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FACULDADE DE DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
OUTUBRO DE 2011
1 APRESENTAÇÃO
O presente projeto de pesquisa põe em evidência o formato da educação jurídica
atual através de discussão que envolve os três elementos indissociáveis da educação superior:
ensino, pesquisa e extensão. Nesse sentido, através da análise comparativa de trabalhos de
conclusão de cursos Graduação em Direito e de sua relação com a extensão, desenvolvidas em
Faculdades de contextos distintos de produção acadêmica (central e periférico), a presente
investigação pretende analisar que características epistemológicas orientam estes cursos e se é
possível generalizá-las como propriedades da educação jurídica disposta atualmente no Brasil.
Esta realidade será captada por métodos de pesquisa empíricos, com coletas de
dados primários e secundários1, que serão interpretados a partir do diálogo entre os campos do
Direito, da Filosofia da Educação, da Sociologia Jurídica, da Sociologia do Conhecimento
Científico e dos estudos de Metodologia do ensino, da pesquisa e da extensão.
Por esse perfil, a proposta de pesquisa apresentada aqui poderá ser desenvolvida
no Mestrado em Direito da Universidade de Brasília, na linha de pesquisa Sistemas de Justiça,
Direitos Humanos e Educação Jurídica.
1
Dados primários são aqueles levantados e trabalhados diretamente pelo pesquisador, sem qualquer
intermediação de outros indivíduos e dados secundários são aqueles que derivam de estudos e análises já
realizados por intermediários entre o pesquisador e o objeto de investigação (GUSTIN, 2006).
Ao longo dos últimos trinta anos, vários juristas, professores e instituições, como
por exemplo, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira do Ensino do
Direito (ABEDi), o Ministério da Educação e outros atores preocupados com a temática, têm
enfrentado as dificuldades identificadas na educação jurídica com a produção de análises,
sugestões e constituição de instrumentos normativos (HUPFFER, 2008). Parece haver, entre
os estudiosos da questão, certo consenso de que o acúmulo de diversas dificuldades ensejou
uma crise do atual modelo do ensino jurídico no país (MACHADO, 2009).
Posição que em parte é corroborada por José Eduardo Faria, para quem o ensino
jurídico se caracteriza pelo flagrante envelhecimento de seus esquemas cognitivos,
esgotamento de seus paradigmas teóricos e por se fundar em uma concepção estrita de
sociedade (sistema dotado de estruturas estabilizadas) e de Direito (aquele editado por um
Estado soberano) que tem nos tribunais o locus privilegiado de resolução dos conflitos
(GUSTIN, 2006).
No que se refere, especificamente, à pesquisa científica, Miracy Gustin afirma que
em passado recente os cursos jurídicos brasileiros consideravam pouco a importância da
pesquisa como fonte de renovação do conhecimento jurídico-científico. Em geral, estava
restrita a consultas em manuais, a coletâneas de jurisprudência, a recortes de jornais, a
anotações de revistas especializadas ou a levantamentos de opiniões sobre determinado
assunto. Hoje, em um número crescente de cursos, pode-se notar uma alteração desse quadro,
com o crescimento de pesquisas desde histórico-jurídicas até as de conteúdo jurídico-
projetivo, jurídico-exploratório ou as pesquisas qualitativas de campo (2006).
Em outros autores, é corrente observar a extensão universitária como um dos
elementos da educação jurídica que podem ser potencializados na perspectiva de superar
deficiências em vários elementos do ensino e da pesquisa, principalmente no que tange à
contextualização e função social do conhecimento produzido nas Faculdades de Direito. Sua
prática teria o condão de, no diálogo direto entre universidade e comunidades, produzir dados;
a partir das necessidades sociais, propiciar a criação e a aplicação de conhecimento jurídico;
estimular o surgimento de novas abordagens teóricas também no espaço acadêmico; e, com
efeito, constituir modos de aprendizagem que dote o ensino de um fazer científico inseparável
(PÔRTO, 2000; HUPFFER, 2008).
Por se propor a observar empiricamente se se comprovam as afirmações teóricas
que parecem se repetir entre pesquisadores e pesquisadoras da Educação Jurídica acerca das
potencialidades da extensão universitária sobre a pesquisa e sobre o ensino, é que o presente
projeto se torna relevante, do ponto de vista teórico e do ponto de vista prático. Neste caso, a
partir de elementos apontados pelo campo de análise, (a) permite aprofundar o debate sobre as
condições da educação jurídica no Brasil; (b) constatar a correspondência da realidade de
cursos de Direito, em contextos distintos, com o diagnóstico apontado pela literatura que trata
do tema; (c) a partir da sistematização dos dados recolhidos, dar suporte a novas pesquisas
sobre educação jurídica; e, por último, se necessário, (d) indicar direções plausíveis para o
aprimoramento da pesquisa e da extensão jurídicas, e, sobretudo, para a formação em Direito
no Brasil.
Ganha maior relevância o trabalho de investigação proposto ao se perceber, após
levantamento em Bases de Dados Periódicos Capes e PROQUEST, a escassez de referências
teóricas acerca do ensino/educação jurídica, extensão e pesquisa em Direito, mais ainda sobre
a relação entre os dois últimos temas, para o quê não se pôde observar qualquer trabalho
científico publicado. Em pesquisa à base de dados das teses e dissertações da Faculdade de
Direito da Universidade de Brasília, a partir da análise do resumo, introdução e conclusão dos
trabalhos, foram encontradas uma tese de doutorado e duas dissertações2 que estabelecem um
diálogo, mesmo indiretamente, entre extensão universitária e ensino jurídico.
4 OBJETIVOS
2
Tese - SOUSA JÚNIOR, José Geraldo de. O Direito como liberdade: o Direito Achado na Rua – experiências
populares de criação do Direito. 338f. 2008. Tese (Doutorado em Direito) – Programa de Pós-Graduação em
Direito, Universidade de Brasília (UnB), Brasília; Dissertações - SÁ E SILVA, Fábio Costa Morais de. Ensino
jurídico, um tesouro a descobrir: a construção de alternativas pedagógicas e metodológicas a partir da reforma
do ensino jurídico (e jurídico-penal). 2007. Dissertação (Mestrado em Direito) – Programa de Pós-Graduação em
Direito, Universidade de Brasília (UnB), Brasília; e, VERAS, Mariana Rodrigues. Campo do ensino jurídico e
travessias para mudança de hábitos: desajustamentos e (des)construção do personagem. 2008. Dissertação
(Mestrado em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade de Brasília (UnB), Brasília.
3
Assume-se aqui epistemologia como toda a noção ou idéia, refletida ou não, sobre as condições do que conta
como conhecimento válido (SANTOS 2010). Logo, o perfil epistemológico seria o conjunto de características
que evidenciam uma determinada idéia sobre as condições de validade do conhecimento jurídico.
da graduação em Direito, bem como, em havendo similitudes, se é possível generalizar as
conclusões empíricas obtidas através do universo investigado para a realidade da educação
jurídica no Brasil.
5. HIPÓTESES
6 MARCO TEÓRICO
O presente estudo tem como marco teórico básico a reunião de contribuições e/ou
categorias teóricas constantes principalmente no pensamento de Roberto Lyra Filho,
Boaventura de Sousa Santos e nas concepções de extensão constituídas pelo Fórum de Pró-
Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (FORPROEX).
Com Roberto Lyra Filho, o presente trabalho fará a aproximação teórica entre as
discussões de modelos científicos e de concepções da filosofia da educação com a educação
jurídica, de modo que se consiga estabelecer os marcos do debate acerca dos possíveis
equívocos pedagógicos e epistemológicos presentes na Ciência e Educação Jurídicas.
A partir de debates promovidos por Boaventura de Sousa Santos sobre discursos
científicos e modelos epistemológicos adotados pelas ciências sociais, o trabalho deverá
dialogar acerca das características da pesquisa jurídica e os obstáculos porventura existentes
entre os modos de fazer estabelecidos e a instituição de formas novas para a Ciência do
Direito e para a educação jurídica.
Sobre a prática da extensão universitária, o ponto de partida será a concepção
produzida pelo FORPROEX (2000/2001), que, fundada nos debates produzidos por Paulo
Freire sobre o tema (1977), concebe a extensão como processo educativo, científico e cultural
que articula ensino e pesquisa de forma indissociável na produção de conhecimento resultante
da comunicação direta entre Universidade e sociedade.
7 ESTRATÉGIA DE ABORDAGEM
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