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DIMENSÕES

BIOLÓGICAS E
BIOQUÍMICAS DA
ATIVIDADE
MOTORA

João Francisco Barbieri


Histologia básica dos
tecidos epitelial, conjuntivo,
nervoso e muscular
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever as características dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso


e muscular.
 Relacionar os tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular com
a atividade física.
 Explicar as adaptações causadas pelo exercício físico nos tecidos
epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular.

Introdução
Neste capítulo, serão apresentadas descrições sobre o funcionamento e a
estrutura de cada tipo de tecido que compõe o corpo humano, assim como
características fundamentais para distingui-los. Além disso, há também
as adaptações e algumas modificações específicas, sejam elas crônicas
ou agudas, sofridas por esses tecidos com a prática de atividade física. O
conhecimento sobre as adaptações dos diferentes tipos de tecidos é um
conhecimento básico para a formação de professores de educação física
e será fundamental para a compreensão de outros processos bioquímicos.

Histologia básica dos tecidos


Um tecido é formado pelo agrupamento de diferentes células especializadas.
Essas células cumprem funções específicas em nosso corpo, atuando em con-
junto para determinar características, por exemplo, dos órgãos. Os diferentes
tecidos corporais vão atuar em conjunto para formar os sistemas e é somente
por causa dessa integração entre os diferentes tecidos que a vida é possível.
2 Histologia básica dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular

No corpo humano, encontramos quatro principais tecidos, os quais se


dividem em tecido epitelial, tecido conjuntivo, tecido nervoso e tecido mus-
cular. Todos eles devem trabalhar em harmonia e sincronia para um bom
funcionamento sistêmico.
Cada tecido apresenta diferentes classificações dependendo de suas
funções e tipos; temos, por exemplo, a divisão do tecido epitelial em te-
cido de revestimento e tecido glandular ou secretor. O tecido conjuntivo
classifica-se em tecido conjuntivo frouxo, tecido conjuntivo denso e tecidos
de propriedades especiais. O tecido nervoso é composto principalmente de
neurônios e neuroglias, compondo o sistema nervoso central e periférico. O
tecido muscular classifica-se em três categorias: tecido muscular estriado
esquelético, tecido muscular estriado cardíaco e tecido muscular liso (MON-
TANARI, 2016).
Diversos fatores exercem influência sobre os tecidos do corpo humano,
como a prática regular de atividade física, a qual confere ao organismo
estímulos diversos, que vão implicar diferentes adaptações. Podemos dividir
a prática de atividade física com relação ao tempo, classificando-a como
aguda, quando o exercício é imediatamente executado, ou como crônica,
quando se referir às adaptações que longos períodos de sua prática causam
nos tecidos. A seguir, há informações sobre a histologia básica dos tecidos,
além das alterações ou modificações causadas pela atividade física de forma
aguda ou crônica.

Tecido epitelial
O tecido epitelial compreende os subgrupos compostos de tecido de revesti-
mento e tecido glandular ou secretor. Podemos classificá-lo ainda com relação
à forma das células que o constituem.

Tecido de revestimento

A principal função do tecido epitelial é de revestimento e proteção, porém não


se restringe somente a estas, já que outros tecidos epiteliais se especializam
em diferentes funções, dependendo da forma e do local em que se encontra.
O tecido epitelial reveste os órgãos internos como boca, esôfago, intestino,
estômago e bexiga. Uma característica importante desse tipo de tecido é o
agrupamento de células justapostas e aderidas firmemente, formando um
tecido fino e compacto. O fato de as células estarem tão intimamente ligadas
Histologia básica dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular 3

faz com que o espaço extracelular nesse tecido seja limitado, sendo essa outra
característica própria do tecido epitelial.
Dificilmente os vasos sanguíneos conseguem penetrar no tecido epitelial,
sendo a nutrição desses tecidos feita por tecidos subjacentes. Um exemplo
bastante claro é a pele, que apresenta uma fina camada de tecido epitelial
chamada epiderme (a mais superficial camada de pele), a qual é avascular (não
irrigada). No entanto, junto com a epiderme encontra-se a derme, composta de
tecido conjuntivo altamente vascularizado, ocorrendo a nutrição da epiderme
por difusão das substâncias (MONTANARI, 2016).
O tecido epitelial também é classificado com relação à forma, ao número
e às camadas celulares. Acompanhe a descrição dessa classificação.
Classificação com relação à forma das células:

 Tecido epitelial pavimentoso — Também chamadas de escamoso,


conferem uma camada de células achatadas, na qual o comprimento da
célula é maior que a altura. São encontradas nos revestimentos interno
e externo de órgãos.
 Tecido epitelial cúbico — Apresenta as células em forma de cubos,
nas quais a altura é igual à largura e ao comprimento. São encontradas
principalmente nos túbulos renais.
 Tecido epitelial colunar — Também conhecido como prismático, apre-
senta células mais alongadas, nas quais a altura é maior que a largura e
o comprimento. Essas células são encontradas principalmente no tecido
secretor, como células ciliadas do trato respiratório.

Algumas células epiteliais são do tipo de transição (epitélio de transição),


como as células que compõem a bexiga, pois, quando esta se encontra relaxada,
apresenta células arredondadas cuboides, mas, quando cheia, apresenta células
achatadas, do tipo pavimentosa (GUYTON; HALL, 2006).
Classificação com relação ao número de camadas:
O tecido epitelial pode ser classificado em relação ao número de camadas
de suas células, podendo ser:

 Tecido epitelial simples — Como o nome diz, apresenta uma camada


simples de células, podemos dar de exemplo para essa categoria o tecido
que compõe os vasos sanguíneos.
 Tecido epitelial estratificado — Composto de mais de uma camada
de células, como a camada interna do esôfago.
4 Histologia básica dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular

 Tecido epitelial pseudoestratificado — Composto de uma camada


única de células. No entanto, a altura das células e a posição do núcleo
delas é diferente, apresentando células baixas intercaladas com células
altas, o que pode gerar uma interpretação equivocada sobre o tipo de
tecido, podendo aparentar ser estratificado, e, por isso, recebendo o
nome de pseudoestratificado. Um exemplo de estrutura para esse tipo
de células é o epidídimo, localizado no sistema reprodutor masculino
(MONTANARI, 2016).

A classificação dos diferentes tipos de tecido epitelial pode ser visto na


Figura 1.

Figura 1. Classificação dos diferentes tipos de tecido epitelial.


Fonte: Adaptada de logika600/Shutterstock.com.
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Tecido glandular ou secretor

Um subtipo especial de tecido epitelial é o tecido epitelial secretor, sendo o


principal responsável pela formação das glândulas, comumente conhecido
como tecido epitelial glandular. O tecido epitelial glandular endócrino vai
gerar secreções que são expulsas dentro do corpo, caso das glândulas tireoide,
hipófise e suprarrenal, que despejam seu conteúdo principalmente na corrente
sanguínea. Já o tecido epitelial glandular exócrino envia as secreções para
fora do corpo. Por fim, o tecido epitelial glandular misto cumpre dupla função,
expulsando a secreção tanto interna como externamente, como acontece com
o pâncreas, secretando suco pancreático para dentro do duodeno e insulina
na corrente sanguínea (MONTANARI, 2016).
As diversas funções do tecido epitelial podem ser mais ou menos requeridas
dependendo da tarefa que será realizada, um ótimo exemplo da exigência desse
tecido é a atividade física, pois exercerá sobre esse tecido grande demanda,
que serão mais bem descritas a seguir.

Tecido epitelial e atividade física


A principal função do tecido epitelial é dar suporte e proteção aos órgãos que
compõe, fato importante durante a prática de atividade física, uma vez que o
impacto da atividade comprometeria a estrutura e a forma do órgão se este
não estivesse envolto com uma camada protetora.
A prática de atividade física é capaz de elevar a temperatura corporal a
estados considerados febris. Ao iniciar a prática de alguma atividade, a pessoa
provavelmente começará a suar. A produção de suor ocorre pela atividade
de células epiteliais glandulares, em específico as que formam as glândulas
sudoríparas. O suor será responsável pela manutenção da temperatura, pois,
com sua evaporação, perdemos calor. Esse fato é extremamente importante
para retardar os processos de fadiga ocasionados pela prática de atividade
física, uma vez que elevadas temperaturas causam hipertermia, condição
que, além de levar às fadigas física e mental, pode apresentar complicações
para a saúde.
Vale lembrar também que a camada interna dos vasos sanguíneos (endo-
derme) é composta de células epiteliais simples pavimentosas. Os vasos são
responsáveis pela irrigação dos músculos, sendo que o fluxo sanguíneo é
intensificado durante a prática de atividade física. O endotélio vascular também
é responsável pela produção de óxido nítrico (NO). Esse gás sinaliza para a
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musculatura lisa dos vasos relaxar, o que permite a vasodilatação, aumentando


assim o fluxo sanguíneo para os músculos em atividade.
O controle da temperatura e as modificações do endotélio vascular são
algumas das modificações causadas pelo início da atividade física, ou seja, pela
prática aguda de atividade física. (GUYTON; HALL, 2006). Porém, a prática
regular de atividade física vai gerar adaptações nesses tecidos, nominalmente
chamadas de adaptações crônicas. Acompanhe a seguir algumas adaptações
crônicas do tecido epitelial frente ao exercício físico.

Adaptações crônicas do tecido epitelial ao exercício físico

O exercício físico é considerado um estímulo de estresse para o organismo,


sendo que a magnitude desse estresse implicará a magnitude da adaptação. O
tecido epitelial é um grande beneficiado da prática de atividade física constante.
As adaptações a esse tecido se estendem, por exemplo, desde a melhora na
velocidade e quantidade de substâncias secretadas pelas glândulas. Podemos
destacar a liberação do hormônio adrenalina pela glândula suprarrenal, sendo
que, em indivíduos adeptos à prática de atividade física, essa liberação acontece
de maneira mais rápida. Também podemos citar o efeito da prática regular
de atividade física para diminuir os níveis de insulina, hormônio endócrino
produzido pelo pâncreas (FERREIRA; BRESSAN; MARINS, 2009). Podemos
ressaltar também que a pele (tanto sua camada epitelial quanto sua camada
conjuntiva) sofre adaptações positivas, como aumento do conteúdo de colágeno
e resistência (MUELLER; MALUF, 2002).
Os vasos sanguíneos são especialmente afetados pela prática constante
de atividade física, em especial exercícios aeróbios. O organismo é capaz de
remodelar a malha de vasos sanguíneos que irrigam os músculos, num pro-
cesso chamado angiogênese, no qual novos vasos sanguíneos se desenvolvem,
além de ter efeito sobre o diâmetro dos vasos, aumentando-os. Esse fenômeno
ocorre por causa da liberação de fatores de crescimento endotelial vascular
(VEGF), que são estimulados mecânica e metabolicamente. Esses fatores
farão os vasos sofrerem suscetíveis mitoses, aumentando a árvore vascular
(ALMEIDA et al., 2012).
O tecido epitelial é sempre encontrado intimamente relacionado ao tecido
conjuntivo, que está atrelado a funções como suporte (tecido ósseo), tecido
de transporte de nutriente (tecido sanguíneo), tecido de proteção (tecido adi-
poso), entre outros. Nos tópicos a seguir, você encontrará os diferentes tecidos
conjuntivos e sua relação com a prática de atividade física.
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Tecido conjuntivo
O tecido conjuntivo é um tecido altamente resistente e extremamente diverso,
composto de diferentes tipos de células. É um tecido rico em matriz extrace-
lular, altamente inervado e irrigado por vasos sanguíneos. É possível dividir
o tecido conjuntivo em dois grandes grupos, o tecido conjuntivo propriamente
e o tecido conjuntivo de propriedades especiais. As características do tecido
conjuntivo fazem com que ele atue em diversas esferas, como:

 conectar tecidos;
 sustentação;
 preenchimento;
 absorção de impactos;
 resistência à tração;
 elasticidade;
 armazenamento de energia;
 defesa;
 coagulação sanguínea;
 cicatrização;
 transporte de gases e nutrientes.

A matriz extracelular do tecido conjuntivo é a substância que preenche o


espaço entre as células. Essa substância apresenta consistência variável, fruto
de diferentes combinações de proteínas fibrosas que o compõem. Pode se
apresentar de maneira líquida (sangue), flexível (cartilagem) e rígida (osso).

O escorbuto é uma doença que por muito tempo afetou marinheiros, especialmente na
Idade Média. É caracterizada pela falta da ingestão de vitamina C (ácido ascórbico). O
que acontece é que a vitamina C atua no processo de formação do colágeno, importante
proteína do tecido conjuntivo. As falhas na produção dessa proteína causam fraqueza
na aderência dos tecidos e deficiência nos processos de regeneração.

Serão apresentados com maior profundidade os diferentes tipos de tecido


conjuntivo, como o tecido conjuntivo frouxo, o tecido conjuntivo denso e os
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tecidos conjuntivos de propriedades especiais. Dentro dos tecidos de proprie-


dades especiais, encontraremos tecidos como o adiposo, o hematopoético, o
sanguíneo, o cartilaginoso e o ósseo.
A classificação tecido conjuntivo frouxo e tecido conjuntivo denso leva
em consideração a quantidade de matriz extracelular presente. Portanto, a
composição é baseada em três principais fibras proteicas: fibras de colágeno,
fibras elásticas e fibras reticulares.
Tecido conjuntivo frouxo é o tecido conjuntivo mais abundante no corpo
humano, sendo formado por proporções muito próximas dos elementos cons-
tituintes (células, elemento fundamental e fibras). É encontrado compondo
a derme de nossa pele, sendo sua função conferir elasticidade e nutrir a epi-
derme. Também preenche os espaços entre fibras musculares, está presente
na estrutura de diversos órgãos, envolve nervos e vasos sanguíneos. O tecido
conjuntivo frouxo possui importante papel para nossa imunidade, pois apresenta
grande quantidade de macrófagos e está intimamente atrelado ao processo de
cicatrização. O tecido conjuntivo denso possui grandes quantidades de fibras,
principalmente de colágeno, sendo composto principalmente de fibroblastos.
Esse tecido divide-se em duas subclassificações, modelado e não modelado.
Essa classificação depende principalmente do tipo de distribuição das
fibras, pois, quando as fibras são distribuídas de forma desordenada, difusa
e em diferentes direções, é chamado tecido conjuntivo denso não modelado,
já que essas características brindam maior resistência às diferentes trações
exercidas em qualquer sentido; um exemplo desse tecido são as cápsulas
protetoras que revestem vários órgãos, como rins, baço e fígado. Já o tecido
conjuntivo modelado, pelo contrário, apresenta uma distribuição paralela,
organizada e compacta, características que fazem com que o tecido crie uma
alta resistência num determinado sentido. Um exemplo bem claro desse tipo de
tecido são os tendões que unem os músculos aos ossos (MONTANARI, 2016).

Tecido conjuntivo de propriedades especiais

Tecido adiposo — Composto de células adiposas em conjunto com a matriz extra-


celular, as quais são classificadas segundo suas funções e ocorrência. Encontram-
-se dois tipos de tecido: tecido adiposo unilocular e tecido adiposo multilocular.
O primeiro, tecido adiposo unilocular, é formado por células adiposas
esféricas quando estas são isoladas, no entanto se tornam poliédricas quando
ficam juntas, por causa da compressão de umas com as outras. Essas células
absorvem os lipídios consumidos pela ingesta de alimentos ricos em gordu-
ras, os quais primeiro são transportados pela corrente sanguínea e, depois,
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armazenados nos adipócitos. A cor do tecido adiposo pode ser entre branco
ou amarelo-escuro, dependendo da quantidade de carotenos consumidos na
dieta. Esse tipo de tecido é o principal tecido adiposo do adulto, encontrando-se
principalmente nas dermes e hipodermes, nas quais sua principal função é
manter o controle da temperatura do corpo evitando a perda excessiva do calor.
Além disso, absorve os impactos provocados no corpo. As palmas das mãos
e dos pés têm um alto conteúdo de tecido adiposo ocular, principalmente por
essa causa. Por fim, esse tecido também ajuda no preenchimento dos espaços
entre os tecidos e órgãos, deixando-os com maior estabilidade.
O segundo, tecido adiposo multilocular, é menor que o primeiro, apresenta
células poligonais com núcleo central e muitas mitocôndrias; particularmente
possui uma quantidade menor de lipídios. A denominação multilocular está
relacionada a diferentes gotículas de lipídios dentro da célula adiposa. Esse
tecido é especialista na produção de calor sem tremores. Está presente es-
pecialmente nos fetos e recém-nascidos. Também é conhecido como tecido
marrom, ou compõe o tecido adiposo bege.

Tecido hematopoético — Principal tecido para produção de células sanguíneas


do corpo, também chamado tecido mieloide (do grego mielos, que significa me-
dula), por estar localizado no canal medular de ossos longos. Esse tecido também
é conhecido como tecido hematopoético por realizar hematopoese (do grego
hemato, sangue). Em recém-nascidos, a medula óssea é chamada medula óssea
vermelha, por causa da grande quantidade de glóbulos vermelhos localizados na
medula. No entanto, nos adultos depois dos 20 anos de idade, o tecido medular do
osso apresenta grandes mudanças, pois a medula óssea do adulto apresenta uma
coloração amarela como consequência das mudanças na composição tecidual,
já que muda a composição do tecido vermelho pelo tecido adiposo.

Tecido sanguíneo — É o principal tecido para o transporte de nutrientes e


gases do corpo, além de contribuir para regulação da temperatura e controle da
homeostase corporal. O sistema circulatório é composto de aproximadamente
5 litros de sangue, nos quais se encontram eritrócitos, leucócitos e plaquetas.
O tecido sanguíneo atua também no controle da temperatura corporal, no
controle ácido base do organismo e na excreção de metabólitos provenientes
do metabolismo celular.

Tecido cartilaginoso — Composto por células denominadas condroblastos e


condrócitos. Essas células produzem fibras proteicas de colágeno e elastina. O
tecido é rígido, mas, diferente do tecido ósseo, é maleável. O tecido cartilagi-
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noso confere sustentação aos tecidos moles, sendo conhecido especialmente


por compor as articulações, favorecendo o deslizamento dos ossos entre as
articulações, e por também atuar absorvendo impactos mecânicos. No tecido
cartilaginoso, não há presença de nervos, vasos linfáticos ou vasos sanguíneos,
sendo sua nutrição feita por tecidos adjacentes, como o pericôndrio, que o
recobre, ou o líquido sinovial, no caso das cartilagens presentes dentro das
articulações sinoviais.

Tecido ósseo — Apresenta relevante rigidez e dureza, atuando na sustentação


do corpo humano, o que possibilita que haja movimento, por meio da tração
exercida por músculos, e protege os órgãos internos. O tecido ósseo ainda
abriga a medula óssea, importante para a criação de novas células sanguíneas.
Além disso, possui um tipo especial de célula, chamada de osteoprogenitoras,
classificadas em osteoblastos e osteoclastos; os primeiros apresentam a função
de acrescentar conteúdo mineral no tecido ósseo, e o segundo o de degradar.
Por causa dessa interação entre construção e desconstrução da matriz óssea,
o osso apresenta certo dinamismo, adaptando-se às demandas impostas pelo
organismo (MONTANARI, 2016).

Um indivíduo começa a caminhar, pois foi a recomendação médica a fim de diminuir


seus níveis sanguíneos de triglicérides (ácidos graxos livres). Iniciando a atividade física
de baixa intensidade e longa duração, o indivíduo vai utilizar como principal fonte de
energia os lipídeos circulantes e os provenientes do tecido adiposo, logo, ajudando
na diminuição dos níveis de triglicérides sanguíneos.
Nesse exemplo, podemos observar a mobilização e a utilização de dois tecidos
conjuntivos diferentes, sendo um deles o tecido conjuntivo sanguíneo, caracterizado
por apresentar sua matriz extracelular líquida e células típicas, como hemácias e
linfócitos. Também é responsável pelo transporte de várias substâncias importantes
para o organismo, como nutrientes e oxigênio. Observa-se a mobilização também
do tecido adiposo, composto de células especiais, os adipócitos, que armazenam
triglicérides e os liberam para serem usados como fonte de energia, os quais são
levados até o músculo pela corrente sanguínea.
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Tecido conjuntivo e atividade física

O tecido conjuntivo apresenta especial importância para a prática de atividade


física, uma vez que diversos de seus tecidos afetam e são afetados de maneira
profunda pela prática de atividade física. Há íntima relação, por exemplo,
entre o tecido adiposo e a prática de atividade física, uma vez que o adipócito
armazenará o principal substrato energético utilizado durante a atividade física
aeróbica, que são os ácidos graxos (triglicerídeos). Outro importante tecido
conjuntivo relacionado à prática de atividade física é o tecido ósseo e o elástico,
uma vez que os dois compõem o aparelho locomotor (complexo formado pelos
sistemas muscular, ósseo, ligamentar e articular). Por causa da resistência e
da rigidez que esses tecidos conjuntivos proporcionam, conseguimos ficar
em pé, caminhar, correr e saltar, enfim, executar as mais diversas tarefas que
implicam impacto mecânico, que será absorvido pelo tecido ósseo. Por fim,
mas não menos importante, destacamos o tecido sanguíneo, sendo sua relação
com a atividade física muito evidente, uma vez que o músculo precisa receber
os substratos energéticos provenientes da alimentação, assim como o oxigênio,
para a efetiva produção de energia. Todos esses elementos são transportados
para todo o corpo pelo sistema circulatório, que tem no sangue seu principal
veículo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

Adaptações do tecido conjuntivo à atividade física

A prática regular de exercício físico confere diferentes adaptações aos mais


diversos tecidos que compõem o corpo humano, e isso não é diferente no
tecido conjuntivo. Estímulos hormonais, mecânicos e humorais vão modelar
o tecido conjuntivo de maneira que este apresente melhores adaptações e
respostas frente às atividades.

Adaptações do tecido ósseo — O tecido ósseo apresenta importantes adap-


tações frente ao exercício físico, em especial os que envolvem esforços contra
resistências, como é o caso da musculação, do exercício funcional, dos mais di-
versos tipos de ginástica ou ainda exercícios com constantes impactos intensos,
como a corrida. A sobrecarga mecânica exercida sobre o tecido ósseo aumenta
a atividade dos osteoblastos e diminui a dos osteoclastos, conferindo assim
maior processo de fixação de matriz óssea, deixando o osso mais resistente.
12 Histologia básica dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular

Adaptações ao tecido adiposo — A prática regular de atividade física


desempenha sobre o tecido adiposo importante papel regulador, evitando
o aumento excessivo dos adipócitos, o que causa a diminuição dos espaços
extracelulares e compromete a circulação sanguínea nesse tecido, ocasio-
nando um processo inflamatório, que terá diversas consequências deletérias
para o organismo. Outra adaptação importante do tecido adiposo é sua
transformação de tecido adiposo “branco” para tecido adiposo “bege”, o que
confere ao tecido menos capacidade de armazenamento de gordura e maior
capacidade de produção de calor. Em ambos os casos, o exercício aeróbio
de longa duração tem sido visto como uma ferramenta importante para a
modulação positiva desse tecido.

Adaptação do tecido sanguíneo ao exercício físico — O tecido sanguíneo


também é afetado de maneira profunda pela prática regular de atividade física,
seja pela diminuição dos seus níveis de açúcares e triglicérides circulantes,
como pelo aumento e pela modificação da atividade de algumas células,
como, ainda, pela melhora da atividade das células do sistema imune, como
leucócitos.
O treinamento aeróbico gera adaptações específicas no tecido sanguíneo,
sendo que o aumento do volume de hemácias é uma interessante e benéfica
adaptação para o desempenho, uma vez que as hemácias carregam o oxigênio
desde os alvéolos pulmonares até a célula muscular, aumentando a quantidade
de hemácias, e aumentado o suprimento de oxigênio para os músculos. Essa
adaptação benéfica é atribuída ao hormônio eritropoietina (EPO), liberado
pelos rins em condições de baixa disponibilidade de oxigênio. Durante a
prática de atividade física, a alta demanda de oxigênio pelos músculos gera um
quadro parcial de hipóxia. O EPO estimula a produção de células sanguíneas
na medula óssea, as quais são prontamente despejadas na corrente sanguínea
(MAIRBÄURL, 2013).
O terceiro tipo de tecido que abordaremos é o tecido nervoso, responsável
pela integração de informações entre o meio ambiente e o organismo, sendo
este encarregado de receber, armazenar e transmitir os impulsos nervosos.
A seguir, serão descritas especificações sobre esse tecido, assim como sua
relação com a prática de atividade física.
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Tecido nervoso
O tecido nervoso é o principal responsável por receber, armazenar e transmitir os
impulsos nervosos. Embora apresente uma variedade grande de células, é pobre
em matriz extracelular. Esse tipo de tecido exerce papel fundamental nas funções
do organismo, já que podemos interpretá-lo como o principal tecido que forma o
sistema nervoso, sendo este o grande coordenador de todas as atividades corpóreas.
O sistema nervoso divide-se em dois grandes sistemas, o sistema nervoso central,
que, como o nome diz, atua na parte central do corpo, protegido por dois grandes
estojos ósseos que são a coluna vertebral e o crânio, e o sistema nervoso periférico,
que é o principal encarregado de transmitir impulsos provenientes do mundo
exterior para o sistema nervoso central. Esses dois sistemas estão constituídos
por aglomerados de neurônios, os gânglios nervosos e os nervos (AIRES, 2012).

Neurônios — Embora não sejam as únicas células que compõem o nosso sis-
tema nervoso, certamente são as mais conhecidas e desempenham um papel
extremamente importante. Os neurônios são células nervosas responsáveis pela
condução dos impulsos nervosos em ambos os sentidos, aferente, ou seja, levando
informações dos sentidos, como audição, olfato, visão, paladar e tato, para o
sistema nervoso central; ou eferente, levando as respostas elaboradas pelo sistema
nervoso central para a periferia, como a contração de um músculo. Classicamente
o neurônio é considerado a unidade morfofuncional do sistema nervoso, e o gliócit,
a unidade de apoio. Como toda célula, um neurônio é composto de uma mem-
brana plasmática que o envolve, contém organelas, como o núcleo, mitocôndrias,
o retículo endoplasmático liso e rugoso, que desempenham diversas funções.
O neurônio divide-se basicamente em corpo neuronal, dendritos e axônios. O
corpo neuronal apresenta uma aparência de arbusto, com diferentes ramificações
e grandes números de prolongamentos. Os dendritos, palavra de origem grega
que significa “pequenos ramos da árvore”, são pequenas terminações que fazem
conexão recebendo as informações. O axônio é um prolongamento que conduz os
impulsos nervosos e faz ligações com outros neurônios ou tecidos, enviando as
informações. Essas ligações, chamadas sinapses, são responsáveis por estimular
ou inibir o tecido ou célula inervada (LENT, 2004).
Os neurônios operam em grandes conjuntos, sendo incapazes de operar
separadamente, criando as chamadas redes ou circuitos neuronais. A Figura
2 apresenta a representação de um neurônio.
14 Histologia básica dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular

Figura 2. Neurônio.
Fonte: NPavelN/Shutterstock.com.

A doença de Alzheimer é caracterizada pela degeneração progressiva e continuada dos


neurônios. Em especial, essa doença afeta o hipocampo, sede da memória. Por isso, as
pessoas acometidas por essa condição apresentam perda da memória como sintoma.
Atribui-se ao surgimento dessa doença a pouca utilização das conexões neurais. A
adoção de hábitos de vida mais ativos e a manutenção de atividades cognitivas,
como leitura e o aprendizado de novas tarefas, têm sido propostos para retardar ou
combater essa doença.

Tecido nervoso e atividade física

A atividade física, assim como qualquer outro movimento planejado, obriga-


toriamente tem de passar pelo processamento do sistema nervoso central. Os
estímulos eferentes (aqueles que vêm dos neurônios até os músculos) serão
Histologia básica dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular 15

responsáveis pela sua efetiva ativação. O sistema nervoso central também


é responsável pelo ajuste fino dos movimentos, pelo aprendizado de novos
gestos motores, e em grande parte está relacionado com o aumento da força,
melhorando o sincronismo das fibras musculares ativadas.
O tecido nervoso também está envolvido em outras funções relacionadas
à prática de atividade física, como a estimulação para o coração bombear
mais rápido e a estimulação para que hormônios sejam secretados na
corrente sanguínea, como adrenalina e cortisol (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2016).

Adaptações do tecido nervoso ao exercício físico

O tecido nervoso é altamente dinâmico, construindo e descontruindo novas


conexões todos os dias. A prática regular de atividade física faz com que o
tecido nervoso também sofra modelamentos, desde o nível celular, aumen-
tando suas interconexões, o que melhora o processamento de informações,
até o nível macro, como é constatado pelo aumento da área do hipocampo,
região relacionada à memória. Diversos benefícios a capacidades cognitivas
e a redução de propensão de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer
e o Parkinson, estão relacionadas à prática regular de atividade física.
Os neurônios, como unidade fundamental do tecido nervoso, também
sofrem mudanças, melhorando seu sinergismo com outros neurônios por meio
das alterações em suas proteínas de membrana (responsáveis por receber os
neurotransmissores), melhorando a forma e a velocidade com que levam uma
informação.
O sistema nervoso também é responsável pelo aumento de força em pes-
soas que iniciam programas de treinamento de força, como a musculação. O
aumento de força vivenciado durante os primeiros meses de treinamento é
atribuído à melhora de sincronismo e ativação entre os músculos agonistas e
antagonistas do movimento. Essa adaptação qualitativa de recrutamento faz
com que ganhos expressivos de força aconteçam em um processo chamado
de aprendizado motor (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
A relação entre o tecido nervoso e o muscular é muito íntima, uma vez
que estes mantêm comunicação, sendo as fibras musculares inervadas por
axônios. O tecido muscular apresenta características próprias como a contração,
fazendo com que esse tecido seja especialmente estudado por professores de
educação física.
16 Histologia básica dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular

Tecido muscular
A característica básica e principal desse tecido é a capacidade de contração
e relaxamento, altamente relacionada com a movimentação, a digestão e até
mesmo os batimentos cardíacos. Entre os tipos de tecido muscular, podemos
encontrar tecido muscular estriado esquelético, tecido muscular estriado
cardíaco e tecido muscular liso, como se pode observar na Figura 3.

Figura 3. Diferentes tipos de tecido muscular presentes no corpo humano.


Fonte: Adaptada de Sakurra/Shutterstock.com.

Tecido muscular esquelético

O tecido muscular estriado esquelético, o principal tecido capaz de realizar


contrações de forma voluntária, está ligado a outros tipos de tecidos, como o
tecido conjuntivo (tecido ósseo). A maior parte de nossos movimentos ocorre
de forma voluntária, ou seja, de maneira consciente, e é processada em regiões
corticais do nosso cérebro. Porém, isso não acontece nos movimentos reflexos,
como retirar a mão rapidamente quando a encostamos no fogo. Esse tipo de
reflexo é caracterizado pela velocidade e pelo automatismo, uma vez que gera
um arco em âmbito medular, não sendo processado no encéfalo.
Histologia básica dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular 17

As células que compõem o tecido muscular esquelético apresentam inúme-


ras estrias formadas pelas unidades contráteis musculares, os sarcômeros, que
compreendem as proteínas contráteis (actina e miosina). As células musculares
estriadas também apresentam mais de um núcleo, o que as classifica como
multinucleadas.
O tecido muscular estriado esquelético é composto de fibras musculares,
que são as unidades celulares desse tecido. Podemos classificar as fibras mus-
culares em dois tipos: fibra muscular de contração rápida e fibra muscular
de contração lenta. As fibras de contração rápida apresentam diferentes
características que as tornam únicas, sendo que esse tipo de fibra oferece alta
transmissão eletroquímica dos potenciais de ação, alta atividade da enzima
ATPase, libração e captação rápida de cálcio pelo retículo sarcoplasmático,
apresenta inervação de neurônios com alto limiar de excitabilidade e possui uma
taxa maior de renovação das pontes cruzadas. As fibras de contração rápida
são responsáveis pelas manifestações como movimentos rápidos e velozes,
força e acentuada hipertrofia (aumento da quantidade de proteínas no interior
das células). Já as fibras de contração lenta apresentam características próprias
como: baixa atividade da enzima ATPase, baixa capacidade para absorção de
cálcio pelos retículos sarcoplasmáticos, baixa capacidade glicolítica, inervação
de neurônios de baixo limiar de excitabilidade. No entanto, em contrapartida,
possuem grandes quantidades de mitocôndrias e são fibras mais resistentes
à fadiga, o que as torna fibras mais susceptíveis às adaptações causadas pelo
treinamento aeróbio (AIRES, 2012; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
Além dessas características próprias de cada uma das fibras musculares, é
importante fazer menção ao tipo de sistema energético utilizado, sendo que as
fibras de contração rápida têm maior facilidade para o uso do sistema glicolí-
tico (que utiliza glicose como fonte de energia), assim como armazenam mais
glicogênio e estão mais relacionadas ao metabolismo anaeróbio. Ao contrário,
as fibras lentas possuem maior facilidade para o uso de ácidos graxos como
fonte de energia, e estão relacionadas ao predomínio do metabolismo aeróbio.

Modificações agudas causadas pelo exercício físico no tecido muscular


esquelético

O início da prática de atividade física implica uma série de adaptações agudas.


O tecido muscular é especialmente sensibilizado pela ação de alguns hormônios
liberados durante a prática de atividade física, como cortisol, hormônio do cres-
cimento (GH) e catecolaminas (por exemplo: noradrenalina e noraepinefrina).
O cortisol é liberado pelas glândulas suprarrenais, e possui notória atividade
18 Histologia básica dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular

catabólica, sendo conhecido como o hormônio do estresse. Esse hormônio sofre


influência da atividade física, sendo que sua liberação é proporcional ao tempo
de duração da atividade, como demonstrado em corredores de maratona, os
quais apresentam elevados níveis de cortisol ao final das provas (DESSYPRIS
et al., 1980). O cortisol vai agir sobre o tecido muscular aumentando a proteólise
(quebra de proteínas) e diminuindo a síntese proteica muscular. O GH é um
hormônio produzido pela hipófise em resposta a diferentes estímulos, sendo
o exercício de alta intensidade um poderoso estímulo para sua liberação. O
GH promove, no tecido muscular, crescimento e remodelamento. Além disso,
estimula a produção de somatomedinas, ou fatores de crescimento semelhantes
à insulina (IGF-1 e IGF-2) por períodos longos após o exercício (8 a 30 horas).
As somatomedinas são conhecidas pela ação anabólica no tecido muscular,
promovendo a síntese de proteínas. As catecolaminas, hormônios liberados
pela glândula suprarrenal em resposta a estímulos de estresse, como a prática
de atividade física, são simpatomiméticos, ou seja, sua ação é semelhante à
ação ocasionada pela estimulação simpática. No músculo, durante a atividade
física, a noraepinefrina assume um importante papel, sendo despejada na
fenda sináptica, na forma de neurotransmissor, o que sensibiliza o músculo de
maneira que aumente sua contratilidade, gerando contrações mais vigorosas
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

Adaptações crônicas causadas pela prática regular de atividade física no


tecido esquelético

O exercício físico apresenta importante papel para a conversão das fibras


musculares, atuando em seu remodelamento. Embora se acredite que algumas
fibras musculares não mudem seu fenótipo, outras fibras musculares, chamadas
de híbridas (não são puramente fibras rápidas ou lentas), apresentam maior
flexibilidade para mudanças. Se avaliarmos um atleta de corrida de longa
distância, como um maratonista, esperamos encontrar nele maior quantidade
de fibras com características de contração lenta. Já se avaliarmos um atleta de
corrida de 100 metros rasos, esperamos encontrar nele fibras com características
de contração rápida (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). Porém, o sucesso
esportivo de elite prevê uma otimização natural das fibras musculares, ou seja,
aqueles que naturalmente apresentam maior quantidade de fibras musculares
de contração rápida acabarão sendo selecionados em modalidades esportivas
em que essas características são determinantes.
Histologia básica dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular 19

Obviamente o tipo de fibra muscular não é o único fator envolvido no


sucesso esportivo, já que outros fatores, como os processos de treinamento,
processos bioquímicos de produção de energia e fatores ambientais, possuem
grande peso no ambiente esportivo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
Os processos metabólicos são especialmente afetados pela prática regular de
atividade física. Processos especialmente ligados à produção de energia sofrem
modificação no sentido de aumentarem a velocidade com a qual a energia será
disponibilizada para a prática de atividade física. Podemos destacar a melhora
considerável no tamanho e na quantidade de mitocôndrias, o que vai favorecer
a produção de energia de maneira aeróbia. Destacamos também o aumento
das enzimas envolvidas no ciclo do ácido cítrico, assim como no número de
transportadores de glicose (GLUT-4), garantindo maior suprimento de glicose
durante a atividade física (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).

Tecido muscular liso — Apresenta características similares ao tecido muscular


estriado cardíaco, já que realiza contrações de maneira involuntária, ou seja, sem
interferência de nossa vontade. Esse tecido auxilia as funções do estômago, do
intestino e do útero. Para esses tipos de vísceras, é fundamental a participação
do tecido muscular, já que os diferentes tipos de contração auxiliam nos movi-
mentos peristálticos, como os movimentos realizados pelo esôfago para conduzir
a comida até o estômago. Esse tecido se difere dos outros principalmente pela
velocidade de contração, sendo a mais lenta dos tecidos musculares.

Tecido muscular cardíaco — É capaz de realizar contrações involuntárias


manifestas em forma de batimentos cardíacos, portanto encontra-se exclusi-
vamente no coração. Esse tipo de tecido tem características tanto do tecido
muscular esquelético, como do tecido muscular liso, apresentando fibras
estriadas de formação mais complexa (compreendidas por sarcômeros), que
são o complexo de proteínas que inclui a actina e a miosina. Porém, diferente
do músculo estriado esquelético, a ação das fibras cardíacas é coordenada de
maneira involuntária, por meio de um sistema de autoestimulação liderado por
estruturas especiais, os nódulos cardíacos (nódulo sinoatrial e atrioventricular),
o que confere a esse órgão característica semelhante ao tecido muscular liso.
Pela ação de contração contínua do coração, as paredes desse órgão pre-
cisam ser fortes; para isso, o músculo cardíaco precisa de células menores,
ramificadas e intimamente unidas e sincronizadas, as quais apresentam discos
intercalares para que a estimulação elétrica trafegue entre elas sem bloqueios.
20 Histologia básica dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular

Neste capítulo, apresentaram-se os diferentes tecidos que constituem


o corpo humano. Foram destacados os diferentes subtipos desses tecidos,
assim como suas funções e estrutura celular. O tecido epitelial apresenta
importante papel no revestimento e na proteção de órgãos. Esse tecido pode
ser classificado com relação à forma de suas células ou à estrutura de suas
camadas. Já o tecido conjuntivo apresenta uma grande diversidade, e, com
esta, apresenta diferentes funções. O tecido conjuntivo pode ser dividido em
tecido conjuntivo propriamente dito ou tecido conjuntivo de propriedades
especiais. Entre os diferentes tipos de tecido conjuntivo de propriedades
especiais, temos o tecido adiposo e o tecido ósseo, que são especialmente
importantes para a prática de atividade física. O tecido nervoso é com-
posto especialmente de células chamadas de neurônios que, em conjunto,
formarão todo o sistema nervoso. Como adaptações induzidas pela prática
de atividade física, destaca-se a melhora no sinergismo da ativação entre
os neurônios, fenômeno que pode resultar em ganhos de forças expressivos
nas primeiras semanas de treinamento. A prática regular de atividade física
também tem demonstrado modificar estruturas cerebrais, como o aumento
da área do hipocampo, sede da memória. Por fim, apresentaram-se as três
grandes subdivisões do tecido muscular, sendo elas: tecido muscular estriado
esquelético, tecido muscular estriado cardíaco e tecido muscular liso. O
tecido muscular estriado esquelético é o tecido mais explorado nos estudos
de educação física, pois sofre grandes modificações, seja de maneira aguda
ou crônica, mediadas pela prática de atividade física. De maneira aguda,
pode-se destacar as modificações desencadeadas por diferentes tipos de
hormônios, como GH e cortisol. Como modificações crônicas, pode-se des-
tacar o aumento de conteúdo proteico (hipertrofia) das fibras musculares, o
aumento do conteúdo e tamanho das mitocôndrias e o aumento da quantidade
e da velocidade das enzimas do ciclo do ácido cítrico.

Acompanhe no vídeo a seguir um resumo conciso sobre


os diferentes tipos de tecido que há no corpo humano
(TECIDOS, 2017).

https://goo.gl/DfNv6r
Histologia básica dos tecidos epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular 21

AIRES, M. de M. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.


ALMEIDA, C. C. et al. A fisiologia do exercício físico na estimulação da angiogênese em
pacientes diabéticos com doença vascular periférica. UNILUS Ensino e Pesquisa, Santos,
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FERREIRA, G. F.; BRESSAN, J. ; MARINS, J. C. B. Efeitos metabólicos e hormonais do
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MONTANARI, T. Histologia: texto, atlas e roteiro de aulas práticas. 3. ed. Porto Alegre:
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MUELLER, M. J.; MALUF, K. S. Tissue adaptation to physical stress: a proposed “Physical
Stress Theory” to guide physical therapist practice, education, and research. Physical
therapy, [S.l.], v. 82, n. 4, p. 383-403, Apr. 2002. Disponível em: <https://academic.oup.
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TECIDOS. Videoaula ministrada por Vanessa Sardinha. [S.l.], 2017. 1 vídeo (13min23s). Loca-
lização do assunto: 39s. Disponível em: <https://goo.gl/DfNv6r>. Acesso em: 9 out. 2018.

Leitura recomendada
RODRIGUES, H. G. et al. Alterações hematológicas decorrentes da prática de exercícios
físicos. Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, v. 18, n. 186, nov. 2013.
Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd186/alteracoes-hematologicas-de-
-exercicios-fisicos.htm>. Acesso em: 9 out. 2018.
Conteúdo:

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