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930, de 11 de Janeiro de
1932
Fiscaliza o emprego e o comércio das substâncias tóxicas entorpecentes, regula a sua
entrada no país de acordo com a solicitação do Comité Central Permanente do Opio da
Liga das Nações, e estabele penas
DECRETA:
CAPÍTULO I
DAS SUBSTÂNCIAS TÓXICAS ENTORPECENTES EM GERAL
CAPÍTULO II
DA IMPORTAÇÃO E DO COMÉRCIO DAS SUBSTÂNCIAS TÓXICAS ENTORPECENTES
Art. 2º Para fabricar, importar, exportar, reexportar, vender, trocar, ceder, expor ou
ter para um desses fins, qualquer das substâncias discriminadas no art. 1º, é
indispensavel licença especial da autoridade sanitária competente, em conformidade
com os dispositivos deste decreto.
Art. 3º A venda ao público de qualquer das substâncias indicadas no art. 1º, só é
permitida às farmácias e mediante receita de facultativo com diploma registado no
Departamento Nacional de Saude Pública, estando a firma em caracteres legiveis, e
havendo indicação precisa do nome, prenome e residência do médico e do enfermo.
§ 1º Tais receitas não serão, em caso algum, restituidas, mas, ato contínuo,
registadas, com o respectivo número de ordem, em livro destinado especialmente a
esse fim, aberto, encerrado e rubricado pela autoridade sanitária competente.
Art. 9º Da recusa, ou cassação, da permissão, cabe recurso, no Distrito Federal, para
o ministro da Justiça, e, nos Estados, para a autoridade que a lei respectiva designar.
§ 1º Este requerimento deve ser acompanhado de certidão que comprove achar-se
a farmácia, ou drogaria, devidamente licenciada pelas autoridades sanitárias estaduais;
§ 4º Considera-se aquisição em larga escala a que exceder dos limites fixados pelo
diretor do Departamento Nacional de Saude Pública.
Art. 11. As substâncias a que se refere o art. 1º poderão entrar no país unicamente
pela Alfândega do Rio de Janeiro.
a
o despacho à ordem;
)
b
a importação por via postal ou aérea.
)
Art. 14. Nos pedidos dos certificados, a que se refere o artigo precedente, dirigidos
à Inspetoria de Fiscalização do Exercício da Medicina, do Departamento Nacional de
Saude Pública, serão discriminadas a natureza e a quantidade de cada um dos
produtos a importar, durante o ano a que se refira o pedido, e Alfândega de entrada
que é a do Rio de Janeiro, assim como o destino e o emprego de tais drogas, de modo
a justificar a legitimidade de sua aplicação ou comércio.
Parágrafo único. Esse certificado só terá valor durante o ano em que tiver sido
concedido.
Art. 16. Para cada despacho, o interessado apresentará o certificado de importação à
Inspetoria do Exercício da Medicina, que, concedida a licença, a anotará no mesmo
certificado, e comunicará à Alfândega respectiva a concessão, ou lançará o visto no
próprio documento que tiver de ficar arquivado na repartição aduaneira e servir para
desembaraçar a mercadoria.
Art. 18. Não poderão ser retiradas das substâncias importadas quantidades que
excederem às fixadas nos certificados, ou na licença especial.
Parágrafo único. Destas vias, feitas em papel impresso fornecido pela autoridade
sanitária local, o exportador, ou reexportador, remeterá a primeira à autoridade
sanitária local, que a arquivará, e as outras duas ao destinatário, que guardará uma
prova da legitimidade da compra, ou da importação, e entregará, imediatamente, a
outra, à autoridade policial local, a quem cumpre o dever funcional de, apondo-lhe o
visto, devolvê-la, dentro de 48 horas, à autoridade sanitária do lugar da exportação, ou
reexportação, para que esta a registe e arquive por três anos.
Art. 21. Em livro próprio, na repartição competente, serão abertos títulos com os
nomes dos importadores, ou consignatários, em que serão lançados os certificados de
importação expedidos e as licenças concedidas para cada despacho, afim de verificar a
observância da limitação anual constante dos certificados.
§ 1º Atingido o limite fixado, não mais será concedida licença, no mesmo ano, para
retirada de qualquer substância entorpecente pelo mesmo importador, salvo se, por
motivo atendivel, e provado plenamente, o diretor do Departamento Nacional de
Saude Pública resolver conceder um certificado de importação suplementar.
§ 2º A escrituração do livro referido bem como a expedição dos certificados ficarão
a cargo de um funcionário designado pelo chefe do serviço.
Art. 23. As substâncias entorpecentes, nos locais onde estejam depositadas, devem
ficar guardadas em moveis ou prateleiras especiais, fechados a chave.
CAPÍTULO III
DAS INFRAÇÕES LEGAIS E SUAS PENAS
Art. 25. Vender, ministrar, dar, trocar, ceder, ou, de qualquer modo, proporcionar
substâncias entorpecentes; propor-se a qualquer desses atos sem as formalidades
prescritas no presente decreto; induzir, ou instigar, por atos ou por palavras, o uso de
quaisquer dessas substâncias.
§ 1º Se o infrator exercer profissão ou arte, que tenha servido para praticar a
infração, ou que a tenha facilitado, penas alem das supra indicadas, suspensão do
exercício da arte, ou profissão, por seis meses a dois anos.
§ 2º Sendo farmacêutico o infrator, penas: de dois a cinco anos de prisão celular,
multa de 2:000$0 a 6:000$0 alem de suspensão do exercício da profissão por três a sete
anos.
Art. 26. Quem for encontrado tendo consigo, em sua casa, ou sob sua guarda,
qualquer substância compreendida no art. 1º, em dose superior, à terapêutica
determinada pelo Departamento Nacional de Saude Pública, e sem expressa prescrição
médica ou de cirurgião dentista, ou quem, de qualquer forma, concorrer para
disseminação ou alimentação do uso de alguma dessas substâncias.
Penas: três a nove meses de prisão celular, e multa de 1:000$0 a 5:000$0.
Art. 30. Importar entorpecentes por via aérea, ou postal, ou com qualquer outra
inobservância das formalidades do presente decreto - pena de quatro anos de prisão
celular, alem das fiscais (art. 265 do Código Penal).
Art. 31. Os infratores dos arts. 16 e 21 incorrerão nas penas do art. 27.
Art. 32. A infração de qualquer dos dispositivos do presente decreto que não tenha
pena especialmente estipulada será punida com a multa de 1:000$0 a 5:000$0, alem
das penas de prisão de seis meses a dois anos, no caso de reincidências.
Art. 33. As infrações dos arts. 25 e 30 deste decreto são inafiançaveis; nas demais o
infrator só será solto prestando fiança.
Art. 34. Em todos os casos deste decreto, se o infrator exercer função pública, será
suspenso por tempo indeterminado, com perda de todos os vencimentos, logo que
denunciado; se definitivamente condenado, perderá a função aludida, e, se esta for em
serviço ou repartição sanitária, a pena será majorada de uma sexta parte.
Art. 35. Nos crimes previstos neste decreto não terá lugar a suspensão da execução
da pena nem o livramento condicional.
Art. 36. A procura da satisfação de prazeres sexuais, nos crimes de que trata este
decreto, constituirá circunstância agravante.
Art. 37. Será excluido e terá a matrícula trancada pelo tempo da pena em que
incorrer, e por mais um ano, o aluno de estabelecimento de ensino de qualquer grau,
público ou particular, condenado por crime previsto neste decreto.
Art. 39. Todas as penas deste decreto serão aplicadas em dobro nos casos de
reincidência.
Art. 43. É crime de cárcere privado, e como tal punido, promover e efetuar,
dolosamente, a internação extra-judicial de alguem em estabelecimento público ou
particular, sob o falso pretexto de tratamento.
CAPÍTULO IV
DA INTERNAÇÃO E DA INTERDIÇÃO CIVIL
§ 2º Terá tambem lugar a internação obrigatória quando o juiz a ordenar de ofício
nos casos:
a
de condenação por embriaguez habitual;
)
de impronúncia ou absolvição, em virtude da dirimente do art. 27, § 4º, do
b
Código Penal, com fundamento de doença ou estado mental resultante do abuso
)
de qualquer das substâncias enumeradas no art. 1º e neste.
§ 4º Nos casos de urgência notória ou evidente, poderá ser feita pela polícia a
prévia e imediata internação, fundada no laudo de exame, ainda que sumário, efetuado
por dois médicos de inteira idoneidade, instaurando-se a seguir o processo judicial, na
forma do § 1º deste artigo, dentro do prazo máximo de cinco dias, contados a partir da
internação.
§ 5º A internação prévia poderá tambem ser ordenada pelo juiz competente,
quando a maioria dos peritos por ele nomeados a considere necessária à observação,
médico-legal.
§ 5º A alta dos internados só poderá ser autorizada pelo Juizo que houver
decretado a internação, e mediante novo exame pericial, que a justifique.
Art. 47. A interdição limitada não acarretará a perda de cargo público, mas apenas o
licenciamento temporário, salvo se se prolongar por mais de um ano.
§ 2º Em todos os termos do processo será ouvido o curador de Orfãos, sob pena de
nulidade.
CAPÍTULO V
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 51. O diretor do Departamento Nacional de Saude Pública poderá estatuir, alem
de outras medidas convenientes, de conformidade com este decreto, a limitação dos
estoques, mantidos pelos estabelecimentos devidamente autorizados, de qualquer das
substâncias analgésicas, inebriantes ou entorpecentes.
Art. 55. O Departamento Nacional de Saude Pública organizará a lista dos indivíduos
implicados no tráfico das substâncias a que se refere este decreto.
Art. 56. As multas previstas neste decreto serão impostas pelo Inspetor de
Fiscalização do Exercício da Medicina, ou pela autoridade sanitária local, com recurso
para o diretor geral, observado o disposto na parte 6ª, capítulo 1º, do regulamento n.
16.300, de 31 de dezembro de 1923, quando aplicavel.
Art. 57. Não satisfeitas as multas, nos termos do art. 1.649, da parte 6ª, capítulo 1º,
do regulamento n. 16.300, de 31 de dezembro de 1923, serão as mesmas cobradas
executivamente pela Procuradoria dos Feitos da Saude Pública, consoante dispõe o art.
1.656, alínea l, do regulamento citado, ou pela autoridade judiciária competente,
conforme a lei aplicavel. Nos Estados, tal cobrança executiva compete aos procuradores
seccionais da República e seus ajudantes.
Art. 58. Os processos criminais previstos neste decreto, bem como todos os que
decorrerem da legislação sanitária, serão instaurados, no Distrito Federal, por denúncia
da Procuradoria dos Feitos da Saude Pública, perante a Justiça Federal, e nos Estados
pelos procuradores seccionais da República e seus ajudantes, quando solicitados, uns e
outros, pela Inspetoria de Fiscalização do Exercício da Medicina ou por outra
autoridade competente, que farão presentes no Ministério Público os documentos
necessários.
GETÚLIO VARGAS
Francisco Campos
Este texto não substitui o original publicado no Diário Oficial da União - Seção 1 de
16/01/1932
Publicação: