CELULAR
Introdução
Neste capítulo, você vai aprender sobre a estrutura, as funções e a cons-
tituição química das células. A célula é a unidade básica de todos os
seres vivos, podendo existir isoladamente (em organismos unicelulares)
ou em conjunto (organismos pluricelulares ou multicelulares), podendo
constituir, inclusive, tecidos complexos, órgãos e sistemas. Além disso, cabe
à célula produzir material extracelular, de constituição química variável,
e que também dá as características ao tecido — a matriz extracelular.
Você também aprenderá quais são as principais funções da membrana
plasmática, como ela está organizada e a sua composição química, além
de reconhecer as suas principais propriedades e sua importância.
Nas células eucarióticas (à exceção dos eritrócitos humanos), são organelas membra-
nares: carioteca, retículos endoplasmáticos liso e rugoso, aparelho de Golgi e vesículas
diversas. A mitocôndria é uma organela que tem dupla membrana, a interna e a externa,
sendo que a primeira apresenta dobramentos, denominados cristas mitocondriais.
(a)
(b)
Figura 1. Estrutura trilaminar de uma unidade de membrana celular. (a) Imagens de mi-
croscopia eletrônica de transmissão mostram, à esquerda, a membrana plasmática de duas
células vizinhas, separadas pelo espaço extracelular. À direita, está a unidade de membrana
de cada célula. Observe que a estrutura da bicamada lipídica fica evidenciada pela presença
de duas linhas densas (região hidrofílica dos fosfolipídios), separadas por uma linha clara
(região hidrofóbica, constituída pelas cadeias de ácidos graxos dos fosfolipídios). (b) Esquema
3D ilustrativo da unidade de membrana — regiões hidrofílica e hidrofóbica.
Fonte: Adaptada de (a) de Bioninja ([201-?]); (b) luminance studio/Shutterstock.com.
4 Estrutura da membrana plasmática
Lipídios
Os lipídios mais frequentes nas membranas plasmáticas são os fosfolipídios
(Figura 2a), o olesterol (Figura 2b) e, além deles, existem também os gli-
colipídios (lipídios associados a carboidratos, associados ou não a radicais
fosfato) (Figura 2c).
Proteínas
A atividade metabólica das membranas plasmáticas é dependente das proteínas
que participam da sua formação. Elas podem ser classificadas em dois grandes
grupos: as proteínas integrais (ou intrínsecas) e as proteínas periféricas
(ou extrínsecas) (Figuras 2c e 3). As primeiras estão firmemente aderidas à
membrana plasmática, compondo parte de ambas monocamadas lipídicas, e
correspondem a cerca de 70% das proteínas de membrana. Aquelas proteínas
integrais que atravessam toda a unidade de membrana, fazendo contato do meio
extracelular com o citoplasma, são chamadas de proteínas transmembrana,
que podem atravessar a membrana uma única vez (unipasso) ou várias vezes.
Nesse último caso, são chamadas de proteínas transmembrana de passagem
múltipla (ou multipasso). As proteínas periféricas, ao contrário, se prendem às
superfícies externas da membrana, compondo apenas uma das monocamadas
lipídicas (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012).
6 Estrutura da membrana plasmática
(a)
Colina (polar)
Cabeça hidrofílica
Grupamento
fosfato
Polar
(b)
Glicerol
Ácido
graxo
Cauda hidrofóbica
Apolar (hidrocarbonetos)
saturado
Ácido
graxo
insaturado
Proteína
transmembrana Fosfolipídio
Proteína periférica
Figura 2. (a) Estrutura geral de um fosfolipídio. (b) Estrutura química de uma molécula de
colesterol. (c) Bicamada lipídica da membrana plasmática, com suas proteínas e cadeias de
carboidrato associadas a proteínas ou lipídios na monocamada externa da membrana. As
faces hidrofílicas (círculos amarelos) interagem com o espaço extracelular e o citoplasma,
ambos aquosos (caráter polar); as cadeias hidrofóbicas ficam voltadas para dentro da
membrana.
Fonte: Adaptada de (a) struna/Shutterstock.com; (b) Alila Medical Media/Shutterstock.com; (c) Jamilia
Marini/Shutterstock.com.
Estrutura da membrana plasmática 7
Proteína
transmembrana
multipasso
Membrana
celular
Proteína
transmembrana Proteína Proteína ancorada
unipasso periférica a lipídio
Figura 3. Proteínas integral (unipasso e multipasso) e periférica de membrana. Observe
que há a representação de uma proteína periférica que está ancorada em um lipídio da
monocamada da membrana.
Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com.
Figura 4. Três classes de proteínas transportadoras de membrana: (a) canais, (b) carreadoras
e (c) bombas. Proteínas canais e carreadoras podem mediar o transporte passivo de soluto
pela membrana (por difusão simples ou difusão facilitada) a favor do gradiente de soluto
e potencial eletroquímico.
Fonte: Colodete (2013, documento on-line).
Figura 5. Mecanismos para o transporte de moléculas mediado por proteínas através das
membranas biológicas — simporte, uniporte e antiporte.
Fonte: Adaptada de Gungner/Shutterstock.com.
https://qrgo.page.link/exe6C
% total de fosfolipídios
Monocamada interna Monocamada externa
Fosfatidilserina
Fosfatidiletanolamina
Fosfatidilcolina
Esfingomielina
Glicocálice
A superfície externa da membrana plasmática apresenta uma região rica
em carboidratos ligados a proteínas ou a lipídios, denominada glicocálice.
O glicocálice é uma “extensão” da própria membrana — ele não é uma camada
separada. Ele é composto por moléculas produzidas e secretadas pela própria
célula e é constituído pelos glicídios ancorados à monocamada externa da
membrana, pelas glicoproteínas integrais da membrana e por proteoglicanos
secretados e adsorvidos à membrana (ALBERTS et al., 2017; JUNQUEIRA;
CARNEIRO, 2012; 2013).
https://qrgo.page.link/7c8V4
https://qrgo.page.link/zuPYt
https://qrgo.page.link/kP3bN
Estrutura da membrana plasmática 13
Mosaico fluido
A membrana plasmática não é uma estrutura estática, os lipídios se movem
ao longo da monocamada ou mesmo entre camadas, num movimento deno-
minado flip-flop, e essa movimentação ao longo da monocamada ou entre as
camadas proporciona fluidez à membrana (Figura 8). Esse conceito de fluidez
da membrana está relacionado não apenas à movimentação dos lipídios, está
relacionado a aspectos dinâmicos da célula — o transporte de moléculas entre
os meios intra e extracelular (PONTES et al., 2013).
https://qrgo.page.link/8gkTY
14 Estrutura da membrana plasmática
Meio extracelular
Carboidrato
Proteína do tipo alfa-hélice
Glicolipídio
Proteína
globular Fosfolipídios
Colesterol
Citoplasma
https://qrgo.page.link/aZuXE
Exemplo
Os neurônios são as células excitáveis do sistema nervoso. Os sinais são
propagados por meio de potenciais de ação (PAs), ou impulsos elétricos, ao
longo da superfície neuronal. Cada neurônio tem um axônio, cujas terminações
fazem contatos sinápticos com outros neurônios e podem estar envoltos por
uma camada protetora chamada mielina.
A membrana plasmática do neurônio mantém concentrações diferenciais de
íons entre os espaços intra e extracelular. Uma vez que os íons são carregados
eletricamente, seu movimento provoca um gradiente elétrico e, conforme
se movem através da membrana a favor de um gradiente de concentração,
ocorre um acúmulo de carga, o que impede que mais íons se movam através
da membrana.
Cada íon tem uma concentração intra e extracelular diferente, e a per-
meabilidade da membrana é diferente para cada íon. A permeabilidade da
membrana determina a facilidade com que um íon pode atravessá-la. A fim
de determinar o potencial de repouso da membrana, é preciso considerar as
concentrações intra e extracelular de diferentes íons, bem como a permeabi-
lidade da membrana para cada um.
As diferentes concentrações de íons intra e extracelulares são mantidas por
proteínas de membrana que agem como bombas iônicas. A mais proeminente
delas é a Na/K ATPase, que bombeia Na+ (sódio) para fora da célula, em troca
de K+. Os PAs são impulsos elétricos ou alterações no potencial da membrana,
que percorrem a superfície de um neurônio. O mecanismo subjacente ao PA
é a alteração na permeabilidade da membrana para diferentes íons, primeira-
mente para o Na, quando se inicia um PA, e, em seguida, para o K na fase de
recuperação. Os PAs são o meio de comunicação entre os neurônios.
16 Estrutura da membrana plasmática
ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
BIONINJA. Membrane models. [201-?]. Disponível em: https://ib.bioninja.com.au/stan-
dard-level/topic-1-cell-biology/13-membrane-structure/membrane-models.html.
Acesso em: 5 out. 2019.
18 Estrutura da membrana plasmática