Você está na página 1de 4

TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MDG PROCESSO Nº 30.716/16


ACÓRDÃO

N/M “KEN GOH”. Exposição a risco. Imprudência. Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


No dia 19 de janeiro de 2015, cerca das 12h, nas águas costeiras do Cabo de
Santa Marta, RS, o N/M “KEN GOH” adentrou em área perigosa, prevista para
exercícios militares, afastando-se após contato com a Corveta da Marinha do Brasil.
No inquérito, realizado pela Capitania dos Portos em Santa Catarina, foram
ouvidas 3 testemunhas, realizado laudo pericial e juntada a documentação de praxe.
Consta dos autos que o N/M “KEN GOH”, sob o comando do Sr. Judy
Bordios, suspendeu do Porto de Suape/PE com destino ao Porto de Nueva Palmira no
Uruguai, quando as 12h do dia 19 de janeiro de 2015 foi verificado que navegava na
marcação LAT 29° 36,3' Sul e LONG 047° 11,1' Oeste, no rumo 229°, com velocidade
de 13 nós, dentro de área perigosa, pois prevista para exercícios militares, conforme
Aviso-Rádio Náutico S0044/15.
Segundo relatado nos autos a Fragata “LIBERAL” retransmitia o Aviso
referido a cada 15 minutos, mas, ainda assim, o N/M adentrou na área perigosa, somente
se afastando após contato realizado pela Corveta “BARROSO”, quando assumiu o rumo
270°.
A prova técnica registrou que a embarcação estava em bom estado de
conservação e que sua tripulação estava em conformidade com as regras em vigor.
Extrai-se do Laudo de Exame Pericial que as condições climáticas não
influenciaram na ocorrência do incidente, e que deste não resultaram danos materiais,
acidentes pessoais ou poluição hídrica.
O Comandante do N/M a época dos fatos não foi ouvido, pois não está mais a
serviço do Armador, tendo se desligado da empresa em 28 de agosto de 2015.
Os peritos e o Encarregado do IAFN registraram que em razão da escassez de
provas não foi possível identificar as razões da invasão da área militar, mas confirmaram
que este fato, ocorreu em que pese a ampla divulgação da área demarcada através do
Aviso-Rádio Náutico S0044/15.
O Laudo Pericial foi inconclusivo.
No Relatório o Encarregado concluiu que das diligências realizadas e

1/4
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.716/2016........................................)
===============================================================
documentação juntada aos Autos, restou constatada que a causa do Fato da Navegação
foi negligência do Comandante do Navio Mercante “KEN GOH”, à época do Fato, o Sr.
Judy Malicay Bordios, por ter adentrado à área do exercício militar previamente
demarcada e divulgada conforme as normas em vigor, expondo a risco a sua Tripulação,
não havendo evidências nos Autos que justifiquem a decisão, conforme o depoimento do
atual comandante do N/M “KEN GOH”, o Sr.Wang Shi (fl. 77):
“...que de acordo com os registros da época, há o registro do recebimento do
citado aviso rádio.”; e
“...apesar de ter evidências do recebimento do aviso rádio e plotagens do
local da área do exercício militar, não sabe informar o procedimento ou a
intenção do Comandante e dos oficiais de náutica da ocasião.”
Conclusão:
De tudo quanto contêm os presentes autos, conclui-se:
I) fatores que contribuíram para o Fato da Navegação:
a) fator humano - não contribuiu;
b) fator material - não contribuiu; e
c) fator operacional - contribuiu - visto que a embarcação adentrou a área
perigosa prevista para exercício de lançamento de mísseis, expondo a risco a sua
Tripulação, (fls. 30 e 77).
II) que, em consequência da exposição da Tripulação a risco, não há registro
de lesões físicas causadas aos tripulantes do Navio Mercante “KEN GOH”.
III) É o possível responsável direto pelo Fato da Navegação (EXPOR A
RISCO), o Comandante do Navio Mercante “KEN GOH”, o Sr. Judy Malicay Bordios,
responsável pela navegação da embarcação no momento do Fato da Navegação, às 12h
do dia 19/01/2015, em área previamente demarcada para Manobras Militares por meio do
Aviso-Rádio Náutico S0044/15, publicado pelo CHM no período de 14 a 19JAN2015,
em conformidade com o preconizado no item 0503, alíneas I e II das Normas da
Autoridade Marítima para Navegação e Cartas Náuticas - NORMAM-28/DHN (fls n°
11/12), cabendo responsabilidade solidária ao Armador/Proprietário do Navio Mercante.
IV) outras informações julgadas pertinentes - infração às normas decorrentes
da Lei n° 9.537, de 11 de dezembro de 1997 - Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário -
LESTA - Infrações do Comandante do Navio o Sr. Judy Malicay Bordios /
Armador/Proprietário do Navio Mercante “KEN GOH”, ao Decreto n° 2.596, de 18 de
maio de 1998 - Regulamento da Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário (RLESTA):

2/4
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.716/2016........................................)
===============================================================
O Fato da Navegação, a exposição da Tripulação a risco, com a entrada do
Navio na área do exercício militar, não observou o contido no Aviso-Rádio Náutico
S0044/15 (fls n° 12/30), publicado em conformidade com NORMAM-28/DHN,
contrariando a regra a REGRA 16 do RIPEAM-72, infringindo o art. 23, inciso VIII do
RLESTA:
“Art. 23 - Infrações às normas de tráfego / inciso VIII - descumprir qualquer
outra regra prevista, não especificada nos incisos anteriores”.
Conclui-se, portanto, que a causa determinante do Fato da Navegação foi a
negligência do Comandante do Navio Mercante “KEN GOH”, à época, o Sr. Judy
Malicay Bordios, respondendo pelo fato o Armador/Proprietário do Navio Mercante
“KEN GOH”, representado no Brasil pela Waypoint Agência Marítima Ltda, nos termos
do art. 932, III do Código Civil Brasileiro e Súmula 341, do STF.
A Procuradoria Especial da Marinha (PEM), em uniformidade ofereceu
representação em face do indiciado com fulcro no art. 15, alínea “e” da Lei nº 2.184/54.
Citado o representado foi defendido pela DPU, sob o argumento da negativa
geral.
Na instrução, nenhuma prova foi produzida.
Em alegações finais, manifestaram-se as partes.
É o relatório.
De tudo o que consta nos presentes autos, verifica-se que o fato da
navegação, caracterizado como exposição a risco pelo fato do N/M ingressar em área de
exercício militar, deveu-se pelo erro de manobra realizado pelo comandante, ora
representado.
O conjunto probatório demonstrou que houve um aviso rádio náutico
S0044/15, publicado pelo CHM no período de 16 a 19/01/2015, em conformidade com o
preconizado no item 0503, I e II da NORMAM 28/DHN informando do exercício militar
e determinando sua área de abrangência.
Contudo, o representado desrespeitando o referido aviso que teria a obrigação
de conhecer, ingressou na referida área, expondo a grave risco o navio e a sua tripulação.
Desta forma, portanto a caracterização do fato da navegação que deve
provocar a condenação do representado, na forma da representação da PEM,
integralmente procedente.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à

3/4
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.716/2016........................................)
===============================================================
natureza e extensão do fato da navegação: exposição a risco as vidas e fazendas de bordo;
b) quanto à causa determinante: ingresso de N/M em área reservada para exercício
militar; e c) decisão: julgar o fato da navegação, como decorrente da imprudência do
representado, condenando-o à pena de multa de R$ 1.000,00 (mil reais) e ao pagamento
das custas na forma dos arts. 14, alínea “a” e 121, inciso VII da LOTM.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 27 de junho de 2019.

MARCELO DAVID GONÇALVES


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.

Rio de Janeiro, RJ, em 13 de setembro de 2019.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE
Digitalmente

4/4
Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2019.10.03 16:43:41 -03'00'

Você também pode gostar