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FACULDADE DE DIREITO

DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA – 2º/2019


Turma F – 3ª e 5ª, das 10h00 às 11h50

VALDERLEIDSON MARTINS FELIPE


Matrícula: 19/0096128

2ª ATIVIDADE
RESENHA DO TEXTO: MARX, Karl. O CAPITAL: A Mercadoria. São
Paulo, Editora Nova Cultural, 1996

Brasília – DF
2019
O presente trabalho tem como objetivo a exposição dos principais temas e
argumentos do primeiro capítulo da obra “O Capital”. Karl Marx, foi um filósofo e
revolucionário socialista e precursor da teoria comunista. Nascido na Alemanha em maio
de 1818 e falecido em março de 1883, na cidade de Londres, Marx era um dentre os nove
filhos de Herschel Marx e Henriette Pressburg. Após uma longa formação acadêmica,
Marx publica em 1867, com a ajuda de Engels, sua principal obra “O Capital”, onde faz
uma análise crítica ao capitalismo.
No primeiro capítulo da obra, o filósofo adota a mercadoria como núcleo temático
de sua análise. Marx se propõe a analisar essa matéria pois considera ser o elemento de
maior evidência no sistema capitalista o qual será objeto de crítica na obra. Entretanto,
avalia como uma matéria muito complicada a ser analisada porque demonstra uma
sutileza metafísica e manhas teológicas. (MARX, 1996, p.197)
Ao iniciar suas ponderações sobre o tema, define a mercadoria como uma coisa
ou um objeto cuja finalidade é a satisfação das necessidades humanas através de suas
propriedades. As necessidades podem ser “do estômago ou da fantasia”, ou seja,
necessidades de ordem fisiológicas ou provenientes de uma “falsa necessidade”. Do
mesmo modo, a forma como esse objeto será utilizado para saciar tal necessidade pode
ser imediato, como objeto de consumo ou indireto, como meio de produção. Entretanto,
considera que esses fatores não alterarão em nada as análises seguintes.
Previamente, demonstra que para se analisar cada coisa útil deve-se adotar dois
pontos de vista, o da qualidade e o da quantidade. A utilidade de uma coisa pode ser vista
a partir de diversos aspectos dado que uma coisa é um todo de várias propriedades. Dessa
maneira, descobrir como as coisas são utilizadas constitui um ato histórico do mesmo
modo que são adotadas as medidas sociais para quantizar as coisas.
No desenvolvimento do capítulo, Marx mostra que a mercadoria possui um duplo
fator: valor de uso e valor de troca. Ao definir valor de uso, evidencia a utilidade como
sendo o critério para avaliar uma mercadoria como um valor de uso, isto é, o grau de
importância de determinado objeto ao indivíduo é o fator que define tal objeto como valor
de uso. Essa utilidade é determinada pelas propriedades físicas da mercadoria, ou seja, o
seu conteúdo, por sua vez, substância do seu valor. Esse valor utilitário da mercadoria é
independente do trabalho despendido na sua produção, porém, só é concretizado no uso
ou no consumo da mercadoria. Por último, entende que é esse valor que fornece o
conteúdo material da riqueza ao mesmo tempo em que, no capitalismo, constitui os
portadores materiais do valor de troca.
Paralelamente, o valor de troca é a expressão de uma relação quantitativa entre
valores de uso de diferentes espécies, é uma proporção na qual uma mercadoria será
trocada por outra. Essa relação está em constante mudança no tempo e no espaço, isto
posto, se revela como algo causal e puramente relativo dependente das relações de troca.
Portanto, seria uma contradição a ideia de um valor de troca imanente.
As relações de troca podem ser sempre representadas por uma equação na qual
dois valores de uso são medidos através de um fator em comum por meio do qual, um
represente mais ou menos que o outro. Para Marx, esse fator em comum não pode ser
visto a partir de naturais entendendo que essas conferem utilidade, ou seja, traduzam em
valor de uso. Contudo, o que caracteriza essa relação de troca é exatamente a abstração
dos valores de uso posto que, só podem representar mercadorias de diferente qualidade
enquanto que os valores de troca são de diferentes quantidades.
Prosseguindo em sua investigação, Marx se depara com a propriedade comum às
mercadorias, a de serem produtos do trabalho. Essa propriedade é a que responde ao valor
de troca da mercadoria o qual Marx passa a chamar somente valor. Em uma afirmação
contundente, demonstra a origem do valor de uma mercadoria: “Portanto, um valor de
uso ou bem possui valor, apenas, porque nele está objetivado ou materializado trabalho
humano abstrato.” (MARX, 1996, p.168)
Para medir a grandeza do valor de uma mercadoria, o filósofo aponta que é preciso
ser feito por meio do quantum, isto é, a quantidade de trabalho nela contida. Essa
quantidade de trabalho é dada justamente pelo seu tempo de duração nas frações de tempo
determinadas, horas, dias, etc.
Neste sentido, seria possível afirmar que quanto mais alguém demore em finalizar
seu trabalho, mais valor seria agregado. Entretanto, a relação entre valor e trabalho se
mostra mais complexa à medida que se compreende que a real substância dos valores é
dada através do dispêndio da mesma força de trabalho humano. Entende-se que as
diversas forças de trabalho individuais formam uma força conjunta de trabalho da
sociedade. Desse modo, um trabalho individual se torna igual a outro contanto que
apresente o caráter de uma força média do trabalho social, de outro modo, que na
produção de uma mercadoria o tempo consumido não seja maior que o tempo de trabalho
socialmente necessário.
O tempo de trabalho socialmente necessário, é definido por Marx como aquele
requisitado para se produzir um valor de uso em condições de produção socialmente
normais, pressupondo-se um grau médio de habilidade e intensidade de trabalho. Outro
fator que modifica o valor de uma mercadoria é a força produtiva do trabalho. Esta, é
determinada por condições diversas como, por exemplo, a tecnologia, as condições
naturais, os meios de produção, entre outros. À vista disso, conclui-se que o quantum de
tempo de trabalho socialmente necessário para produzir um valor de uso determina, em
razão direta, a grandeza do valor de uma mercadoria, em contrapartida, a força produtiva
de trabalho modifica em razão inversa a grandeza desse valor.
Partindo disso, Marx desenvolve o corte entre valor de uso e valor. A utilidade de
uma coisa não mediada por trabalho, ainda que seja valor de uso, não constitui valor. Para
tal, é necessário que se produza valor de uso social, ou seja, valor de uso para outros
transferido por meio da troca. Ainda assim, é necessário que o trabalho seja livre pois, o
trabalho escravo não produz mercadorias, isto é, objetos de troca.

O camponês da Idade Média produzia o trigo do tributo para o senhor feudal, e


o trigo do dízimo para o clérigo. Embora fossem produzidos para outros, nem o
trigo do tributo nem o do dízimo se tornaram por causa disso mercadorias.
(MARX, 1996, p.170)

Por fim, apreende que o valor de uso é complementar ao valor porque nenhuma
coisa pode ser valor não sendo um objeto de uso. Consequentemente, sendo algo inútil
torna-se também inútil o trabalho e por fim, não há valor.
No segundo tópico do capítulo, Marx desenvolve a ideia do caráter duplo do
trabalho representado nas mercadorias. Para ele, do mesmo modo que a mercadoria possui
uma duplicidade, o trabalho também tem um caráter dúplice. À medida que o trabalho
produz valor de uso, é considerado trabalho útil, portanto, capaz de suprir necessidades
humanas nas diversas formas de sociedade. Concebendo os valores de uso como
qualitativamente diferentes a condição possível à relação de troca, percebe-se que detrás
desses valores de uso existem trabalhos úteis qualitativamente diferentes. Portanto, a
existência de uma divisão social do trabalho.
Nessa análise, o autor afirma que a divisão social do trabalho é condição para a
produção de mercadorias, conquanto, o contrário seja falso. A existência de trabalhos
socialmente divididos não pressupõe a produção de mercadorias. Adiante, assevera que
“somente os produtos de trabalhos privados autônomos e independentes entre si
confrontam-se como mercadorias”. (MARX, 1996, p.171)
No entanto, considera que o trabalho não é a única fonte de valor de uso. Existem
utilidades para a humanidade não intermediadas pelo trabalho como a luz do Sol, o ar,
entre outros. Por isso, os valores de uso são ligações dos elementos: recursos naturais e
trabalho.
Deslocando a análise para a relação valor-mercadoria, demonstra que apesar de
existirem atividades produtivas com fins, modos de operar, objetos, meios e resultados
distintos, são dispêndio de trabalho do homem no sentido fisiológico, portanto, trabalho
humano igual, denominado trabalho humano abstrato. Por outro lado, trabalho humano
concreto por ser adequado a um fim específico, produção de valor de uso. Marx também
diferencia trabalho simples, o trabalho individual, do trabalho complexo, como a soma
dos trabalhos simples.
Na parte final do capítulo, o filósofo traz, em grande medida, o foco da sua crítica
ao modelo social analisado. Marx entende que a mercadoria possui um caráter
fetichizado, mistificado, misterioso. Em sua análise, propõe que esse caráter não provém
do valor de uso da mercadoria, mas da sua própria forma enquanto mercadoria.

Como valor de uso, não há nada misterioso nela, quer eu a observe sob o ponto
de vista de que satisfaz necessidades humanas pelas suas propriedades, ou que
ela somente recebe essas propriedades como produto do trabalho humano.
(MARX, 1996, p.197)

O trabalho humano enquanto trabalho abstrato confere forma material de igual


objetividade de valor aos produtos do trabalho. O segredo da mercadoria surge, portanto,
no fato de que ela reflete ao homem características sociais do seu próprio trabalho como
características objetivas dos próprios produtos de trabalho, refletindo também a relação
social dos produtores com o trabalho total como sendo algo exterior a eles, entre objetos.
Desse modo, as mercadorias se tornam coisas metafísicas

Assim, a impressão luminosa de uma coisa sobre o nervo ótico não se apresenta
como uma excitação subjetiva do próprio nervo, mas como forma objetiva de
uma coisa fora do olho. (MARX, 1996, p.198)

Para Marx, porém, a forma mercadoria e a relação dos produtos de trabalho não
tem a ver com a natureza física e as relações matérias que surgem daí. É, no entanto, uma
determinada relação social entre os homens que faz com que, para eles, as coisas assumam
uma forma fantasmagórica em relação a si próprios. O filósofo faz uma analogia em
relação à religião onde os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria
mantendo relações entre si e com os homens.
Esse caráter fetichista da mercadoria provém do caráter social peculiar do
trabalho, por isso, inseparável deste. Além disso, a relação de troca das mercadorias é
vista não como relações diretamente sociais entre pessoas em seus próprios trabalhos,
mas, como relações reificadas, isto é, coisificadas entre as pessoas e relações sociais entre
as coisas.
Marx aponta que a cisão entre valor de uso e valor realiza-se apenas na prática,
com o processo de desenvolvimento das relações de produção capitalistas. Avançando
em sua análise, demonstra que os trabalhos privados adquirem, nesse momento, um duplo
caráter social: por um lado, precisam satisfazer uma necessidade social e por outro,
satisfazem somente às necessidades de seus próprios produtores.

A igualdade de trabalhos toto coelo diferentes só podem consistir numa


abstração de sua verdadeira desigualdade, na redução ao caráter comum que eles
possuem como dispêndio de força de trabalho do homem, como trabalho humano
abstrato. (MARX, 1996, p.199)

Por fim, Marx encerra o capítulo afirmando que sob o amparo da formação social
capitalista, o processo de produção aliena e domina as pessoas. A libertação das amarras
que os prende é, portanto, tarefa imprescindível, para a construção de uma nova ordem
social livre do capital entendendo que:

A figura do processo social da vida, isto é, do processo da produção material,


apenas se desprenderá do seu místico véu nebuloso quando, como produto de
homens livremente socializados, ela ficar sob seu controle consciente e
planejado. (MARX, 1996, p. 205)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NETO, Mario Soares. Resumo Analítico: O Capital de Marx - A Mercadoria. [S. l.]:
UFBA-FACED , 8 set. 2009. Disponível em:
http://www.rascunhodigital.faced.ufba.br/ver.php?idtexto=719. Acesso em: 16 nov.
2019.

FRAZÃO, Dilva. Karl Marx: Filósofo e revolucionário alemão. [S. l.]: EBiografia, 24
out. 2019. Disponível em: https://www.ebiografia.com/karl_marx/. Acesso em: 16 nov.
2019.

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