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Metodologia da Pesquisa
Profª Dra. Laura Vilela Rodrigues Rezende

1 Metodologia da Pesquisa – conceitos fundamentais

Apresentação

Iniciamos nossa disciplina intitulada: Metodologia da Pesquisa, trazendo conceitos


relacionados ao método científico acreditando no “pluralismo metodológico” ou na “liberdade do
método”, ressaltando que as ideias são instrumentos de ação que produzem efeitos práticos. A
pesquisa tanto qualitativa como quantitativa ou mista proporcionaram subsídios importantes ao
conhecimento gerado nas diferentes ciências e disciplinas.

A pesquisa, independente do método a ser empregado, deve ser conduzida eticamente, de


maneira legal e respeitando os direitos humanos dos participantes, usuários e leitores. Entende-se
que o pesquisador deve agir com honestidade ao tentar compartilhar seus conhecimentos e
resultados, e também sempre buscar a verdade.

Geralmente a pesquisa é desenvolvida em equipe e, quando se descobre um sentido para ela,


a mesma pode ser divertida e criar laços fortes de amizade entre os membros do grupo. Vale
ressaltar ainda que não existe pesquisa perfeita, pois nenhum ser humano pode ser perfeito; a
questão é se empenhar ao máximo. Por isso é que como professores e estudantes que somos, temos
de “correr o risco” e realizar pesquisa. Então, “mãos a obra”!

Definições dos enfoques quantitativo, qualitativo e misto: Semelhanças e Diferenças.

A pesquisa é um conjunto de processos sistemáticos, críticos e empíricos aplicados no


estudo de um fenômeno. Ao longo da história da Ciência, surgiram diversas correntes de
pensamento – como o empirismo, o materialismo dialético, o positivismo, a fenomenologia, o
estruturalismo – e diversos marcos interpretativos como a etnografia e o construtivismo, que deram
origem a diferentes caminhos na busca do conhecimento. A partir do século passado, as correntes de
pensamento se “polarizaram” em duas abordagens principais para indagar: o enfoque quantitativo e
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o qualitativo da pesquisa.

Ambos os enfoques empregam processos cuidados, metódicos e empíricos em seu esforço


para gerar conhecimento. Pode-se afirmar de maneira geral que os dois enfoques se utilizam de
cinco fases similares relacionadas entre si:

 Observação e avaliação do fenômeno;


 Criam suposições ou ideias como consequência da observação e da avaliação
realizadas;
 Revisam essas suposições ou ideias se baseando nas provas ou na análise;
 Propõem novas observações e avaliações para esclarecer, modificar e fundamentar as
suposições e ideias ou até para gerar outras.

Embora a abordagem quantitativa e a qualitativa compartilhem essas estratégias gerais, cada


uma possui suas próprias características.

Enfoque quantitativo

Este enfoque é sequencial e comprobatório. Cada etapa precede à seguinte e não se pode
“pular ou evitar” passos. A ordem é rigorosa, embora claro alguma fase possa ser redefinida. Parte
de uma ideia que vai sendo delimitada e, uma vez definida, se extrai os objetivos e perguntas de
pesquisa, revisa-se a literatura e constrói-se o marco ou perspectiva teórica. Em suma, este enfoque
se utiliza da coleta de dados para testar hipóteses, baseando-se na medição numérica e na análise
estatística para estabelecer padrões e comprovar teorias.

O pesquisador formula um problema de estudo delimitado e concreto. Suas perguntas de


pesquisa versam sobre questões específicas. Em seguida, o pesquisador considera o que já foi
pesquisado anteriormente (revisão de literatura) constrói um marco teórico (a teoria que deverá
guiar seu estudo), do qual deriva uma ou mais hipóteses (questões que se devem verificar se são
corretas ou não) e a(s) submete(m) a teste mediante ao emprego dos desenhos de pesquisa
apropriados. Se os resultados são congruentes com as hipóteses, fornecem evidência a seu favor. Se
forem refutados, eles são descartados para buscar melhores explicações e novas hipóteses. Ao
confirmar as hipóteses a teoria que dá suporte a elas passa a ter crédito.

Em síntese, este tipo de pesquisa se inicia com uma teoria específica e depois o pesquisador
“retorna” ao mundo empírico para confirmar se ela é apoiada pelos fatos.

Enfoque qualitativo
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Nos estudos qualitativos, é possível desenvolver perguntas e hipóteses antes, durante e


depois da coleta e análise dos dados. Geralmente essas atividades servem para primeiro descobrir
quais as perguntas de pesquisa mais importantes e depois para aprimorá-las e respondê-las. A ação
indagativa se move de maneira dinâmica em ambos os sentidos: entre os fatos e sua interpretação, e
é um processo mais “circular” no qual a sequência nem sempre é a mesma, ela varia de acordo com
cada estudo específico.

No estudo qualitativo, embora exista uma revisão inicial da literatura, esta pode ser
complementada em qualquer etapa do estudo e apoiar desde a formulação do problema até a
obtenção dos resultados. Inicialmente ocorre uma imersão no campo com o intuito de se sensibilizar
com o ambiente onde o estudo será realizado, identificar informantes que contribuam com dados e
guiem o pesquisador pelo local da pesquisa. A amostra, coleta e análise dos dados são fases
realizadas praticamente de maneira simultânea.

O pesquisador, neste caso, formula um problema, mas não segue um processo claramente
definido. Suas formulações não são tão específicas quanto no enfoque quantitativo e as perguntas de
pesquisa sem sempre foram conceituadas ou definidas por completo. O pesquisador começa
examinando o mundo social e nesse processo desenvolve uma teoria específica coerente com os
dados, de acordo com aquilo que observa. Sendo assim, as pesquisas qualitativas se baseiam mais
em uma lógica e em um processo indutivo (explorar, descrever e depois gerar perspectivas teóricas).

Enfoque misto

Representam um conjunto de processos sistemáticos e críticos de pesquisa e implicam a


coleta e a análise de dados quantitativos e qualitativos, assim como sua integração e discussão
conjunta visando realizar inferências como produto de toda a informação coletada e conseguir um
maior entendimento do fenômeno em estudo. Consistem na integração sistemática dos métodos
quantitativo e qualitativo em um só estudo, cuja finalidade é obter uma “fotografia” mais completa
do fenômeno. Eles podem ser unidos de tal forma que a abordagem quantitativa e a qualitativa
conservem suas estruturas e procedimentos originais. Estes métodos também podem ser adaptados,
alterados ou sintetizados para realizar a pesquisa e reduzir custos do estudo.

Leitura complementar:

Texto: Raízes e momentos decisivos dos enfoques qualitativo, quantitativo e misto.


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2 Elementos de um projeto de pesquisa

 A ideia (Nascimento do projeto de pesquisa);


o Visão Geral;
o Delimitação do Tema;
 Problema e seus elementos (objetivos, perguntas de pesquisa, justificativa e
viabilidade do estudo);
 Referencial teórico;

2.1 A ideia de pesquisa

As pesquisas surgem de ideias que podem ter surgido de várias fontes, tais como as experiências
individuais, materiais publicados (livros, artigos de revistas ou periódicos, documentos, teses,
dentre outros), materiais audiovisuais, informação disponível na Internet, as teorias, conversas
pessoais, observações de fatos, crenças, dentre outras. As ideias são o primeiro contato com a
realidade objetiva (enfoque quantitativo) e a realidade subjetiva (enfoque qualitativo) ou a realidade
intersubjetiva (a partir da visão mista).

A maioria das ideias iniciais é vaga e exige ser analisada cuidadosamente visando se
transformar em formulações mais precisas e estruturadas. Os especialistas afirmam que quando uma
pessoa desenvolve uma ideia de pesquisa, ela deve se familiarizar com o campo de conhecimento
no qual essa ideia se encontra.

Para que se possa mergulhar no tema de pesquisa é necessário conhecer estudos, pesquisas e
trabalhos anteriores. Esse conhecimento prévio é importante para:

 Não se pesquisar algo que já foi estudado de maneira aprofundada;


 Estruturar de maneira mais formal a ideia de pesquisa;
 Selecionar a perspectiva principal a partir da qual a ideia de pesquisa será abordada.

2.2 O Problema de pesquisa e seus elementos (objetivos, perguntas de


pesquisa, justificativa e viabilidade do estudo)

A formulação do problema de pesquisa é quando se aprimora e estrutura mais formalmente a


ideia de pesquisa.
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2.2.1 Formulação no enfoque quantitativo:

O problema de pesquisa é formulado quando o pesquisador já pensou na ideia de pesquisa e


definiu o enfoque. A formulação do problema é aprimorar e estruturar mais formalmente a ideia de
pesquisa.

De acordo com Kerling e Lee (2002) citado por Sampieri; Collado; Baptista Lucio (2013, p.
61), os critérios para a formulação adequada de um problema de pesquisa quantitativa são:

 O problema deve apresentar uma relação entre dois ou mais conceitos ou variáveis;
 O problema deve estar formulado como pergunta, claramente e sem ambiguidade
(Que efeito? Em quais condições?);
 A formulação deve implicar a possibilidade de realizar um teste empírico,
considerando que este tipo de enfoque trabalha com aspectos da realidade que
podem ser observados e mensurados.

A figura a seguir apresenta a formulação do problema na pesquisa quantitativa:

Formulação do
problema quantitativo

Cujos critérios são:


E seus elementos são: Implica aprimorar
-Delimitar o problema;
-Objetivos: que são os guias do estudo; ideias
-Relação entre variáveis;
-Formular como pergunta; -Perguntas de pesquisa: que devem ser claras
e são o “o que” do estudo;
-Abordar um problema mensurável
ou observável. -Justificativa do estudo: é o porquê e o para
quê do estudo;
-Viabilidade do estudo que implica:
-Disponibilidade de recursos;
-Alcances do estudo;
-Consequências do estudo;

Fonte: Adaptado de (SAMPIERI; COLLADO; BAPTISTA LUCIO, 2013, p.60)

2.2.1.1 Elementos para a formulação do problema no enfoque quantitativo:

• Objetivos da pesquisa (O que a pesquisa pretende):

– São os guias do estudo; devem estar presentes durante todo o desenvolvimento;

– Durante a pesquisa, alguns deles podem ser modificados, incluídos ou excluídos;


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– São formulados com verbos no infinitivo;

– Geralmente se formula um objetivo geral, de dimensões mais amplas, articulando-os


aos objetivos específicos;

• Perguntas de pesquisa (“o quê?” da pesquisa):

As perguntas gerais são as ideias iniciais que surgem antes da elaboração do problema de
pesquisa. Elas devem ser aprimoradas para orientar melhor o estudo. As perguntas de pesquisa
geralmente são elaboradas com rápidas explicações sobre o tempo, espaço e unidades de observação
do estudo.

Ao formular o problema que será estudado por meio de uma ou várias perguntas, apresenta-se o
que será estudado de maneira direta, minimizando a distorção. Vale ressaltar que nem sempre todo o
problema é comunicado por meio da pergunta. Geralmente se formula somente o propósito do
estudo, porém sugere-se que a pergunta resuma o que a pesquisa terá de ser. Mesmo resumindo o
propósito do estudo, sugere-se que perguntas de pesquisa não sejam muito gerais. Elas devem
estabelecer limites temporais e espaciais do estudo (época e lugar), além de traçar um perfil das
unidades de observação (pessoas, jornais, moradias, escolas, animais, eventos, etc.);

A seguir alguns exemplos de perguntas de pesquisa:

a) Exemplo de pergunta geral (fase inicial da pesquisa):


 Como os meios de comunicação de massa se relacionam com o voto?
 Por que há pessoas mais satisfeitas com seu trabalho do que outras?

b) Exemplo de pergunta específica (elaboração do problema de pesquisa):


 Será que a exposição dos votantes aos debates televisivos dos
candidatos à presidência no Brasil está correlacionada à decisão de
votar ou de se abster?
 Qual é a ligação entre a satisfação no trabalho e a instabilidade do
cargo de administração nas indústrias com mais de mil trabalhadores
na cidade de São Paulo, Brasil?

As perguntas de pesquisa devem preencher alguns requisitos:

 As respostas não devem ser conhecidas (se forem, não valeria a pena realizar o
estudo);
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 As respostas devem ter evidência empírica (dados observáveis ou mensuráveis);


 Implicam utilizar meios éticos;
 Devem ser claras;
 O conhecimento obtido deve ser substancial (trazer conhecimento para um campo
de estudo).

• Justificativa da pesquisa (o porquê da pesquisa)

Além dos objetivos e das perguntas de pesquisa, também é necessário justificar o


estudo mediante exposição de motivos, visando demonstrar a importância do estudo.

Critérios para avaliar a importância potencial de uma pesquisa:

– Conveniência. Quão oportuna é a pesquisa? Isto é, para quê serve?

– Relevância Social. Qual sua importância para a sociedade? Quem será beneficiado
com os resultados da pesquisa? De que maneira? (Alcance)

– Implicações práticas. Ela irá ajudar a resolver algum problema real? Tem
implicações importantes para uma ampla gama de problemas práticos?

– Valor teórico. Algum vazio do conhecimento será preenchido? Será possível


generalizar os resultados para princípios mais amplos? O que se espera saber agora
com os resultados que antes não se conhecia?

– Utilidade metodológica. A pesquisa pode ajudar a criar um novo instrumento para


coletar ou analisar os dados? Contribui para a definição de um conceito, uma
variável ou uma relação entre variáveis?

• Viabilidade da pesquisa

– Verificar a disponibilidade de recursos (financeiros, humanos, materiais, etc.);

– Ter acesso ao lugar ou contexto em que a pesquisa será realizada;

– Considerar o fator tempo para realização da pesquisa;


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2.2.2 Formulação no enfoque qualitativo;

Uma vez que o foco da pesquisa qualitativa é compreender e aprofundar os fenômenos que
são explorados a partir da perspectiva dos participantes em um ambiente natural em relação ao
contexto, uma maneira simples de se formular o problema de pesquisa seria inicialmente definir o
conceito central e correlacionados a este para então, ao longo da investigação extrair outras
definições com base nas reflexões e experiências vivenciadas.

Formulação do
problema
qualitativo

Cujos critérios são: Implica explorar


E seus elementos são:
- Conduzida nos ambientes fenômenos
naturais dos participantes; -Objetivos: que são os guias do estudo;
Variáveis não são controladas nem -Perguntas de pesquisa: que devem ser
manipuladas (define-se conceitos gerais claras e focadas nos conceitos e são o “o que” do
como “emoções”, “vivências”; estudo;
- Foco em conceitos relevantes -Justificativa do estudo: é o porquê e o
de acordo com a evolução do estudo; para quê do estudo;
- Os significados são extraídos -Viabilidade do estudo que implica:
dos participantes; -Disponibilidade de recursos;
-Fundamentadas na -Alcances do estudo e relevância social;
experiência e intuição; -Consequências do estudo;
- Os dados não serão reduzidos
a valores numéricos.

Fonte: Adaptado de (SAMPIERI; COLLADO; BAPTISTA LUCIO, 2013)

Os critérios para se definir o problema no enfoque qualitativo são:

• Definir o conceito central do estudo e os conceitos que se consideram estar relacionados (de
acordo com a experiência e revisão de literatura);

• Deve ser formulado com palavras que sugiram um trabalho exploratório, podendo estar em
forma de perguntas.

– Exemplos:

• “razões”, “motivações”, “busca”, “indagações”, “consequências”,


“identificação”, etc.);

• Sugere-se utilizar uma linguagem neutra e não direcionada;

• Este tipo de pesquisa é especialmente útil quando o fenômeno de interesse é


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muito difícil de ser medido ou não foi medido anteriormente (deficiências no


conhecimento do problema);

2.2.2.1 Elementos para a formulação do problema no enfoque quantitativo:

• Objetivos da pesquisa (“O que a pesquisa pretende”):

– São os guias do estudo e devem estar presentes durante todo o seu desenvolvimento;

– Durante a pesquisa, alguns dos objetivos podem ser modificados, incluídos ou


excluídos;

– Os objetivos são formulados com verbos no infinitivo;

• Verbos que comuniquem as ações para se compreender o fenômeno:


descrever, entender, desenvolver, analisar o significado de, descobrir,
explorar, etc.

– Geralmente se formula um objetivo geral, de dimensões mais amplas, articulando-os


aos objetivos específicos;

• Perguntas de pesquisa (“O quê?” da pesquisa):

– Geralmente estas perguntas são congruentes com os objetivos de pesquisa;

– Ao formular o problema que será estudado por meio de uma ou várias perguntas,
apresenta-se o que será o estudo;

– Estas perguntas devem ser respondidas ao finalizar o estudo, verificando se os


objetivos foram alcançados ou não;

– Nem sempre todo o problema é comunicado por meio da pergunta;

– Geralmente se formula somente o propósito do estudo, porém sugere-se que a


pergunta resuma o que a pesquisa terá de ser;

– Não podem ser muito gerais;

– É necessário estabelecer limites temporais e espaciais do estudo (época e lugar);

– Traçar um perfil das unidades de observação (pessoas, jornais, moradias, escolas,


animais, eventos, etc.); (mesmo sendo uma tentativa, este perfil será útil para definir
o tipo de pesquisa);
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– Uma ou várias perguntas com rápidas explicações sobre o tempo, espaço, unidades
de observação do estudo;

A seguir alguns exemplos de perguntas de pesquisa:

a) TEMA: Pesquisa sobre a emoção que os pacientes jovens podem sentir quando têm de
realizar uma cirurgia para a retirada de um tumor cerebral.
OBJETIVOS:
 Conhecer as emoções que os pacientes jovens sentem quando têm de realizar
uma cirurgia para a retirada de um tumor cerebral;
 Aprofundar nas experiências de vida desses pacientes e seu significado;
 Compreender os mecanismos que o paciente utiliza pra encarar as emoções
negativas profundas que surgem na etapa pré-operatória;
PERGUNTAS DE PESQUISA:
 Quais as emoções que os jovens sentem quando têm de realizar uma cirurgia para
a retirada de um tumor cerebral?
 Quais são suas experiências de vida antes de passarem pela cirurgia?
 Quais mecanismos eles utilizam para encarar as emoções negativas que surgem
na etapa pré-operatória?
Considerações:
• Para responder a estas perguntas, é necessário escolher um contexto ou ambiente
(hospitais, qual cidade?)
• Quais os jovens? (brasileiros, mexicanos) definir o intervalo que irá englobar o
conceito de jovens (13 a 17 anos);
• Local: município de Goiânia, Brasília)
• Só interessa os jovens que passaram por este tipo de cirurgia.

• Justificativa da pesquisa (“O porquê” da pesquisa):

(Critérios para avaliar a importância potencial de uma pesquisa)

– Conveniência. Quão oportuna é a pesquisa? Isto é, para quê serve?

– Relevância Social. Qual sua importância para a sociedade? Quem será beneficiado
com os resultados da pesquisa? De que maneira? (Alcance)

– Implicações práticas. Ela irá ajudar a resolver algum problema real? Tem
implicações importantes para uma ampla gama de problemas práticos?
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– Valor teórico. Algum vazio do conhecimento será preenchido? Será possível


generalizar os resultados para princípios mais amplos? O que se espera saber agora
com os resultados que antes não se conhecia?

– Utilidade metodológica. A pesquisa pode ajudar a criar um novo instrumento para


coletar ou analisar os dados? Contribui para a definição de um conceito, uma
variável ou uma relação entre variáveis?

– Viabilidade da pesquisa:

– Disponibilidade de recursos (financeiros, humanos, materiais, etc.);

– Ter acesso ao lugar ou contexto em que a pesquisa será realizada;

– Considerar o fator TEMPO;

2.3 O Referencial Teórico

O desenvolvimento da perspectiva teórica é o processo de imersão no conhecimento


existente e disponível que pode estar vinculado à formulação do problema de pesquisa. Para esta
etapa do estudo, é necessário já ter definido:

 Tema
 Objetivos;
 Perguntas de pesquisa;
 Avaliação de relevância e factibilidade.

Elaborar o referencial teórico implica expor e analisar as teorias, conceituações, pesquisas


prévias e os antecedentes em geral que sejam considerados válidos para o correto encaixe do estudo.
Esta etapa proporciona uma visão sobre onde se situa a formulação proposta dentro do campo de
conhecimento onde a pesquisa irá ser desenvolvida além de mostrar como a pesquisa se encaixa no
panorama (big picture) daquilo que se sabe a respeito de um tema ou tópico estudado.

Funções da perspectiva teórica:

 Enfoque quantitativo:

• Ajuda a prevenir erros cometidos em outras pesquisas;

• Orienta sobre como o estudo deverá ser realizado:

– Que tipos de estudos foram realizados;


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– Com que tipo de participantes;

– Como os dados foram coletados;

– Em que lugar foi realizado;

– Que desenhos foram utilizados;

• Amplia o horizonte do estudo ou guia o pesquisador para que se centre em seu


problema e evite fugir da formulação original;

• Documenta a necessidade de realizar o estudo;

• Leva à formulação de hipóteses ou afirmações que mais tarde deverão ser submetidas à
prova na realidade, ou ajuda a não formulá-las por razões bem fundamentadas;

• Inspira novas linhas e áreas de pesquisa;

• Proporciona uma estrutura de referência para interpretar os resultados do estudo.

 Enfoque Qualitativo:
 Detectar conceitos-chave que não havíamos pensado;
 Termos ideias em relação a métodos de coleta de dados e análise, para sabermos
como foram utilizados por outras pessoas;
 Ter em mente os erros que outros cometeram anteriormente;
 Conhecer diferentes maneiras de pensar e abordar a formulação;
 Melhorar o entendimento dos dados e aprofundar as interpretações.

2.3.1 A Revisão de Literatura

A revisão de literatura consiste em detectar, consultar e obter a bibliografia e outros


materiais úteis para os propósitos do estudo, dos quais se extrai e sintetiza informação relevante e
necessária para o problema de pesquisa. Ela deve ser seletiva podendo ser iniciada com a coleta das
referências ou fontes primárias, consultando um ou vários especialistas sobre o tema.

A revisão de literatura pode revelar diferentes graus no desenvolvimento do conhecimento


relacionado com o estudo em questão. Pode-se, por exemplo, descobrir que estudos anteriores não
são consistentes ou claros ou os métodos utilizados foram frágeis. É possível também por meio
desta consulta à literatura descobrir que existem várias teorias que poderão ser empregadas no
estudo ou que existem descobertas interessantes, porém parciais.
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2.3.2 O Marco Teórico

Após ser extraída e recompilada a informação que interessa das referências apropriadas para
o problema de pesquisa na revisão de literatura, elabora-se o marco teórico que consiste em integrar
a informação recompilada. Antes de começar é preciso ordenar a informação de acordo com um ou
vários critérios lógicos e adequados ao tema da pesquisa (cronologicamente, por subtemas, por
teorias, etc.). A construção de um mapa conceitual pode ser um método útil para se iniciar a
elaboração do marco teórico que significa redigir seu conteúdo tecendo parágrafos e citando as
referências de maneira apropriada.

A seguir, um quadro com as principais diferenças entre o marco teórico dos enfoques
quantitativo e qualitativo:

Fonte: Adaptado de: SAMPIERI;COLLADO;LUCIO, 2013

3 O desenho da pesquisa – alcance e processos

O Desenho da pesquisa depende essencialmente da abordagem definida, ou seja, se o estudo


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é quantitativo ou qualitativo. Após realizar a revisão de literatura e referencial teórico, o próximo


passo é definir o alcance da pesquisa, ou seja: “até onde o estudo pode chegar?”.

3.1 O DESENHO DA PESQUISA (ALCANCE)


3.1.1 Pesquisa Quantitativa:

Primeiramente vale destacar que o alcance da pesquisa depende dos objetivos do


pesquisador para combinar os elementos no estudo. Os alcances possíveis não devem ser
considerados como “tipos” de pesquisa porque mais do que ser uma classificação, eles são um
contínuo de “causalidade” que um estudo pode ter (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013, p.
100).

Possíveis alcances de um estudo quantitativo

EXPLORATORIO CORRELACIONAL

DESCRITIVO EXPLICATIVO

Fonte: SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013, p. 100

Estudos exploratórios:

 Pesquisam problemas pouco estudados;


 Indagam a partir de uma perspectiva inovadora;
 Ajudam a identificar conceitos promissores;
 Preparam o terreno para novos estudos;
 A revisão de literatura revelou que existem apenas orientações não pesquisadas.
 Mais flexíveis que os descritivos.

Ex: Estudos pioneiros sobre a AIDS

Estudos Descritivos:

 Consideram o fenômeno estudado e seus componentes;


 Medem conceitos;
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 Buscam especificar as propriedades, características e os perfis de pessoas, grupos,


comunidades, processos, objetos ou qualquer outro fenômeno que se submeta a
uma análise;
 Servem para mostrar com precisão os ângulos ou dimensões de um fenômeno;
 Definem variáveis.

Ex: censo demográfico nacional

Estudos Correlacionais:

 Oferecem prognósticos;
 Conhecem a relação ou grau de associação existente entre dois ou mais conceitos,
categorias ou variáveis em um contexto específico;
 Explicam e quantificam a relação entre variáveis;
 Estes estudos, ao avaliar a relação entre duas ou mais variáveis, medem cada uma
delas (supostamente relacionadas) e depois quantificam e analisam o vínculo.

Ex: Associação entre a motivação no trabalho e a produtividade no SIBI – UFG.


(mensurar a motivação no trabalho e a produtividade de cada indivíduo e depois
analisar se os trabalhadores com maior motivação são os mais produtivos).

Explicativos (causais):

 Determinam as causas dos fenômenos;


 Geram um sentido de entendimento;
 São extremamente estruturados.

Ex: Por que alguém poderia votar em determinados candidatos e outras pessoas nos
demais candidatos?

3.1.2 Pesquisa Qualitativa:


Antes de definir o alcance da pesquisa qualitativa, devem-se considerar alguns itens
básicos neste contexto:
 as pesquisas qualitativas não são minuciosamente planejadas;
 estão sujeitas às circunstâncias de cada ambiente ou cenário.
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O alcance da pesquisa qualitativa está relacionado ao ambiente, contexto ou lugar


apropriado para a realização da investigação. Para responder às perguntas de pesquisa, é necessário
escolher um contexto ou ambiente onde o estudo será realizado, além de situar a formulação no
espaço e no tempo.

Para se ter maior e melhor acesso ao ambiente da pesquisa, assim como ser aceito como
pesquisador neste contexto específico, recomenda-se: desenvolver relações, elaborar uma história
sobre a pesquisa, não tentar imitar os participantes, planejar a entrada e não criar muita expectativa
além do necessário. Em seguida, define-se o desenho da pesquisa que no caso específico do enfoque
qualitativo, uma vez que este tipo de investigação não é minuciosamente planejada e está sujeita às
circunstâncias de cada ambiente ou cenário específico. O desenho no enfoque qualitativo se refere à
“abordagem” geral que se utiliza no processo de pesquisa ou “marco interpretativo” segundo
Álvarez-Gayoy (2003) citado por Sampieri; Collado; Lucio (2013, p.497).

A seguir alguns exemplos de desenhos para a pesquisa qualitativa:

 Teoria fundamentada -Grounded Theory – Glaser e Strauss (1967):

Objetivo: desenvolver uma teoria baseada em dados empíricos e que pode ser aplicada a áreas
específicas;

 O procedimento gera o entendimento do fenômeno;


 Fornece um sentido de compreensão sólido porque “encaixa” um estudo na
situação;
 Pode ser trabalhada de maneira prática e concreta;
 Sensível a expressões dos indivíduos do contexto considerado;
 Consegue representar toda a complexidade que surge durante o processo.

Ex: Como as intervenções na conduta problemática de crianças que vão à escola podem
conseguir os efeitos desejados?

 Desenhos etnográficos:
 Objetivo: descrever e analisar o que as pessoas de um lugar, estrato ou contexto
determinado fazem habitualmente;
 A etnografia implica a descrição e interpretação profundas de um grupo, sistema
social ou cultural;
 O pesquisador geralmente é um observador totalmente envolvido e passa longos
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períodos dentro do ambiente ou campo. Vai gradualmente se transformando em


um membro a mais da comunidade.

Ex: A corrupção de um departamento de investigação de crimes ligados ao


narcotráfico.

 Desenhos narrativos:
 O pesquisador coleta dados sobre as histórias de vida e experiências de algumas
pessoas para descrevê-las e analisá-las;
 O que interessa são os próprios indivíduos e o ambiente que os rodeia incluindo
claro, as outras pessoas;
 Muitas vezes é uma intervenção, pois ao contar uma história ajuda a pensar em
questões que não eram claras ou conscientes.
 Geralmente é utilizado quando o objetivo do estudo é avaliar uma sucessão de
acontecimentos.

Ex: Serial killer de Goiânia preso em 2014.

 Desenhos de pesquisa-ação (pesquisa participativa):


 Objetivo: trazer informação que oriente a tomada de decisão para programas,
processos e reformas estruturais;
 Resolver problemas cotidianos e imediatos e melhorar práticas concretas;
 Promover a mudança social, transformar a realidade e que as pessoas tenham
consciência de seu papel nesse processo de transformação.

Ex: Estudo sobre a inteligência emocional de crianças de 3 a 5 anos para saber como
aumentá-la;

3.2 FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES


Antes de apresentar o conceito de hipóteses e suas características, vale apresentar
algumas definições importantes que devem ser utilizadas em uma pesquisa científica
independente de seu enfoque:
• Definição conceitual ou constitutiva:
– São necessárias;
– Conceituam as variáveis;
– Ex: Inteligência emocional: capacidade para reconhecer e controlar emoções, assim
como conduzir com mais habilidade nossas relações (GOLEMAN, 1996).
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• Definições operacionais;
– Conjunto de procedimentos e atividades que desenvolvemos para medir uma
variável;
– Ex: renda familiar – operacionalizada ao se perguntar a renda pessoal de cada
membro da família e depois somar as quantidades que cada um indicou;
– inteligência – definida operacionalmente como as respostas para um determinado
teste de inteligência.

As hipóteses mostram o que se tenta comprovar e são definidas como explicações


provisórias ou orientações sobre o fenômeno pesquisado. Surgem da teoria existente e devem ser
formuladas como proposições. Pode-se afirmar que são respostas provisórias para as perguntas de
pesquisa.

As hipóteses não são sempre verdadeiras. Por se tratar de explicações provisórias, elas não
são o fato em si. Pode-se comprovar ou não com os dados coletados.

No contexto científico, as hipóteses são proposições aproximadas sobre as relações entre


duas ou mais variáveis e se apoiam em conhecimentos organizados e sistematizados. Uma vez que
se comprova uma hipótese, esta tem um impacto no conhecimento disponível, que pode ser
modificado e, consequentemente, podem surgir novas hipóteses. Podem ser mais ou menos gerais
ou precisas e envolver duas ou mais variáveis, estando sujeitas à comprovação empírica e à
verificação na realidade.

Variáveis:
 Propriedade que pode oscilar e cuja variação pode ser medida ou observada;
 O conceito pode ser aplicável a pessoas ou outros seres vivos, objetos, fatos e
fenômenos que adquirem diversos valores em relação à variável mencionada;
 Adquirem valor para a pesquisa científica quando conseguem se relacionar com
outras variáveis, ou seja, fazem parte de uma hipótese ou uma teoria;
 Nas teorias costumam ser chamadas de constructos ou construções hipotéticas.

Alguns exemplos de variáveis:

Gênero, motivação intrínseca em relação ao trabalho, atrativo físico, a aprendizagem


de conceitos, a religião, a resistência de um material, a agressividade verbal, a
personalidade autoritária, a exposição a uma campanha de propaganda política, etc.
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Alguns exemplos de hipóteses:

 A proximidade geográfica entre as residências do casal de namorados está


relacionada positivamente com o nível de satisfação proporcionado por seu
relacionamento;
 Um clima organizacional negativo cria níveis baixos de inovação nos empregados;
 Quanto mais variedade houver no trabalho, maior será a motivação intrínseca em
relação a ele.

Naturalmente, as hipóteses surgem da formulação do problema, o qual é reavaliado e se


necessário reformulado após a revisão de literatura. Pode-se dizer que elas são provenientes da
própria revisão de literatura.

Uma falha grave na pesquisa é formular hipóteses sem ter revisado com cuidado a literatura.
Isto pode levar a cometer erros como o de sugerir hipótese sobre algo que foi muito comprovado ou
de algo contundentemente desprezado.

Ex:

– O homem pode voar por si mesmo, somente com seu corpo;

– O uso correto de estratégias de marketing não aumenta a visibilidade de uma


biblioteca.

Revisão de
Formulação literatura
do problema

hipóteses

Relação estreita

3.2.1 Hipóteses no enfoque quantitativo


21

As hipóteses neste tipo de enfoque deve se referir a uma situação real (as hipóteses somente
podem ser submetidas a teste em um universo e um contexto bem definidos). Podem vir de uma
teoria ou generalização empírica (afirmação várias vezes comprovada na “realidade”), sejam
manifestações contextualizadas ou casos concretos de hipóteses gerais abstratas. Ao se estabelecer
as hipóteses, volta-se a analisar se os contextos são os adequados para o estudo e se é possível ter
acesso a eles (confirma-se o contexto, busca-se outro ou ajusta-se a hipótese).

Características das hipóteses no enfoque quantitativo:

 As variáveis ou termos das hipóteses devem ser compreensíveis, precisas e as mais


concretas possíveis. Recomenda-se não utilizar termos vagos ou confusos tais
como: “globalização da economia” ou “sinergia organizacional”.
 A relação entre variáveis propostas por uma hipótese deve ser clara e verossímil
(lógica);
 Os termos ou variáveis da hipótese devem ser observáveis e mensuráveis, assim
como a relação proposta entre eles, ou seja, ter referentes na realidade;
 As hipóteses como “Os homens mais felizes vão para o céu” implicam conceitos ou
relações que não possuem referentes empíricos;
 As hipóteses devem estar relacionadas com técnicas disponíveis para testá-las (?);
(quando formulamos uma hipótese deve-se analisar se existem técnicas ou
ferramentas de pesquisa para verificá-la, se é possível desenvolvê-las e se estão ao
alcance do pesquisador).

Ex: comprovar hipóteses referentes ao desvio de orçamento nos gastos do governo de um país;
(pode ser impossível dispor de formas eficazes para obter os dados).

Tipos de hipóteses de pesquisa:

– Proposições provisórias sobre as possíveis relações entre duas ou mais variáveis;

– Devem possuir as cinco características mencionadas;

– São representadas geralmente por: H1, H2, H3...

– Podem ser:

• Descritivas de um valor ou dado prognosticado (tenta prever um dado ou


valor – presentes às vezes nos estudos descritivos);

Ex: A inflação no próximo semestre será superior a 3%;


22

A taxa de evasão do curso de Direito será de 10%;

• Correlacionais (especificam as relações entre duas ou mais variáveis e


correspondem aos estudos correlacionais);

Ex: O tabagismo está relacionado com a presença de doenças pulmonares;

A motivação pelo êxito está vinculada com a satisfação laboral e o estado


de espírito no trabalho;

• De diferença de grupos (Finalidade de se comparar grupos);

Ex1: Pergunta de pesquisa: Um comercial televisivo em preto e branco é mais eficaz que um
colorido?

Hipótese de pesquisa: O efeito persuasivo para deixar de fumar não será o mesmo em
adolescentes que vejam a versão colorida do comercial televisivo do que o efeito em adolescentes
que vejam a versão do comercial em preto e branco.

Ex2.: Os alunos do curso de música são mais sensíveis ao assistir a um espetáculo de ópera
do que os alunos do curso de artes visuais.

• Causais (estabelecem relações de causalidade, ou seja, causa-efeito)

Este tipo de hipóteses não só firma a(s) relação(ões) entre duas ou mais variáveis e a
maneira como elas se manifestam, como também propõe um “sentido de entendimento” das
relações.

Ex: Um clima organizacional negativo cria níveis baixos de inovação nos empregados;

A ausência de um livro no acervo de uma biblioteca provoca desinteresse em frequentar esta


unidade de informação por parte do usuário que busca a obra;

O.B.S. Para estabelecer causalidade é preciso ter demonstrado correlação, mas além disso, a
causa deve vir antes do efeito. As mudanças na causa também têm de provocar mudanças no efeito.
As supostas causas são conhecidas como variáveis independentes e os efeitos como variáveis
dependentes.

Hipóteses nulas;
23

• São o reverso das hipóteses de pesquisa;

• Representadas por: H0;

• Este tipo de hipótese é a negação da hipótese de pesquisa;

• Ex1: A inflação no próximo semestre não será superior a 3%;

• Ex2: Não existe relação entre o tabagismo e a presença de doenças pulmonares;

Alguns questionamentos úteis:

É possível formular hipóteses de pesquisa nula e alternativa em uma mesma pesquisa?

• Não existem regras;

• Estudo quantitativo: geralmente utilizam hipóteses de pesquisa;

• As hipóteses nulas ou alternativas podem ser enunciadas quando se pressupõe que o


leitor irá deduzi-las;

Quantas hipóteses devem ser formuladas em uma pesquisa?

• Não existem regras;

• Deve-se ter o número de hipóteses necessárias para guiar o estudo.

Em uma mesma pesquisa é possível formular hipóteses descritivas, correlacionais, da


diferença entre grupos e causais?

• Sim! Vejam este exemplo de estudo com várias perguntas de pesquisa e hipóteses:

Perguntas de pesquisa Hipóteses

Qual será, no final do ano a taxa de A taxa de desemprego na cidade de Catalão


desemprego na cidade de Catalão? será de 5% no final do ano.(Hi:%=5)

Qual a taxa média da renda familiar mensal na A taxa média da renda familiar mensal oscila
cidade de Catalão? entre 1.000 e 2.000 (Hi: 1.000<=X<=2.000)

Existe diferença entre os bairros da cidade de Existem diferenças quanto à taxa de


Catalão quanto à taxa de desemprego? desemprego entre os distritos da cidade de
Catalão (Hi: índice1≠índice2≠índice3)
24

Qual a taxa de escolaridade média dos jovens Se não dispomos de informação, não
que vivem em Catalão? estabelecemos hipóteses.

O aumento da delinquência (X) desta cidade Para maior desemprego, maior delinquência
está relacionado com o desemprego (Y)?
Hi: rxy ≠ 0

A taxa de desemprego provoca uma rejeição O desemprego provoca uma rejeição contra a
contra a política fiscal do governo? política fiscal do governo (Hi: X Y)

Formulação de hipóteses no enfoque quantitativo de acordo com os diferentes alcances:

ALCANCE DO ESTUDO FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES


Exploratório Não são formuladas hipóteses
Descritivo As hipóteses são formuladas quando se
prognostica um fato ou dado;
Correlacional Hipóteses correlacionais
Explicativo Hipóteses causais

3.2.2 Hipóteses no enfoque qualitativo

Em raras ocasiões as hipóteses são estabelecidas antes de entrar no ambiente ou contexto e


começar a coleta dos dados. As hipóteses vão sendo geradas ao longo do processo da pesquisa,
conforme a coleta de dados, podendo ser resultados do estudo. Elas não são testadas
estatisticamente, sendo modificadas com base nos raciocínios do pesquisador.

Ex: Estudo sobre oportunidades de emprego para pessoas com capacidades diferentes em
um município do interior de Goiás.

– 1ª ideia: estas oportunidades eram desfavoráveis para essas pessoas;

– Ao longo do processo percebeu-se que a ideia inicial era incorreta: as oportunidades


se mostraram iguais;

– Esta hipótese foi variando conforme se coletavam mais dados;

– Conclusão: As empresas multinacionais oferecem oportunidades similares às pessoas


com capacidades normais ou reduzidas porque possuem recursos para oferecer a
25

estes últimos treinamentos em qualquer atividade laboral. As empresas locais não


possuem estes recursos e não oferecem oportunidades iguais.

3.3 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA


A amostra não é algo obrigatório para um estudo científico, mas geralmente os estudos
a utilizam para economizar tempo e recursos. O censo demográfico é um exemplo de
estudo em que se inclui toda a população ou todos os casos (pessoas, animais, objetos,
etc.) do universo pesquisado.

Seleção da amostra:
A seleção da amostra serve para definir quais serão os participantes, objetos, eventos
ou comunidades de estudo que serão as unidades de análise. A amostra depende da
formulação da pesquisa e dos alcances do estudo devendo estar coerente com os
objetivos do estudo.

• Ex: Objetivo do estudo – descrever o uso que as crianças fazem da televisão;


– Consultar um grupo de crianças;
– Considerar entrevistar os pais das crianças;
– Escolher entre as crianças e seus pais, ou ambos.
Estas decisões dependem do objetivo da pesquisa e de seu desenho.
Objetivo – Discrepâncias ou semelhanças nas opiniões de mães e filhos quanto ao uso
da televisão por estes últimos.
26

Quadro contendo unidades de análises definidas correta e erroneamente:

Pergunta de pesquisa Unidade de análise errônea Unidade de análise correta

Existem problemas de Grupo de adolescentes; Aplicação Grupo de pais e filhos;


comunicação entre pais e de questionário. Aplicação de questionário para
filhos? Erro: a descrição seria somente ambas as partes.
como os adolescentes percebem a
relação com seus pais.
As mulheres são Mulheres que aparecem nos Mulheres e homens que
discriminadas nos anúncios de TV; aparecem nos anúncios de TV
anúncios da TV? Erro: Não existe grupo de visando comparar se ambos
comparação aparecem com a mesma
frequência e igualdade de papéis
desempenhados e atributos.
Qual é o grau de Alunos das escolas de Goiânia; Modelos curriculares das escolas
aplicação do modelo Erro: a resposta obtida pra a de Goiânia (análise da
construtivista nas escolas pergunta de pesquisa seria documentação disponível),
de Goiânia? incompleta e é provável que muitos diretores e professores das
alunos sequer saibam bem o que é escolas (entrevistas) e eventos de
este modelo. ensino-aprendizagem
(observação de aulas e tarefas em
cada escola)

Vale ressaltar que um estudo não será melhor por ter uma população maior. A qualidade da
pesquisa está no fato de delimitar claramente a população tendo como base a formulação
do problema.

Passo a passo para a seleção da amostra:


27

Definir a unidade de análise (indivíduos, organizações,


1º Passo periódicos, comunidades, situações, eventos, etc.);

Delimitar a população ou universo que será estudado;


2º Passo

Escolha da amostra (subgrupo da população);


3º Passo

Tipos de amostras (subgrupos da população):

• Probabilísticas: Todos os elementos da população têm a mesma possibilidade de ser


escolhidos; As unidades ou elementos amostrais terão valores bem parecidos aos da
população; Servem para generalizar os resultados de uma população e são muito utilizadas
nos estudos quantitativos em levantamentos. Para uma amostra probabilística é preciso ter
dois elementos:

– Cálculo do tamanho da amostra: software STATS;

– Selecionar os elementos amostrais (Sorteio / Números aleatórios).

• Não probabilísticas: A escolha dos elementos não depende da probabilidade e sim de causas
relacionadas com as características da pesquisa ou de quem faz a amostra; Seleção informal;

– As amostras não precisam ser representativas da população;

– Utiliza geralmente uma cuidadosa e controlada escolha de casos com certas


características especificadas previamente na formulação do problema;
28

Seleção da Amostra:

Objetivo central

Entender:
Detalhes; Significados; Atores;
Informação.

Técnica:
Amostragem com um propósito
definido e de acordo com a evolução
dos acontecimentos.

Particularidades sobre a amostragem na pesquisa qualitativa:

 A definição a amostra na pesquisa qualitativa ocorre durante a imersão inicial ou depois


dela. O tamanho da amostra não é importante do ponto de vista probabilístico, uma vez que
não é interesse do pesquisador generalizar os resultados para uma população mais ampla.
 Geralmente se consegue obter os casos (pessoas, contextos, situações) que interessam ao
pesquisador e são capazes de oferecer uma grande quantidade de dados para coleta e análise.
(Ex. de amostras da pesquisa qualitativa: voluntários, especialistas, casos típicos, cotas);
 As amostras são mais flexíveis.
29

3.4 COLETA DE DADOS

Uma vez selecionado o desenho da pesquisa apropriado e a amostra adequada (probabilística


ou não) de acordo com o problema de estudo e hipóteses (se houver), o próximo passo é coletar
dados apropriados sobre os atributos, conceitos ou variáveis das unidades de análise ou casos. Isto
implica em elaborar um plano detalhado de procedimentos, visando reunir dados com um propósito
específico. Os instrumentos de coleta de dados devem ser confiáveis e válidos. A confiabilidade se
refere ao grau em que a aplicação reiterada de um instrumento de medição, aos mesmos indivíduos
ou objetos, produz resultados iguais. A validade se refere ao grau em que o instrumento de
mensuração mensura realmente as variáveis que pretende verificar.

Coleta de dados no enfoque quantitativo:


No enfoque quantitativo, coletar os dados é o mesmo que mensurar, ou seja, vincular
conceitos abstratos com indicadores empíricos mediante classificação ou quantificação. As
variáveis contidas na(s) hipótese(s) são mensuradas.
Os passos genéricos para a elaboração de um instrumento de mensuração, segundo
Sampieri; Collado; Baptista Lucio (2013, p.285) são:

1. Redefinições fundamentais sobre propósitos, definições operacionais e participantes;


2. Revisar a literatura, principalmente a que se refere aos instrumentos utilizados para
mensurar as variáveis de interesse;
3. Identificar o conjunto ou domínio de conceitos ou variáveis a serem mensuradas e
indicadores de cada variável;
4. Tomar decisões referentes a: tipo e formato, utilizar algum existente, adaptá-lo ou construir
um novo, assim como o contexto de administração;
5. Criar o instrumento;
6. Aplicar o teste piloto (para calcular a confiabilidade e a validade iniciais);
7. Desenvolver sua versão definitiva;
8. Treinar quem irá administrá-lo;
9. Obter autorizações para aplicá-lo;
10. Administrar o instrumento;
11. Preparar os dados para a análise.
30

Coleta de dados no enfoque qualitativo:


A coleta de dados no enfoque qualitativo ocorre nos ambientes naturais e cotidianos dos
participantes ou das unidades de análise. O instrumento de coleta dos dados é o próprio pesquisador.
As unidades de análise podem ser pessoas, casos, significados, práticas, episódios, encontros, papéis
desempenhados, relações, grupos, organizações, comunidades, etc. Várias técnicas ou métodos de
coletas podem ser utilizados, podendo estes sofrer modificações durante o estudo. As principais são:
Observações, entrevistas, análise de documentos e registros, etc.
Os propósitos essenciais de observação para este tipo de enfoque são:
 Explorar ambientes, contextos e a maioria dos aspectos da vida social;
 Descrever comunidades, contextos ou ambientes, as atividades neles desenvolvidas;
 Compreender processos, vínculos entre pessoas e suas situações ou circunstâncias, eventos
que ocorrem ao longo do tempo, padrões desenvolvidos e os contextos sociais e culturais em
que as experiências humanas acontecem;
 Identificar problemas;
 Gerar hipóteses para estudos futuros.

Quantitativo Qualitativo

Medir variáveis para realizar inferências e Obter dados (que serão transformados em
análise estatística; informação) de pessoas, seres vivos,
Precisa de: comunidades, contextos ou situações de
• Variáveis; maneira aprofundada;
• Definições operacionais;
• Amostra;
• Recursos disponíveis

3.5 ANÁLISE DE DADOS

3.5.1 Análise quantitativa

A análise quantitativa dos dados é efetuada com os dados previamente tabulados e organizados
em forma de matriz. Os passos mais importantes na análise são:
a) Decidir o programa de análise que será utilizado.
b) Explorar os dados obtidos na coleta:
31

a. Analisar descritivamente os dados por variável de estudo;


b. Visualizar os dados por variável;
c) Avaliar a confiabilidade e a validade do instrumento ou instrumentos de medição utilizados;
d) Analisar e interpretar com testes estatísticos as hipóteses formuladas;
e) Realizar análises adicionais;
f) Preparar os resultados para apresentá-los.

As análises estatísticas são realizadas por meio de programas eletrônicos que possuem pacotes
estatísticos. Os mais conhecidos são PSPP, SPSS, Minitab e SAS.

3.5.2 Análise qualitativa

A análise qualitativa de dados implica em refletir constantemente sobre os dados coletados,


os quais foram previamente organizados (narrações transcritas, etc.). As unidades de análise
emergem dos dados. O pesquisador analisa cada unidade e extrai seu significado e suas categorias
(semelhanças e diferenças entre as unidades de significado), chegando à codificação em um
primeiro plano.

Na pesquisa qualitativa, surgem critérios para tentar estabelecer um paralelo entre a


confiabilidade, validade e objetividade quantitativa. Alguns exemplos de softwares indicados para
análise de dados qualitativo são o Atlas,ti e o Decision Explorer.

3.6 Método misto de pesquisa

Os métodos mistos ou híbridos, os quais representam um caminho adicional aos enfoques


quantitativo e qualitativo, tiveram um crescimento vertiginoso na última década. Eles representam
um conjunto de processos sistemáticos, empíricos e críticos de pesquisa e envolvem a coleta e
análise de dados quantitativos e qualitativos, assim como sua integração e discussão conjunta para
realizar inferências como produto de toda a informação coletada e conseguir um maior
entendimento do fenômeno em estudo.

A existência deste método é justificada diante da complexidade e diversidade dos fenômenos


e problemas enfrentados atualmente pelas ciências. O uso de um enfoque único nem sempre é o
suficiente para lidar com essa complexidade. Este tipo de enfoque consegue dar uma perspectiva
mais ampla e profunda do fenômeno, ajudando a formular o problema de maneira mais clara,
produzindo dados mais “ricos” e variados, potencializando a criatividade teórica, permitindo que os
32

dados sejam melhor explorados e aproveitados.

Para escolher o desenho misto apropriado, o pesquisador deve levar em conta a prioridade
de cada tipo de dados (igual ou diferente), a sequência ou tempos dos métodos (concomitante ou
sequencial), o propósito essencial da integração dos dados e as etapas do processo de pesquisa nas
quais os enfoques serão integrados.

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