”.
E num seminário em Paris praticando a errância do saber, propôs aos alunos que o encontro na
classe não tivesse tema predeterminado. O desejo inconsciente do saber é que deveria aflorar o tema.
Ali os alunos deveriam não apenas desejar, mas saber desejar. Desejar o saber é uma primeira etapa,
mas saber desejar é refinada atitude. Entre um e outro vai a distância do canibal ao gourmet.
Como derivação das colocações de Barthes se poderia dizer: o professor pensa ensinar o que
sabe, o que recolheu nos livros e na vida. Mas o aluno aprende do professor não necessariamente
o que o outro quer ensinar, mas aquilo que quer aprender. Assim o aluno pode aprender o avesso
ou o diferente do que o professor ensinou. Ou aquilo que o mestre nem sabe que ensinou, mas o
aluno reteve. O professor, por isso, ensina também o que não quer, algo de que não se dá conta e
passa silenciosamente pelos gestos e paredes da sala.
É, aliás, a mesma história que se dá com o texto. O autor se propõe a dizer uma coisa, mas
o leitor constrói sua leitura segundo suas carências e iluminações. Por isto se equivocou Jacques
Derridá ao dizer que o texto escrito segue livre sem paternidade, enquanto o discurso oral é tute-
lado pelo orador. O orador também não controla seu discurso, pelo simples fato de estar presente.
A palavra ao ser pronunciada já não nos pertence. O orador é falado pelo seu discurso. Fala-se o
que se pensa que se sabe, ouve-se o que se pensa que foi pronunciado. O sentido é construído a
muitas vozes e ouvidos, harmonicamente. Tinha razão o polifônico Sócrates: “a verdade não está
com os homens, mas entre os homens”.
Repitamos a frase de Barthes: “Há uma idade em que se ensina o que se sabe, mas em seguida
vem outra idade em que se ensina o que não se sabe”.
E adicionamos o seguinte raciocínio: em geral pensa-se que professor é aquele que “fala”, que
preenche com seu encachoeirado discurso uma aula de 50 minutos ou um seminário de três horas.
Este é um conceito de ensino como uma atividade “oracular” da parte do mestre, que se comple-
menta numa passividade “auricular” da parte do aluno. Contudo, assim como o espaço em branco
109
Didática do Ensino Superior
é importante no poema, assim como a pausa organiza a música, o saber pode brotar do silêncio.
O jorro contínuo de palavras pode ostentar apenas ansiedade. O conhecimento pode se ins-
talar no entreato. O silêncio também fala. É isto que se aprende durante as ditaduras. E, por outro
lado, durante as democracias se aprende que o discurso nem sempre diz.
Portanto, à audácia de desaprender o aprendido, soma-se astúcia do silêncio. No princípio era
o Verbo. A construção do silêncio exige muitas palavras. O escritor, por exemplo, constrói uma
casa de palavras para ouvir seu silêncio interior.
Comecei falando em Barthes. E aquela frase inicial dele remete não só para a questão do
“saber” e do “sabor”, mas do “saber” e do “poder”. Assim o melhor professor seria aquele que não
detém o poder nem o saber, mas que está disposto a perder o poder, para fazer emergir o saber
múltiplo. Nesse caso, perder é uma forma de ganhar, e o saber é recomeçar.
E para terminar, nada melhor que uma frase de outro desconstrutor de verdades, que é Gui-
marães Rosa: “Mestre não é quem ensina, mas aquele que, de repente, aprende”.
2. E você, professor onde se insere? Faça uma rápida auto-avalição antes de continuar o seu estu-
do. Se possível debata com seus colegas as idéias-chave do texto. A seguir, enumere as caracte-
rísticas básicas indispensáveis à composição do perfil de um bom professor universitário.
110
Avaliação da aprendizagem: avaliar não é o que muita gente pensa
atribuir nota;
repetir ou passar de ano.
Essa concepção é resultado de uma concepção pedagógica ultrapassada,
mas tradicionalmente dominante. Nela, a educação é concebida como mera trans-
missão e memorização de informações prontas e o aluno é visto como um ser
passivo e receptivo. Em conseqüência, a avaliação se restringe a medir a quanti-
dade de informações obtidas.
Nessa abordagem, em que educar se confunde com informar, a avaliação
assume um caráter seletivo competitivo.
Ontem
A avaliação tinha um caráter seletivo, uma vez que era vista apenas como
uma forma de classificar e promover o aluno de uma série para outra ou de um
nível para outro.
Hoje
A avaliação assume novas funções, pois é um meio de diagnosticar e
112
Avaliação da aprendizagem: avaliar não é o que muita gente pensa
114
Avaliação da aprendizagem: avaliar não é o que muita gente pensa
115
Didática do Ensino Superior
Avaliação da aprendizagem
A avaliação é parte integrante do processo ensino-aprendizagem. Portanto,
pressupõe a relação entre o professor, o aluno e o conhecimento. Aluno como
construtor do próprio conhecimento. Esta construção só se dá pela mediação do
professor – o facilitador e orientador da aprendizagem.
A construção de conhecimento é um processo interior do sujeito da aprendi-
zagem, estimulado por condições exteriores criadas pelo professor.
Avaliar a aprendizagem dos alunos tem um sentido amplo. A avaliação é
feita de formas diversas, com instrumentos variados, sendo o mais comum em
nossa cultura a prova escrita.
Avaliar a aprendizagem tem sido um tema angustiante para professores e
estressante para os universitários.
A avaliação da aprendizagem é angustiante para muitos professores por não
saberem como transformar uma prova escrita num processo que não seja mera
cobrança de conteúdos aprendidos “de cor”, de forma mecânica e sem significado
para o universitário.
Sentenças como “anotem, pois vai cair na prova”, “se não ficarem calados,
vou fazer uma prova surpresa”, “prestem atenção nesse assunto porque semana
que vem tem prova” e outras, são indicadores da maneira repressiva que tem sido
utilizada a avaliação da aprendizagem.
116
Avaliação da aprendizagem: avaliar não é o que muita gente pensa
A prova: ressignificando
a Taxionomia de Bloom
Sob o aspecto da complexidade, Vasco Moretto (2002) fez uma interpreta-
ção dos estudos de Bloom (1971) no assunto que ficou conhecido como Taxiono-
117
Didática do Ensino Superior
1. Atividade individual.
Leia o capítulo “Avaliar com eficácia e eficiência” do livro Prova: um momento privilegiado e
não um acerto de contas, de Pedro Vasco Moretto.
2. Atividade em grupo.
a) Após a leitura, apresentem as conclusões e discutam-nas.
b) Elaborem uma prova na perspectiva construtivista sociointeracionista.
118
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121
Didática do Ensino Superior
122
Hino Nacional
Poema de Joaquim Osório Duque Estrada
Música de Francisco Manoel da Silva
Parte I Parte II
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Brasil, de amor eterno seja símbolo
De amor e de esperança à terra desce, O lábaro que ostentas estrelado,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, E diga o verde-louro dessa flâmula
A imagem do Cruzeiro resplandece. – “Paz no futuro e glória no passado.”
Dos filhos deste solo és mãe gentil, Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Pátria amada,
Brasil! Brasil!
Atualizado ortograficamente em conformidade com a Lei 5.765, de 1971, e com o artigo 3.º da Convenção Ortográfica
celebrada entre Brasil e Portugal em 29/12/1943.