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O SENHOR DOS
ANDRÓIDES
Autor
KURT BRAND
Tradução
RICHARD PAUL NETO
Digitalização e Revisão
SKIRO
Cinco homens e um rato-castor — sendo caçados pelos
monstros do mundo das trevas...
Não tiveram de refletir muito quando Ray Burdick encontrou a entrada da caverna.
Seus perseguidores livraram-nos do peso da decisão.
O Tenente Finch Eyseman fitou a luminosidade projetada pelas lâmpadas embutidas
nos capacetes, que ia empalidecendo cada vez mais. Enfiou cautelosamente a cabeça na
caverna. Os monstros de plasma não se deram ao trabalho de usar seus pseudopés para
descer ao fundo da fresta aberta no gelo. Transformaram-se em massas esféricas e
deixaram-se cair na profundidade de quinhentos metros. O impacto da queda não parecia
afetá-los nem um pouco. Voltaram a assumir sua forma humanóide com uma rapidez
incrível e saíram à procura dos fugitivos.
Os andróides não seguiam qualquer método, mas nem por isso Finch se entregou a
ilusões. Acabariam encontrando sua pista. O importante era que seus companheiros
tivessem bastante tempo para descobrir a rota mais vantajosa para a fuga em meio à
malha extensa de corredores.
Eyseman pôs-se a refletir. Não sabia se o pedido de socorro expedido por
Henderson atingira a Crest. Ali, quinhentos metros abaixo da superfície gelada, não havia
mais nenhuma comunicação pelo rádio. Só mesmo um telepata seria capaz de encontrá-
los. O tenente lembrou-se do rato-castor. Só mesmo Gucky poderia ajudá-los na situação
extremamente difícil em que se encontravam. Se não conseguisse...
Finch encolheu a cabeça ao ver uma sombra passar rente ao seu corpo. Mais um
andróide acabara de descer da forma que lhe era peculiar. Eyseman lançou um olhar para
a massa agitada que se acumulava no fundo do desfiladeiro de gelo. Até mesmo a luz das
esferas luminosas quase não chegava ao lugar em que se encontravam. Imaginava mais
do que via os movimentos dos monstros. Deviam ser aos milhares.
Mais uma sombra apareceu junto à entrada da caverna. Desta vez não desceu; ficou
onde estava. Finch levou apenas um segundo para descobrir que seu esconderijo fora
descoberto. Ligou o transmissor do rádio-capacete com um movimento abrupto do
queixo.
— Eyseman falando! Até onde conseguiu chegar, Capitão Henderson? Dentro de
um minuto no máximo terei de detonar a carga explosiva.
— Estamos diante de uma bifurcação — respondeu a voz tranqüila de Henderson.
— Uma alternativa parece ser tão boa quanto a outra. Quando estiver na hora, provoque a
explosão, Eyseman. Não deixe que os monstros o agarrem, rapaz.
— Não senhor! — Finch cerrou os lábios ao ver a massa dos andróides tomar a
direção da caverna. — Vou começar, senhor!
Fez um movimento repentino ao ver um braço plasmático estender-se em sua
direção. Uma gigantesca mão gelatinosa escorregou pela entrada da caverna. Finch
Eyseman ligou o campo energético que cobria seu microprojetor antigravitacional e foi
deslizando para dentro do corredor.
Quando atingiu a primeira curva, o sinal goniométrico de seu capacete emitiu um
chiado. No mesmo instante um triângulo azul acendeu-se em cima de seu rosto. A ponta
mostrava para um dos dois corredores. Era para onde Finch tinha de ir.
Voltou a olhar para trás. A entrada da caverna não tinha mais de dois metros de
altura, mas um dos andróides conseguiu entrar, fazendo movimentos bruscos. Lascas de
gelo caíram do teto. Os pseudo-olhos emitiam um brilho amarelo e guloso no meio do
rosto flácido do monstro.
Finch Eyseman esperou que o andróide enfiasse o tórax na abertura. Ligou a
lâmpada de seu capacete e entrou no corredor para o qual apontava a luz do triângulo
goniométrico. Quando tinha percorrido cem metros, pegou um aparelho retangular e
achatado. Era o transmissor de impulsos. Cerrou os dentes e comprimiu a tecla de
transmissão. O impulso condensado previamente programado saiu da antena invisível.
Finch passou a voar mais depressa.
Uma eternidade parecia ter passado quando se verificou o efeito esperado. De
repente uma luz vermelha bruxuleante apareceu sobre as paredes de gelo cintilantes.
Parecia transformá-las em chamas trêmulas. No mesmo instante voltou a escurecer. Mas
a luz do capacete de Eyseman continuou a desenhar quadros fantásticos sobre o gelo,
iluminando as fendas e rachaduras que acabavam de aparecer.
Finch encolheu instintivamente a cabeça quando mais uma rachadura correu
silenciosamente pelo teto do corredor. Deu uma risada áspera. O teto ruiu dez metros
atrás dele.
Por enquanto não tinham motivo para recear os andróides. Além de fechar a entrada
principal, a explosão fizera desabar os tetos dos corredores secundários. Mesmo que os
perseguidores estivessem em condições de remover os entulhos de gelo, não saberiam
que direção tinham tomado os fugitivos.
Dali a dez minutos Finch Eyseman encontrou seu grupo.
— Você fez um trabalho excelente, rapaz! — disse Sven Henderson.
Bron Tudd deu uma risada entrecortada.
— Antes de elogiá-lo seria bom verificar suas fraldas, capitão. Estou sentindo um
cheiro suspeito.
— Não se esqueça de que seu traje espacial está hermeticamente fechado, sargento
— observou Finch em tom solene. — Portanto...
Henderson pigarreou como quem quer dizer alguma coisa, mas Bron riu
despreocupado. O capitão compreendeu que Tudd só fizera aquela observação para
distrair o tenente. O velho de aparência grosseira era mais delicado do que aparentava.
Bron Tudd parecia ter tido um acesso de sentimentalismo antes que se desse conta disso.
— Ainda temos ar para sessenta e duas horas constatou Sven Henderson em tom
indiferente. — Dentro destas sessenta e duas horas temos de encontrar um meio de entrar
em contato com a Crest ou atingir as instalações montadas no subsolo do planeta.
Burdick já tinha caminhado mais vinte passos. O feixe de luz de sua lâmpada ia
caminhando de um lado para outro, dando a impressão de que Burdick estava indeciso
sobre a direção a tomar.
— Por aqui existe mais uma bifurcação — informou. — Um dos corredores sobe
suavemente, enquanto o outro apresenta um forte declive para baixo. Que direção vamos
tomar, capitão?
Henderson desligou o campo energético. Os outros seguiram seu exemplo. Ele só
servia para embaraçar os homens no corredor estreito. Quase no mesmo instante
atingiram o lugar em que estava Burdick.
Havia uma expressão sombria em seus rostos.
A bifurcação do corredor não era igual às outras. Não havia nenhum alargamento.
Cada um dos dois corredores só tinha metade da largura do outro. Era menos de um
metro e meio.
— Se continuar assim — disse Bron Tudd em tom de oráculo — teremos de tirar os
trajes espaciais na próxima bifurcação. E não acredito que lá seja mais quente que aqui.
— Vamos pelo corredor que desce — decidiu Henderson. — Bron, o senhor será o
primeiro a escorregar para baixo — mostrou um sorriso ligeiro. — Quem sabe se o calor
do atrito não servirá para aquecer o vácuo...?
Tudd resmungou alguma coisa que ninguém entendeu. Virou calmamente o coldre
da arma energética para trás, soltou o fecho magnético e segurou a arma nas mãos
enluvadas. Agachou-se e tomou impulso. Escorregou de barriga, pois as costas de seu
traje de combate estavam cheias de equipamentos. Dentro de alguns segundos Bron ficou
fora do alcance das lâmpadas dos capacetes.
— Taka, o senhor irá em seguida.
O sargento Hokkado fez avançar sua figura enorme. Desconfiado, piscou os olhos e
contemplou as profundezas geladas cintilantes. Atirou-se para a frente que nem um
nadador.
— É sua vez, Eyseman — decidiu Sven. — Vamos logo!
Finch segurou o controle de seu traje espacial na mão, Para evitar que alguma
saliência deixasse o precioso aparelho avariado. Além disso tinha de estar em condições
de ligar seu campo energético a qualquer momento. Um impulso de rádio emitido pelo
comando especial bastaria para isso.
Eyseman desapareceu e Henderson voltou a cabeça para Ray Burdick.
— O senhor será o último, tenente. Se alguma coisa me acontecer no caminho,
assuma o comando.
— Tudo bem, senhor — respondeu Burdick sem demonstrar a menor emoção.
O Capitão Henderson perguntou-se se havia alguma coisa capaz de abalar um
homem do tipo de Ray Burdick. Finalmente deu o salto para as profundezas.
Enquanto os reflexos de luz lançados pelas paredes geladas iam deslizando perto
dele. Henderson deu-se conta de que nenhum dos homens que tinham saído antes dele
tinham dado sinal de vida.
***
O casco do jato espacial tremia, dando a impressão de que iria romper-se a qualquer
instante.
Gucky esforçou-se para esquecer de que as forças contidas do processo de fusão
atômica rugiam poucos metros embaixo deles. Lançou um olhar ligeiro para o rosto do
comandante. Don Redhorse estava sentado na poltrona de comando, com os ombros
ligeiramente inclinados para a frente. Seu rosto marrom-avermelhado parecia ter sido
esculpido em pedra. Vigilantes que nem os de um puma traiçoeiro, seus olhos iam
deslizando pela multidão de instrumentos e indicações dos rastreadores. Mas havia vida
nestes olhos que emitiam um brilho controlado. Os movimentos das mãos e dos dedos
eram tão rápidos que antes pareciam uma sombra aos olhos do rato-castor.
— Atenção, manobra linear! — disse a voz rouca do comandante, saída dos rádio-
capacetes. Redhorse quase não chegara a mover os lábios ao falar.
— Manobra linear! — cochichou Gucky, estupefato.
— Pensei que estivesse num jato espacial.
— É um modelo especial! — resmungou Redhorse.
— Que coisa! — murmurou o rato-castor, tentando lançar um olhar para o
navegador, por cima dos equipamentos que se amontoavam à sua frente. Não conseguiu.
— Que coisa! — repetiu. — Para mim isto é novidade. Um jato espacial equipado
com propulsores lineares...
— Só para trechos curtos, baixinho.
A voz de Redhorse parecia um pouco mais suave. Gucky afastou telecineticamente
uma sacola de mantimentos e lançou um olhar para a tela global. A escuridão era
completa — só bem ao longe viam-se algumas linhas coloridas de aspecto grotesco.
— Saída! Podem abrir fogo! — decidiu Redhorse.
O rato-castor sentiu os saltos violentos executados pelo jato espacial, que disparava
com todos os canhões. No mesmo instante descobriu algumas figuras cintilantes verdes,
com aspecto de bolha, grudada no campo defensivo da nave.
Eram as esferas energéticas...!
Uma pressão terrível o jogo de volta para dentro da poltrona. Uma campainha de
alarme deu um sinal breve, mas logo voltou a silenciar.
— Sinto muito! — disse Don Redhorse, comentando o incidente. — Tivemos de
executar uma manobra violenta para desviar-nos.
Os canhões energéticos pesados voltaram a rugir. Uma nuvem gigantesca de gases
incandescentes apareceu na tela, envolvendo o pequeno veículo por alguns segundos. Os
lampejos provocados pelas descargas energéticas atingiram o campo defensivo de vários
estágios.
O jato logo atravessou a nuvem.
— Qual é a distância? — perguntou Gucky, enquanto se concentrava para o salto. A
superfície do mundo das trevas apareceu em forma de uma lâmina azul-pálida, que enchia
completamente a tela. A luz das esferas mortais iluminava a noite eterna.
— Cento e cinqüenta mil — respondeu Redhorse.
— Quando chegarmos a cem mil, saltarei — anunciou o rato-castor. Ficou de olho
em certo ponto do planeta, enquanto concentrava suas energias telecinéticas no
equipamento que pretendia levar. Seus músculos seriam incapazes de segurar o mesmo.
— Cem mil! — informou Redhorse. — Boa sorte, baixinho.
Virou a cabeça, mas o lugar em que Gucky estivera pouco antes estava vazio. O
capitão respirou aliviado e pôs as mãos nos controles da nave. A direção dos jatos-
propulsores sofreu uma inversão de cem por cento, enquanto os projetores do sistema de
propulsão antigravitacional entravam em ação. O jato espacial descreveu uma curva
louca, precipitando-se numa altitude de cinqüenta mil quilômetros acima do mundo das
trevas, para subir novamente e voltar a penetrar no espaço linear.
Levou apenas alguns segundos para retornar ao espaço normal. Gucky já deveria ter
dado notícias, mas o rato-castor mantinha-se em silêncio.
E continuou em silêncio, mesmo quando o jato espacial voltou ao seu hangar.
***
Gucky materializou uns duzentos metros acima do gelo. Soltou um pio zangado
enquanto tentava manter reunido o equipamento e ficava suspenso, usando suas forças
telecinéticas.
Foi só por isso que o raio de tração o pegou completamente de surpresa. O rato-
castor sentiu-se arrastado por uma força invisível. Lançou um olhar para o lado e viu a
cúpula blindada de um forte. Ainda há pouco a mesma não estivera lá. Portanto, devia ter
saído do gelo depois que sua presença fora notada.
Gucky felicitou-se porque o inimigo não estava atirando nele com armas
energéticas. Teleportou e voltou a aparecer em cima da cúpula blindada, onde por
enquanto estaria em segurança. Afinal, ninguém consegue enxergar a mosca sentada em
sua cabeça. Foi ao menos o que pensou...
Fechou os olhos e usou seus sentidos para localizar eventuais impulsos mentais.
Antes não tivesse feito isso. Quando teve a impressão de ter descoberto um modelo
cerebral que lhe era conhecido, uma sensação indefinida lhe serviu de alerta. Abriu os
olhos e ficou estupefato ao ver os quatro robôs que vinham em sua direção, com as garras
metálicas estendidas.
Reuniu às pressas o equipamento, usando a telecinesia, e teleportou ao acaso.
Foi parar entre as pontas afiadas e os blocos arrebentados de uma montanha de gelo.
Quando pretendia fazer um inventário, um robô de quatro braços se ergueu num bloco de
gelo ligeiramente inclinado.
— Caramba! — disse o rato-castor, espantado. — Como veio parar aqui? Ou será
que é apenas um fantasma?
As fendas e rachaduras no gelo, provocadas pelos passos pesados do robô, logo
convenceram Gucky de que sua figura era real. Certamente incluíra o robô por engano no
raio de ação da energia telecinética que usara ao teleportar de cima da cúpula.
— Acho que estou ficando velho — murmurou, contrariado. Deu um suspiro e fitou
a máquina. Concentrou-se. O robô foi levantado violentamente. Gucky pretendia deixá-lo
cair de quinhentos metros de altura. Por melhor que fosse um robô, ele não agüentaria
uma queda como esta.
Mas Gucky só teve de fazer o trabalho pela metade. Um raio energético cortou a
escuridão e desmanchou a máquina, transformando-a numa nuvem de gases que descia
rapidamente.
— Muito obrigado pelo aviso — observou Gucky em tom seco. — Vejo que no
futuro terei de abster-me dos vôos a grande altura.
Apoiou-se na cauda e finalmente cuidou do inventário.
— Dois canhões desintegradores portáteis... três rifles energéticos... dois sacos de
mantimentos concentrados... tabletes de água... Munição para as armas energéticas —
ergueu-se, espantado. — Onde está o telecomunicador? Eu o tinha comigo. Será que já
preciso assinalar listas que nem o Major Bernard? — Começou tudo de novo, mas o
telecomunicador tinha desaparecido mesmo. Gucky começou a duvidar das próprias
faculdades, quando descobriu uma mancha negra no gelo. Saiu caminhando em direção a
essa mancha, cheio de maus pressentimentos.
Era o telecomunicador — ou melhor, aquilo que restava de um telecomunicador
novo em folha. Uma linha larga em ângulo reto atravessava os destroços. Nas
extremidades dessa linha viam-se rachaduras no gelo.
— Está começando bem — murmurou o rato-castor, deprimido. — Logo um robô
superpesado tinha de pisar em meu telecomunicador.
Olhou para o céu e enviou uma mensagem telepática. John Marshall, chefe do
exército de mutantes, era um telepata tão bom quanto Gucky. Estava a bordo da Crest II e
não poderia deixar de “ouvir” a mensagem. Mas o rato-castor esperou em vão pela
resposta. Transmitiu mais um chamado, mas ainda desta vez não conseguiu nada. As
esferas energéticas pareciam emitir uma forma de radiação que espalhava os impulsos
mentais.
Gucky deu de ombros. Lembrou-se de que Henderson também dispunha de um
telecomunicador portátil. Se conseguisse encontrá-lo, ainda poderia transmitir sua
mensagem a Perry Rhodan.
Gucky apoiou-se na cauda, fechou os olhos e concentrou-se no modelo das ondas
cerebrais de Henderson, que conhecia perfeitamente.
Demorou mais que de costume para captar o primeiro impulso mental. Nem
conseguiu identificá-lo, de tão fraco e confuso que era.
Depois de cinco minutos Gucky voltou a abrir os olhos e sacudiu a cabeça,
perplexo. Imediatamente deixou de ter a percepção dos impulsos. Voltou a concentrar-se,
mas ainda desta vez não captou qualquer impulso identificável.
“Isso não existe!”
Será que as esferas impediam até mesmo o contato telepático na superfície do
planeta? Era praticamente impossível. Nesse caso deveria ter percebido as radiações.
Devia haver alguma coisa entre ele e o grupo de Henderson.
Gucky teve de lembrar-se das experiências colhidas em Gleam. Ali também
existiam monstros andróides. E também ali o uso de suas parafaculdades fora impedido
toda vez que um dos monstros se encontrava nas imediações. Mas o efeito negativo então
verificado impedira o uso da teleportação e da telecinesia, enquanto aqui estas faculdades
estavam funcionando. Só a telepatia parecia ter sido impedida.
Mas nem esta falhava completamente. Talvez fosse porque os monstros não estavam
nas proximidades de Gucky.
O rato-castor levou um tremendo susto.
Se não estavam perto dele, era quase certo que se encontravam nas imediações dos
cinco homens desaparecidos.
A preocupação por Henderson e seus companheiros levou Gucky a agir depressa.
Gucky sempre tivera por hábito colocar sua segurança em segundo lugar, pois achava que
o importante era ajudar quem precisava. Quando alguém se encontrava em perigo, Gucky
não perdia tempo. Entrava em ação imediatamente.
O rato-castor lançou um olhar pensativo para os equipamentos. Não poderia levar
tudo, pois seria obrigado a realizar várias teleportações. As teleportações seriam difíceis,
e por isso teria de concentrar suas forças exclusivamente nas operações de busca.
Gucky resolveu levar somente um dos rifles energéticos. O resto podia ficar para
depois. Antes de mais nada precisava encontrar os desaparecidos. Depois disso seria
facílimo transportar o restante do equipamento.
Usou a telecinesia para transportar o equipamento para dentro de uma grande fenda
e tapá-la com um bloco. Depois disso pendurou o rifle energético de aspecto desajeitado
ao pescoço, agarrou-o — e teleportou.
Ficou surpreso por materializar numa área em que a visão era perfeita. Concluiu que
os impulsos mentais não poderiam ter vindo dali, pois neste caso teria visto os
desaparecidos. Não viu sinal dos andróides.
Pensativo, o rato-castor examinou a poeira de gelo muito fina que cobria a superfície
gelada. As estrias paralelas que atravessavam essa camada eram inconfundíveis. Até
parecia que centenas ou milhares de tratores tinham viajado pela poeira, abrindo trilhas
com suas esteiras. Mas tratava-se de uma comparação falha. As estrias pareciam ter sido
produzidas antes por alguma coisa se arrastando.
De repente um véu parecia cair de cima dos olhos de Gucky.
Talvez os rastros tivessem sido produzidos pelos pés de gigantescos andróides que
se tivessem deslocados pelo gelo arrastando os pés.
Como todos eles corriam numa direção, Gucky não perdeu tempo fazendo
suposições sobre o que significavam. Os andróides estavam caçando alguma coisa. Só
podia ser o grupo de Henderson.
Infelizmente os rastros seguiam tanto para a direita como para a esquerda. Gucky
tentou novamente captar impulsos mentais localizados. Recebeu alguns fragmentos de
pequena intensidade, que pareciam ter atravessado uma parede imaginária. Até parecia
que essa parede os desviava e difundia, conforme acontecia com os raios de luz num
prisma.
O rato-castor suspirou. Tinha de tomar uma decisão sobre a direção a seguir. Soltou
mais um suspiro e teleportou para a direita.
Foi parar no interior de um desfiladeiro profundo no gelo, que estava repleto de
gigantescos andróides. Deviam estar aos milhares. Gucky enfiou-se imediatamente atrás
de um bloco de gelo do tamanho de uma casa e espiou de trás do mesmo.
Respirou aliviado ao notar que ninguém tomara conhecimento de sua presença. Os
monstros estavam ocupados demais. O rato-castor tentou descobrir o que mantinha os
gigantes tão ocupados. Andavam cambaleantes de um lado para outro, esbarravam uns
nos outros e comprimiam-se perto de determinado lugar da íngreme encosta gelada. O
rato-castor não pôde deixar de rir. Lembrou-se de um filme que mostrava uma lenda
terrana, na qual apareciam gigantes desajeitados como estes. Como era mesmo seu nome?
Tímpetos! Diante das características da mente de Gucky, os andróides já tinham um
nome. Dali em diante seriam chamados de tímpetos.
Gucky tentou definir sua atividade. Pareciam que remexiam e arranhavam o gelo
com suas mãos gigantescas e disformes, dando a impressão de que queriam abrir um
buraco. Em virtude de seu grande número e de sua estupidez atrapalhavam-se mais do
que se ajudavam uns aos outros. Os que vinham de trás puxavam os da frente e juntos
rolavam pelas encostas, enquanto blocos e fragmentos de gelo precipitavam-se atrás deles
em forma de avalanche.
Num momento destes o rato-castor descobriu a entrada da caverna, colocada à
mostra pela metade.
Sacudiu a cabeça e quis pôr o dedo na testa. Grunhiu aborrecido ao bater no
capacete pressurizado. Voltou a dedicar sua atenção aos tímpetos.
Por que queriam desimpedir uma caverna fechada? Certamente não precisavam
proteger-se do ambiente mortífero.
De repente Gucky soltou um assobio estridente.
Por que não se lembraria disso logo? Era claro que o grupo de Henderson se
escondera na caverna aberta no gelo. Era a melhor coisa que os homens poderiam fazer
na situação em que se encontravam. Evidentemente os andróides estavam loucos para
seguir os humanos, uma vez descoberto o caminho pelo qual tinham fugido. O fato de
remexerem o gelo podia ter duas causas. O corredor era muito estreito para dar passagem
aos gigantes — ou então, o que Gucky achava mais provável, Henderson provocara uma
explosão para fechar a entrada.
— Estou chegando bem na hora! — exultou Gucky.
Saiu desajeitadamente de trás do bloco de gelo e sentou lentamente. Depois ficou
concentrado no joguinho, como costumava dizer.
Dentro de dez minutos o desfiladeiro ficou completamente vazio. Gucky agarrara os
monstros aos grupos com suas energias telecinéticas e os fizera subir na vertical. Os
fortes que funcionavam automaticamente cuidavam do resto. Dos cerca de dois mil
andróides que se encontravam lá não sobrou absolutamente nada. Mas outros
perseguidores acabariam por aparecer. Até lá, resolveu o rato-castor, a parte principal de
seu trabalho estaria concluída.
Gucky voltou a escutar — e desta vez não havia nenhuma muralha imaginária que
atrapalhasse suas parafaculdades.
O primeiro pensamento captado com clareza provocou um acesso de riso em Gucky.
Alguém acabara de pensar com uma intensidade incrível — e pensara justamente em
fumo de mascar.
Quando voltou a acalmar-se, o rato-castor investigou pensamentos de Henderson
para descobrir a posição exata do grupo. Dali a alguns segundos foi capaz de imaginar
perfeitamente o corredor com a bifurcação. Examinou cuidadosamente seu traje de
combate. Estava tudo na mais perfeita ordem. Ligou a luz de posição do envoltório da
cauda.
Os homens arregalariam os olhos quando aparecesse à sua frente!
Gucky voltou a fazer a determinação da posição de Henderson — e saltou. Sua
figura desmanchou-se e desapareceu silenciosamente no nada...
4
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O mundo das trevas chamado Módulo era o último
reduto dos donos de Andrômeda na nebulosa Beta! Dali
em diante os misteriosos senhores da galáxia parecem
desenvolver uma atividade terrível entre os maahks de
Andro-Alfa, a 62.000 anos-luz da nebulosa Beta.
A Crest II, que é a nave-capitânia de Perry
Rhodan, e a nave-capitânia da USO, a Imperador, dão
início a uma grande viagem — e Grek-1, o maahk que
se tornou aliado de Perry Rhodan, quer ver o que está
acontecendo em seu mundo. E, ao fazer isso, está
Arriscando a Própria Vida...
Arriscando a Própria Vida — é este o título do
próximo volume da série Perry Rhodan.