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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS

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MATERIAIS

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Fabio de Paula Assis

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS MATERIAIS

INTRODUÇÃO
É fácil avaliar a importância dos materiais em relação à existência e à
evolução da espécie humana. Não é necessário aprofundar tal exame para se
perceber que inúmeras etapas do desenvolvimento do homem foram marcadas
pela variedade de materiais por ele utilizado. Desde o início da civilização os
materiais são usados com o objetivo de permitir e melhorar a vida do ser humano.
No início da pré-história, o principal material utilizado na confecção de objetos e
ferramentas era o sílex lascado. Em seguida, o homem produziu seus utensílios a
partir da pedra polida. Com a descoberta do fogo e com o início do uso do barro
na fabricação de objetos, iniciou-se a fabricação de peças cerâmicas. A
possibilidade de transformar um material maleável em outro com propriedades
mecânicas totalmente diferentes marcou o início da ciência e engenharia dos
materiais. Nessa mesma época, o uso do barro reforçado com vigas de madeira
e palha, que constitui um material compósito, possibilitou a construção de casas.
Com a descoberta dos metais, finda-se a idade da pedra e inicia-se a idade dos
metais. Inicialmente, o homem empregou o cobre em substituição à pedra. Para
refinar e moldar apropriadamente esse metal, foi utilizado o fogo, o que deu
origem à metalurgia. A baixa resistência mecânica do cobre estimulou
alternativas para se produzir um material mais resistente, o que levou à mistura
desse metal, inicialmente com o arsênio e depois com o estanho, o que resultou
no bronze. Há mais de 4.000 anos, o processo de fundição por cera perdida foi
concebido. Nessa técnica, o objeto a ser produzido era esculpido em cera, que
em seguida era recoberto com uma massa refratária. Ao se aquecer a escultura e
seu recobrimento, a cera podia ser eliminada, resultando em uma cavidade no
interior da massa refratária. A fundição era elaborada com o preenchimento
dessa cavidade pelo metal líquido. O objeto fundido era obtido pela quebra do
molde. Apesar de esse procedimento existir há alguns milhares de anos, a
fundição por cera perdida é ainda hoje utilizada na fabricação de uma gama muito
diversificada de produtos, como próteses odontológicas e ortopédicas ou
componentes de turbinas aeronáuticas. Ainda na pré-história, o homem
processou e utilizou ferro na confecção de ferramentas, armamentos e utensílios.
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Milhares de anos mais tarde, o desenvolvimento de novos processos de


produção dos aços e dos ferros fundidos permitiu a viabilização da revolução
industrial. Neste século, o desenvolvimento dos materiais poliméricos, dos
materiais compósitos avançados, das cerâmicas de engenharia, dos aços
inoxidáveis, das ligas de titânio, dos materiais semicondutores, dos biomateriais,
permitiram avanços significativos em inúmeras áreas, como a medicina, a
odontologia, a indústria aeroespacial, eletrônica, automobilística, naval e
mecânica.
Atualmente, a área do conhecimento denominada Ciência e Engenharia
de Materiais é de fundamental importância em vários campos, como o da
medicina, da indústria eletrônica, farmacêutica e mecânica. Tal área de estudo
analisa o comportamento dos materiais no tocante as suas partículas
subatômicas, aos seus átomos, aos seus arranjos atômicos e, finalmente, ao
nível macroscópico. Geralmente, esta área do conhecimento trata os materiais
em função de suas composições químicas, da natureza e disposições de seus
átomos no espaço e da influência dos processos de transformação em suas
propriedades e características. Enquanto a ciência dos materiais está associada
ao desenvolvimento e geração de conhecimento fundamental sobre os materiais,
tentando compreender o comportamento dos materiais em função de sua
estrutura interna e dos processos utilizados em seu processamento, a engenharia
dos materiais está ligada à utilização desse conhecimento na viabilização e
otimização de processos de transformação dos materiais em produtos finais.

SELEÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DE MATERIAIS


A produção e transformação de materiais em produtos finais podem ser
consideradas como uma das atividades mais importantes de uma economia
moderna, principalmente quando a mesma está inserida em conceitos de
globalização. Na concepção e fabricação de um novo produto manufaturado, a
etapa associada à seleção apropriada dos materiais que o constituirão e ao
planejamento do processo de fabricação a ser empregado é fundamental. Esta
etapa está associada a fatores como o ambiente de operação, os níveis de
solicitação mecânica presentes, as temperaturas de trabalho ou ainda, a
necessidade de obter-se um produto com custos reduzidos. A concepção desse
produto exige que o responsável pela mesma, tenha noção da estrutura interna
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dos materiais, pois o conhecimento da mesma aos níveis atômico e subatômico


permite prever o desempenho do material em serviço, bem como permite
controlar suas características, dentro de certos limites.
A seleção de um determinado material para integrar um novo produto é
uma tarefa dinâmica e os princípios que a controlam são constantemente
alterados à medida que novos materiais são também continuamente concebidos,
bem como os requisitos técnicos e econômicos podem ser mudados. Um
exemplo desse fato é a substituição das ligas metálicas por materiais compósitos
na fuselagem dos aviões comerciais de última geração. A necessidade de
minimizar gastos com combustível e melhorar o desempenho dessas aeronaves
leva ao uso de um material mais leve. Outro exemplo é encontrado na indústria
automobilística. Até o início da década passada era comum que os blocos de
motores fossem fabricados em ferro fundido, um material relativamente pesado.
Entretanto, nos últimos anos a indústria automobilística tem substituído o ferro
fundido por ligas de alumínio, que além de serem mais leves, permitem que o
motor seja refrigerado de maneira mais eficiente. A substituição de materiais é um
processo contínuo que ocorre desde os primórdios da civilização, à medida que,
em função de suas necessidades, o homem iniciou a transformação de materiais
em ferramentas e utensílios. Na indústria moderna, muitos fatores e aspectos são
constantemente alterados. Isto provoca a contínua busca pela reposição de
materiais, tendo como objetivo o menor custo de produção, bem como o aumento
da eficiência do produto final.

Exemplo 1.1
Considerando uma lâmpada elétrica comum, identifique os principais
materiais que a integram e razão que motivou a seleção dos mesmos.

Solução
Uma lâmpada é constituída por um bulbo de quartzo (SiO 2) e por um
filamento de tungstênio. O tungstênio, por suportar facilmente temperaturas
acima de 2.0000C, é usado para transformar energia elétrica em energia
luminosa. Entretanto, em presença de oxigênio, esse metal é intensamente
oxidado em temperaturas elevadas, o que leva a sua degradação. Em uma
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lâmpada elétrica, o tungstênio é inserido dentro do bulbo e selado a vácuo, o


que evita a oxidação do filamento.
Um exemplo clássico de alteração no perfil de consumo de materiais é o
caso da indústria automobilística. Em 1975, um carro médio americano exibia em
torno de 80% de seu peso em ligas ferrosas. Com a necessidade de redução de
peso imposta pelos aumentos do custo de combustíveis na década de 70, o
emprego dessas ligas passou a ser responsável por 73% do peso. Tal redução é
significativamente profunda quando se considera que o veículo teve seu peso
reduzido em aproximadamente 25% no mesmo período, resultado direto do uso
de materiais mais leves e da diminuição em tamanho. Nesse período, o uso de
materiais leves, como os plásticos e o alumínio, passou de 8% do peso total do
veículo para valores próximos a 23%. Atualmente, é possível encontrar em
alguns automóveis, carrocerias construídas integralmente em alumínio, o que
além de representar redução de custos, resulta em um produto mais resistente à
corrosão.
CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS
Os materiais empregados industrialmente podem ser classificados no
tocante a características particulares ligadas à constituição e arranjos de seus
átomos. Tal classificação permite que os materiais sejam agregados em três
classes principais, quais sejam: materiais metálicos, materiais cerâmicos e
materiais poliméricos. Além dos tipos citados, um estudo mais abrangente deve
incluir outro tipo, que exibe, atualmente, grande importância tecnológica: os
materiais compósitos, também denominados de materiais conjugados.

MATERIAIS METÁLICOS
A principal característica dos materiais metálicos está relacionada à forma
ordenada com que os seus átomos estão arranjados no espaço, o que pode ser
mais bem sintetizado pelo termo “estrutura cristalina”. Em função do arranjo
atômico, os materiais metálicos apresentam, em geral, boa resistência mecânica
e podem ser deformados permanentemente sob a ação de forças externas. Além,
disso, como resultado das ligações metálicas, eles são bons condutores de calor
e eletricidade. Os materiais metálicos são substâncias inorgânicas compostas por
um ou mais elementos metálicos e podem também conter elementos não
metálicos, como o oxigênio, carbono e nitrogênio.
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Dentre os materiais metálicos, destacam-se as ligas de alumínio,


largamente empregadas na construção de aeronaves, as ligas de titânio usadas
na confecção de implantes ortopédicos e as superligas de níquel, apropriadas
para fabricação de componentes para operação em temperaturas elevadas. Os
metais são vitais para indústria moderna, pois seu uso ocorre em uma gama de
aplicações excepcionalmente diversificada, da indústria de microeletrônica à
automotiva.
O uso de fios de ouro como condutor elétrico é visto em uma imagem
ampliada de um circuito integrado, mostrada pela figura 1.1. Por outro lado, a
figura 1.2 apresenta um turboalimentador utilizado em motores de combustão
interna. Os gases de escape do motor impulsionam um dos rotores, o que
permite que o outro rotor aumente a pressão de alimentação do motor,
aumentando a eficiência do conjunto.

Figura 1.1. Circuito integrado exibindo fios de ouro como condutor de

eletricidade (Microscopia Eletrônica de Varredura – 2.000×).


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Figura 1.2. Turboalimentador automotivo: (a) rotor de impulsão construído em


superliga de níquel; (b) rotor de compressão construído em liga de alumínio.

Exemplo 1.2
Descreva alguns fatores a serem considerados na especificação de um
material a ser empregado na fabricação de para-choques de automóveis.
Solução
O para-choque de um automóvel é, antes de tudo, um componente
ligado à segurança do veículo. Em caso de acidente, o mesmo serve de
proteção para o veículo, bem como para absorver parte da energia cinética a
ser dissipada. O uso de um material muito duro, de alta rigidez ou com elevada
resistência mecânica não seria indicado, pois o mesmo permitiria que o efeito
do choque fosse transmitido ao resto do veículo, bem como aos seus
ocupantes. Até recentemente, os veículos eram produzidos com para-choques
metálicos deformáveis. Atualmente, esses componentes passaram a ser
produzidos com materiais poliméricos, que apesar de serem relativamente
resistentes, deformam-se em caso de choque frontal do veículo.

MATERIAIS CERÂMICOS
Os materiais classificados como cerâmicos envolvem substâncias
altamente resistentes ao calor e no tocante à estrutura atômica, podem
apresentar arranjo ordenado e desordenado, dependendo do tipo de átomo
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envolvido e à forma de obtenção do material. Esses materiais são constituídos


por elementos metálicos e não metálicos (inorgânicos), formando reações
químicas covalentes e iônicas. Em função do arranjo atômico e das ligações
químicas presentes, os materiais cerâmicos apresentam elevada resistência
mecânica, alta fragilidade, alta dureza, grande resistência ao calor e,
principalmente, são isolantes térmicos e elétricos. Nas últimas décadas, uma
gama bastante variada de novos materiais cerâmicos foi desenvolvida. Tais
materiais caracterizam-se, principalmente, pelo controle de suas composições,
das dimensões de suas partículas e do processo de produção dos componentes.
Como resultado desse procedimento, é possível produzir dispositivos de alta
resistência mecânica e resistentes a temperaturas elevadas, o que possibilita a
aplicação dos mesmos em máquinas térmicas, onde o aumento do rendimento
está ligado ao aumento da temperatura de trabalho.
Em razão de sua excelente estabilidade térmica, os materiais cerâmicos
têm um importante papel na fabricação de diversos componentes, tais como
insertos de pistões de motores de combustão interna ou ainda, na produção de
componentes de turbinas a gás. A figura 1.3 mostra produtos automotivos
fabricados com materiais cerâmicos. Exemplos de materiais cerâmicos incluem a
alumina, a sílica, o nitreto de silício, a zircônia e o dissiliceto de molibdênio, todos
caracterizados como materiais cerâmicos de engenharia.

Exemplo 1.3
Considerando que os materiais cerâmicos exibem alta resistência
mecânica e elevada estabilidade térmica, explique o motivo pelo qual
componentes principais de motores a jato não são confeccionados a partir
desses materiais.

Solução
Em função da alta estabilidade térmica, os materiais cerâmicos são, em
princípio, ideais na fabricação de componentes de máquinas térmicas, as quais
têm seu rendimento aumentado quando se eleva a temperatura de operação.
Entretanto, além das características citadas, os materiais cerâmicos exibem
baixa tenacidade à fratura, que corresponde à falta de capacidade de limitar a
propagação de trincas no interior do material. Assim, no caso da existência de
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uma pequena trinca no interior de um componente fabricado com materiais


cerâmico, a mesma propagaria rapidamente, causando a ruptura do mesmo.
Tal fenômeno ocorre em escala muito menor em materiais metálicos.

Exemplo 1.4
Algumas partes da fuselagem do ônibus espacial americano são
recobertas com material cerâmico? Explique a razão de tal recobrimento.

Solução
Durante a reentrada dessa aeronave na atmosfera terrestre, em
consequência do atrito, temperaturas acima de 1.0000C podem ser geradas, o
que poderia danificar partes desse veículo. O recobrimento de material cerâmico
utilizado, que pode suportar temperaturas extremamente elevadas, serve como
proteção, isolando o calor gerado do resto da aeronave.

(a) (b)

(c)
Figura 1.3. Produtos automotivos fabricados com materiais cerâmicos: (a) Parte
superior de pistões e anéis de nitreto de silício sinterizado, (b) Rotor de turbo-
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alimentador de nitreto de silício, e (c) Motor com partes cerâmicas. (Cortesia


Kyocera).

MATERIAIS POLIMÉRICOS
Os materiais poliméricos, apesar de abrangerem diversos materiais
classificados como naturais, envolvem ainda aqueles de natureza sintética e
artificial. Grande parte desses últimos teve sua utilização viabilizada a partir da
década de 20, com os avanços da química orgânica. A principal característica
que diferencia os materiais poliméricos dos outros tipos de materiais está
relacionada à presença de cadeias moleculares de grande extensão constituídas
principalmente por carbono. O arranjo dos átomos da cadeia molecular pode
levar a mesma a ser caracterizada como linear, ramificada ou tridimensional. O
tipo de arranjo da cadeia controla as propriedades do material polimérico. Embora
esses materiais não apresentem arranjos atômicos semelhantes ao cristalino,
alguns podem exibir regiões com grande ordenação atômica (cristalinas)
envolvida por regiões de alta desordem (não cristalina). Devido à natureza das
ligações atômicas envolvidas (intramoleculares  ligações covalentes e
intermoleculares  ligações secundárias), a maioria dos plásticos não conduz
eletricidade e calor. Além disso, em função do arranjo atômico de seus átomos,
os materiais poliméricos exibem, em geral, baixa densidade e baixa estabilidade
térmica. Tal conjunto de características permite que os mesmos sejam
frequentemente utilizados como isolantes elétrico ou térmico ou na confecção de
produtos onde o peso reduzido é importante. Um dos materiais poliméricos mais
versáteis é o polietileno, com um número de aplicações industriais bastante
amplos. Outros exemplos de materiais poliméricos incluem os poliuretano, que é
usado na fabricação de implantes cardíacos ou a borracha natural utilizada na
fabricação de pneus. A figura 1.4 mostra um exemplo de uso de plástico na
indústria automobilística.
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Figura 1.4. Automóvel experimental projetado pela Chrysler com carroceria


produzida em uma única peça de plástico, o que pode resultar em redução de até
25% de seu preço final (Cortesia Chrysler Corporation, E.U.A.).

Na tabela 1.1 são comparadas algumas propriedades dos materiais metálicos,


cerâmicos e poliméricos.
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Tabela 1.1. Constituição e características dos materiais metálicos, cerâmicos e


poliméricos.

TIPO DE CARACTERÍSTICAS CONSTITUINTES


MATERIAL

METÁLICO  MÉDIA - ALTA RESISTÊNCIA ELEMENTOS METÁLICOS


MECÂNICA E NÃO METÁLICOS
 ALTA DUCTILIDADE

 BOM CONDUTOR TÉRMICO E


ELÉTRICO

 BAIXA - ALTA TEMPERATURA DE


FUSÃO

 BAIXA - ALTA DUREZA

POLIMÉRICO  BOM ISOLANTE TÉRMICO CADEIAS MOLECULARES


ORGÂNICAS
E ELÉTRICO
 ALTA DUCTILIDADE

 BAIXA RESISTÊNCIA MECÂNICA

 BAIXA DUREZA

 BAIXA ESTABILIDADE TÉRMICA

CERÂMICO  ALTA RESISTÊNCIA MECÂNICA ÓXIDOS


 ALTA FRAGILIDADE SILICATOS

 BOM ISOLANTE TÉRMICO E NITRETOS


ELÉTRICO

 ALTA TEMPERATURA DE FUSÃO

 ALTA DUREZA

Exemplo 1.5
O painel de um automóvel moderno é essencialmente fabricado com o
uso de plásticos (material polimérico). Entretanto, os automóveis fabricados há
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mais de 20 anos tinham o mesmo painel fabricado a partir de materiais


metálicos. Qual a razão que levou tal substituição.

Solução
Tal substituição foi efetuada em função de dois fatores: segurança e
custos. Com o uso de plásticos, o painel se tornou mais seguro para os
ocupantes do veículo em caso de acidente, pois esses materiais deformam-se
mais facilmente que os materiais metálicos. Com o desenvolvimento da
indústria petroquímica, os plásticos tiveram seu custo reduzido, bem como o
processo de moldagem tornaram-se mais eficiente, o que resultou em um
produto de preço reduzido.

MATERIAIS COMPÓSITOS
Os materiais compósitos, também denominados de materiais conjugados,
podem ser descritos como a combinação de dois ou mais diferentes materiais, o
que resulta em propriedades não apresentadas pelos constituintes individuais.
Além disso, os materiais constituintes do material compósito não dissolvem um
no outro e exibem uma interface bem definida entre eles. Esses materiais podem
ser divididos em materiais compósitos naturais ou tradicionais e em materiais
compósitos avançados. No primeiro grupo enquadram-se a madeira, o concreto e
o asfalto. Por outro lado, os materiais compósitos avançados surgiram há poucas
décadas, como resultado de necessidades resultantes de avanços tecnológicos
nas indústrias aeronáutica, naval e automobilística. Dentre os materiais
compósitos mais comuns destacam-se os de matriz plástica reforçada com fibras
de vidro ou carbono, ou ainda, as ligas de alumínio reforçadas com filamentos de
boro.

Exemplo 1.6
Um automóvel de competição de última geração é basicamente
construído com o uso de materiais compósitos do tipo matriz plástica e reforço
de fibras de carbono. Qual é a motivação para tal utilização?
Solução
O material compósito matriz plástica/fibras de carbono permite obter uma
relação resistência mecânica/peso extremamente elevada e muito maior que a de
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diversos materiais metálicos. Em um automóvel de competição é importante


reduzir o peso total do veículo. Portanto, com o uso desse material compósito é
possível projetar o veiculo, com um peso total menor. Por outro lado, o emprego
de tal material em automóveis de passeio não se justifica à medida que o custo
de produção seria excessivamente elevado em comparação com o uso do aço.
A figura 1.5 ilustra a variedade de partes confeccionadas a partir de
materiais compósitos em uma aeronave de última geração.

Figura 1.5. Emprego de materiais compósitos na aeronave ERJ145 (Cortesia


Embraer- partes escuras: compósitos).

ESTRUTURA, PROPRIEDADES E PROCESSAMENTO DOS MATERIAIS


Um material, ao ser selecionado para integrar um produto, exibe um
conjunto de propriedades que são resultantes da estrutura interna do mesmo. Por
exemplo, a alta resistência ao calor de um material cerâmico está associada ao
tipo de ligações químicas entre seus átomos. A baixa densidade dos plásticos é
uma característica que tem sua origem na disposição de seus átomos e cadeias
moleculares. Um metal pode ser submetido a deformações plásticas, pois seus
planos atômicos podem ser deslizados um em relação a outros. Tais fatos
confirmam a existência de uma relação profunda entre estrutura e propriedades.
Entretanto, a estrutura de um material e, consequentemente, suas propriedades
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podem ser alteradas em função do processamento que o material foi submetido


durante a fabricação de um produto.
O emprego de materiais para se produzir um produto manufaturado exige
etapas de fabricação onde as características desses materiais são alteradas no
tocante à forma, a dimensões, e principalmente, em relação a sua estrutura
interna. No caso de materiais metálicos, o processamento pode envolver técnicas
como a fundição, o forjamento, ou a laminação. No caso de materiais cerâmicos,
estes podem ser fundidos, sinterizados, ou tratados termicamente. Os materiais
poliméricos são processados principalmente por moldagem a quente. Em todos
os casos, um número elevado de variáveis operacionais é observado e as
características e intensidade dessas afetarão de maneira significativa, a natureza
do produto final. Por exemplo, a transformação de um lingote de aço em uma
chapa metálica a ser utilizada na fabricação de um automóvel exige que o
material seja conformado plasticamente, o que além de gerar tensões na
estrutura cristalina do metal, pode modificar sua estrutura atômica, alterando o
arranjo dos átomos. Tal situação pode alterar de maneira significativa, as
propriedades mecânicas do material utilizado. Outro exemplo está relacionado à
produção de uma peça metálica pelo processo de fundição de metais, como é o
caso de um bloco de motor de automóvel. Neste caso, um molde, com uma
cavidade com a mesma forma geométrica do bloco é preenchido por um volume
de metal líquido. Após a solidificação deste metal, a peça é desmoldada e a
fundição do pistão é concluída. Quando a velocidade de solidificação do metal
líquido é alta ou baixa, a estrutura interna do material será afetada em relação a
defeitos na estrutura atômica e distribuição de constituintes e consequentemente,
alterando as propriedades da peça.
Concluindo, um material para ser aplicado em engenharia necessita
apresentar dados sobre suas características básicas e também sobre a maneira
com que o mesmo foi processado até o momento de ser empregado. Uma chapa
de aço, que é na verdade uma liga de ferro e carbono, laminada "a frio" apresenta
características distintas de outra laminada "a quente".

Exemplo 1.6
Um tubo de cobre utilizado na condução de gases ou líquidos apresenta
razoável resistência ao dobramento. Um procedimento simples para "amolecer"
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esse material é aquecê-lo sob fogo brando por alguns minutos. Qual é o
fenômeno que ocorre durante esse procedimento.

Solução
Após a extrusão do cobre, que é necessária para obter a forma tubular, o
arranjo dos átomos desse metal é profundamente alterado, transformando-o em
uma estrutura denominada de encruada. Um material encruado tem sua
resistência mecânica significativamente aumentada. A ação do calor permite
rearranjar os átomos de cobre de acordo com a forma inicial, o que reduz
novamente sua resistência mecânica.
A natureza e o comportamento dos materiais em serviço estão
basicamente associados aos tipos de átomos envolvidos e aos arranjos dos
mesmos. Um material pode ser constituído por um ou mais tipos de elementos
químicos. Entretanto, a forma com que tais elementos se arranjam no espaço
determinará as características do material. Objetivando facilitar o estudo dos
materiais em relação as suas estruturas, é possível classificar a mesma em
quatro níveis: o subatômico, atômico, microscópico e tamanho de diversas
estruturas, desde um corpo de prova até as partículas subatômicas, como
apresenta a figura 1.6.
O nível subatômico está relacionado à natureza do átomo individual, em
relação ao comportamento e distribuição de seus elétrons em torno do núcleo.
Além de serem determinantes no tocante às interações entre átomos e
consequentemente, em relação ao tipo da ligação interatômica formada, o
comportamento dos elétrons das camadas periféricas é fundamental na definição
de propriedades ópticas, elétricas, térmicas e magnéticas. O fato de um elemento
ser bom ou mal condutor elétrico, ou ainda, a possibilidade de um elemento reagir
ou não com outros elementos, formando ligações covalente, metálica ou iônica,
está ligado à distribuição eletrônica dos elétrons em suas camadas.
O nível seguinte é definido como o atômico e está associado ao
comportamento de um átomo em relação a outro átomo, ou seja, a interação
entre átomos, as ligações entre os mesmos e a formação de estruturas e
moléculas. As ligações interatômicas dependem do comportamento do átomo ao
nível subatômico e da natureza dessas dependerá o estado de agregação do
material. Enquanto a combinação de um único elemento ou de vários elementos,
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leva ao arranjo cristalino, em outros casos, tal combinação pode resultar em


estruturas amorfas. Por outro lado, dependendo do tipo de átomo envolvido, é
possível obter as estruturas moleculares.

Níveis Subatômico Atômico Microscópico Macroscópico

Circuitos Integrados Corpo de Prova Muralha da China


Estruturas de
Engenharia

Contornos de Grão Grãos

Microestrutura

Arranjos Células Unitárias


Atômicos
Objeto
Monômeros Polímeros
Moléculas

Átomos

Núcleo

Partículas
Elementares

Escala (m)
10-15 10-12 10-9 10-6 10-3 10 0 10 3

Figura 1.6. Comparação entre o tamanho de diversas estruturas.

O nível microscópico relaciona-se à análise de um conjunto de átomos ou


moléculas arranjados no espaço na forma cristalina, amorfa ou molecular. Nesse
nível são abordados os defeitos cristalinos como a formação de grãos e o
movimento de discordâncias, que são vitais na definição do comportamento
mecânico do material. Enquanto alguns produtos metálicos são
propositadamente fabricados com grãos cristalinos refinados, outros necessitam
ser produzidos na forma monocristalina.
O nível macroscópico relaciona-se às características e propriedades dos
materiais em serviço. Por exemplo, o comportamento de um corpo de prova de
uma liga de alumínio solicitada mecanicamente dependerá de fatores associados
aos três níveis anteriores. Esse corpo de prova, ao ser submetido a um ensaio de
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tração, apresentará um comportamento ligado à distribuição de elétrons em suas


camadas periféricas, que é responsável por suas ligações metálicas. Tal tipo de
ligação permite o arranjo cristalino, que controlará as deformações elásticas e
plásticas do material. Além disso, a natureza e intensidade dos defeitos cristalinos
governarão o comportamento mecânico em relação à ductilidade, resistência
mecânica, tensão de escoamento, etc.

Problemas
1.1. Quais são as principais classes de materiais usados em engenharia?
1.2. Liste alguns materiais normalmente encontrados em engenharia de
materiais.
1.3. Defina o que são materiais conjugados ou compósitos.
1.4. Dê exemplos de materiais que foram substituídos por outros em
determinadas aplicações industriais. Explique as razões de tais substituições.
1.5. Atualmente, diversos componentes de motores de combustão interna são
confeccionados a partir de materiais cerâmicos. Qual a principal vantagem do
emprego destes materiais neste caso?
1.6. Considere uma aeronave moderna. Pesquise os novos materiais
envolvidos na construção da mesma.
1.7. Considere um automóvel moderno. Liste alguns materiais não tradicionais
envolvidos na construção do mesmo.

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