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LENIN
QUE FAZER?
Problemas candentes do nosso movimento
QUE FAZER?
PROBLEMAS CANDENTES
DO NOSSO MOVIMENTO
Títulos desta coleção
QUE FAZER?
PROBLEMAS CANDENTES
DO NOSSO MOVIMENTO
2ª edição
EDITORA
EXPRESSÃO POPULAR
São Paulo - 2015
Copyright © 2010, by Editora Expressão Popular
APRESENTAÇÃO......................................................................9
O lugar de Lenin no movimento socialista e comunista mundial.......10
O permanente exílio de Lenin e o “lugar” de Que Fazer?................... 14
Que Fazer? – estrutura, objetivos e aspectos centrais..........................24
O partido em Que Fazer?...................................................................27
PREFÁCIO..............................................................................................41
CONCLUSÃO.......................................................................................249
SUPLEMENTO.................................................................................... 253
Tentativa de fundir o Iskra com o “Rabotcheie Dielo”....................... 253
ANEXO
APRESENTAÇÃO.................................................................................267
Florestan Fernandes (1978)
NOTA DOS EDITORES
9
Que fazer ? P r o b l eNmoats a cda on sd eEndti et so rdeos nosso movimento
Os editores
10
APRESENTAÇÃO
Marcelo Braz*
*
Professor da ESS/UFRJ e da Escola Nacional Florestan Fernandes/ENFF. Autor, dentre
outros, de Partido e Revolução. 1848-1989 (São Paulo: Expressão Popular, 2011) e de,
em coautoria com José P. Netto, Economia Política: uma introdução crítica (São Paulo:
Cortez, 2013 - 9ª edição).
1
Alguns dos quais presentes na coletânea organizada por Ademar Bogo, acertadamente
intitulada Teoria da Organização Política: escritos de Engels, Marx, Lenin, Rosa, Mao
(São Paulo: Expressão Popular, 2005).
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Apresentação
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Como se sabe, parte importante da obra de Marx e de Engels tornou-se conhecida após
a morte de Lenin em 1924. Destacadamente: Os manuscritos econômico-filosóficos de 1844
(obra também conhecida por Manuscritos econômico-filosóficos de Paris) e A ideologia
alemã (com Engels), vieram à público somente em 1932. Deve-se lembrar que quando
Lenin preparava o Que Fazer?, entre 1901 e 1902, ainda não se conhecia o Livro IV
d’O capital, que só veio à luz entre 1905 e 1910 sob os cuidados de Karl Kautsky. Os
importantes e decisivos Grundrisse (“Elementos fundamentais para a crítica da Economia
Política. Rascunhos. 1857-1858”), cuja “Introdução” tem enorme destaque na estrutura
teórico-metodológica da teoria social marxiana, só foram integralmente publicizados
entre 1939 e 1941.
No entanto, já se conhecia o que se consagra como a estrutura essencial da obra máxima de
Marx: desde a edição e publicação por Engels do Livro III em 1894, estavam disponíveis
todos os volumes que compõem os três livros d’O capital. O Livro IV, que ganhou edição
mais cuidada somente nos anos de 1950, tornou-se mais conhecido como As teorias da
mais-valia, tratado como obra autônoma pela maior parte das publicações disponíveis.
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Cf. “As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo”, in: Três Fontes. São Paulo:
Editora Expressão Popular, 2004.
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Apresentação
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No seu texto de “Apresentação” a Que Fazer? (São Paulo: Hucitec, 1978), oportunamente
republicado no anexo a esta edição.
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Apresentação
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Tomei emprestada essa oportuna expressão do professor Ronaldo do Livramento
Coutinho que a vem utilizando em suas inúmeras intervenções políticas e acadêmicas.
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Netto, J. P. “Lenin e a instrumentalidade do Estado”, apresentação para a edição brasileira
de O Estado e a Revolução. São Paulo: Global Editora, 1987.
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É bastante conhecida a “autocrítica” (as Teses de Blum, apresentadas ao II Congresso
do Partido Comunista Húngaro) que Lukács elaborou – que saiu como Declaração de
Blum (1929) – para não ser expurgado do partido. Sobre a autocrítica escreveu, quase
cinco décadas depois: “A verdade é que eu estava completamente convencido do acerto
da minha proposta, mas também sabia – por exemplo, observando o destino de Karl
Korsch – que, naquela época, ser expulso do Partido significava a impossibilidade de
intervir ativamente na luta contra o fascismo emergente. Redigi aquela autocrítica como
‘bilhete de entrada’ na militância antifascista” (Lukács, 1992, p. 15-16, in: Netto, J. P.
[org.] Lukács. Sociologia. São Paulo: Ática. Grandes Cientistas Sociais, 20). Para além
dessa habilidosa autocrítica, o filósofo húngaro – e isso é o mais importante – nunca
deixou os problemas políticos de lado e tinha Lenin em alta conta. Vale lembrar que no
mesmo período publica Lenin: a coerência do seu pensamento (1924) onde identifica o russo
como um “operador da dialética”. O opúsculo lukasciano foi publicado recentemente
(Lenin: um estudo sobre a unidade de seu pensamento. São Paulo: Boitempo, [1924] 2012).
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Apresentação
à luta política, mesmo quando eles não eram o foco central das
suas preocupações, como no caso das problemáticas da estética e
da ontologia lukacsianas.
Uma segunda razão promoveu um segundo exílio a Que Fazer?
Ela se explica pelo absoluto desprezo e repúdio que o livro (e, como
de resto, o conjunto da obra de Lenin) obteve (e continua obtendo)
dos meios acadêmicos9. O repúdio foi se estruturando ao longo do
século XX e por motivos claramente ideológicos. Num primeiro
momento da construção desse exílio, o conservadorismo acadêmico
se incumbiu de neutralizar qualquer possibilidade de incorporação
das ideias de Lenin já desde o pós-1917; num segundo momento, o
repúdio foi agravado com a vulgarização stalinista acentuada nos
Elaborei uma resenha desta obra de Lukács publicada na revista Margem Esquerda, 20,
São Paulo: Boitempo, março/2013, p. 152-156.
De modo diverso pode-se reconhecer no teórico e dirigente do Partido Comunista
Italiano, Palmiro Togliatti, o esforço de atualizar as ideias lenineanas. O “partido novo”
defendido pelo autor apresenta forte inclinação ao pensamento de Lenin (a questão
da vanguarda, a diferenciação entre luta política e luta econômica etc.) e exprime
uma tentativa de “ocidentalizar” a teoria do revolucionário russo. Os desdobramentos
posteriores do chamado eurocomunismo – reformismo, idealização da democracia
burguesa e da própria democracia per si como valor universal-abstrato – não retiram de
Togliatti o mérito da tentativa de atualização teórico-política.
Para o debate acerca do eurocomunismo, leia-se E. Mandel Crítica do Eurocomunismo;
Lisboa; Antídoto, 1978; e as aproximações que realizei em meu livro Partido e Revolução.
1848-1989. São Paulo: Expressão Popular, 2011. E para conhecer as ideias de Togliatti
veja-se Socialismo e democracia. Escritos escolhidos do período 1944/1964. Rio de Janeiro:
Edições Muro, 1980. Para o “pensamento político” de Lúkacs, recorra-se à oportuna
organização de textos feita por J. P. Netto e C. N. Coutinho intitulada Socialismo e
democratização. Escritos políticos 1956-1971. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2008.
9
Conforme asseverou Atílio Boron num ótimo prefácio que preparou para uma reedição
argentina de Que Fazer?: “Uma das razões [do desprezo pela obra de Lenin] desta infeliz
situação reside na incontornável politicidade de toda a obra de Lenin. Pronunciar-se
a seu favor ou contra não é uma questão acadêmica, mas antes um ato de vontade
política. A consequência foi a constituição de uma polaridade cujos dois extremos são
igualmente negativos quando chega o momento de tentar compreender o significado da
herança leninista: ou a sua sacralização na União Soviética, transformando ‘uma teoria
subversiva num sistema apologético de uma certa ordem estabelecida; ou então a sua
satanização na literatura acadêmica do Ocidente’”. (Liebman apud Boron “Atualidade
do Que Fazer? de Lenine” in: Revista Socialismo e Liberdade. Rio de Janeiro: Fundação
Lauro Campos; ano I, n. 2, agosto de 2009).
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Apresentação
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A expressão é de um insuspeito professor universitário e jornalista norte-americano,
Michael Parenti (autor de A cruzada anticomunista), que publicou um relevante
trabalho para se entender o fenômeno anticomunista. Seu campo de pesquisa permite
revelar as ações de governo e do Parlamento para estabelecer a cruzada que foi, em solo
estadunidense, muito além do macarthismo e da própria guerra fria, antecendendo-os
em larga medida e desdobrando-se em política central que guiou das ações dos EUA. É
indisfarçável a declaração de Truman em plena guerra: “Se verificarmos que a Alemanha
está ganhando a guerra devemos ajudar a Rússia; e se a Rússia estiver vencendo, devemos
ajudar a Alemanha, e deixar que eles matem o maior número possível, embora eu
não queira que Hitler seja vitorioso de forma alguma” (apud Parenti, M. A Cruzada
Anticomunista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970; p. 118).
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Estruturadas na tríade: reestruturação produtiva, neoliberalismo e financeirização (ver
o cap. 9 de Economia Política: uma introdução crítica, de Netto, J. P. e Braz, M. São
Paulo: Cortez, 2013, 9. Ed.).
16
É o que se deduz, por exemplo, do português Boaventura S. Santos: “Por minha parte,
penso que a primazia explicativa das classes é muito mais defensável que a primazia
transformadora. Quanto a esta última, a prova histórica parece ser por demais concludente
quanto à sua indefensibilidade. Dando de barato que é fácil definir e delimitar a classe
operária, é muito duvidoso que ela tenha interesse no tipo de transformação socialista
que lhe foi atribuído pelo marxismo e, mesmo admitindo que tenha esse interesse, é
ainda mais duvidoso que ele tenha capacidade para o concretizar. Essa verificação,
que parece hoje indiscutível, tem levado muitos a concluir pela impossibilidade ou pela
indesejabilidade de uma alternativa socialista” (Santos, B. de S., Pela Mão de Alice: o social
e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1999, p. 41; itálicos meus).
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Apresentação
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Que para Lenin têm em comum o “culto da espontaneidade”.
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Cf. Lukács, op. cit., p. 52, 57.
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Apresentação
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por isso, elas não podem ser revolucionárias, já que expressam frações
do proletariado e não todo o proletariado. O papel da organização
revolucionária consiste na educação política, na agitação e na pro-
moção de denúncias políticas que explicitem o caráter de classe das
variadas lutas sociais. Essa explicitação é proporcionada tanto pela
realização de agitações políticas em todos os níveis da luta, quanto
pela permanente educação política das massas; para tanto, Lenin
ressalta a função dos meios de divulgação da teoria revolucionária
através de órgãos de comunicação: Iskra, Zaria etc.
Mais uma vez vale ressaltar o contexto histórico no qual Que
Fazer? foi escrito. Mesmo que no texto se encontrem os traços
principais do partido lenineano, e que, o mais importante a con-
siderar, tal partido de fato conduziu o processo revolucionário
russo – uma vez que no II Congresso do POSDR (Partido Operário
Social-democrata Russo), em 1903, os bolcheviques saíram vito-
riosos –, deve-se ter em conta que suas características são bastante
marcadas pelas vicissitudes políticas da realidade autocrática
russa; elas imprimiram ao movimento revolucionário como um
todo a premência de uma organização fortemente centralizada
e disciplinada, orientadas para atuar em situações praticamente
clandestinas e sob a ilegalidade. Foi o que o próprio Lenin chamou
atenção em texto posterior, quando rebatia exatamente as críticas
ao “modelo” de seu partido em 1907. A longa citação abaixo me
parece necessária e esclarecedora:
O principal erro daqueles que hoje polemizam com Que Fazer? consiste em
separarem, por completo, esse trabalho de determinadas condições históricas,
de um período determinado do desenvolvimento de nosso Partido, período
que já há tempos pertence ao passado. (...) Que Fazer? é um resumo da tática
do Iskra e de sua política de organização em 1901 e 1902. Precisamente um
resumo, nem mais, nem menos. Quem se preocupar em ler o Iskra, de 1901
e 1902, se convencerá disso, indubitavelmente. E quem julgar esse resumo,
sem conhecer a luta do Iskra contra o economicismo então predominante, e
sem compreendê-la, não fará mais que lançar palavras ao vento. O Iskra lutava
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Apresentação
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Lenin, in: Marx, Engels, Lenin, Trotsky. A questão do partido. São Paulo: Kairós, 1978,
p. 36, 37, 39, 41.
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Apresentação
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PROBLEMAS CANDENTES DO NOSSO MOVIMENTO
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Que fazer ? Problemas candentes do nosso movimento
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N. Lenin
Fevereiro de 1902
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I
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A propósito. É um fato talvez único na história do socialismo moderno e, no seu gê-
nero, extremamente consolador, que uma disputa entre diferentes tendências no seio
do socialismo tenha se convertido, pela primeira vez, de nacional em internacional.
Antes, as discussões entre lassalleanos e eisenachianos, entre guesdistas e possibilistas,
entre fabianos e social-democratas (da Federação Social-democrata da Inglaterra), entre
partidários de “A Vontade do Povo” e social-democratas eram puramente nacionais,
refletiam particularidades claramente nacionais, desenvolviam-se, por assim dizer, em
planos diferentes. Atualmente (hoje se vê isso muito claramente), os fabianos ingleses,
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berdade (cf., infra, a nota 129). Seus membros, ao defenderem as posições do socialismo
utópico populista, acabaram ingressando, por outro lado, no caminho da luta política, ao
considerar como primordiais a derrubada da autocracia e a conquista da liberdade política.
Seus partidários levaram adiante uma luta heroica contra a autocracia tsarista. Entretanto, ao
partirem da equivocada ideia dos “heróis” ativos e da “multidão” passiva, pensavam alcançar
a transformação da sociedade sem a participação do povo, somente com suas próprias forças,
através de atos individuais de terror. Após o 1º de março de 1881 (data do assassinato do
tsar Alexandre II), o governo esmagou a organização. Foram vãs as múltiplas tentativas de
reerguer A vontade do povo empreendidas durante a década de 1880.
Ministerialistas franceses: corrente oportunista no interior dos partidos socialistas euro-
peus ocidentais do final do século XIX e início do século XX. Teve no socialista francês
A. Millerand seu principal expoente (originando o termo millerandismo). Millerand
integrou, em 1899, o governo reacionário em seu país, participando de sua política
imperialista.
Críticos russos: assim eram chamados os marxistas legais que expressavam uma corrente
surgida nos anos de 1890 no seio da intelectualidade liberal burguesa da Rússia e repre-
sentada, entre outros, por Struve, Bulgakov e Tugan-Baranovski que, apresentando-se
como partidários do marxismo, extraíam da doutrina de Marx apenas a sua teoria da
inevitabilidade da substituição da formação socioeconômica feudal pela capitalista.
Posteriormente, os “marxistas legais” passaram a inimigos do marxismo, tornando-se
membros do partido burguês dos democratas-constitucionalistas.]
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[A “União dos Social-democratas Russos no exterior” foi fundada em 1894 por ini-
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inclinaram para esse último e acusaram Engels, inclusive publicamente, num congresso
do partido, de aspereza, de intolerância, de polêmica imprópria entre camaradas etc.
Most e seus camaradas propuseram (no Congresso de 1877) eliminar do Vorwärts
[Avante] os artigos de Engels “por não apresentarem interesse para a enorme maioria dos
leitores”; Vahlteich declarou que a publicação desses artigos tinha prejudicado muito o
partido, que também Dühring tinha prestado serviços à social-democracia: “devemos
aproveitá-los todos no interesse do partido, e se os professores discutem, o Vorwärts não
tem de modo algum que servir de espaço de tais disputas” (Vorwärts, 1877 nº 65, 6 de
junho). Como se vê, esse também é um exemplo de defesa da “liberdade de crítica”,
sobre o qual fariam bem em refletir os nossos críticos legais e oportunistas ilegais, que
gostam tanto de se referir ao exemplo dos alemães!
[O Congresso ordinário do Partido Operário Socialista da Alemanha realizou-se de
27 a 29 de maio de 1877 em Gotha. Nesse congresso, ao ser discutido o problema
da imprensa do partido, foram rejeitadas as tentativas de alguns delegados (Most,
Vahlteich) para censurar o jornal Vorwärts (Avante), órgão central do partido, por ter
publicado os artigos de Engels contra Dühring (editados em 1878 em livro, com o
título O senhor Eugen Dühring revoluciona a ciência), bem como o próprio Engels pelo
caráter áspero da sua polêmica. Ao mesmo tempo, e por motivos práticos, o congresso
decidiu continuar as discussões dos problemas teóricos não mais no jornal, mas num
suplemento científico deste.
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Que fazer ? Problemas candentes do nosso movimento
de Hannover, com a resolução de Bebel; são novamente adiadas (como no nº 2-3) para
um “artigo especial” tanto a exposição das concepções de Bernstein quanto a crítica
às mesmas. O curioso é que na p. 33 do nº 4-5, lemos: “... as concepções expostas por
Bebel têm o apoio da enorme maioria do Congresso”, e um pouco mais adiante: “...
David defendia as concepções de Bernstein ... Em primeiro lugar procurava demonstrar
que ... Bernstein e seus amigos, apesar de tudo (sic!), colocavam-se no campo da luta
de classes...”. Isso foi escrito em dezembro de 1899 e, em setembro de 1901, o R. Dielo,
pelo visto, já não acredita que Bebel tivesse tomando para si os argumento de David!
[O Congresso de Stuttgart do Partido Social-Democrata da Alemanha, realizado de 3
a 8 de outubro de 1898, discutiu pela primeira vez a questão do revisionismo na social-
-democracia alemã. Tornou-se pública uma declaração de Bernstein, que se encontrava
na imigração, enviada especialmente ao congresso, na qual ele expunha e defendia os
pontos de vista oportunistas, já manifestados numa série de artigos. Entre os adversá-
rios de Bernstein não houve unidade no congresso; uns, liderados por Bebel e Kautsky,
receando provocar uma cisão no partido, tentavam combinar a luta de princípios contra
o bernsteinianismo com uma tática cautelosa dentro do partido; outros (R. Luxem-
burgo e Parvus), que representavam a minoria, mantinham as posições mais decididas,
procurando ampliar e aprofundar a discussão sem se assustarem com a questão, mas
no decorrer dos debates, assim como outras decisões, mostraram que a maioria no
Congresso conservou a fidelidade às ideias do marxismo revolucionário.]
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A crítica na Rússia
A particularidade fundamental da Rússia, no que diz respei-
to ao aspecto em análise, consiste em que o próprio começo do
movimento operário espontâneo, por um lado, e a mudanças da
opinião pública avançada em direção ao marxismo, por outro, se
caracterizaram pela combinação de elementos notoriamente hete-
rogêneos, sob uma bandeira e uma luta comuns contra o mesmo
inimigo: as concepções políticas e sociais caducas. Referimo-nos
à lua de mel do “marxismo legal”, que foi em geral um fenôme-
mo extraordinariamente original, cujas possiblidades ninguém
acreditaria na década de 1880 ou no início da de 1890. Num
país autocrático, com uma imprensa completamente subjugada,
numa época de terrível reacionarismo político que reprimia míni-
mas manifestações de descontentamento e de protesto político, a
teoria do marxismo revolucionário, subitamente, abriu caminho
na literatura perseguida pela censura, exposta numa linguagem
esópica, mas compreendida por todos os “interessados”. O go-
verno habituou-se a não considerar como perigosa senão a teoria
de Narodnaia Volia [A vontade do povo] (revolucionária), sem
perceber, como lhe ocorre comumente, a sua evolução interna,
regozijando-se com toda a crítica dirigida contra ela. Antes de o
governo se dar conta, antes do pesado exército de censores e poli-
ciais se defrontar com o novo inimigo e avançar sobre ele, muito
tempo se passou (um bom tempo para nós, russos). E, durante
esse período, foram se sucedendo publicações de obras marxistas,
fundaram-se jornais e revistas marxistas; todo mundo tornava-
-se marxista; os marxistas eram elogiados, adulados; os editores
entusiasmavam-se com a extrema rapidez com que vendiam as
obras marxistas. Compreende-se que entre os marxistas princi-
piantes, envoltos nessa atmosfera de êxitos, tenha havido mais de
um “escritor envaidecido”20 (...).
20
Referência à “Um escritor envaidecido”, título de um conto de Máximo Gorki.
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Aludimos ao artigo de K. Tuline contra Struve [ver V. I. Lenin, Obras completas, 4a ed.,
em russo, t.1, p. 315-484], redigido com base na conferência intitulada O reflexo do
marxismo na literatura burguesa. Ver o prefácio. [Nota de Lenin para a edição de 1907.
Aqui Lenin refere-se ao seu artigo “O conteúdo econômico do populismo e sua crítica
no livro do sr. Struve (Reflexo do marxismo na literatura burguesa)”, publicado em 1895
na compilação “Materiais para a caracterização do nosso desenvolvimento econômico”
e reeditado em 1907 na coletânea de artigos de Lenin – Em 12 anos –, e ao prefácio
para a mesma obra, onde se faz uma caracterização da história e das condições nas quais
surgiu o artigo citado.]
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O livro de E. Bernstein – Die Voraussetzungen des Sozialismus und die Aufgaben der
Sozialdemokratie (As premissas do socialismo e as tarefas da social-democracia) foi editado
em russo, em 1901, sob diferentes títulos: 1) Materialismo histórico, 2) Problemas
sociais, 3) Problemas do socialismo e tarefas da Social-democracia.
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[Luta sindical. As trade-unions (uniões sindicais) surgiram na primeira metade do século
XIX na Inglaterra, expandindo-se a partir de 1824, quando foi aprovado no Parlamento
o direito à livre associação.]
24
Trata-se do protesto dos 17 contra o Credo. O autor destas linhas participou na reda-
ção desse protesto (em fins de 1899). Foi publicado no exterior, junto com o Credo,
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si só, uma diferença fundamental entre a Rússia e a Alemanha que deveria ter deixado
vigilantes todas as expressões sensatas do socialismo contra qualquer imitação cega. Aqui
está uma amostra daquilo a que chegou a “liberdade de crítica” na Rússia. Um crítico
russo, sr. Bulgakov, dirige a Hertz, crítico, austríaco, a seguinte advertência: “mesmo
com toda a independência de suas conclusões, Hertz, nesse ponto (o das cooperativas),
permanece aparentemente atado em demasia às opiniões do seu partido e, ainda que
discordando nos pormenores, não se decide pelo abandono do princípio geral” (O capi-
talismo e a agricultura, t. II, p. 287). Um súdito de um Estado politicamente escravizado,
no qual 999/1000 da população estão corrompidos até a medula dos ossos pelo servilismo
político e pela absoluta incompreensão da honra e dos vínculos de partido, repreende
com altivez um cidadão de um Estado constitucional por estar excessivamente “atado
à opinião do partido!”. Nada mais resta às nossas organizações ilegais do que se pôr a
redigir resoluções sobre a liberdade de crítica.
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[A frase de Marx comparece na sua carta a W. Bracke, de 5 de maio de 1875, que o leitor
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eis que há entre nós pessoas que, em seu nome, procuram reduzir
a importância da teoria!
Sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário.
Nunca será demasiado insistir nessa ideia, numa época em que a
propaganda em voga do oportunismo vem acompanhada de uma
atração pelas formas mais estreitas da atividade prática. Para a
social-democracia russa, a importância da teoria é ainda maior
por três razões, muito frequentemente esquecidas, a saber: inicial-
mente, porque o nosso partido apenas começou a sua formação,
apenas começou a conceber a sua fisionomia e está muito distante
do acerto de contas com outras tendências do pensamento revolu-
cionário que ameaçam desviar o movimento do caminho correto.
Ao contrário, a época recente se distingue notadamente (como
Axelrod já havia antecipado há muito aos “economistas”33) por uma
revitalização de tendências revolucionárias não social-democratas.
Nessas condições, um erro, “sem importância” à primeira vista,
pode levar às mais deploráveis consequências, e é preciso ser mío
pe para considerar inoportunas ou supérfluas as discussões de
tendências e a delimitação rígida de matizes. Da consolidação de
um ou outro “matiz” pode depender o futuro, por muitos e longos
anos, da social-democracia russa.
Em segundo lugar, o movimento social-democrata é, por
própria natureza, internacional. O que significa que não devemos
combater apenas o chauvinismo nacional. Significa também que
um movimento incipiente num país jovem só se desenvolve com
êxito quando incorpora a experiência de outros países. Para tanto,
não basta apenas conhecer essa experiência ou simplesmente copiar
as últimas resoluções: é necessário saber adotar uma atitude crítica
ante essa experiência e comprová-la por si próprio. Quando se
percebe o monumental crescimento e ramificação do movimento
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[Verlag der Genossenschaftsbuchdrukerei. (A guerra camponesa na Alemanha, 3ª edição,
Leipzig, 1875, Editorial Cooperativa. No Brasil, pode-se encontrar o Prefácio de Engels
lembrado por Lenin em Engels, F – A revolução antes da revolução I; São Paulo: Expressão
Popular, 2008.]
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[Lenin refere-se à greve de massas dos operários têxteis de Petersburgo, que se de-
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senrolou entre os meses de maio e junho de 1896. Foi liderada pela “União de Luta
pela Emancipação da Classe Operária” daquela cidade, que fez campanha panfletária
mobilizando os operários para defesa, firme e conjunta, de seus direitos. A “União de
Luta” difundia as principais reivindicações dos operários: redução da jornada de traba-
lho para dez horas e meia, aumento dos salários, pagamento regular etc. As greves de
Petersburgo contribuíram para o desenvolvimento do movimento grevista em toda a
Rússia e obrigaram o governo tsarista a acelerar a revisão das leis fabris e a promulgar
uma nova lei, em 2(14) de junho de 1897, reduzindo a jornada de trabalho nas fábricas
e oficinas para onze horas e meia.]
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O trade-unionismo não descarta de modo algum toda a “política”, como por vezes se
pensa. As trade-unions sempre conduziram uma relativa agitação e luta políticas (mas
não social-democrata). No capítulo seguinte, mostraremos a diferença entre a política
trade-unionista e a política social-democrata.
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[Escrito em 1894, resumia a experiência do trabalho social-democrata em Vilno e
continha, ademais, apelos para que se renunciasse à propaganda em círculos restritos
e se passasse à agitação de massas entre os operários, com base nas suas necessidades e
reivindicações cotidianas. No entanto, a ênfase atribuída à luta puramente econômica,
em prejuízo da agitação política exigindo direitos e liberdades de caráter democrático
geral, acabou se plasmando no germe do futuro “economismo”.]
39
[A “União de Luta pela Emancipação da Classe Operária”, organizada por Lenin no
outono de 1895, agrupava uns 20 círculos operários marxistas de Petersburgo. Todo o
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43
[Lenin faz alusão à repressão aos operários grevistas da Grande Manufatura de Yaroslavl,
em 27 de abril (9 de Maio) de 1895. A greve, da qual participaram mais de 4.000 ope-
rários, foi provocada pela introdução de novas tarifas que reduziam os salários e acabou
sendo brutalmente reprimida. O artigo de Lenin sobre a greve de Yaroslavl não foi até
hoje encontrado.]
44
[Boletim Operário de São Petersburgo: órgão da “União de Luta pela Emancipação da
Classe Operária” de Petersburgo, que teve apenas dois números publicados. Foi o órgão
que introduziu a tarefa de unir a luta econômica da classe operária às amplas reivindi-
cações políticas, assinalando a necessidade da criação de um partido operário.]
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“Ao manter uma atitude negativa em relação à atividade dos social-democratas de fins
da década de 1890, o Iskra não leva em conta que à época não existiam condições para
um trabalho que não fosse a luta por pequenas reivindicações”, dizem os “economistas”
em sua “Carta aos Órgãos Social-democratas Russos” (Iskra nº 12). Os fatos presentes
no texto demonstram que a afirmação acerca da “inexistência de condições” é diame-
tralmente oposta à verdade. Não somente no final, mas em meados dos anos de 1890 já
existiam todas as condições para desenvolver outro trabalho, além da luta por pequenas
reivindicações; havia todas as condições, exceto o suficiente preparo dos dirigentes. E eis
que, em vez de reconhecer com franqueza o despreparo da nossa parte (dos ideólogos,
dos dirigentes), os “economistas” querem jogar a responsabilidade para a “inexistência
de condições”, para a influência da realidade objetiva que determina o caminho do qual
nenhum ideólogo conseguirá desviar o movimento.
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Diga-se de passagem que esse elogio do Rabotchaia Myls – em novembro de 1898, quan-
do o “economismo” havia se definido por completo, sobretudo no exterior –, partia do
próprio V. I., que se tornaria logo depois um dos redatores de Rab. Dielo. Ainda assim,
Rab. Dielo continuou a negar a existência de duas tendências no seio da social-democracia
russa, como continua a negar atualmente!
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Neue Zeit, 1901-1902, XX, I nº 3, p. 79. O projeto da comissão de que fala K. Kautsky
54
foi aprovado pelo Congresso de Viena (no fim do ano passado) sob uma forma um
pouco modificada. [Nesse Congresso, que se realizou de 2 a 6 de novembro de 1901, foi
aprovado o novo programa do partido em substituição ao velho programa de Heinfeld
(1888). No projeto do novo programa, elaborado por uma comissão especial (V. Adler
e outros), por incumbência do Congresso de Brunn de 1899, foram feitas significativas
concessões ao bernsteinianismo.]
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Que fazer ? Problemas candentes do nosso movimento
55
Isso não significa, naturalmente, que os operários não tenham participação nessa elaboração.
Não participam como operários, mas como teóricos do socialismo, como os Proudhon e os
Weitling; noutros termos, só participam no momento e na medida em que conseguem
dominar, em menor ou maior grau, a ciência de seu século, fazendo-a avançar. E para
que os operários o consigam com maior frequência, necessita-se do maior empenho possível
para elevar o nível de consciência dos operários em geral; é preciso que os operários não
se limitem ao marco artificialmente restrito da “literatura para operários”, aprendendo a
assimilar cada vez mais a literatura geral. Inclusive, seria mais correto dizer, em vez de
“não se limitem”, “não sejam limitados”, uma vez que os operários leem e querem ler
também tudo o que se escreve para os intelectuais, e apenas alguns intelectuais (de
ínfima categoria) pensam que “para os operários” basta descrever o estado das coisas
nas fábricas e ruminar sobre o que já se conhece há muito tempo.
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ele. Apesar da colaboração que mantinha com Marx, suas ideias, tanto no campo da
economia quanto no da política, receberam fortes críticas de Marx e de Engels. Prova
disso foi o combate que Marx travou contra a influência lassalleana no programa do
partido adotado em Gotha, opondo-se a várias de suas propostas, tal como a famosa
“lei férrea (ou de bronze) dos salários”.
57
[Organizações sindicais reformistas da Alemanha fundadas em 1868 pelos militantes
do progressismo burguês M. Hirsch e F. Duncker. Pregavam a ideia da “harmonia” dos
interesses do trabalho e do capital e negavam a necessidade da luta grevista. Conside-
ravam que a tarefa principal dos sindicatos consistia em servir de intermediários entre
os operários e os empresários e em acumular recursos pecuniários e que deveria se ater
na organização de caixas de auxílio mútuo e de trabalhos culturais educativos.]
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V. I. Lenin
Isso é inteiramente justo no sentido de que a teoria socialista determina, com mais
profundidade e exatidão do que qualquer outra, as causas dos males de que padece a
classe operária, e é precisamente por isso que os operários a assimilam com tanta facili-
dade, desde que essa teoria não retroceda, ela mesma, ante a espontaneidade, desde que
submeta a si a espontaneidade. Geralmente isso está subentendido, porém o Rab. Dielo
esquece-o e deturpa-o. A classe operária tende de modo espontâneo ao socialismo, mas
a ideologia burguesa, a mais difundida (e incessantemente ressuscitada sob as formas
mais diversas) é, contudo, a que mais se impõe espontaneamente aos operários.
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1898, e que teve apenas alguns meses de vida. O grupo lançou um apelo que trazia
seus objetivos e editou os seus estatutos e algumas proclamações aos operários.]
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61
Em torno da questão das tarefas atuais e da tática dos Social-democratas Russos, Genebra,
1898. Duas cartas ao Rabotchaia Gazeta, escritas em 1897.
62
[A polêmica entre o grupo “Libertação do Trabalho” e a redação do Rabotcheie Dielo
se deve à publicação, no nº 1 de R. D., de abril de 1899, de um balanço da brochura
de V. I. Lenin “As tarefas dos Social-democratas Russos” (Genebra, 1898). A redação
do R. D., negando o caráter oportunista da “União dos Social-democratas Russos” no
exterior e a crescente influência dos “economistas” nas organizações da social-democracia
russa, afirmava nesse balanço que “o conteúdo da brochura coincide plenamente com
o programa da redação do Rabotcheie Dielo” e que a redação desconhecia a “que ca-
maradas jovens Axelrod” se referia no prefácio da brochura. Na Carta à Redação do
R. D., escrita em agosto de 1899, Axelrod provou a inconsistência das tentativas do
periódico de identificar a posição da social-democracia revolucionária – exposta por
Lenin em sua brochura – com a posição dos “economistas” russos e estrangeiros. Em
fevereiro de 1900, o grupo “Emancipação do Trabalho” publicou a coletânea Vademe-
cum para a Redação do R. D. e demonstrou o real predomínio dos traços oportunistas
e das ideias “economistas” no seio da emigração social-democrata russa, agrupada em
torno da “União dos social-democratas russos” e de Rabotcheie Dielo. Posteriormente,
a polêmica com R. D. continuou nas páginas do Iskra e da Zaria.]
63
[Ver V. I. Lenin, Obras completas, 5a ed. em russo, t. 2, p. 433-470.]
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Defendendo-se, Rabotcheie Dielo completou sua primeira falsidade (“Ignoramos a que
camaradas jovens se referiu P. B. Axelrod”) com uma segunda, quando escreveu na
sua Resposta: “Desde o aparecimento da crítica de As tarefas, surgiram ou definiram-se,
mais ou menos claramente, entre alguns social-democratas russos, tendências para a
unilateralidade econômica, que significam um passo atrás em comparação ao estado
do nosso movimento, esboçado em As tarefas” (p. 9). Isso é dito na Resposta, surgida no
ano de 1900. O primeiro número de Rabotcheie Dielo (com a crítica) apareceu em abril
de 1899. Será que o “economismo” só surgiu em 1899? Não. Em 1899 se ouviu pela
primeira vez a voz de protesto dos social-democratas russos contra o “economismo” (o
protesto contra o Credo). Porém, o “economismo” tinha aparecido em 1897, como o sabe
muito bem Rabotcheie Dielo, pois V. I., já em novembro de 1898 (Listok “Rabotnika” nº
9-10), se desfazia em elogios ao Rabotchaia Myls.
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A “teoria das fases” ou a teoria dos “tímidos zigue-zagues”, na luta política, é exposta,
65
por exemplo, do seguinte modo nesse artigo: “As reivindicações políticas, que pelo seu
caráter são comuns a toda Rússia, devem, todavia, durante os primeiros tempos” (isso foi
escrito em agosto de 1900!) “corresponder à experiência adquirida por uma determinada
camada (sic!) de operários na luta econômica. Só (!) com base nessa experiência se pode
e se deve iniciar a agitação política” etc. (p. 11). Na página 4, o autor, indignado com as
acusações, na sua avaliação completamente infundada, de heresia economista, exclama
em tom patético: “Qual é o social-democrata que ignora que, de acordo com a doutrina
de Marx e Engels, os interesses econômicos das diferentes classes desempenham um
papel decisivo na história e que, portanto (grifado por mim), a luta do proletariado pelos
seus interesses econômicos deve, em particular, ter uma importância primordial para
o seu desenvolvimento como classe e para a sua luta de emancipação?” Esse “portanto”
está completamente fora de lugar. Do fato de os interesses econômicos desempenharem
um papel decisivo não se depreende de maneira alguma a conclusão de que a luta econô-
mica (= sindical) tenha uma importância primordial, pois os interesses mais essenciais,
“decisivos”, das classes somente podem ser satisfeitos, em geral, por transformações
políticas radicais; em particular, o interesse econômico fundamental do proletariado
só pode ser satisfeito por meio de uma revolução política que substitua a ditadura da
burguesia pela ditadura do proletariado. B. Kritchevski repete o raciocínio dos “V. V.
da social-democracia russa” (a política segue a economia etc.) e dos bernsteinianos da
social-democracia alemã (por exemplo, Woltmann alegava precisamente os mesmos
argumentos para provar que os operários, antes de pensar numa revolução política,
deviam adquirir uma “força econômica”).
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[Trata-se do jornal Der Sozialdemokrat, órgão central do Partido Social-democrata da
Alemanha do período de vigência da lei de exceção contra os socialistas. Foi editado
em Zurique de 28 de setembro de 1879 a 22 de setembro de 1888, e em Londres de
1º de outubro de 1888 a janeiro de 1889 por E. Bernstein, que à época era fortemente
influenciado por F. Engels. A direção ideológica de Engels garantia a orientação mar-
xista do jornal. Com a suspensão da lei de exceção deixou de publicar-se, devolvendo
ao Vorwärts o papel de órgão central do partido.]
69
“Ein Jahr der Verwirrung” (“Um Ano de Confusão”) é o título dado por Mehring ao
capítulo da sua História da Social-democracia Alemã no qual descreve as hesitações e
indecisões manifestadas inicialmente pelos socialistas na escolha de uma “tática-plano”
correspondente às novas condições.
70
Do editorial do nº 1 do Iskra. [ver V. I. Lenin, Obras completas, 4a ed. em russo, t. 4, p. 344.]
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Também não se deve esquecer de que, ao resolver “em teoria” a questão do terror, o
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***
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III
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A fim de evitar interpretações equivocadas, fazemos notar que, na exposição que se segue,
entendemos sempre por luta econômica (segundo o uso estabelecido entre nós), a “luta
econômica prática” que Engels, na citação apresentada mais atrás, chamou “resistência
aos capitalistas” e que, nos países livres, se chama luta profissional, sindical ou trade-
-unionista.
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Dizemos “em geral” porque em Rab. Dielo se trata precisamente dos princípios gerais
e das tarefas gerais de todo o partido. Não há dúvidas de que há casos, na prática, em
que a política deve efetivamente seguir a economia, mas só os “economistas” podem
dizer isso numa resolução destinada a toda a Rússia. Pois há também casos em que, “já
desde o início mesmo”, se pode levar a cabo a agitação política “unicamente no terreno
econômico” e, não obstante, o Rab. Dielo chegou, por fim, à conclusão de que “não há
nenhuma necessidade” disso (Dois congressos, p. 11). No capítulo seguinte assinalaremos
que a tática dos “políticos” e dos revolucionários, longe de desconhecer as tarefas trade-
-unionistas da social-democracia, é, ao contrário, a única que assegura a sua realização
consequente.
77
Em 1899, com o propósito de reforçar o poder dos latifundiários sobre os camponeses,
o governo tsarista instituiu o cargo administrativo de zemski natchalnik. Os zemskie
natchalniki, designados entre os latifundiários nobres locais, tinham não só enormes
atribuições administrativas, mas também direitos judiciais sobre os camponeses, in-
cluindo o direito de os encarcerar e submeter a castigos corporais.
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[A União Geral Operária Judaica da Lituânia, Polônia e Rússia (Bund) foi organizada
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Assim se exprime literalmente a brochura Dois congressos, p. 31, 32, 28 e 30.
80
Dois congressos, p. 32.
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Rab. Dielo nº 10, p. 60. Essa é a variante martinoviana da aplicação ao atual estado caótico
81
do nosso movimento da tese “cada passo do movimento real tem mais importância do
que uma dúzia de programas”, que já caracterizamos mais atrás. No fundo, não é mais
do que a tradução russa da célebre frase de Bernstein: “O movimento é tudo, o objetivo
final não é nada”.
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P. 43: “É claro que, quando recomendamos aos operários que encaminhem ao governo
algumas reivindicações, isso se deve ao fato de que, no âmbito econômico, a autocracia
está disposta, por necessidade, a certas concessões”.
83
[Pesados pagamentos decorrentes da abolição do regime de servidão que os camponeses
deviam aos latifundiários pelos lotes de terra que recebiam, causadores de ruína e pau-
perização das massas camponesas. Durante a primeira revolução russa de 1905-1907,
o movimento camponês obrigou o governo tsarista a abolir os pagamentos a partir de
janeiro de 1907.]
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[Ver V. I. Lenin, Obras completas, 4ª ed. em russo, t. 5, p. 231-251.]
85
Rab. Myls. Suplemento Separado, p. 14.
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judiciais etc. etc. etc. Estas denúncias políticas que abarcam todos
os aspectos da vida são uma condição indispensável e fundamental
para educar a atividade revolucionária das massas.
Por que razão o operário russo ainda manifesta pouca atividade
revolucionária perante a violência brutal com que a polícia trata
o povo, a perseguição às seitas, os castigos corporais impostos aos
camponeses, os abusos da censura, os maus-tratos de que são objeto
os soldados, as perseguições das iniciativas culturais mais inofensi-
vas etc.? Não será porque a “luta econômica” não o “leva” a pensar
nisso, porque isso lhe “promete” poucos “resultados plausíveis”,
porque não lhe oferece nada de “positivo”? Não, semelhante juízo,
repetimos, não é senão uma tentativa de pôr a culpa nos outros, de
atribuir o seu próprio filisteísmo (ou seja, o seu bernsteinianismo) à
massa operária. Devemos imputar a culpa a nós próprios, ao nosso
atraso em relação ao movimento de massas, a não sabermos ainda
organizar denúncias suficientemente amplas, ressonantes e rápidas
contra todas essas infâmias. E se chegarmos a fazê-lo (e devemos e
podemos fazê-lo), o operário mais atrasado compreenderá ou sentirá
que o estudante e o membro de uma seita, o mujique e o escritor
são humilhados e menosprezados por essa mesma força tenebrosa
que tanto o oprime e o subjuga em cada passo da sua vida; e, ao
senti-lo, ele próprio quererá reagir, e o quererá movido por um
desejo incontido, e saberá então organizar uma barulheira contra
os censores, manifestar-se amanhã em frente da casa do governador
que sufocou um levante de camponeses, dar depois de amanhã
uma lição aos policiais com batina que desempenham a função da
santa inquisição etc. Até agora fizemos muito pouco, quase nada,
para lançar entre as massas operárias denúncias diversificadas e
atuais. Muitos de nós nem sequer têm ainda consciência dessa
sua obrigação e arrastam-se espontaneamente atrás da “cinzenta
luta cotidiana”, no interior dos marcos estreitos da vida fabril.
Nessas condições, dizer: “O Iskra tem tendência para subestimar
a importância da marcha ascendente da cinzenta luta cotidiana,
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[Tais acontecimentos referem-se às ações revolucionárias de massas de estudantes e de
operários – manifestações políticas, comícios e greves – de fevereiro e março de 1901,
em Petersburgo, Moscou, Kiev, Kharkov, Kazan, Tomsk e outras cidades da Rússia.]
87
[Ver V. I. Lenin, Obras Completas, 4ª ed. em russo, t. 4, p. 388-393.]
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Martinov “imagina um outro dilema, mais real (?)” (A Social-democracia e a classe
operária, p. 19): “Ou a social-democracia assume a direção imediata da luta econô-
mica do proletariado e, por isso mesmo(!), a transforma em luta revolucionária da
classe (...)” “Por isso mesmo”, quer dizer, evidentemente, pela direção imediata da luta
econômica. Que Martinov nos mostre onde já se viu que, pelo único e simples fato de
dirigir a luta sindical, se tenha conseguido transformar o movimento trade-unionista
em movimento revolucionário de classe. Não se aperceberá que, para realizar essa
“transformação”, devemos nos ocupar ativamente da “direção imediata” da agitação
política em todos os seus aspectos? (...) “Ou então essa outra perspectiva: a social-
-democracia abandona a direção da luta econômica dos operários e, com isso (...) fica
com as asas cortadas”(...). Segundo a opinião de Rab. Dielo, já citada, é o Iskra que
“abandona essa direção”. Mas, como já vimos, o Iskra faz muito mais do que Rab.
Dielo para dirigir a luta econômica e, além disso, não se limita a ela, nem restringe,
em nome dela, as suas tarefas políticas.
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Trata-se da primavera de 1901, quando começaram grandes manifestações nas ruas.
[Nota de Lenin à edição de 1907.]
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de ação para toda a democracia, como já haviam feito, em âmbito maior, Marx e Engels
em 1848.
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K. Marx e F. Engels, Manifesto do Partido Comunista, cap IV. [São Paulo,
Editora Expressão Popular, 2008.]
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[Os zemstvos eram formas de autoadministração local sob a égide da nobreza nas provín-
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cias centrais da Rússia tsarista e foram criados em 1864. A sua competência limitava-se às
questões puramente locais (organização de hospitais, construção de estradas, estatísticas
etc.). Eram controlados pelos governadores e pelo Ministério do Interior, que podiam
suspender as resoluções indesejáveis para o governo.]
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uma força política. Para chegar a ser, aos olhos do público, uma força
política faz-se necessário trabalhar muito e com obstinação para
elevar o nosso nível de consciência, o nosso espírito de iniciativa e a
nossa energia; para tanto, não basta colar o rótulo de “vanguarda”
numa teoria e numa prática de “retaguarda”.
No entanto – perguntarão, como já perguntam, os partidários
demasiadamente zelosos da “estreita ligação orgânica com a luta
proletária” –, se devemos nos encarregar de organizar denúncias
dos abusos cometidos pelo governo, direcionadas realmente a
todo o povo, em que, então, se manifestará o caráter de classe do
nosso movimento? Precisamente no fato de sermos nós, os social-
-democratas, os organizadores dessas denúncias direcionadas a
todo o povo; em que todas as questões levantadas pelo trabalho de
agitação serão esclarecidas, sistematicamente, a partir de um ponto
de vista social-democrata, sem a menor condescendência para com
as deformações, intencionais ou não, do marxismo; em que essa
ampla e abrangente agitação política será realizada por um partido
que articula, num todo indissolúvel, a ofensiva em nome de todo o
povo contra o governo, a educação revolucionária do proletariado,
salvaguardando, ao mesmo tempo, a sua independência política,
a direção da luta econômica da classe operária e a utilização dos
seus conflitos espontâneos com os seus exploradores, conflitos
que fazem levantar novas camadas do proletariado, atraindo-as
incessantemente para o nosso campo!
Mas um dos traços mais característicos do “economismo” é
precisamente não compreender essa relação; mais ainda, não com-
preender que a necessidade mais urgente do proletariado (educação
política em todos os aspectos, por meio da agitação política e das
denúncias políticas) coincide com as necessidades do movimento
democrático geral. Essa incompreensão sobressai não apenas nas
frases “à Martinov”, mas também nas diferentes passagens de signi-
ficado absolutamente idêntico, nas quais os “economistas” invocam
um pretenso ponto de vista de classe. Eis, por exemplo, como se
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[Trata-se do artigo de P. Struve “A autocracia e os zemstvos”, publicado nos nos 2 e 4
do Iskra, de fevereiro e maio de 1901. A publicação no Iskra do artigo de Struve e, na
Zaria, da “memória confidencial” de S. Witte “A autocracia e os zemstvos”, com um
prólogo de P. Struve (R.N.S.), foi possível graças ao acordo estabelecido em janeiro de
1901 entre as redações dos dois periódicos e a “oposição democrática” (Struve). Esse
acordo, finalizado por P. Axelrod e V. Zassulitch, com a ajuda de G. Plekhanov e o
voto contra de Lenin, durou pouco: na primavera de 1901, evidenciou-se a completa
impossibilidade da colaboração dos social-democratas com os democratas burgueses,
desfazendo-se o bloco com Struve.]
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[E no intervalo entre as publicações desses artigos, saiu um (Iskra nº 3) especialmente
voltado para a questão dos antagonismos de classe no campo (V. I. Lenin, Obras com-
pletas, 4ª ed. em russo, t. 4, p. 391-396.).]
100
[Ver V. I. Lenin, Obras completas, 4ª ed. em russo, t. 4, p. 388-393.]
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[Ver V. I. Lenin, Obras completas, 4ª ed. em russo, t. 4, p. 394-401.]
102
[Ibidem, t. 5, p. 78-83.]
103
[Ibidem, t. 5, p. 84-85.]
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[Ibidem, t. 5, p. 71-72.]
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Rabotcheie Dielo decidiu que essa acusação nada mais era do que
um instrumento para a polêmica. Como se dissesse: esses pro-
vocadores dogmáticos resolveram dizer-nos todas as espécies de
coisas desagradáveis, pois o que pode haver de mais desagradável
do que ser o instrumento da democracia burguesa? E publicou,
em negrito, “um desmentido”: “Calúnia não dissimulada” (Dois
congressos, p. 30), “uma mistificação” (p. 31), “uma dissimulação”
(p. 33). Como Júpiter (embora se pareça pouco com ele), o Rabo-
tcheie Dielo irrita-se precisamente porque não tem razão, e, pelas
suas injúrias irrefletidas, prova que é incapaz de seguir o fio do
pensamento dos seus adversários. E, entretanto, não é necessário
refletir muito para compreender a razão por que todo o culto da
espontaneidade do movimento de massa, todo o rebaixamento
da política social-democrata ao plano da política trade-unionista,
corresponde a preparar o terreno para fazer do movimento ope-
rário um instrumento da democracia burguesa. O movimento
operário espontâneo não pode resultar, por ele mesmo, senão no
trade-unionismo (e inevitavelmente resulta), e a política trade-
-unionista da classe operária não é mais do que a política burguesa
da classe operária. A participação da classe operária na luta polí-
tica, e mesmo na revolução política, não faz de maneira alguma
da sua política uma política social-democrata. O Rabotcheie Dielo
pensará em negar isso? Pensará, finalmente, em expor diante de
todos, sem restrições nem rodeios, a sua concepção dos problemas
candentes da social-democracia internacional e russa? Não, nun-
ca pensará em nada semelhante, porque se mantém firmemente
apegado ao recurso de “fazer-se de morto”. Não fui eu, não tenho
nada com isso. Não somos “economistas”, o Rabotchaia Mysl não
é o “economismo”, nem existe “economismo” na Rússia. Esse é
um recurso muito hábil e “político”, que tem apenas o pequeno
inconveniente de se poder atribuir o apelido de “às suas ordens”
aos órgãos da imprensa que se valem disso.
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Recorre-se aqui mesmo “às condições concretas russas que levam, fatalmente, o mo-
vimento operário para o caminho revolucionário”. Essa gente não quer entender que
o caminho revolucionário do movimento operário pode não ser o caminho social-
-democrata! Toda a burguesia do ocidente europeu, sob o absolutismo, “empurrava”,
empurrava conscientemente os operários para o caminho revolucionário. Porém, nós,
social-democratas, não podemos contentar-nos com isso. E se rebaixamos, de um modo
ou de outro, a política social-democrata ao plano da política espontânea, da política
trade-unionista, fazemos assim justamente o jogo da democracia burguesa.
107
[Notícias de São Petersburgo: jornal editado em Petersburgo desde 1728, como con-
tinuação do primeiro jornal russo, Vedomosti, que começou a circular em 1703. De
1728 a 1874, foi editado pela Academia das Ciências e, desde 1875, pelo Ministério
da Instrução Pública. Saiu até fins de 1917.]
108
[Notícias da Rússia: jornal editado em Moscou, a partir de 1863, pelos intelectuais liberais
moderados. Nos anos 1880 e 1890 colaboraram nele escritores do campo democrático (V.
Korolenko, M. Saltikov-Chtchedrine, G. Uspenski e outros) e foram publicados artigos
dos populistas liberais. A partir de 1905, o jornal foi o órgão da ala direita do partido
democrata-constitucionalista. Lenin assinalou que o jornal combinava de maneira original
“a democracia constitucionalista de direita com um matiz de populismo”. Em 1918, o
periódico foi suspenso juntamente com outros jornais contrarrevolucionários.]
109
[“Brentanismo”: doutrina liberal burguesa que defende a possibilidade de resolver a ques-
tão operária nos marcos do capitalismo, pela via da legislação industrial e da organização
dos operários em sindicatos. Deve a denominação a L. Brentano, um dos principais
representantes da escola do socialismo de cátedra na economia política burguesa.]
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IV
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primavera de 1899, foi integrado por alguns operários e intelectuais, mas não manteve
uma ligação estreita com o movimento operário de Petersburgo e pouco depois, após
a prisão de quase todos os seus membros no verão daquele ano, foi liquidado. Suas
perspectivas eram próximas ao “economismo”.]
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que desde o início não só exortamos à agitação política, sem esperar que
surgisse o Iskra [dizendo, então, que não se deve atribuir nem aos círculos e
“nem ao movimento operário de massa, como primeira tarefa, a derrubada
do absolutismo”, mas tão somente a luta pelas reivindicações políticas ime-
diatas, e que “as reivindicações políticas imediatas só se tornam acessíveis às
massas após uma ou, em todo caso, inúmeras greves”] e também por meio
de nossas publicações editadas no estrangeiro que possibilitaram aos ca-
maradas atuantes na Rússia os únicos materiais de agitação política social-
-democrata [e, apenas com esse material, puseram em prática uma ampla
agitação política no terreno da luta meramente econômica, concluindo,
enfim, que essa agitação limitada pode ser “realizada mais amplamente”.
E os senhores não perceberam que a sua argumentação prova justamente
a necessidade do aparecimento do Iskra – dado o caráter desses materiais
únicos – e a necessidade de o Iskra lutar contra o Rabotcheie Dielo?].
Por outro lado, a nossa atividade editorial preparou efetivamente a unidade
tática do partido [a unidade em conceber que a tática é um processo de
crescimento das tarefas do partido, que crescem ao mesmo tempo que
este? Corajosa unidade!] e, por isso mesmo, tornava possível criar “uma
organização de combate”, para cuja formação a União fez tudo o que era
acessível a uma organização residente no estrangeiro (R. D. nº 10, p. 15).
Vã tentativa para se livrar do embaraço! Não posso negar que
tenham feito tudo o que lhes era acessível. O que afirmei e ainda
afirmo é que os limites do que lhes é “acessível” se estreitam pela
miopia de suas concepções. É ridículo falar de “organização de
combate” para lutar por “reivindicações políticas imediatas” ou
para “a luta econômica contra os patrões e o governo”.
Mas se o leitor quiser ver as pérolas da paixão “economista” pelo
trabalho artesanal terá de ir além do eclético e vacilante Rabotcheie
Dielo para o consequente e decidido Rabotchaia Myls.
Duas palavras agora sobre a chamada intelectualidade revolucionária –
escrevia R. M. no Suplemento especial, p. 13 – provaram, é verdade, e mais
de uma vez, que está disposta a integrar a luta decisiva contra o tsarismo. O
mal reside unicamente no fato de que, perseguida sem tréguas pela polícia
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massa tão ampla como a que participa nas greves. Essa luta deve
ser organizada por pessoas que tenham como profissão a atividade
revolucionária, “segundo todas as regras da arte”. E o fato de as
massas, espontaneamente, terem se integrado ao movimento não
torna menos necessária a organização dessa luta. Ao contrário, a
organização torna-se mais necessária, já que nós, os socialistas, fi-
caríamos em falta com o nosso primeiro dever para com as massas
se não soubéssemos impedir a polícia de tornar secreta (e se, por
vezes, nós mesmos não preparássemos secretamente) uma greve
ou uma manifestação qualquer. E saberemos agir dessa maneira
justamente porque as massas que despertam espontaneamente des-
tacarão também do seu seio um número crescente de “revolucionários
profissionais” (desde que não nos ocorra convidar os operários a
continuar marcando passo).
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[Expressão do marxismo legal, corrente surgida nos anos de 1890 no seio da intelectua-
lidade liberal burguesa da Rússia que teve Struve como um dos seus representantes (cf.
supra nota 9).]
119
[Afanassi Ivanovitch e Pulkheria Ivanovna: família patriarcal de pequenos proprietários
rurais, descrita na novela Os proprietários de outrora, do escritor russo N. V. Gogol.].
120
A luta do Iskra contra o joio provocou uma resposta indignada por parte do Rab. Dielo:
“Para o Iskra, ao contrário, esses importantes acontecimentos (os da primavera) são menos
expressivos do seu tempo do que as miseráveis tentativas dos agentes de Zubatov no intuito
de “legalizar” o movimento operário. Não percebe que tais fatos falam precisamente
contra si e comprovam que o movimento adquiriu, na ótica do governo, proporções muito
ameaçadoras” (Dois congressos, p. 27). A culpa de tudo isso é do “dogmatismo” desses
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[Personagem popular de que derivou a expressão “política de Gribouille”, que denota
uma ação que acaba resultando justamente naquilo que se quer evitar. Da obra La soeur
de Gribouille, de Sophie Feodorovna Rostopchin (Condessa de Ségur), escritora russa
de literatura infantil (1799/São Petersburgo – 1874/Paris).]
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Somente assinalamos aqui que tudo o que dissemos em relação ao “estímulo de fora” e a
todos os demais raciocínios de Svoboda sobre a organização se refere inteiramente a todos
os “economistas”, incluindo os partidários do Rabotcheie Dielo, porque preconizaram e
apoiaram ativamente esses mesmos pontos de vista acerca dos problemas de organização
ou porque se desviaram na sua direção.
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Essa expressão seria talvez mais correta que a anterior, no que se refere ao Svoboda, porque
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Entre os militares, por exemplo, tem se observado recentemente uma indiscutível revi-
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Svoboda nº 1, artigo “A organização” (p. 66): “A massa operária apoiará com todo o seu
peso todas as reivindicações que forem formuladas em nome do Trabalho na Rússia.”
(Não podia deixar de ser! Trabalho com maiúscula!). E o mesmo autor exclama: “Não
sinto nenhuma hostilidade pelos intelectuais, mas” [...] [é este o mas que Chtchedrine
traduziu pelo ditado: as orelhas não crescem mais alto do que a testa!] [...] “mas fico
terrivelmente furioso quando uma pessoa me vem dizer uma série de coisas muito boas
e muito bonitas, e exige que as aceite pela sua [dele!] beleza e outros méritos” (p. 62).
Sim, também eu “fico terrivelmente furioso”...
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os alemães: têm cem vezes mais forças que nós, mas compreendem
perfeitamente que os operários “médios” não fornecem com muita
frequência agitadores verdadeiramente capazes etc. Por isso, tratam
de colocar imediatamente todo operário capaz em condições que
lhe permitam desenvolver a fundo e aplicar plenamente as suas
aptidões; fazem dele um agitador profissional, encorajam-no a
alargar o seu campo de ação, a estendê-lo de uma única fábrica
a toda a profissão, de uma única localidade a todo o país. Assim,
adquire a experiência e a habilidade na sua profissão; alarga os
seus horizontes e os seus conhecimentos, observa de perto os
dirigentes políticos eminentes de outras localidades e de outros
partidos; esforça-se por elevar-se ao plano de tais dirigentes e
aliar o conhecimento do meio operário e o vigor das convicções
socialistas à competência profissional, sem a qual o proletariado
não pode travar uma luta tenaz contra um inimigo perfeitamente
treinado. É assim, e só assim, que surgem os Bebel e os Auer128
da massa operária. Mas o que num país politicamente livre se faz
em grande parte por si só, entre nós deve ser realizado sistemati-
camente pelas nossas organizações. Todo agitador operário que
tenha algum talento e que seja uma “promessa”, não deve trabalhar
11 horas na fábrica. Devemos cuidar para que viva por conta do
partido e possa, no momento preciso, passar à ação clandestina,
mudar de localidade, pois de outro modo não adquirirá grande
experiência, não alargará os seus horizontes, não se poderá man-
ter sequer por alguns anos na luta contra a polícia. Quanto mais
ampla e profunda se tornar a ascensão espontânea das massas
operárias, mais se destacarão não só os agitadores com talento,
como também os organizadores e propagandistas e militantes
“práticos” mais dotados; “práticos” no melhor sentido da palavra
(que são tão escassos entre os nossos intelectuais, em sua maioria
apáticos e desatentos à maneira russa). Quando tivermos desta-
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[Auer, Ignaz (1846-1907): importante personalidade da social-democracia alemã.]
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[Organização secreta dos populistas revolucionários, fundada em Petersburgo no
outono de 1876. Os Zemlevoltsi (membros da “Terra e Liberdade”), considerando os
camponeses a força revolucionária fundamental da Rússia, procuraram sublevá-los
contra o tsarismo; realizaram um trabalho revolucionário em diversas províncias da
Rússia: Tambov, Voronej e outras. Devido ao fracasso do trabalho revolucionário entre
os camponeses e à violência da repressão governamental, surgiu, em 1879, no seio da
Zemlia i Volia, uma facção de terroristas que renunciaram à propaganda revolucionária
entre os camponeses e consideraram que o principal meio de luta contra o tsarismo era
o terror contra os membros do governo. No congresso realizado naquele ano, em Voro-
nej, a Zemlia i Volia dividiu-se em duas organizações: Narodnaia Volia, que se lançou
na via do terror, e Tcherny Perediel, que permaneceu nas posições da Zemlia i Volia.
Mais tarde, uma parte dos partidários dessa última – Plekhanov, Axelrod, Zassulitch,
Deutsch, Ignatov – passaram às posições do marxismo e, em 1883, no exterior, criaram
a primeira organização russa marxista, o grupo Osvobojdenie Truda (Emancipação do
Trabalho).]
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Cf. As tarefas dos social-democratas russos, p. 21, a polêmica com P. L. Lavrov [Cf. V. I.
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Cf. As tarefas dos social-democratas russos, p. 23 [Cf. V. I. Lenin, Obras completas, 4ª ed.
em russo, t. 2, p. 318]. Eis aqui mais um exemplo de que Rab. Dielo ou não compreende
o que diz ou muda o que diz conforme a “direção dos ventos”. No nº 1 de Rab. Dielo
diz-se, em itálico: “A essência da brochura que acabamos de expor coincide plenamente com
o programa da redação de Rab. Dielo” (p. 142). Será verdade? A ideia de que não se pode
pôr como primeira tarefa ao movimento de massas a derrubada da autocracia coincide
com As tarefas? A teoria da “luta econômica contra os patrões e o governo” também
coincide? E a teoria dos estágios, também? Que o leitor julgue a firmeza de princípios
de um órgão que compreende a “coincidência” tão originalmente.
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A dificuldade é só aparente. Na verdade, não há círculo local que não seja capaz de operar
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ativamente qualquer uma das funções do trabalho em escala nacional. “Não diga que
não pode, mas sim que não quer”.
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Por isso é que o exemplo de excepcionais órgãos locais confirma inteiramente o nosso
135
ponto de vista. Veja-se o Iujni Robotchi, excelente jornal que não pode ser acusado de
instabilidade de princípios. Porém, como sai raramente, torna-se alvo frequente de ações
policiais, não conseguindo dar tudo o que pretende ao movimento local. O que está
na ordem do dia para o Partido – colocar, inicialmente, os problemas fundamentais do
movimento e desenvolver agitações políticas em todos os sentidos – é superior às forças
de um órgão local. E o que de melhor trouxe – como os artigos sobre o Congresso dos
industriais mineiros, sobre o desemprego etc. –, não eram materiais de natureza estrita-
mente local, mas necessários para toda a Rússia, e não só para o Sul. Em toda a imprensa
social-democrata não aparecem artigos como esses. [Iujni Rabotchi (O Operário do
Sul): jornal social-democrata, editado clandestinamente pelo grupo do mesmo nome,
de janeiro de 1900 a abril de 1903; foram publicados 12 números. O Iujni Rabotchi
manifestou-se contra o “economismo” e o terrorismo e defendeu a necessidade do
desenvolvimento do movimento revolucionário de massas.]
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***
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grande fábrica em que trabalhava. O fato é que, com grande dificuldade, consegui mais
ou menos compor a descrição (de apenas uma fábrica!). Mas ocorria que, por vezes, o
operário, limpando o suor, sorria e dizia ao fim: “É-me mais fácil trabalhar por longas
jornadas do que responder às suas perguntas!”.
Quanto maior for a vitalidade do desenvolvimento da nossa luta revolucionária, mais o
governo será obrigado a legalizar parte do trabalho “sindical”, reduzindo assim o peso
que recai sobre nós.
[Nesta nota, Lenin se refere ao documento “Questionário sobre a situação da classe
operária na Rússia” (1898) e à brochura “Questionário para reunir dados sobre a situa
ção da classe operária na Rússia” (1899), publicados por Rabotchaia Mysl. O primeiro
continha 17 perguntas e o segundo 158 sobre as condições de trabalho e de vida dos
operários.]
137
[O movimento grevista de 1885 atingiu muitas empresas da indústria têxtil das provín-
cias de Vladimir, Moscou, Tver e outras do centro industrial da Rússia. A mais famosa
foi a greve dos operários da Nikolskaia Manufatura, de Savva Morozov, realizada em
Orekhovo-Zuieco, em janeiro de 1885. As reivindicações principais incidiam sobre
redução das multas, regulamentação das condições de contratação do trabalho assala-
riado etc. Dirigiram a greve os operários avançados P. A. Moisseienko, L. Ivanov e V. S.
Volkov. A greve na fábrica de Morozov, em que participaram cerca de 8 mil operários,
foi reprimida pela tropa. Trinta e três grevistas foram entregues aos tribunais e mais
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V
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seguinte nota: “Na presente edição suprime-se o item ‘a’ Quem se ofendeu com o artigo ‘Por
onde começar?’, uma vez que contém unicamente uma polêmica com Rab. Dielo e o Bund
sobre das tentativas do Iskra para ‘mandar’ etc. Nesse item, entre outras coisas, afirmava-
-se que o próprio Bund havia convidado (em 1898-1899) os membros do Iskra a retomar
a publicação do Órgão Central do partido e organizar um ‘laboratório de literatura’.”]
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uma vez por todas a competir com gente desse naipe no campo da
“democracia”. Quanto ao leitor não iniciado em todos os assuntos
do partido, o único meio de cumprir o nosso dever é contar não
o que existe ou o que se encontra im Werden [em processo de for-
mação, de surgimento – alemão], mas uma pequena parte do que
se passou, sobre a qual já se pode falar porque é passado.
O Bund alude à nossa “impostura”140; a “União” no exterior
acusa-nos de querer apagar as marcas do Partido. Calma, senhores!
Terão plena satisfação quando expusermos ao público quatro fatos
extraídos do passado.
Primeiro fato141. Os integrantes de uma das “Uniões de luta”, que
tiveram participação direta na formação do nosso Partido e no envio
de um delegado ao congresso que fundou o Partido, entenderam-se
com um dos integrantes do grupo Iskra para criar uma biblioteca
operária especial, com o objetivo de atender às necessidades de todo
o movimento. Não se consegue criar uma biblioteca operária e as
brochuras escritas para ela, “As Tarefas dos Social-democratas Rus-
sos” e “A Nova Lei das Fábricas”,142 vão parar no exterior por meios
indiretos e através de terceiros, onde foram publicadas.
Segundo fato. Os integrantes do Comitê Central do Bund
propõem a um dos integrantes do grupo Iskra a montagem do que
o Bund denominou “laboratório de literatura”, sinalizando que se
o projeto não fosse executado o nosso movimento poderia sofrer
um recuo considerável. A brochura intitulada “A causa operária
na Rússia”143 foi o resultado dessas negociações.
140
Iskra nº 8, resposta do Comitê Central da União Geral dos Operários Judaicos da Rússia
e da Polônia ao nosso artigo sobre a questão nacional.
141
Deliberadamente, os fatos não serão aqui apresentados pela ordem cronológica de seus
acontecimentos. [Lenin faz esta nota com a finalidade de confundir a repressão. Os fatos
mencionados seguem precisamente a mesma ordem em que tiveram lugar na realidade.]
142
[Ver Lenin, Obras completas, 4ª ed. em russo, t. 2, p. 299-326.]
143
O autor dessa brochura, diga-se de passagem, pediu-me tornar público que, tal como se
deu com suas brochuras anteriores, esta também foi enviada para a “União”, supondo
que o grupo “Emancipação do Trabalho” faria as suas publicações (circunstâncias
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especiais não lhe permitiram conhecer, a essa época, ou seja, em fevereiro de 1899,
a mudança da redação). A brochura será reeditada em breve pela Liga. [Trata-se da
“Liga da Social-Democracia Revolucionária Russa no Exterior”, fundada por V. I.
Lenin em outubro de 1901. A Liga era formada pela seção estrangeira da organização
do Iskra, e pela organização revolucionária Sotsial-Demokrat, da qual fazia parte o
grupo “Emancipação do Trabalho”. A tarefa da Liga consistia em difundir as ideias
da social-democracia revolucionária e contribuir para a fundação de uma organização
social-democrata de combate. A Liga (de acordo com os seus Estatutos) representava
a seção da organização do Iskra no estrangeiro. A partir do II Congresso do POSDR,
os mencheviques passaram a disputar espaços na Liga e empreenderam a luta contra
Lenin e contra o bolchevismo. No II Congresso da Liga, em outubro de 1903, apro-
varam os seus novos estatutos dirigidos contra os estatutos do Partido adotados pelo
II Congresso do POSDR. A partir daquela data, a Liga passou a ser o baluarte do
menchevismo. Existiu até 1905.]
144
[Ver Lenin, Obras completas, 4ª ed. em russo, t. 4, p. 190-194, 195-200 e 201-206.]
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nosso trabalho deu-se, sobretudo, entre os operários instruídos, uma vez que
as massas se empenharam quase que exclusivamente na luta econômica. Se
as fortes organizações políticas locais não forem bem educadas, que valor teria
um jornal para toda a Rússia, mesmo que fosse perfeitamente organizado? Um
arbusto em chamas que arde sem se consumir, mas que não transmite seu
fogo a ninguém! Crê o Iskra que ao redor desse jornal e na dedicação a ele
o povo se concentrará e se organizará. No entanto, é muito mais fácil que a
concentração e a organização se dê em torno de um trabalho mais concreto!
Tal trabalho pode e deve se constituir na criação de jornais locais em grande
escala, na preparação imediata das forças operárias para manifestações; as
organizações locais devem efetuar uma ação constante entre desempregados
(difundir incessantemente entre eles folhas volantes e panfletos, convocando-
-os para reuniões, exortando-os à resistência ao governo etc.) É preciso iniciar
localmente um trabalho político vivo e, quando surgir a necessidade da união
nessa base real, a união não será artificial e não ficará no papel. Não será com
jornais que se conseguirá essa unificação do trabalho local em um trabalho
comum para toda a Rússia! (“Às vésperas da revolução”, p. 54).
Destacamos nessa passagem eloquente os trechos que permitem
melhor apreciar tanto a opinião equivocada que o autor tem do
nosso plano quanto, em geral, o falso ponto de vista que ele opõe
ao Iskra. Se não se educam as fortes organizações políticas locais, de
nada serviria à Rússia o melhor jornal que pudesse ser feito. Isso é
inteiramente correto. De fato, não há outro meio para educar pessoas
para formar organizações políticas fortes senão um jornal para toda
a Rússia. O autor não notou a declaração mais relevante do Iskra,
feita antes de passar à exposição do seu “plano”, de que seria necessário
[...] apelar à construção de uma organização revolucionária capaz de reu-
nir todas as forças e de dirigir o movimento, não apenas de uma maneira
nominal, capaz também de ser uma organização sempre disposta a apoiar
cada protesto e cada explosão, aproveitando-os para aumentar e fortalecer
as forças de combate prontas para a batalha decisiva.
Após os acontecimentos de fevereiro e de março, continua o Iskra,
todos, em princípio, estarão de acordo com isso; o que necessitamos
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145
[Tropas irregulares turcas conhecidas especialmente pela sua brutalidade.]
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146
Camarada Kritchevski e camarada Martinov! Chamo a vossa atenção para esta escanda-
losa manifestação de “absolutismo”, de “autoridade sem controle”, de “regulamentação
suprema” etc. Olhai: quer se apropriar de toda a cadeia! Apressai-vos a apresentar a
queixa. Já tendes um tema para dois artigos de fundo no nº 12 de Rabotcheie Dielo.
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Martinov, ao inserir em Rab. Dielo a primeira frase desta citação (nº 10, p. 62), omite
justamente a segunda, evidenciando assim que não queria abordar a essência da questão
ou que era incapaz de compreendê-la.
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Com uma reserva: desde que simpatize com a linha desse jornal e que considere útil à
causa colaborar com ele, compreendendo aí não só a colaboração literária, mas também
a revolucionária em geral. Nota para Rabotcheie Dielo: essa reserva subentende-se para
os revolucionários que apreciam o trabalho e não a brincadeira de democracia, em que
não se separam as “simpatias” da participação mais ativa e verdadeira.
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149
[V. I. Lenin cita o artigo de D. I. Pissarev “Erros de um pensamento imaturo”.]
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[Listok Rabotchego Diela (Folha de A Causa Operária): suplemento não periódico do
Rabotcheie Dielo, editado em Genebra de junho de 1990 a julho de 1991. Foram publi-
cados oito números.]
151
[Vetche: assembleia popular na antiga Rússia, convocada pelo toque dos sinos.]
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L. Nadejdine, diga-se de passagem, na sua “revista de questões teóricas”, não diz quase
154
nada acerca das questões teóricas, à exceção do seguinte trecho, muito curioso do
“ponto de vista de vésperas de revolução”: “a bernsteiniada como um todo perde nesse
momento seu rigor, tanto faz que o sr. Adamovitch demonstre que o sr. Struve deve pedir
demissão ou que, ao contrário, o segundo desminta o primeiro e não acate a demissão.
É indiferente para nós porque soou a hora decisiva da revolução” (p. 110). Seria im-
possível descrever com maior clareza a desconsideração infinita que L. Nadejdine sente
pela teoria. Como proclamamos que estamos em “vésperas de revolução”, “tanto faz”,
por isso, que os ortodoxos consigam ou não afastar definitivamente os críticos das suas
posições!! E o nosso sábio não nota que precisamente durante a revolução sentiremos
falta dos resultados da luta teórica contra os críticos para lutar decididamente contra as
suas posições práticas!
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Que fazer ? Problemas candentes do nosso movimento
155
[Em novembro e dezembro de 1901, a Rússia foi sacudida por uma onda de manifes-
tações estudantis apoiadas pelos operários. Informações sobre as manifestações em
Nijni-Novgorod (acerca da proibição de uma visita de M. Gorki), em Moscou (para
protestar contra a proibição de uma sessão em memória de N. Dobroliubov), em Eka-
terinoslav, e sobre as reuniões e movimentações estudantis em Kiev, Kharkov, Moscou,
Petersburgo foram publicadas no Iskra nº 13, de 20 de dezembro de 1901, e no nº 14,
de 1º de janeiro de 1902, na seção “Nossa vida social”; os artigos de Lenin, “O começo
das manifestações” (Iskra nº 13), e de G. Plekhanov, “Sobre as manifestações” (Iskra
nº 14), também foram dedicados a esses eventos.]
156
Iskra nº 4: “Por onde começar?”. “Um trabalho prolongado não assusta os educadores
revolucionários que não partilham o ponto de vista de vésperas de revolução”, diz Na-
dejdine (p. 62). A pretexto disso, fazemos a seguinte observação: se não formos capazes
de preparar uma tática política e um plano de organização infalivelmente orientado para
um trabalho extremamente prolongado e que garantam, ao mesmo tempo, pelo próprio
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desenvolvimento desse trabalho, a preparação do nosso partido para ocupar seu espaço e
cumprir o seu dever em quaisquer circunstâncias imprevistas, por mais que se precipi-
tem os acontecimentos, simplesmente não passaremos de uns miseráveis aventureiros
políticos. Só Nadejdine, que desde ontem passou a se intitular social-democrata, pode
esquecer que a social-democracia tem como objetivo a transformação radical das condi-
ções de vida de toda a humanidade e, por isso, é imperdoável que um social-democrata
se “assuste” com o trabalho prolongado.
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[Janízaros: infantaria regular na Turquia dos sultões, criada no século XIV. Era a prin-
cipal força policial do regime dos sultões e distinguia-se pela sua grande crueldade.]
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Ora, ora, escapou-me uma vez mais a terrível palavra “agente”, que tanto fere os ou-
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vidos democráticos dos Martinov! É estranho que não tenha incomodado os corifeus
da década de 1870 e que, ao contrário, incomode os artesãos da década de 1890. Essa
palavra me agrada porque demonstra de modo claro e preciso a causa comum a que todos
os agentes subordinam-se, seus pensamentos e seus atos, e ,se houvesse a necessidade de
substituí-la por outra, só escolheria a palavra “colaborador”, se ela não sugerisse certo
sabor literato e vago. Pois o que necessitamos é de uma organização militar de agentes.
Digamos, de passagem, que os numerosos Martinov (sobretudo no exterior), que gostam
de “se promoverem reciprocamente a general”, poderiam dizer em lugar de “agente do
serviço de passaportes”, “comandante chefe da unidade especial destinada a fornecer
passaportes aos revolucionários” etc.
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CONCLUSÃO
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Que fazer ? Problemas candentes do nosso movimento
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Poderia responder usando um provérbio alemão: Den Sack schlägt man, den Esel meint
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man (bate-se na albarda a pensar no burro). Não só Rab. Dielo, mas a grande massa dos
militantes práticos e dos teóricos entusiasmavam-se com a “crítica” em voga, enredavam-se
na questão da espontaneidade, desviavam-se da concepção social-democrata das nossas
tarefas políticas e de organização para a concepção trade-unionista.
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SUPLEMENTO
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[Ver V. I. Lenin, Obras completas, em russo, t. 4, p. 384-385.]
161
BSI: Órgão permanente, informativo e executivo, da II Internacional Socialista. No
Congresso de Paris da II Internacional (setembro de 1900) decidiu-se por sua criação,
constituído por representantes de partidos socialistas de todos os países. Plekhanov e
Kritchevski foram escolhidos para representar os social-democratas russos. A partir de
1905, o representante do POSDR no BSI foi Lenin. [Dissolveu-se em 1914.]
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164
[Ver V. I. Lenin, Obras completas, 4ª ed. em russo, t. 5, p. 1-12.]
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[Lenin refere-se ao grupo social-democrata no exterior Borba (A Luta), surgido no
verão de 1900, em Paris, conhecido a partir de maio de 1901 como “Grupo Borba”.
O grupo buscou reconciliar os revolucionários e os oportunistas da social-democracia
russa, tomando a iniciativa de convocar a Conferência de Genebra (junho de 1901) dos
representantes das organizações social-democratas no exterior – as redações do Iskra
e da Zaria, a Sotsial-Demokrat, o Bund e a União dos Social-democratas russos. Teve
participação nos trabalhos dos congressos “de unificação” (outubro de 1901). Não
foi admitido no II Congresso do POSDR por seu afastamento da orientação social-
-democrata, por suas ações desagregadoras e pela falta de relações com as organizações
social-democratas da Rússia, dissolvendo-se nessa ocasião.]
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Essa afirmação foi retomada em Dois congressos, p. 25.
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Qual seja: na introdução às resoluções de junho dissemos que a social-democracia russa
em seu conjunto manteve sempre a linha de princípios do grupo “Emancipação do Tra-
balho” e que o mérito da “União” situava-se, sobretudo, no seu trabalho no campo das
publicações e da organização. Em outros termos, dissemos que estávamos inteiramente
dispostos a esquecer o passado e a reconhecer que a dedicação de nossos camaradas da
“União” era útil à causa, com a condição de acabarem por completo com as vacilações,
justamente o que perseguíamos com a “caça”. Qualquer pessoa “imparcial” que for ler
as resoluções de junho só poderá compreendê-las nesse sentido. No entanto, se agora a
“União”, depois de ter provocado ela mesma a ruptura, com sua nova mudança para o
“economismo” (nos artigos do nº 10 e nas emendas), acusa-nos solenemente de faltar à
verdade (Dois congressos, p. 30) por essas palavras sobre os seus méritos, essa acusação
não pode provocar outra coisa senão um sorriso.
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No Vorwärts se iniciou uma polêmica a esse respeito entre sua redação atual, Kautsky e
Zaria. Não deixaremos de torná-la conhecida aos leitores russos. [No nº 18 do Iskra (10
de março de 1902), na seção “Do Partido”, foi publicada a nota “A polêmica da ‘Zaria’
com a redação do ‘Vorwärts’”, onde se expôs o ponto de vista da redação do Iskra e da
Zaria sobre essa polêmica.]
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EMENDA A QUE FAZER?
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Lenin,
Iskra nº 19, 1 de abril de 1902.
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ANEXO
APRESENTAÇÃO *
Texto originalmente escrito como apresentação ao livro Que fazer?, Editora Hucitec,
*
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Apresentação
Haveria muito que debater sobre este pequeno livro e seu signi-
ficado no movimento socialista revolucionário. Não obstante, seria
fora de propósito ornamentar Que fazer? com qualquer pretenso co-
mentário erudito. Os seus leitores podem ressentir-se da precisão de
Marx, por exemplo, nos comentários rigorosos à “Crítica do Programa
de Gotha”. No entanto, Que fazer? introduz no marxismo uma nova
dimensão política. Na verdade, ele é uma resultante de um acidentado,
heroico e construtivo labor coletivo: o que várias tendências do popu-
lismo, do radicalismo e do socialismo criaram na Rússia dos meados
do século XIX à sua última década. Uma experiência filtrada por
Lenin e amadurecida por sua penetrante acuidade à contribuição do
movimento socialista europeu, especialmente na Alemanha, França
e Inglaterra. Não se pode ignorar figuras como Plekhanov, Axerold
e Zasulitich (além de outros companheiros do Iskra e da ala esquerda
do POSDR), cuja produção teórica e visão dos problemas práticos
do marxismo na Rússia alimentaram a aprendizagem e os primeiros
tirocínios de Lenin. Todavia, ele os suplanta com uma rapidez incrível.
Que fazer? marca uma nova etapa, que deixa tudo para trás. De sua
edição em diante, a Rússia não seria o cenário da transmutação pura
e simples do marxismo em movimento revolucionário triunfante.
Nascia o marxismo-leninismo como teoria revolucionária e como
prática revolucionária organizada. A própria Europa ficava para trás,
apesar da importância da Segunda Internacional e dos seus grandes
teóricos, e da densidade do movimento operário europeu.
Neste breve comentário, gostaria de concentrar-me em três
questões mais importantes para os leitores brasileiros no momento
atual. A primeira diz respeito ao próprio Lenin: porque ele já estava
politicamente qualificado para escrever uma obra tão simples mas
de consequências tão profundas e permanentes? A segunda impõe-
-se como decorrência: o que representa a concepção do marxismo
que Que fazer? propõe? A terceira vincula-se ao aqui e ao agora: o
que um livro como este testemunha quanto à nossa própria ima-
turidade e impotência políticas no Brasil e na América Latina?
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