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PROF. TORQUATO CASTRO ’ Defesa do Livro das + td _ Sucessées no Anteprojeto do Cédigo Civil aoe Saldo de uma Polémica ss RECIFE - PE PROF. TORQUATO DA SILVA CASTRO Defesa do Livro das Sucessoes no Ante Projeto do Codigo Civil — 0 Ante Projeto do Cédigo Civil, recentemente publicado, mereceu do Dr. José Paulo Cavalcanti, ilustre advogado em nossa ci- dade, comentarios publicados em outubro do ano corrente sob o i titulo “Consideracdes ao novo Ante Projeto do Cédigo Civil” (ed. Mousinho Artefatos de Papel Ltda. — Recife) . Tais consideragées se estenderam a parte do Ante Projet relativa ao Livro V, Do Direito das Sucessdes, cuja redagdo me coube como encargo principal, na qualidade de participe da Comissiio Revisora do Cédigo Civil . Tomei conhecimento da existéncia dessa publicagaéo do Dr. José Paulo, quando, a convite gentil do Prof. Heraldo Almeida, Presidente do Instituto dos Advogados de Pernambuco, compa- reci a esse Instituto para fazer uma exposicéo sobre o Livro V do Ante Projeto, e debater-lhe os pontos capitais. Ocorre que, depois dessa exposicio e instaurados os de- ~~ bates, nfo mais tive oportunidade para uma réplica completa, pois o Dr. José Paulo teve ainda necessidade do tempo a mim des- _ tinado, a fim de continuar a exposigio do seu proprio pensamento 0 Dr. José Paulo, desde margo do ano corren publicagéo da mesma editora, concitou-me a debater pipe onalidade, legitimago e nagéeio~juridico stricto sensu, ¢ ‘profimdamente dos pontos de vista que sobi trabalhos universitérios varios, to que eu pudesse dar ao Dr. José Paulo sobre temas o esclarecimen! P jssimos pelos melhores mestres da ciéncia como aqueles, versad juridica universal . Isso porém nao exclui que, um dia, aplacados os ardores polémicos do debatente, eu 0 convide a repisar comigo, tranquila- mente, os conceitos da personalidade, legitimagao e negécio juri- dico, sobretudo o segundo, a legitimagao, categoria cuja esséncia ele nao poude até agora apreender. Entendo de meu dever, porém, dar réplica imediata as “correcgées” que o Dr. José Paulo pretende introduzir na redagao do Livro V do Ante Projeto, relativamente ao Direito das Sucessées. I — Comecemos pelo art. 1991, que abre o Livro V do Ante Projeto, acolhendo o contetido do art. 1572 do Cédigo em vigor para definir 0 tipo da saisine no direito sucessério nacional : “Aberta a sucesso, o dominio e a posse da heranga se transmitem desde logo aos herdeiros legitimos e testamentirios”. PONTES, em seu Tratado de Direito Privado (vol. LV, § 5.587, pg. 21) salienta quao perigosa é a consulta dos escritores franceses a respeito do tema da r ° sistema nacional. i Dr. José Paulo arriscou, no : transmitem-se desde logo aos salvo condigao suspensiva, tarios, os direitos € obriga- fio tenham se extinguido jeto de legados “Morrendo a pessoa, seus herdeiros legitimos ¢, aos seus herdeiros testamen' gdes da pessoa falecida que n com a sua morte, excluidos os bens ob nao sujeitos a condigao suspensiva. Se Transmitem-se desde logo aos legatarios os direitos objeto de legado nao sujeitos a condigao sus- pensiva . § 2° — Transmitem-se desde logo aos herdeiros legi- timos e, salvo condigéo suspensiva, aos testamentarios a posse dos bens da pessoa falecida”... es nao subscreveria, Dr. José Paulo, nem mesmo para ser erase a 7s amigo valioso, como eu o tenho em conta, um ee quilate, a titulo de redagio do art. 1991 do Em primeiro lugar, a redago, i im, pesad: par, que é muito cpt om slept Se se inegrade Ge nigio ees cosiata'a chs coriades vows velleo C8. ) vejo vantagem em substituir a locugio “ de “morrendo a pessoa”. oe a ‘morrendo pode pensar-se de quem é morto e Em terceiro lugar, 0 despropdsito de tratar eM um 6 artigo, de cambulhada, a saisine da heranga a titulo Universal » & suposta “saisine” para o legado, sucessio a titulo singular, 0 Cédigo Italiano nao comete a falta de ordem (arts, 459 ¢ 619) Em quarto lugar, o erro de supor que todo legado nio sujeito & condigdo suspensiva se transmita ao legatirio no momento da abertura da sucesso; cousa que pode ser certa na Itilia, jamais no Brasil. 0 art. 2133 do Ante Projeto esclarece que 3} © legado de cousa certa, nao sujeito & condig&o suspensiva, trans. mite-se ao legatério no momento da abertura da sucesso. Em quinto lugar, por fim, a redagdo dada pelo Dr, José Paulo ao art. 1991 do Ante Projeto destroi sem piedade o prin- cipio que preside a transmissiio da heranga no Direito Brasileiro, firmado por tradigio no Cédigo e renovado com maior vigor no Ante Projeto: 0 principio de que a heranga se transmite aos her- deiros legitimos ou testamentirios, como um todo unitirio e indi- viso, e assim se mantém até a liquidagio ou a partilha em inven- tario obrigatério. (arts. 1998, 2000 e 2003 do Ante Projeto). Esse principio é prevalente no Cédigo to de ser o direto & sucesso abert imobiliéria — um Ler q mesmo puramente méveis, . Cod. Civ; art. 79, II do Ante F Tem, pois, a redagio de nao atender a esse prineipio saisine, nao a heranga como u obrigagées nela contidos, @ | Eis porque agora, | entou em torno do art, convencido do que ene mantida a assunto | II — Passemos #0 Bt ; do papel da aceitagso n° direito brasileiro. Diz 0 art. 2011 ‘do Ante Projeto : a delagio ao her- “Aceita a heranga, confirma-se 4 deird desde a abertura da sucessao’ - O Dr. Paulo acha erréneo o emprego do verbo confirmar, no texto, ¢ propde a seguinte redagio : definitiva, desde a “A aceitagio do herdeiro torna sfio da heranga, me- abertura da sucessao, a transmis: nos o legado” . A redaciio do Dr. José Paulo tem os graves incovenientes ja comentados anteriormente. A que vem meter 0 legado na regra de sucessio universal? Ainda aqui se repete 0 mesmo erro, quanto A transmissao dos legados. IIT — Quanto ao emprego do verbo confirmar no tépico do art. 2011, em comentario, o Dr. José Paulo tem doutrina mui italiana a propésito - 2 Para o Dr. José Paulo, desde que os italianos confundem a com convalida (o Cédigo Civil Italiano usa indiferente- ambas as expressdes para definir atos idénticos — arts. ja nao 6 mais possivel ao jurista brasileiro usar o em qualquer texto de lei nacional, sem referéneia convalidagao de negocio juridico anulivel, x Y 5. ndica ato de vontade furamente 9 convalidagao i . oe x o defeito que o inquina. J / Ja o term i dirigido a eliminar de ato anterio’ integra ato defeituoso. Quem confirma, Quem convalida, reconhece . nada integra, mas apenas aceita OU Confirmagio © convalidagdo, atos diversos em seus fins préprios, podem eventualmente se tocar, em suas consequéncias secundarias, quando ocorre 0 uso com relagéo ao ato anulavel, Quem confirma ato anulavel, secundariamente o convalida. Quem convalida ato anulavel, secundariamente o confirma na perma- néncia dos efeitos. Mas basta a sé consideragao de tratar-se de coincidéncia de efeitos secundarios a cada um desses atos, para que se mantenha entre eles a fundamental distingao. Basta ver a autonomia de emprego da confirmagao, mais am- pla, em face da convalidagao. ‘A convalidagao nfo pode sair do campo do ato enquanto é possivel e normal confirmar efeitos anteriores rentes de qualquer ato valido e inimpugndvel, quando é de do confirmante manté-los em seu favor. confirma, apenas dé firmeza ao que jé existe, sem modificar nem integrar a situagho juridica preexistente No caso apontade, & confirmagio ou a infirmagio, nao sugere nem de longe, uma con validagio, ou uma anulagio. Assim, quem, no direito brasileiro aceita heranga, eon firma, situagdo juridica, ou direito, realmente preexistente Por tudo isto é que nfo se vé em PONTES nenhuma impre cisdo conceitual quanto ao que seja confirmar & convalidar, Além do passo ja citado de sua monumental obra, PON- TES ensina ser a aceitagio da heranga ato de confirmagdo, pura © simples, de uma situagio juridica integra e preconstituida, en- quanto que a rendncia tem caracter de ato abdicativo verdadeiro e proprio, (Trat. cit, vol. LVI, § 5651, pg. 34, 1) Nao ha, para nés, divida sobre 0 emprego do verbo con- firmar, no texto em comentirio, A aceitagio da heranga apenas confirma a delacio anterior, pois, no direito nacional, o herdeiro se limita a aderir ao que ja existe integro, antes mesmo de sua manifestagao de vontade. IV — A meu ver, o sistema juridico da saisine brasilei & mais légico e melhor configurado, que o sistema italiano. a e completa, sem recurso a retroatividade, senao 1754 € o assento de 1768. E eu nao atentarej cont direito nacional. *8 0 atacter c V — Ainda a propésito do art. 2011 g Dr. José Paulo sustenta o seguinte : @ Ante Projets, “Na verdade, a sucessio hereditaria ¢ UM fato ; dico em sentido estrito, isto 6 um fato,.» ty Iu. das Observagées citadas) . Petr O erro de enquadrar 0 fenémeno da titulo singular ou universal, inter-vivos ou mortis causa, na classe dos fatos juridicos — qualquer que seja a espécie de fato — € nfo na categoria dos efeitos de direito, é para mim imperdoavel. SUCESSHO seja, Nao ha nem pode haver sucessio no fato, tanto mais quanto todo fato é, de si mesmo, ‘nico, singular e incomunicavel com outro fato. O problema foi versado com agudeza por PONTES, quando cogitou do fenomeno da unido e da sucessao, no fato posse. O engano parece ter sido motivado pela leitura de, por pact tt ang com Me nN EOS aus 8 Canc Eee relovo dt 90 tn angles 3+ ee a : Com., 9 ed. rev. 195%, vol. ssao. No Brasil, ela o cria a definitividade da transmis que a aceitagac abertura da sucessio é definitiva logo com a jeiro sucede instantaneamente com ra demitir de si o dominio jos pelo fato da No nosso sistema, 0 herd a morte do sucedido. Tanto assim que, Pa e posse da heranga, que The foram transferi¢ morte, o herdeiro ha que renunciar. Nao ha “recusa” ou, italianamente, “riffiuto”, da heranga, / em direito nacional. VII — Reparo me faz 0 Dr. José Paulo por ter reproduzido, ainda em tema de aceitago da heranga, © art. 589 do Cédigo atual, t. 2012 do Ante Projeto em através do parfgrafo segundo ao ar exame : i } ' : “§ 2° — Nao importa igualmente aceitagio & cessiio pura e simples da heranga aos demais co-herdeiros”. : Claro que todo negécio juridico de alienagio da heranga induz aceitagao por parte do herdeiro que aliena. A lei, porém, abriu ae ee ere coincidéncia perfeita de efeitos, entre a cessio iro, € a remincia ¢ do mesmo modo, equipara a cessio especial excegio para 0 caso em que préprios ¢ mesmos efeitos da reniincia. se No caso, entendo que quando reduz a cessiioe CU poder sob d rend : sober, 4 rendneia. E fax por } ano, Stic . ‘ _ Por bom principig Justica, amparando o herdeiro contra a armadilha que The a de ‘Ko légi. eee : © advirig da aplicacio légica dos prinefpios juridicos Viria Vill Eselarec 2000 do Ante Prajeto, devo salientar que Pode”, ali Usadas, devem ser to do ato, pena de nulida de, ido © teor dos parigrafos 2° @ a0 art as expre madas como proi “ni bigdo categoricg 9 principio da obrigatorie expresso no art, 2003 do Ante Projeto, é, de direito publico, nao s6 em atengio aos di ica, como a necessidade de documentar, em forma processual e publica, © fato da sucessio. O formal ou titulo da heranea, por outro lado, deve ser Processualmente composto, em condigoes de garantir ao registro piblico sua necessiria continuidade. dade do inventério, que se aca @ meu ver, exigéncig reitos da Fazenda Pj. Esse principio da obrigatoriedade do inventario prevalece alé mesmo para demonstrar o herdeiro a inexisténcia do patrimd- nio, absorvido pelas dividas; sendo certo que somente através do inventario, poderé o herdeiro comprovar o fato que o liberara, perante os credores do falecido. ispositi invalli las de pleno di- O dispositive tem como invalidas, ou ni de pl reito, as alienacoes feitas antes da liquidagao ou partilha, de bem matdiate do monte, sem autorizagéo do Juiz do inventario, O principio é de ser levado rigor; ou j érios registraveis. ordem nos atos sucessérios registravel 5‘ é fessa um ex! — O Dr. José Paulo pro lg oal fa torno do uso de certos termos, como “modo”, “patriménio”, ete. ; Seja-me permitido dissentir do rigorismo. i cléusula irei modo no sentido de rat ail Ea eae ice jndicar formas de in j reito de propriedade (modo de aquisigao em contraste com titulo de aquisigéo), O Cédigo Civil Italiano usa a expresso modo, nao sé nesse Gltimo sentido (art, 922), como para indicar as maneiras por que se pode manifestar a aceitagao, seja de modo expre seja de modo tacito (art. 474), etc.; e ha ainda, pelo visto, mi modos, para modo. 880, uitos — Nem tio pouco ha, no Ante Projeto defeito de substan- ciagio com o uso da expresso patriménio”, no art. 2003 ventério judicial de todo 0 patriménio hereditario”. ine — Entende 0 Dr. José Paulo que 0 uso da expresso pa- triménio exclui as dividas, ou obrigacies, do falecido. Para ele, 0 Ante Projeto, tendo adotado conceito estrito de patrimdnio, a referir tio s6 os direitos, nao abrangeria as divi- das do acervo, pelo que serd reprovavel o emprego desse vocd- bulo na redagao do art. 2003. Parece-me, antes, que, qualquer que seja o conceito de patrimGénio, a expressio patriménio bem se adapta ao caso. Os partidarios da concepgio que o Dr. José Paulo leno- mina de estrita, de patriménio, quando o definem pelos iiseites v ivos), ndo excluem que tais direitos se tenham de - res ins OD en VON THUR, por exemplo, define nessa ane sate 0 natrimonio como expresséo do poder econdmico. Tal po- corren turalmente tanto maior, quanto menos limitado pelas obri- der é re donde falar o eivilista de “patriménio liquido”, resultado oe balango” entre ativo e passivo (Teoria Geral del Derecho © ; 290 Civil Aleman, trad. arg. 1948, vol. 1° 2° parte, § 18). PONTES, decidido partidario desse conceito, expressa-se, quando. ao patriménio hereditario : “O que se transmite é o patriménio, atendida a sua limitagio tocante ao passivo” (Op. cit. vol. LV, § 5587, I, pg. 18). 15 Te 2 cureycectey Sessenta anos de idade, sendo o marido, e quarenta anos sendy a un XI — Passando ao capitulo dos herdeiro Ante Projeto confere ao cénjuge a legitimagio de h sdrio, seja quando se legitime a heranga sem cone em concorréncia com os descendentes e ascendentes necessétio erdeito nog Orrin, qj 1 Seja O Dr. José Paulo apresenta ao Ante Projeto aditivo , i i ae ae , sentido de excluir-se o cénjuge dessa posicao de herdeiro necessi rio quando haja ele contraido nipcias com o pré-morto depois de mulher, __ Trata-se de discriminagao pessoal quanto A legitimagao do conjuge, por extensiio dos motivos pelos quais 0 casamento nessa idade torna obrigatéria a separacdo de bens. Pessoalmente, sou contrario a essas solucdes discriminaté- rias da legitimagao para o matriménio, com base na idade do cénjuge e pelo meu voto nao se teria mantido nem mesmo o regimen obrigatério de separago, em razo da idade. Quando se tenha em vista a motivagao puramente espiritual, que ef altima anélise deve justificar 0 matriménio em qualquer idade, todas as presungdes se tornam quando nfo casuisticas, ina- dequadas e grosseiras. Pelo que, de minha parte, mento do erro, nao apoiando o XII — Quanto ao . demonstra ressentido por nao ter ‘nto de vista por ele préprio defer Direito realizado em Fortaleza em Go, Redugao © Colagio no Direito “ ‘um’? able blicado em ‘Symposium +a " a da Universidade Catélica de «4 respeito do cdlculo da parte dispontt O pensa da consideragae 16 Cédigo atinentes a essas figuras que servem de titulo ao seu traba- Tho, aquele que fizesse doagées sucessivas, sempre computando-as na metade disponivel, em cada momento de doar, acabaria por doar todos os seus bens, iludindo o principio da intangibilidade da legitima. Entende o Dr. José Paulo que tal defeito nao foi corrigido no Ante Projeto, cujo art. 2058 tem a seguinte redagao “Calcula-se a legitima sobre o valor dos bens exis- tentes na abertura da sucessio, abatidas as dividas do funeral, adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos 4 colagéo”. Para obviar esse inconyeniente, 0 Dr. José Paulo oferece nova redagao a esse dispositivo : F f “Calcula-se a legitima sobre o valor dos bens exis- tentes na abertura da sucessao, adicionando-se o valor dos bens objeto de doagées ou rentincias, e abatendo- se as dividas existentes na abertura de sucessao e nas despesas dos funerais”. = aes Vamos por partes. I Em primeiro lugar, ndo 6 necessério substituir a t. 2058 pela que foi sugerida pelo Dr. José Paulo certo, diante do Ante Projeto, que a nenhum nitido burlar o respeito legal & legitima dos her- iante 0 processo de fazer doagdes sucessivas “§ 4° — Sendo varias as doagées a desce tas em diferentes datas, serao elas reduzi da tiltima, até a eliminagSo do excesso ¢ da quota do cénjuge sucessivel, nos term: grafo anterior”. ndentes, fei das a Party 108 do parg, O defeito de subtancia deste dispositivo do Ante Projet, esti no aludir, tio s6, a “doagées feitas a descendentes”. A rege de redugfo é sempre genérica, abrangendo herdeiros necessériog sem distinc&o de classes. : Proporei, em substituigio, a seguinte redagéo para esse § 4° ao art. 2038 : 2219 “§ 4° — Sendo varias as doagoes, feitas em diferentes datas, serao elas reduzidas a partir da dltima, até a eliminacao do excesso, etc”. XIV — Nunca me pareceu que, no sistema do Cédigo em vigor, houvesse possibilidade de evaséo das legitimas 4 conta de doagoes sucessivas no tempo. A impressao contréria a respeito, levantada pelo Dr. José Paulo, sempre me pareceu inconsistente e baseada exclusivamente _ na redac&o do art. 1176 do Cédigo, com a sua alusdo a que o | liberalidade”. a excesso se deva apurar “no momento da Ii li Preservaci, t ‘ XV O art. 2058, agora em discussio, determina, tho s6, © modo de calcular a legitima, e néo a parte disponivel A legitima interessam as doagées feitas como adeantamento dela; e nunca as doagées feitas 4 conta da outra parte, a dispo- nivel. Ha dois regimes para as doagdes feitas em vida pelo autor da heranga: 0 das doagées feitas 4 conta do disponivel, que se somam, para serem imputadas na parte disponivel; ¢ as doagées feitas como adeantamento da legitima, que acrescem, ou aunentam, a metade indiepensdvel, tornando-a maior que & disponivel.) «# A idéia do subtitutivo do Dr. José Paulo de somar ou acrescer A legitima, todas as doagies, isto 6, tudo aquilo que foi doado indiscriminadamente & conta do disponivel ou da legitima, nao é jamais admissivel . XVI — Quanto as doagdes feitas 4 conta do que o doador pode dispor livremente, elas sfio sacadas da metade disponivel, que pode ser exaurida por efeito delas. Se o doador tinha um milh&o e doou quinhentos mil, havendo na sucessao um saldo de quinhentos mil de bens em seu acervo hereditério, esse saldo per- tence por inteiro aos herdeiros legitimarios . Dat a razio do teor do art. 205%, que no célculo da legi- tima, alude indiscriminadamente ao “valor dos bens existentes na abertura da sucessio”, sem falar na metade desses bens, nem estabelecer sobre eles qualquer percentual. & evidente que o : — dos oe no a, deverd constituir a depende lo quantum que o autor da her - : ae glecgass vibe seu disponivel . eC aes da heranga fez doagées & conta do disponiyel e mento de legitima, as primeiras computam-se me modo a acrescer 0 quantum dos bens des- na. ene porém, sera maior nesse caso, que ; I, pois a a se acrescerd o valor de todas as doacdes adeantamento dela. ope OUae Pode até acontecer que o autor da heranga, tendo doado validamente a sua metade disponivel, entre em decesso econémico ¢ se dissipem em vida os bens que, por sua morte, deveriam com- por a legitima de seus herdeiros necessarios. Ai, entio, nao ha- ver& bens para compor a legitima, nem haveré redugio das doagies que se entendem como validamente feitas. Ainda assim, nao ha- vendo bens, mas havendo doagées varias 4 conta de adiantamento de legitimas, estas se conferem, pelo seu valor, a0 monte, estabelecer a igualdade dos quinhdes dos herdeiros i Bahete, dhl Em nenhuma hipétese, porém, se somam & parte legitima as doagées feitas & conta do disponivel, como o quis o Dr. José Paulo, na redagio substitutiva que apresentou ao art. 2058 do Ante Projeto . pare XVII — Se a redugio 6 © remédio protege obrigatéria dos herdeiros necessirios, ena ane “ae 2 possam atingir, ja a colagio ampara tio somente a dade terna entre as quotas a serem concurso com o cdnjuge, sempre com pr quando deficit houver. “ ‘Tudo quanto. protege os herdeiros ascendentes (a redugdo de doagéex feitas em excesso pelo falecido, inyadindo a quota logitima O Ante Projeto manteve e@ tornou claro esse sistema, Colagéo — com o fim de igualar em valor os quinhées legitimdrios dos descendentes, com o trazer ¢ distribuir entre todos o valor dos bens doados a qualquer deles em adeantamento de legitima; e redtigGo, agio de nulidade contra 0 excésso das doagdes feitas em _ e vida em detrimento da quota indispensivel; remédio, este timo adore coast que 6 dado a todos os herdeiros necessdrios, indistintamente. XVII — O'Dr. José Paulo entende que, pela redagio dada ao § 3° ao art. 2218 do Ante Projeto, nio caberia redugéo em favor | dos herdeiros necessirios ascendentes, e somente para os descen- dentes , A regra que estabelece o poder de reduzir doagdes que invadam a quota legitima estd expressa genericamente no caput do art. 2218, e por ela todas as doagées, sem distingio, que atin- jam a quota indisponivel, séo passiveis de redugio. Onde a lei nao distingue, ao intérprete no é dado distinguir. A redugio protege a qualquer herdeiro necessirio, pois o seu pressuposto tinico é o ; de ter excedido “ao que o doador poderia dispor, no momento da liberalidade” , | P Mas é evidente que a regra do § 3° ao art, 2218°concerne também a toda espécie de redugio, beneficiando a qualquer her- | deiro necessdrio, descendente ou nao. 7 A ponderagdo do Dr. José Paulo é a de substituir no caput § 3° a, expressiio “feita a herdeiro descendente”, pela de “feita Ru dnvio “es '; ¢ eu a aceito integralmente, J N salto, porém, no mais, a redagio para esse § 3°, se assemelhe a awe originariamente The dei no Le z . : ee ne aie col a bi i com Slinidas na Proporei, entao, para redacao definitiva do § 3%a0 art, 2218 do Ante Projeto, o seguinte : “§ 3° — Considera-se inoficiosa e sujeita a redugio, nos termos do pardgrafo anterior, a parte da doacio feita a herdeiro necessdrio, que exceder-Ihe a legi- tima e mais a quota disponivel”. Manter-se-a, necessariamente, a alfnea final desse pari- grafo, que da preferéncia ao cénjuge quando o produto das redu- goes no baste a integragao das quotas de todos os legitimarios, XIX — 0 Ante Projeto, em seu art. 2059, proibe ao tes- _ tador a imposigéo de clausulas restritivas do poder do herdeiro — necessdrio sobre a sua legitima, a menos que, no testamento escla- rega ele a justa causa da imposigao. : : A lei Feliciano Pena Permitia ao testad uso discrici ‘roniwel( Ratio dessas cléusulas restritivas sobre @ vege no USO Misericio- Undrap> onan el/ RAN - s eae | Parte indispensavel ¢ o Codigo em vigor as admite amplamente (arts, 1723) O Ante Projeto, sob itdicagao minha, er; dessas clausulas, obrigando o testador a utilidade da sua prescricéo. A imposicao hg causa, pena de nao prevalecer. bee. Se é normal pressupor no Animo do | as restrigdes, a intengio anil ou © prop herdeiro contra’ a sua propria fraqueza, vézes 0 abuso desse podes Bit shat dor, que dele usa sem razio plausivel em malquerenca e proposito de Tune ite profissional tenho constatado casos tipi ‘A nova regra comporta justa limitagaio testador. é - XK —A cautela sociniana, exigida pelo D 5 eR nao tol considerada expressamer te pelo Ante f A 22 O principio que prevalece no Ante Projeto, como no Cé- digo em vigor, é o da intangibilidade da quota legitima. Mas tal nio significa, néo possam os herdeiros necessdrios aderir 4 von- tade diversa do testador, abstendo-se de impetrar a redugdo, se hes parecer conveniente, A pretengiio de redugiio esti no poder juridico livre do herdeiro necessirio. Reduzir é dar como nulo o excesso, & nuli- dade, © nao anulabilidade; nulidade, porém, relativa, dependente de ser provocada pelo herdeiro a quem interessa. XXI — A emenda do Dr, José Paulo, ao art, 2069 do Ante Projeto nao. é feliz. Diz que o testamento somente pode ser feito diretamente pelo testador, induzindo perplexidade, O testamento sempre & ato do testador, mas, seu instrumento pode ser-feito por terceiro , f co posito, ha que considerar nfo escritas, ou eliminadas P do Ante Projeto, no seu art. 2054, as palavras finais do texto: “ou . de quem the escreveu o testamento”. Pobcol age S mento do incapaz se convalide com a supery sa da ‘capacidade” . i iéncia , XXV— O art, 2225 dispde sobre a partilha em e prevé, no seu pardgrafo tinico, a possibilidade do testador dispor de hes integrantes da comunhao do seu casal. ~ Diz © dispositivo que; nesse caso, a path nio tera efiedcia. sem’a anuéncia do outro nes Observa o Dr. José Paulo que a fruits nesse caso, no é ineficaz, mas invalida, ov anulével, ex vi do receito do art. 1861 ‘do Ante Projeto. : =a voub.t a Lael Sigg ges a Prop qt, para ico do at IDE sii See ee ae PROF. TORQUATO CASTRO Saldo de uma Polémica RECIFE - PE Saldo de uma Polémica ‘ Etienne Gilson, em defesa do realismo tomista em face da critica do conhecimento, descreve a situagéo de embarago de quem € concitado A polémica : “Sil’ on ne répond a leurs réponses, ou semble faire preuve d’ un dédain peu courtois, mais toute réponse a leurs réponses engage dans des controvérses d’autant plus interminables que ceux qui les entrétiennent mettent plus d’ art a brouiller les pistes ou, comme l'on dit, 4 noyer le poisson”. (1) Na verdade a polémica que nos envolveu, a nés ¢ ao Dr. Paulo Cavalcanti (2) sobre o texto do livro de Direito das es no Anteprojeto de Cédigo Civil, logrou término defini- , quando, em fevereiro i!timo, se realisaram em Brasilia, as nas ret da Comissao Revisora. Ao conhecer posterior- trabalho do Dr. José Paulo Cavalcanti, ja nao era - das observacées do ilustre amigo qualquer pro- Ws: ay na finica publicacio sobre o assunto, a in- ”” 4s considerages do Dr. José Paulo, ss das quais, por sua valia, tiveram Be eiGslis®c (alves a outras initil, quando tudo quanto pensa- publicagao. yr nis ja foi dito na nossa Nao nos atrai polemizar sobre assuntos cientificos com . mesma liberdade de recursos de légica que, como Profissionais temos de adotar na defesa de Pessoa certa ante situacio conereta, E, por outro lado, nao estamos dispostos a Prosseguir no caso, “en embrouillant les pistes ou en noyant notre poisson”, Uma colagio, dos resultados dessa polémica ja nao mais serve ao Projeto de lei em cuja elaboragéo andamos seria. _, Mas essa colagio — © nao o restabelecimento da propria polémica — pode interessar » dos ii crepancia entre nds ¢ 9 Te leet oS ieee Aqui, nao m: " 0 mas a fundamentais nocdes de 1 — Em prin incidentes, a teoria do | plano da para nds, a sce rador magno na nas mesmas Aguas, | fato, que ao lado (o maior entre outr desencadeiamento da é Pa *) Para o Dr. José b’) efeito de {ato juridico, juridien”, compas See intos fatos jurianon to, nie eb) auay - mis - 28 Para nés toda sucesso consiste na eficacia tipica de direi- to, pela qual as relagdes juridicas sofrem substituigdo de sujeito. permanecendo objetivamente as mesmas. Nés queremos deixar claro, nesse halanco geral que, com Trabucchi ou sem Trabucchi — ou mesmo sem outras armas mais valiosas — relacdo juridica, por ser juridica, nunca é fato, ou re- lagao fatica. Ela € expressio tipica de eficdcia juridica. ‘ Claro que, para que haja sucessdo nas relagdes juridicas € necessério que existam relagdes juridicas. Mr. de La Palisse nao o teria dito melhor. __ Mas confundir a relacao juridica, que é a matéria_mes- ma (matéria ex qua) da sucessio, com fato juridico, gerador da sucesso, é para mim inconcebivel. Entre fato normativo e eficdcia juridica corre relagio de e efeito, em que a causa nao pode ser o efeito, nem o efei- b) para o Dr. José Paulo, a expressio 86 me: emprego em direito, enquanto referida 4 rece um negécios anulaveis; A a sanacio dog a’) para nds, confirma-se em direito al; BO que ja existe » que se pode, com atitudi gos sle quilar; a le contraria, desfazer oy 4 bY) para o Dr. José Paul ati ~ dose Paulo néo existe es tee pratica a 8a. possibilidade lavel. i: i, fora aoe irmacao do ato anu. TIT — Quanto a tend ; para nds, no contra 3 existe formalmer c digo quam ; pela declaraca vinculo contratu contraria fosse a d a) b) o Dr. José Pau vinculo e entende que a prador, longe de ser tente, é fato novo Queremos deixar claro q ria da condicio elaborada pelo : nto da condigio modifica 0 para mudélo e pleme: reagindo sobre ele, Para nds, 20 aan = l irma tos, se con, e , seus element! oni sion 0 proprio escopo socio a : so, advem em sell no CaSO, 30 _ Mente por isso 6 que o contrato se diz sujeito a “clausula confir- _matéria”. A considerar que o implemento da condicio se configu- rasse como fato modificativo essencial, a condicio nao seria aquilo que &, na teoria do fato juridico : simples fato externo (nao par- _ ticipante dos elementos constitutivos do negécio), cuja forga atin- | Be ldo s6 a eficdcia deste, IV — Sobre a delagao da heranga : a) para nés, por forca da redagao inequivoca do art. 1572 do Cédigo Civil, consubstanciande tradigfo de mais de dois séculos em nosso direito, a heranga se transfe- re ao herdeiro desde a morte do sucedido, como dela- Gio nao proviséria, mas real ¢ efetiva, pois o direito de heranga passa, desde logo, a compor o patriménio do sucessor; b) para o Dr. José Paulo, essa delacio 6 feita a titulo. “provisério dependente de accitacao. deixar claro que nao nos engana: so proviséria (Céd. Civ, art. 469° ee) ome r. José Paulo nao se pode falar de confirma- o da heranga, decorrente do ato da acei- @ aceitacio da da ‘anga é sua delacio, ot apenas ato con. her ia aceitagdo, tem o poder de destra: vamente Hegrado no seu patric toda renuncia, determi sucessério j4 integra ga seu patrimonio), a lei ainda confere a esse ato abdicativo efeitos ex tunc, para destruir a propria delagao hereditaria, Logo, antes da aceitagio, o herdeiro, que tem no sen patri. ménio a heranca, tem, com a reniincia, o poder juridico de des truir inteiramente 0 seu direito sucess6rio. Assim sendo, o herdeiro, antes da aceitagao, estd na mes. ma posicio em que se acha o sujeito de um negécio juridico que ele pode anular, Ambos tém o poder juridico de destruir inteiramente o ato (© negocio, ou a delacio hereditaria) como o te , igualmente, a faculdade de confirmar estas situacdes de direito. _ Se € certo que se confirmam efeitos, os efeitos da de preexistem a aceitacdo, como os e re © feitos (provisérios ou impugna véis) do negécio, preexistem a confirmacao, © poder de confirmar se verifica, em ambos os casos. V — Quanto 4 confirmacao do ato anulavel + a) para nds, a confirmacio do negécio anulavel nao tem tao s6, efeitos prospectivos. : Durante 0 estado da pendéncia do ne lacdo, o: efeitos desse ato sa Provisdrios, B6ci0 Sujeite A anw- pendem, ser destruidos pela impugnacao. Hles podem, enquant A confirmagio, portanto, ™ eficdcia tetroars troativa, py tabelec#-los em sua plenitude. > para rew Toda confirmacio de ato juridico anutivel “ jo de efeitos Provisdrian, jug POF SeUr guinte, ate de convalidagio * Mavidlos durant ae a pend ne pars br. Jose Paulo, a confirmacde dy te ave bu” mpre prospects sees te oe He OND he ra é +e 32 roagiio, os efeitos pro- zio por que, sem qualquer ret retomem caracter de- visérios da situago pendente, finitivo. Betti nos ensina a diferenga da sanatéria do ato anulavel "entre o direito romano, em que operava ex nunc, © 0 direito moder no, em que opera ex func; & poe em relévo o “valor retroativo” do ~ ato de confirmagio de negocio anulavel, o qual “vem fechar a possibilidade de que certos efeitos juridicos yenham no futuro @ ser removidos com a impugnativa do negocio”. ‘Acrescenta Betti: a confirmagao, tal como a ratificagio, ‘concorrem para fixar irrevogavelmente (isto 6, concorrem a cons t he tais efeitos na pessoa do sujeito a quem eram destina- » (3). Pedimos desculpa pela longa citagao, justificada tio s6 por 1, José Paulo pensado que a idéia de confirmagio, valendo ectivamente como convalidacao, era pura construgio nossa. \ bem da verdade, esse mérito infelizmente a nds nao foi, tao s6, a forma de exposigio. j No mais, expusemos as regras que presidem, no Antepro- Jeto, o principio da intangilidade da quota legitima e as concer nentes & natureza da agio de nulidade, para a redugio do excesso; b) 0 Dr. José Paulo atribui-nos cavilosamente afirmativa que jamais fizemos: “parece (sic) afirmar que a cau tela sociniana nao lhe sera (ao Anteprojeto) incom- pativel”’. Lancando o seu proprio foguete, o Dr. José Paulo lhe apa- nha a taboca: “o Prof. Torquato est pouco informado da matéria”. Quando em discussio de ordem rigorosamente cientifica se faz apelo a essa sorte de recursos, “em embrouillant les pistes”, ela se rebaixa necessariamente de nivel. Melhor é encerré-la, a bom tempo.

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