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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM

CONTABILIDADE E AUDITORIA

2º Ano

Disciplina: DIREITO FISCAL


Código: ISCED21-CJURCFE036

Total Horas/1o Semestre: 125


Créditos (SNATCA): 5
Número de Temas:

INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA-


ISCED
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e


contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação,
fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências
e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais


em vigor no País.

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)


Direcção Académica
Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa
Beira - Moçambique
Telefone: +258 23 323501
Cel: +258 82 3055839

Fax: 23323501
E-mail: isced@isced.ac.mz
Website: www.isced.ac.mz

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos


seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Autor dr. Ésio Cebola Alguineiro Magaio, Mestre em Ciências Jurídicas


Público Forense

Coordenação Direcção Académica do ISCED

Design Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED)

Ano de Publicação 2016

Local de Publicação ISCED – BEIRA

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Índice

VISÃO GERAL ....................................................................................................................... 1

BENVINDO À DISCIPLINA/MÓDULO DE DIREITO FISCAL .................................................................................1


OBJECTIVOS DO MÓDULO ...........................................................................................................................1
QUEM DEVERIA ESTUDAR ESTE MÓDULO ........................................................................................................1
COMO ESTÁ ESTRUTURADO ESTE MÓDULO ....................................................................................................2
ÍCONES DE ACTIVIDADE .................................................................................................................................4
HABILIDADES DE ESTUDO ...............................................................................................................................4
PRECISA DE APOIO? ......................................................................................................................................6
TAREFAS (AVALIAÇÃO E AUTO-AVALIAÇÃO) ..................................................................................................7
AVALIAÇÃO ..................................................................................................................................................8

TEMA I – INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11

UNIDADE TEMÁTICA: 1.1 INTRODUÇÃO, ÂMBITO E CONTEÚDO DO DIREITO FISCAL ................................ 11


UNIDADE TEMÁTICA: 1.2. ACTIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO ............................................................. 12
UNIDADE TEMÁTICA: 1.3 NATUREZA E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO FISCAL .......................................... 15
UNIDADE TEMÁTICA: 1.4 RELAÇÕES DO DIREITO FISCAL COM OUTROS RAMOS DO DIREITO ................... 17
UNIDADE TEMÁTICA: 1.5 ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA .................... 21

TEMA II – PRINCIPAIS FIGURAS TRIBUTÁRIAS .................................................................. 26

UNIDADE TEMÁTICA: 2.1. O CONCEITO DE IMPOSTO, OBJECTIVOS E SUAS FASES ................................. 26


UNIDADE TEMÁTICA: 2.2. DISTINÇÃO ENTRE IMPOSTO E TAXA ................................................................ 31
UNIDADE TEMÁTICA: 2.3. CLASSIFICAÇÃO DOS IMPOSTOS ..................................................................... 32
UNIDADE TEMÁTICA: 2.4 NOÇÃO DO DIREITO FISCAL OU TRIBUTÁRIO ................................................... 36

TEMA III – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO FISCAL ........................................... 38

UNIDADE TEMÁTICA: 3.1 FONTES DO DIREITO FISCAL ............................................................................. 38


UNIDADE TEMÁTICA: 3.2 EVOLUÇÃO DO DIREITO FISCAL ....................................................................... 41
UNIDADE TEMÁTICA: 3.3 AUTONOMIA DO DIREITO FISCAL ..................................................................... 46
UNIDADE TEMÁTICA: 3.4. PRINCÍPIOS DO DIREITO FISCAL....................................................................... 49
UNIDADE TEMÁTICA: 3.5 NORMAS FISCAIS ............................................................................................ 51
UNIDADE TEMÁTICA: 3.6 SOBERANIA DO DIREITO FISCAL ....................................................................... 54

TEMA IV – INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO DO DIREITO FISCAL ..................................... 58

UNIDADE TEMÁTICA: 4.1 A INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICO-FISCAIS .......................................... 58

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UNIDADE TEMÁTICA: 4.2 A INTEGRAÇÃO DAS LACUNAS DO DIREITO FISCAL .......................................... 61


UNIDADE TEMÁTICA: 4.3 APLICAÇÃO DA LEI FISCAL NO ESPAÇO E NO TEMPO ....................................... 62

TEMA V – A RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL .......................................................................... 66

UNIDADE TEMÁTICA: 5.1. PRESSUPOSTO DA RELAÇÃO DO IMPOSTO ...................................................... 66


UNIDADE TEMÁTICA: 5.2 OBJECTO DA RELAÇÃO JURÍDICA ..................................................................... 67
UNIDADE TEMÁTICA: 5.3 SUJEITOS DA RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL .......................................................... 69

TEMA VI – FACTO EXTINTIVO DA RELAÇÃO JURÍDICA .................................................... 79

UNIDADE TEMÁTICA: 6.1. CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO FISCAL ......................................................... 79


UNIDADE TEMÁTICA: 6.2 DAÇÃO EM CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO FISCAL ........................................ 80
UNIDADE TEMÁTICA: 6.3 PRESCRIÇÃO DA OBRIGAÇÃO FISCAL .............................................................. 80

TEMA VII – GARANTIAS GERAIS E MEIOS DE DEFESA DO CONTRIBUINTE ...................... 82

UNIDADE TEMÁTICA:7.1. GARANTIAS DO CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO FISCAL ................................. 82


UNIDADE TEMÁTICA: 7.2. GARANTIAS DOS CONTRIBUINTES ................................................................... 83

TEMA VIII – IMPOSTOS DO SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL ......................................... 92

UNIDADE TEMÁTICA: 8.1. IMPOSTOS NACIONAIS ................................................................................... 92


UNIDADE TEMÁTICA: 8.2. IMPOSTOS AUTÁRQUICOS ........................................................................... 105
UNIDADE TEMÁTICA: 8.3. OUTROS IMPOSTOS .................................................................................... 108

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA ....................................................................................... 119

LISTA DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA RELEVANTE ............................................................ 121

GLOSSÁRIO ...................................................................................................................... 120

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Visão geral

Benvindo à Disciplina/Módulo de Direito Fiscal

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Direito Fiscal deverá ser


capaz de: Conhecer a natureza do Direito Fiscal no Geral e em
particular o Sistema Fiscal Moçambicano, o conceito do imposto e sua
utilidade/contributo para as Finanças Públicas.

 Definir Direito Fiscal e sua ligação com outros ramos da Ciência.

 Fazer um breve percurso histórico da disciplina.

 Conhecer as diferentes fases e classificação dos Impostos;


Objectivos
 Conhecer os processos de orientação do feedback.
Específicos
 Saber Interpretar o Sistema Fiscal Moçambicano.

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de


licenciatura em Direito Fiscal do ISCED e outros como Contabilidade
e Finanças Públicas, etc. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores
que queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa
disciplina, esses serão bem-vindos, não sendo necessário para tal se
inscrever. Mas poderá adquirir o manual.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Direito Fiscal, para estudantes do 1º ano do curso de


licenciatura em Direito, à semelhança dos restantes do ISCED, está
estruturado como se segue:

Páginas introdutórias

 Um índice completo.

 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo


os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor
estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com
atenção antes de começar o seu estudo, como componente de
habilidades de estudos.

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.

No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são


incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.

Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros


exercícios teóricos/práticos. Problemas não resolvidos e actividades
algumas práticas incluído estudo de caso.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Outros recursos

A equipa dos académico a e pedagogos do ISCED, pensando em si,


num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de
dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta
uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você
explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro
de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso
como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para elem deste
material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter
acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as
possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios
que mostram apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação


mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e
subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do
módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de
avaliação é uma grande vantagem.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
Pedagógica, etc., sobre como deveriam ser ou estar apresentadas.
Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de confiança,
classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens
das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do
processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica
de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de
actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados
apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é
importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos
algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa
rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se
segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e


assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou


as de estudo de caso se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana?
Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!?
Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto
da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar
que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente. Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-
se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o
intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das
actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Porque o estudante acumula um elevado volume

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando


interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim
ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança,
depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de
alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto
tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem
o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar
a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está
a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens,
definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para
colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor
altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do
texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário
sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe
é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como
falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou
invertidas, etc.). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms,


E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a
preocupação.

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes


(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante –
CR, etc.

As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante,


tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com
tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigitada para
acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode
apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou
administrativa.

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%


do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em
que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com
relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa
de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de
debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos,
constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não


cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da


disciplina/módulo.

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os


mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,


contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.

O plágio1 é uma violação do direito intelectual do (s) autor (és). Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor,
sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade científica
e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a realização
dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.

Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com


um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de
avaliação.

Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e


aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.

Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e


decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária,
propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,


determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)


trabalhos e 1 (um) (exame).

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados


como ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em


consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações,
a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito
pelos direitos do autor, entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de


Avaliação.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

TEMA I – INTRODUÇÃO AO DIREITO FISCAL


UNIDADE Temática: 1.1 Introdução, Âmbito e Conteúdo do Direito
Fiscal

UNIDADE Temática: 1.2 Actividade Financeira do Estado

UNIDADE Temática 1.3 Natureza e Características do Direito Fiscal

UNIDADE Temática 1.4 Relações do Direito Fiscal com os outros ramos


do Direito

UNIDADE Temática 1.5 Organização dos Serviços da Administração


Tributária

UNIDADE Temática: 1.1 Introdução, Âmbito e Conteúdo do Direito Fiscal

1. INTRODUÇÃO

Para a satisfação das necessidades públicas, o Estado (representante


de todo e qualquer cidadão) deve possuir uma fonte de financiamento
sustentável das suas actividades, através de receitas, tradicionalmente
provenientes da cobrança de impostos (prestações compulsivas,
pecuniárias ou em espécie) que podem revestir a natureza de impostos
ou de taxas, ou da venda e exploração de bens do património público
(receitas patrimoniais).

Dentre as necessidades publicas, destacam-se a construção de infra-


estruturas imprescindíveis para a sobrevivência de todos nos,
nomeadamente, estradas, pontes, escolas, pontes, escolas, hospitais,
serviços básicos de electricidade, águas, saneamento básico a
assistência medica e medicamentosa, edificando uma sociedade mais
justa e solidaria, construída com base na contribuição de todos, e na
qual, cada contribuição, por mínima que seja, desde que a medida
da capacidade contributiva de cada um, é importante e concorre
para o crescimento e desenvolvimento de Moçambique.

Estas noções básicas de Direito Fiscal, como o direito dos impostos, são
elaboradas no pressuposto de que há o
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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

domínio de conhecimentos mínimos relativos a Finanças Públicas e


Direito Financeiro.

De todo o modo, por cautela, vale a pena recapitular algumas nações


que são importantes para o melhor domínio desta cadeira.

No Direito Fiscal, como já se disse, em termos largos, integram-se as


normas relativas à incidência e ao procedimento fiscal, isto é, as que
disciplinam organizacional e procedimentalmente o lançamento, a
liquidação e a cobrança dos impostos.

Não fica aqui esgotado o âmbito do Direito Fiscal, abrangendo-se


nele as normas respeitantes aos recursos administrativos e as normas
de fiscalização de que despontam as relativas à inspecção tributária
e as que se integram no Direito Penal e Contra-Ordenacional Fiscal,
no Direito Processual Penal e no Direito Processual Fiscal (normas
relativas às garantias contenciosas dos contribuintes e de disciplina do
processo de impugnação judicial) e no Direito Processual Executivo
Fiscal que regula a execução fiscal, isto é, integra as normas relativas
às garantias do Estado, enquanto credor do imposto.

UNIDADE Temática: 1.2. Actividade Financeira do Estado

A actividade financeira pode ser exercida por entres públicos ou


privados.

As entidades públicas, máxime Estado, autarquias ou pessoas


colectivas de direito público, são as que exercem actividades
tendentes a satisfazer as necessidades públicas. A satisfação de
muitas outras necessidades humanas pertencentes à actividade
económica privada.

A actividade financeira pública é complexa, heterogenia e tem


especificidades advindas da circunstância e das necessidades que
visam suprir não se situarem no plano de livres opções, nem obedecem
às pressões do mercado que requer o equilíbrio entre o custo e a
utilidade económica dos bens e serviços.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Tal actividade é constituída por fenómenos que se situam no plano da


obtenção e emprego de meios económicos e determinada por uma
vontade política legítima, para a prossecução de resultados políticos,
é de natureza pública2.

A actividade financeira, ou, dito doutro modo, as finanças públicas,


são reguladas por um complexo de normas jurídicas que constituem
um ramo de Direito – O Direito Financeiro.

O Direito Financeiro, baseado numa ideia de limitação de poderes


das entidades públicas, constituí uma ”definição jurídica dos poderes
das entidades públicas na obtenção e no emprego dos meios económicos
destinados à realização dos seus fins”3E define um equilíbrio entre os
interesses patrimoniais do Estado e os dos particulares.

O Direito Financeiro abrange as receitas públicas, as despesas


públicas e a sua articulação, e dele são excluídas as receitas de
origem privada, cujas relações jurídicas são de outros ramos de
Direito.

O Direito Financeiro ou, mais rigorosamente, o Direito Financeiro


Público, que tem em vista também acautelar os interesses dos
particulares por regular a obtenção, a gestão e o dispêndio dos meios
financeiros públicos, com a sua heterogeneidade normativa
compreende as seguintes áreas ou ramos:

a) - O Direito das Receitas;


b) - O Direito das Despesas; e
c) - O Direito da Administração ou de Gestão Financeira ou da
Administração Fazendária.

O domínio mais unificado do Direito da Administração Financeira é


constituído pelo Direito Orçamental ou Orçamentária ou Direito da
Contabilidade Pública, que deve ser considerado um sub-ramo do
Direito Administrativo.

2
SOARES MARTINEZ, Direito Fiscal, Almedina, Coimbra, 1993, p4
3
SOARES MARTINEZ, ob. Cit, p. 6.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Estes ramos, por sua vez, admitem divisões, interessando mais para o
nosso estudo as divisões relativas ao direito das receitas onde ganham
espaço, o Direito dos Impostos, o Direito Tributário ou o Direito Fiscal.

O Direito Tributário trata precisamente das receitas coactivas, na qual


se destaca o Direito Fiscal, que é relativo ao mais importante sector
das receitas coercivas, de carácter unilateral, que são os impostos.

O Direito Fiscal seria, assim, um conjunto de normas que reflectem a


incidência, o lançamento, a liquidação e a cobrança dos impostos.

Vêm estas distinções a propósitos de que nesta disciplina não se cuida


do direito dos outros tributos – os bilaterais, reconduzíveis a figuras
da taxa, que encaixam em esquadria jurídica diferente dos impostos
e, ainda, porque nela trataremos dos impostos ou outras figuras
jurídicas que possam ser tratados como impostos, independentemente
da norma ou configuração que tenham.

Naturalmente que a fiscalidade pode ser entendida como conjunto de


fenómenos económico-financeiros disciplinados por normas jurídicas
que, como tal, seria objecto da Ciência das Finanças, por um lado, e
do Direito Fiscal, por outro.

Não há um conhecimento unitário do fenómeno fiscal participado dos


métodos jurídico, económico-financeiro, sociológico e político que
possa legitimar ou falar-se de ciência da fiscalidade4.

De todo modo, antecipamo-nos, por economia de palavras e


comodidade de exposição, a dizer que falar-se-á indistintamente de
Direito Fiscal ou Direito Tributário ou simplesmente Fiscalidade para
designar esta cadeira.

Estamos a falar de pacto uma vez que é controvertida a semelhança


entre o Direito Fiscal e o Direito Tributário.

4
Gomes, Nuno de Sá, Os sujeitos passivos da obrigação tributária, Revista de
Ciência e Técnica Fiscal, nºs 196/198, Abril – Junho de 1975.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

UNIDADE Temática: 1.3 Natureza e Características do Direito Fiscal

1.3.1. Natureza do Direito Fiscal

O Direito Fiscal tem natureza institucional, as suas normas não se


integram no Direito Comum, cuja disciplina é genérica, comum às mais
diversas instituições. Visam, pelo contrário, disciplinar certos tipos de
relações, constituídas na base das instituições tributárias, as quais
encontram a sua origem na ideia-força, enraizada no seu meio social,
da necessidade da contribuição dos patrimónios dos particulares para
a sustentação da comunidade. Dir-se-á mesmo que essa raiz
institucional dá unidade ao Direito Fiscal, através do sentido
teleológico das suas normas, o qual provém daquela mesma raiz.

No entanto, o Direito Fiscal, será o sistema de normas jurídicas que


disciplinam as relações de imposto e definem os meios e os processos
pelos quais se realizam os direitos emergentes daquelas relações.

O Sistema Fiscal Moçambicano encontra sua constitucionalidade no


art. 127º/1 Constituição da República de Moçambique (CRM), na qual
visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado, e demais
entidades públicas, realizar os objectivos da política económica do
Estado e garantir uma justa repartição dos rendimentos e da riqueza.
Estabelecendo que os impostos são criados ou alterados por lei, que
determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos
contribuintes.

No mesmo artigo, se determina que, ninguém pode ser obrigado a


pagar impostos que não tenham sido criados nos termos da
Constituição e cuja liquidação e cobrança não se façam nos termos da
lei. Ressalva também que, no mesmo exercício financeiro, não pode
ser alargada a base de incidência nem agravadas as taxas de
impostos e que a lei fiscal não tem efeito retroactivo, salvo se for de
conteúdo mais favorável ao contribuinte.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

1.3.2. Características do Direito Fiscal

O Direito Fiscal é uma ciência jurídica de normatividade que encerra


o fenómeno fiscal como realidade social deontológica e não social
fáctica.

As regras do Direito Fiscal têm as características gerais das normas


jurídicas, de generalidade, de abstracção, de hipoteticidade, de
heteronomia e de imperatividade.

A natureza institucional do Direito Fiscal leva a que as suas normas


não se integrem do Direito Comum mas que disciplinem certos tipos de
relações as quais encontram a sua origem, como atrás já dissemos, na
ideia-força enraizada nas comunidades, da necessidade da
contribuição dos patrimónios dos particulares para a sustentação da
comunidade.

O sentido teleológico das normas do Direito Fiscal leva a que, às


vezes, pareça que este ramo se desvia dos restantes ramos do saber
jurídico.

Apesar de, como mais à frente se verá, estar numa relação forte com
outras disciplinas jurídicas sem as quais seria penoso estudá-lo, não
poucas vezes, desconsidera os conceitos já neles consagrados.

O Direito Fiscal, como sub-ramo do Direito Financeiro e do Direito


Tributário, adopta muitas das suas normas e conceitos.

O Direito Fiscal absorve os conceitos com um sentido diferente do que


tem em Direito Privado ou outros ramos de Direito e procede à sua
reelaboração atribuindo-lhes sentido próprio ou específico com o qual
melhor os adopta aos seus próprios interesse e objectivos; isto tudo é
corolário, aliás, da ideia de que ao Direito Fiscal interessa sobretudo
o aspecto económico das situações, independentemente da sua
validade ou regularidade formal.

16
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Por estas razões também se chama a este Direito de Direito de


sobreposição5.

UNIDADE Temática: 1.4 Relações do Direito Fiscal com outros Ramos do


Direito

1.4.1. Direito Fiscal, ciência fiscal e ciência técnica fiscal

Segundo o prof. Nuno Sá Gomes, na sua obra Manual de Direito Fiscal


– volume I-explica que “enquanto disciplina jurídica, o Direito Fiscal é
uma ciência de normatividade pois o seu objecto está nas normas
jurídico-fiscal, pelo que encara o fenómeno fiscal não como uma
realidade social deontológica, mas sim como dever abstracto que tem
o sentido de um dever efectivo”. Trata-se portanto, de um ramo de
direito que integra regras que assumem todas as características das
normas jurídicas em geral, isto é, generalidade, abstracção,
hipoteticidade, heteronomia e imperatividade.

Por sua vez, a ciência fiscal é um aspecto da ciência das finanças, que
encara, portanto, o fenómeno fiscal, o imposto, numa óptica
económica, como ingresso público, enquanto fenómeno social fáctico e
não já normativo, procurando determinar regularidades económico-
financeiras entre os fenómenos estudados de forma a poder enunciar
as Leis que a eles presidem.

Porém, a doutrina dos anos 50, em França começou a falar em


Ciências e Técnica Fiscal, não como um ramo ou um aspecto das
Finanças públicas, mas antes como nova estruturação do saber teórico
da fiscalidade.

1.4.2. Direito Fiscal e o Direito Constitucional

O Direito Fiscal subordina-se, tal como todas as normas de outros


ramos de Direito, às regras constantes do direito constitucional e

5
Lopes Pereira, J. F. Lemos e Cardoso Mota, AM, Teoria e Técnica dos Impostos,
21ª edição, Rei dos Livros, Lisboa, 1997, pg. 14.

17
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

inerente ao Estado de Direito e que são constituídas por princípios que


se impõem ao próprio legislador. Trata-se de princípios da
constituição matéria do Estado de Direito que estudaremos a propósito
das fontes do Direito Fiscal. É o que sucede, por exemplo, com a
igualdade jurídica dos cidadãos, de resto consagrado no artigo 35
da Constituição da República de Moçambique.

Mas o próprio texto Constitucional conte normas de natureza fiscal


que a doutrina designa de constituição fiscal, como sucede com as
normas constantes do artigo 127 da CRM.

1.4.3. Direito Fiscal e o Direito Administrativo

Ainda que se reconheça a autonomia destes dois ramos de Direito, as


relações entre si são bem íntimas. De facto, todas as actividades de
lançamento, liquidação e cobrança dos impostos seguem um processo
administrativo, que é conduzido por órgãos da Administração Pública.

1.4.4. Direito Fiscal e o Direito Privado

O Direito Fiscal, algumas das vezes, acolhe conceitos de direito


privado, com o sentido técnico-jurídico que aí possuem. É o caso do
conceito de obrigação: as regras da relação jurídica obrigacional do
Estado-contribuinte, são as regras da obrigação do direito privado.

Outras vezes, conceitos com um sentido próprio em direito privado são


utilizados pelo direito fiscal noutro sentido. E no privado são utilizados
pelo direito fiscal noutro sentido. É o que sucede por exemplo com o
conceito de transmissão (da propriedade) de prédio, proprietário,
comercio etc.

1.4.5. Direito Fiscal e o Direito Internacional

A integração da economia numa zona mais vasta do que o território


nacional, tem também incidências no
18
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

campo fiscal. Esta circunstância levou ao estabelecimento de relações


jurídicas entre os Estados, para evitar nomeadamente que a mesma
situação seja tributada em mais de um deles ou em nenhum.

O Governo de Moçambique tem vindo a celebrar, com diversos


países, convecções para evitar estes fenómenos da dupla tributação
e evasão fiscal internacional.

Fazendo uma análise breve do que seja a dupla tributação diríamos


que, do ponto de vista relativo da carga fiscal, este fenómeno existe
sempre que os impostos de dois ou vários países se sobrepõem, de tal
maneira que a pessoa tributável em mais de um país tenha de
suportar uma carga fiscal mais elevada do que aquela a que estaria
sujeita apenas a uma jurisdição fiscal. Há também dupla tributação
quando um mesmo rendimento é tributado em mais do que um país.

Os objectivos dos acordos para evitar a dupla tributação consistem


em servir interesses dos países outorgantes, não sendo, contudo, os
mesmos nos países desenvolvidos e nos países em vias de
desenvolvimento.

Para os países desenvolvidos por exemplo, o acordo para evitar a


dupla tributação serve para privilegiar as suas empresas e técnicas
pelo facto de permitirem a aplicação dos seus capitais e da sua
tecnologia em outros países. Por esta razão estes países defendem o
princípio de que a tributação do rendimento deve ser feita
prioritariamente no país de origem da empresa ou dos técnicos.

Os países em via de desenvolvimento por seu lado vêem nos acordos


de dupla tributação uma forma de incentivar o investimento
estrangeiro na medida em que estes acordos permitem fazer com que
o investidor seja tributado apenas num dos países. Contudo estes
países em via de desenvolvimento defendem que a forma de evitar a
dupla tributação é a de permitir a tributação prioritariamente no país
onde estes rendimentos são produzidos, argumentando que o país
exportador do capital e tecnologia beneficia já de importação dos
dividendos e dos royalties.

19
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

No caso particular do nosso país esta preocupação de dupla


tributação internacional tem vindo a ser manifestada por diversas
empresas pois apesar de alguns países, mesmo sem acordo, tomarem

em consideração a carga fiscal nos países de origem do rendimento


em consideração a carga fiscal suportada nos países de origem do
rendimento outra há em que tal consideração não é feita sem os
referidos acordos.

Se uma dada empresa tiver uma mesma possibilidade de investimento


em dois países e se houver com um desses países um acordo para
evitar a dupla tributação, logicamente que a opção deste investidor
será a de investir neste país.

Ainda no nosso caso a ausência de um acordo para evitar a dupla


tributação fiscal sobre o rendimento anula sobremaneira os incentivos
fiscais concedido no quadro de investimento directo estrangeiro, pois
a estes investidores e concedida uma isenção fiscal no nosso pais mas,
o mesmo rendimento aqui isento de tributação e integralmente
tributado no país de origem, o que significa na prática que, os recursos
financeiros que o Tesouro Publico Moçambicano abdica pela via de
isenção são transferidos para o tesouro daqueles países.

1.4.6. Direito Fiscal e o Direito Criminal

O não cumprimento das obrigações fiscais esta sujeito a sanções. Em


todos os códigos de impostos existe um capítulo relativo às
penalidades no qual se estabelecem as respectivas punições e as
regras de procedimentos.

Em alguns países admitem-se penas de prisão nas transgressões fiscais


e, quando tal acontece, a relação do Direito Fiscal com o Direito
Criminal geralmente é bastante forte pois aplicam-se por remissão ou
por transgressão, as mesmas regras.

No nosso caso, as dívidas fiscais até Dezembro/2002 não são


convertíveis em prisão. Contudo, a reforma fiscal introduzida pela Lei

20
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

15/20026, estabelece a possibilidade de certas infracções fiscais


poderem vir a ser consideradas crimes puníveis com a pena de prisão.

No entanto, as normas fiscais impõem, logicamente, o cumprimento de


certos deveres. Tais deveres podem consistir:

a) Numa acção (por exemplo a representação de uma


declaração fiscal);

b) Ou numa omissão (por exemplo a não escrituração de um


livro obrigatório).

Pelo incumprimento, as mesmas leis conferem à administração poderes


para imporem sanções que tem por regra, carácter pecuniário.

As referidas normas são aplicáveis subsidiariamente:

 As normas do Código Penal, do Código do Processo Penal e


demais legislação complementar pertinente às infracções
tributárias;
 As disposições do Código Civil e legislação complementar
pertinente relativamente à responsabilidade civil;
 As normas previstas na legislação criminal e tributária na
execução das multas.

UNIDADE Temática: 1.5 Organização dos Serviços da Administração Tributária

1.5. Organização dos Serviços da Administração Tributária

Pela Lei n.º 1/2006, de 22 de Março, foi instituída a Autoridade


Tributária de Moçambique (ATM), tendo por objectivos “assegurar a
eficácia, a eficiência e a equidade na aplicação das políticas
tributária e aduaneira do País, garantindo uma maior comodidade
para os contribuintes no cumprimento das obrigações fiscais e criando

6
Aprovado pelo Decreto 46/2002, de 26 de Dezembro.

21
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

uma maior capacidade de detecção sobre o incumprimento e evasão


fiscal.”

Nos termos do artigo 9 do respectivo Estatuto Orgânico, aprovado


pelo Decreto n.º 29/2006, de 30 de Agosto, a Autoridade Tributária
de Moçambique tem a seguinte estrutura orgânica:

a) Direcção-Geral das Alfândegas;

b) Direcção-Geral de Impostos;

c) Direcção-Geral dos Serviços Comuns;

d) Gabinete de Planeamento, Estudos e Cooperação


Internacional;

e) Gabinete de Controlo Interno;

f) Gabinete de Comunicação e Imagem.

O artigo 10 da Lei nº 1/2006, de 22 de Março, prevê também a


existência de um Conselho da Fiscalidade, como órgão de consulta da
ATM, com a missão de “analisar e acompanhar a evolução do sistema
fiscal e das políticas tributárias, com vista a que se mantenham como
instrumento decisivo de justiça social”. O Conselho da Fiscalidade é
presidido pelo Presidente da ATM, integrando como membros
permanentes:

a) O Director-Geral das Alfândegas;


b) O Director-Geral de Impostos;
c) O Director-Geral dos Serviços Comuns;
d) Os outros Directores-Gerais da Autoridade Tributária;
e) Três representantes das associações empresariais;
f) Peritos de reconhecido mérito, designados pelo Presidente da
Autoridade Tributária.

No que respeita especificamente à Direcção-Geral de Impostos (DGI),


a mesma tem por função (artigo 15 do Estatuto Orgânico da ATM) a
implementação da política e legislação tributária, e de todas as

22
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

acções de controlo e fiscalização necessárias à prossecução das suas


competências, e integra as seguintes unidades orgânicas:

a) Direcção de Controlo de Cobrança, Reembolsos e Benefícios


Fiscais;
b) Direcção de Auditoria, Fiscalização e Investigação;
c) Direcção de Normação Tributária;
d) Direcção do Contencioso Tributário.

1.5.1. São competências da DGI:

 Assegurar a arrecadação de impostos e de outras receitas do


Estado cuja cobrança lhe seja cometida;
 Executar a política tributária e realizar uma avaliação
contínua da sua repercussão na ordem financeira, económica
e social;
 Controlar a aplicação das leis fiscais e a reintegração ou
defesa dos respectivos interesses violados;
 Prevenir e combater a fraude e evasão fiscais;
 Assegurar o lançamento, a liquidação e a cobrança dos
impostos cuja arrecadação esteja a seu cargo, e proceder à
avaliação dos níveis de cobrança;
 Exercer a acção de informação pública no domínio tributário;
 Promover e realizar acções de auditoria e fiscalização
tributária com vista à prevenção e combate à fraude e evasão
fiscais;
 Acompanhar e monitorar a execução dos benefícios fiscais e
proceder à determinação e controlo da respectiva despesa
fiscal;
 Prestar esclarecimentos aos contribuintes acerca da
interpretação das leis fiscais, suas obrigações e o modo mais
cómodo e seguro de as cumprir;
 Colaborar na elaboração das propostas de medidas de
política e alterações à legislação no âmbito da sua actividade;

23
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Informar sobre os aspectos decorrentes da execução das leis


fiscais;
 Manter o registo actualizado dos contribuintes.

Territorialmente, e no que respeita à organização dos serviços da


administração tributária, o País encontra-se dividido em áreas fiscais,
agrupando em regra cada uma delas a área de diversos distritos,
com excepção da cidade de Maputo, a qual se encontra dividida em
duas áreas (designadas de Bairros Fiscais).

A cada uma dessas áreas fiscais corresponde uma Direcção de Área


Fiscal (antigas repartições de Finanças) e junto de cada uma destas
funciona também o respectivo Juízo das Execuções Fiscais, com a
excepção uma vez mais da Cidade de Maputo, na qual funciona um
único Juízo, agrupando as áreas dos dois Bairros Fiscais.

As Direcções de Área Fiscal representam o elo de ligação principal


dos contribuintes com os serviços da administração tributária, junto
delas tendo lugar o cumprimento das respectivas obrigações
(declarativas e outras).

De referir que os órgãos da Administração Tributaria têm as


obrigações que abaixo se alistam:

a) Observar a Constituição e demais normas tributárias;


b) Participar na execução da política tributária nacional;
c) Proceder ao registo tributário dos contribuintes e fiscalizar a
liquidação e pagamento dos tributos;
d) Organizar informações estatísticas respeitantes a receitas e
despesas tributárias;
e) Aplicar tempestivamente penas de juros, multas ou coimas;
f) Realizar inspecções em consonância com as leis tributárias em
vigor; e
g) Emitir instruções e circulares em assuntos da sua competência.

24
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

EXERCÍCIOS

1) Deia o conceito do Direito Fiscal e o diferencie do Direito Financeiro.

2) Que relação existe entre o direito fiscal e o direito tributário?

3) O direito fiscal é comummente designado por direito dos impostos. Qual é a razão
desta designação?

4) Aborde de forma desenvolvida em torno da relação que se pode estabelecer entre


o Direito Fiscal e o Direito Administrativo.

25
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

TEMA II – PRINCIPAIS FIGURAS TRIBUTÁRIAS


UNIDADE Temática: 2.1 O Conceito de Imposto, Objectivos e suas
Fases

UNIDADE Temática: 2.2 Distinção entre Impostos e Taxas

UNIDADE Temática: 2.3 Classificação dos Impostos

UNIDADE Temática: 2.4 Noção do Direito Fiscal ou Tributário

UNIDADE Temática: 2.1. O Conceito de Imposto, Objectivos e suas Fases

2.1. Conceito do Imposto

Imposto – Consiste numa prestação coactiva definida por lei, de


carácter pecuniário, definitiva e unilateral, sem carácter de sanção,
revertendo a favor do Estado, com vista à realização de fins públicos.

Também se define Imposto como sendo uma quantia em dinheiro,


legalmente exigida pelo poder público, que deverá ser paga pela
pessoa singular ou colectiva a fim de atender às despesas públicas
feitas em virtude do interesse comum, sem levar em conta vantagens
de ordem pessoal ou particular.

Encontramos na primeira definição os caracteres fundamentais do


Imposto:

a) Coactiva → porque o Estado exige ao contribuinte a


prestação, mesmo que seja necessário o uso de meios
coercivos;
b) Segundo a lei → visto ser a lei que permite ao Estado exigir
o imposto, por via do princípio da legalidade;
c) Pecuniário → uma vez que o imposto é pago, na generalidade
dos casos através de meios monetários;
d) Definitiva → dado que o contribuinte nunca será reembolsado,
restituído, retribuído ou indemnizado, excepto se o imposto for
cobrado indevidamente;
26
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

e) Unilateral/Sinalagmática → pois o contribuinte não recebe


directamente nada em troca, face ao pagamento que
efectuou;
f) Sem carácter de sanção → sem fins sancionatórios (ao
contrário da multa e da coima);
g) A favor do Estado → é este quem arrecada o imposto, origem
maior das suas receitas;
h) Para satisfazer fins públicos → porque permite realizar
despesas públicas.

2.1.1. Objectivos do Imposto

Como já sabemos, os impostos são criados para a satisfação dos fins


públicos, expressão ampla que engloba objectivos fiscais (obtenção
de receitas publicas) e extrafiscais (sociais, económicas etc.).

Assim podemos distinguir os seguintes objectivos:

a) Objectivos Fiscais

Aqui os impostos visam a obtenção de receitas para financiamento


das despesas pública, isto e, “a satisfação das necessidades
financeiras do Estado”.

b) Objectivos Sociais

Os impostos visam a “repartição justa da riqueza e dos rendimentos”,


a “dimensão das desigualdades”, tendo em conta as necessidades e
os rendimentos do agregado social, operando-se assim uma
verdadeira redistribuição da riqueza.

Por outro lado, os impostos podem adaptar a estrutura do consumo à


evolução das necessidades de justiça social (onerando os consumes de
luxo, por exemplo).

c) Objectivos Económicos

Além do mais, os impostos podem combater a inflação (reduzindo o


rendimento disponível e,
27
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

consequentemente, o consumo), obter a selectividade do consumo


(tributando mais pesadamente os consumos nocivos e supérfluos, como
o tabaco, o jogo, certas bebidas, as antiguidades, etc.), proteger as
indústrias nacionais (estabelecendo direitos aduaneiros protectores
durante um certo período), incentivar a poupança e o investimento
(indirectamente através de desagravamentos fiscais).

2.1.2. Fases do Imposto

O processo do imposto compreende as seguintes fases:

1ª. Incidência

Sabemos já que o imposto nasce quando surge uma norma legal que
confere ao Estado a posição de credor do imposto e ao cidadão a
situação de devedor do mesmo. Compete a Lei definir, embora de
modo genérico e abstracto, o que e passível de imposto e quem é que
fica sujeito a imposto.

Esta fase, consiste em definir o campo de acção a nível dos sujeitos,


actos bens e situações que ficarão sobre a alçada da figura de
determinado imposto. Exemplo o IRPS incide sobre o rendimento das
pessoas singulares.

Temos, assim, dois aspectos sobre os quais pode ser encarada a


incidência: o que esta sujeito a imposto (incidência real ou incidências
material) e quem esta sujeito a imposto (incidência pessoal ou
subjectiva).

Haverá sempre lugar a imposto quando se mostrem reunidos todos os


pressupostos de incidência referidos na lei. Pode, no entanto, o
legislador abrir, por vezes, excepções as regras de incidência. Isto é,
pode acontecer que estando reunidos os pressupostos de incidência, a
própria lei, determine que determinados sujeitos ou certa material
colectável não seja tributada. Estas excepções as regras de incidência
chamam-se isenção.

28
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

A isenção fiscal pode ser objectiva (no caso de ser em função do


objecto) ou subjectiva (se for em função dos sujeito. A isenção pode
ser ainda total ou parcial.

2ª. Lançamento

Corresponde ao momento do início da aplicação da lei. É a fase em


que, do geral e abstracto da incidência, se passa ao individual e
concreto; é a fase em que se processam as operações conducentes à
identificação particular dos sujeitos passivos e à determinação
concreta da matéria colectável sobre que vai incidir o imposto.

A fase de lançamento encerra dentro de si, um conjunto de operações


conducentes a identificar, por um lado o contribuinte devedor do
imposto e por outro, a matéria colectável ou objecto do imposto, isto
é, o bem, acto ou situação pela qual vai incidir o imposto, e destacam-
se dois grandes momentos nesta fase:

a) A identificação do contribuinte que se pode fazer com base


na declaração do próprio (que é a forma mais comum), por
declaração de terceiros, por simples actividade do fisco ou
mesmo por indicação de certos serviços públicos; e
b) A fixação da material colectável, que pode ser feita também
com base na declaração do contribuinte, por fixação directa
pela administração fiscal, por fixação feita por comissões
específicas estabelecidas na lei e, algumas vezes, por acordo.

Nos principais impostos que compõem actualmente o sistema fiscal


(IRPS, IRPC, IVA), as operações de lançamento são efectuadas pelo
próprio contribuinte, por isso se fala, a este propósito, em auto
lançamento do imposto.

3ª. Liquidação

Esta é a fase que se determina o montante de imposto – a colectar –


a imputar ao contribuinte. É a operação aritmética de aplicação de
uma taxa à matéria colectável apurada na fase do lançamento, para

29
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

determinação do montante exacto de imposto devido pelo sujeito


passivo (colecta). Naqueles impostos em que a lei prevê a
possibilidade de deduções à colecta, a liquidação abrange também
os cálculos decorrentes destas deduções.

Hoje generaliza-se a tendência para agrupar sob a mesma


designação "liquidação", quer as operações de liquidação
propriamente ditas que acabámos de referir, quer as operações de
lançamento mencionadas no ponto anterior. Ao usarmos agora a
expressão "liquidação", temos, pois, que distinguir entre uma
liquidação em sentido estrito (a operação aritmética de aplicação de
uma taxa à matéria colectável) e uma liquidação em sentido amplo,
que abarca tanto a dita operação aritmética, a liquidação em sentido
estrito, como todas as outras operações de lançamento.

Em regra a liquidação é feita, nos impostos directos pela


administração fiscal, e nos impostos indirectos pelo contribuinte.

Importa realçar que a liquidação esta sujeita a caducidade. Ocorrido


o facto gerador do imposto, ela só poderá ter lugar dentro de um
prazo de cinco anos, para o caso dos impostos sobre o Rendimento
ou, no caso do sisa e do imposto sucessório, dentro dum prazo de vinte
anos. Estes prazos não são de prescrição, mas de caducidade, como
se acentuou. Daí que, extinto o direito a liquidação, não se encontre
necessariamente prescrito o direito a cobrança dos impostos, cujo
prazo é de vinte anos.

4ª. Cobrança

Cobrança e pagamento são expressões que traduzem a mesma


realidade jurídica. A primeira assumida do ponto de vista da

administração fiscal, que cobra o imposto; a segunda encarada do


ponto de vista do contribuinte, que o paga. É a fase final da vida do
imposto, para que tende toda a relação jurídica fiscal. Com a
cobrança (pagamento) os valores correspondentes ao imposto vão
dar entrada nos cofres do Estado e com isso a relação jurídica fiscal,
normalmente, extinguir-se-á.

30
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

UNIDADE Temática: 2.2. Distinção entre Imposto e Taxa

O Imposto, é uma prestação obrigatória estabelecida pela lei a favor


de entidades que exerçam funções públicas e para satisfação de fins
públicos que não constituam sanção de actos ilícitos.

Taxa, é uma prestação avaliável em dinheiro, exigida por uma


entidade pública, como contrapartida individualizada pela utilização
de um bem de domínio público, ou de um serviço público. Elas são
devidas pela utilização individual de serviços públicos ou de bens de
domínio publico, de que todos necessitam abstractamente, mas que só
alguns procuram activamente, ou pela remoção de um limite jurídico à
actividade dos particulares mediante a concessão de autorizações
administrativas.

No plano da economia financeira a separação entre imposto e taxa


pode estabelecer-se com relativa facilidade, na base do critério da
divisibilidade ou indivisibilidade dos serviços públicos. As taxas, são
progressivas porque aumentam mais que proporcionalmente, há
medida que o rendimento aumenta, taxa progressiva, é a taxa que
varia mais que proporcionalmente à variação do rendimento. O
Estado e as outras entidades públicas prestam serviços cuja utilidade
não é divisível pelos cidadãos. A defesa nacional e a diplomacia
constituem exemplos nítidos de serviços públicos indivisíveis e,
consequentemente, suportados pelo imposto.

De outros serviços públicos, porém, extraem os particulares utilidades


individualizáveis. É o caso dos serviços de instrução, de justiça e de
muitos outros, ora quando através dos serviços públicos se prestam
utilidades particulares, individualizáveis, quando esses serviços são
divisíveis, em suma, há a possibilidade de realizar a sua cobertura
financeira, ou parte dela, através do pagamento de prestações
exigíveis dos particulares que utilizam tais serviços.

Atendendo à diversidade de estruturação legal, o vínculo jurídico de


taxa tem por causa a prestação por uma entidade pública de

31
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

utilidades individualizadas. Quer dizer que a taxa, como aliás o preço


também apresenta origem sinalagmática.

É este aspecto precisamente que separa com nitidez a taxa de


imposto. Porque a taxa tem por causa a realização de uma utilidade
individualizada, ela depende de outro vínculo jurídico, o que não
acontece com o imposto.

Deste modo, a diferença fundamental entre o imposto e a taxa reside


no facto de aquele ser uma prestação unilateral e a taxa ser uma
prestação bilateral ou sinalagmática, isto é, com uma contraprestação
específica, individual, imediata e directa (serviço prestado). A
verdade é que a distinção entre imposto e taxa assume especial
relevância no que se refere ao princípio da legalidade: o imposto só
pode ser criado por lei da Assembleia da República, enquanto que a
taxa, nem sempre é assim.

UNIDADE Temática: 2.3. Classificação dos Impostos

Os Impostos têm a classificação que abaixo se alista:

a) Impostos directos e indirectos

Os impostos directos, visam atingir faculdades contributivas


permanentes, estáveis, enquanto os indirectos, visam atingir
faculdades contributivas intermitentes, instáveis, passageiras, é aquele
que geralmente tem inspirado as leis e contabilidade pública. São
impostos directos, aqueles cujo lançamento se baseia na elaboração
prévia de um rol nominativo de contribuintes (ex.: IRPPS, IRPC e ISPC);
e indirectos os outros (ex.: IVA, ICE e Direitos Aduaneiros).

Quanto ao sujeito activo:

b) Impostos Estaduais e não Estaduais:

Nem sempre o Estado é credor do imposto, o sujeito activo da relação


jurídico-tributária. Esta constitui-se, muitas vezes, em benefício de uma

32
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Autarquia Local ou de um Instituto Público. Daí a separação dos


impostos estaduais e não estaduais. A origem de uns e de outros é
legal e, portanto, estadual; mas só em relação aos primeiros o Estado
se apresenta como credor (ex.: IRPS, IRPC e IVA).

Note-se que os impostos não estaduais são os estruturados no sentido


da sua atribuição a uma entidade diversa do Estado. Mas acontece
frequentemente que a receita de um imposto estadual seja cedida
pelo Estado a outra entidade pública (ex. As Autarquias).

Quanto ao período de tempo em que ocorrem:

 Impostos Periódicos - quando os factos ou situações que dão


origem ao imposto se repetem, no tempo, com carácter de
continuidade (IRPS,IRPC e IVA);

 Impostos de Obrigação única - quando os factos ou situações


não se repetem com carácter de periodicidade, mas ocasional
ou esporadicamente.

c) Impostos reais e pessoais:

Os impostos reais, visam a atribuição de bens económicos, de riqueza,


em termos objectivos, sem que nessa tributação se vão reflectir as
condições pessoais do contribuinte, os impostos pessoais, pelo
contrário, procuram atingir certos bens por pertencerem, ou
respeitarem a determinadas pessoas, cuja capacidade contributiva e
outras circunstâncias pessoais, são tidas em conta, através de alguns
aspectos da tributação.

Raramente se encontrarão impostos que visem apenas aspectos


pessoais. Mas pode admitir-se a classificação na base do maior ou
menor relevo desses aspectos. Assim, segundo o critério da
predominância, serão reais, além de todos os impostos de consumo,
do selo e aduaneiros, os impostos prediais. Segundo este mesmo
critério de predominância, de aspectos objectivos ou subjectivos, serão
pessoais o imposto sucessório e o IRPS,
33
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

cujas taxas e outros elementos variam, não apenas em função da


capacidade contributiva mas também em função de outros factores
respeitantes à pessoa do contribuinte.

Tendo de reconhecer-se que os impostos indirectos são sempre reais,


ou objectivos, nota-se facilmente que a destrinça oferece interesse
escasso, do ponto de vista jurídico, porquanto no campo dos impostos
directos é fácil distinguir diversidade de tratamento quanto ao
nascimento e à estrutura da obrigação de imposto entre reais e os
pessoais.

Em função do tipo de taxas aplicáveis, os impostos (em particular os


impostos directos) classificam-se ainda em:

a) Proporcionais – quando a respectiva taxa permanece fixa,


qualquer que seja o montante da matéria colectável (é
exemplo o IRPC);
b) Progressivos – quando a respectiva taxa é tanto mais
elevada quanto maior seja o montante da matéria colectável
(é exemplo o IRPS);
c) Degressivos – quando o imposto é essencialmente de taxa
proporcional, mas se estabelecem taxas mais suaves
aplicáveis no patamar inferior da pirâmide dos rendimentos
colectáveis (constituiu exemplo em Moçambique o antigo
Imposto Profissional);
d) Regressivos – quando a respectiva taxa varia em função
inversa do rendimento colectável (o Imposto Pessoal
Autárquico e o Imposto de Reconstrução Nacional, com as suas
taxas de quantitativo fixo.

Durante muito tempo a doutrina clássica considerou os impostos


directos e, em particular, o imposto progressivo, como os mais
adequados à aplicação e realização de critérios e objectivos de
justiça social.

E se examinado a esta luz, o actual sistema tributário moçambicano


teria de classificar-se como profundamente injusto, pois que cerca de
75% das receitas fiscais totais do Estado

34
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

provêm dos impostos indirectos (IVA, ICE, direitos de importação, etc.),


representando o imposto progressivo (IRPS) pouco mais de 10% das
mesmas receitas.

Esta doutrina vem porém a ser progressivamente questionada desde


ainda os anos 80, designadamente à luz de critérios de eficácia fiscal,
apontando-se a grande ineficiência na aplicação do princípio do
imposto progressivo (em particular no que respeita à tributação dos
rendimentos de capital, pela progressiva sofisticação que os mesmos
podem revestir), a crescente mobilidade dos capitais no quadro da
globalização da economia, a debilidade dos serviços de
administração tributária face aos níveis de evasão verificados em
todos os casos em que não tem aplicabilidade o princípio da retenção
na fonte, entre outros factores.

Por outro lado, sublinha-se a maior eficácia de formas de tributação


tipo IVA, bem como as virtualidades da tributação selectiva de certo
tipo de consumos, indiciadores de determinadas formas de riqueza.

De referir ainda que, embora a obtenção de recursos financeiros pelo


Estado seja a razão de ser do imposto, através do mesmo podem ser
prosseguidos importantes objectivos extrafiscais, como por exemplo:

 Objectivos de redistribuição do rendimento e da riqueza


nacional, através do imposto progressivo (apesar dos factores
negativos que acima apontados);
 Orientação de consumos, através de formas de tributação
selectiva tipo ICE;
 Penalização e desencorajamento de consumos socialmente
nocivos (tributação fortemente gravosa do tabaco e do
álcool);
 Incentivo de determinadas actividades económicas, sujeitando
a taxas efectivas mais favoráveis os correspondentes
rendimentos, e bem assim a orientação de investimentos para
zonas menos desenvolvidas do território nacional.

Um outro objectivo extra-fiscal tradicionalmente associado aos


direitos de importação (que em muito
35
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

justificava a própria razão de ser dos mesmos) era a protecção da


indústria nacional. As políticas de progressiva liberalização das trocas
comerciais e de “desarmamento” aduaneiro afectam de forma
irreversível a realização de tal objectivo.

UNIDADE Temática: 2.4 Noção do Direito Fiscal ou Tributário

Ao debruçarmos sobre a doutrina do Direito Fiscal ou Tributário há


que realçar que na prática não existem diferenças acentuadas entre
o âmbito das matérias dadas nos manuais de direito fiscal e o âmbito
das matérias dadas nos manuais de direito tributário.
Tradicionalmente as doutrinas portuguesas, francesa, alemã, austríaca
e suíça, etc., preferem a terminologia de “direito dos impostos ou
direito fiscal”, ao passo que as doutrinas italiana, espanhola e
brasileira têm optado pela terminologia de ”direito dos tributos ou
direito tributário“7.

O Direito dos Impostos, Direito Tributário, ou Direito Fiscal, é o ramo


de Direito Financeiro que corresponde á insuficiência do património e
do domínio para suportarem as despesas crescentes das comunidades
políticas. É assim logicamente supletório, no sentido de que visa a
preencher aquela insuficiência.

A doutrina moçambicana tem perfilhado a primeira orientação


terminológica, uma vez que a Constituição em vigor, prevê um sistema
fiscal, em que se impõe o princípio de legalidade dos impostos e das
respectivas taxas nos termos dos nºs. 2 e 4 do artigo 127 da CRM.
Apesar de que actualmente o legislador ordinário tem preferido a
segunda orientação, com aprovação das Leis nºs. 1/2006 e 2/2006,
ambas de 22 de Março, que cria a Autoridade Tributaria de
Moçambique e estabelece os princípios gerais do ordenamento
jurídico tributário moçambicano e aplicável a todos os tributos
nacionais e autárquicos, respectivamente.

7
Cfr. NABAIS, José Casalta, Direito Fiscal, 4ª edição, Almedina, Coimbra, Maio de
2007; págs. 6 e ss.

36
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

EXERCÍCIOS

1. Os impostos enquanto receitas públicas visam certos objectivos económicos, sociais e


jurídicos.
a) O que entendes por imposto?
b) Enuncie os objectivos do imposto.
c) Porquê razão os impostos são receitas coactivas?
2. Quanto ao sujeito activo, os impostos podem classificar-se em Estaduais e não
Estaduais. Sustente a afirmação com argumentos convincentes.
3. Distinga o Imposto da Taxa.
4. Coloque Verdadeiro (V) ou Falso (F) as questões que se seguem:

a) O imposto é uma prestação sinalagmática, não correspondendo assim à


prestação de imposto qualquer contraprestação específica a favor do
contribuinte. A prestação de imposto confere ao contribuinte o direito de exigir
qualquer contraprestação específica, directa e imediata;
b) Desde que haja necessidade de aumentar o nível de arrecadação de receitas
para fazer face as despesas públicas, o Governo pode decidir agravar as
taxas dos impostos durante o exercício económico;
c) Os impostos só são exigidos a favor de entidades públicas, como também
podem sê-lo a favor de entes que não sendo públicas;
d) Num Estado de Direito, ao contrário da anterior prática do Estado absoluto, a
actividade financeira se exerce de forma arbitrária, ou seja, se subordina às
conveniências ou vontades dos agentes e órgão público;

37
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

TEMA III – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO FISCAL


UNIDADE Temática: 3.1 Fontes do Direito Fiscal

UNIDADE Temática: 3.2 Evolução do Direito Fiscal

UNIDADE Temática: 3.3 Autonomia do Direito Fiscal

UNIDADE Temática: 3.4 Princípios do Direito Fiscal

UNIDADE Temática: 3.5 Normas Fiscais

UNIDADE Temática: 3.6 Soberania do Direito Fiscal

UNIDADE Temática: 3.1 Fontes do Direito Fiscal

Não se estuda nenhuma disciplina da enciclopédia jurídica sem se


conhecer e discutir as respectivas fontes. Elas podem ser do
conhecimento, genéticas (materiais ou reais que são as fontes de
origem – causa de Direito), de validade e de juridicidade.

A expressão “fonte de direito”, numa acepção técnico-jurídica, refere-


se aos modos de formação e de revelação das regras jurídicas, ou
seja, às formas do seu aparecimento e manifestação.

De referir que, a mesma expressão admite diversos entendimentos, ou


conteúdos. Um substancial respeita à origem e à razão vinculativa das
normas; outro formal, abrange os revestimentos pelos quais os
preceitos jurídicos se revelam, são enunciados, se apresentam aos seus
destinatários.

O entendimento consagrado é o de que as fontes de Direito, na


acepção tecnico-juridica ou formal, são modos de formação e
revelação das regras jurídicas, ou seja, as formas do seu
aparecimento e manifestação. Esta acepção é a que interessa à
ciência do Direito e, obviamente, ao Direito Fiscal.

38
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

No entanto, destacam-se as seguintes as fontes de direito:

3.1.1. A Lei

Normas jurídica criada e imposta por uma autoridade com poder


para o fazer (poder legislativo);

Embora juridicamente a palavra ”Lei” possa ser utilizada numa


acepção extremamente ampla, equivalente a direito (quando, por
exemplo, dizemos que a lei proíbe ou impõe), aquela palavra, com
sentido de fonte de direito, ainda pode ter significados diversos:

 Um significado lato, para designar toda e qualquer norma


jurídica criada por decisão e imposição de uma autoridade
competente para tal, distinguindo-se por isso do costume;
 Um significado restrito, para designar apenas os diplomas
emanados da Assembleia da República.

Assim, naturalmente perante a palavra» lei» não podemos deixar de


determinar, por interpretação, qual a extensão do sentido em que é
utilizada.

De acordo com sua hierarquia, vamos considerar a lei constitucional,


as leis da Assembleia da República e os Decretos do Conselho de
Ministro e os regulamentos (que podem ser Decretos do Conselho de
Ministro ou Diplomas Ministeriais).

3.1.2. O Costume

Norma jurídica resultante da prática repetida e habitual de uma


conduta encarada como obrigatória. “Tacitus consensuspopuli longa
cosutudineinveteratus” (prática reiterada e constante com convicção
de obrigatoriedade), há-de afirmar-se como fonte de Direito. Mas
não parece que tal aconteça no campo tributário, onde as normas não
são criadas espontaneamente pelos destinatários. Não é o princípio
da legalidade do imposto que leva a afastar o costume daquele
campo. Porquanto como se sabe, esse princípio domina apenas alguns
aspectos da tributação, especialmente o
39
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

da incidência fiscal. Mesmo assim, é difícil admitir que outros aspectos,


como o lançamento, o da liquidação ou da cobrança, possam
conformar-se com a disciplina de normas consuetudinárias.

O costume não pode ser fonte de direito fiscal, no domínio dos


elementos essenciais dos impostos, como decorre do princípio da
legalidade. Mesmo quanto aos restantes aspectos, apenas existem
certas praxes burocráticas, donde seguramente não brotam normas
jurídicas vinculativas.

3.1.3. A Jurisprudência

Nem a jurisprudência nem a doutrina constituem fontes imediatas de


Direito Fiscal, salvo, quanto à primeira. Os Tribunais, normalmente,
não criam normas jurídicas através das suas sentenças e dos seus
acórdãos.

Convém salientar que a lei e o costume são fundamentalmente modos


de formação das normas (fontes directas ou imediatas), enquanto a
jurisprudência e a doutrina são modos de revelação (fontes indirectas
ou mediatas) daquelas normas, pois não criam normas jurídicas.

No caso da jurisprudência, os assentos vinculam os tribunais a uma


determinada interpretação da Lei.

No entanto, a jurisprudência e a doutrina desempenham um papel do


maior relevo como fontes mediatas de Direito Fiscal, pela influência
que exercem na evolução dos sistemas de Direito Positivo. E esta
influência é ainda mais marcada no campo do Direito Fiscal, por se
tratar de um ramo de Direito que tem sofrido ultimamente e está
sofrendo, grandes e profundas alterações, as quais são muito
frequentemente influenciadas pela opinião dos doutrinadores e pelas
orientações jurisprudenciais.

3.1.4. Doutrina

A doutrina não é fonte do direito fiscal. Apesar de largo


desenvolvimento aos cultores da ciência
40
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

fiscal, nas últimas décadas, a doutrina não produz comandos


normativos sendo de assinalar não obstante o seu papel educativo e
por vezes influente na leitura das leis ou na sua reforma.

A estas fontes ter-se-á de juntar ainda o Direito Internacional Público,


muito especialmente as convenções internacionais. Note-se haver até
quem afirme que, para além das convenções internacionais a lei (em
sentido amplo) é a única fonte do Direito Fiscal. O acolhimento dos
tratados internacional como fontes de Direito está condicionado à sua
ratificação e publicação dos referidos tratados, pela Assembleia da
República.

Entre as normas internacionais sobre matéria tributaria mais


importantes contam-se as convenções bilaterais realizadas pelo
Governo para evitar a dupla tributação e a evasão fiscal.

A expressão “tratado” designa um acordo internacional concluído por


escrito entre Estados e regido pelo direito internacional, quer esteja
consignado num instrumento técnico, quer em dois ou mais instrumentos
conexos, e qualquer que seja a sua denominação particular
(Convenção de Viena, art. 2º, alínea a)).

Entretanto, sendo várias as fontes do direito (leis), haverá que


determinar a sua hierarquia, na medida em que uma norma
hierarquicamente superior prevalece, em caso de contradição sobre
uma norma hierarquicamente inferior.

UNIDADE Temática: 3.2 Evolução do Direito Fiscal

Relativamente ao nosso contexto, o estudo da economia moçambicana


revela-nos uma periodização em quatro fases caracterizadoras da
sua evolução do Direito Fiscal:

 A primeira que vai de 1973 a 1977, denominada crise de


transição. Esta fase caracteriza-se pela quebra acelerada de
produção, diminuição de investimentos,
41
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

fuga de capitais, fuga de colonos e consequente passagem da


gestão das empresas para a gestão do Estado, por via das
nacionalizações;
 Uma segunda, que compreende o período de 1977 a 1981,
chamada de recuperação económica baseada na planificação
pelo Estado da economia nacional. Este é o período que se
caracteriza por uma transformação estrutural da economia,
que resulta da adopção de uma economia de planificação
central (de tipo socialista);
 A terceira fase, compreende o período de 1981-1986,
denominada da crise em tempo de guerra. Neste período, a
economia moçambicana ressentiu-se profundamente, por
causa da guerra civil movida pela RENAMO, período em que
as infra-estruturas económicas, sociais, de comunicações e
transportes sofreram forte destruição pelas forças de
guerrilha, com a consequente fuga das populações das zonas
rurais para as zonas urbanas, quiçá mais seguras;
 Finalmente, uma quarta fase, a da recuperação económica em
tempo de guerra, que vai de 1986 a 1990. Esta fase iniciou-
se, pois, em 1987 com a aplicação do PRE – Programa de
Reestruturação Económica, iniciado sob o patrocínio do Banco
Mundial e Fundo Monetário Internacional.

A Revisão Constitucional iniciada em 1989, cuja consagração se


verifica em 1990 com a aprovação das emendas pela Assembleia
Popular, constitui o marco político importante para os moçambicanos.
A Constituição de 1990, veio abrir o sistema político outrora mono -
partidário para um sistema pluralista, e, uma das consequências dessa
Emenda, foi a condução de negociações políticas com a Renamo, até
alcançar-se um acordo político denominado: Acordo Geral de Paz,
subscrito a 4 de Outubro de 1992.

Desde esse momento, o abandono da tendência económica de cariz


marxista adoptada em 1975, a abertura à iniciativa privada e a
redução do monopólio de Estado, a redução dos entraves ao comércio
externo e o consequente aumento do investimento estrangeiro em

42
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

projectos baseados em recursos naturais, a desburocratização dos


processos de licenciamento das actividades comerciais e a
implementação de várias reformas institucionais e estruturais,
colocaram Moçambique na rota do desenvolvimento com tendência de
alcançar as maiores taxas de crescimento económico a nível mundial.

Apesar de ter atingindo uma das maiores taxas de crescimento a nível


mundial em 1997-1998, o país ainda depende da ajuda estrangeira
para equilibrar o orçamento e compensar o desequilíbrio da balança
comercial, na qual as importações excedem largamente as
exportações.

Não obstante, o futuro do país a médio prazo parece promissor, à


medida que vêem sendo estabelecidas ligações comerciais e de
transporte com a África do Sul e materializados os inúmeros
investimentos estrangeiros, isto por um lado, e, por outro, pela
consolidação do programa desenhado e assumido por todos os Países
da parte Austral de África que constituem a SADC.

Acresce ainda a subscrição e ratificação por Moçambique do Acordo


de Cotonou (acordo de cooperação nos domínios político, de
desenvolvimento e comercial), celebrado entre os Estados ACP (África,
Caraíbas e Pacífico) e a União Europeia (UE), as negociações do
Acordo de Parceria Económica (APE) entre a Comunidade para o
Desenvolvimento da África Austral (SADC) e a UE (principal parceiro
comercial do Grupo SADC), com o objectivo de criar uma zona
económica em que se torne possível assegurar mais facilmente as
trocas de mercadorias, serviços e financiamento, assim como definir
um conjunto de regras que ofereçam estabilidade a operadores
comerciais e investidores.

Trata-se, na verdade, de instrumentos que abrem espaço para que


Moçambique passe a definir a sua política de comércio externo nos
próximos anos.

Actualmente, Moçambique beneficia de um acesso sem tarifas e não


recíproco ao mercado da União Europeia, nos termos da iniciativa EBA
(“everything-but-arms”) para os países em

43
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

vias de desenvolvimento. Em geral, a Lei de Investimento e o Código


dos Benefícios Fiscais de Moçambique.

Asseguram ao investimento directo estrangeiro várias isenções


aduaneiras, contribuindo, juntamente com todos os factores já
apontados anteriormente, para que o país se tenha tornado num dos
destinos de excelência para o investimento no contexto africano. Um
dos meios para atingir o principal objectivo da estratégia geral de
desenvolvimento de Moçambique, alicerçada no Plano de Acção da
Redução da Pobreza Absoluta II (PARPA) – redução da incidência da
pobreza dos actuais 54% para 45% em 2009 – tem sido a reforma
estrutural da política fiscal do país, mais adequada aos desafios
económicos que, actualmente, se lhe apresentam, nomeadamente o
aumento da receita fiscal e a criação de condições atractivas para o
investimento directo estrangeiro.

A Constituição da República de Moçambique estabelece os princípios


basilares do sistema fiscal moçambicano, sendo estes depois
concretizados através da diversa legislação fiscal existente, com
destaque para a Lei de Bases do Sistema Tributário (Lei n.º 15/2002,
de 26 de Junho), a qual contém uma série de matérias fiscais
essenciais, nomeadamente a classificação dos diversos impostos em
impostos autárquicos e nacionais, podendo estes últimos ser directos e
indirectos. A referida Lei estabeleceu os princípios de organização do
sistema tributário de Moçambique e bem assim as garantias e
obrigações do contribuinte e Administração tributária.

Sem grandes preocupações de rigor histórico, podemos distinguir


quatro períodos na evolução do Direito Fiscal:

a) Período em que a exigência de produtos dependia da força


e do costume local;
b) Período de época clássica do imposto com regras definidas e
estruturadas, disciplinando a contribuição dos cidadãos para
a cobertura das despesas públicas;
c) Período da revolução industrial em que o imposto se
transforma num instrumento político, ou, noutros casos, em que

44
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

perde interesse como instrumento financeiro dada a


concentração no Estado da propriedade e dos meios de
produção;

d) Período contemporâneo em que o imposto passa a ser uma


arma para os objectivos financeiros, políticos, económicos e
sociais e, uma alavanca do desenvolvimento económico e
social.

O sistema fiscal moçambicano possui hoje uma estrutura equiparável


aos mais modernos sistemas fiscais, apresentando uma estrutura
tripartida, através da qual se tributa, separadamente, o rendimento,
o consumo e o património. Em qualquer caso, a actual configuração
do sistema fiscal moçambicano é relativamente recente, derivado da
reforma de 2002, altura em que foi totalmente reformulado o sistema
então vigente e que apresentava, ainda, uma relevante matriz da
pró-independência.

O novo sistema fiscal Moçambicano inclui já soluções adaptadas às


novas realidades económicas, quer através da diferenciação das
regras aplicáveis em função dos tipos de contribuintes, quer através
das preocupações de integração internacional já reveladas.

O sistema tributário actualmente em vigor é o produto da reforma


iniciada em 1998, e que tem como pilares principais:

 No âmbito da tributação indirecta (tributação da despesa), o


IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado, incidente à taxa
geral de 17% sobre as transacções de bens e serviços
realizadas no País, incluindo a importação, substituiu o anterior
imposto de circulação criado em 1978, o qual revestia a
natureza de “imposto em cascata”, com taxas diferenciadas
nas diferentes fases de comercialização, respectivamente 5%
no produtor ou importador, 5% no grossista e 10% no
retalhista.
 No âmbito da tributação directa dos rendimentos, o IRPC -
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas e o IRPS -

45
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, os quais


vieram substituir o anterior sistema de tributação do
rendimento instituído em 1968 e regulado pelo Código dos
Impostos sobre o Rendimento.

O anterior sistema assentava na existência de um conjunto de impostos


parcelares ou cedulares, de taxa proporcional, incidentes sobre as
diferentes espécies de rendimento mais relevantes, complementado,
no caso das pessoas singulares, por um imposto de englobamento
(imposto complementar), de taxa progressiva, aplicável ao conjunto
dos rendimentos do agregado familiar sujeito aos diferentes impostos
parcelares.

UNIDADE Temática: 3.3 Autonomia do Direito Fiscal

Ultrapassada hoje a questão da autonomia do Direito Fiscal em


relação do Direito Financeiro, entendido este como sendo um conjunto
de normas (bastante heterogéneas) que regulam a actividade
financeira do Estado e, sendo praticamente unânime a ideia de que o
Direito Fiscal se integra perfeitamente no Direito Público, quer em
função do critério dos interesses, quer pelo critério dos sujeitos da
relação jurídica, levanta-se ainda a dúvida, ou pelo menos se discute
a autonomia, no quadro da ciência jurídica, em relação a outros ramos
do direito, mas particularmente, com relação ao Direito Administrativo.

Alguns fiscalistas reivindicam total autonomia do Direito Fiscal face ao


Direito administrativo, enquanto outro-os administrativistas – o
consideram um ramo de Direito Administrativo, embora aceitando que
se trata de um ramo especial do Direito Administrativo pela natureza
da matéria que regula.

O Direito Fiscal é sem dúvidas Direito Público na medida em que um


dos sujeitos da relação – Estado – está num plano superior ao do outro
sujeito, o cidadão. Na verdade o primeiro actua revestido de um
poder especial (”jus imperi”) superior ao do simples particular ou
entidade privada, que lhe permite até a
46
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

execução do património do devedor para garantir as dívidas fiscais


que não forem voluntariamente pagas, sem necessidade de
declaração judicial prévia do seu direito. Goza o Estado, portanto,
do chamado benefício de execução prévia.

Nisto, o Direito Fiscal é sem dúvidas Direito Público, por quanto:

a) Tutela fundamentalmente interesses colectivos;


b) Nas obrigações tributárias um dos intervenientes é um ente
público ou que exerce funções públicas;
c) Nas respectivas relações jurídicas esses entes públicos surgem
em posição de supremacia; e
d) Dispõe de princípios jurídicos próprios.

No entanto, embora se reconheça a autonomia científica do Direito


Fiscal, não podemos esquecer que, dado o carácter unitário do Direito,
qualquer dos seus ramos está necessariamente ligado a todos os
outros com os quais forma um todo uno e indivisível.

Além disso, tendo em atenção a natureza e o âmbito do Direito Fiscal,


este mantém relações especiais (de conexão e dependência) com os
seguintes ramos de direito:

 Direito Constitucional: pois o Direito Fiscal é dominado por


princípios e regras com assento constitucional;
 Direito Penal: pois o Direito Fiscal recorre, por vezes, a normas
e princípios do direito penal geral;
 Direito Processual: pois toda a regulamentação processual
tributária é informada pelos princípios e formas que presidem
ao processo civil e ao processo penal;
 Direito Privado: pois algumas situações jurídicas emergentes
da aplicação dos impostos têm natureza meramente civil (o
direito de regresso, por exemplo); e
 Direito Internacional: pois o Direito Fiscal terá de dispor
internamente de normas para resolver os conflitos entre os
sistemas fiscais nacional e estrangeiro e terá de se socorrer
de normas de conflito de fonte internacional que regulam e os
procedimentos e a forma de resolução
47
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

daqueles conflitos (surgindo dai, por exemplo, as


conversações para evitar a dupla tributação internacional e
a evasão fiscal.

Os fiscalistas defendem a sua posição argumentando que o Direito


Fiscal tende a organizar-se segundo princípios e regras próprias
sendo exemplo a natureza das normas de incidência, de liquidação e
cobrança dos impostos, bem como o relevo especial dos princípios de
legalidade e da igualdade.

Sobre este assunto o Doutor Oliveira Salazar, disse que:

“O Direito Fiscal é um direito autónomo, com uma formação


própria, com princípios especiais, que dominam o seu
desenvolvimento e não é preciso lançar mão de princípios
estranhos senão quando neste ramo a parte do direito os não
encontramos próprios”.

Na realidade, só no século XIX é que os estudiosos dedicaram mais


atenção ao fenómeno jurídico da tributação, mas deve dizer-se em
abono da verdade, que o Direito Fiscal é o ramo em que a maior
parte das obras (que se pretendiam jurídicas), não passam de simples
colectâneas de Leis Fiscais comentadas, com muito pouco de científico.

Em nossa opinião, esta atitude deve-se (e deve-se ainda pelo menos


no nosso país), por um lado ao facto de que muitos juristas se negarem
a admitir a autonomia argumentando que este ramo de Direito não é
senão a conjugação de outros ramos de Direito, acentuando-se o
Direito Civil, Direito Comercial e o Direito Administrativo, e
ultimamente, até o Direito Económico, com objectivo único de satisfazer
as arbitrárias conveniências e necessidades do erário público. Por
outro lado, a razão da negação parece situar-se na exigência de uma
constante actualizarão de juristas face as alterações que as leis Fiscais
normalmente sofrem.

Por outro lado, a ausência de decisões jurisprudência e de fundamento


adequada de fisco nas decisões que toma ainda o uso excessivo do

48
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

poder discricionário do Estado, concorrem igualmente para agravar


esta situação.

De facto, raros são os países subdesenvolvidos em que os teóricos vêm


no Direito Fiscal um direito positivo normal, de natureza instrumental,
que requer uma atitude e sensibilidades próprias, chega-se mesmo a
considerar um ”direito excepcional” com um aparato de Leis cuja
natureza é apenas formal. Esta atitude não é mais do que negar o
lugar próprio àquele que se considera o principal ramo do Direito
Financeiro. Sim, porque o Direito Financeiro tal como vimos atrás, é um
conceito vago, talvez até impreciso, e entende-se que foi para evitar
o inconveniente da diversidade de conceitos e de opiniões que se
procurou isolar a parte referente às receitas, mas concretamente, aos
impostos, estabelecendo-se um direito à parte, com um objectivo
próprio e um fim determinado.

A acrescer a estes factos, diríamos mesmo que no mundo de hoje, os


sistemas tributários, consubstanciados na ordem jurídica interna dos
países através do Direito Fiscal, aparecem como factores
moderadores importantes das estruturas sócio – económicas.

UNIDADE Temática: 3.4. Princípios do Direito Fiscal

É na lei constitucional que encontramos os princípios fundamentais por


que deve reger-se o direito fiscal. Tais princípios fundamentais são
entre outros, os princípios da legalidade, da igualdade e o da
autorização anual de cobrança.

a) Princípio da Legalidade Tributaria

Com base na ideia de que os impostos “diminuem” ou violam os


direitos subjectivos dos cidadãos, é que entendeu a ideologia da
Revolução Francesa que eles haveriam de ser criados pelos
representantes do povo. Assim os parlamentares eram o único órgão
com poder para legislar em matéria de impostos.

49
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

No entanto, o princípio da legalidade consiste, em pertencer a lei


formal o estabelecimento dos impostos.

No caso concreto de Moçambique, a constituição estabelece, no seu


artigo 127, nº. 2. Que: ”os impostos são criados ou alterados por lei,
que determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias
dos contribuintes“.

O princípio da legalidade implícito na Lei Constitucional, no nosso


entender, não se esgota na ideia de que os Códigos dos Impostos só
podem ser estabelecidos por Lei. A Lei tende a regular os chamados
elementos essenciais do imposto, ou seja, determinar a incidência,
fixar a taxa e enunciar o âmbito das isenções. Caso um imposto seja
criado por outro diploma que não seja a Lei, estaremos perante uma
inconstitucionalidade.

Ainda sobre o mesmo propósito, a Lei n. 15/2006, no seu artigo 3,


refere que não há lugar a cobrança de impostos que não tenham sido
estabelecidos porque estão sujeitos a este princípio a incidência, a
taxa, os benefícios fiscais, as garantias e obrigações dos contribuintes
e da administração tributaria e o regime de infracções tributaria.

b) Princípio da Igualdade Tributaria

Situam-se na Revolução Francesa as primeiras tentativas de


instauração da igualdade tributaria. Riscando as isenções fiscais do
mapa dos privilégios da nobreza e do clero do antigo regime,
aparecem gerais os impostos na Declaração do Direitos do Homem
de 89, e é prescrita a repartição dos impostos pelos contribuintes
consoante as respectivas faculdades, tornando-se assim uniformes.

Ora, é precisamente nestas duas características, generalidade e


uniformidade dos impostos que se concretiza o princípio da igualdade
tributaria. A repartição dos encargos públicos entre os cidadãos deve
fazer-se de tal maneira que o sacrifício imposto a cada um seja igual
ao sacrifício exigido aos outros. Desse modo, todos os cidadãos estão

50
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

adstritos ao pagamento dos impostos, não havendo entre eles,


portanto, qualquer distinção.

A nossa Constituição estabelece no artigo 35 um princípio fundamental


que consubstancia a igualdade, segundo o qual:

“Todos os cidadãos são iguais perante a Lei, gozam dos mesmos


direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente
da cor, raça, sexo, origem étnica…….”

c) Princípio da autorização Anual de Cobrança

Como corolário do princípio da legalidade, resulta que os impostos


hão-de ser votados, anualmente, pelos parlamentos dos respectivos
países. No caso concreto de Moçambique este princípio está
contemplado no nº. 3 do artigo 130 da Constituição pois ao se votar
o Orçamento do Estado se está a votar, naturalmente, a relação das
receitas cuja cobrança é implicitamente autorizada para um dado
ano. Nesta estrutura de receitas estão os impostos.

UNIDADE Temática: 3.5 Normas Fiscais

Considerações Gerais

Apesar da unidade teleológica das normas fiscais, de que deriva a


sua unidade científica e didáctica, já atrás defendida, as normas
fiscais apresentam uma extrema heterogeneidade.

É esta heterogeneidade, aliás, que tem estado na origem das diversas


escolas, vistas quando discutíamos a autonomia do Direito Fiscal: os
civilistas, fundados nas normas fiscais de incidência, querendo
subordinar o direito fiscal ao direito civil; os administrativistas,
reconduzindo o direito fiscal ao direito administrativo por causa das
normas do processo administrativo do imposto; o direito processual ou

51
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

ao direito penal por causa das normas processuais de sanção ou de


contencioso. No entanto, destacam-se as seguintes normas fiscais:

a) Normas de soberania fiscal: são as que definem o poder de


tributar, separando a esfera patrimonial da comunidade
política e as esferas patrimoniais dos particulares,
determinando até onde, dentro dos quais limites, podem
desenvolver-se as exigências do poder político quanto aos
sacrifícios patrimoniais daqueles que se situam na sua esfera
de domínio político-económico. Os quadros dentro dos quais
se situam os poderes tributários do Estado são delimitados por
normas de soberania fiscal.

b) Normas de incidência: definem o plano de incidência, ou seja,


o complexo de pressupostos de cuja conjugação resulta o
nascimento da obrigação de imposto, assim como os elementos
da mesma obrigação. Determinam quem é o sujeito activo da
obrigação de imposto, quem são em abstracto, os sujeitos
passivos da mesma obrigação, qual a matéria colectável, isto
é, a riqueza, os valores económicos sobre quem recai a
tributação, qual a taxa do imposto, quota ou percentagem,
calculada sobre aquela matéria colectável para efeitos de
fixação da colecta, da prestação tributária a pagar e qual o
facto dinamizante, gerador que, reunindo, pondo em contacto,
os pressupostos tributários, permitirá que nasça, se constitua,
uma obrigação de imposto.

d) Normas de lançamento: consistem no conjunto de actos e


operações pelos quais os serviços fazendários, ou os
contribuintes, nos casos de auto-lançamento, determinam, em
concreto, os elementos da obrigação de imposto.

e) Normas de liquidação: operações que consistem na aplicação


da taxa de imposto à matéria colectável, para determinação
da colecta, do quantitativo da prestação tributária.

52
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

f) Normas de cobrança ou de pagamento: conforme a


operação seja considerada do ponto de vista do fisco ou do
contribuinte, são todas aquelas que disciplinam a cobrança ou
pagamento dos impostos.

g) Normas de organização de serviços: são nitidamente de


índole administrativa, não se podendo razoavelmente atribuir-
lhes natureza diversa daquela que corresponde às normas de
organização de outros quaisquer serviços do Estado.

i) Normas de fiscalização: entre estas há a distinguir duas


espécies: umas respeitam à fiscalização dos serviços e essas
são nitidamente de natureza administrativa; outras respeitam
à fiscalização dos contribuintes e de terceiros, que se julgue
disporem de elementos susceptíveis de possibilitar, ou facilitar,
as operações fiscais orientadas para uma regular percepção
dos impostos.

j) Normas de sanção: destinam-se a penalizar os contribuintes


e, por vezes, também terceiros, por actos cometidos
susceptíveis de comprometer as operações de lançamento, de
liquidação ou de cobrança dos impostos, participam da
natureza das normas penais, ou seja, punitivas. As sanções
correspondem às multas às coimas e, excepcionalmente, à
privação de liberdade;

k) Normas de contencioso: as que se encontram no Código do


Processo Tributário.

53
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

UNIDADE Temática: 3.6 Soberania do Direito Fiscal

3.6.1. Soberania Estadual, Fiscal e Poder Tributário

Não é inteiramente pacífico o entendimento sobre a noção de


soberania fiscal. Integrada no conceito de soberania do Estado, como
um dos aspectos que ela reveste, a soberania fiscal deverá
compreender apenas a delimitação de esferas tributárias, frente a
outra soberanias estaduais, e a definição de regimes legais.

As manifestações de soberania fiscal só se nos revelam através da


definição internacional de esferas tributárias e através da abstracção
dos comandos tributários legais. Quando o Estado, ou outra entidade
impostora, exerce poderes em relação a determinados contribuintes,
é em obediência àqueles comandos, na posição de sujeito tributário
activo.

A soberania fiscal constitui um dos aspectos da soberania financeira,


e esta, por sua vez, um dos aspectos da soberania estadual.

Por soberania fiscal, entende-se o poder de criar impostos, de


extingui-los, de alargar ou restringir o seu âmbito, de estabelecer
proibições de natureza fiscal. E, como aspecto da soberania estadual,
a soberania fiscal apresenta as mesmas características. Em
consequência, só os Estados quer unitários quer compostos, quer
membros de Estados compostos, podem exercer a soberania fiscal.

3.6.2. Fundamento da Soberania Fiscal

Constituindo a soberania fiscal um dos aspectos da soberania do


Estado, o seu funcionamento último há-de confundir-se como
fundamento filosófico-político do próprio Estado, que poderá
entender-se como alheio ao plano da análise jurídica e tem-se
entendido frequentemente que, aquém desse fundamento último, a
soberania fiscal há-de encontrar uma fundamentação próxima em
princípios gerais de Direito, cuja simples aplicação justificará o poder
estadual de tributar.

54
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

3.6.3. Limites da soberania fiscal:

a) A limitação pelos fins do Estado

Os poderes fiscais do Estado, mesmo os poderes soberanos, acham-


se limitados, não apenas de facto mas também de Direito. A primeira
limitação decorre dos próprios fins do Estado e das vantagens que
advêm da sua prossecução. O Estado não pode criar impostos para
satisfazer fins que não sejam os seus próprios, nem para fazer face a
despesas que não se traduzam em vantagens para a respectiva
comunidade. Sem dúvida que essas vantagens têm de ser apreciadas
à face de critérios políticos. Mas definidos estes, com eles terá de
conformar-se o poder estadual, e terá consequentemente de admitir,
à mesma luz, cerceamentos à sua capacidade de exigir impostos.

b) A limitação pelo costume, pelos tratados e pelas leis


constitucionais

Os limites da soberania fiscal do Estado dependem, pois, dos seus


próprios fins, e do complexo de princípios e instituições que dominem
a vida do país considerado. Mas, além destes limites, aos quais deve
atribuir-se relevo não apenas moral e político, mas também jurídico,
os poderes tributários do Estado acham-se normalmente confinados
dentro de fronteiras legais expressamente definidas.

A lei fundamental do Estado limita, embora transitoriamente, pelo


tempo que a própria Constituição vigorar, os poderes tributários
estaduais, que embora são restringidos por costumes internacionais e
por tratados, enquanto o Estado que os celebrou, ou a eles aderiu, os
não denunciar.

3.6.5. A Territorialidade do Imposto

No plano internacional, a soberania tributária do Estado acha-se


naturalmente limitada, pela coexistência de outras soberanias, às suas
fronteiras territoriais, só dentro delas se exercendo, em princípio, o
poder de tributar. É esse o significado da chamada territorialidade

55
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

do imposto. Só excepcionalmente as normas tributárias emanadas de


uma ordem jurídica se projectam para além dos limites territoriais a
que essa ordem jurídica corresponde.

Em obediência ao próprio fundamento da soberania fiscal, o Estado


só pode tributar aqueles que, pela posição assumida, de algum modo
se presumem interessados na prossecução dos fins do Estado e nos
benefícios, particulares ou gerais, que o mesmo Estado oferece. Para
que atribuição seja legítima torna-se necessário que quem a suporta
tenha estabelecido com a entidade imposta um vínculo político e
económico que justifique o seu interesse em relação às actividades que
essa mesma entidade desenvolve.

3.6.6. Os Conflitos Internacionais de Tributação

Estes resultam da adopção pelas várias ordens jurídicas de critérios


diferentes na definição dos pressupostos tributários, quando uma
situação se acha ligada, pela diversidade dos seus elementos, a mais
de uma ordem jurídica, essa disparidade na definição de pressupostos
tributários pode determinar, ou que mais de um Estado tribute tal
situação ou que nenhum tribute, quando, normalmente, sem essa
bilateralidade de conexão, ela seria tributada. No primeiro caso, o
conflito é positivo, dele resultando uma duplicação de impostos; no
segundo caso o conflito é negativo, e dá lugar a uma invasão fiscal,
nalguns casos provocada por Estados que, com o fim de atraírem
pessoas ou capitais aos seus territórios, procuram através das suas
legislações criar os designados “paraísos fiscais”.

Também as duplas tributações e a evasão fiscal tributária, no plano


internacional, têm sido evitadas, muitas vezes, à falta de convenções,
por medidas legislativas unilateralmente adoptadas pelos Estados.
Assim, por exemplo, a Lei 65/90, que aprovou o Orçamento de
Estado para 1991, autorizou o Governo, “até que sejam celebradas
convenções para evitar a dupla tributação, a estabelecer medidas
unilaterais com essa finalidade relativamente aos rendimentos
auferidos por cooperantes e por

56
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

sociedades com sede ou direcção efectiva em Portugal e provenientes


de países que foram colónias portuguesas”, como é o caso de
Moçambique.

EXERCÍCIOS

1) Que relação existe entre o princípio da legalidade tributaria e o princípio da tipicidade


dos Impostos?

2) Em que consiste o principio da autorização anual da cobrança?

3) Explique porque é que o Costume e a Doutrina não constituem fontes do Direito Fiscal
embora sendo uma fonte de direito.

4) O princípio da legalidade constante do artigo 127 da CRM não autoriza somente a


Assembleia da República a aprovar o imposto, mas podem entrar também outros órgãos
a exercer a mesma função, justifica a sua resposta.

5) Qual o significado do princípio da legalidade?

6) O Princípio da igualdade tributaria é uma consagração indirecta. Comente a afirmação.

57
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

TEMA IV – INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO DO DIREITO FISCAL


UNIDADE Temática: 4.1 A interpretação das normas jurídico-fiscais

UNIDADE Temática: 4.2 A integração de Lacunas jurídico-fiscais

UNIDADE Temática: 4.3 Aplicação da Lei Fiscal no Tempo e no


Espaço

UNIDADE Temática: 4.1 A interpretação das normas jurídico-fiscais

Na determinação do sentido das normas tributarias e na qualificação


dos factos a que as mesmas se aplicam são observadas as regras e
princípios gerais de interpretação e aplicação das leis8, tal
determinação é orientada para o fim da norma, como limite do
sentido possível das palavras de acordo com os seguintes elementos
auxiliares:

a) O contexto histórico da sua elaboração e a época em que é


aplicada;
b) A localização sistemática da regra numa fonte normativa, e a
sua relação com outros artigos a capítulos do mesmo diploma
e com fontes normativas afins;
c) A conformidade à Constituição da República, à Lei de Bases
do Sistema Tributário e à presente lei;
d) A capacidade contributiva, enquanto critério de interpretação
dos conceitos utilizados pelas regras de incidência tributaria;
e) O fim económico-social perseguido.

Os conceitos não definidos na legislação tributaria, têm o significado


que lhes é atribuído no ramo de direito de onde procedam, a não ser
que o fim da regra tributaria exija uma interpretação diferente.

8
Veja se redacção do art. 10 da Lei n. 2/2006, de 22 de Março.

58
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

No campo de interpretação das normas fiscais reflecte-se os


problemas comuns da interpretação das normas jurídicas em geral. As
normas fiscais poderão ser interpretadas pelo próprio legislador,
através de normas interpretativas (interpretação autentica, ou
legislativa), quanto as quais importar ter presentes os preceitos do
artigo 13 do C.C, que diz:

“…. 1 – A lei interpretativa integra-se na lei interpretada,


ficando salvos, porém, os efeitos já produzidos pelo cumprimento
da obrigação, por sentença passada em julgado, por transacção,
ainda não homologada, ou por actos de análoga natureza….”

Poderão também ser interpretadas pelos tribunais (interpretação


jurisprudencial) ou por jurisconsultos (interpretação doutrinaria).

O intérprete das normas jurídicas, terá de fixar o respectivo sentido,


conjugando o elemento gramatical com o elemento lógico, ou
teológico, incluindo os aspectos racional, sistemático e histórico, e
acabando por concluir umas vezes pela coincidência entre a letra e o
espírito da norma (interpretação declarativa), outras vezes pela
preferência em relação a um sentido restrito, outras ainda pelo
predomínio de um sentido extensivo.

Na determinação do sentido das normas tributárias e na qualificação


dos factos a que as mesmas se aplicam são observadas as regras e
princípios gerais de interpretação e aplicação das leis;

Sempre que, nas normas tributárias, se empreguem termos próprios


de outros ramos de direito, devem os mesmos ser interpretados no
mesmo sentido daquele que aí têm, salvo se outro entendimento
decorrer directamente da lei;

Persistindo a dúvida sobre o sentido das normas de incidência a


aplicar, deve atender-se à substância económica dos correspondentes
factos tributários;

Em caso de simulação de acto ou negócio jurídico, a tributação recai


sobre o acto ou negócio jurídico real e não sobre o acto ou negócio
simulado;
59
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

As normas que determinam a incidência e as isenções, não são


susceptíveis de interpretação extensiva nem analógica. Tal como as
restantes normas jurídicas, as normas fiscais têm de ter critérios de
interpretação, isto é, regras que os habilitem a descobrir o seu sentido.

É que, como muitas vezes acontece, a leitura das normas prestam-se


os sentidos vários, e há que determinar o seu conteúdo.

Entre as várias doutrinas sobre a interpretação das Leis Fiscais,


ressaltam as seguintes:

a) “in dúbio contra fiscum” – com base numa ideia de odiosidade


do fisco, nascida do facto de os cidadãos não serem ouvidos
sobre a criação dos impostos, na época impera romana
formulou-se o princípio de que o interprete quando não
lograsse alcançar o sentido exacto das normas, deveria, na
dúvida, optar pela solução que fosse favorável ao contribuinte
(na duvida contra o fisco).

Esta regra de interpretação tem se por contrastada com o argumento


de que, no modelo Estado de Direito, o princípio da legalidade
constitui uma garantia do contribuinte contra as arbitrariedades do
fisco.

b) ”in dúbio pro fisco” (na dúvida deve decidir-se a favor do


fisco). Baseia-se esta corrente na ideia de que os interesses
colectivos de obtenção de receitas para a satisfação das
necessidades públicas se deviam sobrepor aos interesses
individuais.

Não tem praticamente defensores pois que hoje se entende que ao


intérprete apenas deve interessar a determinação do sentido exacto
da lei e que a necessidade de obtenção dos meios financeiros não
pode sobrepor-se às garantias de que gozam os cidadãos.

c) Interpretação literal – ainda com base na mesma ideia de


protecção dos contribuintes, esta corrente defende que as
normas fiscais devem interpretar-se de acordo com o sentido
estrito das palavras da lei, não sendo
60
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

permitida a interpretação extensiva e analógica de que, na


pratica, é difícil a distinção entre diversas formas de
interpretação e que, não tendo o direito fiscal uma estrutura
lógica interna forte, admitir-se a interpretação extensiva seria
limitar em maior grau os direitos individuais e patrimoniais dos
cidadãos.

d) Interpretação funcional – segundo tal corrente, o sentido exacto


e alcance da norma fiscal só se apreende se se tiver presente
os diversos aspectos do fenómeno tributário: o político, o
económico, o jurídico e o técnico. Esta forma de interpretação
tem de ter-se por afastada pois que, em nome da ”colheita”
de dados sobre os diversos aspectos do fenómeno financeiro,
poderia o intérprete abalançar-se a tributar, situações não
previstas nem pelo espírito da lei, acolhendo um elemento
normativo novo, e, assim, violando o principio da legalidade.

A doutrina dominante para a interpretação das normas fiscais vai no


sentido de que se devem aplicar ai as regras gerais de interpretação,
isto é, permitir a interpretação extensiva. O direito fiscal esta hoje
modelado pelo princípio da legalidade e é tão limitar dos direitos
individuais como todos os outros ramos de direito. Por isso deve ser
permitido ao intérprete procurar o sentido da norma que corresponda
ao seu espírito, mesmo que sentido, cabendo embora de algum modo
na letra dela, não tenha ai encontrado uma perfeita e correspondente
expressão verbal. Exceptuam-se naturalmente, os casos em que a Lei
afaste a interpretação extensiva.

UNIDADE Temática: 4.2 A integração das Lacunas do Direito Fiscal

Perante uma lacuna da lei, isto é, quando a lei não regula


directamente a situação em apreço, poderá aplicar-se-lhe a disciplina
de casos analógicos. Na falta de casos analógico, a situação será
resolvida segundo a norma que o próprio interprete criaria, se

61
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

houvesse de legislar dentro do espírito do sistema.

Os preceitos contidos nos nºs. 2 e 4 do artigo 127 da CRM, vedam a


integração de lacunas analogias das normas do Direito Fiscal. A
questão que se coloca é saber se em relação as outras normas fiscais
serão ou não admissíveis a sua aplicação analógica?

Esta solução, prevista para o direito comum no Código Civil, deverá


adoptar-se para o direito fiscal? Por outras palavras, deverá, perante
casos omissos, recorrer-se à analogia?

As lacunas resultantes de normas tributárias que devam


obrigatoriamente constituir matéria de lei não são susceptíveis de
interpretação analógica.

No domínio dos elementos essenciais do imposto, é seguro que a


analogia deve ser excluída. Nem vale aqui o argumento de que a
analogia se impõe em nome do princípio da igualdade tributária, pois
que tal princípio se dirige ao legislador e não ao intérprete.

Quanto às restantes normas fiscais (lançamento e cobrança, etc.)


entende-se que o recurso à analogia é lícito. Perante casos omissos,
recorrer-se-á sucessivamente aos preceitos gerais do direito tributário
e de outros ramos de direito afins.

UNIDADE Temática: 4.3 Aplicação da Lei Fiscal no Espaço e no Tempo

4.3.1. No Espaço

No direito fiscal vigora a regra da territorialidade, isto é, as normas


fiscais aplicam-se apenas dentro do território nacional. Para a
aplicação da lei no território nacional exige-se a existência de certos
elementos de conexão reveladores de capacidade contributiva. Umas
vezes exige-se a presença no território, da matéria colectável, outras
vezes exige-se que o sujeito resida no País.

O princípio da territorialidade, entendido em sentido amplo quando


a lei exige a presença da matéria
62
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

colectável no território e em sentido estrito quando é bastante a


presença da pessoa titular dessa mesma matéria colectável, sofre no
direito moçambicano alguns desvios: assim, podem ser sujeitos ao
pagamento de impostos cidadãos nacionais residentes no estrangeiro,
ou podem os residentes fora das fronteiras nacionais ser obrigados a
pagar impostos por actos ou rendimentos obtidos em Moçambique.

Porque as normas definidoras da competência tributaria são normas


unilaterais, de eficácia meramente interna, pode bem acontecer que
a mesma relação, quando em contacto com mais de um país, seja
tributada em todos eles, se for diferente o elemento de conexão
adoptado por cada um desses países, estaremos então perante um
conflito tributário positivo.

É o que sucederá, por exemplo, se determinada pessoa residente de


um Estado, exercer a sua actividade num outro Estado, esta pessoa
ver-se-á tributada em ambos os Estados pelos rendimentos auferidos
no exercício dessa actividade, se o primeiro adoptar como elemento
de conexão relevante o lugar da residência e o segundo o do
exercício da actividade. E o mesmo acontecerá se o beneficiário de
lucros sociais provenientes de determinado Estado, residir em outro
desde que o primeiro Estado atenda ao local da fonte dos
rendimentos e o segundo ao da residência do respectivo titular.

Mas da falta de conjugação dos sistemas legislativos dos diferentes


países pode resultar, em vez de um conflito tributário positivo, antes
um conflito negativo, que se traduz na não tributação da relação em
causa por qualquer dos países com os quais ele esta em contacto.

Seria o que viria a acontecer nos dois exemplos focados se por


hipótese o Estado da residência adoptasse como elemento de
conexão o local do exercício da actividade, no primeiro caso, e o da
fonte de rendimentos no segundo, enquanto o Estado do exercício da
actividade ou da fonte dos rendimentos seguiam invariavelmente o
critério da residência.

Com vista a evitar a dupla tributação, fenómeno bem negativo numa


óptica de movimento internacional de

63
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

capitais tem vindo a ser celebrados entre os diversos Estados,


nomeadamente depois da segunda Guerra Mundial, acordos
bilaterais para ”evitar a dupla tributação”9.

4.3.2. No Tempo

Três problemas distintos se colocam em matéria de aplicação das


normas fiscais no tempo: os problemas do início de vigência das
normas, da cessação da vigência e de direito transitório ou de conflito
das normas fiscais no tempo.

a) Início de Vigência

A existência jurídica dos diplomas depende da sua publicação e o


começo da vigência do diploma é o dia nele fixado ou, na falta de
fixação, é o décimo quinto dia após a publicação, no entanto, também
se aplicam os prazos estabelecidos na Lei nº. 2/2006, de 22 de
Março, quando o legislador não tenha fixado outros especialmente.

As normas tributárias oneradas do sujeito passivo aplicam-se somente


aos factos posteriores à sua entrada em vigor, não se considerando
como oneradora do sujeito passivo10, para este efeito, a norma que:

 Corrija imprecisões ou erros formais da lei;


 Elimine dúvidas de interpretação da legislação vigente;
 Altere legislação vigente que favoreça comportamentos de
abuso fiscal;
 No caso de infracção tributária, deixe de a qualificar como
tal, bem como a que determine um regime punitivo mais
favorável do que o previsto na lei vigente ao tempo da sua
prática, e não tenha sido proferida sentença condenatória
transitada em julgado.

Poderá entender-se que as normas fiscais, ou pelo menos, as de


incidência, têm a força vinculativa condicionada pela autorização

9
Noções de Direito Fiscal – Dr. Alberto F. A. Perreira-pag. 65
10
Artigo 10 da Lei n. 2/2006.

64
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

parlamentar anual de cobrança de receitas, que se integrará, ou não


no Orçamento do Estado. Quanto a outros aspectos, nenhuma
particularidade oferece as normas fiscais quanto à sua vigência e
quanto à respectiva”vacation legis“. Pelo que que se lhes aplicam os
prazos estabelecidos na Lei nº. 2/2006, de 22 de Março, quando o
legislador não tenha fixado outros especificamente.

Sem prejuízo de tratados ou convenções internacionais de que


Moçambique seja parte e salvo disposição legal em sentido contrário,
as normas tributárias aplicam-se aos factos que ocorram no território
nacional e aos rendimentos auferidos no estrangeiro por residentes.

Também quanto á cessação da vigência das normas fiscais essa


cessação se verifica nos termos comuns, pela revogação ou pela
caducidade, nos casos em que a vigência daquelas normas tenha sido
pelo legislador.

E como quaisquer outras leis, as leis fiscais podem ser objecto de


caducidade, depois de decorrido o prazo previsto para a sua
vigência. Podem também ser objecto de revogação, total ou parcial,
expressa ou tácita, por parte de uma lei posterior que regule de modo
diferente a mesma material e podem por outro lado ser suspensas por
diploma de valor igual ou superior.

EXERCÍCIOS

1) Em Direito Fiscal é proibida a analogia. Comente

2) Os princípios interpretativos ”in dúbio pro fisco” e ”In dúbio contra fiscum” ferem o
princípio da legalidade. Explique em que medida.

3) Aceitar a interpretação extensiva das normas de incidência podia conduzir a violação


do princípio constitucional da legalidade. Explique em que medida.

4) Porque é que no Direito Fiscal vigoram as regras de territorialidade no que concerne a


cobrança dos Impostos?

65
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

TEMA V – A RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL


UNIDADE Temática: 5.1 Pressuposto da Relação do Imposto

UNIDADE Temática: 5.2 Objecto da Relação Jurídica

UNIDADE Temática: 5.3 Sujeitos da Relação Jurídica Fiscal

UNIDADE Temática: 5.1. Pressuposto da Relação do Imposto

A conjugação dos “pressupostos tributários” como facto constitutivo da


relação de imposto, ou facto gerador da relação de imposto, será
aquele facto que conjugou os pressupostos previstos na lei tributária.
É a realidade com vigor jurídico bastante, que lhe advém da lei, para
pôr em movimento, para combinar, os pressupostos tributários,
considerados estes como aquelas situações, pessoais e reais, previstas
expressa ou tacitamente, pelas normas de incidência tributária.

Um pressuposto, em si mesmo, como tal, não é causa, não é facto


constitutivo. É qualquer coisa sem a qual a causa, o facto constitutivo,
se não verifica, não actua.

O pressuposto de facto, no sentido global de conjunto de pressupostos


é sempre indispensável para que qualquer obrigação tributária se
constitua.

Os princípios da generalidade, da proporcionalidade ou da


progressividade, por exemplo serão pressupostos político-financeiros
da relação tributária. Mas, numa construção jurídica, interessam,
fundamentalmente os pressupostos jurídicos, isto é, os factos de cuja
conjugação a lei de imposto faz dependerem, expressa ou
tacitamente, o nascimento da relação tributária.

Os pressupostos jurídicos de uma relação tributária podem ser muito


variáveis. Uma das classificações que se impõe divide os pressupostos
tributários por duas grandes categorias, a dos subjectivos e a dos
objectivos. Com efeito, os pressupostos tributários podem dizer
respeito a pessoas e bens.

66
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Outra classificação indispensável divide os pressupostos tributários em


genéricos, os que procedem toda e qualquer relação de imposto; e
específicos, aqueles que precedem as relações de imposto de certo
tipo.

Tendo-se definido pressupostos tributários, como aquelas situações


previstas, expressa ou tacitamente, pelas normas de incidência
tributária, é admissível fazer-lhes corresponder todas as realidades
jurídicas que correspondem para a constituição de qualquer vínculo
tributário. Os pressupostos podem abranger, assim, não apenas o
plano da projecção directa de uma lei de imposto mas todo o
complexo legal dos comandos impositivos e mesmo o plano supralegal
da soberania tributária.

Assim, para que se constitua qualquer relação de imposto, seja qual


for a sua espécie é necessário que exista um Estado soberano, o
exercício dos seus poderes fiscais, que o respectivo crédito tributário
seja atribuído a alguém que possa, pela sua natureza, integrar-se
numa relação tributária como sujeito activo, que o respectivo débito
tributário recaia sobre um ente cuja personalidade passiva seja
reconhecida pelo Direito Fiscal, que esse ente se encontre num certa
posição de presumível benefício relativamente a um ente económico,
e que se mantenha o necessário enquadramento jurídico de um sistema
fiscal. Mesmo conjugando-se todos esses pressupostos genéricos, a
verificação de uma isenção fiscal, funcionando como pressuposto
negativo, obstará a que se constitua um vínculo jurídico de imposto.

UNIDADE Temática: 5.2 Objecto da Relação Jurídica

Os pressupostos tributários são uns subjectivos e outros objectivos. Ou,


se se considera um único pressuposto tributário, no sentido de facto
constitutivo, facto gerador, haverá sempre nele uma zona subjectiva,
correspondendo a aspectos pessoais e uma zona objectiva,
correspondendo a aspectos reais do plano de incidência fiscal.

67
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Pressuposto objectivo genérico, sem a verificação do qual nenhum


vínculo jurídico-tributário se constitui, é a matéria colectável. Não
havendo riqueza, bens materiais, bens económicos, assim como uma
entidade à qual se atribua a usufruição dessa riqueza, não há também
imposto. No entanto, é de notar que essa riqueza pode ser presumida
pelas leis fiscais.

Os pressupostos objectivos da tributação, podem ser imediatos e


mediatos:

a) Objecto imediato

O objecto imediato, é aquele constituído pelo próprio conteúdo do


vínculo, pelos direitos e deveres que nele se integram; este
correspondendo à prestação.

O objecto imediato da relação de imposto, também designado por


conteúdo, é pois, constituído pelos direitos e deveres nessa relação
incluídos. E como cada direito de um dos sujeitos encontra
contrapartida num dever do outro, bastará indicar os direitos e os
deveres correspondentes ao sujeito activo, ou ao sujeito passivo, para
se fixar o conteúdo da relação de imposto. Indicar-se-ão, assim, os
deveres e os direitos do sujeito passivo, do contribuinte.

O dever fundamental do sujeito tributário passivo é o de realizar a


prestação de imposto, que corresponde ao objecto imediato da
relação.

Quanto aos direitos do contribuinte, afirmando-se correntemente que


a relação jurídica de imposto é unilateral, respeitando essa
unilateralidade para uns autores apenas à origem mas para outros
também ao conteúdo, poderá parecer duvidoso que naquela relação
se incluam direitos do sujeito passivo.

b) Objecto mediato

O objecto mediato da relação jurídica de imposto é uma conduta, uma


prestação positiva, “de dare”, “de facere”, ou negativa “de non
facere”.

68
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Entende a generalidade da doutrina que a prestação tributária


principal é sempre ”de dare”, só se apresentando como “de facere”
ou “de non facere” as prestações acessórias. E assim será se se negar
natureza tributária ao aspecto negativo dos monopólios fiscais, isto é,
à proibição de fabricar ou vender produtos monopolizados.

As prestações tributárias acessórias, quer “de facere” quer “de non


facere”, geralmente não são fungíveis, pois pressupõem uma conduta
pessoal do contribuinte.

Distinguem-se, frequentemente, a prestação tributária principal,


resultante da aplicação da taxa básica do imposto, os adicionais e os
adicionamentos. Mas importará observar que a prestação global,
resultante da aplicação da taxa básica, dos adicionais e dos
adicionamentos, é, em regra, incindível.

UNIDADE Temática: 5.3 Sujeitos da Relação Jurídica Fiscal

5.3.1. Personalidade tributária

A personalidade tributária, constitui um dos aspectos da


personalidade jurídica. Consiste no reconhecimento de centros de
imputação de direitos e deveres tributários. É a susceptibilidade
desses direitos e desses deveres. As leis fiscais, visando transferir para
as entidades públicas a parte dos patrimónios que se julga devida
pela participação daquelas no processo de formação de riqueza,
atingem pela incidência tributária, realidades económicas, que nem
sempre correspondem a situações jurídicas regularmente definidas.

A personalidade jurídica sofre, limitações e cerceamentos, ditados


pelas particularidades dos ramos de Direito face aos quais não faria
sentido, não teria causa, atribuir personalidade a determinadas
entidades. E acontece também, por vezes, que a personalidade
jurídica é atribuível apenas como susceptibilidade de certos direitos e
deveres em determinados tipos de relações jurídicas.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

5.3.2. Natureza da personalidade tributária activa

A susceptibilidade em obrigações tributárias como sujeito activo, isto


é, a personalidade tributária activa é nitidamente separável da
soberania fiscal. Não apenas porque aquela qualidade de sujeitos
activos é atribuída a entidades diversas do Estado, não soberanas,
mas também porque a personalidade do Estado se desdobra por dois
planos, o do Estado-soberano, legislador, e o Estado-administrador. E
é este que aparece nas relações tributárias como sujeito activo.

A lei de imposto, ao definir os pressupostos tributários de que faz


depender o nascimento da relação jurídico-fiscal, atribui a certas
entidades determinados direitos, dependentes da verificação
daqueles pressupostos e integrados na relação jurídico-fiscal
respectiva. Mas a lei de imposto não pode atribuir uma qualidade de
credor um vínculo tributário a uma entidade que não goze da
personalidade tributária activa. Põe-se, pois, o problema de saber de
que condição depende essa personalidade, a que poderá a lei de
imposto atribuir a qualidade de sujeito tributário activo.

A personalidade tributária activa parece depender da prossecução


de interesses colectivos. Poderá admitir-se que o Estado legislador
seja livre na concessão dessa personalidade tributária activa; mas aos
sistemas políticos e jurídicos evoluídos repugnaria a atribuição de
créditos fiscais a entidades que não prosseguem fins de interesse
público.

5.3.3. Personalidade Tributária activa do Estado

O Estado, pela sua mesma natureza, carece de órgãos para através


deles exprimir a sua vontade soberana, de império, no exercício da
sua função legislativa, ou governativa. De igual modo, o Estado, ao
exercer funções executivas, administrativas, carece de órgãos que,
normalmente, exprime a vontade do Estado, no plano da
Administração é o Governo.

70
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

O Governo é também o órgão por meio do qual o Estado manifesta


a sua vontade nos quadros da relação jurídica de imposto, através de
actos de conteúdo individual (lançamento, liquidação, cobrança,
fiscalização) realizados por agentes situados na hierarquia da
orgânica governamental.

5.3.4. Personalidade tributária passiva

As especialidades do conceito tributário de personalidade avultam


quanto à susceptibilidade de ser sujeito passivo da obrigação fiscal,
quanto à personalidade tributária passiva.

Não oferece dúvidas a atribuição de personalidade tributária passiva


às entidades que como pessoas são tidas pela generalidade de outras
disciplinas jurídicas, quer se trate de pessoas físicas quer de pessoas
meramente jurídicas.

5.3.5. Sujeito tributário passivo, contribuinte de direito e


contribuinte de facto

O sujeito da relação de imposto, pessoa a quem é juridicamente


exigível a prestação tributária, apresenta-se-nos como o contribuinte,
ou contribuinte de Direito, para distingui-lo da figura do contribuinte
de facto, que se desenha em consequência de, por vezes, o sacrifício
económico resultante do pagamento do imposto ser suportado por
pessoa diversa a quem é juridicamente exigível.

Tem-se procurado distinguir o sujeito passivo – titular de uma situação


jurídico-tributária passiva – do contribuinte – pessoa em relação à
qual se verificam os pressupostos tributários – e do devedor de
imposto – aquele sobre quem recai o dever de prestar.

Não deverá pretender-se que o substituto de impostos ou que os


responsáveis tributários sejam devedores mas não sejam contribuintes,
nem sujeitos passivos, da relação de imposto. O substituto como o
responsável, como o devedor solidário,
71
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

como o sucessor devem o imposto, são devedores, porque são


contribuintes, porque são sujeitos passivos a relação jurídica de
imposto. Apenas não são sujeitos passivos, nem contribuintes, nem
devedores originários.

O sujeito tributário passivo pode sê-lo por um débito originário ou por


um débito não originário. O débito do sujeito tributário passivo é
normalmente originário.

Mas também quanto ao carácter originário do débito tributário


importa ter presente que aquele carácter não coincide sempre e
necessariamente com o desenvolvimento normal da relação jurídica de
imposto. Não serão sujeitos passivos não originários apenas as
pessoas daquela relação. Há casos em que a entidade obrigada a
pagar na base de um desenvolvimento normal da relação de imposto
é um sujeito passivo não originário.

Assim acontece com os substitutos de imposto, chamados a pagar a


prestação tributária normalmente, isto é, na base de um
desenvolvimento normal da relação jurídica de imposto. Mesmo assim,
os substitutos de impostos são devedores, sujeitos passivos, não
originários; porquanto em relação a eles não se estabelece uma
presunção de benefício que justifique a incidência tributária.

A atribuição de personalidade tributária passiva depende de vínculos


de carácter político e económico. É o factor político que fixa os limites
da atribuição no espaço. A ordem jurídico-fiscal tributa situações
económicas, mas apenas aquelas que se desenvolvem na esfera da
respectiva soberania. Esta esfera é limitada por elementos políticos,
tais como a cidadania, o domicílio, a residência, a passagem pelo
território estadual, a situação de bens nesse mesmo território, a
propositura de uma acção judicial perante os Tribunais do Estado, etc.

Assim, sujeito passivo de uma relação tributária predial, ou de


contribuição autárquica, será quem se presume auferir um rendimento
– elemento económico – proveniente de um prédio situado no território
do Estado – elemento político: será sujeito de uma relação tributária

72
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

de imposto do selo quem, tendo celebrado um contrato no estrangeiro,


queira invocá-lo perante a ordem jurídica.

Quando várias pessoas se acham na posição de sujeitos passivos de


um mesmo vínculo tributário, é de admitir que a lei fiscal a considere
solidariamente obrigadas. E nesse caso, o sujeito activo poderá exigir
de uma só o pagamento da totalidade da prestação tributária nos
termos comuns do regime de solidariedade (art. 521º e 524º CC).

5.3.6. Personalidade Tributária em Especial

Não basta o gozo de personalidade tributária passiva, em geral,


para que uma entidade se integre, como sujeito passivo, em qualquer
tipo de obrigação de imposto. A estrutura característica de cada
espécie tributária exige preenchimento de certos requisitos de cuja
verificação depende a personalidade tributária em especial.

As isenções pessoais ou subjectivas, funcionam como condições


negativas relativamente à atribuição de personalidade tributária
passiva específica. Esta só será atribuída a certa entidade se ela não
beneficiar de uma isenção.

As isenções – quer as subjectivas quer as objectivas – não devem


confundir-se com as situações de não incidência. Para que se verifique
uma isenção tributária é indispensável precisamente uma situação de
incidência, da qual a isenção tem o efeito de afastar uma pessoa –
caso de isenção subjectiva – ou um bem – caso da isenção objectiva.

5.3.7. Definição de Sujeito Passivo

Por sujeito passivo da relação jurídico-tributária entende-se quem, nos


termos da legislação tributária, esteja obrigado ao cumprimento de
uma prestação tributária, de natureza material ou formal, seja uma
pessoa singular ou colectiva, uma entidade constituída observando ou
não os requisitos legais, um património, uma organização de facto ou

73
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

de direito ou qualquer outro agrupamento de pessoas. Ainda


distinguir que:

a) No entanto, não adquire a qualidade de sujeito passivo quem:


 Suporte o encargo do tributo por repercussão legal, sem
prejuízo do direito de reclamação, recurso hierárquico ou
recurso contencioso nos termos das leis tributárias; ou
 Deva prestar informações sobre assuntos tributários de
terceiros, exibir documentos, emitir opinião em processo
administrativo ou judicial ou permitir o acesso a imóveis no
local de trabalho.

b) Da Personalidade Tributária e da Representação:


 A personalidade tributária consiste na susceptibilidade de
ser sujeito de uma relação jurídico-tributária;
 A tributação do agregado familiar não implica a
atribuição de personalidade tributária ao mesmo,
podendo qualquer dos cônjuges praticar todos os actos
relativos à situação tributária do agregado familiar e
ainda os relativos aos bens ou interesses do outro cônjuge,
desde que este os conheça e não se lhes tenha
expressamente oposto;

 A capacidade tributária de exercício é determinada nos


termos da lei civil;
 Os direitos e deveres tributários dos incapazes e das
entidades sem personalidade jurídica são exercidos,
respectivamente, pelos seus representantes, designados de
acordo com a lei civil, e pelas pessoas que administrem,
legalmente ou de facto, os seus interesses, os quais devem
pagar os tributos devidos pelos bens que administram e
cumprir todas as obrigações tributárias com elas
relacionadas;
 Os actos em matéria tributária praticados pelo
representante legal em nome do representado produzem

74
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

efeitos na esfera jurídica deste, nos limites dos poderes de


representação que lhe forem conferidos;
 O cumprimento dos deveres tributários pelos incapazes
não implica a invalidade do acto, sem prejuízo do direito
de reclamação, recurso hierárquico ou recurso contencioso
do representante.

c) Designação Obrigatória de Representante Tributário:

São obrigados a designar uma pessoa singular ou colectiva com


residência em território moçambicano, para os representar perante a
administração tributária, nos casos e nos termos da legislação
aplicável:

 Os não residentes, pessoas singulares ou pessoas


colectivas, com ou sem estabelecimento estável no País, que
obtenham rendimentos ou tenham bens localizados em
território moçambicano;
 Os sócios não residentes de pessoas colectivas, residentes
ou não residentes, com ou sem estabelecimento estável em
território moçambicano, que obtenham rendimentos ou
tenham bens localizados neste território;
 Os sujeitos passivos que, embora residentes neste
território, se ausentem deste por período superior a cento
e oitenta dias.

Uma vez designado o representante, a revogação dos poderes de


representação tributária só produz efeitos para com a administração
tributária quando lhe for notificada.

d) Representação Orgânica:

Os direitos e deveres das pessoas colectivas são exercidos pelos seus


representantes, designados nos estatutos ou, na falta de disposição
estatutária, pela administração, de direito ou de facto, ou por quem
a administração designar.

75
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Os representantes das pessoas colectivas referidos no número anterior


e os representantes legais das entidades sem personalidade jurídica
que sejam sujeitos passivos de um tributo também podem conferir, nos
termos da lei, procuração para o exercício de actos de natureza
processual tributária.

Os estabelecimentos estáveis de pessoas não residentes podem


exercer os seus direitos e obrigações tributárias, e intervir no
procedimento administrativo mediante autorização expressa da sede
ou direcção efectiva e através de representante, quando o facto
tributário lhes respeitar.

A designação referida na alínea anterior é feita na declaração de


início de actividade, ou de alterações, devendo dela constar
expressamente a sua aceitação pelo representante.

5.3.8. Substituto Tributário:

O substituto tributário é o sujeito passivo que, por imposição da lei,


está obrigado a cumprir prestações materiais e formais da obrigação
tributária em lugar do contribuinte;

A substituição tributária é efectivada, especialmente, através do


dever de retenção na fonte do tributo devido pelo substituído, a título
definitivo ou por conta, por ocasião de um pagamento a outra pessoa,
e do dever de entrega dos montantes retidos ao tesouro público;

A entrega de tributo por parte do substituto tributário, sem ter existido


a necessária retenção do mesmo, confere direito de regresso por
parte do substituto em relação ao substituído, a exercer nos termos da
lei civil;

O tributo retido e pago pelo substituto tributário, ainda que


indevidamente, é considerado como tendo sido pago em nome e por
conta do substituído.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

5.3.9. Responsável Tributário:

Responsável tributário é o sujeito passivo a quem é exigido o


pagamento de uma dívida tributária de outrem, que não foi
atempadamente paga.

5.3.10. Domicilio Fiscal e Número de Contribuinte:

Os sujeitos passivos residentes e seus representantes legais ou


voluntários, e os representantes dos sujeitos passivos não residentes,
estão obrigados a fixar um domicílio fiscal em Moçambique.

O domicílio fiscal é assim determinado:

 Para as pessoas singulares, o local da sua residência habitual


em território nacional;
 Para as pessoas colectivas, o local da sua sede estatutária em
território nacional ou da direcção efectiva ou estabelecimento
em que estiver centralizada a contabilidade, se estes forem
diferentes da sede;
 No caso de estabelecimento estável de não residentes situados
em território nacional, o local da centralização da gestão
administrativa e direcção de negócios.

Para os sujeitos passivos considerados grandes contribuintes pela


administração tributária ou em outros casos específicos, pode ser-lhes
estabelecido um domicílio fiscal diferente do determinado por
aplicação destes critérios.

A cada contribuinte e aos substitutos é atribuído pela administração


tributária um Número Único de Identificação Tributária (NUIT). É o
número composto por 9 dígitos, repartido em 3 partes, sendo a 1ª o
dígito indicativo do tipo de entidade, a 2ª parte (do 8° ao 2° digito)
indica o número sequencial e a ultima parte (ultimo digito) indica a
exactidão do Numero Único de Identificação Tributaria.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Os contribuintes têm de incluir nas suas declarações, facturas,


correspondência com a administração tributária e outros documentos
referidos na lei ou em outras normas tributárias o número de
identificação tributária assim atribuído.

EXERCÍCIOS

1) Distinga Substituto Tributário de Responsável Tributário.

2) De que são compostos os pressupostos tributários subjectivo, de exemplos.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

TEMA VI – FACTO EXTINTIVO DA RELAÇÃO JURÍDICA

UNIDADE Temática: 6.1 Cumprimento da Obrigação Fiscal

UNIDADE Temática: 6.2 Dação em Cumprimento

UNIDADE Temática: 6.3 Prescrição da Obrigação Fiscal

UNIDADE Temática: 6.1. Cumprimento da Obrigação Fiscal

O cumprimento, ou pagamento, constituí a forma normal de extinção


da obrigação tributária, como de qualquer outra. O princípio
fundamental em matéria de cumprimento é o da pontualidade, o que
significa que o cumprimento há-de corresponder, em todos os aspectos
ao montante à época, ao local e ao modo.

A pontualidade não exige, normalmente, que a obrigação deva ser


cumprida pelo próprio sujeito passivo, directamente ou através dos
seus representantes, legais ou voluntários. Compreende-se bem que
assim seja em relação à generalidade das prestações tributárias, por
não se tratar de prestações de coisa, ou de facto, mas sim,
normalmente, de prestações pecuniárias. No entanto, algumas
prestações acessórias poderão ser exigidas pessoalmente ao
contribuinte.

A prestação tributária deverá ser realizada no prazo e no local


estabelecidos e pela forma legalmente prevista. Quanto ao prazo do
cumprimento, ele é muitas vezes estabelecido directamente pela lei,
que tem definido um período de cobrança à “boca do cofre”, durante
o qual os impostos podem ser pagos sem juros de mora, um período
de cobrança voluntária, durante o qual os impostos já só podem ser
pagos acrescidos dos respectivos juros de mora, é um período de
cobrança coerciva, iniciado com o relaxe das contribuições. Assim
acontece com os impostos directos periódicos.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Importa referir que o imposto poderá ser pago a pronto, em


prestações e em anuidades. O pagamento a pronto é o pagamento
integral do imposto, já o pagamento a prestações tem em vista
facilitar ao contribuinte a solvência do débito, é admitido em vários
impostos, fixando-se o valor mínimo da colecta susceptível de ser
paga em prestações.

UNIDADE Temática: 6.2 Dação em Cumprimento da Obrigação Fiscal

A dação em cumprimento é uma forma de extinção da obrigação que


consiste na prestação, com o acordo das duas partes, de coisa diversa
da que constitui o objecto da obrigação.

A dação em cumprimento, dação em pagamento, ou “datioinsoliutum”,


que, tal como o próprio cumprimento, extingue imediatamente a
obrigação, distinguindo-se assim, da “datio pro solvendo”, ou “dação
em função de pagamento” é admitida, por vezes.

Não deverão ser entendidas como casos de dação em cumprimento


as formas de pagamento por cheque, por vale de correio, ou por
transferência de conta. Pela liquidez imediata que aquelas formas
envolvem, elas não correspondem à figura da dação em cumprimento,
a qual, para mais, implica a prestação ao credor de uma coisa diversa
da inicialmente prevista e estipulada.

UNIDADE Temática: 6.3 Prescrição da Obrigação Fiscal

Como qualquer outra obrigação também a relação jurídica de


imposto se extingue quando o cumprimento respectivo não é realizado
num certo período de tempo. Importa determinar qual seja o momento
em que esse período se inicia e qual a sua duração. No Direito Privado
tem-se entendido que o instituto da prescrição extintiva encontraria o
seu fundamento na negligência, no
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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

desinteresse, do credor, que seriam interpretados como renúncia tácita


ao seu direito.

E como geralmente se afirma que os créditos tributários são


irrenunciáveis, poderia também julgar-se que as obrigações
tributárias não fossem prescritíveis.

Mas o instituto da prescrição encontra também fundamento na certeza


e na estabilidade das relações sociais, que não se compadecem com
a cobrança de impostos cujos pressupostos, ou cujo vencimento, se
situem em épocas muito remotas.

As dívidas tributárias prescrevem no prazo de dez anos, incluindo a


devolução, a administração tributária de montantes recebidos
indevidamente, salvo o disposto em lei especial. O prazo de
prescrição começa a contar-se desde o início do ano civil seguinte ao
do vencimento da prestação. De referir que, a reclamação, a revisão,
o recurso hierárquico e o recurso contencioso da liquidação do tributo
suspendem a prescrição. No entanto, a suspensão da prescrição não
pode exceder cinco anos.

EXERCÍCIOS

1) Qual o fim último da Administração Tributaria quanto a dação em cumprimento?

2) A Prescrição é um facto extintivo da obrigação fiscal, diga em que é que ela


consiste?

81
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

TEMA VII – GARANTIAS GERAIS E MEIOS DE DEFESA DO


CONTRIBUINTE
UNIDADE Temática: 7.1. Garantias do Cumprimento da Obrigação
Fiscal

UNIDADE Temática: 7.2. Garantias dos Contribuintes

UNIDADE Temática:7.1. Garantias do Cumprimento da Obrigação Fiscal

O cumprimento de qualquer obrigação acha-se assegurado pela


faculdade conferida ao credor de obter coercivamente do devedor a
respectiva prestação. A acção creditória sobre o património do
devedor constitui, a garantia comum das obrigações (artigos 601 e
817 CC). Também o património do sujeito tributário passivo constituí
a garantia geral das obrigações fiscais. Mas estas beneficiam de um
regime particularmente favorável quanto à acção creditória sobre o
património do devedor, que corresponde á execução fiscal.

Em regra, a realização coerciva do interesse do credor é precedida


de uma acção declarativa, na qual se reconheça o crédito, embora
esse reconhecimento prévio não seja, muitas vezes, necessário, como
no caso da acção, da letra, que são ao mesmo tempo declarativas e
executivas.

Se o imposto não for pago no prazo legalmente estabelecido,


começam a vencer-se juros de mora, que só são devidos quando o
cumprimento não tenha sido pontual. Mas poderá não haver mora do
contribuinte e, no entanto, o pagamento ser retardado por se ter
procedido tardiamente às operações de lançamento e liquidação. Se
esse atraso não for imputável ao contribuinte, este só terá que realizar
a prestação tributaria, não acrescida de quaisquer juros.

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

UNIDADE Temática: 7.2. Garantias dos Contribuintes

A questão da garantia dos contribuintes começou a ser objecto de


regulamentação específica, no nosso ordenamento jurídico em 2006,
com a aprovação da Lei nº. 2/2006, de 22 de Março (Lei Geral
Tributária), que previu no seu artigo 49 e ss a matéria das garantias
gerais dos ”sujeitos passivos“ tal como aconteceu em Portugal com a
aprovação de especificas regulamentações, sobre a declaração de
“direitos ou de estatuto do contribuinte” nos EUA com a aprovação do
“Taxpayer Bill of Rights” de 1996, em Espanha com a Ley de Derechos
y Ganatias de los Contribuintes” de 1998 e em Itália com o “Estatuto
dos Direitos do Contribuinte Italiano” em 2000. Tudo isto a mercê, em
larga medida, ao apelo, a partir do século XX nos anos Noventa, ”à
ideia de cidadania fiscal“.

As garantias dos contribuintes na visão do mesmo autor, se


circunscrevem, “tendo em conta a sua divisão, entre as que se
concretizam basicamente em meios impugnatórios, isto é, em
mecanismos de carácter sucessivo ou repressivo, através dos quais os
contribuintes atacam ou contestam actuações da administração
tributária, mormente os actos tributários em sentido amplo que lesem
os seus direitos ou interesses legalmente protegidos, e as que se
concretizam em meios não impugnatórios, isto é, em meios de outra
natureza, designadamente de tipo petitório através dos quais o
contribuinte procura por via de regra, evitar ou prevenir a violação
dos seus direitos ou interesses legalmente protegidos“

No Sistema Fiscal Moçambicano, as garantias do contribuinte, constam


do artigo 50 da Lei nº 2/2006, de 22 de Março, o qual dispõe que:

“. Constituem garantias gerais do sujeito passivo:

a) Não pagar tributos que não tenham sido estabelecidos de


harmonia com a Constituição;

b) Apresentar reclamações ou recursos hierárquicos, solicitar


revisões ou apresentar recursos contenciosos de quaisquer
actos ou omissões da administração
83
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

tributária, lesivos dos seus direitos ou interesses legalmente


protegidos, nos prazos, nos termos e com os fundamentos
previstos na Lei;

c) Poder ser esclarecido pelo competente serviço tributário acerca


da interpretação das leis tributárias e do modo mais cómodo
e seguro de as cumprir;

d) Poder ser informado sobre a sua concreta situação tributária.”

Para uma melhor compreensão do sentido, alcance e aplicabilidade


destas disposições, em particular no caso da alínea b), importa
recapitular alguns princípios e conceitos da mesma Lei e bem assim da
Lei nº 15/2002, de 26 de Junho (Lei de Bases de Sistema Tributário),
designadamente naquilo que se refere às regras de liquidação do
imposto e ao regime geral de infracções tributárias.

Assim, no que à liquidação do imposto respeita, prescreve o artigo 26


da Lei nº 15/2002, que a mesma:

“....é oficiosa, quando efectuada pela administração tributária,


ou reveste a natureza de auto - liquidação, quando efectuada
pelo contribuinte, e, sendo oficiosa, pode ainda ser de tipo
adicional, ou presumida”.

Havendo lugar a liquidação oficiosa e designadamente no caso de


liquidação adicional, o artigo 85 da Lei nº 2/2006 estipula que a
mesma deve ser objecto de notificação ao contribuinte, e incluir a
seguinte informação:

a) Nome do contribuinte;
b) Número único de identificação tributária - NUIT;
c) Data da notificação;
d) Facto objecto da notificação e o respectivo período tributário;
e) Montante liquidado, juros e multas;
f) Pedido de pagamento do tributo e respectivo prazo;
g) Lugar, o modo e o prazo para efectuar o pagamento;

84
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

h) Fundamentação da liquidação, mesmo quando implique um


aumento da matéria tributável em relação à declarada pelo
sujeito passivo;
i) Procedimentos de reclamação, revisão, recurso hierárquico ou
recurso contencioso que possam ser exercidos, com indicação
dos prazos e órgãos competentes.

Note-se que este procedimento (notificação obrigatória do


contribuinte) não se aplica quando a liquidação seja efectuada com
base nas declarações do contribuinte dentro do período normal de
lançamento e cobrança dos diferentes impostos, caso em que cabe ao
contribuinte promover o respectivo pagamento, sem dependência de
qualquer notificação ou aviso prévio por parte da administração
tributária.

Sempre que se constate haver divergência entre o valor do imposto


liquidado pelos serviços e aquele que, nos seus cálculos, seria devido,
deve o contribuinte exigir os necessários esclarecimentos, invocando o
direito que lhe assiste de ser informado, nos termos da alínea d) do
artigo 50 da Lei nº. 2/2006.

Ainda o artigo 58 da mesma Lei define que:

1. O sujeito passivo titular de direitos ou interesses legalmente


protegidos deve ser notificado (...) para que possa exercer o direito
de audição que lhe assiste, pronunciando-se sobre os factos relevantes
para a decisão.

2. Existe direito de audição, nomeadamente, nas seguintes fases do


procedimento:

a) Antes da liquidação, se ela se afastar da declaração


apresentada pelo sujeito passivo;

b) Antes do indeferimento total ou parcial dos pedidos,


reclamações, revisões, recursos ou petições;

c) Antes da revogação de qualquer benefício ou acto


administrativo em matéria fiscal;

85
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

d) Antes da conclusão do relatório da inspecção tributária.

3. Pode não haver audição, quando, segundo as circunstâncias do caso


concreto, ela se revele desnecessária, nomeadamente quando:

a) O acto não seja desfavorável ao sujeito passivo;

b) Seja necessário tomar uma decisão imediata, sob pena de, no


caso concreto, se pôr em risco a cobrança da receita.

4. É dispensada a audição no caso de a liquidação se efectuar com


base na declaração do sujeito passivo ou a decisão do pedido,
reclamação, revisão, recurso ou petição lhe for favorável.

Recebida qualquer notificação, e sempre que pareça haver


incorrecção ou falta de fundamento nos montantes a que a mesma
respeite, são as seguintes as vias de procedimento que ao contribuinte
poderão oferecer-se:

 A reclamação, a qual tem lugar para a própria entidade que


haja determinado a liquidação, normalmente a Direcção da
respectiva Área Fiscal;
 A impugnação ou recurso hierárquico, a interpor junto do
respectivo superior hierárquico (normalmente o Presidente da
Autoridade Tributária);
 O recurso contencioso, para o Tribunal Fiscal de 1ª Instância.

Especificamente em relação à figura da reclamação, dispõe o artigo


127 da Lei nº 2/2006, que constitui fundamento para que se verifique
qualquer ilegalidade, nomeadamente:

a) Errónea qualificação e quantificação dos rendimentos,


lucros, valores patrimoniais e outros factos tributários, incluindo
a inexistência total ou parcial do facto tributário;

b) A incompetência;

c) A ausência ou vício da fundamentação legalmente exigida;

d) A preterição de outras formalidades legais.

86
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Não pode, porém, ser deduzida reclamação graciosa quando tenha


sido apresentado recurso contencioso com o mesmo fundamento (nº 2
do citado artigo 127).

A reclamação graciosa é apresentada no prazo de 60 dias contados


a partir dos factos seguintes (artigo 128 da Lei nº 2/2006):

 Termo do prazo para pagamento das prestações tributárias


legalmente notificadas ao sujeito passivo;
 Notificação dos restantes actos, mesmo quando não dêem
origem a qualquer liquidação e excluindo a fixação da
matéria tributável por métodos indirectos;
 Citação dos responsáveis subsidiários em processo de
execução fiscal;
 Formação da presunção de indeferimento tácito;
 Conhecimento dos actos lesivos de interesses legalmente
protegidos não abrangidos nas alíneas anteriores.

Quando, porém, o fundamento consistir em preterição de


formalidades essenciais, o correspondente prazo de reclamação
graciosa é de um ano.

Nos casos em que tenha lugar a fixação da matéria colectável por


métodos indirectos, o procedimento da reclamação graciosa é
substituído pela possibilidade de pedido de revisão, a qual pode ter
lugar nos três anos posteriores.

Havendo recurso hierárquico, e sendo total ou parcialmente


desfavorável a decisão proferida, a mesma é passível de recurso
contencioso, no prazo de 90 dias contados da notificação da decisão.

A reclamação ou o recurso não têm legalmente efeito suspensivo, salvo


prestação de garantia adequada.

Em todos os casos, porém, havendo reclamação graciosa ou recurso


hierárquico, sempre que se verifique efeito suspensivo da liquidação,
o sujeito passivo deve proceder, dentro do respectivo prazo, ao
pagamento da parcela de imposto correspondente à parte da

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

matéria não contestada, sob pena de ser, nessa parte, instaurado


processo de execução fiscal.

a) Os meios não impugnatórios11

São múltiplos e diversificados os meios de carácter não impugnatório


de garantia dos contribuintes. Entre eles podem ser identificados os
seguintes:

 O direito à informação;
 O direito à fundamentação;
 O direito à audição prévia;
 O direito à dedução, reembolso ou restituição de impostos;
 O direito à juros indemnizatórios ou moratórios;
 O direito a redução da penalidade;
 O direito à caducidade da liquidação e da garantia prestada
e à prescrição da obrigação tributaria;
 O direito à prescrição dos procedimentos e das penas
criminais tributaria e de transgressões fiscais;
 O direito à confidencialidade fiscal, e;
 Outros meios não impugnatórios.

b) Os meios impugnatórios administrativos e Judiciais

Entende–se por meios impugnatórios, incluindo os meios


administrativos, os meios judiciais ou jurisdicionais. Em ambos casos
trata-se de questões jurídico-fiscais por resolver: enquanto nos
primeiros temos as reclamações e os recursos hierárquicos, em que a
resolução destas é pedida à própria administração fiscal, nos
segundos temos a impugnação judicial de actos nos tribunais fiscais ou
aduaneiros12.

Por exemplo, no Direito positivo Moçambicano, são os meios


processuais fiscais, os que estão previstos no artigo 177 da Lei nº

11
NABAIS, José Casalta, opus cit., pág. 364 a 372. E vide artigos 49 e ss da Lei nº.
2/2006, de 22 de Março.
12
NABAIS, José Casalta, opus cit., pág. 372 a 417. E vide artigos 171 e ss da Lei nº.
2/2006, de 22 de Março.

88
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

2/2006, de 22 de Março, entre eles: o recurso contencioso, a acção


para o reconhecimento de direito ou interesse legitimo em matéria
tributaria, o recurso no próprio processo, de actos de aplicação de
penas em matéria fiscal, o recurso no próprio processo de actos
praticados na execução fiscal; os procedimentos cautelares para
garantias de créditos fiscais.

e) Pagamento de dívidas tributárias a prestações

Foi publicado a 2 de Novembro no Boletim da República nº 43, I Série,


o Decreto nº 45/2010 que aprova o Regulamento do Pagamento em
Prestações de Dívidas Tributárias, tendo entrado em vigor na data da
sua publicação.

Este regulamento estabelece os procedimentos relativos ao


pagamento em prestações das dívidas tributárias decorrentes dos
impostos sobre o rendimento das pessoas singulares e das pessoas
colectivas.

A dívida tributária (incluindo as multas, os juros e outros encargos


locais, se aplicável) passa a poder ser paga em prestações quer no
decurso do pagamento voluntário quer na fase de execução fiscal.
Porém, o pagamento em prestações não suspende a contagem dos
juros e outros acréscimos legais devidos.

O pagamento em prestações da dívida tributária deve ser solicitado


por requerimento devidamente fundamentado, dirigido ao Ministro
da Economia e Finanças e entregue nas Direcções de Áreas Fiscais,
Unidades de Grandes Contribuintes ou Juízo das Execuções Fiscais
competentes, dentro do prazo para o pagamento constante do
documento de notificação para o efeito.

Refira-se que, o requerimento deve conter os seguintes elementos:

 Identificação do requerente,
 Número Único de Identificação Tributária (NUIT),
 Natureza da dívida, e
 Número de prestações pretendidas.

89
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Relativamente às prestações, estas devem ser de pagamento mensal


e sucessivo, sendo o número máximo de prestações autorizadas de 12
(doze), quando se trate de pagamento a ser efectuado no decurso do
período de pagamento voluntário e 24 (vinte e quatro), no caso de
dívidas em processo de execução fiscal.

Importa referir que a falta de pagamento de qualquer das prestações


dá lugar ao vencimento imediato das restantes, instaurando-se
processo de execução fiscal pelo valor em dívida.

e) Compensação das dívidas tributárias

Foi publicado a 2 de Novembro no Boletim da República nº 43, I Série,


o Decreto nº 46/2010 que aprova o Regulamento do Pagamento de
Compensação das Dívidas Tributárias, com entrada em vigor a partir
de 1 de Janeiro de 2011.

Este regulamento estabelece os procedimentos de compensação, total


ou parcial de dívidas tributárias, relativas a créditos reconhecidos por
acto administrativo ou decisão judicial, a que os sujeitos passivos
tenham direito, relativamente a pagamentos indevidos de impostos.

Sempre que determinada a anulação total ou parcial de impostos,


direitos e outras imposições aduaneiras pagas, deve ser emitida uma
nota de crédito pelo Director de Área Fiscal, da Unidade de Grandes
Contribuintes ou ao Chefe de Delegação Aduaneira, reportando o
valor do crédito a que o sujeito passivo tiver direito.

A nota de crédito deve ser utilizada para compensar dívidas do


mesmo sujeito passivo, anteriores ou posteriores à sua emissão.

A compensação de dívidas tributárias pode ocorrer por iniciativa da


administração tributária ou do sujeito passivo e pode ser efectuada
com qualquer dívida tributária, excepto nos casos que já existam
normas especiais de compensação.

A compensação efectua-se de acordo com a seguinte ordem de


preferência:

90
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Com dívidas da mesma natureza e, se respeitarem a impostos


periódicos, em primeiro lugar as relativas ao mesmo período
de tributação, e só depois as respeitantes a diferentes
períodos de tributação;
 Com dívidas provenientes de impostos retidos na fonte ou
legalmente repercutidos a terceiros e não entregues;
 Com dívidas provenientes de outros impostos.

Se a importância do crédito for insuficiente para compensar a


totalidade da dívida tributária principal e outros acréscimos, o crédito
é aplicado sucessivamente pela seguinte ordem:

 Juros moratórios;
 Outros encargos legais;
 Multas;
 Dívida tributária, incluindo juros compensatórios.

Importa referir que as notas de crédito que não forem levantadas


pelos interessados no prazo de um ano, após a notificação, caducam.
Quanto ao direito de uso da nota de crédito, o prazo de caducidade
é de 5 (cinco) anos a contar da data de emissão.

O valor da nota de crédito pode ser restituído em dinheiro mediante


requerimento do sujeito passivo ao Ministro da Economia e Finanças,
no prazo de 30 (trinta) dias antes de findar o prazo de caducidade.

Os créditos constituídos antes da entrada em vigor deste Regulamento,


continuam a ser analisados e tratados de acordo com os
procedimentos relativos a reembolsos e anulação de pagamentos
indevidos.

EXERCÍCIOS

1) Uma das garantias gerais do sujeito passivo é: “Não pagar tributos que não tenham
sido estabelecidos de harmonia com a Constituição”. Comente tal afirmação?

2) O pagamento do imposto pode ocorrer por via coerciva, diga por quem e em que
circunstância tal pode suceder.

91
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

TEMA VIII – IMPOSTOS DO SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL

UNIDADE Temática: 8.1. – Impostos Nacionais

UNIDADE Temática: 8.2. – Impostos Autárquicos

UNIDADE Temática: 8.3. – Outros Impostos

UNIDADE Temática: 8.1. Impostos Nacionais

8.1.1. Imposto sobre os Rendimentos das Pessoas Colectivas (IRPC)

Regras de Incidência:

São tributadas em IRPC (sujeitos passivos):

 As sociedades comerciais e as demais pessoas colectivas de


direito público ou privado com sede ou direcção efectiva em
território Moçambicano, pela totalidade dos seus rendimentos,
incluindo os obtidos fora do território nacional, sem prejuízo
das regras de prevenção da dupla tributação internacional
aplicáveis - convenções internacionais estabelecidas com
Portugal, Itália, Maurícias e Emiratos Árabes Unidos;
 As entidades, com ou sem personalidade jurídica, que não
tenham sede nem direcção efectiva no território nacional,
relativamente apenas à parcela dos respectivos rendimentos
obtidos no País e aqui não sujeitos a Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Singulares (IRPS).

Para efeitos de sujeição a imposto consideram-se obtidos no território


nacional os rendimentos imputáveis a estabelecimento estável aí
situado, e bem assim os que, não se encontrando nessas condições,
sejam relativos a imóveis aí situados, ou respeitem a rendimentos cujo
devedor tenha residência, sede ou direcção efectiva em território
nacional, ou cujo pagamento seja imputável a um estabelecimento
estável nele situado.

92
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Transparência Fiscal:

A matéria colectável, determinada nos termos do IRPC, das seguintes


sociedades com sede ou direcção efectiva em território nacional, é
imputada aos sócios das mesmas integrando-se na determinação do
rendimento tributável destes para efeitos de IRPS ou IRPC, consoante
o que lhes seja imputável, ainda que, não tenha havido distribuição
de lucros:

 Sociedades civis não constituídas sob forma comercial;


 Sociedades de profissionais;
 Sociedades de simples administração de bens,
designadamente quando a maioria do respectivo capital
social pertença, directa ou indirectamente, a um grupo
familiar.

A imputação aos sócios ou membros das entidades abrangidas é feita


nos termos e proporção que resultem do acto constitutivo das mesmas
entidades ou, na falta de tais elementos, em partes iguais.

Isenções:

São, entre outros, isentos de IRPC:

 Os rendimentos directamente resultantes do exercício da


actividade sujeita ao Imposto Especial sobre o Jogo
estabelecido pela Lei n.º 8/94, de 14 de Setembro;
 As sociedades e outras entidades às quais seja aplicável o
regime de transparência fiscal acima enunciado.

Taxas Aplicáveis:

A taxa do IRPC é de 32%, salvo nas seguintes situações:

Situações particulares Taxas:

 Actividade agrícola e pecuária, até Dezembro de 2010


(1) 10% Rendimentos aos quais seja aplicável a
obrigatoriedade de retenção na fonte do correspondente
imposto 20%;

93
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Entidades que, não tendo sede nem direcção efectiva em


território nacional, aqui não possuam também
estabelecimento estável ao qual os correspondentes
rendimentos sejam imputáveis – a título de taxa liberatória
20%;
 Entidades que, não tendo sede nem direcção efectiva em
território nacional, aqui não possuam também
estabelecimento estável ao qual os correspondentes
rendimentos sejam imputáveis, quando derivados da
prestação de serviços de telecomunicações e transportes
internacionais, bem como montagem e instalação de
equipamentos efectuados por essas entidades - a título de
taxa liberatória 10%;
 Rendimentos de títulos cotados na Bolsa de Valores de
Moçambique – a título de taxa liberatória 10%;
 Encargos não devidamente documentados e despesas de
carácter confidencial ou ilícito (2) 35%

Determinação do Rendimento e da Matéria Colectável

O exercício económico, para efeitos de tributação, coincide em regra


com o ano civil, sem prejuízo da possibilidade de ser adoptado
período anual de tributação diferente, quando a natureza da
actividade o justifique, ou quando se trate de estabelecimento estável
de sociedades e outras entidades sem sede nem direcção efectiva no
território nacional, na condição sempre de o período assim adoptado
dever ser mantido durante os cinco exercícios seguintes, pelo menos.

O rendimento colectável compreende:

 O lucro das sociedades comerciais e demais entidades que


exerçam a título principal uma actividade de natureza
comercial, industrial ou agrícola, considerando-se como tal
todas as actividades que consistam na realização de
operações económicas de carácter empresarial, incluindo a
prestação de serviço;

94
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Os prejuízos fiscais apurados em determinado exercício, das


referidas sociedades e demais entidades, são deduzidos aos
lucros tributáveis, havendo-os, de um ou mais dos cinco
exercícios posteriores.
 O rendimento global, correspondente à soma algébrica dos
rendimentos das diversas categorias consideradas para
efeitos de IRPS, nos restantes casos.

8.1.2. Imposto sobre os Rendimentos das Pessoas Singulares (IRPS)

Regras de Incidência:

O Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRPS) incide


sobre o valor global anual dos respectivos rendimentos, expressos
quer em dinheiro quer em espécie, seja qual for o local onde se
obtenham e a moeda e a forma por que sejam auferidos, mesmo que
provenientes de actos ilícitos, classificados nas seguintes categorias:

 Primeira Categoria: rendimentos do trabalho dependente;


 Segunda Categoria: rendimentos empresariais e profissionais;
 Terceira Categoria: rendimentos de capitais e das mais-valias;
 Quarta Categoria: rendimentos prediais;
 Quinta Categoria: outros rendimentos.

São sujeitas a IRPS as pessoas singulares que residam no território


nacional, pela totalidade dos respectivos rendimentos, incluindo os
produzidos fora desse território, e as não residentes, pelos
rendimentos aqui obtidos.

Existindo agregado familiar, o imposto é devido pelo conjunto dos


rendimentos das pessoas que o constituem.

Determinação do Rendimento Colectável:

O rendimento colectável em IRPS é o que resulta do englobamento


dos rendimentos das várias categorias auferidos em cada ano, depois
de feitas as deduções e os abatimentos previstos no respectivo
Código.
95
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Não são englobados para efeito de tributação os rendimentos aos


quais seja aplicado o regime de taxa liberatória, sem prejuízo da
opção pelo englobamento.

Os rendimentos isentos entram no englobamento apenas para efeito


de determinação da taxa a aplicar aos restantes rendimentos.

8.1.3. Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes (ISPC)

O Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes tem como o


objectivo reduzir custos de cumprimento das obrigações tributária,
encargos de fiscalização e controlo através das simplificações dos
procedimentos, bem como incentivar os contribuintes registar-se e
pagar imposto.

Refira-se que a tributação dos sujeitos passivos no ISPC é de carácter


optativo. Para os sujeitos passivos que optem pela tributação em ISPC,
sobre as transmissões de bens e prestações de serviços que realizem
não há lugar ao IVA e, sobre os rendimentos obtidos, não incide IRPS
ou IRPC.

Os sujeitos passivos de ISPC que aufiram outros rendimentos, para


além de rendimentos classificados como da segunda categoria em
sede de IRPC (rendimentos empresarias e profissionais), são tributados
em ISPC apenas relativamente aos rendimentos desta categoria,
devendo os restantes rendimento serem declarados para efeitos de
tributação em IRPS.

Regras de Incidência:

As pessoas singulares ou colectivas que desenvolvam actividades


agrícolas, industriais ou comercias, bem como a indústria
transformadora e a prestação de serviços (incluindo exportadores e
importadores), podem optar pela tributação em ISPC, desde que:

 O volume de negócios do ano anterior seja inferior ou igual a


2.500.000,00MT;

96
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Não sejam obrigados, para efeitos de IRPS ou IRPC a possuir


contabilidade organizada.

Isenções:

Ficam isentos do ISPC os sujeitos passivos com um volume de negócios


equivalente a 36 salários mínimos do salário mínimo mais elevado em
31 de Dezembro do ano anterior ao que respeitam os negócios.

Determinação do Rendimento Colectável:

 O rendimento colectável é o volume de negócios realizado e


apurado pelo sujeito passivo em cada trimestre do ano civil,
quando o sujeito passivo opte ser tributado em função do
volume de negócios.

Taxas Aplicáveis:

 A taxa anual do ISPC é de 75.000,00MT ou, alternativamente,


a taxa é de 3% sobre o volume de negócios desse ano.

8.1.4. Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)

Regras de Incidência:

 O imposto sobre o Valor Acrescentado incide sobre o valor


das transmissões de bens e prestações de serviços realizadas
no território nacional, a título oneroso, por um sujeito passivo
agindo como tal, bem como sobre as importações de bens.

São, em particular; havidas como transacções tributáveis:

 As prestações de serviços gratuitos efectuados pela própria


empresa com vista às necessidades particulares do seu titular,
do pessoal ou, em geral, para fins alheios à mesma;
 A utilização de bens da empresa para uso próprio do seu
titular, do pessoal ou, em geral, para fins alheios à mesma e
ainda em sectores de actividade isentos quando,
relativamente a esses bens ou aos elementos que os constituem
tenha havido dedução total ou parcial do imposto;

97
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Salvo prova em contrário, são também considerados como


tendo sido objecto de transmissão pelo sujeito passivo os bens
adquiridos, importados ou produzidos que não se encontrarem
nas existências dos estabelecimentos do sujeito passivo e bem
assim os que tenham sido consumidos em quantidades que,
tendo em conta o volume de produção, devem considerar-se
excessivas.

Isenções:

São isentas do imposto, as seguintes operações internas (enumeração


meramente exemplificativa):

a) Transmissões de determinados bens e as prestações de


serviços expressamente indicadas no código do imposto:
 Prestações de serviços na área da Saúde e transmissões
de bens com eles correlacionados;
 Transmissões de bens e prestações de serviços,
designadamente de carácter assistencial ou visando fins de
carácter social, cultural ou artístico, efectuadas por
entidades sem fins lucrativos;
 Prestações de serviços efectuadas no interesse colectivo
dos seus associados por organismos sem finalidade
lucrativa, desde que esses organismos prossigam objectivos
de natureza política, sindical, religiosa, patriótica,
filantrópica, recreativa, desportiva, cultural, cívica ou de
representação de interesses económicos e a única
contraprestação seja uma quota fixada nos termos dos
respectivos estatutos;
 Prestações de serviços que tenham por objecto o ensino,
bem como as transmissões de bens e prestações de serviços
conexas;
 Transmissões de bens e prestações de serviços no âmbito
de actividades agrícolas, silvícola, pecuária e pesca
expressamente enumeradas.

98
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

b) Operações bancárias e financeiras;


c) Locação de imóveis para fins de habitação ou, quando
situados nas zonas rurais, para fins comerciais, industriais e de
prestação de serviços;
d) Operações de seguro e resseguro, bem como as prestações de
serviços conexas, efectuadas pelos corretores e outros
mediadores de seguros;
e) Operações sujeitas a sisa ainda que dela isentas;
f) Transmissões de bens afectos exclusivamente a um sector de
actividade isento ou que, em qualquer caso, não foram objecto
de direito à dedução e bem assim as transmissões de bens cuja
aquisição tenha sido feita com exclusão do direito a dedução.

Relativamente às actividades de importação, exportação, operações


assimiladas e transportes internacionais, beneficiam de isenção, entre
outras:

 As importações definitivas de bens cuja transmissão no


território nacional beneficie de isenção objectiva, ou quando
gozem de isenção do pagamento de direitos de importação;
 As importações de bens nos regimes de trânsito, importação
temporária ou “draubaque” que sejam isentas totalmente de
direitos aduaneiros;
 As transmissões de bens expedidos ou transportados com
destino ao estrangeiro pelo vendedor ou por um terceiro por
conta deste, e outras operações equiparadas;
 As prestações de serviços que estejam directamente
relacionadas com o trânsito, exportação ou importação de
bens isentos de imposto por terem sido declarados em regime
temporário, “draubaque” ou trânsito.

Valor Tributável:

 O valor tributável das transmissões de bens e das prestações


de serviços sujeitas a imposto é, em regra, o valor da
contraprestação obtida ou a obter do
99
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

adquirente, do destinatário ou de um terceiro, nele se incluindo


os impostos, direitos, taxa e outras imposições, com excepção
do próprio imposto sobre o valor acrescentado.

Taxa do Imposto:

 A taxa do imposto é de 17%.

Merecem, todavia, referência:

 No caso de bens ou serviços sujeitos ao regime de preços fixos,


incluindo os combustíveis, a existência de taxas reais
diferenciadas, resultantes de se fazer aplicar a taxa geral do
imposto apenas sobre uma fracção do respectivo preço;
 O regime de taxa “zero” aplicável num número limitado de
isenções, nomeadamente a actividade de exportação;
 A percentagem de 5% aplicável sobre as vendas a
contribuintes do “regime simplificado”, sem direito a dedução.

Direito à Dedução:

Para apuramento do imposto a entregar mensalmente nos cofres do


Estado, os sujeitos passivos deduzem ao imposto incidente sobre as
operações tributáveis que efectuaram, o IVA dedutível que lhes foi
facturado na aquisição de bens e serviços por outros sujeitos passivos.

A conjugação das regras para o efeito aplicáveis pode assim


resumidamente enunciar-se:

 Os sujeitos passivos que realizem apenas transacções sujeitas


a imposto e dele não isentas, deduzem a totalidade do
imposto suportado nas respectivas aquisições de bens e
serviços;
 Os sujeitos passivos que simultaneamente efectuem transacções
isentas, nos casos em que a isenção não prejudica o direito de
dedução (como é o caso da exportação), deduzem a
totalidade do imposto suportado;

100
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Quando, porém, o sujeito passivo efectue exclusivamente


transacções isentas nos casos que não conferem o direito de
dedução (exemplo da actividade agrícola, silvícola, pecuária
ou de pesca, quando não tenha havido renuncia à isenção),
não há lugar a qualquer dedução ou reembolso;

 Havendo lugar simultaneamente a transacções que conferem


direito a dedução e a outras que não conferem, é dedutível
apenas o imposto suportado nas aquisições para a realização
das primeiras.

Pedidos de Reembolso:

Sempre que a dedução de imposto a que haja lugar supere o


montante devido pelas operações no período correspondente, o
excesso é deduzido nos períodos de impostos seguintes.

Regra geral, passados 12 meses relativamente ao período em que se


iniciou o excesso, persistir crédito a favor do sujeito passivo superior
a 50.000MT, este pode solicitar o correspondente reembolso.

8.1.5. Imposto sobre Consumos Específicos

O Imposto sobre Consumos Específicos tributa de forma selectiva o


consumo de determinados bens constantes de tabela anexa ao
respectivo Código e incide, de uma só vez, no produtor ou no
importador, consoante o caso.

A tabela de taxas em vigor, contendo a lista dos bens tributados, é a


constante da Lei nº 17/2009, de 10 de Setembro, e encontra-se
organizada segundo a classificação e a nomenclatura da pauta
aduaneira.

As taxas estabelecidas são taxas ad valorem e variam entre 5% a


75%. Para determinados bens constantes na tabela, a aplicação das
taxas ad valorem deve ser conjugada com
101
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

o valor mínimo de imposto devido por unidade específica de


tributação.

O pagamento do imposto é exigível no momento em que se verifica a


introdução dos bens no consumo, considerando-se que tal ocorre
quando o produto fabricado sai da unidade de produção em
condições normais de comercialização ou, no caso de bens importados,
no acto do respectivo desembaraço aduaneiro ou ainda, quando o
produto acabado sai do armazém sob regime aduaneiro.

Relativamente às bebidas alcoólicas e ao tabaco manufacturado,


sujeitos a regime especial de fiscalização, com aposição de selo
especial comprovativo do pagamento do imposto, é ainda exigível o
imposto quando tais produtos forem detidos em território nacional,
para fins comerciais, sem que se mostrem devidamente selados.

8.1.6. Direitos Aduaneiros

Os direitos aduaneiros incidem sobre o valor (determinado nos termos


da regulamentação aduaneira aplicável) das mercadorias objecto de
importação ou exportação através das fronteiras do território
nacional, para este efeito definido como “território aduaneiro”.

Na importação a base de referência é, em regra, o valor CIF (custo,


seguro e frete) e as taxas actualmente em vigor são as seguintes:

 Descrição Classe Taxas Matérias-primas M 2,5% Bens


Intermediários I 7,5% Bens de Capital K 5,0% Bens de
Consumo C 20,0% Bens Essenciais (1) E 0,0% Combustíveis N
5,0% Energia W 0,0% (1) Refere-se a bens de consumo básico
e produtos farmacêuticos em geral.

Na importação de mercadorias que beneficiem de isenção de direitos,


bem como no desembaraço aduaneiro de produtos a que corresponda
a taxa “zero” na tabela de direitos de importação, é devida uma
taxa emolumento de montante fixo (TSA – Taxa de Serviços
Aduaneiros).

102
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

As exportações estão genericamente livres de direitos (taxa “zero”),


sem prejuízo da “taxa de sobrevalorização” incidente num número
limitado de produtos (exemplos: a castanha de caju e madeira).

8.1.7. Imposto sobre a Produção Mineira

As pessoas singulares ou colectivas, detentoras ou não de título


mineiro, que no território nacional realizem operações de extracção
mineira são sujeitas ao Imposto sobre a Produção Mineira incidente
sobre o valor do produto mineiro extraído da terra,
independentemente da respectiva venda, exportação ou outro
destino.

As taxas aplicáveis sobre o valor de venda da produção obtida são


as seguintes:

 Produto mineiro extraído da terra Taxas Diamantes, metais


preciosos (ouro,prata, platina) e pedras preciosas 10% Pedras
semi-preciosas 6% Minerais básicos 5% Carvão e restantes
produtos mineiros 3%

São, todavia, isentos do imposto sobre a produção mineira:

a) Os produtos mineiros extraídos para a construção, em áreas não


sujeitas a título mineiro ou autorização mineira, desde que a
extracção seja realizada por:
 Pessoas singulares nas terras onde é usual realizar-se essa
extracção, quando os materiais extraídos são para ser usados
nessa terra, na construção de habitação e outras instalações
próprias;
 Pessoas singulares utentes de terra, quando os materiais
extraídos sejam param a produção artesanal de cerâmica,
incluindo a construção de habitações, armazéns e instalações
na sua própria terra;

 Pessoas singulares ou colectivas que destinem os materiais


extraídos a projectos de construção,
103
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

reabilitação ou manutenção de estradas, linhas férreas,


barragens e outros trabalhos de engenharia ou infra-
estruturas de interesse público, em áreas sujeitas a título de
uso e aproveitamento da terra, quando tais projectos sejam
realizados pelos próprios interessados.
b) Os produtos mineiros extraídos para investigação geológica
realizada pelo Estado através de entidades estatais
especializadas ou por instituições educacionais ou de investigação
científica.
c) Os produtos mineiros comercializados ao abrigo de licença de
comercialização.

8.1.9. Imposto Específico da Actividade Petrolífera

As pessoas que no País exerçam actividade petrolífera, para além


dos demais impostos que integram o Sistema Tributário Nacional,
incluindo os autárquicos, estão sujeitas, nos termos da Lei n.º 12/2007
de 27 de Junho, ao Imposto sobre a Produção do Petróleo, incidente
sobre o petróleo produzido no território nacional, a partir das
designadas áreas de desenvolvimento e produção.

Para efeitos da aplicação deste imposto, o termo “petróleo”


compreende o petróleo bruto, o gás natural ou outros hidrocarbonetos
produzidos ou susceptíveis de serem produzidos a partir do petróleo
bruto, gás natural, argilas ou areias betuminosas.

O imposto incide sobre a quantidade total de petróleo extraído do


jazigo, medida a partir da primeira estação de medição estabelecida
pelo Governo, incluindo as quantidades de petróleo perdidas em
resultado de deficiência de operação petrolífera ou negligência.

A base tributável do imposto é o valor do petróleo produzido,


determinado com base nos preços médios ponderados a que tenha
sido vendido pelo produtor e suas contratadas no mês a que
corresponde o imposto a liquidar, tendo como referência os preços

104
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

internacionais dos principais centros internacionais de exportação de


petróleo.

Salvo tratando-se de concessão outorgada antes da entrada em vigor


da Lei n.º 12/2007, de 27 de Junho (caso em que se mantém as taxas
já contratualizadas), as taxas aplicáveis são as seguintes:

Descrição Taxas

 Petróleo Bruto 10% Gás natural 6%

UNIDADE Temática: 8.2. Impostos Autárquicos

8.2.1. Imposto Autárquico da Sisa

A Sisa incide sobre as transmissões, a título oneroso, do direito de


propriedade, ou de figuras parcelares desse direito, sobre bens
imóveis, considerando-se como tal os prédios urbanos situados em
território nacional.

Contudo, com a implementação do Sistema Tributário Autárquico a


Sisa foi substituída nas autarquias pelo Imposto Autárquico da Sisa.
Assim, a partir de 30 de Dezembro de 2008, a Sisa só é devida nas
transmissões de imóveis situadas fora do território das autarquias.

Considera-se transmissão, para efeitos da incidência do imposto, a


compra e venda, a dação em cumprimento, a renda perpétua, a
renda vitalícia, a arrematação, a adjudicação por acordo ou decisão
judicial, a constituição de usufruto, uso ou habitação, a enfiteuse, a
servidão e qualquer outro acto pelo qual se transmita a título oneroso
o direito de propriedade sobre prédios urbanos.

São casos particulares de incidência da Sisa, aqui indicados a título


meramente ilustrativo:

 O arrendamento com cláusula de que os prédios urbanos


arrendados se tornam propriedade do arrendatário depois
de satisfeitas todas as rendas acordadas;

105
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 O arrendamento ou subarrendamento de prédios urbanos por


um período superior a 20 anos cuja duração seja estabelecida
no início do contrato por acordo expresso dos interessados;
 Os actos da constituição de sociedade em que algum dos
sócios entre para o capital social com prédios urbanos;
 A aquisição de prédios urbanos por troca ou permuta, caso em
que o imposto é devido pela diferença declarada de valores
ou pela diferença entre os valores patrimoniais tributários,
consoante a que for maior.

A Sisa é devida pelas pessoas, singulares ou colectivas, a quem se


transmitem os direitos sobre prédios urbanos, à taxa de 2%, incidente
sobre o montante declarado da transmissão ou do valor patrimonial
do prédio, consoante o que for mais elevado, a não ser que este se
afaste do preço normal de mercado.

Nos casos, porém, em que o adquirente ou os sócios do adquirente


tenham residência em território sujeito a um regime fiscal claramente
mais favorável, nos termos definidos no Código do IRPC, a taxa
aplicável é de 10%, não se aplicando qualquer isenção ou redução.

São isentas as transmissões de prédios urbanos por fusão ou cisão de


sociedades comerciais.

8.2.2. Imposto Autárquico sobre Veículos

O Imposto Autárquico sobre Veículos incide sobre o uso e fruição dos


veículos a seguir mencionados, matriculados ou registados no País, ou
desde que, independentemente de registo ou matrícula, sejam
decorridos 180 dias a contar da respectiva entrada no mesmo
território nacional e se encontrem a circular ou a ser usados em
condições normais de utilização:

 Automóveis ligeiros e automóveis pesados de antiguidade


menor ou igual a 25 anos;
 Motociclos de passageiros com ou sem carro de antiguidade
menor ou iguais 15 anos;
106
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Aeronaves com motor de uso particular;


 Barcos de recreio com motor de uso particular.

Consideram-se potencialmente em uso os veículos automóveis que


circulem pelos seus próprios meios ou estacionem nas vias ou recintos
públicos e os barcos de recreio e aeronaves, desde que possuam
certificados de navegabilidade válidos.

As taxas do imposto sobre veículos são as constantes das tabelas


anexas ao respectivo Regulamento aprovado pelo Decreto
nº19/2002 de 23 de Julho, fixadas com base nos seguintes critérios:

a) Para automóveis ligeiros, o combustível utilizado, a cilindrada


do motor, a potência, a voltagem (quando movidos a
electricidade) e a antiguidade;
b) Para automóveis pesados, a capacidade de carga ou lotação
de passageiros, consoante se trate de veículos de carga ou de
passageiros, e a antiguidade;
c) Para motociclos, a cilindrada do motor e a antiguidade;
d) Para aeronaves, o peso máximo autorizado à descolagem;
e) Para barcos de recreio, a propulsão a partir de 25 (HP), a
tonelagem de arqueação bruta e a antiguidade.

8.2.3. Taxa por Actividade Económica

Nos termos do Código Tributário Autárquico ainda formalmente em


vigor, a taxa por actividade económica reveste a natureza de “licença
de porta aberta”, sendo devida pelo exercício de qualquer
actividade de natureza comercial ou industrial, incluindo a prestação
de serviços, no território da respectiva autarquia, desde que exercida
num estabelecimento.

Na configuração do mesmo Código, a Taxa por Actividade Económica


é aplicada relativamente a cada estabelecimento, sendo devida por
determinado quantitativo certo, graduado em função dos seguintes
factores:

a) Natureza da actividade exercida;


107
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

b) Localização do estabelecimento;
c) Área ocupada.

À Assembleia Municipal cabe:

 Deliberar em matéria de tipificação dos estabelecimentos


sujeitos a tributação, atendendo aos factores atrás aludidos, e
bem assim quanto aos mecanismos específicos de lançamento
e fiscalização do correspondente tributo;
 Fixar as taxa a vigorar em cada ano, graduadas em função
do critério acima enunciado, não podendo exceder,
relativamente a cada estabelecimento, um quantitativo
máximo equivalente a 20 vezes o valor mensal do salário
mínimo nacional para os trabalhadores da indústria.

A especial natureza deste tributo, que não reúne um dos elementos


essenciais de tipificação de uma “taxa”, designadamente ao não ter
por correspondência uma contraprestação directa por parte da
administração autárquica, justifica a sua configuração autónoma no
actual Código Tributário Autárquico.

O pagamento da taxa por actividade económica não prejudica a


cobrança das licenças para o exercício da respectiva actividade
(alvarás) legalmente previstas em outros regulamentos, ou a imposição
das convenientes taxas de serviços pela apresentação de petições de
qualquer natureza junto da administração autárquica, ou devidas
pela concessão de licenças.

UNIDADE Temática: 8.3. Outros Impostos

8.3.1. Taxa sobre os Combustíveis

Embora com a designação de Taxa sobre os Combustíveis na Lei nº


15/2002, de 26 de Junho, e no Regulamento aprovado pelo Decreto
nº 56/2003, de 24 de Dezembro, trata-se na realidade de um
verdadeiro imposto, como foi aliás originalmente designado no

108
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

momento da respectiva criação pelo Decreto nº 22/90, de 24 de


Setembro (imposto sobre os combustíveis).

Incide sobre todo e qualquer combustível, produzido ou importado,


que se destine a ser comercializado no território nacional, tendo como
sujeitos passivos:

 Os refinadores, importadores ou distribuidores que produzam


industrialmente ou por qualquer forma comercializam
combustível no território nacional;
 Os importadores individuais, pessoas singulares ou colectivas,
que introduzam em território nacional, por via terrestre ou
marítima, combustível para uso próprio ou alheio.

As taxas aplicáveis são de quantitativo fixo, estando sujeitas a


actualização trimestral, por despacho do Ministro da Economia e
Finanças, de acordo com a variação da taxa de inflação, não
devendo contudo o factor de correcção ser superior a 5%.

O petróleo de iluminação vem beneficiando de suspensão temporária


da aplicação deste tributo.

Relativamente ao gasóleo destinado a certos consumos específicos,


designadamente para uso na agricultura mecanizada, na indústria
mineira, na produção de energia nos distritos e em barcos de pesca,
o regulamento aprovado pelo Decreto nº 56/2003, de 24 de
Dezembro, prevê a existência de “incentivos “específicos, na forma de
um mecanismo de reembolso de uma parte do quantitativo pago, ou
na redução da taxa aplicável.

Porem, importa referir que, uma parte significativa da receita


arrecadada tem consignação específica, designadamente a favor do
Fundo de Estradas.

109
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

8.3.2. Imposto sobre as Sucessões e Doações

O Imposto sobre as Sucessões e Doações incide sobre as transmissões


a título gratuito do direito de propriedade sobre bens móveis e
imóveis, designadamente por sucessão hereditária, legado, doação
ou por qualquer negócio jurídico que transmita a propriedade a título
gratuito e entre vivos, mesmo nos casos em que a propriedade é
transmitida separadamente do usufruto, uso ou habitação.

Consideram-se bens imóveis, para efeitos de incidência do imposto,


apenas os prédios urbanos situados no território nacional.

Não são sujeitas a imposto:

 As transmissões, a título gratuito, das pensões e subsídios por


morte;
 As doações de bens com carácter de caridade, assistência ou
beneficência, desde que destinadas a fazer face a situações
de carência económica e social ou a situações de calamidade
pública.

Quando haja lugar a transmissão de bens, simultaneamente a título


gratuito e a título oneroso, fica sujeita a imposto sobre as sucessões e
doações apenas a parcela transmitida a título gratuito, sendo passível
de Sisa, quando na transmissão se incluam prédios urbanos, a
respectiva parcela transmitida a título oneroso.

O imposto é devido pelas pessoas singulares que adquiram a título


gratuito a propriedade dos bens transmitidos, mesmo que tenha sido
constituído direito de usufruto, uso ou habitação a favor de outrem.

Critério de territorialidade:

A sujeição ao imposto sobre as sucessões e doações determina-se


pelas seguintes regras:

 Quando o transmitente ou o adquirente dos bens ou de direitos


sobre os mesmos, ou ambos, forem residentes em território
moçambicano, o imposto incide sobre a totalidade dos bens ou

110
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

direitos adquiridos, a título gratuito, independentemente da


localização dos mesmos;
 Quando nem o transmitente nem o adquirente forem residentes
em território moçambicano, o imposto incide apenas sobre os
bens ou direitos transmitidos aqui situados.

Para efeitos deste imposto consideram-se bens ou direitos situados em


território moçambicano:

 Os prédios urbanos aí situados;


 Os direitos sobre bens móveis corpóreos não sujeitos a registo;
 Os direitos sobre bens móveis registados ou sujeitos a registo,
matrícula ou inscrição em território moçambicano;
 Os direitos de crédito ou direitos patrimoniais sobre pessoas
singulares ou colectivas quando o seu devedor tiver residência,
sede, direcção efectiva ou estabelecimento estável em
território moçambicano;
 As participações sociais quando a sociedade participada
tenha a sua sede, direcção efectiva ou estabelecimento estável
em território moçambicano;
 Os direitos de propriedade industrial, direitos de autor e
direitos conexos registados ou sujeitos a registo em território
moçambicano.

Taxas e Mínimo não Tributável:

 Descrição Taxas Descendentes, cônjuges e ascendentes 2%


Irmãos e colaterais até ao 3.° Grau 5% Entre quaisquer outras
pessoas 10%.

No caso de transmissão por morte de bens móveis corpóreos ou


incorpóreos ou de prédios urbanos ou de direitos sobre os mesmos, a
título gratuito, a favor dos cônjuges, filhos ou adoptados, ou ainda de
ascendentes, é fixado um mínimo não tributável equivalente a 500
vezes o salário mínimo mensal mais elevado, a deduzir à matéria
colectável, apurada com a devida consideração dos encargos e
dívidas dedutíveis.

111
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

8.3.3. Imposto do Selo

O Imposto do Selo incide sobre os documentos, contratos, livros, papéis


e actos designados na Tabela anexa ao respectivo Código,
compreendendo designadamente, entre outros:

a) Actos e contratos celebrados junto de notário e outros;


b) Emissão de apólices de seguro, no momento da cobrança dos
prémios;
c) Emissão de cartões de crédito e de débito e cheques editados
por instituições de crédito domiciliadas em território nacional;
d) Emissão, aceitação ou apresentação a pagamento de letras e
livranças;
e) Operações de crédito, incluindo os casos em que revista a
forma de conta corrente, descoberto bancário ou modalidade
equivalente;
f) Operações realizadas por ou com intermediação de
instituições de crédito, sociedades financeiras ou outras
entidades a elas legalmente equiparadas, sempre que dêem
lugar a cobrança de juros, prémios, comissões ou outras
contraprestações semelhantes;
g) Testamentos públicos, no momento em que forem efectuados,
e testamentos cerrados ou internacionais, no momento da
aprovação e abertura;
h) Livros de comerciantes, incluindo os casos em que sejam
utilizadas folhas avulsas escrituradas por sistema informático
ou semelhante param utilização ulterior sob a forma de livro;
i) Empréstimos efectuados pelos sócios às sociedades.

Não estão, porém, sujeitas a imposto de selo as operações


abrangidas pela incidência do imposto sobre o valor acrescentado e
delas não isentas.

As taxas aplicáveis consoante, designadamente, a natureza dos


diferentes actos e factos tributários e a possibilidade ou não de
determinação do respectivo valor, revestem a forma “ad valorem”
(percentagens ou permilagens) ou quantitativo fixo (taxas específicas).

112
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

O imposto devido é sempre pago por meio de guia, cabendo a


respectiva liquidação e pagamento (enumeração não exaustiva) a:

a) Notários, conservadores dos registos civil, comercial, predial e


outras entidades públicas, incluindo os estabelecimentos e
organismos do Estado, relativamente aos actos, contratos e
outros factos em que sejam intervenientes;
b) Entidades concedentes do crédito e da garantia ou credoras
dos juros, prémios, comissões e outras contraprestações;
c) Empresas seguradoras relativamente à soma do prémio do
seguro, custo da apólice e quaisquer outras importâncias
cobradas em conjunto ou em documento separado, bem como
às comissões pagadas a mediadores, líquidas de imposto;
d) Entidades emitentes de letras e outros títulos de crédito,
cheques, cartões de crédito e de débito e livranças ou, no caso
de títulos emitidos no estrangeiro, à primeira entidade que
intervenha na negociação ou pagamento;
e) Locador e sublocador, nos arrendamentos e
subarrendamentos;
f) Quaisquer outras entidades que intervenham nos actos e
contratos ou emitam ou utilizem os documentos, livros, títulos ou
papéis sujeitos a imposto do selo.

8.3.4. Imposto Especial sobre o Jogo

A exploração de jogos de fortuna ou azar no País está sujeita a um


quadro normativo especial fixado pela Lei nº 1/2010, de 10 de
Fevereiro (Lei do Jogo), que igualmente estabelece o Imposto Especial
sobre o Jogo.

O referido imposto reveste a forma de uma percentagem incidente


sobre as receitas brutas resultantes da exploração do jogo, líquidas
da importância dos pagamentos dos ganhos aos jogadores e é fixada
no contrato de concessão, nos seguintes termos:

 20% para o período de concessão de 10 a 14 anos;

113
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 25% para o período de concessão de 15 a 19 anos;


 30% para o período de concessão de 20 a 44 anos; e
 35% quando o período de concessão seja de 25 a 30 anos.

A taxa efectiva a aplicar em cada caso concreto é a estipulada no


correspondente contrato de concessão, observando-se ainda que:

 São isentos de IRPC e outros impostos que incidem sobre lucros


os rendimentos provenientes da exploração do jogo, bem
como do IVA relativamente a todas as respectivas operações
sujeitas a Imposto Especial sobre o Jogo, incluindo o preço dos
títulos das apostas e bilhetes de acesso ou ingresso nas áreas
de jogo;

 Beneficiam de isenção dos direitos de importação, do IVA e


do Imposto sobre Consumos Específicos, os bens de
equipamento e materiais importados e destinados
exclusivamente à implementação, reabilitação, expansão
e/ou modernização e arranque da exploração dos
empreendimentos concessionados;

 Ao exercício pelas concessionárias de quaisquer outras


actividades não sujeitas ao Imposto Especial sobre o Jogo é
aplicável o regime tributário geral.

 Uma parcela das receitas do Imposto Especial sobre o Jogo,


graduada pelo Conselho de Ministros não inferior a 20% da
correspondente colecta, fica consignada ao financiamento de
acções de fomento do turismo e desenvolvimento da
capacidade de funcionamento dos serviços encarregues do
controlo, acompanhamento e fiscalização das actividades de
casinos e outros locais de jogo.

114
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Revertem para o município ou municípios de cada uma das zonas de


concessão 50% da cobrança do Imposto de Selo incorporado nos
bilhetes e cartões de entrada nos casinos.

8.3.5. Zonas Francas Industriais (ZFI) e Zonas Económicas


Especiais (ZEE)

A possibilidade do estabelecimento no País de Zonas Francas


Industriais e Zonas Económicas Especiais constam da Lei n.º 3/93, de
24 de Junho (Lei do Investimento), nos termos da qual são definidas
como:

Zona Franca Industrial:

“... área ou unidade ou série de unidades de actividade industrial,


geograficamente delimitada e regulada por um regime aduaneiro
específico na base do qual as mercadorias que aí se encontrem ou
circulem, destinadas exclusivamente à produção de artigos de
exportação, bem como os próprios artigos de exportação daí
resultantes, estão isentos de todas as imposições aduaneiras, fiscais e
para-fiscais correlacionadas, beneficiando, complementarmente, de
regimes cambial, fiscal e laboral especialmente instituídos...”

Zona Económica Especial:

“...área de actividade em geral, geograficamente delimitada e


regida por um regime aduaneiro especial com base no qual as
mercadorias que aí entrem, se encontrem, circulem, se transformem
industrialmente ou saiam para fora do território nacional estão
totalmente isentas de quaisquer imposições aduaneiras, fiscais e para-
fiscais correlacionadas, gozando adicionalmente de um regime
cambial offshore e de regimes fiscal, laboral e de migração
especificamente instituídos...”

O Regulamento aplicável às Zonas Francas Industriais e Zonas


Económicas Especiais é o aprovado pelo Diploma Ministerial n.º

115
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

202/2010, de 24 de Novembro, podendo o respectivo regime fiscal


assim sintetizar-se:

a) Os operadores e empresas de ZEE, bem como os operadores


de ZFI gozam de isenção de direitos aduaneiros na
importação de materiais de construção, máquinas,
equipamentos, acessórios, peças sobressalentes,
acompanhantes e outros bens destinados à prossecução das
respectivas actividades licenciadas nas ZEE e ZFI, nos termos
do Código dos Benefícios Fiscais;
b) A isenção assim concedida é extensiva ao Imposto sobre o
Valor Acrescentado, incluindo os devidos nas aquisições no
mercado interno, bem como dentro da ZEE;
c) As transmissões de bens e prestações de serviços que
eventualmente possam ser efectuadas na área geográfica das
ZEE e ZFI, assim como as prestações de serviços directamente
conexas com tais transmissões e prestações de serviços
enquanto permanecerem em tais zonas estão isentas de IVA;
d) Os operadores e as empresas de ZFI beneficiam a partir da
emissão do respectivo Certificado dos seguintes incentivos em
sede de IRPC
 Isenção nos primeiros dez exercícios fiscais;
 Redução da taxa em 50%, do 11º ao 15º exercício
fiscal;
 Redução da taxa em 25%, pela vida do projecto.

e) As empresas de Zonas Francas Isoladas aprovadas nos termos


do regulamento de Zonas Francas, beneficiam dos seguintes
incentivos em sede de IRPC:
 Isenção nos primeiros cinco exercícios fiscais;
 Redução da taxa em 50%, do 6º ao 10º exercício fiscal;
 Redução da taxa em 25%, pela vida do projecto.

f) Os operadores de ZEE beneficiam a partir da emissão do


respectivo Certificado dos seguintes incentivos em sede de
IRPC
116
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Isenção nos primeiros cinco exercícios fiscais;


 Redução da taxa em 50%, do 6º ao 10º exercício fiscal;
 Redução da taxa em 25%, pela vida do projecto.

g) As empresas de ZEE aprovadas nos termos do regulamento de


Zonas Francas, beneficiam dos seguintes incentivos em sede de
IRPC:
 Isenção nos primeiros três exercícios fiscais;
 Redução da taxa em 50%, do 4º ao 10º exercício fiscal;
 Redução da taxa em 25%, do 11º ao 15º exercício fiscal.

h) As empresas de ZEE de serviços, aprovadas nos termos do


regulamento de ZEE, beneficiam de redução em 50% da taxa
de IRPC por um período de cinco exercícios fiscais.

EXERCÍCIOS

1) A sociedade Hélder e Filhos, limitada que presta Serviços de assistência jurídica,


chegados no final do ano económico foi notificado pelo Director do 2º bairro fiscal da
Beira, para efectuar o pagamento IRPC, o mesmo escusa-se a efectuar o respectivo
pagamento alegando que não está obrigado a pagar, e que paga o IVA. Na
qualidade de estudante de Direito Fiscal, diga qual seria o procedimento correcto do
prestador de serviços;
2) Zeca António, grande produtor de hortícolas no distrito de Gorongosa, decidiu pagar
mensalmente ao Alfredo Camabalame, uma compensação para abster-se de produzir
hortícolas.

a) Faça enquadramento legal deste facto e diga se Alfredo Cambalame está


sujeito ao imposto e diga qual?

3) A Srª Zulmar Mahomed, decidiu arrendar sua vivenda situada no bairro Palmeiras II,
por 2.000,00Mts à empresa EMOCAT, SARL.

a) Diga se este rendimento proveniente do arrendamento está sujeito a imposto;

117
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

b) No entanto, por sua vez, a arrendatária decidiu subarrendar o imóvel a empresa


Afriservices, Lda. no valor de 4.750,00Mts. No entanto, é exigido o pagamento
de imposto. Que dizer?

4) Diga como são tributados os seguintes rendimentos em IRPS:


a) Quotas dos associados;
b) Vendas de Bilhetes de entrada no recinto desportivo;
c) Receitas do bar da associação;
d) Rendas recebidas pela utilização do espaço das colectividades

118
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

BIBLIOGRAFIA
MARTINEZ, Soares (1998). Direito Fiscal. 10ª Edição, Almedina,
Coimbra.

NABAIS, José Casalta (2000). Direito Fiscal. 3ª ed., 2000.

GOMES, Sá Nunes – Manual de Direito Fiscal

CRM (2004). Constituição da República de Moçambique

IBRAIMO, Ibraim (2000). O Direito e a Fiscalidade

WATY, Teodoro Andrade (2004). Introdução ao Direito Fiscal.

119
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

GLOSSÁRIO

ATM – Autoridade Tributária de Moçambique, criada pela Lei nº


1/2006, de 22 de Março

CRM – Constituição da República de Moçambique

CC – Código Civil

DAF –. Direcção de Área Fiscal

DGA – Direcção Geral de Alfandegas

DGI – Direcção Geral de Impostos, unidade orgânica da ATM

ICE – Imposto sobre Consumos Específicos

IRPC – Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas

IRPS – Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado

NUIT – Número de Identificação Tributária

ZEE – Zona Economica Especial

ZFI – Zona Franca Industrial

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ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

LISTA DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA RELEVANTE

Lei nº 2/2006, de 22 de Março (Lei Geral Tributária)

Estabelece os princípios e normas gerais do ordenamento


jurídico tributário do Pais, aplicáveis a todos os tributos
nacionais e autárquicos.

Lei nº 15/2002, de 26 de Junho (Lei de Bases do Sistema Tributário)

 Estabelece as bases para a implementação do novo sistema


de tributação do rendimento, obedecendo aos princípios da
unidade e da progressividade, em complemento da reforma
dos impostos indirectos, e igualmente define os princípios da
organização do sistema, as garantias e obrigações dos
contribuintes e da administração tributária, bem como os
elementos essenciais do imposto.
 Em particular, o respectivo Título III descreve o conteúdo do
Sistema Tributário Nacional, devendo os restantes Títulos ser
lidos em conjugação com a Lei nº 2/2006 de 22 de Março,
considerando-se revogado tudo o que se mostre em
desconformidade com esta última.

Lei n.º 1/2006, de 22 de Março

 Cria a Autoridade Tributária de Moçambique.

Decreto n.º 29/2006, de 30 de Agosto

 Aprova o Estatuto Orgânico da Autoridade Tributária de


Moçambique, ao abrigo do disposto nos artigos 12 e 21 da
Lei nº 1/2006, de 22 de Março, ficando revogados os
Decretos nºs 3/2000 e 5/2004, de 17 de Março e de 1 de
Abril, respectivamente, e a respectiva legislação
complementar, mas mantendo em funcionamento os actuais
serviços tributários e aduaneiros, até ao início de funções da
Autoridade Tributária.

Decreto nº 52/2003, de 24 de Dezembro

121
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Aprova o Regulamento do Número Único de Identificação


Tributária (NUIT, de conformidade com o previsto no artigo 16
da Lei nº 15/2002, de 26 de Junho.

Decreto n.º 46/2002, de 26 de Dezembro

 Aprova o Regime das Infracções Tributárias, em complemento


do estabelecido na Lei n.º 15/2002, de 26 de Junho.
 Nos termos do artigo 2 deste Decreto porém, o regime pelo
mesmo regulado não se aplica às infracções tributárias
relativas a direitos aduaneiros, ao imposto sobre veículos e aos
impostos autárquicos, regidos por legislação própria.

Lei nº 2/2004, de 21 de Janeiro

 Estabelece a competência, organização, composição e


funcionamento dos tribunais fiscais, mantendo porém em vigor
toda a legislação anterior pertinente enquanto não for
aprovada nova legislação que a substitua, designadamente o
disposto no Diploma Legislativo nº 783, de 18 de Abril de
1942, e o Código das Execuções Fiscais, aprovado pelo
Decreto nº 38 088, de 12 de Dezembro de 1950.

Decreto nº 19/2005, de 22 de Junho

 Aprova o Regulamento do Procedimento de Fiscalização


Tributária, cuja aplicação é extensível supletivamente à
Direcção-Geral das Alfândegas no que não for incompatível
com a natureza específica dos respectivos procedimentos de
inspecção.

Lei nº 8/2011, de 11 de Janeiro

 Aprova o Regime Excepcional de Regularização de Dívidas


Tributárias.

Decreto nº 2/2011, de 16 de Março

122
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Aprova o Regulamento da Lei sob o Regime Excepcional de


Regularização de Dívidas Tributárias.

Decreto nº 45/2010, de 2 de Novembro

 Aprova o Regulamento do Pagamento em Prestações de


Dívidas Tributárias.

Decreto nº 46/2010, de 2 de Novembro

 Aprova o regulamento de Compensação das Dívidas


Tributárias
 IRPC – Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas

Lei nº 34/2007, de 31 de Dezembro

 Aprova nova redacção do Código do Imposto sobre o


Rendimento das Pessoas Colectivas, aplicável aos rendimentos
do exercício de 2008 e seguintes, ficando revogados o
Decreto n.º 21/2002, de 30 de Julho, suas alterações e
demais a legislação complementar em contrário.

Decreto nº 9/2008, de 16 de Abril

 Aprova o Regulamento do Código do Imposto sobre o


Rendimento das Pessoas Colectivas, aplicável aos rendimentos
do exercício de 2008 e seguintes, e revoga toda a legislação
em contrário.

Diploma Ministerial nº 82/2005, de 20 de Abril

 Aprova o Regulamento do Reembolso do IRPS e IRPC.

Portaria nº 20 817, de 27 de Janeiro de 1968

 Permanece em vigor na parte respeitante à tabela das taxas


anuais de reintegração e de amortização a que se refere o nº
5 do artigo 26 do Código do IRPC.

123
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Portaria nº 20 779, de 30 de Dezembro de 1967

Permanece em vigor na parte respeitante à tabela das taxas e limites


das provisões a que se refere a alínea b) do nº 1 do artigo 28 do
Código do IRPC.

Lei nº 33/2007, de 31 de Dezembro

 Aprova nova redacção do Código do Imposto sobre o


Rendimento das Pessoas Singulares, aplicável aos rendimentos
do exercício de 2008 e seguintes, ficando revogados o
Decreto n.º 20/2002, de 30 de Julho, suas alterações e
demais a legislação complementar em contrário.

Decreto nº 8/2008, de 16 de Abril

 Aprova o Regulamento do Código do Imposto sobre o


Rendimento das Pessoas Singulares, aplicável aos rendimentos
do exercício de 2008 e seguintes, e revoga toda a legislação
em contrário.

Diploma Ministerial n.º 1/2007, de 3 de Janeiro

 Aprova a tabela de retenções na fonte do Imposto sobre o


Rendimento das Pessoas Singulares, prevista no artigo 31 do
respectivo Regulamento, aplicável aos rendimentos do
trabalho dependente e pensões.

Diploma Ministerial n.º 82/2005, de 20 de Abril

 Aprova o Regulamento do Reembolso do IRPS e IRPC.

Lei nº 5/2009, de 12 de Janeiro

 Cria o Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes.

Decreto nº 14/2009, de 14 de Abril

 Aprova o regulamento do Imposto Simplificado para os


Pequenos Contribuintes.

Despacho do Ministério das Finanças de 22 de Maio de 2009

124
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Estabelece os mecanismos de implementação do Regulamento


do Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes (ISPC),
aprovado pelo Decreto nº 14/2009, de 14 de Abril e altera
a Declaração de Cessação de actividades (M/04).

Lei nº 32/2007, de 31 de Dezembro

 Aprova nova redacção do Código do IVA, ficando revogados


o Decreto nº 51/98, de 21 de Setembro, e suas alterações, os
Decretos nºs 78/98 e 79/98, ambos de 29 de Dezembro, os
Decretos nºs 34/99, 35/99 e 36/99, todos de 1 de Junho, e
a demais legislação complementar em contrário.

Decreto nº 7/2008, de 16 de Abril

 Aprova o Regulamento do Código do Imposto sobre o Valor


Acrescentado, e revoga toda a legislação em contrário.

Decreto nº 77/98, de 29 de Dezembro

 Aprova o Regulamento da Cobrança, do Pagamento e do


Reembolso do Imposto sobre o Valor Acrescentado.
 Parte significativa deste regulamento estará tacitamente
revogada com a publicação do Regulamento aprovado pelo
Decreto nº 7/2008, de 16 de Abril. Não obstante, presumem-
se em vigor a generalidade das disposições referentes ao
capítulo de reembolsos, matéria não tratada pelo actual
Regulamento do Código do IVA.

Decreto nº 27/2000, de 10 de Outubro

 Regime Especial de Exigibilidade do Imposto sobre o Valor


Acrescentado nas Empreitadas e Subempreitadas de Obras
Públicas.

Decreto nº 80/99, de 1 de Novembro

125
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

 Referente à aplicação do Imposto sobre o Valor Acrescentado


nas transacções que tenham por objecto o fornecimento de
água potável.

Diploma Ministerial nº 198/98

 Concernente à aprovação do Regulamento das Operações de


ssRegisto Prévio em IVA.

Lei nº 17/2009, de 10 de Setembro

 Aprova o actual Código do Imposto sobre Consumos


Específicos.

Decreto nº 69/2009, de 11 de Dezembro

 Aprova o Regulamento do Código do Imposto sobre Consumos


Específicos

Decreto nº 46/2004, de 27 de Outubro

 Aprova o Código da Sisa.

Lei nº 28/2007, de 4 de Dezembro

 Aprova o Código do Imposto de Sucessões e Doações.

Decreto nº 21/2008, de 27 de Junho

 Aprova o regulamento do Código de Imposto sobre Sucessões


e Doações, aprovado pela Lei nº 28/2007, de 4 de
Dezembro.

Decreto nº 6/2004, de 1 de Abril

 Aprova o Código do Imposto do Selo, posteriormente alterado


pelo Decreto nº 38/2005, de 29 de Agosto.

Decreto n° 19/2002, de 23 de Julho

 Aprova o Regulamento do Imposto sobre Veículos, ficando


extintos os anteriores Impostos de Camionagem e de

126
ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal

Compensação, bem como o selo de Manifesto de Veículos


Automóveis.

Lei nº 1/2008, de 16 de Janeiro

 Define o regime financeiro, orçamental e patrimonial das


autarquias locais.

Decreto nº 63/2008, de 30 de Dezembro

 Aprova o Código Tributário Autárquico, e revoga o Decreto nº


52/2000, de 21 de Dezembro.

Decreto nº 16/2002, de 27 de Junho (revogado)

 Aprova o Código dos Benefícios Fiscais.

Lei nº 4/2009, de 12 de Janeiro

 Aprova o actual Código dos Benefícios Fiscais.

Decreto nº 56/2009, de 7 de Outubro

 Aprova o Regulamento do Código dos Benefícios Fiscais,


aprovado pela Lei nº 4/2009, de 12 de Janeiro.

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