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Introdução ao

mundo do Chá
ALINE LOIOL A
Apresentação

Aline Loiola é, antes de tudo, uma


amante do Chá e de toda a experiência
que ele proporciona.
Tea Sommelier e Tea Blender
formada pela escola El Club del Té –
Argentina, vivenciou o Essencial de
Chás e o Sensorial de Chás pela ECE,
aprovada no Core da World Tea
Academy e segue debruçada em livros,
Cursos e em experiências com o Chá.
Faz parte da Associação Brasileira do
Chá e do movimento Slow Tea Brazil.

Oi gente!
Tomei a iniciativa de fazer este e-book para compartilhar com vocês um
pouquinho do meu encantamento com o mundo dos Chás.
O Chá é o tipo de assunto que quanto mais estudamos, mais descobrimos o
imenso caminho de conhecimento que temos para trilhar. Afinal, são 5000 anos
de história e tradição para desvendarmos, mas isso não é de forma alguma um
obstáculo, pelo contrário, é um estímulo!

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Aqui passearemos pela história do Chá, conheceremos os tipos de Chás e o que
os diferencia.
Acredito sinceramente que só amamos aquilo que conhecemos, então... vem
comigo conhecer um pouco mais sobre o Chá!

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A origem do Chá

O Chá tem uma história milenar e isso faz com que hajam várias versões sobre a
sua origem, mas a mais aceita é a que conta a história do Imperador Sheng Nong,
que viveu em 2737 a.C. e era conhecido como o Divino Agricultor.
Ele foi um dos Três Soberanos, e é creditada a ele a invenção da enxada e do
arado, também atribui-se a ele a descoberta de diversas ervas medicinais e, por
isso, é o Patrono dos Farmacêuticos e dos Médicos na China.

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Em seu governo haviam muitos surtos epidêmicos e por razões sanitárias
Sheng Nong ordenou que deveria ser fervida toda a água para ser consumida.
A lenda diz que um dia o Imperador Sheng Nong fazia uma caminhada pelas
colinas e decidiu fazer uma pausa, sentou-se debaixo de uma árvore e colocou sua
panela para ferver a água, veio a brisa e derrubou algumas folhas dentro da sua
panela e a água ficou perfumada e num tom castanho, ele bebeu e foi seduzido
pelo seu sabor. Olhou para dentro da sua barriga transparente (a parte da lenda
que mais gosto!) e percebeu que tudo funcionava perfeitamente bem com aquela
bebida.
Com isso, difundiu entre seus súditos aquela bebida refrescante e energizante e
daí o chá se tornou bebida cotidiana no povo Chinês até os dias de hoje.

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A cronologia do Chá

- 618-907 d.C.: Primeira escola de Chá, Chá cozido. Dinastia Tang. O Chá é
fabricado em forma de tijolos comprimidos, é consumido quando cozido com
água e se difunde pela população através dos monges budistas;

- 700 d.C.: surgimento do ideograma 茶 para designar o Chá e o diferenciar de


outras plantas;

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- 700 d.C.: primeiros registros históricos da Rota dos Chás e dos Cavalos:
partindo de Yunnan a Lhasa, capital do Tibet passando por mais de 3000Km, 50
rios e 75 montanhas;
- Séc. VIII: Monges Zen Budistas levaram o Chá para o Japão;
- 780 d.C.: Lu Yu redigiu o primeiro tratado sobre o Chá, O clássico do Chá
aonde ele aborda a origem do Chá, como a planta cresce, como é a colheita, o
processamento, a infusão e o consumo;
- 960 – 1279: Segunda escola do Chá: Chá em pó. Dinastia Song. As folhas de
Chá Verde são friccionadas em pedras de granito, criando um pó fino que é
batido com um fouet de bambu em água fervente, formando uma bebida de cor
verde bem vivo e com sabor marcante: a Matcha.
- 1368 – 1644: Terceira escola do Chá: Chá infusionado. Dinastia Ming.
- 1556: evangelistas portugueses se estabelecem em Macau e passam a enviar o
Chá para Portugal;
- 1606: Primeiras remessas de Chás enviadas comercialmente à Europa através
de mercadores holandeses;
- 1661: Catarina de Bragança se casa com Charles II da Inglaterra e com seu
dote, ele recebe terras na Índia, Tanger e Bombaim. A princesa Catarina levou o
Chá e difundiu o hábito na corte inglesa.
- 1840: Anna Maria Russell - Duquesa de Bedford, passou a incluir comidas
com o Chá no seu lanche da tarde, porque sentia muita fome entre as refeições.
- 1837 – 1901: Rainha Victoria estabelece em seu reinado a Cerimônia do Chá
Inglesa, o Afternoon Tea.
- 1773: Boston Tea Party, que foi uma reação do povo americano ao aumento do
imposto sobre o Chá pela Inglaterra. Um grupo de homens disfarçados de índios
derramaram nas águas do porto de Boston o carregamento de Chá de três navios
da Companhia Britânica das Índias Orientais, seu mentor foi George Washington.
Este foi um evento chave para o desenrolar da independência americana.

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– 1824 – 1829: O pernambucano Frei Leandro do Sacramento foi professor de
botânica e agricultura na Academia Médico-Cirúrgica e em 1824 foi o primeiro
diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, identificou Camellia Sinensis no
local e estimulou a sua cultura. Chegamos a receber o prêmio de terceiro melhor
Chá do mundo com uma produção anual de 2,5t das plantações em São Paulo e
Minas Gerais.
- 1908: Thomas Sullivan inventou “oficialmente” o Chá de saquinho sem
querer. Ele comercializava Chás e costumava distribuir para seus potenciais
clientes saquinhos de seda com amostras dos seus Chás. Sem que ele tivesse
previsto, estas pessoas usavam estes saquinhos como infusores descartáveis de Chá.
Com isso, o Chá em saquinhos fazia parte da ração alimentar dos soldados
americanos na Primeira Guerra Mundial.
-1930: Mudanças de hábitos e estilo de vida tornaram a conveniência mais
importante que o sabor e a tradição, com isso o Chá de saquinho se espalhou pelo
mundo.
- 1959: O código internacional de nomenclatura botânica designou a chazeira
como Camellia Sinensis.

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A origem da palavra
Chá
O ideograma 茶 significa um mix de ideias que chamamos em Português de Chá,
devido à sua pronúncia em Mandarim. Já em dialeto Amoy, a sua pronúncia se
aproxima mais de Tea, que foi a forma que os ingleses passaram a se referir ao
Chá. Assim como os Franceses (thé), os Espanhóis (té) e os Alemães (Tee).

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O que não é Chá

Infusões de outras plantas que não sejam a Camellia Sinensis, tais como: hibisco,
canela, maçã, hortelã, boldo, erva mate, camomila...
Podemos chamá-las de chá como aprendemos na infância, mas será uma
referência afetiva. Tecnicamente as chamamos de “infusão” (sim, o mesmo nome
do método) ou “tisana”.

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O que é Chá

O Chá é a infusão da Camellia Sinensis, e se apresenta em seis diferentes tipos:


Chá Branco, Chá Amarelo, Chá Verde, Chá Oolong, Chá Preto e Chá Escuro.
Além desta definição clássica, o Chá é cultura a partir da sua própria origem. A
cultura da terra, a cultura em termos de conhecimento sobre o Chá, a cultura
sobre as informações históricas, a cultura para adentrarmos na experiência das
cerimônias do Chá:

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*Gongfu Cha – Cerimônia Chinesa – aonde o anfitrião oferece a seu
convidado o seu melhor Chá, em utensílios e com técnicas que conseguem extrair
o melhor aroma e o melhor sabor possível do Chá;
*Chanoyu – Cerimônia Japonesa – aonde se serve Matcha, e que
originalmente era uma cerimônia exclusiva para os Samurais, para dar-lhes a
energia suficiente para as guerras. Até hoje esta cerimônia é vista com muita
sacralidade;
*Afternoon Tea – Cerimônia Inglesa – estabelecida pela Rainha Victoria,
aonde se compartilhava Chás Pretos indianos harmonizados com finger food, tais
como os scones com geleias e sour cream, mini sanduichinhos frios com pasta de
pepino e cream cheese, as mais requintadas patisseries como tortas e cupcakes.
Tudo isso servido em pratarias e porcelanas chinesas do mais alto requinte.
O Chá é uma experiência histórica, cultural, relacional e sensorial.

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O que os 6 tipos de
Chá tem em comum
6.1. Os Fatores Naturais:
– planta do Chá: Camellia Sinensis.
Uma planta perene e versátil com alguns varietais, e mais de 500 híbridos, mas
são duas as variedades principais: a Sinensis e a Assâmica.
Camellia Sinensis Sinensis: planta de folhas pequenas adaptada a clima frio e
enevoado, como nas altitudes mais elevadas das regiões montanhosas da China, de
Taiwan e do Japão. A Sinensis selvagem atige até 6 metros. Produz Chás de
sabores de frescos a ricos e maltosos.
Camellia Sinensis Assâmica: presente nas regiões tropicais como Índia, Sri
Lanka, Quênia e Brasil. Tem folhas que chegam a 20 cm, e as selvagens chegam a
15 metros de altura. Seus chás têm sabores que vão de suave e gramíneo ao vivo e
maltoso.
Os cultivares são desenvolvidos pela seleção de plantas com determinadas
qualidades, como atributos de sabor especial ou a capacidade de suportar secas ou
repelir insetos. Por exemplo, o cultivar Bai Hao foi produzido exclusivamente para
o Chá Branco Yin Zhen Silver Needles e já o cultivar Yabukita, é o cultivar mais
popular do Japão devido à sua qualidade e produtividade.
- terroir com terra ácida e de boa drenagem (encostas);
- temperatura entre 10 e 35C;
- chuvas entre 2000 e 2300mm/ano, mínimas de 1500mm/ano;

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- altura entre 1200 e 2450mts, sendo 2000mts a ideal;
- gosta de sol com certa proteção para não queimar as folhas;
- apresentam maior desempenho na zona subtropical, entre 40N e 30S de
latitude, clima nem muito quente, e nem muito frio.

6.2. A Colheita do Chá:


A colheita do Chá é diretamente ligada à sua qualidade. Uma vez que as folhas
trazem diferentes tipos de nutrientes a depender da sua idade, que é sinalizada de
acordo com sua posição no ramo. Isto é tão importante que as folhas recebem
nomes “próprios”, quais sejam:
- Flowery Pekoe: broto
- Orange Pekoe: primeira folha
- Pekoe: segunda folha
- First Souchong: terceira folha
A unidade básica de colheita é chamada Leaf Set e pode ser de várias formas:
- colheita imperial (b+1)= broto +1 folha
- colheita fina (b+2)= broto + 2 folhas
- colheita ordinária (b+3)= broto + 3 folhas
Para cada tipo de Chá existe um tipo de colheita ideal, por exemplo, existem
Oolongs que utilizam as folhas mais antigas do ramo, que não seriam indicadas
para outro Chá.
Outro fato interessante é que, a depender da região, altitude, temperatura,
varietal... as folhas têm tamanhos diferentes e impactam na quantidade de leaf
sets para formar um quilo de Chá. Por exemplo, Darjeeling é uma região
montanhosa da Índia que fabrica Chá Preto, e para fazer um quilo deste Chá
precisa-se de, aproximadamente, 22000 leaf sets. Já Assam, é uma região da Índia

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que fica no nível do mar e fabrica Chá Preto, para um quilo deste Chá se usa, em
média, 10000 leaf sets.
A colheita, em si, pode ser manual ou mecânica.
Manual:
Em geral, esta é uma
atividade requerida às
mulheres das mais diferentes
regiões de colheitas de Chás no
mundo. Para os homens,
geralmente fica o
processamento das folhas.
Elas usam grandes cestos de
palha ou sintéticos no seu
dorso para depositarem os leaf sets que colhem ao longo dos estreitos corredores
de Camellia Sinensis. Em uma jornada de trabalho de 8 horas, uma colhedora de
Chá experiente pode colher manualmente até 60kg de folhas, que se
transformarão em 12kg de Chá.
Os Chás Especiais são geralmente colhidos de forma manual ou manual com
tesouras, o que garante uma maior qualidade das folhas selecionadas.
Mecânica:
A colheita mecânica é
utilizada para os Chás CTC
(Chás de saquinho: cut, tear,
curl – triturar, rasgar e enrolar).
Serras elétricas e colheitadeiras
aerodeslizantes são algumas das
máquinas utilizadas para este
tipo de colheita. Existem
algumas vantagens na colheita
mecânica: menor custo de mão de obra e agilidade da colheita. Porém, existem

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alguns pontos que determinam uma qualidade inferior para o Chá colhido desta
forma. A altura do corte das plantas é determinada previamente e com isso há
uma irregularidade de padrão, ou seja, serão colhidas ao mesmo tempo os brotos,
as primeiras folhas, as folhas mais antigas, galhos do primeiro ramo, galhos um
pouco mais grossos... e isso faz com que não tenhamos um perfil regular do Chá,
porque no processamento do Chá e no momento da infusão cada parte distinta
reagirá de uma forma diferente.

6.3. Benefícios do Chá


O Chá é uma opção natural
e saudável para o dia-a-dia, e
além disso é rico em benefícios
para a saúde. Foi usado pela
primeira vez como bebida
medicinal na China, para
regular a temperatura do corpo
e estimular a mente. Chegou à
Europa no século XVII e era
vendido em boticas como
tônico e digestivo.
O Chá tem compostos
químicos que colaboram
fortemente para uma boa
saúde. Os polifenóis presentes
no Chá são potentes antioxidantes, com potencial antibiótico, antialérgico e
anti-inflamatório. Alguns deles são:
• Flavonóides (catequinas, GC, EC, ECG, EGC, EGCG) podem ajudar a
prevenir doenças cardiovasculares, colaboram com a redução do risco de câncer e
ajudam a retardar o envelhecimento. As catequinas são as mais presentes.
• Teaflavinas e tearubiginas são polifenóis gerados durante o processo de
oxidação do Chá e estão presentes no Chá Preto e no Chá Oolong.
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• Taninos: são os responsáveis pela adstringência e sabor amargo do Chá,
assim como oferecem ao Chá as propriedades cicatrizantes e antidiarreicas, além
de ser um poderoso antisséptico. Podem inibir a absorção do colesterol.
Sais minerais como o flúor, cálcio, zinco, potássio e magnésio e as vitaminas A,
B1, B2, B6, B12, C e D também estão presentes no Chá.
A teína ou cafeína que é um alcaloide com propriedades termogênicas está no
Chá, mas seu efeito é mais lento e duradouro devido à ação desaceleradora que os
polifenóis exercem sobre ela. Esta mistura de teína e polifenóis pode ajudar na
diminuição da absorção das gorduras em nosso organismo. Acredita-se que o nível
de teína em cada tipo de Chá é o mesmo, a variação se dá de acordo com o
varietal da planta, a química do solo e quão jovens são as folhas colhidas. Mesmo
considerando estas variáveis, você pode ter uma maior controle da quantidade de
cafeína liberada no Chá da sua xícara, quanto mais prolongado o tempo de
infusão e quanto mais quente a água mais teína é liberada no licor. Existem várias
linhas de pensamento sobre comparação da quantidade de cafeína no Chá e no
Café, os dados aproximados mais aceitos são:
Café expresso: 225mg
Café filtrado: 115mg
Chá: 70mg
A L-teanina é um aminoácido antiestresse que age sobre os neurotransmissores
e estimula as ondas alfa, aumentando a atividade cerebral e melhorando o foco
mental e a capacidade de concentração.
O Chá tem 75 – 80% de água nas suas folhas frescas e 2 – 3% de água nas
folhas desidratadas, através do método da infusão o Chá hidrata tanto quanto a
água, mesmo com a presença de todos estes elementos químicos.

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Chá Branco - Bai Cha

Origem: Fujian, China


Processo característico: Murchado.
Harmonização: sozinho ou com frutas frescas e saladas verdes.
Curiosidade: por muitos anos o Chá Branco era reservado apenas para o
imperador, virgens escolhidas nas colônias era vestidas de forma cerimonial para a

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colheita deste Chá e usavam luvas e tesouras de ouro. Apenas 2% do Chá
produzido no mundo é Chá Branco.
Exemplos: Pai Mu Tan, Bai Hao Yinzhen (Silver Needle).
O menos processado de todos os Chás. As folhas são colhidas com muito
cuidado para não racharem, com isso, a oxidação é baixíssima e natural.
Sua colheita, via de regra, é imperial ou fina.
Os brotos e as folhas têm 75-80% de umidade e para removê-la as folhas são
espalhadas ao sol por mais ou menos dois dias ou em bandejas no ambiente fabril
controlado e bem ventilado onde se mantém a temperatura entre 20C e 24C. O
tempo médio do murchamento é de 20 horas, produzindo uma oxidação natural
muito leve e desenvolvendo o aroma e o sabor do Chá. Depois o Chá já é secado,
classificado e embalado. As notas prevalentes nos Chás Brancos são nozes, vegetais
cozidos e pão torrado.
Na classificação o Chá passa por câmeras infravermelhas que detectam vários
tamanhos e o separam de elementos indesejados, como as hastes. Um Chá
ortodoxo bem produzido terá em sua maioria, folhas inteiras, por isso é tido como
“Premium” ou de grau superior.

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Chá Verde - Lu Cha

Origem: províncias de Fujian, Zhejiang e Anhui na China


Processo característico: Fixação.
Harmonização: japoneses (+herbais): frutos do mar, peixes, sushis, frituras e
doces de frutas; chineses (+tostados): massas, vegetais cozidos ou grelhados, peixes,
sobremesas cremosas, doces de frutas e frutas frescas.

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Curiosidade: A Matcha é feita do Chá Verde Tencha, que é prensado entre
duas pedras de granito e transforma as folhas em pó numa técnica desenvolvida
pelos chineses e que agora é amplamente utilizada pelos japoneses.
Exemplo: Japonês: Gyokuro, Sencha, Matcha
Chinês: Lung Ching, Gunpowder, Sencha
O Chá Verde não é oxidado, e para isso, sofre a fixação assim que é colhido. A
técnica chinesa é colocar estas folhas em woks ou fornos a 70C, bloqueando as
enzimas polifenol oxidase e peroxidase, responsáveis pela oxidação. Este processo
é bem lento, com isso, vai liberando glicosídeos, o que torna este Chá mais suave,
doce e aromático com notas vegetais cozidos, nozes e amêndoas.
No processo japonês, as folhas de chá passam por túneis de vapor d’água a
70C, também bloqueando estas enzimas, porém, o processo é mais rápido
conferindo ao Chá uma característica mais intensa e adstringente, na sua
experiência sensorial predominam as notas de vegetais crus, algas e limão.

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Chá Oolong - Wu
Long

Origem: Montanhas de Wuyi, Fujian, China – há 400 anos.


Processo característico: Semi oxidação.
Harmonização: sozinhos, confeitaria suave, chocolates, mel ou nozes.
Curiosidade: Wu Long significa dragão negro, e é dado este nome a este tipo
de Chá pela cor e pela forma das suas folhas. Existe uma lenda que fala sobre
outra versão; Wu Liang estava colhendo folhas de Chá, quando apareceu um

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cervo. Ele interrompeu a colheita para caçar o cervo, passou em casa para pegar
sua arma, deixou as folhas de Chá em algum lugar e só as encontrou dias depois.
As folhas tinham mudado de cor, ele as fixou e em seguida infusionou e ficou
maravilhado com o perfume doce e aromático que elas liberavam. Rapidamente
se espalhou pela região e ficou conhecido como o Chá de Wu Liang...
posteriormente Wu Long.
Exemplo: Shui Xian Rock, Formosa Finest Oolong, Oriental Beauty
Os Mestres de Chá não fixavam o Chá e esperavam uma oxidação parcial (20
– 80%), fixavam antes de enrolar e secar as folhas.
São muito diferentes entre si:
- processo de oxidação muito variável;
- cultivar ou varietal diferentes;
- colheitas em abril e maio, o Oriental Beauty em junho.

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Chá Amarelo - Huang
Cha

Origem: Montanha de Jun Shan, Hunan, China e Huang Mountain, Anhui,


China.
Processo característico: fermentação não enzimática.
Harmonização: são Chás raros e com uma experiência sensorial riquíssima, a
orientação é que o desfrutemos atentamente e sem nenhum acompanhamento.

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Curiosidade: O Chá amarelo é produzido apenas nestes dois lugares na China,
é um Chá mais raro. Apenas 2% da produção mundial de Chás resulta em Chá
Branco e Chá Amarelo.
Exemplo: Jun Shan Yin Zhen, Yellow Maofeng
Após a fixação com as folhas ainda úmidas e mornas, o Chá é empilhado e
embrulhado, em condições controladas de umidade e calor, por 2-3 dias, depois é
secado superficialmente e novamente empilhado e embrulhado por mais 3-4 dias,
este processo pode se repetir várias vezes até chegar ao ponto que o Mestre de
Chá determinou para este Chá.
Os estudiosos dizem que o Chá Amarelo consegue oferecer o melhor de cada
tipo de Chá: tem a doçura do Chá Branco, o suave sabor vegetal do Chá Verde, o
aroma intenso e variável do Oolong, é amigo do nosso intestino como os Dark
Teas e tem o delicado final condimentado do Chá Preto.

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Dark Tea - Hei Cha

Origem: Yunnan, China


Processo característico: Fermentação pós-produção (intervenção de
microorganismos vivos)
Harmonização: alimentos temperados, cogumelos e alimentos gordurosos.
Curiosidade: Eram Chás elaborados para serem transportados às periferias da
China (Tibet e Mongólia), aonde as pessoas dependiam do Chá pelo seu valor

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nutricional. Com a viagem lenta e longa por lugares frios e úmidos, o Chá
desenvolvia alguns microorganismos e com isso sofria mudanças químicas na
aparência, cor, sabor e aroma, que se transformavam. Saíam de Yunnan como
Chá Verde e devido a estas intempéries, chegavam no destino diferentes: Dark
Teas.
Exemplo: Pu Erh e Hei Cha.
São elaborados com a Camellia Sinensis Assâmica, durante o processo de
fabricação fica armazenado em condições controladas de umidade e temperatura,
a bactéria encontrada neste processo é a asper nigellus. É um Chá muito
apreciado para consumo em jejum porque colabora com o emagrecimento ou
após as refeições como digestivo.
Desde 2009, os Pu erhs receberam a Denominação de Origem Controlada,
que determinam que apenas os Chás elaborados na região de Pu Erh e seguindo
padrões altíssimos de qualidade podem receber este nome. Se estiverem
armazenados de forma correta, com o passar do tempo vão ficando melhores,
assim como os vinhos.

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Chá Preto - Hong Cha

Origem: Nas províncias de Yunnan, Anhui e Fujian na China.


Processo Característico: Oxidação.
Harmonização: queijos, chocolates, massas recheadas e carnes.
Curiosidade: Existe uma termologia que mensura a qualidade dos Chás Pretos
de alguns países do Oriente, tais como Índia, Ceilão, Indonésia e Malásia. Eles
incluem letras na nomenclatura do Chá:

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P: Pekoe – folhas pequenas;
OP: Orange Pekoe – folhas inteiras;
F: Flowery – grande conteúdo de brotos;
G: Golden – grande conteúdo de brotos dourados de alta qualidade;
T: Tippy – grande quantidade de pontas brancas;
1: One – usa-se os números para apontar tamanhos diferentes de folhas do
mesmo grau. Ex: OP e OP1.
F: Finest – (o segundo F) significa Finest - o melhor;
S: Special – uma colheita vintage;
B: Broken – folhas partidas.
Exemplo: Ceylon OP Pettiagalla, Darjeeling FTGFOP1, Assam BOP.
As folhas de Chá são arranhadas ou até quebradas para iniciar a oxidação, e o
processo de fabricação só é concluído quando elas atingem 100% de oxidação.
É durante a oxidação que o oxigênio age sobre os flavonoides. Surgem as
teaflavinas, dando notas intensas de sabor e as tearubuginas que garantem o sabor
suave, doce e redondo. Quanto mais longa a oxidação, mais suave e redondo será
o chá na boca. As notas mais marcantes dos Chás Pretos são as notas defumadas,
de madeira, de cacau e de tabaco.
Os Chás Pretos são os Chás mais vendidos no mundo, tanto em folhas soltas
como em saquinhos.

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Considerações Finais

Acredito que conseguimos


satisfazer um pouco da sua
curiosidade a respeito desta
bebida encantadora que ao
longo dos milênios vem
conquistando os mais diferentes
povos das mais diversas
culturas.
Agradeço a sua companhia
nesta viagem, é um prazer
enorme compartilhar um pouco
da minha caminhada com
vocês, e posso assegurar que
este foi apenas o primeiro passo.

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Bibliografia

BISOGNO, Victoria. Manual do Sommelier de Chá: variedades, análise sensorial


e protocolo do Chá. Victoria Bisogno: Jane Pettigrew – 1ª ed.- Ciudad Autonoma
de Buenos Aires: Del Nuevo Extremo, 2016.
GAYLARD, Linda. O livro do Chá: história, espécies e variedades, indicadores
de qualidade, técnicas de preparo, Chás pelo mundo, utensílios e receitas. São
Paulo: Publifolha, 2016.
GEBELY, Tony. Tea – A user’s guide. 2016. USA: Eggs and Toast Media,
LLC.
GRACINDO, Ina. Viagem ao mundo do Chá – 1ª ed.- Rio de Janeiro: Casa
da Palavra, 2013.

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