Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Informativo 630-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DEFENSORIA PÚBLICA
Defensor Público não precisa de inscrição na OAB para exercer suas funções.
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
Surgimento de novas vagas + necessidade do provimento + inexistência de restrição orçamentária = direito subjetivo
à nomeação.
SERVIDORES PÚBLICOS
São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu em razão de
perseguição política praticada na época da ditadura militar.
DIREITO CIVIL
USUCAPIÃO
É possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel com a implementação do requisito temporal no curso da
demanda.
DIREITO DO CONSUMIDOR
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA
Validade do repasse da comissão de corretagem ao consumidor pela incorporadora imobiliária mesmo no Programa
Minha Casa, Minha Vida.
DIREITO EMPRESARIAL
SOCIEDADES
Legitimidade passiva da Telebrás, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas), para a ação de
complementação de ações.
RESTAURAÇÃO DE AUTOS
Tribunal de Justiça não pode editar provimento fixando prazo para a propositura da ação de restauração de autos.
TRIBUNAL DO JÚRI
Jurado que fala “é um crime” durante a sessão de julgamento viola o dever de incomunicabilidade acarretando a
nulidade absoluta da condenação.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PREVIDÊNCIA PRIVADA
Não é possível incluir, nos cálculos dos proventos de complementação de aposentadoria pagos por entidade fechada
de previdência privada, as horas extraordinárias habituais incorporadas por decisão da Justiça trabalhista à
remuneração do participante.
Em ação de revisão de benefício de previdência privada, o patrocinador não possui legitimidade passiva para figurar
em litisconsórcio com a entidade previdenciária.
DIREITO CONSTITUCIONAL
DEFENSORIA PÚBLICA
Defensor Público não precisa de inscrição na OAB para exercer suas funções
Importante!!!
Os Defensores Públicos NÃO precisam de inscrição na OAB para exerceram suas atribuições.
O art. 3º, § 1º, da Lei 8.906/94 deve receber interpretação conforme à Constituição de modo a
se concluir que não se pode exigir inscrição na OAB dos membros das carreiras da Defensoria
Pública.
O art. 4º, § 6º, da LC 80/94 afirma que a capacidade postulatória dos Defensores Públicos
decorre exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo público, devendo esse dispositivo
prevalecer em relação ao Estatuto da OAB por se tratar de previsão posterior e específica.
Vale ressaltar que é válida a exigência de inscrição na OAB para os candidatos ao concurso da
Defensoria Pública porque tal previsão ainda permanece na Lei.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.710.155-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 01/03/2018 (Info 630).
O candidato ao cargo de Defensor Público precisa de inscrição na OAB? O candidato precisa ser
advogado?
Em regra, sim. Essa é uma exigência prevista na LC 80/94 (Lei Orgânica da Defensoria Pública) para os
cargos de Defensor Público Federal e de Defensor Público do Distrito Federal. Veja:
Art. 26. O candidato, no momento da inscrição, deve possuir registro na Ordem dos Advogados do
Brasil, ressalvada a situação dos proibidos de obtê-la (ex: o candidato é Delegado), e comprovar,
no mínimo, dois anos de prática forense, devendo indicar sua opção por uma das unidades da
federação onde houver vaga.
(...)
§ 2º Os candidatos proibidos de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil comprovarão o
registro até a posse no cargo de Defensor Público.
Essa mesma disposição é encontrada no art. 71, caput e § 2º, que versa sobre a Defensoria Pública do
Distrito Federal:
Art. 71. O candidato, no momento da inscrição, deve possuir registro na Ordem dos Advogados do
Brasil, ressalvada a situação dos proibidos de obtê-la, e comprovar, no mínimo, dois anos de
prática forense.
(...)
§ 2º Os candidatos proibidos de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil comprovarão o
registro até a posse no cargo de Defensor Público.
No caso das Defensorias Públicas estaduais, a LC 80/94 não traz uma exigência semelhante porque, na
época da sua edição, entendeu-se que exigir ou não OAB do candidato (requisito para a posse) seria uma
decisão relacionada com a autonomia de cada Defensoria Pública estadual, a ser definida em lei estadual.
Logo, uma lei federal não poderia impor essa determinação.
Assim, se você observar as leis estaduais das Defensorias Públicas, algumas exigem do candidato a
inscrição na OAB e outras, não.
• Exemplo que exige: DPE/AC, DPE/AL, DPE/SP, DPE/AM e a imensa maioria.
• Exemplo que não exige: DPE/RJ.
DPE MA
2.1 O candidato deverá declarar, na solicitação de Inscrição Preliminar:
(...)
d) estar inscrito na OAB, na data da posse, dispensado deste requisito os incompatibilizados com
o exercício da advocacia;
DPE AC 2017
3 DOS REQUISITOS BÁSICOS PARA A INVESTIDURA NO CARGO
(...)
3.11 Possuir registro na Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, ressalvada a situação dos proibidos
de obtê-la, comprovado mediante cópia autenticada da carteira de advogado ou certidão emitida
pelo órgão, nos termos do art. 15 da Lei Complementar Estadual nº 158/2006.
O Defensor Público precisa ter inscrição na OAB para exercer as suas funções? O Defensor Público, para
exercer suas atribuições, precisa ser advogado?
1ª corrente: SIM 2ª corrente: NÃO
Se a LC 80/94 exige a inscrição na OAB como um A capacidade postulatória do Defensor Público
requisito para a posse, isso significa que se trata decorre diretamente da Constituição Federal.
de um requisito para o exercício do cargo. Assim, não é necessária a inscrição na OAB para o
exercício das funções.
Além disso, essa primeira corrente sustenta que o O Defensor Público não é um advogado.
Defensor Público exerce advocacia, razão pela Desse modo, o Defensor Público está obrigado a se
qual deve ser inscrito na OAB, conforme prevê o inscrever na OAB apenas para tomar posse, mas
art. 3º, § 1º da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB). não para o exercício de suas funções.
Principal dispositivo invocado: Principal dispositivo invocado:
Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no Art. 4º São funções institucionais da Defensoria
território brasileiro e a denominação de advogado Pública, dentre outras:
são privativos dos inscritos na Ordem dos (...)
Advogados do Brasil (OAB). § 6º A capacidade postulatória do Defensor
§ 1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando- Público decorre exclusivamente de sua nomeação
se ao regime desta lei, além do regime próprio a e posse no cargo público. (Incluído pela LC
que se subordinem, os integrantes da Advocacia- 132/2009)
Geral da União, da Procuradoria da Fazenda
Nacional, da Defensoria Pública e das
Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das
respectivas entidades de administração indireta e
fundacional.
É a corrente defendida pela OAB. É a tese institucional defendida pelas associações
de Defensores Públicos.
Isso significa que a Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB) não se aplica para nada relacionado com a
Defensoria Pública?
Não foi isso que se quis dizer.
É necessário fazer um diálogo das fontes e alguns dispositivos do Estatuto da Advocacia são sim aplicáveis
aos Defensores Públicos, dada a semelhança de suas atividades com aquelas que são exercidas pela
advocacia privada.
Um exemplo é o art. 2º, § 3º, da Lei nº 8.906/94, que assegura a inviolabilidade por atos e manifestações.
Outro é o sigilo da comunicação (art. 7º, III). Tais dispositivos são perfeitamente aplicáveis aos Defensores
Públicos.
Em suma:
Os Defensores Públicos NÃO precisam de inscrição na OAB para exerceram suas atribuições.
O art. 3º, § 1º, da Lei 8.906/94 deve receber interpretação conforme à Constituição de modo a se
concluir que não se pode exigir inscrição na OAB dos membros das carreiras da Defensoria Pública.
O art. 4º, § 6º, da LC 80/94 afirma que a capacidade postulatória dos Defensores Públicos decorre
exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo público, devendo esse dispositivo prevalecer em
relação ao Estatuto da OAB por se tratar de previsão posterior e específica.
Vale ressaltar que é válida a exigência de inscrição na OAB para os candidatos ao concurso da Defensoria
Pública porque tal previsão ainda permanece na Lei.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.710.155-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 01/03/2018 (Info 630).
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
Surgimento de novas vagas + necessidade do provimento + inexistência de restrição
orçamentária = direito subjetivo à nomeação
O candidato aprovado em concurso público fora do número de vagas tem direito subjetivo à
nomeação caso surjam novas vagas durante o prazo de validade do certame, haja manifestação
inequívoca da administração sobre a necessidade de seu provimento e não tenha restrição
orçamentária.
STJ. 1ª Seção. MS 22.813-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/06/2018 (Info 630).
Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas, mas durante o prazo de validade do concurso
foram criados novos cargos, ele terá direito subjetivo à nomeação?
Em regra, não.
Imagine que a Administração fez um concurso para 10 vagas, tendo nomeado e dado posse aos 10
primeiros. Alguns meses depois são criadas 5 novas vagas. O prazo de validade do concurso ainda não
expirou. Apesar disso, o Poder Público decide fazer um segundo concurso. Os candidatos aprovados no
primeiro certame fora do número de vagas inicialmente previsto poderão exigir sua nomeação?
Em regra, não.
EXCEÇÃO:
Haverá direito à nomeação se o candidato conseguir demonstrar, de forma cabal:
• que existe inequívoca necessidade de nomeação de aprovado durante o período de validade do certame; e
• que está havendo preterição arbitrária e imotivada por parte da administração ao não nomear os
aprovados.
O STJ entendeu que essa hipótese (surgimento de novas vagas + necessidade do provimento + inexistência
de restrição orçamentária) foi prevista pelo STF como uma hipótese na qual surge o direito subjetivo à
nomeação. Trata-se de situação descrita no final da ementa do julgado do STF no RE 837311. Confira:
(...) reconhece-se, excepcionalmente, o direito subjetivo à nomeação aos candidatos devidamente
aprovados no concurso público, pois houve, dentro da validade do processo seletivo e, também, logo após
expirado o referido prazo, manifestações inequívocas da Administração piauiense acerca da existência de
vagas e, sobretudo, da necessidade de chamamento de novos Defensores Públicos para o Estado. (...)
STF. Plenário. RE 837311, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/12/2015.
SERVIDORES PÚBLICOS
São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu em
razão de perseguição política praticada na época da ditadura militar
Importante!!!
São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu
em razão de atos de exceção praticados durante o regime militar.
Ex: João era servidor da ALE/PR. Em 1963, João foi demitido em razão de perseguição política
perpetrada na época da ditadura militar. Em 2011, João ajuizou ação ordinária contra o Estado
do Paraná pedindo a sua reintegração ao cargo. Esta pretensão é considerada imprescritível
considerando que envolve a efetivação da dignidade da pessoa humana.
Vale ressaltar, contudo, que a imprescritibilidade da ação que visa reparar danos provocados
pelos atos de exceção não implica no afastamento da prescrição quinquenal sobre as parcelas
eventualmente devidas ao autor. Não se deve confundir imprescritibilidade da ação de
Lei nº 10.599/2002
Art. 1º O Regime do Anistiado Político compreende os seguintes direitos:
(...)
V - reintegração dos servidores públicos civis e dos empregados públicos punidos, por interrupção
de atividade profissional em decorrência de decisão dos trabalhadores, por adesão à greve em
serviço público e em atividades essenciais de interesse da segurança nacional por motivo político.
Parágrafo único. Aqueles que foram afastados em processos administrativos, instalados com base
na legislação de exceção, sem direito ao contraditório e à própria defesa, e impedidos de conhecer
os motivos e fundamentos da decisão, serão reintegrados em seus cargos.
Vale ressaltar que João foi formalmente reconhecido como anistiado político por Portaria do Ministro da
Justiça.
A Procuradoria Geral do Estado, entre outras matérias defensivas, suscitou a ocorrência de prescrição.
Segundo este órgão, a Lei nº 10.599/2002 promoveu uma renúncia tácita ao prazo prescricional. Isso
significa que todas as pessoas prejudicadas poderiam ingressar com ações pedindo a reintegração, mas
desde que o fizessem no prazo de até 5 anos (art. 1º do Decreto nº 20.910/1932) contados da publicação
da Lei nº 10.599/2002.
O STJ concordou com a tese da PGE? A pretensão veiculada por João encontra-se realmente prescrita?
NÃO. Não houve prescrição porque essa pretensão é imprescritível. Veja o que decidiu o STJ:
São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu em razão
de atos de exceção praticados durante o regime militar.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.565.166-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 26/06/2018 (Info 630).
A Constituição Federal não prevê prazo prescricional para o exercício do direito de agir quando se trata de
defender o direito inalienável à dignidade humana, sobretudo quando violados durante o período do
regime de exceção.
É certo que a prescrição é a regra no ordenamento jurídico. Assim, em regra, para uma pretensão ser
considerada imprescritível deverá haver um comando expresso no texto constitucional, como é o caso do
art. 37, § 5º da CF/88.
O STJ, no entanto, excepcionalmente, afirma que, mesmo sem uma previsão expressa, é possível
considerar que as pretensões que buscam reparações decorrentes do regime militar de exceção são
imprescritíveis considerando que envolvem a concretização da dignidade da pessoa humana. Nesse
sentido:
(...) 1. A dignidade da pessoa humana, valor erigido como um dos fundamentos da República Federativa
do Brasil, experimenta os mais expressivos atentados quando engendradas a tortura e a morte, máxime
por delito de opinião.
(...)
4. À luz das cláusulas pétreas constitucionais, é juridicamente sustentável assentar que a proteção da
dignidade da pessoa humana perdura enquanto subsiste a República Federativa, posto seu fundamento.
5. Consectariamente, não há falar em prescrição da ação que visa implementar um dos pilares da
República, máxime porque a Constituição não estipulou lapso prescricional ao direito de agir,
correspondente ao direito inalienável à dignidade.
(...)
12. A exigibilidade a qualquer tempo dos consectários às violações dos direitos humanos decorre do
princípio de que o reconhecimento da dignidade humana é o fundamento da liberdade, da justiça e da
paz, razão por que a Declaração Universal inaugura seu regramento superior estabelecendo no art. 1º que
"todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos".
13. A Constituição federal funda-se na premissa de que a dignidade da pessoa humana é inarredável de
qualquer sistema de direito que afirme a existência, no seu corpo de normas, dos denominados direitos
fundamentais e os efetive em nome da promessa da inafastabilidade da jurisdição, marcando a relação
umbilical entre os direitos humanos e o direito processual.
(...)
STJ. 1ª Turma. REsp 1165986/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16/11/2010.
Mas, no caso de João, ele não está pedindo indenização por danos morais e sim a reintegração no cargo...
Mesmo assim. O STJ afirmou que a ação buscando a reintegração ao cargo público deve seguir o mesmo
regramento das ações de indenização. Isso porque a causa de pedir também decorre da violação de
direitos fundamentais perpetrada durante o regime militar.
Ora, o retorno ao serviço público representa uma forma de reparação, estando intimamente ligada ao
princípio da dignidade humana, tendo em vista que o trabalho representa uma das expressões mais
relevantes do ser humano.
Entendi... isso significa que João, além de voltar ao cargo público que ocupava, terá direito a toda
remuneração retroativa, desde 1963, data em que ele foi demitido?
NÃO. Não se deve confundir imprescritibilidade da ação de reintegração com imprescritibilidade dos
efeitos patrimoniais e funcionais dela decorrentes, sob pena de prestigiar a inércia do autor, que poderia
ter buscado seu direito desde a publicação da Constituição da República.
Isso significa dizer que:
• João terá direito de ser reintegrado;
• ele terá direito à remuneração retroativa, mas limitada aos últimos 5 anos, contados para trás, tendo marco
o ajuizamento. Como o pedido foi formulado em 2011, ele terá direito à remuneração retroativa desde 2006.
Essa compreensão, inclusive, restou estampada no art. 6º, § 6º, da Lei nº 10.559/2002:
Art. 6º O valor da prestação mensal, permanente e continuada, será igual ao da remuneração que
o anistiado político receberia se na ativa estivesse, considerada a graduação a que teria direito,
obedecidos os prazos para promoção previstos nas leis e regulamentos vigentes, e asseguradas as
promoções ao oficialato, independentemente de requisitos e condições, respeitadas as
características e peculiaridades dos regimes jurídicos dos servidores públicos civis e dos militares,
e, se necessário, considerando-se os seus paradigmas.
(...)
§ 6º Os valores apurados nos termos deste artigo poderão gerar efeitos financeiros a partir de 5
de outubro de 1988, considerando-se para início da retroatividade e da prescrição quinquenal a
data do protocolo da petição ou requerimento inicial de anistia, de acordo com os arts. 1º e 4º do
Decreto nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932.
Assim, são imprescritíveis as ações de reintegração a cargo público decorrentes de perseguição, tortura e
prisão, praticadas durante o regime militar, por motivos políticos, ficando, contudo, eventuais efeitos
retroativos, sujeitos à prescrição quinquenal.
DIREITO CIVIL
USUCAPIÃO
É possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel com
a implementação do requisito temporal no curso da demanda
Importante!!!
É possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo exigido por lei se complete no curso
do processo judicial, conforme a previsão do art. 493, do CPC/2015, ainda que o réu tenha
apresentado contestação.
Em março de 2017, João ajuizou ação pedindo o reconhecimento de usucapião especial
urbana, nos termos do art. 1.240 do CC (que exige posse ininterrupta e sem oposição por 5
anos). Em abril de 2017, o proprietário apresentou contestação pedindo a improcedência da
demanda. As testemunhas e as provas documentais atestaram que João reside no imóvel desde
setembro de 2012, ou seja, quando o autor deu entrada na ação, ainda não havia mais de 5
anos de posse. Em novembro de 2017, os autos foram conclusos ao juiz para sentença. O
magistrado deverá julgar o pedido procedente considerando que o prazo exigido por lei para
a usucapião se completou no curso do processo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/06/2018 (Info 630).
Usucapião
Usucapião é...
- um instituto jurídico por meio do qual a pessoa que fica na posse de um bem (móvel ou imóvel)
- por determinados anos
- agindo como se fosse dono
- adquire a propriedade deste bem ou outros direitos reais a ele relacionados (exs: usufruto, servidão)
- desde que cumpridos os requisitos legais.
Modalidades de usucapião
Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé.
Não importa o tamanho do imóvel.
Prazos:
• 10 anos (caput)
• 5 anos (parágrafo único)
Essa hipótese do art. 1.242, parágrafo único (prazo de 5 anos) é chamada por alguns
autores de usucapião tabular (veja item 8 abaixo).
Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé.
Requisitos:
a) 250m2: a pessoa deve estar na posse de uma área urbana de, no máximo, 250m2;
b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área por, no mínimo, 5 anos
ininterruptos, sem oposição de ninguém;
c) Moradia: o imóvel deve estar sendo utilizado para a moradia da pessoa ou de sua
4) ESPECIAL URBANA família;
(ou PRO MISERO) d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem imóvel
(urbano ou rural).
(art. 1.240 do CC)
(art. 9º do Estatuto da Observações:
Cidade) • Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé;
(art. 183 da CF/88) • Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez;
• É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for
calcular se o tamanho do imóvel é menor que 250m2, não se incluirá a área comum,
como salão de festas etc, mas tão somente a parte privativa);
• O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher,
ou a ambos, independentemente do estado civil.
Requisitos:
a) existência de um núcleo urbano informal;
b) esse núcleo deve viver em um imóvel cuja área total dividida pelo número de
possuidores seja inferior a 250m2;
c) esse núcleo deve estar na posse do imóvel há mais de 5 anos, sem oposição;
d) os possuidores não podem ser proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
O que são as terras dos quilombolas? São as áreas ocupadas pelos remanescentes das
comunidades dos quilombos e utilizadas por este grupo social para a sua reprodução
física, social, econômica e cultural.
O que são remanescentes das comunidades dos quilombos? Existe uma grande
9) DE QUILOMBOLAS
discussão antropológica sobre isso, mas, de maneira bem simples, os grupos que hoje
(art. 68 do ADCT)
são considerados remanescentes de comunidades de quilombos são agrupamentos
humanos de afrodescendentes que se formaram durante o sistema escravocrata ou
logo após a sua extinção.
Ação de usucapião
O CPC/1973 trazia, em seus arts. 941 a 945, um procedimento especial para a ação de usucapião.
O CPC/2015 não previu procedimento especial para a ação de usucapião, de forma que a usucapião judicial
deverá seguir o procedimento comum.
Afirmou que não tem o título de propriedade dessa área, mas lá mora há 5 anos sem oposição de ninguém.
Vale ressaltar também que ele não tem outro imóvel, seja urbano, seja rural.
Em abril de 2017, o proprietário apresentou contestação pedindo a improcedência da demanda.
Foram ouvidas testemunhas.
As testemunhas e as provas documentais atestaram que João reside no imóvel desde setembro de 2012,
ou seja, quando o autor deu entrada na ação (março de 2017), ainda não havia mais de 5 anos de posse.
Em novembro de 2017, os autos foram conclusos ao juiz para sentença.
Mas, quando o autor ajuizou a ação, ele ainda não havia preenchido o prazo de 5 anos de posse...
É verdade. No entanto, como o autor continuou na posse do bem durante a tramitação do processo, esse
requisito temporal foi atingido no curso da demanda.
E isso é permitido?
SIM.
É possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel com a implementação do requisito temporal
no curso da demanda.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/06/2018 (Info 630).
É possível complementar o prazo de usucapião no curso do processo, tendo em vista que o CPC autoriza
que o magistrado examine e leve em consideração na sentença fatos ocorridos após a instauração da
demanda. Veja:
Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do
direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a
requerimento da parte, no momento de proferir a decisão.
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.
A decisão deve refletir o estado de fato e de direito existente no momento de julgar a demanda, desde
que guarde pertinência com a causa de pedir e com o pedido (STJ. 5ª Turma. REsp 1.147.200/RS, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 13/11/2012).
Assim, cabe ao magistrado examinar o requisito temporal da usucapião ao proferir a sentença, permitindo
que o prazo seja completado no curso do processo judicial.
Evita-se, com isso, que o autor proponha nova ação para obter o direito que já poderia ter sido
reconhecido se o Poder Judiciário apreciasse eventual fato constitutivo superveniente, cuja medida se
encontra em harmonia com os princípios da economia processual e da razoável duração do processo.
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Roselvand têm a mesma opinião:
“(...) Porém, se o prazo for complementado no curso da lide, entendemos que o juiz deverá
sentenciar no estado em que o processo se encontra, recepcionando o fato constitutivo do direito
superveniente, prestigiando a efetividade processual, a teor do art. 462 do Código de Processo
Civil [de 1973]. É de se compreender que a pretensão jurisdicional deverá ser concedida de acordo
com a situação dos fatos no momento da sentença". (FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD,
Nelson. Direitos reais - 6ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, pág. 287 - grifou-se)
Essa linha de raciocínio também é confirmada pelo Enunciado nº 497 da V Jornada de Direito Civil
(STJ/CJF), segundo o qual “o prazo, na ação de usucapião, pode ser completado no curso do processo,
ressalvadas as hipóteses de má-fé processual do autor”.
Mas o proprietário apresentou contestação antes de o autor completar o prazo necessário para a
usucapião. Isso não pode ser considerado como uma “oposição” (art. 1.240 do CC) para fins de impedir
a constituição do prazo de usucapião?
NÃO. O STJ entende que a contestação apresentada pelo réu não impede o transcurso do lapso temporal.
Essa peça defensiva não tem a capacidade de exprimir a resistência do demandado à posse exercida pelo
autor, mas apenas a sua discordância com a aquisição do imóvel pela usucapião:
(...) A contestação apresentada na ação de usucapião não é apta a interromper o prazo da prescrição
aquisitiva e nem consubstancia resistência ao afastamento da mansidão da posse. (...)
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 180.559/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/12/2013.
A contagem do tempo para usucapião somente seria interrompida se o proprietário conseguisse reaver a
posse.
Desse modo, repetindo: é possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo exigido por lei se
complete no curso do processo judicial, conforme a previsão do art. 493, do CPC/2015, ainda que o réu
tenha apresentado contestação.
DIREITO DO CONSUMIDOR
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA
Validade do repasse da comissão de corretagem ao consumidor pela incorporadora imobiliária
mesmo no Programa Minha Casa, Minha Vida
Importante!!!
Ressalvada a denominada Faixa 1, em que não há intermediação imobiliária, é válida a
cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão
de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda do Programa Minha Casa, Minha
Vida, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com
o destaque do valor da comissão de corretagem.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.601.149-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 13/06/2018 (recurso repetitivo) (Info 630).
Faixa 1:
• Beneficia famílias com renda mensal bruta de até R$ 1.800,00 (valores da época do julgado) ou famílias
com renda mensal bruta de até R$ 3.600,00 (desde que, neste segundo caso, estejam em situações
específicas de vulnerabilidade social, como emergência ou calamidade pública).
• Nessa faixa do programa, a operação mais se assemelha a um benefício social do que propriamente a
um contrato de compra e venda de imóvel.
• Não se estabelece relação de consumo entre o beneficiário e a construtora/incorporadora, como ocorre
nas outras faixas do programa.
• O imóvel é incorporado ao patrimônio de um fundo público (Fundo de Arrendamento Residencial - FAR
ou Fundo de Desenvolvimento Social - FDS), e esse fundo assume a condição de “alienante” do imóvel.
• A seleção dos beneficiários é realizada pelo Poder Público ou por “entidades organizadoras” previamente
habilitadas pelo Ministério das Cidades.
• A subvenção econômica nessa faixa alcança até 90% do valor do imóvel, sendo o restante diluído em até
120 parcelas mensais (limitadas a 5% da renda bruta), sem juros e sem formação de saldo devedor,
diversamente do que ocorre num típico financiamento imobiliário.
• Na Faixa 1 não há venda direta das construtoras aos beneficiários do programa. A seleção, como já dito,
é feita por meio de critérios sociais, conjugada com sorteio. Logo, não há campo para a intermediação
imobiliária.
Demais faixas
As atividades do PMCMV nessas outras três faixas de renda são muito parecidas com as demais
modalidades de financiamento imobiliário existentes. Em outras palavras, são praticamente iguais a um
financiamento imobiliário “comum”.
No caso do corretor de imóveis, a profissão está regulamentada pela Lei n. 6.530/78 e pelo Decreto n.
81.871/78. Para exercer a profissão de corretor de imóveis, exige-se a aprovação em curso técnico de
Transações Imobiliárias ou curso superior em Gestão Imobiliária, com registro no Conselho Regional de
Corretores de Imóveis (CRECI).
Comissão de corretagem
Como remuneração pelo serviço prestado, o corretor receberá o pagamento de uma quantia, que é
chamada de “comissão de corretagem”.
A remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha conseguido o resultado previsto no contrato de
mediação, ou ainda que este não se efetive em virtude de arrependimento das partes (art. 725).
É possível que o contrato preveja que a obrigação de pagar a comissão de corretagem será do
promitente-comprador?
SIM. O STJ definiu a seguinte tese:
É válida a cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de
corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de
incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade
autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.599.511-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/8/2016 (recurso
repetitivo) (Info 589).
Isso vale também para os imóveis vinculados ao programa “Minha Casa, Minha Vida”? O contrato de
promessa de compra e venda de imóvel do programa “Minha Casa, Minha Vida” poderá ter cláusula
prevendo que a obrigação pelo pagamento da comissão de corretagem será do promitente comprador?
É válido transferir para o consumidor a obrigação de pagar a comissão de corretagem nas promessas
de compra e venda celebradas no âmbito do programa “Minha Casa, Minha Vida”?
O STJ fez a seguinte distinção:
• Se o contrato estiver na Faixa 1: NÃO. Não há que se falar em pagamento da comissão de corretagem.
• Se o contrato estiver nas demais faixas: SIM. É possível transferir ao promitente-comprador a obrigação
de pagar a comissão de corretagem.
Faixa 1
Como vimos acima, na Faixa 1 não há comercialização dos imóveis no mercado.
A distribuição dos imóveis é realizada por meio das Prefeituras, mediante prévio cadastro das famílias de
baixa renda e é o próprio Fundo (FAR / FDS) que figura como vendedor do imóvel.
Desse modo, não há envolvimento de imobiliárias, construtoras, incorporadores e corretores na sua
venda.
Logo, é óbvio que não há razão para a cobrança da comissão de corretagem, até porque nem existe
corretor atuando.
Repetindo: na Faixa 1, como não há venda direta das construtoras aos beneficiários do programa, mas
seleção por meio de critérios sociais, conjugada com sorteio, não há campo para a intermediação
imobiliária, sendo descabida eventual cobrança da comissão de corretagem.
Demais faixas
Nas demais faixas, a venda dos imóveis se assemelha a um financiamento tradicional pelas regras do
Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e do próprio Fundo, mas com taxas de juros reduzidas e com a
possibilidade de amortização de parte do saldo devedor com subvenção da União e/ou a concessão de
desconto/subsídio do FGTS, dependendo da renda.
Assim, é igual a uma operação de mercado, sendo que, dependendo da Faixa de Renda, pode haver a
concessão de um desconto sobre o valor da dívida, bem como redução na taxa de juros e na Taxa de
Administração. Também há redução de valor no pagamento de emolumentos cartorários.
Tirando a Faixa 1, nas demais Faixas do programa, as construtoras/incorporadoras é que são as
proprietárias dos imóveis produzidos e elas vendem, geralmente por meio e corretores, os imóveis para
os interessados.
Como nessas Faixas o contrato não difere substancialmente das demais modalidades de financiamento
imobiliário existentes, deve-se aplicar o mesmo entendimento do STJ firmado no REsp 1.599.511-SP e
autorizar a cobrança da comissão de corretagem, desde que o adquirente seja previamente informado sobre
o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem.
Assim, não há nenhuma razão que impeça a cobrança da comissão de corretagem nestes casos.
Vale ressaltar que se fosse proibida a cobrança da comissão de corretagem, o custo dela continuaria sendo
suportado pelo adquirente, considerando que estaria embutido no preço. Essa é a lógica do mercado
imobiliário, pois a venda só produz lucro à incorporadora se o preço final do imóvel superar os seus custos.
Significa dizer que, na impossibilidade de transferência da obrigação de pagar a comissão de corretagem
ao consumidor, esse custo seria embutido no preço dos imóveis.
Caso concreto:
Lucas adquiriu da construtora, por intermédio de uma imobiliária, um apartamento dentro do programa
“Minha Casa, Minha Vida”.
O contrato previa que o promitente-comprador (Lucas) deveria pagar R$ 4.500,00 de comissão de
corretagem.
O STJ entendeu que a cobrança era legítima, considerando que:
• Lucas não se encontrava na chamada Faixa 1;
• o contrato previa essa obrigação do promitente-comprador;
• a cláusula contratual foi previamente informada ao consumidor, inclusive com o preço total da aquisição
da unidade autônoma e com o destaque do valor da comissão de corretagem.
DIREITO EMPRESARIAL
SOCIEDADES
Legitimidade passiva da Telebrás, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas),
para a ação de complementação de ações
Legitimidade passiva da Telebrás, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras
destas), para a ação de complementação de ações, na hipótese em que as ações originárias
tenham sido emitidas pela Telebrás.
A legitimidade passiva para a demanda por complementação de ações é definida de acordo
com as seguintes hipóteses:
1) Contrato de participação financeira celebrado com companhia independente não
controlada pela TELEBRÁS (ex.: CRT S/A): legitimidade passiva da companhia independente,
ou da sucessora desta (ex.: OI S/A);
2) Contrato de participação financeira celebrado com companhia local controlada pela
TELEBRÁS (ex.: TELESC S/A), e emissão originária de ações pela controlada: legitimidade
passiva da TELEBRÁS, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas);
3) Contrato de participação financeira celebrado com companhia local controlada pela
TELEBRÁS, e emissão de ações pela TELEBRÁS: legitimidade passiva da TELEBRÁS, bem como
das companhias cindendas (ou sucessoras destas).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.801-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 23/05/2018
(recurso repetitivo) (Info 630).
Sistema TELEBRÁS
Antes da privatização, quem explorava os serviços de telefonia no Brasil era a União, por meio de empresas
estatais integrantes do chamado sistema TELEBRÁS.
A TELEBRÁS (Telecomunicações Brasileiras S.A.) era uma empresa estatal pertencente à União, sendo
responsável por coordenar e controlar outras empresas estatais que atuavam nos Estados prestando os
serviços telefônicos. Assim, a TELEBRÁS era uma espécie de holding, que abrangia inúmeras outras
empresas estatais, como a TELEBRASÍLIA (que prestava os serviços de telecomunicações no Distrito
Federal), a TELECEARÁ (Ceará), a TELEMIG (Minas Gerais), a TELERJ (Rio de Janeiro), a TELESP (São Paulo),
a TELAMAZON (Amazonas) etc. Os serviços que atualmente são prestados pelas operadoras TIM, VIVO,
CLARO etc. eram desempenhados por essas empresas estatais.
Em 1998, as empresas que compunham o sistema TELEBRÁS foram vendidas em leilão internacional para
empresas privadas, no processo conhecido como “privatização”.
E a Telebrás?
A Telebrás continuou existindo, com apenas 1,25% de seu patrimônio. Existe até hoje.
Pergunta: essa ação de complementação de ações (que expliquei acima) deverá ser proposta contra
quem? Quem tem legitimidade para figurar no polo passivo dessa demanda na qual se busca efetivar a
obrigação de emitir, subscrever e integralizar ações (complementação de ações) em favor do
consumidor de serviço de telefonia, titular de contrato de participação financeira?
O STJ definiu a seguinte tese geral:
Legitimidade passiva da Telebrás, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas), para a
ação de complementação de ações, na hipótese em que as ações originárias tenham sido emitidas pela
Telebrás.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.801-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 23/05/2018 (recurso
repetitivo) (Info 630).
Assim, a legitimidade passiva para a demanda por complementação de ações será definida de acordo com
as seguintes hipóteses:
1) Caso o contrato de participação financeira tenha sido celebrado com companhia independente não
controlada pela TELEBRÁS (ex.: CRT S/A): a legitimidade passiva será da companhia independente, ou da
sucessora desta (ex.: OI S/A);
2) Caso o contrato de participação financeira tenha sido celebrado com companhia local controlada pela
TELEBRÁS (ex.: TELESC S/A), e emissão originária de ações pela controlada: a legitimidade passiva será da
da TELEBRÁS, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas);
3) Caso o contrato de participação financeira tenha sido celebrado com companhia local controlada pela
TELEBRÁS, e emissão de ações pela TELEBRÁS: a legitimidade passiva será da TELEBRÁS, bem como das
companhias cindendas (ou sucessoras destas).
Este tema é complexo e envolve a análise aprofundada de cada uma das hipóteses listadas. No entanto,
para fins de concurso, penso que não é necessário avançar tanto e que, se for cobrado algo sobre o tema
(o que já é improvável), será exigido o que foi explicado acima.
ECA
ATO INFRACIONAL
Superveniência da maioridade penal
Ato infracional
Quando uma criança ou adolescente pratica um fato previsto em lei como crime ou contravenção penal,
esta conduta é chamada de “ato infracional”.
Assim, juridicamente, não se deve dizer que a criança ou adolescente cometeu um crime ou contravenção
penal, mas sim ato infracional.
Quando uma criança ou adolescente pratica um ato infracional, não receberá uma pena (sanção penal),
considerando que não pratica crime nem contravenção. O que acontece, então?
• Criança: receberá uma medida protetiva (art. 101 do ECA).
• Adolescente: receberá uma medida socioeducativa (art. 112 do ECA) e/ou medida protetiva (art. 101).
Adulto Adolescente
Igual ou maior que 18 anos. De 12 até 18 anos.
Obs: se a pessoa cometer o fato no dia do seu 18º
aniversário, já é considerada adulta, não sendo
mais adolescente.
Comete crime e contravenção penal. Pratica ato infracional.
Recebe pena (sanção penal). Recebe medida socioeducativa.
A execução da pena é regulada pela Lei n. A execução da medida socioeducativa é regulada
7.210/84. pela Lei n. 12.594/2012.
Resumindo:
1ª opção: normas do ECA.
Na falta de normas específicas:
• CPP: para regular o processo de conhecimento.
• CPC: para regular o sistema recursal.
Chegou o momento de o Juiz proferir a sentença. Ocorre que o magistrado verificou que, em virtude da
demora na tramitação do processo, João já está, atualmente, com 19 anos.
Diante disso, surgiu a dúvida: é possível que João continue sendo julgado pelo juízo da Vara de Infância e
Adolescência mesmo já tendo atingido a maioridade penal (18 anos)? É possível que o magistrado aplique
alguma medida socioeducativa em relação a João mesmo ele já sendo adulto (maior de 18 anos)?
SIM. A medida socioeducativa pode ser aplicada ao indivíduo maior de 18 anos, desde que o ato infracional
tenha sido praticado antes, ou seja, quando ele ainda era adolescente.
A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade
de medida socioeducativa. Em palavras mais simples: o fato de o adolescente ter completado 18 anos
durante o curso do processo onde se apura o ato infracional não interfere na sentença. O juiz poderá
aplicar normalmente a medida socioeducativa.
Outra situação: Pedro, com 17 anos de idade, recebeu medida socioeducativa de internação pela prática
de ato infracional. Ele está cumprindo medida em uma unidade de internação de adolescentes
infratores. Ocorre que Pedro completou 18 anos. Ele pode continuar cumprindo a internação?
SIM. A superveniência da maioridade penal não interfere na aplicabilidade de medida socioeducativa. Em
palavras mais simples: o fato de o adolescente ter completado 18 anos durante o cumprimento da medida
socioeducativa não faz com que essa execução tenha que ser encerrada. Ela continuará normalmente até
que o Juiz entenda que a medida já cumpriu a sua finalidade ou até que o indivíduo complete 21 anos.
Se o interno completar 21 anos, deverá ser obrigatoriamente liberado, encerrando o regime de
internação.
Mas o ECA pode ser aplicado para maiores de 18 anos? Existe possibilidade legal para isso?
SIM. Essa autorização encontra-se prevista no art. 2º, parágrafo único e no art. 121, § 5º do ECA:
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas
entre dezoito e vinte e um anos de idade.
Desse modo, um exemplo desse parágrafo único do art. 2º do ECA é justamente a possibilidade de
aplicação e cumprimento de medida socioeducativa para pessoas entre 18 e 21 anos, desde que o fato
tenha sido praticado antes de atingida da maioridade penal, ou seja, antes dos 18 anos.
Assim, se na data do fato o adolescente tinha menos de 18 anos, nada impede que permaneça no
cumprimento de medida socioeducativa imposta, ainda que implementada a sua maioridade penal.
O art. 121, § 5º dispõe sobre a internação. Essa possibilidade de o indivíduo cumprir medida mesmo até
os 21 anos vale para a medida de semiliberdade?
SIM. Existe previsão expressa afirmando que as regras da internação, incluindo o art. 121, § 5º, podem ser
aplicadas, no que couber, à medida de semiliberdade:
Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de
transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas,
independentemente de autorização judicial.
(...)
§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as disposições
relativas à internação.
O ECA, ao tratar sobre a liberdade assistida, não traz um dispositivo como esse do art. 120, § 2º acima
transcrito. Em razão disso, vários doutrinadores sustentaram que, para a liberdade assistida, o
cumprimento deveria ficar restrito até os 18 anos por ausência de previsão legal. Essa tese prevaleceu?
NÃO. A jurisprudência entendeu que, mesmo sem regra expressa, deve ser permitido o cumprimento da
liberdade assistida até os 21 anos, assim como ocorre com a internação e a semiliberdade. Não há
qualquer fundamento jurídico ou lógico que autorize uma diferença de tratamento. Isso porque a
internação e a semiliberdade são medidas mais gravosas que a liberdade assistida. Desse modo, seria
ilógico considerar que é possível a incidência das medidas mais gravosas e, ao mesmo tempo, proibida a
aplicação das mais brandas.
Assim, o STJ possui o entendimento pacífico de que o art. 121, § 5º do ECA admite a possibilidade da
extensão do cumprimento da medida socioeducativa até os 21 anos de idade, abarcando qualquer que
seja a medida imposta ao adolescente.
Posição do STF
O STF possui o mesmo entendimento manifestado na Súmula 605 do STJ. Confira:
O disposto no § 5º do art. 121 da Lei 8.069/1990, além de não revogado pelo art. 5º do Código Civil, é
aplicável à medida socioeducativa de semiliberdade, conforme determinação expressa do art. 120, § 2º,
do Estatuto da Criança e do Adolescente. Em consequência, se o paciente, à época do fato, ainda não tinha
alcançado a maioridade penal, nada impede que ele seja submetido à semiliberdade, ainda que,
atualmente, tenha mais de dezoito anos, uma vez que a liberação compulsória só ocorre aos vinte e um.
STF. 2ª Turma. HC 94939, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 14/10/2008.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Qual é o recurso cabível contra o pronunciamento que
julga a impugnação ao cumprimento de sentença?
Importante!!!
Qual é o recurso cabível contra o pronunciamento que julga a impugnação ao cumprimento de
sentença?
• Se o pronunciamento judicial extinguir a execução: será uma sentença e caberá APELAÇÃO.
• Se o pronunciamento judicial não extinguir a execução: será uma decisão interlocutória e
caberá AGRAVO DE INSTRUMENTO.
Assim, o recurso cabível contra a decisão que acolhe impugnação ao cumprimento de sentença
e extingue a execução é a apelação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.698.344-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2018 (Info 630).
O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz?
NÃO. O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, só
pode ser feito a requerimento do exequente (art. 513, § 1º do CPC/2015).
Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente
requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante demonstrativo
discriminado e atualizado do crédito (art. 524 do CPC/2015).
Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor:
Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão
sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do
exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias,
acrescido de custas, se houver.
Pedro requereu, então, o início do cumprimento de sentença. O que o juiz deve fazer?
O juiz deverá determinar a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias.
Não ocorrendo pagamento voluntário neste prazo, o débito será acrescido de multa de 10% e, também,
de honorários de advogado de 10% (art. 523, § 1º, do CPC/2015).
Esse prazo de 15 dias, previsto no art. 523 do CPC 2015 (art. 475-J do CP 1973), é contado a partir de
quando?
Da intimação do devedor para pagar. Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da
sentença que o condenou. Para começar o prazo de 15 dias para pagamento, é necessária nova intimação.
Assim, a multa de 10% depende de nova intimação prévia do devedor.
A forma dessa intimação está prevista no art. 513 do CPC/2015
Na fase de cumprimento de sentença existe alguma forma de “defesa” do devedor? João poderá
apresentar alguma defesa?
SIM. A defesa típica do devedor executado no cumprimento de sentença é a chamada impugnação.
Para que o devedor apresente impugnação, é indispensável a garantia do juízo, ou seja, é necessário
que haja penhora, depósito ou caução?
NÃO. A impugnação independe de prévia garantia do juízo.
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo
de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação,
apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
Desse modo, se quisermos analisar por outro prisma, podemos afirmar o seguinte:
1) Se o juiz rejeita a impugnação: cabe agravo de instrumento (porque a execução irá prosseguir);
2) Se o juiz acolhe a impugnação, poderá caber agravo de instrumento ou sentença.
2.1) Se o juiz acolhe a impugnação, mas não extingue a execução (ex: apenas reduz o valor que estava
excessivo): caberá agravo de instrumento;
2.2 ) Se o juiz acolhe a impugnação e extingue a execução (ex: falta de citação): caberá apelação.
No caso concreto, o juiz julgou procedente a impugnação e extinguiu o cumprimento de sentença. Logo,
caberia apelação. É como decidiu o STJ:
O recurso cabível da decisão que acolhe impugnação ao cumprimento de sentença e extingue a
execução é a apelação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.698.344-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2018 (Info 630).
Sentença
São dois os critérios utilizados para definir que um pronunciamento jurisdicional é sentença:
a) tem conteúdo equivalente a uma das situações previstas nos arts. 485 ou 489 do CPC/2015; e
b) determina o encerramento de uma das fases do processo (fase de conhecimento ou de execução).
De acordo com o § 1º do art. 203 do CPC/2015, a decisão que extingue a execução é uma sentença:
Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e
despachos.
§ 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase
cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução.
Agravo de instrumento
O agravo de instrumento é o recurso cabível, em primeiro grau de jurisdição, contra específicas decisões
interlocutórias previstas em lei (art. 1.015 do CPC/2015).
O agravo de instrumento só cabe contra pronunciamentos decisórios que não encerram a fase cognitiva
nem a fase de execução. É um conceito construído por exclusão:
• se a decisão encerra a fase cognitiva ou a execução, esse pronunciamento é uma sentença.
• caso contrário, ou seja, se a decisão não encerra a fase cognitiva ou a execução, estaremos diante de
uma decisão interlocutória.
RESTAURAÇÃO DE AUTOS
Tribunal de Justiça não pode editar provimento fixando prazo
para a propositura da ação de restauração de autos
Tribunal de Justiça não tem competência para, por meio de provimento da respectiva
Corregedoria, estabelecer prazo para a propositura de ação de restauração de autos.
Caso concreto: houve um incêndio no fórum de Poção de Pedras (MA) e os autos queimaram.
Diante disso, a Corregedoria do TJ/MA editou um provimento fixando um prazo para que as
partes requeressem a restauração dos autos, sob pena de serem obrigadas a propor
novamente a ação principal. O STJ não concordou e afirmou que o TJ não poderia ter editado
essa norma. Ao estabelecer prazo para a propositura da ação de restauração de autos com a
apresentação dos documentos necessários, o TJ/MA editou uma verdadeira norma sobre
processo civil (norma processual), cuja competência legislativa foi atribuída privativamente
à União (art. 22, I, CF/88).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.722.633-MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/08/2018 (Info 630).
Desaparecimento de um “processo”
É possível que os autos de um processo sumam.
Ex: o advogado faz carga de um processo, deixa em seu carro enquanto almoça e o veículo é furtado.
Ex2: o MP faz carga de um processo, deixa em sua sala e há um alagamento, destruindo os autos.
Nesses casos, será necessário recuperar tudo aquilo ou pelo menos a maior parte do que havia nesses
autos. O CPC prevê que isso deverá ser feito por meio de um procedimento chamado “restauração de
autos”.
Conceito e características
A restauração de autos é...
Previsão
A restauração de autos está disciplinada nos arts. 712 a 718 do CPC.
Vale ressaltar que se houver “autos suplementares” (uma espécie de autos de “reserva”), não será
necessária a restauração e o processo prosseguirá nos autos suplementares. Obs: na prática, isso é raríssimo.
Petição inicial
Na petição inicial, o autor da ação declarará o estado do processo ao tempo do desaparecimento dos
autos, oferecendo:
I - certidões dos atos constantes do protocolo de audiências do cartório por onde haja corrido o processo;
II - cópia das peças que tenha em seu poder;
III - qualquer outro documento que facilite a restauração.
Obs: no polo passivo desta ação deverão estar presentes “todos os sujeitos que participam do processo
como parte e que não estejam no polo ativo da ação de restauração de autos” (NEVES, Daniel Amorim
Assumpção. Novo CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 1132).
Contestação
A parte contrária será citada para contestar o pedido no prazo de 5 dias, cabendo-lhe exibir as cópias, as
contrafés e as reproduções dos atos e dos documentos que estiverem em seu poder.
Se a parte concordar com a restauração, será lavrado um auto que, assinado pelas partes e homologado
pelo juiz, suprirá o processo desaparecido.
Se a parte não contestar ou se a concordância for parcial, observar-se-á o procedimento comum.
Audiência
Se a perda dos autos tiver ocorrido depois da produção das provas em audiência, o juiz, se necessário,
mandará repeti-las.
Serão reinquiridas as mesmas testemunhas que, em caso de impossibilidade, poderão ser substituídas de
ofício ou a requerimento.
Não havendo certidão ou cópia do laudo, será feita nova perícia, sempre que possível pelo mesmo perito.
Não havendo certidão de documentos, esses serão reconstituídos mediante cópias ou, na falta dessas,
pelos meios ordinários de prova.
Os serventuários e os auxiliares da justiça não podem eximir-se de depor como testemunhas a respeito de
atos que tenham praticado ou assistido.
Se o juiz houver proferido sentença da qual ele próprio ou o escrivão possua cópia, esta será juntada aos
autos e terá a mesma autoridade da original.
Sentença
Julgada a restauração, seguirá o processo os seus termos.
E se os autos aparecerem?
Aparecendo os autos originais, neles se prosseguirá, sendo-lhes apensados os autos da restauração.
As hipóteses de foro por prerrogativa de função perante o STJ restringem-se àquelas em que
o crime for praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função.
STJ. Corte Especial. AgRg na APn 866-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018 (Info
630).
Em outras palavras, os Deputados Federais e Senadores somente serão julgados pelo STF se o crime tiver
sido praticado durante o exercício do mandato de parlamentar federal e se estiver relacionado com essa
função.
O entendimento que restringe o foro por prerrogativa de função vale para outras hipóteses de foro
privilegiado ou apenas para os Deputados Federais e Senadores?
Vale para outros casos de foro por prerrogativa de função. Foi o que decidiu o próprio STF no julgamento
do Inq 4703 QO/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/06/2018, no qual afirmou que o entendimento vale
também para Ministros de Estado.
O STJ também decidiu que a restrição do foro deve alcançar Governadores e Conselheiros dos Tribunais
de Contas estaduais. Explico.
O art. 105, I, “a”, da CF/88 prevê que compete ao STJ julgar os crimes praticados por Governadores de
Estado e por Conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de
responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal,
os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais
Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais
de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;
A Corte Especial do STJ, seguindo o mesmo raciocínio do STF, limitou a amplitude do art. 105, I, “a”, da
CF/88 e decidiu que:
O foro por prerrogativa de função no caso de Governadores e Conselheiros de Tribunais de Contas dos
Estados deve ficar restrito aos fatos ocorridos durante o exercício do cargo e em razão deste.
Assim, o STJ é competente para julgar os crimes praticados pelos Governadores e pelos Conselheiros de
Tribunais de Contas somente se estes delitos tiverem sido praticados durante o exercício do cargo e em
razão deste.
STJ. Corte Especial. APn 857/DF, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 20/06/2018.
STJ. Corte Especial. APn 866/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018.
As hipóteses de foro por prerrogativa de função perante o STJ restringem-se àquelas em que o crime for
praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função.
STJ. Corte Especial. AgRg na APn 866-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018 (Info 630).
O art. 105, I, “a”, da CF/88 prevê que os Desembargadores são julgados criminalmente pelo STJ. O
entendimento acima exposto será aplicado também para os Desembargadores? Se um Desembargador
praticar crime que não esteja relacionado com o exercício de suas funções (ex: lesão corporal contra a
esposa), ele será julgado pelo juízo de 1ª instância?
Aqui ainda não há uma definição do tema. Durante os debates sobre a APn 857/DF, acima mencionada,
alguns Ministros defenderam a ideia de que os Desembargadores continuassem a ser julgados pelo STJ
mesmo que o crime não estivesse relacionado com as suas funções. Seria uma espécie de “exceção” a esse
entendimento. Foi o que sustentou, por exemplo, o Min. João Otávio de Noronha:
“A questão envolvendo o Judiciário tem que ser caso a caso. Não há problema nenhum de um juiz do
Trabalho, por exemplo, ser julgado por um juiz de primeiro grau. Mas há problema um juiz de primeiro
grau julgar um desembargador que o promoveu ou que reforma suas decisões”.
Os Ministros Mauro Campbell e Og Fernandes, por outro lado, defendiam a tese de que os
Desembargadores devem receber o mesmo tratamento que as demais autoridades e que se o delito não
estiver relacionado com as funções, eles deveriam ser julgados em 1ª instância.
Como o caso concreto que estava sendo julgado não envolvia Desembargador, este tema ficou para ser
novamente debatido e definido em uma oportunidade futura.
Enfim, até o presente momento, o STJ ainda não se posicionou definitivamente se a restrição do foro por
prerrogativa de função aplica-se ou não aos membros da Magistratura.
Em outras palavras, os Deputados Federais e Senadores somente serão julgados pelo STF se o crime tiver
sido praticado durante o exercício do mandato de parlamentar federal e se estiver relacionado com essa
função.
O entendimento que restringe o foro por prerrogativa de função vale para outras hipóteses de foro
privilegiado ou apenas para os Deputados Federais e Senadores?
Vale para outros casos de foro por prerrogativa de função. Foi o que decidiu o próprio STF no julgamento
do Inq 4703 QO/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/06/2018, no qual afirmou que o entendimento vale
também para Ministros de Estado.
O STJ também decidiu que a restrição do foro deve alcançar Governadores e Conselheiros dos Tribunais
de Contas estaduais. Explico.
O art. 105, I, “a”, da CF/88 prevê que compete ao STJ julgar os crimes praticados por Governadores de
Estado e por Conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados:
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de
responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal,
os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais
Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais
de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;
A Corte Especial do STJ, seguindo o mesmo raciocínio do STF, limitou a amplitude do art. 105, I, “a”, da
CF/88 e decidiu que:
O foro por prerrogativa de função no caso de Governadores e Conselheiros de Tribunais de Contas dos
Estados deve ficar restrito aos fatos ocorridos durante o exercício do cargo e em razão deste.
Assim, o STJ é competente para julgar os crimes praticados pelos Governadores e pelos Conselheiros de
Tribunais de Contas somente se estes delitos tiverem sido praticados durante o exercício do cargo e em
razão deste.
STJ. Corte Especial. APn 857/DF, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 20/06/2018.
STJ. Corte Especial. APn 866/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018.
O art. 105, I, “a”, da CF/88 prevê que os Desembargadores são julgados criminalmente pelo STJ. O
entendimento acima exposto será aplicado também para os Desembargadores? Se um Desembargador
praticar crime que não esteja relacionado com o exercício de suas funções (ex: lesão corporal contra a
esposa), ele será julgado pelo juízo de 1ª instância?
Aqui ainda não há uma definição do tema. Durante os debates sobre a APn 857/DF, acima mencionada,
alguns Ministros defenderam a ideia de que os Desembargadores continuassem a ser julgados pelo STJ
mesmo que o crime não estivesse relacionado com as suas funções. Seria uma espécie de “exceção” a esse
entendimento. Foi o que sustentou, por exemplo, o Min. João Otávio de Noronha:
“A questão envolvendo o Judiciário tem que ser caso a caso. Não há problema nenhum de um juiz do
Trabalho, por exemplo, ser julgado por um juiz de primeiro grau. Mas há problema um juiz de primeiro
grau julgar um desembargador que o promoveu ou que reforma suas decisões”.
Os Ministros Mauro Campbell e Og Fernandes, por outro lado, defendiam a tese de que os
Desembargadores devem receber o mesmo tratamento que as demais autoridades e que se o delito não
estiver relacionado com as funções, eles deveriam ser julgados em 1ª instância.
Como o caso concreto que estava sendo julgado não envolvia Desembargador, este tema ficou para ser
novamente debatido e definido em uma oportunidade futura.
Enfim, até o presente momento, o STJ ainda não se posicionou definitivamente se a restrição do foro por
prerrogativa de função aplica-se ou não aos membros da Magistratura.
Confira a íntegra das palavras do Min. Relator ao fundamentar a manutenção do foro no STJ:
“O presente caso concreto, apenas de versar situação em que é réu Desembargador (situação em que,
como visto, a extensão da prerrogativa de foro é questão a ser ainda enfrentada pela Corte Especial),
veicula quadro fático com peculiaridade que merece especial atenção, qual seja, a iminente ocorrência da
prescrição.
Com efeito, o réu responde pela prática em tese do delito tipificado no art. 39, c/c art. 53, inciso II, alínea
“c”, da Lei nº 9.605/98. A pena em abstrato do delito previsto no art. 39 da Lei 9.605 é de 1 a 3 anos de
detenção; com a causa de aumento de pena prevista no art. 53, o aumento pode ser de 1/6 a 1/3. Com
isso, a pena máxima prevista abstratamente para o delito é de 4 anos, o que faz com que a prescrição em
abstrato se dê em 8 anos (art. 109, IV, do Código Penal).
Tal prazo de 8 anos, contudo, será reduzido à metade (a 4 anos, portanto), se à data da sentença o réu for
maior de 70 anos (art. 115 do Código Penal), idade que o réu completará em 24/08/2018, uma vez que é
nascido em 24/08/1948 (fl. 767). Tendo em vista que os fatos em tese criminosos imputados ao réu na
denúncia remontam a 25/08/2009 e que a denúncia só foi recebida na sessão de 24/10/2016, sem que
entre 2009 e 2016 se operasse qualquer marco interruptivo da prescrição, haverá de se reconhecer a
ocorrência de prescrição em abstrato caso não seja o réu julgado antes de 24/08/2018.
Isto considerado, tendo em vista a iminente ocorrência da prescrição, proponho que o processamento
desta Ação Penal permaneça no Superior Tribunal de Justiça.”
Vale ressaltar, mais uma vez, que ainda não existe posição do STJ sobre a aplicação ou não da restrição do
foro por prerrogativa de função aos Desembargadores.
TRIBUNAL DO JÚRI
Jurado que fala “é um crime” durante a sessão de julgamento viola o dever de
incomunicabilidade, acarretando a nulidade absoluta da condenação
Importante!!!
Deve ser declarado nulo o júri em que membro do conselho de sentença afirma a existência de
crime em plena fala da acusação.
Caso concreto: durante os debates no Plenário do Tribunal do Júri, o Promotor de Justiça
estava em pé na frente dos jurados apresentando seus argumentos. Em determinado
momento, o Promotor fez uma pergunta retórica: “aí, então, senhores jurados, eu pergunto a
Vossas Excelências: qual foi a conduta que o réu aqui presente praticou?” Uma das juradas
acabou “soltando” a seguinte resposta: “é um crime”. O juiz presidente do Júri imediatamente
a advertiu dizendo: por favor, a senhora não pode se manifestar. O advogado, contudo, na
mesma hora requereu ao magistrado que consignasse este fato na ata de julgamento. O juiz
decidiu que não houve quebra da incomunicabilidade e seguiu com o julgamento. O réu foi
condenado e a defesa recorreu alegando, entre outros argumentos, que houve nulidade do
julgamento por quebra da incomunicabilidade dos jurados. O STJ anulou o júri.
STJ. 6ª Turma. HC 436.241-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 19/06/2018 (Info 630).
Sessão de julgamento
Vamos pular as etapas preparatórias e já ir direto para a sessão de julgamento.
A sessão de julgamento é o dia marcado pelo juiz no qual o réu será julgado.
Esse julgamento ocorre geralmente em um auditório ou plenário, considerando que envolve a
participação de muitas pessoas (réu, juiz, membro do MP, advogados, defensores, jurados, plateia etc.).
§ 1º O juiz presidente também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados, não poderão
comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de
exclusão do Conselho e multa, na forma do § 2º do art. 436 deste Código.
§ 2º A incomunicabilidade será certificada nos autos pelo oficial de justiça.
Essa vedação existe para assegurar a imparcialidade dos jurados e para evitar que um possa influenciar o
outro. Além disso, a CF/88 determina que a votação dos jurados no Tribunal do Júri deve ser sigilosa (art.
5º, XXXVIII). Se o jurado pudesse se manifestar, isso poderia acabar revelando qual foi o seu voto.
Não ocorre quebra de incomunicabilidade quando o jurado se comunica ou conversa, ainda que durante
a sessão, mesmo com os demais membros do Conselho de Sentença, desde que o assunto não seja a causa,
as provas ou o mérito da imputação.
STJ. 6ª Turma. REsp 1440787/ES, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 07/08/2014.
Feita esta breve revisão sobre o tema, imagine a seguinte situação hipotética:
João foi denunciado e pronunciado pela prática de homicídio doloso.
Nos debates no Plenário do Tribunal do Júri, o Promotor de Justiça estava em pé na frente dos jurados
apresentando seus argumentos.
Em determinado momento, o Promotor fez uma pergunta retórica para os jurados.
Pergunta retórica é aquela na qual a pessoa que pergunta não quer obter uma resposta do seu
interlocutor. O objetivo é apenas fazer com que a outra pessoa reflita (pense) sobre aquele assunto.
O membro do MP falou o seguinte: “aí, então, senhores jurados, eu pergunto a Vossas Excelências: qual
foi a conduta que o réu aqui presente praticou?”
Uma das juradas acabou “soltando” a seguinte resposta: “é um crime”.
O juiz presidente do Júri imediatamente a advertiu dizendo: por favor, a senhora não pode se manifestar.
O advogado, contudo, na mesma hora requereu ao magistrado que consignasse este fato na ata de
julgamento.
O juiz decidiu que não houve quebra da incomunicabilidade e seguiu com o julgamento.
O réu foi condenado e a defesa recorreu alegando, entre outros argumentos, que houve nulidade do
julgamento por quebra da incomunicabilidade dos jurados.
Em suma:
Deve ser declarado nulo o júri em que membro do conselho de sentença afirma a existência de crime
em plena fala da acusação.
STJ. 6ª Turma. HC 436.241-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 19/06/2018 (Info 630).
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PREVIDÊNCIA PRIVADA
Não é possível incluir, nos cálculos dos proventos de complementação de aposentadoria pagos
por entidade fechada de previdência privada, as horas extraordinárias habituais incorporadas
por decisão da Justiça trabalhista à remuneração do participante
c) Modulação dos efeitos da decisão (art. 927, § 3º, do CPC/2005): nas demandas ajuizadas na
Justiça comum até a data do presente julgamento - se ainda for útil ao participante ou
assistido, conforme as peculiaridades da causa -, admite-se a inclusão dos reflexos de verbas
remuneratórias (horas extras), reconhecidas pela Justiça do Trabalho, nos cálculos da renda
mensal inicial dos benefícios de complementação de aposentadoria, condicionada à previsão
regulamentar (expressa ou implícita) e à recomposição prévia e integral das reservas
matemáticas com o aporte de valor a ser apurado por estudo técnico atuarial em cada caso.
d) Nas reclamações trabalhistas em que o ex-empregador tiver sido condenado a recompor a
reserva matemática, e sendo inviável a revisão da renda mensal inicial da aposentadoria
complementar, os valores correspondentes a tal recomposição devem ser entregues ao
participante ou assistido a título de reparação, evitando-se, igualmente, o enriquecimento
sem causa da entidade fechada de previdência complementar.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.312.736-RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 08/08/2018 (recurso
repetitivo) (Info 630).
Participante
Participante é a pessoa física que adere ao plano de previdência complementar oferecido por uma
entidade fechada de previdência complementar (EFPC). O participante, para poder aderir a esse plano,
tem que estar vinculado à entidade patrocinadora (ex: ser funcionário do patrocinador).
O valor das contribuições vertidas pelo participante para a entidade de previdência é descontado de seu
salário no momento do pagamento.
Complementação de aposentadoria
É a quantia paga pela entidade de previdência privada como aposentadoria à pessoa que contratou a
previdência complementar. É como se chama a aposentadoria paga pela previdência privada.
O julgado analisado refere-se aos planos de previdência privada fechada.
Personagens
Fundação Banrisul: entidade fechada de previdência privada.
Banco Banrisul: patrocinador.
João: participante.
Voltando ao caso
O regulamento do plano de previdência previa que o valor da “complementação de aposentadoria”
deveria ser calculado a partir da média aritmética simples dos salários de participação do associado. Em
outras palavras, o valor da aposentadoria deveria ser calculado com base no salário que o indivíduo
recebia e que também servia como parâmetro para as contribuições pagas pelo empregado.
Assim, suponhamos que o empregado recebia R$ 5 mil de salário. Todos os meses era descontado 10%
para a previdência fechada. A sua aposentadoria deveria ser calculada com base no salário recebido.
Aposentadoria de João
Após muitos anos trabalhando no Banco, João completou o tempo necessário e pediu o pagamento da
complementação de aposentadoria.
A Fundação Banrisul calculou o benefício com base nos salários recebidos por João e passou a pagar a
complementação de aposentadoria.
Reclamação trabalhista
O que você ainda não sabe é que João, logo após se aposentar, ingressou com uma reclamação trabalhista
contra o Banco alegando que trabalhava todos os dias fazendo horas extras e que, apesar disso, a empresa
não lhe pagava o respectivo valor.
A Justiça do Trabalho julgou a ação procedente e reconheceu o direito do autor à percepção de diferenças
salariais por causa do não pagamento de trabalho extraordinário realizado de forma habitual.
A sentença transitou em julgado e João recebeu as respectivas verbas trabalhistas.
Esse é, portanto, o tema jurídico que foi debatido neste julgado: as horas extras habituais incorporadas
ao salário do participante de plano de previdência privada por decisão da Justiça do Trabalho produzem
efeito para fins de recálculo da aposentadoria já concedida? É possível incluir, nos cálculos dos proventos
de complementação de aposentadoria pagos por entidade fechada de previdência privada, as horas
extraordinárias habituais incorporadas por decisão da Justiça trabalhista à remuneração do
participante de plano de previdência complementar? A complementação de aposentadoria poderá ser
recalculada neste caso?
NÃO.
Se o benefício de complementação de aposentadoria já tiver sido concedido, não será possível a inclusão
dos reflexos das verbas remuneratórias (horas extras) reconhecidas pela Justiça do Trabalho nos cálculos
da renda mensal inicial dos benefícios de complementação de aposentadoria.
Vamos entender com calma os argumentos.
Essa autonomia produz inúmeros reflexos. Um exemplo disso está na competência para julgar as ações.
• Ação proposta pelo empregado contra a empresa (ex: ação proposta contra João contra o banco):
competência da Justiça do Trabalho, considerando que se trata de uma relação trabalhista;
• Ação proposta pelo participante contra a entidade de previdência fechada (ex: ação proposta por João
contra a Fundação Banrisul): justiça comum estadual, tendo em vista que não se trata de uma relação
trabalhista.
Nesse sentido:
A competência para o processamento de ações ajuizadas contra entidades privadas de previdência
complementar é da Justiça comum, dada a autonomia do Direito Previdenciário em relação ao Direito do
Trabalho. Inteligência do art. 202, § 2º, da Constituição Federal a excepcionar, na análise desse tipo de
matéria, a norma do art. 114, inciso IX, da Magna Carta.
Desse modo, compete à Justiça COMUM ESTADUAL (e não à Justiça do Trabalho) julgar demandas que
envolvam a complementação de aposentadoria por entidades de previdência privada.
STF. Plenário. RE 586453/SE, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
20/2/2013 (repercussão geral) (Info 695).
Regulamento do plano
A relação jurídica entre o participante e a entidade fechada de previdência privada é uma relação de
direito privado. Trata-se de uma relação de caráter civilista, baseada em um contrato.
O plano de previdência privada possui um “regulamento” onde são estipulados os benefícios, os
pressupostos para a sua concessão, a forma de aporte de recursos, a aplicação do patrimônio, os requisitos
de elegibilidade e outros aspectos que formam o conjunto de direitos e obrigações entre as partes
(entidade de previdência privada, patrocinadores, participantes e beneficiários).
Vale ressaltar que, apesar de ter um caráter privado, os planos de benefícios instituídos pelas entidades
fechadas de previdência privada estão sujeitos a um rígido regramento estatal previsto na LC 109/2001.
Regime de capitalização
As entidades de previdência privada adotam o chamado regime de capitalização. Nesse sentido, veja o
que preconiza o art. 18, § 1º da LC 109/2001:
Art. 18. O plano de custeio, com periodicidade mínima anual, estabelecerá o nível de contribuição
necessário à constituição das reservas garantidoras de benefícios, fundos, provisões e à cobertura
das demais despesas, em conformidade com os critérios fixados pelo órgão regulador e
fiscalizador.
§ 1º O regime financeiro de capitalização é obrigatório para os benefícios de pagamento em
prestações que sejam programadas e continuadas.
(...)
Esse regime financeiro pressupõe a constituição de reservas que garantam o benefício contratado,
mediante o prévio recolhimento das contribuições vertidas pelo participante e pelo patrocinador, bem
como os rendimentos auferidos com os investimentos realizados.
Pelo regime de capitalização, o benefício de previdência complementar será decorrente do montante de
contribuições efetuadas e do resultado de investimentos, não podendo haver, portanto, o pagamento de
valores não previstos no plano de benefícios, sob pena de comprometimento das reservas financeiras
acumuladas (desequilíbrio econômico-atuarial do fundo), a prejudicar os demais participantes, que terão
que custear os prejuízos daí advindos.
Assim, ao contrário do regime financeiro de caixa ou de repartição simples – em que as contribuições dos
trabalhadores ativos ajudam a financiar os benefícios que estão em gozo, como ocorre no RGPS –, o regime
de capitalização, adotado na previdência complementar, tem como princípio a impossibilidade de haver
benefício sem prévio custeio. Dessa forma, para cada plano de benefícios, deve-se formar uma reserva
matemática que, de acordo os cálculos atuariais, possibilitará o pagamento dos benefícios contratados.
O que isso significa? Que se deve ter muita cautela com mudanças posteriores não previstas nos benefícios
concedidos, considerando que irão produzir repercussões no plano que não estavam programadas na
reserva matemática, gerando um desequilíbrio atuarial dos planos.
Com efeito, diante da exigência legal de se adotar o regime de capitalização e da necessidade de manter
o equilíbrio atuarial do plano de benefícios, a interpretação que se dá ao contrato de previdência
complementar deve visar à preservação desse equilíbrio, tendo sempre em conta os interesses da
coletividade dos participantes do plano.
Vale ressaltar, por fim, que a empregadora (patrocinadora), que deixou de reconhecer o trabalho
extraordinário realizado no momento oportuno e, consequentemente, deu causa à falta do aporte
necessário para o incremento do benefício, nem sequer faz parte da lide em que se pleiteia a revisão do
benefício, não sendo possível, dessa forma, determinar, nessas ações, que ela, e não a coletividade dos
participantes, assuma esse encargo.
Teses fixadas:
a) A concessão do benefício de previdência complementar tem como pressuposto a prévia formação de
reserva matemática, de forma a evitar o desequilíbrio atuarial dos planos. Em tais condições, quando já
concedido o benefício de complementação de aposentadoria por entidade fechada de previdência
privada, é inviável a inclusão dos reflexos das verbas remuneratórias (horas extras) reconhecidas pela
Justiça do Trabalho nos cálculos da renda mensal inicial dos benefícios de complementação de
aposentadoria.
b) Os eventuais prejuízos causados ao participante ou ao assistido que não puderam contribuir ao fundo
na época apropriada ante o ato ilícito do empregador poderão ser reparados por meio de ação judicial
a ser proposta contra a empresa ex-empregadora na Justiça do Trabalho.
c) Modulação dos efeitos da decisão (art. 927, § 3º, do CPC/2005): nas demandas ajuizadas na Justiça
comum até a data do presente julgamento - se ainda for útil ao participante ou assistido, conforme as
peculiaridades da causa -, admite-se a inclusão dos reflexos de verbas remuneratórias (horas extras),
reconhecidas pela Justiça do Trabalho, nos cálculos da renda mensal inicial dos benefícios de
PREVIDÊNCIA PRIVADA
Em ação de revisão de benefício de previdência privada, o patrocinador não possui legitimidade
passiva para figurar em litisconsórcio com a entidade previdenciária
Obs: este julgado trata sobre entidade fechada de previdência complementar. Se quiser relembrar os
conceitos sobre o tema, veja o julgado anterior (REsp 1.312.736-RS).
Personagens
Fundação dos Economiários Federais (FUNCEF): entidade fechada de previdência privada.
Caixa Econômica Federal (CEF): patrocinadora.
Maria: participante.
A Caixa Econômica é parte legítima para figurar nesta ação? O patrocinador é parte legítima para
figurar em ação judicial na qual o participante pede a revisão do benefício que ele recebe do plano de
Obs: reserva de poupança (ou de benefício) é o total das contribuições efetuadas pelo participante para o
plano. Ação de resgate da reserva de poupança é aquela na qual o participante pede a devolução do valor
que ele pagou para o plano de previdência complementar.
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) Os Defensores Públicos não precisam de inscrição na OAB para exerceram suas atribuições. ( )
2) O candidato aprovado em concurso público fora do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação
caso surjam novas vagas durante o prazo de validade do certame, haja manifestação inequívoca da
administração sobre a necessidade de seu provimento e não tenha restrição orçamentária. ( )
3) São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público quando o afastamento se deu em razão
de atos de exceção praticados durante o regime militar. ( )
4) Não é possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo exigido por lei se complete no curso do
processo judicial. ( )
5) (PGE/AP 2018 FCC) Adquire a propriedade pela usucapião o índio, integrado ou não, que ocupe como
próprio, por dez anos consecutivos, trecho de terra inferior a cinquenta hectares. ( )
6) Não é válida a cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a
comissão de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda do Programa Minha Casa, Minha
Vida. ( )
7) (MP/MS 2018) A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional, nem
na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não
atingida a idade de 21 anos. ( )
8) (PGE/AP 2018 FCC) Entre outras hipóteses, cabe agravo de instrumento contra decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução
e no processo de inventário. ( )
9) (DPE/RS 2018 FCC) Caberá agravo de instrumento, dentre outras hipóteses, contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no
processo de execução e no processo de inventário. ( )
10) Tribunal de Justiça tem competência para, por meio de provimento da respectiva Corregedoria,
estabelecer prazo para a propositura de ação de restauração de autos. ( )
11) As hipóteses de foro por prerrogativa de função perante o STJ restringem-se àquelas em que o crime for
praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função. ( )
12) Não deve ser declarado nulo o júri em que membro do conselho de sentença afirma a existência de crime
em plena fala da acusação. ( )
13) (MP/MS 2018) Não é causa de nulidade por violação à incomunicabilidade dos jurados quando um dos
jurados, após ser sorteado para compor o Conselho de Sentença, fazendo uso de aparelho celular,
comunica-se com terceira pessoa para informar que foi sorteado e tratar de assuntos não relacionados
ao feito. ( )
14) Quando já concedido o benefício de complementação de aposentadoria por entidade fechada de
previdência privada, é inviável a inclusão dos reflexos das verbas remuneratórias (horas extras)
reconhecidas pela Justiça do Trabalho nos cálculos da renda mensal inicial dos benefícios de
complementação de aposentadoria. ( )
15) O patrocinador possui legitimidade passiva para litígios que envolvam participante/assistido e entidade
fechada de previdência complementar, ligados estritamente ao plano previdenciário, como a concessão
e a revisão de benefício ou o resgate da reserva de poupança, em virtude de sua personalidade jurídica
autônoma. ( )
Gabarito
1. C 2. C 3. C 4. E 5. C 6. E 7. C 8. C 9. C 10. E
11. C 12. E 13. C 14. C 15. E