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Índice

Folha de rosto
Dedicaçã o
Conteú do
Lista de ilustraçõ es
Introduçã o
1. As grandes perguntas
2. Desbloqueando o passado
3. O que há por trá s
4. Encontrando o caminho a seguir
5. Comportando-se de uma maneira moderna: leitura da mente e símbolos
6. Comportando-se de uma maneira moderna: tecnologia e formas de vida
7. Genes e DNA
8. Fazendo um ser humano moderno
9. A evoluçã o passada e futura de nossas espécies
Fontes e leitura sugerida
Agradecimentos
Índice
Sobre o autor
Também por Chris Stringer
direito autoral
 

Para a memó ria da família perdida Tony e David, e dos colegas


perdidos Bill, Clark e Roger

Conteúdo

Folha de rosto
Dedicaçã o
Lista de ilustraçõ es
Introduçã o
1. As grandes perguntas
2. Desbloqueando o passado
3. O que há por trá s
4. Encontrando o caminho a seguir
5. Comportando-se de uma maneira moderna: leitura da mente e símbolos
6. Comportando-se de uma maneira moderna: tecnologia e formas de vida
7. Genes e DNA
8. Fazendo um ser humano moderno
9. A evoluçã o passada e futura de nossas espécies
Fontes e leitura sugerida
Agradecimentos
Índice
Sobre o autor
Também por Chris Stringer
direito autoral

Ilustrações

Informaçõ es de direitos autorais sã o fornecidas entre parênteses


Eugène Dubois e seu crâ nio “ Pithecanthropus erectus ” ( John Reader )
Mapa mostrando os primeiros locais humanos ( Chris Stringer )
Réplica da mandíbula de Heidelberg ( The Boxgrove Project )
Franz Weidenreich e alguns fó sseis do "Homem de Pequim" ( John Reader )
Louis Leakey com o crâ nio “ Zinjanthropus ” de Olduvai Gorge ( Museu de
História Natural, Londres )
Chris Stringer em sua viagem de pesquisa pela Europa em 1971 ( Chris Stringer /
Rosemary Lee )
Milford Wolpoff ( David Hart )
Gü nter Brä uer e Chris Stringer ( Günter Bräuer / Chris Stringer )
Crâ nios de erectus , heidelbergensis , sapiens e neanderthalensis ( Museu de
História Natural, Londres )
Vista lateral de crâ nios de erectus , heidelbergensis , sapiens e 
neanderthalensis ( Museu de História Natural, Londres )
Intervalos dos principais métodos de namoro para a evoluçã o humana
recente ( Chris Stringer )
Boxgrove handaxes ( O Projeto Boxgrove )
Esqueleto do Vale do Neandro ( John Reader )
Crâ nios de Jebel Irhoud e La Ferrassie ( Chris Stringer / Musée de l'Homme,
Paris )
Os fó sseis de Oase ( Erik Trinkaus )
Vista oblíqua do crâ nio de Herto ( cortesia e © Tim White )
Vista lateral do crâ nio de Herto ( cortesia e © Tim White )
O crâ nio da criança de Herto ( cortesia e © Tim White )
Mapa mostrando os primeiros locais humanos na Europa ( Chris Stringer )
Objetos da Caverna Hohle Fels, Alemanha: “Lion Man” ( Juraj Lipták /
Universidade de Tübingen ); flauta ( Hilde Jensen / Universidade de
Tübingen ); Vênus ( Hilde Jensen / Universidade de Tübingen ); aves aquá ticas
( Juraj Lipták / Universidade de Tübingen )
Escavaçõ es fora da caverna Vogelherd, Alemanha ( Maria Malina / Universidade
de Tübingen )
Caverna de Blombos, Á frica do Sul, exterior ( Chris Henshilwood )
Caverna de Blombos, Á frica do Sul, interior ( Chris Henshilwood )
Ferramentas Still Bay da Caverna Blombos ( Chris Henshilwood )
Placa de ocre da caverna Blombos ( Francesco d'Errico )
Ferramentas para ossos da caverna Blombos ( Chris Henshilwood )
Conchas de carrapatos da caverna Blombos ( Chris Henshilwood )
Escultura de renas do abrigo de pedra de Montastruc, França ( réplica, Chris
Stringer )
Pigmentos de Pech-de-l'Azé, França ( Francesco d'Errico e Marie Soressi )
A á rvore mtDNA ( Mark Stoneking )
Mapa mostrando a expansã o dos primeiros grupos modernos ( Chris Stringer )
Chimpanzés quebrando nozes de ó leo de palma ( Susan Carvalho )
Diagrama mostrando transmissã o cultural limitada em humanos arcaicos ( Chris
Stringer )
Diagrama mostrando uma transmissã o cultural muito mais ampla em humanos
modernos ( Chris Stringer )
Mapa mostrando sites humanos posteriores ( Chris Stringer )
Mapa mostrando sites humanos posteriores na Europa ( Chris Stringer )
Mungo 3, Austrá lia ( Colin Groves )
Omo Kibish 1 e 2 ( Michael Day )
Crâ nio de Ngaloba ( Chris Stringer )
Crâ nio de Iwo Eleru ( Museu de História Natural, Londres )
Qual modelo é "certo"? ( Chris Stringer )
Á rvore evolutiva ( Chris Stringer )
Introdução

Acabamos de comemorar o 150º aniversá rio da publicaçã o de On the Origin of


Species, de Charles Darwin, e seus duzentos anos, e a evoluçã o por seleçã o
natural agora é amplamente aceita. Mas o que sabemos sobre a origem de nossa
pró pria espécie, Homo sapiens ? Apesar do registro fascinante e crescente de
fó sseis pré-humanos muito antigos, um tó pico dominou a recente discussã o
científica e popular sobre evoluçã o: nossas pró prias origens. Embora seja
geralmente aceito que a Á frica foi a pá tria de nossos primeiros ancestrais
humanos, continua um intenso debate sobre se também era o local de origem
final de nossa pró pria espécie e de tudo o que consideramos típico de nossa
espécie, como a linguagem, arte e tecnologia complexa. Originalmente centrado
no registro fó ssil, o debate cresceu para abranger dados arqueoló gicos e
genéticos, e estes ú ltimos se tornaram cada vez mais significativos, incluindo
agora o DNA de fó sseis neandertais. No entanto, muitos desses novos dados e as
discussõ es em torno deles estã o ocultos em apresentaçõ es altamente técnicas,
espalhadas em perió dicos e livros especializados, por isso é difícil para o pú blico
em geral, por mais informado que seja, obter uma visã o geral acessível.
Neste livro, quero tentar fornecer um relato abrangente - mas compreensível
- da origem de nossa espécie a partir de minha posiçã o nesses debates nos
ú ltimos trinta anos. Já trabalhei no Museu de Histó ria Natural de Londres por
mais tempo do que isso, e a ideia de que eu poderia ter ido até lá , estudando
nossas origens, era um sonho de infâ ncia que nunca pensei que realmente
aconteceria, dadas minhas origens relativamente humildes na á rea cockney do
leste de Londres. Mas com pais solidá rios, pais adotivos e alguns professores que
me incentivaram ao longo do caminho, comecei a realizar esse sonho quando, aos
dezoito anos, fiz uma mudança de ú ltima hora do estudo da medicina para a
graduaçã o em antropologia. Foi uma aposta que valeu a pena quando fui aceito
no doutorado. programa na Universidade de Bristol em 1970 para estudar meu
povo fó ssil favorito - os Neandertais - e até isso foi limitado pela oferta de um
emprego no Departamento de Paleontologia do Museu de Histó ria Natural de
Londres, em 1973.
Foi um momento emocionante trabalhar neste campo, com maravilhosas
descobertas fó sseis novas, mas também a chegada de uma série de novas
técnicas para datar e estudá -las. Espero que meu livro faça todos os leitores
pensarem no que significa ser humano e mude suas percepçõ es sobre nossas
origens - escrever isso certamente mudou algumas das minhas!
Dou regularmente palestras sobre a evoluçã o humana e recebo centenas de
perguntas sobre esse tó pico todos os anos da mídia e do pú blico. As mesmas
perguntas sã o repetidas e repetidas vezes, e neste livro tentarei respondê-
las. Essas perguntas incluem:
1. Quais sã o as grandes questõ es no debate sobre nossas origens?
2. Como podemos definir os humanos modernos e como podemos reconhecer nosso
início no registro fó ssil e arqueoló gico?
3. Como podemos datar com precisã o fó sseis, incluindo aqueles além da faixa de
dataçã o por radiocarbono?
4. O que os dados genéticos realmente nos dizem sobre nossas origens, e nossas
origens eram exclusivamente na Á frica?
5. Os humanos modernos sã o uma espécie distinta dos povos antigos, como os
neandertais?
6. Como podemos reconhecer humanos modernos comportamentalmente, e traços
como linguagem e arte complexas sã o exclusivos dos humanos modernos?
7. Que contato nossos ancestrais tiveram com pessoas como os neandertais e fomos
a causa de sua extinçã o?
8. As características arcaicas dos fó sseis e genes humanos modernos fora da Á frica
indicam hibridizaçã o?
9. O que o DNA nos diz sobre os neandertais e possíveis cruzamentos com seres
humanos modernos?
10. O que podemos aprender com um genoma completo dos neandertais e vamos
clonar um neandertal?
11. Quais forças moldaram as origens dos humanos modernos - eram climá ticas,
dietéticas, sociais ou mesmo vulcâ nicas?
12. O que levou as dispersõ es dos humanos modernos da Á frica e como nossas
espécies se espalharam pelo globo?
13. Como as características regionais ("raciais") evoluíram e qual a importâ ncia
delas?
14. O que era o “Hobbit” da ilha de Flores e como ele se relacionava conosco?
15. A evoluçã o humana parou ou ainda estamos evoluindo?
16. O que podemos esperar de pesquisas futuras sobre nossas origens?

Já faz mais de vinte anos desde a publicaçã o do artigo seminal


da natureza “DNA mitocondrial e evoluçã o humana”, de Rebecca Cann, Mark
Stoneking e Allan Wilson que colocou as origens humanas modernas e a “véspera
mitocondrial” nas primeiras pá ginas de jornais e revistas. pelo mundo pela
primeira vez. Esse trabalho nã o apenas focou a atençã o na evoluçã o de nossa
pró pria espécie, mas também levou a uma reformulaçã o fundamental de
argumentos científicos sobre a maneira como encaramos nossas pró prias
origens. Um ano apó s essa publicaçã o, escrevi o artigo “Evidência genética e
fó ssil para a origem dos seres humanos modernos” para a revista Science com
meu colega Peter Andrews, que expô s os modelos contrastantes das origens
humanas modernas que dominam o debate desde entã o: Modelo de origem
africana recente e modelo de evoluçã o multirregional. Mais adiante, neste livro,
veremos como esses modelos se saíram diante de muitas novas descobertas, mas
no primeiro capítulo examinarei algumas das grandes questõ es das origens
humanas modernas, incluindo o que diagnostica nossa espécie, quais sã o os
debates recentes. tudo sobre e como os diferentes modelos estabelecem
expectativas sobre o que devemos encontrar no registro da evoluçã o humana
moderna, de fó sseis, arqueologia e genética.

11
As grandes perguntas

Faz apenas 150 anos que Charles Darwin e Alfred Russel Wallace apresentaram
suas idéias sobre evoluçã o ao mundo. Um ano depois, em 1859, Darwin
publicaria um dos livros mais famosos de todos os tempos, Sobre a origem das
espécies . Entã o, os primeiros achados fó sseis humanos estavam começando a ser
reconhecidos, e a paleontologia e a arqueologia ainda estavam em sua
infâ ncia. Agora, há um registro rico e crescente da Á frica, Á sia e Europa, e tive o
privilégio de trabalhar em uma das épocas mais emocionantes para descobertas
sobre nossas origens. Houve descobertas fó sseis altamente significativas, é claro,
mas também houve avanços científicos notá veis na quantidade de informaçõ es
que podemos extrair dessas descobertas. Neste primeiro capítulo, descreverei as
evidências que foram usadas para reconstruir onde nossa espécie se originou e
as diferentes visõ es que se desenvolveram, incluindo a minha. Na verdade,
existem duas origens para os recursos humanos modernos que precisamos
considerar. Aqui, falarei sobre nossa espécie em termos das características
físicas que os seres humanos compartilham hoje, por exemplo, um esqueleto
esbelto em comparaçã o com nossos antecessores mais robustos, uma base de
dados mais alta e mais redonda, sulcos de sobrancelha menores e um queixo
proeminente. Mas há também as características que distinguem diferentes
populaçõ es geográ ficas hoje em dia - as características regionais ou "raciais",
como o nariz mais saliente de muitos europeus ou a face mais plana da maioria
dos orientais. Discutirei suas origens bem diferentes mais adiante neste livro.
Em The Descent of Man (1871), Darwin sugeriu que a Á frica era a pá tria
evolutiva mais prová vel para os seres humanos, porque era o continente onde
nossos parentes mais pró ximos, os macacos africanos, podiam ser encontrados
hoje. No entanto, levaria muitos anos até que as evidências fó sseis que
finalmente provassem que ele estava certo começaram a ser descobertas. Antes
disso, a Europa com os neandertais, "Heidelberg Man", e o espú rio "Piltdown
Man", e a Á sia com "Java Man", eram o foco da atençã o científica sobre a
ancestralidade humana. Mas a descoberta de 1921 do crâ nio de Broken Hill no
que é hoje a Zâ mbia, e a descoberta de 1924 do crâ nio de Taung (da Á frica do
Sul), iniciaram o processo que deu à Á frica sua importâ ncia primordial na
histó ria da evoluçã o humana, mesmo que esse processo ainda teve muitos anos
para correr. Na década de 1970, uma sucessã o de fó sseis havia estabelecido que
a Á frica nã o era apenas o local de origem da linha humana (isto é, o continente
em que o ú ltimo ancestral comum dos seres humanos e dos chimpanzés vivia),
mas provavelmente também era onde o gênero Homo (seres humanos). ) se
originou. Mas de onde nossa pró pria espécie, Homo sapiens (humanos
modernos), se originou? Isso ainda nã o estava claro na década de 1970 e
permaneceu assim até bem recentemente.
Quando Charles Darwin escreveu em A Origem das Espécies , “seria lançada
luz sobre a origem do homem e sua histó ria”, ele relutou em dizer mais sobre o
assunto, como admitiu doze anos depois na introduçã o de A Descida do Homem. :
“Durante muitos anos, coletei notas sobre a origem ou descendência do homem,
sem nenhuma intençã o de publicar sobre o assunto, mas com a determinaçã o de
nã o publicar, pois pensei que deveria assim acrescentar apenas os preconceitos
contra minhas opiniõ es. " Mas nos anos seguintes, ele foi fortalecido por um
nú mero crescente de apoiadores influentes e, portanto, sentiu-se pronto -
finalmente - para enfrentar o controverso tó pico das origens humanas. Ele entã o
continuou: “O ú nico objetivo deste trabalho é considerar, primeiramente, se o
homem, como todas as outras espécies, descende de alguma forma pré-
existente; segundo, a maneira de seu desenvolvimento; e terceiro, o valor das
diferenças entre as chamadas raças humanas. ” No entanto, Darwin reconheceu
que ainda havia muitos céticos, algo que infelizmente permanece tã o verdadeiro
hoje como era na época: “Muitas vezes foi afirmado com confiança que a origem
do homem nunca pode ser conhecida: mas a ignorâ ncia gera mais
frequentemente confiança do que o conhecimento: sã o aqueles que sabem pouco,
e nã o aqueles que sabem muito, que tã o positivamente afirmam que esse ou
aquele problema nunca será resolvido pela ciência. ”
Darwin entã o prestou homenagem a vá rios outros cientistas por seu trabalho
sobre as origens humanas, particularmente o bió logo alemã o Ernst Haeckel, e
isso é especialmente interessante, pois Haeckel se diferenciava dele e de Thomas
Huxley ("buldogue de Darwin") por uma questã o crítica sobre nossas origens,
uma questã o que continua sendo debatida até hoje. Em The Descent of
Man, Darwin escreveu: “Naturalmente somos levados a indagar, onde era o local
de nascimento do homem naquele está gio de descendência, quando nossos
progenitores divergiam do estoque de catarro [o grupo de catarro inclui macacos
e macacos]?… Em cada grande regiã o do mundo, os mamíferos vivos estã o
intimamente relacionados à s espécies extintas da mesma regiã o. Portanto, é
prová vel que a Á frica fosse habitada anteriormente por macacos extintos,
intimamente aliados ao gorila e ao chimpanzé; e como essas duas espécies agora
sã o aliadas mais pró ximas do homem, é um pouco mais prová vel que nossos
primeiros progenitores vivam no continente africano do que em outros lugares
”. No entanto, ele passou a advertir: "Mas é inú til especular sobre esse assunto ...
pois houve tempo suficiente para a migraçã o na maior escala".
Darwin nã o apenas teve que lidar com uma escassez de evidências fó sseis em
1871, incluindo a completa ausência de fó sseis humanos da Á frica, mas também
nã o havia conhecimento do conceito de deriva continental (a idéia de que massas
de terra migraram no passado, dividindo e realinhando à medida que se moviam
pela superfície da Terra). Sabe-se agora que esse processo está subjacente a
muitas das distribuiçõ es atuais de plantas e animais (por exemplo, as
assembléias ú nicas de espécies encontradas em lugares como Austrá lia e Nova
Zelâ ndia). Anteriormente, para explicar ligaçõ es intrigantes entre espécies em
diferentes regiõ es, continentes agora afundados eram frequentemente
postulados. Por exemplo, os lêmures sã o primatas bastante primitivos que hoje
sã o encontrados apenas na ilha de Madagascar, a cerca de trezentos quilô metros
da costa da Á frica, mas fó sseis antigos de lêmures foram encontrados no
subcontinente indiano, e essas semelhanças levaram o zoó logo britâ nico Philip
Sclater a hipó tese de que em 1864 havia um grande continente, que ele chamou
de Lemú ria, estendendo-se por grande parte do que é hoje o Oceano Índico.
Usando o conceito deste continente perdido, Haeckel defendeu uma pá tria
ancestral diferente para os seres humanos: “Há vá rias circunstâ ncias que
sugerem que o lar primordial do homem era um continente agora afundado
abaixo da superfície do Oceano Índico, que se estendia ao longo do sul da Á sia ...
em direçã o ao leste; para o oeste até Madagascar e as costas do sudeste da
Á frica. Ao supor que essa Lemú ria tenha sido o lar primordial do homem,
facilitamos muito a explicaçã o da distribuiçã o geográ fica da espécie humana pela
migraçã o. ” Além disso, Haeckel diferia de Darwin e Huxley em favorecer o gibã o
e o orangotango do sudeste da Á sia como melhores modelos de macacos para
ascendência humana do que o gorila e o chimpanzé da Á frica. E enquanto Darwin
seguiu o geó logo Charles Lyell ao argumentar que o registro fó ssil da evoluçã o
humana ainda era desconhecido porque as regiõ es certas ainda nã o haviam sido
pesquisadas (em particular na Á frica), Haeckel preferiu a explicaçã o de que a
maioria das evidências críticas agora estava afundada sob a Terra. Oceano Índico.
Eugène Dubois e seu crâ nio " Pithecanthropus erectus ".

Durante a vida de Darwin, os neandertais já eram conhecidos por seus restos


fó sseis como antigos habitantes da Europa. Enquanto alguns cientistas os
colocaram na posiçã o de “elos perdidos”, reconstruindo-os com os joelhos
dobrados e os dedos grandes dos pés, outros como Huxley os reconheceram
como cérebros grandes, retos e inconfundivelmente humanos. Darwin nunca
viveu para ver a primeira descoberta de um fó ssil humano realmente primitivo,
anunciada por um médico holandês, Eugène Dubois, em 1891. Dubois havia se
inspirado nos escritos de Haeckel para levar um exército para o que eram entã o
as Índias Orientais Holandesas (agora Indonésia ), para procurar restos
antigos. Haeckel havia criado o nome “ Pithecanthropus alalus ” (“Homem
Macaco sem Fala”) para um elo hipotético entre macacos e humanos que ele
acreditava ter vivido na Lemú ria. Dubois foi abençoado com sorte em suas
escavaçõ es na ilha de Java e logo encontrou uma calota de caveira fossilizada e
semelhante a um macaco e um osso da coxa com aparência humana. Ele chamou
esses " Pithecanthropus " (em homenagem a Haeckel) " erectus " (porque o fêmur
indicava que essa criatura andava ereta, como nó s). Agora conhecemos essa
espécie como Homo erectus , uma espécie abrangente e duradoura do ser
humano primitivo. Mas como essa primeira descoberta da espécie foi feita na ilha
indonésia de Java, ela tendeu a reforçar as noçõ es de Haeckel e Dubois de origem
lemuriana / sul da Á sia para os seres humanos, em vez de africana.
Ao nomear " Pithecanthropus erectus ", Dubois seguia o sistema estabelecido
mais de um século antes pelo maior de todos os classificadores, o naturalista
sueco Carl Linnaeus. O sá bio chinês Confú cio disse que era "um homem sá bio"
quem especificou os nomes das coisas, e por feliz coincidência esse foi o nome,
em latim, que Linnaeus escolheu para a espécie humana: Homo sapiens . Antes de
Linnaeus, havia muitas maneiras diferentes de nomear e agrupar plantas e
animais, geralmente baseados aleatoriamente em características particulares
que eles mostravam - cores, digamos, como se moviam ou o que comiam. Mas
Linnaeus acreditava em agrupar os seres vivos pelas características corporais
que compartilhavam, e no centro de seu sistema estavam os dois nomes
aplicados a todo tipo ou espécie natural: seu nome de grupo ou gênero em
maiú scula e seu nome de espécie em particular. Assim, Homo ("Homem")
e sapiens ("sá bio"). O sistema é um pouco como um sobrenome (o nome do
gênero Homo ) e um primeiro nome (diferenciando as diferentes crianças com
um sobrenome específico, no nosso caso sapiens ). Na décima ediçã o mais citada
de seu livro Systema Naturae (1758), ele também nomeou quatro subespécies
geográ ficas: " europaeus ", " afer ", " asiaticus " e " americanus ", introduzindo
algumas distinçõ es comportamentais anedó ticas duvidosas, alinhadas com as
atuais Noçõ es européias sobre a superioridade da subespécie européia. Por
exemplo, enquanto “ europaeus ” era, é claro, governado por leis, “ americanus ”
era governado por costumes, “ asiaticus ” por opiniõ es e a subespécie africana
“ afer ” por impulso.

Mapa mostrando os primeiros locais humanos.

No início de 1900, as evidências continuaram a se acumular em favor de uma


origem nã o africana para os seres humanos, e o foco voltou à Europa. Restos de
neandertais adicionais foram encontrados na Croá cia e na França, e um maxilar
fó ssil mais antigo e primitivo foi descoberto na caixa de areia de Mauer, perto de
Heidelberg, na Alemanha, em 1907. Quando material suficiente começou a se
acumular, os cientistas começaram a construir á rvores evolutivas a partir das
evidências fó sseis. Estes tendiam a se dividir em duas categorias principais:
aquelas em que os fó sseis eram arranjados em uma sequência linear que leva da
forma mais primitiva (por exemplo, Java Man ou Heidelberg Man) aos humanos
modernos, com poucos ou nenhum ramo lateral (como uma escada). ; e outros
(como um arbusto) onde havia uma linhagem levando aos humanos modernos, e
os outros fó sseis com suas características primitivas foram colocados em uma
variedade de ramos laterais, levando apenas à extinçã o.
A combinaçã o das publicaçõ es de Darwin e Wallace sobre a transmutaçã o de
espécies e um registro humano fó ssil em proliferaçã o do Pleistoceno levou à
expectativa de que houvesse muitas espécies humanas mais antigas (o
Pleistoceno é uma época geoló gica recente, pouco datada durante o tempo de
Darwin, mas acredita-se que se estenda de 12.000 a 2,5 milhõ es de anos
atrá s). William King havia nomeado a primeira espécie de fó ssil Homo
neanderthalensis em 1864, a partir do esqueleto descoberto no vale de Neander
em 1856. Em cinquenta anos, os novos achados europeus foram atribuídos a
dezenas de novas espécies humanas em um infeliz tumulto de tipologia, onde
diferenças triviais foram elevadas para assumir um significado bioló gico
real. Assim, os restos completamente modernos que foram encontrados nos
locais de Cro-Magnon, Grimaldi, Chancelade e Oberkassel se tornaram a espécie
humana " spelaeus ", " grimaldii ", " priscus " e " mediterraneus ",
respectivamente, enquanto os restos mortais de Spy, Le Moustier e La Chapelle-
aux-Saints tornaram-se " spyensis " , " transprimigenius " e " chapellensis ",
apesar da semelhança com os restos já designados H. neanderthalensis do vale de
Neander. Essa tendência para o que podemos chamar de “divisã o” extrema
continuou até cerca de 1950, quando o pêndulo voltou à tendência oposta de
“agrupar” fó sseis em apenas algumas espécies.

Uma réplica do osso da mandíbula foi descoberta na caixa de areia de Mauer, perto de Heidelberg,
na Alemanha, em 1907, junto com um dos dentes do incisivo Boxgrove.

Sugestõ es de que a Europa pode ter hospedado parentes humanos ainda mais
primitivos começaram a emergir de um poço de cascalho em Piltdown, no sul da
Inglaterra, em 1912, dando origem a mais uma espécie chamada " Eoanthropus
dawsoni " ("Dawn Man of Dawson" - sendo o principal o Dawn Man of Dawson)
descobridor). Partes de uma caveira grossa, mas de cérebro grande, juntamente
com uma mandíbula distintamente semelhante a simiesca, apareceram lá com
fó sseis de animais antigos e ferramentas de pedra primitivas, sugerindo uma
idade tã o grande quanto a de Java Man. A Á frica nã o tinha nada para comparar
com esses achados crescentes, mas que finalmente começaram a mudar na
década de 1920. No entanto, as circunstâ ncias foram tais que esses primeiros
achados ainda nã o conseguiram mudar o foco das origens humanas para a Á frica.
O crâ nio de Broken Hill (Kabwe), descoberto em 1921, foi o primeiro fó ssil
humano importante da Á frica, mas foi um achado intrigante. Embora tenha sido
atribuído à nova espécie " Homo rhodesiensis " por Sir Arthur Smith Woodward,
do Museu Britâ nico, o antropó logo tcheco-americano Aleš Hrdli č ka chamou de
"um cometa da pré-histó ria do homem" devido à dificuldade em decifrar sua
idade e afinidades. O crâ nio foi encontrado em depó sitos de cavernas que
estavam sendo extraídos durante a mineraçã o de minério de metal , no que é
hoje a Zâ mbia (entã o colô nia britâ nica da Rodésia do Norte). É um dos fó sseis
mais belamente preservados de todos os humanos, mas exibe uma estranha
mistura de características primitivas e avançadas, e seu rosto é dominado por
uma enorme crista de testa brilhando sobre as ó rbitas oculares. E como foi
encontrado durante a extraçã o, que acabou destruindo toda a mina de Broken
Hill, sua idade e importâ ncia permanecem incertas até hoje (mas veja o capítulo
final para os ú ltimos desenvolvimentos).
Três anos depois, uma descoberta ainda mais primitiva foi feita em uma
pedreira de calcá rio em Taung, na Á frica do Sul - um crâ nio que parecia o de um
jovem macaco. Foi estudado por um professor de anatomia recém-criado em
Joanesburgo, chamado Raymond Dart, e em 1925 ele publicou um artigo na
revista científica Nature , fazendo algumas afirmaçõ es notá veis sobre o fó ssil. Ele
argumentou que mostrava uma combinaçã o de macacos e características
humanas, mas que seus dentes, formato do cérebro e prová vel postura eram
parecidos com os humanos. Dart o nomeou Australopithecus africanus ("Macaco
do Sul da Á frica") e declarou que estava intimamente relacionado a nó s, e até
mesmo a um potencial ancestral humano. As reivindicaçõ es de Dart foram
tratadas com grande ceticismo pelo establishment científico, particularmente na
Inglaterra. Isso ocorreu em parte por causa de julgamentos sobre a juventude de
Dart e a inexperiência relativa, e em parte porque o fó ssil era o de uma criança
(os macacos jovens podem parecer mais "humanos" do que os adultos). Outros
pensaram que as descobertas de Java, Heidelberg e Piltdown forneceram
ancestrais muito mais plausíveis que o Australopithecus africanus . E, finalmente,
a localizaçã o e a idade estimada de Taung também contavam com isso.
Ninguém (nem mesmo Darwin e Huxley) considerou o sul da Á frica como um
local para a evoluçã o humana primitiva, e como o crâ nio de Taung tinha apenas
500.000 anos de idade, foi considerado muito recente para ser um genuíno
ancestral humano. Em vez disso, foi considerado um tipo peculiar de macaco,
paralelamente aos seres humanos de algumas maneiras. Agora sabemos, é claro,
que os australopithecinos representaram uma fase longa e importante da
evoluçã o humana que durou mais de 2 milhõ es de anos, e que é reconhecida em
locais que se estendem desde o Chade no Saara até muitos mais na Á frica
Oriental e Austral. E também sabemos desde a sua exposiçã o em 1953 que os
enganosos restos de Piltdown eram fraudulentos e nã o tinham nada a ver com
nossa ancestralidade antiga.
Outras descobertas feitas nessa época continuaram a manter o foco fora da
Á frica, e as feitas em depó sitos de cavernas em Zhoukoudian, perto de Pequim, a
partir de 1921 começaram a revelar um homó logo chinês para Java Man,
inicialmente chamado de " Sinanthropus pekinensis " ("Homem Chinês de
Pequim"). ) Escavaçõ es sistemá ticas realizadas de 1927 até os dias atuais
renderam muitas partes do crâ nio e do corpo de seres humanos que moravam lá
cerca de meio milhã o de anos atrá s, pessoas que se assemelhavam à crescente
coleçã o de fó sseis de Java perto o suficiente para serem eventualmente
agrupadas no ú nico espécies Homo erectus . Esta espécie é crucial para estudos
de nossas origens, porque está no centro de visõ es radicalmente diferentes de
nossa evoluçã o que surgiram nos ú ltimos setenta anos. A maioria dos
antropó logos reconhece a existência de pelo menos duas espécies humanas
durante os ú ltimos milhõ es de anos - o extinto Homo erectus e nossa pró pria
espécie, Homo sapiens -, mas há visõ es muito diferentes sobre como essas
espécies estã o relacionadas.

Franz Weidenreich e alguns dos fó sseis de "Homem de Pequim" do Homo erectus  que o inspiraram
a criar uma versã o inicial do modelo multirregional de origens humanas.

O que hoje é conhecido como modelo multirregional de origens humanas


modernas foi proposto pela primeira vez na década de 1930 por Franz
Weidenreich, um antropó logo alemã o, que baseou muitos de seus argumentos
em estudos dos fó sseis de Homo erectus de Zhoukoudian . Weidenreich sugeriu
que o Homo erectus deu origem ao Homo sapiens em toda a sua extensã o, que,
cerca de um milhã o de anos atrá s, incluía Á frica, China, Indonésia e talvez a
Europa. Na sua opiniã o, como as espécies se dispersaram pelo Velho Mundo (nã o
é conhecido em regiõ es como a Austrá lia e as Américas), desenvolveu a variaçã o
regional que está nas raízes da moderna diferenciaçã o “racial”. Características
particulares em uma determinada regiã o persistiram nas populaçõ es locais de
descendentes de hoje. Por exemplo, ele argumentou, a partir dos fó sseis, que
os espécimes do Homo erectus chinês tinham as mesmas faces planas e maçã s do
rosto proeminentes que as populaçõ es orientais modernas, enquanto o Homo
erectus javanês construía maçã s do rosto e rostos robustos que se projetavam a
partir do cérebro, características que se destacam como marcadas aborígines
australianos modernos.
No outro extremo do modelo multirregional de Weidenreich estava a visã o de
que as características especiais dos humanos modernos (como testa alta, queixo
e esqueleto esbelto) levariam muito tempo para evoluir e, portanto, a linha que
leva ao Homo sapiens (a linhagem “pré- sapiens ”) deve ter sido muito antiga e
desenvolvida paralelamente a formas robustas e de sobrancelhas grandes, como
o Homo erectus e os neandertais. Essa é uma idéia antiga, que ganhou destaque
no início do século XX por pesquisadores influentes como Marcellin Boule
(França) e Arthur Keith (Reino Unido), e aspectos dela foram retomados mais
tarde por Louis Leakey, trabalhando no Quênia e na Tanzâ nia. A evidência de
apoio veio e passou pelo século passado, incluindo à s vezes espécimes como
Piltdown e o esqueleto moderno de Galley Hill, de Kent - o primeiro agora
conhecido por ser falso e o segundo datado incorretamente.
Entre os extremos do multiregionalismo (que potencialmente incluía todos os
fó sseis humanos em nossos ancestrais) e o modelo de Pre- sapiens (que excluía a
maioria deles), havia modelos intermediá rios, que mostravam os primeiros
neandertais na histó ria. Os fó sseis críticos desta vez eram do Monte Carmelo no
que era entã o a Palestina. Eles foram descobertos por uma expediçã o
internacional que escavava uma série de cavernas perto de Haifa no final das
décadas de 1920 e 1930. Em duas das cavernas, Skhul e Tabun, eles encontraram
fó sseis humanos que aparentemente haviam sido intencionalmente
enterrados. Além disso, eles estavam associados aos tipos de ferramentas de
pedra que na Europa estavam associadas aos neandertais. E, no entanto, os
fó sseis pareciam mostrar misturas de características modernas e neandertais,
entã o como elas deveriam ser interpretadas? Na década de 1930, nã o havia
métodos precisos de dataçã o disponíveis e, portanto, os fó sseis de Tabun e Skhul
foram assumidos por seus descritores, Theodore McCown e Arthur Keith, como
aproximadamente contemporâ neos. Alguns sugeriram que as descobertas
pudessem representar híbridos entre os modernos e os neandertais, mas
McCown e Keith preferiram considerá -los membros de uma ú nica e antiga
populaçã o antiga, talvez pró xima à divergência das linhas modernas e
neandertais. (Na verdade, Keith nã o conseguia abandonar completamente
as inclinaçõ es pré- sapiens e pensava que provavelmente ainda estavam fora da
linha que nos levava, devido à s características neandertais.)
Louis Leakey com o crâ nio " Oldinjai  Gorge" Zinjanthropus ", que sua esposa, Mary, descobriu em
1959. Foi o primeiro fó ssil importante a ser datado pelo método de potá ssio e argô nio.

Mas outros os viam como evidência de uma ascendência pré-neandertal, em


vez de pré- sapiens, para os humanos modernos, com os neandertais tardios ou
"clá ssicos" subseqü entemente saindo da linha principal para os lados da
extinçã o. Seguindo essa linha de argumentaçã o, o paleoantropó logo americano F.
Clark Howell desenvolveu um cená rio elegante durante os anos 50, em que
“neandertais nã o especializados” cerca de 100.000 anos atrá s ficaram isolados na
Europa na ú ltima Era do Gelo e evoluíram para longe do Homo sapiens . Ao
mesmo tempo, aqueles no Oriente Médio (como Tabun) evoluíram em direçã o
aos humanos modernos através de formas como as encontradas em Skhul. Entã o,
para completar a histó ria, cerca de 35.000 anos atrá s, esses “proto-cro-magnons”
do Oriente Médio migraram para a Europa e substituíram seus primos
neandertais europeus.
Em contraste com esse modelo dos primó rdios dos neandertais das origens
humanas modernas, que deu aos neandertais uma parte mínima de nossa
evoluçã o, houve dois desenvolvimentos do multiregionalismo de Weidenreich
apó s sua morte em 1948, que devolveram os neandertais a um papel central em
nossa evoluçã o, e, em um caso, até estendeu seu papel globalmente. O
antropó logo americano Carleton Coon usou novo material fó ssil para
desenvolver um esquema global abrangente da evoluçã o de cinco linhagens
diferentes do Homo erectus , duas na Á frica e uma na Europa, China e
Austrá lia. Essas cinco linhagens evoluíram de maneira amplamente
independente para se tornar o que Coon considerava as raças modernas
do Homo sapiens : "Capoid" (o bosquímano da Á frica do Sul e povos
relacionados), "Negroid", "Caucasoid", "Mongoloid" e "Australoid".
Nesse aspecto, Coon diferia fundamentalmente de seu mentor, já que
Weidenreich considerava a evoluçã o humana uma rede de linhagens que
constantemente trocavam genes e idéias, enquanto Coon era bastante franco
sobre as linhagens divididas e as implicaçõ es de suas diferentes taxas de
evoluçã o inferidas: “ Onde quer que Homo aparecesse, e a Á frica atualmente seja
o continente mais prová vel, ele logo se dispersou, de uma forma muito primitiva,
pelas regiõ es quentes do Velho Mundo ... Se a Á frica era o berço da humanidade,
era apenas um jardim de infâ ncia indiferente. Europa e Á sia foram nossas
principais escolas. ”
O paleoantropó logo americano C. Loring Brace deu à s idéias de Weidenreich
uma nítida reviravolta no Neandertal, argumentando que o Homo erectus evoluiu
para os seres humanos modernos em cada parte do mundo povoado, passando
por uma fase de "neanderthaló ide". Em essência, de acordo com Brace, os
neandertais e povos antigos equivalentes em todo o mundo habitado usavam
seus dentes da frente como ferramentas para manipular alimentos e materiais, e
foi isso que produziu seus meios médios especialmente proeminentes, dentes
incisivos grandes e formato distintivo do crâ nio. Quando ferramentas mais
avançadas do Paleolítico Superior (Idade da Pedra Antiga) foram inventadas
cerca de 35.000 anos atrá s, foram levantadas as demandas sobre os dentes e
mandíbulas, e assim o rosto e o crâ nio foram transformados na forma que temos
hoje.
Essas foram as principais idéias sobre a origem dos seres humanos modernos
que me propus a testar quando comecei meus estudos para um doutorado. na
Universidade de Bristol, em 1970: o modelo multirregional global e seu
desenvolvimento braceiano, o modelo dos primeiros neandertais, o modelo dos
pre- sapiens (sem lugar para erectus ou neandertais) e um esquema um tanto
mais vago desenvolvido pelos antropó logos Bernard Campbell e Joseph Weiner
chamado a hipó tese do espectro. Isso argumentava que os humanos antigos
tinham misturas diferentes do que se tornariam características humanas
modernas, e eles contribuíram em parte e diferencialmente para a evoluçã o
do Homo sapiens . Assim, em certo sentido, a hipó tese do espectro era
multirregional, mas algumas linhagens tiveram uma contribuiçã o muito maior à
nossa ancestralidade do que outras. Uma revoluçã o ocorreu em 1970, quando o
poder da computaçã o começou a aumentar e a influenciar as ciências
bioló gicas. A maioria das aná lises da evoluçã o humana até 1970 foram baseadas
em observaçã o direta e, onde as medidas de um fó ssil eram realizadas, essas
eram geralmente comparadas individualmente ou através de um índice de
apenas duas medidas. No entanto, programas multivariados estavam se
tornando disponíveis para analisar um grande nú mero de mediçõ es e amostras
simultaneamente, permitindo estudos mais sofisticados das diferenças de
tamanho e formato. Tais aná lises estavam no centro dos meus estudos para
doutorado e, em julho de 1971, deixei o Reino Unido em uma viagem a museus e
institutos de pesquisa em dez países europeus. O objetivo era reunir o maior
nú mero possível de dados sobre os neandertais e seus sucessores de aparência
moderna na Europa, os Cro-Magnons, para verificar se o padrã o evolutivo era de
continuidade ou ruptura. Eu só tinha uma bolsa modesta do Conselho de
Pesquisa Médica para uma viagem de quatro meses e, portanto, dirigi meu carro
velho, dormindo nele, acampando ou ficando em albergues da juventude - na
Bélgica, até passei uma noite em um abrigo para os sem teto. Sobrevivi a muitas
aventuras, incluindo vá rios confrontos na fronteira e dois assaltos, mas no final
da minha viagem de 8.000 milhas eu havia coletado um dos maiores conjuntos de
dados de Neandertais e mediçõ es precoces do crâ nio moderno reunidas por
qualquer pessoa até entã o.

Chris Stringer em sua viagem de pesquisa de 1971 pela Europa. Está lavando o dia em um parque
de campismo na Iugoslá via.

Nos dois anos seguintes, analisei essas informaçõ es, adicionando dados
comparativos sobre fó sseis nã o europeus e populaçõ es humanas modernas (este
ú ltimo fornecido generosamente pelo antropó logo americano William
Howells). As medidas foram transferidas para cartõ es de dados e alimentadas em
um computador do tamanho de vá rias salas, mas que possuíam menos poder de
processamento do que meu ú ltimo telefone celular! No entanto, os resultados
foram instrutivos. Os crâ nios dos neandertais nã o eram mais parecidos com os
dos europeus recentes do que os africanos, esquimó s ou tasmanianos nativos, e
os crâ nios de Cro-Magnon nã o se encaixavam perfeitamente entre os neandertais
e os europeus recentes. Os primeiros crâ nios modernos de todo o mundo
pareciam se agrupar com seus pares modernos, em vez de crâ nios arcaicos das
mesmas regiõ es. Os primeiros resultados nã o forneceram suporte para uma
ascendência neandertal para os Cro-Magnons, e os ú ltimos resultados
contradiziam as expectativas multirregionais e espectrais. Estudar a sequência
na Europa antes dos tempos dos neandertais também nã o deu suporte
ao modelo de Pre- sapiens , porque os fó sseis europeus muito antigos nã o
podiam ser divididos entre os modernos e os neandertais; eles pareciam mostrar
o desenvolvimento gradual de apenas características dos neandertais ao longo
do tempo.
As coisas nã o eram tã o claras no Oriente Médio, embora também nã o
parecesse haver fó sseis "intermediá rios" entre os neandertais e os modernos. Os
crâ nios de Tabun e a caverna israelense de Amud pareciam ser basicamente
neandertais, enquanto os da caverna Skhul pareciam muito mais modernos. Mas
como nenhuma dessas descobertas foi bem datada na década de 1970, nã o pude
excluir a possibilidade de que, com tempo suficiente, os neandertais israelenses
pudessem ter se transformado nos primeiros modernos, de acordo com o
modelo de cientistas dos primeiros neandertais como Clark Howell. No entanto,
um ancestral alternativo surpreendente para os primeiros skhul e Cro-Magnon
emergiu dos meus resultados. Um crâ nio descoberto em 1967 na regiã o de Omo
Kibish, na Etió pia, por uma equipe liderada por Richard Leakey (filho dos
famosos pré-historiadores Louis e Mary Leakey), parecia muito moderno nas
minhas aná lises de formato do crâ nio, confirmando os primeiros estudos do
anatomista Michael Dia; contudo, trabalhos preliminares de dataçã o sugeriram
que ele teria até 130.000 anos de idade, mais antigo que a maioria dos
neandertais. E havia um enigmá tico crâ nio norte-africano, encontrado no local
marroquino de Jebel Irhoud em 1961. Na forma do crâ nio, parecia neandertal em
alguns aspectos, mas seu formato facial nã o era neandertal, em parte primitivo e
em parte moderno. Com uma idade em torno de 40.000 anos, era difícil encaixar
Jebel Irhoud em qualquer cená rio, mas ele e o crâ nio de Omo forneciam pistas de
que a Á frica teria sua pró pria histó ria para contar, quando mais dados
chegassem.
À medida que meu trabalho se desenvolvia na década de 1970 e no início da
década de 1980, eu gravitava cada vez mais em direçã o ao que Bill Howells em
1976 havia chamado de modelo do Jardim do É den (ou Arca de Noé). Isso foi
nomeado nã o porque Howells era qualquer tipo de criacionista bíblico, mas
devido à implicaçã o de que toda variaçã o humana moderna se desenvolveu a
partir de um ú nico centro de origem. A falta de fó sseis de muitas partes do
mundo, juntamente com a dataçã o inadequada de muitos daqueles que tínhamos,
significava que nem Howells nem eu poderíamos especificar onde esse centro de
origem poderia estar, embora pensá ssemos que poderíamos excluir o europeu e
o médio. Territó rios orientais dos neandertais. Ambos acreditá vamos que as
características comuns compartilhadas dos seres humanos modernos, como o
crâ nio arredondado, as sobrancelhas pequenas e o queixo, implicavam uma
origem comum recente, pois, caso contrá rio, haveria uma diferenciaçã o muito
maior ao longo do tempo. E comecei a me afastar da ideia entã o difundida de que
fó sseis de aparência diferente como Broken Hill, Neanderthals e Cro-Magnon
deveriam ser classificados conosco como variantes de nossa espécie, Homo
sapiens . Inicialmente, eu concordei com alguns outros trabalhadores em
diferenciar “ sapiens anatomicamente modernos ” (como Skhul e Cro-Magnon)
de formas “ sapiens arcaicas ”, como Neandertais e Broken Hill. Mas, durante os
anos 80, favoreci cada vez mais a limitaçã o do termo sapiens a fó sseis
semelhantes aos nossos. Além disso, junto com alguns outros hereges, comecei a
argumentar que os neandertais deviam retornar ao status concedido por William
King em 1864 como uma espécie distinta, Homo neanderthalensis . Também
sugeri que o crâ nio de Broken Hill encontrado em 1921 poderia ser agrupado
com formas européias mais primitivas (por exemplo, a descoberta da mandíbula
de Heidelberg em 1907) como Homo heidelbergensis .
À medida que minhas opiniõ es sobre nossas origens se desenvolviam em
direçã o a um modelo de origem ú nica, começaram a acumular evidências de que
a Á frica era especialmente importante nessa histó ria. A descoberta de Omo
Kibish foi acompanhada por material dos locais das cavernas da fronteira e das
cavernas da foz do rio Klasies, na Á frica do Sul. Além disso, novos trabalhos de
namoro sugeriram que a Á frica nã o era a á gua da retaguarda na evoluçã o
cultural que a maioria considerava ser. Arqueó logos como Desmond Clark e
Peter Beaumont argumentaram que, em vez disso, poderia estar liderando o
caminho na sofisticaçã o de suas ferramentas de pedra. Em 1980, eu estava
particularmente convencido de que a Á frica era o principal centro de nossa
evoluçã o, mas, devido à s incertezas no namoro, nã o pude descartar o Extremo
Oriente como também desempenhando um papel. Foram necessá rios mais
quatro anos para que eu adotasse publicamente uma forte posiçã o "Fora da
Á frica", pois vá rias linhas de evidência começaram a se encaixar em minha
mente.
No entanto, mais confusã o foi lançada pelo forte ressurgimento das visõ es
multirregionais de Weidenreich em 1984. Elas receberam uma nova vida de
Milford Wolpoff (Estados Unidos), Alan Thorne (Austrá lia) e Wu Xinzhi
(China). Eles se distanciaram das visõ es de Coon retornando à ênfase de
Weidenreich na importâ ncia do fluxo gênico entre as linhas geográ ficas,
considerando a continuidade no tempo e no espaço entre as vá rias formas
do Homo erectus e seus descendentes regionais tã o completas que todas elas
deveriam ser classificado com pessoas modernas como representando apenas
uma espécie: Homo sapiens . Assim, neste modelo nã o havia uma "origem" real
para a forma moderna do Homo sapiens . Uma característica como o queixo pode
ter evoluído em uma regiã o como a Á frica, e espalhada a partir daí através de
cruzamentos em toda a extensã o humana, seguida de uma seleçã o, se fosse uma
característica vantajosa. Outro recurso, como nossa testa alta, pode ter se
desenvolvido na China, por exemplo, e depois se espalhado da mesma forma por
meio de cruzamentos. Assim, os humanos modernos poderiam ter herdado suas
características "locais" através da continuidade com seus antecessores antigos,
enquanto as características globais foram adquiridas através de uma rede de
cruzamentos.
Mas novos desenvolvimentos na pesquisa genética estavam prestes a ter um
enorme impacto. Em 1982, tomei conhecimento de trabalhos de pesquisa sobre
um tipo peculiar de DNA encontrado fora do nú cleo das células,
nas mitocôndrias . Sã o pequenos corpos que fornecem a energia para cada célula,
corpos que provavelmente se originaram de uma bactéria outrora separada, que
de alguma maneira sobreviveu ao ser engolida por uma célula primitiva. Eles
entã o co-evoluíram para conferir vantagem mú tua e se desenvolveram nas
mitocô ndrias que a maioria dos organismos possui em todas as células. Nos seres
humanos, o DNA das mitocô ndrias de uma mã e é clonado no ó vulo quando se
torna a primeira célula de seu filho, e pouco ou nenhum DNA mitocondrial do
esperma do pai parece estar incorporado na fertilizaçã o. Isso significa que o DNA
mitocondrial (mtDNA) controla essencialmente a evoluçã o apenas através do
sexo feminino (de mã e para filha), uma vez que o mtDNA de um filho nã o será
repassado aos seus filhos. Esse tipo de DNA sofre mutaçã o a uma taxa muito mais
rá pida que o DNA (nuclear) normal, como discutiremos no capítulo 7, permitindo
o estudo da evoluçã o a curto prazo. Os primeiros trabalhos sobre mitocô ndrias
humanas pareciam promissores, mostrando que nossas espécies aparentemente
tinham baixa diversidade e uma origem recente, mas os padrõ es geográ ficos
pareciam pouco claros sobre onde essa origem poderia estar. Em 1986, eu tinha
ouvido pela videira que novos resultados surpreendentes do mtDNA estavam a
caminho da publicaçã o, e um ano depois eles apareceram na revista
científica Nature , levantando argumentos sobre a evoluçã o humana recente de
tal maneira que as coisas nunca mais seriam as mesmas novamente. Esta
publicaçã o seminal de Rebecca Cann, Mark Stoneking e Allan Wilson colocou as
origens humanas modernas nas primeiras pá ginas de jornais, revistas e revistas
pela primeira vez.

Milford Wolpoff, arquiteto do multiregionalismo, com um crâ nio do Homo erectus  de Java.

Cerca de 150 tipos de mtDNA de todo o mundo foram investigados e sua


variaçã o foi determinada. Em seguida, um programa de computador foi usado
para conectar todos os tipos atuais em uma á rvore evolutiva, com o padrã o mais
econô mico de mudança evolutiva (mutaçõ es), reconstruindo ancestrais
hipotéticos para os tipos vivos. Por sua vez, o programa conectou esses
ancestrais entre si, até que um ú nico ancestral hipotético para todos os tipos
modernos foi criado. A distribuiçã o dos ancestrais implicava que o ú nico
ancestral comum devia ter vivido na Á frica, e o nú mero de mutaçõ es acumuladas
desde a época do ancestral comum sugeria que esse processo evolutivo levara
cerca de 200.000 anos. Foi entã o o nascimento da agora famosa Eva
mitocondrial, ou "mã e de sorte", uma vez que o ancestral mitocondrial comum
deve necessariamente ter sido uma mulher. Esses resultados pareciam fornecer
fortes evidências de uma visã o recente da origem africana para os seres
humanos modernos, uma vez que a pesquisa sugeriu que ocorreu uma expansã o
relativamente recente da Á frica, substituindo quaisquer populaçõ es antigas que
viviam em outros lugares, juntamente com suas linhagens de mtDNA. No entanto,
o trabalho logo foi fortemente criticado. Mostrou-se que o tipo de programa de
computador usado poderia realmente produzir muitos milhares de á rvores que
eram mais ou menos tã o econô micas quanto a publicada, e nem todas essas
á rvores alternativas estavam enraizadas na Á frica. Além disso, outros
pesquisadores criticaram a calibraçã o do tempo em que a Eva mitocondrial
viveu, enquanto outros questionaram a constituiçã o das amostras modernas
analisadas (por exemplo, muitas das amostras "africanas" eram realmente de
afro-americanos). Como resultado, os multiregionalistas foram, por um tempo,
pelo menos capazes de rejeitar esses resultados do mtDNA como irrelevantes ou
enganosos, argumentando que as evidências fó sseis (e sua interpretaçã o delas)
continuavam sendo a ú nica abordagem vá lida para reconstruir a evoluçã o
humana recente.
No entanto, os resultados apoiaram fortemente a visã o Origem Africana
Recente que pessoas como Gü nter Brä uer (de Hamburgo) e eu está vamos
desenvolvendo a partir dos fó sseis. Gü nter estava menos inclinado a ver o Homo
sapiens como uma espécie recém-evoluída, e mais inclinado a pensar que havia
ocorrido hibridaçã o com pessoas como os neandertais, apó s a dispersã o da
Á frica, mas nó s dois apreciamos os novos dados do mtDNA. Para mim, deu mais
confiança de que, mesmo onde as evidências fó sseis eram mais remotas ou mais
ambíguas, como o Extremo Oriente e a Australá sia, a histó ria de substituiçã o que
eu havia lido no registro europeu provavelmente também se aplicava lá .
Em 1987, o arqueó logo Paul Mellars e eu co-organizamos uma conferência
internacional em Cambridge onde resultados fó sseis e arqueoló gicos recentes
foram comparados com os novos dados de DNA e as discussõ es eram elétricas à s
vezes, à medida que os especialistas entendiam o cená rio em rá pida mudança
dos recentes evoluçã o humana. Um ano depois, levando em consideraçã o as
discussõ es da conferência e as aná lises de DNA, escrevi uma revisã o dessa
imagem emergente para a revista Science , com meu colega do Museu de Histó ria
Natural Peter Andrews. Apresentamos os dois modelos contrastantes de
multiregionalismo versus origem africana recente e o que seria esperado dos
dados fó sseis, arqueoló gicos e genéticos se um dos modelos fosse uma
representaçã o precisa da evoluçã o humana recente. (Na verdade, prefiro usar o
termo Origem Africana Recente [RAO], apesar da popularidade de Fora da Á frica,
porque sabemos de fó sseis mais antigos que havia dispersõ es humanas
anteriores da Á frica. Portanto, algumas pessoas os distinguem como Fora da
Á frica 1, Fora da Á frica 2, etc., embora na verdade nã o saibamos quantos
existiram - e sem dú vida houve alguns eventos “na Á frica” também!)
No geral, mostramos que o RAO era melhor suportado, embora tenhamos
reconhecido que o registro arqueoló gico em geral e os registros fó sseis de vá rias
regiõ es em particular ainda nã o eram adequados para testar os modelos
adequadamente. Fiquei chocado, no entanto, com algumas das reaçõ es vitrió licas
a esse jornal. Tanto nas aná lises anô nimas que alguns outros cientistas enviaram
à revista antes da publicaçã o quanto nas cartas e comentá rios da mídia depois,
despejou-se sobre nossas opiniõ es e interpretaçõ es, um desdém que à s vezes
parecia se estender a abusos pessoais. As relaçõ es ficaram tensas com vá rios
cientistas, alguns dos quais eram pessoas que eu certamente contava como meus
amigos. A cordialidade acabou sendo restaurada na maioria dos casos, mas, para
algumas pessoas, o que era visto como uma posiçã o extrema, aliado à heresia da
Eva mitocondrial, nã o foi facilmente perdoado ou esquecido.

Dois dos arquitetos do modelo recente de origem africana, Gü nter Brä uer (à esquerda) e Chris
Stringer, retratados na década de 1980.

À medida que mais dados fó sseis e, particularmente, genéticos surgiram para


apoiar uma recente origem africana, o que podemos chamar de modelo RAO
clá ssico foi desenvolvido por vá rios pesquisadores, inclusive eu, trabalhando
separadamente ou em colaboraçã o. Na virada do milênio, essa se tornou a visã o
dominante. Expulsando-o com a visã o de consenso para a evoluçã o humana
anterior, o modelo RAO clá ssico defendia uma origem africana de duas espécies
humanas - Homo erectus e Homo sapiens - e talvez também do Homo
heidelbergensis entre elas (na minha opiniã o, porém, a derivaçã o
de heidelbergensis ainda nã o está claro). Tendo evoluído de algo como as
espécies anteriores Homo habilis na Á frica, há quase 2 milhõ es de anos (Ma),
o Homo erectus se dispersou da Á frica cerca de 1,7 Ma, no evento conhecido
como Fora da Á frica 1. As espécies se espalharam para as regiõ es tropicais e
subtropicais do leste e sudeste da Á sia, onde pode ter permanecido, evoluído
para outras formas ou desaparecido. Cerca de 1,5 Ma, o
africano erectus desenvolveu ferramentas de pedra mais avançadas,
chamadas ceras para as mãos , mas elas nã o se espalharam para longe da Á frica
até aparecerem repentinamente com a espécie descendente Homo
heidelbergensis em lugares como o sul da Europa e depois na Grã -Bretanha,
500.000 a 600.000 anos atrá s .
Portanto, minha opiniã o era que H. heidelbergensis passou por uma divisã o
evolutiva entre 300.000 e 400.000 anos atrá s: começou a se desenvolver nos
neandertais no oeste da Eurá sia, enquanto a linha na Á frica evoluiu para os
ancestrais dos humanos modernos há cerca de 130.000 anos atrá s. A origem
do Homo sapiens moderno deve ter sido relativamente recente e restrita na
Á frica, com base em acentuadas semelhanças entre humanos recentes, tanto na
forma corporal quanto no DNA, e pode ter sido bastante rá pida, em uma pequena
á rea preferida como a Á frica Oriental. Alguns humanos modernos se
dispersaram no Oriente Médio (Israel) cerca de 100.000 anos atrá s, e talvez
tenham se mudado para a Austrá lia em cerca de 60.000 anos. No entanto,
o Homo sapiens nã o entrou na Europa até cerca de 35.000 anos atrá s, apó s o
rá pido desenvolvimento de ferramentas mais avançadas da Idade da Pedra e
comportamentos complexos pelos modernos africanos há cerca de 50.000
anos. Esse progresso finalmente permitiu que os modernos se espalhassem pela
Europa, onde, como Cro-Magnons fazendo ferramentas do Paleolítico Superior,
rapidamente assumiram e substituíram os neandertais por suas tecnologias e
adaptaçõ es superiores. Lembre-se dessa narrativa, como eu a revisitarei vá rias
vezes mais adiante neste livro.
Se o RAO é o modelo mais preciso, a variaçã o regional ("racial") só se
desenvolveu durante e apó s a dispersã o da Á frica, portanto, qualquer aparente
continuidade de características regionais entre o Homo erectus e as contrapartes
presentes nas mesmas regiõ es fora da Á frica deve ser resultado de evoluçã o ou
coincidência paralela, em vez de genes transmitidos de predecessores arcaicos,
como discutido no modelo multirregional. Como esse modelo, a RAO argumentou
que o Homo erectus evoluiu para novas formas de seres humanos em regiõ es
habitadas fora da Á frica, mas na RAO essas linhagens nã o africanas acabaram
sendo extintas, sem evoluir para seres humanos modernos. Alguns, como os
neandertais, devem ter sido substituídos pela disseminaçã o de seres humanos
modernos em suas regiõ es e, portanto, o modelo RAO nã o só é conhecido
popularmente como Fora da Á frica, mas também é conhecido como modelo de
substituiçã o.
À medida que o RAO ganhava apoio e influência, cada vez mais causava
impacto nas opiniõ es de pessoas como os antropó logos americanos Fred Smith e
Erik Trinkaus, que acreditavam na continuidade fora da Á frica, mas nã o eram
multiregionalistas clá ssicos. Em vez disso, eles avançaram o que ficou conhecido
como modelo de assimilaçã o, que pode ser visto como uma posiçã o moderada
entre os extremos da RAO e o que chamei de multiregionalismo clá ssico: aquele
em que a Á frica dominou como fonte de recursos modernos, mas para onde
foram levados mais gradualmente por pessoas fora do continente, através de
uma mistura de populaçõ es. Desta forma, características modernas se
difundiram da Á frica, em vez de serem impostas pela invasã o e domínio da
dispersã o dos modernos, e, portanto, era esperado que os primeiros modernos
fora da Á frica mostrassem características dos "nativos" com os quais estavam se
misturando. E enquanto os vá rios modelos de evoluçã o humana estavam se
ajustando à paisagem pó s-mtDNA, o trabalho genético em si passava por
reavaliaçõ es.
Eu já mencionei as críticas pesadas do artigo de Eve de 1987, do ponto de
vista das amostras utilizadas, dos métodos de aná lise, da taxa de evoluçã o e das
fortes conclusõ es tiradas. A equipe envolvida no trabalho original reconheceu
que havia deficiências e, nos pró ximos anos, decidiu resolver os problemas em
uma série de aná lises adicionais que serviram apenas para reforçar suas
conclusõ es, como veremos no capítulo 7. Mas, como também observaremos, a
maioria dos trabalhadores agora concorda que o mtDNA, embora seja muito ú til,
é apenas uma pequena parte da evidência genética de que precisamos para
reconstruir nossas origens evolutivas.
No restante deste livro, discutirei principalmente outras três espécies
humanas, juntamente com a nossa: Homo erectus , H. heidelbergensis e H.
neanderthalensis . Entã o, como reconhecemos espécies humanas distintas no
registro fó ssil e em nossos pró prios ancestrais? Bem, essa nã o é uma pergunta
direta e os especialistas darã o respostas diferentes. (Por exemplo, como
expliquei anteriormente, os multiregionalistas geralmente consideram o Homo
sapiens a ú nica espécie humana na Terra nos ú ltimos milhõ es de anos, portanto
espécies como o Homo erectus e o Homo heidelbergensis nã o têm significado real
para eles.) Mas para mim, existem características no esqueleto que, em conjunto,
pode diagnosticar espécies humanas distintas no passado e que também
caracterizam nossa espécie hoje. Devido a variaçõ es no tempo e no espaço, essas
características raramente sã o absolutas, mas, em combinaçã o, acho que elas
podem distinguir linhas evolutivas separadas que podemos chamar de espécies,
com base em sua estrutura esquelética.
Para nossa pró pria espécie, Homo sapiens (humanos modernos), essas
características incluem: um grande volume cerebral; globularidade
neurocraniana (curvatura e cú pula dos ossos da caixa torá cica e aumento da
altura); na visã o traseira, uma caixa de diá logo mais larga na parte superior e
mais estreita na base; um osso temporal mais alto e mais uniformemente
arqueado ao lado da caixa torá cica; diminuiçã o da altura do rosto e sua inserçã o
sob o cérebro; uma pequena e dividida sobrancelha; uma á rea estreita de osso
entre as ó rbitas oculares; aumento da projeçã o do meio do rosto e nariz; um
queixo ó sseo na mandíbula inferior, presente até em bebês; simplificaçã o e
retraçã o das coroas dos dentes; um osso timpâ nico levemente construído
(contém os ossos do ouvido); um ramo pú bico curto que é quase circular na
seçã o transversal (este é um osso na frente da pelve); nenhum pilar ilíaco (trata-
se de uma crista ó ssea quase vertical que reforça a pelve, acima da cavidade do
quadril); e femora (ossos da coxa) que sã o ovais na seçã o transversal e mais
espessos na frente e nas costas.
Por outro lado, para o Homo erectus , a espécie humana que apareceu na
Á frica e na Á sia há mais de 1,5 milhã o de anos atrá s, as características incluíam
um pequeno volume cerebral médio; uma base de braço relativamente longa e
baixa, estreita no topo, mas larga na base; um osso temporal inferior e mais
triangular; um osso occipital em â ngulo na parte de trá s do crâ nio, com um toro
forte (crista ó ssea) cruzando-o; cristas ó sseas que reforçam os ossos frontais e
parietais do cérebro; um osso timpâ nico espesso; um toro supraorbital forte e
contínuo (crista da sobrancelha); uma forte constriçã o pó s-orbital (o crâ nio é
comprimido atrá s da crista da sobrancelha quando visto de cima); uma ampla
á rea de osso entre as ó rbitas oculares; um rosto que sobressai do cérebro; um
ramo pú bico superior mais plano e alongado; um pilar ilíaco; e femora
arredondados e espessados uniformemente na seçã o transversal.
O Homo erectus parece primitivo em muitos aspectos pelos padrõ es de
humanos posteriores, mas representou uma referência na mudança da condiçã o
humana em muitos aspectos de seu esqueleto: um tamanho do cérebro além de
qualquer macaco ou australopitecino, um rosto humano com ossos nasais
projetados, pequenas dentes, uma postura humana para o crâ nio e uma estrutura
corporal de proporçõ es humanas, em vez de simiescas. Os bió logos
evolucionistas Dennis Bramble e Daniel Lieberman acreditam que o erectus fez
uma transiçã o fundamental para a vida ao ar livre, primeiro limpando e depois
caçando a longas distâ ncias. Somos ú nicos entre os primatas em nossa
capacidade de corrida de resistência, que pode ter evoluído primeiro para
permitir que os seres humanos cheguem à s carcaças por eliminar à frente da
competiçã o. E pessoas como os San hoje podem gradualmente desgastar suas
presas por meio de perseguiçã o persistente: os ungulados, por exemplo, podem
correr muito mais rá pido que os humanos em curtas distâ ncias, mas se exaurem
completamente em longas distâ ncias, momento em que sã o fá ceis de
despachar. Características do esqueleto ereto (e mais tarde humano) na forma
do corpo, pernas, tornozelos e pés, equilíbrio e estabilidade da cabeça e nossa
dependência do suor para termorregular podem ser relíquias de uma adaptaçã o
precoce à corrida sustentada, de acordo com Bramble e Lieberman.
H. heidelbergensis , presente na Á frica e na Europa há mais de 500.000 anos,
mostra combinaçõ es de características encontradas nos fó sseis erectus mais
primitivos e encontradas nos fó sseis Neanderthal e sapiens modernos , como
convém a uma possível espécie intermediá ria: uma crista de testa como erectus ,
mas geralmente cheio de seios extensos (vazios); um osso occipital como o
do ereto ; uma ampla largura interorbital como erectus ; um ramo pú bico
superior como o erectus ; um pilar ilíaco como erectus ; femora arredondada
como erectus ; volumes cerebrais que se sobrepõ em aos valores menores
de erectus e aos maiores de H. sapiens e H. neanderthalensis ; uma base cerebral
mais alta que o erectus , e lados paralelos na vista traseira; uma face
intermediá ria entre o ereto e os seres humanos posteriores em sua projeçã o
geral a partir do cérebro; um osso temporal mais parecido com o
de sapiens e neanderthalensis ; um timpâ nico como neandertais e
modernos; aumento da projeçã o do meio do rosto e nariz (como nos neandertais
e nos modernos); e, em alguns casos, maçã s do rosto infladas que recuam nas
laterais, como as dos neandertais.
Os neandertais sã o humanos avançados e, portanto, compartilham
características com a heidelbergensis e conosco. No entanto, existem também
alguns traços primitivos retidos e aqueles que apontam um caminho evolutivo
separado. Eles têm um ramo pubiano superior alongado,
como erectus e heidelbergensis ; femora arredondada
como erectus e heidelbergensis ; um grande volume cerebral como o nosso; um
osso temporal alto e arqueado como o nosso; amplitude interorbital
reduzida; projeçã o facial total reduzida; um timpâ nico levemente construído; em
muitos neandertais, simplificaçã o e retraçã o das coroas dos dentes como
nos sapiens ; pilar ilíaco fraco ou ausente.
Depois, há as características que parecem distinguir os neandertais como uma
linhagem evolucioná ria. Algumas delas se referem a uma forma corporal distinta,
caixa torá cica e proporçõ es de membros, mas as mais claras estã o no crâ nio: uma
crista de sobrancelha de arco duplo com seios nasais centrais; um toro occipital
pequeno, de arco duplo, mas pequeno, com uma fossa central (a fossa
suprainíaca); uma forma de abó bada esférica em vista traseira; forma distinta
dos canais semicirculares da orelha interna (ver capítulo 3); forte projeçã o no
meio da face e maçã s do rosto que sã o infladas e recuam nas laterais; nariz alto,
largo e saliente; ó rbitas grandes e quase circulares; um rosto alto, mas
relativamente estreito; e dentes da frente aumentados (incisivos), que sã o
escavados (com pá ) nas superfícies internas das centrais superiores.

( No sentido horário, do canto superior esquerdo  ) Crâ nios de erectus (Sangiran,


Java), heidelbergensis (Broken Hill, Zâ mbia), sapiens (Indonésia) e neanderthalensis  (La Ferrassie,
França).

A característica que se destaca (literalmente) nessas comparaçõ es de espécies


modernas e arcaicas é a forte crista da ú ltima e sua ausência na primeira. O
anatomista Hermann Schaaffhausen, um dos primeiros descritores do crâ nio
neandertal original, chamou suas sobrancelhas fortes de “uma peculiaridade
mais notá vel” e, embora tenha havido muitas hipó teses científicas para explicar
sua presença ou ausência, nenhuma delas realmente me convence. O fato de
muitas das enormes cristas de testa serem escavadas no interior, com grandes
seios (espaços aéreos), sugere que eles nã o estã o lá para suportar ou transmitir
forças físicas de golpes na cabeça ou mastigaçã o pesada. O antropó logo
excêntrico Grover Krantz até amarrou uma réplica de uma sobrancelha de
um crâ nio do Homo erectus por seis meses para investigar seus possíveis
benefícios, descobrindo que protegia os olhos do sol, mantinha os cabelos
compridos longe dos olhos quando ele estava correndo, e também assustou as
pessoas fora de si em noites escuras. Para mim, essa ú ltima pista pode ser
significativa e, como o paleontó logo Bjö rn Kurtén, acho que pode até ter tido um
efeito de sinalizaçã o em humanos antigos, acentuando olhares agressivos,
especialmente em homens. Assim, seu grande tamanho poderia ter sido
selecionado sexualmente através das geraçõ es, um pouco como chifres de
veado. Mas, se é assim, por que nã o temos grandes sobrancelhas como nossos
antecessores? Bem, acho que o restante deste livro mostrará que os humanos
modernos desenvolveram tantas outras maneiras de impressionar um ao outro,
de armas a bling, que talvez os benefícios seletivos de grandes sobrancelhas
tenham desaparecido nos ú ltimos 200.000 anos.

( No sentido horário, do canto superior esquerdo ) Vista lateral dos crâ nios do ereto  (Sangiran,
Java), heidelbergensis (Broken Hill, Zâ mbia), sapiens (Indonésia) e neanderthalensis  (La Ferrassie,
França).

Se houvesse, de fato, diferentes espécies humanas no passado, elas poderiam


ter se cruzado? Na minha opiniã o, o RAO nunca impediu o cruzamento entre
pessoas modernas e arcaicas durante a fase de dispersã o dos seres humanos
modernos da Á frica. Essa é, sem dú vida, uma das principais á reas de confusã o
nos estudos das origens humanas modernas: como reconhecer espécies no
registro fó ssil e o que isso significa. Alguns pesquisadores argumentam que
muitos grupos morfoló gicos distintos no registro fó ssil justificam
reconhecimento específico, com a existência de pelo menos dez dessas espécies
do gênero Homo nos ú ltimos 2 milhõ es de anos (ou seja, Homo ergaster, erectus,
georgicus, antecessor, heidelbergensis, rhodesiensis, helmei, floresiensis,
neanderthalensis, sapiens ).
No outro extremo, alguns multiregionalistas argumentam que apenas uma
espécie merece reconhecimento durante esse período: o Homo sapiens . Uma
complicaçã o adicional é que conceitos diferentes de espécies podem ficar
confusos; por exemplo, alguns multirregionalistas aplicaram o que é chamado
de Conceito de Espécies Biológicas ( BSC ) ao registro fó ssil para justificar sua
crença de que H. neanderthalensis e H. sapiens deviam pertencer à mesma
espécie e teriam sido totalmente interferíveis. Esse conceito, desenvolvido a
partir do estudo de organismos vivos, argumenta que uma espécie consiste na
maior comunidade de um grupo de plantas ou animais que se reproduzem entre
si, mas nã o com nenhuma outra comunidade. Assim, é "reprodutivamente
isolado" com referência a outras espécies, mas suas pró prias variedades podem
se cruzar. Viver o Homo sapiens seria um bom exemplo disso, já que pessoas de
todo o mundo sã o potencialmente capazes de acasalar e ter filhos férteis, mas
aparentemente somos reprodutivamente bem distintos de nossos primos
macacos. Digo "aparentemente" porque existem rumores persistentes de que,
nos anos 40 e 50, cientistas nos Estados Unidos e / ou na Uniã o Soviética
realizaram experimentos antiéticos impregnando chimpanzés femininos com
esperma humano - cujos resultados, segundo os rumores, foram suprimidos. .
E se ainda pudéssemos conhecer um neandertal - os humanos modernos
poderiam cruzar com um? Primeiro, isso traz à tona o conflito potencial entre o
BSC (que se relaciona à s espécies vivas) e os conceitos completamente diferentes
que acabei de usar para reconhecer espécies no registro fó ssil, como o grau de
variaçã o no esqueleto. Usando a ú ltima medida (um conceito de espécie
morfoló gica baseado no que é preservado no registro fó ssil), eu e muitos outros
antropó logos reconhecemos os neandertais como especificamente distintos
do Homo sapiens . Mas há um conflito no coraçã o do BSC: o fato de que muitas
espécies de mamíferos intimamente relacionadas podem hibridar e até produzir
filhotes férteis. Exemplos sã o lobos e coiotes, bisontes e vacas, chimpanzés e
bonobos e muitas espécies de macacos. Portanto, temos que reconhecer que os
conceitos de espécies sã o categorias produzidas humanamente que podem ou
nã o funcionar sempre quando comparadas à realidade da natureza. Portanto, na
minha opiniã o, mesmo se houvesse hibridaçã o moderna com os neandertais (e
discutirei essa questã o espinhosa no capítulo 7), isso nã o significaria
necessariamente que os neandertais pertencessem à mesma espécie que nó s -
isso dependeria da escala e do impacto da o cruzamento.
Os fó sseis - as relíquias de espécies antigas - despertaram meu interesse no
passado distante quando comecei a colecioná -los quando menino, e eles ainda
me fascinam. Mas, por si só , sã o apenas ossos e dentes mineralizados e
inertes. Nos pró ximos dois capítulos, mostrarei como vá rias novas técnicas
interessantes estã o nos ajudando a devolver esses fó sseis inanimados a seus
ambientes antigos e trazê-los de volta à vida.

2
Desbloquear o passado

No final do corredor do meu quarto no museu, trancado em seu pró prio gabinete
especial, estã o algumas das relíquias mais notó rias da histó ria da evoluçã o
humana, já mencionadas no capítulo 1 - Homem de Piltdown. Eles foram
encontrados e anunciados, para um mundo desavisado, cerca de cem anos atrá s,
e fornecem um lembrete preocupante a todos os cientistas para que tomem
cuidado com algo que parece bom demais para ser verdade - porque pode muito
bem nã o ser verdade! Os paleoantropó logos britâ nicos da época viram cientistas
alemã es, holandeses e franceses descobrirem fó sseis de possíveis ancestrais
antigos, mas a Grã -Bretanha nã o tinha nada para comparar com estes. Além
disso, alguns desses especialistas britâ nicos eram, como vimos, defensores da
visã o de que nossa espécie teve uma evoluçã o profunda e separada de pessoas
como Java Man e Neanderthal Man. Imagine o deleite deles, entã o, quando um
"elo perdido" foi aparentemente descoberto em seu pró prio quintal, no condado
de Sussex. Parecia ter um osso maxilar semelhante a um macaco e uma
base cerebral muito humana, e estes foram combinados para formar o homem-
macaco chamado " Eoanthropus dawsoni ". É claro que agora sabemos que sua
mandíbula “macaco” e o crâ nio “humano” eram exatamente isso - dois espécimes
completamente diferentes e relativamente recentes combinados maliciosamente
para criar um fó ssil de transiçã o enganoso. Mas o fraudador ou fraudadores
eram conhecedores o suficiente para nã o confiar apenas na anatomia para
enganar os especialistas - eles sabiam o suficiente sobre como os fó sseis foram
datados em 1912 para também usar mal esse conhecimento, para defender que a
assembléia de ossos e ferramentas de pedra de Piltdown era tã o antigos como os
restos mortais de Java Man. Eles conseguiram se safar disso, porque nenhuma
das técnicas de dataçã o física que discutirei neste capítulo (como a dataçã o por
radiocarbono) eram conhecidas há cem anos e, em vez disso, os fó sseis humanos
só podiam ser relativamente datados - isto é, , datado em relaçã o ao material
encontrado ao lado deles. Os fraudadores plantaram fó sseis genuínos de
mamíferos primitivos de outros locais ao lado dos restos do Homem Piltdown,
para que parecessem adequadamente antigos. Em 1953, toda a triste histó ria
começou a se desenrolar, e quando a dataçã o por radiocarbono foi finalmente
aplicada para mostrar o macaco e os restos humanos tinham menos de mil anos,
era a unha definitiva no caixã o do homem de Piltdown!
Portanto, neste capítulo, mostrarei como novas técnicas de namoro
revolucionaram nossa visã o da evoluçã o humana em cada uma das principais
regiõ es e períodos em que foram aplicadas, e usarei uma variedade de exemplos
para ver como as registros de climas e ambientes passados estã o influenciando a
histó ria de nossas origens evolutivas. Pensamos agora que os neandertais e os
seres humanos modernos evoluíram por caminhos paralelos, a antiga linhagem
ao norte do Mediterrâ neo e a ú ltima ao sul, na Á frica. Apó s vá rias tentativas
falsas, os humanos modernos finalmente emergiram da Á frica e se espalharam
ao longo da costa asiá tica em direçã o à China e Austrá lia. Mas a Europa, talvez o
ú ltimo bastiã o dos neandertais, parece ter permanecido além do alcance
moderno até cerca de 45.000 anos atrá s. Apenas recentemente datamos alguns
dos fó sseis humanos mais importantes, trabalho que revolucionou a escala de
tempo de nossa evoluçã o. Novas evidências ambientais e arqueoló gicas
fascinantes também mostram a complexidade do processo de nossa evoluçã o e
da extinçã o de nossos parentes pró ximos, os neandertais.
Existem duas categorias principais de namoro: relativos e físicas (isto é, com
base nas leis da física, às vezes também
chamado radiométrica ou absoluta ) namoro . O primeiro relaciona um objeto ou
camada a outro objeto ou camada no tempo; um pode ser mais novo que o outro
ou (dentro dos limites do método) pode ter a mesma idade. A lei geoló gica da
superposiçã o supõ e que, a menos que tenha havido grande distú rbio, uma
camada em uma sequência geoló gica é sempre mais jovem que a camada abaixo
dela; esse é o principal princípio em açã o no namoro relativo. Mais raramente,
um evento geoló gico como um tsunami ou uma erupçã o vulcâ nica pode ser
rastreado por uma regiã o, e fó sseis ou artefatos associados a esse evento podem
ser considerados contemporâ neos e, portanto, entre si. Mas esse namoro relativo
nã o pode nos dizer quantos anos os materiais em questã o realmente têm; só
pode colocá -los um em relaçã o ao outro, ou seja, mostra que eles sã o
relativamente mais velhos, mais jovens ou correlacionados (semelhantes) em
idade. Assim, se eu cavasse em meu jardim e encontrasse cerâ mica romana que
se parecesse com cerâ mica encontrada, digamos, no Palá cio Romano de
Fishbourne em Sussex, eu poderia supor que minhas descobertas eram da
mesma idade que as de Fishbourne; mas sem evidências independentes de
quantos anos tinha o Palá cio Fishbourne, ou a cerâ mica, isso seria o mais longe
que eu poderia ir. Eu poderia obter um namoro relativo mais detalhado, digamos,
pesquisando a idade das moedas romanas encontradas em Fishbourne, ou eu
poderia tentar uma determinaçã o física pedindo a um especialista em namoro de
luminescência (veja a discussã o mais adiante neste capítulo) para usar sinais
físicos dentro da argila da minha cerâ mica para me dizer há quanto tempo ela foi
demitida.
Portanto, para ir além de uma data relativa, precisamos de reló gios físicos que
nos dirã o até que ponto algumas rochas foram depositadas, quanto tempo leva
desde que um animal ou planta morreu ou quando um evento aconteceu, como o
aquecimento de argila ou pedra. Muitos desses reló gios medem o tempo usando
o decaimento radioativo natural dos isó topos. Isótopos sã o á tomos distintos de
substâ ncias, como argô nio ou carbono, que possuem pesos atô micos diferentes
(porque contêm diferentes nú meros de partículas chamadas nêutrons). Um
exemplo dessa técnica é a datação por potássio-argônio , que pode ser usada em
rochas vulcâ nicas. O potá ssio consiste em parte de um isó topo instá vel chamado
potá ssio-40, e esse isó topo muda gradualmente ao longo de muitos milhõ es de
anos no argô nio gasoso. Quando há uma erupçã o vulcâ nica, a lava líquida ou a
cinza quente contém uma pequena proporçã o de potá ssio-40, e quando a lava ou
a cinza esfria e solidifica, esse isó topo instá vel de potá ssio começa a se
transformar em argô nio, de modo que metade dela se decompõ e em argô nio a
cada 1,25 bilhã o de anos (essa é a meia-vida). Desde que a erupçã o vulcâ nica
tenha sido suficientemente energética para expulsar qualquer gá s argô nio
anterior (geralmente uma suposiçã o razoá vel), e desde que qualquer gá s argô nio
recém-formado permaneça preso na camada vulcâ nica, uma vez endurecido, a
quantidade produzida pode ser usada como uma medida natural de tempo desde
que a rocha vulcâ nica foi depositada. Em uma das primeiras e mais famosas
aplicaçõ es dessa técnica à arqueologia, a lava na base do local do desfiladeiro de
Olduvai, na Tanzâ nia, mostrou ter cerca de 1,8 milhã o de anos. Isso causou
sensaçã o em 1960, porque indicou pela primeira vez quã o antigos artefatos e
fó sseis humanos no leito I de Olduvai poderiam realmente ser, dobrando a idade
esperada em um acidente vascular cerebral. Um desenvolvimento mais recente
da dataçã o por potá ssio-argô nio é usar a decomposiçã o do argô nio-40 para o
argô nio-39, já que isso pode ser usado para datar cristais ú nicos de rocha
vulcâ nica com uma precisã o muito maior ao longo do tempo da evoluçã o
humana.
O método de dataçã o física mais famoso é a datação por radiocarbono ,
baseada em uma forma instá vel de carbono. O método baseia-se no fato de que o
radiocarbono (um isó topo de carbono chamado carbono-14) é constantemente
produzido nas camadas superiores da atmosfera da Terra pela radiaçã o có smica
que atua no elemento nitrogênio. Essa forma instá vel de carbono é absorvida
pelos corpos dos seres vivos, juntamente com o carbono-12, muito mais comum
e está vel. No entanto, quando a planta ou o animal morre, nã o é absorvido mais
carbono-14 e a quantidade restante começa a se decompor por decaimento
radioativo, de modo que a quantidade presente diminui pela metade a cada
5.700 anos - um período de tempo muito menor do que o de namoro de potá ssio-
argô nio. Assim, medir a quantidade de carbono-14 que resta em, digamos, um
pedaço de carvã o vegetal ou um osso fó ssil nos permite estimar quanto tempo
leva desde que a planta ou animal em questã o estava vivo.
Em 1949, o químico americano Willard Libby e seus colegas a aplicaram pela
primeira vez a uma amostra de madeira de acá cia da tumba do faraó Zoser (que
viveu quase 5.000 anos atrá s). Libby argumentou que, como a meia-vida do
radiocarbono era pró xima de 5.000 anos, eles deveriam obter uma concentraçã o
de carbono-14 de cerca de 50% da encontrada na madeira viva, e isso foi
confirmado. Esse trabalho, e muito do que se seguiu, rendeu a Libby um Prêmio
Nobel em 1960. O método nã o pode ser usado em materiais muito antigos
porque a quantidade de carbono-14 deixada para trá s é muito pequena para
medir com precisã o e, portanto, a dataçã o por radiocarbono se torna cada vez
mais confiá vel além dos limites. 30.000 anos atrá s. Além disso, a suposiçã o de
produçã o e absorçã o constante de carbono-14 é agora conhecida apenas como
uma aproximaçã o, devido a flutuaçõ es passadas nos raios có smicos e mudanças
na circulaçã o atmosférica da Terra - assim, os cientistas falam de datas em anos
de radiocarbono em vez de reais (calendá rio). ) anos.
Isso significa que outros métodos sã o necessá rios para verificar (calibrar) a
precisã o das datas dos radiocarbonetos. Vá rios métodos têm sido
particularmente ú teis para datas nos ú ltimos 10.000 anos, e todos eles exigem a
contagem e a data das camadas anuais. O primeiro utiliza anéis de á rvores
(dendrocronologia) e constró i sobreposiçõ es nos padrõ es de anéis de
crescimento de madeiras preservadas em prédios, barcos ou depó sitos naturais,
a fim de estabelecer uma longa sequência em que a idade avaliada a partir da
madeira é comparada com uma data de radiocarbono obtida em anéis dentro da
madeira. Um método compará vel usa varves (camadas depositadas anualmente
no fundo de lagos profundos), onde o espaço de tempo pode ser medido através
da contagem de varves e também pela dataçã o por radiocarbono de resíduos de
plantas ou animais dentro das varves. Ainda outro método usa datas de
radiocarbono obtidas dentro das camadas anuais de gelo, e isso pode ser levado
ainda mais longe, já que as bolhas de gá s retidas no gelo preservam um
instantâ neo da composiçã o da atmosfera quando uma camada específica foi
depositada. Além desses métodos, as á rvores muito antigas preservadas nos
pâ ntanos da Nova Zelâ ndia mantêm a promessa de calibrar com precisã o o
radiocarbono para além de 40.000 anos, enquanto os antigos terraços de coral
podem ser datados tanto pelo radiocarbono quanto pela dataçã o por série de
urâ nio (discutida mais adiante neste capítulo), uma verificaçã o cruzada entre
métodos independentes de dataçã o física, cada um com suposiçõ es diferentes.
As comparaçõ es até agora sugerem que a dataçã o por radiocarbono, embora
nã o seja exata nos ú ltimos 40.000 anos, é bastante confiá vel, embora à s vezes
diminua em até 10%. Infelizmente, uma de suas fases menos precisas abrange o
desaparecimento dos neandertais e grande parte da disseminaçã o de seres
humanos modernos em todo o mundo - daí a necessidade de refinar ainda mais a
dataçã o por radiocarbono ou complementá -la com outros métodos sempre que
possível, como explicarei mais adiante. capítulo.
Muitas melhorias técnicas foram feitas nos procedimentos de dataçã o por
radiocarbono desde o trabalho inicial de Libby. Por exemplo, ele analisou o
carbono só lido, enquanto as técnicas posteriores convertem o carbono em gá s ou
dissolvem-no em solventes. Os métodos iniciais também exigiam grandes
amostras para detectar decaimento de radiocarbono, de modo que artefatos ou
ossos importantes precisavam ter grandes pedaços de serra para tentar uma
data - permissã o que era compreensivelmente recusada por curadores de
museus. Felizmente, a partir de 1977, o método de espectrometria de
massa do acelerador ( AMS ) vem assumindo cada vez mais, e isso conta á tomos
individuais de carbono-14 diretamente, em vez de medir sua
radioatividade. Portanto, agora sã o necessá rias apenas amostras do tamanho de
miligramas, permitindo a dataçã o de relíquias tã o preciosas quanto o Sudá rio de
Turim, os Manuscritos do Mar Morto, o homem do gelo alpino "Ö tzi" e a arte da
Era do Gelo das cavernas Lascaux e Chauvet.
Um bom exemplo do poder aprimorado da dataçã o por radiocarbono surgiu
quando quatro colegas e eu investigamos um dos mistérios duradouros do
registro paleolítico da Grã -Bretanha. Representaçõ es da arte da Era do Gelo sã o
extremamente raras na Grã -Bretanha, e dois dos ú nicos exemplos conhecidos
(ou reivindicados) sã o de Robin Hood Cave, em Derbyshire, encontrada na
década de 1870, e da cidade de Sherborne, em Dorset. Ambos mostraram um
perfil bastante semelhante a um cavalo gravado em um fragmento plano de
osso. Enquanto o exemplo de Derbyshire foi descoberto por pré-histó ricos em
uma caverna ao lado de artefatos paleolíticos de idade apropriada (cerca de
14.000 anos), o “osso de Sherborne” foi descoberto em 1912 por estudantes da
escola pú blica local, nas proximidades de uma pedreira da qual nenhum material
compará vel já havia sido relatado. Logo surgiram sérias dú vidas sobre a
autenticidade da descoberta de Sherborne, mas a dataçã o direta por
radiocarbono nã o poderia ser contemplada quando a aplicaçã o do método
provavelmente teria destruído quase todo o objeto. O advento da dataçã o por
AMS na Universidade de Oxford nos permitiu, em 1995, perfurar uma pequena
amostra e datar o osso com cerca de seiscentos anos, enquanto estudos
microscó picos da gravura mostraram que ela provavelmente foi realizada
recentemente com um metal implementar, em vez de uma ferramenta de
pederneira. Esse resultado estava de acordo com as sugestõ es de um dos
funcioná rios de Sherborne, catorze anos apó s a “descoberta” de que um garoto
provavelmente havia copiado a gravura de uma ilustraçã o do espécime de Robin
Hood na biblioteca da escola, para fazer uma piada em seu professor de ciências!
Mas mesmo a dataçã o por AMS nã o é perfeita, pois encontra e produz uma
data a partir de qualquer radiocarbono que esteja na amostra; mesmo uma
pequena quantidade de radiocarbono contaminante pode afetar muito uma
estimativa de idade, especialmente quando a amostra tem 30.000 ou 40.000 anos
e apenas uma pequena fraçã o do seu radiocarbono original ainda está
lá . Felizmente, novos procedimentos de preparaçã o, tais como oxidação com
ácido-base-húmida ( ABOX ) namoro para amostras de carvã o
e ultrafiltração para ossos sã o largamente superar os problemas de
contaminaçã o em namoro materiais paleolíticas e sã o cada vez mais dando
determinaçõ es de confiança. As vantagens proporcionadas pela ultrafiltraçã o
foram muito bem demonstradas através da redaçã o de amostras de ossos da
Caverna de Gough em Cheddar Gorge, Somerset. Esta é uma das cavernas
turísticas mais espetaculares da Grã -Bretanha, mas também um dos mais
importantes locais do Paleolítico Superior. Escavaçõ es espalhadas por mais de
cem anos revelaram quantidades de artefatos de pedra, juntamente com ossos
humanos e animais, representando seus habitantes da Idade do Gelo. A dataçã o
por radiocarbono revisada agora lançou mais luz sobre a natureza da presença
humana aqui e sobre o momento do retorno das pessoas à Grã -Bretanha apó s um
período de abandono da Era do Gelo que durou cerca de 10.000 anos. Antes
desta nova pesquisa, era incerto quando a ocupaçã o ocorreu e como diferentes
partes da histó ria arqueoló gica se encaixavam, mas agora parece que a Caverna
de Gough foi um dos primeiros locais a serem usados por caçadores de cavalos
selvagens e veados quando as pessoas retornou à Grã -Bretanha apó s o pico da
ú ltima glaciaçã o.
Essa transformaçã o foi alcançada pelo especialista em namoro Tom Higham e
o arqueó logo Roger Jacobi, usando o pré-tratamento por ultrafiltraçã o em ossos
de animais massacrados ou trabalhados pelos humanos da Idade da Pedra e nos
restos dos pró prios humanos. Anteriormente, as datas de radiocarbono obtidas
apenas permitiam vincular a ocupaçã o a um período de cerca de 1.500
anos. Agora, pode-se atribuir uma confiança muito maior a datas que mostram
quase todo o material do Paleolítico Superior na caverna acumulado em menos
de duas a três geraçõ es humanas, centralizadas em torno de 14.700 anos
atrá s. Curiosamente, esta data corresponde precisamente a um aquecimento
dramá tico do clima registrado na composiçã o das camadas anuais de gelo na
Groenlâ ndia. Esses arquivos sugerem que o Oceano Atlâ ntico, anteriormente
coberto de gelo, descongelou em cerca de cinco anos. Entre o material datado de
Gough havia ossos de vá rios seres humanos, alguns dos quais mostram padrõ es
de marcas de corte interpretadas como evidência de canibalismo. Antes,
pensava-se que elas poderiam ter pertencido a uma fase mais recente da
atividade do que a associada à caça a cavalos e veados, mas agora sabemos que
elas eram precisamente da mesma idade. Assim, os animais e as pessoas que os
atacavam representaram alguns dos primeiros colonizadores da Grã -Bretanha
apó s o pico da ú ltima Era Glacial. À medida que o clima esquentava rapidamente,
manadas de cavalos e veados devem ter migrado através de Doggerland, agora
submersa no Mar do Norte, e os caçadores os seguiram.
Um fó ssil britâ nico muito mais antigo que eu estive envolvido no estudo foi
encontrado em 1927 em Kent's Cavern, no sudoeste da Inglaterra. Apó s sua
descoberta, o anatomista Arthur Keith descreveu esse fragmento da mandíbula
superior como um ser humano moderno, mas teve que esperar mais sessenta
anos para alcançar mais fama, quando foi um dos primeiros seres humanos
fó sseis a ser datado pelo acelerador de radiocarbono em Oxford . A idade
estimada de 35.000 anos o tornou um dos humanos modernos mais antigos da
Europa; o trabalho de detetive subsequente nos arquivos da Kent's Cavern, por
Roger Jacobi, sugeriu que poderia ser datado ainda mais cedo. Entã o, em 2004,
decidimos pegar emprestado o espécime do Museu Torquay e re-estudá -lo,
usando todas as abordagens científicas que pudéssemos reunir. A equipe que
montei envolveu pesquisadores como Erik Trinkaus e Tim Compton,
especialistas em CT e DNA antigo (técnicas que discutirei nos capítulos 3 e 7),
curadores e conservadores, e Higham e Jacobi. Exames cuidadosos e modelagem
por TC confirmaram o palpite de Erik de que um dos dentes havia sido colado de
volta no encaixe errado; uma nova reconstruçã o foi feita, permitindo a
amostragem das raízes dos dentes para DNA antigo e dataçã o por acelerador
ultrafiltrado. Infelizmente, ambas as tentativas falharam, mas a dataçã o por
aceleraçã o de ossos de animais encontrada ao redor do fó ssil indica que sua
idade real é de cerca de 40.000 anos e pode registrar uma disseminaçã o precoce
de seres humanos modernos na Europa Ocidental.
Outros métodos de dataçã o física que podem ser aplicados a materiais fó sseis
e arqueoló gicos além dos limites da dataçã o por radiocarbono também foram
desenvolvidos ou aprimorados nos ú ltimos vinte anos. Isso inclui a datação
das séries de urânio ( EUA ) , que se baseia no decaimento radioativo de
diferentes formas de urâ nio. A acumulaçã o e a mediçã o dos chamados produtos
filha sã o possíveis em substâ ncias como estalagmites e corais. O primeiro tem
sido muito ú til em locais de cavernas, enquanto o ú ltimo tem sido usado para
examinar mudanças passadas no nível do mar nas costas tropicais e subtropicais
e, como já mencionado, para verificar a precisã o das mediçõ es de
radiocarbono. Um dos segredos sagrados do namoro é conseguir que os métodos
de decomposiçã o do urâ nio funcionem nos ossos fó sseis. No entanto, isso se
mostrou notoriamente difícil porque, ao contrá rio das estalagmites e corais, que
sã o essencialmente selados apó s a deposiçã o, o osso continua aberto ao acú mulo
ou perda de urâ nio (por exemplo, quando a á gua subterrâ nea penetra por
ele). Isso significa que seu reló gio físico pode funcionar de maneira muito
irregular. Nã o obstante, progressos considerá veis foram feitos recentemente, e
discutirei alguns dos resultados aplicados aos fó sseis de Broken Hill do Homo
heidelbergensis no capítulo 9.
Vá rios outros métodos dependem do fato de que substâ ncias cristalinas, como
grã os de areia, pederneira ou esmalte de um dente, armazenam alteraçõ es nos
elétrons dentro de sua estrutura cristalina da radiaçã o que recebem do
ambiente, uma vez enterrados. A quantidade de alteraçã o (correspondente a
danos causados pela radiaçã o) pode ser medida a partir da energia acumulada
liberada na areia ou na pederneira quando tratada com um raio laser
( luminescência opticamente estimulada ou OSL ) ou por aquecimento
( termoluminescência ou TL ) enquanto estiver no dente esmalte, as alteraçõ es
acumuladas nos elétrons podem ser detectadas usando radiaçã o de microondas
( ressonância de rotação eletrônica , ou VHS ). Para que qualquer um desses
métodos funcione, o sinal de radiaçã o deve primeiro ser ajustado a zero - por
exemplo, quando um dente começa a crescer (VHS) - ou voltar a zero quando o
sinal anterior é apagado quando os grã os de areia sã o branqueados pela
exposiçã o ao sol, ou quando pederneira ou argila é fortemente aquecida no fogo
(luminescência). Desde que a taxa de acú mulo subseqü ente de danos causados
pela radiaçã o no material possa ser estimada a partir do ambiente em que foi
enterrado, por quanto tempo ficou no chã o (por exemplo, em uma lareira Cro-
Magnon ou em um local de açougue Neanderthal) pode ser estimado.
Assim como na dataçã o por radiocarbono, os procedimentos foram
aprimorados continuamente; agora, mesmo grã os individuais de areia podem ser
datados pela luminescência. Da mesma forma, no caso da VHS, onde
anteriormente um grande pedaço de dente tinha que ser sacrificado, passamos
para uma situaçã o em que, usando a técnica microscó pica de ablação a laser ,
agora é possível datar diretamente uma pequena á rea de fó ssil esmalte de dente
humano. Outra complicaçã o potencial da dataçã o por ESR é o fato de que os
fó sseis absorvem urâ nio quando sã o enterrados; portanto, eles contribuem para
a sua pró pria dose de radiaçã o acumulada. A estimativa da taxa de captaçã o de
urâ nio é crítica (a maioria entrou logo apó s o enterro ou foi gradualmente?), Mas
agora esse desconhecido pode ser solucionado através da combinaçã o ou
"acoplamento", uma determinaçã o de ESR com uma data nos EUA em o mesmo
pedaço de esmalte e procurando a estimativa de idade mais compatível ao
comparar os dois.
Um excelente exemplo dos tremendos impactos que a luminescência e a
dataçã o por ESR causaram na evoluçã o humana surgiram no Oriente Médio, das
famosas cavernas israelenses de Tabun e Skhul (Monte Carmelo) discutidas no
capítulo 1. Tive a sorte de estar envolvido em alguns dos trabalhos pioneiros
sobre a dataçã o desses sites no final dos anos 80 e início dos anos 90, uma vez
que o Museu de Histó ria Natural possui uma parte dos fó sseis, artefatos e
sedimentos humanos.

Intervalos dos principais métodos de namoro para a evoluçã o humana recente.

Esses fó sseis tiveram um papel fundamental no desenvolvimento de idéias


sobre as relaçõ es humanas modernas entre os neandertais: representavam
essencialmente uma populaçã o bastante variá vel, talvez com 40.000 anos de
idade, ou as pessoas Skhul, de aparência mais moderna, conseguiram suceder
neandertais como Tabun, e talvez evoluíssem de eles? Mesmo quando mais
fó sseis neandertais foram adicionados à mistura de locais israelenses como
Amud e Kebara (ambos com esqueletos bastante completos de enterros
aparentes), e esqueletos de aparência mais moderna foram adicionados a partir
do local de Qafzeh (perto de Nazaré), a imagem nã o fique mais claro. A dataçã o
relativa usando semelhanças em ferramentas de pedra sugeria que elas eram
todas muito pró ximas, enquanto uma data de radiocarbono em algum carvã o de
Tabun sugeria que os neandertais de lá nã o tinham muito mais que 40.000
anos. Por sua vez, com base na sucessã o conhecida de neandertais e seres
humanos modernos na Europa há cerca de 35.000 anos atrá s, supunha-se que
uma sequência semelhante seria encontrada no Oriente Médio, embora talvez
fosse um pouco mais antiga. Assim, no início dos anos 80, parecia razoá vel supor
que os “modernos” de Qafzeh e Skhul tinham cerca de 40.000 anos e dois
cená rios evolutivos diferentes foram propostos na regiã o. Erik Trinkaus
favoreceu a visã o de que os neandertais haviam evoluído rapidamente para os
modernos lá , enquanto eu pensava que havia uma substituiçã o do povo Tabun
pelos modernos Skhul e Qafzeh - mas nó s dois está vamos errados! E já havia uma
pista de por que está vamos errados em algum trabalho relativo de namoro em
restos de animais dos sites.
A Caverna Qafzeh, como muitos dos locais, continha restos fossilizados de
roedores e enterros humanos, e eles podem fornecer informaçõ es ú teis nã o
apenas sobre o ambiente local, mas também sobre a dataçã o dos locais. Estudos
pioneiros desses pequenos mamíferos permanecem por pesquisadores
israelenses, sugerindo que Qafzeh poderia, de fato, ser mais antigo que os locais
dos neandertais, e nã o mais jovem. Isso levou o arqueó logo Ofer Bar-Yosef a
propor que os primeiros Qafzeh modernos pudessem datar até 70.000 anos. No
entanto, essa era estava claramente fora do alcance do radiocarbono, entã o como
essa visã o poderia ser testada? Por fim, com aprimoramentos em ESR e dataçã o
por luminescência que ocorreram durante os anos 80, isso se tornou possível.
A primeira aplicaçã o significativa dessas técnicas emergentes
(termoluminescência aplicada a pederneiras que foram aquecidas em uma
lareira) veio de colaboraçõ es franco-israelenses e inicialmente pareceu reforçar
o padrã o esperado no Oriente Médio, datando o enterro Neanderthal
recentemente descoberto em Kebara para cerca de 60.000 anos. No entanto, logo
depois em 1988, a primeira aplicaçã o foi feita no local do material moderno de
Qafzeh, fornecendo uma estimativa de idade surpreendente de cerca de 90.000
anos, mais do que o dobro do valor geralmente esperado, apoiando ou até
excedendo a dataçã o relativa sugerida pelo roedores! Em seguida, foram os sites
Skhul e Tabun, e para eles comecei a trabalhar com especialistas em namoro
como Rainer Grü n e Henry Schwarcz. Henry, canadense, é o decano de namorar
nesse período, e Rainer, um alemã o que agora trabalha em Canberra, estudou e
trabalhou com ele. A aná lise de amostras de dentes de animais de ambos os
locais de dataçã o por VHS deu resultados igualmente reveladores. Em três anos,
mostramos que os primeiros skhul modernos eram pelo menos tã o antigos
quanto os qafzeh, enquanto a profunda sequência da Caverna Tabun cobria
centenas de milhares, em vez de dezenas de milhares de anos. Sugerimos
também que o enterro neandertal de Tabun era muito mais antigo que a data de
40.000 anos de radiocarbono: talvez fosse tã o antigo quanto os modernos de
Skhul e Qafzeh.
Obviamente, havia uma sequência muito mais complexa do que qualquer um
de nó s imaginara e, de certa forma, a cadeia de eventos esperada foi revertida: o
povo de aparência moderna de Skhul e Qafzeh era mais velho que o Neandertal
de Kebara. Trabalhos posteriores mostraram que eles também eram mais velhos
que o Neandertal de Amud. Assim, eles nã o poderiam ter evoluído a partir desses
ú ltimos neandertais e, intrigantemente, esses ú ltimos neandertais estavam no
Oriente Médio apó s os primeiros humanos modernos, e nã o antes deles. O
trabalho contínuo de namoro usando todas as técnicas disponíveis agora sugere
que as pessoas de Skhul e Qafzeh realmente variam de 90.000 a 120.000 anos,
enquanto o Neanderthal de Tabun provavelmente tem cerca de 120.000
anos. Portanto, o cená rio emergente é aquele em que as populaçõ es
aparentemente diminuíram e fluíram na regiã o, o que faz sentido devido à sua
posiçã o geográ fica entre os mundos em evoluçã o dos neandertais ao norte e os
primeiros modernos ao sul.
Bar-Yosef sugeriu que os modernos surgissem na regiã o durante um período
particularmente quente e ú mido, cerca de 120.000 anos atrá s, mas como a Era do
Gelo seguinte esfriou e secou o norte, os neandertais foram empurrados para lá e
tomaram conta da regiã o. inversã o intrigante do modelo de substituiçã o
habitual! Na verdade, acho que essas mudanças poderiam ter sido de longa data
e ainda mais complexas, remontando profundamente à histó ria evolutiva das
duas espécies. Nos momentos em que as condiçõ es eram favorá veis, um ou outro
grupo, ou talvez ambos, teria se mudado para a regiã o, enquanto em momentos
de severa aridez poderia até ter sido completamente abandonado. Se as
populaçõ es foram geralmente empurradas para lá por condiçõ es desfavorá veis
em seus territó rios, ou foram puxadas para lá por melhorias climá ticas que
levaram a expansõ es populacionais, ainda nã o sabemos, mas novos dados
climá ticos estã o surgindo.
Finalmente, está sendo realizado o potencial do ESR de combinar a
capacidade do radiocarbono AMS em datar fó sseis humanos. Em 1996, a
primeira de um nú mero crescente de aplicaçõ es dessa técnica a fó sseis humanos
significativos foi feita quando Rainer Grü n e eu colaboramos com colegas
incluindo James Brink, da Á frica do Sul, até a data do crâ nio humano de
Florisbad. Esse fó ssil, que foi encontrado em 1932, é na verdade um tanto
incompleto, mas parece combinar um rosto grande e de aparência bastante
moderna, com uma forte crista de sobrancelha e uma testa um tanto recuada. Por
muitos anos, assumiu-se que datava de cerca de 40.000 anos atrá s, com base em
uma data de radiocarbono proveniente de depó sitos de turfa no local e, com base
nisso, parecia ser uma relíquia nas margens do sul da Á frica, enquanto os
modernos estavam evoluindo e espalhando-se pelo oeste da Á sia e Europa. Como
tal, supostamente demonstrou o papel atrasado da Á frica na evoluçã o humana
moderna - os humanos primitivos de Florisbad marcavam o tempo até que os
modernos chegassem do norte e os substituíssem. No entanto, o fó ssil preservou
um dente molar superior e um pequeno fragmento de seu esmalte foi levado ao
laborató rio de Rainer, na Austrá lia, para dataçã o de ESR - com resultados
sensacionais. O fó ssil nã o tinha 40.000, mas cerca de 260.000 anos! Assim, seu
papel potencial na evoluçã o humana foi revolucionado de uma só vez: em vez de
representar o equivalente dos neandertais no sul da Á frica, à beira da extinçã o,
ele poderia ter sido um ancestral de todos nó s.
Existem algumas situaçõ es em que mesmo as melhores técnicas de namoro
físico precisam de ajuda, e combinaçõ es de métodos físicos e relativos sã o
necessá rias. Os neandertais aparentemente desapareceram cerca de 30.000 anos
atrá s, mas os fatores que levam a isso e a escala de tempo para sua morte ainda
sã o ferozmente debatidos. Embora a dataçã o por radiocarbono do acelerador
forneça excelente precisã o na mediçã o de uma idade, ela apresenta problemas de
precisã o em comparaçã o com os anos civis durante esse período crítico de
tempo, tanto porque a taxa de formaçã o de radiocarbono na atmosfera era
incomumente variá vel na época quanto porque uma pequena quantidade de
contaminaçã o com carbono jovem ou velho fará uma diferença significativa para
a idade obtida. Como expliquei anteriormente, esse ú ltimo problema está sendo
resolvido por meio de técnicas que removem muito eficazmente os
contaminantes antes da tentativa de dataçã o. Mas, para abordar a questã o
anterior, felizmente houve outros eventos significativos na Europa durante esse
período para fornecer maneiras novas e potencialmente muito precisas de
namoro relativo. Como discuto mais adiante no capítulo 4, ocorreu uma enorme
erupçã o vulcâ nica na regiã o de Campania, no centro da Itá lia, cerca de 39.300
anos atrá s (o que sabemos por dataçã o por argô nio). Bem como quantidades
enormes de depó sitos locais, como lava, pedra-pomes, e cinzas, a erupçã o
também produziu pó muito fino vulcâ nica, conhecida como criptografia -
ou microtephra porque ele nã o pode ser visto a olho nu. Esse microtephra pode
ser ejetado na atmosfera superior e viajar por muitos milhares de quilô metros, e
o Ignimbrite da Campâ nia - das palavras latinas igni (fogo) e imbri (chuva) - se
estabeleceu no leste até a Rú ssia e o norte da Á frica.
O IC, como é sabido, já foi encontrado em dezenas de sítios arqueoló gicos,
incluindo as famosas localidades russas de Kostenki, em níveis que já sabíamos
da dataçã o por radiocarbono tinham pelo menos 35.000 anos. Cada erupçã o
vulcâ nica ocorreu como resultado de combinaçõ es ú nicas de fatores como
composiçã o química, temperatura e pressã o, e, portanto, podem ser
“identificadas” e reconhecidas. Portanto, onde quer que a assinatura química
especial do CI seja encontrada em um sítio arqueoló gico, podemos estar bastante
confiantes de que o nível em questã o, com seus fó sseis e artefatos associados, foi
estabelecido há pouco mais de 39.000 anos. Por sua vez, todos esses locais
podem ser correlacionados a essa era por uma treliça de depó sitos vulcâ nicos
síncronos.
Essa abordagem deu origem a um grande projeto colaborativo chamado
RESET (Resposta de seres humanos a transiçõ es ambientais abruptas), no qual
estou envolvido. Durante um período de pesquisa de cinco anos, o RESET
correlaciona as tefras de suas fontes vulcâ nicas com as de onde caíram em
sedimentos profundos do oceano e dos lagos, e ainda mais longe em importantes
sítios arqueoló gicos da Europa, oeste da Á sia e norte da Á frica. O objetivo do
RESET é investigar os efeitos das mudanças climá ticas e ambientais nas
populaçõ es humanas da regiã o, incluindo os ú ltimos neandertais e os primeiros
modernos. As pró prias tefras sã o marcadores de erupçõ es vulcâ nicas, é claro, a
maioria delas apenas local e de curta duraçã o em seus efeitos, mas algumas
tiveram impactos importantes - até globais -, como veremos mais adiante neste
capítulo.
O uso de depó sitos vulcâ nicos até hoje para fó sseis humanos tem uma longa
histó ria, como expliquei anteriormente em relaçã o ao desfiladeiro de Olduvai, e o
mapeamento dos resultados de sucessivas erupçõ es vulcâ nicas desempenhou
um papel importante no refinamento da era de muitos sítios fó sseis importantes
na Á frica Oriental, incluindo Omo Kibish na Etió pia. Os dois fó sseis humanos
mais completos de lá , o esqueleto Omo 1 e a base do Omo 2, foram encontrados
em 1967 por uma equipe liderada por Richard Leakey e foram importantes nas
primeiras propostas de origem africana recente. Porém, embora houvesse
estimativas iniciais de que o material tinha mais de 100.000 anos, algumas delas
se baseavam na aplicaçã o de séries de urâ nio que datam de conchas nos
depó sitos - o material nã o mais confiá vel para tais determinaçõ es - e, portanto,
restavam dú vidas. Mais de trinta anos apó s as descobertas originais, uma equipe
internacional liderada pelo antropó logo John Fleagle retornou à regiã o de Kibish,
mudou o local de localizaçã o de 1967 e encontrou outros fó sseis e ferramentas
de pedra. Tanto o Omo 1 quanto o Omo 2 foram originalmente recuperados da
parte mais baixa da maciça Formaçã o Kibish, uma série de sedimentos anuais,
porém episó dicos, lançados pelo antigo rio Omo quando inundava
periodicamente, antes de entrar no Lago Turkana. Esses depó sitos ficam a cerca
de cem quilô metros ao norte do que o atual delta, pró ximo à fronteira da Etió pia
com o Quênia. Ocasionalmente, as erupçõ es vulcâ nicas depositavam cinzas e
pedras-pomes vulcâ nicas sobre os sedimentos do rio e do lago, e estes podem ser
datados através de seu argô nio contido. Uma camada de cinzas cerca de três
metros abaixo da localizaçã o do Omo 1 foi colocada a cerca de 196.000 anos,
enquanto uma segunda cinza a cerca de cinquenta metros acima da localizaçã o
foi datada de cerca de 104.000 anos. Como também havia sinais claros de erosã o
geoló gica (a remoçã o de sedimentos quando o nível do rio e do lago caiu) entre o
nível de Omo 1 e as cinzas mais altas, parecia prová vel que a idade de Omo 1
estivesse muito mais pró xima da idade do rio. Cinzas de 196.000 anos do que as
de 104.000 anos.
Um apoio indireto adicional para isso veio de muito mais longe, no fundo do
mar do Mediterrâ neo. Durante os antigos períodos das monçõ es, a chuva e o
derretimento das montanhas nas montanhas da Etió pia enviavam inundaçõ es
anuais para as fontes do rio Nilo, causando o depó sito de sapropels (camadas
escuras de sedimentos) quando essas á guas acabavam saindo para o
Mediterrâ neo. Um sapropel particularmente fortemente marcado pode ser
datado de sua posiçã o nos nú cleos do fundo do mar do Mediterrâ neo a cerca de
195.000 anos, sugerindo que ele se correlaciona perfeitamente com o principal
evento de monçã o que enviou inundaçõ es na direçã o oposta pelo rio Omo,
produzindo os vastos depó sitos da parte inferior da Formaçã o Kibish, na qual o
esqueleto Omo 1 e a cinza vulcâ nica subjacente foram encontrados. A base do
Omo 2 foi mais um achado de superfície do que um fó ssil escavado em
sedimentos (que era o caso do esqueleto parcial do Omo 1), mas a localizaçã o
circundante consistia na parte mais baixa da Formaçã o Kibish. Assim, a equipe
que revisitou a regiã o e publicou o novo trabalho de namoro permanece
confiante de que o Omo 1 e Omo 2 têm uma idade muito pró xima, em cerca de
195.000 anos, apesar de alguns fortes contrastes em seu nível de modernidade -
algo ao qual voltarei no capítulo 9
Outro exemplo em que os sapropels do Mediterrâ neo forneceram pistas sobre
eventos profundos no continente africano diz respeito ao “esverdeamento” do
Saara cerca de 120.000 anos atrá s. Hoje, o Saara é a maior regiã o hiperá rida da
Terra, com uma precipitaçã o anual registrada de apenas um milímetro em
grande parte de sua vasta extensã o. Mas, como é sabido pelos achados
arqueoló gicos e pinturas rupestres de animais e pessoas nas profundezas do
deserto, apenas 6.000 anos atrá s, o Saara era um lugar mais ú mido de pastagens,
lagos e florestas de galerias, cercando extensos sistemas fluviais. O que é menos
conhecido é que 120.000 anos atrá s, o Saara era ainda mais ú mido do que isso e
foi capaz de sustentar uma populaçã o generalizada de caçadores e coletores do
Paleolítico Médio. Há muitas pistas para isso, incluindo sinais químicos de
deposiçã o de á gua doce e sapropels escuros em nú cleos do fundo do mar ao largo
da costa da Líbia, ambos indicando poderosos sedimentos de rios durante o
ú ltimo interglacial. Um sinal semelhante foi detectado a partir de produtos
químicos derivados de plantas em depó sitos de poeira na costa oeste da Á frica; A
aná lise mostra que o nível de plantas dependentes da á gua (como á rvores e nã o
gramíneas) atingiu o pico há cerca de 115.000 anos, com um segundo pico mais
curto em cerca de 50.000 anos.
Além disso, como revelado nas imagens de radar dos satélites, enormes canais
fluviais estã o agora enterrados sob as areias do deserto, algumas das quais com
cinco quilô metros de largura e percorrendo oitocentos quilô metros. Como
mostrou o cientista terrestre Nick Drake e seus colegas, há cerca de 120.000 anos
o deserto estava coberto por uma rede interconectada de rios e lagos, formando
corredores ú midos que se estendiam a partir de enormes lagos do sul, como
Fazzan e Chad, até o Mediterrâ neo. Esses corredores permitiram que a fauna e a
flora africanas típicas floresecessem por pelo menos 20.000 anos e, à medida que
os recursos vegetais e a caça proliferavam, o mesmo acontecia com os humanos
que viviam deles. Nos ú ltimos cem anos, viajantes e arqueó logos coletaram
ferramentas do Paleolítico Médio da superfície do Saara, muitas vezes bem longe
de qualquer oá sis moderno, e agora sabemos que muitas dessas acumulaçõ es
datam do Saara verde há mais de 100.000 anos.
As ferramentas incluem pontas de pedra triangulares com uma espiga ou
ombro, que presumivelmente foram usadas para montá -las como projéteis em
um cabo de madeira. Esses artefatos icô nicos caracterizam a indú stria de
Aterian, reconhecida pela primeira vez no local argelino de Bir el-Ater; essa
indú stria foi feita por uma variedade muito robusta e de dentes largos do Homo
sapiens , compará vel à s pessoas que conhecemos de Herto na Etió pia. Parece
muito prová vel que o aumento da umidade de muitas partes da Á frica nesse
momento tenha levado ao crescimento populacional e a um importante
compartilhamento de idéias em toda a Á frica, à medida que regiõ es antigamente
isoladas eram conectadas por corredores habitá veis. Culturas que usavam contas
de concha e pigmento ocre vermelho pareciam se espalhar por toda a gama
conhecida de humanos modernos da época, da Á frica do Sul a Marrocos e até ao
oeste da Á sia, em Skhul e Qafzeh. Em Israel, chuvas elevadas produziram o
enorme Lago Samra, que se estendia muito além da agora encolhida bacia do Mar
Morto, cerca de 75.000 a 135.000 anos atrá s.
Mas, quando o início da ú ltima Era Glacial começou a se agravar, essas
condiçõ es interglaciais agradá veis nã o duraram na Á frica. Podemos rastrear o
efeito dessa crise climá tica sobre os povos da Á frica Austral há cerca de 75.000
anos atrá s, através de duas importantes e inovadoras indú strias de ferramentas
de pedra: as de Still Bay e Howiesons Poort. Além de sofisticados artefatos de
pedra (tratados termicamente para melhorar as qualidades de descamaçã o no
caso de Still Bay), ambos possuíam contas feitas de conchas do mar ou cascas de
ovos de avestruz e ambos usavam ocre vermelho simbolicamente. A indú stria de
Still Bay é conhecida em apenas um punhado de pontos no sul da Á frica,
enquanto o Howiesons Poort era muito mais difundido, com pelo menos trinta
locais que variam desde os locais mais conhecidos nas costas do sul, em lugares
como o Klasies River Mouth Caves, até as margens do deserto do Namibe e as
montanhas do Lesoto. Embora se pensasse que a Baía de Still precedeu o
Howiesons Poort, ambos estavam muito além do limite da dataçã o por
radiocarbono eficaz, portanto métodos como a série de urâ nio e a ESR foram
empregados para colocá -los em relaçã o um ao outro, mas com pouca correçã o
sobre suas respectivas duraçõ es.
O avanço ocorreu em 2008, quando uma equipe de especialistas em namoro,
incluindo Zenobia Jacobs e Bert Roberts, combinou-se com arqueó logos como
Hilary Deacon e Lyn Wadley para aplicar as mais recentes técnicas de namoro
por luminescência a grã os ú nicos de quartzo dos locais, usando os mesmos
procedimentos laboratoriais. Cinquenta e quatro amostras foram obtidas de
locais amplamente dispersos que continham ambas as indú strias ou uma ou
outra. Os resultados foram impressionantes: em vez de abranger períodos de
50.000 anos ou mais, como outros métodos sugeriram, tanto a indú stria de Still
Bay quanto a de Howiesons Poort foram episó dios culturais breves que
aparentemente apareceram e desapareceram repentinamente em grandes á reas
da Á frica Austral. Surpreendentemente, a baía de Still durou apenas alguns
milênios, cerca de 72.000 anos atrá s, enquanto o Howiesons Poort apareceu
cerca de 65.000 anos atrá s, terminando abruptamente em cerca de 60.000
anos. Além disso, as pessoas que sucederam o Howiesons Poort só retornaram
apó s alguns milhares de anos e estavam criando ferramentas mais
conservadoras da Idade da Pedra Média (compará veis ao Paleolítico Médio da
Eurá sia ocidental), aparentemente sem as inovaçõ es de seus antecessores.
É claro que é possível que os fabricantes das indú strias anteriores nã o
tenham desaparecido, mas simplesmente mudado para locais que até agora nã o
forneceram nenhum registro arqueoló gico. (Por exemplo, eles podem ter se
mudado para mais longe nas prateleiras costeiras, que agora estã o submersas.)
Mas eles nã o parecem ter reaparecido mesmo em uma data posterior, sugerindo
que esses realmente eram episó dios breves, como uma luz acendendo e depois
sendo extinto, talvez para sempre. A deterioraçã o ambiental em face da rá pida
mudança climá tica foi invocada para explicar esses padrõ es episó dicos, e voltarei
à sua importâ ncia no capítulo 8. Enquanto isso, eu gostaria de examinar um
evento global que, de forma controversa, se afirma estar por trá s de mudanças
ainda mais amplas. em populaçõ es e comportamentos humanos, incluindo as
inovaçõ es da indú stria de Still Bay: a erupçã o do vulcã o Toba em Sumatra.
Cerca de 73.000 anos atrá s, a grande ilha de Sumatra, na Indonésia, foi a fonte
da mais poderosa erupçã o vulcâ nica dos ú ltimos 100.000 (alguns cá lculos
sugerem 2 milhõ es) anos. A erupçã o foi cerca de mil vezes maior que o famoso
Mount St. Helens, no estado de Washington, em 1980, e expulsou o equivalente a
cerca de 1.000 quilô metros cú bicos de rocha na forma de ejetos de diversos
tamanhos, além de grandes volumes de á gua vapor e gases. Depó sitos de cinzas
grossas da erupçã o foram encontrados em nú cleos que se estendem dos mares
da Ará bia ao sul da China, e algumas seqü ências arqueoló gicas na Índia sã o
interrompidas por quedas de cinzas com vá rios metros de espessura. A escala
indubitá vel da erupçã o levou a algumas alegaçõ es sensacionais sobre seus
efeitos na Terra através de um "inverno vulcâ nico" resultante, onde todo o
planeta teria faltado verõ es por muitos anos, como resultado de nuvens de
poeira e gotículas de á cido sulfú rico residindo na atmosfera superior. A queda de
temperatura resultante e a falta de sol no verã o teriam devastado o crescimento
das plantas e tudo o que dependia dela, incluindo as populaçõ es humanas
primitivas da época. Alguns sugeriram que ele desestabilizou o clima da Terra
por mil anos ou que até desencadeou uma era glacial global, diminuindo o
nú mero de seres humanos para apenas alguns milhares de pessoas. Por outro
lado, estudos de faunas no sudeste da Á sia, mais pró ximos da erupçã o, sugeriram
que qualquer efeito foi menor e teve vida curta, uma vez que nã o foram
devastados. Além disso, na Índia, as seqü ências arqueoló gicas estudadas por
Mike Petraglia e seus colegas indicam similarmente que o impacto nas
populaçõ es humanas nã o foi grave. Tenho sido muito cauteloso com os efeitos de
Toba nos seres humanos em todo o mundo. (Afinal, os neandertais que vivem na
Europa temperada e o Hobbit que vivem em Flores na Indonésia, assim como
nossos ancestrais na Á frica, certamente sobreviveram aos efeitos de Toba de
alguma forma.)
No entanto, dois estudos recentes de Alan Robock e seus colegas, e Claudia
Timmreck e seus colegas, usando modelos diferentes de seus efeitos em todo o
mundo, apontam para um impacto grave, se de vida mais curta. O trabalho deles
nã o apoiou a ideia de que poderia ter desencadeado um avanço glacial, mas
concluiu que poderia ter produzido até uma década de condiçõ es de frio, seca e
escuridã o, suficientemente graves para afetar a vida vegetal e animal em terra e
no mar , mas talvez nã o seja totalmente devastador. Por outro lado, novas
aná lises de sedimentos terrestres e pó len em um nú cleo da Baía de Bengala,
envolvendo o principal proponente do efeito Toba em humanos primitivos,
Stanley Ambrose, encontraram sinais de um longo período de dessecaçã o na
Índia na época. da erupçã o de Toba. Infelizmente para cená rios simples, a
aparente extinçã o do povo da Á frica do Sul Still Bay apó s um curto florescimento
ocorreu cerca de 2.000 anos apó s Toba, se as evidências atuais de dataçã o forem
precisas, embora alguns possam argumentar que suas inovaçõ es foram um
resultado forçado pela degradaçã o ambiental que a erupçã o provocada.
Agora vamos passar cerca de 35.000 anos para os ambientes e escalas de
tempo na época da extinçã o dos ú ltimos neandertais. Certamente, se os
neandertais transmitissem seus genes aos humanos modernos, como
discutiremos no capítulo 7, eles nã o se extinguiram completamente, pois parte
de seu DNA vive dentro de nó s. No entanto, como uma populaçã o com suas
pró prias características corporais distintas, elas desapareceram e existem
muitos cená rios construídos em torno do que pode ter acontecido com eles. As
explicaçõ es variaram amplamente, desde sugestõ es de doenças importadas à s
quais eles tinham pouca imunidade natural, até a competiçã o econô mica de, ou
mesmo conflito com, os seres humanos modernos primitivos. Até recentemente,
a visã o das mudanças climá ticas na Europa naquele tempo era bastante
simplista, levando o clima a ser ignorado como um fator na extinçã o dos
neandertais: eles se extinguiram antes do pico da ú ltima Era do Gelo, haviam
sobrevivido a condiçõ es frias antes e estavam adaptado fisicamente e
provavelmente culturalmente para lidar com as crises climá ticas. Muitas
explicaçõ es (inclusive a minha) se concentraram no impacto direto dos humanos
modernos nos neandertais e na superioridade inerente de pessoas como os Cro-
Magnons. Porém, registros paleoclimá ticos ricos de nú cleos nas calotas polares,
no fundo do mar e nos leitos dos lagos agora revelam uma complexidade
surpreendente nas mudanças climá ticas nesse momento, com muitas oscilaçõ es
rá pidas. Isso levou a novas idéias sobre sua extinçã o, incluindo as de dois amigos
meus, Clive Finlayson e John Stewart, que consideram que os neandertais
provavelmente estavam a caminho da extinçã o de qualquer maneira, e que os
modernos tinham pouco ou nada a ver com sua morte. Por exemplo, Clive acha
que os primeiros modernos aperfeiçoaram suas adaptaçõ es nas planícies da
Á frica, um ambiente muito diferente daquele em que os neandertais foram
adaptados na Europa; portanto, as duas espécies tinham preferências ecoló gicas
diferentes e nunca se sobrepuseram, competiram entre si ou se cruzaram. De
acordo com essa visã o, os neandertais desapareceram cerca de 30.000 anos
atrá s, quando seus habitats mistos preferidos finalmente desapareceram de seus
ú ltimos postos avançados, em lugares como Gibraltar.
No meu caso, por volta do ano 2000, participei de uma colaboraçã o chamada
Projeto Stage 3 (Marine Isotope Stage 3 durou de 30.000 a 60.000 anos atrá s),
liderada por Tjeerd van Andel e com sede em Cambridge. Usamos flutuaçõ es de
temperatura registradas em um nú cleo de gelo da Groenlâ ndia e um lago na
Itá lia central para reconstruir hipotéticas “curvas de estresse” para a Europa,
com base em dois fatores de peso igual, ambos considerados ruins para os seres
humanos, sejam neandertais ou nã o. Cro-Magnon: baixas temperaturas e
flutuaçõ es desestabilizadoras rá pidas nas temperaturas em qualquer direçã o -
mais alta ou mais baixa. A abordagem foi simplista, pois nã o tentou modelar
outros fatores, como mudanças nas chuvas, neve e vento frio, que também teriam
tido impactos importantes na populaçã o humana da Europa e em suas
perspectivas de sobrevivência. As curvas de estresse que geramos mostraram
uma fase climá tica moderada há cerca de 45.000 anos, que talvez se
correlacionasse com a migraçã o dos modernos para a Europa, mas o "estresse
climá tico" atingiu o pico em cerca de 30.000 anos, em vez do má ximo glacial
subsequente, coincidindo com o ú ltimo conhecido registros dos neandertais ou
de suas indú strias de ferramentas de pedra em lugares como Gibraltar e
Criméia. Tais condiçõ es estressantes, sem dú vida, afetariam as populaçõ es de
Neanderthal e Cro-Magnon, aumentando a competiçã o por recursos cada vez
menores em ambientes onde suas faixas se sobrepunham. Mas apenas o Homo
sapiens passou por essas crises.
Uma modelagem de condiçõ es um pouco mais sofisticada na Europa, quando
os ú ltimos neandertais se sobrepuseram aos Cro-Magnons, foi publicada em
2008. Neste trabalho, William Banks e seus colegas usaram a localizaçã o de
conjuntos de ferramentas de pedra com idades entre 37.000 e 42.000 anos, que
foram pensados identificar a presença de neandertais ou cro-magnons em
determinadas regiõ es. Em seguida, tratando as distribuiçõ es como se
representassem uma espécie de mamífero em vez de ferramentas de pedra, eles
usaram modelagem ecoló gica para reconstruir as preferências e tolerâ ncias
ambientais das duas populaçõ es, e os intervalos que cada um deveria poder
ocupar na época, segundo para essas preferências. O período de tempo abrangeu
duas fases suaves, interrompidas por uma onda de frio curta, mas grave, em
cerca de 39.000 anos. Nã o foi quando o Ignimbrite da Campâ nia foi depositado
mais ao leste, mas quando o Atlâ ntico foi resfriado por vá rias centenas de anos
pelo fluxo para o sul de uma armada de icebergs (um evento de Heinrich ,
discutido mais adiante no capítulo 4).
Os resultados mostraram que, antes da onda de frio, os neandertais deveriam
ter sido amplamente distribuídos, e de fato eram. Durante o evento de Heinrich,
as duas populaçõ es encolheram em suas distribuiçõ es modeladas e reais, diante
da deterioraçã o ambiental. Mas quando as condiçõ es melhoraram em cerca de
38.000 anos, embora as condiçõ es mais quentes e ú midas devessem ter
encorajado ambas as populaçõ es, os modernos se recuperaram, enquanto os
neandertais nã o. A modelagem também mostrou que as populaçõ es Neanderthal
e Cro-Magnon estavam tentando explorar nichos ecoló gicos semelhantes; na
prá tica, os modernos aumentavam a amplitude deles ao longo do tempo, à s
custas dos neandertais. Enquanto nas fases anteriores o nicho moderno nã o
incluía o centro e o sul da Península Ibérica, com o passar do tempo, os Cro-
Magnons se expandiram cada vez mais para o sul, em direçã o a postos avançados
de sobrevivência dos neandertais, como Gibraltar.
Este trabalho interessante mostra como essa modelagem pode ser feita e deve
ser possível refinar ainda mais as aná lises, à medida que as datas de
radiocarbono ultrafiltrado e o uso de ferramentas de correlaçã o como
microtephra se tornam cada vez mais disponíveis. Uma tentativa mais direta de
estimar o tamanho da populaçã o relativa dos ú ltimos neandertais e dos
primeiros modernos da Europa ocidental veio dos arqueó logos de Cambridge
Paul Mellars e Jennifer French. Eles minaram um grande conjunto de dados
registrando a extensã o da á rea de cada um dos ú ltimos locais dos neandertais no
sudoeste da França e os dos aurignacianos na mesma regiã o. Da mesma forma,
eles compararam dados sobre o nú mero de ferramentas de pedra que cada
populaçã o humana deixou para trá s em seus locais e a quantidade de detritos
alimentares que geraram. Multiplicando tudo isso, eles concluíram que a
populaçã o moderna primitiva era cerca de dez vezes o tamanho da populaçã o
neandertal anterior. Isso pode implicar que os modernos inundaram os
neandertais, mas, no momento, nã o podemos colocá -los juntos como
concorrentes diretos no cená rio europeu por um período preciso de tempo,
apenas inferir que eles provavelmente coexistiram.
Como eu percebi, nã o devemos procurar uma ú nica causa para a extinçã o dos
neandertais; precisamos ter uma visã o ampla disso. Os eventos fascinantes que
ocorreram na Europa Ocidental, há cerca de 35.000 anos, recebem a maior parte
da atençã o científica e popular, mas foram apenas os pontos finais de centenas
de milhares de anos de evoluçã o e interaçã o potencial entre as linhagens dos
humanos modernos e os neandertais (por Por exemplo, populaçõ es ancestrais
poderiam estar em contato intermitentemente em regiõ es como o oeste da
Á sia). Tenho certeza de que havia diferenças (muitas desconhecidas para nó s) na
aparência, comunicaçã o, expressã o e comportamento geral que teriam afetado a
maneira como os neandertais e os modernos se viam. Entã o, quando as
populaçõ es se encontraram, elas se perceberam simplesmente como outras
pessoas, inimigos, alienígenas ou mesmo presas? E como os neandertais
desapareceram em momentos diferentes da Á sia e da Europa, as razõ es pelas
quais desapareceram da Sibéria podem ser diferentes do motivo pelo qual foram
extintas no Oriente Médio e novamente diferentes dos fatores em açã o em
Gibraltar ou na Grã -Bretanha - e esses fatores podem nem sempre incluíram a
presença de humanos modernos.
Isso nos leva de volta a uma das explicaçõ es favoritas para a extinçã o de
pessoas como os neandertais: o comportamento. Eu sou um daqueles que
frequentemente invocam a superioridade comportamental dos seres humanos
modernos em relaçã o a outras espécies humanas como a principal razã o do
nosso sucesso e fracasso, mas reconstruindo esse comportamento a partir do
registro arqueoló gico, sem falar na decisã o de quem é superior a quem, nã o
existe. assunto fá cil. No pró ximo capítulo, examinaremos novos métodos para
desvendar idéias evolutivas e comportamentais dos fó sseis e, nos dois capítulos
seguintes, consideraremos o que o registro arqueoló gico parece nos dizer agora.

3
O que há por baixo

O registro fó ssil da histó ria inicial de nossa espécie e de nossos parentes


pró ximos, como os neandertais, cresceu tremendamente nos ú ltimos vinte e
cinco anos. Mas o que se desenvolveu a um ritmo ainda mais rá pido é a nossa
capacidade de desvendar segredos desses fó sseis, segredos que nos contam
sobre a biologia e a vida dessas pessoas há muito mortas. Neste capítulo,
mostrarei como novas técnicas vamos examinar o tamanho e a forma dos crâ nios
antigos e revelar estruturas ocultas, como os ossos do ouvido interno, que
podem nos contar sobre a postura, o movimento e os sentidos dos povos
desaparecidos. Agora, podemos examinar microscopicamente as marcas de
açougue para examinar detalhes do comportamento humano antigo, linhas de
crescimento diá rio em dentes fó sseis para reconstruir como as crianças
cresceram 1 milhã o de anos atrá s, e podemos usar isó topos para revelar como os
humanos antigos em diferentes partes do mundo exploraram seus ambientes e o
que eles comeram. Nos ú ltimos vinte anos, os métodos tradicionais de registrar o
tamanho e a forma dos ossos e dentes fó sseis foram complementados e cada vez
mais substituídos por técnicas que capturam essas informaçõ es em um
computador, através da digitalizaçã o ou digitalizaçã o. A tecnologia médica
da radiografia por tomografia computadorizada ( TC ) tem sido particularmente
bem-sucedida em estender o trabalho para estruturas anatô micas que sã o
difíceis de medir por meio de técnicas tradicionais (por exemplo, a forma de uma
forma curva como uma crista de sobrancelha) ou sã o inacessíveis (por exemplo,
fó sseis escondidos dentro de rochas ou dentes nã o irrompidos em um maxilar). E
a técnica computacional da morfometria geométrica ( morfometria significa
simplesmente "medir forma ou forma") está permitindo comparaçõ es mais
amplas e detalhadas do tamanho, forma e até mesmo dos padrõ es de
crescimento de amostras fó sseis e recentes.
A maioria dessas novas técnicas nã o estava disponível quando iniciei minha
pesquisa sobre a evoluçã o humana, e elas ainda estavam na infâ ncia quando os
modelos recentes de origem africana começaram a germinar nos anos 80. Por
exemplo, quando fiz minha viagem de quatro meses pela Europa para medir
cerca de cem crâ nios fó sseis de humanos arcaicos e modernos em 1971,
carregava uma pequena mala cheia de instrumentos de mediçã o de metal, como
pinças, fitas e transferidores, e um câ mera para registrar a preservaçã o e o
formato bá sico dos espécimes que eu estava estudando. (Um ú nico crâ nio bem
preservado com a mandíbula inferior pode levar até meio dia para ser gravado
completamente.) Sem laptops ou calculadoras de bolso, todos os meus dados
eram lentamente gravados à mã o em folhas de papel e, sem fotocopiadoras,
havia um Um grande risco (nã o apreciado por mim no início) de que todos os
dados conquistados com dificuldade em que minha carreira dependia poderiam
facilmente ter sido inadvertidamente perdidos ou até roubados nos dois roubos
que sofri do meu carro.
Quando voltei para Bristol, levei meses para transcrever laboriosamente
meus dados em cartõ es perfurados e iniciar as rodas computacionais girando no
ú nico computador maciço (mas, em termos modernos, ridiculamente pouco
potente) que servia a toda a Universidade de Bristol. Agora, um ú nico
pesquisador poderia (se soubesse para onde procurar) alcançar a quantidade
equivalente de coleta de dados, o que me levou quatro meses e cerca de 5.000
milhas de viagem, em poucos dias sentado em um console de computador,
convocando mediçõ es on-line e tomografias computadorizadas. Aná lises
comparativas muito mais sofisticadas da forma do crâ nio do que eu consegui em
mais dois anos provavelmente poderiam ser realizadas em mais alguns
dias! Ainda assim, nã o tenho dú vidas de que, ao estudar diretamente os fó sseis,
obtive informaçõ es sobre sua natureza que nã o seriam aparentes se eu estivesse
sentado em uma estaçã o de trabalho remota. Além disso, tive a emoçã o e a honra
de manter e estudar em primeira mã o fó sseis icô nicos como os crâ nios do vale
do Neandro e o abrigo de rochas Cro-Magnon.
A abordagem que usei para medir e comparar minhas amostras de crâ nios
humanos fó sseis e recentes agora é chamada de morfometria convencional ,
embora em 1971 essa fosse a abordagem padrã o e estivesse em uso desde antes
da época de Charles Darwin. O crâ nio humano tem vá rios pontos onde os ossos
se encontram, onde as marcas musculares cruzam um osso ou onde existem
locais específicos, como o orifício externo ou a largura mais larga da abertura
nasal. Esses "pontos de referência" sã o usados como pontos de mediçã o, de
modo que um instrumento pode, por exemplo, ser colocado sobre o nariz para
registrar sua largura no ponto mais largo, ou pode medir o comprimento total da
caixa torá cica a partir da parte superior dos ossos nasais no frente para o ponto
mais distante no meio do osso occipital na parte traseira. As medidas e suas
variaçõ es podem ser comparadas diretamente entre as amostras, isoladamente
ou através do cá lculo de um índice ou â ngulo, usando duas ou mais medidas. Por
exemplo, o índice cefálico ( IC ) era uma proporçã o muito usada entre a largura
de um crâ nio e seu comprimento. Esse índice era uma medida bá sica de quanto
tempo um crâ nio era largo ou de cabeça larga e, em algumas das ciências racistas
dos ú ltimos dois séculos, ele foi tomado como uma medida grosseira de
"primitividade", pressupondo que as "raças mais atrasadas" Tinha as cabeças
mais longas.
Meu Ph.D. o trabalho fez uso de â ngulos e índices, mas também se estendeu à
á rea relativamente nova da análise multivariada , onde um grande nú mero de
mediçõ es poderia ser avaliado em conjunto, com amostras comparadas em um
espaço computado de muitas dimensõ es ou através de uma estatística de
distância ú nica - a parecido com uma proporçã o ou índice, mas um calculado a
partir de muitas mediçõ es combinadas, em vez de apenas duas. No entanto,
percebi naquele momento que minhas medidas nã o estavam capturando toda a
forma complexa de um crâ nio, particularmente algumas de suas superfícies
curvas, que eram mal marcadas por pontos de referência adequados. E ficou
evidente ao comparar crâ nios pequenos e grandes, mesmo em uma ú nica
populaçã o, que eles poderiam mudar suas proporçõ es relativas à medida que
mudavam de tamanho (o estudo disso é conhecido como alometria ), o que era
difícil de capturar e visualizar efetivamente com as técnicas tinha disponível na
década de 1970.
Hoje, uma nova abordagem chamada morfometria geométrica permite uma
visualizaçã o e manipulaçã o muito mais eficazes da forma de um objeto
tridimensional complexo, como um crâ nio. Toda a forma é capturada através da
digitalizaçã o ou digitalizaçã o, e os marcos virtuais podem ser criados pelo
software em intervalos na superfície do objeto em questã o, como um crâ nio ou
maxilar. No entanto, esses pontos de referência secundá rios ainda sã o
geralmente ancorados a uma rede de pontos primá rios que correspondem entre
os diferentes objetos a serem comparados, para fornecer um quadro de
referência comum. Uma grade de pontos que refletem a forma geral (por
exemplo, de um crâ nio de Cro-Magnon) pode ser exibida em uma tela e uma
grade semelhante de outro objeto (por exemplo, um crâ nio de Neandertal) pode
ser comparada lado a lado ou sobreposta . O software morfométrico geométrico
pode reduzir os crâ nios para o mesmo tamanho geral e medir a quantidade de
distorçã o de forma necessá ria para mudar um para o outro, além de quantificar
quais á reas do crâ nio mudam menos ou mais nessas comparaçõ es. Assim,
pesquisas de antropó logos como Katerina Harvati forneceram fortes evidências
de que as diferenças de forma entre os crâ nios modernos e os neandertais estã o
certamente no nível das diferenças de espécies nos primatas recentes. Essas
técnicas também podem ser usadas para mostrar como uma série de crâ nios
mudam à medida que amadurecem e podem até criar intermediá rios evolutivos
teó ricos - digamos entre um Homo erectus e um crâ nio moderno, que podem ser
comparados com exemplos reais, como o crâ nio de um Homo heidelbergensis . A
morfometria geométrica tornou-se particularmente importante quando usada
em conjunto com outra tecnologia recentemente aplicada a fó sseis: a tomografia
computadorizada (TC).
Wilhelm Rö ntgen, físico alemã o, é geralmente creditado com a descoberta dos
raios X, em 1895. Ele escolheu o nome para refletir sua natureza entã o
desconhecida, e sua descoberta acidental de ganhar um prêmio Nobel. Ele
reconheceu seus possíveis usos médicos apó s experimentar fotografar a mã o de
sua esposa com a nova descoberta, revelando claramente os ossos internos, e a
técnica logo foi aplicada a novas descobertas de fó sseis, como os neandertais de
Krapina, na Croá cia, e o Homo. maxilar heidelbergensis da Alemanha. Os raios X
descobriram muitos usos na paleoantropologia ao longo do século seguinte, mas
a forma plana da imagem convencional de raios X significava que as estruturas
podiam se obscurecer umas à s outras, e nem todas eram dimensionadas
corretamente em relaçã o umas à s outras (assim como uma sombra pode
desproporcional à forma original de um objeto).
Pouco tempo depois da descoberta de Rö ntgen, o radiologista italiano
Alessandro Vallebona propô s um método que fornecesse uma fatia ú nica mais
focada de imagens de raios-X, que ficou conhecida como tomografia (das
palavras gregas tomos [fatia] e graphein [para escrever]) . Esse método
encontrou muitos usos na medicina e, há cerca de quarenta anos, Godfrey
Hounsfield, no Reino Unido, e Allan Cormack, trabalhando nos Estados Unidos,
desenvolveram independentemente o desenvolvimento conhecido como
tomografia computadorizada (TC), pela qual também conquistaram o Nobel em
conjunto. Prêmios. Os scanners de TC enviam vá rios feixes simultaneamente de
diferentes â ngulos, apó s o que as forças relativas sã o medidas, e uma fatia
bidimensional ou uma estrutura tridimensional inteira pode ser reconstruída a
partir dos dados recebidos. As imagens computadorizadas refletem a densidade
dos tecidos ou materiais pelos quais os feixes passaram; por exemplo, os espaços
aéreos deixam passar um sinal forte e os dentes ou ossos fó sseis, um sinal muito
mais fraco. Além disso, a capacidade da TC de fornecer imagens focadas significa
que há muito mais detalhes disponíveis do que nos raios X convencionais - para
que até as microestruturas dos ossos e dentes possam ser examinadas.
À medida que a tecnologia CT e o poder da computaçã o aumentam, o mesmo
ocorre com os estudos sobre a evoluçã o humana. Em algumas das aplicaçõ es
mais antigas da década de 1980, os fó sseis de Homo erectus do Javanês foram
escaneados por tomografia computadorizada (TC), mostrando estruturas
inéditas da orelha interna, mas a qualidade das imagens nã o era realmente boa o
suficiente para revelar seus padrõ es evolutivos. Porém, em dez anos, as coisas
haviam progredido até agora - em pesquisa pioneira do paleoantropó logo Fred
Spoor - que era possível imaginar e comparar os minú sculos ossos do ouvido
interno de vá rios fó sseis neandertais, mostrando pela primeira vez que eram de
forma distinta daqueles dos humanos modernos.
Anatomicamente, nossos ouvidos sã o divididos em três partes: externa, média
e interna. O ouvido externo reú ne e transmite ondas sonoras através do tímpano
para o ouvido médio, onde sua pequena cadeia de ossos converte a energia em
vibraçõ es mecâ nicas. Esses ossos do ouvido médio - martelo, bigorna e estribo -
à s vezes sã o encontrados no canal auditivo de crâ nios fó sseis ou ao lado dele, e,
portanto, foram estudados em alguns casos sem a necessidade de tomografia
computadorizada. Assim, sabemos que os primeiros fó sseis neandertais do local
Sima de los Huesos em Atapuerca, na Espanha, tinham ossos do ouvido médio em
forma de nosso, com a implicaçã o de que a percepçã o do som nesses primeiros
neandertais já era semelhante à nossa hoje. As vibraçõ es transferidas pelos ossos
do ouvido médio passam através do fluido e das membranas da có clea do ouvido
interno, transformando-se em impulsos nervosos, que sã o finalmente
transmitidos ao cérebro para que possamos perceber os sons. Mas nossos
ouvidos nã o sã o apenas para ouvir; duas outras partes do labirinto do ouvido
interno também nos ajudam a controlar o equilíbrio e o movimento da cabeça. A
primeira consiste em duas câ maras cheias de fluido, que sã o revestidas por
pequenos cabelos que detectam o movimento de pequenos cristais de calcita,
para que possamos equilibrar adequadamente a cabeça. O segundo consiste em
três voltas cheias de fluido, dispostas a noventa graus uma da outra. Esses canais
semicirculares também sã o revestidos por cabelos que, através do movimento de
fluidos, detectam o movimento e a rotaçã o da cabeça, e foram esses canais que se
mostraram tã o interessantes ao comparar os neandertais e todos os outros seres
humanos. Em particular, sabemos que o tamanho e a forma dos canais
semicirculares sã o estabelecidos antes do nascimento e permanecem inalterados
à medida que crescemos e, portanto, quaisquer diferenças existentes
provavelmente têm origem genética e nã o sã o afetadas pelo ambiente durante a
vida.
Agora, quase vinte neandertais foram submetidos a tomografia
computadorizada para revelar sua anatomia do ouvido interno, e cada canal
semicircular é sutilmente distinto em tamanho, forma e orientaçã o quando
comparado ao nosso. O que torna essa descoberta particularmente intrigante é
que os canais da espécie ancestral assumida Homo erectus , e nos fó sseis
humanos modernos estudados até agora, sã o mais parecidos com os nossos, por
isso parecem ser os neandertais os mais estranhos. Mas fó sseis na Europa que
podem ser ancestrais dos neandertais, como os crâ nios de Steinheim e Reilingen
na Alemanha, mostram uma abordagem da conformaçã o dos neandertais,
sugerindo que o padrã o distintivo poderia ter evoluído na Europa. Mas por que?
Uma possibilidade é que a forma dos canais semicirculares esteja refletindo
algo mais, como a forma geral do crâ nio ou do cérebro, e é verdade que os
neandertais têm algumas características distintas na forma de seus ossos
temporais - o osso ao redor da regiã o da orelha em cada lado do crâ nio. Outra
possibilidade é que ela reflita alguma forma de adaptaçã o - talvez climá tica -, mas
contra isso, os humanos modernos de climas frios nã o mostram diferenças
significativas em relaçã o aos modernos que vivem em climas quentes. Os
cientistas que conduziram os estudos mais abrangentes, incluindo Fred Spoor,
argumentam que uma explicaçã o plausível está na funçã o essencial dos canais
semicirculares: controlar o movimento e a rotaçã o da cabeça. Embora os
mecanismos exatos de interaçã o entre a cabeça e o pescoço e o sistema de canais
semicirculares sejam pouco compreendidos, os neandertais tinham proporçõ es
mais curtas, porém mais volumosas, do que os humanos modernos, o que
poderia ter afetado os movimentos da cabeça, se estivesse mais profundamente
enterrada em um ombro poderoso e mú sculos do pescoço. Além disso, os
neandertais tinham uma volta mais saliente ao crâ nio, uma base mais plana à
base do cérebro e um rosto mais saliente, principalmente ao redor do nariz, o
que poderia ter feito diferença nos movimentos da cabeça desde atividades
menos á rduas como caminhar para correr ou caçar com muita energia.
Um dos primeiros fó sseis a revelar essas orelhas internas incomuns dos
neandertais faz parte das coleçõ es do Museu de Histó ria Natural de Londres. Este
é o crâ nio da criança da Torre do Diabo, um tanto fragmentá rio (do seu tamanho
grande, provavelmente um menino), encontrado junto com ossos de animais e
ferramentas de pedra sob a face norte do Rochedo de Gibraltar durante
escavaçõ es em 1926. Consiste em três ossos do crâ nio, metade da mandíbula
superior e a maioria da mandíbula inferior, com uma mistura de dentes de leite e
dentes permanentes que ainda formam. Em crianças modernas, onde a data de
nascimento é incerta ou uma vítima desconhecida de assassinato precisa ser
identificada por meio da perícia, a melhor maneira de estimar a idade é por meio
dos dentes. Esse método foi aplicado ao fó ssil de Gibraltar e ficou evidente que
era uma criança com menos de seis anos de idade em termos modernos, pois o
primeiro dente molar ainda nã o estava pronto para erupçã o. Os estudos do fó ssil
em 1928 sugeriram, desde a maturidade dental, que ele tinha cerca de cinco anos
de idade na morte, mas, a julgar pelos volumosos ossos do crâ nio, seu tamanho
do cérebro já era ligeiramente maior que a média moderna. Até 1982, todos
supunham que os ossos pertenciam a uma criança, mas naquele ano a
antropó loga Anne-Marie Tillier sugeriu que, embora a maioria dos ossos
realmente representasse uma criança de cinco anos, o osso temporal era de uma
criança diferente e menos madura. de cerca de três anos de idade na morte.
Na década de 1970, novas técnicas microscó picas se tornaram disponíveis
para estudar a microestrutura dos dentes, e sugestõ es anteriores de que o
esmalte dental humano continha "linhas" diá rias de crescimento começaram a
ser estudadas como um meio de estimar o tempo que um dente levou para se
desenvolver e portanto, de potencialmente medir a idade de morte de uma
criança. Essas linhas diá rias sã o agrupadas e expressas na superfície dos dentes
da frente como sulcos transversais, ou perikymata (de duas palavras gregas que
significam "ao redor" e "uma onda"), cada uma das quais representa cerca de oito
dias de crescimento. Na década de 1980, usando um microscó pio eletrô nico de
varredura, colaborei com os paleoantropó logos Tim Bromage e Christopher
Dean e, posteriormente, também com o primatologista Bob Martin, para estimar
a idade prová vel da criança da Torre do Diabo a partir de seu incisivo central
superior bem preservado, e estudar seu crescimento e
desenvolvimento. Contando o periquimata e adicionando alguns meses para
representar a pequena quantidade de crescimento radicular, estimamos a idade
em cerca de quatro anos. Também usamos uma rara e importante coleçã o de
esqueletos humanos da cripta da Igreja de Cristo em Spitalfields, na cidade de
Londres, com a idade real na morte registrada em placas de caixã o ou registros
de paró quias, para testar o método de periquimata. Descobrimos que funcionava
bem como estimador de idade nas crianças que foram enterradas lá . Além disso,
estudei os ossos temporais dos mesmos crâ nios das crianças para avaliar se um
osso temporal tã o imaturo quanto o da Devil's Tower poderia pertencer aos
outros ossos e dentes dessa criança. Os resultados foram claros: os dentes dos
maxilares e o osso temporal vieram de uma criança com cerca de quatro anos de
idade e, portanto, nã o havia motivo para dissociá -los por motivos de maturidade
diferencial. No entanto, como o osso temporal estava do outro lado do crâ nio até
o osso parietal equivalente, os dois nã o puderam ser articulados diretamente
para provar que pertenciam juntos.
No entanto, esse “ajuste” foi demonstrado alguns anos depois, quando os
especialistas em TC Christoph Zollikofer e Marcia Ponce de Leó n usaram a
técnica para revelar mais dados anatô micos e produzir uma reconstruçã o
tridimensional de todo o crâ nio, mostrando que o osso temporal sem dú vida
pertencia a com os outros restos. Eles nã o apenas fotografaram as partes
ausentes das partes preservadas em espelho, mas também conseguiram
completar um crâ nio hipotético inteiro "importando" elementos de outras
crianças neandertais que tiveram as partes apropriadas preservadas, ajustando
seu tamanho virtualmente para concluir o ajuste. Para testar o método, os
pesquisadores também praticamente desarticularam o crâ nio de uma criança
moderna com maturidade compará vel e demonstraram que podiam recriá -lo
com muita precisã o, usando apenas as porçõ es preservadas na criança de
Gibraltar.
Tendo recriado o crâ nio da criança da Devil's Tower digitalmente e na tela,
eles também poderiam refazê-lo fisicamente, usando uma técnica
chamada estereolitografia . Essa técnica foi desenvolvida para fins industriais
para testar o ajuste das peças umas das outras e, em vez de esculpir ou moldar
uma forma, os objetos sã o construídos através da solidificaçã o consecutiva de
camadas finas de uma resina líquida sensível à luz. É má gico assistir ao processo
- um feixe de laser ultravioleta, guiado pelos dados digitais do CT, materializando
gradualmente um objeto só lido de uma piscina de resina transparente. Um
crâ nio ou mandíbula pode ser recriado, uma fina camada de cada vez, à medida
que o feixe oscila através da resina, fazendo com que o líquido endureça
progressivamente. Esse método de replicaçã o tem muitas vantagens sobre a
moldagem e a fundiçã o convencionais: nã o causa danos à superfície de fó sseis
valiosos, uma vez que é nã o invasivo, é notavelmente preciso e sem distorçã o, e
estruturas internas como espaços aéreos e dentes nã o irrompidos podem ser
replicadas e tornadas visíveis se a resina transparente for deixada sem cor.
Mas isso nã o foi tudo o que foi revelado. Os dentes do menino (incluindo os
que ainda nã o estavam irrompidos nas mandíbulas) também foram estudados
com grande detalhe, e uma característica que havia sido observada em pesquisas
anteriores recebeu atençã o especial. Os dentes da frente nas duas metades de
uma mandíbula inferior geralmente sã o imagens espelhadas em termos de suas
posiçõ es e orientaçõ es, mas no espécime da Devil's Tower, alguns do lado direito
pareciam deslocados. As imagens da tomografia computadorizada mostraram
claramente que esse garoto havia sofrido uma fratura da mandíbula no início da
vida, mas havia sobrevivido, permitindo que a lesã o se curasse muito bem, e era
imprová vel que essa fosse a causa de sua morte precoce. Como já mencionado,
ele era de cérebro grande, e a reconstruçã o da TC também permitiu uma
estimativa precisa do tamanho do seu cérebro, que teria ficado entre 1.370 e
1.420 centímetros cú bicos, com um pouco mais de crescimento por vir - um
volume já compará vel ao de Homens europeus de hoje.
Houve muita discussã o sobre como os neandertais cresceram - se
amadureceram no mesmo ritmo que hoje - e o filho da Devil's Tower se tornou
uma parte importante da discussã o. Os macacos têm um rá pido crescimento
cerebral antes do nascimento e um crescimento relativamente mais lento nos
anos imediatamente seguintes, enquanto temos um rá pido crescimento cerebral
antes e depois do nascimento. Ao nascer, permitindo diferenças de tamanho
corporal, os bebês humanos já têm cérebros um terço maiores, relativamente, do
que os dos macacos, mas na idade adulta nossos cérebros sã o três vezes
maiores. O fato de termos que crescer tanto o cérebro apó s o nascimento é
amplamente determinado pelos limites impostos pelo tamanho e formato do
canal de nascimento da pelve humana, e é prová vel que exista um limiar de cerca
de quinhentos centímetros cú bicos, apó s o nascimento. qual seria necessá rio um
período substancial de crescimento pó s-parto no volume cerebral.
Esse limiar deve ter sido atingido durante o período do Homo erectus , o que
significa que os bebês erectus provavelmente tiveram longos períodos de
imaturidade em comparaçã o com os macacos, durante os quais o cérebro pode
continuar a crescer rapidamente. Por exemplo, estimativas sugerem que, em
comparaçã o com nossos pontos de referência para a idade média de erupçã o do
primeiro, segundo e terceiro molares de cerca de seis, doze e dezoito anos,
o erectus pode ter tido um tempo de aproximadamente cinco, nove e quinze
anos, respectivamente . Mas essa sequência de erupçã o marcando está gios
importantes na infâ ncia, adolescência e início da vida adulta ainda teria sido
muito mais prolongada do que no chimpanzé, cuja idade de erupçã o molar é de
três, seis e dez anos.
Essencialmente, os macacos têm uma infâ ncia de cerca de cinco anos, apó s os
quais têm cerca de sete anos de adolescência e sã o entã o projetados na idade
adulta, enquanto os humanos modernos têm duas fases extras inseridas entre a
infâ ncia e a adolescência: infâ ncia (cerca de três a sete anos) e um juvenil fase
(entre sete e dez anos). Nessas fases, a criança ainda depende do apoio de sua
mã e e de seus parentes mais velhos, de proteçã o, aprendizado e alimento para
crescer e alimentar um cérebro grande e energeticamente exigente. O fato de
nossos filhos crescerem tã o lentamente distribui os custos energéticos de criá -
los e pode ser um fator contribuinte importante no maior nú mero de filhos que
os pais do Homo sapiens podem sustentar, em comparaçã o com os macacos. E
estudos recentes mostraram que, embora o tamanho do cérebro humano adulto
seja essencialmente alcançado aos oito anos de idade, o cérebro continua a
conectar suas conexõ es e conexõ es cruzadas durante a adolescência, quando nos
humanos ainda há muito a aprender cultural e socialmente. Além disso,
amadurecemos muito mais tarde do que os outros macacos, com uma fase
adolescente que dura entre dez e dezoito anos. Os neandertais com seus cérebros
grandes também devem ter tido uma infâ ncia longa, embora, como veremos, haja
alguma evidência de que atingiram a idade adulta mais cedo do que a média para
os seres humanos hoje - nã o é surpreendente, e talvez até essencial, se a maioria
dos adultos provavelmente morreria antes de chegarem aos quarenta (veja o
capítulo 6). Portanto, seus processos de aprendizado também teriam sido
estendidos, mesmo que nã o na extensã o que encontramos em nossa espécie, e
seus cérebros podem ter que crescer em tamanho grande a uma taxa um pouco
mais rá pida e por um período mais curto - o que talvez explique aspectos de sua
dieta. Se seus cérebros grandes lhes deram uma inteligência como a nossa é
outra questã o fascinante.
O tamanho do cérebro e da cabeça do Homo sapiens no nascimento está
exatamente no limite do que é praticá vel para o canal de parto humano suportar,
e a ciência médica pode ser necessá ria para ajudar em partos difíceis, assumindo
o papel de parteiras nas sociedades tradicionais. Existem alguns enterros
pungentes de Cro-Magnon de mulheres com bebês aparentemente recém-
nascidos, atestando as dificuldades do nascimento há 30.000 anos. Um relato do
caderno da escavaçã o de 1932 do enterro da mulher muito mais antiga do Tabun
Neanderthal, no que era entã o a Palestina, menciona o esqueleto de um feto
dobrado contra a lateral do corpo. Infelizmente, esses restos enigmá ticos nunca
foram descritos e nã o sabemos se essa foi uma identificaçã o equivocada ou se o
material era muito frá gil para se recuperar dos duros sedimentos das
cavernas. Mas o esqueleto da mulher sobreviveu e tem curadoria no Museu de
Histó ria Natural, representando o esqueleto Neandertal feminino mais completo
já descrito (outros da Sima de las Palomas na Espanha estã o em processo de
estudo e publicaçã o por Erik Trinkaus e colegas).
Os especialistas em TC que trabalharam na reconstruçã o do crâ nio da criança
da Torre do Diabo também trabalharam na reconstruçã o da pelve da mulher
Tabun. Na ausência dos supostos restos do bebê que foram encontrados com
eles, eles reconstruíram o esqueleto frá gil de uma criança Neanderthal recém-
nascida enterrada em Mezmaiskaya, na Crimeia, e em uma demonstraçã o
espetacular do poder da tecnologia de TC, eles combinaram os dois. para
investigar a obstetrícia neandertal. Eles descobriram que o tamanho do cérebro
da criança era de cerca de quatrocentos centímetros cú bicos, típico de um recém-
nascido hoje em dia, mas o esqueleto já era muito mais forte. Ao testar o
processo de nascimento, ficou claro que a pelve um pouco mais larga da mulher
Tabun deveria ter facilitado o trabalho de parto. No entanto, o crâ nio do bebê já
tinha a forma de neandertal, com uma cabeça mais longa e um rosto mais
saliente, sugerindo que o processo de nascimento teria sido tã o difícil para os
neandertais quanto para nó s, envolvendo a mesma torçã o ú nica (para seres
humanos) do bebê. corpo durante o parto.
Em outro estudo de TC da pelve da mulher Tabun, desta vez sem comparaçã o
direta com recém-nascidos, os paleoantropó logos Tim Weaver e Jean-Jacques
Hublin chegaram a conclusõ es bastante diferentes, argumentando que o
processo de nascimento dos neandertais nã o teria sido o mesmo que o nosso. O
moderno canal de parto é mais largo em toda a sua largura, mas depois muda
para baixo, tornando-se mais largo da frente para trá s, e é por isso que nossos
bebês geralmente mudam de posiçã o à medida que descem. No entanto, em sua
reconstruçã o, Tim e Jean-Jacques descobriram que o canal de nascimento de
Tabun era largo em toda a sua extensã o e, portanto, o processo de nascimento
dos neandertais teria sido mais simples que o nosso, sem a necessidade de
rotaçõ es adicionais e talvez menos perigoso. Nó s Homo sapiens temos pélvis
mais estreitas do que nossos primos neandertais ou nossos predecessores
africanos, por razõ es que ainda nã o sã o claras, mas essas evidências sugerem que
a mudança em nossos quadris levou a novas demandas evolutivas,
provavelmente exigindo mudanças bioló gicas no processo de entrega e
mudanças sociais no nível de apoio necessá rio para as mã es humanas modernas
dar à luz.
Como vimos, os dentes sã o um recurso valioso nos estudos de nossa evoluçã o
e, como já sã o altamente mineralizados, preservam muito bem os fó sseis. Seu
tamanho e forma estã o em grande parte sob controle genético (gêmeos idênticos
têm dentes semelhantes), e a forma da coroa dentá ria se mostrou
particularmente ú til na comparaçã o de seres humanos fó sseis e
recentes. Padrõ es distintos de cú spides e rugas dentá rias caracterizam
diferentes populaçõ es hoje; um conjunto de dentes nã o desgastados pode ser
atribuído a uma regiã o do mundo com um grau razoá vel de confiança usando o
forense. A antropó loga Christy Turner usou essa variaçã o para propor um
cená rio “Fora da Á sia” para a evoluçã o humana recente há vinte anos, com base
no fato de que a morfologia dentá ria “média” hoje em dia pode ser encontrada
nos povos indígenas do sudeste da Á sia. Ele argumentou que essas populaçõ es
estavam mais pró ximas do padrã o dental humano moderno original e que isso
indicava a localizaçã o da á rea de origem original para H. sapiens .
No entanto, a abordagem de Christy nã o pô de explicar a indiscutível
semelhança entre os recentes padrõ es dentá rios australianos e africanos, e eu,
juntamente com meus colegas Tim Compton e Louise Humphrey, adicionamos
dentes fó sseis da Europa à mistura, mostrando que uma origem africana para
nossos dentistas atuais a variaçã o ainda era a mais prová vel. Essa conclusã o foi
reforçada pelos ex-alunos de Christy Joel Irish e Shara Bailey, que acrescentaram
muitos outros dentes fó sseis à s suas aná lises. Esse tipo de trabalho também tem
sido importante em estudos da evoluçã o humana anterior, por exemplo, ao
mostrar que os fó sseis da Atapuerca Sima de los Huesos estã o claramente
relacionados aos neandertais posteriores, e que os primeiros modernos de Skhul
e Qafzeh de Israel têm características "africanas" nos dentes deles.
O famoso sítio arqueoló gico britâ nico de Boxgrove, perto de Chichester,
produziu mais de quatrocentas lá pides de sílex de níveis também ricos em restos
de mamíferos interglaciais, como cavalos, veados, elefantes e rinocerontes. O fato
de até os ossos dos rinocerontes mostrarem evidências extensas de açougue
levou a uma reavaliaçã o das capacidades dos caçadores-coletores há 500.000
anos, em termos de acesso primá rio a esses recursos. Essas pessoas nã o estavam
apenas limpando; aparentemente eles também eram caçadores altamente
capazes. Eles poderiam garantir as carcaças de grandes mamíferos para a
extraçã o do benefício nutricional má ximo em uma paisagem habitada por
concorrentes perigosos, como leõ es, lobos e grandes hienas.

A maioria dos quatrocentos handaxes de Boxgrove, com a curadora do Museu Britâ nico Claire
Fisher.

A importâ ncia de Boxgrove foi aumentada pela descoberta de 1993 de uma


canela humana atribuída ao Homo heidelbergensis e, dois anos depois, dois
dentes incisivos inferiores de outro indivíduo foram descobertos. O trabalho com
microscó pios de luz convencionais e microscó pios eletrô nicos de varredura
revelou muita evidência de açougue de ossos de animais e mostrou que a tíbia
Boxgrove havia sido roída em uma extremidade por um carnívoro de tamanho
médio, como um lobo ou uma hiena. Estudos microscó picos também mostraram
que as superfícies frontais dos incisivos estavam cobertas por uma série de
arranhõ es e cavidades, sugerindo que ferramentas de pedra estavam sendo
usadas como parte do processamento de alimentos, e os dentes provavelmente
estavam sendo marcados acidentalmente durante essas atividades. Juntamente
com Mark Roberts e Simon Parfitt, os líderes das escavaçõ es, e os antropó logos
Simon Hillson e Silvia Bello, estive envolvido em pesquisas adicionais sobre os
incisivos usando um sofisticado microscó pio de imagem, o Alicona.
Esses estudos revelaram outras atividades, talvez menos rotineiras. Os dentes
estavam certamente muito desgastados em suas coroas, sugerindo que este era
um adulto de meia-idade na morte, mas imediatamente aparente logo abaixo das
coroas, muitas das raízes foram revestidas no tipo de placa dura que seu
higienista dental provavelmente removerá durante as verificaçõ es. Essa
deposiçã o indica que as raízes desses dentes devem ter sido parcialmente
expostas acima das gengivas durante a vida, indicando gengivas em retrocesso
ou, mais provavelmente, que os dentes da frente estavam sendo fortemente
balançados para frente e para trá s, provavelmente enquanto apertavam alguma
coisa entre eles. Por muitos anos, argumenta-se pelo desgaste forte e
arredondado dos dentes da frente que os neandertais se entregavam a esse
comportamento e que alimentos, materiais fibrosos ou peles estavam sendo
amolecidos ou processados de outro modo, com dentes cerrados agindo como
uma terceira mã o, ou um vice.
Portanto, certamente parece que essa atividade tem uma antiguidade muito
mais profunda na Europa, e que muitos dos cortes e arranhõ es nos incisivos
Boxgrove foram feitos sem intençã o, quando uma ferramenta de pederneira
cortou o material que estava sendo mantido na boca. Mas o Alicona revelou outra
coisa: havia também uma série incomum de arranhõ es relativamente frescos,
profundos e semicirculares nas superfícies frontais de ambos os incisivos,
evidentemente feitos perto da hora da morte com muito mais força do que os
outros arranhõ es, e de maneira completamente direçã o e açã o diferentes. As
raízes também foram marcadas por cortes pesados, indicando que eles também
foram feitos perto da hora da morte. Isso sugere a possibilidade de que essas
açõ es mais violentas fizessem parte do açougue desse indivíduo do Boxgrove em
torno (e esperamos que seja depois dele) da hora da morte.
O famoso esqueleto descoberto no vale do Neandro, na Alemanha, em 1856.

Além de carregar essas cicatrizes da vida e talvez da morte, nossos dentes,


como já expliquei, contêm importantes sinais de nossa histó ria de vida em suas
linhas incrementais, o equivalente dental dos anéis das á rvores, que sã o
estabelecidos diariamente, e nã o anualmente. Essas linhas foram estudadas
microscopicamente através de suas expressõ es de superfície - como os
periquimatas -, mas também podem ser examinadas internamente através de
superfícies quebradas ou seçõ es de dentes. Trabalhei em colaboraçã o com
antropó logos como Chris Dean, Meave Leakey e Alan Walker para examinar as
linhas de crescimento nos molares de vá rios seres humanos fó sseis, incluindo o
Tabun Neanderthal de Israel, quando um chip de esmalte foi brevemente
removido para aplicar ressonâ ncia de rotaçã o eletrô nica namoro (consulte o
capítulo 2). Descobrimos que, diferentemente do padrã o nos fragmentos de
dentes do Homo erectus , esse neandertal se sobrepunha à s taxas de
desenvolvimento mais rá pidas que pudemos encontrar nos molares
modernos. Em 2007, outra equipe, incluindo Tanya Smith e Jean-Jacques Hublin,
estudou vá rios dentes de uma criança neandertal de Scladina Cave, na Bélgica,
que em termos de desenvolvimento dental humano moderno deveria ter quase
onze anos quando morreu. No entanto, seu estudo determinou que sua idade real
na morte era de apenas oito anos e o segundo molar estava em erupçã o
significativamente mais cedo no Neandertal do que nas crianças modernas,
significando uma infâ ncia mais curta e um crescimento mais rá pido que o nosso.
Nã o ficou claro se esses resultados diferentes em relaçã o à maturaçã o dos
neandertais se deviam a imprecisõ es nos diferentes métodos, a variaçõ es entre
indivíduos ou talvez até a mudanças evolutivas entre os neandertais em seus
padrõ es de crescimento. O que era mais necessá rio para resolver essas questõ es
eram amostras maiores e de maior alcance dos fó sseis. No entanto, desde que as
técnicas microscó picas dependessem de dentes quebrados naturalmente ou,
ainda menos prová vel, de um curador de museu disposto a fatiar seus preciosos
fó sseis, parecia imprová vel que tais amostras se materializassem. E em termos
de técnicas nã o destrutivas, apenas as melhores tomografias computadorizadas -
microCT - poderiam começar a revelar os mínimos detalhes ocultos de linhas
incrementais; portanto, os antropó logos tiveram muita sorte de ter outra
tecnologia à sua disposiçã o: o síncrotron.
Muitas pessoas ouviram falar do Large Hadron Collider, o maior e mais
acelerador acelerador de partículas do mundo, enterrado em um tú nel perto de
Genebra, na Suíça. Este é um exemplo maciço de um síncrotron, uma câ mara
circular que acelera progressivamente partículas atô micas e subatô micas, como
elétrons ou pró tons, usando forças elétricas e magnéticas. Nã o muito longe, em
Grenoble, na França, existe um dispositivo menor que é ocasionalmente desviado
dos problemas da física de alta energia para enviar seus elétrons caros através
de fó sseis preciosos. O feixe de raios X síncrotron de 52 quiloelétrons-volt já
revelou novas espécies de besouros e formigas desde os tempos dos dinossauros,
sepultados em â mbar opaco e até pequenos embriõ es dos pró prios dinossauros,
dentro dos ovos de sua mã e. Mas a tecnologia agora também está sendo aplicada
a fó sseis de hominina, como o crâ nio de Sahelanthropus , talvez um ancestral de
mais de 6 milhõ es de anos atrá s, e a fó sseis erectus e neandertal mais recentes . A
resoluçã o pode ser quatro vezes melhor do que os melhores tomó grafos, até a
largura de uma ú nica célula, e os pesquisadores estã o fazendo fila para submeter
seus fó sseis à magia do síncrotron de Grenoble.
Em um dos primeiros usos realmente significativos do síncrotron para a
pesquisa em origens humanas modernas, parte da equipe que anunciou que o
Neanderthal Scladina amadureceu mais rapidamente do que nó s foi
acompanhada pelo pesquisador síncrotron Paul Tafforeau, aplicando a
tecnologia a um Homo sapiens antigo mandíbula de criança. Era do site
marroquino Jebel Irhoud e, como descrevi anteriormente, um dos crâ nios
adultos de lá era importante em minha percepçã o de que a Á frica poderia ter
sido uma regiã o essencial para as origens humanas modernas. Atualmente, o
material de Irhoud é datado de cerca de 160.000 anos e pode ser ainda mais
antigo, mas as opiniõ es divergem sobre a classificaçã o dos espécimes. Na minha
opiniã o, no geral, eles ainda estã o além do alcance da anatomia humana moderna
e estã o mais distantes do que espécimes de uma idade semelhante de locais
africanos como Omo Kibish e Herto.
Jean-Jacques Hublin, no entanto, aponta para o fato de que a mandíbula da
criança tem um queixo e existem algumas características modernas na face ou na
base dos dois crâ nios adultos do local. Mas, independentemente desses debates,
o estudo do síncrotron, que combinou a contagem de linhas de crescimento
externas microscopicamente com o exame de linhas incrementais diá rias ocultas
usando o síncrotron, concluiu que essa criança tinha oito anos quando morreu e
estava crescendo lentamente, como uma criança moderna . Portanto, mesmo que,
como eu acredito, essa nã o fosse uma criança totalmente moderna,
anatomicamente, ela já estava crescendo como uma criança, com todas as
implicaçõ es que isso traz em termos de uma infâ ncia prolongada, demandas
energéticas diferidas e uma maior capacidade de aprendizado .
Um crâ nio inicial do Homo sapiens  de Jebel Irhoud (à  esquerda ) e um crâ nio neandertal da
caverna de La Ferrassie, na França.

Meu colega do museu Robert Kruszynski recentemente levou o crâ nio da


criança do Neanderthal da Torre do Diabo para Grenoble, e eu me juntei a Tanya
Smith, Paul Tafforeau, Jean-Jacques Hublin e outros colegas no que esperamos
que seja um estudo definitivo dos padrõ es de desenvolvimento dental em
neandertais e primeiros seres humanos modernos. Dados de muitos fó sseis
foram quantificados e analisados, e nove neandertais em diferentes está gios de
maturidade foram sincronizados. Estes foram entã o comparados com aná lises
semelhantes em cinco primeiros modernos e uma grande amostra de pessoas
recentes de diferentes regiõ es. Os resultados parecem finalmente estabelecer
que os primeiros modernos, como os de Skhul e Qafzeh, estavam amadurecendo
dentalmente com a lenta taxa de humanos recentes, enquanto os neandertais
estavam crescendo um pouco mais rá pido, principalmente no caso de dentes que
irrompem mais tarde. Assim, por exemplo, as crianças neandertais de Engis,
Scladina e Le Moustier deveriam ter cerca de quatro, onze e dezesseis anos,
respectivamente, dos padrõ es modernos de desenvolvimento, mas o síncrotron
mostrou que elas eram na verdade três, oito e doze. Os neandertais nã o apenas
amadureceram mais rapidamente, mas o crescimento mais rá pido de seus
molares significava que esses dentes tinham esmalte mais fino que o
nosso. Como veremos, essas diferenças nas histó rias de vida podem ter sido
significativas nas distintas estruturas sociais e no desenvolvimento cultural dos
neandertais e dos humanos modernos.
Em um nível ainda mais refinado de nossa fisiologia do que as linhas de
crescimento diá rio em nossos dentes, nosso corpo é construído e mantido a
partir da nutriçã o que consumimos diariamente com alimentos e bebidas. Nesse
sentido, o velho slogan macrobió tico "você é o que você come" é absolutamente
preciso. Os muitos produtos químicos diferentes em nossos alimentos sã o
absorvidos pelos ossos e dentes e, se forem preservados como fó sseis, podem
fornecer sinais que podem ser interpretados como evidência de dietas
anteriores. Como mencionado no capítulo anterior, á tomos de substâ ncias como
carbono e nitrogênio (dois componentes vitais do nosso corpo) vêm na forma de
isó topos distintos, que têm pesos atô micos diferentes (porque contêm nú meros
diferentes de partículas chamadas nêutrons). Embora as propriedades essenciais
desses á tomos levemente diferentes permaneçam constantes - por exemplo, nos
compostos químicos que eles podem formar - os compostos podem se comportar
de maneira um pouco diferente quando sujeitos ao calor, por exemplo, onde
isó topos mais leves podem ser preferencialmente evaporados. Quando
compostos sã o absorvidos ou passam por sistemas vivos, a taxa na qual isso
acontece pode variar entre isó topos mais leves e mais pesados. Carbono e
nitrogênio têm isó topos está veis (isto é, nã o sofrem decaimento radioativo como
o isó topo carbono-14). Esses isó topos está veis sã o encontrados no colá geno,
uma proteína estrutural fibrosa que compõ e grande parte dos tecidos e ossos do
corpo. Embora o osso e o colá geno nele sejam constantemente renovados como
um tecido vivo, a rotatividade é bastante lenta e os dados isotó picos está veis do
colá geno representarã o uma média da dieta na ú ltima década ou mais da vida de
um indivíduo. O colá geno é perdido quando um osso fossiliza, mas ainda é
possível preservar o suficiente em restos com menos de 100.000 anos para que
seus isó topos constituintes sejam medidos.
A abundâ ncia relativa dos isó topos está veis de carbono C-13 e C-12 varia em
diferentes ecossistemas, como em terra ou no mar, e também entre diferentes
tipos de plantas; portanto, os animais que se alimentam dessas fontes diferentes
obtêm diferentes proporçõ es de isó topos, de acordo com suas dietas. Além disso,
a abundâ ncia relativa dos isó topos está veis de nitrogênio N-15 e N-14 aumenta
em cerca de 2 a 5% em cada etapa da cadeia alimentar (por exemplo, ao passar
da grama para o coelho que a come e depois para o humano que come o
coelho). Assim, medindo simultaneamente as proporçõ es isotó picas de carbono e
nitrogênio nos ossos fó sseis de, digamos, um neandertal, é possível reconstruir
algo da dieta desse indivíduo durante sua vida. Os isó topos nã o refletirã o tudo,
pois os sinais representam as principais fontes de proteína na dieta, e nã o todos
os alimentos consumidos, e, como mencionado, a captaçã o de isó topos também é
calculada em média nos ú ltimos anos de vida. Além disso, apenas categorias
amplas, como a predominâ ncia de proteínas vegetais, herbívoras e carnívoras,
derivadas de ecossistemas terrestres ou marinhos, podem ser
distinguidas. Também é preciso ter cuidado nas aná lises, pois há evidências de
que diferenças climá ticas, como temperatura e aridez, podem afetar as relaçõ es
isotó picas está veis subjacentes e, portanto, as comparaçõ es mais confiá veis sã o
em materiais relativamente pró ximos no tempo e no espaço.
No entanto, apesar de todas essas condiçõ es, informaçõ es valiosas sobre
dietas antigas foram obtidas dos ossos dos neandertais e dos primeiros seres
humanos modernos por pesquisadores como Michael Richards e Hervé
Bocherens. Mais de uma dú zia de neandertais e ainda mais cro-magnons foram
analisados, e surgiram padrõ es claros que confirmam nossa visã o de que os
neandertais eram fortemente dependentes de carne de caça de grande porte,
como renas, mamutes, bisontes e cavalos. Eles estavam no topo de suas cadeias
alimentares, e suas assinaturas de isó topos os colocam com lobos e leõ es como
os predadores dominantes em suas paisagens. No entanto, os fó sseis analisados
sã o provenientes de regiõ es como França, Alemanha e Croá cia, e ainda nã o
cobrem toda a gama de neandertais - infelizmente, regiõ es mais quentes, como
Gibraltar e Oriente Médio, têm menor preservaçã o do colá geno. E sabemos por
dados arqueoló gicos que, mais ao sul, nas regiõ es costeiras de Portugal, Espanha,
Gibraltar e Itá lia, os neandertais complementavam seu grande jogo com recursos
marinhos, como mariscos, focas e, pelo menos ocasionalmente, golfinhos que
provavelmente tinham foi preso. Embora o sinal isotó pico tivesse sido
obscurecido se a carne fosse a fonte dominante de proteína, onde as condiçõ es e
as estaçõ es permitiam, os recursos vegetais também eram importantes para eles,
como mostram as nozes e sementes queimadas nos depó sitos das cavernas.

Os fó sseis de 40.000 anos do Oase.

Mas as aná lises dos Cro-Magnons, incluindo os primeiros Oase da Romênia,


com 40.000 anos de idade, bastante primitivos, da Romênia (veja o pró ximo
capítulo), apresentam uma imagem alimentar diferente da dos neandertais,
mesmo quando as comparaçõ es sã o limitadas à s mesmas regiõ es e climas. Altos
níveis de C-13 em algumas amostras pró ximas à costa sugerem um menu que
inclui quantidades significativas de peixes marinhos ou outros frutos do mar,
enquanto aqueles que vivem mais no interior podem ter dietas ainda mais
diversas, uma vez que níveis incomuns de N-15 em seus ossos sugerem que
peixes, aves aquá ticas e outros recursos de á gua doce forneceram importantes
fontes de alimento. E o fato de que esse já era o caso no ser humano moderno
mais antigo amostrado, de Oase, se torna ainda mais significativo quando
olhamos para outro fó ssil moderno de idade semelhante a mais de 6.000
quilô metros de distâ ncia na China: o esqueleto adulto da caverna Tianyuan,
escavado recentemente em o complexo de sites Zhoukoudian. (Este esqueleto é
discutido em mais detalhes no pró ximo capítulo.) Os isó topos de carbono e
nitrogênio no colá geno extraído dos ossos indicaram uma dieta rica em proteínas
animais, mas a proporçã o muito alta de isó topos de nitrogênio também sugeriu o
consumo de peixes de á gua doce. Os isó topos de enxofre foram entã o medidos
em restos de animais terrestres e de á gua doce de sítios arqueoló gicos antigos e
recentes na á rea de Zhoukoudian para fornecer uma comparaçã o de linha de
base para esse indicador dietético adicional e, quando os valores de enxofre
foram analisados para o esqueleto de Tianyuan, eles confirmaram uma parte
substancial disso. a dieta do indivíduo deve ter sido composta de peixes de á gua
doce.
Portanto, com as evidências mais antigas que temos dos humanos modernos
em sua dispersã o do oeste da Á sia para a Europa e para o Extremo Oriente, as
habilidades do Homo sapiens já eram aparentes na extraçã o de mais nutriçã o de
seus ambientes do que os neandertais poderiam obter, e isso foi certamente uma
das chaves da nossa sobrevivência e eventual sucesso nos ambientes
desafiadores do norte. A proporçã o de dois outros isó topos está veis, de estrô ncio
(Sr-87 e Sr-86), também pode nos ajudar a rastrear algumas das migraçõ es
desses primeiros seres humanos, já que as proporçõ es relativas desses isó topos
variam nas diferentes rochas terrestres através das quais a á gua fluxos. Quando
animais, incluindo seres humanos, ingerem esses isó topos em sua dieta ou á gua
potá vel, eles sã o absorvidos pelos ossos e dentes da mesma maneira que o cá lcio
e, portanto, fornecem um marcador de onde um animal estava morando na época
ou antes. Em vida. O esmalte dos dentes preservará um indicador desde a
infâ ncia, enquanto os ossos, com sua rotatividade, registrarã o um sinal dos
ú ltimos anos de vida, comparando as proporçõ es isotó picas de um esqueleto
fó ssil com as das rochas das paisagens circundantes. agora é teoricamente
possível “localizar” um Cro-Magnon para, digamos, sua á rea de calcá rio local ou
talvez para granitar colinas a muitos quilô metros de distâ ncia, onde esse
indivíduo pode ter vivido quando criança. E se esse Cro-Magnon estivesse
comendo renas, seria possível mapear as migraçõ es desses rebanhos de seus
restos mortais no mesmo sítio arqueoló gico. Agora, essa técnica está se tornando
viá vel para fó sseis preciosos porque, com melhorias na tecnologia e nas
mediçõ es, a ablaçã o a laser pode produzir resultados isotó picos a partir de
fragmentos mínimos de esmalte.
Dentes e ossos contêm muitas pistas para as histó rias de vida e atividades de
pessoas mortas há muito tempo. Tendo discutido como as novas tecnologias
estã o nos ajudando a datar e investigar relíquias importantes, voltemos agora ao
pró prio registro fó ssil, para captar a histó ria em desenvolvimento da origem de
nossa espécie.

4
Encontrando o caminho a seguir
No capítulo 1, mostrei como o RAO deixou de ser uma visã o que ninguém
sustentava em 1970 para o modelo dominante das origens humanas modernas
em um período surpreendente de menos de trinta anos, e expus a origem,
expansã o e substituiçã o padrã o da Á frica rá pida ver que pessoas como eu
começaram a se desenvolver e se sustentar a partir de 1984. Agora eu gostaria
de ver como alguns elementos da parte inicial desse cená rio estã o assumindo um
significado diferente, desafiando a ortodoxia de Out of Africa 1, com implicaçõ es
para nossas pró prias origens finais.
Em 1991, novas descobertas surpreendentes começaram a ser feitas no oeste
da Á sia, em Dmanisi, na Geó rgia. Uma antiga vila em uma colina estava sendo
escavada por arqueó logos medievais quando descobriram os restos de uma
mandíbula de rinoceronte na adega de um dos edifícios. Isso era quase explicá vel
se um viajante trouxesse ou trocasse um espécime da Á frica ou da Á sia, mas a
opiniã o de especialistas determinou que era realmente um rinoceronte fó ssil,
talvez com um milhã o de anos, e que era muito mais difícil de
explicar! Aconteceu que a vila havia sido construída por acaso em um depó sito
fossilífero muito mais antigo, e uma vez que os arqueó logos medievais e os
paleontó logos concordaram em como o local poderia ser escavado para a
satisfaçã o de ambas as partes, novas escavaçõ es começaram. A fauna do
pleistoceno foi encontrada, entã o uma mandíbula humana e ferramentas de
pedra primitivas. Os trabalhadores da Geó rgia e seus colaboradores estrangeiros
argumentaram que o local tinha potencialmente cerca de 1,8 milhã o de anos, mas
todo mundo era cauteloso, pois essa idade desafiava as visõ es predominantes e,
quando vimos pela primeira vez o fó ssil em uma conferência em Frankfurt, em
1992, a maioria de nó s achava que a mandíbula parecia muito evoluída para uma
idade tã o grande. No entanto, dois pesquisadores espanhó is, Antonio Rosas e
José María Bermú dez de Castro, relataram que o osso da mandíbula se
assemelhava tanto a espécimes erectus primitivos da Á frica Oriental como
posteriormente a materiais erectus da China. Escavaçõ es e pesquisas adicionais
confirmaram amplamente as reivindicaçõ es originais, colocando a data em cerca
de 1,75 milhã o de anos e produzindo cinco crâ nios humanos de cérebro
pequeno, mais três maxilares, muitas outras partes do esqueleto e uma
quantidade de ferramentas bá sicas de pedra, muitas vezes feitas das rochas
vulcâ nicas locais. Essas descobertas foram, e ainda sã o, desafiadoras, pois se
pensava que a primeira mudança para fora da Á frica foi possibilitada por
mudanças de comportamento, aumento do tamanho do cérebro ou melhores
ferramentas - e nenhum desses desenvolvimentos parece ser evidenciado em
Dmanisi. Alguns dos animais provavelmente se dispersaram da Á frica, incluindo
duas grandes espécies de gatos com dentes de sabre. Esses animais
especializados careciam dos dentes para remover uma carcaça de sua carne ou
quebrar os ossos mais grossos de suas presas; portanto, eles potencialmente
proporcionavam oportunidades de eliminaçã o para os primeiros humanos do
que eles deixaram para trá s. Porém, comparaçõ es mais amplas das espécies
animais sugerem que as assembléias de Dmanisi se assemelhavam mais à s
pradarias e bosques do sul da Europa naquela época, apoiando a idéia de que
esses primeiros nã o-africanos já haviam se adaptado a novos ambientes.
A segunda descoberta que vou discutir apresenta desafios ainda maiores ao
pensamento convencional sobre a evoluçã o humana, tanto que um especialista
sugeriu que ele é mais parecido com a farsa de Piltdown do que com uma
verdadeira relíquia fó ssil! Costumava-se pensar que apenas uma espécie de
humanos primitivos vivia no sudeste da Á sia antes da chegada dos humanos
modernos: a espécie antiga Homo erectus , mais conhecida da ilha de Java, como
vimos. H. erectus poderia ter chegado a Java do sul da Á sia em épocas de nível
mais baixo do mar, quando as ilhas faziam parte de uma massa terrestre antiga
maior que os cientistas chamam de Sunda (de uma palavra indonésia para Java
ocidental). Sem barcos, erectus não poderia ir mais longe. Assim, acreditava-se
geralmente que Java / Sunda representava o limite mais distante da colonizaçã o
humana na regiã o até a chegada dos humanos modernos, talvez 50.000 ou
60.000 anos atrá s, que foram capazes de usar barcos para se dispersar ainda
mais, na Austrá lia e na Nova Guiné. Porém, em 2004, evidências notá veis foram
publicadas pelo arqueó logo australiano Mike Morwood e sua equipe de uma
nova espécie humana da ilha de Flores, cerca de quinhentos quilô metros a leste
de Java. Os restos mortais incluíam grande parte do esqueleto de um adulto
estimado em apenas um metro de altura, com um volume cerebral de cerca de
quatrocentos centímetros cú bicos (aproximadamente o mesmo que o de um
chimpanzé). Esta descoberta e outros espécimes mais fragmentá rios foram
descobertos na Caverna Liang Bua em Flores, associados a ferramentas de pedra
e os restos de uma forma pigmeu de uma criatura extinta semelhante a um
elefante chamada Stegodon . O esqueleto foi datado de apenas 18.000 anos atrá s
e foi atribuído a uma nova espécie chamada Homo floresiensis ("Homem das
Flores"), mas logo se tornou mais conhecido pelo apelido de "Hobbit".
Tive o privilégio de ser escolhido como o principal comentarista da
conferência de imprensa em Londres, que lançou a nova descoberta
surpreendente para o mundo, mas foi inesperada por muitas razõ es. Situava-se
quinhentos quilô metros de ilhas e á gua além do alcance aceito de humanos
antigos, o que implicava que os ancestrais do Hobbit deviam ter barcos para
chegar lá ; aparentemente tinha rosto e dentes "humanos" e andava ereto, mas
tinha um cérebro do tamanho de um macaco; apesar de seu cérebro pequeno,
estava associado a ferramentas de pedra e possíveis evidências de caça e fogo. Se
era uma espécie distinta, de onde veio, como sobreviveu muito tempo depois de
outras formas como os neandertais, e o que aconteceu depois de 18.000 anos
atrá s? Houve controvérsia imediata e feroz sobre a natureza dos achados e se
eles foram corretamente interpretados. Alguns cientistas insistiram que estavam
desatualizados e poderiam representar humanos modernos de corpo
pequeno; outros argumentaram que as características incomuns eram sinais de
doença, talvez devido a anormalidades médicas como microcefalia, cretinismo ou
uma condiçã o chamada síndrome de Laron. A situaçã o foi agravada quando o
falecido Teuku Jacob, um paleoantropó logo indonésio estimado mas aposentado
(cético em Hobbit e que nã o faz parte da equipe de pesquisa original)
"emprestou" as descobertas para realizar seus pró prios estudos. Quando foram
finalmente devolvidos, em face de protestos vigorosos, alguns dos ossos foram
seriamente danificados, aparentemente através de tentativas apressadas e
fracassadas de replicá -los.
Os autores dos estudos originais sugeriram que H. floresiensis poderia ser um
descendente de H. erectus que havia chegado mais cedo em Flores, talvez usando
barcos. Essa idéia foi parcialmente inspirada pela existência de ferramentas de
pedra na ilha com pelo menos 800.000 anos de idade. Eles argumentaram que as
espécies evoluíram em um tamanho muito pequeno sob condiçõ es isoladas - um
fenô meno conhecido por ocorrer em populaçõ es de outros mamíferos de médio
a grande porte e chamado de anão das ilhas . Se os ancestrais de H.
floresiensis realmente fizessem embarcaçõ es para chegar à ilha, isso seria
surpreendente, porque esse comportamento é geralmente considerado exclusivo
de nossa espécie. (Até os neandertais pareciam incapazes de atravessar o Canal
da França da França cerca de 120.000 anos atrá s, ou chegar à s ilhas do
Mediterrâ neo, com a possível exceçã o de Creta.) No entanto, a alternativa de
rafting acidental em mantas de vegetaçã o também deve ser considerada ; o
tsunami asiá tico de 2004 dispersou as pessoas em jangadas de vegetaçã o por
mais de 150 quilô metros, lembrando-nos que esse é um processo viá vel em uma
á rea geologicamente ativa como a Indonésia. Além disso, estudos das correntes
oceâ nicas predominantes sugerem que a origem final do Hobbit pode nã o ter
sido de Java para o oeste, mas de Sulawesi para o norte. O trabalho de
acompanhamento de Mike Morwood em Sulawesi dá suporte a essa idéia, uma
vez que também foram encontradas ferramentas de pedra com pelo menos 1
milhã o de anos, embora, infelizmente, até agora sem acompanhamento de
fó sseis.
Estudos posteriores forneceram informaçõ es mais detalhadas sobre os ossos
dos membros de H. floresiensis , tanto do esqueleto original quanto de outros
indivíduos, todos muito pequenos e alguns datando de 95.000 anos. Um segundo
osso da mandíbula, semelhante em suas características primitivas e distintas
(por exemplo, sua falta de queixo, corpo espesso e fileiras de dentes divergentes)
ao associado ao esqueleto original, foi descrito pelo antropó logo Peter Brown. De
maneira intrigante, para uma suposta espécie humana, as proporçõ es corporais,
os ossos dos pulsos, os quadris e a forma e robustez dos braços e pernas de H.
floresiensis sã o, de certa forma, mais semelhantes aos fó sseis de espécies
africanas pré-humanas como Australopithecus afarensis (o exemplo mais famoso
dos quais "Lucy") e o recém-descoberto Australopithecus sediba (da Á frica do
Sul) do que para humanos posteriores. Além disso, foram relatados aspectos
incomuns da articulaçã o do ombro, bem como o fato de H. floresiensis parecer ter
pés grandes e chatos! Embora essas características peculiares tenham
alimentado especulaçõ es de que os restos sã o anormais, outros trabalhadores
argumentaram que mostram evidências de uma trajetó ria evolutiva incomum, no
isolamento das ilhas. No caso do pulso, a forma desses ossos em dois indivíduos
adultos diferentes se assemelha muito mais à dos macacos e afarensis do que aos
humanos recentes, como os neandertais e nó s - e sã o ossos cujas formas já estã o
mapeadas antes do nascimento. A probabilidade de que uma patologia em dois
indivíduos diferentes possa converter independentemente os ossos do pulso de
volta a uma condiçã o de aparência primitiva semelhante parece remota.
Mais incertezas envolvem a evidência de comportamento humano escavado
em Liang Bua. Algumas das ferramentas de pedra têm um formato delicado, e há
evidências de queima (embora produzidas talvez naturalmente) e de predaçã o
no jovem Stegodon . Ainda nã o estou convencido de que H. floresiensis , com seu
cérebro do tamanho de um macaco, fosse capaz de tais comportamentos e, na
minha opiniã o, precisamos de mais evidências e aná lises para excluir a
possibilidade de que os humanos modernos também estivessem usando
cavernas em Flores antes de 18.000. anos atrá s e poderia ser responsá vel por
algumas das evidências arqueoló gicas posteriores deixadas para trá s - embora
seja imprová vel que isso ocorra nos níveis mais profundos da caverna. Se o H.
floresiensis é realmente genuíno e distinto, e nã o anormal (e acho que a evidência
está crescendo fortemente a seu favor), existem perguntas intrigantes nã o
apenas de onde ela veio (Java para o oeste ou, como Morwood agora acredita ,
Sulawesi ao norte?) E como chegou lá , mas o que aconteceu com ele e se nossa
espécie encontrou esses parentes diminutos. Talvez as erupçõ es vulcâ nicas ou as
mudanças climá ticas por volta de 17.000 anos atrá s tenham afetado seu habitat,
ou talvez os humanos modernos o tenham matado diretamente, ou consumindo
os recursos em que viviam. Nesse caso, um encontro ainda mais estranho do que
aquele entre os neandertais e os humanos modernos foi realizado ainda mais
tarde, no extremo oposto do mundo habitado. Mas contra essa possibilidade está
a evidência de que pode ter havido um período de vá rios milhares de anos sem
ninguém em Flores, apó s a extinçã o do Hobbit, antes que os humanos modernos
finalmente chegassem depois de 12.000 anos atrá s.
O Hobbit continua sendo uma descoberta desconcertante para todos nó s,
quaisquer que sejam nossas visõ es evolutivas - testemunhe meus pró prios
problemas ao aceitar a possibilidade de que seu cérebro do tamanho de um
chimpanzé possa estar associado à complexidade comportamental
"humana". Mas provou ser mais difícil para alguns cientistas de persuasã o
multirregional que estã o apegados à idéia de que só pode haver uma espécie
humana - Homo sapiens - existente nos ú ltimos 2 milhõ es de anos. Em vez de
contemplar um divó rcio doloroso de crenças estimadas, eles preferiram
argumentar que o Hobbit representa o "idiota da aldeia" de uma comunidade
humana moderna - ou ainda mais notá vel, que é uma estranheza recentemente
enterrada, como mostra a presença de obturaçõ es dentá rias (nã o há evidências
de que o Hobbit tenha sido visto por um dentista!). No curto prazo, esses
pesquisadores levantaram seus perfis ao cortejar controvérsias, mas, no longo
prazo, acho que eles prejudicaram sua pró pria reputaçã o e a da
paleoantropologia.
Como vimos, em Out of Africa 1, a maioria dos especialistas considera que
o H. erectus foi a primeira criatura humana a emergir da terra natal ancestral da
Á frica, quase 2 milhõ es de anos atrá s. Mas para alguns pesquisadores, o material
de Flores levanta a possibilidade de formas mais primitivas, talvez até pré-
humanas, terem se espalhado anteriormente da Á frica pelo sul da Á sia, onde o
afastamento de Flores lhes permitiu sobreviver e evoluir ao longo de seu pró prio
caminho peculiar, isoladamente. E as evidências de Dmanisi agora estã o sendo
adicionadas a esse repensar, uma vez que a falta de evidências humanas fó sseis
muito antigas da Á sia, além de Dmanisi, é considerada por arqueó logos como
Robin Dennell e Wil Roebroeks para refletir uma falta de preservaçã o e
descoberta, em vez de uma ausência real. Combinando a primitividade dos
espécimes e ferramentas de Dmanisi com uma visã o semelhante das descobertas
de Liang Bua, argumenta-se que houve uma fase generalizada da evoluçã o
humana na Eurá sia cerca de 2 milhõ es de anos atrá s, que agora é representada
apenas pelos isolados Dmanisi e Hobbit fó sseis. Este cená rio alternativo tem um
pequeno-brained e pequeno-bodied pré erectus espécies, talvez compará vel
ao Homo habilis ou até mesmo um australopiteco tarde, dispersar da Á frica com
ferramentas primitivas mais de 2 milhõ es de anos atrá s, atingindo o Extremo
Oriente e, finalmente, Flores. Na Á sia, essas espécies ancestrais também deram
origem ao povo de Dmanisi e ao Homo erectus , enquanto o povo de Dmanisi
voltou à Á frica cerca de 1,8 milhã o de anos atrá s e evoluiu para populaçõ es
posteriores - incluindo, eventualmente, o Homo sapiens . Portanto, a ortodoxia de
Out of Africa 1 está sendo desafiada por causa de novas evidências e novas
interpretaçõ es de evidências antigas. E o mesmo processo de reavaliaçã o está
acontecendo com o Out of Africa 2, como veremos a seguir.
As opiniõ es sobre a origem de nossa espécie passaram por muitas
formulaçõ es e reformulaçõ es desde que Darwin expô s suas expectativas sobre o
que as evidências forneceriam, mas uma origem africana para o Homo sapiens é
agora a visã o principal. Expliquei anteriormente como descobertas como as de
Dmanisi e Flores ameaçaram o cená rio conhecido como Fora da Á frica 1, e agora
examinaremos novas evidências da Europa, Á frica e Á sia que estã o mudando
idéias sobre as partes mais recentes de nossa histó ria evolutiva. . Essas
descobertas incluem os notá veis crâ nios Herto de 160.000 anos da Etió pia
(alguns dos indivíduos mais antigos e maciços de nossa espécie já descobertos),
os fó sseis de 40.000 anos encontrados por espeleó logos no fundo de uma câ mara
subterrâ nea na Romênia que podem mostrar hibridizaçã o entre humanos
modernos e neandertais e os fó sseis sapiens mais antigos da China, cujos pés
contêm pistas para uma inovaçã o moderna vital. Nos ú ltimos anos, também
aprendemos muito sobre nossos primos neandertais: de onde eles vieram, como
se comportaram, como seus corpos funcionavam e até (como explico mais
adiante) como todo o seu có digo genético se compara ao nosso. Mas agora vou
destacar algumas das descobertas fó sseis mais interessantes dos neandertais dos
ú ltimos vinte anos, antes de continuar discutindo as evidências de outros povos
que podem estar mais pró ximos de nossas origens evolutivas.
As Astú rias, ao sul do Golfo da Biscaia, sã o uma das províncias menos
elegantes da Espanha. Mas, como grande parte da península ibérica, até as
pontas do sul em Portugal e Gibraltar, as Astú rias eram um territó rio favorecido
pelos neandertais. Em 1994, alguns exploradores sondaram as profundezas da
grande e ainda inexplorada rede de cavernas El Sidró n, escondida entre colinas
densamente arborizadas, quando descobriram duas mandíbulas humanas nos
sedimentos da caverna. Como se sabia que os guerrilheiros se esconderam na
caverna durante a Guerra Civil Espanhola, a polícia foi notificada caso os restos
fossem recentes e mais de cem outros ossos foram descobertos em
breve. Investigaçõ es forenses ao longo de vá rios anos mostraram que os ossos
eram fossilizados, nã o recentes, e eram de fato os dos neandertais que haviam
morrido há mais de 40.000 anos. A á rea onde os ossos foram encontrados foi
denominada Galería del Osario - “tú nel dos ossos” - e cerca de 1.500 fragmentos
ó sseos de cerca de doze neandertais foram desenterrados lá . À primeira vista,
parece que uma família extensa estava representada, já que existem adultos,
adolescentes e crianças, mas esse nã o era um cená rio doméstico feliz, pelo
menos nã o no destino que parece ter acontecido a eles. Seus ossos e dentes
sugerem que eles eram razoavelmente saudá veis, embora haja sinais de
distú rbios no crescimento durante a primeira e a ú ltima infâ ncia nos dentes.
No entanto, o estado dos ossos fossilizados mostra que esses indivíduos
podem ter morrido violentamente: eles exibiram muitas marcas de corte,
especialmente um osso da mandíbula e o crâ nio das crianças, e podem ter sido
golpeados e esmagados com grande força, usando ferramentas de pedra ou
pedras, aparentemente para extrair o cérebro e a medula nutritivos. Portanto,
isso parece ser evidência, e de maneira alguma a primeira, do canibalismo entre
os neandertais. Outros exemplos sã o conhecidos de lugares como Croá cia
(Vindija) e França (Marillac e Moula-Guercy), e parecem reforçar estereó tipos
dos neandertais como subumanos selvagens.

Vista oblíqua do crâ nio mais completo de Herto Homo sapiens de  160.000 anos da Etió pia.
Vista lateral do crâ nio Herto 1.

O crâ nio da criança de Herto.

No entanto, o canibalismo parece ter sido uma parte regular do


comportamento humano nos ú ltimos milhõ es de anos, para que seja
representado em muitas assembléias fó sseis e, portanto, pode quase ser
considerado "normal" para os primeiros seres humanos, por mais desagradá vel
que seja (em todos os aspectos). sentido!) podemos encontrá -lo hoje. Parece
estar presente no antecessor Homo ("Pioneer Man") permanece em Atapuerca
cerca de 800.000 anos atrá s, que sã o marcados e esmagados como os fó sseis de
Sidró n e que ficam ao lado de ossos de animais abatidos. Também pode estar
presente no Homo heidelbergensis - em Bodo, na Etió pia, cerca de 600.000 anos
atrá s (embora aqui seja principalmente evidente a partir de marcas de corte em
um crâ nio sugerindo que os globos oculares foram removidos), e em Boxgrove,
em Sussex, onde expliquei que dois isolados os dentes da frente parecem ter sido
arrancados com força do maxilar (agora perdido). Sua antiguidade pode até
remontar aos primeiros humanos. A maçã do rosto de um crâ nio fó ssil de 2
milhõ es de anos de Sterkfontein (Á frica do Sul), muitas vezes atribuído à espécie
humana muito antiga Homo habilis (“Handy Man”), mostra sinais de ter sido
cortado durante o corte do osso maxilar do crâ nio, e isso também pode ter sido
para consumo. E também nã o devemos deixar nossa espécie em risco, já que os
ossos de 80.000 anos das cavernas da boca do rio Klasies, na Á frica do Sul, e os
ossos de 14.700 anos que ajudei a escavar na caverna de Gough, em Somerset,
também mostram o sinais indicadores de açougue. Infelizmente, também
existem evidências sonoras suficientes além dos exageros nos contos de
viajantes para indicar que o açougue e o consumo de carne humana ocorreram
no passado humano muito recente.
É claro que temos que colocar essas reconstruçõ es horríveis do
comportamento passado em contexto contra as possibilidades de que a
desarticulaçã o de corpos também possa ter ocorrido como parte de ritos
funerá rios, ou de que o canibalismo fazia parte de rituais para homenagear os
mortos ou forçado a seres humanos. grupos enfrentados por desastres ou fome,
como a histó ria recente demonstra. Também temos evidências suficientes do
cuidado dos indivíduos durante a vida e apó s a morte deles, para mostrar o outro
lado da histó ria, como discutirei em mais detalhes no capítulo 6. Por exemplo,
uma criança do material Neanderthal inicial de Atapuerca da o local de Sima de
los Huesos, no norte da Espanha, apresentava deformidades graves na cabeça
que certamente afetavam sua aparência, e provavelmente também seu
comportamento e fala, mas sobreviveram muito além do está gio infantil. À s
vezes, os neandertais enterravam seus mortos em cavernas, desde recém-
nascidos até homens e mulheres idosos. Em pelo menos alguns casos, bens
funerá rios, como restos de animais e pedras ou ferramentas especiais, parecem
ter sido colocados nos corpos, como tributos ou, talvez, até em antecipaçã o à vida
apó s a morte.
Nã o obstante essas advertências, que mostram a face compassiva de nossos
predecessores, acho que os humanos primitivos provavelmente eram tã o
capazes de amar e odiar, e ternura e violência como somos, e até bandos de
chimpanzés foram observados em territó rios violentos e muitas vezes fatais "
batalhas ”com outras tropas. Esse comportamento é quase certamente parte de
nossa histó ria evolutiva também. Muitos anos atrá s, em um livro obscuro, The
Dawn Warriors , em parte inspirado no African Genesis de Robert Ardrey (em si,
um conto de seres humanos, vermelho em dentes e garras), o bió logo Robert
Bigelow argumentou que a guerra voltou aos primó rdios da humanidade e
moldou nossa evoluçã o. Lidar com conflitos de outros grupos humanos
incentivou a inteligência e astú cia individuais, e a cooperaçã o e coesã o do grupo,
e assim alimentaram a evoluçã o social, a linguagem e o crescimento do cérebro. É
algo a que voltarei no capítulo 6, mas ainda nã o terminamos com os infelizes
neandertais de El Sidró n.
Depois que eles morreram e aparentemente foram comidos, seus restos
destruídos devem ter ficado no chã o perto da entrada da caverna, junto com
outros restos de comida e ferramentas de pedra do Paleolítico Médio (Idade da
Pedra Média), talvez incluindo aquelas usadas para matá -los. Lá os ossos
provavelmente teriam sido pisoteados, corroídos ou varridos por outros
animais. Mas entã o, por acaso, um colapso maciço e lamacento de sedimentos de
cavernas os jogou uns vinte metros mais fundo no sistema de cavernas e
aumentou dramaticamente suas chances de preservaçã o a longo prazo, no local
mais fresco onde foram finalmente descobertos. Isso também melhorou bastante
o potencial de preservaçã o do DNA; os neandertais de Sidró n sã o agora um dos
colaboradores mais importantes do projeto do genoma dos neandertais, como
discutirei no capítulo 7, juntamente com os principais doadores de DNA, outros
provavelmente neandertais canibalizados da caverna Vindija, na Croá cia. Há
outras descobertas, no entanto, que dã o uma perspectiva diferente e mais
positiva sobre os neandertais do que essa imagem de canibalismo, e uma das
mais significativas foi feita há cerca de trinta anos, no site francês Saint-Césaire.
A descoberta de um esqueleto parcial no abrigo rochoso desmoronado de
Saint-Césaire continua sendo uma das mais importantes de todas as descobertas
dos neandertais - nã o apenas porque estava razoavelmente completa pelos
padrõ es usuais, e nã o porque parecia ser um enterro - havia alguns daqueles já
conhecidos pelos neandertais. Sua importâ ncia está em suas associaçõ es
arqueoló gicas: ferramentas de pedra pertencentes à indú stria
châ telperroniana. Essa indú stria enigmá tica do sudoeste da França parecia
representar uma transiçã o do Paleolítico Médio local (Mousteriano) para o
Paleolítico Alto Gravetiano. Os mousterianos e os châ telperronianos locais
tinham muitos tipos de ferramentas de pedra em comum, mas a maneira como
eles foram feitos mudou aparentemente do descamaçã o típica dos neandertais
para o golpe sistemá tico de flocos finos - lâ minas - algo característico do
Paleolítico Superior e, portanto, do Cro- Ímã s como os gravetos. Infelizmente,
nã o havia fó sseis humanos associados de maneira confiá vel ao Châ telperronian,
razã o pela qual seu significado real permaneceu um enigma. Muitos arqueó logos
e antropó logos nas décadas de 1960 e 1970 esperavam que os fabricantes do
Châ telperronian acabassem sendo intermediá rios evolutivos entre os
neandertais e os cro-magnons, provando finalmente os modelos da fase
neandertal e multirregional das origens humanas modernas . O arqueó logo
Richard Klein e eu compartilhamos uma visã o diferente. Pensá vamos que os
neandertais provavelmente eram capazes de fabricar ferramentas no estilo
paleolítico superior e, considerando a ancestralidade local dos
châ telperronianos, era prová vel que os fabricantes fossem neandertais e nã o
formas de transiçã o.
Entã o, quando ouvi falar de um breve relató rio francês em 1980 de que um
esqueleto humano havia finalmente sido recuperado com artefatos
châ telperronianos, percebi que essa poderia ser uma descoberta que poderia
invalidar completamente minhas conclusõ es de doutorado de que era
imprová vel que houvesse continuidade evolutiva entre os neandertais e Cro-
Magnons na Europa. Esperei notícias da natureza do esqueleto com a respiraçã o
suspensa, e devo admitir um alívio considerá vel quando foi identificado como
um neandertal bastante típico! No entanto, para meu desgosto, muitos
pesquisadores pareciam relutantes em abandonar as idéias de
continuidade. Alguns, como Milford Wolpoff, argumentaram que os traços
neandertais do esqueleto de Saint-Césaire haviam sido super enfatizados e que
era, de fato, "transitó rio", enquanto outros, como o arqueó logo Randy White,
sugeriram que (em consonâ ncia com o neandertal de Loring Brace)
Provavelmente, as mudanças culturais precederam e impulsionaram mudanças
morfoló gicas em relaçã o aos humanos modernos. Assim, este neandertal ainda
nã o havia passado pela transiçã o evolutiva que deve ter seguido.

Mapa mostrando os primeiros locais humanos na Europa.

Por alguns anos, o significado de Saint-Césaire foi um tó pico quente de


debate, mas gradualmente, como sua natureza neandertal era geralmente aceita,
tornou-se uma importante peça de evidência apoiando o modelo de Substituiçã o,
pelo menos na Europa Ocidental. Isso ocorreu porque o châ telperroniano tinha
sido datado pelo radiocarbono por cerca de 35.000 anos - a mesma idade que a
outra indú stria do Paleolítico Superior, a Aurignaciana - que parecia estar
associada aos cro-magnons de aparência moderna. Portanto, vá rios de nó s,
incluindo os arqueó logos Richard Klein e Paul Mellars e o antropó logo Bernard
Vandermeersch (que descreveram a nova descoberta), favorecemos um modelo
com duas vertentes paralelas, mas distintas, no início do Paleolítico Superior da
Europa Ocidental. Um deles, o Châ telperronian, era um desenvolvimento local
dos neandertais. O outro, o Aurignaciano, era o produto dos humanos modernos
(Cro-Magnons), que o trouxeram quando entraram na Europa Ocidental, um
evento datado há cerca de 40.000 anos atrá s. Mas agora eu gostaria de discutir
um local notá vel no leste da Europa, onde fó sseis humanos modernos
apareceram ao lado dos restos de milhares de ursos das cavernas, o que sugere
uma chegada anteriormente desconhecida e talvez até mais cedo dos humanos
modernos na Europa.
O Danú bio é, a cerca de 2.900 quilô metros, o segundo maior rio da Europa
(depois do Volga). Originá rio da Alemanha, flui para o leste até atingir seu delta,
que se espalha entre a Romênia e a Ucrâ nia no Mar Negro. Era uma via navegá vel
extremamente importante nos tempos histó ricos, e também deve ter fornecido
uma rota através da paisagem para os primeiros seres humanos, quer eles
tenham percorrido suas margens ou (mais tarde) tenham usado jangadas ou
barcos para navegá -la. Vá rios locais importantes da histó ria dos neandertais e
dos primó rdios da modernidade ficam perto do Danú bio, e um dos mais novos e
fascinantes é o Peşa ter cu cu Oase ("Caverna com Ossos"). O ase foi descoberto
por espeleó logos em 2002, e sua localizaçã o ainda é um segredo bem guardado,
embora esteja nas montanhas dos Cá rpatos, no oeste da Romênia, cujos rios
desaguam no Danú bio.
Um desses rios é o Ponor, que corre cerca de 750 metros abaixo do solo, e
acima dele há redes de cavernas pelas quais anteriormente fluía. Estes nã o
podem ser alcançados através de suas entradas originais, que há muito foram
bloqueadas por sedimentos e colapsos. Em vez disso, os espeleologistas abriram
uma entrada mais baixa e, para os corajosos e capazes o suficiente, uma viagem
para cima e para baixo em longas flechas, com um mergulho no escuro através de
um sifã o de dezesseis metros de á gua gelada jogado por boa medida ,
eventualmente, leva a um chã o de caverna repleto de uma incrível coleçã o de
milhares de ossos fó sseis. Entre eles estã o os ninhos de hibernaçã o circular dos
ursos das cavernas, os antigos habitantes de inverno dessa parte da caverna,
representados por mais de cem crâ nios. Outros moradores ocasionais, como
leõ es e lobos das cavernas, também sã o registrados, mas foi uma descoberta
casual em uma câ mara vizinha em 2002 que mostrou que humanos antigos
também estavam nas proximidades. Tratava-se de uma mandíbula inferior
humana, contendo apenas os dentes posteriores, com a presença de dentes do
siso em erupçã o, mostrando que o indivíduo era adulto e, de seu tamanho geral,
provavelmente jovem.
No ano seguinte, cerca de quinze metros abaixo, também foram encontrados
os ossos da face e do crâ nio de um indivíduo mais jovem. Esses achados humanos
isolados parecem ter sido levados para onde foram descobertos, uma vez que
nã o há evidências de ocupaçã o humana ou interferência humana nos ossos nesta
parte do sistema de cavernas. Mapeamento cuidadoso, escavaçã o e dataçã o
(incluindo determinaçõ es diretas de radiocarbono nos fó sseis humanos)
sugerem a seguinte sequência de eventos para o sistema de cavernas. Os ursos
das cavernas entraram regularmente na caverna profunda para hibernar até
cerca de 46.000 anos atrá s, com muitos morrendo durante a hibernaçã o. Cerca
de 46.000 anos atrá s, houve um grande colapso, que mudou a natureza da
caverna, abrindo uma entrada mais pró xima. Carnívoros como lobos e os leõ es
ocasionais agora habitam ali, trazendo de volta os restos de presas, como veados
e íbex. Cerca de 42.000 anos atrá s, os humanos Oase estavam na caverna,
usando-a como abrigo ou talvez carregada por carnívoros, e seus restos mortais
foram varridos para onde foram descobertos, em uma das inundaçõ es perió dicas
que envolveram o sistema de cavernas.
Uma equipe internacional de pesquisadores estuda as descobertas do Oase,
em particular o osso maxilar humano e o crâ nio separado. O maxilar é
fortemente construído, mas inegavelmente moderno em seu queixo bem
desenvolvido. E, no entanto, seus dentes molares sã o grandes, com cú spides
bastante complexas e possuem algumas características interessantes na parte de
trá s. O ramo ascendente da mandíbula é extremamente amplo e, no lado interno,
existem características ainda mais intrigantes. Na parte de trá s da mandíbula de
cada lado está o forame mandibular , um orifício através do qual o nervo
mandibular viaja para os dentes inferiores. Na maioria dos seres humanos vivos
e em quase todos os fó sseis, o forame é aberto e em forma de V, como está em um
lado da mandíbula de Oase. Mas, por outro lado, existe uma ponte de osso
através do forame, conhecida como tipo horizontal-oval ( HO ). Este forame HO
está presente em cerca de metade de todos os fó sseis neandertais, mas
geralmente é raro nos fó sseis modernos do início e geralmente ocorre apenas em
um nível de alguns por cento em humanos vivos. Consequentemente, quando
encontrado em um punhado de fó sseis europeus de Cro-Magnon, tem sido visto
como um marcador de possível ancestralidade neandertal, o que certamente
poderia ser, dada a sua raridade em fó sseis africanos anteriores e os de Skhul e
Qafzeh. O quanto sua presença é herdada e o quanto está associado a ter
ligamentos da mandíbula particularmente fortes (que estã o ligados a essa á rea
da mandíbula) ainda nã o está claro, e o quadro é ainda mais confuso pelo fato de
que algumas das frequências mais altas de em populaçõ es recentes, ocorre longe
da influência da Europa e dos neandertais, em lugares como a Ilha de Pá scoa.
O crâ nio do Oase nã o é do tipo neandertal, mas é estranhamente diferente dos
europeus posteriores. É de um adolescente, de sexo incerto, com os terceiros
molares ainda nã o irrompidos, mas enormes, e com cú spides ainda mais
complexas do que na mandíbula separada. A testa recua um pouco, mas a falta de
sobrancelhas e fossa suprainíaca e a forma plana do rosto e nariz sã o
particularmente nã o neandertais. No entanto, os dentes de trá s sã o maiores do
que os de qualquer humano moderno que eu vi na Eurá sia, vivo ou fó ssil. Em
apoio ao seu modelo favorito de assimilaçã o, meu amigo Erik Trinkaus
argumentou que características como o forame HO, a testa relativamente plana e
os grandes molares poderiam ser todos um sinal de uma herança moderna de
neandertais. E, de fato, em uma data de mais de 40.000 anos, os humanos Oase
parecem estar na vanguarda da penetraçã o humana moderna da Europa, com o
potencial má ximo de encontrar neandertais. Por outro lado, para mim, os dentes
também nã o sã o parecidos com os dos neandertais, entã o de onde vieram esses
enigmá ticos primeiros europeus?
Nesse ponto, devemos observar que os fó sseis humanos do Oase nã o têm
artefatos associados; mesmo se eles vivessem em outro lugar na caverna, apenas
seus ossos reais foram recuperados, apó s a redefiniçã o de um local
desconhecido. Mas, dadas suas características incomuns e sua antiguidade -
talvez além da era de outros modernos europeus e ferramentas aurignacianas
definidas - acho que eles poderiam até ter sido criadores da misteriosa indú stria
bohuniciana. Esse nome recebeu o nome da caverna tcheca Bohunice e, como o
Châ telperronian, suas ferramentas características mostram uma mistura de
elementos do Paleolítico Médio e Superior. O método de fabricaçã o costuma ser o
"nú cleo preparado", tã o típico dos artefatos do Paleolítico Médio na Europa, Á sia
Ocidental e Á frica; nesse sentido, o bohunician mantém uma tradiçã o mais antiga
associada aos neandertais e aos primeiros humanos modernos. Mas existem
também muitas das lâ minas, raspadores de extremidade e buracos (ferramentas
de gravaçã o) que caracterizam o Paleolítico Superior Europeu e a Idade da Pedra
Mais Recente Africana, fabricados por seres humanos modernos. No entanto, o
bohunician nã o mostrou, até agora, nenhuma evidência de sofisticados artefatos
de osso ou marfim, ou contas.
Entã o, como no quebra-cabeça do Châ telperronian, o bohunician foi feito por
neandertais ou modernos, ou alguém no meio? Ainda nã o produziu nenhum
resíduo humano em diagnó stico, mas existem pistas interessantes de sua dataçã o
e possíveis origens. O Bohunician foi datado por métodos de radiocarbono e
luminescência a cerca de 45.000 anos - um pouco mais velho que os humanos
Oase - e certos aspectos das ferramentas e a maneira como eles sã o feitos se
ligam a indú strias com idades semelhantes na Turquia e no Oriente Médio, como
veremos. Isso poderia sinalizar uma dispersã o nã o reconhecida anteriormente
dos humanos modernos na Europa antes do Aurignaciano? Para mim, nã o é
prová vel que haja pistas sobre a origem do povo bohuniciano e do Oase em uma
data mais antiga da Europa - ambas parecem nã o ter antecedentes locais e,
portanto, parecem intrusivas. E qual foi o destino final do povo Oase? Eles deram
origem aos Cro-Magnons subsequentes da Europa? Ou a colonizaçã o pioneira da
Europa e os encontros possivelmente imprevisíveis com os neandertais foram
em vã o, terminados por catá strofes climá ticas e ambientais que logo se
seguiram?
Como mencionado no capítulo 2, cerca de 39.000 anos atrá s, houve uma
erupçã o maciça na á rea vulcâ nica do sul da Itá lia, conhecida como Campi Flegrei
(os "campos em chamas"), perto da Baía de Ná poles. A regiã o ainda está ativa
hoje e inclui a cratera Solfatara, a casa mitoló gica do deus romano do fogo,
Vulcano. A erupçã o foi talvez a segunda em extensã o à de Toba em Sumatra
durante os ú ltimos milhõ es de anos, e produziu os enormes depó sitos de cinzas
conhecidos como Ignimbrite Campaniano (CI), que se estendem por cerca de
oitenta quilô metros. Também produziu depó sitos mais ricos em enxofre, que se
espalham ainda mais por uma á rea de cerca de 5 milhõ es de quilô metros
quadrados do Mediterrâ neo e da Eurá sia ocidental, e também pode ter
produzido um breve inverno vulcânico . Esse período de resfriamento global
pode ser causado quando o aumento da poeira atmosférica e as gotículas de
á cido sulfú rico refletem a luz solar de volta ao espaço, e compostos mais finos de
sulfeto podem ter um efeito a longo prazo se atingirem e permanecerem na
atmosfera superior.
Este episó dio foi seguido de perto por um evento de Heinrich , um fenô meno
descrito pela primeira vez pelo geó logo Hartmut Heinrich. Durante esses breves,
mas severos eventos frios, armadas de icebergs romperam as calotas polares do
norte no Atlâ ntico Norte, por razõ es ainda desconhecidas. À medida que fluíam
para o sul, derreteram, esfriando o oceano e as terras vizinhas e lançando
detritos de gelo no fundo do oceano, um dos sinais característicos desses eventos
nos nú cleos do fundo do mar. "Heinrich 4" ocorreu cerca de 38.000 a 39.000
anos atrá s, e esfriou severamente a Europa, mostrando sua influência em nú cleos
tã o distantes quanto os lagos da Itá lia e da Grécia e o leste do Mediterrâ neo.
Alguns pesquisadores chegaram a argumentar que essa combinaçã o incomum
de inverno vulcâ nico, sem verõ es adequados por vá rios anos, seguida de perto
pelo frio de um evento de Heinrich, levou muitas das mudanças que podemos
detectar no registro arqueoló gico da Europa nessa época: colidindo
repentinamente ( gargalo ) com as populaçõ es humanas neandertais ou
forçando-as a se mover, interagir e se adaptar de maneiras totalmente novas. Em
um ponto de vista, isso abriu as portas para os humanos modernos colonizarem
a Europa e, em outra interpretaçã o, catalisou mudanças dramá ticas no
comportamento e na biologia dos neandertais, convertendo os sobreviventes em
humanos modernos! Nã o aceito nenhuma explicaçã o, porque sabemos da
caverna Oase, na Romênia, e da caverna de Kent, na Inglaterra, que os humanos
modernos já estavam na Europa antes dessa época, e sabemos em locais dentro e
fora da Europa que os comportamentos já estavam mudando
significativamente. Mas parece haver poucas dú vidas de que esses eventos
teriam afetado profundamente os habitantes humanos modernos e neandertais
da Europa. Se os modernos pioneiros estivessem apenas na Europa em pequeno
nú mero, enquanto os neandertais continuassem ocupando o sul da França e as
penínsulas do sul da Península Ibérica, Itá lia e Grécia, parece prová vel que tanto
o Homo sapiens quanto seus primos neandertais tivessem sofrido
desgaste. Entã o, talvez o povo Oase tenha morrido, assim como muitos
neandertais morreram nesse momento (ver capítulo 2).
De onde vieram esses recém-chegados antes de chegarem à Romênia? Uma
pista está do outro lado da Turquia, em sua costa acidentada, a apenas quinze
quilô metros da fronteira com a Síria. A caverna Ü ça ğ izli (“Três Bocas”) foi
descoberta e escavada pela primeira vez na década de 1980, e agora fica a cerca
de dezoito metros acima do Mediterrâ neo. As encostas do fundo do mar
abruptamente distâ ncia de cerca de cinco quilô metros para fora, por isso mesmo
com os mares drasticamente reduzidos da ú ltima Ice Age, Uca ð izli nunca teria
sido muito longe da costa. Os depó sitos das cavernas cobrem mais de 10.000
anos, a partir de 44.000 anos atrá s, e contêm muitos milhares de ferramentas. Os
primeiros deles se assemelham a uma indú stria nos países vizinhos do Oriente
Médio chamada Emiran e Bohunician da Europa, enquanto as ferramentas
subsequentes de 36.000 anos representam algo chamado Ahmarian, sobre o qual
mais adiante neste capítulo. Mas o site tem muitos outros recursos além das
ferramentas, incluindo evidências de ocupaçã o humana de curto prazo
(pequenas fogueiras de carvã o) e de longo prazo (enormes montes de
cinzas). Um nível ainda contém uma impressionante linha curva de blocos de
calcá rio, talvez um muro baixo, de funçã o desconhecida.
Uma equipe internacional, incluindo os arqueó logos Steven Kuhn e Mary
Stiner, está escavando a caverna desde 1997 e encontrou nã o apenas um grande
nú mero de ferramentas de pederneira, mas também numerosos pontos de ossos
- talvez perfuradores. Ainda mais extraordinariamente, eles recuperaram muitas
centenas de ornamentos feitos de conchas, que devem ter sido amarrados como
contas ou pingentes. Provavelmente eram partes de colares ou pulseiras e, em
um caso, a garra de um abutre também havia sido utilizada. Embora grandes
conchas no local mostrem sinais de serem esmagadas para consumo, as
pequenas ornamentais geralmente sã o inteiras, além de perfuradas, e parecem
ter sido coletadas das margens do lago, rios ou praias expressamente para fins de
joalheria. A partir de tentativas fracassadas descartadas, as conchas
provavelmente foram trabalhadas no local com ferramentas pontiagudas e os
orifícios foram posicionados de maneira muito consistente, enquanto alguns
mostram sinais de fricçã o, onde provavelmente foram amarrados em fibras
naturais. No caso de um gênero chamado Dentalium (conchas de presa), elas
parecem ter sido coletadas como fó sseis de um depó sito geoló gico a cerca de
quinze quilô metros de distâ ncia e foram quebradas a intervalos para criar contas
de tubos. Curiosamente, as camadas mais antigas da caverna mostram um
domínio de Nassarius (conchas de carrapatos), exatamente do tipo usado como
joia por humanos modernos muito anteriores na Á frica e Israel (veja o capítulo
5), sugerindo uma tradiçã o simbó lica que remonta 50.000 anos antes.
Como fazemos hoje, o UCA ğ pessoas izli provavelmente usou sua aparência
(incluindo seus ornamentos) como símbolos conscientes ou inconscientes de
identidade de grupo, estado civil, e seus papéis na sociedade. Igualmente, o uso
de tais símbolos implica que o significado do que eles estavam sinalizando seria
reconhecido dentro de suas comunidades, e talvez também quando outros
grupos humanos fossem encontrados (ver capítulo 5). Obviamente, a caverna
agia como uma fá brica de contas, mas nã o sabemos quã o significativo isso era
socialmente para as pessoas da época. Talvez fosse apenas um abrigo ou
acampamento conveniente perto do Mediterrâ neo, um lugar onde eles pudessem
realizar o trabalho, ou talvez preservasse fortuitamente a evidência do que na
verdade eram atividades difundidas melhor do que locais mais expostos. Mas,
com base nos ornamentos dos caçadores-coletores modernos e no que
encontramos nos locais paleolíticos posteriores da Europa, podemos adivinhar
que essas contas de concha eram apenas parte da histó ria da exibiçã o, o que
também poderia envolver pintura corporal e roupas.
Apenas um punhado de dentes permanecem dos habitantes do UCA ğ izli de
uma presença duradoura muitos milênios. Um dente é declaradamente grande,
mas no geral eles parecem representar o Homo sapiens , sugerindo que a
ocupaçã o foi de fato pelos humanos modernos. O lixo alimentar deixado no local
mostra que muitos animais grandes (como cabras e porcos selvagens, vermelhos,
pousios e corças e gado selvagem) e também pequenos (lebre, esquilo, perdiz)
foram processados e consumidos lá . A dieta foi complementada com mariscos e,
à s vezes, até peixes como a dourada parecem ter sido consumidos. Muitas das
ferramentas de pedra devem ter sido fabricadas para matar ou processar o jogo,
e incluem pontas de lança e muitas lâ minas estreitas transformadas em facas,
raspadores e pontas. As ferramentas e o comportamento de coleta de alimentos
geralmente mostram apenas mudanças graduais ao longo da sequência da
caverna, sugerindo uma presença por muitos milênios. Há uma exceçã o, cerca de
41.000 anos atrá s, no entanto, quando os habitantes deixaram de usar martelos
duros (por exemplo, pedras) para martelos macios (provavelmente de osso ou
chifre) para fazer suas ferramentas, dando a eles maior controle sobre o bom
trabalho e modelagem . No geral, há sinais de que as ocupaçõ es se tornaram
gradualmente menos episó dicas e de duraçã o mais longa, e os alimentos
consumidos mais variados, talvez indicando a crescente capacidade
dos caçadores-coletores de Ü ça ğ izli de se adaptarem ao ambiente local.
Como vimos, os traços físicos dos habitantes do UCA ð izli ao longo de um
período de mais de 10.000 anos sã o poucos e distantes entre si, embora fossem
quase certamente os humanos modernos. Para encontrar mais evidências das
pessoas desse período, precisamos viajar para o sul da caverna, primeiro para o
Líbano e depois para o vale do Nilo. Como mencionado, as indú strias Emiran e
Ahmarian de Uca ð izli se assemelham aos encontrados em outras partes do
Oriente Médio, e um dos locais-chave, Ksa r 'Akil, está no Líbano, cerca de 250
quilô metros mais ao sul. Este abrigo rochoso nos arredores de Beirute contém
quase vinte metros de depó sitos, ricos em fó sseis e artefatos. Um padre e
arqueó logo jesuíta, padre J. Franklin Ewing, escavou o local pela primeira vez na
década de 1940, e foi reinvestigado de forma intermitente desde entã o, quando a
situaçã o política permitiu. A data Emiran e níveis Ahmarian de todo 42.000 a
35.000 anos atrá s, e os animais caçados foram compará veis aos encontrados na
UCA ğ izli. Há outra semelhança importante na presença de muitas pérolas de
concha, mas há um extra significativo em Ksar 'Akil: comparado com os dentes
espalhados encontrados no local turco, Ewing descobriu o esqueleto parcial de
uma criança, que adquiriu o apelido “Egbert . ” Infelizmente, no caos que desceu
intermitentemente ao Líbano, o fó ssil original desapareceu, esperançosamente
apenas temporariamente, mas estudei uma réplica do crâ nio da criança feita pela
equipe de Ewing. É , sem dú vida, uma criança humana moderna e certamente nos
mostra as espécies responsá veis pelas contas de concha na Turquia e no Líbano
há cerca de 40.000 anos.
Há outras conexõ es possíveis no ú nico fó ssil humano do Norte Africano de
idade compará vel ao Oase, Uca ğ izli e Ksar 'Akil: os 40.000 anos de idade
espécime Nazlet Khater do Egito. Este esqueleto é de um jovem que foi
deliberadamente enterrado em uma das minas mais antigas conhecidas, cavado
para extrair rochas de chert para fabricaçã o de ferramentas, perto de Luxor, no
Nilo. Seu corpo curto e aparentemente bem musculoso tem muitas marcas de
desgaste em alguém tã o jovem, levando à sugestã o de que ele poderia até ser um
escravo antigo forçado a trabalhar na mina; mas se assim for, ele parece ter sido
colocado em um enterro decente. Seu crâ nio é claramente o de um humano
moderno, mas na testa levemente recuada, no formato do rosto e no amplo ramo
ascendente de seu maxilar, ele se assemelha aos fó sseis de Oase. Seus dentes nã o
sã o tã o grandes, e a superfície interna mal preservada de sua mandíbula parece
nã o mostrar um forame HO. Mas as ferramentas feitas com as pedras que ele
deve ter extraído têm uma semelhança geral com as encontradas no Líbano, na
Turquia e nos locais bohunicianos da Europa central. Portanto, talvez isso nos dê
uma pista de onde vieram os primeiros povos modernos da Europa e sua rota
para a Europa a partir do Oriente Médio, durante uma breve fase quente, há
cerca de 43.000 anos. Pessoas como as de Nazlet Khater e Oase, com artefatos
proto-bohunicianos, viajaram pelas planícies costeiras turcas (mais extensas do
que por causa dos níveis mais baixos do mar) até o Mar Negro e depois subiram
o corredor do Danú bio em direçã o à Europa central? Se o fizeram, parece que sua
longa jornada pioneira poderia finalmente ter terminado em fracasso, e foram os
aurignacianos que se sucederam que assumiram o desafio da Europa e dos
neandertais.
Evidências altamente controversas de que os aurignacianos encontraram (e
talvez comeram?) Um dos ú ltimos neandertais foram publicados em 2009. A
alegaçã o veio de um estudo detalhado de mandíbulas e dentes encontrados há
muitos anos nos níveis aurignacianos na caverna de Les Rois, no sudoeste da
França. . O maxilar de uma criança é claramente moderno, mas o outro mostra
possíveis características dos neandertais em seus dentes, e as linhas de
crescimento nos dentes mostram um padrã o de desenvolvimento semelhante ao
neandertal (consulte o capítulo 3). Além disso, enquanto o mais moderno dos
maxilares nã o mostra sinais de modificaçã o humana, o semelhante aos
neandertais carrega marcas de corte que sugerem profanaçã o e possível
remoçã o da língua. Os autores foram cautelosos sobre se isso representava
canibalismo e consideraram as alternativas de que as marcas de corte
evidenciam o uso simbó lico dos restos da criança como troféu ou como
tratamento pó s-morte antes do enterro. Eles concluíram com três explicaçõ es
possíveis para essa descoberta sem precedentes: que o maxilar do tipo
Neandertal sugere uso ou consumo simbó lico de uma criança neandertal pelos
primeiros Cro-Magnons; que as ferramentas aurignacianas foram de fato
produzidas por grupos humanos com características modernas e neandertais, ou
seja, uma populaçã o mista ou híbrida; ou que todos os restos de Les Rois
representavam humanos modernos, mas que alguns exibiam características mais
primitivas do que o normal nos Cro-Magnons.
Qualquer uma dessas três explicaçõ es seria importante para nossa
compreensã o dos eventos na Europa há cerca de 35.000 anos atrá s, e as duas
primeiras seriam evidências sensacionais em apoio a um ou outro dos dois
principais cená rios para a extinçã o dos neandertais que discutimos. já : que eles
foram substituídos pelos Cro-Magnons apó s um período de coexistência e
possível interaçã o, o que poderia ter incluído concorrência direta entre eles; ou
que as populaçõ es de Neanderthal e Cro-Magnon cruzaram e se misturaram
durante sua possível coexistência. No entanto, antes de se empolgar com esses
cená rios, devemos lembrar que as tentadoras marcas de corte do segundo
maxilar sã o muito incompletas, e os autores reconheceram que sua identificaçã o
como neandertal era tentativa (outros trabalhadores identificaram os dentes
como modernos). ) Estã o sendo planejados novos estudos sobre os fó sseis de Les
Rois, que podem até incluir investigaçõ es de DNA, e certamente devem ajudar a
esclarecer o quadro. E devido à importâ ncia de Les Rois, novas escavaçõ es estã o
ocorrendo lá e outros fó sseis humanos já foram encontrados. Entã o,
esperançosamente, essa nova evidência ajudará a resolver o intrigante mistério
dos filhos de Les Rois - sua identidade e seu destino - em termos de eventos
35.000 anos atrá s na Europa e em termos do que eles podem nos dizer sobre a
evoluçã o humana em geral. A esse respeito, também é interessante observar
eventos neste momento em toda a enorme massa terrestre da Eurá sia, na China.
Considerando seu vasto tamanho e suas ricas descobertas de fó sseis do Homo
erectus de locais como Zhoukoudian ("Homem de Pequim"), a China tem
surpreendentemente pouca evidência dos primeiros seres humanos
modernos. Isso pode ser parcialmente um reflexo da chegada relativamente
tardia do Homo sapiens na China, mas é prová vel que a escala de tempo para a
evoluçã o humana moderna na China nã o seja, de fato, muito diferente da da
Europa, onde, em comparaçã o, existem dezenas de Esqueletos de Cro-Magnon e
dezenas de sítios ricos representando as culturas do Paleolítico Superior. Para
piorar a situaçã o, a coleçã o mais rica desse material - da Caverna Superior em
Zhoukoudian - foi perdida quando desapareceu em 1941, apó s a ocupaçã o
japonesa de Pequim.
No entanto, a situaçã o melhorou em 2003 com a descoberta de um esqueleto
humano parcial na caverna Tianyuan nas proximidades, datada por
radiocarbono por cerca de 40.000 anos. A caverna contém restos de mamíferos,
como cervos e porcos-espinhos, e os ossos de animais no nível do esqueleto
mostram sinais de processamento por seres humanos, mas nenhum artefato foi
relatado até agora, e nã o está claro como o esqueleto bem preservado, mas
incompleto, ficou lá : era originalmente um enterro ou o indivíduo em questã o
morreu na caverna? 34 ossos do esqueleto estã o representados, incluindo a
mandíbula inferior, omoplatas, vá rios ossos dos braços e pernas e partes das
mã os e pés, e sã o geralmente de tamanho médio, dificultando o julgamento do
sexo do indivíduo. em causa, sem um crâ nio completo ou os ossos da pelve. No
entanto, ele ou ela tinha pelo menos meia-idade com base no alto grau de
desgaste dos dentes e no desgaste dos ossos preservados, incluindo evidências
de osteoartrite.
Uma pesquisa de Hong Shang, Erik Trinkaus e seus colegas mostra que o
indivíduo Tianyuan tinha muitas características tipicamente modernas, como um
queixo bem desenvolvido e características da omoplata, ossos do braço e
coxa. Mas ele também tem dentes da frente relativamente grandes, e um dos
ossos dos dedos tem uma ponta expandida, o que é comum nos neandertais. No
entanto, os membros sã o proporcionados mais como os dos humanos modernos
que derivam de climas quentes, e nã o de climas frios, e nesse aspecto se
assemelham aos primeiros Cro-Magnons e nã o aos neandertais. Esse fato leva à
probabilidade de que esses primeiros modernos, longe de sua quente pá tria
evolutiva africana, usassem meios culturais para lidar com os ambientes frios em
que as circunstâ ncias os haviam aterrado.
Existem duas “regras” bem conhecidas sobre o tamanho e a forma dos
organismos, relacionadas à sua necessidade bá sica de perder ou conservar o
calor do corpo, com o nome dos bió logos que as expuseram claramente. A regra
de Allen afirma que criaturas de sangue quente em climas mais frios geralmente
têm membros menores (ou outros apêndices, como orelhas ou caudas) do que
seus equivalentes em climas mais quentes. As razõ es para isso podem ser
genéticas (herdadas) ou adquiridas (por exemplo, pelo fluxo mais restrito de
nutrientes de crescimento para as extremidades em condiçõ es frias), mas o
resultado é uma reduçã o da perda de calor em condiçõ es frias e uma melhoria
delas. em condiçõ es quentes (pense nas orelhas grandes dos elefantes africanos,
por exemplo). A regra de Bergmann afirma que, em geral, a massa corporal dos
organismos aumentará com o aumento da latitude ou a exposiçã o ao frio. Isso
está relacionado ao fato de que um animal grande terá uma superfície
proporcionalmente mais baixa em relaçã o ao seu peso do que um animal
pequeno. Assim, sendo todas as outras coisas iguais, um animal grande será
melhor em reter seu calor corporal, enquanto um animal de corpo menor será
melhor em perdê-lo. Nos seres humanos, isso pode se traduzir em construçã o
geral, com uma forma mais esférica (curta e larga) com melhor desempenho em
condiçõ es frias, enquanto algo mais cilíndrico (alto e estreito) seria favorecido
em condiçõ es quentes e secas, onde a perda de calor é mais importante e maior
á rea de superfície para transpiraçã o seria vantajosa.
Se olharmos para seres humanos fó sseis, essas regras geralmente funcionam
bem. Os ossos do Homo erectus e da heidelbergensis africanos sugerem que os
indivíduos envolvidos eram magros e com membros longos, enquanto
o erectus chinês e a heidelbergensis européia eram relativamente mais
compactos e de construçã o pesada. Quando chegamos aos neandertais, o padrã o
é ainda mais claro, com esqueletos da ú ltima Era do Gelo na Europa sendo
particularmente atarracados, com extremidades mais curtas nos braços e
pernas. Mas cerca de trinta anos atrá s, Erik Trinkaus observou que os Cro-
Magnons que viviam nos mesmos ambientes que os neandertais eram mais como
populaçõ es africanas recentes em forma corporal do que os neandertais. E o
mesmo agora parece se aplicar ao esqueleto moderno mais antigo que temos do
norte da Era do Gelo na China. Obviamente, pode haver outros fatores em açã o
no tamanho e forma do corpo, por exemplo, a necessidade de poder, velocidade
ou mobilidade, mas parece prová vel que o comportamento humano, na forma do
que é chamado de buffer cultural , também esteja tendo um efeito aqui.
Os neandertais sã o frequentemente considerados uma espécie adaptada ao
frio, mas na verdade eles variavam muito no tempo e no espaço (por exemplo,
eles sã o encontrados ao lado de hipopó tamos e florestas mediterrâ neas quentes
perto de Roma, há 120.000 anos, e também com mamutes de lã em lugares
sombrios e sombrios. paisagem aparentemente sem á rvores em Norfolk cerca de
60.000 anos depois). Dados arqueoló gicos sugerem que eles realmente evitam os
locais mais frios da Europa, especialmente aqueles com as temperaturas mais
baixas do inverno e os maiores arrepios de vento, e isso pode ser porque, apesar
de suas adaptaçõ es físicas, eles careciam de roupas e moradias bem
isoladas. Esses "luxos" sã o realmente essenciais para a sobrevivência no frio, e
devemos lembrar que nã o é apenas a sobrevivência de adultos que é importante
aqui. Os bebês humanos sã o notoriamente suscetíveis a baixas temperaturas,
porque, com seu tamanho corporal menor, sã o menos bons em reter o calor
(regra de Bergmann novamente), e a capacidade do corpo de estabilizar a
temperatura ainda está apenas em desenvolvimento. Aparentemente, sem
costurar e tecer, os neandertais provavelmente fizeram ponchos e peles e
fixaram peles de animais com tiras ou tendõ es, mas sabemos pelas agulhas
ó sseas, impressõ es de tecelagem em argila, restos de cabanas e tendas,
esculturas e arranjos complexos de contas e fechos deixados nas roupas de seus
enterros que os Cro-Magnons foram capazes de proporcionar um isolamento
muito melhor para seus adultos e crianças. Até os ossos dos pés dos Cro-
Magnons fornecem pistas sobre outra de suas inovaçõ es: sapatos.
O estudo anatô mico de Erik Trinkaus sobre os ossos do pé de pessoas
modernas que usam ou nã o regularmente sapatos mostrou que a diferença se
reflete na robustez dos ossos dos dedos dos pés, uma vez que o uso de sapatos
desvia parte da pressã o aplicada no meio do pé durante caminhar; portanto,
alguns dos ossos dos dedos dos pés sã o construídos menos fortemente quando
os sapatos sã o usados. A distribuiçã o de acessó rios nos tú mulos de Cro-Magnon
sugere a presença original de roupas e, em Sungir, na Rú ssia, dois adultos e duas
crianças foram enterrados com artigos tú mulos elaborados há cerca de 28.000
anos. Os enterros estavam cobertos por centenas de minú sculas contas de
marfim gigantescas que devem ter sido costuradas em roupas que apodreceram
desde entã o, e também sã o abundantes ao redor dos tornozelos e pés, sugerindo
a presença de sapatos ou botas decoradas. Além disso, os ossos do pé do homem
de Sungir, de outro modo muito robusto, mostram os sinais reveladores de
graciosidade que indicam o uso de sapatos nas pessoas hoje. Tais sinais nã o sã o
conhecidos nos dedos dos neandertais, nem nos humanos modernos muito
anteriores que viviam em Israel cerca de 110.000 anos atrá s. Mas eles estã o lá
nos ossos do pé de Tianyuan, que sã o mais de 10.000 anos mais velhos que os de
Sungir. Assim, o esqueleto moderno mais antigo conhecido da China
aparentemente tinha o benefício de sapatos, o que facilitaria a viagem por
terrenos difíceis e, se impermeá vel, também poderia fornecer proteçã o contra o
frio, a umidade e a neve. Embora nã o conheçamos muito sobre o modo de vida ou
a cultura do mistério isolado Homo sapiens da Caverna Tianyuan (mas veja o
capítulo 3), o corpo desse homem ou mulher nos diz que uma maior proteçã o
contra o ambiente da Era do Gelo havia chegado. norte da China há pelo menos
40.000 anos atrá s.
Vamos agora voltar aos ancestrais finais das pessoas modernas que
discutimos da Europa e da China, aos fó sseis da Etió pia. Expliquei no capítulo 1
como os fó sseis de Omo Kibish encontrados pela equipe de Richard Leakey na
Etió pia em 1967 foram importantes para mim na minha formulaçã o de um
modelo recente de origem africana. Além disso, a dataçã o dos fó sseis nã o era
muito segura naquela época, e os pró prios espécimes estavam sujeitos a
interpretaçõ es muito diferentes das minhas. No capítulo 9, veremos como as
descobertas da ú ltima década colocaram esses achados do sul da Etió pia
novamente em destaque, mas agora quero me concentrar em uma regiã o á rida
na parte norte da Etió pia. No interior do Chifre da Á frica, a depressã o triangular
de Afar está afundando à medida que a Á frica se divide ao longo de sua grande
fenda oriental, e a bacia resultante acumulou ricos sedimentos por mais de 5
milhõ es de anos de histó ria humana e geoló gica. A á rea produziu achados de
vá rias espécies australopithecinas, incluindo os restos de 3 milhõ es de anos de
“Lucy” e fó sseis mais jovens do Homo erectus e heidelbergensis . Em 2003, a vila
de Herto ficou famosa com o anú ncio de um site rico que data de cerca de
160.000 anos atrá s. As primeiras pistas vieram com a descoberta de um crâ nio
de hipopó tamo, evidência de que essa á rea seca já tinha lagos e rios férteis e,
igualmente importante, o crâ nio mostrava marcas de açougue feitas por
humanos primitivos. Escavaçõ es sistemá ticas do paleoantropó logo Tim White e
seus colegas descobriram outros fó sseis de animais, ferramentas de pedra e os
restos mortais de sete seres humanos. Desses, um tinha um crâ nio adulto quase
completo, o outro era a base de uma criança de seis anos apó s a morte e um
terceiro representava parte de outro crâ nio adulto. Todos eram muito grandes
em tamanho. Bill Howells, mencionado no primeiro capítulo, passou metade de
sua vida reunindo meticulosamente dados sobre crâ nios humanos modernos
para mapear a variaçã o de nossa espécie, mas o crâ nio mais completo de Herto
excedeu em grandes dimensõ es todos os 5.000 dos quais ele havia medido em
todo o mundo ! Talvez esse tamanho fosse necessá rio há 160.000 anos, se a caça
aos hipopó tamos estava na agenda. Ainda hoje, esses animais temperamentais
têm a reputaçã o de serem a maior causa de mortes humanas entre toda a fauna
de mamíferos da Á frica.
A crista da sobrancelha do crâ nio mais completo é forte e saliente, acima de
uma face larga e plana, enquanto a base do cérebro é alta, arredondada e de
aparência moderna. O crâ nio da criança é jovem demais para suportar uma crista
na testa, mas é igualmente moderno. Mas as partes traseiras dos dois fó sseis
adultos sã o muito fortemente construídas e lembram as mesmas regiõ es no
crâ nio de Broken Hill da Zâ mbia, que eu classifico na espécie que provavelmente
era ancestral do H. sapiens na Á frica: H. heidelbergensis . Dois dos três Herto
braincases também exibem evidências de modificaçã o humana, incluindo marcas
de corte; isso poderia ser evidência de canibalismo? Os cientistas que
descreveram o material consideraram mais prová vel que os crâ nios fossem
mantidos como troféus ou objetos reverenciados, porque o crâ nio da criança foi
altamente polido com extensas evidências de desgaste e raspagem, como se
tivesse sido manuseado regularmente e, portanto, poderia ter foi associada ao
comportamento ritual pó s-morte, talvez até como um copo de bebida - mas isso
deve permanecer especulaçã o por enquanto. Era difícil saber como os fó sseis
Herto deveriam ser classificados. Os autores do artigo da Nature de 2003 os
atribuíram a uma nova forma de H. sapiens chamada " H. sapiens idaltu "
( idaltu significa "anciã o" na língua Afar), devido ao seu grande tamanho e
robustez. Argumentei na época - e ainda o faço - que os espécimes nã o sã o tã o
notá veis quando comparados com outros modernos, como aqueles que viveram
na Austrá lia perto do final da ú ltima Era do Gelo; portanto, o nome distinto
da subespécie idaltu provavelmente é desnecessá rio . Fundamentalmente, no
entanto, os depó sitos contendo os fó sseis Herto foram imprensados entre
camadas vulcâ nicas datadas pelo método argon-40 / argon-39 (consulte o
capítulo 2) de 154.000 e 160.000 anos; portanto, junto com o esqueleto Omo
Kibish 1 do sul da Etió pia, esses podem ser os traços definitivos mais antigos de
humanos como nó s em qualquer lugar do mundo.
Neste capítulo, vimos como as recentes descobertas abriram janelas
completamente novas sobre a evoluçã o do Homo sapiens . Eles iluminaram
nossas origens africanas há mais de 150.000 anos atrá s, nos ajudaram a mapear
a dispersã o dos modernos modernos da Á frica e da Á sia e Europa, e nos falaram
muito mais sobre nossos primos e possíveis concorrentes dos neandertais. Os
fó sseis sã o vitais para a nossa histó ria, é claro, mas o mesmo ocorre com o
registro do comportamento humano. No entanto, também exige extrapolaçã o
cuidadosa das evidências deixadas para trá s, como veremos nos pró ximos dois
capítulos.

5
Comportando-se de uma maneira moderna:
leitura da mente e símbolos

Eu costumava acreditar que os humanos há meio milhã o de anos eram muito


diferentes de nó s em seus comportamentos. Mesmo que eles estivessem fazendo
ferramentas de lixa de mã o com formas lindíssimas, provavelmente estavam
muito mais pró ximas dos macacos do que de nó s, vivendo uma vida muito bá sica
e obtendo a carne que conseguiam ao se livrar das mortes de predadores muito
melhores. Mas, ao acompanhar o progresso das escavaçõ es em Boxgrove, em
Sussex, na década de 1990, comecei a perceber que as coisas nã o eram tã o claras
e comecei a desenvolver um respeito muito maior pelas habilidades e realizaçõ es
daqueles primeiros bretõ es que viviam na extremidade do mundo habitado
500.000 anos atrá s. Lembro-me bem de uma conversa com Mark Roberts, diretor
das escavaçõ es de Boxgrove, onde especulamos sobre como o pessoal da
Boxgrove conseguiu sua carne. Eles usavam maços de mã o amendoados,
habilmente feitos de sílex, para esfolar, desarticular e cortar carcaças de cavalo,
veado e até animais formidá veis como rinocerontes. Sabemos disso porque os
ossos dos animais, cobertos por marcas de impacto e corte, estã o espalhados por
uma antiga paisagem preservada. Entã o os humanos do Boxgrove estavam
caçando ativamente caça, mesmo do tamanho de rinocerontes, ou eles já estavam
eliminando animais mortos? Bem, eles certamente estavam gastando uma
quantidade considerá vel de tempo no açougue, aparentemente recebendo toda a
nutriçã o disponível, em uma paisagem aberta potencialmente perigosa. Isso
indica que eles foram organizados o suficiente para proteger as carcaças de
animais concorrentes, como leõ es, hienas e lobos, que sabemos que também
estavam em Boxgrove.
Onde quer que os ossos tivessem marcas de corte e sinais de mastigaçã o de
carnívoros, as marcas de corte sempre eram feitas primeiro - entã o esses
humanos tinham acesso primá rio. E evidências mais diretas de caça podem vir
de um aparente orifício na ponta do ombro de um cavalo. Embora nã o sejam
preservadas lanças nas condiçõ es dos sedimentos de Boxgrove, foram
descobertas lanças de madeira de teixo e abeto em Clacton, em Essex, e em
Schö ningen, na Alemanha, datando de 300.000 a 400.000 anos atrá s. A “lança” de
Clacton é apenas uma ponta quebrada, mas as lanças alemã s têm cerca de dois
metros de comprimento e sã o lindamente feitas, e seu uso na caça parece
estabelecido pelo fato de terem sido encontrados entre vinte ou mais esqueletos
de cavalos. Os arqueó logos ainda estã o debatendo se essas lanças eram para
arremessar ou empurrar, mas, em ambos os casos, esses povos antigos eram
claramente capazes de enfrentar animais selvagens grandes e perigosos para a
pró xima refeiçã o.
Como os humanos relativamente insignificantes, embora quase certamente
mais fortes, mais aptos e mais musculosos do que as pessoas comuns hoje em
dia, tenham lidado com predadores e presas tã o perigosos? Rochas, pedras
afiadas e lanças de madeira devem ter sido parte da resposta para uma criatura
que nã o estava equipada com velocidade, grande força ou dentes ou garras
afiadas, mas cooperaçã o e astú cia eram provavelmente ainda mais
importantes. Mark Roberts me contou de uma conversa que teve com um
especialista em rinocerontes selvagens na Á frica, quando perguntou como,
armado apenas com lanças de madeira, um homem podia matar um
rinoceronte. Bem, disse o especialista, ele nunca seria tã o tolo a ponto de tentar
algo assim, mas quando Mark o pressionou ainda mais, ele disse que
se realmente tivesse que fazê-lo, ele e alguns amigos esperariam para encontrar
um rinoceronte solitá rio dormindo na sombra de uma á rvore Entã o, com as
lanças prontas, elas se arrastavam sobre o rinoceronte, apunhalavam-no
rapidamente na barriga exposta enquanto dormia e subiam apressadamente na
á rvore. Eles entã o esperariam que o rinoceronte sangrasse até a morte; caso
contrá rio, eles poderiam ficar presos na á rvore por um longo tempo!
Mas pelo menos quatro rinocerontes foram massacrados em Boxgrove, por
um período desconhecido, sugerindo que este nã o era um evento
excepcional. Em vez de uma empresa imprudente ou sortuda, parece muito mais
prová vel que isso fizesse parte do repertó rio normal do Homo
heidelbergensis . Sem dú vida, a capacidade de superar e superar a oposiçã o, de
"prever" seu prová vel comportamento e o comportamento de seus colegas
caçadores, teria sido crucial. Essa capacidade de leitura da mente, desenvolvida
pela primeira vez em nossos ancestrais primatas, agora é uma parte significativa
das características que tornaram os seres humanos, e particularmente os
humanos modernos, tã o especiais. Para alguns especialistas, isso levou a uma
capacidade aumentada de controlar pensamentos, emoçõ es e açõ es; planejar
longe no futuro; e evoluir a autoconsciência. Por meio da crescente complexidade
social, também desenvolvemos maiores poderes de imitaçã o, aprendizado social,
imaginaçã o e criatividade, cooperaçã o e altruísmo, memó ria aprimorada e
linguagem complexa.
Até agora, nesta consideraçã o das origens humanas modernas, concentrei-me
amplamente nas evidências físicas do que é ser um humano moderno - por
exemplo, características no crâ nio, mandíbulas e corpo que sobrevivem em
fó sseis - e sobre o que eles nos dizem sobre como podemos ter evoluído. Mas é
claro que muito do que consideramos humano está em nosso comportamento,
muitos aspectos dos quais sã o versõ es acentuadas do que podemos encontrar em
nossos parentes vivos mais pró ximos, os grandes símios - coisas como fabricaçã o
e uso de ferramentas, um longo período de tempo. dependência infantil e
complexidade social. Outros aspectos parecem ser bastante exclusivos para nó s
entre os primatas - coisas como ferramentas compostas, arte e simbolismo,
rituais elaborados e crenças religiosas e linguagem complexa. A diferença entre
nó s e os grandes símios pode parecer mais um vasto abismo, mas somos o ú nico
representante sobrevivente do que foram extensas experiências evolutivas em
nos tornarmos humanos, e muitas das características que consideramos ú nicas
para nó s foram compartilhadas. em maior ou menor grau, com espécies agora
extintas como o Homo erectus e os neandertais.
Certamente, existem em nossa biologia dicas estranhas que, se as
entendêssemos melhor, poderiam nos dar pistas de como os humanos se
tornaram tã o diferentes, ou pelo menos muito mais complexos socialmente, do
que nossos parentes primatas. Por exemplo, na maioria dos primatas - e
provavelmente nossos ancestrais africanos - a cobertura externa do globo ocular,
a esclera, é marrom escura. Isso significa que a pupila e a íris no centro do olho,
que se movem para focalizar o olhar, sã o difíceis de diferenciar do tecido
circundante, especialmente onde estã o escuras. Mas os humanos têm uma
esclera aumentada, nã o pigmentada e, portanto, branca, o que significa que
podemos detectar para onde outras pessoas estã o olhando; da mesma forma,
eles podem detectar para onde estamos olhando. Isso deve ter evoluído como
parte do desenvolvimento de nossa sinalizaçã o social, permitindo-nos "ler a
mente". (Essa idéia ainda tem um nome: a hipó tese do olho cooperativo!) Da
mesma forma, muitos cã es domésticos têm uma esclera branca acentuada em
comparaçã o com seus ancestrais de lobo selvagem, que talvez tenham evoluído
para aumentar a estreita relaçã o social entre cã es e humanos.
Outra característica notá vel nos seres humanos é o tamanho grande do pênis,
do qual muito foi feito quando o livro de Desmond Morris, The Naked Ape, foi
publicado em 1967. De fato, o pênis humano, quando ereto, nã o é mais do que o
dos chimpanzés e bonobos, embora todos estes tenham aproximadamente o
dobro do comprimento do pênis em machos muito maiores de orang e
gorila. Mas o pênis humano é consideravelmente mais espesso do que qualquer
outro e tem um final muito mais bulboso. Explicar como e por que essas
diferenças evoluíram levou a muita especulaçã o, desde o aprimoramento do
prazer até o deslocamento dos espermatozó ides de homens concorrentes, até o
fornecimento de uma exibiçã o sexual muito ó bvia como um sinal para mulheres
ou outros homens. A outra parte externa ó bvia dos ó rgã os reprodutores
masculinos - os testículos, contendo os testículos contendo espermatozó ides - é
menos distinta nos seres humanos, com tamanho intermediá rio entre a de
chimpanzés (muito grandes) e laranjas (pequenas) e gorilas
(minú sculos). Acredita-se que isso esteja relacionado à frequência de
acasalamento (alta em chimpanzés, baixa em gorilas) e competiçã o entre machos
pela impregnaçã o de fêmeas férteis (novamente alta em chimpanzés e baixa em
gorilas). Assim, os seres humanos caem entre os extremos, sugerindo que
acasalamos (ou, mais apropriadamente, nossos ancestrais acasalavam) com
bastante frequência, mas com apenas níveis moderados de promiscuidade em
comparaçã o com os chimpanzés.
Darwin teve que fazer uso extensivo de analogias com outros animais, porque
as evidências fó sseis e arqueoló gicas de que ele teria valorizado tanto levaram
muitos anos para florescer. Contudo, aceitando nosso parentesco pró ximo com
os grandes símios, ele reconheceu semelhanças entre o comportamento e a
inteligência deles e o nosso. Em 1871, ele escreveu:

Como o homem possui os mesmos sentidos que os animais inferiores, suas intuiçõ es fundamentais
devem ser as mesmas ... Mas o homem, talvez, tenha um pouco menos de instintos do que os
possuídos pelos animais que se aproximam dele na série. O orangotango nas ilhas orientais e o
chimpanzé na Á frica constroem plataformas nas quais dormem; e, como ambas as espécies seguem o
mesmo há bito, pode-se argumentar que isso se deve ao instinto, mas nã o podemos ter certeza de que
nã o seja o resultado de ambos os animais terem desejos semelhantes e possuírem poderes de
raciocínio semelhantes. Esses macacos, como podemos supor, evitam os muitos frutos venenosos dos
tró picos, e ... nã o podemos ter certeza de que os macacos nã o aprendem com sua pró pria experiência
ou com a de seus pais que frutos selecionar.

Darwin foi criticado por seu excessivo antropomorfismo no reconhecimento


do comportamento "humano" em outros animais, e devido à falta de dados
confiá veis sobre o comportamento dos grandes macacos - muitos deles baseados
em animais em cativeiro ou nas histó rias de exploradores - nã o é de surpreender
que ele entendia errado as vezes. Mas no geral ele foi cauteloso em suas
extrapolaçõ es. Agora sabemos muito mais sobre nossa estreita relaçã o evolutiva
com nossos parentes primatas, e nã o devemos nos surpreender ao encontrar
comportamentos compartilhados e caminhos cerebrais compartilhados por trá s
deles. Assim, macacos e macacos podem reconhecer os diferentes elementos e
expressõ es que compõ em rostos a partir de desenhos simples, em vez de
imagens precisas. O neurocientista Vilayanur Ramachandran enfatizou a
importâ ncia potencial dos neurônios-espelho em seus cérebros e nos nossos,
células nervosas que sã o acionadas quando um animal executa uma açã o e
quando um animal observa outro animal executando a mesma açã o. Acredita-se
que essa atuaçã o de açõ es no cérebro seja importante no aprendizado humano,
na interaçã o social e na empatia, dando aos primatas os elementos bá sicos da
“leitura da mente”, que, como veremos, é tã o importante em sociedades
complexas como a nossa.
Mas temos um grande problema quando nos voltamos para a reconstruçã o
das complexidades do comportamento humano passado, uma vez que o que é
deixado para trá s como evidência física na forma de ferramentas de pedra e
ossos massacrados representa apenas os produtos finais de cadeias de
pensamentos e açõ es perdidas para nó s agora, e que tentamos reconstruir por
nossa conta e risco. Certamente podemos recorrer a macacos vivos para fornecer
modelos para o comportamento humano precoce de atividades como a
fabricaçã o de ferramentas simples e a caça primitiva, mas o quanto um
chimpanzé era, digamos, o povo do Homo heidelbergensis de Boxgrove na
Inglaterra 500.000 anos atrá s, que já vivia longe de sua pá tria tropical africana,
fabricando ferramentas complexas como ceras para as mã os e adquirindo nã o
apenas pequenos mamíferos, mas também grandes jogos potencialmente
perigosos, como cavalos, veados e rinocerontes? Igualmente significativo, H.
heidelbergensis já tinha um cérebro grande, um quase tã o grande quanto o nosso
hoje. Para entender a evoluçã o desses grandes cérebros humanos, precisamos
olhar para o que eles podem ter sido usados.
Agora há evidências de que os chimpanzés na natureza têm “culturas”,
tradiçõ es compartilhadas de como se comportar - por exemplo, na coleta ou
processamento de alimentos com ferramentas - que diferem de um grupo ou
populaçã o regional para outro. Essas normas culturais sã o aprendidas à medida
que o chimpanzé cresce em seu grupo, e as chimpanzés parecem ter destaque,
tanto na passagem de tradiçõ es para as novas geraçõ es quanto no
desenvolvimento de novas. No entanto, essas culturas ainda sã o rudimentares, e
os chimpanzés estã o aparentemente muito distantes do repertó rio cultural dos
primeiros humanos da Á frica, há 2 milhõ es de anos. Permanecemos ú nicos na
medida em que modificamos o mundo em que vivemos através das coisas que
criamos. Além disso, criamos mundos imaginá rios totalmente virtuais,
compostos de pensamentos e idéias - mundos que vivem em nossas mentes,
desde histó rias e domínios espirituais até teorias e conceitos
matemá ticos. Chimpanzés possuem conceitos bá sicos de causa e efeito; por
exemplo, se arrancarem um galho de grama e o lamberem, será fino o suficiente e
pegajoso o suficiente para ser usado como sonda para capturar cupins. Mas os
humanos têm a capacidade de imaginar uma cadeia de causa e efeito muito mais
longa, de considerar vá rios resultados diferentes que podem resultar de uma
açã o ou açã o alternativa. Por meio da linguagem, podemos comunicar esses
conceitos complexos entre si, tanto os relacionados ao mundo material, como
como fazer um incêndio, quanto os relacionados aos mundos imaginados, como o
que pode acontecer conosco depois que morrermos.
Em vez disso, deveríamos recorrer a caçadores-coletores modernos em
lugares como Brasil, Austrá lia e Namíbia para nos ajudar a reconstruir como o
povo Boxgrove, ou os neandertais ou nossos ancestrais africanos viviam? Temos
que usar esses dados com cautela e sempre estar cientes das suposiçõ es e
extrapolaçõ es que fazemos, pois muito evoluiu e mudou nos milênios
intermediá rios. Entã o, como essa complexidade de comportamento, incluindo a
capacidade de criar mundos virtuais, evoluiu? Uma possibilidade é que um
aumento no consumo de carne em nossos antepassados nã o apenas tenha dado
acesso a alimentos mais concentrados, removendo restriçõ es anteriores em
cérebros grandes e energeticamente exigentes, mas também desencadeou
mudanças de comportamento de longo alcance, aumentando o poder de ler as
mentes nã o apenas de nossas presas, mas também de membros de nosso pró prio
grupo social.
A vida cotidiana das tropas primatas na natureza foi comparada aos piores
aspectos das telenovelas ou reality shows como o Big Brother : bullying e
dominaçã o pelos mais fortes, medo e abuso pelos mais fracos. No entanto, os
grupos de primatas também demonstram ternura e afeto, fortes alianças para o
bem maior e vínculos sociais que podem durar por toda a vida. Isso nos leva ao
que é chamado de Hipó tese do Cérebro Social (SBH), promovida por psicó logos e
antropó logos como Nicholas Humphrey, Robin Dunbar, Richard Byrne e Andrew
Whiten. Por essa hipó tese, nossos cérebros grandes evoluíram nã o apenas em
resposta à s necessidades humanas de coisas como habilidades de caça e caça,
fabricaçã o de ferramentas e invençã o, mas também por causa das sociedades
complexas em que vivemos. Todos os primatas têm cérebros grandes para o
tamanho do corpo em relaçã o à média dos mamíferos, particularmente os
chamados primatas superiores, os macacos e os macacos. O cérebro é muito
exigente em energia; de fato, nos humanos, as demandas do cérebro perdem
apenas para as do coraçã o. Entã o, por que, digamos, um bebê lêmure ou mato
precisa de um cérebro relativamente maior que um ouriço ou um esquilo? Um
argumento é que os ambientes florestais nos quais os primatas geralmente
vivem requerem uma inteligência mais aguçada para lidar com os problemas,
enquanto outra perspectiva tem a ver com o crescimento e desenvolvimento
mais longos encontrados nos primatas antes e depois do nascimento. No entanto,
essas explicaçõ es por si só nã o parecem suficientes, e é por isso que a SBH reuniu
um nú mero crescente de apoiadores influentes.
Vá rios estudos comparativos mostraram que o tamanho relativo do neocó rtex
do cérebro dos primatas é muito maior que o normal em mamíferos (e nos seres
humanos constitui 85% do peso total do cérebro). O neocó rtex é parte do có rtex
cerebral e é conhecido pelo mapeamento do cérebro como responsá vel por
funçõ es cognitivas de nível superior, como aprendizado, memó ria e pensamento
complexo. Isso pode parecer apoiar a idéia de que é grande porque o ambiente
em que os primatas evoluíram exige uma inteligência apurada para encontrar
comida e escapar de predadores. No entanto, parcelas do tamanho do neocó rtex
contra a complexidade ambiental parecem explicar menos o padrã o de primatas
do que parcelas contra variá veis que refletem a complexidade social, como
tamanho do grupo, nú mero de fêmeas em um grupo, frequência de alianças
sociais e quantidade de brincadeiras sociais, manipulaçã o e aprendizado. Assim,
enquanto as hipó teses ambientais tendem a supor que os animais resolvem os
problemas individualmente por meio de aprendizado por tentativa e erro, sem
depender dos grupos sociais em que vivem, a SBH propõ e que esses problemas
sejam resolvidos socialmente, com a necessidade de um neocó rtex maior para
melhorar as condiçõ es sociais. compreensã o e coesã o. Sem dú vida, na realidade,
tanto o ambiente social como o geral contribuem para gerar demandas
evolutivas, mas no caso dos seres humanos é muito difícil argumentar que as
demandas ambientais gerais têm sido tã o importantes quanto as sociais no
desenvolvimento de nossos recursos. cérebros extraordinariamente grandes.
Há evidências de que pá ssaros e mamíferos ligados a pares têm neocortices
relativamente maiores, e uma possibilidade é que em primatas superiores, e
particularmente em humanos, as habilidades sociais e de pensamento usadas em
relacionamentos ligados a pares tenham sido estendidas muitas vezes para criar
e manter relaçõ es entre indivíduos que nã o sã o parceiros em termos
reprodutivos. Assim, indivíduos do mesmo sexo ou sexo oposto podem formar
laços tã o intensos e duradouros quanto os normalmente encontrados entre
parceiros de outras espécies; em outras palavras, os seres humanos têm
parceiros além dos parceiros sexuais. Para que isso funcione com sucesso e a
longo prazo, requer a extensã o de habilidades sociais de alto nível de confiança,
empatia e sincronizaçã o de açõ es além do imediato "grupo familiar" e para a
comunidade social em geral. Esses links seriam valiosos em termos de suporte
confiá vel em tempos de dificuldade e, por meio de uma rede estendida de tais
relacionamentos que atravessam todo o grupo, todos poderiam se beneficiar de
açõ es coordenadas, compartilhamento de alimentos, proteçã o contra
predadores, etc.
Assim, muitos cientistas acreditam que nossos cérebros substanciais
evoluíram por meio da seleçã o para a vida em grandes grupos, e isso levou ao
desenvolvimento de mentes sociais profundas em primatas, com a capacidade de
"ler a mente" (observar e interpretar as açõ es de) outras pessoas no mundo.
grupo, para aprender e transmitir um comportamento “cultural” dentro do
grupo, e cooperar nã o apenas para benefício mú tuo, mas também para o
benefício de outras pessoas no grupo. A leitura da mente, ou possuindo uma
"teoria da mente" sobre si e sobre os outros, pode ocorrer em vá rios níveis e
para diversos fins sociais, por exemplo, interpretar o que o indivíduo A pensa
sobre o indivíduo B e depois se comportar para manipular o comportamento de
A em direçã o a B. (Essa "habilidade" social é à s vezes conhecida
como inteligência maquiavélica , um termo introduzido por Byrne e Whiten, em
homenagem ao filó sofo político florentino Niccolò Machiavelli.)
Mamíferos e pá ssaros parecem ter uma primeira ordem de intencionalidade,
isto é, estã o cientes de seu pró prio comportamento e de seu possível impacto nos
outros; como mencionado, parte disso pode estar relacionada à s demandas de
uma forte uniã o de pares ou de viver em rebanhos ou bandos. Mas aos quatro
anos de idade, as crianças humanas podem operar em dois níveis de
intencionalidade em suas percepçõ es sociais, ou seja, percebendo e
interpretando nã o apenas seus pró prios comportamentos, mas também os
comportamentos daqueles imediatamente ao seu redor. Assim, as crianças têm a
capacidade de reconhecer que outras pessoas podem ter as mesmas ou
diferentes percepçõ es do mundo em comparaçã o com as suas. Nesse está gio,
esse reconhecimento significa que eles podem começar a manipular ou tentar
manipular aqueles ao seu redor, sejam eles pais, irmã os, colegas ou professores
da escola maternal. Há evidências de que os chimpanzés se aproximam do
mesmo nível que as crianças de quatro anos em sua teoria da mente, mas nunca
vã o além disso, enquanto a maioria dos seres humanos se desenvolve para lidar
com vá rios níveis mais altos de intencionalidade. Robin Dunbar ilustrou esse
ponto com referência à peça Othello de Shakespeare, onde o dramaturgo teve que
lidar simultaneamente com quatro estados mentais no palco: Iago pretende que
Othello acredite que Desdêmona ama Cassio e Cassio a ama. Mas Shakespeare foi
além disso porque, para ter sucesso, ele também precisava visualizar a reaçã o da
platéia ao que estava escrevendo - e, portanto, estava trabalhando com pelo
menos uma intencionalidade de quinta ordem, exatamente nos limites da mente
humana. habilidades de leitura. Esses níveis mais altos, argumentam os
defensores do SBH, sã o exclusivos dos humanos modernos, e evoluíram através
da necessidade de nossos ancestrais mapearem as crescentes complexidades de
seus relacionamentos sociais. Isso, por sua vez, levanta a questã o de por que
essas complexidades se desenvolveram.
O SBH talvez ajude a explicar algo que diferencia a maioria dos grupos
humanos de caçadores-coletores, tanto de nossos parentes de primatas quanto
das modernas sociedades industrializadas: o igualitarismo. Os caçadores-
coletores geralmente têm pouco em termos de posses materiais, uma vez que sã o
difíceis de manter e transportar com um estilo de vida nô made, e essa igualdade
social se reflete em coisas como compartilhamento de alimentos, falta de
liderança formal e prevalência de relacionamentos monogâ micos . Este ú ltimo
contrasta com a poligamia que caracteriza primatas como babuínos e gorilas,
bem como muitas sociedades agrícolas e pastoris, onde alguns homens podem
acumular riqueza desproporcional, status e esposas. A manutençã o da igualdade
social geralmente requer esforços coordenados positivos do grupo para resistir
aos indivíduos que tentam reivindicar domínio excessivo. A coordenaçã o de
atividades se estende a grupos de mulheres que planejam buscar alimentos
vegetais, insetos e pequenos animais, e a grupos de caça, que também precisam
planejar, comunicar sobre rastros e sinais e adotar papéis específicos na captura
e processamento de presas. . Em termos da atividade vital da aquisiçã o de
alimentos, o grau de coordenaçã o que um cérebro social sofisticado pode ajudar
a produzir significa que o grupo age mais como uma má quina de coletar
alimentos do que como um host de forrageiras individuais e "egoístas", típicas de
um macaco ou de um macaco. tropa de macacos.
Mas existem limites prá ticos reais no tamanho de um grupo que pode
interagir e funcionar com sucesso em nível pessoal, e isso foi consagrado como o
número de Dunbar , apó s a pesquisa de Robin Dunbar. Nos primatas, esse pode
ser o subgrupo de uma tropa que interage regularmente por meios como o
preparo mú tuo de peles e pode atingir até sessenta. Para Dunbar, o que acaba
limitando o tamanho desses grupos em diferentes primatas é o tamanho relativo
do neocó rtex, que governa quantas relaçõ es amigá veis ou conhecidos
significativos podem ser gerenciados com sucesso a qualquer momento (embora
pesquisas recentes sugiram que as pequenas regiõ es conhecidas como a
amígdala, localizada perto da base do cérebro, também desempenha um papel
importante nos seres humanos). O nú mero de Dunbar em seres humanos
modernos parece cair entre cerca de 100 e 220 (média 148), e o nú mero
corresponde muito bem ao tamanho ideal de grandes agregaçõ es de caçadores-
coletores, aldeias tribais, assentamentos huteritas, pequenas unidades militares
e até o nú mero médio de pessoas em redes sociais efetivas na Web. Como
veremos mais adiante neste capítulo e no pró ximo, o tamanho relativamente
grande das agregaçõ es humanas teve conseqü ências em termos da necessidade
de desenvolver novos meios de comunicaçã o (simbolismo e linguagem) e da
evoluçã o de estruturas sociais mais complexas e de uma cultura totalmente
humana. .
Com nossos cérebros grandes, desenvolvidos e orientados para interagir de
maneira flexível com uma rede de pessoas em nosso grupo social, podemos
trocar informaçõ es de benefício mú tuo. Mas como somos realmente livres nessas
interaçõ es e qual a importâ ncia da nossa herança genética para determinar o que
podemos e o que nã o podemos fazer? No capítulo 7, discutirei nosso DNA e
genes, e sua importâ ncia na reconstruçã o dos processos da evoluçã o humana,
mas nã o há dú vida de que nosso DNA fornece um modelo bá sico para o nosso
comportamento. É um modelo que fornece fatores limitantes e variados no que
podemos e no que podemos fazer (por exemplo, na determinaçã o do tamanho e
forma bá sicos do cérebro, a extensã o da destreza humana, velocidade de
execuçã o, acuidade da visã o e audiçã o). Ao mesmo tempo, é ó bvio que os seres
humanos podem melhorar os elementos de desempenho por meio do
aprendizado e da prá tica, e muitos deles sã o influenciados por diferenças nos
ambientes físico e social (por exemplo, dieta, saú de, educaçã o e normas
sociais). Portanto, nosso DNA é mais como um recipiente flexível do que um
molde, na forma como determina e define limites de como nos comportamos. No
entanto, como veremos, alguns cientistas acreditam nã o apenas que a estrutura
do cérebro humano moderno é quantitativamente diferente da estrutura dos
humanos anteriores em seu tamanho e extensã o de sua massa cinzenta, mas que
as alteraçõ es genéticas ú nicas para os humanos modernos também religaram
qualitativamente nossos cérebros cerca de 50.000 anos atrá s, tornando-nos
comportamentalmente modernos em um acidente vascular cerebral. Se assim
era, apesar de seus cérebros grandes, os neandertais eram fundamentalmente
diferentes de nó s por sua falta de comportamento humano, porque seguiam uma
trajetó ria evolutiva separada. Essa mesma falta se aplicaria aos humanos
modernos que ocuparam a Á frica antes de 50.000 anos atrá s, porque viveram
antes das mutaçõ es que nos tornaram totalmente modernos.
Quanto do nosso comportamento moderno foi compartilhado por espécies
humanas anteriores? Essa é uma pergunta muito difícil de abordar, e muito
menos responder, a partir dos dados que temos. Alguns pesquisadores
produziram uma espécie de lista de verificaçã o do comportamento moderno,
que, argumenta-se, caracteriza os humanos hoje em dia e que pode ser usado
para examinar o registro arqueoló gico de quando e onde essas características
apareceram pela primeira vez. Outros trabalhadores contestariam sua utilidade,
sua universalidade e com que precisã o eles podem ser inferidos a partir dos
materiais imperfeitos que sobrevivem no solo desde os tempos antigos. Mas a
lista de comportamentos geralmente inclui: ferramentas complexas, cujos estilos
podem mudar rapidamente através do tempo e do espaço; artefatos formais
formados de osso, marfim, chifre, concha e materiais semelhantes; arte, incluindo
símbolos abstratos e figurativos; estruturas como tendas ou cabanas para viver
ou trabalhar, organizadas para diferentes atividades (como fabricaçã o de
ferramentas, preparaçã o de alimentos, sono e lareiras); transporte de longa
distâ ncia de materiais valiosos, como pedra, conchas, miçangas,
â mbar; cerimô nias ou rituais, que podem incluir arte, estruturas ou tratamento
complexo dos mortos; maior “buffering” cultural para se adaptar a ambientes
mais extremos, como desertos ou estepes frias; maior complexidade dos
procedimentos de coleta e processamento de alimentos, como o uso de redes,
armadilhas, equipamentos de pesca e culiná ria complexa; e densidades
populacionais mais altas se aproximando das dos caçadores-coletores modernos.
Nos ú ltimos quinze anos, houve algumas descobertas notá veis que enfatizam
a complexidade do comportamento humano moderno da Europa e de outros
lugares. Alguma delas pode fornecer pistas sobre o que desencadeou as
mudanças que levaram à s nossas mentes modernas e padrõ es de
comportamento? Para entender isso, precisamos abordar a importante questã o
do simbolismo, que muitas pessoas pensam ser a chave para entender o que nos
tornou diferentes de quaisquer criaturas que vieram antes de nó s. Hoje, usamos
símbolos de tantas maneiras que fazem parte de nossas vidas, um dado
adquirido, mas sem o qual dificilmente poderíamos funcionar. Eles podem ser
pictó ricos, como um desenho que, embora pequeno, preto e bidimensional, se
assemelha ao maior objeto só lido que ele representa - digamos, a imagem de um
homem-pau ou de uma mulher-pau ou de um aviã o. Ou pode ser uma palavra
escrita, que nã o se assemelha a nenhum objeto ou açã o que ela representa -
como a palavra computador . Ou talvez seja uma série de notas musicais, que só
podem se transformar em sons quando interpretadas através dos olhos, cérebro
e açõ es de um mú sico. Os símbolos podem igualmente representar sinais sociais
sobre identidade, riqueza ou status do grupo; aqui nã o me refiro apenas a maços
de notas, que sã o, é claro, apenas pedaços de papel com alguma impressã o
neles. Igualmente simbó licas sã o as modas de roupas, penteados, cosméticos,
tatuagens e colares, que sã o usadas para enviar sinais sobre o usuá rio a outras
pessoas do grupo.
Os símbolos destinam-se a transmitir mensagens e geralmente exigem que o
destinatá rio seja capaz de interpretá -las nos mesmos termos que foram
originalmente planejados, embora possam, é claro, ser igualmente usados para
excluir aqueles que nã o podem recebê-las e interpretá -las - um có digo secreto ou
um aperto de mã o ritual, por exemplo, cujo significado é conhecido apenas por
membros de um grupo privilegiado. O arqueó logo Clive Gamble, seguindo o
primatologista Lars Rodseth, enfatizou que uma das coisas mais distintas sobre
os seres humanos modernos em comparaçã o com nossos parentes primatas é a
nossa "libertaçã o da proximidade". Provavelmente, todos os seres humanos
diante de nó s, como os macacos dos quais eles evoluíram, só poderiam trabalhar
através de encontros face a face, mas com o aumento do simbolismo (e o
desenvolvimento associado da linguagem), as pessoas foram libertadas da
proximidade e puderam se comunicar através do tempo e espaço. Assim, uma
mensagem com significado social pode ser transmitida remotamente em nome
de uma pessoa ou grupo, desde que os destinatá rios possam decodificá -la nos
mesmos termos.
Cerca de vinte e cinco anos atrá s, surgiu o conceito de uma Revoluçã o
Humana de 35.000 anos. Essa revoluçã o precedeu consideravelmente, mas
coincidiu em significado, outras transformaçõ es, como a domesticaçã o de plantas
e animais, a descoberta da metalurgia e o desenvolvimento da
industrializaçã o. Essa revoluçã o parecia estar associada à chegada dos Cro-
Magnons de aparência moderna na Europa; eles haviam importado ou
desenvolvido rapidamente um pacote de comportamentos humanos modernos,
como linguagem complexa, arte e tecnologias especializadas, permitindo-lhes
substituir os neandertais comportamentalmente inferiores. Em 1987, tive a sorte
de coorganizar uma conferência influente em Cambridge que ficou conhecida
como a reuniã o da "Revoluçã o Humana", onde essa visã o realmente
decolou. Muitos criticaram o foco eurocêntrico desses debates sobre as origens
do simbolismo e da modernidade. Certamente a evidência européia do
simbolismo inicial ainda domina o registro paleolítico, nã o apenas pelo grande
nú mero de locais acessíveis que preservam as descobertas, mas também pelo
grande nú mero de arqueó logos treinados que trabalham nesses locais. Assim, a
Europa continua a nos surpreender com a riqueza de seu registro: agora vamos
ver algumas descobertas antigas e novas que ilustram isso.
Pouco antes do Natal de 1994, três espeleó logos decidiram explorar uma
pequena abertura nos penhascos de calcá rio na regiã o de Ardèche, no sul da
França. Limpando as quedas de pedras, chegaram a um poço e, descendo com
uma escada de espeleologia, entraram em uma enorme câ mara, ricamente
adornada com estalactites. Passando para outra grande câ mara, começaram a
ver ossos de animais fó sseis no chã o e, depois de algum tempo, decidiram
voltar. Por acaso, o facho de uma de suas lâ mpadas caiu sobre um pequeno ocre
vermelho, desenhando um mamute; naquele momento eles sabiam que estavam
à beira de uma grande descoberta. Eles ficaram surpresos com as galerias de
centenas de pinturas e gravuras em carvã o e ocre vermelho que eles e os pré-
histó ricos que se juntaram a eles nas pró ximas semanas deveriam descobrir na
caverna agora nomeada apó s um deles: Chauvet. Cerca de 36.000 anos atrá s,
vá rios artistas devem ter entrado profundamente na caverna com tochas
flamejantes e agachado para desenhar dois rinocerontes trancados em combate
em carvã o. Logo à esquerda, eles delinearam as cabeças de três aurochs (gado
selvagem) e, no centro, um deles pegou contornos na rocha e desenhou quatro
belas cabeças de cavalo. Cada cabeça de cavalo parece mostrar um humor ou
cará ter diferente, como se descrevesse a passagem do tempo ou alguma
narrativa interna.
No ano de 2000, seis anos apó s as descobertas em Chauvet, uma caverna
amadora encontrou outra longa série de galerias nã o muito longe das famosas
cavernas pintadas de Lascaux, e desta vez o local foi dominado por gravuras de
bisõ es, cavalos, rinocerontes, mamutes, e veado, com algumas figuras
humanas. Este site em Cussac pode ser 10.000 anos mais novo que Chauvet (o
trabalho de namoro está em andamento), mas sua importâ ncia é aumentada pela
descoberta, abaixo de algumas paredes decoradas, de sete enterros humanos,
escondidos em “ninhos adormecidos” feitos no chã o de a caverna por ursos.
A arte de Chauvet e Cussac espelha a descoberta muito anterior, que, diante
de uma tremenda oposiçã o do estabelecimento arqueoló gico da época,
finalmente provou que as pinturas em cavernas eram realmente obra de
"selvagens da Idade da Pedra", como eram entã o denominadas. Em 1879, o
nobre espanhol e pré-histó rico amador Marcelino Sanz de Sautuola e sua filha de
nove anos, Maria, subiram para investigar a pequena abertura de uma caverna
nas colinas de Altamira, perto de Santander, no norte da Espanha. Depois de
entrar, de Sautuola decidiu realizar uma pequena escavaçã o; Maria, entediada,
saiu com uma lâ mpada para explorar. Momentos depois, ela gritou para ele:
"Papai, olhe, bois!" Provavelmente, ela foi a primeira humana a encarar as belas
galerias pintadas da caverna Altamira por 13.000 anos, mas para De Sautuola
esse encontro foi levar a um pesadelo de desprezo e rejeiçã o, enquanto tentava
obter os resultados de sua pesquisa em a caverna aceitou como evidência de que
a arte era de fato paleolítica e nã o forjada recentemente. Infelizmente, ele
morreu em 1888, catorze anos antes de seus argumentos serem finalmente
justificados.
Uma vez que arte rupestre como essa de Altamira foi aceita como obra dos
antigos Cro-Magnons, logo se seguiu um sério debate sobre seu significado. A
arte consistia principalmente em representaçõ es de animais da Era do Gelo,
dominados por bisontes, cavalos, auroch (como é visto pela jovem Maria) e
veados, mas também havia representaçõ es mais raras e menos elaboradas de
pessoas, além de desenhos padronizados ou abstratos. . As primeiras explicaçõ es
para a arte variaram de “arte por arte”, adoraçã o a animais e magia de caça. Mais
tarde, teorias mais elaboradas sugeriram que os componentes da arte eram
modelados como um có digo e simbolizavam coisas como masculinidade,
feminilidade, conflito e morte.
Voltando ao tempo de cavernas decoradas como Chauvet e Cussac, mas mais
ao norte no que é hoje a Alemanha, alguém esculpiu um objeto extraordiná rio em
um dos materiais mais recalcitrantes: uma presa de mamute. O objeto, com cerca
de seis centímetros de comprimento e três centímetros de profundidade e
largura, é uma estatueta de uma mulher de ombros largos e proporçõ es
generosas - mas que nã o tem a cabeça completamente. A cabeça nã o está
faltando por causa de danos; nunca esteve lá e, fora do centro de onde estaria o
pescoço, o entalhador fez um anel de marfim do qual devia ter sido suspenso
como um amuleto. Por causa de seus seios grandes e vulva claramente marcada,
a estatueta foi chamada de pornográ fica, mas me parece muito mais sobre
fertilidade, com sua barriga e seios proeminentes talvez inchados com leite, do
que sexo puro. A caverna de Hohle Fels é uma das quatro em uma regiã o perto do
Danú bio que já produziu mais de vinte estatuetas de marfim de cavalo, mamute,
leã o, bisonte e pá ssaro, além de duas estatuetas, uma minú scula e outra com
cerca de trinta centímetros de comprimento, representando corpos humanos
masculinos com uma cabeça de leã o. Existem também centenas de contas de
marfim, que devem ter sido amarradas como pingentes, colares ou
pulseiras. Todas as manufaturas há beis necessá rias e provavelmente datam de
35.000 a 40.000 anos.
Três dos locais alemã es também produziram os instrumentos musicais mais
antigos conhecidos: quatro flautas feitas dos ossos perfurados das asas de cisnes
e abutres e quatro fabricadas com segmentos cuidadosamente reformados de
mamute marfim. O mais completo teria originalmente trinta e quatro
centímetros de comprimento e era feito do raio de um enorme abutre-grifo, no
qual cinco orifícios para os dedos haviam sido entalhados com ferramentas de
pedra. No final da peça, o criador também gravou dois entalhes profundos, nos
quais o mú sico teria soprado. Essa flauta foi encontrada a apenas setenta
centímetros da surpreendente estatueta de marfim descrita anteriormente,
embora nã o seja possível pelos sedimentos das cavernas saber quã o
intimamente eles estavam associados na vida das pessoas que os criaram e
usaram; eles poderiam ter sido exatamente contemporâ neos ou séculos
separados. Ainda mais impressionantes em termos de habilidades de fabricaçã o
sã o os pequenos fragmentos sobreviventes de flautas feitas de marfim, onde a
forma curvada das presas de mamute tinha que ser trabalhada em segmentos
longos e retos, que eram perfurados com furos e depois montados precisamente
com ar estanque. selos. Uma réplica moderna de uma das flautas de osso de
pá ssaro com apenas três orifícios mostra que ele poderia produzir quatro notas e
mais três tons harmô nicos, de modo que parece que todos esses instrumentos
teriam o alcance de equivalentes modernos, embora entre eles teria diferido no
tom.
Essas flautas habilmente feitas nã o sã o apenas os instrumentos musicais
conhecidos mais antigos do mundo, mas elas e a estatueta feminina também
datam desde o início da ocupaçã o aurignaciana nessas cavernas alemã s, o que
implica que essas tradiçõ es devem voltar ainda mais no tempo, na Europa ou na
Europa. em uma pá tria ainda mais antiga. Parece haver pouca dú vida de que eles
e as pinturas em locais como Chauvet sã o obra dos humanos modernos, embora
os neandertais ainda devam ter sobrevivido em algumas partes da Europa no
momento. Houve muito debate sobre o quã o modernos os aurignacianos
realmente eram em seu comportamento, com alguns especialistas duvidando das
grandes idades atribuídas à arte de Chauvet e das estatuetas de marfim da
Alemanha. Outros até especularam que poderia ser obra dos neandertais ou de
uma populaçã o híbrida, citando reivindicaçõ es por uma flauta ainda mais antiga
em uma caverna dos neandertais chamada Divje Babe, na Eslovênia. Lá , datado
de talvez 50.000 anos atrá s, um fêmur de urso-das-cavernas foi descoberto com
dois buracos transparentes e possíveis sinais de outros dois buracos, onde foi
quebrado em cada extremidade. No entanto, três estudos separados mostraram
que o osso era roído por carnívoros em cada extremidade, e argumentou-se que
os buracos nã o demonstravam mã o de obra humana e eram mais prová veis de
terem sido perfuraçõ es do dente canino de um mamífero grande, como uma
caverna urso ou lobo. Os argumentos continuam sobre esse objeto, mas até que
novas descobertas confirmató rias sejam feitas nos locais de ocupaçã o dos
neandertais, acho que ainda nã o temos evidências de que os neandertais fizeram
mú sica - embora algumas reconstruçõ es de seu trato vocal sugeram que elas
podem ter sido boas, se bem agudas. cantores!

Objetos da Caverna Hohle Fels, Alemanha: ( canto superior esquerdo ) “Lion Man”; flauta ( canto
superior direito  ); ( canto inferior esquerdo ) a surpreendente "Vênus sem cabeça"; ( canto inferior
direito ) aves aquá ticas.

Hoje em dia, a mú sica na forma de cantar e bater palmas parece ser universal
entre os seres humanos, mesmo que os instrumentos que o acompanham sejam
tã o simples quanto tambores, chocalhos ou baquetas de tronco de
á rvore. Em The Descent of Man , Darwin ficou intrigado com essa universalidade,
dizendo: “Como nem o prazer nem a capacidade de produzir notas musicais sã o
faculdades de menor utilidade para o homem em referência aos seus há bitos
diá rios de vida, eles devem ser classificados entre os mais misterioso com o qual
ele é dotado. ” Para alguns cientistas, a mú sica é apenas um subproduto de nossa
capacidade de linguagem e nossa capacidade de reconhecer padrõ es mesmo em
sons como vento uivante, á gua corrente ou canto humano. Para outros, apesar
das opiniõ es negativas de Darwin sobre sua utilidade, a mú sica está intimamente
ligada à evoluçã o da linguagem e das sociedades humanas modernas complexas,
onde teria desempenhado um papel crítico na consolidaçã o de relaçõ es sociais e
em rituais e cerimô nias de grupo. Ao transmitir significado, a mú sica como forma
de comunicaçã o teria entã o formado uma parte importante da revoluçã o
simbó lica. Sua importâ ncia para os seres humanos parece ser confirmada pela
neuroimagem do cérebro humano, onde sã o ativadas á reas importantes em
linguagem, memó ria e emoçã o e liberadas endorfinas - hormô nios do bem-estar
-.

Escavaçõ es em depó sitos fora da caverna Vogelherd, na Alemanha, que produziram vá rias figuras
aurignacianas.

Para muitos pesquisadores no século passado, as evidências surpreendentes


da complexidade do comportamento de Cro-Magnon na Europa pareciam se
materializar do nada - nã o havia antecedentes em nenhum outro lugar. Mesmo
no final dos anos 80 e 90, muitas pessoas, inclusive eu, consideraram seriamente
a idéia de que poderia haver uma origem repentina do conjunto de recursos
modernos, tanto físicos quanto comportamentais, mas nã o estava claro se eles
coincidiram ou foram separados no tempo por tanto quanto 100.000 anos. À
medida que continuavam a surgir dados na Á frica de que os humanos modernos
realmente haviam se originado ali, para muitos arqueó logos o conceito de
Revoluçã o Humana também se mudou para lá , e o tempo da revoluçã o foi adiado
com novas datas para o início da Idade da Pedra Mais Africana, cerca de 45.000
anos atrá s. Essa é uma visã o minoritá ria agora, embora adotada pelo arqueó logo
Richard Klein. Na sua opiniã o, cerca de 50.000 anos atrá s, havia mutaçõ es nos
humanos modernos africanos que aprimoravam as funçõ es cerebrais,
produzindo alteraçõ es na cogniçã o ou na linguagem. Por sua vez, essas
mudanças teriam gerado novas oportunidades para outras mudanças ou
inovaçõ es comportamentais, o que teria catalisado o surgimento do padrã o
totalmente moderno por meio de efeitos de feedback, eventualmente se
estabelecendo no padrã o que hoje reconhecemos como modernidade
comportamental. Essa reformulaçã o levou à expansã o bem-sucedida dos
humanos modernos e ao comportamento agora moderno além da Á frica, e à
substituiçã o das populaçõ es arcaicas remanescentes, como os
Neandertais. Assim, a evoluçã o morfoló gica e a evoluçã o comportamental foram
dissociadas, uma vez que a modernidade morfoló gica evoluiu antes da
modernidade comportamental.
Esse padrã o é contra-intuitivo para as pessoas que defendem a ideia de que
mudanças comportamentais estã o por trá s da transformaçã o do padrã o
esquelético arcaico no dos humanos modernos, onde o uso de ferramentas cada
vez mais sofisticadas removeu a necessidade de manter os corpos robustos de
nossos ancestrais. Se assim fosse, as mudanças comportamentais deveriam ter
precedido as físicas, e nã o o contrá rio, uma vez que estavam conduzindo o
processo da evoluçã o humana moderna. No entanto, a visã o de Klein baseia-se
no fato de que, apesar de sua "modernidade" morfoló gica, amostras de fó sseis de
100.000 anos de idade, de locais como Klasies River Mouth na Á frica e Skhul ou
Qafzeh em Israel estã o associadas a artefatos do Paleolítico Médio, de vá rias
maneiras. compará vel com os feitos pelos neandertais. E, de acordo com Klein,
eles aparentemente careciam de muitos outros aspectos do comportamento
"moderno", embora, como veremos, esse ponto de vista esteja cada vez mais sob
ataque. Klein argumenta que, apó s cerca de 50.000 anos atrá s, a morfologia
humana moderna parou de evoluir, enquanto as mudanças culturais se
aceleraram rapidamente, mesmo exponencialmente, a partir desse ponto.
O tamanho do cérebro alcançou níveis essencialmente modernos há pelo
menos 200.000 anos e era realmente maior nos primeiros humanos modernos e
nos ú ltimos neandertais do que a média de hoje (embora seja necessá rio lembrar
que seus corpos também eram um pouco mais pesados e mais
musculosos). Assim, Klein argumenta que as mudanças cerebrais que ocorreram
há cerca de 50.000 anos atrá s devem ter sido de organizaçã o, nã o de tamanho -
algo que dificilmente captaremos das evidências fó sseis. No entanto, o trabalho
em andamento sobre o DNA humano moderno e o neandertal pode,
eventualmente, ser capaz de comparar elementos da funçã o cerebral nessas duas
espécies, embora seja imprová vel que tenhamos DNA suficientemente
preservado de nossos ancestrais africanos para esses estudos.
Uma posiçã o de "revoluçã o" mais gradual agora é mantida por uma das
pessoas que estava na vanguarda dos debates que tivemos em Cambridge em
1987: meu co-organizador da conferência Paul Mellars. Ele argumenta por um
período de mudança acelerada na Á frica entre cerca de 60.000 e 80.000 anos
atrá s, como demonstrado pelos seguintes desenvolvimentos registrados nos
locais das cavernas da Á frica do Sul: técnicas novas e melhor controladas para
produzir longos e finos flocos de lâ minas de pedra; ferramentas especializadas
chamadas raspadores e buracos finais, que provavelmente foram usados para
trabalhar peles e ossos; a produçã o de pequenos segmentos de pedra que devem
ter sido montados em cabos de madeira ou osso para fazer ferramentas
compostas; ferramentas de pedra de formato complexo, como "pontos de
folhas"; ferramentas ó sseas relativamente complexas; conchas marinhas
perfuradas para fazer colares ou pulseiras; ocre vermelho (ó xido de ferro
natural) gravado com desenhos geométricos sugerindo obras de arte
iniciais; maior permanência e á reas diferenciadas de ocupaçã o em
cavernas; novas prá ticas de subsistência, como a exploraçã o de peixes marinhos
e mariscos; e talvez queima intencional de vegetaçã o rasteira para incentivar o
crescimento de recursos vegetais subterrâ neos, como tubérculos. Mellars sugere
que uma mudança neuroló gica para a modernidade no cérebro, juntamente com
as rá pidas flutuaçõ es climá ticas, poderiam ter sido as forças motrizes por trá s
desse período de maiores inovaçõ es culturais, das quais a erupçã o de Toba, de
cerca de 73.000 anos atrá s, poderia ter sido parte.
O conceito de Revoluçã o Humana na chegada da modernidade
comportamental nos ú ltimos 50.000 anos, conforme argumentado por Klein, ou
entre 60.000 e 80.000 anos, conforme argumentado por Mellars, foi fortemente
desafiado por arqueó logos como Sally McBrearty e Alison Brooks, que
consideram que tais visõ es exibem um viés eurocêntrico, mesmo que o modelo
original da Revoluçã o Humana tenha sido transferido para a Á frica. Isso ocorre
porque, ao focarmos nas mudanças que ocorreram nas transiçõ es do Paleolítico
Médio / Paleolítico Superior ou Idade da Pedra Média / Idade da Pedra Posterior
(na Europa e na Á frica, respectivamente), houve uma falha em apreciar a
profundidade e a amplitude da Idade da Pedra Média Africana registro que
precedeu o tempo da suposta revoluçã o em pelo menos 100.000 anos. Na visã o
deles, recursos "modernos", como tecnologias avançadas, maior alcance
geográ fico, caça especializada, pesca e pesca de conchas, comércio de longa
distâ ncia e o uso simbó lico de pigmentos já haviam se desenvolvido em uma
ampla gama de indú strias da Idade Média da Pedra em toda a Á frica entre
100.000 e 250.000 anos atrá s. Isso sugeriu a eles que uma montagem inicial do
pacote de comportamentos humanos modernos ocorreu na Á frica, seguida por
muito mais tarde exportaçã o para o resto do mundo.
Assim, a origem de nossa espécie, tanto comportamental quanto
morfologicamente, estava ligada aos desenvolvimentos iniciais da tecnologia da
Idade da Pedra Média, e nã o à s mudanças que ocorreram muito mais tarde, no
final da Idade da Pedra Média. McBrearty e Brooks também apontaram que, ao
colocar as mudanças mais importantes pró ximas ao tempo do êxodo dos
humanos modernos da Á frica, pode haver uma inferência de que essas mudanças
foram necessá rias para permitir que os humanos saiam da Á frica e prosperem
além dela, implicando ainda que aqueles que foram deixados para trá s na Á frica
estavam em uma espécie de remanso cultural. E quanto a todo o conceito de
“revoluçã o”, McBrearty disse que “essa busca por esse 'momento eureka' revela
muito sobre as necessidades, desejos e aspiraçõ es dos arqueó logos, mas
obscurece, ao invés de ilumina eventos no passado. Ele continua a colocar a
Europa no centro do palco, definindo-a como a arena onde os eventos reais das
origens humanas foram encenadas ou como a medida pela qual as realizaçõ es
humanas em outros lugares devem ser medidas. ”
Precisamos encontrar a evidência mais antiga de comportamento simbó lico
no registro arqueoló gico - um fator-chave na resoluçã o desse debate - e se ele já
se estendeu para além de nossa espécie. Isso nos leva à questã o crítica de como
reconhecer o simbolismo, quando nã o podemos ler a intencionalidade das
pessoas no passado distante. Recebo regularmente correspondências, fotos e e-
mails de pessoas que estã o convencidas de que as pedras que descobriram foram
moldadas por seres humanos antigos em representaçõ es de animais ou rostos de
seres humanos, e ainda sã o quase certamente objetos naturais, moldados pela
geologia e nã o por um pré-moderno. Espécie humana. Nossos cérebros e olhos
evoluíram para reconhecer padrõ es; portanto, uma pedra com duas ranhuras
redondas e uma reta pode parecer um rosto para nó s, mesmo que os buracos
sejam totalmente naturais e a pedra provenha de depó sitos com milhõ es de
anos. Algumas pessoas consideram que os pentes de mã o com um milhã o de
anos sã o objetos simbó licos, pois geralmente sã o modelados para parecer
simétricos e parecem projetados demais para sua funçã o, se isso fosse
principalmente para abater carcaças de animais; assim, eles podem ter tido um
objetivo social e também funcional. Um famoso paleoantropó logo teria dito ao
arqueó logo Desmond Clark que as mã os eram tã o sofisticadas que indicavam que
o Homo erectus devia ter linguagem. Mas Clark, observando que os maços de mã o
dificilmente mudaram de forma ao longo de um milhã o de anos do Paleolítico
Inferior (Baixa Idade da Pedra Antiga) e em três continentes, respondeu que, se
fosse assim, esses povos antigos diziam a mesma coisa um ao outro.
repetidamente!
À medida que avançamos no tempo para cerca de 300.000 anos atrá s ,
começam a aparecer as tecnologias mais complexas associadas ao Paleolítico
Médio, criadas pelos neandertais e pela linhagem do Homo sapiens na
Á frica. Técnicas que exigiram etapas mais distintas na fabricaçã o de ferramentas
se espalharam por toda a Á frica e Eurá sia ocidental, e as primeiras ferramentas
verdadeiramente compostas apareceram. Mesmo antes disso, as lanças de
Schö ningen mostraram um pré-planejamento humano antigo que deve ter
acontecido em vá rias etapas ao longo de mais de um dia, e há 260.000 anos atrá s,
os primeiros humanos de Twin Rivers (Zâ mbia) aparentemente estavam
fabricando segmentos de pedra e pontos projetados para serem montados em
cabos de madeira. Eles também deixaram para trá s pedaços de pigmentos
naturais em vá rias cores, alguns derivados localmente e outros coletados à
distâ ncia. A hematita (ó xido de ferro vermelho) poderia ter tido usos funcionais
e simbó licos, como o tratamento de peles de animais, como parte de adesivos
para ferramentas compostas e até como repelente de insetos. Mas é possível,
embora nã o seja suportado por outras evidências, que os pigmentos estivessem
sendo usados para pintura corporal nesta data inicial, antes que haja qualquer
evidência fó ssil dos humanos modernos. Isso poderia ter sido simbó lico, ou
talvez, nesta fase, fosse apenas para aumentar o impacto visual do corpo como
uma exibiçã o, como discuto no capítulo 8.
Cerca de sessenta pedaços de hematita foram escavados por Curtis Marean e
seus colegas da caverna PP13B, na costa sul da Á frica do Sul em Pinnacle Point,
datada de cerca de 160.000 anos atrá s - dentro do intervalo de tempo dos
primeiros fó sseis modernos do outro lado do continente , em Herto e Omo
Kibish, na Etió pia. Os pigmentos foram encontrados juntamente com possíveis
evidências de ferramentas compostas e indicaçõ es da exploraçã o de recursos
marinhos na forma de mariscos - os primeiros definitivamente
conhecidos. Novamente, existe a possibilidade de a hematita ter um objetivo
funcional e nã o simbó lico, mas a seleçã o consistente dos tintos mais brilhantes
sugere que seu uso era simbó lico. Evidências ainda mais fortes de
comportamento simbó lico vêm de locais posteriores, com evidências definidas
de seres humanos modernos. Em cerca de 115.000 anos, a Caverna Skhul, em
Israel, tem o mais antigo enterro simbó lico conhecido, um homem moderno cedo
enterrado apertando a mandíbula inferior de um javali maciço, e este site
também possui algumas das evidências mais antigas de contas de conchas, além
de outras características naturais. pigmentos, incluindo aqueles que foram
aquecidos para mudar sua cor ou suas propriedades químicas. A ocupaçã o de
100.000 anos da Caverna Qafzeh, perto de Nazaré, também perfurou conchas e
ocres vermelhos, potencialmente associados a vá rios enterros humanos
modernos, um dos quais era uma criança cujo corpo estava coberto por enormes
chifres de veado. Os enterros mais antigos, humanos modernos e neandertais,
parecem ter sido geralmente de indivíduos solteiros, embora uma mulher e uma
criança possam ter sido enterradas juntas em Qafzeh, enquanto há
reivindicaçõ es de um cemitério da família neandertal na caverna La Ferrassie, na
França.
O local mais impressionante para evidências precoces de simbolismo, no
entanto, é a Caverna Blombos, na Á frica do Sul, com um recorde que se estende
muito além de 70.000 anos atrá s. Blombos é uma caverna relativamente pequena
em penhascos de arenito na costa sul da Á frica do Sul, descoberta pelo
arqueó logo Chris Henshilwood na terra de sua família e escavada por ele nos
ú ltimos vinte anos. Embora muitos tenham duvidado inicialmente das evidências
do site e das reivindicaçõ es por sua grande antiguidade, a maioria dos
especialistas reconhece seu significado agora. Além de uma estratigrafia clara,
quatro métodos de dataçã o, incluindo a luminescência aplicada a grã os de
quartzo e ferramentas de pedra aquecida, foram empregados para tornar este
um dos locais mais antigos da Idade Média da Pedra na Á frica. As ferramentas de
pedra nesses níveis incluem pontos de Still Bay, pontos de lança lanceolados
finos e lindamente modelados, lascados nos dois lados. Eles também mostram a
aplicaçã o mais antiga de uma técnica refinada de fabricaçã o de ferramentas em
pedra, conhecida como descamação por pressão , cerca de 55.000 anos antes de
sua manifestaçã o mais conhecida na indú stria solutreana da Europa. Lajes de
ocre vermelho foram escavadas em vá rios níveis, incluindo os mais profundos,
com padrõ es ondulados, em leque ou em forma de malha cuidadosamente
gravados neles, e os padrõ es parecem mais intencionais do que acidentais ou
aleató rios. Embora as cores ocres tenham desbotado um pouco depois de longos
períodos de enterro nos sedimentos das cavernas, as experiências mostram que
as linhas gravadas teriam originalmente uma cor vermelha vívida. Nã o se sabe se
isso fez parte de sua importâ ncia simbó lica para o povo da caverna de Blombos,
mas o arqueó logo cognitivo David Lewis-Williams comparou os padrõ es com os
feitos pelas pessoas hoje em estado de transe ou sob a influência de drogas
alucinogênicas.
Ao lado das ferramentas e do ocre, havia objetos que sã o mais fá ceis de
interpretar em termos de significado simbó lico nã o prá tico: contas feitas de
conchas do mar ( Nassarius ). Centenas foram escavadas em Blombos, e a
maioria mostra sinais de perfuraçã o, com muitos dos furos também exibindo
sinais de desgaste, onde devem ter sido suspensos por uma corda ou fio
dental. As conchas têm um brilho natural brilhante, mas a cor parece ter sido
modificada esfregando com hematita em alguns casos e aquecendo para
escurecer as conchas em outros casos, para que possam ter sido amarradas em
padrõ es de cores diferentes.
O uso de conchas de carrapatos era aparentemente generalizado em toda a
extensã o geográ fica dos seres humanos modernos, a uma distâ ncia de mais de
5.000 quilô metros. Mencionei anteriormente as esferas de Skhul e Qafzeh em
Israel, e há pelo menos cinco locais no Marrocos e na Argélia onde as esferas de
carraças estã o presentes nos níveis do Paleolítico Médio, em vá rios casos
datados por séries de luminescência ou urâ nio entre 80.000 e 100.000
anos . Uma espécie diferente de Nassarius está presente nas costas do
Mediterrâ neo, mas pode ser significativo que esse mesmo gênero tenha sido
selecionado para fazer as contas e, em alguns casos, as conchas foram
transportadas ou trocadas por distâ ncias de 190 quilô metros da costa. Essa
tradiçã o de usar cascas de carrapato aparentemente continuou no Paleolítico
Superior em locais no Líbano, na Turquia e no sul da Europa, mas há mudanças
no estilo e nos materiais utilizados, que podem refletir como eles estavam sendo
empregados socialmente.
Uma vista exterior da caverna de Blombos, Á frica do Sul.

Vista para o mar da caverna de Blombos.

Como sugeriram os arqueó logos Francesco d'Errico e Marian Vanhaeran, nos


primeiros períodos com conchas de carrapatos e depois contas de casca de ovo
de avestruz, algo atraente, mas prontamente disponível - e fabricado sem um
grande investimento de tempo e habilidade - estava sendo empregado. Embora
existam evidências de que algumas conchas foram tratadas com ocre vermelho e
outras foram aquecidas para escurecê-las, talvez para criar cordas de cores
diferentes, a perfuraçã o em muitas contas de conchas foi apenas perfurada com
uma ferramenta de pedra ou estava presente naturalmente desde quando eram
coletados na praia. Isso sugere que as contas tiveram um papel primordial no
reforço das redes sociais como itens de troca dentro dos grupos, talvez nas
cerimô nias de presentes, sem grandes diferenças no status social.
Mas há 40.000 anos atrá s, na Idade da Pedra Mais Tarde da Á frica e no
Paleolítico Superior da Eurá sia ocidental, tipos distintos de contas feitas de
materiais mais raros começaram a proliferar, e muitas vezes exigiam muito mais
tempo para serem fabricadas. Por exemplo, como mostrou o arqueó logo Randall
White, cada cordã o de marfim aurignaciano levaria horas para ser fabricado, e as
habilidades necessá rias provavelmente nã o eram comuns no grupo, sugerindo
artesã os especializados. No caso de contas de â mbar, linhito, fó sseis ou
madrepérola, esses itens seriam raros, comercializados ou transportados por
longas distâ ncias pela Europa. Mesmo quando dentes de animais perfurados
eram usados como pingentes ou como mercadorias graves, eram preferidos
carnívoros mais raros do que as espécies comuns de herbívoros usados para
alimentaçã o, e o valor da raridade à s vezes se estendia ao uso de dentes
humanos como pingentes - fossem de membros do grupo ou retirado dos
inimigos como troféus é desconhecido. Nessa época, muitos estilos e tipos
diferentes de contas estavam em uso, mesmo em regiõ es adjacentes, sugerindo
que as contas agora serviam para refletir status diferencial dentro dos grupos
(especializaçã o de papéis / riqueza / poder) e identidade e solidariedade do
grupo em comparaçã o com outros grupos. Durante o Aurignaciano, esses outros
grupos poderiam até incluir neandertais, e há evidências controversas de que os
pró prios neandertais desenvolveram o uso de pendentes e contas, talvez por
suas pró prias razõ es sociais ou por causa do impacto dos humanos modernos,
como discutirei no pró ximo capítulo. .
Para os humanos modernos, se nã o também os neandertais, parece prová vel
que pigmentos, miçangas, arte e mú sica fizessem parte da sinalizaçã o usada
durante os rituais paleolíticos. Rituais de algum tipo estã o presentes em todas as
sociedades humanas conhecidas hoje em dia e geralmente consistem em uma
sequência estilizada de eventos governados por regras estritas, onde a atividade
em questã o é o foco de atençã o do grupo, se estamos falando de um ritual de
circuncisã o, um ritual de iniciaçã o, um casamento, uma comunhã o sagrada, uma
cerimô nia de premiaçã o ou um funeral. Rituais simples, instintivos ou
aprendidos, sã o difundidos no reino animal, geralmente para aliviar a tensã o ou
incentivar o vínculo social, seja de babuínos masculinos e gentilmente
acariciando o escroto um do outro como sinal de amizade e confiança, ou um
chimpanzé derrotado fazendo barulhos submissos. e estendendo a mã o para o
vencedor (se o gesto for aceito, o chimpanzé dominante abraçará e beijará o
suplicante, em vez de morder a mã o estendida). Assim, os humanos herdaram
uma base ritual de seus ancestrais primatas, e os rituais sã o tã o difundidos em
nossa espécie que podemos assumir que eles continuaram a se desenvolver por
importantes razõ es sociais. Eles marcam eventos significativos na vida dos
indivíduos e do grupo e, à medida que os grupos se tornam cada vez maiores,
devem ter auxiliado a comunicaçã o simbó lica e a ligaçã o em assembléias
maiores, bem como em subgrupos selecionados. A fim de maximizar o impacto e
imprimir o evento na memó ria de todos os envolvidos, os rituais humanos
parecem ter se tornado cada vez mais complexos e à s vezes até arriscados para
os participantes, envolvendo privaçã o, perigo e medo.
Algumas das maravilhosas ferramentas de Still Bay da caverna Blombos.

A mais famosa placa ocre gravada da Caverna Blombos.

Ferramentas ó sseas da Idade da Pedra, com 75.000 anos de idade, da caverna Blombos.

Marque conchas que foram amarradas como jó ias da Caverna Blombos.

Uma das idéias mais recentes para interpretar a arte das cavernas da Europa
da Era do Gelo combina dados da psicologia evolutiva e neuropsicologia com as
evidências do xamanismo nos caçadores-coletores contemporâ neos. A
palavra xamã deriva da língua tungo da Sibéria, e esses indivíduos
(popularmente chamados doutores da bruxa ) possuem poderes especiais,
dando-lhes acesso ao mundo espiritual através de estados alterados de
consciência. Esses estados alterados podem ser gerados por plantas
alucinó genas (por exemplo, no Shoshone de Wyoming) ou por transes induzidos
por dor, privaçã o ou (no San da Á frica Austral) cantos e danças rítmicos
repetitivos. Uma vez no mundo espiritual, os xamã s costumam sentir que podem
voar ou viajar no subsolo ou através da á gua, e podem encontrar animais
normais ou míticos, paisagens estranhas, ancestrais ou deuses. Eles podem entã o
transmitir mensagens do mundo espiritual, prever o futuro ou curar os
doentes. Por meio de seus poderes percebidos, os xamã s geralmente
desempenham papéis cruciais nos ritos de iniciaçã o e nas cerimô nias religiosas.
David Lewis-Williams argumentou que as cavernas profundas da Europa
eram lugares especiais onde os xamã s Cro-Magnon podiam interagir com o
mundo espiritual, onde as paredes da caverna agiam como membranas e a forma
de rochas e fendas indicava a presença de animais espirituais ou portais entre os
mundos normal e espiritual. A arte era, portanto, uma expressã o de consciência
alterada, algumas vezes experimentada por grupos e outras por xamã s
solitá rios. Assim como os xamã s sã o membros cruciais das sociedades atuais de
caçadores-coletores, eles e sua produçã o artística teriam servido para
representar e até moldar os sistemas sociais e religiosos dos Cro-Magnons. Para
Lewis-Williams, suas imagens artísticas refletiam os conflitos e hierarquias que
estavam surgindo nas sociedades humanas pela primeira vez. Ele argumentou
que as raízes dessa arte residem no fato de que o Homo sapiens pode ser a ú nica
espécie a lembrar de seus sonhos (ele sugere que os neandertais provavelmente
nã o conseguiam) e, na Europa, a presença dos ú ltimos neandertais talvez tenha
desencadeado a arte das cavernas como um expressã o da distinçã o e identidade
de Cro-Magnon. Segundo Lewis-Williams, muito depois que os ú ltimos
neandertais se foram, a arte continuou como um sistema religioso
profundamente arraigado, que refletia as sociedades Cro-Magnon das quais se
tornara uma parte vital. Certamente, se elas estavam ligadas a crenças religiosas
específicas, a longevidade de 25.000 anos das tradiçõ es da pintura em cavernas e
a produçã o de estatuetas coloca qualquer sistema de crenças recente que
possamos datar de forma confiá vel à sombra.
Assim, é prová vel que algumas das cavernas decoradas da Europa tenham
sido usadas para cerimô nias de iniciaçã o. Talvez os jovens estivessem famintos
ou drogados e depois percorressem longas distâ ncias através de uma caverna
escura, para serem repentinamente confrontados com imagens poderosas sob
tocha ou lâ mpada. A experiência poderia ter sido reforçada pelo
acompanhamento esmagador de cantar, incenso e percussã o; há evidências de
que algumas câ maras decoradas de cavernas na França e na Espanha foram
escolhidas por seu potencial acú stico e artístico. A presença ainda mais antiga de
enterros humanos modernos simbó licos, 100.000 anos atrá s, implica que os
rituais de sepultamento já haviam se desenvolvido até entã o e, como vimos, é
possível que os crâ nios de Herto, com 160.000 anos de idade, tenham sido
curados, com o crâ nio da criança modelado e usado como um copo para beber
durante as cerimô nias.
Tudo isso indica que os rituais continuaram a evoluir porque aumentaram o
bem-estar e a sobrevivência de indivíduos e grupos. Ao acumular as memó rias
desses indivíduos e as bandas à s quais eles pertenciam, “memó rias de grupo”
também poderiam se desenvolver, armazenando informaçõ es compartilhadas
sobre a tribo e sua histó ria. Estudos de varredura cerebral mostraram que á reas
preocupadas com a memó ria de trabalho (memó rias nã o de fatos e dados, mas
de açõ es e comportamentos) e com inibiçã o comportamental sã o ativadas
durante os rituais, e a crescente importâ ncia dos rituais para os seres humanos
modernos provavelmente serviu para reforçar e aprimorar o trabalho. memó ria,
foco mental e inibiçã o de açõ es "anti-sociais" (neste contexto "anti-espirituais")
(isto é, aquelas que interfeririam ou negariam o objetivo social do ritual). Ao
fornecer uma estrutura unificadora além das necessidades individuais ou de
subgrupos, os rituais proporcionavam uma maneira de direcionar o
comportamento do grupo, neutralizar rivalidades e tensõ es e permitir interaçõ es
canalizadas e controladas com tribos vizinhas potencialmente hostis, desde que
essas tribos entendessem e respeitassem a linguagem e a etiqueta. do ritual em
questã o - substituindo, portanto, suspeita e hostilidade por confiança. Tais
interaçõ es teriam sido particularmente importantes para o comércio, em tempos
de estresse (por exemplo, seca) ou quando eram necessá rios parceiros sexuais
além da tribo.
Quando chegamos a cerca de 40.000 anos atrá s, certamente podemos inferir a
existência de rituais e cerimô nias para marcar a morte de indivíduos, incluindo
vá rios enterros ou tratamento especial dos mortos. Por volta dessa data, duas
pessoas foram enterradas separadamente no lago Mungo, no sudeste da
Austrá lia: uma mulher foi cremada em alta temperatura e outro adulto (sexo
incerto) foi enterrado estendido e com uma cobertura de pigmento de hematita
(talvez originalmente na pele ou em alguma cobertura) material como pele ou
casca). Dez mil anos depois, em todo o mundo habitado, os gravetos começaram
a enterrar seus mortos com ocre vermelho e elaborar bens funerá rios em uma
á rea que ia do País de Gales no oeste (Paviland) a Sungir na Rú ssia. Vá rios de
seus enterros eram mú ltiplos, e alguns eram extraordinariamente ricos. Como
mencionado anteriormente, em Sungir, dois filhos, um menino e uma menina,
foram enterrados frente a frente, acompanhados de hematita, longas lanças
feitas de marfim de mamute tratado termicamente, esculturas de marfim,
centenas de caninos de raposa á rtica perfurados e cerca de dez mil contas de
marfim que deve ter sido costurada em suas roupas de pele perecíveis. As lanças
provavelmente levaram semanas para fazer e as contas muitos meses no total,
entã o essas crianças foram muito valorizadas por seu grupo, mesmo na morte. E
uma descoberta recente, embora ainda nã o tenha sido totalmente publicada,
pode levar as evidências para esse comportamento ainda mais longe. Em uma
caverna nas colinas de Tsodilo (Botsuana), Sheila Coulson e colegas afirmam que,
cerca de 70.000 anos atrá s, uma rocha de seis metros de comprimento foi
moldada para aumentar sua semelhança com a cabeça de uma cobra e o
conteú do da caverna supostamente refletia seu uso a longo prazo para
cerimô nias durante a Idade da Pedra Média.
Isso nos leva à questã o crítica dos sistemas de religiã o e crença, aos quais os
rituais costumam estar intimamente ligados. Parece prová vel que um sentimento
de culpa por violaçõ es sociais (por exemplo, roubar um vizinho, atingir uma
pessoa indefesa que nã o fez mal) tenha evoluído nos primeiros humanos, uma
vez que o que parece ser um sentimento de vergonha pode ser programado em
social animais como cã es e alguns primatas. Mas apenas os humanos têm um
senso de pecado - uma infraçã o nã o contra uma pessoa, mas contra uma lei
divinamente sancionada. A lei em questã o pode estar relacionada a ferir outro
(por exemplo, adultério ou assassinato) ou violar um có digo de comportamento
religioso (por exemplo, pentear o cabelo durante uma tempestade para os povos
Semang da Malá sia ou comer carne de porco).
Entã o, o que poderia ter começado esse processo de separaçã o do mundo
natural e a crença no sobrenatural? Em A Descida do Homem , Darwin discutiu
como seu cachorro latia toda vez que o vento pegava um guarda-sol, talvez
porque em sua confusã o imaginava que deveria haver um agente (invisível para
o cachorro) que estava causando o movimento. Darwin acrescentou que essas
imaginaçõ es poderiam ter sido a fonte de uma crença inicial nos agentes
espirituais. Assim, as habilidades de leitura da mente que discutimos
anteriormente, combinadas com a compreensã o humana de causa e efeito, tã o
essencial para atividades como fabricaçã o de ferramentas e caça, podem estar na
raiz das crenças espirituais, conforme argumentado por Robin Dunbar e pelo
anatomista Lewis Wolpert. Fenô menos inexplicá veis, como raios, crises
ambientais e doenças humanas devem ter causas, entã o talvez forças espirituais
invisíveis estivessem em açã o - como Darwin colocou, aquelas com “as mesmas
paixõ es, o mesmo amor pela vingança ou a forma mais simples de justiça, e
mesmos afetos que eles mesmos experimentaram. ” Em particular, uma vez que a
autoconsciência tivesse evoluído, a crença em uma vida apó s a morte logo
poderia ter se seguido, permitindo que o mistério da morte fosse tratado e
tratado - a essência daqueles que nos amaram e cuidaram de nó s durante nossas
vidas certamente viveria. para cuidar de nó s depois que eles morreram.
Mencionei o xamanismo anteriormente em relaçã o à s interpretaçõ es de
Lewis-Williams da arte das cavernas européias, e sua sugestã o de que os
humanos modernos podem ser as ú nicas espécies que podem se lembrar de seus
sonhos, fornecendo a base imaginativa para mundos espirituais aos quais os
humanos podem obter acesso privilegiado. Ele e outros argumentaram que o
xamanismo é uma forma antiga de religiã o, talvez a mais antiga, com uma
antiguidade que remonta à Idade Média da Pedra na Á frica. Tanto na arte san
quanto no paleolítico, há representaçõ es de teriantropos (quimeras humano-
animal - os centauros da mitologia grega, por exemplo), e em representaçõ es
recentes elas costumam se relacionar a "vô os da alma", onde a alma do xamã
deixa o corpo durante um transe e funde-se ou é possuído por um animal
espiritualmente poderoso. Os transes podem ser provocados por câ nticos,
danças ou batidas repetitivas, por privaçã o sensorial ou sobrecarga sensorial -
por exemplo, por comer, beber ou fumar compostos de plantas
alucinogênicas. Em termos evolutivos, os benefícios para o xamã podem ser
ó bvios - alto status e possivelmente acesso privilegiado a recursos do grupo ou
parceiros sexuais - mas quais sã o as vantagens para o grupo e para os outros
indivíduos dentro dele? Isso nos leva à questã o complicada de por que as crenças
espirituais evoluíram em primeiro lugar, e por que elas parecem ter tanto poder
sobre a humanidade, apesar das tentativas ocasionais e sem sucesso de expulsá -
las.
Para alguns, as crenças religiosas sã o uma patologia - uma ilusã o em massa -
ou sã o semelhantes a um vírus que se perpetua por meio de informaçõ es
impressas por adultos em mentes jovens impressioná veis. Outros argumentam
que as crenças espirituais evoluíram porque eram ú teis para aqueles que os
possuíam e concederam sobrevivência a esses indivíduos e seus parentes
pró ximos. Os dados mostram que sentimentos humanos como depressã o,
pessimismo e ansiedade sã o desvantagens para a saú de e a longevidade;
portanto, convicçõ es religiosas que aliviam esses “sintomas” certamente
poderiam ter sido favorecidas. Os seres humanos parecem estar pré-
programados para crenças religiosas, levando-os prontamente a bordo, por mais
irracionais que pareçam para os que nã o crêem ou de crenças diferentes - e isso
parece ser verdade tanto para os adultos convertidos quanto para as crianças
religiosas. Há evidências controversas de que pessoas com fortes convicçõ es
religiosas tendem a ser mais saudá veis, a viver mais, a ter mais filhos
sobreviventes e a ser um pouco mais ricas do que os que nã o sã o crentes. Se isso
fosse verdade no passado, a seleçã o teria favorecido aqueles com crenças
religiosas, desde que os benefícios superassem os custos. (As religiõ es ou seitas
que exigiam completa abstinência sexual ou castraçã o de seguidores do sexo
masculino compreensivelmente nã o prosperaram!)
Como exemplo dos benefícios sociais que podem ter sido aplicados no
passado, podemos voltar aos xamã s nas sociedades tribais, que agem como
emissá rios espirituais e parecem ter funcionado com sucesso como curandeiros,
adivinhos, pacificadores e interlocutores do mundo da espíritos e
antepassados. Eles podem se beneficiar pessoalmente por meio de seus poderes
percebidos, é claro, mas também podem atuar como executores sociais,
desencorajando comportamentos aberrantes ou profetizando, a fim de liderar
seus grupos em novas direçõ es. E quando comparamos sociedades humanas
recentes de todos os tipos, parece haver uma associaçã o entre grupos maiores e
a prevalência de deuses moralmente preocupados, o que poderia novamente
ajudar a coesã o social e o conformismo com as normas sociais. Além disso, os
experimentos psicoló gicos modernos mostraram que as crenças religiosas
podem gerar comportamento altruísta (e, portanto, reputaçã o social),
desencorajar os “carregadores solitá rios” e incentivar a confiança mú tua.
A partir da evidência de enterros e objetos simbó licos, os rituais e crenças
religiosas provavelmente remontam a mais de 100.000 anos, mas eles poderiam
realmente ter sido centrais para as origens dos humanos modernos? Um
antropó logo britâ nico, Chris Knight, certamente pensa assim, e em uma síntese
abrangente de dados da atual antropologia, primatologia e sociobiologia,
juntamente com a arqueologia, ele e seus colaboradores argumentaram que as
mulheres produziram coletivamente uma revoluçã o social na Á frica ao longo do
tempo. 100.000 anos atrá s. O uso simbó lico do ocre vermelho começou como
parte de uma resposta feminina ao acú mulo de tensõ es sociais e reprodutivas
causadas pelas crescentes demandas de gravidez, cuidados com bebês e crianças
e pela necessidade de abastecimento masculino. O pigmento vermelho-sangue foi
implantado por mulheres menstruadas e nã o menstruadas, manchadas em seus
corpos para espalhar o tabu da menstruaçã o entre alianças de parentes
femininos. Isso instituiu uma “greve sexual”, que só poderia ser quebrada
quando os homens retornassem de caçadas colaborativas com comida para
compartilhar. Os rituais femininos evoluíram em torno da greve sexual, os rituais
masculinos em torno da caçada (iniciados sob a lua escura, retornando à lua
cheia, ligando assim os ciclos menstruais e lunares e o sangue das mulheres e dos
animais) e seguiriam rituais tribais de celebraçã o e festa. o retorno dos
caçadores de sucesso.
Eu acho que essas idéias sã o engenhosas e acredito que o comportamento
humano mudou de maneira revolucioná ria durante a Idade da Pedra Média, para
desencadear nossas expansõ es dentro e depois da Á frica. No entanto, nã o acho
que as opiniõ es de Chris Knight forneçam a explicaçã o correta ou mesmo o tipo
correto de explicaçã o. Isso ocorre porque eu nã o acho mais que exista uma ú nica
resposta “certa” para a questã o de nossas origens comportamentais. O que vimos
até agora é que existem muitas vertentes interconectadas ao comportamento
humano moderno, variando de talentos aprimorados para leitura de mentes,
simbolismo e expressã o artística e musical a rituais e religiã o. E, como discutirei
a seguir, temos mecanismos de sobrevivência complexos, que sã o alimentados
por nossas habilidades de linguagem.

6
Comportando-se de uma maneira moderna:
tecnologia e vida
Oito anos antes dos pedreiros encontrarem um esqueleto estranho no vale de
Neandro (Alemanha), que deu nome a toda a populaçã o antiga, algo semelhante
aconteceu em Gibraltar, embora o resultado fosse bastante diferente. Lá , o crâ nio
de uma mulher neandertal foi descoberto em 1848, mas foi deixado nã o
reconhecido na prateleira do museu pelos pró ximos quinze anos, em vez de ser
estudado e publicado. Hoje falamos hoje do homem neandertal e do Homo
neanderthalensis , em vez do homem (ou mulher) de Gibraltar e do " Homo
calpicus " (um nome baseado em um nome antigo para o Rock, sugerido pelo
paleontó logo Hugh Falconer em uma carta a George Busk em 1863 mas nunca
publicado corretamente). A essa altura, o fó ssil de Gibraltar já havia chegado a
Londres e agora reside em um cofre de metal do lado de fora do meu
quarto. Infelizmente, esse fó ssil foi explodido em sua pedreira e nenhum outro
osso, ferramenta ou material associado foi recuperado, embora devessem estar
lá . Entã o, em 1994, tive a chance de escavar mais cavernas em Gibraltar com uma
equipe incluindo o arqueó logo de Oxford Nick Barton e Clive Finlayson, do
Museu de Gibraltar. Embora nunca tenhamos conseguido adicionar ao total de
dois fó sseis neandertais deste minú sculo piná culo de calcá rio, encontramos
muitas evidências do modo de vida desses europeus antigos. Incluía ferramentas,
lareiras, restos de comida e algumas das melhores evidências já descobertas de
que os neandertais compartilhavam uma característica comportamental
fundamental conosco - a exploraçã o de recursos marinhos, como mariscos e
focas. Esse trabalho foi publicado há alguns anos e, desde entã o, surgiram ainda
mais evidências da complexidade do comportamento dos neandertais e do início
da modernidade.
Cerca de 300.000 anos atrá s, as tecnologias mais complexas do Paleolítico
Médio começaram a aparecer entre os descendentes do Homo heidelbergensis na
Á frica ( Homo sapiens ) e na Eurá sia ocidental (Neandertais). As técnicas que
exigiram etapas adicionais na fabricaçã o de ferramentas se espalharam por toda
a Á frica e a Eurá sia ocidental, e as primeiras ferramentas verdadeiramente
compostas foram inventadas, que deveriam ter sido montadas em ou sobre cabos
de madeira. Os cabos ou hastes de madeira quase sempre pereceram, mas traços
de adesivo estã o presentes nas ferramentas européias, asiá ticas ocidentais e
africanas. Os usados na Idade Média da Pedra na Á frica eram frequentemente
misturas de goma vegetal e ocre vermelho, e os artesã os eram capazes de efetuar
alteraçõ es em suas propriedades através do aquecimento e variaçõ es na
umidade e acidez, implicando um alto nível de conhecimento, planejamento e
pensamento. Recentemente, evidências adicionais dessas habilidades surgiram
de observaçõ es de ferramentas da Idade da Pedra Média e de experimentos
modernos.
Arqueó logos como Kyle Brown e Curtis Marean descobriram que eram
incapazes de igualar a aparência e a qualidade das muitas ferramentas que
estavam escavando nas cavernas de Pinnacle Point, na Á frica do Sul, entre as
fontes locais da rocha silcreta da qual foram feitas. Mas eles finalmente
descobriram que seu brilho mais brilhante, mais escuro e mais fino, só apareciam
quando as ferramentas haviam sido tratadas por serem enterradas em uma
lareira que estava queimando por muitas horas a uma temperatura alta e depois
deixadas esfriar lentamente. Essa engenharia permitiu a remoçã o de flocos mais
longos e rasos e mais controle da forma final e das arestas de corte, e seu uso nas
ferramentas antigas foi demonstrado ainda mais através de testes físicos de seu
tecido, mostrando que eles estavam realmente sujeitos a aquecimento
prolongado. Dada a aplicaçã o sistemá tica e generalizada de tais processos nas
ferramentas Pinnacle Point, os resultados nã o poderiam ter sido produzidos se
as ferramentas fossem deixadas acidentalmente perto de uma lareira feita por
outros motivos. Nã o apenas esse há bil tratamento prévio levou a ferramentas
com melhor aparência e desempenho, mas, ao melhorar a qualidade das
matérias-primas locais, deu a esses antigos habitantes da costa sul da Á frica mais
opçõ es em suas escolhas de fontes de rochas para suas ferramentas. Esse era um
pré-requisito essencial nas decisõ es sobre onde morar e um sinal de sua
crescente capacidade de moldar o ambiente local - um fator-chave no
desenvolvimento de nossa capacidade humana moderna de se adaptar a quase
qualquer lugar da Terra.
O fogo, é claro, tem sido uma ajuda vital na sobrevivência humana há pelo
menos 800.000 anos (com base em evidências de lareiras no local israelense de
Gesher Benot Ya'aqov) e possivelmente por muito mais tempo. Como Darwin
argumentou em The Descent of Man (1871), "A arte de fazer fogo ... é
provavelmente a maior [descoberta], exceto a linguagem, já feita pelo
homem". Forneceu calor e proteçã o contra predadores, iluminaçã o para
prolongar a "luz do dia" e um novo foco social, quando as pessoas se sentavam
para conversar, dormir ou trabalhar (e depois cantar e dançar) em torno das
chamas tremeluzentes. Mas o antropó logo Richard Wrangham argumentou que
ele tinha um papel igualmente importante na formaçã o de nossa evoluçã o
através da introduçã o da culiná ria. Na maioria dos casos, o cozimento reduz o
tempo e a energia necessá rios para mastigar e digerir os alimentos, embora o
calor também reduz o conteú do de vitaminas e os nutrientes sejam perdidos na
gordura e na á gua que sã o expulsas. O processo nã o apenas ajudou a fornecer
uma dieta mais ampla e mais combustível para um cérebro em crescimento e que
consumia energia, mas também reduziu o efeito de toxinas e pató genos nocivos,
como parasitas, bactérias e vírus, presentes em muitos alimentos crus. E,
adicionando comida à s chamas, a culiná ria proporcionou um foco social extra
para o fogo, na medida em que os indivíduos podiam cozinhar um para o outro,
para parceiros, parentes, amigos e convidados de honra. Uma vez que o
cozimento se tornasse central na vida humana, teria influenciado nossa evoluçã o,
levando a alteraçõ es na digestã o, tamanho e funçã o intestinal, tamanho dos
dentes e mandíbulas e mú sculos para mastigaçã o.
Entã o, quando os humanos controlaram o uso do fogo pela primeira vez e
quando o cozimento se tornou importante? Como discutimos anteriormente, o
aumento do tamanho do cérebro e a reduçã o dentá ria certamente começaram
no Homo erectus , já estavam bem desenvolvidos na época da heidelbergense e
atingiram níveis compará veis aos dos humanos modernos nos
neandertais. Existem evidências controversas sobre o controle humano de
incêndios que datam de cerca de 1,6 milhã o de anos na Á frica, e um apoio mais
forte à sua presença em cerca de 800.000 anos em Israel e na Grã -Bretanha em
cerca de 400.000 anos (o local do Beeches Pit em Suffolk). No entanto, a maioria
dos primeiros locais humanos no momento nã o possui essas evidências, o que
talvez indica que o uso do fogo ainda nã o era onipresente entre os primeiros
humanos. No entanto, nos ú ltimos 200.000 anos, existem muitos locais de
Neandertal e os primeiros modernos com acú mulos de lareiras, mas,
curiosamente, os resíduos alimentares associados nem sempre mostram fortes
evidências de que a carne estava sendo cozida. Por exemplo, nos locais dos
Neandertais em que estive envolvido em escavaçõ es em Gibraltar, parece que os
neandertais sabiam sobre assar mexilhõ es nas brasas agonizantes de um
incêndio para fazê-los se abrir para o consumo, mas muitos animais
permanecem ao redor de seus lares. ter sido massacrado e comido cru.
Dos fragmentos de detritos preservados em seus locais e até ao redor dos
dentes, também sabemos que os neandertais estavam processando e cozinhando
recursos vegetais, como grã os e tubérculos. Da mesma forma, através de estudos
de ferramentas da Idade da Pedra Média de 100.000 anos do Niassa Rift em
Moçambique, Julio Mercader e seus colegas detectaram os traços de amido de
pelo menos uma dú zia de alimentos vegetais subterrâ neos e subterrâ neos,
sugerindo que o complexo processamento de plantas, frutas e tubérculos,
incluindo o cozimento para remover toxinas, foi algo que também se
desenvolveu na Á frica, fornecendo uma adaptaçã o vital à medida que nossa
espécie viajava pelo mundo. Anna Revedin e seus colegas identificaram grã os de
amido de plantas silvestres em uma pedra de retificaçã o gravetiana de 30.000
anos, de locais na Itá lia, Rú ssia e Repú blica Tcheca, aparentemente parte da
produçã o de farinha, muito antes da revoluçã o agrícola. As plantas incluíam
juncos e gramíneas que, a partir de comparaçõ es modernas, provavelmente
foram exploradas em diferentes épocas do ano e processadas por ferramentas de
corte especializadas nos locais. Ji ř í Svoboda descreveu grandes fornos
subterrâ neos de terra cheios de pedras quentes que eram usadas cerca de
30.000 anos atrá s, no que é hoje Pavlov na Repú blica Tcheca, para cozinhar
enormes pedaços de carne de mamute. Eles e os poços ao redor, que parecem
ter sido usados para ferver á gua com pedras quentes, foram colocados dentro de
grandes tendas ou iurtas, para julgar pelos padrõ es escavados de buracos no
chã o. Como discutido anteriormente, esses lugares seriam focos para grupos que
cozinhavam e comiam juntos.
Assim como o modelo de ligaçã o de Chris Knight tinha a menstruaçã o em seu
coraçã o, os antropó logos James O'Connell e Kristen Hawkes argumentaram que a
coleta e o processamento de recursos vegetais, especialmente subterrâ neos
como tubérculos que exigiam conhecimento especializado para coletar e tratar,
eram críticos. em catalisar a mudança social nos primeiros seres
humanos. Embora a carne tenha se tornado muito importante, também era um
recurso alimentar imprevisível; portanto, enquanto a caça era deixada aos
homens, as mulheres - especialmente as que nã o tinham filhos - desenvolveram e
compartilharam as habilidades de reunir e refinar os recursos vegetais como
apó lice de seguro. Portanto, talvez a sugestã o de Darwin, de 1871, de que “[o
homem] tenha descoberto a arte de fazer fogo, pela qual raízes duras e fibrosas
possam ser digeridas e raízes venenosas ou ervas inó cuas” fosse realmente mais
apropriada para grupos de mulheres. No que foi chamado de Hipó tese da Avó ,
Hawkes e O'Connell propuseram que a seleçã o também teria favorecido
mulheres experientes e pó s-produtivas que sobreviveram por décadas apó s a
menopausa, algo muito raro em outros primatas. Essas mulheres poderiam ter
ajudado a sustentar suas filhas e outros parentes dependentes, e também
atuariam como ajudantes gerais, como muitas avó s fazem hoje, ajudando assim a
sobrevivência de seus genes e o reforço desse comportamento de apoio.
A antropó loga Sarah Blaffer Hrdy levou essa linha de pensamento ainda mais
longe com o conceito mais amplo de aloparentes - indivíduos que assumiam
regularmente o fornecimento e o cuidado de bebês e crianças da mã e. Isso ocorre
em outros animais, incluindo alguns primatas, e Hrdy acredita que a presença de
bebês de cérebro grande e dependentes na época do Homo erectus significava
que esse comportamento social de apoio de irmã os mais velhos e parentes já
havia se desenvolvido por necessidade até entã o. Na sua opiniã o, essa criaçã o
cooperativa permitiu que as crianças crescessem lentamente e permanecessem
dependentes de outras por muitos anos, o que, por sua vez, permitiu a evoluçã o
de humanos modernos com cérebro ainda maior. Se compararmos hoje as
populaçõ es de caçadores-coletores com, digamos, os chimpanzés, há uma
enorme diferença na fecundidade: o intervalo entre os nascimentos é de cerca de
sete anos nos macacos, mas de apenas três a quatro anos nos seres humanos. Nos
macacos, as mã es geralmente nã o dã o as boas-vindas a outras que carregam ou
até tocam seus bebês, enquanto as mã es humanas sã o muito tolerantes com esse
comportamento de compartilhamento, obtendo apoio que Hawkes, O'Connell e
Hrdy argumentam que é a razã o pela qual os humanos podem lidar com tais
espaços tã o pró ximos. nascimentos de bebês exigentes. E Hrdy sugere ainda que
a imersã o de bebês humanos em um grupo de aloparentais teria aperfeiçoado as
habilidades de leitura da mente e a empatia que sã o tã o importantes para nossa
espécie, mais rapidamente do que qualquer outra coisa. Ainda nã o está claro se
os aloparentá rios incluíram pais no passado ainda nã o está claro, uma vez que,
na grande maioria dos mamíferos, os machos têm pouca ou nenhuma interaçã o
específica com seus filhotes, e a extensã o de seu envolvimento nos cuidados com
os bebês também varia amplamente nos humanos atualmente. Sem dú vida, isso
também dependeria da extensã o de papéis especializados nas sociedades
paleolíticas; se os homens estivessem na maior parte fora rastreando e caçando,
eles simplesmente nã o teriam estado por perto para assumir o papel de cuidados
infantis.
A seguir, examinaremos a questã o da divisã o sexual do trabalho nos
primeiros seres humanos e as diferentes visõ es que surgiram.
Em um extremo, o arqueó logo Lewis Binford sugeriu provocativamente que
os humanos modernos poderiam ter sido os primeiros a "inventar" a família
nuclear, e que as estruturas sociais dos neandertais poderiam ter sido mais
parecidas com as de alguns carnívoros de mamíferos, com grupos de machos
perambulando pela paisagem em busca de carne. e viver vidas em grande parte
separadas das mulheres (além de visitas ocasionais para trocar carne por
sexo). As mulheres foram deixadas para criar seus filhos no que eles poderiam
reunir perto de suas casas e viveiros. No outro extremo está a visã o dos
arqueó logos Steven Kuhn e Mary Stiner, que argumentaram que a caça ao grande
jogo era um assunto de família para os neandertais, com mulheres e crianças
participando, e que, em contraste, os humanos modernos foram os primeiros a
desenvolver o padrõ es de divisã o do trabalho e papéis distintos que vemos hoje
em caçadores-coletores. Na opiniã o deles, o registro arqueoló gico dos
neandertais mostrava pouca evidência de especializaçã o de papéis e, em vez
disso, a populaçã o vivia rapidamente, queimando energia de uma dieta de alto
teor caló rico obtida da caça a grandes herbívoros. Esses alimentos de alto
rendimento eram ricos e gratificantes, mas nem sempre sã o fá ceis de obter;
portanto, os neandertais estavam no topo de sua cadeia alimentar e só podiam
persistir em nú meros relativamente pequenos, com baixas densidades
populacionais.
Vá rias linhas de argumento sustentam essa visã o. Por um lado, a partir de
vá rios dados, os neandertais parecem mostrar baixos níveis de dimorfismo
sexual - isto é, homens e mulheres eram quase iguais em tamanho - o que nã o
seria esperado se eles tivessem papéis muito diferentes, incluindo a
especializaçã o masculina na caça ao grande jogo. Segundo, existem dados de
aná lises químicas dos ossos neandertais (ver capítulo 3) que sugerem que eles
eram de fato altamente carnívoros, pelo menos nas partes norte de sua
á rea. Terceiro, a pesquisa de Thomas Berger e Erik Trinkaus examinou os
padrõ es de lesã o nos esqueletos neandertais e encontrou uma alta frequência de
lesõ es e fraturas, principalmente na cabeça e pescoço. Quando compararam o
padrã o com os de amostras recentes e arqueoló gicas de seres humanos
modernos, eles nã o conseguiram igualá -lo, e foi só quando se voltaram para os
dados de lesõ es em atletas que puderam - em cavaleiros de rodeio, de todas as
pessoas! Isso nã o significava que os neandertais costumavam andar em animais
selvagens, mas indicava que eles compartilhavam uma proximidade com animais
selvagens hostis que poderiam mordê-los, atacá -los, chutá -los, rolar ou cair
sobre eles - e o padrã o foi encontrado em toda a amostra de homens
neandertais , mulheres e crianças.
O antropó logo Steve Churchill e o arqueó logo John Shea seguiram o bió logo
Valerius Geist ao argumentar que os neandertais se envolviam em caça de
confronto, a curta distâ ncia, com lanças de madeira - um método de caça muito
mais perigoso do que “matar à distâ ncia” com projéteis, flechas ou
zarabatanas. Portanto, se mulheres e crianças neandertais estivessem envolvidas
na caça, mesmo que apenas como motoristas ou agressores, elas teriam um risco
de ferimentos por presas grandes. Em contraste, Kuhn e Stiner argumentam que
os humanos modernos da Á frica eram capazes de existir em maior nú mero em
uma densidade maior que os neandertais e em um ambiente com maior
biodiversidade. Isso teria encorajado uma abordagem variada, e nã o ú nica, à
aquisiçã o de alimentos, e a evoluçã o de papéis muito mais distintos para
diferentes componentes de grupos humanos, especialmente homens e mulheres.
Como discutimos anteriormente, a carne de grandes mamíferos fornece
retornos ricos, mas é um suprimento com riscos inerentes, tanto para obtê-la
quanto para contar com um recurso tã o imprevisível. Ao dividir o trabalho e
diversificar ao má ximo a ingestã o de alimentos, os humanos modernos foram
mais capazes de garantir de onde vinha a pró xima refeiçã o e seu nú cleo
reprodutivo - mulheres e crianças - apresentava risco reduzido. Comparados
com outros parentes de primatas e com o que sabemos dos primeiros seres
humanos, os recentes caçadores-coletores têm diversas fontes de proteína e
gordura animal, de coleta e processamento de alimentos e de armazenamento de
alimentos. Muito disso vem das atividades dos idosos e de mulheres e crianças,
usando armadilhas, redes e armadilhas para coletar pequenos jogos e
ferramentas para extrair grampos de plantas. Entre os recentes caçadores-
coletores na Austrá lia, Á frica e nas Américas, as redes têm sido eficazes na
captura de presas de lagartos e pequenos pá ssaros até o tamanho de grandes
veados, e o deslocamento em direçã o à s redes é algo em que quase todos podem
colaborar e desfrutar , seja em terra ou em á guas rasas. Se um excedente de
presa for obtido, ele poderá ser consumido em festas cerimoniais,
comercializadas com grupos vizinhos ou preservado por meio de secagem, fumo
ou armazenamento subterrâ neo.
No final dos anos 60, os arqueó logos Lewis Binford e Kent Flannery
propuseram que a “Revoluçã o do Espectro Amplo” dos recentes caçadores-
coletores se desenvolvesse nos ú ltimos 20.000 anos no Oriente Médio, sob a
pressã o das mudanças climá ticas e do aumento da densidade populacional. Em
certo sentido, foi forçado aos povos paleolíticos tardios do oeste da Á sia como
uma maneira de aumentar a capacidade de carga da terra da qual viviam, e foi
visto como um prelú dio para a domesticaçã o de plantas e animais que se
seguiram logo depois. Mas Stiner e Kuhn compararam os dados do site, cobrindo
uma faixa muito mais ampla no tempo e no espaço, e acreditam que esse
aumento da exploraçã o de recursos começou mais cedo na evoluçã o
humana. Evidências arqueoló gicas para o alargamento das dietas paleolíticas no
início da modernidade mostram-se há pelo menos 40.000 anos atrá s, e há
evidências isotó picas para isso, que discuti no capítulo 3. As ferramentas de
moagem (à s vezes apenas pedras) se tornam mais comuns e, como discutido
anteriormente, eles seriam ú teis para obter o benefício má ximo (e à s vezes
também o risco mínimo de toxinas naturais) de nozes, sementes e tubérculos
ricos em energia. Enquanto caça maior ainda era caçada, principalmente usando
lanças de projéteis, mas posteriormente aprimoradas por atlatls
(arremessadores de lança) e arcos e flechas, aumentavam as evidências para a
exploraçã o de caça menor, como tartarugas, coelhos, aves selvagens e ovos. Além
disso, a comida do mar, da costa, dos rios e dos lagos se tornou mais importante.
Todos esses elementos da dieta já estavam presentes em algumas á reas e, em
certa medida, nos modernos anteriores e nos neandertais. (Nosso trabalho nos
locais dos neandertais em Gibraltar mostra que eles estavam bem cientes do
valor de mariscos, mamíferos marinhos, coelhos, nozes e sementes.) Mas parece
que, para os humanos modernos, esses itens começaram a formar constituintes
significativos de sua dieta. E o aumento da amplitude e processamento dos
recursos das plantas também poderia ter sido importante de outra maneira. Para
muitos caçadores-coletores, os alimentos ricos em amido poderiam ter sido
usados para fazer pastas e gruels para comida de bebê, acelerando o processo de
desmame, liberando o tempo da mã e e dando aos aloparentais um papel
maior. Por sua vez, uma interrupçã o anterior da amamentaçã o potencialmente
devolveu a mã e ao ciclo reprodutivo - um fator significativo nos espaçamentos de
nascimentos alcançados pelos caçadores-coletores modernos. Isso também
poderia ter sido a chave para o sucesso da espécie humana moderna.
A arqueó loga Olga Soffer colaborou em estudos de muitos sítios do Paleolítico
Superior Tcheco, e desafiou a visã o predominante de que esses locais contêm
evidências extensas do principal componente da dieta 30.000 anos atrá s: carne
de mamute da caça realizada por homens Cro-Magnon. Em vez disso, o estudo
das acumulaçõ es de ossos gigantes sugeriu que muitos provavelmente eram de
animais que haviam morrido naturalmente e depois foram apanhados algum
tempo depois por seus ossos e marfim. Além disso, muitos dos que foram
abatidos ou cozidos eram indivíduos muito jovens ou muito velhos, ou seja,
aqueles que eram os mais vulnerá veis a mortes naturais ou outros predadores,
ou que seriam os mais fá ceis e menos perigosos de serem capturados. A
implicaçã o era que a carne de mamute pode nã o ter sido o item principal ou mais
confiá vel do menu por muitas vezes. Mas se nã o, o que apoiou essas
comunidades grandes e sofisticadas nas planícies varridas pelo vento da ú ltima
Era do Gelo? Bem, os ossos de lebres e raposas eram comuns, mas estudos
microscó picos das lareiras também revelaram resíduos de plantas, frutas,
sementes e raízes cheias de amido.
Mas Soffer também viu algo notá vel impresso em alguns dos fragmentos de
argila que cobriam o local: delicadas linhas paralelas. O arqueó logo Jim Adovasio
os submeteu a um estudo detalhado e encontrou nã o apenas muitas outras
linhas, mas também padrõ es cruzados formando uma malha - os traços
reveladores de fibras tecidas. Um estudo mais aprofundado revelou as marcas de
têxteis, cestaria, redes, cordõ es e nó s. E para aqueles que podem ser céticos
sobre interpretaçõ es de impressõ es em argila, fragmentos de fibras de linho
reais foram descobertos no ambiente incomumente seco dos níveis do Paleolítico
Superior na caverna de Dzudzuana, na Geó rgia. O trabalho, liderado por Eliso
Kvavadze e Ofer Bar-Yosef, datava de algumas dessas fibras já em 35.000 anos
atrá s. Alguns tinham sido torcidos para fazer cordõ es ou nó s, e outros
aparentemente tinham sido pintados em cores variando de rosa a preto. Os
sedimentos que produziam as fibras também continham vestígios de cabelo e lã
de boi selvagem e cabra, além de restos de besouros, mariposas e bolores,
comumente hoje associados aos têxteis.
Portanto, a produçã o de barbante e outro material para costurar roupas e
peles, para prender ferramentas compostas e para contêineres, cordas e redes
também parece ter sido parte do repertó rio de alguns dos primeiros seres
humanos modernos na regiã o ocidental do Cá ucaso. Á sia. Tais materiais teriam
proporcionado proteçã o ao meio ambiente, bem como recipientes para
armazenar alimentos, e teriam expandido bastante os métodos de aquisiçã o de
presas disponíveis para os Cro-Magnons. Como vimos, redes e armadilhas
tecidas também teriam permitido que uma ampla gama do grupo participasse do
processo de caça, uma vez que paciência e planejamento sã o mais importantes
em seu uso do que viagens de longa distâ ncia e força física. E essas mudanças
tecnoló gicas também teriam trazido transformaçõ es sociais no desenvolvimento
de papéis especializados para a produçã o de coisas como redes, roupas e cestas,
e o início de toda uma nova gama de acessó rios de moda.
Mas, voltando aos neandertais e seus padrõ es de caça: apesar dos cuidadosos
argumentos de Kuhn e Stiner, acho que os riscos teriam sido grandes demais
para que as mulheres neandertais com crianças pequenas se afastassem muito
do apoio à caça e, como explico mais adiante Neste capítulo, existem explicaçõ es
alternativas para os padrõ es generalizados de trauma em seus esqueletos. Steve
Churchill, trabalhando com o colega antropó logo Andrew Froehle, expandiu o
contraste moderno de Neandertal na subsistência, trazendo para a equaçã o o
clima e a extensã o do buffer cultural (proteçã o cultural dos extremos ambientais
por meio de aquecimento, roupas, habitaçõ es isoladas etc.). Eles sugeriram que
os neandertais que viviam na Era do Gelo na Europa precisariam de 250
quilocalorias extras por dia em comparaçã o com um humano moderno na
mesma situaçã o, dadas as demandas energéticas mais altas de seu estilo de vida
e para alimentar seu corpo maior - e, em particular, os mú sculos. -massa. As
necessidades mais baixas de energia para adultos poderiam ter proporcionado
aos seres humanos modernos uma criaçã o e, portanto, uma vantagem
competitiva, com menor espaçamento de nascimentos e maior sobrevivência em
comparaçã o com os neandertais, que eram mais exigentes em seus corpos e no
que precisavam extrair de seu ambiente. Além disso, se os humanos modernos
fossem generalistas vivendo com uma gama mais ampla de recursos do que os
neandertais mais carnívoros, eles teriam mais condiçõ es de lidar em tempos
estressantes.
Como vimos, os dados sobre ferimentos nos neandertais foram usados por
Berger e Trinkaus para sugerir que muitos deles resultaram da caça ao
confronto, com a implicaçã o adicional de que nã o foram apenas os homens
adultos que sofreram dessa maneira. No entanto, eles reconheceram que havia
explicaçõ es alternativas, e acho que uma em particular precisa ser considerada,
pelo menos como um fator adicional: o da violência interpessoal. O padrã o de
trauma quando os humanos se atacam varia, é claro, dependendo da arma usada
(se nã o das mã os e dos pés) e de qualquer defesa montada pelo receptor. Mas os
danos na parte superior do corpo e na cabeça predominam invariavelmente, e
esses ferimentos podem, infelizmente, ser infligidos a mulheres, crianças e
homens. Se uma arma foi usada, outras pistas forenses podem ser deixadas na
forma da pró pria arma ou traços dela, e temos esses dados para algumas feridas
neandertais, com algumas especulaçõ es interessantes sobre a natureza do
agressor.
No capítulo 4, discuti o impacto que a descoberta de um enterro em Saint-
Césaire, na França, teve em nossos pontos de vista sobre os neandertais no início
dos anos 80, uma vez que era tarde e estava associada à indú stria paleolítica do
alto paleolítico. Recentemente, Christoph Zollikofer (ver capítulo 3) e seus
colegas estudaram uma lesã o no couro cabeludo no crâ nio, resultante de uma
barra aparentemente causada por um objeto em forma de lâ mina. A ferida nã o
era profunda, embora certamente causasse perda de sangue e tivesse se
recuperado muito bem, sugerindo que o indivíduo sobreviveu por pelo menos
alguns meses apó s o incidente, talvez fornecendo evidências de apoio social
entre os neandertais (para saber mais sobre isso, veja mais adiante neste
capítulo). Sua posiçã o sugeria que nã o foi causado por um acidente, como uma
queda ou uma queda de pedra, e se o indivíduo estava de pé, provavelmente foi
infligido por um impacto de alta energia ou impulso na cabeça pela frente ou por
trá s, talvez por uma ferramenta de pedra hafted como um ponto de lança.
Um segundo neandertal, da caverna Shanidar, no Iraque, e conhecido como o
homem Shanidar 3, também carrega a marca de uma ferida de lança, desta vez
em sua caixa torá cica. A ferida parcialmente cicatrizada foi notada por Trinkaus
em seu estudo do esqueleto há cerca de trinta anos, mas Churchill e seus colegas
conduziram estudos mais detalhados sobre a fatia afiada e profunda em sua nona
costela no lado esquerdo, incluindo experimentos com bestas que envolviam
disparo. pontos de pedra em carcaças de porco. A ferida começou a cicatrizar,
mas, diferentemente do CSI de Saint-Césaire, provavelmente foi fatal, seja por
dano pulmonar ou infecçã o, pois o ponto de lança pode ter se alojado no corpo
(embora aparentemente nã o tenha sido recuperado ou, pelo menos,
reconhecido). , durante as escavaçõ es originais). Os cená rios possíveis incluem
um ferimento com faca de pedra, um ferimento de caça ou mesmo um trauma
autoinfligido, mas os experimentos sugeriram que a causa mais prová vel era uma
lança que impactou em um â ngulo descendente de cerca de 45 graus,
provavelmente a que havia sido Especulando ainda mais, Churchill e sua equipe
apoiaram a idéia de que apenas os humanos modernos lançavam lanças com
pontas de pedra e, portanto, sugeriram que um humano moderno, em vez de um
neandertal, poderia ter sido responsá vel, em um ato de agressã o entre
espécies. . Mas poderia um ser humano moderno estar presente quando o
homem Shanidar 3 foi ferido? Essa é uma grande incerteza, uma vez que o
incidente só pode ser datado de cerca de 50.000 anos atrá s, e nã o podemos
colocar com segurança humanos humanos modernos no Iraque há muito
tempo. Da mesma forma, é possível que o indivíduo Saint-Césaire tenha sido
confrontado por um Cro-Magnon na França, e esses casos podem ser adicionados
ao canibalismo alegado de uma criança neandertal em Les Rois (discutida no
capítulo 4) como evidência esbelta de que as duas espécies podem ter tido
encontros hostis.
Portanto, sabemos que os neandertais sofreram muitas lesõ es corporais e, em
alguns casos, parece que eles devem ter recebido apoio social de outras pessoas
do grupo para se recuperar, ou pelo menos para prolongar sua sobrevivência. Há
um exemplo particularmente precoce disso no site Sima de los Huesos em
Atapuerca, na Espanha, datado de cerca de 400.000 anos atrá s, em que uma
criança com crâ nio e cérebro deformados, talvez causada por uma lesã o sofrida
antes do nascimento, foi quase certamente desativada fisicamente e
mentalmente; no entanto, esse indivíduo nã o foi rejeitado no nascimento e
sobreviveu aos está gios mais dependentes da infâ ncia, morrendo por volta dos
oito anos de idade, por razõ es que podem ou nã o estar relacionadas à
deficiência. Como discutimos anteriormente, a populaçã o de Atapuerca estava no
início da evoluçã o dos neandertais, e parece que os neandertais continuaram
esse tipo de apoio social, como pode ter sido o caso dos indivíduos feridos de
Saint-Césaire e Shanidar.
Outro indivíduo de Shanidar pode demonstrar níveis de assistência social
ainda mais altos e duradouros: o homem Shanidar 1 provavelmente tinha cerca
de quarenta anos quando morreu, uma idade muito respeitá vel para um
neandertal. No entanto, ele sofreu um forte golpe no lado esquerdo do crâ nio e
no rosto - talvez por uma queda de rocha - e, como resultado, pode ter sido
parcialmente cego e surdo. Possivelmente ligado ao incidente, seu braço direito
havia sido gravemente danificado: o braço apresentava uma fratura gravemente
curada e secava até um toco fino, e ele havia perdido completamente o braço e a
mã o. Suas pernas mostram que ele também estava incapacitado de andar, talvez
porque o golpe no lado esquerdo do cérebro tenha causado paralisia no lado
direito, como pode acontecer em lesõ es modernas desse tipo. Apesar de todas
essas dificuldades, ele aparentemente sobreviveu por muitos anos, implicando
assistência e provisã o de outros. Macacos com fraturas ou amputaçõ es de braços
ou pernas à s vezes podem sobreviver na natureza sem apoio social, mas para um
neandertal que vive nas montanhas Zagros, parece prová vel que seus ferimentos
teriam sido uma sentença de morte imediata sem a ajuda consistente de seu
grupo.
Existem vá rios outros exemplos de sobrevivência com comprometimento nos
neandertais e também exemplos compará veis da Á frica: o crâ nio Salé, de
400.000 anos, do Marrocos, e o crâ nio Singa (com mais de 130.000 anos), do
Sudã o, mostram evidências de longa duraçã o e provavelmente desativando a
deformaçã o, mas esses indivíduos sobreviveram até a idade adulta. Na minha
opiniã o, esse nível de apoio social provavelmente levou à prá tica de enterro
intencional, pois, por exemplo, deixar um corpo no chã o de uma caverna para o
qual você poderia retornar poderia implicar ver seu pai, mã e ou irmã os
escolhidos por hienas ou abutres. Mais tarde, com a repetiçã o e a adiçã o de
rituais, poderia ter ocorrido o surgimento de enterros simbó licos, com bens
graves como tributos ou ofertas para ajudar na passagem ao mundo espiritual.
Até que ponto os neandertais compartilhavam esse comportamento ainda é
discutido com veemência, e alguns arqueó logos como Robert Gargett até
duvidam que os neandertais tenham enterrado seus mortos, caso em que todos
os supostos enterros em cavernas foram acidentais ou o resultado de queda de
telhado etc. . Mas acho que há evidências suficientes para algum nível de
comportamento ritual nos Neandertais posteriores, pelo menos, incluindo bebês
sendo enterrados com simples bens funerá rios. No entanto, parece prová vel que
um dos exemplos mais famosos, que deu origem à noçã o de que os neandertais
foram os primeiros "povos das flores", foi o resultado de outras agências,
bastante surpreendentes. Depois que o enterro de Shanidar 4 foi escavado nesta
caverna iraquiana em 1960, aná lises mostraram que os sedimentos continham
grupos de pó len, sugerindo que flores brilhantes (talvez até algumas com
propriedades medicinais) estavam espalhadas pelo corpo. No entanto, o
zooló gico arqueó logo Richard Redding posteriormente escavou um nú mero de
tocas de um roedor semelhante a um gerbil encontrado nas montanhas Zagros,
perto de Shanidar, e observou que esses animais armazenavam cabeças de flores
em seus tú neis. Por sua vez, o antropó logo Jeffrey Sommer notou que as
escavadeiras originais haviam relatado ossos de roedores e tocas ao redor dos
esqueletos neandertais; portanto, parece prová vel que o suposto enterro de
flores do homem Shanidar 4 tenha uma explicaçã o mais prosaica e menos
româ ntica.
Nã o obstante, o cuidado que os neandertais e os primeiros modernos deram a
outros membros do grupo teria efeitos sociais e demográ ficos, e isso pode
fornecer mais pistas sobre por que os humanos modernos foram os mais bem-
sucedidos de todas as espécies humanas. Anteriormente, discutimos a distinçã o
entre os perfis da idade humana e os dos macacos: temos um período mais longo
de dependência infantil, atingimos a puberdade mais tarde, temos idades
posteriores para os primeiros nascimentos, mas espaçamentos menores, a
sobrevivência pó s-produtiva nas mulheres é muito comum e No geral, vivemos
mais. Isso significa que os seres humanos desenvolvem e precisam de laços
sociais muito mais duradouros, além dos familiares imediatos, ao longo de suas
vidas. Provavelmente existem bases genéticas específicas para a nossa
longevidade. Por exemplo, foi sugerido que mutaçõ es ú nicas em um gene para a
apolipoproteína E transportadora de colesterol ocorreram cerca de 250.000 anos
atrá s. A variante ApoE3 reduz o risco de muitas condiçõ es relacionadas à idade,
como doença coronariana e Alzheimer, e será interessante ver se essa variante
também estava presente no genoma neandertal.
Como discutido no capítulo 3, os neandertais tinham um padrã o de
desenvolvimento humano, em vez de simiesco, mas, ao mesmo tempo, suas vidas
deveriam ter sido estressantes. Cerca de vinte anos atrá s, uma enfermeira que
virou antropó loga, Mary Ursula Brennan, comparou o padrã o de interrupçõ es de
crescimento na formaçã o de esmalte dental nos neandertais e nos primeiros
seres humanos modernos e descobriu que esses indicadores de estresse na
infâ ncia eram muito mais comuns entre os neandertais. Na velhice, há mais
indicaçõ es dos problemas que eles e nossos ancestrais africanos enfrentaram
(novamente, de pesquisas com dentes - desta vez para avaliar a longevidade dos
neandertais e dos primeiros seres humanos modernos). Enquanto Erik Trinkaus
encontrou pouca diferença na sobrevivência entre humanos arcaicos e
modernos, os antropó logos Rachel Caspari e Sang-Hee Lee chegaram a
conclusõ es diferentes. Seus estudos foram conduzidos usando uma técnica
chamada seriação de desgaste , na qual o grau de desgaste de cada dente molar é
usado para avaliar a idade relativa de um indivíduo. Assim, por exemplo, a idade
da erupçã o do terceiro molar (dente do siso) foi considerada para marcar a idade
adulta, e quando o desgaste cumulativo dos dentes molares indicava que um
indivíduo tinha aproximadamente o dobro dessa idade, consideravam-se que
atingiram a idade adulta e poderiam ser avó s. . Além disso, Caspari usou o
microCT (consulte o capítulo 3) em algumas amostras dentá rias como um guia
de envelhecimento, uma vez que as cavidades pulpares dos molares diminuem
de tamanho ao longo da vida, à medida que a dentina é acumulada nelas.
Caspari e Lee realizaram comparaçõ es que variam de homininos antigos,
como os australopitecinos, até os neandertais e os cro-magnons, avaliando as
proporçõ es de adultos jovens e adultos idosos. Eles descobriram que apenas os
Cro-Magnons da Europa tinham uma alta representaçã o de indivíduos de meia-
idade a idosos (cerca de quatro vezes mais, em comparaçã o com seus
predecessores neandertais na Europa, e ainda mais distintos quando
comparados com humanos e pré-humanos anteriores). Curiosamente, os
primeiros skhul e qafzeh modernos nã o eram diferentes dos neandertais em sua
sobrevivência relativamente baixa até a meia-idade e a velhice. Por sua vez, isso
sugeria que fatores culturais, sociais ou ambientais - e nã o a biologia -
provavelmente estavam trabalhando para catalisar a mudança nos perfis
etá rios; caso contrá rio, a diferença já deveria estar aparecendo nos modernos de
100.000 anos de Israel. Se os Cro-Magnons tivessem mais adultos mais velhos,
teriam mais oportunidades reprodutivas, agrupando mais crianças em cada
período de vida fértil, e haveria mais sobreposiçã o intergeracional, permitindo
maior transferência de conhecimento e experiência ao longo dos anos. Além
disso, alguns dados de humanos recentes sugerem que os lobos frontais do
cérebro, que estã o intimamente envolvidos no planejamento do comportamento,
continuam sua ligaçã o até pelo menos 25 anos de idade, entã o isso é algo que
pode ser apenas completo em adultos que sobreviveram por tanto tempo. Mas,
voltando à hipó tese da avó e aos alopares, esses resultados sugerem que seus
efeitos benéficos mal seriam sentidos nos primeiros seres humanos, incluindo os
neandertais. O estudo de Caspari dos setenta e cinco neandertais do local de
Krapina, na Croá cia, mostrou que nã o era prová vel que os indivíduos tivessem
mais de 35 anos na morte, portanto nã o havia muitos avó s por perto, e isso seria
uma notícia ainda pior. muitos pais mais novos estavam evidentemente
morrendo antes de chegarem aos trinta. Assim, os neandertais ó rfã os teriam que
depender principalmente de irmã os mais velhos, em vez de avó s, para obter
apoio social.
Talvez tenha sido apenas com a ampliaçã o do suprimento de alimentos e dos
envolvidos em sua coleçã o que a mudança nos perfis etá rios pudesse se
desenvolver nos seres humanos modernos. E outra coisa de grande importâ ncia
teria sido possibilitada pela sobreposiçã o de três ou quatro geraçõ es nos Cro-
Magnons: parentesco prolongado. Um exemplo de quã o importante isso poderia
ter sido é mostrado pelos complexos sistemas de parentesco de muitos grupos
aborígines australianos, que determinam nã o apenas onde os indivíduos sã o
colocados na sociedade, mas quais sã o seus deveres e como serã o tratados. O
sistema determina quem pode se casar com quem, quais papéis eles
desempenharã o nas cerimô nias e como devem reagir a parentes e nã o-parentes
(por exemplo, intimidade social, relacionamentos de brincadeira ou - sugestã o
para muitos comediantes - relacionamentos de esquiva, como entre uma mã e
sogro e genro). E quando os tempos estã o difíceis, os grupos podem precisar de
apoio - ou pelo menos tolerâ ncia - um do outro, como quando um poço de á gua
precisa ser compartilhado. É fundamental que os negociadores estabeleçam se
sã o parentes ou inimigos em potencial, rastreando suas genealogias para ver se
conseguem encontrar parentes (que podem estar mortos há muito tempo) em
comum, ou se há um histó rico de disputas nã o resolvidas. Tudo isso requer
registros extensos e mapeamento de relacionamentos, que, na ausência de
armazenamento escrito ou digital, só é viá vel quando vá rias geraçõ es se
sobrepõ em, a fim de fornecer um tipo de memó ria coletiva.
Nesse ú ltimo exemplo, da Austrá lia, vemos as duas forças opostas das
relaçõ es intergrupais em açã o nos seres humanos modernos - cooperaçã o e
conflito - e, sem dú vida, essas duas foram importantes para influenciar a
evoluçã o humana recente. Passei algum tempo discutindo o papel do apoio social
mú tuo dentro dos grupos, mas os seres humanos, sem dú vida, também
desenvolveram mecanismos vitais para neutralizar encontros potencialmente
agressivos com os vizinhos. Isso incluiria casamentos interpessoais, para que
inimigos em potencial pudessem se tornar parentes, e é possível que parte do
simbolismo que vemos no Paleolítico - sejam cordas de contas como itens de
comércio amigá veis ou arte de cavernas destinadas a sinalizar limites territoriais
- fosse destinado a gerenciar as relaçõ es externas. Os antropó logos Robin Fox e
Bernard Chapais desenvolveram o argumento de que a troca de parceiros, e em
particular a troca de mulheres, associada ao casamento, era o passo evolutivo
crítico no desenvolvimento dos sistemas de parentesco que podem ser
encontrados em caçadores-coletores e pastores. em todo o mundo. Dois
componentes fundamentais desses relacionamentos sã o encontrados nos
primatas: aliança e descendência . A aliança consiste em vínculos está veis de
reproduçã o, como um gorila macho e as vá rias fêmeas com quem ele se
acasala. A descida consiste em grupos de indivíduos relacionados, como macacos
do sexo feminino que compartilham uma mã e, que se relacionam e que podem
adquirir o status de sua mã e e transmiti-lo aos filhos.
Mas o parentesco humano combina os dois, uma vez que o modo de descida
(traçado por um dos pais) é um mecanismo para a construçã o de
alianças. Portanto, embora os filhotes se dispersem, como um sexo (geralmente
mulheres) se casa fora de seu grupo imediato, eles mantêm seus laços originais
de descendência mú tua. A mudança do acasalamento relativamente promíscuo
para a uniã o de pares permitiu o reconhecimento ú nico nos seres humanos da
paternidade, das relaçõ es paternais e dos "sogros", todos eles elementos
essenciais em sistemas de parentesco verdadeiramente humanos. Temos poucas
evidências dos sistemas de parentesco dos primeiros humanos modernos ou dos
neandertais (embora veja o capítulo 7), mas a proliferaçã o de objetos simbó licos
como as contas de 80.000 anos atrá s me sugere que as trocas de parceiros (e
mais comumente sã o trocas de provavelmente) entre grupos humanos na Á frica.
No entanto, as lesõ es causadas por seres humanos primitivos, e
especialmente os neandertais, mostram que os encontros com outras pessoas no
Paleolítico nem sempre eram amigá veis e, embora haja menos evidências de tais
feridas nos seres humanos modernos, pesquisadores como Raymond Kelly
acreditam que o potencial de tanto o conflito quanto as coalizõ es também foram
uma força significativa no desenvolvimento da humanidade moderna. Eu discuti
a possibilidade de que apenas os humanos modernos possuíssem armas de
projétil em relaçã o à ferida nas costelas no Neandertal Shanidar 3, e o
surgimento de “matar à distâ ncia” seria uma ameaça tanto para os seres
humanos quanto para caçar presas. Os chimpanzés machos formam coalizõ es
agressivas para realizar ataques letais a outras tropas; portanto, é prová vel que
esse comportamento faça parte de nossa herança evolutiva e que ferramentas
em forma de rochas, porretes, pedras afiadas ou paus pontiagudos logo sejam
recrutadas. para defesa ou ataque (como em uma das famosas cenas de abertura
do filme de Stanley Kubrick, 2001: A Space Odyssey ). Como Darwin colocou em
1871: “Uma tribo incluindo muitos membros que, por possuírem em alto grau o
espírito de patriotismo, fidelidade, obediência, coragem e simpatia, estavam
sempre prontos para ajudar um ao outro e se sacrificar pelo bem comum. bom,
seria vitorioso sobre a maioria das outras tribos; e isso seria seleçã o natural.
" Nos ú ltimos 130 anos, essas visõ es formaram a base de idéias sobre “seleçã o de
grupo” por pesquisadores ilustres, que variaram de Arthur Keith e Raymond
Dart a Richard Alexander e James Moore.
Mas a partir da década de 1970, trabalhos de bió logos como William
Hamilton, Robert Trivers e Richard Dawkins enfatizaram o egoísmo dos genes e
minaram a base de muitas formulaçõ es anteriores de seleçã o de grupos. A
seleçã o age apenas em genes ou indivíduos, nã o em populaçõ es, e embora o
altruísmo (desinteresse) possa evoluir, ele só será favorecido em grupos
geneticamente relacionados. Testes matemá ticos mostraram que a seleçã o de
grupos falhava quando havia uma pequena quantidade de migraçã o entre os
grupos ou quando os "trapaceiros" exploravam a benevolência de outros para
propagar seus pró prios genes. No entanto, mais recentemente, bió logos e
antropó logos como Paul Bingham e Samuel Bowles voltaram à questã o
recrutando armas e genes para a causa da seleçã o de grupos. O argumento é que,
ao se unirem para usar armas eficazes de projéteis, os indivíduos reduziram seus
riscos separados e, portanto, coalizõ es de guerreiros teriam sido vantajosas para
a defesa e o ataque do grupo. Bingham propô s que esse desenvolvimento
também teria sido importante dentro das sociedades, impedindo os passageiros
livres que tentavam colher os frutos da associaçã o ao grupo sem contribuir com
seu quinhã o de compromisso com os custos ou riscos associados. Por mais fortes
que sejam individualmente, eles logo poderã o ser alinhados quando
confrontados com uma coalizã o de colegas armados com lança, que poderiam
atuar como executores gerais de regras e solidariedade dentro do grupo.
Bowles postulou a idéia de que se os grupos paleolíticos fossem relativamente
endogâ micos e geneticamente distintos entre si, e a guerra entre os grupos fosse
predominante, a seleçã o de grupos por meio de defesa e ataque colaborativos
poderia evoluir e ser mantida. Sem guerra, um gene com um custo de auto-
sacrifício de apenas 3% desapareceria em alguns milênios, mas com a guerra, o
modelo de Bowles mostrava que mesmo níveis de auto-sacrifício de até 13%
podiam ser mantidos. Ele usou dados arqueoló gicos (embora principalmente
pó s-paleolíticos) para argumentar que a guerra letal era de fato generalizada na
pré-histó ria, e que comportamentos altruístas de grupo benéfico que
danificavam as chances de sobrevivência dos indivíduos, mas melhoravam as
chances de o grupo vencer um conflito que poderia surgir e até prosperar. por
seleçã o de grupo. Além disso, o modelo poderia funcionar se o comportamento
em questã o fosse geneticamente baseado ou fosse uma característica cultural,
como um sistema de crenças compartilhado. Como mencionado acima, os dados
arqueoló gicos de Bowles nã o provêm do Paleolítico, mas há uma observaçã o que
ressoa com seus pontos de vista: o arqueó logo francês Nicolas Teyssandier
observou que o período de sobreposiçã o dos ú ltimos neandertais e primeiros
modernos na Europa foi caracterizado por um profusã o de diferentes estilos de
pontos de pedra. Isso pode refletir uma espécie de corrida armamentista para
aperfeiçoar as pontas das lanças, talvez para caçar com mais eficiência, mas
igualmente isso pode sugerir um maior conflito entre grupos.
Relaçõ es sociais, cooperaçã o e conflito, aquisiçã o de alimentos e mudança de
perfis etá rios poderiam ter sido importantes na formaçã o da humanidade
moderna, mas um dos marcadores do Homo sapiens - a linguagem - era sem
dú vida um fator-chave. Para a primatologista Jane Goodall, a falta de linguagem
falada sofisticada foi o que mais diferenciava os chimpanzés que ela estudou de
nó s. Uma vez que os humanos possuíssem essa faculdade, "eles poderiam
discutir eventos que haviam acontecido no passado e fazer planos de
contingência complexos para o futuro pró ximo e distante ... A interaçã o da mente
com a mente ampliou as idéias e os conceitos mais aguçados". Apesar do rico
repertó rio de comunicaçã o nos chimpanzés, sem uma linguagem humana "eles
estã o presos dentro de si".
Entã o, como poderia uma coisa tã o crítica como a linguagem evoluir nos seres
humanos, e sua evoluçã o foi gradual ou pontual? Darwin certamente favoreceu
uma evoluçã o gradual, sob os efeitos da seleçã o natural e sexual. Ele escreveu em
1871:

No que diz respeito à origem da linguagem articulada ... Nã o posso duvidar que a linguagem deva sua
origem à imitaçã o e modificaçã o de vá rios sons naturais, às vozes de outros animais e aos gritos
instintivos do pró prio homem ... talvez nenhum animal parecido com um macaco invulgarmente
sá bio tenha imitado o rosnado de um animal de rapina, e assim contou a seus companheiros macacos
a natureza do perigo esperado? Este teria sido o primeiro passo na formação de uma língua.
À medida que a voz era usada cada vez mais, os ó rgã os vocais teriam sido fortalecidos e
aperfeiçoados pelo princípio dos efeitos herdados do uso; e isso teria reagido com o poder da
fala. Mas a relaçã o entre o uso continuado da linguagem e o desenvolvimento do cérebro foi sem
dú vida muito mais importante. Os poderes mentais em algum dos primeiros progenitores do homem
devem ter sido mais desenvolvidos do que em qualquer macaco existente, antes que até mesmo a
forma mais imperfeita de falar pudesse ser usada, mas podemos acreditar com confiança que o uso e
o avanço contínuos desse poder reagiram à pró pria mente, permitindo-a e encorajando-a a continuar
longas linhas de pensamento. Uma complexa linha de pensamento nã o pode mais ser levada adiante
sem o auxílio de palavras, faladas ou silenciosas, do que um longo cá lculo sem o uso de figuras ou
á lgebra.

Em contraste com as visõ es evolucionistas gradualistas de Darwin, o linguista


Noam Chomsky há muito argumenta que a linguagem humana moderna nã o
evoluiu através da seleçã o darwiniana; de certo modo, para ele, é uma faculdade
do tipo tudo ou nada, emanando de um domínio específico da linguagem no
cérebro que pode ter aparecido por uma mutaçã o genética fortuita. Ele acredita
que todas as linguagens humanas, por mais diferentes que possam parecer à
primeira vista, sã o estruturadas em torno de uma gramá tica universal que já está
presente no cérebro dos bebês e que elas usam intuitivamente para interpretar e
depois recriar os padrõ es de fala que lhes sã o apresentados. o grupo em que
nascem. O psicó logo evolucionista Steven Pinker compartilhou algumas das
visõ es de Chomsky, em particular que existe um domínio específico para as
capacidades de linguagem no cérebro. Na sua opiniã o, esse domínio
gera mentalese (um termo criado pelo cientista cognitivo Jerry Fodor), um
có digo mental subjacente e inato a partir do qual todas as línguas humanas
podem ser forjadas. No entanto, Pinker se separou de Chomsky ao argumentar
que uma mudança gradual baseada em genética (compará vel à quela que
eventualmente levou a olhos complexos) poderia ter evoluído o "ó rgã o da
linguagem" humano e seus sistemas geradores de linguagem, em uma série de
etapas evolutivas, com seleçã o ( natural ou sexual / cultural), favorecendo o
aumento da riqueza de expressã o.
Anteriormente, discuti a opiniã o do arqueó logo Richard Klein de que havia
uma origem pontual para o comportamento humano moderno na Á frica, cerca de
50.000 anos atrá s, e, até certo ponto, suas opiniõ es podem ser comparadas à s de
Chomsky. Klein avaliou criticamente as evidências do comportamento
"moderno" antes de 50.000 anos e nã o o convenceu. Na sua opiniã o, é somente
apó s essa data que um padrã o consistente de descobertas demonstra a presença
de coisas como aumento da diversidade e especializaçã o em ferramentas, arte
indiscutível, simbolismo e ritual, expansã o para ambientes mais desafiadores,
diversificaçã o de recursos alimentares e relativamente alta densidades
populacionais. Como gatilho, ele sugere que pode ter havido “uma mutaçã o
fortuita que promoveu o cérebro totalmente moderno… a mudança genética
postulada a 50 ka promoveu a capacidade exclusivamente moderna de se
adaptar a uma ampla gama de circunstâ ncias naturais e sociais com pouca ou
nenhuma mudança fisioló gica . ” Ele especula ainda que essa religaçã o cerebral
pode ter facilitado rapidamente todas as capacidades linguísticas do Homo
sapiens , que até entã o eram um pouco diferentes das dos seres humanos
anteriores e, como ele reconhece, isso é algo que é muito difícil de demonstrar a
partir do estudo. registro fó ssil e arqueoló gico. Embora eu discorde de Klein
sobre uma “mudança” ú nica que ativou o comportamento humano moderno,
concordo com suas opiniõ es sobre a importâ ncia crítica da linguagem para nossa
espécie.
No entanto, poderia ter havido línguas pré-modernas em humanos anteriores
e nos neandertais. Robin Dunbar e a antropó loga Leslie Aiello argumentaram que
a linguagem humana talvez tenha se desenvolvido primeiro através da "fofoca",
como um complemento (e eventualmente um substituto) para o cuidado social. A
atividade de cuidar dos pêlos é realizada individualmente por muitos primatas,
para ajudar a manter seus relacionamentos e coesã o social. Dunbar e Aiello
especularam que, sem o benefício da linguagem, o tamanho crescente
dos grupos do Homo erectus exigiria que os indivíduos gastassem até metade de
seu tempo na preparaçã o social individual, deixando pouco tempo para outras
atividades vitais. Mas, ao permitir que grupos de humanos primitivos
conversassem entre si, uma linguagem primitiva poderia ter facilitado a
intimidade e a coesã o social, liberando o tempo gasto na preparaçã o.
Em contraste, o psicó logo Michael Corballis retornou à s visõ es de Darwin
sobre a importâ ncia dos gestos como precursores da linguagem, argumentando
que as á reas cerebrais importantes para a produçã o da linguagem em humanos
estã o realmente preocupadas com açõ es manuais em outros primatas. Da mesma
forma, o psicó logo Michael Tomasello vê a linguagem como tendo evoluído como
uma ferramenta social prá tica de comunicaçã o sobre solicitaçõ es, informaçõ es e
cooperaçã o. Na sua opiniã o, a fala é o componente supremo, e talvez evoluído, do
que chamamos de linguagem humana, mas poderia ter sido precedida de gestos,
assim como ocorre em bebês humanos. De fato, há evidências considerá veis de
que nos comunicamos - à s vezes inconscientemente - por meio de nossa
linguagem corporal e postura, ainda um vestígio importante de nossa herança de
primatas pré-lingü ísticos. Outros pesquisadores defenderam uma ligaçã o entre a
codificaçã o do cérebro para a fabricaçã o de ferramentas e a linguagem, uma vez
que ambos sã o processos sequenciais que envolvem intençã o e açõ es musculares
finamente controladas; assim, as crianças aprendem a manipular e montar
palavras, como também manipulam e montam objetos. E é certamente possível
que partes do cérebro que já estavam lá e cumprindo diferentes funçõ es tenham
sido cooptadas para lidar com as crescentes demandas geradas pela linguagem
para armazenamento, processamento e controle muscular.
Na minha perspectiva, a linguagem humana moderna provavelmente evoluiu
da crescente complexidade social nos ú ltimos 250.000 anos para reforçar a
leitura e a comunicaçã o da mente, e eu concordo com o arqueó logo Steven
Mithen que, ao melhorar a fluidez cognitiva, a linguagem levou os humanos
modernos a mundos novos e compartilhados que eram desconhecidos por
nossos ancestrais. Os neandertais também devem ter um alto conhecimento do
mundo em que viviam (por exemplo, sobre os materiais dos quais fabricavam
ferramentas e os animais que caçavam). Mas, a meu ver, o domínio deles era
basicamente o aqui e agora, e eles nã o habitavam regularmente os mundos
virtuais do passado, do futuro e dos espíritos. Apó s nossa separaçã o evolutiva, há
cerca de 400.000 anos, nó s e os neandertais percorremos caminhos paralelos
para desenvolver a complexidade social e, com ela, a complexidade da
linguagem. Por qualquer motivo, viajamos mais longe, e os neandertais chegaram
ao fim de seu longo caminho cerca de 30.000 anos atrá s.
Tentativas foram feitas por cientistas como Philip Lieberman e Jeff Laitman
para reconstruir as capacidades de fala dos neandertais e de outros hominídeos
primitivos, com base na forma da base de seus crâ nios e na posiçã o dos marcos
anatô micos críticos. Na visã o deles, os humanos modernos possuem uma língua,
garganta e trato vocal de formato ú nico, facilitando o alcance e as complexidades
dos sons necessá rios para a fala totalmente humana. A seleçã o darwiniana deve
ter operado variaçõ es na forma do crâ nio, levando à sua reestruturaçã o e à
modificaçã o da garganta de suas funçõ es dominantes anteriores de respiraçã o e
deglutiçã o, em direçã o à s complexidades das modernas capacidades de fala
humana, desde que as habilidades vocais recém-adquiridas conferissem
vantagem . O preço que pagamos por essa reformulaçã o das prioridades na
garganta é um risco muito maior de engasgar com a comida, em comparaçã o com
os chimpanzés e os primeiros hominídeos. No caso dos neandertais, seus tratos e
capacidades vocais eram aparentemente mais pró ximos dos de uma criança de
dois anos do que de um adulto moderno; no entanto, nã o há dú vida de que se o
cérebro neandertal estivesse codificando uma linguagem complexa, mesmo esse
tipo de trato vocal teria feito o trabalho, embora com um repertó rio de sons mais
restrito.
Voltando à lista de atributos humanos modernos que discuti no capítulo
anterior, na minha opiniã o, os humanos modernos haviam se desenvolvido a
maioria deles há 60.000 anos, mesmo que nem sempre estivessem presentes
como um pacote o tempo todo a partir das evidências que temos. encontrado até
agora: isto é, ferramentas complexas, cujos estilos podem mudar rapidamente
através do tempo e do espaço; transporte de longa distâ ncia de materiais
valiosos, como pedra, conchas, miçangas, â mbar; evidência de cerimô nias ou
rituais de arte, estruturas ou tratamento complexo dos mortos (este ú ltimo
inferido dos enterros simbó licos de Skhul e Qafzeh). Mas para alguns dos
atributos, as evidências até agora sã o ambíguas ou apenas parcialmente,
incluindo artefatos formais moldados de osso, marfim, chifre, concha e materiais
semelhantes; maior complexidade dos procedimentos de coleta e processamento
de alimentos, como o uso de redes, armadilhas, equipamentos de pesca e
culiná ria complexa; arte, incluindo símbolos abstratos e figurativos; e estruturas
como tendas ou cabanas para morar ou trabalhar, organizadas para diferentes
atividades, como fabricaçã o de ferramentas, preparaçã o de alimentos e sono e
para lareiras. Em relaçã o à s densidades populacionais mais altas que se
aproximam das dos caçadores-coletores modernos, discutirei esse aspecto mais
adiante, no capítulo 7, da perspectiva dos dados genéticos. E com relaçã o ao
aumento do "buffering" cultural para se adaptar a ambientes mais extremos,
como desertos ou estepes frias, pode ser que esse aspecto tenha evoluído mais
gradualmente à medida que os humanos modernos cresceram em nú mero e se
dispersaram até os confins da Terra.
No capítulo 4, discuti como ossos ó sseos fó sseis da Europa e da China
mostraram que os primeiros modernos das duas regiõ es aparentemente
descobriram os benefícios do calçado e os padrõ es de objetos, como miçangas
costuradas, alfinetes e alternadores, nos enterros de Cro-Magnon existência de
roupas ajustadas, assim como a presença de agulhas nos ossos dos olhos. As
roupas teriam sido de grande valia para os seres humanos em climas mais frios e,
embora as evidências diretas tenham perecido, parece prová vel que os
neandertais tivessem a tecnologia de trabalho da pele necessá ria para fazer pelo
menos roupas bá sicas para manter o frio e a umidade do corpo. .
Réplica de um mamute esculpido em chifre de rena, do abrigo de rochas de Montastruc, na
França. O original fazia parte de um atirador de lança (atlatl) e tem cerca de 14.000 anos.

Muitos povos modernos nas regiõ es tropicais e subtropicais geralmente usam


pouca ou nenhuma roupa, além do que pode ser necessá rio por razõ es de
modéstia ou tradiçã o, e os seres humanos têm a capacidade de se adaptar
fisicamente a climas mais frios. Quando Darwin e o Beagle visitaram as regiõ es
terrivelmente frias da Terra do Fogo na ponta subpolar da América do Sul, ele
ficou surpreso ao ver que os povos nativos usavam pouca ou nenhuma roupa e
dormiam nus ao ar livre. Os australianos nativos também têm adaptaçõ es físicas
que os ajudam a dormir à noite no interior, mas curiosamente os europeus
parecem fisiologicamente pouco adaptados ao frio - algo que eles parecem nã o
ter adquirido dos neandertais, apesar da probabilidade de cruzamento. No
entanto, condiçõ es frias também estavam presentes na Á frica, nas terras altas e
em á reas sem nuvens à noite, e roupas bá sicas e roupas de cama quentes à s
vezes seriam vantajosas.
Com as baixas temperaturas da ú ltima Era do Gelo, os modernos em partes da
Á frica há 60.000 anos atrá s certamente se beneficiariam de roupas e roupas de
cama quentes. Embora nã o tenhamos evidências diretas disso a partir desse
período, temos algumas pistas genéticas. Os seres humanos sã o infectados por
piolhos da cabeça e do corpo e, enquanto ambos se alimentam sugando sangue
através de nossa pele, estes vivem e depositam seus ovos em roupas e roupas de
cama, fato que Mark Stoneking e Melissa Toups e seus colegas utilizaram para
estudos evolutivos . Ambas as equipes argumentaram que a origem da forma
distinta de piolho do corpo provavelmente correspondia à oportunidade
oferecida pelo uso regular de roupas e roupas de cama. Usando reló gios
moleculares mtDNA de evoluçã o de piolhos em humanos e macacos, eles
estimaram a origem dos piolhos do corpo entre 80.000 e 170.000 anos
atrá s. Isso, por sua vez, sugeria que roupas de cama e roupas já poderiam ter sido
usadas por humanos modernos na Á frica, e eles levaram essa inovaçã o valiosa
quando deixaram sua terra natal ancestral - junto com os piolhos. No entanto, há
outra possibilidade a considerar. O arqueó logo Timothy Taylor destacou, com
razã o, a invençã o do sling de bebê como um desenvolvimento crucial para a
maneira como libertou as mulheres das restriçõ es ao transporte de bebês e dos
limites da enfermagem está tica, e ele considera que isso deve ter acontecido
relativamente cedo na evoluçã o humana. Mas se a inovaçã o realmente
acontecesse com os humanos modernos, na Á frica, isso poderia ter
proporcionado um novo lar e um ponto de partida para esses piolhos incô modos.
Um companheiro de viagem mais bem-vindo da diá spora humana moderna
da Á frica pode ter sido o cachorro, o primeiro animal doméstico conhecido. Há
evidências de que os Aurignacianos que vivem na Caverna Goyet, na Bélgica, já
tinham cã es grandes acompanhando-os cerca de 35.000 anos atrá s. Os cã es eram
anatomicamente distintos dos lobos em suas proporçõ es dentá rias e focas mais
curtas e mais amplas, e dados isotó picos sugerem que eles, como os humanos,
estavam se alimentando de cavalos e gado selvagem. Além disso, foi obtido o
DNA antigo de cã es, o que mostrou que os cã es belgas já eram geneticamente
diversos e que suas seqü ências mitocondriais nã o podiam ser comparadas entre
os grandes bancos de dados de DNA contemporâ neo de cã es e lobos. Esses
achados sã o importantes porque sugerem que a domesticaçã o de cã es já estava
em andamento bem antes de 35.000 anos atrá s.
Entã o, onde foram os primeiros cã es domesticados? Essa é uma pergunta
muito difícil de responder do DNA moderno de cã es e lobos, sem uma ligaçã o
clara e clara entre as duas espécies ou subespécies. De fato, é bem prová vel que a
domesticaçã o tenha ocorrido mais de uma vez, em diferentes regiõ es e a partir
de distintos estoques de lobos. Dada a faixa pleistocena do lobo, o primeiro
evento pode ter ocorrido no oeste da Á sia, logo depois que os humanos
modernos chegaram lá cerca de 55.000 anos atrá s ou, como sugerem alguns
dados de DNA, mais ao leste da Á sia. Pode ter acontecido através da adoçã o de
filhotes, ou talvez através de uma relaçã o gradual de tolerâ ncia enquanto lobos
passeavam pelos acampamentos humanos. Com a criaçã o seletiva de cã es e a
adaptaçã o um ao outro, um relacionamento especial provavelmente se
desenvolveu rapidamente. (Na Rú ssia, as raposas prateadas foram criadas para
se comportarem como cã es por apenas cinquenta anos.) Cã es antigos
obviamente foram criados com sucesso e, para os humanos, as vantagens de tê-
las para fornecer olhos, narizes e ouvidos extras (e mais agudos), assim como
velocidade e presas, eram claros. E ocorreu a coevoluçã o - os cérebros de cã es
sã o, em média, cerca de 25% menores que os cérebros de lobo, e ainda assim eles
têm muitas habilidades que os lobos nã o têm. Por exemplo, mesmo quando
filhotes, eles podem seguir apontamentos humanos para encontrar objetos
ocultos, e seus poderes de atençã o e imitaçã o correspondem ou excedem os dos
macacos, sugerindo cogniçã o e leitura de mente bastante sofisticadas no domínio
social. E se os Cro-Magnons Aurignacianos eram regularmente acompanhados
por cã es, isso poderia ter sido outra vantagem que eles tinham sobre o ú ltimo
dos Neandertais?
Existem outras questõ es importantes na dispersã o Fora da Á frica
relacionadas ao comportamento que também precisam ser abordadas. Se e
quando os humanos modernos encontraram os neandertais, quantas diferenças
comportamentais entre eles afetaram a maneira como se viam? Eles teriam se
percebido simplesmente como outras pessoas, inimigos ou até a pró xima
refeiçã o? Nã o sabemos a resposta, e ela pode ter variado de um tempo para
outro, especialmente devido aos caprichos do comportamento humano. Essas
populaçõ es estavam divergindo por muito mais tempo do que quaisquer grupos
humanos modernos que se encontraram nas Américas e na Austrá lia durante a
"Era das Descobertas" colonial. Na minha opiniã o, provavelmente havia
profundas diferenças na aparência, expressã o, linguagem corporal,
comportamento geral e talvez até coisas como o cheiro, o que teria afetado a
forma como os neandertais e os primeiros modernos se viam. Como um exemplo
que parece se aplicar até à s populaçõ es relativamente estreitamente
relacionadas da Europa e do Extremo Oriente hoje, há algumas evidências de que
esses grupos leem expressõ es faciais de maneira um pouco diferente - europeus
usando todo o rosto e asiá ticos orientais se concentrando mais nos olhos. dicas
para determinar o humor. Como resultado, os asiá ticos (em uma amostra
reconhecidamente pequena) eram mais propensos a ler sinais faciais europeus
por medo como indicaçã o de surpresa, enquanto eles com mais frequência
sentiam repulsa por indicar raiva. Se essas diferenças surgiram entre os
humanos modernos nos ú ltimos 50.000 anos, o potencial de interpretaçõ es
errô neas entre os neandertais e os modernos poderia ter sido ainda maior. Tais
fatores, bem como as possíveis diferenças de linguagem, comunicaçã o simbó lica
e estrutura social, teriam sido tã o importantes quanto os físicos para determinar
se o cruzamento ocorreu, e quais foram os destinos de qualquer descendência
que possa ter resultado disso.
O que o repertó rio simbó lico dos neandertais realmente era permanece um
assunto de intenso debate. Enquanto os primeiros modernos da Á frica pareciam
ter preferido a sinalizaçã o de hematita por sangue, há evidências (discutidas em
breve) de que grupos de neandertais na Europa utilizavam pigmentos escuros,
como dió xido de manganês e até pirita. Parte disso pode ter sido por razõ es
funcionais, como também foi sugerido para a hematita, como tratamento de
couros e mistura com resinas para formar um adesivo. Mas, com dados genéticos
emergentes de que alguns neandertais eram de pele clara (ver capítulo 7), pode
ser que os pigmentos vermelhos aparecessem melhor nos africanos de pele
escura, enquanto os pigmentos pretos seriam favorecidos pelos neandertais de
tons mais claros. É claro que até marcar a pele com pigmento poderia ter um
objetivo funcional nos neandertais, camuflando-os para a caça à s emboscadas,
mas há outras indicaçõ es controversas de que eles estavam sinalizando
simbolicamente - mas para quem?
A Grotte du Renne (caverna das renas) em Arcy, na França, é um local que,
como Saint-Césaire, demonstrou a associaçã o dos neandertais com a indú stria
châ telperroniana "avançada". Nã o existem apenas as ferramentas de pedra
características dessa indú stria, mas também partes do crâ nio de uma criança
neandertal e dentes isolados de neandertal. Mais surpreendentemente, porém,
existem dentes de animais perfurados para fazer pingentes e fragmentos de osso
trabalhado e marfim de mamute. Esses ú ltimos itens sã o, é claro, também
característicos da indú stria aurignaciana, que parece ter sido o produto dos
primeiros Cro-Magnons. Entã o, o que estava acontecendo aqui? Existem vá rias
possibilidades, cada uma das quais conta com o apoio de um grupo de
arqueó logos ou de outro. Uma é que os objetos simbó licos nã o foram feitos ou
usados pelos neandertais, mas de fato os produtos dos seres humanos modernos
- aqueles que visitaram brevemente o local e deixaram itens como os pingentes
de lá ou aqueles que viveram lá depois, depois dos quais os depó sitos da caverna
se tornaram misturados ou nã o foram escavados o suficiente para distinguir as
ocupaçõ es separadas. Para sustentar essa visã o, há uma recente dataçã o por
radiocarbono do local, que sugere que os depó sitos de Châ telperronian sofreram
perturbaçõ es e misturas. Mas, contra isso, há o fato de que outros locais da
Châ telperronian na França e na Espanha exibem ferramentas de pedra e osso
“avançadas” semelhantes à s da Arcy, e pelo menos uma outra contém pingentes.
Um segundo ponto de vista é que os itens simbó licos foram feitos pelos
modernos, mas haviam sido negociados em grupos neandertais, ou que os
neandertais os haviam recolhido em um local pró ximo de Cro-Magnon. Uma
terceira sugestã o é que os neandertais foram aculturados pelos modernos
contemporâ neos - ou seja, foram influenciados por eles e estavam, por exemplo,
copiando seus estilos de jó ias. E uma quarta idéia é que os neandertais
continuavam de fato sua tradiçã o independente de desenvolver complexidade e
passavam por um processo paralelo de se tornarem "modernos" - mas de um
modo neandertal!

Os neandertais também usavam pigmentos - estes sã o de dió xido de manganês de Pech-de-l'Azé,


na França.

Em apoio a esse ú ltimo ponto de vista, há indiscutivelmente evidências ainda


mais fortes do comportamento social complexo dos neandertais de dois locais de
cavernas do Paleolítico Médio no sudeste da Espanha (Cueva Antó n e Cueva de
los Aviones). Lá , estudos e escavaçõ es de museus liderados pelo arqueó logo Joã o
Zilhã o encontraram conchas que aparentemente haviam sido usadas
simbolicamente. Cascas de berbigã o e vieiras com orifícios naturais nos lugares
certos para serem amarradas, pois os pingentes haviam sido coletados e
transportados para o interior. Algumas conchas tinham pigmentos claros ou
escuros armazenados ou pintados, e uma concha de ostra espinhosa continha
pigmento moído que aparentemente havia sido misturado com pirita como um
cosmético brilhante. Embora a vieira pintada de Cueva Antó n tenha
provavelmente menos de 40.000 anos e, portanto, possa refletir a influência de
Cro-Magnon, o material de Cueva de los Aviones datava de cerca de 50.000 anos
atrá s, aparentemente velho demais para que essa explicaçã o se aplicasse. Mas,
em ambos os casos, esses sites representam fortes evidências de que pelo menos
alguns neandertais estavam se expressando simbolicamente, aparentemente
tanto quanto muitos africanos da Idade da Pedra, e voltarei a essa questã o no
pró ximo capítulo.
Em 1993, Clive Gamble e eu argumentamos que os neandertais haviam
absorvido aspectos da cultura Cro-Magnon, mas, embora pudessem "imitar ... nã o
podiam entender completamente". Agora, eu diria que, se os neandertais
estivessem fazendo ou usando objetos como pingentes, eles estavam
participando de simbolismo como os modernos, se eles estavam sinalizando
dentro de seus pró prios grupos ou para outros, que à s vezes poderiam até incluir
os primeiros cro -Magnons. E se é assim, a idéia de que esses aspectos do
comportamento humano moderno resultaram unicamente de mudanças
genéticas nos povos africanos da Idade da Pedra Média deve estar errada, a
menos que os neandertais tenham passado por mudanças mutacionais
semelhantes em sua pró pria evoluçã o, ou adquiriram os genes modernizadores
por hibridaçã o - um assunto que discutirei em mais detalhes no pró ximo
capítulo.

7
Genes e DNA

Como muitas pessoas, estou curioso sobre minhas origens e fiquei satisfeito
quando os geneticistas Bryan Sykes e Alan Cooper quiseram provar e determinar
meu DNA - ou pelo menos um pouquinho dele contido nas mitocô ndrias de
minhas células (DNA mitocondrial). Mas eles tinham um objetivo prá tico em
mente, pois eram pioneiros na extraçã o de DNA de fó sseis humanos e queriam
excluir qualquer parte do meu DNA que pudesse estar contaminando os fó sseis
que eu manipulei, ou que toquei brevemente. Eles tiveram sorte porque eu tive
algumas mutaçõ es incomuns no meu mtDNA, o que o torna muito reconhecível,
mas ainda assim foi chocante descobrir que meu DNA havia deixado uma trilha
contaminadora nos museus da Europa! Como Alan Cooper gosta de acusar
paleoantropó logos, em termos de contaminaçã o de fó sseis, ele tentou estudar:
"Vocês todos sã o pessoas muito sujas!"
Neste capítulo, examinaremos a enorme quantidade de dados genéticos sobre
a evoluçã o de nossa espécie e nossa diversidade que está sendo gerada agora e
abordaremos a origem e o significado das diferenças regionais ("raciais"). Os
dados genéticos podem ser usados para analisar a demografia de humanos
antigos na Á frica, o tamanho do nosso grupo ancestral de pessoas e os nú meros
que podem ter deixado a Á frica para fundar as populaçõ es do resto do
mundo. Eles também podem ser usados para estimar datas para eventos em
nossa histó ria evolutiva, como nossa separaçã o dos neandertais e quando nossos
ancestrais humanos modernos se mudaram da Á frica. Além disso, na ú ltima
década, avanços científicos nos deram vislumbres minú sculos, mas inestimá veis,
da composiçã o genética dos neandertais e agora estã o fornecendo um genoma
neandertal quase completo para comparar com o nosso e com o dos
chimpanzés. Essa comparaçã o tripartite iluminará o que torna cada espécie
realmente distinta e abrirá o caminho para reconstruir, pelo menos até certo
ponto, como eram os neandertais em carne e talvez até a humanidade de seus
cérebros e modos de pensar. Junto com a discussã o dos dados genéticos,
apresentarei minhas opiniõ es sobre as evidências de acasalamento entre os
neandertais e os humanos modernos.
Charles Darwin e seus contemporâ neos nã o tinham conhecimento real dos
mecanismos por trá s da herança dos personagens corporais, e suas idéias
predominantes eram de traços mistos entre os dois pais - e no caso de Darwin,
que cada célula do corpo produzia gemas , que se aglomeravam para reconstituir
indivíduos de estrutura semelhante na pró xima geraçã o. Como é sabido,
enquanto Darwin escrevia sobre tais assuntos, o monge e cientista Gregor
Mendel conduzia experimentos sobre hereditariedade em Brno (Repú blica
Tcheca), usando ervilhas e abelhas. Ele percebeu que grande parte da herança
era particulada e nã o misturada, e que características (geralmente em vá rios
estados alternativos) eram herdadas seguindo certas regras. O trabalho de
Mendel foi amplamente ignorado por outros 35 anos, mas foi redescoberto por
volta de 1900, dezesseis anos apó s sua morte, quando as unidades de herança
eram conhecidas como genes .
Meio século depois desse reconhecimento, a estrutura e o papel do á cido
desoxirribonucleico (DNA) na composiçã o dos genes foram descobertos, e a
ciência moderna da genética começou a decolar. Percebeu-se que a capacidade
do DNA de se replicar residia em sua ú nica escada trançada de bases
emparelhadas. A base química adenina (A) sempre foi emparelhada com timina
(T) através das cadeias de DNA e citosina (C) com guanina (G). Assim, quando a
escada se divide para replicaçã o, cada metade pode formar um modelo a partir
do qual toda a sua estrutura pode ser recriada. A pesquisa de DNA tornou-se
cada vez mais importante para a antropologia nos estudos da evoluçã o dos
primatas e suas estruturas sociais atuais, e para os seres humanos em termos de
nossas afinidades com os outros primatas, com as relaçõ es populacionais atuais e
com as reconstruçõ es de nossa histó ria evolutiva.
Atualmente, nosso parentesco pró ximo com os macacos africanos está bem
estabelecido - algo que sem dú vida teria agradado Darwin e seu aliado pró ximo,
Thomas Henry Huxley. Mas, antes do impacto dos estudos genéticos, era prá tica
comum para os antropó logos argumentar que, embora sem dú vida estivéssemos
relacionados biologicamente com os grandes símios, nossas características
"humanas" especiais, como andar de pé, ter um cérebro grande, fazer
ferramentas e falar , fundamentalmente nos separa deles. Isso significava que
está vamos justificados em classificar os seres humanos como uma família
zooló gica separada (os hominídeos) como distinta dos macacos
(pongídeos). Além disso, acreditava-se que nossas características especiais
deviam levar muito tempo para evoluir, muitos antropó logos eram a favor da
ideia de que nossa linhagem se separava da dos macacos há mais de 15 milhõ es
de anos atrá s.
Essa visã o foi deixada de lado nos ú ltimos vinte anos por uma riqueza de
dados genéticos que sugerem que os chimpanzés (comum e bonobo) diferem
apenas de nó s em cerca de 2% de seu material genético. O valor real dado varia
porque os especialistas diferem na maneira como eles contam os dados; por
exemplo, se considerar sequências totais de DNA, incluindo regiõ es de DNA que
nã o parecem funcionais e podem ser duplicadas vá rias vezes, ou comparando
sequências que podem ser equivalentes precisas entre si ou restringindo o
cá lculo a Regiõ es "funcionais" ou codificantes do DNA. Independentemente disso,
as diferenças sã o compará veis à s encontradas entre mamíferos intimamente
relacionados, como elefantes africanos e indianos, cavalos e zebras ou chacal e
lobo. Essa semelhança implica que deve haver uma estreita relaçã o evolutiva, e a
calibraçã o (estimativas de idade) usando o registro fó ssil e as distâ ncias
genéticas envolvidas sugere que nossa linha de evoluçã o e a dos chimpanzés
podem ter se separado apenas cerca de 6 milhõ es de anos atrá s. Essa visã o
começou a ganhar ascendência há cerca de trinta anos, apó s o trabalho pioneiro
de Allan Wilson e Vince Sarich, que conduziram estudos usando diferenças
genéticas na proteína albumina, mostrando que o orangotango asiá tico estava
menos relacionado conosco do que os grandes macacos africanos . Esse
relacionamento estreito agora é frequentemente reconhecido ao admitir
chimpanzés (e menos consistentemente também o gorila) na família dos
hominídeos, junto conosco e com nossos parentes imediatamente extintos.
Varrimentos comparativos em larga escala dos genomas de humanos e
chimpanzés mostram que a grande maioria das cerca de 3 bilhõ es de “letras” de
nossos có digos genéticos é compartilhada, mas os trechos raros de DNA distinto
estã o começando a produzir informaçõ es de grande interesse evolutivo. Alguns
estã o claramente relacionados à s vá rias epidemias passadas à s quais nó s e
nossos parentes primatas fomos expostos, por exemplo, ao conferir resistência a
retrovírus como o HIV, mas outros podem estar relacionados a alteraçõ es
físicas. Por exemplo, um grupo de 118 bases conhecido como região humana
acelerada 1 ( HAR1 ) é virtualmente idêntico em animais tã o diferentes quanto
galinhas e chimpanzés, com apenas duas diferenças de codificaçã o, mas os
humanos acumularam outras dezoito mutaçõ es. Experimentos mostraram que
essa sequência de DNA é importante na construçã o da estrutura e conexõ es do
có rtex cerebral, a camada mais externa e enrugada do cérebro que é tã o
importante para a inteligência humana (ver capítulo 8). Muitos outros genes
envolvidos no crescimento do cérebro como um todo, como ASPM, CDK5RAP2,
CENPJ e MCPH1 (microcefalina), também mostram mudanças aceleradas em
comparaçã o com os chimpanzés, e retornaremos em breve ao ú ltimo deles -
microcefalina.
É interessante notar que muitas das diferenças de seqü ência de DNA que sã o
acentuadas entre nó s e nossos parentes vivos mais pró ximos nã o estã o
preocupadas com mudanças diretas na estrutura de uma proteína ou enzima, por
exemplo. Em vez disso, as inserçõ es do que é chamado de elementos
transponíveis afetam partes do có digo genético, agindo como interruptores para
ativar e desativar os genes funcionais. Se os produtos diretos do DNA puderem
ser comparados aos ingredientes de uma receita, essas mudanças igualmente
importantes nos genes reguladores poderã o ser vistas como uma alteraçã o das
instruçõ es de como exatamente a comida deve ser preparada, o que produzirá
resultados diferentes (por exemplo, chimpanzés ou humanos) de uma receita
semelhante (nosso có digo de DNA). Assim, a região acelerada humana
2 ( HAR2 ou HACNS1 ) impulsiona a atividade gênica na construçã o da estrutura
dos ossos do punho e das mã os antes do nascimento, e é prová vel que essas
novas alteraçõ es de DNA nos seres humanos contribuam para nossas mã os
distintas e sua maior destreza, em comparaçã o com os de chimpanzés e gorilas.
Além de comparar nosso DNA com o de nossos parentes vivos mais pró ximos,
os chimpanzés, podemos inferir uma quantidade crescente de informaçõ es sobre
nosso passado evolutivo a partir do DNA de seres humanos vivos, já que cada um
de nó s carrega um registro ancestral trancado em nossos genes, algo muito mais
detalhado do que um conjunto de registros paroquiais, e um que remonta muito
mais ao tempo. Como o DNA é copiado repetidamente, especialmente quando é
passado dos pais para os filhos, sã o cometidos erros de có pia e, se as alteraçõ es
nã o forem muito desvantajosas ou letais, essas mutaçõ es também serã o
copiadas. Assim, eles podem se acumular ao longo do tempo e nos permitem
seguir linhas particulares de evoluçã o genética e estimar o tempo envolvido em
sua acumulaçã o.
Para nossos propó sitos, existem três tipos de DNA que podem ser
estudados. O primeiro tipo é chamado DNA autossômico . Esse DNA compõ e os
cromossomos contidos no nú cleo das células do corpo, mas exclui o caso especial
do cromossomo Y relacionado ao homem, ao qual abordaremos mais adiante
neste capítulo. Ele contém as plantas para a maioria de nossas estruturas
corporais e herdamos uma combinaçã o delas, com nossos pais fazendo
contribuiçõ es de cerca de 50% cada. O DNA autossô mico também contém muitos
segmentos longos do chamado DNA lixo, que nã o codificam características como
cor dos olhos ou tipo de grupo sanguíneo. No entanto, esses segmentos sã o
copiados, juntamente com o DNA codificador, e sofrem mutaçõ es ao longo do
tempo. Apesar do apelido de "lixo", alguns sã o conhecidos por operar como
comutadores genéticos e podem nos fornecer informaçõ es valiosas sobre
relacionamentos evolutivos. De fato, essas seqü ências sã o geralmente mais ú teis
em estudos evolutivos e populacionais porque podem nã o ter sido tã o afetadas
pelas consequências distorcivas da seleçã o, que sã o mais fortes no DNA funcional
- ou seja, contendo có digo genético (embora o DNA lixo possa ser afetado quando
está estruturalmente ligado ao DNA funcional que está sob seleçã o).
O segundo tipo de DNA está no cromossomo Y, que determina o sexo
masculino nos seres humanos. As fêmeas normais têm 23 pares de
cromossomos, incluindo um par de cromossomos X, enquanto os machos
normais têm apenas 22 pares, mais um cromossomo X (herdado da mã e) e um
cromossomo Y (herdado do pai) . O DNA desse cromossomo pode ser usado para
estudar histó rias evolutivas apenas em homens, sem a complicaçã o de herança
de dois pais que vem com o estudo do DNA autossô mico - bem como a
continuidade dada por sobrenomes masculinos em muitas sociedades.
O terceiro tipo de DNA é o agora famoso DNA mitocondrial ( mtDNA ),
encontrado fora do nú cleo das células e herdado apenas pelas fêmeas. Embora
esse ú ltimo tipo de DNA tenha atraído a maior atençã o da mídia e da ciência
popular - porque fornece um sinal tã o claro de ancestralidade - a aná lise do DNA
autossô mico mais extenso e de seus produtos (a maioria dos constituintes vitais
de nosso corpo, como ó rgã os, proteínas, enzimas, antígenos) tem uma histó ria
muito mais longa em estudos evolutivos. Por exemplo, um estudo de proteínas
de macacos e de sangue humano levou à primeira sugestã o de divergência
posterior entre humanos e macacos africanos, em comparaçã o com macacos
asiá ticos.
Como o pró prio nome sugere, o DNA mitocondrial é encontrado nas
mitocô ndrias. Esses pequenos corpos sã o as centrais elétricas das células,
transformando nutrientes em energia utilizá vel para as células fazerem seu
trabalho. Seu DNA é passado no ó vulo da mã e quando se torna a primeira célula
de seu filho, e pouco ou nenhum DNA do esperma do pai parece estar
incorporado na fertilizaçã o. Isso significa que o mtDNA basicamente rastreia a
evoluçã o apenas através do sexo feminino (de mã e para filha), uma vez que o
mtDNA de um filho nã o será repassado aos seus filhos. A molécula do mtDNA é
formada em um loop e consiste em cerca de 16.000 pares de bases. Apenas
alguns deles sã o funcionais - ou seja, contêm có digo genético para produzir
proteínas específicas como o citocromo - e o restante do mtDNA é, portanto,
muito mais propenso a mutaçõ es. Assim, o mtDNA geralmente muda a uma taxa
muito mais rá pida que o DNA nuclear, tornando-o ideal para o estudo de eventos
recentes e evoluçã o de curto prazo. Como mencionado na introduçã o, antes da
recuperaçã o do DNA neandertal, o maior impacto ú nico dos dados genéticos nas
pesquisas sobre evoluçã o humana ocorreu em 1987, com a publicaçã o do estudo
de Cann, Stoneking e Wilson sobre a variaçã o do mtDNA em humanos
modernos. Descrevi como o trabalho foi alvo de fortes ataques, principalmente
de multiregionalistas descontentes, mas as aná lises cada vez mais detalhadas
realizadas desde entã o mostraram que as conclusõ es de 1987 eram
essencialmente corretas, mesmo que fossem um pouco superinterpretadas.
Alguns cá lculos agora colocam o ú ltimo ancestral comum do mtDNA (Eva)
com menos de 150.000 anos, e é claro que, em toda a espécie humana atual,
nosso mtDNA varia muito menos do que é o caso das grandes espécies de
macacos. Isso levou à idéia de que um gargalo recente - uma queda drá stica na
populaçã o - cortou a variaçã o encontrada anteriormente na linha humana
moderna. No entanto, de acordo com o apelido alternativo de Eva - “mã e de
sorte” - alguns geneticistas explicaram que esse padrã o poderia ter ocorrido
puramente por acaso se apenas uma mulher daqueles tempos antigos tivesse a
sorte de ter uma cadeia fértil de descendentes fêmeas até o presente. Assim,
todas as outras mã es da época acabaram por desafortunadamente (em termos de
continuidade de seu mtDNA) sem filhos sobreviventes, ou apenas meninos ou
filhas que falharam em fornecer a necessá ria corrente contínua de fêmeas
fecundas. Nessa perspectiva, Eva nã o era uma mulher especial e nã o vivia
necessariamente em tempos especiais, mas ganhou retrospectivamente seu
status ú nico, através da boa sorte de seu mtDNA. E devemos lembrar que,
embora essa fêmea tenha dado origem a todas as variantes de mtDNA
conhecidas nos seres humanos hoje em dia, muitos outros indivíduos
contribuíram com seu Y e DNA autossô mico para as geraçõ es seguintes. O
MtDNA é importante porque fornece um sinal tã o claro de ascendência e
descendência, mas é efetivamente herdado como uma unidade como um ú nico
gene, e todas as nossas variantes de genes têm sua pró pria histó ria, convergindo
de volta (coalescendo) para genes ancestrais em vá rios momentos. o
passado. Alguns desses genes se desenvolveram muito recentemente, dentro de
segmentos menores ou maiores da populaçã o humana moderna, alguns
remontam ao nosso ancestral comum com os neandertais e outros remontam ao
nosso ancestral comum com os macacos e além. Há também outra complicaçã o
potencial na avaliaçã o da evoluçã o do mtDNA. Embora muitos dos padrõ es de
distribuiçã o que vemos hoje pareçam ser o resultado do acaso, ou de eventos
histó ricos como as migraçõ es de mulheres, é aparente que o mtDNA, que contém
alguns genes funcionais, também pode estar sujeito aos efeitos da seleçã o.
A famosa á rvore mtDNA publicada em 1987.

As mudanças nos seres humanos em comparaçã o com a sequência do genoma


do mtDNA reconstruído de Eve têm em média cerca de cinquenta substituiçõ es, e
os diferentes tipos de mtDNA dos seres humanos modernos foram divididos
em haplogrupos , aglomerados que compartilham alteraçõ es em suas seqü ências
de DNA e descendem de ancestrais que expressaram pela primeira vez essas
mutaçõ es. O haplogrupo mais antigo, chamado L, era o ancestral derivado
diretamente de Eva e é encontrado na maioria das populaçõ es da Á frica hoje. L
pode, por sua vez, ser dividido nos subgrupos L0 – L3, em termos de sua ordem
de ramificaçã o. O mais antigo deles, L0, é encontrado no sul e leste da Á frica, com
seus galhos mais antigos entre os caçadores-coletores Khoisan do sul da
Á frica. L1 é encontrado principalmente na Á frica central e ocidental, incluindo as
chamadas populaçõ es de pigmeus da floresta equatorial central, enquanto L2 é o
mais comum na Á frica, com cerca de 25%, principalmente no oeste e sudeste. O
mais jovem desses grandes haplogrupos, L3, é comum na Á frica subsaariana,
especialmente nas populaçõ es de língua bant, e acredita-se que tenha se
originado na Á frica oriental. Isso faz sentido em termos evolutivos, porque essa
regiã o e L3 foram provavelmente a principal fonte das populaçõ es que saíram da
Á frica e fundaram os haplogrupos nã o africanos M e N, encontrados em todo o
mundo.
É claro que os movimentos populacionais, particularmente no ú ltimo milênio,
translocaram muitas linhagens para longe de seus locais de origem, e uma
grande indú stria cresceu para ajudar as pessoas a rastrear seus ancestrais
através do mtDNA. Isso se mostrou controverso porque sua ascendência ao
mtDNA é apenas uma pequena parte de sua ascendência genética total, mas junto
com o DNA do cromossomo Y para os homens, o mtDNA é muito fá cil de
amostrar, sequenciar e rastrear. No entanto, mesmo quando rastreados com
êxito, os resultados sã o tã o bons quanto os dados comparativos usados para
"realocar" as pessoas (ou pelo menos esses pequenos pedaços de seu DNA) para
suas pá trias originais e para muitas partes do mundo, incluindo a Á frica, ainda
sã o pouco amostradas para o DNA. Sabemos que o mtDNA africano contém as
linhagens mais antigas e a maior diversidade para os seres humanos modernos,
consistente com a Á frica sendo nosso local de origem e a regiã o com o maior
tamanho populacional antigo, o que foi capaz de conservar essa diversidade.
O DNA mitocondrial tem sido amplamente utilizado para medir tamanhos
populacionais antigos, embora as estimativas desses dados genéticos sejam
repletas de dificuldades, uma das quais é que os cá lculos geralmente fornecem
um tamanho populacional eficaz - em essência, o tamanho da populaçã o
reprodutora. Para o mtDNA, esse é o tamanho estimado do pool de “mã es”,
enquanto o tamanho real da populaçã o (incluindo machos reprodutores e
indivíduos jovens ou velhos demais para se envolverem em procriaçã o)
obviamente seria muito maior. No entanto, muitas estimativas do tamanho da
populaçã o antiga, seja de mtDNA, Y-DNA, X-DNA ou outro DNA autossô mico, sã o
surpreendentemente baixas quando consideramos hoje os bilhõ es de seres
humanos na Terra. O tamanho efetivo a longo prazo da populaçã o ancestral para
os humanos modernos pode ter sido de apenas 10.000 indivíduos reprodutores,
enquanto o tamanho efetivo da populaçã o feminina, julgada por sobreviver ao
mtDNA, à s vezes é estimada em menos de 5.000!
Se esses nú meros refletem o tamanho original da populaçã o na Á frica, os
seres humanos estavam presentes apenas em nú meros compará veis aos dos
gorilas e chimpanzés, espécies que hoje habitam partes relativamente pequenas
do continente africano. Nossos ancestrais nã o podem ter sido espalhados por
todo o continente, muito menos se espalhar para fora dele, mas provavelmente
estavam concentrados em bolsõ es, e esses bolsos teriam sido vulnerá veis à
extinçã o. Usando três genomas humanos completos, os geneticistas Chad Huff,
Lynn Jorde e seus colegas fizeram comparaçõ es que foram ainda mais profundas
no tempo para sugerir que os nú meros da populaçã o humana um milhã o de anos
atrá s (a época do Homo erectus ) eram um pouco maiores, perto de 20.000
indivíduos reprodutores, mas mesmo esse tamanho dificilmente poderia se
espalhar por um continente tã o grande quanto a Á frica.
O DNA mitocondrial também pode ser usado para rastrear o crescimento
populacional, e alguns estudos sugerem que, enquanto os haplogrupos L0 e L1
cresceram constantemente em sua histó ria inicial, L2 se expandiu apenas
recentemente, enquanto L3 cresceu rapidamente cerca de 70.000 anos atrá s. Em
termos de mtDNA, como vimos, o ú ltimo grupo era ancestral das linhagens M e N
encontradas fora da Á frica, de modo que a expansã o poderia muito bem ter
transbordado para o oeste da Á sia e, portanto, para o resto do mundo.
O MtDNA tem sido usado para calibrar eventos na evoluçã o humana, como
vimos no cá lculo original da antiguidade de Eve de cerca de 200.000 anos e na
estimativa da expansã o do haplogrupo L3 em cerca de 70.000 anos, mas, como
nas estimativas de tamanho da populaçã o, esses cá lculos sã o depende de vá rias
suposiçõ es e só pode ser aproximado. Por exemplo, a maioria das calibraçõ es é
baseada no pressuposto de que nos separamos de nossos parentes vivos mais
pró ximos, os chimpanzés, cerca de 6 milhõ es de anos atrá s. O nú mero de
substituiçõ es em nosso mtDNA em comparaçã o com o dos chimpanzés é entã o
comparado com o nú mero de substituiçõ es determinado para outros eventos,
como nossa divisã o dos neandertais ou nossa saída da Á frica. A proporçã o de
substituiçõ es encontradas é entã o convertida em uma "data", em uma escala de 6
milhõ es de anos. No entanto, quando as taxas de substituiçã o sã o determinadas
em mtDNA humano divergente muito recentemente, como em populaçõ es
histó ricas em ilhas ou em estudos familiares onde existem doenças
mitocondriais incomuns, as taxas sã o muito mais rá pidas do que a taxa
encontrada ao comparar nosso mtDNA com o dos chimpanzés. Os cientistas
argumentaram que a "purificaçã o da seleçã o" remove muitas mutaçõ es
desfavorá veis do mtDNA ao longo do tempo, explicando a discrepâ ncia de taxas
entre os eventos evolutivos de curto e longo prazo. Mas quando tentamos
calibrar eventos relativamente recentes na evoluçã o humana, como a data de Eva
ou nossa saída da Á frica, deve-se usar a taxa lenta (a longo prazo), como na
maioria das vezes, ou aplicar uma taxa mais rá pida ?
Recentemente, colaborei com os geneticistas Phillip Endicott, Simon Ho e Mait
Metspalu para comparar duas calibraçõ es existentes para a evoluçã o humana
recente com taxas de substituiçã o calculadas recentemente que nã o sã o baseadas
no tempo de separaçã o antigo e um tanto incerto de 6 milhõ es de anos para
chimpanzés e humanos. . As novas taxas deram idades estimadas mais jovens
para eventos recentes na evoluçã o humana, mas consistentes com os dados
fó sseis e arqueoló gicos mais recentes para a saída da Á frica e para a nossa
chegada à Á sia, Austrá lia, Europa e Américas. A “véspera africana” teria vivido
cerca de 135.000 em vez de 200.000 anos atrá s, a saída da Á frica teria ocorrido
cerca de 55.000 anos atrá s e a chegada à s Américas há cerca de 14.000 anos
atrá s. Se estiverem corretas, essas novas e mais novas datas para a evoluçã o
humana do mtDNA precisam repensar a escala de tempo do mtDNA para vá rios
eventos importantes em nossa histó ria evolutiva, implicando uma data mais
jovem para nossa divergência em relaçã o aos neandertais, uma separaçã o de
muitos milênios entre os primeiros fó sseis humanos modernos. na Á frica e Eva, e
também questionam as idéias de uma saída precoce da Á frica para a China e a
Austrá lia. Voltarei a essas questõ es em breve, mas certamente parece que os
geneticistas precisam reconsiderar sua dependência da divergência entre
humanos e chimpanzés para calibrar eventos muito mais recentes na evoluçã o
humana.
Comparado com o mtDNA, o cromossomo Y - a fonte de dados sobre a histó ria
masculina - tem sido mais lento para causar um impacto na reconstruçã o das
origens humanas modernas do que seu equivalente mitocondrial de
rastreamento feminino. Uma das principais razõ es para isso é que o Y é
realmente pequeno e chato em termos de seus genes e DNA em comparaçã o com
outras partes mais esclarecedoras do nosso genoma. É predominantemente
composto por DNA lixo menos informativo, e apenas pequenas partes de seu
material genético sã o trocadas com o cromossomo X. No entanto, agora ele foi
completamente sequenciado, e aprimoramentos crescentes na aná lise fizeram
com que até mesmo esse cromossomo recalcitrante produzisse dados
importantes sobre a histó ria humana recente.
As comparaçõ es detalhadas mais recentes dos cromossomos Y humano e de
chimpanzé de Jennifer Hughes e David Page mostraram que esses dois sã o
surpreendentemente diferentes, com o Y humano retendo muito mais regiõ es
codificadoras. Como é herdado apenas pelos machos, existe um "Adam" teó rico
para representar o ú ltimo ancestral comum de todos os cromossomos Y
modernos e, como no mtDNA, até o momento nã o há evidências de uma variante
sobrevivente mais antiga de Y que poderia ter sido encontrada. herdado de
pessoas arcaicas como os neandertais. Até recentemente, estimava-se que
"Adam" tivesse vivido cerca de 80.000 anos atrá s, muito depois de "Eve", com os
dois ramos mais iniciais e mais profundos da á rvore evolucioná ria em Y
espalhados na Á frica, um comum das populaçõ es Bushman à s sudanesas, o outro
na regiã o central. Tribos africanas "pigmeus". Mas novas aná lises do geneticista
Fulvio Cruciani e colegas colocaram o ancestral comum há cerca de 142.000 anos
atrá s, provavelmente (com base nas atuais distribuiçõ es) na Á frica central ou
noroeste. Tal como acontece com o mtDNA, populaçõ es fora da Á frica têm menor
diversidade, desta vez com um ancestral comum um pouco mais jovem, com
cerca de 40.000 anos. Y também é ú til no rastreamento de eventos demográ ficos
incomuns envolvendo homens na histó ria humana recente, como o domínio de
um tipo de cromossomo Y em grande parte da Á sia central com uma antiguidade
de cerca de 1.000 anos - talvez o legado do há bito de Genghis Khan de engravidar
grandes nú meros de mulheres em populaçõ es conquistadas, bem como o sucesso
reprodutivo historicamente documentado de seus conhecidos descendentes
masculinos.
O uso do DNA autossô mico para estudar as relaçõ es da populaçã o humana
tem uma longa histó ria, pelo menos em termos do estudo da distribuiçã o
geográ fica de seus produtos, como grupos sanguíneos, proteínas e enzimas. Na
década de 1970, foram feitas tentativas para reconstruir a histó ria genética dos
seres humanos, combinando dados sobre a frequência de muitos marcadores
genéticos diferentes em populaçõ es de todo o mundo. No entanto, estes
freqü entemente deram sinais conflitantes, ora relacionando as populaçõ es da
Europa e da Á sia, e ora indicando uma relaçã o mais pró xima entre a Á frica e a
Europa. Uma exceçã o foi o uso pioneiro de uma técnica de distâ ncia genética
pelos geneticistas Masatoshi Nei e Arun Roychoudhury, que lhes permitiu
calcular que os humanos modernos estavam intimamente relacionados entre si,
mas que europeus e asiá ticos haviam divergido cerca de 55.000 anos atrá s,
enquanto seus ancestrais haviam divergido. africanos cerca de 115.000 anos
atrá s.
Essas estimativas parecem grosseiras agora, e ninguém sugeriria que essas
eram verdadeiras “divisõ es” evolutivas, mas as relaçõ es inferidas estavam
alinhadas com as determinadas pelo mtDNA e vá rias outras aná lises uma década
depois. A chegada de técnicas que usavam enzimas para cortar o DNA em
segmentos estudá veis ( polimorfismos de comprimento de fragmento de
restrição ) levou ao exame do gene da betaglobina (que faz parte da hemoglobina
do sangue) em 1986 e ao suporte precoce ao conceito de Origem africana e uma
subsequente dispersã o fora da Á frica. Desde entã o, centenas de estudos sobre
DNA autossô mico mostraram o mesmo padrã o: as populaçõ es africanas têm a
maior diversidade e as pessoas fora da Á frica sã o essencialmente um
subconjunto dessa variaçã o. Em uma das maiores investigaçõ es recentes de mais
de 1.000 marcadores genéticos em 113 populaçõ es africanas, foi demonstrado
que eles poderiam ser classificados em catorze grupos, correspondendo
intimamente à s afiliaçõ es culturais e de idiomas conhecidas. Populaçõ es como os
“pigmeus” da Á frica Central, caçadores-coletores, como os Sandawe e Hadza da
Tanzâ nia, e os Khoisan da Á frica Austral compartilharam ancestrais há cerca de
40.000 anos. O que também foi interessante foi que as três ú ltimas populaçõ es
falam todos os idiomas "clique", sugerindo que esse poderia ter sido um aspecto
antigo compartilhado de seus idiomas.
Embora estudos autossô micos de DNA tenham confirmado repetidamente a
baixa diversidade da maioria dos sistemas genéticos em nã o-africanos, eles
também lançaram uma luz intrigante sobre o padrã o de dispersã o dos humanos
modernos de sua terra natal ancestral. Assim como a variaçã o nã o-africana do
DNA pode ser vista como um subconjunto da variaçã o africana e foi
originalmente amostrada, também, à medida que os humanos modernos se
dispersaram, esse padrã o parece ter se repetido vá rias vezes. A linha de frente da
expansã o dos modernos da Á frica era evidentemente pequena em nú mero e,
portanto, esses grupos pioneiros que se irradiavam do sudoeste da Á sia
representavam apenas uma pequena parte da populaçã o-mã e, com consequente
menor diversidade de DNA. Como relíquia desse processo hoje, a diversidade de
DNA diminui constantemente com a distâ ncia terrestre da Á frica, atingindo seus
pontos mais baixos em regiõ es distantes como Europa Á rtica, Américas, Polinésia
e Australá sia - e um padrã o de correspondência pode até ser encontrado na
histó ria do DNA de Helicobacter pylori, uma bactéria que infecta a maioria de nó s
e pode causar ú lceras pépticas!
De maneira igualmente intrigante, esse padrã o de diversidade decrescente da
Á frica pode ser detectado nas mediçõ es de crâ nios de populaçõ es de diferentes
partes do mundo, sugerindo que a maioria das diferenças regionais entre crâ nios
utilizadas por programas forenses foram geradas por deriva, em vez de seleçã o
natural. Eu digo mais porque nã o há evidências de que determinadas populaçõ es,
como a Sibéria Buryats e da Gronelâ ndia esquimó sofreu cabeça e seleçã o
formato de rosto sob o impacto da extrema de cabeça grande e flat-enfrentou-
estar frio parece ser vantajoso em tais condiçõ es. Mas eles representam exceçõ es
à regra geral. Essa diversidade decrescente nos genes e na morfologia oferece um
desafio à idéia assimilacionista de que os modernos em expansã o se misturavam
em todos os lugares com as populaçõ es remanescentes de arcaicos, como os
neandertais e os descendentes do Homo erectus no Extremo Oriente. Se assim
fosse, esperaríamos ver repetidas reversõ es do declínio da diversidade, onde
esses tipos diferentes de humanos contribuíram significativamente para a
variaçã o humana moderna, e isso nã o foi observado até agora - com uma exceçã o
muito importante. O geneticista Jeffrey Long e seus colegas relataram
recentemente um ponto quente de maior diversidade nas ilhas da Melanésia, no
sudeste asiá tico, e isso foi um indício de complicaçõ es locais significativas na
dispersã o Fora da Á frica, como veremos em breve.
Um dos aspectos mais difíceis para algumas pessoas aceitarem, se evoluímos
muito recentemente na Á frica, é o motivo de todos parecermos tã o
diferentes. Como eu disse há mais de vinte anos, "somos todos africanos sob a
pele", e, no entanto, o que está dentro e sobre a pele parece nos distinguir tã o
acentuadamente um do outro. Os seres humanos têm muitos tamanhos, formas e
cores diferentes e diferem na forma dos olhos, cabelos, nariz e lá bios. Essas
diferenças "raciais" ou, melhor, regionais ou geográ ficas sã o imediatamente
aparentes e, portanto, algumas pessoas assumem que elas devem ser altamente
significativas geneticamente. No entanto, se tivéssemos uma origem africana
recente, essas diferenças devem ter evoluído depois que nos tornamos a espécie
humana moderna e começamos a se espalhar de nosso local de origem. Assim,
desenvolvemos nossos recursos específicos de espécies comuns - nosso crâ nio
alto e arredondado, pequenas cristas de sobrancelhas, pequenos rostos
retraídos, queixos e assim por diante - primeiro na Á frica. Entã o, nesse modelo
moderno compartilhado, os recursos regionais foram sobrepostos. Mas o que
levou a essas adiçõ es? Aqui existem vá rias idéias diferentes, e duas em particular
se destacam: adaptaçã o climá tica por meio da seleçã o natural e seleçã o sexual
(em humanos, também cultural). Surpreendentemente, apesar da ênfase de
Darwin (e de Wallace) na seleçã o natural como o agente predominante da
mudança evolutiva, quando Darwin publicou A Descida do Homem em 1871, foi a
segunda parte do título - e Seleção em Relação ao Sexo - que dominou seus
pensamentos sobre a evoluçã o de personagens "raciais" em humanos.
Mapa mostrando a disseminação dos primeiros grupos modernos, rastreados usando DNA
mitocondrial (os nú meros se referem a milhares de anos atrá s). As rotas sã o nocionais, nã o
precisas.
 
Vimos agora que as diferenças características externas entre as raças do homem nã o podem ser
explicadas de maneira satisfató ria pela açã o direta das condiçõ es de vida, nem pelos efeitos do uso
continuado de peças, nem pelo princípio da correlaçã o. Somos, portanto, levados a indagar se
pequenas diferenças individuais, à s quais o homem é eminentemente responsá vel, podem nã o ter
sido preservadas e aumentadas durante uma longa série de geraçõ es através da seleçã o natural. Mas
aqui somos imediatamente atendidos pela objeçã o de que apenas variaçõ es benéficas podem ser
preservadas; e até onde somos capazes de julgar ... nenhuma das diferenças entre as raças do homem
é de algum serviço direto ou especial para ele ...
Até agora, ficamos confusos em todas as nossas tentativas de explicar as diferenças entre as raças
do homem; mas resta uma agência importante, a seleçã o sexual, que parece ter agido poderosamente
sobre o homem, como em muitos outros animais ... pode-se demonstrar que seria um fato
inexplicá vel se o homem não tivesse sido modificado por essa agência, o que parece agiram
poderosamente em inú meros animais. Além disso, pode ser demonstrado que as diferenças entre as
raças do homem, como cor, pilosidade, forma de traços, etc., sã o de um tipo que se espera que caia
sob a influência da seleçã o sexual ...
Pela minha parte, concluo que de todas as causas que levaram às diferenças na aparência externa
entre as raças do homem e, em certa medida, entre o homem e os animais inferiores, a seleção sexual
foi a mais eficiente.
Embora eu ache que Darwin estava certo em questionar a seleçã o natural
como o fator por trá s de características como lá bios grossos ou finos e a forma
distintiva dos olhos de muitas populaçõ es orientais, vimos no capítulo 4 que as
“regras” de adaptaçã o climá tica de Allen e Bergmann parecem afetar o corpo em
forma de humanos em diferentes regiõ es. Parece prová vel que a forma do nariz e
a cor da pele tenham sido modeladas pela seleçã o natural - no primeiro caso,
através de diferenças na temperatura e umidade local do ar, e no ú ltimo caso,
pela força da luz solar, particularmente nos comprimentos de onda ultravioleta
(UV) . A teoria por trá s das diferenças de pigmentaçã o da pele é que elas
evoluíram como um equilíbrio entre a necessidade da pele receber luz solar
suficiente para permitir que a vitamina D essencial seja sintetizada sob a pele e a
necessidade de proteger a pele do excesso de UV, o que pode danificar os níveis
de á cido fó lico (vitais durante a gravidez) e as células da pele, levando ao
câ ncer. Os estudos sã o complicados porque os seres humanos se tornaram muito
mais mó veis recentemente, confundindo algumas correlaçõ es de pigmentaçã o
com os níveis de UV que já existiam anteriormente.
No entanto, parece haver clara evidência negativa dos benefícios protetores
da pigmentaçã o escura na prevalência de destruiçã o do á cido fó lico e câ ncer de
pele em pessoas de origem européia com pigmentaçã o leve que se mudaram
para regiõ es de UV alta, como a Á frica do Sul e a Austrá lia. E, demonstrando o
processo oposto em povos altamente pigmentados, os povos da Á frica e do sul da
Á sia que se deslocam para regiõ es do norte, como a Escó cia e o Canadá , têm um
risco maior de deficiência de vitamina D (e, portanto, da doença do raquitismo),
que é exacerbada se eles também forem menos e cubram mais seus corpos
quando saem.
Esses dados sugerem que nossa cor de pele ancestral (africana) original era
realmente pigmentada de maneira sombria e que a seleçã o favorecia peles mais
claras, à medida que os humanos modernos se espalhavam para regiõ es onde os
níveis de UV eram baixos e a dieta nã o fornecia vitamina D. suficiente. De fato, as
mutaçõ es favorecidas que produzir pele mais clara nos europeus é jovem (em
algumas estimativas, uma das alteraçõ es genéticas mais importantes ocorreu
apenas 11.000 anos atrá s) e vá rias (mas nã o todas) sã o diferentes daquelas que
evoluíram recentemente no norte da Á sia. Mas isso nã o quer dizer que a seleçã o
natural seja o ú nico fator em açã o na cor da pele humana ou na forma do nariz, já
que a seleçã o sexual / cultural também poderia ter desempenhado um papel. Um
exemplo disso é a cor dos olhos azuis, comum no norte da Europa. A mutaçã o
responsá vel por isso provavelmente ocorreu muitas vezes por acaso na evoluçã o
humana, mas geralmente nã o é favorecida. No entanto, a versã o européia parece
ser jovem - com menos de 20.000 anos -, entã o podemos imaginá -la originada em
uma populaçã o Cro-Magnon em algum lugar da Europa. Olhos levemente
pigmentados sã o certamente desvantajosos em condiçõ es de forte luz solar, mas
na Europa a natureza incomum da cor da luz pode ter levado a ser favorecida
como uma variante atraente e apenas levemente desvantajosa, que depois
proliferou por seleçã o sexual / cultural. Essa variante se resume a apenas um
minú sculo segmento de DNA, que mostra como pequenas alteraçõ es genéticas
podem produzir diferenças marcantes na aparência.
As características "raciais" evoluíram amplamente mais recentemente, por
meio de pequenas mudanças em nosso DNA, mas elas têm um forte impacto
sobre nó s, porque afetam o que percebemos quando encontramos pessoas pela
primeira vez: sua cor, aparência facial e cabelo. Devido à sua importâ ncia na
sinalizaçã o, nã o tenho dú vidas de que esses traços poderiam ter sido
selecionados por razõ es sexuais / culturais através de diferentes normas de
atratividade ou para melhorar a identidade do grupo. Mas também no trabalho,
enquanto os humanos modernos se dispersavam rapidamente da Á frica em
nú meros relativamente pequenos, teriam sido os efeitos do efeito
de deriva e fundador . O processo anterior é o resultado de eventos
aleató rios; uma vez que as populaçõ es parem de trocar genes, elas podem "se
separar" puramente por acaso. O ú ltimo processo também é resultado do acaso,
mas, neste caso, um grupo pequeno e talvez atípico pode fundar uma populaçã o
muito maior, o que refletirá sua composiçã o genética idiossincrá tica, e nã o a
original. Esses fenô menos podem ter se combinado, à medida que os modernos
se espalham rapidamente, para produzir algo chamado surf , apó s o esporte
aquá tico popular: combinaçõ es específicas de genes raras podem acabar sendo
muito comuns se tiverem sorte de "cavalgar" na onda crescente da populaçã o, e,
portanto, proliferam nas novas populaçõ es filhas - e isso certamente parece
explicar algumas frequências genéticas distintas fora da Á frica.
Essas complexidades genéticas mostram por que categorias "raciais" antigas,
como "Negró ide", "Caucasó ide", "Australó ide" e "Mongoló ide" foram largamente
abandonadas pela ciência, porque nã o sã o descritores significativos dos níveis de
variaçã o bioló gica. Além disso, todos nó s somos, em maior ou menor grau,
"misturados" em nossas origens, pois cada um de nossos genes terá sua pró pria
histó ria separada e nem todos contarã o a mesma histó ria de origem. Portanto, o
jogador de golfe Tiger Woods reagiu a ser aclamado como um modelo para os
negros na América (um pouco manchado, agora) dizendo que ele era realmente
cablinasiano, como no caucasiano-preto- [americano] indiano-asiá tico, refletindo
suas mú ltiplas linhas de descendência . Como dissemos, as populaçõ es africanas
provavelmente contêm tanta variaçã o genética quanto o resto do mundo, e os
limites entre essas categorias geralmente sã o confusos na realidade. Isso nã o
quer dizer que muitas populaçõ es nã o possam ser distinguidas em geral pela
prevalência de características herdadas comuns, e isso também se reflete em
características como a forma craniana e facial, e é por isso que os cientistas
forenses geralmente podem colocar um crâ nio de volta com confiança em seu
crâ nio. populaçã o dos pais através de estudo e mediçã o. Mas, de acordo com as
expectativas de uma origem africana recente, se tentarmos os testes forenses
baseados em padrõ es modernos de variaçã o regional em crâ nios modernos com
mais de 20.000 anos de idade, os resultados sã o invariavelmente confusos. Daí
quando eu testei a 30.000 anos de idade P ř edmostí crâ nios da Repú blica Checa,
que saiu como “Africano”, enquanto um dos superior caverna dos crâ nios de
Zhoukoudian, China, apareceu “Australian”. Isso nã o implica uma relaçã o estreita
com essas populaçõ es modernas, mas sim que existia um tipo de
regionalidade diferente do padrã o que temos hoje.
O assunto obscuro das aparentes diferenças na qualidade do cérebro e no QI
entre populaçõ es regionais nã o é algo que desaparecerá tã o cedo. A esse
respeito, as coisas nã o mudaram muito desde que fui ameaçado com uma açã o
legal sobre o que foi escrito sobre o assunto em um dos meus livros
anteriores, African Exodus . Nã o pretendo falar muito mais sobre esse assunto
polêmico aqui, exceto reconhecer que algumas diferenças cognitivas poderiam, é
claro, ter evoluído nos ú ltimos 50.000 anos (por exemplo, veja a discussã o sobre
o gene microcefalina mais adiante neste capítulo) , assim como eles têm em
recursos físicos. Mas, nesse caso, eu esperaria que uma regiã o grande e
geneticamente variada, como a Á frica, mostrasse um alto nível dessas diferenças,
em vez dos supostos valores de QI uniformemente baixos que alguns estudos
relatam. Além disso, como outras pesquisas demonstraram, os testes de QI
medem apenas alguns aspectos da “inteligência”, e as diferenças ambientais em
nutriçã o, nutriçã o e saú de também contribuem fortemente para os resultados.
Tendo analisado as variaçõ es genéticas entre nó s e nossos parentes vivos
mais pró ximos, os chimpanzés, e depois as variaçõ es dentro de nossa pró pria
espécie, agora nos voltamos para as tremendas descobertas que foram feitas nos
estudos do DNA de nossos parentes extintos, os neandertais. Vinte anos atrá s, a
ideia de que dados genéticos ú teis poderiam ser recuperados de fó sseis de
neandertais para comparar com os nossos soou como ficçã o científica, dados os
enormes problemas de extrair vestígios minú sculos de DNA de ossos antigos que
sofreram os efeitos de degradaçã o, á gua, mudanças de temperatura e á cidos do
solo por muitos milênios. Mesmo que fosse preservado (o que parecia
imprová vel), seria muito difícil encontrá -lo, muito difícil de recuperar em
quantidades suficientes para estudar e problemá tico demais para distinguir de
todos os outros DNA contaminantes que também estariam lá .
No entanto, o campo do DNA antigo decolou no início dos anos 80, com o
seqü enciamento de parte do genoma do mtDNA do quagga, um parente pró ximo
recentemente extinto da zebra, cujas peles sobreviveram nas coleçõ es de
museus. E em 1984 foi descoberta uma técnica chamada reação em
cadeia da polimerase ( PCR ), que permitiu aos pesquisadores produzir milhõ es
de có pias de seqü ências específicas de DNA em apenas algumas horas. Com isso e
técnicas de recuperaçã o aprimoradas e bancos de dados comparativos de DNA,
tornou-se possível reconhecer e distinguir o DNA antigo, onde sobreviveu em
quantidades suficientemente grandes e bem preservadas. Assim, em 1997, a
recuperaçã o do primeiro mtDNA neandertal do mais famoso representante do
grupo - o esqueleto de 1856 no vale do neandro - causou sensaçã o. Tive a sorte
de ser convidado a falar sobre a pesquisa na conferência de imprensa em
Londres, onde Svante Pä ä bo anunciou os resultados, e lembro-me de ficar tã o
empolgado que o elogiei como uma conquista compará vel à aterrissagem de
alguém em Marte! Mas, para a paleoantropologia, foi um avanço notá vel, embora
as coisas tenham evoluído tã o rapidamente na ú ltima década que mais de vinte
fó sseis neandertais já produziram esse material genético.
Como nossas células geralmente contêm centenas ou milhares de có pias do
genoma do mtDNA, em comparaçã o com o conjunto ú nico de DNA autossô mico
contido em cada nú cleo, e porque o genoma do mtDNA era completamente
conhecido em 1981, o mtDNA foi especificamente direcionado nas pesquisas
iniciais sobre o DNA antigo. Mas em 2006, usando fó sseis neandertais
particularmente bem preservados e melhorias maciças em técnicas analíticas e
poder computacional para recuperar e reconhecer pequenos fragmentos antigos
de DNA, duas equipes internacionais de cientistas reconstruíram os primeiros
mapas genéticos em larga escala do genoma autossô mico neandertal. Dois sítios
fó sseis se mostraram particularmente valiosos no trabalho do genoma dos
neandertais e, em ambos os casos, seus restos humanos podem ter resultado do
canibalismo; de fato, há especulaçõ es de que a destruiçã o dos ossos pode até ter
ajudado a preservaçã o do DNA antigo, impedindo algumas das causas pró ximas
da deterioraçã o do DNA. Um é o local da caverna de Vindija, na Croá cia, onde
pequenos fragmentos de ossos das pernas têm, de longe, a melhor preservaçã o
do DNA neandertal encontrado até agora, e o outro é El Sidró n, na Espanha, que
discutimos no capítulo 4, e onde atençã o foi dada à recuperaçã o de fó sseis com a
possibilidade mínima de contaminaçã o por DNA recente.
A empresa 454 Life Sciences desenvolveu recentemente novos instrumentos
que permitiram sequenciar cerca de 250.000 fitas de DNA em cerca de cinco
horas em uma má quina, e, portanto, executar vá rias má quinas em conjunto
proporcionou melhorias fenomenais na recuperaçã o e reconhecimento dos 3
bilhõ es de pares de bases químicas que originalmente constituíam o genoma
desses indivíduos neandertais. A técnica 454 usa sequenciamento de
"espingarda", na qual o DNA é cortado em um grande nú mero de segmentos
curtos e, portanto, é ideal para os pequenos fragmentos de DNA nuclear
necessá rios para a reconstruçã o de genoma antigo. A antiga técnica de PCR era
realmente adequada apenas para a aná lise de fragmentos mais longos, como no
trabalho inicial do mtDNA de Neanderthal de Pä ä bo, mas o desenvolvimento do
pesquisador Paul Brotherton e seus colegas chamado SPEX ( extensão de primer
único ) agora também oferece grandes promessas para a recuperaçã o de
pequenos fragmentos do genoma neandertal, em uma abordagem mais
direcionada do que a da aná lise 454.
O DNA genô mico de um dos indivíduos de El Sidró n e outro neandertal de
Monti Lessini, na Itá lia, está fornecendo alguns de nossos primeiros vislumbres
da constituiçã o dos neandertais do sul da Europa. Eles tinham mutaçõ es na
estrutura de um gene de pigmentaçã o, o MC1R, que teria sido expresso em
cabelos ruivos e pele pá lida, e apesar da mídia exibir vá rias celebridades e
estrelas do esporte com cabelos ruivos, dizendo que eram todos “neandertais , ”A
histó ria mais interessante é que a variante neandertal era, de fato, distinta da
encontrada em pessoas de descendência européia hoje. A pigmentaçã o mais leve
em humanos provavelmente evoluiu por vá rias razõ es, mas isso inclui facilitar a
síntese de vitamina D em nossa pele sob condiçõ es do norte de luz solar
reduzida. Que pelo menos alguns neandertais tenham desenvolvido sua pró pria
despigmentaçã o nã o é surpreendente quando consideramos que eles estavam
vivendo na Europa por centenas de milênios antes dos humanos modernos. O
que é surpreendente, porém, é que, se houvesse cruzamentos significativos entre
os modernos e os neandertais na Europa, genes potencialmente vantajosos para
a pele mais clara nã o se espalharam deles para nó s - e outras pesquisas sugerem
que algumas das variantes genéticas que produzem a pele clara de muitos
europeus provavelmente têm menos de 15.000 anos.
Pelo menos um dos neandertais de El Sidró n tinha genes mistos no local do
TAS2R38, que em humanos modernos controla a capacidade de provar (ou nã o
provar) a feniltiocarbamida química amarga (PTC). Produtos químicos
relacionados ocorrem em vegetais folhosos como couve de Bruxelas e couve-flor,
bem como em algumas plantas venenosas, e é possível que a dicotomia de
degustaçã o / nã o degustaçã o tenha evoluído em seres humanos mais antigos
como parte de um equilíbrio entre as necessidades nutricionais e a detecçã o do
perigo inerente a algumas plantas amargas e venenosas. Pelo menos dois
indivíduos de El Sidró n também compartilharam outro sistema genético com
alguns de nó s, na forma de grupo sanguíneo O, que é codificado no cromossomo
9. Os famosos grupos sanguíneos ABO sã o diferenciados pela presença ou
ausência de antígenos específicos na superfície da célula. gló bulos vermelhos,
que dã o resistência a diferentes doenças. No grupo sanguíneo O, uma mutaçã o
bloqueia a açã o de uma enzima que produz os antígenos A e B, e embora isso
possa parecer desvantajoso, alguns agentes da doença realmente se prendem aos
antígenos, de modo que a falta deles pode conferir uma vantagem. Os
chimpanzés também possuem o sistema ABO, embora o grupo O seja menos
comum neles, portanto, parece prová vel que o sistema seja uma herança
compartilhada entre chimpanzés, nó s e neandertais, com diferentes doenças
constantemente aparando os padrõ es de indivíduos com os tipos sanguíneos
mais vulnerá veis . À medida que mais neandertais sã o sequenciados, poderemos
comparar suas frequências com as dos humanos hoje.
Carles Lalueza-Fox e seus colegas engenhosamente também usaram as
circunstâ ncias do local de El Sidró n, onde um possível grupo familiar dos
neandertais havia sido fossilizado, para fornecer um vislumbre de sua estrutura
social. Os três homens tinham seqü ências idênticas de mtDNA, enquanto as três
mulheres tinham sequências diferentes (mas estavam relacionadas a três das
crianças); portanto, se esse era realmente um grupo familiar, isso implicava que
os homens estavam intimamente relacionados e provavelmente haviam
permanecido em suas casas. grupo natal, enquanto as fêmeas se juntaram de
outras bandas. Tais trocas de parceiros (talvez em grande parte, mas nem
sempre, pacíficas) sã o importantes na reduçã o da consanguinidade e sugerem
que as fêmeas eram os agentes predominantes do fluxo gênico, e talvez também
de qualquer transmissã o cultural entre os grupos neandertais. Esse sistema
social é conhecido como patrilocalidade e é o mais comum nos caçadores-
coletores modernos, e parece ser mais um comportamento compartilhado entre
os neandertais e os modernos.
Uma descoberta mais controversa em duas pessoas do El Sidró n foi a
presença de um gene também encontrado em seres humanos modernos
chamado FOXP2, que foi enganosamente chamado de "gene da linguagem" -
como se apenas um gene estivesse envolvido nesse ser humano. Faculdade. De
fato, esse gene do desenvolvimento tornou-se conhecido através de uma espécie
de engenharia reversa, porque, quando falha em humanos, leva a inibiçõ es na
compreensã o e produçã o da linguagem, tanto nas vias cerebrais quanto no
controle físico dos mú sculos envolvidos na produçã o da fala. Quando o gene foi
sequenciado e comparado entre outros primatas e humanos, descobriu-se que
havia duas mutaçõ es ú nicas na versã o humana, que presumivelmente haviam
sido selecionadas para ajudar a facilitar nosso poder de expressã o. Pesquisas
posteriores mostraram que ele está funcionando em vá rias á reas do cérebro
preocupadas com cogniçã o e linguagem, e a versã o humana do FOXP2 regula
(amplifica ou modera) as atividades de mais de cem outros genes, enquanto a
versã o "ancestral" encontrada em chimpanzés nã o tem esse efeito.
Nossa versã o especial do gene nã o se refere apenas à linguagem, mas
certamente parece estar implicada no estabelecimento de vias neurais e nas
estruturas anatô micas da fala. Assim, havia especulaçõ es sobre se os neandertais
teriam essas mesmas mutaçõ es ou, se nã o as tiverem, também poderã o nã o ter a
capacidade de falar. Os primeiros rascunhos do genoma neandertal pareciam
mostrar a presença da forma humana do FOXP2, mas havia uma preocupaçã o,
mesmo entre a equipe de pesquisa, de que isso poderia ser resultado da
contaminaçã o do DNA humano recente. No entanto, a descoberta da versã o
"avançada" nos indivíduos cuidadosamente selecionados de El Sidró n parece
confirmar sua presença nesses neandertais espanhó is. Entã o, isso significa que
os neandertais devem ter uma linguagem totalmente moderna? Na minha
opiniã o, nã o é mais do que o fato de que os ossos hió ides que estavam na
garganta tinham uma forma semelhante à nossa. Mas o que é indicado é que nã o
temos motivos - a partir desses elementos de sua biologia - para negar a eles o
potencial das capacidades modernas da fala humana. Se eles realmente possuíam
nossas habilidades de linguagem também dependeria de seu pró prio caminho
evolutivo na complexidade comportamental e da estrutura do cérebro e do
aparelho vocal, bem como de quaisquer restriçõ es evolutivas que poderiam estar
em açã o a partir de sua anatomia distinta.
Uma questã o ainda mais controversa do que a presença ou ausência da versã o
"moderna" do gene FOXP2 nos neandertais é se eles possuíam uma versã o
específica do gene MCPH1 ou microcefalina. Em outro caso de engenharia
reversa, a açã o desse gene nos seres humanos tornou-se conhecida por falhas
ocasionais no desenvolvimento fetal, onde versõ es mutantes pareciam estar
relacionadas à microcefalia (com cabeça e cérebro anormalmente
pequenos). Nesses casos, o defeito do gene da microcefalina aparentemente
interferiu nas instruçõ es para a produçã o de neurô nios no cérebro anterior,
levando a déficits posteriores no có rtex cerebral. Atualmente, existem duas
variantes principais, uma mais comum em todo o mundo (tipo D) e a outra
predominante nos africanos subsaarianos (“nã o D”). A histó ria genética desses
dois tipos parece ser bastante distinta: embora os nã o-D pareçam ter se
desenvolvido na Á frica e se espalhado a partir daí com a dispersã o dos humanos
modernos, D só proliferou nos humanos modernos nos ú ltimos 40.000 anos,
sugerindo que foi selecionado como vantajoso em pelo menos algumas regiõ es
ou situaçõ es. No entanto, as mutaçõ es nos genes mostram que esses dois tipos de
microcefalina têm raízes comuns profundas e separadas que remontam a mais
de um milhã o de anos; portanto, de onde poderia vir a “nova” variante D? A
atençã o se concentrou nos neandertais como uma possível fonte, implicando que
os humanos modernos fora da Á frica poderiam ter adquirido sua variante
"jovem" dos neandertais, mas, infelizmente, para essa hipó tese, o
sequenciamento de genoma até agora mostrou que os neandertais vindija
possuíam o ancestral "africano". ”Versã o do gene microcefalina. Além disso,
pesquisas adicionais lançam dú vidas sobre todo o cená rio ao nã o confirmar a
hipó tese de que o gene da microcefalina está fortemente implicado no
desenvolvimento, qualidade e inteligência do cérebro em humanos
"normais". Mas o caso da microcefalina levanta a questã o de que, embora o
mtDNA, o cromossomo Y e o DNA mais autossô mico suportem fortemente uma
origem africana recente e subsequente dispersã o para nossa espécie, existem
variantes de alguns genes que sugerem uma histó ria evolutiva mais complexa
para o Homo sapiens .
Assim como o DNA humano recente foi usado para estimar os nú meros da
populaçã o passada para o Homo sapiens , também as pequenas quantidades de
DNA do Neanderthal recuperadas até agora também foram sujeitas a aná lises
semelhantes, com implicaçõ es claras e bastante negativas para a viabilidade do
Neanderthal. Os genomas completos de mtDNA reconstruídos de seis
neandertais da Alemanha, Espanha, Croá cia e Rú ssia diferem em apenas
cinquenta e cinco localizaçõ es de um total de mais de 16.000 pares de bases, o
que é muito menos diversidade de mtDNA do que em humanos modernos, e
apenas um pequeno nú mero fraçã o da variabilidade encontrada hoje em grandes
espécies de macacos. As estimativas do tamanho da populaçã o a partir desses
dados colocam o tamanho efetivo da populaçã o de neandertais em toda a Europa
e oeste da Á sia em 3.500 fêmeas reprodutoras, embora, como vimos, isso possa
se traduzir em um nú mero total muito maior de pessoas. Além disso, eles
pareciam abrigar um nú mero relativamente maior de mutaçõ es potencialmente
prejudiciais, que poderiam ter afetado a estrutura de suas proteínas, algo que
geralmente ocorre com tamanhos populacionais menores. Dado que estes eram
neandertais tardios amostrados em grande parte de sua vasta gama, podemos
ver como eles poderiam ter sido uma espécie ameaçada, mesmo sem o impacto
desestabilizador da chegada dos humanos modernos em seus territó rios.
Os genomas parciais de neandertais produzidos em 2006 continham dados
contraditó rios e logo foram expressas dú vidas sobre se os resultados foram
afetados pela contaminaçã o remanescente do DNA humano
moderno. Investigaçõ es posteriores mostraram que realmente era assim, talvez
até 15% em certas á reas. Mas agora um genoma neandertal composto e quase
todo foi elaborado, fornecendo dados ricos que prometem ainda mais insights
sobre sua biologia, desde a cor dos olhos e o tipo de cabelo até a qualidade do
cérebro e as habilidades de linguagem. Uma equipe internacional de mais de
cinquenta pesquisadores reconstruiu mais de 3 bilhõ es de bits de codificaçã o de
DNA, novamente predominantemente a partir de três pequenos fragmentos de
osso da caverna croata de Vindija. Elas representavam as mulheres neandertais
que morreram cerca de 40.000 anos atrá s e agora foram imortalizadas através de
seu DNA. Os resultados ainda confirmaram amplamente a tese Fora da Á frica, a
distinçã o geral dos neandertais e um tempo de separaçã o de nossa linhagem de
cerca de 350.000 anos. Mas quando o novo genoma neandertal foi comparado
com o dos humanos modernos de diferentes continentes, os resultados
produziram uma reviravolta intrigante em nossa histó ria evolutiva, porque os
genomas de pessoas da Europa, China e Nova Guiné ficavam um pouco mais
pró ximos da sequência neandertal do que aqueles de indivíduos da
Á frica. Portanto, se você é europeu, asiá tico ou nova guineense, provavelmente
tem um pouco de neandertal na maquiagem.
Uma explicaçã o é que os ancestrais das pessoas na Europa, Á sia e Nova Guiné
cruzaram com os neandertais (ou pelo menos com uma populaçã o que possuía
um componente dos genes dos neandertais) no norte da Á frica, na Ará bia ou no
Oriente Médio quando saíram da Á frica cerca de 60.000 anos atrá s. Como o
êxodo humano antigo pode ter envolvido apenas alguns milhares de pessoas,
seria necessá rio absorver apenas alguns neandertais em um grupo de Homo
sapiens pelo efeito genético - grandemente aumentado à medida que os nú meros
humanos modernos explodiam - para ser sentido dezenas de milhares anos
depois. Estima-se que a quantidade de entrada genética dos neandertais seja de
cerca de 2% no total, um nú mero surpreendentemente alto para mim e para
outros adeptos do Out of Africa, que pensavam que quaisquer pequenos traços
de cruzamento poderiam desaparecer nos anos seguintes. Além disso, o exame
subsequente de seis mil amostras modernas em todo o mundo pela geneticista
Vania Yotova e colegas revelou que os cromossomos X nã o africanos têm até 9%
do DNA derivado do neandertal em um local específico. O que qualquer um do
DNA compartilhado faz por nó s, se é que existe alguma coisa, ainda precisa ser
determinado, mas esse certamente será o foco do pró ximo está gio desta pesquisa
fascinante. Juntamente com a aparente transferência de DNA neandertal para
alguns de nó s, as comparaçõ es também revelaram mais de duzentas alteraçõ es
genéticas que compartilhamos com a exclusã o de neandertais e
chimpanzés. Algumas delas estã o nos genes envolvidos nas funçõ es cerebrais, na
estrutura do crâ nio e no esqueleto, na pele e nos ó rgã os associados (como cabelo
e glâ ndulas sudoríparas), nas funçõ es energéticas e na atividade espermá tica.
Essas descobertas ocorrem em um momento em que novas reivindicaçõ es
foram feitas de que os neandertais e os primeiros humanos modernos (Cro-
Magnons) cruzaram na Europa cerca de 35.000 anos atrá s. Os dados de fó sseis e
DNA indicam que os neandertais eram uma linhagem distinta dos humanos
modernos, mas uma linha intimamente relacionada e, como expliquei, o nível de
diferença morfoló gica no esqueleto é compará vel ao dos primatas e mamíferos
fó sseis recentes que demarcam distintas espécies. No entanto, espécies de
mamíferos intimamente relacionadas ainda podem ser capazes de hibridar,
entã o isso certamente foi possível entre os neandertais e os Cro-Magnons.
O antropó logo Clifford Jolly, que foi meu primeiro professor de
paleoantropologia na University College, em Londres, fez um estudo especial
sobre babuínos e seus parentes na Á frica hoje em dia, e esses macacos parecem
representar grupos de espécies distintas em sua aparência e comportamento,
ainda quando seus O DNA é analisado, é evidente que essas “espécies”
geralmente trocam genes em pelo menos uma pequena escala, onde se
sobrepõ em geograficamente. Como ele disse, com referência a espécies humanas
fó sseis, como os neandertais: “A mensagem é concentrar-se na biologia, evitar
armadilhas semâ nticas e perceber que qualquer taxonomia em nível de espécie
baseada em material fó ssil será apenas um reflexo aproximado da realidade.
complexidades mundiais. ” Acho que certamente devemos lembrar essas
palavras sá bias antes de fazer qualquer afirmaçã o absoluta sobre o que poderia
ou nã o ter ocorrido se e quando nossos antepassados encontrassem os
neandertais.
A questã o essencial com relaçã o ao comportamento de nossos ancestrais e
dos neandertais é, é claro, eles se consideravam apenas mais um grupo de
pessoas? Nã o conhecemos a histó ria toda, e a resposta pode ter variado de um
tempo para outro, especialmente considerando os caprichos do comportamento
humano. Eu tenho uma visã o diferente disso do que meu amigo Erik Trinkaus,
que vê a contribuiçã o dos neandertais na maioria dos primeiros modernos da
Europa, por exemplo, no esqueleto de uma criança do Vale do Lapedo, em
Portugal. Esse fó ssil foi enterrado com os ocres vermelhos e as sepulturas típicas
de muitos enterros gravetos (cerca de 27.000 anos atrá s, como discutido no
capítulo 4), e foi descrito em detalhes, com indicaçõ es contraditó rias. Quase tudo
em sua anatomia sugeria que aquela era uma criança Cro-Magnon bastante
típica, mas a robustez e as proporçõ es de seus membros e algumas de suas
características dentá rias sugeriam a alguns que ela representa evidência de
mistura entre neandertais e humanos modernos. Dada a sua idade gravetiana,
aparentemente vá rios milênios depois que os neandertais desapareceram,
parece-se que essa é uma criança Cro-Magnon que reteve alguns genes e
características neandertais de uma fase anterior do cruzamento. No entanto,
neste e em outros casos, em vez de perceber características que definitivamente
vieram dos neandertais, vejo algumas que estavam presentes nos ancestrais
dessas pessoas modernas em seus lugares de origem ou que representam
variaçõ es individuais que se sobrepõ em à s de Neandertais. os neandertais em
alguns aspectos. Quando tivermos uma amostra razoá vel dos primeiros
modernos da Á frica do Norte ou da Á sia que datam de cerca de 50.000 anos - o
mesmo período de muitos de nossos neandertais -, poderemos ver qual era sua
morfologia e poderemos determinar melhor se os recursos poderiam vieram da
mistura neandertal ou foram devidos a ascendência em uma regiã o diferente.
Há muitos anos, observei que a ú nica coisa que você poderia esperar que os
neandertais legassem aos Cro-Magnons em qualquer cruzamento era físico (em
termos de forma do corpo) e adaptaçã o fisioló gica ao frio, enquanto a realidade é
que os primeiros cro- Os magnons tinham um físico linear completamente
contrastante, enquanto os europeus de hoje têm pouca tolerâ ncia ao frio em
comparaçã o com muitos outros grupos humanos modernos - dificilmente o que
você esperaria se seus ancestrais incluíssem neandertais. Essa evidência contra o
cruzamento é aparentemente duplicada no que diz respeito à cor da pele, como
já vimos, uma vez que os europeus modernos desenvolveram sua pró pria
pigmentaçã o mais clara, em vez de emprestar a dos neandertais. Mas se as
comparaçõ es de genoma mostram que houve cruzamento, por que esses
recursos aparentemente ú teis nã o foram transferidos?
Eu acho que a resposta pode vir do reconhecimento de que o lugar em que
todos focamos quando pensamos em cruzamentos é a Europa, na época dos
ú ltimos neandertais. Mas entã o eles eram uma raça moribunda, poucos em
nú mero e com baixa diversidade. Se o cruzamento realmente aconteceu antes,
em uma regiã o mais quente ou em um período mais quente, talvez os
neandertais envolvidos nã o fossem exemplos europeus de pele clara e frio. De
fato, o cruzamento poderia até ter acontecido quando pessoas como Skhul-
Qafzeh e Tabun estavam no Oriente Médio há 120.000 anos. Se milhares desses
modernos misturados com apenas cinquenta neandertais e depois
sobrevivessem em algum lugar da Ará bia ou do norte da Á frica, eles poderiam
subsequentemente cruzar com os emigrantes fora da Á frica 60.000 anos depois e
transmitir seu componente oculto dos genes neandertais?
No entanto, existe ainda outra possibilidade. Pesquisas em andamento
sugerem que os 2% ou mais do DNA do neandertal em amostras francesas,
chinesas e da Nova Guiné nã o sã o os mesmos 2%, e modelar as interaçõ es
neandertal-modernas levou os geneticistas Mathias Currat e Laurent Excoffier a
propor outro cená rio - que isso 2% ou mais nas diferentes populaçõ es é, em vez
disso, uma medida de como a hibridizaçã o foi ineficaz em eventos separados
de cruzamento. Assim, indica um limite natural no processo, causado por fatores
bioló gicos, sociais ou demográ ficos.
Dado nosso possível papel em sua morte, devemos reverter o processo de
extinçã o e tentar clonar um neandertal de seu genoma recém-reconstruído? Isso
é algo que eu teria descartado como pura ficçã o científica apenas alguns anos
atrá s, mas com o impressionante progresso recente na genô mica, ninguém deve
descartar uma tentativa no futuro. O que tenho certeza, porém, é que seria
totalmente errado ressuscitar espécies extintas há muito tempo para satisfazer
nossa curiosidade por elas, principalmente se fossem humanas. Os neandertais
foram os produtos de uma histó ria evolutiva ú nica na Eurá sia que durou
centenas de milhares de anos, mas se foram, juntamente com o mundo em que
evoluíram, e devemos deixá -los descansar em paz.
Os avanços na reconstruçã o dos genomas neandertais foram refletidos em
toda a Á sia em trabalhos igualmente notá veis sobre o que ficou conhecido como
"Lineage X" ou "Denisovans", de David Reich e seus colegas. Um osso de dedo
fó ssil, com cerca de 40.000 anos de idade, da Caverna Denisova, na Sibéria, que
nã o podia ser atribuído a uma espécie humana específica, primeiro produziu
uma surpreendente sequência de mtDNA, nem neandertais nem moderna. Na
verdade, seu mtDNA era mais diferente do que os neandertais e os modernos,
sugerindo um tempo de origem há mais de 500.000 anos. Esse achado foi
confirmado quando um dente molar maciço dos mesmos níveis mostrou possuir
um padrã o mtDNA muito semelhante. Mas o mais notá vel é que o DNA
autossô mico foi recuperado do osso do dedo, permitindo que partes de todo o
genoma de Denisova fossem reconstruídas. Comparaçõ es com os genomas de
chimpanzés, neandertais e vá rios humanos modernos produziram ainda mais
surpresas: Denisova provavelmente foi um derivado
da linhagem heidelbergensis , mas que permaneceu geneticamente mais pró ximo
dos neandertais do que dos humanos modernos, talvez indicando trocas
intermitentes de genes na Á sia central, onde Neandertais e denisovanos se
encontraram. Fó sseis asiá ticos enigmá ticos datados entre 100.000 e 650.000
anos atrá s, como os encontrados em Narmada na Índia e Yunxian, Dali,
Jinniushan e Maba na China, foram considerados possíveis derivados asiá ticos
de H. heidelbergensis , ou parentes de neandertais, para que possam ser
candidatos a esta linhagem oriental antiga. Além disso, existem restos
fragmentá rios de Xujiayao, no norte da China, e da caverna Zhiren, no sul da
China, que alegadamente mostram características humanas arcaicas e modernas,
datadas de cerca de 100.000 anos atrá s. Esses fó sseis sã o incompletos demais
para determinar seu status evolutivo, mas também sugerem complexidade
adicional na histó ria da evoluçã o humana moderna na China.
Mas algo ainda mais notá vel ainda precisa ser explicado adequadamente: os
denisovanos também estã o relacionados a um grupo de seres humanos vivos - os
melanésios - que podem explicar o palpite de Jeffrey Long, discutido
anteriormente neste capítulo, de que eles contêm genes arcaicos distintos do
resto do mundo. nos. A explicaçã o mais plausível para isso é que os denisovanos
estavam presentes no sudeste da Á sia e também na Sibéria, e as populaçõ es pré-
melanésias que migram da regiã o da Á frica cruzaram com alguns desses
denisovanos, captando cerca de 5% de seus genes. Esse componente pode
representar apenas vinte e cinco denisovanos misturados com quinhentos pré-
melanésios, mas foi suficiente para dar aos atuais habitantes de lugares como
Nova Guiné e Bougainville até 8% de genes "arcaicos" - um pequeno componente
neandertal que eles adquiridos primeiro, provavelmente no oeste da Á sia, e um
componente denisovano maior que adquiriram mais tarde, a caminho da
Melanésia. Assim como a presença de pequenas quantidades de genes
neandertais, haverá agora uma atençã o considerá vel ao que esses genes
denisovanos podem estar fazendo nos melanésios modernos. Por exemplo, eles
poderiam ter adotado defesas ú teis contra algumas das doenças endêmicas do
sudeste da Á sia? Isso é sugerido a partir de estudos do sistema imunoló gico pelo
geneticista Abi-Rached e colegas, que argumentam que algumas variantes no
sistema HLA (antígeno leucocitá rio humano) das populaçõ es modernas na
Eurá sia poderiam ter sido detectadas através de cruzamentos com neandertais e
denisovanos. Agora a atençã o voltará para a Austrá lia, pois esse continente ainda
nã o teve comparaçõ es completas de genoma com neandertais e denisovanos,
mas sua colonizaçã o precoce e subsequente isolamento o tornarã o um
importante banco de ensaios para estudos adicionais de hibridaçã o.
Com tais sucessos na recuperaçã o de DNA antigo de neandertais e
denisovanos, inimaginá vel até quinze anos atrá s, pode parecer estranho que nã o
tenha havido uma infinidade de trabalhos comparando o DNA antigo de
populaçõ es arcaicas em muitas outras regiõ es. Mas a realidade é que as
condiçõ es tropicais e subtropicais com altas temperaturas ou umidade, ou
ambas, afetam severamente a preservaçã o do DNA antigo, o que é mais infeliz em
um caso como o Homo floresiensis, onde o DNA autêntico poderia rapidamente
resolver os argumentos ferozes sobre seu status como um espécies arcaicas ou
uma variante estranha dos humanos modernos. Embora existam esperanças de
outros locais no norte da Á sia além de Denisova, e talvez também de locais de
alta altitude mais ao sul, é prová vel que muitas populaçõ es humanas antigas
nunca produzam seu DNA para estudo, e dependeremos do pensamento lateral,
como o estudo de parasitas humanos, cujo DNA fornece caminhos paralelos, mas
independentes, para o estudo de nosso pró prio DNA e a histó ria do DNA fó ssil
(discutido mais adiante neste capítulo). Bioquímicos que nã o sã o do DNA, como
proteínas ó sseas, também podem oferecer melhores perspectivas de
sobrevivência em ambientes hostis e ainda podem nos fornecer janelas
alternativas ú teis para o nosso passado evolutivo. Mas e quanto aos primeiros
modernos, como os Cro-Magnons na Europa, que viviam em condiçõ es
semelhantes aos dos Neandertais, mas ainda mais recentemente - certamente
eles seriam os principais candidatos aos estudos antigos de DNA? Muitos deles
certamente devem conter seqü ências de DNA antigas autênticas, pelo menos, tã o
bem preservadas quanto as dos Neandertais, e de fato vá rias dessas seqü ências
foram publicadas. No entanto, em alguns casos, existem dú vidas persistentes
sobre a possibilidade, e até mesmo probabilidade, de contaminaçã o por DNA
humano recente, que pode ser indistinguível do material autêntico.
De fato, em 2001, houve reivindicaçõ es para a recuperaçã o de DNA antigo de
fó sseis australianos datados entre 10.000 e 40.000 anos. Dez dos doze espécimes
testados nos lagos Willandra e Kow Swamp aparentemente produziram
seqü ências humanas de mtDNA, e um deles, do enterro do Mungo 3 de 40.000
anos, foi reivindicado como formando um grupo externo em comparaçã o com
todos os outros fó sseis (neandertais). ) e sequências humanas recentes. Alegou-
se que o cará ter distintivo da sequência do Mungo 3 prejudicou o suporte
genético para uma origem africana recente e, em vez disso, foi a confirmaçã o de
um modelo multirregional ou de assimilaçã o das origens humanas
modernas. (Um dos autores do estudo foi o multiregionalista Alan Thorne.)
Entretanto, críticos como eu, Alan Cooper e Matthew Collins logo apontaram
que a taxa de recuperaçã o reivindicada para o DNA antigo australiano era
bastante excepcional em comparaçã o com os resultados de outros lugares,
principalmente considerando que alguns dos espécimes foram enterrados por
milênios sob as areias do deserto. condiçõ es de calor extremo do verã o. Além
disso, em alguns casos, o DNA foi recuperado de restos de osso deixados em
caixas de armazenamento apó s os esqueletos, infelizmente, terem sido
enterrados ou cremados a pedido das comunidades aborígines. Além disso,
protocolos experimentais padrã o para o trabalho antigo de DNA nã o haviam sido
empregados, sugerindo a possibilidade de contaminaçã o e reaná lise dos dados
publicados, usando um nú mero maior de seqü ências australianas e africanas
recentes para comparaçã o, demonstrando que a sequência do Mungo 3 nã o, de
fato, forme um grupo externo ao mtDNA humano recente; nem apresentou
nenhum sério desafio a uma origem africana recente.
Agora, está sendo realizada uma nova aná lise das amostras usando as
técnicas mais recentes, para estabelecer a extensã o da contaminaçã o recente. As
liçõ es aprendidas serã o aplicadas a estudos posteriores, que se concentram na
distinçã o entre segmentos antigos e recentes do DNA pelos sinais de danos que
eles carregam. É prová vel que esse trabalho, finalmente, nos forneça amostras
inequívocas de DNA antigo de Cro-Magnon e outros fó sseis modernos primitivos.
Uma visã o um tanto surpreendente - até perturbadora - da evoluçã o humana
também pode ser obtida no estudo de alguns de nossos companheiros de
viagem: piolhos e pêlos do corpo. Os parasitas dos piolhos, que vivem do sangue
humano, foram mencionados anteriormente em pesquisas que tentaram estimar
quando os seres humanos podem ter usado regularmente regularmente as
roupas e roupas de cama em que alguns deles viviam. Somos vítimas de duas
formas distintas de piolhos, Pthirus , o piolho pubiano e Pediculus , o piolho de
cabeça e corpo, e deve haver uma histó ria complexa por trá s da hospedagem
desses dois gêneros distintos. Nosso piolho-cabeça está mais intimamente
relacionado com o dos chimpanzés, que se encaixa com uma divergência
evolutiva de nossa espécie e a deles há cerca de 6 milhõ es de anos atrá s. No
entanto, estranhamente, nossos piolhos pú bicos estã o mais intimamente
relacionados aos do gorila, mas com uma aparente divergência de apenas cerca
de 3 milhõ es de anos. Isso sugere que nosso piolho divergiu conosco, à medida
que as linhas humanas e do chimpanzé passaram por sua separaçã o evolutiva,
mas o salto mais jovem do piolho pú bico da linhagem de gorilas menos pró xima
deve ter uma explicaçã o diferente: nossos ancestrais africanos antigos tiveram
contato direto com os ancestrais. gorilas - talvez sexuais, talvez sociá veis, talvez
envolvendo conflito ou predaçã o. A existência separada de pêlos pubianos em
nossos ancestrais africanos, que apresentou uma oportunidade para a
transferência de gorilas há cerca de 3 milhõ es de anos, também implica que
havíamos perdido muito de nossos pêlos no corpo nessa época.
O mtDNA do nosso piolho de cabeça e roupas vem em três linhagens bastante
distintas, ao contrá rio do nosso pró prio mtDNA. O grupo mais comum tem
distribuiçã o mundial hoje e mostra evidências de uma expansã o há cerca de
100.000 anos, que se encaixa bem com a expansã o dos seres humanos modernos
dentro e depois da Á frica. A segunda linhagem, mais comum na Europa, divergiu
da primeira cerca de um milhã o de anos atrá s, e uma terceira linhagem rara
encontrada em apenas alguns indivíduos na Á frica e na Á sia teve uma
divergência ainda mais antiga em cerca de 2 milhõ es de anos. O geneticista David
Reed explicou que uma maneira de explicar os resultados é argumentar que a
populaçã o de raízes dos humanos modernos era grande o suficiente para
hospedar essas linhagens distintas por cerca de 2 milhõ es de anos, mas seus
cá lculos mostraram que isso era muito imprová vel.
Outra possibilidade é que houvesse interaçã o entre populaçõ es humanas há
mais de 200.000 anos, o que implica contato entre humanos modernos e
arcaicos, como os neandertais ou, como vimos, os denisovanos. Os tipos de
interaçã o nã o podem ser determinados, mas podem variar de cruzamentos a
contato com roupas de cama, a confrontos agressivos ou até canibalismo, onde os
piolhos poderiam ter saltado das vítimas para os autores. Como exemplo deste
ú ltimo, estudos histó ricos mostraram que os ilhéus do Estreito de Torres,
morando entre a Nova Guiné e a Austrá lia, costumavam manter a cabeça de seus
parentes falecidos e de seus inimigos. No ú ltimo caso, isso à s vezes envolvia
comer partes do rosto e dos olhos da cabeça do troféu; tal comportamento no
passado poderia ter permitido a propagaçã o de parasitas entre populaçõ es
humanas distintas e até espécies. Se eles eram capazes de pular espécies antes
que suas populaçõ es hospedeiras se extinguissem, essas linhagens de piolhos
literalmente se davam uma nova chance de vida. E, é claro, a transferência de
pató genos também poderia ter sido na direçã o inversa, e continua sendo possível
que infecçõ es de um tipo ou outro trazidas da Á frica por humanos modernos
tenham contribuído para a morte de humanos arcaicos em outros lugares.
Neste capítulo, discutimos os dados em nossos genomas e os dos neandertais
e denisovanos: genomas que documentam a evoluçã o e, pelo menos, o contato
ocasional entre essas linhagens humanas intimamente relacionadas. As
evidências confirmam que temos uma origem africana predominantemente
recente, mas em todo o mundo nossa espécie nã o é pura e inteiramente fora da
Á frica. Nesse continente, nossos ancestrais eram poucos e provavelmente viviam
em pequenos bolsos. Nossa discussã o anterior sobre o desenvolvimento da
modernidade comportamental mostrou sua gênese irregular em toda a Á frica -
uma gênese que eu comparei com breves episó dios, como uma vela piscando e
depois sendo extinta. Entã o, o que finalmente mudou para manter a chama acesa
e depois intensificada, para que nossa espécie começasse sua ascensã o
aparentemente inexorá vel à dominaçã o mundial? Existem muitas idéias e
teorias, e começarei a explorá -las no pró ximo capítulo.

8
Fazendo um ser humano moderno

Como expliquei no primeiro capítulo, quando iniciei minha pesquisa de


doutorado em 1970, a origem dos seres humanos modernos dificilmente foi
reconhecida como um tó pico específico digno de estudo científico. A classificaçã o
padrã o de humanos tinha pessoas vivas, os neandertais e diversos restos de
locais como Broken Hill, na Á frica, e Solo em Java, todos classificados como
membros de nossa espécie. Com esses membros fó sseis de aparência diferente
no Homo sapiens , as origens de características como um queixo, uma pequena
crista de sobrancelha e um crâ nio globular foram, sem surpresa, perdidas em um
pâ ntano de diversidade. Além disso, com a predominâ ncia dos modelos da fase
multirregional ou da fase neandertal, as origens dessas características estavam
aparentemente dispersas entre muitos ancestrais diferentes que viviam no Velho
Mundo, de modo que a evoluçã o humana moderna nã o era tanto um evento
como uma tendência; éramos apenas o resultado final de tendências de longo
prazo contínuas na evoluçã o humana em características como aumento do
tamanho do cérebro e diminuiçã o do tamanho do dente e da face. Também para
o comportamento humano, havia ênfase nas tendências evolutivas graduais; por
exemplo, na França, a "transiçã o" do Paleolítico Médio Mousteriano para o
Paleolítico Superior Gravetiano, via indú stria châ telperroniana, foi vista como
apoiando uma evoluçã o local paralela dos Neandertais para os Cro-Magnons.
Parece muito diferente quarenta anos depois. Para a maioria dos cientistas, a
Á frica foi estabelecida como o centro de nossas origens físicas e culturais. A
evoluçã o do Homo sapiens "moderno" pode ser vista como um evento físico e
bioló gico importante, apoiado por evidências fó sseis e genéticas. Muitos
pesquisadores também traçavam de volta à Á frica as origens do complexo
comportamento aparente nas figuras do Paleolítico Superior e nas cavernas
pintadas da Europa. E, no entanto, por mais que eu esteja encantado com a
maneira como o assunto das origens humanas modernas decolou para se tornar
uma das á reas mais dinâ micas de pesquisa em paleoantropologia, ainda estou
intrigado com muitos aspectos da origem africana de nossa espécie. Quando olho
criticamente o que sabemos e, mais importante, o que ainda nã o sabemos, sinto
que ainda nã o estamos perto de uma compreensã o completa dessas origens,
como espero explorar nesses capítulos finais.
Na década de 1980, a questã o para pessoas como eu, Gü nter Brä uer e
Desmond Clark era levar as pessoas a levar a sério a idéia de uma origem
africana recente para a humanidade moderna, muito menos discutir como essa
origem poderia ter surgido. No que foi uma luta real contra uma oposiçã o muito
influente e à s vezes vitrió lica, tenho certeza de que à s vezes simplificamos
demais nossas visõ es e as dos multiregionistas e diminuímos a complexidade dos
dados, no que se tornou uma polarizaçã o cada vez mais polarizada e à s vezes
amarga debate. À s vezes, também, à medida que minhas opiniõ es sobre uma
origem africana recente se desenvolviam, favorecia a ideia de que nossas
espécies evoluíram muito rapidamente em uma pequena á rea - uma espécie de
"Jardim do É den" africano. Mas a visã o geral tem sido de que provavelmente
houve uma sequência evolutiva relativamente gradual na Á frica, de humanos
arcaicos ( Homo heidelbergensis , à s vezes também chamado de Homo
rhodesiensis ) até nossa espécie, H. sapiens . Os fó sseis de Heidelbergensis na
Á frica e na Europa datam de cerca de 500.000 anos, enquanto, como vimos,
fó sseis representando nossa espécie foram encontrados na Etió pia em Omo
Kibish e Herto, com idades entre 160.000 e 195.000 anos, com restos mais
fragmentá rios. Guomde, no Quênia, talvez com 250.000 anos. O pressuposto é
que um acú mulo gradual de características modernas na Á frica teria paralelo a
um acú mulo compará vel de traços neandertais na Europa, a partir de
um ancestral heidelbergensis similar .
O que desencadeou a evoluçã o dos humanos modernos na Á frica, e por que
isso aconteceu, ainda é incerto. Os avanços sociais ou tecnoló gicos promoveram
mudanças evolucioná rias ou o isolamento geográ fico apó s mudanças climá ticas
severas foi responsá vel? Ainda nã o está claro onde viveu a primeira populaçã o
ou populaçõ es "modernas", mas as á reas do leste e sul da Á frica disputaram o
título "Berço da Humanidade Moderna". O registro fó ssil destacou a Etió pia e o
Quênia na Á frica Oriental como o local mais prová vel para nossas origens, mas
essa também é a regiã o com o melhor registro fó ssil do período. Por outro lado, a
Á frica do Sul tem um registro fó ssil mais fraco, mas um comportamento muito
mais rico para a Idade da Pedra Média, e é por isso que alguns trabalhadores
afirmam que a regiã o é o verdadeiro foco das origens humanas
modernas. Descobertas recentes também mudaram o foco para o norte, para o
Marrocos, onde a reavaliaçã o de descobertas anteriores e a descoberta de novas
sugerem que mesmo o noroeste da Á frica nã o pode ser excluído como centro das
origens humanas modernas. Também devemos lembrar que pelo menos 50% das
regiõ es africanas que possuem ferramentas de pedra desse período nã o
produziram uma ú nica relíquia fó ssil humana para nos mostrar quem estava
fabricando as ferramentas em questã o. Assim, tendo em mente esses pontos,
gostaria de dar uma nova olhada em vá rios aspectos de nossa evoluçã o que já
discutimos, desde a biologia ao comportamento, até o papel do clima em nossa
evoluçã o, na esperança de lançar mais luz sobre nossa origens africanas
misteriosas.
Primeiro, examinaremos o cérebro, porque uma teoria importante sobre
nossas origens africanas - a do arqueó logo Richard Klein - argumenta que o
desenvolvimento do comportamento humano moderno surgiu repentinamente
há cerca de 50.000 anos atrá s, como resultado de mutaçõ es genéticas que
aprimoravam a funcionamento do nosso cérebro, essencialmente nos tornando
"modernos" de uma só vez. Uma visã o semelhante é defendida pelo
neurocientista Fred Previc, que destaca a importâ ncia do neurotransmissor
dopamina no pensamento criativo humano e propõ e que ele atingiu níveis
críticos há cerca de 80.000 anos, levando a evoluçã o comportamental à
modernidade. Infelizmente, é muito difícil testar adequadamente essas idéias a
partir das evidências sobreviventes, pois, embora possamos fazer um modelo
real ou virtual do interior de um crâ nio fó ssil, isso refletirá apenas a forma e as
proporçõ es externas do cérebro antigo que antes era dentro desse crâ nio. Esse
modelo nã o pode nos dizer nada sobre o funcionamento interno e as ligaçõ es do
cérebro que antes vivia, que teria contido bilhõ es de células nervosas
interconectadas. No entanto, com base nesses dados, sabemos que, durante a
evoluçã o humana, nosso cérebro certamente aumentou em volume geral em
relaçã o à massa corporal (essa proporçã o é conhecida como quociente de
encefalização , ou EQ ). Os primeiros seres humanos tinham equalizadores de
apenas 3,4 a 3,8, e isso incluía até indivíduos de H. heidelbergensis , que tinham
cérebros do tamanho de humanos, mas corpos muito maiores que a média
atual. Humanos mais evoluídos, como nossos ancestrais africanos antes de
200.000 anos atrá s, e os neandertais tinham equalizadores entre 4,3 e 4,8, e
quando chegamos a modernos, como os de Skhul e Qafzeh e os Cro-Magnons, o
equalizador atinge seus valores mais altos em torno de 5.3 a 5.4.
Desde entã o, H. sapiens parece ter se estabilizado nesses valores ou até
sofrido um ligeiro declínio no EQ. Mas no cérebro, como em muitas outras coisas,
tamanho nã o é tudo, e podemos inferir que também deve ter havido
reorganizaçõ es significativas no cérebro humano para atividades como
fabricaçã o de ferramentas e fala. A fim de maximizar a á rea superficial da
camada cortical mais externa do cérebro (a “substâ ncia cinzenta”, que inclui
células nervosas e suas interconexõ es), ela é complexamente dobrada em
convoluçõ es, permitindo que a á rea superficial cortical seja cerca de quatro vezes
maior que de um chimpanzé, correspondendo ao aumento do volume cerebral
total. Embora tenha havido muitos estudos cuidadosos sobre as impressõ es
dessas curvas de sulcos (sulcos) e giros (sulcos) na superfície interna das caixas
de fó sseis, tais marcaçõ es geralmente sã o fracas e difíceis de interpretar. O
trabalho realizado no século passado nas falsas convulsõ es do crâ nio de
Piltdown encontrou muitas características supostamente simiescas, e agora
sabemos que o crâ nio em questã o era realmente o de um ser humano recente;
grande parte desse trabalho consistia em pensamentos ou até fantasia - até
comparou parte do trabalho antigo à pseudociência da frenologia. Ainda outra
abordagem para a aná lise de cérebros antigos concentrou-se nas mudanças nas
proporçõ es relativas dos vá rios componentes, e nã o em suas convoluçõ es, pois
elas podem ser determinadas muito bem a partir da superfície interna
preservada do braincase ou dos dados de TC.
O có rtex ou cérebro é de longe a maior parte do cérebro nos seres humanos e
é dividido centralmente em dois hemisférios cerebrais - esquerdo e direito - que
têm especializaçõ es diferentes, mas que sã o interconectados por feixes de fibras
nervosas. Os hemisférios cerebrais sã o compostos de quatro lobos,
correspondendo em posiçã o aos ossos cranianos com o mesmo nome: lobos
frontal, parietal, temporal e occipital. Sabemos bastante sobre os papéis gerais
que esses lobos desempenham em nosso cérebro: o frontal está envolvido com o
pensamento e o planejamento; o parietal em movimento e os sentidos; o
temporal com memó ria, audiçã o e fala; e o occipital com visã o. Escondido
embaixo e atrá s dos hemisférios cerebrais, está o cerebelo menor, que se
preocupa predominantemente com a regulaçã o e o controle do corpo.
No entanto, estudos recentes mostraram que o cerebelo também desempenha
um papel em muitas funçõ es chamadas superiores e está extensivamente
interconectado com o cérebro. Além de regular as funçõ es do corpo, parece que o
cerebelo também se preocupa com os processos de aprendizado. O aumento no
tamanho bruto do cérebro e no QE realmente decolou cerca de 2 milhõ es de anos
atrá s, logo apó s a primeira evidência arqueoló gica clara de comer carne e fazer
ferramentas aparecer na Á frica. Todas as á reas do cérebro aumentaram, mas
proporcionalmente os hemisférios cerebrais aumentaram mais que o cerebelo. O
ritmo do alargamento cerebral acelerou na heidelbergensis e atingiu o pico nos
neandertais e nos modernos modernos, aparentemente correlacionado com um
aumento na complexidade comportamental. Mas, curiosamente, em humanos
recentes, esse padrã o de longo prazo reverteu-se, uma vez que o cerebelo hoje é
proporcionalmente maior. No momento, nã o está claro o que, se alguma coisa,
essa mudança significa. Em média, os cérebros humanos diminuíram cerca de
10% em tamanho nos ú ltimos 20.000 anos, entã o o cerebelo precisa manter seu
tamanho mais que o cérebro, ou, como alguns afirmam, um cerebelo
relativamente maior talvez ofereça maior eficiência
computacional? Simplesmente ainda nã o sabemos a resposta.
É certo, no entanto, que a forma geral do cérebro e a base do cérebro mudou
de humanos arcaicos para modernos, tornando-se mais baixos e altos, mais
estreitos e mais baixos, com uma expansã o específica na á rea parietal superior. A
forma do cérebro é inevitavelmente parecida com a do crâ nio, uma vez que os
dois devem se desenvolver e crescer em harmonia - mas qual é o fator
determinante e principal determinante de suas formas semelhantes? Esta nã o é
uma pergunta simples de abordar, uma vez que mesmo a base cerebral e o
cérebro nã o crescem e existem isoladamente. Por exemplo, a base do crâ nio
ancora as partes superiores dos tratos vocal, digestivo e respirató rio e articula a
cabeça e a coluna, enquanto a frente do crâ nio contém os dentes e mandíbulas e
os mú sculos que os trabalham. Esses fatores parecem ter restringido a forma do
cérebro de mudar muito nessas regiõ es.
Mas as á reas superiores do crâ nio e do cérebro nã o sã o tã o limitadas, e meu
Ph.D. Os resultados de 1974 destacaram mudanças nos ossos frontais, parietais e
occipitais dos humanos modernos. Cada uma delas contribuiu para o aumento da
globularidade da caixa torá cica nos sapiens modernos , e nossa testa abobadada
é particularmente perceptível. Existem dados de minha pesquisa colaborativa
com Tim Weaver e Charles Roseman que sugerem que muitas dessas alteraçõ es
cranianas podem nã o ser significativas em termos evolutivos e podem ser
simplesmente o resultado de alteraçõ es ao acaso (desvio genético), à medida que
os humanos modernos seguiram seu pró prio caminho separado. isolamento na
Á frica. Voltarei a esta questã o no capítulo 9, mas, no entanto, a forma craniana
dos humanos modernos é tã o idiossincrá tica, comparada com os padrõ es
encontrados em todas as outras espécies humanas conhecidas, que acho que vale
a pena considerar se a evoluçã o do cérebro pode estar por trá s de nossa
evoluçã o. forma de cofre globular. Isso é particularmente verdade quando a
pesquisa de Philipp Gunz e seus colegas sugere que essa mudança de forma
começou a separar crâ nios arcaicos e modernos logo apó s o nascimento.
Parece prová vel que tenham ocorrido mudanças importantes nos lobos
frontais do cérebro, dada a sua importâ ncia na visã o de futuro, mas fiquei
surpreso com os estudos de TC de crâ nios fó sseis nos quais eu estava
envolvido. Isso mostrou que o perfil e o tamanho relativo dos lobos frontais
dentro da cavidade cerebral haviam mudado muito menos em humanos
modernos, em comparaçã o com as ó bvias mudanças externas no
desenvolvimento da testa. Na parte traseira do crâ nio, o osso occipital é
relativamente mais estreito e mais uniformemente curvado nos humanos
modernos. Nos crâ nios erectus e heidelbergensis, o occipital era mais
agudamente angulado, e isso deve ter sido parcialmente relacionado aos
poderosos mú sculos do pescoço que se ligavam ao osso em humanos
primitivos. E nos neandertais, o perfil do occipital foi influenciado pelos lobos
occipitais bastante inchados de seus cérebros, cujo significado ainda é debatido -
esses lobos contêm o có rtex visual, por exemplo. Nos humanos modernos, os
parietais sã o aumentados e alongados, enquanto o arco que eles fazem é mais
estreito na base, mas mais amplo. O paleoneurologista Emiliano Bruner
investigou esses aspectos da forma antiga do cérebro usando morfometria
geométrica. Ele confirmou anteriormente, estudos mais tradicionais, que as
impressõ es dos vasos sanguíneos no interior das parietais (refletindo o
suprimento de sangue para os lobos parietais) sã o alteradas nos humanos
modernos, formando uma rede muito mais complexa.
Entã o, existe alguma coisa na funçã o dos lobos parietais que possa explicar
sua expansã o no cérebro humano moderno? Eles estã o envolvidos na integraçã o
de informaçõ es sensoriais, no processamento de dados de diferentes partes do
cérebro e na comunicaçã o social, que podem se refletir nas mudanças
comportamentais reconhecidas com a chegada dos humanos modernos. Os
arqueó logos cognitivos Thomas Wynn e Frederick Coolidge argumentaram que
uma mudança fundamental na mente humana moderna deve ter sido o
desenvolvimento de uma memó ria de trabalho episó dica. A memó ria em
humanos pode ser subdividida em memó rias declarativas, como fatos e
informaçõ es bá sicas, e memó rias processuais, como sequências de palavras ou
açõ es (como criar uma ferramenta ou encontrar uma rota). Sabe-se, a partir de
estudos cerebrais, que esses sã o mó dulos separados, no sentido de que os danos
cerebrais podem interferir em um, mas nã o no outro, e estudos de imagem
cerebral mostram que eles sã o controlados por diferentes caminhos. É muito
prová vel que esses dois tipos de memó ria sejam aprimorados no cérebro
humano moderno, mas existe um tipo especial e importante de memó ria
declarativa chamada memó ria episó dica, pessoal ou autobiográ fica - uma
reminiscência de um evento, com suas emoçõ es associadas. . Isso pode ser usado
mentalmente para reexecutar eventos passados e, igualmente importante,
também pode ensaiar eventos futuros - uma espécie de má quina do tempo de
"realidade interna" que pode retroceder ou projetar possíveis cená rios adiante e
que parece intimamente ligada a conceitos de autoconsciência
("consciência"). Como já vimos, as evidências arqueoló gicas sugerem que o
alcance dos humanos modernos em toda a paisagem em termos de coleta de
alimentos, fornecimento de matérias-primas e redes sociais aumentou durante a
Idade da Pedra Média e continuou a aumentar durante a Idade da Pedra Mais
Tarde na Á frica e nos países contemporâ neos. indú strias fora da Á frica, como o
Paleolítico Superior. Tais desenvolvimentos podem refletir a chegada de um tipo
moderno de memó ria episó dica. Além disso, a capacidade de conjurar narrativas
vívidas da realidade interna também poderia ter sido crítica no desenvolvimento
de crenças religiosas, uma vez que cená rios imaginá rios poderiam ser criados,
além de reais. Uma vez que as pessoas pudessem prever suas pró prias mortes, as
crenças religiosas que asseguravam tais eventos poderiam ter sido selecionadas
por seu valor em promover a sobrevivência.
Experimentos e observaçõ es sugerem que os lobos parietais estã o realmente
envolvidos na memó ria episó dica, mas é claro que eles nã o sã o o ú nico local
implicado, uma vez que a recordaçã o de tais memó rias envolve uma rede de
ligaçõ es entre os lobos frontal, parietal e temporal. Além disso, mesmo a
memó ria episó dica nã o é um caminho simples e direto. Por exemplo, alguns
pacientes com danos seletivos no lobo parietal podem se lembrar de um evento
específico em detalhes de uma sugestã o geral, como "seus aniversá rios"
(lembrança de cima para baixo), enquanto outros precisam de uma sugestã o
detalhada, como uma foto de um bolo de aniversá rio específico ( recall de baixo
para cima) para lembrar de um evento especial corretamente. Mas as partes
inferiores dos lobos parietais também estã o implicadas em outra propriedade
vital do cérebro humano moderno: a fala interna. Esta é a nossa voz interior que,
consciente e inconscientemente, guia muito do nosso pensamento e tomada de
decisã o; de certa forma, fornece um dos bits mais vitais do software para o
hardware de nossos cérebros. De fato, há evidências de que a incapacidade de
criar e usar esse programa - por exemplo, em pessoas nascidas surdas, mudas e
cegas, e que receberam pouca estimulaçã o sensorial de outros seres humanos -
limita muito as funçõ es cerebrais mais elevadas. Mesmo assim, essas pessoas
gravemente prejudicadas, quando recebem informaçõ es apropriadas desde tenra
idade, podem desenvolver e usar seus pró prios có digos de fala interior, por
exemplo, lembrando os símbolos da linguagem de sinais que foram ensinados,
em vez de palavras faladas.
Stanley Ambrose, o campeã o do impacto da erupçã o de Toba na evoluçã o
humana moderna, também defendeu a importâ ncia da memó ria e o
desenvolvimento de partes específicas do cérebro no sucesso dos seres humanos
modernos. Para ele, o mais importante era a integraçã o da memó ria de trabalho
com a memó ria prospectiva (lidando com tarefas no futuro pró ximo) e a
memó ria construtiva (viagem mental no tempo), centralizadas na parte frontal e
traseira dos lobos frontais. Tais ligaçõ es teriam facilitado tudo, desde a
construçã o de artefatos compostos até o desenvolvimento de níveis mais
completos de leitura da mente e cooperaçã o social. Na sua opiniã o, humanos
arcaicos como os neandertais haviam desenvolvido a memó ria para o
planejamento a curto prazo e a produçã o de artefatos compostos, mas nã o
possuíam a integraçã o cerebral total e os sistemas hormonais que promoviam os
níveis de confiança e reciprocidade essenciais para as redes sociais muito
maiores. dos humanos modernos.
Tudo isso mostra o quã o complexo nosso cérebro é, e até que ponto ainda
precisamos percorrer para entender seu funcionamento em humanos vivos, sem
falar nos que morreram há 100.000 anos. Infelizmente, para as visõ es de Richard
Klein sobre um evento cognitivo significativo há cerca de 50.000 anos, o aumento
do frontal e a expansã o dos lobos parietais aparentemente já haviam ocorrido
100.000 anos antes, como mostra a forma dos primeiros crâ nios modernos de
Omo Kibish e Herto . No geral, existem poucas evidências até o momento sobre
quaisquer mudanças detectá veis no cérebro humano moderno quando Klein
argumenta que elas deveriam ter ocorrido. O volume cerebral e o QE
aparentemente aumentaram bastante de forma constante nos humanos
modernos até os ú ltimos 20.000 anos, apó s os quais eles parecem ter declinado
um pouco, e da mesma forma a tendência no aumento da razã o cerebelo /
cérebro parece ter mudado apenas nos ú ltimos 20.000 anos.
Portanto, tudo o que podemos dizer é que nã o há evidência física ó bvia para
essa mudança no funcionamento do cérebro humano há 50.000 anos. Talvez
algum suporte genético venha a surgir; há alegaçõ es de que o gene DRD4, que,
quando mutado negativamente, está associado ao transtorno de déficit de
atençã o / hiperatividade (TDAH), sofreu alteraçõ es nesse período. O DRD4 afeta
a eficá cia do neurotransmissor dopamina no cérebro, e foi sugerido que um
efeito positivo de tais mutaçõ es seria incentivar a busca de novidades e a tomada
de riscos - talvez qualidades importantes para uma migraçã o para fora da
Á frica. John Parkington é um dos vá rios arqueó logos e bió logos que
argumentaram que os ó leos de peixe obtidos pelos primeiros modernos quando
começaram a explorar seriamente os recursos marinhos teriam impulsionado o
poder cerebral do Homo sapiens - e há outras alegaçõ es de que os á cidos graxos
ô mega-3 teria conferido benefícios adicionais em termos de saú de e
longevidade. Infelizmente, no momento, essas mudanças só podem ser inferidas
a partir de evidências indiretas, como o registro arqueoló gico, que por si só pode
ser interpretado de maneiras muito diferentes. Aqui precisamos retornar a dois
dos principais elementos da modernidade que podem ser decifrá veis a partir
dessa evidência arqueoló gica: a presença do simbolismo e, por inferência, a
linguagem complexa.
Nos capítulos 5 e 6, discutimos algumas das principais "assinaturas"
comportamentais da modernidade que geralmente sã o destacadas pelos
arqueó logos - coisas como arte figurativa e enterros com bens funerá rios. E
vimos que ainda nã o há nenhuma evidência forte de arte figurativa ou
claramente representacional antes do material europeu datado em cerca de
40.000 anos. Da mesma forma, nã o há evidências de enterros simbó licos mais
antigos do que os primeiros exemplos modernos conhecidos de Skhul e Qafzeh
há cerca de 100.000 anos, mesmo que locais africanos mais antigos como Herto
sejam sugestivos do tratamento ritual de restos mortais. No entanto, o
processamento e uso de pigmentos vermelhos na Á frica remonta
consideravelmente para mais de 250.000 anos, em locais como Kapthurin e
Olorgesailie no Quênia. O registro é esporá dico depois disso, mas surge em
Pinnacle Point, na Á frica do Sul, em cerca de 160.000 anos, e muito mais
fortemente em locais no norte e na Á frica do Sul, em cerca de 120.000 anos. Em
particular, existe o rico material da caverna de Blombos, na Á frica do Sul, que
inclui cerca de vinte fragmentos e placas ocres gravados, datados há cerca de
75.000 anos e alguns que remontam a 100.000 anos. Esses fragmentos parecem
ser geralmente aceitos como intençã o simbó lica, em vez de acidental ou
utilitá ria, mas muitos dos exemplos anteriores sã o apenas sugestivos de
significado simbó lico, e nã o definitivo.
As evidências parecem muito mais fortes no caso das contas de carrapato,
presentes nos limites conhecidos da faixa humana moderna moderna há pelo
menos 75.000 anos, a partir de locais de cavernas no Marrocos, Israel e Á frica do
Sul. Mas mesmo aqui, o contexto em que estavam sendo usados se torna crítico
para decidir qual nível de significado simbó lico eles carregavam. O arqueó logo
Paul Pettitt sugere uma maneira alternativa de olhar para a intençã o simbó lica,
afastando-se de julgar uma presença / ausência absoluta (e contenciosa) e, em
vez disso, desconstruindo diferentes níveis de significado simbó lico, em
consonâ ncia com os está gios de Robin leitura de "leitura da mente" de Robin
Dunbar. discutimos no capítulo 5. Essa desconstruçã o é valiosa porque também
permite que uma sequência evolutiva para o simbolismo seja considerada, em
vez de apenas uma chave liga / desliga, na qual o simbolismo nem existe ou é
totalmente desenvolvido, sem intermediá rios. Pettitt salienta que os símbolos só
podem funcionar como tais em humanos recentes se o "escritor" e o "leitor"
estiverem de acordo com o significado, mas, ao interpretar descobertas
arqueoló gicas, tendemos a focar no escritor, sem considerar aqueles que podem
receber a mensagem pretendida. . Ele adverte que, a menos que o símbolo seja
repetido em vá rios locais diferentes em um determinado período de tempo,
devemos ser cautelosos sobre quã o difundido foi o comportamento e quã o
eficiente ele foi na transmissã o de seu significado.
O mesmo símbolo pode ter transmitido mensagens diferentes para indivíduos
diferentes e entre grupos diferentes, enquanto hoje podemos considerar apenas
um dos muitos possíveis significados pretendidos, e mesmo esse significado
inferido pode estar errado. Por exemplo, para pigmentos e contas de conchas
perfuradas aplicadas ao corpo, poderia ter havido diferentes níveis de uso e
significado simbó lico, do simples ao complexo. O uso mais bá sico pode ser
puramente decorativo e refletir uma preferência pessoal ("uso vermelho porque
gosto de vermelho"). Ou a mensagem pode ser uma melhoria do sinal ("Eu visto
o vermelho como sei que você o lerá como um sinal da minha força ou ficará
impressionado com ele"). Um terceiro nível pode refletir o status ou a identidade
do grupo (“Eu visto o vermelho como sei que você o reconhecerá como a regra
do nosso clã e deduziremos que somos culturalmente iguais”). Uma quarta e
ainda mais complexa mensagem pode ser: “Eu visto vermelho, como você, sou
um caçador de sucesso e matei um eland adulto; é meu direito usar essa cor e,
portanto, ordeno respeito de todos. ” E, finalmente, o mais complexo, como parte
de um mito elaborado ou de uma crença cosmoló gica, pode ser: “Só visto
vermelho nessa época específica do ano, marcando quando os ancestrais criaram
a terra. Essa é uma parte vital de nossas crenças e, ao fazer isso, mostro que sou
portadora desse conhecimento. ” Considerando apenas os exemplos hipotéticos
acima, em qual desses níveis as conchas de carrapatos e os fragmentos ocres
gravados da Caverna Blombos estavam funcionando há cerca de 75.000
anos? Em um ou vá rios níveis de complexidade e, em caso afirmativo, quais?
Provavelmente, podemos descartar o nível mais simples devido à profusã o
das conchas e sua consistência na seleçã o e fabricaçã o, e para o ocre, as gravuras
geralmente parecem cuidadosa e especificamente feitas em cada caso. Mas
Blombos é um exemplo excepcionalmente rico e, em outros locais da Idade
Média da Pedra, pode haver apenas lá pis ocre, sem gravuras e sem contas, entã o
devemos tentar julgar o nível de intençã o simbó lica nesses locais? Certamente é
possível que algumas das primeiras ocorrências de ocre vermelho em locais
africanos nã o sejam simbó licas, uma vez que o ocre também pode ser usado
como um componente de colas naturais, como conservante ou para bronzear os
couros de animais. Mas, igualmente, alguns também podem ter refletido um
baixo nível de intençã o simbó lica, em termos de decoraçã o pessoal e exibiçã o
simples. De fato, a aplicaçã o do ocre vermelho na pele humana pode ter
começado por razõ es puramente prá ticas - como repelente de insetos, por
exemplo, ou se oculta como parte de sua produçã o -, mas o ocre vermelho foi
entã o favorecido por sua aparência atraente (e, posteriormente, significativa). )
aparência. Pessoalmente, acho que a proliferaçã o de contas de concha e o uso de
ocres vermelhos ao longo da Á frica entre 75.000 e 100.000 anos atrá s devem
refletir uma intensidade crescente de trocas simbó licas dentro e provavelmente
entre os primeiros grupos humanos modernos. Mas talvez os níveis mais altos de
significado simbó lico ainda fossem apenas incipientes.
Pettitt também desconstró i as prá ticas funerá rias antigas em níveis que
variam de morbidade (interesse pelos mortos - demonstrado até pelos
chimpanzés) a cache mortuá rio (deposiçã o do corpo em certos lugares) a
sepultamento completo em local especial, com cerimô nia ou acompanhado de
simbó lico objetos. Por sua vez, ele os vincula aos níveis de leitura da mente de
Dunbar, para que o nível de intencionalidade mais simples (talvez nos macacos e
nos primeiros homininos) possa ser "eu acredito que você está morto", seguido
de "eu simpatizo que você está morto" (talvez em Homo antigo ), entã o "Eu sei
que você deve ser depositado em um local específico" ( heidelbergensis ,
modernos mais antigos e neandertais?) e, finalmente, "Por causa de seu papel,
você deve ser descartado dessa maneira, por esse método, neste lugar, como
reconhecido por nossas regras sociais ”(humanos modernos posteriores e talvez
alguns neandertais?). É possível que humanos primitivos, como
a heidelbergensis , já estivessem tratando seus mortos de alguma maneira,
enquanto os neandertais certamente estocavam e enterravam corpos com
métodos simples, com a possibilidade de enterros mais elaborados em alguns
casos. Mas talvez apenas os humanos modernos tenham realizado as mais
complexas prá ticas de descarte para seus mortos.
O que é intrigante aqui é que na verdade existem muito poucos enterros
humanos conhecidos na Idade Média da Pedra da Á frica, e os melhores exemplos
iniciais vêm do Paleolítico Médio de Israel, cerca de 100.000 anos atrá s. Por
outro lado, existem muitos enterros tardios dos neandertais na Eurá sia
ocidental, mas nã o retomamos a prá tica em humanos modernos até cerca de
40.000 anos atrá s no norte da Á frica, no Oriente Médio e depois na
Europa. Certamente é possível que os primeiros modernos se envolvam em
outros métodos de descarte além do enterro, exatamente como as pessoas fazem
hoje - ao ar livre, em plataformas, em á rvores ou em incêndios cerimoniais. Esse
também parece ser o caso de alguns dos primeiros modernos da Europa - os
aurignacianos - cujos traços corporais sã o principalmente na forma de dentes
humanos isolados e à s vezes perfurados, em vez de enterros, sugerindo que eles
preferem carregar traços de seus inimigos ou seus antepassados com eles, ao
invés de enterrá -los.
O simbolismo parece, entã o, fazer parte de nossa herança africana, mesmo
que seu reconhecimento no registro arqueoló gico nã o seja um negó cio simples. E
a linguagem, que se supõ e ter se desenvolvido ao lado do simbolismo? Existem
muitas teorias diferentes sobre a origem da linguagem humana, como discutimos
no capítulo 5, e tem sido uma fonte de grande controvérsia desde a época de
Darwin - de fato, a venerá vel Sociedade Linguística de Paris alterou sua
constituiçã o para proibir qualquer discussã o sobre as origens da linguagem em
1866! Sabemos que os bebês humanos têm uma poderosa capacidade embutida
de adquirir e usar o idioma, e eles aprenderã o prontamente qualquer idioma ou
mesmo idiomas aos quais estejam expostos. Como Darwin reconheceu durante
suas viagens, nã o há relaçã o entre os tipos de sociedades e a complexidade de
sua linguagem. Por exemplo, os linguistas consideram que o inglês é um dos
idiomas mais fá ceis para um nã o-nativo, em comparaçã o com vá rios outros
idiomas, que variam de Hopi, Circassian (norte do Cá ucaso) e Kivunjo (Tanzâ nia)
a á rabe. Darwin favoreceu a origem da linguagem humana através da imitaçã o e
paralelos reconhecidos entre a fala humana e o canto dos pá ssaros. Vá rias
hipó teses foram propostas para os primeiros está gios dessa imitaçã o, seja de
sons de animais, de sons naturais como vento ou trovã o, ou de exclamaçõ es
espontâ neas como dor ou surpresa, que gradualmente adquiriram novos
significados. Um conjunto distinto de hipó teses propõ e que a linguagem surgiu
através de necessidades sociais específicas, seja para evitar perigos, para facilitar
a caça cooperativa, ou, como Leslie Aiello e Robin Dunbar propuseram, para
assumir a funçã o social da aparência, à medida que o tamanho dos grupos
aumentava nos primeiros seres humanos. E vimos que também existem modelos
que postulam uma origem muito mais repentina e acidental de linguagem
complexa por meio de alteraçõ es genéticas que fortuitamente aprimoraram as
vias cerebrais relevantes.
Na minha perspectiva, acho que linguagens simples já devem ter existido nas
espécies humanas primitivas, dada a complexidade do comportamento que é
aparente em locais como Boxgrove e Schö ningen na Europa e Kapthurin no
Quênia, e assim os neandertais teriam herdado e construído sobre a linguagem
ou idiomas adquiridos de seus ancestrais. Mas, na minha opiniã o, foi apenas com
a crescente complexidade das sociedades modernas da Á frica que as línguas
sofisticadas do tipo que falamos hoje teriam se desenvolvido, através da
necessidade de comunicar mensagens cada vez mais complexas e sutis. E usando
a palavra necessidade aqui, nã o estou implicando, é claro, que a necessidade
tenha criado o resultado desejado; o que aconteceu foi que variaçõ es ú teis no
comportamento e na comunicaçã o humana teriam sido aprimoradas através da
seleçã o, e isso poderia incluir a seleçã o cultural ou sexual orientada para o
homem, favorecendo os melhores comunicadores. Nossas linguagens nã o sã o
apenas para o aqui e agora, como provavelmente eram antes, pois através delas
podemos falar sobre o passado e o futuro, sobre conceitos abstratos, sentimentos
e relacionamentos, e sobre os mundos virtuais que podemos criar em nossas
mentes. Nó s, humanos, somos colecionadores e curadores por excelência,
armazenando e empregando um vocabulá rio rico para nomear e descrever os
mundos em que habitamos, tanto físicos quanto virtuais.
Finalmente, nesta discussã o da linguagem, como vimos com o funcionamento
de nossos cérebros, o poder do pensamento em si teria sido aprimorado por uma
riqueza crescente de expressã o. Entã o, se a linguagem complexa se originou na
Á frica, poderia ter uma ú nica origem - uma protolíngua da qual todas as línguas
hoje evoluíram? Essa idéia de monogênese e, com ela, a possibilidade teó rica de
que podemos trabalhar de trá s para frente a partir das linguagens atuais para
reconstruir pelo menos algo do protó tipo, certamente é atraente para
mim. Vá rios lingü istas produziram vocabulá rios de algumas das primeiras
palavras hipotetizadas e até mesmo algo do modo como elas poderiam ter sido
usadas, mas essa é uma á rea altamente controversa e onde os glottogonistas
(a glottogonia vem do grego para "origem da linguagem" ) discordo
totalmente. No momento, essa nã o é uma á rea na qual possamos tirar conclusõ es
firmes, mas o psicó logo Quentin Atkinson analisou o nú mero de fonemas
(componentes sonoros) usados em idiomas ao redor do mundo e concluiu que o
padrã o global reflete de perto o encontrado nos genes . A Á frica tem o maior
nú mero e diversidade de fonemas, e esse nú mero diminui à medida que nos
afastamos da Á frica. Como Atkinson sustenta, isso seria consistente com uma
origem africana para as línguas de hoje também.
Em termos de inovaçã o, vimos no capítulo 1 que o surgimento aparentemente
repentino das sociedades ricas do Paleolítico Superior da Europa seduziu muitos
no século passado a considerar que esse período marcou a chegada real de seres
humanos totalmente modernos, mesmo que á reas como o Oriente Médio ou a
Á frica havia sido um campo de ensaio para a revoluçã o que seria finalmente
expressa nas cavernas da França. Mas, como também vimos, esse ponto de vista
eurocêntrico de que os Cro-Magnons foram o primeiro povo "moderno" foi
largamente abandonado, embora isso nã o seja para negar que algo de especial
aconteceu no Paleolítico Superior da Europa. Se a Á frica estava realmente na
vanguarda das inovaçõ es paleolíticas há mais de 40.000 anos, por que
isso? Como apontou o antropó logo Rob Foley, o tamanho da Á frica (cabia
facilmente a China, a Índia e a Europa em sua á rea de superfície) e sua posiçã o
nos tró picos certamente lhe davam vantagens sobre qualquer outra á rea
habitada por humanos primitivos. A rapidez e a repetiçã o de oscilaçõ es
climá ticas fora da Á frica provavelmente interromperam continuamente as
adaptaçõ es de longo prazo pelas populaçõ es humanas nessas regiõ es.
Assim, os neandertais na Europa e os descendentes do Homo erectus no norte
da China enfrentavam constantemente contraçõ es repentinas e a extinçã o de
grandes partes de suas populaçõ es sempre que as temperaturas afundavam
rapidamente, como costumavam acontecer. E nas regiõ es insulares do sudeste da
Á sia, onde viviam os descendentes de erectus , e o Hobbit, e qualquer populaçã o
relíquia semelhante, as mudanças climá ticas teriam interrompido bastante as
conexõ es entre regiõ es e populaçõ es, à medida que o nível do mar subia e descia
cem metros ou mais. . Os ambientes locais também teriam sido bastante afetados
por mudanças relacionadas nas monçõ es e nas chuvas.
Por comparaçã o, na Á frica, as mudanças de temperatura e nível do mar
provavelmente foram menos prejudiciais para seus habitantes humanos e,
embora certamente houvesse grandes mudanças nas precipitaçõ es e nos
ambientes, como discutiremos em breve, o continente provavelmente sempre
teve mais pessoas sobrevivendo lá do que qualquer outra regiã o nos tempos
antigos. Dadas suas populaçõ es humanas maiores e sua maior continuidade de
ocupaçã o, a Á frica provavelmente sempre teve mais variaçõ es genéticas e
morfoló gicas do que outras partes do mundo habitado, dando maiores
oportunidades para que inovaçõ es bioló gicas e comportamentais se
desenvolvam e sejam conservadas. Nesse sentido, talvez fosse mais uma questã o
de a Á frica ser o lugar onde os humanos primitivos tinham as melhores chances
de sobreviver, em vez de serem especiais em termos de um caminho evolutivo
ú nico. Isso nos dá uma pista importante sobre o que acabou desencadeando
nossa histó ria de sucesso evolucioná rio.
Como vimos no capítulo 5, a Á frica mostra a aparência precoce de recursos
que associamos aos caçadores-coletores nos ú ltimos tempos, como capacidade
de planejamento, comportamento simbó lico, pensamento abstrato, pensamento
abstrato, exploraçã o marinha e inovaçõ es aprimoradas em tecnologia. Mas, como
também vimos, embora essas mudanças apareçam em algumas partes da Á frica
há mais de 75.000 anos atrá s, é como se o brilho da vela da modernidade fosse
intermitente, piscando repetidamente. A maior parte do conjunto de recursos
modernos nã o se enraíza de maneira forte e consistente até muito mais tarde,
perto do momento em que os humanos começaram sua emergência final da
Á frica, cerca de 55.000 anos atrá s. Porque foi isso? É possível, é claro, que as
características modernas estivessem presentes em algumas populaçõ es africanas
e nã o em outras, e à medida que esses grupos se moviam pela paisagem, sua
“modernidade” parece aparecer e desaparecer com sua visibilidade
arqueoló gica. Mas acho que outra explicaçã o é mais prová vel, e isso tem a ver
com a demografia, o estudo do tamanho, estrutura e distribuiçã o das populaçõ es
no tempo e no espaço e os fatores que afetam a populaçã o, como nascimento,
morte e envelhecimento, padrõ es de migraçã o e o meio ambiente. Pistas valiosas
sobre a importâ ncia da demografia podem ser encontradas na histó ria de uma
ilha longe da Á frica: Tasmâ nia.
À medida que o nível do mar aumentou e diminuiu com o declínio ou
crescimento das calotas polares da Terra, a Tasmâ nia se juntou
intermitentemente ao continente da Austrá lia, e esse foi o caso de cerca de
43.000 a 14.000 anos atrá s, permitindo que os primeiros australianos chegassem
lá cerca de 40.000 anos atrá s. Escavaçõ es em vá rias cavernas mostram que os
primeiros tasmanianos se adaptaram bem à s condiçõ es frias e meridionais, com
uma variedade de armas e ferramentas de caça e pesca e perfuradores de ossos
que provavelmente foram usados para fabricar roupas e abrigos de pele que os
ajudaram a sobreviver aos rigores da regiã o. ú ltima Era do Gelo. Mas há cerca de
14.000 anos atrá s, a Tasmâ nia foi lançada à deriva do continente novamente pelo
aumento dos mares e, à medida que a Terra se aquecia no atual interglacial, a
paisagem da ilha encolhida mudou para se tornar mais densamente
florestada. Os colonizadores originais da Austrá lia, incluindo os ú ltimos
ancestrais da Tasmâ nia, certamente devem ter feito barcos para chegar ao
continente do sudeste da Á sia, e esses barcos podem ter sido feitos de
bambu. Mas se pedíssemos a alguns aborígenes que vivem tradicionalmente na
Austrá lia central hoje para nos tornar um barco de navegaçã o (bambu ou outro),
eles provavelmente questionariam nossa sanidade, já que isso nã o faz mais parte
de suas vidas e adaptaçõ es - na ausência de florestas e grandes florestas. corpos
de á gua. Essa situaçã o parece ter se aplicado no sul da Austrá lia e na Tasmâ nia
quando essas regiõ es se separaram no final da ú ltima Era Glacial, o que significa
que suas populaçõ es humanas perderam contato umas com as outras. Enquanto
os grupos do continente ainda tinham grandes á reas de terra com diferentes
ambientes à sua disposiçã o, além de contato entre si, os tasmanianos agora
sofriam com a perda anterior do conhecimento necessá rio para fazer
embarcaçõ es marítimas. Eles estavam isolados em uma ilha em encolhimento,
sem ter para onde ir, e isso parece ter afetado os caminhos que eles seguiram.
Nos 14.000 anos seguintes, a julgar pelo registro arqueoló gico preservado em
locais e pelos relatos dos primeiros europeus a registrar seu contato com grupos
aborígines, os tasmanianos parecem ter levado uma vida cada vez mais
simplificada, abandonando habilidades e tecnologias aparentemente valiosas,
como ferramentas de ossos e hafted, redes e lanças usadas para pescar peixes e
pequenos animais de caça, arremessadores de lança e bumerangues e qualquer
outra coisa, exceto a mais simples das roupas de pele. De fato, houve até relatos
de que alguns grupos haviam perdido a capacidade de disparar à vontade,
embora isso tenha sido fortemente contestado. Pesquisas sugerem que essas
mudanças foram o resultado de um encolhimento populacional e a perda de
territó rios e bases de recursos, bem como a perda de contato com o continente.
Antropó logos como Joe Henrich argumentaram que essas mudanças
interferiam na capacidade das populaçõ es de reter e transmitir conhecimentos
entre si e através das geraçõ es. Por exemplo, em uma populaçã o pequena, uma
decisã o conveniente de curto prazo de, por exemplo, explorar focas em terra por
alguns anos, em vez de ir pescar, pode ter efeitos sérios a longo prazo se o
conhecimento necessá rio para retornar à pesca tiver sido comprometido ou
mesmo perdido nesse meio tempo. A simplificaçã o resultante das adaptaçõ es
pelos tasmanianos foi a estratégia de menor risco para garantir a sobrevivência
em tempos difíceis, mas também foi acompanhada por uma perda de habilidades
complexas que seriam ú teis a longo prazo. Se houvesse um retorno subsequente
à s condiçõ es glaciais e uma reduçã o do nível do mar, condiçõ es semelhantes à s
dos primeiros tasmanianos poderiam ter sido restauradas, mas mesmo assim, a
menos que eles adquirissem habilidades perdidas do contato com os continentes,
eles precisariam desenvolvê-los do zero, um processo que poderia levar vá rias
geraçõ es.
O que aconteceu na Tasmâ nia pode ajudar a explicar os eventos na Á frica
mais de 50.000 anos antes. Como vimos, as evidências da modernidade sã o
muitas vezes díspares e descontínuas, como uma vela tremeluzente. O que
devemos fazer das seqü ências arqueoló gicas em que as típicas assembléias da
Idade da Pedra Média sã o sucedidas por artefatos aparentemente “avançados” de
Howiesons Poort e, depois, em depó sitos posteriores, o material típico da Idade
da Pedra média retorna? Ou o breve florescimento do povo Blombos com seus
simbó licos ocres vermelhos e contas de conchas variadas? Talvez nos enganemos
com a histó ria humana recente, onde o armazenamento de informaçõ es em
forma falada, escrita, visual ou eletrô nica significa que raramente sã o perdidas
inovaçõ es ú teis, e o crescimento do conhecimento “cultural” é incremental ou até
exponencial. No passado, por outro lado, pequenas populaçõ es teriam sido
propensas a colapsos populacionais ou mesmo extinçã o, ou forçadas a
movimentos ou adaptaçõ es relativamente rá pidas para sobreviver, e isso poderia
levar à perda regular de inovaçõ es que poderiam ter sido ú teis em a longo
prazo. Assim, o repetido “engarrafamento” nã o apenas removeu os genes, mas
também erradicou descobertas e invençõ es associadas à s populaçõ es humanas
envolvidas, e as rá pidas mudanças ambientais ou movimentos populacionais
teriam o mesmo efeito. Podemos pensar, talvez, nas pessoas que criaram aquelas
belas lanças de madeira há mais de 300.000 anos atrá s, em Schö ningen, na
Alemanha. Esse conhecimento foi transmitido continuamente até os ú ltimos
neandertais ao longo de centenas de milênios, ou uma sú bita queda de
temperatura no norte da Europa removeu os pinheiros necessá rios para manter
esse conhecimento ou até mesmo acabar com essas populaçõ es e suas
habilidades?
Na natureza, argumenta-se frequentemente, os desafios ambientais forçam a
mudança evolutiva, e temos o ditado "a necessidade é a mã e da invençã o". O
preço de uma falha em inovar e sobreviver é a extinçã o, e a histó ria da vida na
Terra está cheia de extinçõ es - o que pode ser visto como fracassado
experimento evolutivo. No entanto, o outro lado da moeda é que populaçõ es
grandes e está veis podem ter uma capacidade maior de sobreviver e desenvolver
e manter inovaçõ es, e eu acho que essa é realmente a chave para o que deve
estar acontecendo na Á frica, cerca de 60.000 anos atrá s. Pesquisas sugerem que
as condiçõ es ideais para rá pidas mudanças culturais sã o aquelas em que existem
grandes grupos de “aprendizes” sociais em interaçã o e esse é o caso nã o apenas
dos seres humanos, mas também de nossos parentes vivos mais pró ximos, os
grandes símios. Estudos de orangotangos e chimpanzés sugerem que inovaçõ es
na aquisiçã o e processamento de alimentos, incluindo o uso bá sico de
ferramentas, acontecem com maior frequência nã o quando o ambiente é
desafiador ou quando os grupos têm tempo livre em suas mã os, mas quando
grandes grupos sociais estã o pró ximos. , permitindo que as idéias se difundam e
que as ú teis se desenvolvam. A aplicaçã o dessa conclusã o a seres humanos
primitivos, como neandertais e humanos modernos, implicaria que as
populaçõ es que progrediram mais culturalmente nã o eram necessariamente as
mais inteligentes e há beis (embora esses fatores fossem importantes em
primeiro lugar, é claro), mas aquelas que eram capazes criar redes e transmitir a
aprendizagem em grandes grupos e manter esses tamanhos de grupo de maneira
mais consistente no tempo e no espaço. Se os humanos modernos tiveram
vantagem sobre os neandertais e outras espécies contemporâ neas nesses
aspectos, isso pode ajudar bastante a explicar por que nossas espécies iniciaram
sua bem-sucedida expansã o na e além da Á frica, através de nosso progresso
acelerado na evoluçã o cultural e nã o na física.

Nossos parentes vivos mais pró ximos - chimpanzés - se envolvem na fabricaçã o e uso básico de
ferramentas, nesse caso, para quebrar as nozes de ó leo de palma.

Discutimos as evidências para tamanhos maiores de grupos sociais em


humanos modernos nos capítulos 5 e 6, juntamente com a idéia de uma
"libertaçã o da proximidade", a capacidade dos membros de nossa espécie de
interagir uns com os outros, nã o apenas cara a cara. uma vez, como outros
animais - e as espécies humanas anteriores -, mas também à distâ ncia, no tempo
e no espaço, através da comunicaçã o simbó lica indireta. Um ponto de vista é que
essas mudanças foram o que precipitou a “Revoluçã o Humana” na Europa, com
suas extraordiná rias cavernas pintadas e redes sociais em todo o continente,
marcadas pelo movimento de materiais e inovaçõ es. Mas acho que essas
mudanças se originaram na Á frica e, além de nos ajudarem a sobreviver lá , esses
desenvolvimentos foram a chave para nossa capacidade de dispersar e alcançar
todas as partes habitá veis do mundo, e ao fazê-lo para substituir ou substituir as
outras espécies humanas sobreviventes . Com base em algumas das idéias de
Henrich, os geneticistas Adam Powell e Mark Thomas e o arqueó logo Stephen
Shennan fizeram simulaçõ es de computador para grupos humanos em diferentes
densidades populacionais, permitindo que as subpopulaçõ es desenvolvessem e
trocassem idéias entre si ou nã o. O modelo mostrou que as densidades de
subpopulaçã o poderiam atingir um ponto crítico no qual idéias e habilidades se
acumulariam repentinamente. Portanto, a densidade era importante para o
desenvolvimento de novas idéias, mas a migraçã o entre os grupos também era
vital, para garantir que essas idéias tivessem uma chance melhor de persistir e
prosperar, em vez de decair e perecer. Assim, para a sobrevivência e propagaçã o
do conhecimento, nã o é tanto o que você sabe, mas quem você sabe que importa.
Powell e seus colegas também usaram dados genéticos para sugerir que o
tamanho da populaçã o na Á frica poderia ter atingido um limiar crítico cerca de
100.000 anos atrá s, quando a densidade populacional e o contato aprimorado
entre grupos poderiam ter permitido que a taxa de acumulaçã o de inovaçõ es
superasse sua perda, algo provavelmente raro em humanos até aquele
momento. Assim, a mudança cultural na Idade Média da Pedra acelerou bastante,
e o aumento do estoque de aprendizado foi benéfico para a sobrevivência dos
indivíduos e de seus grupos. Por sua vez, isso teria iniciado um mecanismo de
feedback, levando a um aumento adicional na densidade populacional e nos
contatos, e assim por diante. O interessante deste trabalho é que ele sugere que a
continuidade genética, o cérebro grande e a inteligência por si só nã o garantirã o
o sucesso de grupos humanos; a sobrevivência do pró prio conhecimento
também é vital. Isso pode explicar de alguma maneira por que os neandertais,
com seus cérebros grandes e inteligência evidente, nunca poderiam dar o salto
que nossa espécie finalmente conseguiu.
Eles certamente fizeram avanços culturais - enterrando seus mortos,
produzindo ferramentas de lâ mina, hafting armas e usando pigmentos
(predominantemente mais escuros do que os da Á frica). E, como já discutido, um
estudo recente de Joã o Zilhã o e seus colegas de materiais de dois locais no sul da
Espanha, Cueva de los Aviones e Cueva Antó n, mostrou o que eles poderiam
estar fazendo com esses pigmentos: eles aparentemente misturavam cores para
cosméticos. aplicar aos seus corpos ou rostos. Pigmentos amarelos, alaranjados,
vermelhos e mais escuros estavam sendo misturados ou pintados nas conchas
importadas da costa ou em conchas do mar, algumas das quais carregavam
perfuraçõ es (principalmente naturais, mas cuidadosamente selecionadas),
tornando-as adequadas como pingentes. Mas, apesar dessas inovaçõ es
comportamentais, em 20.000 anos ou mais, os neandertais como um povo foram
extintos.
Um diagrama mostrando transmissã o cultural limitada em seres humanos arcaicos, devido à
menor expectativa de vida e redes sociais menores.

Pode ser que, com o constante atrito dos climas glaciais, seguido pela chegada
dos humanos modernos, os neandertais raramente, se alguma vez tenham sido
capazes de manter densidades populacionais suficientes para desenvolver suas
realizaçõ es. E, como vimos, o processo de inovaçã o cumulativa pode reverter,
como parece ter acontecido na Tasmâ nia e na Á frica, mesmo depois que as
características comportamentais dos modernos começaram a aparecer. Há
também outra maneira de analisar a questã o de por que populaçõ es maiores e
mais densas podem incentivar a inovaçã o e a mudança - e isso é
competiçã o. Dentro dos grupos humanos, deve haver um ato de equilíbrio
contínuo entre cooperaçã o e competiçã o por recursos e parceiros. Como explico
mais adiante neste capítulo, o desenvolvimento da religiã o pode ter fornecido
um meio importante de manter esse equilíbrio.
Mas, como sugeriu Darwin, a seleçã o sexual poderia ter sido uma força
poderosa nas sociedades humana e animal, uma ideia fortemente defendida por
cientistas evolucionistas como Helena Cronin e Geoffrey Miller. Eles consideram
que muitas características humanas modernas, como inteligência, criatividade e
um jeito com as palavras, poderiam ter evoluído nã o apenas como ferramentas
de sobrevivência em face de um ambiente hostil, mas como ferramentas de
namoro e, através de geraçõ es de preferências de acasalamento, os genes que
geraram tais comportamentos foram favorecidos. Populaçõ es humanas mais
densas e maiores também teriam gerado maior concorrência potencial por
recursos entre grupos vizinhos. Talvez eles tenham administrado essa
competiçã o por meios pacíficos, como cooperaçã o, no comércio de materiais e
parceiros ou no compartilhamento de crenças religiosas. Mas, caso contrá rio,
conflitos por terras, recursos ou parceiros poderiam levá -los a surtos de
inovaçã o competitiva em comportamento e tecnologia, nã o apenas para reunir
recursos, mas também para armas. Como vimos no capítulo 6, também poderia
ter promovido mudanças culturais e genéticas, favorecendo comportamentos
cooperativos e até sacrificiais nos grupos conflitantes.
Um diagrama que mostra uma transmissã o cultural muito mais ampla nos humanos modernos,
devido à vida ú til prolongada e à s redes sociais muito mais amplas.

Dizer que o aumento da populaçã o foi provavelmente o fator crítico na


conservaçã o e construçã o de novidades comportamentais durante a Idade da
Pedra Média da Á frica ainda levanta a questã o do que levou a maiores
densidades populacionais e contatos mais extensos entre grupos humanos
vizinhos. Existem muitos candidatos ao agente em questã o, um dos quais é o
clima, que, como já vimos, pode afetar drasticamente o nú mero da populaçã o
humana. Discutirei esse tó pico com mais detalhes posteriormente neste
capítulo. Também vimos no capítulo 6 que as populaçõ es modernas alcançaram
melhor sobrevivência infantil e maior longevidade em comparaçã o com as
anteriores, e pode ser que esse processo já estivesse em andamento na Á frica
antes de 60.000 anos atrá s, através de melhores tecnologias, provisionamento e
apoio mú tuo . Mais avó s significariam mais transferência de conhecimento entre
geraçõ es e mais apoio à s mã es com filhos dependentes, contribuindo para sua
sobrevivência. Mais avó s também significariam mais parentes, fornecendo redes
de parentesco mais amplas no tempo e no espaço, valiosas para trocas de
parceiros e bens, alianças e como uma apó lice de seguro contra o tempo em que
seu pedaço de territó rio sofreu fogo, fome ou seca— em outras palavras,
espalhando o risco. E talvez algo como a instituiçã o do casamento e suas
estruturas familiares associadas aparecessem naquele momento, cimentando
laços sociais entre grupos vizinhos e catalisando o crescimento de cerimô nias,
rituais e trocas simbó licas.
Do mesmo modo, a religiã o poderia ter causado um enorme impacto
social. Certamente estava lá , no Paleolítico Superior Europeu, com suas
representaçõ es do que parecem ser xamã s e teriantró picos esculpidos, mas acho
que surgirã o evidências de que ele também estava presente na Idade Média da
Pedra, na Á frica. De fato, alguns pesquisadores sugerem que a riqueza da
Caverna de Blombos pode indicar que este era um local sagrado, enquanto
reivindicaçõ es foram feitas pela existência de um culto à cobra em uma caverna
dentro das Colinas Tsodilo do Botswana, com base em uma enorme forma de
píton. rock neste site da Idade da Pedra Média.
Algo tã o importante quanto a origem e o crescimento da crença religiosa
certamente merece mais discussã o. Essa é uma á rea ainda mais controversa do
que as origens da linguagem, com a maioria dos cientistas aceitando que a
religiã o atende à s necessidades sociais e está profundamente enraizada nos
seres humanos - talvez até com uma tendência herdada, como a capacidade de
aprender a língua. Mas uma minoria, ecoando as palavras de Karl Marx de que “é
o ó pio do povo”, vê a religiã o como uma patologia - uma muleta para a qual as
pessoas recorrem quando estã o sob estresse extremo. Como vimos, uma vez que
o cérebro humano tinha o potencial de altos níveis de leitura da mente e de
memó ria episó dica, estava pronto para ser cooptado para fins religiosos (e, de
fato, as varreduras do cérebro sugerem que caminhos cerebrais semelhantes sã o
usados para fins religiosos). pensamento). Como sugeri na discussã o da memó ria
episó dica, a religiã o primeiro forneceu um mecanismo para dissipar possíveis
neurose sobre o futuro e a morte, uma vez que tivemos o poder de imaginá -
las? Ou, como Darwin acreditava, era uma conseqü ência natural da compreensã o
humana de causa e efeito - se houvesse um terremoto, um relâ mpago, ou o sol
fosse eclipsado, ou alguém morresse sem uma causa aparente, a idéia de
sobrenatural nã o seria? agentes como espíritos e deuses seguiram
automaticamente?
A religiã o certamente pode unir indivíduos díspares e até geograficamente
dispersos para reforçar certos comportamentos e dar-lhes um propó sito comum,
mas a provisã o de compromisso emocional ou de aplicaçã o espiritual é sua
funçã o original e benefício social? Dada a possibilidade de populaçõ es crescentes
e mais contato com outros grupos durante a Idade Média da Pedra, acho que o
efeito unificador de crenças compartilhadas em meio à crescente complexidade
social teria sido inestimá vel, fornecendo a cola que unia as pessoas, incentivando
o autocontrole e colocando as necessidades do grupo à frente das suas. Pode-se
imaginar uma religiã o “bem-sucedida” e os grupos que a seguiram proliferando
à s custas de outras menos bem-sucedidas ou incrédulas - e esse processo
competitivo continua até hoje. De fato, como vimos no capítulo 6, simulaçõ es em
computador mostraram que, em muitas situaçõ es de conflito entre grupos de
caçadores-coletores, crenças que incentivam o auto-sacrifício, à s vezes incluindo
a morte em nome do grupo, podem realmente florescer cultural e geneticamente.
Há outro benefício potencial da crença religiosa: as estruturas mnemô nicas
(do grego para "memó ria") que os mitos religiosos podem fornecer, estruturas
que facilitam o armazenamento e a transmissã o de informaçõ es importantes
sobre o grupo, sua histó ria e seu ambiente. . Isso é demonstrado de maneira mais
poderosa nos mitos da criaçã o do Sonho compartilhados por muitos australianos
nativos. O Sonho fala das jornadas de seres ancestrais, animais ou humanos, que
moldaram a paisagem e suas características individuais. Esses seres criadores
também transmitiram regras e rituais sociais para a manutençã o da terra e da
vida que ela sustenta, e suas jornadas sã o marcadas por redes de trilhas do
Dreamtime, juntando-se a locais sagrados associados a esses ancestrais. Um mito
particularmente difundido é o da serpente arco-íris, uma enorme cobra que vive
nos poços mais profundos e nasceu de uma cobra ainda maior marcada pela Via
Lá ctea. Pode se manifestar como um arco-íris ou pode se mover através dos rios,
moldando as paisagens e cantando sobre os lugares que fez. Pode comer, afogar
ou infectar aqueles que a desagradam, enquanto os justos podem ser abençoados
com poderes para curar ou fazer chover.
Na paisagem muitas vezes hostil da Austrá lia, a transmissã o dos mitos do
Dreamtime através das geraçõ es deve ter salvado muitas vidas, pois as histó rias
fornecem o equivalente a uma navegaçã o por satélite, levando as pessoas a poços
de á gua, comida, abrigo e recursos naturais, como pedra e pigmentos. Sistemas
jurídicos, de parentesco e territoriais intrincados também sã o incorporados à s
variantes locais do Dreamtime, de modo que os aborígines carregam um guia
virtual da vida em suas cabeças, com segmentos das histó rias gravadas em
pinturas ou esculturas e cantados ou representados em cerimô nias que marcam
o local. está gios importantes da vida e da morte.
O tempo dos sonhos é um mito da criaçã o particularmente abrangente, e
provavelmente levou muitos milênios para atingir seus atuais níveis de
sofisticaçã o, mas versõ es menos elaboradas de tais histó rias e sistemas
mnemô nicos provavelmente existiam no Paleolítico Superior da
Europa. Entalhes intrincados em presas gigantescas de alguns dos locais
gravetos danubianos discutidos nos capítulos 5 e 6 podem muito bem ser mapas
de rios e das terras vizinhas, enquanto um bloco gravado de 14.000 anos da
Caverna Abauntz na Espanha foi interpretado como mostrando montanhas, rios
e lagos, com manadas de íbex. Se isso é verdade ou nã o, parece prová vel que
símbolos, cerimô nias e rituais tenham agido como as histó rias do Dreamtime ao
transmitir a histó ria oral das sociedades paleolíticas e ao reforçar suas regras de
vida e seu relacionamento com a paisagem, mesmo no meio. Idade da Pedra da
Á frica. É triste, por muitas razõ es, que os povos Khoisan (Bushman)
sobreviventes agora ocupem apenas uma fraçã o do alcance e dos ambientes que
seus ancestrais fizeram, a julgar pelas evidências de DNA, arqueologia, arte de
cavernas e linguística. Como vimos nas liçõ es da Tasmâ nia, seu declínio em
territó rios e nú meros deve ter afetado sua diversidade cultural e, portanto,
perdemos os ricos contextos cosmoló gicos que devem estar por trá s de suas
tradiçõ es da arte das cavernas, que se estendiam até a Pedra mais tarde Era. Da
mesma forma, os significados das enigmá ticas pinturas de Bradshaw na regiã o
de Kimberley, no noroeste da Austrá lia, sã o perdidos para nó s, pois representam
uma tradiçã o artística agora desaparecida naquele continente.
Voltando à Idade da Pedra Média, quero examinar o registro climá tico desse
período, para ver se ele tem pistas sobre o crescimento das populaçõ es humanas
modernas e seus comportamentos inovadores. Quando eu era estudante, a visã o
geral era que, quando as Eras do Gelo atingiram a Europa, a Á frica teve
um período pluvial ú mido , caracterizado por aumentos nos níveis dos lagos. Da
mesma forma, quando a Europa desfrutou de um clima interglacial quente, a
Á frica sofreu um está gio interpluvial seco, com a expansã o dos desertos. Quando
co - autor do êxodo africano, trinta anos depois, nos anos 90, propus que um
colapso da populaçã o no severo frio global que durou entre 130.000 a 200.000
anos atrá s poderia ter sido o catalisador que impulsionou a evoluçã o do Homo
sapiens na Á frica. No entanto, sabemos agora que os climas globais nã o sã o lidos
com tanta simplicidade, e as mudanças climá ticas na Á frica dançam com um
ritmo diferente daquele das principais Eras do Gelo marcadas na expansã o das
calotas polares e na queda do nível do mar.
De fato, diferentes partes da Á frica sã o afetadas por diferentes
fatores. Estudos de sistemas de rios e lagos e de poeira e pó len do deserto em
nú cleos de sedimentos offshore mostram que condiçõ es variadas no Atlâ ntico
Norte (por exemplo, os efeitos de refrigeraçã o dos eventos de Heinrich)
influenciaram claramente o norte e o oeste da Á frica. No entanto, o Oriente foi
afetado pelas mudanças nos padrõ es das monçõ es no Oceano Índico, enquanto a
Á frica do Sul foi influenciada pelas condiçõ es no Oceano Antá rtico, ao lado da
Antá rtica. À s vezes havia janelas de oportunidade para os seres humanos, com
condiçõ es de á gua em partes da Etió pia há 195.000 e 160.000 anos atrá s, em
Omo Kibish e Herto, respectivamente, mas o ú ltimo período foi provavelmente
muito mais severo no sul, com locais como Pinnacle Point fornecendo refú gio
perto da relativa estabilidade dos recursos costeiros. Como vimos, durante o
calor interglacial há cerca de 120.000 anos, o Saara estava “esverdeado”, com
lagos e sistemas fluviais, e a expansã o de galerias e pastagens, favorecendo a
disseminaçã o de caçadores-coletores Aterianos, com seus distintos pontos de
lança tangidos , contas de concha e ocre vermelho. Mas os dados climá ticos mais
ao sul sugerem que a Á frica central e meridional era geralmente mais á rida do
que na época, com muitos rios e lagos sofrendo níveis flutuantes ou até secando
completamente. Mas, apó s 75.000 anos atrá s, a situaçã o reverteu, com o Saara
voltando ao deserto a maior parte do tempo, enquanto mais ao sul, grande parte
da Á frica entrou em uma fase mais fria, porém mais ú mida, com aumentos
substanciais em muitos de seus lagos e sistemas fluviais.
O tamanho da populaçã o humana teria, portanto, diminuído e fluído na Á frica,
à s vezes extensivo pelos padrõ es antigos (mas nã o modernos), e potencialmente
em contato mesmo em toda a extensã o do que é hoje o Saara, outras vezes preso
em refú gios isolados como Herto e Pinnacle Point. Os climas complexos da Á frica
também podem explicar por que parece nã o haver um ú nico centro de origem
para os primeiros sinais da modernidade comportamental. Talvez o norte da
Á frica (e o Oriente Médio?) Tenha liderado o caminho 120.000 anos atrá s, mas, à
medida que as condiçõ es se deterioravam, as populaçõ es diminuíam ou até se
extinguiram, à medida que os ambientes favorecidos desapareciam
rapidamente. Talvez a tocha da modernidade tenha sido mantida viva mais ao sul
em locais como Blombos e Boca do Rio Klasies, já que as condiçõ es favoreceram a
regiã o por um tempo (mais ou menos a interrupçã o de eventos como a erupçã o
de Toba). Ondas de expansã o e contraçã o populacional poderiam explicar a
breve mas extensa florescência da cultura Still Bay com seu rico simbolismo e a
subida e queda subsequente do Howiesons Poort com suas inovadoras lâ minas
de cabo e cascas de ovos de avestruz gravadas (recentemente descritas no abrigo
de rochas Diepkloof ) mais de 5.000 anos depois. E é meu palpite (embora nã o
tenhamos muitos dados para apoiá -lo) que a Á frica Oriental se tornou um dos
pró ximos centros de evoluçã o comportamental, cerca de 60.000 anos atrá s, pois
foi a partir daí que os humanos modernos (e seu conjunto de comportamentos
modernos em desenvolvimento) saíram da Á frica. Meu trabalho com três
geneticistas sobre a recalibraçã o da evoluçã o do mtDNA, discutido no capítulo
anterior, sugeriu que esse também era o tempo de origem e a primeira expansã o
do haplogrupo L3, o que deu origem à s famílias de haplogrupos M e N que
caracterizam toda a humanidade fora da Á frica.
Entã o, o que podemos dizer sobre os fatores que levaram ao principal êxodo
humano moderno da Á frica cerca de 55.000 anos atrá s (supondo que a
propagaçã o anterior a regiõ es como Israel fosse apenas uma extensã o
temporá ria da faixa da Á frica)? Ao considerar os movimentos dos seres humanos
nos tempos antigos, geralmente levamos em conta dois fatores - simplesmente
expressos como empurrar e puxar. O primeiro é causado por fatores negativos,
forçando os grupos a se moverem como resultado da falta de recursos, seca ou
superpopulaçã o. Este ú ltimo é causado por fatores positivos, como a expansã o de
um ambiente favorecido ou a promessa de recursos ricos, induzindo
movimento. E algumas dispersõ es antigas foram sem dú vida inteiramente
acidentais e sem motivos, por exemplo, onde um grupo por acaso rastreava o
jogo em uma regiã o totalmente nova, ou onde um barco com pessoas a bordo era
transportado para um destino nã o intencional por marés ou ventos
desfavorá veis.
Dados genéticos e proximidade física sugerem que o nordeste da Á frica
forneceu a á rea de origem imediata para a dispersã o da Á frica. Há evidências do
Lago Naivasha, no Quênia, de que a Á frica Oriental estava relativamente bem
regada há cerca de 60.000 anos atrá s, e dados dos nú cleos da Antá rtica e do
Oceano Índico sugerem que o clima estava relativamente quente naquela época,
talvez fornecendo o ambiente certo para o crescimento da populaçã o e outro
aceleraçã o na inovaçã o. Existem muitos locais da Idade da Pedra na Etió pia,
Quênia e Tanzâ nia que demonstram ocupaçã o humana nessa época, mas seus
estudos e encontros ainda estã o em andamento e, portanto, é difícil relacioná -los
precisamente ao tempo da dispersã o humana moderna da Á frica. Um exemplo é
o rico local de abrigo de rochas Magubike na Tanzâ nia, sendo escavado por
Pamela Willoughby e seus colegas, onde estou envolvido no estudo de dentes
humanos fó sseis. Mas existem descobertas publicadas em um site importante:
um abrigo de pedras perto do Lago Naivasha, Enkapune ya Muto (Caverna do
Crepú sculo). Isso fica pró ximo a fontes de obsidiana (um vidro vulcâ nico
altamente valorizado por fazer ferramentas de pedra) a uma altitude de 2.400
metros, com um rico registro da Idade da Pedra Média e da ocupaçã o posterior
da Idade da Pedra. Os primeiros níveis dessa indú stria mostram muitos recursos
inovadores, como ferramentas especializadas, uso de ocre vermelho e contas de
casca de ovo de avestruz, com mais de 46.000 anos de idade.
No capítulo 4, discuti rotas para fora da Á frica e possíveis conexõ es entre o
norte da Á frica, o Oriente Médio e a Europa entre 40.000 e 50.000 anos atrá s. O
caminho mais ó bvio para sair da Á frica seria o vale do Nilo, através do Sinai e daí
para o Levante (a regiã o adjacente à costa oriental do Mediterrâ neo). Sugestõ es
de que outra rota poderia ter existido no outro extremo do Mediterrâ neo - de
barco através do Estreito de Gibraltar - sã o atraentes quando se considera que o
Estreito era mais estreito durante a ú ltima glacial, e pode até haver ilhas
intervenientes à s vezes. Mas as boas evidências humanas arqueoló gicas ou
fó sseis de uma conexã o antiga ainda sã o ilusó rias, sem sinal de verdadeiros
neandertais no norte da Á frica, nem de modernos desde cedo no sul da Península
Ibérica. Pelo contrá rio, a regiã o parece ter sido um dos ú ltimos postos avançados
dos neandertais. É possível que as populaçõ es se cruzassem de tempos em
tempos, mas nã o conseguissem se estabelecer, mas o fato de ilhas do
Mediterrâ neo como Malta, Baleares, Sardenha e Chipre nã o parecerem ter sido
afetadas pelos seres humanos até que muito mais tarde também fale contra tais
mobilidade dos primeiros modernistas e neandertais (embora existam alegaçõ es
recentes de que foram descobertos os handaxes de aparência africana em Creta).
Mas e os caminhos mais ao leste? Vimos que há evidências do uso de recursos
costeiros na Á frica do Sul durante a Idade da Pedra Média entre 60.000 e
160.000 anos atrá s, em locais como Pinnacle Point, Blombos e Klasies River
Mouth Caves, e o padrã o é correspondido em locais espalhados as costas norte e
leste da Á frica, com um exemplo particularmente interessante em Abdur, no Mar
Vermelho da Eritreia, datada do alto nível do mar do ú ltimo interglacial, cerca de
125.000 anos atrá s. Na década de 1960, o geó grafo americano Carl Sauer propô s
que “a dispersã o do homem primitivo ocorria com maior facilidade seguindo-se
o litoral. As costas à frente apresentavam alimentos e habitats familiares ...
Litoralmente, dificilmente havia uma barreira à propagaçã o ... através de
latitudes tropicais e subtropicais ... O Oceano Índico, o mais prová vel mar de
ocupaçã o humana primitiva, exibe em grande parte ... uma articulaçã o
convidativa da costa, da Á frica para as Ilhas Sunda [do sudeste da Á sia]. ”
Cerca de trinta anos depois, o zoó logo Jonathan Kingdon sugeriu que as
pessoas da Idade da Pedra deixaram a Á frica através do Oriente Médio e
chegaram ao sudeste da Á sia há 90.000 anos, onde se adaptaram à vida costeira,
incluindo o desenvolvimento de uma capacidade de construçã o de barcos ou
jangadas. Isso permitiu que ambos retornassem para o oeste, para a Á frica, e se
mudassem para o sul, para a Australá sia. As antropó logas Marta Lahr e Robert
Foley propuseram em seu modelo de Dispersõ es Mú ltiplas que uma rota mais
direta da Á frica para a Ará bia e mais a leste poderia ter sido tomada antes de
50.000 anos atrá s, talvez usando as costas e saindo de barco através de Bab-el-
Mandeb estreito no extremo sul do Mar Vermelho. Geneticistas como Spencer
Wells e Stephen Oppenheimer também favoreceram esse caminho,
argumentando que apenas algumas centenas de pessoas podem ter feito a
fatídica travessia para a Ará bia para fundar as populaçõ es do resto do mundo.
Pessoalmente, nunca vi a necessidade de invocar essa complicaçã o em nosso
êxodo africano, pois, se as pessoas estivessem na costa oeste do Mar Vermelho,
elas apenas precisariam viajar para o norte, ao redor do Sinai, e depois para o sul
novamente pela costa leste do Mar Vermelho. Continuando ao longo da estreita
faixa litorâ nea, à qual eles já estavam adaptados, eles poderiam ter progredido
em alguns milênios até a Indonésia em momentos de baixo nível do mar e
poderiam ter sido poupados do nível de perturbaçã o de habitat enfrentado pelas
populaçõ es do interior durante a as rá pidas flutuaçõ es climá ticas do final do
Pleistoceno. O aumento populacional ou o esgotamento de recursos teria
impulsionado a dispersã o, e o desenvolvimento de embarcaçõ es poderia ter
decorrido da necessidade de atravessar barreiras naturais, como densas
florestas de mangue ou estuá rios de rios, ou ampliar as oportunidades de
forragem costeira. Essas populaçõ es costeiras poderiam ter penetrado os vales
dos rios no interior e, no final de sua jornada pelo sudeste da Á sia, estariam
prontas para os (provavelmente fortuitos) primeiros passos em direçã o à Nova
Guiné e à Austrá lia (depois se uniram como um continente ampliado) )
A regiã o da Ará bia provavelmente formou uma importante rota de trâ nsito
para os pioneiros fora da Á frica, mas até recentemente era amplamente incó gnita
em termos de dados concretos, levando a muitas teorizaçõ es. Recentemente, no
entanto, vá rias equipes internacionais tentaram preencher esse vazio através de
trabalhos de campo na á rea. Arqueó logos como Jeffrey Rose e Michael Petraglia
argumentaram que nã o era apenas um lugar pelo qual as pessoas passavam, mas
um local importante para os primeiros seres humanos. Quando os ambientes
eram hiperá ridos no oeste da Á sia, ele proporcionava refú gio com seus rios e
lagos efêmeros e suas margens costeiras, pois eram expostos por quedas no nível
do mar. Apesar da desconcertante falta de evidências fó sseis de diagnó sticos, as
pesquisas de Simon Armitage e seus colegas de Jebel Faya (Emirados Á rabes
Unidos) forneceram pistas importantes de que os primeiros seres humanos
modernos podem até ter se dispersado da Á frica, na Ará bia até o Estreito de
Ormuz, em 120.000 anos atrá s. Esta pesquisa aumenta a controversa idéia de
que populaçõ es modernas poderiam ter migrado ainda mais para o sul da Á sia,
apesar dos dados genéticos conflitantes de que os movimentos só ocorreram
apó s 60.000 anos. No entanto, o fato de os artefatos de Jebel Faya parecerem
"africanos" e nã o se parecerem com os associados aos contemporâ neos skhul e
qafzeh no Levante sinaliza ainda mais complexidade no êxodo dos humanos
modernos da Á frica. Poderia ter havido dispersõ es iniciais separadas, uma da
Á frica Oriental para a Ará bia e outra da Á frica do Norte para o Levante? E qual
foi o destino dessas diferentes populaçõ es 100.000 anos atrá s? Eles morreram,
sobreviveram em pequenos bolsos, talvez cruzaram com povos arcaicos vizinhos,
ou poderiam de fato se espalhar para o leste?
Depois de sofrer condiçõ es mais frias e secas, o clima no sul da Á sia melhorou
com o retorno temporá rio de uma forte monçã o de verã o há cerca de 57.000
anos, e isso pode ter ajudado a sobrevivência e a migraçã o de seres humanos
modernos pela Índia em direçã o ao sudeste da Á sia e Australá sia neste
momento. No entanto, sinais de traços "modernos", como simbolismo e
tecnologia complexa, nã o sã o aparentes até 45.000 anos atrá s - um assunto que
discutiremos mais adiante neste capítulo em conexã o com a Austrá lia. E o
subcontinente indiano nã o possui um ú nico fó ssil humano para registrar quem
estava fazendo suas ferramentas do Paleolítico Médio; nã o há nada entre a base
arcaica de aparência dos cascalhos do rio Narmada, que provavelmente tem mais
de 300.000 anos, e espécimes modernos fragmentá rios de locais no Sri Lanka
que datam de menos de 40.000 anos atrá s.
O trabalho liderado pelo arqueó logo Michael Petraglia demonstrou que
existem ferramentas do Paleolítico Médio em locais indianos imediatamente
antes e algum tempo apó s a deposiçã o generalizada da cinza de Toba, cerca de
73.000 anos atrá s, sugerindo que quem quer que fossem essas pessoas, elas
poderiam se recuperar e repovoar apó s a aparente destruiçã o causada por
Toba. Petraglia acredita que eles provavelmente eram humanos modernos,
talvez descendentes de grupos como os conhecidos de Skhul e Qafzeh, mais a
oeste, mas, nesse caso, o mtDNA e o DNA do cromossomo Y nã o sobreviveram
hoje. Isso ocorre porque os haplogrupos M e N mtDNA que existem em toda a
regiã o sã o provavelmente menores que 60.000 anos, enquanto todo o DNA Y
asiá tico é ainda mais jovem que isso. Portanto, se esses primeiros índios eram
humanos modernos (o que ainda nã o é demonstrá vel), eles se extinguiram ou
foram amplamente substituídos por ondas posteriores de dispersã o humana
moderna.
Aná lises recentes de DNA mostraram quã o notá vel foi essa disseminaçã o da
humanidade moderna no sul da Á sia. O estudo de cerca de 55.000 polimorfismos
de nucleotídeo único ( SNPs - “erros ortográ ficos” individuais no có digo genético)
em cerca de 2.000 pessoas representando mais de setenta populaçõ es de toda a
Á sia demonstrou que, apesar das claras diferenças físicas na aparência, cor da
pele e estatura, o habitantes do leste e sudeste da Á sia, incluindo os chamados
povos Negrito nas Filipinas e na Malá sia, sã o essencialmente uma família da
humanidade (mais ou menos um pouco de DNA denisovano!) e derivam de uma
ú nica migraçã o do sul para a regiã o. A variaçã o genética nas populaçõ es locais
diminui do sul para o norte no leste da Á sia, de modo que os subgrupos se
mudaram para o norte para fundar as populaçõ es menos diversas do norte da
China, Coréia e Japã o. No entanto, a distinçã o dos asiá ticos centrais sugere que
eles derivaram de uma populaçã o separada daquela regiã o através das estepes
da Eurá sia. Mas grupos como os habitantes aborígines da ilha Hokkaido no Japã o
- os Ainu - aparentemente nã o foram incluídos nas aná lises, portanto suas
origens em uma dispersã o ainda mais moderna dos modernos e um
relacionamento com os primeiros americanos continuam sendo uma
possibilidade.

Mapa mostrando sites humanos posteriores.


Mapa mostrando sites humanos posteriores na Europa.

Um estudo intrigante e separado investigou outra variante do SNP em povos


asiá ticos chamada EDAR T1540C e mostra como as aná lises de DNA estã o
revolucionando nossa compreensã o da variaçã o humana e quã o peculiares
algumas de nossas características "raciais" podem se revelar. Muitos asiá ticos
sã o caracterizados por uma cavidade nas superfícies posteriores dos dentes do
incisivo superior, denominada pá , uma vez que a superfície interna se assemelha
a uma pequena pá - e uma forma semelhante também é encontrada no Homo
erectus e Neanderthals. Os asiá ticos do leste também sã o geralmente
caracterizados por ter cabelos pretos lisos e grossos. O gene EDAR codifica
proteínas envolvidas no desenvolvimento de cabelos, dentes e outros derivados
de nossa pele e mutaçõ es prejudiciais causam uma condiçã o chamada displasia
ectodérmica, na qual os indivíduos podem nã o ter cabelos, unhas, glâ ndulas
sudoríparas e dentes normais completamente. A variante T1540C parece estar
relacionada à produçã o de incisivos em forma de pá e cabelos pretos grossos, e é
muito comum nos asiá ticos orientais, enquanto está praticamente ausente nos
europeus e africanos. Ainda nã o se sabe o que produziu a alta frequência desse
gene nos asiá ticos orientais. Foi uma chance ou foi uma seleçã o para um aspecto
- talvez resistência a uma doença de pele, um tipo específico de força dentá ria ou
cabelos mais grossos para proteger contra o frio, incentivar as atençõ es do sexo
oposto ou desencorajar as atençõ es dos piolhos? Seja qual for o motivo, mostra
como as características que foram consideradas muito importantes em estudos
“raciais” e até evolutivos podem derivar de fatores bastante inesperados - ou
nenhum fator - a nã o ser como subproduto de algo completamente diferente!
Um nú cleo marítimo do sul do Mar da China Meridional registra condiçõ es
quentes e aumentou as monçõ es de verã o entre 50.000 e 40.000 anos atrá s,
entã o os modernos que chegaram à regiã o naquela época puderam se dispersar
para o norte em condiçõ es amenas e nã o glaciais - e isso provavelmente era a
origem do indivíduo humano moderno isolado de Tianyuan discutido nos
capítulos 3 e 4. Esses pioneiros do Leste Asiá tico também foram capazes de se
mover para o sul e chegaram a Niah Cave na província malaia de Sarawak, na ilha
de Bornéu, há pelo menos 45.000 anos. Essa enorme caverna, famosa por seus
ninhos de pá ssaros que sã o usados para a sopa oriental, foi parcialmente
escavada por Tom e Barbara Harrison há mais de cinquenta anos e produziu uma
riqueza de material arqueoló gico de diferentes idades, mas a descoberta mais
famosa foi a " crâ nio profundo ”de um ser humano moderno. Isso foi controverso
quanto ao radiocarbono, datado de cerca de 40.000 anos atrá s, a partir do carvã o
associado, mas muitos cientistas se recusaram a aceitar a validade da
determinaçã o, e até agora foram necessá rias novas escavaçõ es para mostrar que
os Harrisons essencialmente acertaram. Além disso, o novo trabalho, liderado
pelo arqueó logo Graeme Barker, mostrou que esses primeiros habitantes
modernos de Niah haviam se adaptado rapidamente à s considerá veis demandas
de sobrevivência nas florestas tropicais, pois estavam caçando muitas espécies
arbó reas e processando plantas locais para seus carboidratos e outros para
corantes e pigmentos. No entanto, sua tecnologia de pedra (e aparentemente o
uso de outras matérias-primas locais) era relativamente simples - mas
claramente fazia o trabalho muito bem. Isso nos lembra do fato importante de
que ser um ser humano moderno tem tanto a ver com conveniência e
pragmatismo quanto com arpõ es, pingentes e arte em cavernas.
Esse é um ponto crucial a ter em mente ao traçarmos a diá spora humana
moderna em direçã o à Austrá lia, porque lá procuraremos em grande parte em
vã o, nos primeiros registros arqueoló gicos, os marcadores da modernidade
comportamental que discutimos até agora neste livro. Geralmente, nã o existem
evidências de tecnologia complexa de pedra ou osso, locais estruturados e
comportamento simbó lico, embora, para ser justo com os primeiros australianos,
já observamos que os dois fó sseis de Mungo de 42.000 anos de idade possam
representar o mais antigo enterro e cremaçã o em ocre vermelho até agora
descoberto. Para chegar lá , esses primeiros australianos haviam pulado de ilha
rapidamente em barcos ou jangadas em muitos trechos de mar aberto - os
primeiros marítimos de longa distâ ncia que conhecemos - assumindo, isto é, que
os ancestrais dos Hobbits de Flores havia chegado à quela ilha isolada por rafting
acidental, em vez de navegaçã o proposital.

O mais antigo enterro de ocre vermelho conhecido: Mungo 3 da Austrá lia.

No entanto, o registro arqueoló gico sugere que os primeiros australianos


viviam em bandas pequenas e altamente mó veis e exploravam uma gama
bastante restrita de recursos vegetais e animais, os quais podiam ser obtidos
com tecnologias simples. As ferramentas de pedra eram muito mais parecidas
com as do Paleolítico Médio do que aquelas que conhecemos da Idade da Pedra
Mais Recente da Á frica ou do Paleolítico Superior da Eurá sia ocidental, e isso
levou à sugestã o anterior de que a Austrá lia foi colonizada pela primeira vez há
mais de 60.000 anos, antes do desenvolvimento. do conjunto completo de
comportamentos "modernos". No entanto, a partir das ú ltimas aná lises de
namoro e estudos genéticos, parece difícil encontrar evidências de colonizaçã o
muito além dos 45.000 anos. Embora lembremos da aparente simplificaçã o da
vida na Tasmâ nia que seguiu o isolamento e o declínio nos nú meros, podemos
ver como o mesmo efeito poderia ter operado bastante severamente há 50.000
anos atrá s, já que um pequeno nú mero de pioneiros sobreviveu aos riscos do
transporte marítimo para chegar à Nova Guiné e à Austrá lia. pela primeira vez, e
se espalhou em baixa densidade ao redor de um continente vasto e
desafiador. No entanto, depois de 12.000 anos atrá s, quando os tasmanianos
nativos aparentemente estavam sofrendo um declínio nos nú meros à medida que
a Terra esquentava, seus companheiros australianos do continente estavam
aumentando a densidade populacional em muitas regiõ es.
Como os arqueó logos James O'Connell e Jim Allen apontaram, durante a
primeira parte do presente período interglacial, os aborígines do continente
sofreram sua pró pria “Revoluçã o Humana”, desenvolvendo novas maneiras de
gerenciar habitats, aumentar a complexidade tecnoló gica e se envolver em arte e
ornamentaçã o elaboradas. , inclusive de seus corpos. Ao mesmo tempo, há
evidências de um tremendo aumento no nú mero de sítios arqueoló gicos em
regiõ es como o rio Murray, de modo que isso nos leva de volta à questã o crítica
da densidade populacional: o benefício de aumentar os nú meros foi o mesmo
que postulamos para o mais tarde, na Idade Média da Pedra da Á frica, com
contatos, trocas e sinalizaçõ es simbó licas muito maiores entre os grupos? E foi a
aparente falta dos sinais da modernidade na Austrá lia antes de 12.000 anos
atrá s, um paralelo com a situaçã o na Tasmâ nia depois daquele tempo, quando
grupos cada vez mais isolados e cada vez mais isolados da Tasmâ nia eliminaram
tudo, exceto o essencial de que precisavam para sobreviver, embora
indiscutivelmente ainda representassem " humanos modernos?
Isso nos leva de volta à importâ ncia do clima, pois, como O'Connell e Allen
apontam, a produtividade da Austrá lia provavelmente foi muito reduzida nas
fases mais frias e mais á ridas dos ú ltimos 50.000 anos, enquanto o pico de calor
no início do nosso interglacial atual, mais sua relativa estabilidade, permitiram
que as populaçõ es do continente prosperassem. E ainda é possível que as
densidades populacionais (e, portanto, o potencial de expressar e acumular
sinais de "modernidade") tenham flutuado na Austrá lia entre 12.000 e 45.000
anos atrá s. Talvez os bem abastecidos lagos Willandra de 40.000 anos atrá s
tenham permitido um crescimento temporá rio em nú meros que catalisaram
lampejos das expressõ es de “modernidade” lá - como a exploraçã o de recursos
aquá ticos, o uso de ocres vermelhos e a complexidade na eliminaçã o dos mortos.
Isso nos dá um interessante experimento mental para concluir, usando essa
maravilhosa memó ria episó dica nossa, antes de passarmos a considerar o
passado e o futuro de nossa espécie no capítulo final. Julgamos o que é ser
humano pelos padrõ es de nossa espécie, pois somos o ú nico exemplo
sobrevivente disponível para estudar em detalhes. Somos de cérebro grande,
totalmente bípedes, dentes pequenos e bons com tecnologia (incapacidade de
operar adequadamente controles remotos ou telefones celulares), e esses sã o
recursos que compartilhamos em maior ou menor grau com nossos parentes
extintos em o gênero Homo , como Homo erectus e Homo heidelbergensis . Mas
como pessoas como os neandertais nã o chegaram aos dias de hoje, somos o
ú nico exemplo sobrevivente de um ser humano "moderno", entã o olhamos para
a nossa evoluçã o e avaliamos a "modernidade" em termos do desenvolvimento
de "nossos" recursos : um crâ nio alto e arredondado com uma pequena crista na
testa, grandes lobos parietais no cérebro, quadris estreitos e um pouco de
obsessã o por religiã o, sexo e moda (embora nã o seja o meu caso, é claro).
No entanto, como discuti no capítulo anterior, algumas de nossas
“características especiais” e nossas diferenças em relaçã o aos neandertais podem
estar lá puramente por acaso, através do processo de deriva. E se o clima da
Terra tivesse sido sutilmente diferente nos ú ltimos 200.000 anos, ou se um
vulcã o do tamanho de Toba tivesse desaparecido na Á frica em vez de Sumatra? E
se esses primeiros humanos modernos tivessem morrido na Á frica, e os
neandertais tivessem conseguido prosperar em alguma parte do sul da Eurá sia,
construindo suas densidades populacionais até que eles completassem sua
pró pria "Revoluçã o Humana", em vez de parcialmente? Teriam finalmente
olhado para o seu sucesso, para os benefícios do ambiente da Eurá sia e para os
problemas de sobrevivência na Á frica de seus parentes fracassados, aqueles com
testa estranha? E eles teriam creditado seus cérebros grandes e ló bulos
occipitais, projetando narizes, quadris largos, cabelos ruivos (à s vezes) e o uso
antigo de pigmentos pretos por seu sucesso evolutivo, e os usaram para definir
uma versã o neandertal da "modernidade"? Ainda mais extraordinariamente, e se
criaturas humanas tivessem desaparecido completamente em qualquer lugar
que nã o Flores e o futuro da "humanidade" estivesse com o minú sculo
Hobbit? Poderia ter sobrevivido e eventualmente se espalhado a partir daí para
continuar sua pró pria histó ria evolutiva, e seus descendentes acabariam
ponderando sobre um modelo "Fora de Flores"?
Nó s viajamos muito neste livro, por milhõ es de anos e milhõ es de quilô metros
quadrados da superfície da Terra. Agora é hora de dar uma olhada dura e crítica
no que discutimos, na evoluçã o passada e futura de nossa espécie. Escrever este
livro foi um prazer e um desafio para mim, pois tive que revisitar tantas idéias
minhas e de colegas. Ao longo do caminho, espero ter mudado algumas de suas
percepçõ es sobre o que é ser humano, assim como mudei a minha.

9
A evolução passada e futura de nossas espécies

Como o estudo das origens humanas modernas floresceu nos ú ltimos quarenta
anos, tive o privilégio de participar de vá rias linhas de evidências acumuladas -
fó sseis, cronoló gica, arqueoló gica e genética - de que nossa espécie tinha uma
origem africana recente. E, no entanto, como se tornou ó bvio, há muitas pontas
soltas a serem amarradas em nossa histó ria inicial e, mais do que isso, ainda
existem muitas questõ es fundamentais que permanecem sem resposta. Temos
respostas parciais para o "quando" e "onde" de nossas origens, mas ainda pouco
sobre os "porquês". A remodelaçã o bá sica da forma do crâ nio para o padrã o
“moderno” ocorreu na Á frica há 150.000 anos atrá s, mas os fatores subjacentes
permanecem amplamente desconhecidos. Alguns podem muito bem estar
relacionados a mudanças na forma cerebral subjacente e outros a fatores
funcionais bastante diferentes, conectados à s mandíbulas, dentes, equilíbrio da
cabeça ou vias respirató rias ou vocais. No entanto, há uma explicaçã o alternativa
e mais mundana para muitas de nossas características cranianas “especiais”, o
que sugere que elas nã o eram realmente especiais - elas foram causadas por
deriva genética, essencialmente por acaso.
Eu colaborei na pesquisa com dois antropó logos da evoluçã o, Tim Weaver e
Charles Roseman, e nã o posso fazer melhor do que adaptar um resumo do nosso
artigo.

Utilizamos diversos testes estatísticos da teoria quantitativa e genética populacional para mostrar
que a deriva genética pode explicar as diferenças cranianas entre os neandertais e os humanos
modernos. Os testes foram baseados em trinta e sete mediçõ es cranianas padrã o de cerca de 2.500
humanos modernos de trinta populaçõ es e vinte fó sseis neandertais. Como um teste adicional,
comparamos nossos resultados com os de um conjunto de dados genéticos composto por 377
microssatélites digitados em 1.056 seres humanos modernos de 52 populaçõ es. Concluímos que, em
vez de exigir relatos adaptativos especiais, o Neanderthal e a crania humana moderna podem
simplesmente representar dois resultados de um vasto espaço de possibilidades evolutivas
aleató rias.

De fato, as diferenças entre a crania humana moderna sã o bastante


acentuadas, apesar de nossa estreita relaçã o genética, razã o pela qual os testes
forenses da regionalidade funcionam tã o bem e, como vimos, muito disso
poderia ser o resultado de um acú mulo de diferenças por deriva, como os
humanos modernos se espalham em pequenos nú meros. As variaçõ es que todos
mostramos quando comparadas aos neandertais sã o ainda mais acentuadas e,
como apontou Erik Trinkaus, divergimos ainda mais de um ancestral em
potencial como a heidelbergensis do que os neandertais. No entanto, muitos dos
contrastes podem ser o resultado de um mesmo processo, as consequências de
uma separaçã o geográ fica de nossos primos neandertais cerca de 400.000 anos
atrá s, apó s os quais nos distanciamos - e nã o fomos desmembrados -. E é
possível, como Weaver sugeriu, que primatas e humanos anteriores fossem
muito mais limitados pela seleçã o natural a manter uma determinada forma de
crâ nio, enquanto nó s (e talvez, até certo ponto, os neandertais) fomos capazes de
escapar dessas restriçõ es através de nossa cultura. adaptaçõ es, permitindo que
nossas formas cranianas se desviem mais aleatoriamente.
Parece haver algo diferente nas "culturas" humanas modernas quando
comparadas com as que vieram antes. Os nossos parecem variar muito mais e em
períodos muito mais curtos do que os do Paleolítico Médio, e mais ainda quando
comparados à variedade limitada do Paleolítico Inferior, que foi comparado a 2
milhõ es de anos de tédio. Provavelmente existem muitas razõ es diferentes por
trá s da nossa diversidade cultural; uma é a completa extensã o geográ fica dos
seres humanos modernos e a variedade de ambientes em que vivemos e aos
quais nossos modos de vida sã o adaptados. E, no entanto, o povo do Paleolítico
Superior da Europa que viveu em uma regiã o durante uma, embora flutuante,
fase fria também mostrou grandes variedades e mudanças de uma “cultura” para
outra a cada poucos milênios. Os antropó logos Robert Boyd e Peter Richerson
argumentam que uma característica essencial do Homo sapiens é a nossa
capacidade de imitar e aprender uns com os outros - uma característica que
existe no caçula de nossos filhos. E as sociedades humanas nos dã o a arena para
ensaiar, testar e modificar o que aprendemos através do diá logo com nossos
colegas; como vimos, quanto mais densas as redes de conectividade e quanto
maior o alcance dessas redes, melhor. Boyd e Richerson também argumentam
que, com as rá pidas mudanças de ambiente sofridas pelos seres humanos no
passado por meio das mudanças climá ticas (ou igualmente, eu acrescentaria, a
rá pida dispersã o de um pequeno nú mero de humanos modernos em paisagens
novas e desconhecidas), nã o havia benefício em indivíduos separadamente
tentando inovar seu caminho para a sobrevivência, e certamente nã o adianta
esperar por adaptaçõ es evolutivas - simplesmente nã o haveria tempo.
Surpreendentemente, a melhor estratégia para a pessoa média em um
ambiente variá vel pode ser olhar em volta e confiar na imitaçã o, em vez de na
aprendizagem individual. Algumas pessoas podem descobrir maneiras de lidar
com as mudanças e, por imitaçã o, isso forneceria um atalho para o sucesso de
muitos. Além disso, quanto mais copiadoras houver, maior a chance de uma delas
nã o copiar com precisã o e, por acaso, produzir uma melhoria acidental no
original. Se a inovaçã o individual fosse rara, o progresso seria lento - portanto,
talvez, os 2 milhõ es de anos de tédio do Paleolítico Inferior. Mas se houvesse
mais inovadores, o processo poderia produzir adaptaçõ es culturais rá pidas
muito rapidamente em comparaçã o com indivíduos inovando isoladamente ou
com a evoluçã o bioló gica. Assim, através da imitaçã o e do feedback de grupos de
pares, as populaçõ es podem se adaptar muito além das habilidades de um gênio
isolado, cujas idéias podem nunca ir além de sua caverna ou se perderem com
uma morte sú bita. Boyd e Richerson sustentam que a evoluçã o acompanhou
essas tendências em desenvolvimento para o aprendizado social. Assim, a
seleçã o teria favorecido mentes que, em vez de sempre tentarem inventar algo
novo (uma estratégia arriscada e esbanjadora em geral), tenderiam a se
conformar ao comportamento majoritá rio.
A evoluçã o teria favorecido particularmente a tendência de imitar indivíduos
de alto status no grupo, ou pares bem-sucedidos, e podemos ver como isso
poderia levar à identificaçã o simbó lica de grupos e ao crescimento de modismos
e modismos, ú teis ou nã o. O estilo é usado pelos arqueó logos para rotular
artefatos de culturas passadas e por pessoas da indú stria da moda hoje em dia, e
pode muito bem explicar muitas das intrigantes variaçõ es que rapidamente vêm
e vã o no registro do Paleolítico Superior. Boyd e Richerson também analisaram
os recentes grupos de caçadores-coletores e como eles conseguiram ocupar uma
variedade tã o surpreendente de habitats. Quando olhamos para esses grupos,
digamos, nas florestas tropicais do Brasil ou da Nova Guiné, o que é
surpreendente também é sua diversidade, e a maneira como eles sã o
frequentemente divididos em grupos com idiomas mutuamente ininteligíveis,
tradiçõ es distintas e identidades simbolicamente diferenciadas. As culturas
baseadas na imitaçã o dã o a esses grupos a capacidade de se comportarem de
maneira um pouco diferente uma da outra e, portanto, o potencial de rastrear e
explorar partes separadas de seu habitat - em certo sentido, de se comportarem
como espécies diferentes na maneira em que dividem seu uso do meio Ambiente.
Portanto, este é o outro lado da evoluçã o cultural, e sempre deve ter havido
uma tensã o nos humanos modernos entre a necessidade de manter e
desenvolver inovaçõ es que, como vimos, exigem altas densidades e conexõ es
entre as pessoas (fusã o) e as tendência das populaçõ es seguirem seu pró prio
caminho e se tornarem cada vez mais subdivididas culturalmente (fissã o). Essas
trajetó rias alternativas também teriam consequências genéticas diferentes, dada
a necessidade de manter um pool genético saudá vel por meio de trocas de
parceiros com os vizinhos (a menos que isso fosse alcançado através de ataques
e seqü estros, que parecem surpreendentemente comuns, considerando a
imagem "pacífica" que pode ter para caçadores-coletores).
Meu colega pesquisador do Neanderthal, Jean-Jacques Hublin, trabalhou com
o antropó logo evolucionista Luke Premo para modelar o efeito da cultura no
direcionamento do fluxo gênico em humanos - modernos, certamente, mas talvez
também os neandertais. Como vimos no capítulo 7, uma das coisas mais
impressionantes sobre os neandertais e o Homo sapiens é sua baixa diversidade
genética em comparaçã o com nossos parentes de primatas, e a implicaçã o de que
isso deve derivar de baixos nú meros populacionais (gargalos) em nossos
passados evolutivos. Mas a modelagem de Hublin e Premo sugeriu que a
migraçã o culturalmente canalizada a longo prazo - isto é, entre subdivisõ es
populacionais que compartilham valores culturais - teria atuado para suprimir o
tamanho efetivo da populaçã o de humanos do Pleistoceno, assim como os
gargalos. Já vimos que algumas populaçõ es humanas modernas na Á frica, como o
bosquímano e os "pigmeus" da Á frica central, têm raízes profundas e
aparentemente separadas no tempo da Idade da Pedra Média para alguns
marcadores genéticos, e isso sugere que há 100.000 anos a Á frica pode ter
compreendia uma coleçã o de subgrupos separados que predominantemente
trocavam genes internamente, em vez de em uma ú nica populaçã o contínua -
talvez por causa do isolamento geográ fico, mas talvez também porque eles foram
subdivididos por distinçõ es culturais e, portanto, geneticamente relativamente
"consanguíneos". Isso é algo a que voltarei mais adiante neste capítulo, apó s uma
aná lise mais aprofundada da hibridaçã o entre o Homo sapiens e outras espécies
humanas, como os Neandertais e o Homo erectus .
Como discutido no capítulo 1, minha visã o do Homo sapiens e dos neandertais
como representando espécies distintas nunca me levou a dizer que a inter-
reproduçã o entre eles era impossível. Meu velho amigo Erik Trinkaus está
convencido de que essa seria realmente a norma, e nã o a exceçã o, à medida que
os humanos modernos se espalhavam da Á frica; como ele descreve
sucintamente, "o sexo acontece". Ele vê evidências difundidas disso a partir de
características anatô micas peculiares nos primeiros fó sseis modernos, variando
de Portugal à China, que, segundo ele, provavelmente derivam dessa
mistura. Embora certamente nã o descarte isso em todos os lugares, vejo as
evidências de maneira diferente e considero que muitas dessas características
provavelmente foram parte da variaçã o normal do Homo sapiens primitivo , em
vez de necessariamente emanar do cruzamento com nossos parentes arcaicos.
A hibridaçã o também é conhecida como reticulação - o padrã o de rede
produzido pelo fluxo de genes entre linhagens evolutivamente separadas - e em
mamíferos é aparente em vá rios níveis da hierarquia taxonô mica. Na maioria das
vezes, ocorre entre espécies intimamente relacionadas (por exemplo, macacos
do gênero Cercopithecus ), mas à s vezes pode ocorrer entre gêneros diferentes
(como elefantes africanos e indianos) e, ocasionalmente, entre formas muito
mais distantes (por exemplo, através de inseminaçã o artificial, entre o camelo
asiá tico e o guanaco sul-americano). À s vezes, a hibridaçã o só foi detectada
através de estudos genéticos de espécies aparentemente "puras", revelando que
eles haviam trocado genes em algum momento de seu passado evolutivo, e seu
impacto nas populaçõ es envolvidas pode variar de prejudicial (por exemplo,
onde os híbridos sã o deformados ou infértil) até vantajoso (por exemplo, o
resultado mais raro de "vigor híbrido" ou heterose). Como esses exemplos
mostram, eles minam, ou pelo menos modificam, o conceito de uma espécie
bioló gica como geneticamente autossuficiente e estanque ao fluxo de genes
estranhos, e enfatizam a fluidez dos conceitos de espécies, que sã o, afinal,
aproximaçõ es criadas humanamente de realidade no mundo natural.
Muitos estudos examinaram o genoma humano em busca de sinais de
cruzamento com nossos parentes arcaicos e, como vimos no capítulo 7, isso foi
investigado através do DNA de nossos piolhos. Até agora, o cená rio geral, do
nosso DNA autossô mico, mitocondrial e do cromossomo Y, geralmente carecia de
sinais de introgressã o de outras espécies humanas, embora cientistas como John
Relethford, Vinayak Eswaran, Henry Harpending e Alan Templeton tenham
argumentado que indicaçõ es estavam de fato lá . Ramos curtos em nossas á rvores
gênicas, particularmente no DNA Y e no mtDNA, apontaram para uma origem
africana simples e recente, e simulaçõ es de dados de mtDNA do nível de possível
mistura de Neanderthal e Cro-Magnon sugeriram que era zero ou muito pró ximo
de zero. No entanto, apesar do mtDNA e do Y-DNA fornecerem sinais
genealó gicos tã o claros, eles constituem apenas cerca de 1% do nosso DNA total,
e os sinais de hibridaçã o estavam claramente ocultos no restante de nosso
genoma. Inconsistências e exceçõ es aos padrõ es simples mostrados no Y-DNA e
mtDNA agora sugerem uma histó ria evolutiva mais complexa para nossa
espécie. Essa é uma á rea de empolgantes pesquisas atuais, principalmente com a
chegada dos genomas neandertal e denisovano para comparaçã o com o
crescente nú mero de modernos de todo o mundo.
Um exemplo recente desse trabalho é o estudo de Michael Hammer e seus
colegas. Eles usaram sequências de DNA de sessenta e uma regiõ es nã o
codificantes no genoma autossô mico de três populaçõ es subsaarianas (o
Mandenka da Á frica Ocidental, os pigmeus Biaka da Á frica central e San Bushman
da Á frica Austral) para testar sinais de mistura arcaica na pró pria Á frica. . Eles
concluíram que as populaçõ es africanas também contêm cerca de 2% do
material genético antigo, e isso foi introduzido há cerca de 35.000 anos, nã o de
neandertais ou denisovanos, mas de uma populaçã o arcaica desconhecida na
pró pria Á frica, que poderia ter sido separada da linhagem humana moderna para
cerca de 700.000 anos. Três regiõ es separadas do DNA mostraram divergências
profundas e uma parecia ter introgressado de uma populaçã o antiga e agora
extinta na Á frica central. Uma escala de tempo tã o profunda poderia sugerir que
os primeiros grupos de heidelbergensis sobreviveram na Á frica, juntamente com
a linhagem em evoluçã o dos humanos modernos.
Entã o, vamos rever brevemente o que sabemos dos fó sseis sobre espécies
humanas cerca de 200.000 anos atrá s. Na Á frica Oriental, vemos os primeiros
sinais conhecidos do padrã o humano moderno de um crâ nio alto e arredondado,
enquanto na Europa a evoluçã o neandertal estava bem encaminhada. Nã o temos
praticamente dados sobre quem morava no oeste da Á sia naquela época,
enquanto o crâ nio mais antigo de Narmada da Índia sugere que um descendente
do Homo erectus ou heidelbergensis poderia estar morando lá . A China parece ter
sido ocupada por descendentes do Homo erectus ou heidelbergensis também,
mas por causa de dataçã o incerta, nã o podemos ter certeza se os fó sseis de
Ngandong indicam que o erectus ainda estava sobrevivendo em Java. Mas
o Homo floresiensis estava presumivelmente bem estabelecido em sua longa e
solitá ria residência de Flores. Isso parece representar uma imagem
relativamente clara na Á frica e na Europa, se imperfeita em outros lugares. Mas
vamos nos aprofundar no registro africano com um pouco mais de detalhes e
com um olhar mais crítico do que empreguei até agora.
Como vimos, o Omo 1 em cerca de 195.000 anos e a Herto crania em cerca de
160.000 anos parecem estabelecer uma presença moderna na Etió pia, e os
fó sseis de Guomde no Quênia podem até levar essa presença para 250.000 anos
atrá s. O crâ nio Florisbad fragmentá rio, mas de aparência mais primitiva da Á frica
do Sul, tem aproximadamente essa idade, mas existem outros fó sseis da Á frica
Oriental que nã o se encaixam tã o bem nesse padrã o. Isso inclui o Omo 2, com sua
forma de braincase mais primitiva e as costas anguladas, e um crâ nio arcaico
ainda sem data de Eliye Springs, no Quênia. Na minha opiniã o, o crâ nio de Laetoli
H.18 (Ngaloba) da Tanzâ nia, que se pensa ter apenas 140.000 anos de idade, nã o
é um ser humano moderno, e duvido que o crâ nio de Singa, no Sudã o, datado da
mesma forma, mas patologicamente deformado, seja totalmente moderno
também. Quando atravessamos o Saara para Jebel Irhoud, duvido da
modernidade dos fó sseis de lá também, mesmo que o síncrotron tenha mostrado
que a mandíbula da criança exibe um padrã o de crescimento lento e moderno em
seus dentes em desenvolvimento. Atualmente, esses fó sseis datam de cerca de
160.000 anos, embora haja indícios de que possam ser ainda mais antigos que
isso.
Nas minhas primeiras aná lises da forma craniana desses fó sseis africanos, eu
os considerei separadamente, que plantou as sementes de uma visã o de que
espécimes como Omo 1 e Jebel Irhoud (se for suficientemente antigo) podem
fazer parte de nossa ancestralidade. No entanto, à medida que me tornei mais
confiante sobre a natureza da amostra africana e seu namoro, comecei a agrupar
todas as amostras arcaicas tardias em minhas comparaçõ es com amostras de
outros lugares, como Skhul e Qafzeh, os Cro-Magnons e os Neandertais. . Cheguei
cada vez mais à conclusã o de que isso era um erro, porque obscurecia a
considerá vel variaçã o interna nessa amostra africana.

Variaçã o africana há 195.000 anos: Omo Kibish 2 ( esquerda ) e 1.

Agora, uma conclusã o semelhante sobre sua variabilidade foi alcançada pelo
antropó logo Philipp Gunz e seus colegas, usando morfometria geométrica. Eles
mediram a forma da parte superior do crâ nio em uma amostra de fó sseis que
variaram do ereto aos Cro-Magnons e em uma coleçã o global de seres humanos
modernos. Eles descobriram, como eu, que espécimes africanos como Irhoud,
Omo 2 e Ngaloba ocupavam o meio termo entre arcaicos como neandertais
e heidelbergensis e os modernos, incluindo Cro-Magnons e Qafzeh. Mas os fó sseis
africanos mostraram mais variaçõ es de forma entre si do que qualquer grupo
equivalente de fó sseis em toda a amostra, sejam modernos,
neandertais, heidelbergensis ou erectus . Isso pode estar nos dizendo algo
importante sobre as origens humanas modernas na Á frica? Argumentei que
a heidelbergensis na Á frica, representada por fó sseis como Bodo (Etió pia),
Elandsfontein (Á frica do Sul) e Broken Hill (Zâ mbia), provavelmente evoluiu
para humanos modernos em alguma parte do continente, e eu hesitei em saber
se essa transiçã o foi um evento gradual ou rá pido. O consenso geral foi de que a
transiçã o foi gradual e que datam fó sseis como Broken Hill há cerca de 500.000
anos atrá s, permitiram tempo de sobra para as principais mudanças evolutivas
necessá rias na forma do crâ nio (e provavelmente na forma do corpo, cérebro e
comportamento).
Mas mesmo o registro fó ssil existente ainda pode nos surpreender. Cinqü enta
anos depois que Darwin publicou sua previsã o cautelosa de que a Á frica se
tornaria o continente de nossa origem, o crâ nio de Broken Hill foi descoberto por
acaso, e assim começou o processo de provar que ele estava certo. Mas o crâ nio
nã o foi imediatamente reconhecido pelo que era e poderia facilmente ter sido
perdido para a ciência. Em 17 de junho de 1921, os mineiros extraíram uma
pequena colina cheia de minério de metal perto da cidade de Broken Hill (agora
Kabwe), na entã o Rodésia do Norte (hoje Zâ mbia), descobriram um crâ nio
revestido de sedimentos marrons. Suas enormes ó rbitas oculares aparentemente
os assustaram tanto que todos fugiram. O supervisor deles, um mineiro suíço
chamado Tom Zwigelaar, foi um pouco mais corajoso e conseguiu que alguém o
fotografasse no local da descoberta segurando a relíquia.
O crâ nio de Broken Hill ("Homem Rodesiano") foi o primeiro fó ssil humano
importante já encontrado na Á frica, e mesmo agora é um dos mais
impressionantes. Ele reside em um cofre de metal do lado de fora do meu quarto
no Museu de Histó ria Natural de Londres e é um dos tesouros do Departamento
de Paleontologia - marrom brilhante e maravilhosamente preservado, com
sulcos enormes nas sobrancelhas brilhando sobre as ó rbitas vazias dos olhos. Foi
introduzido pela primeira vez em sua pró pria espécie - Homo rhodesiensis - por
Arthur Smith Woodward do museu em 1921 e é nomeado e renomeado desde
entã o. Em 1930, foi descrito pelo antropó logo tcheco-americano Aleš Hrdli č ka
como "um cometa da pré-histó ria do homem" devido à dificuldade de decifrar
sua idade e afinidades. Apesar de sua completude e aparente primitividade, seu
lugar exato na evoluçã o humana ainda permanece incerto, porque nunca foi
datado adequadamente. W uando eu era estudante, ele ainda estava sendo usado
como prova de que a Á frica era um remanso na evoluçã o humana, porque um
espécime tã o primitivas estava vivendo há apenas 50.000 anos atrá s, quando os
seres humanos muito mais avançados tinham evoluído na Europa e na
Á sia. Agora, como eu disse, geralmente é colocado com fó sseis como Bodo e
Elandsfontein como representando o componente africano de nossa espécie
ancestral Homo heidelbergensis de cerca de meio milhã o de anos atrá s.
Quando menino, visitando meus pais, lembro-me vividamente de ver o crâ nio
de Broken Hill (ou melhor, um molde de gesso) em exibiçã o no Museu de
Histó ria Natural e ficar intrigado com sua primitividade e mistério. Desde entã o,
tenho alimentado a esperança de poder ajudar a colocá -lo definitivamente na
histó ria da histó ria humana, seja como um ancestral ou como uma espécie
distinta que desapareceu sem contribuir para a nossa evoluçã o. Estudei-o para o
meu doutorado. em 1971, e o incluí regularmente em minhas aná lises de fó sseis,
tornando-o uma parte central do meu conceito de Homo heidelbergensis como
uma espécie que representava o ú ltimo ancestral comum dos humanos
modernos e dos neandertais. Mas, sem saber quantos anos ela tinha, seu lugar
preciso na evoluçã o humana permaneceu indescritível e aparentemente fora de
alcance, dada a completa destruiçã o do local de onde veio. Mas, finalmente, isso
está se mostrando possível - e os resultados estã o me surpreendendo tanto
quanto qualquer outra pessoa. Por pelo menos catorze anos antes da descoberta
do crâ nio, os mineiros estavam escavando uma coluna de ossos fossilizados de
quinze metros de altura e, por estarem fortemente impregnados de minérios,
estavam jogando tudo na fundiçã o - eu ' prefiro nã o pensar no que poderia ter
sido perdido!
Apó s sua descoberta, outros restos fó sseis de seres humanos e animais e
artefatos foram recuperados no local e em torno da localidade por pessoas como
Aleš Hrdli č ka e Louis Leakey, inclusive dos lixõ es da mineraçã o e das cabanas
dos mineiros, mas apenas dois ossos humanos foram encontrados perto do
crâ nio e ao mesmo tempo. Estes eram um tíbia longo e reto (tíbia) e a parte do
meio de um osso da coxa. Os ú ltimos consideram uma histó ria particularmente
interessante. Foi encontrado por uma sra. Whittington, que estava visitando sua
irmã , cujo marido trabalhava na mina. Ela era obviamente uma mulher
aventureira e foi abaixada por uma corda para colecioná -la, mas foi praticamente
esquecida até Desmond Clark negociar sua transferência de um museu da
Rodésia para Londres em 1963. Dois outros achados nã o-humanos intrigantes
também se mostraram importantes para desvendar a histó ria perdida do crâ nio
de Broken Hill. Um deles era um depó sito sedoso fino e mineralizado, marrom
amarelado, que os mineiros coletaram porque pensavam erroneamente que era a
pele mumificada do homem rodesiano. O outro era uma massa de pequenos
ossos encontrados ao redor do crâ nio e cimentados dentro dele. Originalmente
pensados como os dos morcegos, eles representam os ossos, mandíbulas e
dentes de vá rios pequenos mamíferos, e fornecem informaçõ es importantes
sobre a idade do crâ nio e onde ele estava originalmente na caverna.
O pró prio crâ nio mostra uma estranha combinaçã o de características. Por um
lado , o tamanho do cérebro é apenas um pouco abaixo da média moderna, mas,
por outro, o rosto é grande e o formato do cérebro decididamente primitivo -
longo e baixo com sobrancelhas enormes ( monstruosa era a palavra que
Hrdli č ka usava) , com as costas anguladas para o crâ nio e na crista ó ssea
transversal, reminiscente do Homo erectus . As maçã s do rosto nã o sã o escavadas
como nos humanos modernos (embora um segundo fragmento da mandíbula
superior encontrado em outro local do local mostre esse recurso), e os dentes
estã o repletos de doenças em uma extensã o incomum para um ser humano
primitivo: muitos estã o deteriorados e alguns suas raízes sã o abscessas.
Existem vá rias outras características curiosas, incluindo um pequeno orifício
quase circular no lado esquerdo da caixa. Ao longo dos anos, isso foi sugerido
como um ponto de lança, um canino de leã o ou mesmo uma cirurgia
primitiva. Mas pouco tempo depois de ingressar no Museu de Histó ria Natural,
aprendi de uma idéia totalmente nova. Um jornal britâ nico estava serializando
um livro chamado Secrets of the Lost Races e solicitou permissã o para imprimir
uma imagem do crâ nio de Broken Hill. Quando perguntei qual legenda
acompanharia a ilustraçã o, disseram-me que diria que esse era o crâ nio de um
neandertal atingido pela bala de um alienígena 100.000 anos atrá s! Eu indiquei
que o fó ssil nã o era realmente o de um neandertal, que provavelmente tinha
muito mais de 100.000 anos e que um buraco de bala provavelmente teria sido
acompanhado por rachaduras radiantes; Também perguntei: que alienígena que
se preze usaria algo tã o primitivo quanto balas? Nã o obstante, concordou-se que
o jornal poderia ter sua foto se incluísse a afirmaçã o de que pesquisas recentes
sugeriam que o buraco apresentava sinais de cicatrizaçã o e provavelmente foi
causado por uma doença que emana do cérebro. É claro que esses dados
científicos nã o se enquadravam na agenda do jornal, e incluíam um desenho do
crâ nio, levando-me a sofrer vá rias semanas frustrantes quando membros do
pú blico telefonaram, escreveram ou apareceram sem aviso prévio no museu
pedindo para ver “O neandertal baleado pelo astronauta”!
A tíbia encontrada com o crâ nio representa um indivíduo alto de cerca de 180
centímetros, mas para uma suposta heidelbergense masculina , ele
provavelmente nã o era tã o pesado em cerca de setenta e cinco quilos, em
comparaçã o com as estimativas para os fó sseis de Boxgrove (tíbia) e Bodo
(crâ nio). ) de mais de noventa quilogramas. Portanto, o homem rodesiano
provavelmente possuía a estrutura alta e relativamente esbelta que poderíamos
esperar de um habitante dos tró picos mais secos hoje, embora mais robusto e
musculoso. As ferramentas do local sã o variadas e nenhuma delas pode estar
intimamente associada ao crâ nio, exceto por uma pedra redonda encontrada
com o fragmento do fêmur e que, juntamente com outras pessoas do local, foi
interpretada como um projétil, uma pedra que bate, ou até uma bola (uma arma
de caça ou pastoreio usada anteriormente na América do Sul, que consiste em
bolas conectadas por barbante ou corda e que sã o lançadas para prender as
pernas do animal alvo). Outros artefatos incluem flocos, raspadores e até mesmo
algumas ferramentas ó sseas possíveis, mas nenhuma delas parece muito antiga,
sugerindo uma idade má xima de talvez 300.000 anos. Embora alguns ossos de
animais encontrados ao redor do local possam ter sido de presas, até agora
nenhum estudo encontrou evidências convincentes de açougue e, dada a
destruiçã o completa do local, é impossível dizer se os ossos e as ferramentas de
pedra sã o provenientes de presas. habitantes da (s) caverna (s) na colina minada
ou entraram por outros meios.
Eu tenho trabalhado na tentativa de datar o crâ nio de Broken Hill mais
precisamente por cerca de quinze anos, com vá rios cientistas colaboradores e até
colegas mineralogistas no Museu de Histó ria Natural. Os principais métodos que
usamos (consulte o capítulo 2) sã o a ESR (ressonâ ncia de rotaçã o eletrô nica) em
um fragmento de dente da série crâ nio e urâ nio, datado de vá rios ossos e
sedimentos do local. Normalmente, seria preciso muito cuidado e coragem para
remover um fragmento de esmalte de um dos preciosos dentes do crâ nio de
Broken Hill, mas um acidente anterior funcionou a nosso favor nesse caso. Algum
membro desconhecido da equipe ou um visitante bateu acidentalmente a
esquina de um dos molares e, em vez de denunciá -lo, simplesmente colou a peça
de volta! Quando uma das minhas colegas de olhos de á guia, Lorraine Cornish,
viu isso, ela dissolveu a cola e tínhamos o fragmento perfeito de esmalte até
hoje. Mas uma das incó gnitas na dataçã o de ESR é o grau de radiaçã o recebida
pelo fragmento de esmalte desde que foi enterrado, e isso deve ser reconstruído
a partir dos dados do local, que no caso de Broken Hill estava em falta, com a
destruiçã o completa do fragmento. localizaçã o original por mineraçã o. No
entanto, pedaços de sedimentos e brechas ó sseas foram salvos da mina, em
alguns casos porque também continham minerais interessantes e outros foram
coletados apó s a descoberta do crâ nio, para que pudessem ser medidos para
ajudar a reconstruir o ambiente do enterro.
Um dos piores cená rios na dataçã o por ESR é o enterro subaquá tico, pois a
á gua interfere no acú mulo do sinal de ESR. Havia muita evidência nos registros
da mina de que o nível em que o crâ nio foi encontrado tinha que ter á gua
regularmente bombeada, pois na verdade estava abaixo do lençol freá tico
existente. No entanto, duas outras pistas que eu já mencionei se tornaram
críticas aqui. Primeiro, a “pele” que os mineiros pensavam ter encontrado era na
verdade sedimentos em camadas impregnados de minerais, que deveriam ter
sido depositados relativamente horizontalmente e nã o poderiam ter se formado
sob a á gua. Registros feitos no momento da descoberta afirmavam que ela ficava
perto do crâ nio e da tíbia, em um â ngulo acentuado, sugerindo que havia caído
de cima. Segundo, sabemos que o crâ nio estava coberto e até continha muitos
ossos de pequenos animais, como musaranhos, e os registros da mina
documentam claramente camadas de pequenos ossos de mamíferos em um nível
muito mais alto, muito acima do local onde o crâ nio estava realmente
encontrado. Portanto, parece prová vel que a extraçã o na base dos sedimentos os
levasse a desmoronar constantemente, e o crâ nio quase certamente derivava dos
níveis mais altos do local, acima do nível da á gua.
Agora, quando fatoramos tudo juntos, o sinal de ESR em seu esmalte dentá rio
sugere que o crâ nio tem realmente entre 200.000 e 300.000 anos de idade. E
duas outras estimativas de idade do fragmento do fêmur e da chamada pele
sugerem que a idade real pode estar mais pró xima de 200.000 do que 300.000
anos. É possível que a pele se acumulou acima do nível do crâ nio e do fêmur
antes de todos desmoronarem, para que pudesse ser um pouco mais jovem que
eles, mas certamente nã o há nada aqui para indicar que essa assembléia tenha
cerca de 500.000 anos. Uma idade tã o surpreendentemente jovem nã o é
contradita pelos artefatos conhecidos no local, que têm afinidades iniciais da
Idade da Pedra Média, nem por estudos das paleontologistas Margaret Avery e
Christiane Denys das pequenas acumulaçõ es de mamíferos intimamente
associadas ao crâ nio, que em espécies representavam correspondem à queles
conhecidos em sites africanos como Twin Rivers, datados na faixa de 200.000 a
300.000 anos. Se o crâ nio de Broken Hill, uma das relíquias mais bem
preservadas do Homo heidelbergensis , tem na verdade menos de 300.000 anos, o
que isso significa para nossos modelos de evoluçã o humana e para a origem de
nossa espécie?
O resultado tem implicaçõ es importantes para nossas reconstruçõ es da
evoluçã o humana recente, porque, como expliquei, o fó ssil de Broken Hill tem
sido uma pedra angular da sequência evolutiva gradual assumida, dos seres
humanos arcaicos aos modernos da Á frica. O namoro de Broken Hill por cerca de
500.000 anos a colocou cerca de 300.000 anos mais antiga que os primeiros
humanos modernos conhecidos, permitindo tempo de sobra para as mudanças
necessá rias. Mas o novo namoro torna Broken Hill apenas um pouco mais velho
que Omo 1 em cerca de 195.000 anos, e talvez quase na idade dos fó sseis mais
modernos de Florisbad e Guomde. Isso implicaria que houve uma transiçã o
evolutiva muito rá pida para os primeiros seres humanos modernos, cerca de
250.000 anos atrá s, ou que a Á frica continha uma grande variaçã o em suas
populaçõ es humanas na época. Essa variaçã o poderia se estender até a
coexistência de diferentes espécies humanas? Já discutimos a variaçã o intrigante
entre os dois fó sseis aparentemente contemporâ neos de Omo Kibish 1 e 2, com o
crâ nio 1 parecendo decididamente moderno e o crâ nio 2 tendo uma base de
cérebro mais primitiva, com as costas anguladas, e mencionamos a parte traseira
do Herto, de aparência arcaica. crâ nio adulto. Além disso, existem outros fó sseis
de aparência primitiva na Á frica (como os de Ngaloba e Eyasi na Tanzâ nia) que
se sobrepõ em à s datas que atualmente temos para os humanos mais modernos
de aparência moderna, e discutirei um exemplo particularmente impressionante
a seguir. Tudo isso significa que estou reconsiderando muitas das minhas visõ es
anteriores sobre a origem de nossas espécies na Á frica, e agora acho que
precisamos falar sobre origens, em vez de um ú nico ponto de origem.
Eu apontei no capítulo anterior que a natureza dos fabricantes de ferramentas
paleolíticas de muitas partes da Á frica permanece completamente desconhecida,
uma vez que nã o há fó sseis associados. Isso vale especialmente para os artefatos
da Á frica Ocidental, onde se acredita que o fó ssil mais antigo conhecido, do
abrigo de rochas Iwo Eleru na Nigéria, tenha menos de 15.000 anos. Este
esqueleto mal preservado foi escavado a partir de sedimentos basais em Iwo
Eleru em 1965 pelo arqueó logo Thurstan Shaw e sua equipe e foi associado a
ferramentas posteriores da Idade da Pedra. Só esse ú ltimo fato indicaria uma
idade relativamente jovem, e uma data de radiocarbono em um pedaço de carvã o
sugeria uma idade de cerca de 13.000 anos. O esqueleto, e particularmente o
crâ nio e a mandíbula, foi estudado em 1971 por Don Brothwell, meu predecessor
no Museu de Histó ria Natural, e ele argumentou que, embora o espécime pudesse
estar relacionado a populaçõ es recentes na Á frica Ocidental, na verdade, parecia
bastante diferente deles. . Estudei o crâ nio para o meu doutorado, com
resultados surpreendentes. Também descobri que ele nã o se parecia muito com
as populaçõ es africanas recentes, mas em sua forma longa e baixa, na verdade,
era mais pró ximo dos modernos modernos, como os de Skhul, e até de espécimes
mais primitivos, como Omo 2. Isso era decididamente estranho para esses
indivíduos. um esqueleto jovem, e recentemente colaborei em um novo estudo
do espécime com o arqueó logo Philip Allsworth-Jones, o especialista em namoro
Rainer Grü n e a antropó loga Katerina Harvati. Primeiro, verificamos com
Thurstan Shaw se havia alguma sugestã o de que o crâ nio pudesse ser muito mais
antigo do que o sugerido anteriormente, e nã o havia nenhuma. Com a ajuda do
arqueó logo nigeriano Philip Oyelaran, obtive um fragmento de osso do esqueleto
e passei para Grü n para verificar sua idade diretamente. Sua determinaçã o a
partir de uma estimativa direta da idade da série de urâ nio é que é imprová vel
que o osso tenha mais de 20.000 anos, consistente com a estratigrafia e a
arqueologia e data de radiocarbono associadas.
Finalmente, Brothwell e eu está vamos errados sobre a forma incomum do
crâ nio? Harvati usou técnicas morfométricas geométricas de ú ltima geraçã o em
uma réplica exata do crâ nio (que agora está na Nigéria) e descobriu, como
fizemos, que era bastante distinto dos recentes guindastes africanos e, de fato, de
qualquer espécime moderno em sua amostra comparativa. Seus resultados
colocaram o crâ nio mais pró ximo de fó sseis africanos arcaicos tardios, como
Ngaloba, Jebel Irhoud e Omo 2 - todos com pelo menos 140.000 anos de
idade. Entã o o que isso quer dizer? Devido à má preservaçã o dos ossos do
pleistoceno na Á frica Ocidental, nã o temos outros dados sobre a forma física dos
habitantes da regiã o durante todo o Pleistoceno, por isso precisamos ter cuidado
ao interpretar um espécime isolado como Iwo Eleru. Mas nã o parece estar
doente ou distorcido, e de fato parece indicar que a Á frica continha pessoas de
aparência arcaica em algumas á reas quando, e mesmo muito tempo depois, os
primeiros humanos de aparência moderna apareceram. O apoio a essa visã o vem
do trabalho da antropó loga Isabelle Crevecoeur. Seu reexame dos numerosos
fó sseis de Ishango do Congo mostrou que esses humanos da Idade da Pedra mais
tarde eram semelhantes a Iwo Eleru, nã o apenas em idade, mas também nas
características surpreendentemente arcaicas encontradas em seus crâ nios,
mandíbulas e esqueletos.

Fó sseis africanos Ngaloba (Laetoli H.18, em cima  ) e Iwo Eleru (em baixo ). Eles se assemelham,
apesar de Iwo Eleru ter menos de 20.000 anos, em comparação com as características arcaicas de
140.000 anos de Ngaloba.
Hoje, a Á frica tem a maior variaçã o genética interna de qualquer continente
habitado, e suas formas de crâ nio mostram a maior variaçã o. Isso geralmente é
atribuído ao seu tamanho maior, populaçõ es antigas maiores e linhas de tempo
mais profundas para a humanidade. Mas essas linhas do tempo poderiam voltar
ainda mais longe do que pensá vamos? A morfologia moderna evoluiu
gradualmente e depois se espalhou para fora de uma regiã o como a Á frica
Oriental, substituindo completamente as formas arcaicas na Á frica e depois fora
(como sugerem os dados do mtDNA)? Ou poderia ter havido uma versã o da
assimilaçã o ou evoluçã o multirregional na Á frica, com genes modernos,
morfologia e comportamento coalescendo de populaçõ es parcialmente isoladas
em todo o continente? Dado seu tamanho imenso, climas complexos e retalhos de
ambientes, a Á frica poderia ter secretado distintas populaçõ es humanas tã o
facilmente quanto o resto do mundo habitado. Entã o, a origem dos humanos
modernos foi caracterizada por longos períodos de fissã o e fusã o entre
populaçõ es, em vez de representar um evento ú nico repentino? E a substituiçã o
dos povos arcaicos tardios precedentes nã o foi absoluta, de modo que foram
parcialmente absorvidos pelos modernos em evoluçã o, em vez de
desaparecerem completamente? Nesse caso, as primeiras formas do Homo
sapiens , e até as espécies anteriores Homo heidelbergensis , sobreviveram ao
lado dos humanos modernos descendentes?
Isso pode explicar aspectos arcaicos na forma das gruas Herto, Omo 2 e Iwo
Eleru. Em parte, eles se assemelham a cranias arcaicas como Broken Hill,
atribuído ao Homo heidelbergensis, entã o essa anatomia do mosaico é apenas
uma retençã o primitiva de ancestrais mais antigos, ou é um sinal de fluxo gênico
das populaçõ es africanas contemporâ neas que ainda mantinham tais
características? Meu pressentimento é que alguns (mas claramente nã o todos)
dos marcadores de DNA "antigos" que sã o coletados fora da Á frica e usados para
argumentar sobre o fluxo gênico de arcaicos nã o africanos acabarã o sendo traços
de mistura que realmente aconteceu em Á frica. (Um bom exemplo disso é o gene
da microcefalina discutido anteriormente.) Esses traços foram levados a partir
daí na (s) dispersã o (õ es) humana (s) moderna (s), seguida pela operaçã o de
seleçã o e desvio nessas populaçõ es, produzindo mudanças de frequência nos
genes ao comparar os grupos entre si e com os seus homó logos africanos. Assim,
embora alguns genes arcaicos certamente tenham sido capturados por
cruzamentos fora da Á frica, alguns também foram adquiridos antes do êxodo, e
outros ainda poderiam ter sido adicionados na Á frica depois dele.
Ainda nã o temos a quantidade de dados genéticos para populaçõ es africanas
que temos para pessoas da Europa e da América do Norte, mas a Á frica está
começando a recuperar o atraso. Charla Lambert e Sarah Tishkoff analisaram
milhares de amostras para revelar vá rios aglomerados populacionais antigos e
profundos e, como vimos, Michael Hammer e seus colegas encontraram
evidências de genes arcaicos em três amostras de modernos, mas especialmente
nos africanos ocidentais. Agora eles levaram esse trabalho adiante analisando
cerca de meio milhã o de bits de codificaçã o genética em amostras de Mandenka
(Senegal), pigmeus Biaka (Repú blica Centro-Africana) e San (Namíbia). Eles
encontraram fortes evidências de tempos fracionados de mais de 100.000 anos,
anteriores ao êxodo da Á frica, e detectaram evidências de mistura antiga (com
grupos humanos "arcaicos" desconhecidos) nos Biaka e San. Philipp Gunz e seus
colegas também reconheceram isso pela grande variabilidade que encontraram
na arcaica africana tardia / no início da Á frica moderna, como mostra esse trecho
editado de suas conclusõ es.

Nossos dados fó sseis de AMH [anatomicamente moderno humano] sugerem que antes que houvesse
isolamento por distâ ncia [= deriva] da Á frica, já existia (pelo menos temporalmente) isolamento por
distâ ncia dentro da Á frica. Contribuiçõ es aparentemente antigas para o pool genético humano
moderno foram explicadas pela mistura com formas arcaicas do Homo  , por exemplo,
neandertais. Embora nã o possamos descartar essa mistura, a estrutura populacional ancestral
proposta para o AMH precoce sugere outra possibilidade subestimada: a troca genética entre
populaçõ es subdivididas do AMH precoce como fonte potencial de contribuiçõ es "antigas" para o
pool genético humano moderno. Qualquer modelo consistente com nossos dados requer um cená rio
mais dinâ mico e uma estrutura populacional mais complexa do que o implícito no modelo clá ssico
Fora da Á frica. Nossas descobertas sobre a diversidade de formas neurocranianas sã o consistentes
com o pressuposto de que expansõ es populacionais intra-africanas produziram grupos subdivididos
e isolados temporariamente. Dmes separados (subdivisõ es populacionais) podem ter sido
parcialmente mesclados novamente, enquanto outros deixaram a Á frica em momentos diferentes e
talvez usando rotas diferentes, e outros provavelmente também também migraram para a Á frica.

No entanto, ainda há um fim solto significativo a ser amarrado, e esse é o


tamanho do grupo humano que deixou a Á frica e fundou as populaçõ es do resto
do mundo. A menor variaçã o genética de povos fora da Á frica indica que essa
populaçã o era apenas uma pequena subamostra de seu grupo pai, e alguns
cá lculos do mtDNA sugeriram que poderia ter sido tã o baixo quanto algumas
centenas de indivíduos. No entanto, nã o poderia ter sido muito escasso ou nã o
seria capaz de conter a variaçã o que, como acabei de argumentar, incluía genes
arcaicos capturados na Á frica.
Há também algumas pistas de que a dispersã o Fora da Á frica foi mais
complicada do que um ú nico êxodo. A possibilidade de haver duas saídas
separadas por um período de tempo significativo nã o é consistente com os
padrõ es ancestrais restritos do DNA mitocondrial e Y, a menos que a dispersã o
anterior (talvez representada por amostras como as de Skhul e Qafzeh) agora
seja representada apenas no DNA autossô mico, com o DNA mais antigo de suas
mitocô ndrias e cromossomos Y sendo completamente substituído durante a
dispersã o posterior. Mas a possibilidade de duas dispersõ es mais pró ximas no
tempo parece ser suportada por algumas interpretaçõ es intrigantes de dados do
cromossomo X, onde o ú nico X no sexo masculino é herdado da mã e, enquanto os
dois Xs no sexo feminino sã o herdados um do cada pai. Devido a essa assimetria
baseada no sexo na herança dos cromossomos X, é possível reunir dados sobre
os tamanhos relativos das populaçõ es ancestrais de machos e fêmeas. Dada a
ligaçã o típica de pares um para um, a expectativa seria que houvesse um nú mero
igual de antepassados machos e fêmeas, enquanto um padrã o de acasalamento
polígamo poderia produzir um excesso de ancestrais fêmeas. Alguns dados
genéticos sugerem que um padrã o de acasalamento poligâ mico de machos que
tenham haréns ou se envolvam em poligamia em série pode ter caracterizado
nossa evoluçã o a longo prazo, mas no momento da saída da Á frica, algo bem
diferente pode ter acontecido.
Se houver um nú mero igual de homens e mulheres em uma populaçã o, haverá
três cromossomos X para cada quatro cromossomos autossô micos, uma vez que,
como vimos, os homens carregam apenas um X. Deriva genética (o processo
casual de mudança nas proporçõ es genéticas que opera mais acentuadamente
em pequenas populaçõ es) deve ocorrer mais fortemente no cromossomo X do
que nos outros cromossomos, na proporçã o esperada de 4: 3. Usando um banco
de dados de mais de 130.000 SNPs nos cromossomos de pessoas da Á frica
Ocidental, Europa e Leste da Á sia, os geneticistas Alon Keinan, David Reich e seus
colegas calcularam a quantidade real de deriva genética que ocorreu nas
diferentes populaçõ es. A amostra da Á frica Ocidental (que deveria representar
melhor a estrutura da populaçã o na Á frica antes do êxodo) atendeu à s
expectativas de um nú mero aproximadamente igual de ancestrais masculinos e
femininos. Mas as proporçõ es nas amostras nã o africanas sugeriram deriva
acentuada em seu DNA do cromossomo X, indicando um nú mero menor de mã es
que os pais na época da dispersã o fora da Á frica. Assim, os homens devem ter
dominado a estrutura da populaçã o durante ou imediatamente apó s o êxodo da
Á frica, provavelmente ao longo de milhares de anos.
Se Keinan e Reich estavam corretos, algo decididamente estranho deve ter
acontecido cerca de 55.000 anos atrá s no nordeste da Á frica ou no Levante ou na
Ará bia adjacentes - mas o quê? Existem vá rias explicaçõ es possíveis, mas a
preferida delas é que pelo menos duas populaçõ es fundadoras sequenciais
estavam envolvidas no êxodo africano. O primeiro forneceu a representaçã o
feminina e, portanto, o mtDNA ancestral de nã o africanos (haplogrupo L3 ou seus
primeiros descendentes de M e N). Mas os machos naquela primeira onda foram
de alguma forma subproduzidos ou mesmo substituídos por machos novos, em
uma ou vá rias ondas sucessivas de dispersã o, aumentando assim a
representaçã o masculina total em comparaçã o com as fêmeas e por inferência
envolvendo uma substituiçã o dos cromossomos Y originais. Uma possibilidade é
que grupos subseqü entes de homens substituíssem violentamente os machos
originais e depois acasalassem com suas fêmeas; Nesse caso, pergunto-me se isso
pode marcar a chegada de pontos de projéteis na regiã o (consulte o capítulo
6). Como alternativa, o processo poderia ter sido mais gradual, com os novos
homens possuindo uma vantagem reprodutiva sobre os homens originais - talvez
o desenvolvimento de uma elite de alto status ou a exportaçã o de uma nova
religiã o poderosa com xamã s do sexo masculino, que obtiveram acesso sexual
privilegiado aos homens. mulheres?
Essas sã o apenas especulaçõ es, é claro, e o cená rio de Keinan e Reich precisa
de confirmaçã o de aná lises genéticas adicionais, mas será interessante ver se
novos dados emergem para apoiar ou refutar essas conjecturas. A possibilidade
de vá rias pequenas bandas de seres humanos modernos deixarem a Á frica
aumenta a probabilidade de haver pessoas suficientes para transportar alguns
desses genes africanos arcaicos dentro deles, caso em que nem sempre
precisamos invocar o impacto da hibridaçã o com espécies fora da Á frica para
explicar a presença deles. Mas igualmente, havia claramente pelo menos
episó dios ocasionais de hibridizaçã o fora da Á frica, com (em ordem decrescente
de probabilidade e crescente distâ ncia evolutiva) neandertais e outros
descendentes de heidelbergensis (denisovanos?), Sobrevivendo ao erectus no
sudeste da Á sia e talvez até (dado os caprichos do comportamento humano)
Hobbits em Flores!
Entã o, onde isso acrescenta complexidade e evidência de cruzamento com
neandertais e denisovanos deixa meu modelo favorito de origem africana
recente (RAO)? Foi contestado, a favor dos modelos de Assimilaçã o ou
Multirregional, como alguns reivindicaram? Acho que nã o, e para dar uma
perspectiva melhor disso, acho que devemos revisitar algumas de minhas
primeiras discussõ es sobre os primeiros dias do RAO, usando um diagrama
(consulte a p. 266). Isso compara diferentes modelos da evoluçã o humana
recente em termos da extensã o de uma contribuiçã o genética africana versus nã o
africana para os humanos atuais em todo o mundo. À esquerda, temos uma
origem africana recente pura, com a substituiçã o total de genes nã o africanos e,
no outro extremo, podemos imaginar modelos que nã o dã o à Á frica lugar na
evoluçã o dos seres humanos modernos. (Nos capítulos 1 e 3, menciono a
proposta de Clark Howell para um centro de origem no Oriente Médio e Christy
Turner para o sudeste da Á sia.) Entre os extremos, podemos posicionar modelos
“principalmente fora da Á frica”, como Gü nter Brä uer, no lado esquerdo. e o
multiregionalismo clá ssico (que nã o dá à Á frica nenhum papel especial - veja
abaixo) em direçã o à direita. Em algum lugar pró ximo ao centro está o modelo de
Assimilaçã o de Fred Smith e Erik Trinkaus. Se o fluxo gênico arcaico era a regra e
nã o a exceçã o, poderia haver até 50% de entrada genética nã o africana; no
entanto, dependendo da extensã o do fluxo gênico arcaico previsto, o modelo de
assimilaçã o pode se aproximar do modelo Out of Africa + Hybridization de
Gü nter ou do multirregionalismo clá ssico.
Em 1970, nenhum cientista acreditava que a Á frica fosse o lar evolutivo dos
humanos modernos; a regiã o foi considerada atrasada e em grande parte
irrelevante, com o pêndulo da opiniã o científica fortemente oscilando em direçã o
a modelos nã o africanos, da fase neandertal ou multirregionais. Vinte anos
depois, o pêndulo estava começando a se mover em favor do RAO, à medida que
as evidências fó sseis começaram a ser cada vez mais reforçadas pelos sinais
claros do mitocondrial e do Y-DNA. O pêndulo foi ainda mais longe em direçã o a
um RAO puro, com dados fó sseis, arqueoló gicos e genéticos crescentes, incluindo
a distinçã o das primeiras seqü ências de DNA neandertal recuperadas no final
dos anos 90.
Agora, o advento de grandes quantidades de dados de DNA autossô mico,
incluindo os genomas de Neanderthal e Denisova, interrompeu e até reverteu o
balanço do pêndulo, longe de um RAO absoluto, e eu diria que estamos olhando
para um modelo de RAO que mais se assemelha ao início de Brä uer formulaçã o
(Out of Africa + Hybridization) ou uma versã o do modelo de assimilaçã o de
Smith e Trinkaus. Se as evidências para a assimilaçã o arcaica permanecem
modestas e restritas à Á frica e à fase de dispersã o dos humanos modernos da
Á frica, constituindo menos de 10% do nosso genoma, acho que “principalmente
fora da Á frica” é a designaçã o apropriada - e, para mim, isso ainda é RAO. Eu
ficaria encantado com esse nível de apoio a uma origem africana do Homo
sapiens durante os ferozes argumentos da década de 1990, quando os oponentes
ainda afirmavam que a Á frica nã o tinha um papel especial, entã o estou mais do
que feliz com isso agora. E, claro, o RAO nã o se refere apenas à s origens africanas
de nossa morfologia moderna compartilhada e da maioria de nossos genes; é
também sobre as origens de nossos padrõ es compartilhados de comportamento
moderno.
Dado que aparentemente houve cruzamento entre humanos modernos e
arcaicos, dentro e fora da Á frica, isso significa que agora devemos abandonar os
diferentes nomes de espécies e agrupar todos os fó sseis dos ú ltimos milhõ es de
anos ou mais como Homo sapiens , como sugerem alguns ? Penso que, se os
eventos de hibridaçã o tiverem se espalhado no tempo e no espaço, talvez
tenhamos que fazer isso, mas acho que ainda nã o estamos nesse ponto. Ainda
existem boas razõ es científicas para dar à s populaçõ es que possuíam nomes
diferentes de histó rias evolutivas longas e (relativamente) separadas - espécies
ou nã o. Como vimos, podemos medir a quantidade de variaçã o morfoló gica nas
espécies de primatas atualmente e depois compará -la com as diferenças entre,
digamos, os crâ nios do Homo erectus e heidelbergensis , ou entre os dos
neandertais e os modernos. Isso mostra que eles sã o distintos o suficiente para
serem classificados como espécies diferentes, independentemente de atenderem
ou nã o ao critério de espécies bioló gicas de nã o-cruzamento (um padrã o que
inú meras espécies reconhecidas de primatas atualmente nã o alcançam).
O “pêndulo” que indica onde evoluímos mudou regularmente ao longo do século passado.

Mas se, no entanto, continuarmos a fundir até os neandertais e os humanos


modernos, acabamos com um Homo sapiens caracterizado por, por exemplo, um
crâ nio alto e arredondado, e um crâ nio longo e baixo; por nenhuma crista
contínua da testa e uma forte crista contínua da testa; por um queixo bem
desenvolvido, mesmo em bebês, e sem queixo; por nenhuma fossa suprainíaca
em adultos e uma fossa suprainíaca em adultos; por uma orelha interna de forma
moderna e uma orelha interna de forma neandertal; por uma pelve estreita com
um ramo pubiano superior espesso e curto e uma pelve larga com um ramo
pubiano superior longo e fino - e assim por diante. A natureza díspar do Homo
sapiens se tornaria ainda mais extrema se começá ssemos a adicionar
características de espécies como heidelbergensis , antecessora e erectus .
A fusã o de sapiens e erectus tem sido proposta regularmente pelos defensores
do multiregionalismo, e se nossos genes modernos vêm de mais de uma regiã o,
por que a teoria multirregional nã o se mostrou correta, como agora afirmam
seus apoiadores? Para lidar com essa afirmaçã o, acho que vale a pena lembrar a
nó s mesmos o multiregionalismo clá ssico realmente proposto. Aqui está uma
citaçã o de um artigo escrito em 1994 por Milford Wolpoff e quatro outros
advogados proeminentes do modelo na época.

Os padrõ es evolutivos de três regiõ es diferentes mostram que os primeiros humanos "modernos"
nã o são africanos e nã o possuem o complexo de características que caracterizam os africanos daquela
época ou de qualquer outra ... Nã o há evidências de mistura específica com africanos a qualquer
momento, e muito menos substituí-los por eles ... Há evidências incontestá veis da continuidade de
combinaçõ es ú nicas distintas de características esqueléticas em diferentes regiõ es, conectando as
primeiras populaçõ es humanas com povos recentes e vivos.

Esse modelo nã o deu à Á frica um lugar especial em nossa evoluçã o e reivindicou


conexõ es específicas em características individuais entre fó sseis do Homo
erectus com mais de um milhã o de anos em cada regiã o e humanos nas mesmas
regiõ es hoje. Esperamos que as evidências que apresentei neste livro mostrem
que essas visõ es particulares foram amplamente compreendidas como falsas.
Mas ainda assim, se temos componentes significativos de genes arcaicos em
nossa composiçã o, por que eles nã o apareceram fortemente nas aná lises
genéticas até agora? Eu mencionei que havia dicas deles de tempos em tempos,
mas a realidade é que, se nosso componente arcaico representar apenas cerca de
5% do nosso genoma, entã o 95% das cem isso nã o apareceria em estudos
individuais de marcadores genéticos, assim como nã o se registrou em nossos
cromossomos mtDNA e Y. Foram necessá rias varreduras de genoma muito
maiores e comparaçõ es com os genomas arcaicos reais, para mostrar os sinais da
hibridizaçã o antiga.
O quadro geral é que somos predominantemente de origem africana recente,
entã o existe uma razã o especial para isso? No geral, acho que a preeminência da
Á frica na histó ria das origens humanas modernas foi uma questã o de seu maior
tamanho geográ fico e populacional humano, o que deu maiores oportunidades
para variaçõ es morfoló gicas e comportamentais e para que inovaçõ es se
desenvolvessem e se conservassem, em vez de resultado de um caminho
evolutivo especial. “Modernidade” nã o era um pacote que tinha uma origem
africana ú nica em um tempo, lugar e populaçã o, mas era um composto cujos
elementos apareciam em diferentes épocas e lugares e depois foram
gradualmente reunidos para assumir a forma que reconhecemos hoje. Mas se
assim foi, a assembléia terminou e a evoluçã o dos humanos modernos finalmente
terminou? Somos o produto acabado e controlamos nosso destino, ou muitos dos
mesmos processos que operaram em nosso passado continuam nos afetando
agora e no futuro? A visã o do cientista e autor Stephen Jay Gould era clara: “Nã o
houve mudança bioló gica nos seres humanos em 40.000 ou 50.000 anos. Tudo o
que chamamos de cultura e civilizaçã o que construímos com o mesmo corpo e
cérebro. ”
Quando dou palestras pú blicas, sempre me perguntam aonde a evoluçã o nos
levará , e como serã o os humanos no futuro, e igualmente invariavelmente tento
evitar responder a perguntas tã o complicadas. Contudo, adotei uma opiniã o
diferente em pú blico de Gould e meu amigo geneticista Steve Jones sobre se a
evoluçã o humana acabou. Jones sugere que a cultura moderna e seus benefícios,
como assistência médica, removeram o poder da seleçã o natural de afetar os
seres humanos, já que praticamente todo mundo agora atinge a idade
reprodutiva. Discordo porque, primeiro, as mudanças em nosso genoma estã o
ocorrendo o tempo todo, se podemos detectá -las ou nã o; alguns cá lculos
sugerem que cada um de nó s poderia ter cerca de cinquenta novas mutaçõ es em
comparaçã o com o DNA de nossos pais. Segundo, a vida no mundo desenvolvido
tem seus pró prios custos diferenciais em termos de reproduçã o e saú de, com a
disponibilidade geral de contracepçã o, mas também de junk food, á lcool e
drogas. Terceiro, e ainda mais significativo, ainda é negado a pelo menos um
quarto da populaçã o mundial os benefícios de uma assistência médica decente e
as necessidades de condiçõ es de vida e dietas saudá veis. Assim, a seleçã o está
operando fortemente nesses bilhõ es de pessoas, e nã o vejo isso parar tã o
cedo. Do meu ponto de vista, a evoluçã o certamente ainda está dando certo
no Homo sapiens , e há até evidências de que seus efeitos aceleraram e nã o
diminuíram nos ú ltimos 10.000 anos, como veremos abaixo.
As imagens de ficçã o científica de humanos do futuro geralmente nos
mostram cérebros enormes, mas, como vimos, cérebros grandes nã o sã o
necessariamente os melhores cérebros - testemunhe os neandertais extintos - e,
se alguma coisa, nossos cérebros diminuíram de tamanho nos ú ltimos 20.000
anos. Em termos prá ticos, a menos que o processo de nascimento seja ignorado,
o tamanho do nosso cérebro já está no limite em que a pelve feminina pode lidar
com o parto. Depois, há o alto custo em energia de administrar um grande
cérebro e a evidência de que cérebros maiores nã o sã o necessariamente tã o
eficientes em algumas tarefas. De qualquer forma, grande parte de nossa
memorizaçã o e pensamento é feita externamente agora - no cérebro de outras
pessoas ou nos processadores de nossos computadores. Todos esses fatores
podem ser responsá veis pelo encolhimento do cérebro, além de fatores mais
mundanos, como uma reduçã o geral do tamanho do corpo em comparaçã o com
nossos ancestrais paleolíticos.
Mais realista para a nossa evoluçã o futura, existe a perspectiva de engenharia
genética, que já está acontecendo em pequena escala. O aconselhamento genético
está disponível para aconselhar os pais em potencial sobre mutaçõ es prejudiciais
no DNA que podem ser transmitidas aos filhos e dar-lhes a opçã o de continuar. À
medida que isso se torna mais comum e mais amplo em seu alcance, futuros
pools de genes serã o afetados. Ainda mais ambiciosamente, a terapia gênica
poderia ser aplicada a um ó rgã o defeituoso do corpo, e a terapia de linha
germinativa poderia plantar uma mudança permanente no genoma de um bebê
ainda nã o nascido. Existem questõ es éticas formidá veis a serem abordadas aqui,
sem mencionar as científicas. Por exemplo, sabemos que as açõ es dos genes
geralmente estã o inter-relacionadas e que um ú nico gene pode desempenhar
mais de uma funçã o. Tã o grande cuidado seria necessá rio para garantir que a
mudança direcionada no DNA atingisse apenas o que se pretendia. E as
conseqü ências sociais de até dar à s pessoas a escolha simples de uma criança do
sexo masculino ou feminino sã o enormes, sem falar em oferecer oportunidades
para aprimorar a beleza, o talento ou a inteligência dessa criança.
A maior parte disso ainda é ficçã o científica, e talvez seja melhor que alguns
elementos sempre permaneçam assim. Mas, nos ú ltimos 10.000 anos, a seleçã o
parece ter criado pessoas para lidar com grandes mudanças no estilo de
vida. Quando os humanos se expandiram para novos ambientes nos ú ltimos
50.000 anos, incluindo florestas tropicais na Á frica e novos habitats na Eurá sia,
Australá sia e Américas, eles encontraram novos desafios e tiveram que se
adaptar tanto fisicamente quanto culturalmente. As adaptaçõ es físicas variaram
de grandes mudanças no tamanho ou forma corporal, até respostas imunoló gicas
a uma série de novos pató genos. Nos ú ltimos 20.000 anos, eles também
incluíram mutaçõ es distintas na despigmentaçã o na Europa e na Á sia, para
atenuar os níveis mais baixos de luz solar e a propagaçã o de olhos azuis no oeste
da Eurá sia - embora essa ú ltima mudança possa igualmente ter vindo da seleçã o
cultural .
A cultura, em vez de diminuir as mudanças em nosso DNA, pode muito bem
ter fornecido os meios para acelerá -las. Essa é a visã o de um nú mero crescente
de geneticistas e antropó logos, incluindo Henry Harpending, Gregory Cochran,
John Hawks, Anna Di Rienzo, Pardis Sabeti, Sharon Grossman, Ilya Shylakhter e
Kevin Laland. Eles argumentam que mudanças profundas no estilo de vida
humano nos ú ltimos 10.000 anos - com as mudanças para o pastoralismo,
agricultura e urbanizaçã o - teriam tido efeitos evolutivos igualmente
profundos. Com o consequente aumento enorme no nú mero de pessoas, há
paralelos claros com a relaçã o entre demografia e inovaçã o: uma populaçã o
maior nã o terá apenas mais mutaçõ es e mutaçõ es mais benéficas, mas também
oferecerá melhores chances de serem conservadas e disseminadas. E o fato de a
agricultura também implicar mudanças auto-induzidas nas sociedades, dietas e
ambientes (nem todos benéficos para todos) teria assegurado que a seleçã o
permanecesse uma força poderosa para a mudança evolutiva.
Dez mil anos atrá s, quando a agricultura estava decolando em seus berços do
oeste e leste da Á sia, as populaçõ es de caçadores-coletores do mundo
provavelmente contavam apenas com alguns milhõ es de pessoas, e em muitas
á reas elas devem ter sido dispersas. O nú mero estimado de apenas 8.000 anos
depois era superior a 200 milhõ es e, apó s a revoluçã o industrial e o advento de
medidas como a vacinaçã o, nossos nú meros agora estã o subindo para 10
bilhõ es. O grande aumento entre 10.000 e 2.000 anos atrá s teria assegurado um
aumento proporcional de mutaçõ es, inclusive potencialmente favorá veis, e,
desde que a densidade populacional fosse alta (o que ocorreu em muitas
comunidades agrícolas e urbanas subseqü entes), qualquer alteraçã o genética
teria o potencial de espalha rapidamente. À medida que as pessoas adquiriam
suprimentos está veis de alimentos através da agricultura, elas se estabeleceram
em comunidades cada vez maiores, mas com essa mudança também houve
muitas desvantagens. Condiçõ es de vida insalubres e comunidades densamente
compactadas estavam maduras para parasitas e doenças epidêmicas como
varíola, có lera e febre amarela, enquanto a derrubada de florestas e o uso de
irrigaçã o levaram à disseminaçã o da malá ria em grande parte dos tró picos e
subtró picos. A dependência excessiva de um ou dois alimentos bá sicos também
significava que os benefícios de uma dieta mais ampla de caçadores-coletores
eram perdidos e, para muitos, o trabalho duro nos campos desgastava os corpos
prematuramente. Sociedades e tecnologias também tiveram que acompanhar as
mudanças. As pessoas eram unidas e socializavam em maior nú mero, com o
crescimento de especializaçõ es de tarefas e disparidades de riqueza, status e,
sem dú vida, sucesso reprodutivo.

Uma á rvore evolutiva que mostra a distribuiçã o geográ fica de humanos e parentes humanos dos
ú ltimos 2 milhõ es de anos. Observe a complexidade dos relacionamentos agora implicados pelos
dados genéticos mais recentes.
Todos esses transtornos deveriam ter proporcionado um terreno fértil para a
evoluçã o funcionar, e muitos grupos de geneticistas vêm vasculhando o genoma
humano em busca de sinais disso. Os métodos sã o conhecidos como genoma de
largura ou estudos de associação de todo o genoma , onde se procura uma
correlaçã o entre os genes e os traços particulares, se estes sã o física, tal como a
cor da pele ou altura, ou fisioló gico, tal como a susceptibilidade a uma doença. É
claro que esses estudos devem levar em consideraçã o as influências ambientais,
bem como a complexidade da expressã o gênica, uma vez que um resultado final
específico pode advir da interaçã o de vá rios genes diferentes, em vez de apenas
um. Uma fonte importante para estudos de associaçã o tem sido o Mapa
Internacional de Hapló tipos, que forneceu dados sobre milhõ es de SNPs em 270
pessoas de descendência européia, nigeriana, chinesa e japonesa. Essas mutaçõ es
em letra ú nica sã o herdadas em seqü ências maiores de DNA e os segmentos se
quebram ao longo do tempo como resultado da remistura do DNA em nossos
cromossomos a cada nova geraçã o. Novas mutaçõ es podem ser detectadas e sua
idade pode ser estimada pela quantidade de mistura que ocorreu ao seu redor.
Com certeza, os sinais da seleçã o recente nã o só estavam lá , mas também
foram muito fortes, atuando em talvez 20% de nossos genes. Alguns podem estar
diretamente relacionados à s mudanças induzidas pela agricultura, ligadas a
novas dietas, como o gene da lactase. Essa é uma enzima que permite que os
bebês digeram lactose (açú car do leite) durante a amamentaçã o, mas geralmente
desliga durante a infâ ncia, de modo que muitos adultos sã o intolerantes à
lactose. No entanto, nos ú ltimos 10.000 anos, ocorreram mudanças genéticas
separadas na Á frica Oriental e nas regiõ es da Eurá sia ocidental que impediram o
desligamento do gene da lactase, o que significa que os adultos (cerca de 80% no
caso dos europeus) podem digerir confortavelmente o leite dos
animais. Populaçõ es em outros lugares que nã o possuem as mutaçõ es, como
asiá ticos orientais e australianos nativos e americanos, ainda sã o capazes de
beber leite confortavelmente quando bebês. Enquanto isso, as mutaçõ es
evoluíram para permitir a digestã o de outros “novos” carboidratos na dieta na
Á frica Ocidental (para o açú car manose) e no Leste da Á sia (manose e
sacarose). E também houve mudanças em um gene que codifica a amilase salivar
(que ajuda a digerir o amido), tanto em sua estrutura quanto no nú mero de
có pias do gene em muitos indivíduos. Exemplos de seleçã o recente em genes
humanos sã o conhecidos há muitos anos em relaçã o à proteçã o contra a malá ria,
e pelo menos vinte e cinco exemplos diferentes já foram detectados. Como o
parasita da malá ria é transmitido na corrente sanguínea, muitas defesas
humanas se originam no sangue, como mutaçõ es no gene da hemoglobina, que
transporta oxigênio, ou na enzima G6PD. E os grupos sanguíneos também
responderam, com um inteiramente novo - Duffy - aparentemente selecionado
especificamente para combater a doença. Muitas outras mudanças parecem estar
relacionadas à resistência a doenças infecciosas, como a tuberculose, e 10% dos
europeus foram fortuitos ao portar mutaçõ es que aparentemente foram
selecionadas para resistir à varíola; eles também parecem conferir resistência ao
HIV.
Outras mudanças recentes podem estar relacionadas à s mudanças nas
condiçõ es sociais trazidas pela vida agrícola. No capítulo 6, mencionamos
mutaçõ es no gene da apolipoproteína E transportadora de colesterol que
parecem diminuir o risco de muitas condiçõ es relacionadas à idade, como doença
coronariana, e existem pelo menos catorze outros genes recentemente mutados
que estã o ligados à s condiçõ es mais comuns. expressa no antigo, como câ ncer e
Alzheimer. Considerando a importâ ncia crucial das famílias extensas para
caçadores-coletores e agricultores, a seleçã o parece ter trabalhado também na
sobrevivência das pessoas apó s a idade reprodutiva, dados os conseqü entes
benefícios sociais. Mas uma possível desvantagem para a harmonia social de
densidades populacionais mais altas é o maior potencial para adultério, e isso
pode se refletir em mutaçõ es generalizadas, mas regionalmente distintas, que
controlam a quantidade e o vigor do esperma humano - talvez indicativo de
"competiçã o de espermatozó ides", causada quando uma mulher parceiros mais
de um homem dentro de um dia ou mais. Talvez algumas das cem ou mais
recentes mutaçõ es nos neurotransmissores cerebrais preocupadas com humor e
comportamento tenham sido correspondentemente selecionadas para lidar com
as conseqü ências sociais de nosso grande nú mero populacional e as possíveis
tensõ es resultantes.
Esses neurotransmissores sã o apenas uma parte do nosso genoma em
mudança no que diz respeito ao cérebro e aos sentidos. Embora essa seja uma
á rea altamente controversa, é prová vel que a seleçã o tenha favorecido diferentes
comportamentos e habilidades cognitivas, uma vez que os humanos modernos se
diversificaram em diferentes ambientes e complexidades sociais. Com o
desenvolvimento de ocupaçõ es especializadas e suas habilidades associadas, a
seleçã o pode ter crescido cada vez mais. Por exemplo, a necessidade de calcular
estoques de cereais ou animais, seguida pelo aumento do comércio e pela
chegada de dinheiro, todos teria incentivado a seleçã o por habilidades
matemá ticas. E a crescente complexidade da comunicaçã o em grupos pequenos
ou cada vez maiores pode ser marcada por recentes mutaçõ es em genes que
produzem proteínas para os cílios de nossos ouvidos internos e pela membrana
que os reveste, além de uma que ajuda a construir os ossos reais de ouvido
médio, que transmite frequências sô nicas. O fato de diferentes mutaçõ es serem
encontradas ao comparar chinês e japonês, europeus e africanos sugere que a
seleçã o pode até estar acompanhando a evoluçã o de diferentes idiomas e seus
sons mais característicos. A visã o também pode estar sob seleçã o recente no
leste da Á sia - mutaçõ es no gene da protocadherina-15 afetam o funcionamento
das células do ouvido interno e dos fotorreceptores na retina.
Mas, voltando à questã o colocada anteriormente, parece que a evoluçã o
humana, pelo menos em termos de mudanças nas seqü ências individuais de
DNA, acelerou, em vez de abrandar ou parar nos ú ltimos 10.000 anos. De fato,
alguns cá lculos sugerem que agora está acontecendo cem vezes mais rá pido do
que desde que nos separamos da linhagem de chimpanzés, provavelmente mais
de 6 milhõ es de anos atrá s. Cerca de 7% dos genes humanos parecem ter sofrido
mutaçõ es recentemente em algumas populaçõ es, a maioria nos ú ltimos 40.000
anos, e particularmente nos ú ltimos 10.000 anos. Alguma cautela deve ser
injetada aqui, uma vez que geneticistas como Sarah Tishkoff e Mark Stoneking
apontaram que a expansã o das populaçõ es humanas pode ter aumentado
variantes raras apenas por acaso, portanto o benefício funcional da mudança
genética precisa ser adequadamente demonstrado - como pode ser em muitos
casos. Além disso, e talvez mais a sério, a constante perda e substituiçã o de
alteraçõ es em nosso DNA significa que alguns sinais antigos de mudança genética
- durante a Idade da Pedra, por exemplo - foram perdidos ou sã o difíceis de
detectar agora. Portanto, temos um sinal tendencioso nos ú ltimos 10.000 anos ou
mais, porque esse é o período em que temos mais chances de reconhecer novas
mutaçõ es.
Felizmente, esta é uma á rea da ciência em rá pida evoluçã o e muitos dados
novos chegarã o para resolver essa questã o nos pró ximos anos - incluindo mil
genomas humanos completos de todo o mundo. Pardis Sabeti, além de cantar em
uma banda de rock bastante boa, trabalhou com seus colegas em um novo
método que combina três testes para mú ltiplos sinais de seleçã o e que tem o
potencial de aumentar a resoluçã o de varreduras de DNA recentemente
selecionado como cem vezes. Ela também está pesquisando algo importante que
nã o abordamos - nem toda mudança genética envolve nosso DNA. O á cido
ribonucleico (RNA), como o DNA, consiste em longas cadeias de nucleotídeos,
mas essas cadeias geralmente sã o de cadeia simples em nossas
células. Diferentes tipos de RNA sã o centrais na síntese de proteínas e na
regulaçã o da expressã o gênica, e, portanto, o RNA - que também sofre mutaçã o -
forma outro sujeito e agente de mudança evolutiva. Isso faz parte de um
crescente corpo de dados sobre herança que está além do có digo genético do
DNA, constituindo o campo da epigenética (do grego, que significa “acima ou
acima da genética”). Essa é uma á rea de pesquisa em rá pido desenvolvimento
que nã o substituirá o foco atual no DNA, mas certamente fornece maneiras
adicionais de analisar a herança e a evoluçã o. Aqui, as mudanças ambientais de
curto prazo podem ter um impacto na forma e na funçã o do corpo, além das
mudanças puramente em nosso DNA - por exemplo, através de proteínas
histonas que compõ em parte dos cromossomos, ou através das modificaçõ es que
vírus ou príons podem infligir a nó s.
Finalmente, embora essa discussã o sobre mudanças recentes no DNA humano
tenha se referido constantemente à seleçã o, devemos ter em mente que
mudanças seletivas podem nã o beneficiar a todos; pode haver vencedores e
perdedores, como ocorreu com o surgimento de células em forma de foice no
sangue de populaçõ es de origem africana. Sickling beneficiou aqueles que sã o
heterozigotos para o gene das células falciformes (isto é, eles têm apenas uma
có pia dele) ao conferir alguma imunidade contra o parasita da malá ria. Mas, sem
intervençã o médica, os nascidos com duas có pias do gene serã o altamente
anêmicos e morrerã o prematuramente. A frequência de uma mutaçã o no gene do
receptor de leptina aumentou dramaticamente no leste da Á sia, associada a
alteraçõ es no índice de massa corporal e à tendência de armazenar gordura. Isso
pode ter sido benéfico para a adaptaçã o a climas mais frios, mas agora é uma
causa de pressã o alta e obesidade. Alguns pesquisadores também argumentaram
que viagens marítimas longas e estressantes, forçadas no caso do comércio de
escravos ou voluntá rias no caso da colonizaçã o das ilhas da Polinésia,
selecionariam físicos e fisiologias que seriam mais capazes de sobreviver aos
rigores dessas viagens . Os sobreviventes entã o encontraram populaçõ es muito
maiores que agora vivem em condiçõ es muito diferentes, talvez explicando a
prevalência de hipertensã o sensível ao sal em negros americanos e de diabetes e
obesidade em partes da Oceania. Da mesma forma, como apontou o antropó logo
Peter Ellison, é possível que a aparente frequência crescente de condiçõ es como
autismo, esquizofrenia, alergias, asma, doenças auto-imunes e câ ncer
reprodutivo seja a desvantagem moderna das mudanças genéticas que foram
benéficas em ambientes humanos mais antigos e estilos de vida. Essas
comparaçõ es entre o passado e o presente sã o a base de todo um novo campo da
ciência chamado medicina evolucionária .
Nem sempre é claro qual foi o agente preciso da seleçã o no passado, além do
sucesso reprodutivo diferencial. No que diz respeito à doença, é ó bvio que isso
causará a seleçã o natural direta através da fertilidade reduzida ou da morte
daqueles cujas defesas naturais (herdadas) sã o incapazes de lidar com a
condiçã o em questã o. Mas a exposiçã o aos pató genos pode ser reduzida ou
aumentada por comportamentos humanos específicos (pense no uso de
preservativos, que agem como contraceptivos, mas também combatem a
disseminaçã o do HIV). Assim, muitas dessas mudanças provavelmente estã o no
reino das interaçõ es complexas entre o ambiente natural e o que criamos por
meio da diversidade de culturas humanas. E isso nos leva de volta a um dos
mecanismos evolutivos favoritos de Darwin, como destacado pelo título
completo de seu segundo livro mais famoso: A Descida do Homem e Seleção em
Relação ao Sexo . É evidente que, como Darwin propô s, algumas dessas
mudanças poderiam ser atribuídas à seleçã o sexual / cultural humana, onde as
preferências habituais no acasalamento poderiam orientar a evoluçã o em uma
direçã o específica. Isso pode muito bem incluir algumas das diferenças regionais
("raciais") na aparência, como Darwin suspeitava, e igualmente algumas das
mudanças no cérebro e no comportamento. A estatura é um exemplo disso; é
uma característica complexa, mas com alta herdabilidade. Há evidências de que a
estatura (desde que nã o se torne excessiva) está ligada tanto à fecundidade
quanto à riqueza no mundo desenvolvido, e estudos sobre a seleçã o de doadores
de esperma sugerem que as mulheres preferem doadores mais altos, o que, por
sua vez, levará a filhos mais altos. .
Tudo isso teria fascinado Darwin. Quando ele estava vivo, os dados concretos
sobre nossas origens poderiam ter sido reunidos em uma pequena mala e,
embora de muitas maneiras ele tenha começado a escrever o livro da evoluçã o
humana, tudo o que conseguiu foi o equivalente à elaboraçã o de alguns títulos de
capítulos e palavras e frases espalhadas por ele. Desde entã o, aprendemos muito
sobre nossa histó ria antiga, e muitas mais palavras, frases e pará grafos de nossa
histó ria já estã o em vigor. Alguns capítulos sã o bastante completos, como os
sobre a construçã o de genomas completos de humanos e chimpanzés, com os
capítulos Neanderthal e Denisovan a seguir agora. E, no entanto, a escrita de
outros capítulos mal começou, como aqueles sobre como nosso cérebro
realmente funciona, que foram os primeiros povos do subcontinente indiano, a
histó ria inicial do Hobbit no sudeste da Á sia e que vivia na Á frica Ocidental por a
maior parte da pré-histó ria.
Certamente, até que tenhamos um registro fó ssil, arqueoló gico e ambiental
datado de muitas outras regiõ es para corresponder à qualidade das que temos
na Europa Ocidental e que comecemos a partir de lugares como o leste e o sul da
Á frica, nã o podemos nem imaginar como O livro de nossa histó ria evolutiva será
exibido quando estiver quase completo. A paleoantropologia é uma ciência tã o
veloz e de rá pido desenvolvimento que até mesmo parte do que já está escrito
nesse livro precisará ser corrigida, ou talvez até completamente excluída,
incluindo minhas pró prias contribuiçõ es, sem dú vida. O processo de escrever
este livro me levou a um maior reconhecimento das forças da demografia, deriva
e seleçã o cultural na recente evoluçã o humana do que eu havia considerado
antes. Enquanto eu escrevia, novos dados genéticos surgiram para mostrar que
o Homo sapiens nã o é puramente derivado de uma origem africana recente. Mas
esse dinamismo é o que torna o estudo da evoluçã o humana tã o fascinante, e a
ciência nã o se trata de estar certa ou errada, mas de se aproximar gradualmente
da verdade sobre o mundo natural.
Quando Darwin morreu e recebeu a honra de ser enterrado na Abadia de
Westminster, houve muitos tributos ricos para o homem e seu trabalho, como
mostra este exemplo.

O Sr. Darwin deixou uma marca tã o ampla e profunda na Psicologia quanto em Geologia, Botâ nica e
Zoologia. Grupos de fatos que antes pareciam separados, agora sã o vistos como unidos da maneira
mais íntima; e parte do que deve ser considerado como os primeiros princípios da ciência, até agora
insuspeitados, foram trazidos à luz. Se o estudo adequado da humanidade é o homem, o Sr. Darwin
fez mais do que qualquer outro ser humano para promover o tipo mais desejá vel de aprendizado,
pois é através dele que a humanidade em nossa geraçã o foi capaz de começar sua resposta ao
preceito. da antiguidade - conheça a si mesmo.

Essa ú ltima frase remonta à Grécia antiga, mas também foi a diretiva de
Linnaeus ao descrever a espécie que ele chamou de Homo sapiens . Conhecer a si
mesmo, para mim, significou uma jornada desde a mediçã o de crâ nios fó sseis nos
museus europeus, quarenta anos atrá s, até quase todos os aspectos de nossas
origens. Conhecer a nó s mesmos significou o reconhecimento de que nos
tornarmos “modernos” é o caminho que percebemos quando olhamos para trá s
em nossa pró pria histó ria evolutiva. Essa histó ria parece especial para nó s, é
claro, porque devemos nossa pró pria existência a ela. Aquelas figuras da espécie
humana (geralmente machos) marchando corajosamente pela pá gina ilustraram
nossa evoluçã o em muitos artigos populares, mas consagraram erroneamente a
visã o de que a evoluçã o era simplesmente uma progressã o levando a nó s, seu
auge e conquista final. Nada poderia estar mais longe da verdade. Havia muitos
outros caminhos que poderiam ter sido tomados; muitos nã o levariam a
humanos, outros à extinçã o e outros a uma versã o diferente da
"modernidade". Só podemos habitar uma versã o do ser humano - a ú nica versã o
que sobrevive hoje - mas o que é fascinante é que a paleoantropologia nos
mostra outros caminhos para se tornar humano, seus sucessos e sua eventual
morte, seja por fracasso ou por pura má sorte. À s vezes, a diferença entre
fracasso e sucesso na evoluçã o é estreita, e certamente estamos agora em uma
ponta de faca, quando confrontamos um planeta superpovoado e a perspectiva
de mudanças climá ticas globais em uma escala que os humanos nunca
enfrentaram antes. Vamos torcer para que nossa espécie esteja à altura do
desafio.

Fontes e leitura sugerida

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Agradecimentos

Tendo trabalhado no campo da paleoantropologia por quarenta anos, devo muito


a muitas pessoas, e minha rede de amigos e colaboradores parece aumentar em
vez de diminuir com o passar do tempo, o que é gratificante. Portanto, nã o vou
tentar nomear e agradecer a todos que me ajudaram de maneira significativa,
voltando à minha família e adotando a família, meus primeiros professores e
supervisores e aqueles que me receberam por toda a Europa quando comecei a
coletar dados para meu Ph.D. Mas muitos de meus colegas pesquisadores sã o
identificados no livro e na bibliografia pelo nome, ou por meio de suas idéias e
influências no meu pensamento, e espero ter representado seus pontos de vista
de maneira justa e precisa. Certamente estou de pé sobre os ombros dos gigantes
enquanto luto com a reconstruçã o de nosso passado evolutivo, mas também fui
muito ajudado ao longo do caminho por inú meros atos de bondade e
generosidade. Minha participaçã o em três consó rcios - o Projeto Cambridge
Stage 3 concluído, o projeto RESET, financiado pelo NERC, e o projeto AHOB,
financiado pelo Leverhulme Trust - também me beneficiou bastante.
Neste livro, sou particularmente grato a Robert Kruszynski, Rebecca Varley-
Winter e Gabrielle Delbarre por sua ajuda na bibliografia e por ilustraçõ es, meus
agradecimentos ao Museu de Histó ria Natural Departamento de Paleontologia,
Unidade de Fotos e Imagens, e Silvia Bello, John Reader, Francesco d'Errico e
Nicholas Conard. Também sou muito grato à equipe editorial e de produçã o da
Penguin Books e Henry Holt por todo o seu trabalho na publicaçã o deste livro.

Índice

O índice que apareceu na versã o impressa deste título nã o corresponde à s


pá ginas do seu eBook. Por favor, use a funçã o de pesquisa no seu dispositivo
eReading para pesquisar termos de interesse. Para sua referência, os termos que
aparecem no índice de impressã o estã o listados abaixo.

 
Caverna de Abauntz
Recife de Abdur
namoro absoluto
Abi-Rached
namoro acelerador
espectrometria de massa do acelerador (AMS)
dataçã o por oxidaçã o ácido-base-ú mida (ABOX)
"Adam" (ancestral masculino comum)
Jim Adovasio
subespécies afer
Êxodo Africano  (Stringer)
Á frica. Veja também o modelo Fora da Á frica 1; Modelo recente de origens africanas; e artefatos, locais,
espécies e indústrias de ferramentas e períodos específicos
espécies humanas antigas e variaçã o interna
como centro de origens físicas e culturais
clima e
Modelo de Coon de linhagens divididas seguindo
disseminaçã o cultural e
Darwin em
fim de debate
demografia e mudança cultural em
rotas de dispersã o de
êxodo de
dados genéticos e
Continente perdido de Haeckel vs.
Revoluçã o Humana e
tamanho da populaçã o e
simbolismo e linguagem em
Gênese africana  (Ardrey)
perfis de idade
agricultura
Indú stria ahmariana
Aiello, Leslie
Pessoas Ainu
Alexander, Richard
Microscó pio Alicona
Allen, Jim
Regra de Allen
alometria
alloparents
Allsworth-Jones, Philip
Gruta de Altamira
consciência alterada
altruísmo
Alzheimer
Ambrose, Stanley
subespécie americanus
Amud fossils
amígdala
Andel, Tjeerd van
Andrews, Peter
macacos, ó timo. Veja também espécies específicas
cérebros
infâ ncia e
DNA
Hobbit e
habilidades humanas vs.
separação humana de
gene da apolipoproteína E
genes arcaicos. Veja também  cruzamentos
Populaçõ es africanas e
dispersõ es da Á frica e
Ardrey, Robert
namoro argon
Armitage, Simon
arte. Veja também sites e obras específicos
especialistas artesã os
Á sia
Modelos de origem asiá tica
subespécie asiaticus
Gene ASPM
Modelo de assimilaçã o
Neandertais de Atapuerca
Indú stria Ateriana
Atkinson, Quentin
Aurignacians
Austrá lia
Aborígines australianos
australopithecines
Australopithecus afarensis
Australopithecus africanus
Australopithecus sediba
DNA autossô mico
dispersão da Á frica e
Avery, Margaret
Bailey, Shara
William Banks
Barker, Graeme
Barton, Nick
Bar-Yosef, Ofer
miçangas
casca de ovo de avestruz
Concha
Beaumont, Peter
Poço das faias
comportamento. Veja também comportamentos específicos
Á frica como fonte de complexo
cérebro e
complexo nos primeiros locais modernos
coordenaçã o de atividades
buffer cultural e
Dmanisi e
ambiente e genes e
tamanho do grupo e
Revoluçã o Humana e
humano vs. macaco
caça e
aprendendo com fó sseis sobre
acasalamento e
leitura da mente e
moderna e Á frica
moderna e Austrá lia
moderno e evoluçã o
mudanças modernas e físicas
moderno, definido
mú sica e
Neandertal vs. moderno
pigmentos e pintura corporal
densidades populacionais e
religiã o e
rituais e
Hipó tese Social do Cérebro e
transmissã o social e
simbolismo e
Bello, Silvia
Berger, Thomas
Regra de Bergmann
José Maria Bermú dez de Castro
gene da betaglobina
Pigmeus Biaka
Bigelow, Robert
Binford, Lewis
Paul Bingham
Conceito de Espécies Bioló gicas (BSC)
Bir el-Ater
Caverna de Blombos
grupos sanguíneos
proteínas no sangue
barcos
Bocherens, Hervé
Bodo
formato corporal
Indú stria Bohunician
Boker Tachtit
açougue de ossos
ossos, namoro
Caverna da fronteira
gargalos, populaçã o
Boule, Marcelino
Bowles, Samuel
Site Boxgrove
Boyd, Robert
Brace, C. Loring
Pinturas Bradshaw
cérebro
Origens africanas e
comportamento e
Broken Hill
infâ ncia e
Dmanisi
demandas de energia e
evoluçã o e
genes e
tamanho do grupo e
H. erectus
H. heidelbergensis
Hobbit
Revoluçã o Humana e
discurso interno e
idioma e
recursos marinhos e
memó ria e
gene microcefalina e
humano moderno
mú sica e
neanderthal
diferenças regionais
religiã o e
religaçã o e comportamento
ritual e
tamanho e
Hipó tese Social do Cérebro e
fabricaçã o de ferramentas e
guerra e
braincase
Broken Hill
H. erectus e
Crâ nio de Herto
H. heidelbergensis  e
H. sapiens  e
humano moderno e
neanderthal
mapeamento cerebral
Bramble, Dennis
Brä uer, Gü nter
Brennan, Mary Ursula
Brink, James
Revoluçã o do espectro amplo
Crâ nio de Broken Hill (homem da Rodésia)
Tim Bromage
Alison Brooks
Brotherton, Paul
Brothwell, Don
Brown, Kyle
Brown, Peter
sobrancelha
Bruner, Emiliano
enterros. Veja também sites específicos
Amud e Kebara
Cro-Magnon
Lapedo Valley
Nazlet Khater
Neandertais
Qafzeh
rituais e
Saint-Césaire
Skhul
simbó lico
Tabun
Bushman
George Busk
marcas de açougue
Byrne, Richard

Encontro Campanian Ignimbrite (CI)


Bernard Campbell
Erupção vulcâ nica de Campi Flegrei
Cann, Rebecca
canibalismo
Linhagem "capó ide"
carbono C-12 / C-13, dieta e
dataçã o por carbono C-14
Carmel, Mount
Rachel Caspari
grupo de catarros
Linhagem "caucasó ide" proposta
conceito de causa e efeito
Caverna Cavallo
arte da caverna
Gene CDK5RAP2
Gene CENPJ
índice cefá lico (IC)
cerebelo
relaçã o cerebelo / cérebro
có rtex cerebral
hemisférios cerebrais
cérebro
Site Chancelade
Chapais, Bernard
Indú stria châ telperroniana
Caverna de Chauvet
maçãs do rosto
parto
crianças
chimpanzés
comportamento
grupos sanguíneos
cérebro
cultura
genoma
separação humana de
piolhos e
ferramentas e
queixo
China. Veja também sites específicos
Chomsky, Noam
Igreja de Cristo, Spitalfields
cromossomo 9
Churchill, Steve
Clacton
Clark, Desmond
classificaçã o de espécies
clique em grupos de idiomas
clima
Idade da Pedra do Meio Africano e
Austrá lia e
forma do corpo e
Revoluçã o do espectro amplo e
a cultura e a
dispersão da Á frica e
Hobbit e
assinaturas isotó picas e
Extinçã o neandertal e
Neandertais vs. Cro-Magnons e
norte da China e
populaçã o e
características regionais e
roupas e tecidos
coalizõ es agressivas
costas, dispersõ es da Á frica e
Cochran, Gregory
colá geno, dieta e
Collins, Matthew
comunicação. Veja também  idioma
concorrência
Tim Compton
tomografia computadorizada (tomografia computadorizada)
estudos microCT
estereolitografia e
dentes e
Confú cio
deriva continental
cozinhando
fornos e
Coolidge, Frederick
Coon, Carleton
Alan Cooper
cooperaçã o
Hipó tese ocular cooperativa
coordenaçã o de atividades
corais, namoro e
Michael Corballis
Allan Cormack
Cornish, Lorena
cosméticos
Coulson, Sheila
namoro
criatividade
Isabelle Crevecoeur
Cro-Magnons
Indú stria aurignaciana
tamanho e forma do corpo
tamanho do cérebro
enterros
arte da caverna e
classificaçã o de
clima e
roupas e
cultura de
coleta de dados em 1971
dieta de
cã es e
Expansã o europeia por
evoluçã o da teoria de Neanderthal
genética e
Ferramentas gravetos e
Forame HO e
Revoluçã o Humana e
parentesco e
longevidade de
migraçõ es de
Cruzamentos neandertais e
Neandertais feridas e
Omo Kibish e
Modelo RAO e
características regionais e
Helena Cronin
Cruciani, Fulvio
cryptotephra
Cueva Antó n
Cueva de los Aviones
Cueva Morin
adaptaçã o cultural
buffer cultural
diversidade cultural
seleçã o cultural
cultura
demografia e
fluxo gênico e
imitaçã o e
Neandertal vs. moderno
SBH e
redes sociais e
Currat, Mathias
Pinturas rupestres Cussac
citocromo

Rio Danú bio


Dart, Raymond
Charles Darwin
métodos de namoro
Dawkins, Richard
Guerreiros do Amanhecer,  (Bigelow)
Charles Dawson
Day, Michael
Hilary Deacon
Dean, Christopher
demografia. Veja também densidade populacional; tamanho da populaçã o
namoro dendrocronologia
Denisovanos
genética
Dennell, Robin
Denys, Christiane
d'Errico, Francesco
Descida do homem e seleção em relação ao sexo ( The  Darwin)
Crâ nio da torre do diabo
Abrigo em pedra Diepkloof
dieta. Veja também  recursos marinhos; recursos vegetais
Cro-Magnon vs. Neanderthal
Anna Di Reinzo
doenças
estatística de distâ ncia
Divje Babe Cave
Dmanisi
DNA (á cido desoxirribonucleico). Veja também  genética; e tipos específicos
cachorros
domesticaçã o
dopamina
Drake, Nick
Gene DRD4
Hora de sonhar
Dubois, Eugène
Dunbar, Robin
Nú mero de Dunbar
moradias
corantes. Veja também  pigmentos
Caverna de Dzudzuana

Modelo Neandertal precoce


este de Á frica
Gene EDAR
Esqueleto "Egbert"
Elandsfontein
ressonâ ncia de rotaçã o eletrô nica (VHS), dataçã o
Eliye Springs
Ellison, Peter
Grutas de El Sidró n
Setor emirado
empatia
quociente de encefalizaçã o (EQ)
Endicott, Phillip
endorfina
Site Engis
Enkapune ya Muto (Caverna do Crepú sculo)
meio Ambiente
adaptaçã o a
buffer cultural e
aprendizagem e
“ Eoanthropus dawsoni ”
epigenética
Eswaran, Vinayak
Eurocentrismo
subespécie europaeus
Europa. Veja também Cro-Magnons; Neandertais; locais específicos e indústrias e períodos de ferramentas
clima em
namoro dos humanos modernos mais antigos
dispersão para
primeiros locais humanos em
simbolismo inicial
humanos linguagem em
sites humanos posteriores
Modelos de origens européias
Ewing, J. Franklin
Excoffier, Laurent
extinçõ es e conhecimento
Crâ nio de Eyasi
olhos
cor
esclera
tomadas

face
expressõ es
forma
Hugh Falconer
famílias, estendidas. Veja também  sistemas de parentesco
moda
paternidade, reconhecimento de
pés
fêmeas. Veja também Eva Mitocondrial
parto e
dispersõ es da Á frica e
estatueta
caça e
parentesco e
Genes neandertais e
coleta de plantas e incêndio
pó s-menopausa
ocre vermelho e
complexidade social e
violência e
Cromossomos X e
femora (ossos da coxa)
estatuetas
Finlayson, Clive
fogo
Palá cio Romano de Fishbourne
Fisher, Claire
ó leos de peixe
Flannery, Kent
fibras de linho
John Fleagle
Ilha das Flores. Veja também: Hobbit
Crâ nio de florisbad
produção de farinha
flautas
Fodor, Jerry
Foley, Robert
Comida. Veja também tipos específicos
coleta e processamento
recusar
Recursos
Pedreira de Forbes
testa
efeito fundador
454 Ciências da vida
Fox, Robin
Gene FOXP2
Jennifer, francês
Andrew Froehle
ló bulo frontal

Enzima G6PD
Galería del Osario
Esqueleto de Galley Hill
Gamble, Clive
Modelo do Jardim do É den
Gargett, Robert
Geist, Valerius
gemmules
fluxo gênico
“Evidências genéticas e fó sseis para a origem dos seres humanos modernos” (Stinger)
técnica de distâ ncia genética
deriva genética
Engenharia genética
genética. Veja também DNA; cruzamentos; RNA
Variaçã o interna africana e
altruísmo e
Austrá lia e
diversidade cultural e
Denisovanos e
desenvolvimento de
dispersão de seres humanos modernos e
distâ ncia da Á frica e
efeito fundador
evoluçã o futura e
distribuiçã o geográ fica e
evoluçã o humana calibrada através
hibridaçã o e genes arcaicos
idioma e
piolhos e
longevidade e
evoluçã o humana moderna e
mtDNA e
Visã o multirregional e
Neandertais e
tamanho da populaçã o e
Modelo RAO e
características regionais e
gene egoísta e
comutadores genéticos
Genghis Khan
gênero, definido
Gesher Benot Ya'aqov
Gibraltar
glottogonistas
Goodall, Jane
gorilas
fofoca
Caverna de Gough
Stephen Jay Gould
Caverna Goyet
Hipó tese da avó
Gravetos
Esquimó da Groenlâ ndia
Site Grimaldi
aliciamento
Grossman, Sharon
Grotte du Renne
relaçõ es de grupo. Veja também  vida social
identidade e
longevidade e
rituais e
seleçã o de grupo
Tamanho do grupo. Veja também tamanho da populaçã o
Rainer Grü n
Gunz, Philipp
Site Guomde
gyri

Caçadores-coletores de Hadza
Ernst Haeckel
cabelo
plantas alucinó genas
Hamilton, William
Michael Hammer
handaxes
haplogrupos
L3
MeN
Harpending, Henry
Barbara Harrison
Harrison, Tom
Harvati, Katerina
Haua Fteah
Kristen Hawkes
John Hawks
lareiras
Heidelberg Man. Veja também Homo heidelbergensis
Heinrich, Hartmut
Eventos Heinrich
Helicobacter pylori
hematita (ó xido de ferro vermelho)
Henrich, Joe
Henshilwood, Chris
Site Herto
Higham, Tom
Hillson, Simon
proteínas histonas
Resistência ao HIV
HLA (antígeno leucocitá rio humano)
Ho, Simon
Hobbit ( Homo floresiensis , Homem das Flores)
Caverna Hohle Fels
Antecessor Homo (Homem Pioneiro)
Homo erectus
Á frica e
aloparentes e
Á sia e
cérebro
clima e
Dmanisi e
descobertas precoces e
Hobbit e
H. sapiens  vs.
hibridaçã o e
idioma e
Modelo multirregional e
características físicas de
tamanho da populaçã o
Modelo RAO e
estudos síncrotron e
Ferramentas
Homo ergaster
Homo floresiensis
Gênero Homo
Homo georgicus
Homo habilis
Homo heidelbergensis
Á frica e
Á frica e humanos modernos e
Á sia e
Comportamento de
Boxgrove
cérebro
Broken Hill
namoro
Denisovanos e
H. sapiens  e
hibridaçã o e
características físicas
Modelo RAO e
simbolismo e
ferramentas e
Raios-X e
Homo neanderthalensis . Veja Neandertais
Homo rhodesiensis . Veja também Homo heidelbergensis
Homo sapiens . Veja também  Cro-Magnons; cruzamentos; origem humana moderna; Modelo recente de
origem africana; e comportamentos específicos, características culturais e físicas, locais e indústrias e períodos
de ferramentas
idade de, na Á frica
tensõ es climá ticas e substituiçã o de neandertais
tecnologias complexas e, na Á frica
Teoria de cinco linhagens de Coon de
características distintivas de
evoluçã o das novas teorias modernas sobre
primeira entrada na Europa
futuro de
nome do gênero e espécie definido
como apenas espécies humanas
outra espécie humana vs.
separado dos neandertais
partiu de Neanderthal e
Hong Shang
forame horizontal-oval (HO)
Hounsfield, Godfrey
Howell, F. Clark
Howells, William
Setor de Howiesons Poort
Hrdli č ka, Aleš
Sarah Blaffer Hrdy
Jean-Jacques Hublin
Huff, Chad
Hughes, Jennifer
genes da regiã o acelerada humana 1 e 2 (HAR1, HAR2)
Revoluçã o Humana
Espécie humana. Veja também  origem humana moderna; e espécies específicas e teorias de origem
divergência de chi mps
nú mero de
conceitos de espécies e confusã o de
Louph Humphrey
Humphrey, Nicholas
caçadores-coletores
Caçando
Thomas Henry Huxley
hibridaçã o. Veja  cruzamentos
ossos hió ides

Era do Gelo
pilar ilíaco
imaginaçã o
imitaçã o
ritos de iniciaçã o
orelhas internas
discurso interno
inovaçã o
inteligência
intencionalmente
cruzamento (hibridação)
Denisovanos e
Neandertais e
Modelo RAO e
Mapa internacional de hapló tipos
Irish, Joel
Fó sseis de Ishango
anã o da ilha
isó topos
artefatos de marfim
Iwo Eleru

Jacob, Teuku
Jacobi, Roger
Zenobia Jacobs
Japã o
Java Man. Veja também Homo erectus
mandíbulas
Jebel Faya
Jebel Irhoud
Jinniushan site
Jolly, Clifford
Jones, Steve
Jorde, Lynn

Kapthurin, Quênia
Kebara site
Keinan, Alon
Keith, Arthur
Kelly, Raymond
Caverna de Kent
Khoisan (bosquímano)
matando a distâ ncia
King, William
Kingdon, Jonathan
sistemas de parentesco
Cavernas na boca do rio Klasies
Klein, Richard
Knight, Chris
facas
Site Kostenki
Kow Swamp
Krantz, Grover
Krapina site
Kruszynski, Robert
Ksar 'Akil
Kubrick, Stanley
Kuhn, Steven
Kurtén, Bjö rn
Kvavadze, Eliso

La Chapelle-aux-Saints
Cotte de St. Brelade
gene da lactase
Crâ nio de Laetoli H.18. Veja  Ngaloba
La Ferrassie
Lahr, Marta
Laitman, Jeff
Laland, Kevin
Carles Lalueza-Fox
Charla Lambert
marcos
língua
Lapedo Valley
Grande Colisor de Há drons (Genebra)
Pintura em caverna Lascaux
ablaçã o a laser
Idade da Pedra posterior
Leakey, Louis
Leakey, Mary
Leakey, Meave
Leakey, Richard
Aprendendo
Sang-Hee Lee
Site Le Moustier
Lemú ria
gene do receptor de leptina
Caverna de Les Rois
David Lewis-Williams
Caverna de Liang Bua
Libby, Willard
piolhos
Daniel Lieberman
Lieberman, Philip
Linnaeus, Carl
Estatueta Lion Man
Long, Jeffrey
longevidade
"Lucy"
namoro luminescência
Charles Lyell

Maba, China
Inteligê ncia maquiavélica
Abrigo de pedra Magubike
malá ria
Malá sia
mamute
Pessoas Mandenka
forame mandibular
pigmentos de dió xido de manganês
Marean, Curtis
Marillac Neanderthals
recursos marinhos
Martin, Bob
trocas de cô njuges e casamento. Veja também seleçã o sexual
frequência de acasalamento
Mauer
Gene de pigmentaçã o MC1R
McBrearty, Sally
McCown, Theodore
comer carne
Melanesia
Mellars, Paul
memó ria
dos sonhos
mú sica e
religiã o e
trabalhando
Mendel, Gregor
mentalese, definido
metalurgia
Metspalu, Mait
Mezmaiskaya Neanderthal
gene da microcefalina (MCPH1)
microcefalia
microscó pios
microtephra
ossos do ouvido médio
Médio Oriente
Paleolítico Médio
Transiçã o do Paleolítico Superior
Idade da Pedra Média
Transiçõ es posteriores da Idade da Pedra
migraçõ es
Miller, Geoffrey
leitura de mente
minas
Neurô nios espelho
Mithen, Steven
mitocô ndria
"DNA mitocondrial e evoluçã o humana" (Cann, Stoneking e Wilson)
DNA mitocondrial (mtDNA)
Austrá lia e
Denisovan
dispersão da Á frica e
evoluçã o humana calibrada com
hibridaçã o e
piolhos e
neanderthal
RAO e
Eva mitocondrial (mã e de sorte)
origem humana moderna. Veja também  Cro-Magnons; Homo sapiens  ; cruzamentos; Fora da Á frica; Modelo
recente de origem africana; comportamentos específicos, culturas, características físicas e genéticas e locais
Darwin em
fim de debate
distinçã o entre espécies humanas e
cruzamentos e
principais teorias de, anteriores a 1970
Relaçã o neandertal-humana e
Modelo RAO desenvolvido
teoria do centro ú nico
escala de tempo de
seres humanos modernos, futuro de
Abrigo rochoso em Montastruc
James Moore
morfometria
convencional
geométrico
conceito de espécies morfoló gicas
morfologia, diminuindo a diversidade
Morris, Desmond
Morwood, Mike
Modelos "principalmente fora da Á frica"
Neandertais de Moula-Guercy
Mousterians
Modelo de Dispersõ es Mú ltiplas
Modelo multirregional
assimilaçã o e
Hobbit e
Homo sapiens e
Eva mitocondrial e
Mungo 3 e
Modelo RAO vs.
aná lise multivariada
Mungo, lago, enterros
mú sica

Macaco Nu, O (Morris)


Deserto do Namibe
Fó sseis de Narmada
Museu de Histó ria Natural (Londres)
seleçã o natural
Natureza
Site de Nazlet Khater
Modelo de fase neandertal
Neandertais
arte e
comportamento
nascimento e
grupos sanguíneos
cérebro e
enterros
canibalismo e
desenvolvimento infantil e
estresse infantil e
classificaçã o de
clima e
clonagem e
roupas e
continuidade com os seres humanos modernos e
namoro de
Denisovans vs.
dieta
descoberta e nomeaçã o
dispersão de
cã es e
evoluçã o da, na Europa
extinçã o de
genes e genoma
Evento Heinrich e
Forames HO e
Revoluçã o Humana e
separação humana de
caça e
lesõ es e violência
cruzamentos e
modelos intermediá rios e
idioma e
piolhos e
longevidade e
links ausentes
seres humanos modernos vs.
interaçõ es modernas com
novas descobertas
características físicas de
tamanho da populaçã o
substituição de
aprendizagem social e
apoio social e
simbolismo e
estudos síncrotron
dentes
Vulcã o Toba e
ferramentas e
travessia de á gua e
Raios-X de
Esqueleto do vale de Neandro de 1856
Nei, Masatoshi
neocó rtex
neurotransmissores
Ngaloba (crâ nio de Laetoli H.18)
Ngandong
Niah
Niassa Rift
isó topos de nitrogênio
Modelo da Arca de Noé
norte da Á frica
nariz

Site Oase
Site Oberkassel
Lobo occipital
O'Connell, James
Desfiladeiro de Olduvai
Olorgesailie site
Omo Kibish
Sobre a origem das espécies  (Darwin)
Oppenheimer, Stephen
dataçã o por luminescência opticamente estimulada (OSL)
orangotango
Ö tzi (homem do gelo alpino)
Fora da Á frica. Veja também o modelo recente de origem africana
alteraçõ es cerebrais e
dados genéticos e dispersã o
mais do que êxodo ú nico
Genoma neandertal-moderno e
mais modelo de hibridaçã o
Origem africana recente como termo vs.
Fora da Á frica 1 modelo
Philip Oyelaran

Pä ä bo, Svante
Page, David
parasitas
Parfitt, Simon
Lobo parietal
John Parkington
pastores
reconhecimento de padrõ es
Enterros em Paviland
Homem de Pequim
tamanho do pénis
perikymata
Petraglia, Michael
Pettitt, Paul
gene da feniltiocarbamida (PTC)
fonemas
reló gios físicos
métodos físicos de namoro
pigmentos. Veja também tipos específicos
Piltdown Man
Pinker, Steven
Cavernas de Pinnacle Point
Pithecanthropus alalus  , proposto
Pithecanthropus erectus
recursos vegetais
É poca do pleistoceno
período pluvial
poligamia
reaçã o em cadeia da polimerase (PCR)
Má rcia Ponce de Leó n
Cavernas do Rio Ponor
densidade populacional
a cultura e a
tamanho da populaçã o. Veja também demografia
Idade da Pedra do Meio Africano e
a cultura e a
eficaz, definido
evoluçã o futura e
inovaçã o e
mtDNA para rastrear
Cromossomos X e
namoro potá ssio-argô nio
Adam Powell
Caveiras Predmostí
Premo, Luke
Modelo pré- sapiens
descamaçã o por pressã o
Previc, Fred
primatas, nã o humanos. Veja também espécies específicas
aliança e
aloparentes e
cérebro e
descida e
tamanho do grupo e
leitura da mente e
rituais e
esclera de
vergonha e
comportamento social de
armamento de projéteis
gene protocadherin-15
ramo pú bico
pigmeus

Caverna de Qafzeh

categorias raciais. Veja também  características regionais


dataçã o por radiocarbono
AMS
ultrafiltraçã o
Mito da serpente do arco-íris
Ramachandran, Vilayanur
Modelo recente de origem africana (RAO)
Variaçõ es africanas e
Modelo de assimilaçã o vs.
demografia e
desenvolvimento de
estudos genéticos e
Eva mitocondrial e
Modelo multirregionalismo vs.
novos dados e conclusõ es sobre
Site Omo Kibish e
Fora da Á frica como termo vs.
diferenças regionais e
Redding, Richard
ocre vermelho
Reed, David
características regionais
Modelo multirregional e
genética e
Modelo RAO e
Reich, David
namoro relativo
liberaçã o da proximidade
John Relethford
religiã o. Veja também rituais; xamanismo
Modelo de substituiçã o
Projeto RESET
Polimorfismos de comprimento de fragmento de restriçã o
reticulaçã o
Anna Revedin
rinoceronte
Homem Rodesiano. Ver  crâ nio de Broken Hill
Richards, Michael
Richerson, Peter
rituais
RNA (á cido ribonucleico)
Roberts, Bert
Mark Roberts
Caverna de Robin Hood
Robock, Alan
fó sseis de roedores
Rodseth, Lars
Roebroeks, Wil
Rö ntgen, Wilhelm
Rosas, Antonio
Rose, Jeffrey
Roseman, Charles
Roychoudhury, Arun

Sabeti, Pardis
Saccopastore
Saara, esverdeamento de
Sahelanthropus
Saint-Césaire
Crâ nio de salé
gene da amilase salivar
Samra, Lake
San Bushman
Caçadores-coletores de Sandawe
Sangirari
sapropels
Sarich, Vince
Carl Sauer
Marutino Sanz de Sautuola
microscó pio eletrô nico de varredura
limpeza
Schaaffhausen, Hermann
Schö ningen
Schwarcz, Henry
Ciência
Caverna de Scladina
Sclater, Philip
esclera
níveis do mar
Segredos das Raças Perdidas  (Noorbegen)
autoconsciência
egoísmo dos genes
canais semicirculares
de costura
dimorfismo sexual
divisã o sexual do trabalho
seleçã o sexual
xamanismo
vergonha
Caverna Shanidar
Shaw, Thurstan
Shea, John
artefatos de casca. Veja também  contas, concha
marisco
Shennan, Stephen
Osso de Sherborne
sapatos
Pessoas Shoshone
Shylakhter, Ilya
anemia falciforme
Sima de las Palomas
Sima de los Huesos
Singa cranium
polimorfismo de nucleotídeo ú nico (SNP)
seios nasais
esqueleto. Veja também sites específicos
Site Skhul
namoro
cor da pele
crâ nios. Veja também cérebro; braincase; e sites e tipos específicos
coleta de dados em 1971
deriva genética e
novas técnicas para medir
diferenças regionais
Smith, Fred
Smith, Tanya
Hipó tese Social do Cérebro (SBH)
aprendizagem social
demografia e
vida social. Veja também comunicação; língua; e outras atividades específicas
aloparentes e
cérebro e
conflito e
produção de alimentos e
fofocas e aliciamento e
neurô nios-espelho e
mú sica e
religiã o e
redes sociais
estrutura social
suporte social
Soffer, Olga
Cratera de Solfatara
Site a solo
Indú stria Solutraean
Sommer, Jeffrey
espécies definidas
Hipó tese do Espectro
esperma
Técnica SPEX (extensã o de primer ú nico)
Spoor, Fred
Site espião
Sites do Sri Lanka
Projeto está gio 3
Stegodon
Steinheim
estereolitografia
Site Sterkfontein
John Stewart
Setor de Still Bay
Stiner, Mary
Mark Stoneking
isó topos de estrô ncio
sulcos (sulcos)
isó topos de enxofre
Sungir site 105
surfar
Svoboda, Ji ř í
glâ ndulas sudoriparas
Sykes, Bryan
simbolismo. Veja também arte; mú sica; religiã o
Neandertais e
xamanismo e
síncrotron
Systema Naturae (Linneaus)

Site Tabun
Tafforeau, Paul
Gene TAS2R38
Tasmâ nia
habilidades de gosto
tatuagens
Caveira de Taung
Taylor, Timothy
dentes
Boxgrove
Broken Hill
cozinhar e
namoro
Denisovan
Torre do Diabo
linhas de crescimento
H. erectus
Hobbit
linhas diá rias incrementais
longevidade e
migraçõ es e
idade de erupçã o molar
Possibilidade de mistura neandertal-moderna
Neandertais
Oase
Modelo fora da Á frica e

estudos síncrotron
Esqueleto de Tianyaun
como ferramentas
Gruta de Ü ça ğ izli
usar estudos de seriaçã o
dentes animais
Templeton, Alan
osso temporal
Lobo temporal
tephras
Teyssandier, Nicolas
teoria da mente
teriantropos
dataçã o por termoluminescência (TL)
termorregulaçã o
Thomas, Mark
Alan Thorne
pensamento
garganta
Caverna de Tianyuan. Veja  também o site Zhoukoudian
carrapatos
Anne-Marie Tillier
Claudia Timmreck
Sarah Tishkoff
Erupção de Toba
Tomasello, Michael
tomografia
Ferramentas. Veja também indústrias, períodos e sites específicos
adesivos e
macacos e
atlatls
australiano
comportamento e
lâ minas
osso
Arcos e flechas
cérebro e
buracos (gravura)
complexo
composto
demografia e
diversidade e
Dmanisi
raspadores finais
pescaria
flocos
esmerilhamento
martelos
handaxes
Hobbit
Revoluçã o Humana e
caça e
idioma e
pontos da folha
mineraçã o e
comportamento moderno e
Nean derthal
Neandertal vs. Cro-Magnons
agulhas
redes
Oase
pré-aquecimento
cordas
raspadores
pontos de lança
lanças
Tasmâ nia
dentes como
armadilhas e redes
Ü ça ğ izli
armas
de madeira
Museu Torquay
Ilhéus de Torres Straits
Toups, Melissa
elementos transponíveis
anel de á rvore namoro
Erik Tri nkaus
Trivers, Robert
Confiar em
Caverna de Tsodilo Hills
tsunamis
Turner, Christy
Local Twin Rivers
osso timpâ nico

Caverna de Ü ça ğ izli (três bocas)


namoro por ultrafiltraçã o
luz ultravioleta (UV)
Paleolítico Superior
namoro em série de urâ nio (EUA)

Alessandro Vallebona
Bernard Vand ermeersch
Marian Vanhaeran
namoro varves
Estatueta de Vênus, “sem cabeça”
Vindija Neanderthals
violência. Veja também  guerra
visã o
namoro vulcâ nico
inverno vulcâ nico

Wadley, Lyn
Walker, Alan
Wallace, Alfred Russel
guerra
á gua, bebendo
usar seriaçã o
Weaver, Tim
Weidenreich, Franz
Joseph Weiner
Spencer, Wells
Á frica Ocidental
Randall White
Tim branco
Whiten, Andrew
Estudos de DNA de Willandra Lakes
Pamela Willoughby
Allan Wilson
Wolpert, Lewis
Wolpoff, Milford
Arthur Smith Woodward
Wrangham, Richard
pulso
Wu Xinzhi
Wynn, Thomas

Cromossomos X
dispersõ es da Á frica e
Raios X
Xujiayao

Cromossomo Y
Yotova, Vania
Yunxian, Chin

Montanhas Zagros
Caverna Zhiren
Site Zhoukoudian
Zilhã o, Joã o
“ Zinjanthropus  crâ nio”
Zollikofer, Christoph
Zoser, Pharoah
Zwigelaar, Tom

Sobre o autor
Chris Stringer é o autor de O mundo completo da evolução humana, Homo
britannicus , e mais de duzentos livros e artigos sobre o tema da evoluçã o
humana. Um dos principais paleoantropó logos do mundo, ele é pesquisador do
Museu de Histó ria Natural de Londres e membro da Royal Society. Ele tem três
filhos e vive em Sussex e Londres.

A LSO POR C HRIS S TRINGER

Homo britannicus

O mundo completo da evolução humana (com Peter Andrews)

Êxodo Africano (com Robin McKie)

Em Busca dos Neandertais (com Clive Gamble)

Times Books
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Copyright © 2012 por Chris Stringer


Todos os direitos reservados.

Originalmente publicado no Reino Unido em 2011 por Allen Lane como The Origin of Our Species

Dados de Catalogaçã o na Publicaçã o da Biblioteca do Congresso

Stringer, Chris, 1947–


Sobreviventes solitá rios: como nos tornamos os ú nicos humanos na terra / Chris Stringer.
p. cm.
Inclui índice.
ISBN 978-0-8050-8891-5
1. Seres humanos - Origem. 2. evolução humana. I. Título.
GN281.L65 2012
599.93'8 - dc23 2011030434
 
Primeira ediçã o nos EUA de 2012

eISBN 978-1-4299-7344-1

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