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História Oral: velhas questões, novos desafios

Ferreira inicia o capítulo apontando para as três formas de se pensar a


História Oral entre os pesquisadores: A História Oral como uma Técnica, enfocada
por seus defensores mais na construção e armazenamento dos documentos, ou
vista como uma disciplina, e que, portanto, envolve tanto uma metodologia quanto
uma teoria oriunda da própria reflexão da pesquisa que permite respostas próprias
para compreender os signos e significados da História Oral, ou finalmente, a História
Oral como um método, ou seja, uma prática profissional que ordena os
procedimentos de um tipo específico de trabalho – a construção de histórias orais - .
Entre os pontos importantes do texto pode-se destacar a reflexão que autora
faz sobre a historicidade da História Oral, negada durante o período de domínio da
Escola Metódica e novamente relevada à segunda classe pelas primeiras gerações
dos Annales, que tinham maior enfoque no estudo das Estruturas e nos documentos
escritos. A História Oral ganha espaço a partir da revalorização da cultura enquanto
parte proeminente para compreensão das práticas humanas e do cotidiano dos
grupos não tão afortunados da sociedade enquanto membros importantes para
compreensão da própria sociedade.
Enquanto características da História Oral a autora menciona as
especificidades que constituem essa metodologia, especialmente a relação dialética
entre o entrevistador e entrevistado, em que ambos são responsáveis pela produção
da fonte/documento. A História Oral não existe sem a presença de um desses
membros.
Outro aspecto importante reforçado pela autora é o boom da memória que
vem ocorrendo nas últimas décadas e as disputas de memória que cada vez mais
arregimentam grupos e opõem interesses políticos e sociais entre diversos grupos.
Sejam nas disputas em torno das ditaduras latino-americanas, no tratamento
historicamente repressor dado pelo Estado aos grupos de periferia ou na
sacralização de determinadas figuras nas sociedades do século XXI, constantes
disputas de memória marcam a prática dos pesquisadores. A memória se torna um
instrumento de legitimação e/ou de contestação social e quem controla o presente,
busca invariavelmente determinar os usos do passado.
Na parte final do capítulo a pesquisadora busca refletir sobre o
posicionamento dos historiadores orais em vista dessas disputas pela memória, que
de certa forma permitem um acesso a um número maior de fontes, mas por outro
também restringem as opções do pesquisador. Tal como ela aponta, um historiador
não tem e não pode ter o monopólio das memórias. Cabe a ele reconstruir,
rememorar e refletir atendendo às carências e necessidades da sociedade.

Histórias dentro da História

O texto busca traçar o percurso metodológico refletindo sobre o processo de


construção da História Oral e a utilização de suas ferramentas para produção de
uma pesquisa.
Como aspecto inicial, a Historia Oral é apontada como uma metodologia,
oriunda desde tempos antigos com a produção da História na Antiguidade Clássica,
mas que especialmente ganhou terreno a partir do século XX, inicialmente como
uma prática de entrevistar “grandes personagens” na Columbia University, mas que
passou a ser utilizada para compreender as narrativas e as construções de tempo e
espaço dos diversos indivíduos das várias classes sociais nas sociedades do século
XX e XXI.
A autora se coloca em relação ao movimento de História Militante, que
ganhou força a partir da década de 1970. Esse movimento, que buscou “dar voz aos
vencidos” embora apresente interessantes reflexões sobre o caráter muitas vezes
aristocrático da pesquisa histórica, também representa, de certa forma uma visão
simplista das disputas eu envolvem a construções dos diversos saberes que fazem
parte da História. “Dar voz aos vencidos” não pode significar que “os vencidos” não
possuem voz e nem tampouco, que são dóceis que não reagem, negociam ou lutam
contra os elementos que o pressionam.
Na parte seguinte do texto a autora esboça os princípios metodológicos que
conduzem à produção da História Oral, desde uma clara convicção do pesquisador
sobre os porquês da utilização do método da História Oral (O que só é possível a
partir de um estudo e reflexão aprofundada das discussões acadêmicas sobre os
sentidos e práticas da História Oral), uma preparação de um projeto em consonância
com os objetivos da pesquisa, evitando assim simplificações como a oposição
Memória Oficial versus Memória dominada, uma definição clara, mas ao mesmo
tempo possível de ser adaptada dos entrevistados, pois afinal, cada entrevista
produzirá resultados próprios e uma reflexão adequada sobre os próprios resultados
da entrevista.
Na parte final, a autora ressalta a importância do tratamento correto das
fontes construídas para a pesquisa (duplicação dos arquivos, transcrição se
necessário, cuidados com a autoria) e a análise das fontes, levando em
consideração as condições de produção, as memórias construídas e a própria
presença do entrevistador como um elemento da pesquisa.

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