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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA

VARA ÚNICA DA COMARCA DE FARIAS BRITO, ESTADO DO


CEARÁ.

PROCESSO REF. Nº 0004557-95.2016.8.06.0076

RUYMAR GOMES DO NASCIMENTO, brasileiro,


divorciado, empresário, portador de cédula de identidade RG nº
1672262 SSP/PI, inscrito no CPF sob o nº 216.302.913-15,
residente e domiciliado no Sítio Lagoa do Mato I, área rural de
Brejo Santo - CE, por seus advogados infra-assinados, com endereço
profissional e eletrônico constante no rodapé, doravante encaminhadas
às intimações do feito, vem, respeitosamente, a presença de Vossa
Excelência, com fundamento nos artigos 5º, LXVI da Constituição
Federal combinado com o artigo 310, III e o artigo 321 do Código de
Processo Penal, apresentar:

LIBERDADE PROVISÓRIA

pelas razões de fato e fundamentos jurídicos a seguir expostas:


II - BREVE RELATO DOS FATOS

O acusado foi denunciado em 14 de novembro de 2018 como


incurso nas penas do art. 171, caput, c/c art. 71 do CP, oportunidade
na qual o Ministério Público pleiteou a sua condenação nas penas
previstas para o delito tipificado.

Após o oferecimento da denúncia, na data de 22 de novembro de


2018, o Ministério Público apresentou requerimento, neste momento
pugnando pela decretação da prisão preventiva do acusado, em virtude
de ele não ter sido citado e ter supostamente trocado de nome para
eivar-se da persecução criminal.

No dia 08 de janeiro de 2019, o Douto Juízo da Comarca de


Farias Brito/CE, prolatou decisão para então decretar a prisão
preventiva do denunciado, acatando os argumentos do MPCE.

Contudo, a verdade dos fatos é que o acusado jamais tomou


conhecimento sobre qualquer processo em seu nome, nunca tendo sido
citado formalmente para responder à acusação e, no momento que
tomou conhecimento, o mandado de prisão em seu desfavor já havia
sido expedido.

 AUSÊNCIA DOS REQUESITOS QUE AUTORIZAM A


DECRETAÇÃO DA PREVENTIVA

O art. 312 do Código de Processo Penal, ao tratar dos requisitos


para a decretação da prisão preventiva, estabelece, in verbis, que:

Art. 312.  A prisão preventiva poderá ser decretada


como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal,
ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando
houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria.   

Parágrafo único.  A prisão preventiva também


poderá ser decretada em caso de descumprimento de
qualquer das obrigações impostas por força de
outras medidas cautelares.
Nesse desiderato, para a decretação do cárcere preventivo é
necessária a presença de dois requisitos fundamentais e cumulativos,
quais sejam: 1) indícios de materialidade e autoria do fato (fumus
comissi delicti); e 2) para garantir a ordem pública ou econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei
penal (periculum in mora e periculum libertatis).

No presente caso, embora existam indícios de suposta


irregularidade por parte do INSTITUDO EDUCACIONAL RUYMAR
GOMES – IERG, não há que se falar ainda na prática de crimes
tipificados no Código Penal, mas apenas de ilícitos de cunho
administrativo ou cível, já que se alegam apenas irregularidades para a
diplomação dos discentes matriculados na IES.

Contudo, ainda que se absorva a tese de que existem indícios do


cometimento de crime por parte da instituição de ensino, a presença do
primeiro requisito é insuficiente para sustentar a decretação do cárcere,
dado que é necessária a existência de mais elementos para suportar a
prisão preventiva.

O crime de estelionato, por si só, não se caracteriza por ser um


delito praticado mediante violência ou grave ameaça, e mais, inexistem
quaisquer elementos que levem a crer que o acusado estando em
liberdade voltará a praticar delitos, até porque trata-se de acusado
primário e de bons antecedentes, jamais tendo se envolvido em
problemas com a Justiça.

Ademais, o acusado não causou qualquer embaraço à instrução


criminal, notadamente porque não tinha sequer conhecimento do
processo movido contra si pela Justiça Pública, dado que quando tomou
conhecimento, o mandado de prisão em seu desfavor já havia sido
expedido.

No que diz respeito a assegurar a aplicação da lei penal,


principal argumento utilizado para basear o mandado de prisão
preventiva contra o acusado, cumpre ressaltar que os termos dispostos
no requerimento ministerial não se coadunam com a verdade dos fatos.

Isto porque o fato de o acusado não ter sido citado não tem o
condão de gerar a presunção de sua fuga de forma objetiva. O risco de
fuga deve ser devidamente comprovado, o que não aconteceu no
presente caso.

Ressalta-se novamente que o acusado não tinha conhecimento


do processo em que figura como denunciado, e por esta razão seria
impossível ter empreendido fuga, já que sequer detinha conhecimento a
respeito dos fatos que lhe são imputados.

No sentido do que foi expendido acima é a jurisprudência deste


Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, conforme vejamos:

TJCE-0090005) HABEAS CORPUS. PENAL E
PROCESSUAL PENAL. TENTATIVA DE HOMICÍDIO
QUALIFICADA. PRISÃO PREVENTIVA. RÉU NÃO
LOCALIZADO PARA CITAÇÃO PESSOAL. CITAÇÃO POR
EDITAL INFRUTÍFERA. SUSPENSÃO DO PROCESSO E
DO PRAZO PRESCRICIONAL. DECRETAÇÃO DA PRISÃO
PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. AUSÊNCIA
DE INDICAÇÃO DE ELEMENTOS CONCRETOS.
PRECEDENTES DESTA CÂMARA. ORDEM CONHECIDA
E CONCEDIDA. No caso em apreço, nota-se que a
prisão preventiva do paciente foi decretada somente
em razão da sua revelia, por não ter sido encontrado
no endereço indicado por sua genitora, sem
apresentação de indicativos concretos de fuga e sem
apontar o perigo que liberdade do paciente imprimiria
para o processo ou à sociedade, o que configura nítido
constrangimento ilegal. "A simples ausência do  réu,
sem indicativos concretos de fuga e sem apontar o
perigo da liberdade do paciente para o processo ou à
sociedade, não justifica o decreto preventivo, o qual
necessita conter fundamentação idônea". (TJCE -
Processo: 0629369-21.2018.8.06.0000 - Relator(a):
MARIO PARENTE TEÓFILO NETO; Comarca: Maracanau;
Órgão julgador: 2ª Vara Criminal; Data do julgamento:
06.11.2018; Data de registro: 06.11.2018) Ordem
conhecida e concedida. (Habeas Corpus nº 0628851-
31.2018.8.06.0000, 1ª Câmara Criminal do TJCE, Rel.
Ligia Andrade de Alencar Magalhães. DJe 03.12.2018).

TJCE-0055937) PENAL E PROCESSO


PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS.
AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO PARA DECRETAÇÃO
DA PRISÃO PREVENTIVA. MOTIVAÇÃO INIDÔNEA.
GRAVIDADE ABSTRATA DO CRIME.
FALTA DE INDICAÇÃO DE ELEMENTOS CONCRETOS A
JUSTIFICAR A MEDIDA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
CONFIGURADO. RATIFICAÇÃO DA LIMINAR
ANTERIORMENTE DEFERIDA. APLICAÇÃO DAS
MEDIDAS CAUTELARES ELENCADAS NO ART. 319, I, IV
E V, DO CPP. NEGATIVA DE AUTORIA. VIA IMPRÓPRIA.
ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E
CONCEDIDA. 01. Paciente preso em flagrante em
25.12.2015 pela suposta prática do delito previsto no art.
33 da Lei nº 11.343/06 (tráfico de drogas),
ausência de fundamentação para a decretação e a
manutenção da prisão preventiva, excesso de prazo e
negativa de autoria. 02. No que tange a
negativa de autoria, esta tese não merece ser conhecida,
pois é na instrução criminal o momento oportuno para
que a defesa técnica seja apresentada, e faça provas em
favor do paciente, sendo, por isso, o habeas corpus a via
imprópria para suscitar a tese acima, assim como outros
que tratem exclusivamente do mérito da ação penal. 03.
No que diz respeito a falta de fundamentação do
decreto preventivo, percebe-se, pois, que o juízo a
quo condicionou a necessidade de manutenção da
prisão preventiva do paciente em virtude da
gravidade abstrata do delito, mas não
demonstrou de que forma o paciente representaria
um risco à ordem pública, à instrução criminal ou à
aplicação da lei penal, tendo fundamentado a prisão
preventiva do paciente apenas no
fato de risco de reiteração delitiva e a tentativa  de
fuga no momento da prisão, não sendo estes motivos
plausíveis para se decretar a prisão provisória,
encontrando-se a decisão genericamente
fundamentada. 04. In casu, não vislumbro no decisum
atacado qualquer demonstração efetiva de risco ou
ofensa a ensejar o decreto preventivo,
estando ausente de fundamentação a decisão combatida,
tornando impossível a manutenção do encarceramento,
assim medida que se impõe é a concessão da ordem. 05.
Contudo, dada à peculiaridade do caso (paciente
portando tubo de plástico contendo 8 (oito)
pedrinhas de crack, bem como um saquinho contendo
pedacinhos de crack e três balinhas de maconha, além
da quantia de R$ 30,00 tendo jogado a droga fora ao ver
a viatura policial) - argumento fático, que, ressalte-se,
não foi usado pelo magistrado a quo para sustentar a
segregação cautelar do paciente e, somente para manter
um resguardo satisfatório à ordem pública e à aplicação
da lei penal, determino que sejam impostas as medidas
cautelares previstas no art. 319, incisos I, IV e V, do
Código de Processo Penal, devendo o mesmo manter
atualizado o endereço onde possa ser encontrado, a
fim de que os atos processuais possam ser realizados
sem prejuízo ao avanço da marcha processual. 06.
ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E CONCEDIDA.
(Habeas Corpus nº 0622127-79.2016.8.06.0000, 1ª
Câmara Criminal do TJCE, Rel. Mário Parente Teófilo
Neto. unânime, DJe 15.06.2016).

Desta forma, depreende-se do entendimento deste Egrégio


Tribunal que a mera ausência de citação do acusado, ora
denunciado, não é motivo plausível e suficiente para sustentar o
cárcere preventivo. E tal situação se amoldura perfeitamente ao
caso concreto, visto que o denunciado não foi citado em nenhum
momento para responder à acusação e, quando tomou
conhecimento dos fatos, a ordem de prisão já estava decretada.

Entretanto, note-se que o requerimento ministerial baseou-


se em elementos superficiais e genéricos para defender o risco de
fuga, não trazendo aos autos qualquer elemento convincente que
justifique a aplicação da medida cautelar preventiva.

O Ministro Marco Aurélio Melo sustenta que a liberdade é


direito natural do ser humano e a obstrução ao constrangimento
nitidamente ilegal, ainda que não esteja inscrita em lei positiva, é
imanente dos direitos da cidadania brasileira.

Tanto que não há pena no Código Penal pelo ato “fuga” e


sim o auxílio à fuga. A fuga do prisioneiro, em si mesma
considerada, não é crime e se não está disposto no rol dos delitos,
o fato da ausência também não poderá ser interpretado como
agravante em nenhuma hipótese.

Do contrário, embora a esteira do raciocínio não contemple


anseio prematuro da sociedade pela eficácia prisional, sendo
antipática tese, perfilhamo-nos integralmente a ela, peticionando
sempre pela Justiça. Não se trata de defender o direito de fugir e
sim o de manter-se em liberdade.
 DA PRIMARIEDADE, BONS ANTECEDENTES E GARANTIA DA
ORDEM PÚBLICA.

Sendo o requerente posto em liberdade, de nenhuma forma


estará prejudicada a Ordem Pública, posto que o acusado é um homem
de bem e trabalhador, é primário e tem bons antecedentes. Sua
liberdade não colocará em risco a paz social, visto que o acusado não é
propenso à prática de conduta delituosa. Apesar de recaírem fortes
indícios da conduta por ele realizado, assim a ele não deve ser imposta
a custódia provisória, uma vez que a sua conduta delitiva restringiu-se
tão somente ao fato em questão.

Manter-se preso o requerente sob a alegação de conveniência da


instrução criminal não é fato que pode ser concebido uma vez que o
requerente não tem nenhuma intenção em perturbar a busca da
verdade real, atrapalhando na produção de provas processuais. Sua
intenção é de tão somente defender-se da acusação que recai sobre ele,
o que pode fazer em liberdade, não prejudicando a instrução criminal.

Frise-se, Excelência, que o denunciado não tem interesse


em desviar da persecução criminal, contudo, deseja manter-se em
liberdade para responder às acusações e provar sua inocência.

E mais, é fato público e notório a realidade do sistema


carcerário brasileiro, que se encontra em estado de calamidade, de
tal forma que a prisão, ainda mais quando injusta, como neste
caso, representa um pesadelo e trauma irrecuperável para
qualquer cidadão.

 DA FILHA MENOR

Ademais, o ora denunciado tem uma filha menor, MARIA


MYHTRA SOUSA DO NASCIMENTO de 04 (quatro) anos de idade, o qual
é dependente de RUYMAR, conforme certidão em anexo.
 DA IMPETRAÇÃO DE HABEAS CORPUS

O acusado não tinha conhecimento do processo em que figura


como denunciado, pois por um acaso veio tomar conhecimento do
referido processo quando se já tinham decretado a sua prisão
preventiva.
Sabendo da decretação de sua prisão, não se apresentou, por ser
um senhor de 53 (cinquenta e três) anos de idade e sofrer de depressão
como consta em laudo anexo. Por ser também uma figura pública em
razão de sua esposa ser Vereadora na cidade de Fronteiras/PI, impetrou
habeas corpus para ter sua liberdade concedida para melhor se
defender no processo que esta sendo acusado pela suposta pratica de
crime de estelionato.

 DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

• Que seja julgado procedente o pedido de LIBERDADE


PROVISÓRIA;

• Que seja dado vista ao Ilustríssimo representante do


Ministério Público para caso queira se manifestar;

• Que seja expedido ALVARÁ de SOLTURA em favor de


RUYMAR GOMES DO NASCIMENTO, que deverá ser
comunicado ao centro de detenção em via ágil;

• O Requerente se compromete a comparecer em todos os atos


que se fizerem necessário.

Nestes termos, pede deferimento.


Farias Brito - CE, 29 de maio de 2019.

Cândido Lima Júnior


OAB PA 25.926-A

Ângelo Sousa Lima

OAB/PA 26.226

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