Você está na página 1de 2

CACD – SEGUNDA FASE – PROVA ESCRITA DE LÍNGUA PORTUGUESA

CACD – SEGUNDA FASE – PROVA ESCRITA DE LÍNGUA PORTUGUESA

REDAÇÃO – TEMA 1 (DE 600 A 650 PALAVRAS)

Texto 1

Romance XXVIII ou da denúncia de Joaquim Silvério

[...] Vede como está contente,


pelos horrores escritos,
esse impostor caloteiro
que em tremendos labirintos
prende os homens indefesos
e beija os pés aos ministros!
As terras de que era dono
valiam mais que um ducado.
Com presentes e lisonjas,
arrematava contratos.
E delatar um levante
pode dar lucro bem alto!

Romance XLIV ou da testemunha falsa

[...] Que importa quanto se diga?


Para livrar-me de algemas,
da sombra do calabouço,
dos escrivães e das penas,
do baraço e do pregão,
a meu pai acusaria.

Cecília Meireles. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1986


Texto 2

Alguns tribunais oferecem a impunidade àquele cúmplice de delito grave que


denuncie seus companheiros. Tal expediente tem seus inconvenientes e suas
vantagens. Os inconvenientes são que a nação autoriza a traição, detestável
mesmo entre os celerados, porque não menos fatais a uma nação os delitos de

1
www.grancursosonline.com.br
CACD – SEGUNDA FASE – PROVA ESCRITA DE LÍNGUA PORTUGUESA

coragem que os de vileza: porque a coragem não é frequente, já que só espera


uma força benéfica e diretriz que faça concorrer ao bem público, enquanto a
vileza é mais comum e contagiosa, e sempre mais se concentra em si mesma.
Ademais o tribunal revela a sua própria incerteza, a fraqueza da lei, que implora
ajuda de quem a ofende.

(…) BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Trad. Lucia Giudicini, Alessandro Berti Con-
tessa. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

Texto 3

Há uma justificativa profunda para a delação premiada (desde que empre-


gada sem abuso): ela quebra a falsa “ética” do crime (uma “ética” essencialmente
antiética), que se resume à lealdade irracional entre bandidos. Essa lealdade se
funda no medo, não na virtude. Não é por ser virtuoso que os criminosos não
se delatam jamais – é por medo de morrer. Os corruptos notórios que posam de
heróis impolutos só porque “não entregam” ninguém não calam por virtude, mas
por medo pusilânime. Nesse quadro, o que a “delação premiada” consegue fazer
é dissolver essa “ética” do crime. Se o ladrão “leal” só é leal porque tem medo,
nada mais ético do que levá-lo a colaborar com a Justiça democrática por uma
motivação tão mesquinha quanto o medo: o interesse de ter a pena abrandada.

(Eugênio Bucci, Revista Veja, 20/4/2015)

Com base na leitura dos textos acima, de caráter motivador, discorra sobre
o instituto da delação premiada, das relações e dos valores éticos nele en-
volvidos.

EXERCÍCIO – TEMA 1 (de 120 a 150 palavras)

As redes sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anterior-


mente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à
coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora
eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel.

(Umberto Eco, após uma cerimônia na Universidade de Turim, 2015)

Comente a citação acima, indicando se concorda com as ponderações nela


contidas, e discorra sobre o papel das redes sociais.

2
www.grancursosonline.com.br

Você também pode gostar