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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MCP PROCESSO Nº 28.471/13


ACÓRDÃO

Embarcação sem nome, não inscrita. Colisão de embarcação contra banhista,


causando-lhe sérios ferimentos, durante navegação pelo lago Puraquequara,
Manaus, AM, sem registros de danos à embarcação, tampouco poluição ao
meio ambiente aquaviário.
Inobservância às regras básicas inerentes à segurança da navegação e vidas
de banhistas, caracterizado pela imprudência e pela imperícia do condutor
inabilitado ao navegar em área sabidamente de concentração de banhistas,
deste modo expondo a grave risco as vidas daqueles que ali se encontravam.
Condenação. RLESTA.

Vistos, relatados, discutidos os presentes autos.


Trata-se de analisar e determinar causa(s) e responsabilidade(s) pelos
acidente e fato da navegação e suas consequências, previstos nos artigos 14, alínea “a” e
15, alínea “e”, da Lei Orgânica deste Tribunal (Lei nº 2.180/54), materializado na colisão
da Lancha motorizada, sem nome e não inscrita, junto à Autoridade Marítima, conduzida
pelo seu proprietário o Sr. Elizeu Siqueira da Silva, sem habilitação formal, fatos estes
ocorridos cerca das 17h de 16 de junho de 2013, quando durante navegação pelo lago do
Puraquequara, Manaus – AM, atingiu o banhista Dilson dos Santos Machado,
provocando-lhe sérios ferimentos. A embarcação nada sofreu. Não houve registro de
poluição ao meio ambiente aquático.
Ocorrência registrada pelas 9ª e 14ª Distritos Policiais Integrados de Polícia
Civil do Estado do Amazonas (fls.10/11, 88/89 e 149/152).
Do IAFN instaurado pela Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental, instruído
com seis (06) testemunhos, Laudo de Exame Pericial, CD com as principais peças do
IAFN e demais documentos destacados neste Relatório, temos que cerca das 17h, de 16
de junho de 2013, o Sr. Dilson dos Santos Machado, (vítima) e familiares estavam no
lago do Puraquequara, mais precisamente no flutuante conhecido como “FLUTUANTE
DO SASSÁ”, propriedade do Sr. Antonio de Sá Silva, e outros banhistas que

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ocasionalmente faziam travessia a nado para alcançar um tronco flutuante, este distante
cerca de dez metros do “FLUTUANTE DO SASSÁ”, concomitantemente, a embarcação
sem nome, sob a condução do Sr. Elizeu Siqueira da Silva, levando a bordo uma
passageira não identificada, e a reboque uma boia presa à popa por um cabo, com um
passageiro, também não identificado nos presentes autos, sobre a mesma, quando o seu
condutor decidiu passar por entre o “FLUTUANTE DO SASSÁ” e o tronco flutuante,
exatamente na área com maior concentração de banhistas, terminando por atingir o Sr.
Dilson dos Santos Machado, sendo este logo retirado da água e conduzido por seus
familiares ao Hospital de Pronto Socorro “Platão de Araújo” quando foi constatado ter o
mesmo sofrido “traumatismo craniano e fratura exposta no membro superior esquerda”,
conforme Laudo de Exame de Corpo de Delito, emitido pelo Instituto Médico Legal do
Estado do Amazonas, juntado à fl. 91.
Consta ainda, que após tomar conhecimento sobre o acidente o Sr. Elizeu
Siqueira da Silva passou mal e foi conduzido à citada Unidade Hospitalar, recebendo
cuidados médicos.
Elizeu Siqueira da Silva, fls. 28-30, declarou em resumo não possuir
habilitação junto à Marinha do Brasil e que a embarcação não é inscrita junto a nenhum
órgão da MB. Afirmou que enquanto navegava não avistou à proa da embarcação
qualquer obstáculo. O depoente somente tomou conhecimento do acidente sofrido pelo
banhista, através da esposa, após atracar a embarcação, vindo o depoente a sofrer um mal
súbito, inclusive sendo necessário cuidados médicos, impedindo o depoente a prestar os
primeiros socorros ao banhista vitimado.
Gracilene Muniz da Silva, (fls. 57-59) confirma as declarações do seu
marido, o Sr. Elizeu Siqueira da Silva. Demais disso, atribuiu a responsabilidade ao
banhista vitimado por ter sido imprudente ao pular, mergulhar e permanecer submerso, o
que prejudicou a visão do condutor da lancha.
Dilson dos Santos Machado, vítima do acidente, (fls. 47-48) declarou: o
acidente poderia ter sido evitado se o condutor da embarcação navegasse mais distante
dos banhistas.
Antônio de Sá e Silva, (fls. 70-71) proprietário do “FLUTUANTE SASSÁ”
declarou que não presenciou o acidente, como também não presenciou o Sr. Elizeu
condutor da embarcação e o banhista envolvidos no acidente, consumindo bebida

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alcoólica.
Francisco Marques da Costa (fls. 78-79) declarou que a lancha conduzida
pelo Sr. Elizeu Siqueira da Silva, passou em alta velocidade no local onde se encontrava
os banhistas, momento em que colidiu contra o Sr. Dilson dos Santos Machado, que
havia pulado do flutuante. Declarou ainda, que não presenciou os envolvidos consumindo
bebida alcoólica.
Telciclei Nascimento Lima (fls. 97-98) declarou: na opinião do depoente, o
trajeto da lancha escolhido pelo Sr. Elizeu Siqueira foi errado, pois se aproximou
perigosamente dos banhistas e que a atitude da vítima, o Sr. Dilson dos Santos Machado,
de pular na água e permanecer submerso por um bom período colaborou para a colisão da
lancha contra o mesmo, pois prejudicou a visão do condutor da lancha. Demais disso,
declarou que não presenciou nenhum dos envolvidos consumindo bebida alcoólica.
Os Peritos em Laudo de Exame Pericial Indireto (fls. 109/113) datado de
14/09/13, descrevem a sequência dos acontecimentos como acima relatado.
Consignam os Peritos que no momento da ocorrência: de acordo com os
depoimentos das testemunhas e o Laudo nº 19.2013 do INMET, datado de 22 de julho de
2013 (fl. 90) as condições do tempo eram boas, com boa visibilidade, sem vento e sem
eventos de precipitação.
Descrevem os ferimentos sofridos pelo banhista.
Na análise dos Peritos, os fatores humano e operacional contribuíram para o
fato da navegação em apreço.
Neste sentido, atribuem como causa determinante “ter o Sr. Elizeu Siqueira
da Silva, condutor e proprietário da lancha assumido o risco do acidente ao conduzir
embarcação sem habilitação, não inscrita junto a Capitania e próximo à margem com
considerada concentração de banhistas aliado ao fato do Sr. Dilson dos Santos Machado
nas adjacências, inadvertidamente, estar dentro do canal escolhido erroneamente pelo
condutor”.
Finalmente, apontam as seguintes infrações ao RLESTA, cometidas pelo Sr.
Elizeu Siqueira da Silva: art. 16, ao deixar de inscrever ou de registrar a embarcação
junto a Capitania e art. 11, por não possuir habilitação para conduzir embarcação.
O Encarregado do IAFN em Relatório de fls. 118-123, após descrever as
diligências realizadas, características da embarcação envolvida no evento, analisar e

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transcrever resultado da Perícia, depoimentos, sequência e consequências do fato, em
consonância com as conclusões dos peritos, encerrou o inquérito apontando como
possível responsável direto, o Sr. Elizeu Siqueira da Silva, condutor da embarcação “sem
Registro de Inscrição” “por ter demonstrado em suas condutas Imprudência e Imperícia,
haja vista não ser habilitado pela Autoridade Marítima para conduzir uma embarcação”.
Notificação formalizada (fl. 135), o indiciado ofereceu defesa prévia (fls.
136/137) discorda das conclusões do IAFN sustentando em resumo “a inexistência de
área demarcada para banhistas, e ainda a dificuldade de se identificar pessoas e objetos
submersos além do tráfego de pequenas embarcações”.
Em diligência requerida pela Procuradoria Especial da Marinha - PEM foram
trazidos aos autos documentos (Notificação e defesa prévia do indiciado no IAFN)
constantes às fls. 135/137.
Após análise dos autos, a D. Procuradoria Especial da Marinha - PEM, em
promoção juntada às fls. 156/160, representou, com fulcro no art. 15, alínea “e”, da Lei nº
2.180/54 contra Elizeu Siqueira da Silva, devidamente qualificado nos autos, na condição
de proprietário e condutor da Lancha sem nome e não inscrita, por entender que: [...] A
Responsabilidade do fato da navegação deve ser atribuída ao Representado, pela
previsibilidade do resultado e em virtude de presentes todos os elementos formadores de
sua responsabilidade, quais sejam: I) ação ou omissão; II) culpa, caracterizada pela
imprudência e imperícia na condução da lancha, o que culminou na colisão com o
banhista e nas consequentes lesões corporais, III) dano (lesões corporais, embora
dispensável à hipótese em tela); e IV) nexo de causalidade.
Ante o exposto, requer a procedência da presente Representação, com a
condenação do representado nas penas e custas processuais estabelecidas na Lei nº
2.180/54 [...].
Recebida a Representação (fl. 156) e citado (fl. 202), o Representado que não
consta do Rol de Culpados deste Tribunal (fl. 230) não apresentou defesa técnica (fl.
205), declarado Revel (fl. 206), notificado (fl. 212), manteve-se silente.
Aberta a Instrução, nenhuma nova prova foi produzida.
Em Alegações Finais, a PEM em manifestação à fl. 225v ratifica os termos
de sua Inicial às fls.156/160.
Decide-se.

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De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que os acidente e fato da
navegação sob análise, tipificados nos artigos 14, alínea “a” e 15, alínea “e”, ambos da
Lei nº 2.180/54, materializado com a colisão da embarcação sem nome e sem inscrição,
conduzida pelo não habilitado, o Sr. Elizeu Siqueira da Silva, contra o Sr. Dilson dos
Santos Machado que nadava no lago Puraquequara, município de Manaus, AM,
causando-lhe sérios ferimentos (cf. Laudo de Exame de Corpo de Delito, à fl. 91),
acidente este ocorrido por volta das 17h, de 16 de junho de 2013, teve como causa
determinante a inobservância às regras e procedimentos inerentes à segurança da
navegação e vidas de banhistas, caracterizado pela impudência e imperícia de condutor
inabilitado, ao navegar, em área sabidamente destinada à banhistas, deste modo expondo
à grave risco as vidas daqueles que ali se encontravam.
Assiste razão, portanto à D. Procuradoria Especial da Marinha - PEM (fls.
156/160), quando acolhendo as conclusões do IAFN representou contra o Sr. Elizeu
Siqueira da Silva sustentando que a responsabilidade pelo ocorrido “deve ser atribuída ao
Representado, pela sua conduta imprudente e imperita na condução da referida
embarcação, o que culminou na colisão com o banhista e nas consequentes lesões
corporais”.
Acusações estas que o Representado a despeito de regularmente citado (fl.
202) não se preocupou em refutá-las, no momento em que deixou de apresentar defesa
técnica (fl. 205), motivando a declaração de Revelia e seus efeitos (fl. 206),
consequentemente, presumindo-se como verdadeiros os fatos narrados na peça
Acusatória em desfavor do Representado (fls. 156/160), estes, respaldados
exclusivamente nas provas colhidas em sede de IAFN e não destruídas por prova
contrária a demonstrar que o acidente em apreço ocorreu próximo ao flutuante conhecido
como “FLUTUANTE DO SASSÁ", local de concentração de banhistas que costumavam
nadar até um tronco flutuante, distante dez metros. E foi exatamente por este local
segundo testemunhas, de maior concentração de banhistas, decidiu o Representado na
condução da embarcação sem nome por ali passar, levando a bordo uma passageira, frise-
se, efetuando o reboque de outro passageiro sobre uma boia presa por um cabo à popa da
citada embarcação, o que certamente dificultava uma vigilância permanente à sua proa,
terminando assim por atingir um dos banhistas, o Sr. Dilson Santos Machado que nadava
em direção ao tronco flutuante, provocando-lhe sérios ferimentos (fl. 91).

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Por todo o exposto, considerando ainda o disposto no artigo 58, da Lei nº
2.180/54, deve-se julgar procedente a Representação de autoria da D. Procuradoria
Especial da Marinha (fls. 155/160) para, com fulcro nos artigos 14, alínea “a” e 15, alínea
“e”, ambos os artigos da mesma Lei, responsabilizar o ora Representado Elizeu Siqueira
da Silva eis que, com suas condutas imprudente, imperita, contribuiu sobremaneira para a
ocorrência dos acidente e fatos da navegação em julgamento.
Na aplicação da pena, deve-se observar o disposto nos artigos 124, inciso IX,
127 e 139, inciso IV, (d), todos da mesma Lei, com redação alterada pela Lei nº 8.969/94.
Finalmente, deve-se encaminhar cópia do Acórdão ao Ministério Público
Estadual do Amazonas (Artigo 21 da Lei nº 2.180/54).
Deve-se também, em conformidade com o artigo 33, parágrafo único, da Lei
n° 9.537/97 (LESTA), c/c o artigo 43, do RIPTM, comunicar à Capitania Fluvial da
Amazônia Ocidental, a infração ao artigo 16, inciso I (deixar de inscrever ou registrar a
embarcação), do RLESTA, cometida pelo proprietário da embarcação sem nome,
envolvida no acidente da navegação em julgamento, o Sr. Elizeu Siqueira da Silva,
apurada no decorrer do IAFN.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente e ou fato da navegação: colisão de embarcação contra
banhista, causando-lhe sérios ferimentos, durante navegação pelo lago do Puraquequara,
Manaus, AM, sem registros de danos à embarcação, tampouco poluição ao meio
ambiente aquaviário; b) quanto à causa determinante: inobservância às regras e
procedimentos inerentes à segurança da navegação e vidas de banhistas, caracterizado
pela imprudência e imperícia do condutor inabilitado, ao navegar, em área sabidamente
destinada à banhistas, deste modo expondo a grave risco as vidas daqueles que ali se
encontravam; c) decisão: julgar procedente a representação da Douta Procuradoria
Especial da Marinha, juntada às fls. 156/160; em todos os seus termos, responsabilizando
Elizeu Siqueira da Silva, pelo fato da navegação, previstos nos artigos 14, alínea “a” e 15,
alínea “e”, da Lei nº 2.180/54, e suas consequências, aplicando-lhe a pena de multa de R$
2.000,00 (dois mil reais), acrescida de custas processuais; e d) medidas preventivas e de
segurança: encaminhar cópia do acórdão ao Douto Ministério Público no município de Manaus,
AM, (artigo 21 da Lei nº 2.180/54). Em conformidade com o artigo 33, parágrafo único, da Lei

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n° 9.537/97 (LESTA), c/c o artigo 43, do RIPTM, deve-se comunicar a Capitania Fluvial da
Amazônia Ocidental, a infração ao artigo 16, inciso I (deixar de inscrever ou registrar a
embarcação), do RLESTA, cometida pelo proprietário da L/M sem nome, o Sr. Elizeu Siqueira
da Silva, apurada no decorrer do IAFN.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 07 de maio de 2019.

MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA PADILHA


Juíza Relatora

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.

Rio de Janeiro, RJ, em 27 de agosto de 2019.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Dados: 2019.10.02 10:51:13 -03'00'

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