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Georges Pasch
MERCURYO
ÍNDICE
Introdução
O método de exame - As bases do método científico - Os corpos do homem - A
reprodutibilidade - A experiência e o testemunho - A ciência clássica oficial - Os que
acreditavam e os que não acreditavam
Primeira parte
PROPRIEDADES MISTERIOSAS DO CORPO HUMANO
Segunda parte
O ESPÍRITO E A MATÉRIA (Fenômenos físicos da parapsicologia)
5. Os raps
6. Telecinesia (TK)
Estudos experimentais - Estudo experimental dos fenômenos de poltergeist - TK e os
animais - Mesas giratórias - Angélique Cottin, a "menina elétrica" - Conclusão
7. A Psicocinesia (PK)
Os fatos - Uri Geller
8. Materialização e desmaterialização
Aportes - Os fatos - Objetos deslocados - Animais deslocados
9. Passagem através da matéria
10. Levitação
Os fatos - A perda de peso acompanhando a levitação - Teletransporte e "vôo psi”
11. Materializações mediúnicas
Materializações perfeitas - Moldagem das materializações Desmaterialização do
médium - As vozes múltiplas
Terceira parte
ASSOMBRAÇÕES E APARIÇÕES
12. Poltergeists
Estudo geral - Fenômenos dos poltergeists - A personalidade do poltergeist - Os fatos -
Fenômenos incendiários
13. Formas intermediárias e atípicas dos poltergeists
Poltergeist agressor - Passagem do poltergeist à infestação: um poltergeist assassino -
Assombração benévola - Assombração consciente
14. As casas assombradas
Os fatos - Estudo experimental de um fantasma in loco
15. Assombrações marítimas
Quarta parte
OS PODERES DA MENTE
I. AS CAPACIDADES
CONCLUSÃO
A constituição física do homem
Os corpos do homem
INTRODUÇÃO
O método de exame
3. Um objeto, no sentido geral, tem apenas uma propriedade geral, a de existir: ele
existe ou ele não existe.
Corolários
- Se um objeto é incompatível com uma idéia, esta idéia deve ser modificada.
O que precede nada tem a ver com "a natureza final", "a coisa em si" e outras
elucubrações escolásticas. Trata-se das bases da metafísica verdadeira, aquela que
prolonga racionalmente a física sem introduzir hipóteses inúteis, exposta, por
exemplo, em Hoëne Wronski, que demonstrou que, em última análise, o mundo
reduzia-se aos elementos existentes, à idéia que se faz destes elementos e ao elemento
de ligação que mantém juntos estes dois elementos heterogêneos (o ser não tem qual-
quer propriedade do pensamento, o pensamento não tem qualquer das propriedades do
ser).
"É preciso adaptar as teorias à natureza e não a natureza às teorias."
Os corpos do homem
O homem, com seu aspecto comum, é um ser bem mais complexo do que leva a crer a
ciência clássica. As facetas insólitas do homem, demonstradas pelos fatos expostos neste
livro, tornam-se bastante evidentes através dos numerosos fenômenos paranormais, que
se confirmam uns aos outros e conduzem às mesmas conclusões.
Entretanto, como esses aspectos do homem total não são evidentes - quer para o
observador normal, que não os vê, quer para o pesquisador oficial, que os nega ao
mesmo tempo em que se desinteressa dos fatos -, fomos obrigados a mencioná-los com
uma certa terminologia, desde o início de nossa exposição. É por isso que,
antecipando-nos à conclusão geral do trabalho, damos, abaixo, o esquema da
verdadeira constituição do homem, com seus diferentes corpos, tal qual resulta dos
fatos experimentais.
1. Corpo físico
2. Corpo vegetativo, ligado à vida do corpo. Seu bloqueio "no lugar" explica, talvez, a
não decomposição de certos corpos.
3. Corpo sutil (astral), responsável pelas aparições e pelos fantasmas. 4. Inconsciente.
Esta entidade, conhecida dos psiquiatras, pode tornar-se distinta e autônoma nas
personalidades dissociadas, nos poltergeists e nas materializações perfeitas.
5. A mente consciente. Pode existir fora do corpo, como o demonstram os fenômenos da
experiência fora do corpo, a experiência autoscópica e a experiência transcendental.
A maior parte dos fenômenos paranormais é provocada pela existência do corpo astral,
pela atividade individual do inconsciente e pela possibilidade de a consciência
deixar seu corpo.
No Oriente, onde esses estudos têm, sobre os nossos, um avanço de vários séculos, dá-se
o esquema seguinte:
A reprodutibilidade
A experiência e o testemunho
1. Afirmar a realidade dos fenômenos paranormais não é um erro que poderia ser
retificado por procedimentos racionais das ciências. É, exatamente, uma heresia, que
deve ser combatida e aniquilada.
Os fenômenos misteriosos que têm por sede o corpo humano, examinados nesta
primeira parte, estão limitados àqueles que ocorrem na ausência de intervenção
evidente de um fator externo ao corpo, ou seja, proveniente de outras pessoas, de forças
da natureza ou da própria mente da pessoa. Estes fenômenos podem afetar tanto o
corpo morto como o vivo, sem que a pessoa se aperceba disto. Entre os primeiros, temos
a combustão espontânea, bem conhecida na medicina legal. Classificamos aí,
igualmente, a inédia, que é o fato de viver sem comer, do qual temos vários exemplos,
até nós tempos modernos. A causa desse mistério permanece inexplicada. Entre os
segundos, encontramos a imputrescibilidade do cadáver, com toda uma série de
fenômenos misteriosos que podem acompanhá-Ia.
Por outro lado, classificamos como "o poder da mente sobre os corpos" (capítulos 23 a
27) os fenômenos que se encontram sob a dependência, consciente ou inconsciente, da
mente. São: os estigmas, a incombustibilidade, a resistência à ação mecânica, o
alongamento corporal, o poder dos médiuns de cura e dos cirurgiões psíquicos, os
"cirurgiões de mãos nuas".
1
COMBUSTÃO HUMANA ESPONTÂNEA
Os fatos
A combustão espontânea com grandes chamas, que acaba por queimar o corpo tão
completamente que até mesmo os ossos são reduzidos a cinzas talvez seja de natureza
diferente: trata-se de pequenas chamas azuis elevando-se na superfície do corpo e que
não se deixam apagar. O caso seguinte é relatado por Lecat.
Em 1749, em Plerguer-par-Dob, uma certa Sra. Boiseon, de oitenta anos, muito magra
e que, havia vários anos, só bebia aguardente, estava sentada em sua poltrona diante
do fogo, quando a camareira a encontrou queimando. Com seus gritos, as pessoas
acorreram e alguém quis abafar a chama com a mão, mas o fogo passou para e/a,
como se a mão estivesse encharcada em álcool inflamável. A velha senhora
foi molhada com água, mas o fogo pareceu ativar-se. Da vítima só restou um esqueleto
enegrecido, do qual uma perna e as mãos se soltaram; a poltrona ficou apenas
chamuscada.
Essa impossibilidade de apagar com água as pequenas chamas de SHC, que foi
constatada em diversos outros casos, indicaria uma reação interna fornecendo, ao
mesmo tempo, o combustível e o comburente, à maneira dos explosivos químicos. A
menos que a explicação esteja situada completamente fora dos domínios conhecidos da
química.
O Dr. Richond relata que, em 1927, M. D., de vinte e quatro anos de idade, magro e
muito sóbrio, queixou-se, uma noite, de fortes dores nas mãos, a ponto de urrar de
dor. Os vizinhos que acorreram viram suas mãos cobertas de chamas azuis. Aspersões
de água fria de nada adiantaram. Com as mãos cobertas de lama de cuteleiro, ele
correu ao médico. As mãos estavam vermelhas e inchadas e uma espécie de fumaça ou
vapor elevava-se delas. Dentro da água fria as chamas se apagavam, mas reapareciam
espontaneamente após alguns minutos. A água, na qual ele mantinha as mãos,
aquecia-se; quando ele retirava as mãos da água, uma espécie de gordura escorria
sobre os dedos e as chamas reapareciam. O fenômeno finalmente regrediu e o doente
recuperou-se de suas queimaduras três semanas mais tarde.
M. H., professor de matemática na Universidade de Nashville, Tennessee, voltava para
casa num dia de inverno de 1835, quando sentiu uma dor aguda e viu uma chama
de várias polegadas de altura surgir de sua perna. Bateu nela com a palma das mãos,
sem qualquer efeito.
Ele conseguiu apagar a chama isolando-a com a ajuda das mãos em concha.
Encontrou um pequeno buraco na roupa de baixo, mas a calça permaneceu intacta. A
queimadura levou muito tempo para cicatrizar.
Ao conjunto das características anormais da combustão espontânea é preciso
acrescentar a da insensibilização das vítimas. Foi assim que um fazendeiro britânico
encontrou sua empregada varrendo tranqüilamente, enquanto as chamas elevavam-se
de suas costas (ele conseguiu apagá-Ias). Por outro lado, a Sra. Madge Knight queimou
em sua cama, lançando gritos horríveis e acabou morrendo no hospital. As chamas
elevavam-se de suas costas. Em 1939, um bebê de onze meses morreu de maneira
idêntica em seu berço. Os lençóis sequer escureceram.
Teorias e explicações
Para conciliar a coexistência paradoxal de uma temperatura muito alta com uma
ação térmica muito fraca sobre os objetos circundantes, propomos uma hipótese de
trabalho que tem o mérito da simplicidade.
A estrutura astral do corpo (o corpo sutil) é material. Ela é organizada, portanto,
constituída de elementos discretos, unidos por ligações análogas a forças de valência.
Estas estruturas, sendo de natureza física (aparentemente magnética), têm,
forçosamente, uma esfera de estabilidade própria, fora da qual são destruídas. Apesar
da nossa total ignorância sobre sua constituição precisa, podemos afirmar que esta
destruição é acompanhada de um desprendimento de energia, aquela que assegurava a
estabilidade da estrutura e cujo valor corresponde a esta estabilidade.
Uma tal destruição, iniciada por uma desestabilização local, poderia proceder
progressivamente de um elemento magnético ao outro, destruindo, ao passar, o tecido
orgânico correspondente. O calor desprendido teria origem pontual, resultando numa
temperatura elevada, mas, ao mesmo tempo, em quantidade muito pequena, o que
permitiria que sua dissipação ocorresse simultaneamente à sua produção: teríamos aí
a explicação possível para uma temperatura muito elevada, tendo apenas uma ação
térmica localizada reduzida.
O exemplo de uma reação de propriedades análogas é fornecido pelo urânio,
espontaneamente radioativo, que se encontra nos esmaltes cerâmicos, reagentes
químicos e vidros. Ora, este elemento é radioativo e seus átomos destroem-se
espontaneamente, o que não apresenta qualquer perigo. Estas explosões são, no entanto,
as mesmas que na bomba de Hiroshima: é suficiente acelerar a reação, com as
conseqüências que se conhecem. A destruição progressiva da matéria por elementos
discretos seguiria, na SHC, uma via análoga.
Uma variante, talvez mais simples, desta hipótese é a combustão que ocorreria
pontualmente, com uma temperatura suficiente para destruir os tecidos moles: 400°C
seriam suficientes. No que concerne a destruição dos ossos, seria suficiente que as
ligações químicas da parte mineral do esqueleto fossem afetadas pela destruição da
estrutura astral. Uma tal reação é posta em evidência, por exemplo, na cirurgia "psi":
tudo aí se explica, admitindo-se que o operador corte apenas a estrutura astral,
seguindo-se o afastamento dos tecidos físicos, como se estivessem sendo cortados,
também; mas eles tornam a soldar-se instantaneamente, assim que as bordas da
incisão são reaproximadas. Na combustão espontânea, não havendo reconstituição do
corpo astral, os elementos do osso não podem mais reestruturar-se e permanecem sob a
forma de pó mineral.
Harrison atribui à SHC a mesma origem de certas febres inexplicáveis: ela seria
bioplasmática, ou seja, astral (Fire from Heaven).
Conclusões
3
IMPUTRESCIBILIDADE
(incorruptibilidade)
Casos antigos
Mais impressionante que a conservação no ar, eis os corpos que resistem à cal viva.
Quando São Francisco Xavier morreu, no dia 2 de dezembro de 1552, seu corpo foi
colocado numa caixa, que foi preenchida com cal para recuperar mais depressa os
ossos do santo, tendo em vista seu transporte para Goa. Dois meses e meio mais tarde,
quando se quis assegurar da completa destruição das carnes, o corpo foi encontrado
fresco e rosado, como o de um homem adormecido. Não havia qualquer traço de
corrosão. Foi-lhe feito um corte perto do joelho e o sangue escorreu. O corpo exalava
um odor agradável. Em 1612, ou seja, sessenta anos mais tarde, o corpo parecia tão
fresco quanto antes e, quando foi-lhe destacado o braço direito para ser enviado a
Roma, o sangue escorreu normalmente, fresco e fluido.
Em 1727, foram descobertos num jazigo do Hospital de Quebec os cadáveres inteiros e
intactos de cinco religiosas mortas em 1707, quando houve uma epidemia. Após vinte
anos, estes corpos apresentavam todos os sinais de vida e deixavam escapar um sangue
"vivo e claro" , a despeito do fato de que estavam inteiramente recobertos de cal viva.
Para avaliar em sua justa medida a estranheza desta resistência à cal viva, é preciso
saber que ela simplesmente destrói os tecidos vivos.
O caso de Roseline de Villeneuve permite dar mais um passo em direção ao
conhecimento. Um passo muito pequeno...
Nascida em 1263, esta santa morreu a 17 de janeiro de 1329 em La Celle-Roubaud,
perto de Ares en Provence. Vários meses após o seu sepultamento, a terra continuava a
desprender um forte perfume. O corpo, que estava em contato direto com a terra, foi
exumado. Ele estava no mesmo estado em que havia sido sepultado, cinco anos antes.
Os olhos azuis haviam conservado todo o seu brilho. Eles foram enucleados e de-
positados num relicário de prata. O corpo permaneceu inalterado nos diversos
traslados que se seguiram. Em 1661, segundo o padre Sabatier, o jovem Luís XIV veio a
La Celle-Roubaud e pôde admirar o estado do corpo e o brilho dos olhos. Para
agradar ao jovem soberano, o médico do rei, Antoine Vallot, enfiou uma agulha em
dois pontos do olho esquerdo: a pupila alterou-se imediatamente. Esta foi a prova de
que os olhos eram naturais.
Notou-se, em 1887, que os insetos haviam atacado o corpo da santa no interior do
relicário, que foi invadido pela umidade. O corpo foi embalsamado e colocado, a 6 de
julho de 1894, num novo relicário hermeticamente fechado, onde pode ser visto hoje.
O período de resistência espontânea deste corpo à corrupção durou, portanto,
quinhentos e cinqüenta e oito anos. Os trabalhos dos químicos precipitaram a
dessecação e o enegrecimento do cadáver (exame em 1951).
O que é notável é que as duas relíquias - o corpo e os olhos começaram a corromper-se
ao mesmo tempo, o que demonstra que esta conservação de quase seiscentos anos não
era devido a uma desnaturação (Dr. Larcher). Isso demonstra, igualmente, que o corpo
era perfeitamente corruptível por si mesmo (Robert Ambelin). Qualquer que seja o
mecanismo, a reação de incorruptibilidade é, portanto, uma reação natural.
Não somente a massa das duas relíquias, mas também sua composição química e
histológica são muito diferentes. O fato de que elas tenham começado a corromper-se
simultaneamente após vários séculos de conservação faz pensar que, sem dúvida, um
laço unia ainda os olhos da santa ao seu corpo: um laço invisível. Reencontraremos
tal tipo de ligação em vários capítulos deste livro.
Casos modernos
Voltemos ao caso dos corpos cuja conservação não é devido a um estado psicofisiológico
particular, que poderia ser aquele dos santos.
Sem serem comuns, os casos de incorruptibilidade não são raros. Os comissários
imperiais, delegados pelo imperador da Áustria, foram ao cantão de Medreiga,
Hungria, e mandaram abrir quarenta tumbas, onde foram encontrados dezessete
cadáveres conservados. É verdade que se encontravam em pleno país escolhido pelos
vampiros...
Em 1932, a Sra. Henriette C., gerente do escritório da agência funerária de Brive,
acolheu do chefe dos coveiros o relato de uma exumação geral, feita vários anos antes,
de uma seção do cemitério, cujas concessões centenárias estavam esgotadas. Por entre os
destroços, as lajes apagadas e as ossadas recuperadas que, conforme o costume,
haviam sido incorporadas à terra, foi encontrado o corpo de uma jovem vestida com
um belo vestido branco. O cadáver estava intacto, flexível, os membros ligeiramente
mornos, os olhos bem abertos; a moça sorria. Ela estava no local desde, ao menos, cem
anos antes! Não se podia destruir o corpo, tão bem conservado. Com o consentimento
das autoridades administrativas e do comissário de polícia, o corpo foi novamente se-
pultado. Para evitar-lhe o risco de nova exumação, foi enterrado sob uma alameda,
onde a jovem morta prossegue seu estranho e inquietante sono, há mais de cem anos.
O célebre poeta italiano Alessandro Mazzoni, morto em 1873, foi encontrado num
perfeito estado de incorrupção no cemitério dito "monumental" de Milão, em 1959.
Em 1960, um motorista de táxi britânico, Leslie Narvey, alugou uma casinha na West
Kimmel street, em Rhyl, no País de Gales; ela estava desocupada fazia vinte anos. Ao
abrir o armário da cozinha, ele teve o maior choque de sua vida: dentro do armário,
em pé, apoiado na parede, estava o corpo de uma mulher, vestida com um penhoar
florido e um pijama rosa. Ela parecia dormir tranqüilamente.
Os policiais chamados provaram que a última ocupante do local, Sra. Frances Alice
Knight, tinha sido assassinada. O médico legista atribuiu a conservação do corpo a
uma mumificação por falta de ar, por estar o armário embutido hermeticamente
fechado. A explicação é, bem entendido, absurda: qualquer um que tenha visto
múmias jamais poderia confundi-Ias com um corpo humano em perfeito estado de
conservação. Quanto à ausência de ar num armário, isto é alta fantasia.
O arcipreste Alexis Medvedkov, superior da antiga Igreja Russa de Ugine, nascido em
1867, faleceu a 22 de julho de 1934 no Hospital de Annecy, de câncer no intestino,
após uma operação. Os cirurgiões solicitaram um sepultamento rápido, pois o câncer
acelerava a decomposição.
Em 1956, o cemitério de Ugine teve sua destinação inicial alterada. Ao se abrir o
caixão, na presença das autoridades administrativas habituais, do comissário de
polícia e das autoridades religiosas ortodoxas, dentre as quais o bispo, encontrou-se o
arcipreste com o rosto corado, absolutamente intacto, flexível, os hábitos sacerdotais em
perfeito estado; o corpo estava morno ao toque. Ele estava num perfeito estado de
conservação, apesar do câncer e do calor de julho de 1934. O corpo foi transferido
para o novo cemitério de Ugine, e, em 1957, a pedido da administração ortodoxa da
Igreja Russa na Europa Ocidental (rue Daru, 12, Paris), para o cemitério russo de
Sainte-Genevieve-des-Bois, perto de Paris. A cada transferência, o corpo era
encontrado no mesmo estado, e, notadamente, sempre morno.
4
lNÉDIA
Os fatos
A extática holandesa do século XV, Santa Lidwine de Schiedam, jejuou durante vinte
e oito anos. Paramhansa Yogânanda relatou em 1950 que a mística indiana Giri
Bela, jejuando integralmente desde a idade de doze anos e quatro meses, dobrou o
recorde da holandesa, pois jejuou durante cinqüenta e seis anos.
Teresa Neumann cessou de se alimentar em 1927 e morreu em 1962. Seu corpo foi
controlado várias vezes pelas autoridades eclesiásticas e médicas reunidas.
O padre Pio alternava períodos de inédia e de alimentação, mas ele nunca absorvia
mais que duzentas e cinqüenta calorias por dia, quantidade que cobre unicamente os
gastos energéticos habituais do organismo.
Marthe Robin cessou de alimentar-se em 1928 e morreu em 1979. Seu jejum durou,
portanto, cinqüenta e um anos. A única exceção à integralidade de sua inédia era a
absorção da hóstia: é um denominador comum nos inedíacos católicos.
Ela apresentou, ao lado da inédia, uma série de outros fenômenos paranormais. Está
descrita no capítulo das personalidades dissociadas (capítulo 29).
Caso de Teresa Neumann
Um controle rigoroso foi realizado sobre a extática Teresa Neumann durante quinze
dias. Veremos todo o proveito que se pode tirar de um controle realmente, científico
desta duração.
Teresa Neumann, a extática de Konnersreuth, na Baviera, jejuou rigorosamente
durante trinta e seis anos, de 1926 a 1962. As autoridades religiosas solicitaram ao
bispo do qual dependia a aldeia de Konnersreuth que procedesse a um inquérito.
Para proteger-se de uma possível acusação de parcialidade, o bispo confiou este
inquérito ao Dr. Seidl, médico habitual da extática. Seidl era conselheiro sanitário e
cirurgião-chefe do Hospital de Waldsassen. Além disso, não se podia acusá-Io de
tornar-se repentinamente um partidário da tese da realidade dos fenômenos, pois,
após ter começado a tratá-Ia, ele declarou que os "fenômenos" da extática explicavam-
se como sendo crises de histeria.
O Dr. Seidl, que pôs em jogo nada mais nada menos que sua reputação e sua carreira,
elaborou um protocolo particularmente severo da prova, que durou quinze dias e
quinze noites, ininterruptos, do dia 13 de julho de 1927 às 13h30 ao dia 28 de
julho às 13 horas.
Durante este tempo, Teresa foi colocada sob a vigilância de quatro religiosas, todas
enfermeiras diplomadas e bem informadas sobre os cuidados com os neuropatas. Elas
prestaram juramento diante da comissão episcopal e receberam do Dr. Seidl instruções
precisas. A vigilância deveria ser exercida por pelo menos duas irmãs, que deveriam
guardar silêncio absoluto, para não incomodar os outros e nem distrair-se. Elas
acompanhavam Teresa em todos os seus deslocamentos. Estavam encarregadas de tudo
medir: o pulso, a temperatura e o peso, várias vezes por dia.
Do sangue que Teresa perdia com abundância, na ocasião de seus êxtases dolorosos, a
cada sexta-feira, quando ela revivia a Paixão de Cristo, eram colhidas amostras em
lâminas de vidro para serem analisadas. Em certos dias da semana, a amostra era
retirada do lóbulo da orelha. As taxas de hemoglobina eram medidas ao mesmo tempo.
Conservavam-se, igualmente, as roupas sujas do sangue dos êxtases, os véus para cabeça
e as compressas de gaze da ferida na região lateral do abdome. Os êxtases e os estigmas
eram fotografados, principalmente às sextas-feiras, quando possível.
As enfermeiras deviam observar tudo, especialmente as relações que Teresa podia ter
com o mundo. À menor dúvida, ou se uma resistência qualquer lhes fosse oposta, elas
deveriam alertar imediatamente o médico, por telefone, por carta ou pessoalmente.
Durante toda a duração do controle, o Dr. Seidl chegou várias vezes, inesperadamente,
acompanhado de outros observadores. As atas dos relatos das religiosas mencionam
nove destes controles.
Estes controles permitiam estabelecer que Teresa Neumann comungava com freqüência.
Ao longo destes quinze dias ela absorveu 0,33 grama de hóstia (ela só comungava com
um oitavo da hóstia, para poder engoli-Ia), e, como a hóstia era umedecida, ela
absorveu também 45 centímetros cúbicos de água. O total diário foi de 22 miligramas
de pão e 3 gramas de água. As análises do sangue não mostraram qualquer sinal de
abstinência.
No entanto, foi do peso que surgiram os resultados mais brutalmente incompatíveis
com os nossos conhecimentos clássicos. O peso de um homem aumenta naturalmente
com o alimento ingerido e decresce, em seguida, com a eliminação natural de gás
carbônico e de água. Quando não se come nem se bebe, o peso decresce também, pois as
mesmas excreções são produzidas pelas reações biológicas normais. Ora, o peso de
Teresa permanecia exatamente estável e igual a 55 quilos. Pelo menos entre o domingo
de manhã e a quinta-feira à noite, pois durante cada êxtase doloroso da sexta-feira
ela perdia aproximadamente 4 quilos, em forma de sangue e de suor. Mas estes 4
quilos perdidos na sexta eram extraordinariamente recuperados durante o sábado
seguinte. O controle do Dr. Seidl estendeu-se por duas semanas e cobriu, portanto, dois
destes êxtases. A perda e a recuperação destes 4 quilos de líquido foram sempre
idênticas.
É inútil, portanto, invocar a duração insuficiente do controle. Caso se tratasse apenas
de tentar surpreender a inedíaca em flagrante delito de fraude ao alimentar-se sub-
repticiamente, as duas semanas teriam sido, de fato, insuficientes. Mas o que o controle
revelou foi o suficiente para demonstrar o caráter paranormal dos fatos,
principalmente com a espantosa recuperação do peso a partir de nada. Ao menos, de
nada que nós conhecemos.
Na realidade, por viver em meio a um grande número de pessoas, sem nunca isolar-se
(ela não tinha necessidade disto), Teresa Neumann foi controlada durante trinta e seis
anos e "o investigador chamava-se povo", como disse E. Boniface, que dedicou três
trabalhos a Teresa Neumann, sendo o último publicado em 1979.
Nós dispomos de uma verificação análoga, sumária, porém segura. O extático,
igualmente estigmatizado, padre Pio, célebre pelos fenômenos de bilocação, era
parcialmente inedíaco. Certa vez, durante uma indisposição de oito dias, ele tomou
apenas um pouco d'água. Como ele havia se pesado antes e depois, pôde-se constatar
que ganhou peso.
Teresa Neumann teve uma resposta absolutamente comparável. Ela dizia subsistir de
alguma coisa e ninguém a interrogou sobre isto. Aos resultados do controle de sua
inédia, é preciso acrescentar que Teresa comungava com assiduidade, mas, estando
freqüentemente doente, ocorriam-lhe vômitos, durante os quais ela expelia a hóstia,
que se encontrava infalivelmente intacta, não tendo sofrido qualquer ação do suco
gástrico. Uma destas regurgitações ocorreu três dias e duas noites após a ingestão e a
hóstia não estava alterada.
Entretanto, se a hóstia terminava por ser digerida - o que, neste caso, não quer dizer
que era digerida por vias normais, do que o organismo de Teresa era mesmo incapaz,
mas, simplesmente, que era assimilada -, Teresa desfalecia e devia comungar de novo,
imediatamente. Se o padre tardava a vir, uma hóstia surgia espontaneamente dentro
de sua boca, o que é, bem entendido, um milagre, conhecido, porém,
na parapsicologia, sob o nome de aporte (capítulo 8). Com Teresa Neumann, o caso
reproduziu-se várias vezes e pôde até mesmo ser controlado. Assim, o professor Wutz,
também padre, viu uma hóstia consagrada desaparecer de seu cibório, enquanto
Teresa comungava desta forma pouco banal. O fato pôde ser confirmado, segundo o Dr.
Steiner, pois ela deu detalhes sobre o que havia se passado ao longo da missa. Durante
este tempo, ela havia ficado em sua cama.
Que os racionalistas e os incrédulos não se sintam desanimados por estas atividades
especificamente cristãs. Fenômenos análogos em todos os pontos são atualmente
produzidos por Uri Geller, especialista do showbiz e por Matthew Manning, um inglês,
proprietário de uma clínica de saúde que utiliza procedimentos "psi".
As explicações da inédia
Nós não podemos explicar como se pode viver sem comer. Não sabemos nada sobre isso.
Este "nós" compreende a ciência clássica.
Os inedíacos gastam um mínimo de energia para mover-se e para respirar; eles
irradiam calor e expiram gás carbônico. A contribuição em peso da hóstia,
freqüentemente ingerida (várias inedíacas sendo moças religiosas), não corresponde aos
gastos em energia e em matéria, mesmo na ausência de excreções, o que é normal para
um inedíaco. Qual é então a origem da energia e da massa corporal que se reconstitui
espontaneamente?
O fenômeno do aporte, na acepção que este termo envolve nos fenômenos espíritas, seria
talvez a explicação desta alimentação fora do natural. Com bastante freqüência foram
vistos aportes formarem-se na boca do médium. Como o estômago dos inedíacos está
achatado e absolutamente não funciona, o que se constata tanto na palpação quanto
nas análises químicas, supõe-se que as substâncias nutritivas poderiam penetrar
diretamente no sangue, evitando assim o trato intestinal. Esta suposição não é mais
extraordinária que o aporte de flores na boca do médium. Ela está de acordo com a
experiência.
As alternativas a esta suposição são muito mais duvidosas. Pode-se supor a criação de
substâncias a partir do nada, o que contradiz o princípio fundamental que diz que
tudo deve ter uma causa. Uma transmutação de elementos, por exemplo, do oxigênio do
ar inspirado em carbono assimilável, é uma reação, até prova em contrário, totalmente
fantasiosa. Considerou-se também a transmutação da energia psíquica em carbono.
Falou-se, igualmente, de Deus, para quem nada é impossível: isto seria confundir
Deus com um prestidigitador.
Louise Lateau disse uma vez, falando dos médicos que a atormentavam: "Se eles
soubessem de onde tiro minhas forças!". Louise era uma camponesa inculta e nenhum
dos doutos que a ouviram dignou-se a refletir sobre isso. Eles estavam ocupados
procedendo às MEDIÇÕES altamente científicas e às experiências diversas, tais como
aproveitar-se da insensibilidade de Louise em estado de êxtase para infligir-lhe
queimaduras experimentais no braço com a ajuda de amoníaco e retirar-lhe pedaços
de carne para amostras. Bastaria que lhe fizessem algumas perguntas... mas eis que eles
estavam ocupados pincelando-a com amoníaco. É mais científico do que tentar tomar
distância, para melhor avaliar o caso e refletir! E quem já ouviu falar de CIENTISTAS
pedindo informações a uma camponesa?
CONCLUSÃO
Esta parte agrupa os fenômenos físicos provocados pela intervenção de pessoas dotadas
de certas faculdades particulares, inatas ou adquiridas. Historicamente, eles foram
observados durante sessões espíritas, o agente sendo então o médium. Por isso são
conhecidos como fenômenos mediúnicos. Seu estudo sendo dependente da
parapsicologia, nós os chamaremos também de fenômenos físicos da parapsicologia.
Estes fenômenos afetam a matéria. O que os distingue da física clássica é a intervenção
obrigatória da mente, consciente ou não, do operador, inseparável do fenômeno.
Quando eu pego uma colher e a dobro com a mão, pode-se distinguir uma ação
psicológica (a intenção), uma ação fisiológica (o esforço muscular) e uma ação física (a
torção da colher). Estas ações podem ser consideradas separadamente e dizem respeito a
ciências distintas. No entanto, quando a colher é torcida pelo esforço da vontade do
operador, sem que ele mesmo possa dizer como procede, trata-se de um campo de
conhecimento que, dentro do esquema clássico, é representado por um vazio total. Não
só não se sabe nada a respeito, como nem sequer há interesse em saber. Sua existência
é negada.
Os fenômenos mediúnicos compreendem, esquematicamente, os grupos seguintes:
5
OS RAPS
6
TELECINESIA (TK)
Estudos experimentais
Após os estudos feitos, de certa forma in loco, sobre os médiuns ao longo das sessões,
restava transportar inteiramente a experimentação ao laboratório, isolando
nitidamente o médium, gerador obrigatório das forças misteriosas, dos objetos sobre os
quais são exercidas estas forças. Este passo foi dado em 1961.
Para eliminar o médium e o estafante controle antifraude, John G. Neihardt, professor
de literatura inglesa na Universidade de Columbia, resolveu operar sobre si mesmo.
Ele começou, portanto, por ir estudar com um xamã índio dos Oglala e tornou-se
também xamã.
Em 1961, ele fundou em Rolla, Missouri, a Society for Research into Rapport and TK
(SORRAT), onde fenômenos muito diversos foram submetidos a uma investigação
rigorosa. Ele associou-se aos serviços do Dr. William Cox e do Dr. Richard. Lembramos
que o termo rapport designa (também em inglês) o estado no qual o hipnotizado torna-
se surdo e cego para o mundo exterior, percebendo apenas a voz do hipnotizador.
Todos os objetos sobre os quais deveria exercer-se a influência do professor-xamã eram
encerrados numa gaiola de vidro montada sobre sensores. Neste espaço fechado foram
produzidos fenômenos de telecinesia, de levitação e de teletransporte.
Cox substituiu a gaiola de vidro por um aquário de 30 decímetros cúbicos com fundo
de madeira e cantoneiras de aço, fechado por duas fechaduras especiais que
eliminavam toda possibilidade de fraude. A seguir, eram acrescentados cabos de aço
com um sistema de fechadura suplementar, que um serralheiro profissional vinha
verificar periodicamente e certificava sua segurança a cada exame.
O aquário era rodeado por câmeras automáticas que se punham em funcionamento ao
primeiro movimento, qualquer que fosse, no interior do dispositivo. Relés estavam
ligados aos objetos contidos, por intermédio de sensores especiais. Deste modo, foram
tomadas seqüências de trinta segundos. Nos filmes, via-se igualmente o relógio de
controle, cujo ponteiro dos segundos permitia deduzir as velocidades dos deslocamentos
de TK.
Desde o princípio dos estudos, conseguiu-se obter peças quebradas, torcidas ou
fundidas (por exemplo, um termômetro de mercúrio fundiu). Um lápis escreveu um
pequeno texto irônico, endereçado ao Dr. Coxo Desde 1979, o dispositivo experimental
continua a ser aperfeiçoado. Magníficas fotografias em cores foram publicadas.
Resultados espantosos foram assim obtidos sob um controle dos mais rigorosos.
Estas experiências fazem justiça quanto à repetitiva afirmação de que os fenômenos
"psi" "não são reprodutíveis".
Citemos ainda um lápis que escreveu sozinho frases e poemas. Quem foi o autor dos
mesmos? Os dados forneceram combinações de pontos solicitados com vários dias de
antecedência. Quem os manipulava?
Uma vez iniciados, os fenômenos produziram-se igualmente na ausência dos
experimentadores. Lembramos que, com Uri Geller, as colheres continuavam a torcer-
se após sua partida.
Correio "psi”
O Dr. Helmut Schmidt colocou os animais num espaço fechado, cujo aquecimento era
regulado por uma aparelhagem estocástica que cortava ou ligava novamente a
corrente, sendo que as sucessivas decisões eram comandadas por uma série de números
aleatórios. Na ausência de intervenção externa, o registro deveria mostrar durações
aproximadamente iguais dos dois regimes (aquecimento/parada). Ora, o registro re-
velou que, a cada parada, o aquecimento era restabelecido mais depressa do que teria
feito o dispositivo automático: os animais influenciavam ativamente, portanto, o
conjunto do dispositivo. Se o aquecimento tornava-se excessivo para o gosto do animal,
ele o cortava, seguindo o mesmo esquema.
O Dr. Schmidt verificou, assim, a influência "psi" dos frangos, dos gatos, dos lagartos e
dos ovos frescos sobre a aparelhagem eletrônica. Dizendo de outro modo, os fetos de
frangos possuem poderes "psi" análogos aos dos frangos que já estão fora da casca
materna. Encontram-se outras provas da vida psíquica nas experiências do Sr. Baxter
sobre as plantas.
O Dr. Schmidt operou também sobre baratas, mas com um dispositivo diferente. As
baratas eram submetidas a choques elétricos desagradáveis, que podiam evitar agindo
sobre a máquina distribuidora de choques com uma ação "psi" . Ele constatou um fato
espantoso: ao invés de reduzir a freqüência dos choques, as baratas os aceleravam
recebendo-os assim com maior freqüência do que a que seria obtida de uma máquina
não influenciável pelo "psi".
A aproximação holística, levando em conta a ação pessoal, mesmo que inconsciente,
do experimentador, permite sugerir uma resposta. Schmidt diz ter uma simpatia
natural pelos gatos, lagartos, frangos, e, sem dúvida, pelos ovos, mas confessou nutrir
uma profunda aversão pelas baratas. Era ele, portanto, que, sem o saber, induzia a
aparelhagem a infligir aos infelizes insetos torturas não merecidas.
Deixo o leitor responder à questão que se impõe: as baratas possuem uma alma? e os
ovos? Eles são mesmo vivos, não?
Watkins obteve resultados semelhantes com lagartos.
Mesas giratórias
Em fevereiro de 1846, Angélique, levada a Paris, foi examinada por Arago, secretário
da Academia das Ciências, com sua equipe. Eles constataram todo um conjunto de
fenômenos: rotação rápida de pequenas rodas de papel por efeito de sopro (elétrico)
saindo do punho e da dobra do cotovelo, mas apenas do lado esquerdo; o braço
esquerdo era mais quente que o outro e animado por contrações e estremecimentos
insólitos.
Uma comissão, da qual fizeram parte Becquerel, Geoffroy Saint-Hilaire, Babinet e
outros membros da Academia das Ciências, foi nomeada a pedido de Arago, para
examinar os fenômenos.
Desinteressando-se dos fenômenos realmente extraordinários de movimentação de
objetos a distância, que nenhuma teoria elétrica pode explicar, pois a eletricidade é
totalmente sem efeito sobre objetos de madeira, estes cientistas escolheram exatamente o
aspecto elétrico para estudar. Eles reuniram uma considerável aparelhagem elétrica,
inclusive a máquina de Wimshurst, que lançava faíscas, o que teve o dom imediato e
previsível de apavorar a jovem camponesa - lembrem-se das recomendações de
Farémont! O pavor da jovem foi tal que os fenômenos foram bruscamente
interrompidos. A comissão concluiu, portanto, que os fenômenos inexistiam.
Esta conclusão mostra todo o desprezo dos ilustres obtusos pela possibilidade de terem
diante de seus olhos um fenômeno inteiramente novo. Assustando a pobre Angélique
eles literalmente mataram a galinha dos ovos de ouro! Eles maltrataram o material
humano que deveria ser particularmente cuidado, tendo em vista a extrema raridade
dos fatos. Não se tratava de medir os amperes, mas sim de estudar o organismo que os
produzia! As divergências políticas certamente tiveram seu papel: a Academia era, em
sua maioria, monarquista e católica, enquanto Arago era liberal.
Era 1846. Em 1988 a situação não mudou em nada. Quando uma maravilha se
produz sob nossos olhos, vê-se aproximar um peão diplomado trazendo um
milivoltímetro. A natureza do fenômeno não o interessa, ele quer medir os milivolts.
Tudo o que se pode dizer atualmente é que uma disfunção qualquer provocou em
Angélique contrações involuntárias, concomitantes ou causadoras de uma atividade
telecinética. É pouco...
Conclusão
7
A PSICOClNESIA (PK)
Os fatos
Uri Geller
Desde 1972 a psicocinesia dispõe de um sujeito "psi" excepcional: Uri Geller. Muito
cooperativo, ele deixou-se examinar por várias dezenas de especialistas, em
laboratórios, institutos de pesquisa e centros hospitalares. Ele convenceu numerosos
céticos da autenticidade de seus dons, entre os quais ilusionistas profissionais.
Sabe-se que Geller amolece, dobra e quebra os objetos metálicos: colheres, garfos,
chaves, hastes, anéis, etc. O estudo da fratura permite deduzir quais foram as forças
aplicadas que levaram à ruptura da peça e até mesmo a que temperaturas a região da
fratura foi submetida. As diferenças são perfeitamente visíveis, mesmo para um leigo.
As fotos obtidas através de um microscópio eletrônico de varredura foram publicadas
nos livros dedicados a Geller.
Constata-se, habitualmente, que as fraturas são devido à fadiga do metal. O
microscópio eletrônico mostra então que o metal ao redor da fratura está fortemente
deformado pelos esforços: ele apresenta partes esticadas e outras como que marteladas a
frio. Com as peças deformadas por Geller, não há nada disso: o metal foi "fatigado" em
toda sua massa. Para exercer esta ação, Geller passa levemente os dedos sobre um objeto
seguro por alguém; algumas vezes o objeto começa a torcer-se em menos de três
segundos.
Um prestidigitador experimentado pode criar a ilusão de fazer o mesmo. Até mesmo se
o objeto foi fornecido por um espectador, acontece-lhe de exercer sobre ele esforços
capazes de torcê-Io sem que o não-especialista o perceba. Por outro lado, no caso da
psicocinesia, tal qual é exercida por Geller, as diferenças são tais que nenhum
prestidigitador do mundo é capaz de reproduzir os fenômenos que, com Geller, são
habituais:
1. Os esforços exercidos por Geller sobre as colheres foram medidos. Eles eram ínfimos.
Além disso, Geller era observado por ilusionistas profissionais, o que excluía a fraude.
2. Geller consegue deformar os objetos colocando suas mãos sobre as da pessoa que,
sozinha, toca o objeto deformado.
3. Geller opera também a distância, por exemplo, a 1,50 metro da mesa sobre a qual
repousa o objeto.
- Um relógio de pêndulo antigo, parado havia quarenta anos, que voltou a funcionar.
- Uma moça, que subiu ao palco numa sessão de Uri, adquiriu, desde então, a
faculdade de adivinhar desenhos e números.
- Enquanto Geller operava na televisão, várias chaves torceram-se, em casas de
mulheres, algumas das quais nem mesmo assistiam à sessão.
- A voz de Geller apenas pode desencadear os mesmos efeitos.
8
MATERIALIZAÇÃO E DESMATERIALIZAÇÃO
Aportes
Os fatos
Uma das mais célebres médiuns de aportes do século passado foi uma inglesa, a Sra.
d'Espérance. Seu espírito guia era uma jovem árabe falecida, chamada Yolanda, que se
materializava completamente durante as sessões. A pedido da Sra. d'Espérance, uma
planta cresceu em alguns minutos num vaso cheio de areia e água, colocado fora do
alcance da médium. De acordo com sua indicação, a planta foi recoberta por um
tecido e os presentes cantaram suavemente: o vegetal havia produzido uma flor. Era
uma Ixora crocata, planta, nessa época, quase desconhecida na Inglaterra. Um
jardineiro cuidou dela durante vários meses.
Agnes Nichols, que operou entre 1860 e 1880, aproximadamente, era especialista em
aportes "sob encomenda". Uma pessoa lhe havia pedido um girassol, do qual não era
época; a planta materializou-se imediatamente, com um torrão de terra. Não podia
tratar-se de ilusionismo; a planta só poderia provir de um país do hemisfério sul.
Em 1904, um grupo, do qual fazia parte Ernesto Bozzano, operava com um sujeito
muito dotado. Bozzano pediu o aporte de um pequeno bloco de pirita que se
encontrava sobre sua mesa de trabalho, a 2 quilômetros de distância. O espírito,
cansado, disse que tentaria. Viu-se o médium tensionar-se, mas não houve aporte. O
espírito anunciou, então, que estava muito cansado para a materialização, mas
acrescentou: "Acendam a luz". Foram vistos, então, os assistentes recobertos por uma
fina poeira. Era pirita, e estava sobre suas roupas e em seus cabelos. Em sua casa,
Bozzano constatou que faltava um grande fragmento do bloco. O caso confirma o
mecanismo da transferência dos objetos dos aportes por desmaterialização e
rematerialização, sob a influência da mente do médium, a menos que se creia numa
intervenção dos espíritos. Neste caso, os espíritos utilizariam um mecanismo análogo.
Resta a questão da reconstituição dos objetos após a transferência. Que a transferência
se faça em forma de fina poeira, vá lá; mas, para reconstituir a forma exata do objeto,
é preciso que exista um molde, um esboço, para ordenar as partículas em sua
disposição inicial. Este papel seria desempenhado pela forma astral (ou qualquer
outro termo que se desejar).
Matthew Manning provocou aportes involuntariamente. Um dia, ele encontrou sobre
sua escrivaninha o disco novo que buscava, em vão, comprar. Sua proveniência
permaneceu misteriosa. Ele realizou outros aportes de objetos, mas nunca de objetos de
primeira necessidade. Uma vez, tomado de uma forte e súbita fome, num trem sem
vagãorestaurante, ele foi ao banheiro para refrescar-se, e, no momento em que
recolocava sua luva de toalete na mala, descobriu uma garrafa de cerveja e uma torta
de maçãs!
Eis um belo exemplo de aporte a grande distância. Puharich foi ver Uri Geller em
Israel. Ele tinha uma câmera, cujo estojo havia esquecido nos Estados Unidos. Uma
manhã, ele viu Geller precipitar-se em sua casa: o estojo tinha vindo
espontaneamente! Ora, o estojo estava num armário fechado à chave, em Ossining, a
aproximadamente 6.000 quilômetros de distância!
O médium americano Charles Bailey foi estudado por Thomas Stanford (irmão do
fundador da universidade do mesmo nome). Precauções draconianas foram tomadas:
após a revista, o médium foi trancado numa gaiola de madeira, a qual era revesti da
por uma rede. Nestas condições, o médium conseguiu fazer surgir dentro da gaiola
pássaros e pei xes vivos, braceletes, bandeiras e três manuscritos: um tibetano, um se-
gundo, indiano, e um terceiro, chinês; cebolas e flores. Todos estes ob jetos encontram-
se num museu na Universidade de Stanford.
Mas de onde vinham estes manuscritos? Eles deveriam pertencer a alguém!
No dia 28 de junho de 1890, a Sra. d'Espérance fez crescer, em alguns minutos, um
lírio de 2 metros de altura, com onze flores, das quais sete abertas. Foram cortadas
duas destas flores. Neste momento, Yolanda, espírito-guia da Sra. d'Espérance
(materializada), manifestou-se muito amedrontada e pediu para desmaterializar a
planta. Já cansada, a Sra. d'Espérance não conseguiu fazê-lo, para o maior desespero
de Yolanda. A planta foi guardada até a sessão seguinte, que ocorreu no dia 5 de
julho, quando ela conseguiu transferir novamente a planta ao seu ponto de partida -
ao menos, é o que supomos: o fato é que a plan ta desapareceu, com seu vaso. Nos
arquivos da SPR estão guardadas as duas flores secas e a impressionante fotografia da
Sra. d'Espérance ao lado da planta. Pergunta-se o que foi perturbado pelo
deslocamento: teria sido o descontentamento do proprietário da planta, que o médium
sentiu por intermédio do espírito-guia?
Pode-se distinguir várias categorias de deslocamentos "psi" de objetos:
1. O objeto desaparece, para reaparecer em seguida, por exemplo na sala ao lado. Este
fenômeno manifesta-se muitas vezes espontaneamente, na presença de médiuns, como
Uri Geller, que não pode circular sem desordenar ou destruir objetos à sua volta.
2. O objeto pode desaparecer sem que se saiba para onde ele foi enviado. No caso da
pequena assombração rural, conseguiu-se reencontrar estes objetos, por vezes muito
tempo depois, em lugares inverossímeis, como por exemplo o parafuso de prensa para
cidra, reencontrado um ano mais tarde, enterrado numa grande batata.
No que concerne à proveniência das flores e frutas dos aportes, as entidades diretoras
que se exprimem pela boca do médium sempre afirmaram, com a maior firmeza, que
não lhes é permitido roubar. Os objetos provêm, portanto, de um lugar onde crescem no
estado selvagem. Esta seria uma confirmação indireta da hipótese psicanalítica dos
fenômenos mediúnicos. Sabe-se, de fato, que o inconsciente de uma criança de oito a
dezessete anos é que é responsável pelos poltergeists. Nesta época se é esperto, mas não
existe maldade, pouco responsável, no entanto, associal, mas essencialmente moral e
bom. Este horror diante da idéia do roubo aplica-se bastante bem às declarações dos
espíritos-guias.
Objetos deslocados
Animais deslocados
O caso dos animais encontrados vivos, após haver ficado por um tempo extremamente
longo debaixo da terra, onde certamente não puderam penetrar normalmente, é muito
difícil de classificar. Não se pode aproximá-Ias dos corpos incorruptíveis, cadáveres
que permanecem frescos a despeito da fisiologia, uma vez que estes animais estavam
bem vi vos. Eles também não se encontravam num estado de vida com o metabolismo
mais lento, como os faquires. E mais: como foram parar ali?
No dia 23 de junho de 1851, na escavação de um poço perto da estação de Blois, foi
encontrado um sapo, perfeitamente vivo, entre dois blocos rochosos, enterrados a uma
profundidade de 19 metros. A rocha parecia moldada em torno dele.
Um outro sapo, igualmente vivo, foi descoberto em 1862 por mineiros em Newport, a
uma profundidade de 200 metros.
Nas pedreiras de cal, em Lux e em Thalbott, no estado de Indiana, foram encontrados,
diversas vezes, lagartos vivos. Estes lagartos eram de tom acobreado e não possuíam
globo ocular. Eles sobreviviam alguns minutos. De acordo com a idade da pedra dentro
da qual estavam encerrados, eles deveriam estar ali fazia dezenas de milhares de
anos. Combinando o melhor possível nossos conhecimentos dos fenômenos "psi", pode-
ríamos pensar que estes animais foram transportados para lá pelo mesmo mecanismo,
talvez psicocinético, que o dos objetos encontrados também no interior das rochas. A
pedra cederia, por desmaterialização, para alojá-los, formando uma cavidade com a
forma adequada. A possibilidade de sobrevivência é uma outra questão em aberto.
Entretanto, é preciso observar que o tempo durante o qual estes animais poderiam ter
estado na rocha não tem termo de comparação com a idade da própria rocha.
A razão destes deslocamentos de animais poderia ser simplesmente o desejo de escapar
de um predador. Projetado, assim, para o interior de uma rocha, o infeliz animal
perece por não saber, talvez, como sair.
9
PASSAGEM ATRAVÉS DA MATÉRIA
A passagem dos corpos sólidos através da matéria é um fenômeno físico que entra em
absoluta contradição com os dados mais indiscutíveis da nossa ciência. Por exemplo:
um prego atravessa a parede, é visto saindo pouco a pouco e, finalmente, cai, como no
caso de Anne-Marie, citado mais adiante.
Sabe-se que os átomos da matéria sólida são mantidos em seus lugares por forças
eletromagnéticas de atração e de repulsão, que se neutralizam a distâncias precisas, e
que estas forças explicam o estado sólido da matéria (Niels Bohr). As distâncias que
separam os átomos são muito maiores que as dimensões dos próprios átomos, de modo
que a matéria seria composta, principalmente, de vazio. Pode-se ter uma idéia disto se
imaginarmos duas ou três bolas de tênis flutuando num espaço do tamanho do
interior da catedral de Notre-Dame.
Em pura teoria, nada se oporia a que um sólido passasse através de um outro sólido.
Na realidade, a teoria do estado sólido se opõe a isto, e com justiça, pois, assim que um
átomo se afasta de sua posição de equilíbrio, ele é imediatamente trazido de volta por
forças que aumentam com extrema rapidez. É como se as bolas de tênis mencionadas
há pouco estivessem ligadas umas às outras por barras de aço.
No estado líquido, os átomos e as moléculas mantêm uma mobilidade que permite a
inserção de outras moléculas: é desta forma que o açúcar se dissolve na água, mas suas
moléculas afastam as moléculas da água.
A passagem através da matéria sólida exige, portanto, que as forças interatômicas que
mantêm as partículas no lugar sejam neutralizadas de uma maneira ou de outra. O
mecanismo desta ação nos é atualmente desconhecido. Existe, no entanto, a
possibilidade de que esta explicação (se é que é uma explicação) seja grosseiramente
falsa, pois ela despreza a existência e o papel do duplo astral, papel este ainda menos
conhecido.
O que nos faz pensar no astral é que a desmaterialização explicaria bem a passagem
através da matéria. Ora, temos algumas razões para crer que a desmaterialização,
seguida da nova materialização do objeto, existe e foi até mesmo observada (confira o
capítulo precedente).
No caso de Anne-Marie, o Dr. Hans Bender observou particularmente bem, com outras
testemunhas, a passagem através da matéria (Baviera, 1969). As pedras caíam do teto
sem saltar de novo ao tocar o solo. Em geral, estavam quentes. As testemunhas viram
pregos, fechados num armário, sair progressivamente do teto para cair no assoalho. Vi-
ram também garrafas e outros objetos sair lentamente do teto da casa e, em vez de
cair, descer lentamente em ziguezague, como se estivessem sendo carregados.
Esta última particularidade observa-se freqüentemente nos fenômenos psicocinéticos
dos poltergeists. Projéteis os mais diversos são lançados, às vezes com grande força,
contra paredes, portas e janelas. Na rue des Gres, em Paris, uma casa foi, assim,
praticamente destruída. Pessoas também podem ser visadas, mas, ao contrário do que
ocorre com os objetos, ao aproximar-se da pessoa visada, o projétil estranhamente
diminui de velocidade e pousa no solo, como uma folha morta, caindo em movimento
espiralado. Muito raramente as pessoas são machucadas.
O caso de passagem através da matéria observado pelo jovem médium Matthew
Manning tem de excepcional o seguinte: ele observou o objeto elevar-se no ar. Ele
tomava seu banho na escola, quando viu o tampão do ralo erguer-se no ar e ser
repentinamente projetado na dire ção de uma janela com uma velocidade tal que
parecia impulsionado por uma forte tacada. Manning esperava ver a janela estourar
com o choque, mas o tampão passou através do vidro e foi depois encontrado no outro
cômodo. É provável que ele tenha observado, na realidade, dois fenômenos distintos:
um deslocamento telecinético e uma desmate rialização momentânea, necessária para
atravessar a janela, seguida de nova materialização. Lembramos que o poltergeist de
Manning distinguia-se por um comportamento invariavelmente civilizado.
Grottendieck observou, em 1906, pedras caindo através do teto de uma casa. Ele tentou
pegá-Ias, mas não conseguiu: as pedras esquivavam se sempre. Como o lugar onde
reapareciam era sempre o mesmo, ele colocou sua mão no trajeto, sem sucesso, porém.
Entre os observadores que puderam constatar a totalidade dos movimentos de PK,
podemos ainda citar Roll, Carrington, Owen, Thurston e Zorab. Thurston relata que
uma pequena colher partiu muito rapidamente em linha reta, indo bater na cabeça
do vizinho de mesa do observador, caindo, em seguida, normalmente. O vizinho, no
entanto, só sentiu um contato levemente perceptível.
Os casos seguintes só podem explicar-se por uma desmaterialização seguida de
rematerialização:
- os anéis de madeira enfiados no pé de uma mesinha (Lombroso);
- um anel de acaju enfiado dentro de outro de marfim (Crookes);
- um anel de madeira enfiado na mão e impossível de retirar (Leadbeater);
- o Dr. Gerlow, operando com o médium W. Donnely, nos Estados Unidos, viu surgir
um pedaço de lava do Etna num jarro fechado e selado. O Dr. Gerlow encerrou sua
aliança no mesmo jarro e o médium a fez sair.
Uri Geller, por diversas vezes, fez desaparecer objetos variados, encerrados em
recipientes fechados, como, por exemplo, a metade de um cristal de carboneto de
vanádio, corpo de extrema dureza. O cristal foi cortado em dois. Em outra ocasião,
uma aparição entregou a Geller uma peça de caneta, desaparecida anteriormente
durante uma sessão.
Estes numerosos fatos atestam a realidade da desmaterialização. Além disso, o estudo
das deformações sofridas pelas peças metálicas torcidas pela ação "psi" mostra que se
produz um afrouxamento das ligações interatômicas, como demonstram, por exemplo,
os estudos metalográficos do professor Hasted. A. Puharich chegou à mesma conclusão
estudando os raps com a ajuda de material sismográfico de grande sensibilidade. Os
soviéticos chegaram à conclusão de que esta ação sobre as ligações interatômicas é
característica das ações "psi".
A desmaterialização e o afrouxamento das ligações podem explicar a passagem da
matéria através da matéria. Estando as forças de coesão e de repulsão suspensas, os
átomos e moléculas possuem espaço suficiente para introduzirem-se uns entre os
outros.
Este esquema exige ser completado. Se as forças de coesão fossem simplesmente
suprimidas, o objeto material desabaria, perdendo sua estrutura. Ora, alguma coisa
mantém as partículas em sua ordem primitiva e permite a reconstrução do objeto
quando a ação "psi" deixa de exercer-se. Só podemos imaginar o corpo sutil, ou ainda
corpo astral, no desempenho de tal papel. Alguma coisa semelhante se produz quando
o cirurgião "psi", após ter operado, fecha novamente a incisão e se podem ver os tecidos
unirem-se imediatamente, sem mesmo deixar uma cicatriz.
Foi assim que os pregos observados pelo Dr. Bender no caso de Anne-Marie, que
deixavam o armário para atravessar toda a espessura do teto, saíam deste, e, diante de
várias testemunhas, caíam no solo em sua forma primitiva e não sob forma de um fino
pó de ferro. Talvez esta não seja uma explicação estritamente científica, mas é uma
proposta de mecanismo possível. Talvez os pregos passassem pelos cômodos do andar
superior. Ou, simplesmente, se transformassem em fina poeira para reconstituírem-se
ao redor de seu corpo astral, o qual não tem nenhuma dificuldade em atravessar
qualquer coisa.
Os objetos que acabaram de atravessar a matéria estão mornos ou quentes. Sendo a
matéria estável, a desmaterialização deve ser endotérmica e esta energia absorvida
pode ser, ao menos em parte, restituída na rematerialização. Leadbeater constatou nas
peças de xisto assim transferidas uma temperatura superior a 100°C.
10
LEVITAÇÃO
Os fatos
A levitação sempre foi praticada por todos os povos da Terra. Ela está descrita nas
lendas e no folclore. A semelhança dos relatos com o que pode ser observado
atualmente demonstra que estes fatos deviam ser, ao menos em parte, reais e não
inspirados pelo desejo natural de igualar-se aos pássaros.
A Srta. Thévenet, uma das convulsionárias de Saint-Médard, foi observada em estado
de levitação por um sábio beneditino, D. La Taste, que constatou: "Ela elevava-se, de
tempos em tempos, a sete ou oito pés de altura e até o teto. Ao elevar-se, erguia a três
pés de altura duas pessoas que se apoiavam sobre ela com todas as suas forças. Os
físicos verão aqui nada mais que a natureza?" (ele queria dizer que o prodígio só
podia ter sido provocado por forças diabólicas). Ele prossegue: "Acontecimento mais
prodigioso num sentido, acontecimento horrível! Enquanto a Srta. Thévenet se eleva,
com a cabeça para cima, suas saias e sua camisa dobram-se, por si mesmas, sobre sua
cabeça. A natureza alguma vez operou tais efeitos ou pode operá-los?" (Lettres
théologiques, 1739, t.lI, p. 1.310.)
Para compreender todo o horror do bom padre, lembramos que, nessa época, as
mulheres usavam saiotes, mas não usavam calcinhas nem calças. A calça comprida,
introduzida mais tarde, foi inicialmente considerada uma depravação e
violentamente denunciada pelos pregadores.
P. Y. Plunkett observou e fotografou, em 1936, o yogue Subbhaya Pullivar (confira
Inexpliqué), que levitava na posição horizontal, a 1 metro do solo. Após a sessão, os
alunos do yogue carregaram-no para sua tenda. Plunkett observou-o sub-
repticiamente, levantando um canto da lona, e viu que o yogue levava
aproximadamente cinco minutos para descer novamente ao solo. Após a descida, seus
membros estavam num estado de rigidez tal que era impossível dobrá-los.
Um dos mais célebres médiuns de levitação foi Dunglas Home, estudado especialmente
por Crookes. Home levitou com a idade de dezenove anos. Acontecia-lhe de levitar sem
que soubesse; por exemplo, quando notava que sua poltrona flutuava a uma dezena de
centímetros acima do solo. Sobre as levitações de Home, possuímos mais de cem teste-
munhos. Ele realizou centenas. O episódio sem dúvida mais célebre ocorreu no dia 16
de dezembro de 1868, no Buckingham Gate, Ashley Place. No salão, bem iluminado
pela lua, encontravam-se William Crookes, Lord Lindsay, Lord Adar e o capitão
Wyrme. Como não fazia frio, as janelas de guilhotina estavam erguidas até a metade.
Home encontravase em outro aposento, cuja parede externa formava um ângulo
reentrante com a parede externa do salão. De repente, viu-se Home, que chegava do
lado de fora, flutuando em posição horizontal, entrando no salão e sentando-se numa
poltrona. O espanto dos espectadores foi ainda mais compreensível, por encontrarem-se
no sexto andar!
Um dos membros do grupo foi inspecionar o aposento de onde partiu Home. Ao lhe
perguntarem como havia feito para atravessar a janela, que estava erguida a apenas
50-60 centímetros, como resposta, Home deixou-se cair para trás e, deitado de costas,
elevou-se no ar e saiu pela janela, a cabeça na frente, flutuando. Esta performance foi
publicada por Lindsay no jornal da Sociedade Dialética de Londres (que precedeu a
SPR).
O que se menciona mais raramente é que, quando Home passou para a sala vizinha,
de onde voltou pelos ares, Lord Lindsay ouviu uma voz que murmurava em seu
ouvido: "Ele vai sair por uma janela e entrar pela outra" . Lindsay comunicou
imediatamente a mensagem a seus amigos e os três aguardaram, imaginando ansiosos
uma experiência tão perigosa.
Médium de rara potência, Home podia carregar consigo objetos consideráveis: ele
ergueu, a 80 centímetros, aproximadamente, uma poltrona e até mesmo um piano de
cauda. Ele fez levitar a mulher de Crookes.
Quando de uma sessão ocorrida em São Petersburgo em 1866, na casa da baronesa de
Taubé, Leon Tolstoi relata, numa carta dirigida a sua mulher datada de 17 de junho
de 1866, ter visto Home flutuando acima das cabeças dos presentes e ter-se assegurado
disto ao tatear-lhe os pés. Home flutuava em posição horizontal, com os braços
cruzados sobre o peito. Uma ata foi redigida pelo Dr. Karpovitch, na presença do
general Filozofov e da princesa Havanschky. Lembremos que Home só operava em
plena luz.
Entre outros levitantes, citamos Stanton Moses, Eusapia Palladino, Carmine Mirabelli,
médium de cura brasileiro, o médium americano Collin Evans, que foi fotografado
elevando-se verticalmente em direção ao teto, numa sala bem iluminada e no meio de
uma multidão;
Fontana; Willy Schneider, que foi controlado por Geley e Sudre; Ruggieri que, certa
vez, carregou até uma altura de 3 metros os dois controladores que se mantinham ao
seu lado.
Convidado a levitar, Uri Geller deitou-se para trás em sua cadeira e, assumindo a
posição horizontal, levitou em plena luz, no meio dos espectadores. Foram publicadas
excelentes fotos deste fato, por exemplo em Inexpliqué.
Casos de levitação entre os santos foram relatados com bastante freqüência. O exemplo
mais famoso é dado por São José de Copertino (1603-1663), nascido na Apulia.
Doente de nascença, entregou-se a uma ascese que arruinou sua saúde. Tornando-se
padre franciscano, ele continuou a jejuar e a autoflagelar-se, o que lhe valeu uma
certa reputação de santidade. Um dia, no meio das preces, elevou-se no ar e, desde en-
tão, não cessou de levitar. Esta levitação era provocada por seus estados extáticos, o
samadhi dos indianos. Nele, este estado podia ter diversas causas, como a música ou
uma visão do céu estrelado. Ele parecia controlar seu vôo e podia também deslocar
consigo pesos consideráveis: foi assim que colocou no lugar uma grande cruz de
madeira, que dez operários esforçavam-se para deslocar. Ele fez levitar consigo outras
pessoas, segurando-as pela mão ou pelos cabelos.
Um médico, diretor de uma revista de hipnotismo, foi assistir a uma sessão com um
parente seu, Sr. X., tão incrédulo quanto ele. O Sr. X., em termos bastante grosseiros,
desafiou a força desconhecida a produzir alguma coisa diante dele. O médium não
tardou a responder, com um argumento irresistível: levantou aquele que o tinha
desafiado até o teto da sala, o que, sem dúvida teria sido suficiente para convencê-
lo, mas, para que não restasse a menor dúvida (e se fosse apenas sugestão?), ele o
deixou cair tão pesadamente que o incrédulo quebrou um braço.
Santa Teresa testemunha que, no momento da levitação, ela se sentia como se estivesse
sendo erguida e que, depois, seu corpo parecia tão leve que seus pés mal tocavam o
solo. Tratava-se mesmo de uma perda de peso.
Os êxtases de Santa Maria Madalena de Pazzi (1565-1607) eram acompanhados por
uma estranha atividade e uma agitação que nada tinha, em si, de edificante. Seu
confessor, o padre Cepari, conta o que viu:
"Ela ia de um lugar para outro a uma velocidade incrível, subindo e descendo as
escadas com tal agilidade que mais parecia voar que tocar o solo com seus pés. Saltava
com segurança nos lugares mais perigosos. No dia 3 de maio de 1592, ela entrou
correndo no coro e, sem qualquer ajuda humana, sem qualquer espécie de escada,
saltou até uma cornija a quinze varas do chão, para lá pegar um crucifixo que estava
pendurado. Todos estes gestos teriam provocado vertigem em quem quer que fosse."
Sendo o comprimento da vara variável, os diferentes comentaristas modernos dão à
altura da cornija valores que vão de 7 a 18 metros, o que permite conceder a Santa
Maria Madalena de Pazzi, como escreveu Aimé Michel (Phénomenes phisiques du
mysticisme), o título de campeã perpétua de salto em altura (ou, a seus biógrafos, um
gosto imoderado pelos recordes). Quer sejam 7 ou 18 metros, a impossibilidade física
continua a mesma. Ou as testemunhas são todas mentirosas ou se tratava ali de um
fenômeno desconhecido.
Médiuns como Geller, Home, Evans e Ruggieri levitam diante das testemunhas, em
plena luz e são fotografados: nada de ilusão, nem fraude, nem mentira. Fenômeno
misterioso, que os clássicos se recusam a estudar, mas que existe a despeito do silêncio
de seus manuais. Por que não admitir a autenticidade de fatos similares, que
ocorreram na Itália de Leonardo da Vinci e de Galileu?
As testemunhas ficaram impressionadas pelo fato de que, durante seus saltos,
cambalhotas e piruetas, a jovem santa nunca se machucava. A razão para isto é a
mesma que lhe permitia saltar até a cornija da igreja. Suas forças físicas seriam
multiplicadas, ou então seu peso e sua inércia seriam reduzidos proporcionalmente.
Entretanto, na primeira hipótese, ela teria empurrado pessoas e objetos e os choques
teriam sido ruidosos. Na segunda hipótese, seus deslocamentos, longe de serem podero-
sos, seriam graciosos e nada seria desarrumado à sua passagem.
Seu peso pode ser deduzido a partir dos dados do salto até a cornija: todos os cálculos
feitos, resulta que a extática devia pesar 1 ou 2 quilos. Por outro lado, considerações
simples mostram que sua massa inercial era reduzida na mesma proporção, o que é
muito mais extraordinário.
A mesma agilidade surpreendente era empregada por outra santa, Margarida do Santo
Sacramento. Era encontrada nos diferentes locais do convento e, além disso, parecia
não se importar com as portas fechadas, através das quais passava. Foi vista elevando-
se nos ares para colher um fruto.
Anne-Marie Emmerich, que preenchia as funções de sacristã, subia às cornijas
inacessíveis, segurando-se a elas sem medo, acostumada, desde a infância, a sentir-se
sustentada por uma força invisível, seu "anjo bom", como dizia.
A perda de peso do corpo foi atestada explicitamente também por Santa Teresa d'Ávila
e por Marie d'Agreda.
Parece que a prática constante da levitação pode tornar o corpo incrivelmente mais
leve. Alexandra David-Neel viu, no Tibete, um monge que tinha se tornado tão leve
que estava carregado de correntes para não voar com o vento. Allan Bennett tornou-se
monge budista. Em 1902, Aleister Crowley reencontrou-o lá: ele tinha se tornado tão
leve que se erguia "como uma folha".
Uma aplicação desta diminuição de peso existia no Tibete: os lung-pas, os "homens-
vento". Após anos de preparação e de práticas ascéticas, estes correios, que circulavam
entre os mosteiros, conseguiam deslocar-se a grandes velocidades, podendo cobrir
centenas de quilômetros por dia. David-Neel viu um: ele não parecia correr, mas
saltava como uma bola. Eles são capazes disto, pois não pesam quase nada. A
explicação vem de Pema Chöki, princesa tibetana, filha do rei de Sikkim.
11
MATERIALIZAÇÕES MEDIÚNICAS
Materializações perfeitas
Diferente de muitos outros médiuns, a Sra. d'Espérance (inglesa, apesar do nome) era
culta, inteligente, fina e interessou-se pelos fenômenos que ela mesma provocava. Ela
relatou suas observações numa obra, Au pays de I'ombre (1897), que constitui, assim,
um testemunho em primeira mão. Acrescentamos que ela conservava lembranças
precisas de seus estados de transe, o que não é o caso de todos os médiuns. Dotada de
um equilíbrio superior, ela mantinha toda sua lucidez durante os transes mais
profundos.
Quando a Sra. d'Espérance entrava em transe, ela sentia algo sobre seu rosto e suas
mãos, como se fossem teias de aranha. A seguir, o ar parecia-lhe mais denso e ela
respirava com dificuldade. Quando esta impressão cessava, uma figura iria surgir.
A materialização mais notável da Sra. d'Espérance era Yolanda, uma moça árabe, que
aparecia e desaparecia diante de todos. Ela foi fotografada, particularmente ao lado
da médium. Não se podia tocá-Ia.
Ela participava das diferentes tarefas das sessões, tais como trazer água e dar de beber
à médium. Ocupava-se de fazer surgir objetos e "mandá-los de volta", se fosse o caso.
Enquanto isto, a Sra. d'Espérance sentiase como num sonho. Ela podia pensar e sentir,
mas não conseguia mover-se.
Cada movimento um pouco mais rápido de Yolanda a fazia transpirar; todo esforço de
Yolanda a esgotava mais depressa do que se ela mesma o fizesse. Seus músculos se
contraíam se Yolanda segurava um objeto, ela sentia se alguém tocava Yolanda e se ela
estava descontente. Sentiu a queimadura provocada pela parafina líquida, quando
Yolanda ali colocou a sua mão para fazer um molde. Ela também sentiu quando,
certa vez, Yolanda cravou um espinho de roseira no dedo. Pode-se certamente
reconhecer nestes fatos as características da exteriorização da sensibilidade.
O mais curioso era o laço afetivo que ligava a Sra. d'Espérance a Yolanda. Ela nutria
pela jovem-fantasma sentimentos maternais, enquanto pelas outras aparições que
produzia (Ninia, Leila) tinha só curiosidade.
Durante as sessões, os sentidos da Sra. d'Espérance ficavam mais aguçados e ela
percebia, particularmente, ruídos que seriam inaudíveis em seu estado normal. Após
as sessões, a Sra. d'Espérance sentia-se mal e tinha náuseas seguidas de vômitos. A
causa disto era, certamente, que, para materializar-se, Yolanda emprestava substância
aos assistentes e era ela mesma quem a reabsorvia. A prova para esta suposição foi
dada em 1893, em Cristiania, quando a Sra. d'Espérance teve a surpresa de não sentir
qualquer mal-estar: os assistentes concordaram em abster-se de álcool e de tabaco
antes da sessão.
Quando havia doentes entre os assistentes, ela sentia, depois da sessão, indisposições
correspondentes às doenças. Pessoas que faziam uso de álcool provocavam nela
indisposições quase tão desagradáveis quanto as produzidas pelos fumantes.
Pode-se entrever o mecanismo desta ação. A matéria do fantasma, emprestada do
médium e, parcialmente, dos assistentes, é restituída. Talvez cada um dos doadores
retome a substância de acordo com sua contribuição, mas tudo leva a crer que as
diferentes contribuições se misturam, ou pelo menos se contaminam mutuamente,
durante a materiali zação. É por isso que o médium recebe células (ou elementos de
células) modificadas pelo hábito do álcool ou do fumo, ou ainda contaminadas por
uma doença. Estes elementos modificados espalham as substâncias ativas na parte não
contaminada do corpo do médium através da circulação sangüínea, o que provoca
reações normais de rejeição por parte dos tecidos sadios. Acrescentamos que esta
hipótese poderia ser verificada facilmente através de análises.
Interrogada por Aksakoff, a Sra. d'Espérance respondeu que Yolanda possuía sua
própria individualidade e sua própria consciência, mas que ela sabia que, de certa
maneira, Yolanda lhe pertencia, fazia parte dela mesma. "Ela é tão voluntariosa e
caprichosa como qualquer garota de treze a catorze anos, pouco inteligente, mas
simples e curiosa" , dizia.
No início, Yolanda parecia não saber o que era uma cadeira, pois sentava-se no
encosto e caía. Mas ela compreendia o uso do papel e dos lápis e sabia utilizar vestidos
e jóias.
Yolanda nunca havia se manifestado fora das sessões, o que foi o caso de outros
"espíritos" da Sra. d'Espérance, entre os quais uma menina chamada Ninia. Certa
noite, quando ela morava na Inglaterra, estava cantando com seus filhos quando uma
voz se fez ouvir, juntando-se ao coro. "É você que está cantando, Ninia?", perguntou a
Sra. d'Espérance. "Sim", foi a resposta. Dito isto, as crianças correram pela casa, mas
não encontraram o fantasma cantor, cuja voz mudava de lugar, indo de um andar
para outro.
Numa sessão ocorrida em Cristiania, a Sra. d'Espérance estava sentada entre três outras
crianças, quando uma pequena forma aproximou-se: era Gustavo, o irmãozinho
falecido das crianças. Estas o reconheceram, e, nem um pouco espantadas, ofereceram-
lhe uma parte do bolo que estavam comendo. A aparição abriu o papel e apresentou o
bolo aos presentes, que aguardavam, preocupados. Gustavo foi acariciar o rosto de sua
mãe, que estava presente, voltou para sentar-se entre seus irmãos, onde ficou por
alguns minutos, depois evaporou-se e desapareceu.
Em seguida, apareceu uma menininha. Sua mãe e sua irmã, que estavam de luto, a
rodearam, abraçaram e beijaram... mas foi a Sra. d'Espérance quem sentiu os braços
delas ao redor do pescoço, suas lágrimas no próprio rosto e seus beijos. Mergulhou
numa verdadeira agonia de dúvidas. Seria ela mesma ou seria ela a menininha que
recebia todo este carinho?
Estelle, esposa do banqueiro americano Livermore, apareceu durante cinco anos a seu
marido, no decorrer de sessões que foram submetidas a um controle dos mais severos.
Estelle materializava-se com uma semelhança perfeita. Como ela só conseguia falar
com dificuldade, na maioria das vezes ela escrevia o que tinha a dizer sob os olhos do
próprio Sr. Livermore, que conservou uma centena de cartas escritas com sua letra. A
caligrafia, o estilo, o conteúdo, tudo nestes documentos testemunhava sobre a
identidade da personalidade que se manifestava. Além disso, várias destas cartas
foram escritas em francês, língua que Estelle dominava perfeitamente, mas que o
médium utilizado ignorava completamente. Estas manifestações duraram cinco anos e
depois cessaram, como ela mesma havia anunciado.
Aksakoff revelou que o lápis do banqueiro era geralmente manipulado, em escrita
direta, por uma mão, mais ou menos bem formada. Uma vez preenchida, a folha
levantava-se e a mão, por vezes reduzida a uma luz esférica, virava-a e escrevia no
verso da folha, ficando então a escrita invisível, o que excluía a sugestão ordinária. É
importante salientar que as linhas terminavam antes das bordas da folha, sem nunca
ultrapassá-Ias.
Brincadeira de um morto
Este caso notável, quer tenha sido provocado pelo espírito de um morto, por um
espírito brincalhão de outra origem ou pelo inconsciente, não menos brincalhão, de
um dos presentes, ocorreu durante uma sessão espírita. Ele foi recolhido por
Leadbeater.
A sessão acontecia num pequeno cômodo contíguo a uma sala grande, num
apartamento desocupado. Entre os participantes havia um cético, que reclamava da
pobreza dos fenômenos produzidos. Ouviu-se, então, na grande sala ao lado, um som
de passos extremamente pesados que se aproximavam da porta, quando, subitamente, a
porta foi arrebentada e surgiu... um elefante! Os participantes não ficaram se per-
guntando se a aparição era real - ela o era o suficiente para estraçalhar a grande
porta! - e precipitaram-se para a porta que havia do outro lado do cômodo, que dava
acesso a uma escada. Logo estavam sãos e salvos, na rua. Passado um certo tempo,
decidiram voltar ao apartamento, com exceção do cético, agora inteiramente
convencido. Seria necessário acrescentar que a materialização capaz de pulverizar
uma porta maciça pode ser tão perigosa quanto um ser real do mesmo peso?
O processo utilizado para obter moldes das materializações é o seguinte: são colocados
sobre uma mesa dois recipientes, um contendo cera derretida flutuando sobre água
quente e outro com água fria. O fenômeno se produz no escuro, sendo o médium
controlado e mantido a distância. Ouve-se o som de um líquido sendo agitado, e, ao
acenderem-se as luzes, encontram-se ao lado dos recipientes, moldes de uma ou duas
mãos, de pés ou de rostos. Aparentemente, a parte materializada foi mergulhada na
cera e em seguida na água, onde a fina camada aderente foi solidificada. A seguir, a
aparição desmaterializa-se, sendo o molde deixado sobre a mesa.
Ao realizar a moldagem de uma mão normal, seria necessário partir o molde para
retirá-Io, por ser o pulso mais estreito. Uma mão de borracha poderia ser utilizada. O
molde poderia também ser preparado com antecedência, partindo-o e colando-o
novamente, graças a uma ferramenta quente. No entanto, o controle moderno não
deixa espaço para os truques.
O Dr. Geley preparou uma cera à qual acrescentou colesterol, substância invisível mas
fácil de ser revelada. Este fato não foi comunicado a nenhum dos participantes da
sessão, pois, se dele soubessem, pode riam fazer o papel de cúmplices involuntários.
Geley comprovou a autenticidade da cera dos moldes.
Isto não é tudo. Os moldes de cera foram examinados por dois escultores-modeladores
profissionais. Estes experts confirmaram que:
3. Algumas destas mãos têm o tamanho de uma mão de criança, mas sua anatomia é a
de uma mão de adulto. Sabe-se que as aparições possuem tamanhos variáveis.
Vertendo-se gesso no interior dos moldes, consegue-se uma reprodução daquilo que
serviu para fazê-Ios.
Desmaterialização do médium
As vozes múltiplas
O fato de que um médium possa assumir a voz de um morto pode ser extremamente
convincente, mas é permitido que se proponham interpretações que não apelam ao
além, como, por exemplo, uma criação de origem telepática. As vozes múltiplas,
entretanto, colocam outros problemas, que não podem ser reduzidos à telepatia.
A produção, por um único médium, de várias vozes simultâneas e distintas pode ser
colocada entre os fenômenos paranormais mais refratários a uma explicação clássica.
Fisiologicamente, é pura e simplesmente inconcebível. Eis alguns casos bem
controlados.
A Srta. Etta Wriedt, médium americana, praticava a voz direta em estado de transe.
Ela foi examinada por um cético, o vice-almirante W. Usborne Moore, que mostrou-se
convencido ao ouvir várias vozes, falando aparentemente ao redor da médium. Que a
voz parecesse partir, não da médium, mas de algum lugar próximo, explicar-se-ia
pela locali zação espacial da origem dos sentidos, o que é muito aproximativo (esta é a
base da ventriloquia). No entanto, a produção simultânea de diver sas vozes
permanece inexplicada.
Para os espíritas, não há aí qualquer dificuldade: uma vez que são os espíritos que
falam, por que não seriam vários deles a falar? Conhecese também a divisão das
funções da glote, da qual apenas uma parte pode ser utilizada no extremo agudo (a
metade, e, excepcionalmente, um terço e um quarto no caso da cantora Mado Robin).
No entanto, a utilização em separado das frações é desconhecida na fisiologia clássica.
Invocar um "mecanismo psi" é o mesmo, aqui, que não dizer nada.
A Sra. Margery Grandon, casada com um professor da Universidade de Harvard,
manifestou este mesmo poder mediúnico ao produzir todo um coro de vozes. Ela foi
estudada minuciosamente, mas nada de interessante foi descoberto. Durante uma
sessão, ouviu-se também um coro de quatro vozes, sendo duas masculinas e duas
femininas. À sessão assistiam apenas homens de confiança.
Waldemar G. Bogoraz registrou vozes múltiplas produzidas pelos xamãs siberianos.
Não se tratava de ventriloquia, uma vez que as vozes podiam provir de um ponto
distante do xamã.
Terceira Parte
ASSOMBRAÇÕES E APARIÇÕES
Estudo geral
O estudo detalhado dos fenômenos permite cercar as causas destas manifestações. Esta
causa apresenta-se sob a forma de uma entidade pensante, consciente e, ora mais, ora
menos, mal-intencionada com relação aos vivos.
Na maioria das vezes, o responsável é uma mulher, criança ou adolescente, raramente
ultrapassando a idade da maturidade sexual. Esta idade situa-se entre doze e
dezessete anos. Foi relatado o caso de um garoto de seis anos. No caso de adultos, são
neuróticos ou histéricos, ou ainda pessoas que atravessam um período de graves
problemas afetivos. São freqüentemente os casos de órfãs sob a guarda da Assistência
Pública ou de jovens assalariados solitários.
Pesquisas recentes levam aos seguintes resultados: em 1977, Roll estudou cento e
dezesseis casos conhecidos e descobriu que vinte e dois sensitivos, num total de noventa
e dois, tinham crises histeriformes; sessenta e um tinham menos de dezenove anos;
trinta e oito viviam afastados de seus pais, portanto sob a influência de um stress
afetivo ao qual os poltergeists forneciam uma descarga necessária (catarse). Os sensitivos
não apresentavam qualquer particularidade física ou mental. Durante a emissão do
poltergeist, o sensitivo freqüentemente enfraquece, adormece ou tem síncopes, tremores
e convulsões. Com maior freqüência, ele se sente esgotado. Seus movimentos tornam-se
lentos. Todos estes sintomas puderam ser observados também nos médiuns: a identidade
dos fenômenos provocados indica claramente a identidade dos mecanismos.
Solfvin e Roll verificaram (1976) que a atividade poltergeist era acompanhada, nos
emissores, do surgimento de um traçado epileptiforme no eletroencefalograma.
Fenômenos dos poltergeists
Pancadas nos objetos ou no interior das paredes. Sua força pode ser considerável.
Objetos deslocados. Podem sê-Io brutalmente ou com delicadeza. Foram vistos móveis
grandes e pesados sendo derrubados, mas também frágeis bibelôs transportados e
pousados com delicadeza. O peso dos objetos deslocados pode ultrapassar aquele que
um homem poderia levantar.
A passagem através dos muros e paredes pôde ser observada diretamente. Os objetos
deslocados podem sair, assim, de um cômodo fechado e também escapar de recipientes
fechados. Quando tocados imediatamente após terem atravessado a matéria, percebe-se
que estão quentes, às vezes a uma temperatura de 100°C.
Arremesso de pedras, telhas, objetos diversos. Na maioria das vezes, a casa é apedrejada
ou atingida por estes objetos. Foram vistos verdadeiros bombardeios, podendo até mesmo
perfurar as paredes externas. O objetivo evidente destas projeções, que só raramente
penetram no interior da casa, é a destruição das portas, das janelas e do telhado. No
entanto, também foram vistos projéteis que chegavam rapidamente, diminuíam de
velocidade e depois caíam molemente, sem bater em nada. Esta lentidão anormal
foi muito bem observada em numerosas ocasiões.
Abertura espontânea e repetida de portas e armários. Ruído de passos e de correria.
Anomalias de funcionamento das instalações elétricas ou telefônicas (Bender, 1969).
Efeitos visuais sugerindo acúmulo de água (Cox, 1961).
Os clarões ofuscantes (Roll, 1976).
Vozes são ouvidas mais raramente. São geralmente palavras indistintas pronunciadas
por uma voz cavernosa, gritos, lamentos.
Sopros gelados, eflúvios nauseabundos, odores perfumados (raros).
Os depoimentos dos casos precisos são sempre perfeitamente concordantes, quer se trate
de testemunhas comuns ou de policiais. Encontraremos no caso da paróquia de Ars
uma lista particularmente rica em manifestações de poltergeists.
Na França, entre 1925 e 1950, foram registrados oficialmente trinta e oito casos, ou
seja, um a cada oito meses (Tizané). Numerosos não são registrados, nem pela polícia
nem pela justiça, seja porque os fenômenos pouco incomodavam, seja por terem cessado.
As chuvas de pedras atiradas foram descritas por Plínio, o Jovem, e nunca mais
cessaram. O Sr. Maxwell, advogado geral na Corte de Apelação de Bordeaux, descreveu
casos de rescisão de contratos de locação por causa de assombrações. Há ao menos um
caso de um proprietário de taberna assombrada, na Inglaterra, que fez um seguro
contra a assombração, para o caso em que os clientes, perturbados, abandonassem seu
estabelecimento.
A duração registrada das manifestações vai de um dia até dezoito meses (em 1934, em
Savigny-Ie-Vieux). As assombrações remanescentes podem continuar por longos anos.
Depois de alertar os vizinhos, as vítimas dos golpes, dos móveis derrubados e dos vidros
quebrados dirigem-se, se são religiosos, ao padre, o qual, depois de hesitar, vem
exorcizar e benzer o local. Pode acontecer que as preces sejam eficazes, mas, na
maioria das vezes, elas não têm efeito. Os agnósticos ou anticlericais recorrem aos
videntes, aos feiticeiros, aos magos ou aos radiestesistas, que chegam, instalam arames,
procuram cadáveres enterrados e bonecos de feitiçaria, pronunciam fórmulas,
fornecem pentáculos e amuletos. Tudo isto, bem entendido, em troca de remuneração.
Se o caso atinge os jornais, estes são seguidos por charlatães, cuja variedade e cuja
ganância são difíceis de imaginar.
O penúltimo estágio é a chegada da grande imprensa, que vai desde o envio de um
fotojornalista até o caminhão de filmagem e o material para obras públicas, que
servirá para abrir valas para a descoberta de cadáveres ou de tesouros. Evidentemente,
eles nunca descobrem nada, o que conforta os céticos.
Se a sucessão de pancadas e de paredes apedrejadas continua, passa-se ao último
estágio: o das armas de fogo! O fazendeiro, então, se armará e, emboscado à janela ou
entre os arbustos, crivará de chumbo a direção de onde parecem vir os projéteis. O
procedimento é certamente perigoso para os vizinhos, os policiais, os cachorros e os
transeuntes. No entanto, os resultados podem ser surpreendentes. Os espíritos, apa-
rentemente amedrontados, podem até mesmo parar, brusca e definitivamente, toda e
qualquer manifestação sobrenatural. É um comportamento revelador.
A personalidade do poltergeist
Os fatos
As casas assombradas foram noticiadas em todos os povos do mundo, desde a mais alta
Antiguidade. Os exemplos, bem atestados, seriam suficientes para preencher várias
dezenas de volumes.
Em 479 a.C., o general lacedemônio Pausanias, acusado de traição, refugiou-se no
templo de Minerva, foi cercado por muros e morreu de fome. Seu espírito, asseguravam,
lá manifestou-se durante muito tempo, por gritos e barulhos assustadores.
M. G. Morice, doutor em direito, publicou nos Annales des sciences psychiques de
1893 o caso, extremamente bem estudado por um grande número de testemunhas, de
um castelo assombrado em Calvados, construído em 1867. Manifestações as mais
diversas foram percebidas pelo proprietário no dia-a-dia. Foram notados golpes, o som
de um corpo pesado descendo as escadas, passos, por vezes numa sala fechada, gritos,
urros e soluços e o som de um pequeno órgão tocando. Em seguida, o deslocamento de
objetos, portas e janelas abrindo-se lentamente, sozinhas, diante de várias
testemunhas. Travesseiros foram encontrados sobre o parapeito externo de uma janela
pregada (os pregos foram arrancados). Livros religiosos esparramados, deslocamentos
absurdos de objetos, uma massa d'água caindo pela chaminé (com um tempo bom e
seco lá fora), apagando o fogo. Certa noite, como os cães uivavam em direção ao
parque, o proprietário, pensando tratar-se de malfeitores, soltou-os. Os cães
precipitaram-se furiosamente nos arbustos cerrados, mas recuaram e fugiram
imediatamente, com o rabo entre as pernas e ganindo. Nada foi encontrado nos
arbustos. Os cães certamente haviam percebido a entidade que dava origem a todos os
fenômenos.
Em 1914, manifestações análogas afligiram a família do Sr. Boussoulade, importante
funcionário do Ministério das Finanças e proprietário de um castelo em Vodable,
Auvergne. Os ocupantes eram freqüentemente fechados a chave em seus próprios
quartos, sendo a chave depois encontrada nos lugares mais imprevistos. Estes
fenômenos só aconteciam na presença, obrigatória, de uma prima.
Um dos casos mais espetaculares de poltergeists é recente e pôde ser estudado à vontade.
Manifestou-se entre agosto de 1978 e setembro de 1979, em Enfield, nos arredores do
norte de Londres, numa família com duas filhas, sendo Janet, de doze anos,
aparentemente, a agente dos fenômenos.
O poltergeist começou com sons moderados, entre os quais um ruído de passos leves. Em
seguida manifestou-se uma voz rude e maldosa, não identificada, mas que se
apresentava como um homem de setenta e dois anos, que morava numa rua próxima.
Toda a gama de fenômenos de assombração desenvolveu-se, então, rapidamente. Papéis
e roupas inflamavam-se espontaneamente e fósforos pegavam fogo dentro das gavetas.
As facas eram torcidas. Pedras estouravam no chão. Janet e sua irmã eram
brutalmente atiradas para fora da cama com tanta freqüência que terminaram por
deitar-se no chão.
Em Londres, grande centro de estudos dos fenômenos paranormais, houve uma
afluência de todos os especialistas, que procederam a constatações e medidas. Além
disso, a casa foi invadida por amadores, cientistas, parapsicólogos, ocultistas, membros
de seitas e iluminados, que observavam e tiravam fotos. Brinquedos foram atirados na
cabeça dos fotógrafos. Não satisfeito por jogar Janet para fora de sua cama, o poltergeist
a fez levitar diversas vezes. Vê-se, nas fotos publicadas, a infeliz deslocando-se perto
do teto, esperneando e gritando.
Para os deslocamentos de objetos pesados, este poltergeist superouse. Ele levantou o fogão
e atirou para fora da casa objetos tão maciços quanto um sofá, uma cômoda e uma
cama de casal. Estas últimas proezas demonstram claramente que o poltergeist pode
desenvolver esforços muito superiores àqueles dos quais o agente, em condições
normais, é capaz. Apesar da difundida opinião de que ele nada pode fazer que o
sujeito, fisicamente, também não possa, é evidente que uma menina de doze anos não
poderia levantar estes móveis.
Durante o tempo em que estes "espíritos-que-batem" manifestaramse - treze meses! -
mais de mil e quinhentos fenômenos foram registrados, na presença de numerosos
especialistas.
Os pais das crianças divertiam-se e tratavam este poltergeist, relativamente inofensivo,
com um humor e uma calma deliciosamente britânicos.
O poltergeist que se manifestou no dia 7 de julho de 1972, numa pensão para moças,
na rua Agassis, em São Paulo (Brasil), principiou num quarto ocupado por cinco
jovens bancárias. Uma voz gritou: "Luiza! (nome de uma das moças) Tem uma mão na
tua cama!".
Era falso. No entanto, meia hora mais tarde, uma tigela de leite decolou do alto de um
armário e pousou no chão, como uma folha seca. As moças, aterrorizadas, pediram
ajuda a um padre, que recitou preces e benzeu o local. No momento em que ele descia
as escadas, uma garrafa voou sobre sua cabeça, espatifando-se contra a porta de entra-
da. A seguir, a garrafa de água benta elevou-se no ar e foi derramar-se sobre uma das
moças, que estava deitada em sua cama. Este foi o sinal para desencadear o poltergeist
de uma vez. As panelas despejaram seu conteúdo em toda parte, os copos espatifaram-
se contra as paredes. Um pote de mel atravessou uma vidraça sem quebrá-Ia, indo
quebrar-se contra um muro. Objetos pesados foram atirados na escada. Outros objetos
desapareceram, como notas de dinheiro introduzidas numa garrafa e reencontradas
depois em locais impensáveis.
A polícia veio, revistou a casa, não encontrou nada e foi embora, fazendo
manifestações jocosas de dúvida. O caso espalhou-se. Diversos jornais e revistas
publicaram artigos ilustrados com fotos.
O pai-de-santo, vindo de um centro de candomblé, visitou a casa durante seis dias,
apelou para um de seus próprios guias e colocou velas e copos de cachaça em vários
pontos estratégicos ao redor da casa. Além disso, ele levou uma das moças para fazer
uma "limpeza" espiritual, chegando a sacrificar uma cabra para o espírito
perturbador. O pai-de-santo explicou que se tratava de um espírito que sofria, mas
que incomodava as pessoas. Independente do que se possa pensar da explicação e dos
procedimentos do pai-de-santo, os fenômenos cessaram de uma vez.
O Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicofísicas pesquisou, interrogou vinte e seis
testemunhas e registrou mais de seis horas de depoimentos. A conclusão foi de que se
tratava de um caso de psicocinesia espontânea recorrente (RSPK), que desemboca
geralmente em violências físicas, que se exprimem ao acaso.
Um outro notável poltergeist foi registrado na fazenda de Kenzo Okamoto, lavrador
japonês, imigrante, perto da Ponta Porã, no estado do Mato Grosso (Brasil). Ele vinha
ocorrendo há três anos, o que é raro. Um jornalista, Kazunari Akaki, foi enviado ao
local. De início decididamente cético, ele foi rapidamente convencido quando o jipe
do qual acabava de sair deslocou-se 40 metros, subindo uma ladeira (ele pesava 2,5
toneladas). Akaki publicou uma série de dezoito artigos ilustrados com fotos no Jornal
Paulista. Em dezembro de 1972, uma exposição foi dedicada a este poltergeist, em São
Paulo.
A seguir, o poltergeist se pôs a provocar incêndios, em condições às vezes difíceis de
explicar, como quando traçou no telhado de sapé uma queimadura de 1 centímetro de
largura, com 3 metros de comprimento. Pelo lógica, o telhado inteiro deveria ter-se
incendiado! Os Okamoto, ao que parece, acabaram por acostumar-se a este brincalhão
invisível.
Tornado um clássico, este caso de poltergeist incendiário aconteceu na cidade de
Suzano (São Paulo, Brasil), em 1970. É também notável pela repetição de suas
manifestações e pela qualidade dos depoimentos o delegado viu o fenômeno
desenrolar-se diante de seus próprios olhos.
Uma adolescente de quinze anos, Irene, estava lavando roupa numa casa vizinha à
sua, quando uma forte explosão se fez ouvir em sua própria casa, da qual seus pais
estavam ausentes. Ao ver a fumaça que saía, os vizinhos precipitaram-se e constataram
que um guarda-roupa tinha-se incendiado, sendo que várias roupas tinham buracos
de queimaduras.
Na noite do mesmo dia, os lençóis pegaram fogo nas duas camas. Irene estava a uns 20
metros da casa. Durante a noite seguinte, o dono da casa foi acordado pelos gritos
provenientes do quarto onde dormiam as quatro crianças. Estas lhe disseram que uma
bola de fogo havia entrado e incendiado seus colchões. Não conseguindo apagar o fogo,
eles arrastaram os colchões para fora da casa, onde foram consumidos. Dez minutos
mais tarde, o sofá da sala pegou fogo. Ele foi totalmente molhado e depois arrastado
para o quintal, onde voltou a pegar fogo, mesmo encharcado de água.
Um carro de polícia, que passava naquele instante, parou para ver o que significava
tal balbúrdia no meio da noite. Um dos policiais ligou para a delegacia. O delegado
associou o fato à queixa que havia recebido do proprietário, alguns dias antes, de que
a casa havia sido bombardeada por pedras, que tinham quebrado vidros e telhas.
Decidiu, então, ir ver com seus próprios olhos o que havia.
Esperando a chegada de seu superior, um policial pegou do chão um calendário e
pendurou-o na parede do quarto. Alguns minutos mais tarde, o calendário ficou
enegrecido e pegou fogo. O policial esclareceu que a chama era azul como a do gás e
que era real: ele pôs o dedo nela e se queimou. Com a chegada do delegado, ele pegou
uma folha de jornal e fixou-a na parede da sala. Diante do delegado, a folha, ainda
que úmida, não tardou a inflamar-se também.
Os incêndios espontâneos tornaram-se declarados nos dias seguintes, destruindo os
objetos no armário da cozinha, uma cama empresta da pelos vizinhos e o berço do
bebê. Houve, ao todo, dez incêndios.
A família havia apelado a um padre, que recusou-se a exorcizar o misterioso
incendiário. Ela voltou-se, então, para os espíritas. Assim como no caso da rua Agassis,
o poltergeist desapareceu.
Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisas Parapsicológicas demonstrou que o
sujeito emissor do poltergeist era Irene. De personalidade muito forte, ela não se dava
bem com o pai, que batia nela com freqüência. A família era desunida e o pai, com
problemas de visão, não conseguia um emprego estável. É provável que, sensível e frus-
trada, Irene fornecesse, de uma maneira ou de outra, a energia de que precisava o
demolidor invisível (conclusão de Guy Playfair).
Em 1958, na cidade de Seaford, nos Estados Unidos, surgiu um espírito cuja atividade
consistia em destampar as garrafas. O autor desta bizarra atividade inconsciente era o
jovem James, de doze anos, que nada percebia. A intensidade do fenômeno era
inversamente proporcional à distância na qual se encontrava James. Pergunta-se que
estranho complexo poderia ter este médium.
Em Galdares (Pireneus Orientais), em 1936, o filho de um fazendeiro entrou num
quarto de sua casa e viu o armário de roupas aberto e a roupa da casa sendo atirada
no chão, diante de seus olhos. Ele segurava um forcado e, imediatamente, desferiu um
golpe terrível dentro do armário. Ele ouviu o lamento de uma voz humana e as
depredações cessaram.
É um caso raro, em que o poltergeist foi diretamente atingido, o que demonstra que
essa entidade tem toda a razão em temer também as armas de fogo. Teria sido
interessante examinar imediatamente os moradores da fazenda e os vizinhos:
poderiam ser encontradas marcas no corpo do médium. Foram vistos exemplos disto em
alguns casos de materializações espíritas.
Para citar um caso recente, eis o de Sacha K., treze anos, de Enakievo, URSS, que
principiou no outono de 1986. Houve a gama completa dos malefícios: pancadas,
objetos pesados deslocados ou revirados, aparelhagem elétrica que se punha a
funcionar e parava espontaneamente, lâmpadas que estouravam, até mesmo as que não
estavam num soquete. Aparições e vozes perseguiam os habitantes e inscrições
ameaçadoras surgiam nas paredes. O caso foi estudado por químicos, psiquiatras, pelo
Centro Nacional de Saúde Mental perto da Academia de Ciências, pelo Laboratório
das "Atividades Transespaciais do Cérebro" da Academia de Ciências e outros.
Sendo, os incêndios espontâneos a grande especialidade deste poltergeist, a família
acabou abandonando o apartamento, inteiramente destruído (Izvestia de 11 de abril e
27 de maio de 1987).
Fenômenos incendiários
Estas vozes são raras. Na maioria das vezes, reduzem-se a gemidos e resmungos. O
primeiro a fazer um estudo geral das vozes foi o Dr. Gilles de Tourette, no século XIX.
Ele constatou a freqüência de ecolalia, repetição mecânica das palavras, e de
coprolalia, uso de termos e de expressões escatológicas. São os sintomas conhecidos dos
jovens traumatizados, mais freqüentemente pela puberdade, que estão na origem dos
poltergeists.
Excepcionalmente estas vozes podem adquirir uma intensidade, uma nitidez e um
caráter explícito que fazem pensar numa outra intervenção que não a do inconsciente
do agente. Em alguns destes casos, hesita-se entre um desdobramento de personalidade
e a intervenção de entidades do além.
13
FORMAS INTERMEDIÁRIAS E ATÍPICAS DOS POLTERGEISTS
Poltergeist agressor
O caso seguinte foi descrito pelo Dr. Gibier (Spiritisme, 1891). Trata-se de três
gentlemen ingleses que se fecharam num quarto de uma casa desabitada, à noite e sem
luz, após terem prometido solenemente ficar sérios. O cômodo, que tinha como únicos
móveis a mesa e as três cadeiras onde eles se sentaram, entrelaçando as mãos para
formar uma corrente, estaya mergulhado na mais completa escuridão. Cada um deles,
munido de velas e fósforos, deveria acendê-Ias à menor manifestação insólita. De
repente, ouviu-se um grito de aflição e um estrondo terrível, seguido de uma chuva de
projéteis sobre a mesa e sobre os assistentes. As velas foram acesas às pressas: a placa da
lareira havia sido levantada e projetada na cabeça de um deles, que jazia sob a mesa,
gravemente ferido. Ele permaneceu dez dias em coma.
Em outro caso comunicado ao Dr. Gibier, foi também na escuridão total que um
violão que levitava veio chocar-se violentamente contra a testa de um dos
participantes, o qual guardou uma cicatriz. O golpe fora bem dirigido, apesar da
escuridão.
O Dr. Gibier, que foi um dos principais colaboradores de Pasteur, desaconselhava
formalmente a prática de sessões espíritas para simples divertimento. Ele dizia haver
aí um perigo certo, tendo ele mesmo esbarrado na morte.
O exemplo perfeito de agressões do poltergeist contra seu autor é aquele com o qual
sofreu toda a sua vida o abade Vianney, mais conhecido como o cura d'Ars. Durante
mais de trinta anos, as manifestações ocuparam-se em destruir a tranqüilidade da
qual ele tanto precisava. As pancadas sonoras faziam-se ouvir na paróquia d'Ars,
especialmente entre 1824 e 1855. Lá foram vistas línguas de fogo, uma fumaça de
origem desconhecida que preenchia o quarto, vários princípios de incêndio, alguns
diante de testemunhas. O infeliz cura, sobrecarregado de trabalho, era continuamente
atormentado por manifestações sonoras: gritos lúgubres, vozes dirigidas diretamente a
ele, para ameaçá-Io e blasfemar.
O cura d'Ars teve direito, também, a uma gama completa de sevícias corporais. À noite,
ele era esbofeteado e espancado e seus cabelos eram arrancados. Às veze murros e
pontapés sucediam-se durante horas. Não há como duvidar da sinceridade do abade
Vianney, homem de uma simplicidade total e de uma candura desarmante, aliás
avesso a qualquer idéia de literatura ou de publicidade, assim como a toda cre-
dulidade.
As agressões atingiam também os visitantes. Até mesmo bebês que lhe eram trazidos
algumas vezes recebiam golpes. O cachorro da paróquia foi atirado contra o muro. O
gato foi, diversas vezes, lançado no rosto dos visitantes. A paróquia de Ars era por vezes
invadida por revoadas de morcegos, sobre os quais se pergunta se eram atraídos pelo
organizador de todos estes malefícios ou por alguma particularidade relacionada a
locais assombrados, a menos que fossem criados à maneira das materializações
mediúnicas. À noite, o vigário ouvia um rebanho de carneiros pisoteando o sótão,
enquanto no cômodo de baixo, um cavalo escoiceava.
O quadro representando a Santa Virgem foi diversas vezes manchado com excrementos
humanos, daí a aparição ter sido considerada pela Igreja (justa ou injustamente) como
indicativa de uma infestação diabólica. Citam-se ainda objetos que se tornavam
quentes; uma chuva de alfinetes que espetavam; um queijo mole atirado à cabeça de
um policial. O próprio vigário considerava estes fenômenos como normais, uma vez
que Deus deixava que acontecessem.
O poltergeist que se manifestou em 1972 em Sorocaba (São Paulo, Brasil), era
igualmente violento: quebrou móveis, feriu um cão, sobre o qual fez desmoronar um
armário, provocou contusões numa mulher com um tijolo voador e em uma de suas
filhas, que teve o rosto queimado com água fervente quando a chaleira lhe foi
arrancada das mãos. Particularmente impressionante, no entanto, foi o deslocamento
da caixa d'água, que só poderia ser levantada por três homens.
Este poltergeist acompanhava a família em suas mudanças. O agente inconsciente era a
pequena Yara, de doze anos, que estava por perto na hora das manifestações. À noite,
tudo cessava se a luz fosse acesa, como se o poltergeist temesse ser surpreendido em
flagrante delito.
Numa pacífica família de Indianápolis (USA), manifestou-se, em 1962, um poltergeist
mordedor, que atacava principalmente a avó. A família incluía uma jovem na
puberdade.
Neste caso, estudado por Aksakof no final do século passado, uma morta apareceu
durante anos a um magistrado russo, Sr. Mamtchitch. Uma jovem, de nome Palladia,
tinha sido entregue ao convento por sua mãe, na ocasião da morte súbita de seu
marido. O magistrado, ajudado pelo irmão de Palladia, conseguiu arrancá-Ia do
convento, mas a adolescente, então com quinze anos, era tuberculosa e morreu, de
uma ruptura de aneurisma, em 1873. Três anos mais tarde, ele começou a ver o
fantasma de Palladia, que lhe aparecia cerca de três vezes por semana. Ela tinha
sempre a aparência calma e estava vestida com a roupa que usava no momento de sua
morte. A duração da aparição era de dois a três minutos e ele era sempre o único a vê-
Ia.
A cada aparição, Mamtchitch perdia a fala, empalidecia, lançava um grito e sua
respiração parava. Em 1879, como Palladia aparecera sentada tranqüilamente sobre a
mesa na qual trabalhava, ele decidiu dirigir-lhe a palavra: "O que você sente agora?".
Seus lábios não se moveram, mas ele ouviu claramente uma voz pronunciar a palavra
"quietude" .
Em 1885, ou seja, doze anos após sua morte, Palladia apareceu-lhe, desta vez não
com o pequeno sorriso que tinha algumas vezes, mas realmente alegre, e,
aproximando-se, disse: "Eu estive, eu vi", e, sempre sorrindo, desapareceu. Na noite do
mesmo dia, uma moça que estava na casa deles contou-lhe que, de manhã, sentira
que alguém estava à cabeceira de sua cama e ouviu uma voz que dizia: "Não tenha
medo de mim. Sou boa e amorosa". Voltando a cabeça, não viu nada. Um ano depois,
Mamtchitch casou-se com esta jovem que via então pela primeira vez.
Ainda cinco anos mais tarde, em 1890, Palladia surgiu diante dele quando estava
com seu filho, Oleg, de dois anos. A criança viu a aparição, e, apontando-a com o
dedo, disse: "A senhora". Não era, portanto, uma alucinação! Mamtchitch revelou
também que, cada vez que via o fantasma, seu cachorro vinha para junto dele,
aterrorizado.
Os acessos de estranha fraqueza que acometiam Mamtchitch cada vez que via a
aparição, mesmo quando estava em numerosa companhia, excluem a invenção pura e
simples. As reações da criança e do cachorro mostram qqe não se tratava de uma
alucinação. O estado no qual Mamtchitch se encontrava, então, parece-se muito com o
dos médiuns de materializações. Sem dúvida, era ele o autor dos fenômenos
inconscientes, inicialmente desencadeados pelo choque da morte súbita de Palladia
sob seus olhos. Todavia, esta explicação não contradiz a tese espírita, pois ele poderia
até mesmo fornecer uma certa matéria para a materialização, mas esta era animada
pelo espírito de Palladia, sempre ligada ao seu benfeitor.
Se uma assombração benévola manifesta-se como uma atividade simpática do além, é
nesta categoria que podemos classificar certos fatos que acontecem no palco do teatro
londrino de Drury Lane, onde continua a aparecer o célebre fantasma do Homem de
Cinza. Estes fatos me foram comunicados por George Hoare, arquivista e especialista na
história do teatro.
Drury Lane especializou-se em grandes espetáculos de comédia musical. Várias
comediantes relataram ter sido guiadas no palco por mãos amigáveis, para melhores
colocações, durante os primeiros ensaios. Betty Jo Jones, comediante americana, foi
assim guiada para a parte de baixo da cena, o que melhorava o conjunto da peça. No
dia seguinte, ela viveu novamente a mesma experiência, e, tendo voltado para seu
novo lugar, o invisível diretor deu-lhe um amigável tapinha de encorajamento nas
costas.
A cantora Doreen Duke, que se apresentava em O Rei e Eu, foi assim dirigida por
duas mãos que pousavam em seus ombros e a guiavam no palco. Várias vezes, ela
também sentiu um tapinha de encorajamento. Assim como Betty Jo Jones, ela está
certa de que estas manifestações não fazem parte deste mundo.
Feliz teatro este, no qual, além de quatro fantasmas diferentes, vistos por várias
testemunhas, os antigos comediantes ou diretores ainda continuam a ajudar seus
colegas vivos, a partir do outro mundo!
Na realidade, a visibilidade da entidade que "assombra" é secundária: ela compete à
percepção, e não à existência da aparição. Esta pode permanecer invisível aos olhos
normais, mas ser perfeitamente percebida pelos animais e pelas crianças pequenas,
agentes com poderes maravilhosos, no entanto sistematicamente negligenciados nestes
estudos.
O hábito pode também ter o seu papel na aquisição de uma percepção do além. Temos
vários casos de enfermeiras que, de tanto velar os que estão morrendo, acabaram por
ver aqueles que vinham para acolher o recém-chegado. A verificação dos fatos utiliza
o testemunho daqueles (numerosos) que morrem em plena consciência dando os nomes
das pessoas, que a enfermeira pode depois identificar através de fotos.
Em outro relato, consta que a Sra. McLaughlin foi morta num bombardeio de Londres,
em 1944. Seu marido, acometido de câncer, estava sendo cuidado por sua filha. Na
véspera de sua morte, esta falava com ele quando o viu virar a cabeça, sorrir e dizer:
"Eu não vou demorar, minha querida". Eis o que conta sua filha:
"Meu pai morreu na manhã seguinte. Meu filho de três anos, nascido após a morte de
minha mãe, estava no andar térreo, esperando poder visitar o seu avô. Quando o levei
para a sala de estar, ele me disse, de repente: 'Mamãe, não gosto daquela senhora que
suoiu para ver o vovô. Ela não me deixou ir com ela'. Ninguém havia subido. A
criança só poderia ter visto a própria avó.”
Assombração consciente
No caso seguinte, embora não tenha matado ou tentado matar ninguém, o espírito
declarou-se pronto para passar aos atos.
A antiga taberna Bird Cage, de Thame, em Oxfordshire, tem uma espécie de torre de
dois andares, a qual, segundo a tradição, teria servido de prisão. Daí o nome do local,
"gaiola de pássaro". Segundo uma outra versão, lá se trancavam leprosos, aos quais se
passavam a comida através das grades com um bastão.
Quando o Sr. e a Sra. Neville recuperaram a estalagem, constataram pancadas sonoras
nas paredes, manifestação comum de poltergeists - aqui sob forma remanescente. Além
disso, sentia-se, às vezes, uma horrível presença.
Um cliente importunava, com brincadeiras a esse respeito, a Sra. Neville, que servia no
bar, quando uma caneca de cerveja soltou-se do prego, elevou-se no ar e veio bater na
nuca da Sra. Neville. O trajeto deliberado da caneca foi perfeitamente observado por
vários consumidores, sendo que um deles, apavorado, fugiu correndo.
Os raps e a sinistra presença acabaram por aterrorizar as crianças. Na Inglaterra, onde
o fantasma é tão conhecido quanto qualquer pessoa, costuma-se tratá-Io
racionalmente, como uma pessoa (que é) e capaz de compreender (o que acontece). Isto
é sempre mais inteligente do que tratá-Io como a uma incompreensível calamidade,
com exorcismo, policiais, feiticeiros e espingardas carregadas de chumbinhos.
A Sra. Neville, então, subiu ao quarto que havia no alto da torre e, dirigindo-se ao
espírito, falou-lhe durante uma meia hora. Disse-lhe que compreendia bem que ele
não era feliz, queixou-se também, e, insistentemente, pediu-lhe para não assustar as
crianças. Depois disto, a presença do espírito continuou a fazer-se sentir, mas os raps
cessaram, o que vem confirmar que é preciso tratar os fantasmas com humanidade e
gentileza.
Um grupo de investigadores (não espíritas) veio fazer sessões no quarto assombrado e
combinou comunicar-se com o espírito através de pancadas. Ficaram sabendo, assim,
que se tratava, de fato, de um leproso, que outrora estivera preso no Bird Cage, mas
que havia sido apedrejado até a morte pelos aldeões, que não desejavam tal
promiscuidade. Os pesquisadores do grupo ofereceram-se para ajudar o infeliz, se
pudessem. Este recusou violentamente as preces. Ele não acreditava em Deus e odiava
os homens. Não queria ser incomodado. Finalmente, ele lhes disse: "Sumam daqui, ou
eu os mato!". E ele era perfeitamente capaz disto, basta lembrar da caneca de cerveja...
O estado no qual se encontrava esta entidade que assombra o Bird Cage se parece
estranhamente com o inferno cristão ou budista, revisto pela teosofia. Sem julgamento,
sem Diabo e sem chamas, mas sendo a alma mantida num estado horrível, do qual
não pode escapar.
Na taberna The Grotto, em Marsden, Inglaterra, que tirou seu nome das vastas cavernas
escavadas nas escarpas costeiras, bem debaixo dela e que foram outrora esconderijo de
contrabandistas, um fantasma vem todas as noites para esvaziar um grande recipiente
cheio de cerveja, que lhe é deixado. Se ele não encontra sua cerveja, revira os móveis.
Ele foi um contrabandista, que roubou seus companheiros. Para se vingar, estes o
colocaram numa cesta que podia ser erguida até o teto, muito alto, da caverna, por
uma corda (servia para descarregar mercadorias no alto). O traidor então foi
pendurado e deixado lá, bem no alto, para morrer de sede.
14
AS CASAS ASSOMBRADAS
Os fatos
Numa escola para moças, em Folkestone, em 1879, começou a ser encontrada, todas as
manhãs, na lousa, uma inscrição feita com giz: "Socorro, salvem-me!". Um professor
trancou-se na sala durante a noite. Ele nada viu, mas, de manhã, lá estava a
inscrição. Acabou-se por descobrir que uma das internas tinha dons psíquicos, como o
de provocar estalos nos móveis. Após alguns testes, o fenômeno cessou.
Um ocultista londrino, James Ward, pouco satisfeito com o resultado, decidiu estudar
o caso sem levar em conta a lógica experimental. A pesquisa que ele desenvolveu
revelou que, antes de 1879, havia no lugar da escola um convento, onde foi encerrada
à força uma jovem religiosa, que lá morreu. Munido destas informações precisas, ele
interrogou Elisabeth, a interna com dons paranormais: esta revelou-lhe que tinha
freqüentemente o mesmo sonho, no qual ela usava um véu de religiosa e chorava na
escuridão. Não era, então, um poltergeist provocado por Elisabeth, mas uma entidade
consciente que utilizava a mente dela como intermediária. A não ser que se tratasse de
recordações da vida passada, tendo a infeliz religiosa reencarnado na médium, que
veio habitar, como pensionista, justamente o local de seu antigo suplício.
Entre os numerosos fantasmas ingleses, um dos mais célebres é o Homem de Cinza, que
assombra o não menos célebre teatro de Drury Lane.
O fantasma é um jovem esbelto, alto, vestido de cinza. Ele veste uma capa, um chapéu
de três bicos, botas de cavaleiro e leva um sabre à cinta. Geralmente aparece sentado
na primeira poltrona da quarta fileira do balcão. A seguir, ele se dirige para a parte
de trás da sala e desaparece na parede próxima ao camarote real.
O fantasma aparece somente entre 10 horas da manhã e 6 horas da tarde, ou seja, em
plena luz. Não emite qualquer som e move-se sem pressa, como habitué do local que é,
sem dúvida. Interpelado, ele não responde. Se alguém tenta barrar seu caminho, ele se
dissipa, para reaparecer mais adiante.
De acordo com seus trajes, o Homem de Cinza vem do século XVIII. Ele usa uma peruca
branca, a não ser que sejam seus próprios cabelos. Os pesquisadores que se interessaram
por esta aparição pouco banal acham que este rapaz cortejava uma das atrizes, que
era notada também pelo diretor. Seguiu-se uma briga, durante a qual ele foi
apunhalado, sendo seu corpo rapidamente emparedado numa pequena passagem.
Esta explicação fundamenta-se numa descoberta feita em 1848, quando pedreiros
descobriram que uma parte da parede soava oco. A parede foi posta abaixo e
encontrou-se um quartinho, ou parte de um corredor, onde jazia um esqueleto,
coberto por alguns farrapos que ainda aderiam aos ossos. Entre suas costelas, estava
enfiado um punhal de estilo cromwelliano. O local onde ele foi encontrado é
exatamente o mesmo onde o fantasma costuma desaparecer.
O inquérito judiciário não deu nenhum resultado. Não se sabe exatamente quem era a
vítima, nem as razões do assassinato. Os restos mor tais foram enterrados no pequeno
cemitério de Drury Lane, que em 1853 foi transformado num pequeno parque
infantil, conhecido como Drury Lane Gardens.
O arquivista e historiador George Hoare, que freqüenta o teatro de Drury Lane há
trinta anos, enviou-me toda uma documentação a respeito e assegurou-me que o
fantasma continua lá, e, por muito tempo continuará ainda, espera ele. Em sua carta,
ele se refere ao fantasma como "nosso amigo". Utilizei seus artigos e notas para o meu
texto.
O número de pessoas que viram o Homem de Cinza é considerável. As horas durante as
quais ele aparece são as dos ensaios. Numa ocasião, o fantasma atravessou a sala
diante de toda a troupe: setenta artistas!
O historiador do teatro, W. J. Macqueen Pope, o viu diversas vezes. Ele também foi
visto nas seguintes ocasiões: em 1942 pelos oficiais dos Serviços Oficiais de Recreação
(Entertainment National Service Association, ENSA), ligados ao teatro durante a
guerra; pelo ator de TV Henry Oscar, diretor da ENSA; em 1950, o comediante Morgan
Davis observou-o por uns dez minutos num camarote, enquanto ele próprio estava no
palco. Ele viu a figura levantar um braço e constatou que era parcialmente
transparente, pois podia ver através dela a porta do camarote, iluminada, atrás da
aparição. Morgan Davis nunca ouvira falar no Homem de Cinza antes. Este foi
também o caso do enciclopedista Eric Rosenthal, que, alguns anos mais tarde, viu a
mesma aparição.
Por duas vezes, as equipes de investigadores de fenômenos paranormais permaneceram
no local, mas nada de nítido puderam observar. Num dos casos, uma espécie de luz
cinza-azulada foi observada no camarote real. Ela não tinha forma definida e não
projetava qualquer sombra.
É certo que, no único nível em que aparece o Homem de Cinza, encontram-se
reunidas certas condições favoráveis à sua aparição. Seus sinais são os mesmos que
durante sessões de materialização espírita. Em 1949, John Ellison, o célebre
entrevistador da BBC, notou no teatro, onde o fantasma fora visto dois dias antes, uma
"tensão psíquica muito nítida" , no nível em que costumava ocorrer a aparição. Um
engenheiro da BBC sentia, lá, formigamentos por todo o corpo, enquanto outro tinha a
sensação de que seus cabelos iam eriçar-se (indícios de angústia, mas também de
tensão elétrica).
Uma notável contribuição ao capítulo da detecção do Homem de Cinza na ausência de
visibilidade foi fornecida por James, o gato do teatro. De caráter amigável e dócil, ele
evita rigorosamente o nível onde circula o fantasma. Tentou-se levá-Io à força, mas ele
começou então a miar com força e a debater-se furiosamente.
O Homem de Cinza, em todo caso, torna mentiroso o provérbio que diz que os
fantasmas dão azar. Este, não somente nunca assustou ninguém - ele só aparece em
plena luz do dia - como, invariavelmente, traz sorte ao teatro. De fato, se for visto
durante um ensaio, é um sinal certo de que a peça será um sucesso. Hoare cita uma
longa série de peças, principalmente grandes espetáculos de comédia musical, que
confirmaram esta regra. Por outro lado, não foi visto nos ensaios nem na apresentação
de Pacific 1860, que, contra todas as expectativas, foi um fracasso.
Um teatro britânico tão antigo como o Drury Lane, construído em 1663, possui pelo
menos três outros fantasmas: o comediante Charles Macklin, o comediante Dan Leno e
o empresário e também comediante Charles Kean.
Vimos, nos capítulos precedentes, que os fenômenos de poltergeists podem formar uma
série contínua, de acordo com suas prováveis causas. Numa das extremidades da série,
temos o inconsciente humano provocando, pancadas e, a seguir, exteriorizando-se
para agir mais livremente, fora do corpo do médium. Mais adiante, podemos suspeitar
da intervenção de entidades externas e, finalmente, sua atividade torna-se evidente,
como no caso do leproso do Bird Cage.
Todavia, em certos casos, certamente não há nenhum inconsciente para incriminar,
nem entidade não humana para acusar dos fatos incompreensíveis. É assim nos dois
casos seguintes, aliás pouquíssimo documentados. Trata-se de seixos voadores em locais
desertos: o Songe Fjord na Noruega e a cratera vulcânica de Kintamani, em Bali.
Como deveria haver, em sua origem, uma causa para estes deslocamentos de seixos,
poderíamos ver aí o exemplo de uma ação remanescente. Os acontecimentos da rue des
Ores e da rue des Noyers, já citados, seriam outros exemplos.
Conhecem-se vários casos de casas que eram assombradas, não por um fantasma
passivo e inofensivo, mas por entidades conscientes e maldosas ou rancorosas, que
atacavam os ocupantes para expulsá-Ios, deixando suas intenções explicitamente
claras.
15
ASSOMBRAÇÕES MARÍTIMAS
Quarta Parte
OS PODERES DA MENTE
I. AS CAPACIDADES
16
TELEPATIA (TP)
A telepatia já foi descrita por Petrarca. Esta capacidade parece muito difundida: de
acordo com C. Flammarion, uma pessoa em cada dez é capaz de telepatia. Apenas a
agitação e o barulho da vida moderna nos impedem de nos apercebermos disto.
A distância não enfraquece a transmissão TP. Experiências foram realizadas entre
Londres e Nova York, entre Novossibirsk e Moscou e a partir da cápsula espacial Apolo
XIV. A emissão atravessa às vezes paredes de aço compacto e já foi captada a partir de
uma câmara hermética de chumbo, com as bordas mergulhadas em mercúrio
(experiências soviéticas). Por outro lado, ela é enfraquecida pelo vidro (Chauvin).
Todas estas características indicam que se trata de algo radicalmente diferente de uma
emissão eletromagnética.
Telepatia e sugestão
Muito mais notáveis que as experiências precedentes são as que foram realizadas a
bordo da Apolo XIV: havia também um casco estanque para atravessar, o vácuo
absoluto e, principalmente, uma distância enorme separando o emissor do receptor. Os
resultados foram publicados, mas não pelas fontes oficiais.
Esta experiência, que constitui a incontestável demonstração da realidade da
telepatia, foi realizada durante a missão ApoIo XIV, do dia 31 de janeiro ao dia 7 de
fevereiro de 1971. O relatório geral encontra-se em "An E.S.P. test from Apollo XIV"
(uma experiência de percepção extra-sensorial a partir da Apollo XIV), por Edgar
Mitchell, no Journal of Parapsychology, voI. 35, no. 2, de junho de 1971.
O procedimento consistia no envio das imagens das cartas Zener por Mitchell. Alguns
destes envios eram programados com antecedência; outros não eram predeterminados,
mas eram espaçados de quinze minutos entre um e outro. Procedeu-se, com as mesmas
pessoas, a duzentas e sessenta e cinco tentativas prévias de recepção, que forneceram
um desvio de + 13 e sessenta e seis êxitos (em vez de cinqüenta e três).
As experiências em vôo comportavam duas séries, sendo uma no trajeto Terra-Lua e
outra no trajeto de volta. Houve ao todo duzentas e setenta e cinco tentativas.
Os resultados foram analisados independentemente por duas equipes: uma com Rhine
e a outra com Karl Osis. Os resultados foram os seguintes:
1. O primeiro pode parecer inverossímil, salvo para aqueles que não ignoram os
fenômenos de telepatia: os testes revelaram-se premonitórios, pois os resultados
indicavam mais freqüentemente o resultado futuro do que aquele que estava sendo
mostrado.
2. O sucesso, em cada dez mensagens, era de 37,5%, em vez dos 20% esperados, de
acordo com a simples probabilidade, ou seja, não longe do dobro.
É preciso insistir a respeito das condições extremamente severas desta notável série de
transmissões TP. Já são de causar espanto as distâncias das transmissões realizadas em
terra: de Londres a Nova York, de Novossibirsk a Moscou, o que consiste em vários
milhares de quilômetros. No experiência da Apollo, a distância, variável, era de
várias centenas de milhares de quilômetros! O vácuo transmite bem as ondas
eletromagnéticas, mas elas enfraquecem proporcionalmente ao quadrado da distância.
No caso em questão, trata-se de alguma outra coisa, pois a TP ntravessa a gaiola de
Faraday da blindagem metálica da cápsula (e dos submarinos) e não enfraquece com
a distância.
...e ao vegetal
As plantas reagem aos pensamentos e aos sentimentos do homem: são reações afetivas. O
dossiê sobre a vida psíquica das plantas, relações que podem unir o homem ao vegetal
e aplicações práticas destes fatos já é bem farto. Mencione-se aqui, a título de exemplo,
uma planta equipada com um detector de mentiras, que reage com um sobressalto,
evidentemente de pavor, se uma pessoa postar-se diante dela pensando fortemente em
alguma intenção maléfica, tal como destruí-Ia. Cite-se também o grande selecionador
americano Burbadge; que utilizou a persuasão para produzir, por exemplo, cactos sem
espinhos, e, finalmente, que colheitas 30% superiores foram obtidas utilizando-se a
música e a dança.
17
CLARIVIDÊNCIA
(lucidez, criptoscopia, visão além da telepatia, segunda visão, vidência)
Pode-se ver sem os olhos, ouvir sem os ouvidos. Não por uma hiperestesia dos sentidos
da visão e da audição - pois as observações provam o contrário -, mas através de um
sentido interior, psíquico, mental. A esta declaração de C. Flammarion (L'Inconnu)
acrescentamos que as formas visuais ou. auditivas de que são revestidas as percepções
extrasensoriais provêm da faculdade geral da mente de traduzir o conhecimento puro
em formas que lhe são geralmente reveladas pelos órgãos dos sentidos, entre os quais a
audição e a visão ocupam um lugar preponderante.
As ocorrências de percepções sem a ajuda dos órgãos dos sentidos são inumeráveis.
Encontra-se um excelente exemplo na Encyclopédie de Diderot, de 1778, no artigo
"Sonambulismo". O termo designava, então, a faculdade de andar durante o sono. O
responsável por esta história é o arcebispo de Bordeaux, que, ele mesmo, contou-a ao
enciclopedista.
Quando ainda estava no seminário, ele lá conheceu um jovem eclesiástico sonâmbulo,
o qual, adormecido, levantava-se, pegava papel, compunha e escrevia sermões. Curioso,
o futuro arcebispo ia todas as noites ao quarto do padre, para observar as
manifestações desta "doença". Terminada a página, o padre a relia em voz alta e, se
alguma parte o desagradava, ele a riscava e acrescentava o que era preciso, corrigindo
as concordâncias, se necessário. A redação, a releitura e as correções eram feitas com os
olhos fechados. A testemunha tentou interpor um cartão entre o papel e o rosto do
sonâmbulo, para assegurar-se de que este realmente não fazia uso da visão. O padre
continuava a escrever, sem aperceber-se de nada.
Victor Hugo foi convencido da realidade do fenômeno pela bemsucedida tentativa de
leitura de um texto oculto, realizada pelo famoso médium Alexis. Este indicou, além
do próprio texto, curto, a cor do papel e a brochura da qual Hugo havia extraído a
folha (Henri Delaage, Les Mysteres du magnétisme).
Na casa de Alexandre Dumas, na presença de várias testemunhas, o mesmo Alexis
conseguiu ler livros fechados e cartas seladas. A ata relatando o acontecido foi
assinada pelo escritor e pelos assistentes. Alexis também descreveu para Dumas uma
quantidade de detalhes sobre os objetos que lhe pertenciam e sobre os lugares em que
Dumas vivera, em Tunes, que o médium não conhecia.
Esta sessão foi descrita, com detalhes, na imprensa do dia 17 de outubro de 1847. Na
polêmica que se seguiu então, tentou-se ridicularizar os signatários, afirmando que
Robert Houdin produzia as mesmas maravilhas todas as noites no Palais Royal. No
entanto, o ilustre prestidigitador atestou ter examinado Alexis e que estes fenômenos
não poderiam ser produzidos por nenhum dos meios relevantes à sua arte. Ele
descreveu, em carta ao marquês de Mirville, uma partida de cartas entre ele e Alexis,
na qual este indicava quais seriam as cartas ainda não viradas e aquelas que iriam
sair. Mesmo de olhos fechados, Alexis jogava cartas melhor do que um não-vidente. Ele
foi estudado também por Charles Richet.
Solicitado para tentar localizar um funcionário da casa de penhores que desaparecera
com grande quantia em dinheiro, Alexis indicou, sucessivamente, as cidades de Paris,
Bruxelas e Spa, nas quais o ladrão perdeu tudo no jogo. Ele foi preso exatamente como
havia previsto o médium.
O médium também jogava cartas com os olhos cuidadosamente vendados. Jogou assim
dez partidas: ele via as cartas e freqüentemente dizia quais eram. Não se tratava de
reconhecimento ao toque, pois ele nomeava também as cartas de seus adversários.
Observava-se um silêncio total, o que excluía toda possibilidade de conivência com
um eventual comparsa (Dr. Frappart, Lettres sur te magnétisme, 1840).
Alice, uma sensitiva não profissional, viu e descreveu, com profusão de detalhes, o
desenho de uma moldura que lhe foi apresentado dentro de um envelope fechado por
Héricourt, um amigo de Richet. Mas ela descreveu também, dentro da moldura, a
imagem de um oficial: era a de Héricourt, tal como estava representado dentro da
moldura real, que estava em sua casa.
A leitura através de envelopes duplos e triplos foi repetida centenas de vezes,
especialmente entre 1820 e 1860 e, em 1831, diante de uma comissão da Academia
de Medicina.
A telepatia pode ser descartada através de procedimentos elementares. Crookes colocou-
se entre o médium e a mesa e colocou o dedo sobre o jornal que estava atrás dele. O
médium leu corretamente a pala vra escondida por seu dedo.
Em 1870, Camille Flammarion recebeu da princesa Carolath o re lato de um sonho,
no qual, preocupada com uma pessoa querida, ela a via deitada num cômodo
octogonal, atapetado de damasco vermelho. Na cabeceira da cama havia um quadro
representando o Cristo coroado de rosas por um gênio celeste, com versos de Schiller,
que a princesa pôde ler. Dois anos mais tarde, convidada para ir a um castelo na
Hungria, ela reconheceu o cômodo, inclusive o quadro, que jamais havia sido copiado
nem reproduzido, e que ela, portanto, só poderia ter visto em sonho. Os fatos eram
anteriores à carta uma dezena de anos.
Eis o relato da Sra. Sidgwick, que fez experiências com a mulher de um mineiro de
Durham, chamada Jane (Annates des sciences psychiques, 1891, no. 280): O Dr. F.,
que magnetizava Jane, avisou a um de seus clientes, o Sr. Eglinton, que ia tentar fazer
com que Jane dissesse o que este Sr. faria à noite, entre 8 e 10 horas. Jane disse: "Eu
vejo um senhor muito gordo, ele tem uma perna de pau e não tem cérebro. Ele se
chama Eglinton, está sentado diante de uma mesa onde há uma gar rafa de brandy,
mas ele não bebe".
Este resultado é impressionante, pois Eglinton, que era muito ma gro, havia posto na
cadeira um manequim, coberto com muitas roupas para que parecesse corpulento, e,
sobre a mesa, colocara uma garrafa de brandy.
J. Maxwell (Les Phénomenes psychiques) cita o caso da Sra. Agullana, vidente
profissional. Adormecida, ela fez uma "viagem" até a casa de M. B. e o viu semivestido,
andando descalço sobre pedras (era tarde da noite).
Interrogado no dia seguinte, M. B. relatou que não se sentira muito bem e, a conselho
de um amigo, tentou o método Kneipp. Para fazê-lo, ele devia andar descalço sobre os
primeiros degraus da escada de pedra.
Uma inglesinha de três anos, que fazia suas preces noturnas, recusou se a rezar para o
feliz regresso de sua avó, em sua viagem de volta da Rússia. "Eu não rezarei, esta
noite, para que minha avó chegue em boa saúde, porque ela já chegou". Respondendo
às perguntas que lhe fizeram, ela disse que havia visto o navio no porto e que sua avó
ia muito bem, o que era verdade. O fato chamou a atenção de sua mãe, que acres-
centou que a capacidade de visão a distância era dom de família, sendo que ela
mesma havia visto, desta maneira, a explosão sucedida a bordo do Great Eastern
(Daily Telegraph, 23 de agosto de 1906).
Ingo Swann, artista de Nova York e um sensitivo de experimentos "psi", foi estudado,
no Instituto Stanford, por Targ e Puthoff. Eles certificaram-se, principalmente, da
constância das faculdades de Ingo. Em uma das experiências, os objetos que ele deveria
descrever estavam escondidos num baú de madeira com fechadura. Ingo descreveu tudo
e disse: "Vejo uma coisa pequena, mas que está bem viva e até se move!". Era uma
mariposa.
Targ e Puthoff conseguiram descartar o elemento telepático, confirmando assim a
vidência pura de Ingo. Com este objetivo, uma equipe circulava de carro, enquanto
Ingo ficava no Instituto Stanford com o controlador. O lugar para onde a equipe
deveria ir era escolhido ao acaso pelo diretor do Serviço de Informação do Instituto. Os
homens da equipe, vigiando-se mutuamente, iam até lá de carro, portanto sem contato
com Ingo nem com o controlador. A seguir, a equipe retomava e levava o sensitivo, que
podia, assim, comparar sua visão com a realidade. O emparelhamento às cegas dos
resultados era feito, portanto, por uma pessoa independente. Os duplos resultados eram
em seguida apresentados a um juiz, que também ia ao local indicado como alvo, para
verificar .
O Izvestia do dia 14 de junho de 1987 relata o caso de Julia Vorobyeva, uma
operadora de guindaste de trinta e sete anos que recebeu uma descarga de 380 volts,
ficou em estado de coma durante duas semanas e passou mais duas com dores de
cabeça terríveis e insônia total. Após sua melhora, ela repentinamente adquiriu o dom
de ver o estado patológico dos órgãos internos das pessoas. Passou a receber os doentes,
fazendo assim diagnósticos infalíveis. Ela passou também a ver a radiação
infravermelha, os defeitos do solo debaixo do revestimento da estrada, etc. Vorobyeva
foi estudada por vários cientistas, médicos e físicos, que constataram suas capacidades
e desejaram estudá-Ias e utilizá-Ias racionalmente.
Eis um outro fato para engrossar este dossiê. O Bulletin de Ia Société minéralogique de
France de 1937 descreveu, com o apoio de fotografias, cristalizações da naftalina na
essência de terebentina, dentro de vidros de relógio. A experiência é clássica: a
naftalina dá, após a evaporação da essência, uma cristalização em raios que se
formam a partir de um centro. O pesquisador utilizou a essência de terebentina obtida
a partir das amostras de resina retiradas de árvores individuais. Quimicamente, a
essência é um hidrocarboneto de fórmula simples e única, cujas propriedades estão
descritas em todos os manuais.
Ora, a despeito dos manuais, descobriu-se que a cristalização dependia da árvore. Os
dois resultados mais espetaculares foram que, por um lado, a terebentina obtida a
partir de uma árvore torta fornecia uma cristalização em espiral e que, por outro
lado, uma árvore com tronco duplo fornecia uma figura que possuía dois centros de
cristalização.
Este trabalho, fácil de reproduzir, passou despercebido. Ele destoa no meio
universitário. Uma ciência que tem pretensões à universalidade tem o dever de
responder às perguntas. A homogeneidade não pode ser assegurada à custa de exclusões
dogmáticas.
O Dr. Pfeiffer descobriu (colégio médico Hahnemann, da Filadélfia) uma reação
análoga de diagnóstico das doenças a partir das figuras formadas pela cristalização do
cloreto de cobre com a adição de uma gota de sangue.
Na realidade, nestes dois fatos, trata-se da influência exercida por uma estrutura
complexa (árvore, homem) sobre um de seus constituintes simples, que, de acordo com
a nossa química, não são mais ligadas ao conjunto. A experiência mostra que,
contrariando os conhecimentos clássicos, estes constituintes conservam uma sutileza
suficiente para escapar ao clássico mas real o bastante para influenciar as
cristalizações.
A visão na ausência dos olhos pode chegar até uma definição mais ou menos perfeita.
Este era o caso de J. Goodfield, descrito no Psychical Reserch de outubro de 1931, que
jogava baralho. Ele tinha certa dificuldade para trapacear, pois já não tinha a visão
física.
Sendo a vidência hereditariamente transmissível, pode-se esperar que, numa
população, este fato possa desempenhar um certo papel social. É, efetivamente, o caso
das ilhas Hébridas, ao norte da Escócia, onde se encontram velhos cegos que, após um
certo treino, conseguem enxergar o suficiente para não se tornarem totalmente
inválidos devido sua deficiência.
1. Para fazer uma fita de Möbius, pegue uma tira de papel e cole as duas extremida-
des, após ter torcido uma delas com meia volta. Se fizermos um risco contínuo na tira
com um lápis, poderemos verificar que ela, de fato, tem um lado só. Recortando a tira
no sentido do comprimento, ao meio ou a um terço da largura, você verá outras
maravilhas. (N. do A.)
Edgar Cayce
Edgar Cayce (1877-1944) foi um dos mais dotados videntes de nosso tempo. Ele foi
estudado e descrito em numerosos trabalhos e seus escritos foram conservados e
continuam a ser explorados por uma instituição que lhe é dedicada.
De inteligência medíocre, foi mal nos estudos. Seus dons particulares lhe foram
concedidos por uma voz que se fez ouvir quando ele ainda era jovem.
Quando em estado de transe hipnótico, Cayce assumia um tom de voz professoral,
designava-se por "nós" e começava sempre seus diagnósticos "médicos" pela fórmula:
"Nós vemos o corpo". Foi aplicando este método que Cayce, sob hipnose, curou-se de
uma laringite crônica, sugerindo restabelecer a circulação numa região da glote em
contração nervosa. A medicina clássica assumiu sua derrota diante deste caso de cura
em poucos minutos. Mais tarde, atingido por uma bola de beisebol na nuca, ele foi
levado para casa em coma. Logo que voltou a si, ordenou que se fizesse um cataplasma
de ervas e cebola crua, após o que caiu num sono normal e acordou curado.
Comentário do pai de Cayce: "Garoto danado, ele pode fazer tudo quando está
dormindo!”
A atividade médica de Cayce começou por sua própria cura e prosseguiu tanto por
curiosidade como por necessidade material. Saindo do transe, ele não se lembrava de
nada, mas seus diagnósticos eram fielmente registrados. Todas estas anotações foram
conservadas, totalizando trinta mil casos. Elas são citadas como "leitura de saúde",
tradução ruim do termo inglês que quer dizer "exposição". Destas "leituras", nas quais
Cayce certamente e facilmente sobrepujou a medicina clássica, extraímos três casos:
Uma jovem mulher foi internada, tendo como causa alienação mental. Cayce
descobriu que um dente do siso bloqueado comprimia o nervo que comandava um
centro nervoso do cérebro. A extração do dente foi seguida pela volta ao normal da
doente.
Aimée Dietrich, de dois anos, teve uma gripe complicada, seguida de convulsões e que
acabou atingindo o cérebro. O desenvolvimento da garotinha parou, como
conseqüência desta afecção rara, de conseqüências fatais. Cayce achou que,
anteriormente à gripe, ela havia sofrido uma queda, que provocou uma infecção no
local traumatizado. Cayce recomendou uma intervenção osteopática. Três meses mais
tarde, Aimée havia recuperado uma saúde perfeita.
O terceiro caso apresenta uma situação médica desesperadora, um diagnóstico
impossível de estabelecer por vias normais e um tratamento inexplicável, que
funcionou. Tudo isto num paciente terminal.
Em março de 1938, Cayce recebeu a visita de uma jovem mulher que estava morrendo
de tuberculose, operada várias vezes, com um pneumotórax, sufocando e que só se
deslocava agarrada a alguém. Sua mãe, desesperada, só conseguiu arrastá-Ia a
contragosto ao "diagnosticador psíquico" (título que Cayce dava a si mesmo), pois a
filha estava convencida de que iria encontrar um charlatão. Cayce entrou em transe e
declarou:
"Sim, nós temos o corpo aqui. Nós vemos seu estado e as causas específicas deste estado.
Os efeitos das perturbações foram tomados pelas causas. O corpo apresenta uma afecção
da circulação pulmonar que afeta todo o sistema. A causa está no sistema nervoso. As
pressões no sistema cérebro-espinal são produzidas na dorsal superior, e, mais espe-
cificamente, na cervical inferior, provocando um espessamento dos tecidos, que se
inflamam e pressionam a pleura. Esta afecção foi causada primeiro pela inalação de
um corpo estranho, uma poeira, por exemplo. Depois, as perturbações acentuaram-se
com a lesão produzida ao nível da espinha dorsal.”
Como é que Cayce poderia saber que a moça havia sido vigia num centro recreativo de
uma zona industrial, muito poluída, de Nova York? E que, fazia quinze anos, havia
caído de uma árvore, ferindo-se exatamente no lugar que ele indicava? Mas, depois do
diagnóstico, eis que ele ordenou um singular tratamento: "Prepare um barrilete de
carvalho, calcinado por dentro, de aproximadamente cinco litros. Encha-o até a
metade de aguardente de maçã (não de cidra). Tampe-o de modo que os vapores
possam ser inalados pela boca e pela laringe, para os brônquios e para os pulmões.
Faça isto pelo menos três ou quatro vezes por dia" .
O resto das instruções compreendia exercícios para a coluna vertebral e um regime
que, entre outras coisas, autorizava o leite fervido e até mesmo alguns cigarros por dia,
mas com uma interdição absoluta do leite cru. Os médicos, naturalmente, tinham-lhe
feito beber litros de leite cru.
Três meses mais tarde, a moça revivia: ela havia perdido 6 quilos de gordura
prejudicial, seu pneumotórax havia sido interrompido e ela se sentia bem. O médico
que a tratava, estupefato, declarou que não compreendia nada, mas disse: "Seja o que
for que estiver fazendo, continue". Ela casou-se e levou uma vida ativa e feliz.
Voltemos a Cayce. Era um homem simples, protestante devoto, tendo como única
leitura a Bíblia. Ele lutou, durante muito tempo, com todas as suas forças, contra seu
próprio poder, no qual via uma intervenção do demônio.
Cayce não era o único conhecido capaz de diagnosticar psiquicamente: Andrew
Jackson fazia diagnósticos e prescrevia tratamentos, mas, ao contrário de Cayce,
trabalhava em estado de vigília. Este era também o caso de Maria Valtorte.
Em trinta e cinco anos, Cayce acumulou mais de trinta mil diagnósticos psíquicos,
sem nunca deslocar-se, sem conseguir lembrar-se o que ele lamentava - e sem contato
com os pacientes. Ele dizia "eu vejo o corpo" e, efetivamente, o via, ainda que o corpo
estivesse do outro lado do mundo, chegando a dar detalhes de suas vestimentas. Certa
vez, a consulente o interrompeu para desculpar-se, pois o paciente não estava mais no
local que ela havia indicado. Então, Cayce retomou: "Nós vemos o corpo no lugar em
que deveria estar...", o que permite pensar que a vidência de Cayce se fazia de uma
forma bem distinta do deslocamento espacial.
Os documentos deixados por Edgar Cayce são conservados, estudados e editados pela
Associação para a Pesquisa e a Iluminação, * em Virginia Beach, presidida por seu
filho.
Além de seus diagnósticos e tratamentos, Cayce deixou outras provas de seus dons de
vidência. Ele previu com precisão a descoberta de documentos essênios, a Primeira
Guerra Mundial e a Revolução Russa. Esta última previsão data de 1913.
Cayce previu, em particular, uma grande transformação geológica, súbita e
catastrófica. A costa oeste da América será submersa e vastos territórios surgirão do mar
ao longo da costa leste. Na Europa, o norte mergulhará no oceano. Cayce situou esta
catástrofe entre 1986 e 1995. Daqui a alguns anos, saberemos se Cayce estava certo ou
não.
Cayce interessava-se particularmente pelo Antigo Egito e pela Atlântida. Ele aplicou
seus dons de vidência para transportar-se ao passado, onde esteve com os atlantes. É
certo, porém, que, de uma forma ou de outra, ele captou as opiniões correntes
contemporâneas. Assim, de acordo com ele, Quéops foi construída em torno de 5.000
a.C., ele situa a Atlântida em 10.000 a.C., data encontrada na obra de Platão e que é
inverossímil. Cayce também previu a descoberta de vestígios arqueológicos em Bimini,
mas os muros submersos que lá foram descobertos nada mais eram que formações
naturais.
* Association for Research and Enlightenment, Inc., Virginia Beach, USA." (N. da T.)
18
CLARIAUDIÊNCIA
A clauriaudiência é o equivalente auditivo da clarividência: enquanto o clarividente
vê certas coisas, o clariaudiente as ouve. Este fenômeno foi menos estudado que, por
exemplo, as aparições, pois, na Europa, "ouvir vozes" faz pensar imediatamente num
desequilíbrio mental.
O estudo científico da clariaudiência foi feito por C. Flammarion, que recolheu uma
enorme quantidade de fatos, rigorosamente repertoriados e controlados por ele (La Mort
et son mystere et Apres la mort). Este estudo foi retomado por Rhine.
Segundo o professor L. L. Vassiliev, a clariaudiência não deve ser confundida com a
telepatia nem com a clarividência, pois suas características são totalmente diferentes
(final dos anos 50).
As mensagens dos "emissores específicos" freqüentemente provêm de pessoas que vão
morrer ou que já estão mortas. Além disso, o clariaudiente em geral não é um
médium, mas uma pessoa próxima ao morto. Eis alguns casos de clariaudiência com
emissor não específico, pre monitória de acidentes.
Em Edimburgo, na Escócia, uma menininha brincava sempre em um local que estava
situado num nível mais baixo qua a via da estrada de ferro. Sua mãe a levava lá
todos os dias e, certa vez, voltando para casa, ela ouviu uma voz que dizia: "Mande
alguém imediatamente para buscar a sua filha, ou algo horrível irá lhe acontecer" .
Ela não deu atenção. A voz voltou e repetiu as palavras ameaçadoras - a mãe
resistiu, ainda. Mas, da terceira vez, ela foi tomada de terror e de tremores e apressou
a empregada para buscar a menininha. Pouco tempo depois, exatamente no local onde
ela brincava, uma locomotiva veio a espatifar-se, depois de descarrilar.
O caso seguinte foi objeto de uma pesquisa de C. Flammarion e também da parte de
Myers, da SPR: Lady Eardley recuperava-se de uma doença. Ela tinha o hábito de
trancar a porta quando tomava o seu banho e foi o que fez, nesse dia. No momento
exato em que ela ia entrar no banho, uma voz lhe disse: "Abra a porta". A voz era bem
distinta, bem exterior e, no entanto, parecia vir, de alguma forma, dela mesma. Ela
não conseguiu dizer com precisão se a voz era masculina ou feminina. Ela olhou ao
redor e não viu ninguém. Então, a voz retomou: "Abra a porta!" . Ela começou a ficar
com medo, perguntando-se se não estaria doente ou ficando louca. Como ela se
preparava novamente para entrar na banheira, a voz repetiu sua ordem, uma terceira
e, talvez, uma quarta vez. Lady Eardley deu um pulo, abriu a porta e entrou no ba-
nho. Ao entrar, ela desmaiou e caiu na água. A camareira, que estava no quarto ao
lado, ouviu o barulho da queda, correu e conseguiu salvá-Ia. Se a porta estivesse
trancada, ela teria começado a bater e, depois, não conseguindo forçar a porta, teria
ido buscar ajuda. Enquanto isso, sua patroa teria se afogado.
A voz vinha, sem dúvida, da própria moça. No entanto, esta premonição que se
manifestou, neste caso, na forma de uma ordem imperativa, repetida até seu
cumprimento, e, principalmente, bem audível, está fora das possibilidades de
explicações ortodoxas.
Todas as famosas sensitivas soviéticas (Nina Kulagina, Varvara Ivanova, AlIa
Vinogradova, Djouma Davitaschvili) tiveram clauriaudiência. Varvara Ivanova ouviu,
certa noite em que estava em Tachkent, uma voz de homem idoso que, gaguejando,
chamava-a para socorrê-Io. No dia seguinte, retornando a Moscou, ela encontrou o
homem, idoso e gaguejando, que a esperava para que ela o magnetizasse. Haviam
detectado nele um tumor canceroso e ele estava lá fazia dois dias, dirigindo suas
preces à foto da médium, para que ela voltasse. No momento em que a mensagem foi
recebida por Varvara, ele se pôs a chorar. Espantosa, pitoresca e comovente história
autêntica esta.
Não falaremos sobre a possibilidade, bem conhecida, de ouvir, ou melhor, ouvir de
novo, acontecimentos que ocorreram no passado, como o caso das duas inglesas que
ouviram o desenrolar da batalha de Dieppe, muitos anos depois da mesma. Este
fenômeno, na verdade, diz respeito à estrutura desconhecida do tempo e encontra-se
fora do tema abordado por este livro.
19
PERCEPÇÃO EXTRA-SENSORIAL (PES) POR INTERMÉDIO DE UM OBJETO (PESOR)
(Psicometria, metagnomia)
Os termos mais usados para designar este fenômeno estão entre os que tiveram os piores
critérios de escolha da parapsicologia: psicometria quer dizer "medida da alma" (ou
da psique) e metagnomia significa "o que está além da percepção". O primeiro nome
poderia aplicar-se aos testes de inteligência e o segundo, à vidência.
O sensitivo que apresenta este talento particular ou o adquire em estado de transe ou
sob hipnose, pode fornecer informações sobre um objeto que lhe é entregue e que ele
não conhece. As informações podem ser relativas ao passado do objeto, aos
acontecimentos que se desenrolaram na sua presença, aos seus sucessivos proprietários,
etc.
De acordo com o professor Sergueiev, a PESOR seria extremamente difundida. Seu
mecanismo pode ser acompanhado através do efeito Kirlian. O sujeito 1 manipula
durante várias horas um objeto, por exemplo, uma moeda, passando-a em seguida ao
sujeito 2. A kirligrafia do segundo sujeito mostra, então, uma figura extraordinária.
Algo se passa, incontestavelmente, entre o objeto e o médium improvisado e trata-se,
bem entendido, de informação. Há, portanto, comunicação entre a "aura" do sujeito e o
objeto. Os Drs. Raikov e Kazatskine demonstraram o fato utilizando a hipnose. Todo
homem pode solicitar a memória de um objeto.
Pode ser muito difícil separar os fatos da PESOR dos relacionados à telepatia e à
vidência. Como explicar os detalhes relativos ao futuro, tais como a cura do cão ou o
acidente provocado pelo carro amarelo, citados adiante? O objeto traria também, em si,
uma marca do futuro?
O Dr. Ducasse levou um pequeno vaso, quebrado e consertado, proveniente das
escavações de Pompéia, a Hurkos, que apalpou o pacote e lhe disse: "Eu vejo uma
explosão, isto se passou há muito tempo; ouço uma língua estrangeira; vejo uma cor
escura (nuvem de cinzas descritas por Plínio); está remendado. O proprietário do
objeto certamente está morto, mas não o Dr. Ducasse. Ele vai bem". É um pouco vago,
mas, afinal de contas, satisfatório.
Um objeto foi colocado numa caixa, que não foi mostrada a Hurkos. Este declarou estar
vendo uma coleira de cachorro e pêlos castanhos. "Este cachorro", diz Hurkos, "está
mancando da pata traseira esquerda. O veterinário acha que é uma artrite, mas na
realidade é uma neurite. Ele será curado por uma espécie de choque." Dentro da caixa
não havia coleira, mas sim uma corrente. Por outro lado, o diagnóstico médico estava
exato e o cão, efetivamente, curou-se, depois que um carro o atropelou, aliás sem
machucá-Io.
Num outro caso, Hurkos viu que a dona do objeto apresentado iria desenvolver um
tumor, que ele cJesenhou exatamente, sobre uma das trompas de Falópio. O tumor só
surgiu seis meses após esta premonição e foi operado. Foi um caso de clarividência
premonitória.
A detecção telepática se faz muito bem sobre fotos. Esta era outra especialidade de
Hurkos. Foi-lhe mostrado um envelope contendo a foto de uma criança. Hurkos viu
que a criança seria atropelada por um ônibus amarelo, num cruzamento, numa
quarta-feira. Antes do cruzamento, ele descreveu o itinerário seguido pela criança: era
o que ela fazia para ir à escola. Os pais, justamente preocupados, que lhe haviam
levado a foto, pediram conselho a Hurkos. Este lhes disse para manter a criança em
casa às quartas-feiras, durante quatro semanas. Após este prazo, a criança voltou a
freqüentar a escola às quartas-feiras e, seis semanas após a sessão, foi atropelada, aliás
sem gravidade, no cruzamento indicado, por um grande carro de cor amarelo-
queimado.
O acidente foi admiravelmente previsto, apesar de alguns detalhes, como o tipo de
veículo e sua cor, embora o amarelo-queimado não deixe de ser um tipo de amarelo.
O escritor Julian Huxley trouxe outra foto, num envelope. Hurkos, então, descreveu
longamente uma senhora. Huxley o interrompeu e mostrou a foto, que era a de seu
neto. Hurkos refletiu e corrigiu-se: ele havia descrito, na verdade, não a foto do
envelope, mas a que se encontrava dentro da maleta de Huxley, na qual o sensitivo se
apoiara.
Eis, a seguir, um exemplo de verificação moderna da clarividência, realizada no
Instituto de Parapsicologia de Utrecht, em Gérard Croiset. Em 24 de fevereiro de 1961,
sob a direção do professor W. H. Tenhaeff e na presença de algumas dezenas de
membros da SPR, cada um dos assistentes colocou um objeto dentro de uma caixa com
vinte e quatro compartimentos. Enquanto os objetos eram colocados, Croiset
estava ausente. A caixa, posta sobre a mesa, foi coberta com um lenço e orientada
sucessivamente em várias direções, de modo a impossibilitar a localização dos
compartimentos. Croiset entrou na sala e, sentado a cinco metros de distância da
caixa, deu suas impressões sobre um dos objetos. Suas "impressões" foram registradas
num gravador. Em seguida ele foi autorizado a retirar o objeto da caixa: era uma
pulseira, colocada pela Srta. L. H., que nunca havia encontrado Croiset antes. A fita
gravada foi novamente ouvida, mas desta vez os comentários de Croiset foram seguidos
pelos da Srta. L. H., que haviam sido registrados num outro aparelho. Estas operações
foram observadas por Tenhaeff e pelo presidente da sessão, que era o comissário de
polícia. Constatou-se que a maior parte dos comentários do clarividente era exata. Ele
descreveu várias pessoas que tinham estado em contato com a Srta. L. H. e chegou até a
descrever um encontro que ela havia tido e que havia esquecido completamente.
Gérard Croiset tornou-se um especialista na localização de desaparecidos, sendo que a
polícia recorreu diversas vezes aos seus serviços. Foi assim que ele indicou que o corpo
de um garoto afogado seria encontrado numa barragem. Nada foi encontrado no
mesmo dia, nem no dia seguinte, mas, no terceiro dia, o corpo apareceu, como previsto.
Em outra ocasião, uma jovem de família rica desapareceu e temia-se um seqüestro.
Concentrando-se, ele declarou que a estava vendo, saindo de um cinema, sem
conseguir, no entanto, especificar o lugar. De fato, a moça, num impulso, decidiu ir
ver uma amiga em Nova York, e, no momento da sessão, realmente estava saindo de
um cinema.
Na França, Jean-Louis Crozier também especializou-se na localização de pessoas
desaparecidas. Em julho de 1988, sua lista de sucessos contava com cento e oitenta
corpos reencontrados. Ele trabalhava com o auxílio de uma varinha. *
A xenoglossia é O fato de se falar uma língua que não foi aprendida. Pode-se
distinguir a xenoglossia direta, na qual as letras escrevem-se sozinhas no papel, e a
xenoglossia indireta, na qual o médium escreve o que é ditado por um interlocutor
invisível ou então fala numa língua que desconhece. Por outro lado, quando a pessoa
permanece consciente e não se modifica, trata-se de uma lembrança, pois o
conhecimento de uma língua implica que ela foi aprendida em algum lugar, e a
explicação mais simples, se não a única válida, é a de que isto aconteceu durante
uma outra existência. Em outros casos, quando uma outra pessoa substitui a pessoa
normal, da mesma forma que numa troca de personalidade, isto pode ser atribuído à
lembrança de uma encarnação anterior ou então à intervenção passageira de um
espírito estrangeiro, ou seja, a uma possessão.
A xenoglossia direta assemelha-se, evidentemente, à escrita direta. O fato de que um
lápis possa escrever sozinho já é suficientemente extraordinário para que não cause
espanto caso escreva em chinês.
A glossolalia, na qual os sonâmbulos falam ou escrevem pseudolínguas inexistentes,
elaboradas por seu próprio inconsciente (caso do marciano de Hélene Smith, que foi
estudado por Flournoy) compete ao campo da psiquiatria e nada tem a ver com a
xenoglossia.
Assim como acontece com outros poderes mediúnicos, a xenoglossia pode ser
desencadeada como conseqüência de um choque. O Rheinischer Merkur, de Koblenz,
do dia 31 de maio de 1947, relata dois casos. O primeiro é o de um camponês
siciliano, abstêmio, que um dia embebedou-se na companhia de amigos. Ao acordar,
ele se pôs a falar grego, mas não o grego moderno e sim o grego clássico. E o homem, no
entanto, era absolutamente inculto. O segundo caso é o de Ihansi, uma garotinha que
caiu do terceiro andar. Ela não se machucou, mas começou a falar vários dialetos
hindus antigos, já desaparecidos.
A hipótese de que as recordações precisas de uma vida anterior possam explicar a
xenoglossia pôde ser demonstrada nos casos seguintes.
Este caso foi constatado por Melvyn Douglas no início de sua carreira cinematográfica.
O pequeno Robin emitia, inconscientemente, sons estranhos e incompreensíveis,
continuando a fazê-Io mesmo quando já falava melhor. Quando ele completou cinco
anos, uma amiga, adepta da reencarnação, pediu para verificar se não se tratava de
uma língua existente. Foi trazido um professor, especialista em línguas asiáticas, que
identificou, em parte, um dialeto falado ao norte do Tibete. A outra parte lhe era
desconhecida. Seguiu-se um estranho diálogo:
- Onde foi que você aprendeu?
- Na escola - disse a criança.
A mãe interveio:
- Robin, mas você nunca foi à escola!
- Fui, sim. Eu estive, antes.
O professor:
- Que escola era essa? Você se lembra?
Depois de refletir, Robin respondeu:
- Sim, eu me lembro: Era nas montanhas. Mas não naquelas onde nós vamos no verão.
A família passava as férias na montanha, e o professor continuou:
- Como era a escola? Era feita de pedra ou de madeira?
Esta pergunta poderia identificar a região. O menino assegurou que a escola era de
pedra. Quando lhe foi perguntado se os professores eram homens ou mulheres, ele disse
que eram homens, mas que usavam vestidos compridos com cintos de corda - monges
tibetanos. Ele também deu detalhes sobre a própria escola.
Extremamente perturbado, o professor fez uma viagem à provável região. Ele acabou
por encontrar a escola, na região de Kuen-Lun, cujo acesso não era proibido na época,
como era o do Tibete central.
O médico nova-iorquino Marshall W. McDuffie e sua mulher Wilgelmine tiveram
gêmeos, que falavam entre si uma língua totalmente desconhecida. O médico levou-os
à Universidade de Columbia, onde a língua não pôde ser identificada. Foi somente por
acaso que se descobriu tratar-se de... aramaico (I. Stevenson). O aramaico é uma língua
semítica, falada ainda hoje em certas regiões do Oriente Médio. No caso deles, assim
como no de Robin, trata-se, evidentemente, de uma reencarnação, cujas lembranças
podem comportar o uso da língua da vida passada do sensitivo. A pesquisa de
Stevenson conta com vários exemplos.
Este caso foi minuciosamente relatado pelo Dr. Nicolas Cervello, de Palermo, numa
brochura intitulada: Histoire d'un cas d'hystérie avec cérébration spontanée (Palermo,
1855).
Uma jovem de dezesseis anos foi tomada de graves crises histéricas, ao longo do ano de
1849, com fases de sonambulismo. No dia 13 de setembro" Ninfa falava com muita
facilidade e rapidez uma língua incompreensível. Supomos que fosse o grego, pois,
num transe, ela escreveu: "Estive em Atenas; vi esta amável cidade e as pessoas lá
falam como eu...”
No dia 14, ela não compreendia. o grego nem o italiano, mas falava exclusivamente o
francês, língua que conhecia com muita imperfeição. Quando lhe foi dito que ela
havia falado grego, ela se pôs a rir e disse que jamais havia aprendido o grego ou
qualquer outra língua que não a sua e que ela era uma parisiense, vivendo em
Palermo. Ela zombava de nosso sotaque e de nossa pronúncia...
No dia 15, ela falou durante muito tempo o inglês, língua que ignorava
completamente, com dois ingleses. Durante esta conversa, ela expressou sua surpresa
por tardarem a trazer-lhe seu chá. Ora, nunca se toma chá de manhã na Sicília!
Neste dia, sua voz estava quase apagada. Quando ficou tão fraca a ponto de precisar
exprimir-se por sinais, ela encontrou um meio engenhoso para fazer-se entender: ela
pedia um livro inglês, e, segurando-o, indicava com o dedo diferentes palavras, com-
pondo assim a frase que queria dizer. É importante salientar que este procedimento só
está ao alcance de uma pessoa que tenha um excelente conhecimento da língua!
No dia 16, ela anunciou ser nativa de Siena e descreveu minunciosamente as obras de
arte desta cidade. A pronúncia de Siena é muito bonita e harmoniosa, impossível de
ser adquirida sem que se tenha nascido lá... A moça permaneceu neste estado até o dia
18. Ela previu que sua paralisia desapareceria nesse dia, o que de fato aconteceu. O
mais curioso é que, à medida que a paralisia desaparecia, o toscano puro que a doente
falava aparecia no meio de uma frase em dialeto siciliano, sua língua materna. Mais
adiante, ela não se lembrava de nenhuma das línguas que havia falado durante a
crise.
Este caso foi integralmente relatado e discutido pelo Dr. F. Halm nos Annales des
sciences psychiques.
O caso Rosemary-Nona
21
EXTERIORIZAÇÃO DA SENSIBILIDADE
Trabalhos de De Rochas
22
POSSESSÃO
No sentido mais geral, a possessão seria a invasão da pessoa por uma entidade psíquica
que consegue imiscuir-se no funcionamento normal do espírito invadido, dominá-lo
em maior ou menor grau, subjugá-lo, ou, até mesmo, expulsá-lo completamente de seu
corpo. A pobreza dos nossos conhecimentos relativos à estrutura real de nossa mente,
bem como nossa ignorância quase completa no que diz respeito ao além, impedem-nos
de distinguir fenômenos atualmente confundidos sob uma denominação única, mas
que são, provavelmente, distintos.
O desdobramento da personalidade, descrito aqui, pode ser considerado como um caso,
perfeito, aliás, de possessão. Os fenômenos de poltergeist, também descritos aqui,
mostram uma atividade extracorpórea da possessão.
A possessão provisória é representada pelo médium, que, em estado de transe, assume a
personalidade de um morto. Isto não é válido, naturalmente, para os casos em que o
próprio inconsciente do médium se põe a representar um papel "teatral". Estão
descritos, mais adiante, vários casos que entram nesta categoria.
Incorporação
Designaram-se com este nome os casos, raríssimos, nos quais o espírito de uma pessoa
se encontra no corpo de outra, sem que se saiba para onde foi aquele que,
aparentemente, foi expulso. Eis um destes casos, contado pelo Dr. H. Larcher no no. 18
da Revue métapsychique:
Em Budapest, Iris F. adormeceu profundamente, após quinze dias de doença. No dia 5
de agosto de 1933, ela acordou, mas não reconheceu nenhuma das pessoas que lhe
eram próximas. Em vez de húngaro, ela só falava o alemão e o espanhol. Ela revelou
chamar-se Lucía Alterez de Salvio, disse que tinha catorze filhos e que seu marido,
Pedro de Salvio, era ferroviário. Todos eles moravam em Madri.
Depois desta transformação, ela se pôs a preparar pratos espanhóis e a fumar,
enquanto lris jamais havia fumado. Ela dançava e cantava canções espanholas.
As buscas em Madri não deram resultado, pois a família havia deixado a cidade
durante a guerra civil. No entanto, descobriu-se que Lucia havia morrido, esmagada
por um carro blindado ao tentar salvar seu filho mais novo. Isto ocorreu três meses
antes da curiosa doença de lris.
Apesar disso, Pedro foi encontrado muito mais tarde e foi ver IrisLucia. Ele ficou
estarrecido! Ela deu detalhes que somente os dois conheciam e o nome de seus catorze
filhos.
A incorporação foi tecnicamente dominada no Oriente, onde ela pode ser praticada à
vontade. Este é, por exemplo, o caso dos tulkus tibetanos. O caso seguinte, no qual a
magia certamente desempenhou um papel essencial, foi descrito por Christie-Murray
em Réincarnation - anciennes croyances et évidence moderne (Newton Abbot, Londres,
1981).
O chefe do monastério Ky-Rong acabara de morrer. Para substituí-lo, foi escolhido
um menino de oito anos, um tanto simplório, que foi colocado numa liteira, sobre os
joelhos do corpo embalsamado do morto, sendo ambos recobertos com um véu. Logo,
ouviu-se um grito e, arrancado o véu, o garoto surgiu declarando: "Eu sou o Lama Me
Thon Tsampo" . Com os olhos faiscando de uma luz insólita, ele se pôs a falar com
autoridade, discutindo os pontos da doutrina e profetizando. Ele reconheceu, bem
entendido, os objetos que lhe haviam pertencido.
Jasbir, três anos e meio, de Uttar Pradesh, morreu de varíola. Durante a noite, ele
ressuscitou. Depois de permanecer mudo durante vários dias, declarou que se chamava
Sotha Ram, que tinha vinte e dois anos e que havia morrido recentemente, batendo a
cabeça numa queda. Ele morava num vilarejo das proximidades.
Tendo pertencido à casta dos brâmanes, ele recusava todo alimento que não tivesse
sido preparado segundo as regras da casta. Acabouse por descobrir a família e a
criança reconheceu seus pais, assim como outros membros da comunidade. Preferindo
esta família à de Jasbir, ele acabou abandonando esta última e foi morar com a
família de Sotha Ram, ou seja, a sua. Quanto a Jasbir, ele foi, aparentemente,
expulso.
Entretanto, o caso poderia ser diferente do que parece. Talvez Jasbir estivesse
realmente morto, tendo seu espírito deixado o corpo, mas, estando este ainda
vegetativamente vivo, o espírito de Sotha Ram, que acabava de deixar o seu, poderia
ter aproveitado a disponibilidade oferecida para reencarnar-se imediatamente.
Tratar-se-ia, então, não de uma incorporação, mas de uma "ressurreição" com
substituição de espírito, ou melhor, de uma troca de espíritos no mesmo corpo.
lII. PODERES DA MENTE SOBRE SEU CORPO
23
OS ESTIGMAS
Estigmatização diabólica
Assim como para a infestação diabólica, que é uma forma de assombração, nós
conservamos o termo "diabólica" para designar uma forma particular de
estigmatização. A palavra não implica uma crença na existência do Grande Chifrudo,
inimigo de Deus e dos homens, mas foi usada por ser um termo cômodo. Sem contar
que a Igreja detém aqui a prioridade na denominação, como é de regra nas ciências.
Uma vez que, segundo a Igreja Católica, o Diabo tem um poder que se estende sobre o
nosso mundo, é natural pensar que ele possa enviar estigmas aos seus próprios eleitos.
Eleonora Zügun, nascida em 1913 na Romênia, manifestou fenômenos de poltergeist
em torno de 1925. O que estes fenômenos tinham de particular é que eles atacavam a
própria Eleonora. Ela foi estudada por Harry Price, que unia à qualidade de
parapsicólogo a de prestidigitador, assistido pelo Dr. Fielding Ould.
O espírito, ou o poltergeist, como preferirmos, deixava no corpo da menina arranhões
sangrentos, freqüentemente formados por onze traços paralelos. Ele também a mordia
nos braços: o sinal deixado mostrava a marca de seis dentes em cima e cinco em baixo,
mas o que ele tinha de particular é que também podia aplicar-se a uma superfície
plana, como no ombro, formando um círculo, como se a mandíbula estivesse com-
pletamente deslocada (à maneira dos peixes ciclóstomos).
Ela era também espetada por alfinetes que provinham da casa. Apresentava, inclusive,
dermografias. Foi assim que se viu surgir em seu braço a palavra DRACU, que, em
romeno, quer dizer diabo. Por que duvidar do autor, uma vez que o malefício está
assinado?
O que distinguia estas manifestações era seu caráter inesperado. Naturalmente, tudo
foi feito para eliminar a fraude, fosse ela consciente ou não. Os investigadores
cobriram o braço de Eleonora com uma gordura tingida ou com um pó fino, colorido e
adesivo, que deveriam ser encontrados depois na boca ou nas unhas da menina, caso
ela mesma provocasse os ferimentos. O resultado deste controle era sempre negativo.
Aliás, as marcas de garras foram vistas formando-se sob os olhos dos observadores. As
conclusões deste caso podem ser adotadas com reserva, no entanto as observações são
boas.
O caso teria uma explicação animista, segundo a qual o inconsciente de Eleonora
tinha tendências masoquistas. Não há por que espantarse: não é de nosso ego consciente
que dependem estas pulsões.
24
A INCOMBUSTIBILIDADE DO CORPO HUMANO.
A RESISTÊNCIA AO FOGO
Os fatos
Os anastenares gregos
As explicações
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RESISTÊNCIA ÀS AÇÕES MECÂNICAS
* Estrapade era o nome dado ao suplício no qual o condenado era pendurado por uma
corda e depois solto, caindo na água ou a alguns pés do solo. (N. da T.)
A prancha. Este singular remédio foi imaginado por uma jovem convulsionária que
sofria de inchaço. Observador atento, Montgeron havia registrado este inchaço. Para
aIiviá-lo, uma sólida prancha era colocada sobre a moça e os homens subiam nela,
tantos quantos coubessem na prancha. Os homens seguravam-se uns aos outros e alguns
apoiavam levemente um dos pés no chão. Foram contados, assim, mais de vinte homens
de uma vez, pesando, no total, mais de uma tonelada. Esta pressão servia para
desinchar a extática.
As convulsionárias de Saint-Médard
Os extraordinários fenômenos que ocorreram sobre a tumba do diácono jansenista
François Paris, no pequeno cemitério de Saint-Médard, em Paris, apresentam um
conjunto de fatos insólitos, de uma riqueza inigualada: vários capítulos deste livro
receberam aí confirmações múltiplas e incontestáveis. O cemitério, transformado desde
então no pequeno jardim público de Saint-Médard (no 5º. arrondissement), situava-
se, então, às portas de Paris. Os fenômenos duraram em torno de um ano e tiveram
uma publicidade sem igual, que a disputa que opunha os jansenistas à Igreja só fez
aumentar. Paris inteira lá desfilou, desde o povo mais simples até os grandes do reino,
com os doutores da Sorbonne, os médicos, os magistrados e os estrangeiros.
A bibliografia completa do caso das convulsionárias de SaintMédard, inclusive os
textos inéditos que ficaram em forma de manuscritos, ultrapassa trezentos números. As
monografias contemporâneas a respeito do assunto continuam a surgir, de tempos em
tempos. Ou seja, são poucos os casos tão bem documentados, tanto pelo número de
depoimentos quanto pela qualidade dos observadores.
Lembraremos apenas algumas datas:
- O diácono de Paris morreu no dia 1º. de maio de 1727, com trinta e sete anos.
- As convulsões e os milagres sobre seu túmulo tiveram início na primavera de 1731.
Foram seguidos de fenômenos semelhantes, por exemplo, em Troyes e em Corbeil.
- O cemitério foi fechado por ordem do rei a 27 de janeiro de 1732. As portas foram
muradas e guardas postados em frente. É exato que alguém foi escrever na porta o
conhecido dístico:
De parte Roi, défense à Dieu
De faire miracle en ce lieu. *
- O decreto real contra as convulsionárias data de 17 de fevereiro de 1733. Ele se
deve ao fato de que, embora estando proibidas as sessões abertas ao público, elas
continuaram a acontecer, entre quatro paredes, em casas particulares.
As convulsões
As curas milagrosas
Limitamo-nos a fazer um resumo dos casos mais notáveis:
- Dom Alfonso de Palacios, jovem nobre espanhol, tendo perdi do a visão em um dos
olhos e com o outro enfraquecendo cada vez mais, estava quase cego. Depois da
aplicação sobre o olho de um pedaço da camisa do beato e de uma visita ao túmulo do
diácono, ele ficou completamente curado. Os médicos, uma multidão de testemunhas e
vinte e dois padres de Paris atestaram o fato.
- A Srta. Thibault, com sessenta e cinco anos de idade, montruosamente hidrópica, *
com as articulações dos dedos da mão esquerda soldadas e o corpo coberto de
ulcerações e feridas purulentas, foi curada depois de ficar, por um quarto de hora,
deitada sobre o túmulo do beato. Montgeron cita in extenso os atestados dos médicos,
entre os quais os médicos do rei, os da corte e os cirurgiões dos hospitais, os dos padres
e também os dos incrédulos.
- Marie-Anne Couronneau, de sessenta e oito anos, criada, estava com o lado esquerdo
do corpo paralisado fazia um ano. Só conseguia deslocar-se com a ajuda de um
sistema de tiras de pano, amarradas à perna inerte e presas ao pescoço, com uma
muleta sob o braço direito (sadio); sacudindo o corpo, projetava o lado paralisado para
frente. Ela foi examinada pelo Dr. Boudou, primeiro cirurgião do Hôtel-Dieu,
sumidade de reputação mundial, o que garantia a realidade e a gravidade da afecção.
Depois de deitar-se sobre o mármore do diácono, ela sentiu-se percorrida por um
estremecimento e levantou-se, curada. Boudou examinou-a novamente, no mesmo dia.
A cura havia sido completa e definitiva.
- Marguerite-Françoise Duchêne estava, havia vários anos, reduzida a um estado
cadavérico: vivia deitada, com horríveis enxaquecas, vômitos de sangue, sufocamentos,
tumores inflamados, etc. Recobrou a saúde perfeita após várias visitas ao túmulo do
diácono. Montgeron dá inúmeras justificativas do caso.
- Philippe Sergent, cardador, era hemiplégico. Um dos lados de seu corpo estava
totalmente inerte e azulado. Em sua terceira visita ao túmulo do diácono ele foi
subitamente curado. O procurador-geral, que testemunhou o milagre, comoveu-se até
as lágrimas. Os depoimentos incluem todo o pessoal do hospital. Entre os que atestaram
o fato, encontra-se o tenente-geral da polícia.
A "comedora de detritos”
O Sr. Le Paige, famoso jurista parisiense que estudou esta moça durante muito tempo,
descreveu-a como uma jovem de boa família, muito cuidadosa com sua pessoa.
Ela se alimentava de excrementos e de urina. Ao que parece, suas refeições eram
preparadas com cuidado: as matérias eram às vezes diluídas e outras vezes fervidas.
Como regra geral, ela ingeria em torno de um litro por dia. Le Paige passou vinte e um
dias pesando suas rações. Depois destas três semanas, ela passou a acrescentar fuligem
de chaminé, resíduos de unhas, escarros e líquido menstrual, para variar as refeições.
É possível absorver dejetos sem ficar, obrigatoriamente, doente: foram vistos homens,
desesperadamente famintos, comendo carne podre, couro curtido ou terra. É possível
até mesmo acostumar-se (mitridatismo): os indígenas do norte da Sibéria consomem
carne de mamutes que estão congelados há, aproximadamente, vinte mil anos (o
célebre explorador russo Kozlof experimentou e ainda pôde ser salvo, mas escapou da
morte por pouco).
Entretanto, o que não combina com os nossos conhecimentos de fisiologia é ,o perfeito
estado de saúde da "comedora de detritos", que permanecia ativa e alegre. Ela dizia
que sua boca continuava fresca. E, além disso, o que permanece totalmente misterioso é
o fato de que, por várias vezes e diante de numerosas testemunhas, ela tenha vomitado
em torno de meio copo de leite fresco. Le Paige experimentou-o, levou-o para casa e o
observou: era, realmente, bom leite fresco...
Esta última proeza selou, definitivamente, a reputação de santidade da "comedora de
detritos". Este leite misterioso, em todo caso, não vinha de um estômago normal, onde
ele teria sido infalivelmente coalhado.
As "sugadoras”
Mencionamos mais um fenômeno, que talvez não seja milagroso: trata-se das
sugadoras, também chamadas "psilas* milagrosas". Eram mulheres que limpavam as
feridas chupando o pus. Como não existiam, naquela época, nem os antibióticos nem
os bactericidas à base de sulfa, os doentes que eram levados ao cemitério de Saint-
Médard encontravamse num estado difícil de imaginar. Só a descrição de Charlotte
Laporte, que, após elevar aos céus uma prece que lhe desse forças para suportar a
prova, mergulhava o rosto numa massa de podridão e a aspirava, engolindo tudo, já é
de virar o estômago.
Este procedimento era, certamente, eficaz, não se deve duvidar: durante a Primeira
Guerra Mundial, utilizavam-se, para curar feridas purulentas complicadas, larvas da
mosca da carne. Estas larvas preferiam as feridas à carne fresca. Eram criadas em
ambiente estéril.
Estranhamente, Charlotte Laporte nunca ficava doente.
Matthew Manning
O maior médium de cura do nosso tempo, Matthew Manning, nasceu em 1956. Ele é
pintor, médium, escritor e produz fenômenos de portergeists. Pratica também a
telepatia e a psicocinesia, consegue agir sobre os peixes e outros animais e pode
modificar fatores biológicos, tais como a taxa hemolítica do sangue. Ele foi estudado
nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e na Alemanha.
Sob um duplo controle, Manning conseguiu fazer com que suas ondas
eletroencefalográficas correspondessem às de um sujeito experimental. Ele também
destruiu células cancerosas, em vinte e sete casos em trinta. Estas experiências foram
realizadas em San Antonio, Texas, pelo Dr. Kmetz, que se recusou a publicar
resultados com porcentagens tão espantosas.
Homem culto, Manning foi Wa a índia para procurar um guru. Quando estava no
Himalaia, ele teve uma iluminação espiritual: percebeu que sua alma estava ligada a
tudo que o cercava e que este estado de consciência universal era, ao mesmo tempo,
como uma presença ao seu redor.
Como médium de cura, Manning possui duas capacidades: ele visualiza o mal e
canaliza energia externa para curá-lo. Ele imagina o órgão doente como se estivesse
com a cor vermelha no lugar afetado. Em seguida, ele "imagina" - mas esta
"imaginação" só deve ser uma contrapartida do que se passa na realidade ao nível dos
órgãos ou dos tecidos - mergulhar com a mão, na parte doente, uma enorme esponja
que absorve a cor vermelha. Esta esponja, então, é retirada e espremida, até ficar
limpa. Se necessário, ele recomeça, até retirar completamente a cor vermelha. Durante
esta operação, tanto Manning quanto o doente têm uma sensação de calor e de
formigamento. Algumas vezes, o doente sente leves choques e sensações de extirpação.
Manning registra 95% de sucessos. Às vezes a cura é extremamente rápida, como a de
Friedrich Landenberger, em Freiburg, que não conseguia mais mover os braços devido
a uma osteoartrite e que, durante uma sessão pública, recuperou a mobilidade
completa em alguns minutos.
De acordo com Manning, que é tão culto quanto expert em matéria de curas, os males
atuais de nossos contemporâneos provêm da perda de contato com as grandes energias
do Cosmo. O que o médium de cura faz é restabelecer esta harmonia perturbada ou
perdida. Este é um mecanismo que convém não afastar das explicações propostas.
Manning tem uma clínica (39 Abbeygate Street, Bury St. Edmunds, Suffolk IP33 1LW).
Setenta e cinco por cento de seus clientes são tratados de câncer. Ele atua pela
destruição seletiva das células cancerosas.
Manning pode também torcer colheres, tanto quanto Uri Geller, mas, como ele disse,
quando a noite chega e ele se vê diante de um monte de colheres que nem mesmo
podem ser usadas, para que serve isso?
Curas instantâneas
Certas curas podem realizar-se num tempo muito breve, ou seja, instantaneamente.
Tratando-se de um fenômeno tão pouco compatível com o desenvolvimento normal dos
processos fisiológicos e, principalmente, tão rápido, os depoimentos antigos devem ser
olhados com cautela.
Philippe de Lyon era um destes médiuns de cura excepcionais, capazes de realizar o
que se parece com os clássicos milagres. Certo dia, ele passeava pelo campo com alguns
amigos, quando viu, sentado diante de uma casinha, um camponês visivelmente
doente. Philippe fez parar o veículo, desceu e interrogou-o: o homem disse que, havia
anos, tinha os "rins quebrados" e não conseguia fazer qualquer esforço. Philippe lhe
pediu, então, gentilmente, para levantar uma pedra que havia ali e que deveria pesar
em torno de 50 quilos. O homem se pôs a rir diante do pedido absurdo, mas Philippe
continuou insistindo tanto ("Tente, apenas, isso me agradaria tanto") que o camponês,
afinal, levantou-se, inclinou-se e ergueu a pedra sem esforço, ficando petrificado de
surpresa. Sua cura foi fulminante e definitiva.
No hospital, sob controle médico, Philippe trabalhava no serviço de seu amigo, o Dr.
Encausse, ocultista, conhecido pelo nome de Papus. Ele conseguiu transformar,
imediatamente, uma hidrópica à beira da morte numa pessoa esbelta e curada. O
caráter quase milagroso desta cura esconde, no entanto, uma dúvida imensa: onde foi
parar a água do edema? Seja como for, uma comissão médica assistiu ao milagre e
assinou a respectiva ata, com exceção de seu presidente, o professor Brouardel, que se
recusou sob o pretexto de que ele "não havia compreendido o que se passava diante de
seus olhos". Aí está um terceiro milagre: ao ver seus princípios serem pisoteados, um
professor universitário, de mente saudável, adota repentinamente um comportamento
psicótico.
Neste mesmo serviço, uma criança raquítica de dezoito meses, com as tíbias em arco,
que não conseguia ficar em pé, foi curada em dez segundos, diante dos médicos e de
outras testemunhas. Encontraremos outros exemplos da atividade paramédica de
Philippe de Lyon no trabalho do Dr. Philippe Encausse (filho de Papus). Nós não
estudaremos aqui, em geral, os médiuns de cura que são conhecidos e estão
organizados (na França: GNOMA = Groupement national pour l'organisation des
médecines auxiliaires), nem as organizações (Christian Science, etc.) e nem os locais
famosos do tipo de Lourdes, sobre os quais existe uma imensa literatura, por vezes
crítica (padre Thurston, Aimé Michel).
É necessário acrescentar uma observação sobre Lourdes, que é objeto de controvérsias
anticlericais. A comissão oficial encarregada de constatar os milagres é aberta a
qualquer médico, desde que apresente seu diploma, sem levar em consideração as suas
opiniões. Por outro lado, a realidade das curas foi constatada por médicos
absolutamente anticlericais. A comunicação segue regras cuja severidade aumenta
cada vez mais. O total de curas milagrosas registradas desde 1858 é de apro-
ximadamente setenta e cinco. Na realidade, o exame objetivo dos fatos mostra que
ocorre, em Lourdes, pelo menos uma cura milagrosa por mês.
É preciso saber ainda, para não imitar uma crítica fácil demais, que vários antigos
casos famosos jamais seriam admitidos atualmente; no entanto, ainda são citados,
embora não satisfaçam às regras fundamentais que definem uma cura milagrosa.
Assim é nos casos Gargam e Dribault: a paralisia do primeiro era evidentemente de
natureza psicossomática (se não simulada); a cura da Sra. Dribault só foi parcial, pois
ela curou-se do mal de Pott, mas morreu de tuberculose pulmonar.
27
CIRURGIA COM AS MÃOS NUAS
(Cirurgia psíquica)
Os controles
George Meek empreendeu uma série de controles, entre 1973 e 1975, nas Filipinas e
no Brasil. Para prevenir-se contra todas as objeções possíveis, a equipe de controle
compreendia um pessoal médico, composto de cirurgiões, biologistas, químicos e
psiquiatras, bem como hipnotizadores, parapsicólogos e prestidigitadores. Foi trazido
um sofisticado equipamento, com um completo laboratório de análises químicas e
biológicas, raios-X, microscópio eletrônico, etc. Os pacientes que seriam operados
apresentavam afecções variadas, que haviam sido bem estudadas anteriormente.
Acrescentamos que, muitas vezes, o cirurgião psíquico operou com sucesso casos
considerados como desesperadores pela medicina clássica.
A comparação entre as duas colunas leva, irresistivelmente, à conclusão de que, se
você precisar ser operado e tiver a felicidade de poder fazê-Io através de um cirurgião
psíquico, será um erro não aproveitar tal oportunidade.
Voltemos à equipe de Meek. Um de seus membros, Donald Westerbeke, bioquímico em
San Francisco, vendo os espetaculares resultados de Agpao, pediu para ser tratado. Ele
havia perdido um olho, como conseqüência de um tumor no cérebro, considerado
inoperável nos Estados Unidos. Tony Agpao curou-o completamente em duas sessões:
não restou qualquer traço do tumor.
Eis um outro caso, de um doente levado pela mesma equipe. Olga Farhit, de Los
Angeles, apresentava uma paralisia, decorrente da destruição da medula óssea, que
abrangia a cabeça e as costas. Agpao extirpou do local "uma enorme massa de
cartilagem e de sangue" e a paralisia desapareceu, como por encanto. Ao retornar, ela
foi ao hospital, onde o cirurgião declarou: "Eu não compreendo nada. Tudo foi limpo"
.
Tony Valentine, jornalista de Chicago encarregado de prestar contas do trabalho da
equipe de Meek, concluiu que não havia truque, nem sugestão hipnótica, nem
mistificação, nem milagre. Os procedimentos simplesmente funcionam, e isso é tudo.
A equipe de Meek concluiu: há, nos casos das operações psíquicas, uma
desmaterialização orgânica que a ciência não saberia explicar, mas de cuja existência
não se pode duvidar.
Sigrun Seutemann observou mais de seis mil operações. Suas conclusões são
extremamente curiosas, pois, sem negar a indiscutível realidade das intervenções, ele
afirma que se passa alguma coisa diferente daquilo que se pode observar, ou melhor,
que a natureza das cirurgias psíquicas é muito mais misteriosa do que parece.
Segundo ele, o corpo só é cortado raramente, pelos mais dotados, como Agpao, por
exemplo. O tecido conjuntivo que se materializa na superfície revela-se, em 98% dos
casos, não humano.
Penetramos aqui num mistério muito mais extraordinário do que o fato de fazer uma
incisão nos tecidos com as mãos nuas. Estes resultados foram confirmados, no que
compete a cada um, por Lyall Watson e por G. Meek.
O parapsicólogo tcheco Andrija Puharich, estabelecido nos Estados Unidos, estudou o
mais hábil e o mais rápido dos médicos psíquicos, Arigó. Sua equipe compreendia dez
médicos e oito cientistas de diversas áreas (biologistas, químicos, etc.). Eles observaram
e controlaram mil diagnósticos feitos por Arigó. O diagnóstico era sempre instantâneo.
(1) Arigó prescrevia, então, o tratamento, que podia compreender até quinze
medicamentos, as indicações do laboratório, as quantidades e as doses.
Os cirurgiões do além
A técnica dos cirurgiões psíquicos pode ser explicada admitindo-se certas noções, como
a vidência, juntamente com a psicocinesia. Mas, num certo limite, encontramos certos
casos onde a intervenção das entidades do além parece se impor. Nós já pudemos
observar esta mesma progressão no caso das assombrações: primeiro, um inconsciente
exteriorizado, com emissor facilmente detectável; depois, casos duvidosos; e,
finalmente, a atividade, por vezes humana e por vezes não humana, mas que atua,
certamente, a partir de um outro plano de existência (Bird Cage).
Caso Northage-Reynolds
O médium Isa Northage operava não somente em estado de transe, como muitos outros
cirurgiões psíquicos, mas na presença de um médicoespírito chamado Reynolds. Existe
um relato oficial, assinado por um médico militar, o capitão G. S. M. Insall, que
observou duas operações de hérnia. O capitão havia verificado anteriormente todo o
material, assim como as saídas da capela, que foi construída especialmente para Isa.
Ele também foi autorizado a controlar todos os assistentes do médico e todas as pessoas
presentes.
Inicialmente, Reynolds deu suas instruções oralmente, e, em seguida, apareceu. O
médium encontrava-se em estado de transe profundo. O espírito-cirurgião -
evidentemente materializado - limpou, com o auxílio de pinças e chumaços de
algodão, a região umbilical, para mergulhar aí a mão e depois limpar de novo. O
próprio capitão servia-lhe de assistente, passando os instrumentos, recolhendo os
tampões, etc.
A explicação mais simples dos fatos seria a de que o médium, em estado de transe,
teria saído em "viagem astral", passando a operar, em seguida, após uma
materialização conveniente. Sob esta forma, ele disporia, evidentemente, dos
conhecimentos e das capacidades análogas às dos cirurgiões psíquicos. Entretanto, é
preciso lembrar que estes últimos afirmam ser dirigidos por um médico do além. Em
certos casos, este operador, naturalmente falecido (para nós...), pôde ser reencontrado.
Em outros casos, embora todas as informações tenham sido fornecidas com precisão,
não se conseguiu encontrar qualquer sinal, como, por exemplo, no caso do "Doutor
Fritz", de Arigó.
Então, o inconsciente dirige, seja seu próprio corpo material, seja um outro,
exteriorizado e rematerializado. Ou então, uma entidade do além dirige o cirurgião
psíquico, em estado de transe necessário à comunicação, ou vem operar pessoalmente,
fabricando para si mesmo (com a ajuda do médium) um corpo provisório. Entretanto,
nada permite afirmar que todos estes casos tenham uma explicação única.
Observou-se Arigó operar com um espírito invisível, o do Dr. Fritz, cirurgião alemão
que foi morto na Primeira Guerra Mundial. As testemunhas foram o Dr. Ary Lex,
professor da Universidade de São Paulo, membro da Academia de Medicina, o Dr.
Oswaldo Conrado, diretor do Hospital das Clínicas, o Dr. Leite de Castro e o Dr.
Ladeira Marques, ambos do Rio de Janeiro. A descrição que segue abaixo é deste
último:
"A paciente estava deitada sobre uma velha porta. As tesouras, os escalpelos, uma faca
de cozinha e uma pinça hemostática encontravamse numa lata de conservas vazia.
Com a ajuda do espéculo, Arigó introduziu bruscamente, violentamente, na vagina da
mulher, três pares de tesouras e dois escalpelos. Ele segurava uma das hastes da tesoura
e todos nós vimos a outra haste mover-se, abrindo e fechando a tesoura. Não podíamos
ver se o mesmo acontecia com os outros instrumentos, mas ouvíamos nitidamente o
choque de metal contra metal e o som característico dos tecidos sendo cortados. Após
alguns minutos, Arigó retirou as tesouras, e, ao ver o sangue que saía, parou e disse:
'Que não haja mais sangue, Senhor'. A operação prosseguiu, sem hemorragias ul-
teriores. Arigó retirou o tumor que havia extirpado do ventre da jovem mulher, a qual
permanecia consciente, e fechou as bordas da incisão, pressionando-as, uma contra a
outra. Toda a operação levou apenas alguns minutos.”
Diante de uma descrição como esta, discutir as teorias é perda de tempo. Como sempre,
os detratores apegam-se a algum detalhe que poderia, esperam, dar-Ihes razão. Eles
não vêem o mais interessante. Se, sob seus olhos, Jesus ressuscitasse um cadáver, eles
tentariam apagar o fato, uma vez que Jesus não tem diploma, enquanto eles, sim.
Um Instituto de Estudos Fritzianos foi fundado e funciona atualmente para estudar as
relações que se podem manter com o além.
Este título lembra a célebre dupla Dr. Jekyll e Sr. Hide, nascida de um
desdobramento. Bem mais extraordinária, a dupla Chapman-Lang era composta de
um vivo e de um morto, mas, ao contrário da outra dupla, esta era bem real.
Aos quarenta e cinco anos, Chapman teve a revelação de seu dom de cura num centro
espírita onde entrava em transe. O espírito que se manifestou através dele declarou ser
o Dr. William Lang, que fora cirurgião no Hospital de Middlessex, de Londres, entre
1880 e 1914. Contrariamente a vários médicos do além, dos quais não se encontraram
pistas na ocasião das verificações, a existência do Dr. Lang foi confirmada por seus
amigos. A neta de Lang, Sra. Susan Fairtlough, mostrou-se, de início, nitidamente
hostil aos apelos que lhe foram feitos. Depois, ao ouvir Chapman tomar a voz de Lang,
ou, se preferirmos, Lang falar por intermédio de Chapman, ela ficou horrorizada e,
finalmente, completamente atônita. O espírito revelou-lhe detalhes de sua infância
que ninguém podia conhecer. A Sra. Fairtlough respondia: "Sim, vovô... Não, vovô".
A questão da identidade de Lang-Chapman é, na realidade, de pouca importância.
Quando em estado de transe, Chapman curava, e, neste aspecto, igualava-se aos
maiores médiuns de cura.
Chapman agia diretamente sobre o corpo astral. Operava com ajuda de instrumentos
invisíveis e auxiliado por uma equipe de cirurgiões igualmente invisíveis, entre os
quais seu próprio filho Basil, que fora médico em vida.
Chapman jamais prometia, mas promovia melhoras, sempre. No entanto, seus maiores
êxitos são realmente extraordinários e ultrapassam todas as possibilidades da
medicina clássica. Eis o exemplo de Joseph Tanguy, um francês que se dirigiu a ele,
em 1974, com um tumor inoperável no cérebro e poucos meses de vida. Após três meses
de tratamento feito por Chapman, o tumor foi completamente reabsorvido e a cura
confirmada pelos exames.
Numerosos médicos franceses garantiram os diagnósticos de Chapman e a eficácia de
seus tratamentos. Eles lhe enviavam os casos difíceis. Seus diagnósticos eram feitos logo
à primeira vista. Ele possibilitou a cura de um tumor maligno no cérebro após um
ano de tratamento. Uma criança de sete anos, paralítica desde o nascimento, recuperou
o uso dos membros em uma sessão. No caso de uma artrite muito avançada nos
quadris, ele fez com que desaparecessem as dores. Conseguiu também dissolver cálculos
renais e da vesícula.
28
CURAS MILAGROSAS
"Um milagre não ocorre em contradição com a natureza e sim com aquilo que nós
conhecemos da natureza" (Santo Agostinho). Esta referência é uma excelente base de
discussão entre parapsicólogos e teólogos.
Eis um milagre realizado pelo padre Pio, do mosteiro de San Giovanni Rotondo, na
Apulia. Este capuchinho estigmatizado morreu em 1967. Este milagre é, portanto,
moderno, tendo sido controlado pelo Instituto de Parapsicologia de Freiburg. Trata-se
de uma cura a distância.
Em 1950, um artesão italiano, de Viareggio, ao erguer um objeto pesado demais,
desabou no chão. Desde então, passou a usar um colete de gesso e suas pernas ficaram
paralisadas.
Na véspera do dia da atta di presenza ( o não-comparecimento levaria à supressão de
seu abono familiar), por insistência de sua mulher, crente, ele examinou a fotografia
do padre Pio num livro que lhe era dedicado. Sendo ele mesmo um incrédulo, disse,
então, zombando: "Se você já conseguiu fazer tantos milagres, então faça um para
mim". No mesmo instante, viu um capuchinho que entrou e lhe disse: "Levante-se,
pois você está curado" . A imagem desapareceu, deixando um perfume de lírios. Sua
mulher nada viu. Então... ele se levantou: estava, efetivamente, curado e sua cura
havia sido definitiva.
Certos milagres antigos soam como autênticos e são atestados por testemunhas. Sabe-se
que a fé pode provocar milagres. Eis um deles, duplo aliás, tal qual foi relatado por
Tácito.
No ano 60 da Era Cristã, o imperador Vespasiano, ao passar por Alexandria, no Egito,
foi abordado na rua por um homem que, de joelhos, implorou-lhe que curasse sua
cegueira cuspindo em seus olhos.
- Por que me pedes tal coisa?" - perguntou o imperador Dirige-te aos médicos.
- Não, foi o deus Serapis quem ordenou que me dirigisse a vós - respondeu o cego.
Vespasiano, homem corpulento, de origem camponesa, que soube evitar a decomposição
do Império e encher os cofres do Tesouro, esvaziados por seus predecessores, era bem o
contrário de um taumaturgo, mas era um homem prático. Ele começou a rir e depois
recusou, dizendo que, sendo um simples mortal, não poderia realizar tais milagres.
Nisso, veio juntar-se ao cego um homem com os braços paralisados,enviado ao
imperador para sua cura pelo mesmo Serapis. Este homem pediu ao imperador que o
"pisoteasse com seu pé imperial".
O imperador, por fim, cedeu: cuspiu no rosto do cego e pisoteou energicamente o
paralítico. Então, diante de uma grande multidão, o duplo milagre aconteceu: as mãos
do paralítico reencontraram seu vigor e o cego pôde ver a luz do dia. O prodígio foi
amplamente conhecido e descrito nas crônicas. Apenas os cristãos recusaram-se a
acreditar. Eles não podiam admitir que os milagres fossem realizados por um pagão,
um pecador e, além disso, um de seus perseguidores. Este milagre não apresentava
carimbo de autenticação!
Existem vários estudos científicos das curas milagrosas: Goddard estudou as curas da
Ciência Cristã (Christian Science) em 1899 e o psiquiatra inglês L. Rose estudou
noventa e cinco casos de doentes, sendo a maior parte tratada a distância pelos
médiuns de cura (1955).
Há dois estudos dos casos antropológicos de curas paranormais: o de Kurt Trampler
(1963), de duzentos e quarenta e sete casos, e o de Finckler (1980-81). Todavia, estes
estudos não são críticos. Turner, em 1969, utilizou a fotografia Kirlian, obtendo
imagens extraordinárias de pacientes tratados pelos médiuns de cura e,
simultaneamente, dos médiuns enquanto tratavam. Ele trabalhou com doentes e
também com animais e flores. Seu manuscrito ainda não havia sido publicado em
1986.
A comissão Muntendam (Países Baixos, 1981) estudou os médiuns de cura. Sua
conclusão foi de que os mesmos exercem uma ação indiscutivelmente benéfica para a
sociedade. Não era o objetivo desta comissão pronunciar-se sobre a eficácia dos
tratamentos, no entanto ela observou a preocupação dos médicos diante do sempre
crescente sucesso das medicinas paralelas.
O que foi observado, diversas vezes, pelos diferentes pesquisadores é que o fato de "crer"
ou o de "não crer" não parece influenciar, de modo algum, as chances de sucesso das
terapêuticas mentais, o que elimina a explicação pela sugestão e auto-sugestão.
Estudos experimentais prosseguiram desde 1965. Verificou-se a atuação sobre as
enzimas, as bactérias, as células cancerosas. Algumas séries de estudos mostraram-se
inteiramente negativas, enquanto outras deram resultados absolutamente positivos.
Redher, médico praticante da Alemanha, tratou, sem que eles soubessem, através de
um conhecido médium de cura, três pacientes abandonados pela medicina clássica
(1955). Suas doenças eram, respectivamente: uma inflamação crônica da vesícula
biliar, com presença de cálculos, complicações devido a uma grave intervenção
abdominal e câncer generalizado, sendo que este último estava à beira da morte.
O tratamento dos doentes, feito sem que eles soubessem disso, não resultou em nenhum
efeito. Então, Redher falou-Ihes do maravilhoso médium de cura e fez nascer nos
doentes a esperança de um verdadeiro alívio para os seus males. Anunciou, enfim,
que, no dia seguinte, o mé dium os trataria a distância, numa determinada hora. No
momento in dicado, ocorreu um alívio rápido e espetacular dos sintomas: os
doentes curaram-se e retomaram uma vida normal.
Extremamente notável é o fato de que, no momento da famosa sessão, o médium não
estava trabalhando. Aparentemente, os doentes foram curados porque acreditavam
nisso.
Não se pode, todavia, excluir a possibilidade de um efeito retarda do ou da influência
do desejo do médium de curar. Os médicos clássicos não admitem tais explicações, mas,
sobre este assunto, suas opiniões só poderão ser levadas em consideração quando eles
tiverem formulado uma teoria válida sobre a cura milagrosa.
É fato conhecido de todos os práticos, há muito tempo, que a esperança do doente
desempenha um papel essencial na sua cura - basta que nos lembremos das palavras
de Jesus dirigindo-se a uma mulher que havia sido curada de suas hemorragias,
quando esta veio tocar a fímbria de sua túnica sem que ele visse: "Vai, tua fé te
curou". No entanto, o que é mais estranho é o papel desempenhado pelo que o
médico espera do tratamento, mesmo quando esta esperança não corresponde à eficácia
do tratamento administrado.
Em 1941, Le Roy tratava pacientes com angina à base de aminofilina, e, para
assegurar-se da realidade de seu efeito curativo, administrou placebos a alguns deles.
A aminofilina mostrou-se eficaz, embora, mais tarde, tenha se revelado totalmente
inativa nesses casos. Como única causa eficiente para este sucesso, só podemos ver a
esperança - injustificada - de Le Roy.
Esta influência do médico vem sendo estudada desde 1956. Toone (1973) cita
pesquisas que confirmam este fato. Três médicos foram encarregados de testar o efeito
da vitamina E no tratamento da angina do peito. Um dos médicos acreditava na sua
eficácia e os outros dois, não. Estes últimos constataram que o efeito do medicamento
foi nulo, enquanto, para o primeiro, o resultado foi positivo. Esta experiência foi
repetida diversas vezes, duplamente às cegas, o que eliminava a ação direta sobre o
doente. Uma vez que o médico ignorava a quais doentes o medicamento seria
administrado, isto significa que sua influência mental era orientada, sem que
soubesse, por uma vidência inconsciente.
A influência da esperança do doente explica-se por um efeito de autosugestão, mas as
experiências mencionadas eliminam esta explicação. Tudo se passa como se a
esperança do médico adquirisse uma existência material autônoma e passasse a agir
eficazmente, sem que o seu criador soubesse. Esta forma de ação não se insere,
aparentemente, em nenhum dos esquemas clássicos conhecidos.
Citamos ainda o efeito do Meprobamato, tranqüilizante leve, estudado por Uhlenthut,
Cantor, Neustadt e Payon (1959). Alguns dos que o prescreviam eram circunspectos e
outros, entusiastas (atitude taumatúrgica). Ignoravam quais pacientes receberiam o
produto, pois estes eram sorteados. Os pacientes, por outro lado, não faziam a menor
idéia de que estavam participando de uma experiência.
O Meprobamato mostrou-se eficaz unicamente para aqueles que esperavam seu efeito.
Nos céticos, não se constatou qualquer diferença em relação ao placebo.
Este trabalho foi confirmado, em grande escala, através de uma experiência feita
simultaneamente em três centros de atendimento psiquiátrico, em 1966 (Uhlenhut et
al.). O que o terapeuta espera do tratamento, portanto, exerce um efeito poderoso, a
despeito do procedimento às cegas. Confirmou-se, pois, cientificamente, a boutade
paradoxal do grande médico que dizia: "Apresse-se a utilizar este remédio, enquanto
ele ainda faz efeito".
Dando mais um passo na eliminação dos fatores psíquicos possíveis, Solfvin (1982)
conseguiu demonstrar que uma simples espera passiva seria suficiente para assegurar
um efeito positivo.
Ele recrutou um certo número de estudantes de Veterinária e explicou-Ihes que iriam
participar de um estudo-piloto sobre a "eficácia das terapêuticas mentais sobre
camundongos contaminados". Resultados notáveis e perfeitamente confiáveis, segundo
ele, teriam sido obtidos anteriormente. Ele necessitava de pessoas sem idéias
preconcebidas, para garantir os cuidados necessários aos camundongos. Cada estudante
recebeu, então, uma gaiola com doze camundongos bem marcados, dos quais deveria
cuidar. Entre os doze camundongos, seis haviam sido contaminados por uma cultura
concentrada de Babesia rhodaini, parasita causador da babesiose, enquanto os outros
seis serviam de controle, tendo recebido apenas uma dose muito fraca dos parasitas,
incapaz de levar ao desenvolvimento dos sintomas durante a experiência. O
tratamento deveria ser administrado mentalmente, à metade dos animais de cada
grupo, sem especificar qual metade seria. Cada estudante deveria pesar diariamente os
camundongos e fazer um relatório sobre o comportamento observado nos mesmos.
Na realidade, nenhum médium de cura colaborou nas experiências. Além disso, todos
os sujeitos haviam recebido a mesma dose de hematozoários. Os próprios estudantes,
sem saber, eram, na verdade, o objeto desse estudo. A variável dependente era
representada pela porcentagem de glóbulos vermelhos destruidos após um período de
incubação de nove dias. As contagens dos glóbulos eram feitas por um labor~tório cujo
pessoal ignorava totalmente a experiência em questão.
Apesar de uma grande dispersão dos resultados, o efeito foi nitido e significativo: os
camundongos supostamente contaminados tiveram sua taxa de eritrócitos mais
fortemente diminuída.
Os estudantes não sabiam quais os animais que seriam (supostamente) tratados e quais
não o seriam. Este foi um procedimento semelhante ao procedimento "duplamente às
cegas". Ora, o efeito de cura mostrouse estatisticamente significativo, com vantagem
para os animais que os estudantes acreditavam estar sendo tratados.
O resultado mais notável do trabalho de Solfvin foi o de salientar a incapacidade das
técnicas de procedimentos "duplamente às cegas” para eliminar as causas de confusão
e os fatores não específicos que venham falsear os resultados das pesquisas sobre as
terapêuticas mentais. Mesmo operando com o "duplamente às cegas", como o fez
Solfvin, surgem fatores que não são devidos a qualquer terapêutica mental. Os
resultados obtidos são semelhantes ao efeito placebo.
Isto não significa que os tratamentos sejam ineficazes, mas, simplesmente, que os efeitos
específicos de um tratamento não podem ser distinguidos dos efeitos não específicos.
29
PERSONALIDADES DISSOCIADAS
* Aliás, foi feito um excelente filme com esse caso, denominado Sybil, com Sally Field
como a paciente e Joanne Woodward como a psicanalista. Esta já havia protagonizado
outro filme, com o mesmo tema, As Três Faces de Eva. É a história real de uma jovem
de dupla personalidade: uma, tímida retraída, sem graça, contida; a outra, vulgar,
libertina. A personalidade "normal" não sabia da segunda (que aparecia durante um
"sono" da primeira), mas a libertina sabia da outra, de quem não gostava. Aos poucos,
com o tratamento, começa a nascer uma terceira personalidade que foi crescendo e
integrando os dois outros aspectos. Com a integração, conseguiu equilibrar-se, tornar-
se forte, segura de si mesma e verdadeiramente normal. (N. do E.)
O caso de Sibyl não constitui, entretanto, o recorde desta assustadora afecção muito
parecida com a antiga possessão demoníaca. No caso de Billy Mullighan, o número
destes personagens era de vinte e quatro. Infelizmente para Billy, entre eles havia um
"durão" chamado Ragen, que cometeu delitos. (Ele falava com um sotaque iugoslavo.)
O corpo de Mullighan, animado por Ragen, foi julgado irresponsável pela justiça, o
que significou uma bela vitória para a defesa, que conseguiu fazer com que os juízes
admitissem este singular caso de demência. Mas a administração penitenciária não
permitiu um tratamento, que poderia prolongar-se por vários anos. Assim, Billy ficará
na prisão pelo resto da vida. Observamos ainda que outro dos vinte e quatro
personagens escreveu ao Dr. Keyes, especialista que havia cuidado de Billy, uma carta
em árabe, língua que Billy não conhecia. Talvez este caso fosse apenas o de uma
personalidade dissociada, mas onde foi que Billy, dissociado ou não, aprendeu o
árabe? Ou, mais exatamente: quem aprendeu, quem conhecia o árabe tão bem a ponto
de escrever nesta língua? Por esquanto, só se pode ver uma resposta: aos fragmentos da
personalidade dissociada de Billy, vieram enxertar-se (unir-se? introduzir-se?
associar-se?) entidades independentes, entre as quais, uma falava árabe (em vida,
suponho) e outra o sérvio. Demônios, se assim o desejarem...
Todavia, se compararmos este caso aos fenômenos de xenoglossia, eis que emerge uma
outra solução, verossímil, pois apela apenas a um mínimo de hipóteses. Nas
encarnações precedentes, Billy poderia ter sido árabe e iugoslavo. Mais uma vez, os
demônios se revelariam ser apenas... nós mesmos.
Esta americana, que se tornaria célebre como inedíaca e vidente, nasceu no Brooklyn,
em 1848. Desde a infância, ela tinha dificuldades para ingerir alimentos. Para
combater esta inapetência, o médico prescreveu-lhe a equitação. Em 1865, ela caiu
do cavalo e bateu a sua cabeça na beira da calçada. No ano seguinte, ao descer do
bonde, seu saiote ficou preso no vagão e ela foi arrastada por vários metros. Estes dois
acidentes deixaram-na inválida e acamada. Suas pernas, dobradas sob seu corpo,
atrofiaram-se. Ela foi atingida por desordens nervosas e cegueira. Além disso, durante
longos anos ela não ingeriu quase nenhum alimento.
Foi neste estado que ela desenvolveu uma série de estranhas faculdades, as quais, em
vez de deixá-Ia num estado vegetativo, permitiramlhe levar uma vida ativa, das mais
extraordinárias.
Seu braço direito, dobrado sobre sua cabeça, estava quase completamente paralisado,
com exceção do polegar e do indicador. Levando o braço esquerdo à mesma posição,
Mollie podia trabalhar, sem ver, naturalmente, o que estava fazendo. Aliás, ela estava
cega! Suas faculdades de clarividência desenvolveram-se a ponto de suprir totalmente
a visão normal. Era desta forma que ela trabalhava, confeccionando flores artificiais
de cera colorida. Era um trabalho delicado e ela escolhia as nuances das cores com
precisão infalível. Em nove anos, ela utilizou 2.835 quilos de cera.
Ela trabalhou também com lã. Durante este período, escreveu aproximadamente seis
mil e quinhentas cartas, ou seja, duas por dia. Para escrever, ela segurava o lápis com
o punho esquerdo fechado.
Mollie lia as cartas sem precisar abri-Ias e lia os livros apenas passando a mão sobre
suas páginas. Podia também falar de acontecimentos que se passavam em outras
cidades, mesmo afastadas.
Ela nunca dormia. Jamais manifestara interesse pelo espiritismo, que não via com
especial simpatia. Era crente. Entre seus amigos, havia pastores presbiterianos e
batistas.
Foi também um caso de múltipla personalidade, com cinco personagens diferentes, que
só se manifestavam à noite. Suas aparições eram anunciadas por violentas convulsões e
um estado de transe, freqüentemente com catalepsia. Estes personagens sucediam-se
desordenadamente.
A melhor fonte de informações sobre Mollie Fancher é o livro do juiz Abram H.
Dailey. É uma obra confusa, mas reforçada por depoimentos de outras pessoas,
especialmente médicos e por artigos publicados no New York Herald. Dailey confirma
que Mollie não estava ligada aos espíritas, mas possuía uma profunda experiência
pessoal do outro mundo e com os espíritos dos mortos, com os quais se relacionava. "A
consciência de todas estas coisas", disse Mollie, "é tão clara quanto a minha vida nesta
terra." Ela dizia também ter estado em "lugares absolutamente celestiais" (most
heavenly places). Infelizmente para nós, ela não nos deixou qualquer detalhe. E
ninguém a interrogou!
É preciso acrescentar, ainda, a respeito do juiz Dailey, que não se conseguiu
identificar este personagem.
Importantes depoimentos sobre Mollie Fancher provêm também do Dr. S. Fleet Speir,
que cuidou dela durante vinte e sete anos, e do Dr. Ormiston, que ajudou Fleet
freqüentemente. Miss Crosby, a tia de Mollie, deixou anotações preciosas, igualmente
confirmadas pelos médicos.
Os médicos fizeram tudo o que podiam para surpreender Mollie simulando sua
inédia. Apareciam em sua casa a qualquer hora da noite, sem avisar. Os eméticos que
lhe foram administrados revelaram sempre um estômago absolutamente vazio. A
ausência quase completa de alimentação foi comprovada para um período de catorze
anos. Por exemplo, durante um período de oito meses, Mollie ingeriu, no total, quatro
colheres (de chá) de ponche com leite, duas de vinho, um pedacinho de banana e um
pedacinho de biscoito. Isto corresponderia a aproximadamente trinta calorias por ano.
Notou-se uma ausência de excreção durante três meses.
Foram tentadas, sem sucesso, diversas formas de alimentação artificial, depois
abandonadas. O alimento, introduzido à força através de uma sonda estomacal, era
invariavelmente rejeitado.
Vários outros médicos esforçaram-se, também, para descobrir uma fraude, mas
acabaram por convencer-se da realidade: Mollie simplesmente não comia. O Dr. West
publicou o seguinte fato: no exame de palpação do ventre, a mão tocava diretamente
em sua coluna vertebral, ou seja, as vísceras haviam sido reabsorvidas.
Há um depoimento de Mollie que deixa entrever perspectivas que nos parecem
fechadas. No início de sua doença, como sua tia Crosby a incitava a comer, ela
respondeu que recebia alimento de uma fonte que todos ignoravam. Seria muito fácil
dizer que Mollie não era médica e imaginava coisas, mas não se pode esquecer que o
fato de que os inedíacos vivem sem perder peso contradiz nossos conhecimentos mais
firmemente estabelecidos, enquanto Mollie, moça inteligente, era a única testemunha
válida!
A cegueira de Mollie foi controlada. Seus olhos ficavam abertos, mas não tinham
secreção e podiam ser tocados com os dedos. Durante nove anos ela realizou todos os
seus trabalhos com as mãos acima da cabeça.
Os depoimentos fornecidos pelos Drs. Speir e Ormiston ao longo de quinze anos de
observações nunca entraram em contradição. Seus artigos no New York Herald e o livro
Mollie Fancher, de Dailey, foram inteiramente confirmados. Mais tarde, foi
perguntado ao Dr. Ormiston se ele nada mais tinha a dizer sobre este estranho caso,
mas o médico insistiu na absoluta exatidão de tudo que havia dito anteriormente.
Mollie via perfeitamente, sem auxílio dos olhos. Suas partes particularmente sensíveis
eram o topo da cabeça e a testa. Lembramos que ela trabalhava com suas flores de cera
acima da cabeça. Para ler as suas cartas, ela as colocava sobre a testa.
Com o rosto totalmente coberto, Mollie descrevia as pessoas presentes no quarto e o que
estavam fazendo. O professor Henry Parkhurst, astrônomo, fez uma experiência
decisiva. Para eliminar a simples transmissão de pensamento, sempre possível quando
o experimentador sabe o que o vidente deve ver, ele recortou num jornal, sem olhar,
uma tira de papel, que colocou num envelope, fechando-o. Mollie, que nesta época
não conseguia falar, soletrou através de batidas as palavras que distinguia, assim
como toda uma série de números. Ela estranhou particularmente os números, pois o
texto do jornal era compacto. Quando o recorte foi examinado, ao lado das diferentes
palavras que Mollie lera corretamente, notou-se que havia uma lista de artigos
votados pelo Parlamento e numerados, sendo estes os números lidos por ela. Portanto,
ela conseguia mesmo ler bem as letras e os números sem vê-Ios.
Mollie Fancher também tinha o dom da premonição. Ela avisou ao Dr. Speir que ele
seria roubado, o que de fato aconteceu (uma valiosa maleta de instrumentos). Se ele
tivesse levado mais a sério o aviso, teria se precavido, mas nossa mente tem tendência a
bloquear as informações que não provêm de um canal lógico, racional. Mollie também
descreveu, várias vezes, o conteúdo das cartas que estavam para chegar. Podia também
ver as pessoas que se dirigiam para sua casa e as que chegariam logo depois.
Depois de nove anos, sua paralisia desapareceu e sua consciência retornou. Ela
pensava ter dormido apenas uma noite! Na verdade, havia adormecido aos quinze
anos e agora tinha vinte e quatro. Repentinamente, ela recobrou o uso de seu braço
direito, o que ficava dobrado acima da cabeça. Entretanto, a grande habilidade que
havia desenvolvido, por exemplo para a confecção de flores artificiais, desapareceu
junto com a paralisia e ela foi obrigada a aprender tudo de novo.
Quando Mollie retomou sua vida normal, perdeu todas as recordações desses anos que
haviam passado. Era, portanto, um caso de personalidade múltipla. Seríamos tentados
a atribuir o estado extraordinário no qual ela viveu todo este tempo a uma
perturbação mental, mas existem os fatos: visão sem os olhos, premonição e inédia;
sendo que nenhum deles pode ser explicado dentro do esquema das ciências clássicas.
Mollie Fancher era uma garota inteligente, alegre e amável. É preciso observar que ela
não tinha segundas intenções de desacreditar o misticismo católico, algo que sempre se
pode suspeitar dos protestantes "duros" e incrédulos.
Só nos resta deplorar amargamente a falta de interesse, tanto da parte dos médicos
quanto dos que eram próximos a Mollie, quando ela afirmava conhecer o que a
alimentava, bem como sobre o que ela poderia revelar a respeito do outro mundo, ao
qual tinha acesso, e sobre as relações que mantinha com os mortos. Seria, no mínimo,
tão interessante quanto tentar convencê-Ia de fraude! Louise Lateau deixou, a esse
respeito, uma informação exatamente idêntica. Ela sabia o que a alimentava e os
médicos agiram, então, como no caso de Mollie Fancher: negligenciando o depoimento,
mas dedicando-se obstinadamente aos controles. Pensava-se que eram pesquisadores,
mas, na verdade, não passavam de enfermeiros.
CONCLUSÃO
A CONSTITUIÇÃO FÍSICA DO HOMEM
(esboçada de acordo com o desenvolvimento futuro dos conhecimentos)
Quando uma ciência está no seu início, como é o caso da parapsicologia, o que
importa, em primeiro lugar, é a direção na qual as pesquisas se orientam, assim como
a proibição de toda e qualquer exclusão de dados, pois é assim que se esbarra nas
descobertas fundamentais. Quanto à precisão que se mostra necessária mais adiante
pode ser nefasta no estágio inicial dos conhecimentos. O espírito de rigor não substitui
o espírito de pesquisa, e, quando introduzido inoportunamente, pode bloquear este
último.
Entre os mecanismos propostos para a interpretação de um fato, aquele que cobre o
maior número de fatos diferentes é o mais provável, ou, se quisermos, o mais próximo
da verdade (O Princípio da Conservação da Energia, a Lei de Newton, a constituição
celular dos seres vivos, são notavelmente amplos). É este princípio, o da maior
abrangência, que nos permitirá escolher entre os mecanismos possíveis a solução a ser
adotada.
Acrescentamos ainda que nem a perfeição, nem a homogeneidade interna de uma
explicação, de uma teoria ou de uma ciência inteira podem garantir a verdade, se
afastarmos os fatos incômodos. A história das ciências mostra que foi a partir dos fatos
aberrantes que se desenvolveram, sempre, os prolongamentos que acabaram demolindo
a construção que se acreditava perfeita.
Os fenômenos misteriosos examinados neste livro dizem respeito ao homem, mas, como
nós evoluimos num meio material, eles nos reveIam, também, certas propriedades
inesperadas da matéria que estão em total desacordo com a física oficial.
A telecinesia e a psicocinesia mostram que a mente tem características físicas
(princípio de Crookes), podendo agir diretamente sobre a matéria. Trata-se não apenas
de uma ação física ordinária, exercida por um agente particular, mas sim de uma
força com características diferentes das forças conhecidas. A passagem de objetos sólidos
através de outros objetos é totalmente incompreensível para um físico: o mecanismo
atuante revela um relaxamento desconhecido das forças de coesão interatômicas. Neste
caso, trata-se mesmo de uma realidade completamente nova.
A levitação e a perda de peso do médium durante as materializações são também
opostas aos "nossos conhecimentos melhor estabelecidos". A acumulação destas
fraquezas contrárias à realidade lembra, singularmente, os estábulos de Augias.
Os corpos do homem
O homem é constituído de vários corpos distintos, coexistindo no estado normal. Éstes
corpos não são o resultado de uma concepção teórica nem uma construção escolástica
destinada a confirmar algum dogma estabelecido a priori, nem mesmo uma forma
cômoda de designar um conjunto de características quaisquer.
Os corpos do homem são entidades distintas, tais como resultam das observações dos
fenômenos, sejam paranormais (a maior parte) ou não, sendo estes bem conhecidos dos
clássicos.
Consideraremos, então, como "corpo" distinto toda entidade que emana do homem e
pode ser percebida, distinta e isoladamente dos outros corpos. Não se deve exigir mais
no atual estágio dos nossos conhecimentos.
Existem, aliás, várias listas destes corpos. A mais simples é a dos materialistas
incondicionais (apenas o corpo físico), a seguir a lista ternária dos ensinamentos
tradicionais (corpo + espírito + alma), finalizando com as listas de sete a nove termos
das doutrinas esotéricas. Estes estudos datam de vários séculos, no Oriente.
Encontraremos estas descrições, por exemplo, na teosofia. Todas estas concepções se
complementam e estão interligadas, ao contrário das invenções dogmáticas e teóricas,
que podem ser puras fantasias.
Corpo astral (corpo sutil, corpo biofísico). Este ultrapassa o corpo físico. A parte que o
ultrapassa pode ser percebida pelos sensitivos e manipulada, com objetivos medicinais.
Na morte, ele se separa do corpo físico, como envelope material dos corpos seguintes.
Ele se manifesta, também, nos fenômenos de exteriorização da sensibilidade e na
viagem astral. É ele, sem dúvida, que serve de envelope visível nos fenômenos da
bilocação e do desdobramento espontâneo.
Isolado, o corpo astral forma um invólucro vazio, que pode ser percebido pelos
videntes, pelos animais (cães) e pela aparelhagem eletromagnética. Estando nesta
forma, ele pode tornar-se visível como fantasma, com uma existência irregularmente
periódica. Em geral, este invólucro sofre uma degradação progressiva.
O corpo astral existe também nos animais, nas plantas e nos objetos inanimados. Os
navios-fantasmas formam uma categoria bem conhecida de objetos do mundo astral
que se tornam temporariamente visíveis.