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Sílvio Guardador de Ventos

Quando for grande quero ser o Sol.

Podes ficar cego!

Diz a mãe

E se for guarda da chuva?

E uma vida de constipações…

- diz a mãe

Eu gosto da Natureza…Guarda-florestal parece-me a escolha certa

As árvores não voam

– diz a mãe

Dançam, as árvores

Dançam na ventania

E os lobos?

- diz a mãe

Lobos! Quero ser guarda-fios

Tu tens medo das alturas, Sílvio

-diz a mãe

É verdade. Prefiro coisa tranquila, pé posto na terra: guarda-nocturno, achas bem?

Consegues andar sozinho no escuro?

- diz a mãe
Obrigada, mãe, por me acarinhares com tantos medos. Sendo assim, vou para guarda-
livros .

Os livros são pedaços de árvores tatuadas de palavras . Não voam, também não voam

- diz a mãe

Os livros ajudam-me a voar. Ouve, mãe se eu for autoridade, guarda é autoridade, tu e


o Uberto ficam protegidos

A autoridade pesa nos ombros

- diz a mãe

Guardo sem o peso da autoridade, é esse o meu desejo: serei guarda- redes

Parece-me pouco aliciante

- diz a mãe

E guarda-rios mãe? Autoridade pacífica guarda a água limpa, o sonho dos peixes!

Os peixes dormem de olhos abertos

- diz a mãe

Por isso mesmo, um guarda delicado saberá defende-los.

E como guarda de limpidez se nem sempre tens as mãos limpas Sílvio

- diz a mãe

Está decidido! Serei guarda-costas

Boa ideia, Sílvio! Agora é preciso ficares forte

- diz a mãe
Podere nem ter as mãos limpas

Para ficares vais comer sempre a sopa

- diz a mãe

Pensando melhor Mãe, o teu filho será um guardador de ventos

E se surge uma tempestade? Não posso perder-te, querido menino

- diz a mãe

Nunca me perderás! Eu habito no teu coração

Mãe, deixa-me ser um guarda-joias

Que pavor, podem assaltar-te, Sílvio

- diz a mãe

Guarda- jóias do teu amor

Obrigada, Sílvio. Meso assim é arriscado

- diz a mãe

As aves fazem ninho nos meus sonhos

O teu destino é guardar as palavras

-diz a mãe

As palavras não voam

Para isso precisam de enternecimento

- diz a mãe

Quem guarda as palavras fica com sangue azul?


Nem sangue azul, nem as unhas negras

- diz a mãe

Limpo o musgo das palavras sombrias, afago ternuras nos desavindos. Água fresca dou
às palavras mais valores e agasalho às que se perderam na noite

Muito bem, Sílvio E serás uma autoridade

- diz a mãe

Francisco Duarte Mangas/ Madalena Menezes

Caminho

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