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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

TREINAMENTO PARA ELABORAÇÃO DE BOPM-TC


APOSTILA

2017
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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

2017 – Polícia Militar do Estado de São Paulo


Diretoria de Ensino e Cultura - DEC
É proibida a reprodução total ou parcial deste material para uso não institucional .

Unidades Ges t oras do Conhec iment o

Comando de Policiamento de Trânsito (CPTRAN)


Comando de Polícia Rodoviária (CPRV)
Comando de Polícia Ambiental (CPAMB)

Diagramaç ão, Rev is ão, A dapt aç ão

Seção de Metodologia do Ensino (DEC)

__________________________________________________________________________
Treinamento BOPM TC – Boletim de Ocorrência Policial Militar / Termo Circunstanciado

1. Parte Geral
2. Parte Específica Policiamento de Trânsito e Rodoviário
3. Parte Específica Policiamento Ambiental
__________________________________________________________________________

Todos os direitos autorais e de uso foram cedidos integralmente à Polícia Militar do Estado de São Paulo
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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

SUMÁRIO

P A R T E G E R A L

TÓPICO 1: O CICLO COMPLETO DE POLÍCIA

Conceitos 07

TÓPICO 2: ASPECTOS GERAIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS-JECRIM

Fundamentos Constitucionais dos Juizados Especiais 14

TÓPICO 3: O PROCEDIMENTO PROCESSUAL PENAL SUMÁRIO

Situações para a qual não se aplica a lei – exemplo lei Maria da Penha 18

TÓPICO 4: O TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIAS (TCO)

A situação de flagrância delitiva 23

Conceito de Autoridade Policial e competência para elaborar o TCO 27

Requisições de perícias 35

Apreensões de objetos 37

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T R Â N S I T O

INFRAÇÕES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO: TIPOS MAIS INICIDENTES

Parte geral dos crimes de trânsito no CTB aplicáveis aos crimes de menor potencial

ofensivo 40

Art. 129 do CP – Lesão Corporal e Art. 303 do CTB 43

Art. 304 e 305 do CTB (fugir do local do acidente) 49

Art. 307 (caput e parágrafo único), Art. 311 e 312 do CTB 56

Art. 309 e 310 do CTB (falta de permissão ou habilitação para dirigir 61

Art. 163 do CP (dano) 76

Art. 31 da Lei 3.688/41 (omissão na cautela de animais) 83

Art. 329 (resistência), Art. 330 (desobediência) e Art. 331 (desacato) 92

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TREINAMENTO PARA ELABORAÇÃO DO BOPM-TC

PARTE GERAL
AULA 1

ASSUNTO: CICLO COMPLETO DE POLÍCIA

Este nosso assunto é de suma importância ao Senhor,


Policial Militar, pois permitirá que compreenda que a
elaboração do Termo Circunstanciado de ocorrência por
nós, revelará o primeiro passo concreto para que
tenhamos uma Polícia Militar com atribuições completas. A
este primeiro passo, chamamos tecnicamente de “Ciclo Completo de Polícia
Mitigado”.
Iremos demonstrar aos Senhores que vivemos na atualidade um sério
problema do nosso modelo policial, pois no Brasil o funcionamento da polícia é
incompleto, onde Polícia Militar e Polícia Civil fazem apenas parte do ciclo de polícia.
Há, portanto, um paradigma segundo o qual a Polícia Militar seria apenas
preventiva, e a Polícia Civil, repressiva, o que contraria frontalmente a eficiência
do modelo policial brasileiro, afastando-nos do que encontramos no restante dos
países democráticos, conforme tivemos a oportunidade de pesquisar.

Essa dicotomia policial abre espaço para a penetração de diversas variáveis


que acabam por atingir, em cheio, a eficiência do modelo policial atual.

2. Problema

Assim, a Polícia Civil desvia-se da função investigativa e de apuração


criminal para registros que já são, via de regra, realizados pela Polícia Militar.

RESULTADO: baixíssima taxa de elucidação de crimes, retrabalho,


imobilização das unidades de serviço da PM em Delegacias, elevação de custos,
mitigação da “autoridade policial-militar” que levam a: IMPUNIDADE DO INFRATOR!

3. Solução:

Para resolvermos a problemática apresentada revelamos uma saída técnica


que é a: adoção de um modelo de polícia de ciclo completo a ser desempenhado
pela Polícia Militar.

Assim, fundamentaremos um novo paradigma que é o Ciclo Completo de


Polícia embasado na situação de flagrância delitiva.

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As experiências positivas das polícias militares na elaboração de Termos


Circunstanciados de Ocorrências e a nova sistemática de apresentação de
ocorrências à Polícia Civil, como no caso da Resolução SSP/SP -57/15, levam a que
a Polícia Militar tenha o reconhecimento de atribuições constitucionais após a
ocorrência do ilícito penal para a confecção de Autos de Prisão em Flagrante Delito,
Autos de Apreensão de Adolescente Infrator, Termos Circunstanciados de
Ocorrências, além do nosso conhecido Boletim de Ocorrências.

A elaboração do TCO/PM permitirá, enfim, que a Polícia Civil tenha maior


disponibilidade para investigar e melhorar seus índices de esclarecimento de delitos
o que nos levará a uma maior eficiência do trabalho policial como um todo!

Com a prática do TCO/PM serão viabilizados:

- simplificação dos processos burocráticos;

- potencialização da prestação do serviço pelas agências policiais estaduais;


- afastamento da morosidade e do desperdício, em razão da duplicidade de
estruturas, retrabalho e atuação de modo desordenado das polícias estaduais;
- empoderamento da autoridade policial-militar; e
- MELHORIA DE ATENDIMENTO AO CIDADÃO! Este que é o principal
destinatário dos nossos serviços de Segurança Pública.

4. Embasamento jurídico-doutrinário

Vamos agora justificar nosso posicionamento dando um breve embasamento


jurídico-doutrinário sobre a questão, explicando, inicial e tecnicamente, como se dá a
ação da Polícia Militar e da Polícia Civil, em relação à quebra da ordem pública:
1. temos que se houve uma ação humana que revela uma infração
administrativa violadora da ordem pública: o dever de agir é da Polícia Militar;

2. se tal ação humana revela infringência à dispositivo tipificado nas leis


penais: o dever de agir é da Polícia Militar (repressão imediata - flagrante), e
também da Polícia Civil (repressão mediata - investigação);

As formas de atuação acima decorrem de que, a Polícia Militar, segundo


nosso ordenamento jurídico, é encarregada da preservação da ordem publica.
Preservar a ordem pública significa preveni-la, mantê-la, mas também, restabelecê-
la, conforme se interpreta do art. 144 da Constituição Federal.
Portanto, como vimos, Senhores, existe uma ZONA CINZENTA DE
ATUAÇÃO PM/PC, que é a da REPRESSÃO IMEDIATA.

Para o restabelecimento da ordem pública o Polícia Militar é obrigado a agir,


e quando prender o infrator teremos a situação de flagrância delitiva. Nosso estudo
avança ao revelar que a Polícia Militar é também competente, portanto, para realizar
o registro de tais fatos!

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EXEMPLO: para confirmar o que afirmamos acima, peguemos um exemplo


do que acontece comumente. Imagine que o Senhor seja acionado pelo COPOM
para comparecer a um local onde está havendo um roubo a um estabelecimento
comercial. A regra é fazer o deslocamento o mais rápido possível ao local e, lá
chegando, verificar a veracidade dos fatos. Se houver a constatação de que o roubo
realmente ocorreu e de que o infrator armado se encontra no local, assim como as
vítimas amarradas e o produto da ação criminosa já preparado para ser
transportado, a conduta esperada é a de o Senhor, utilizando de seus
conhecimentos profissionais, em suma, propicie socorro às vítimas, e realize a
prisão do infrator, pois ele está na “situação de flagrância delitiva”. Essa situação é a
típica de “flagrante próprio”, segundo os ditames da lei processual penal. Ocorre
que, em situação semelhante, muitas vezes o Senhor chega ao local do roubo, e os
meliantes já se evadiram. O Senhor seria considerado um bom Policial Militar se se
contentasse em apenas registrar o BO/PM e se deslocasse ao Plantão da Polícia
Civil para o registro? Obviamente que não! A boa prática e as normas determinam
que o Senhor colha o maior número de informações possíveis, ouvindo testemunhas
e vítimas, observando os vestígios do local de crime, verificando imagens de
câmeras e outros aspectos que sua experiência profissional entenderem
importantes, para comprovar a materialidade do crime e, principalmente, a
identificação do autor. Munido de todas essas informações o Senhor mesmo e/ou
seus companheiros Policiais Militares passarão, legitimamente, a fazerem o
chamado “patrulhamento com vistas” ao infrator. Não raras vezes essa conduta
perfeita dos Policiais Militares leva a prisão em flagrante do criminoso (flagrante
presumido), que se encontre na posse de objetos, como o produto do roubo, a arma,
e outros, que façam presumir que aquele seja realmente o autor do crime. Por
vezes, essas tais “diligências” são fruto de perseguição do infrator que podem se
estender por horas, mas que, de igual forma, levam á sua prisão (flagrante
impróprio), logo após a prática do fato delituoso, em situação que faça presumir ser
ele o autor da infração.
Nos casos de infrações penais de menor potencial ofensivo a situação é
exatamente a mesma, visto que a situação de “flagrância delitiva” é essencial para
confecção do TCO! Assim, se o Senhor se depara com uma ameaça, por exemplo, o
deslinde de sua atuação será nos mesmos moldes do que descrevemos
sucintamente. A única diferença é a de que, conforme os Senhores verão em
momento oportuno, tal fato se amoldará à lei 9099/95, que determina a elaboração
do TCO, não se impondo a autuação em flagrante delito do autor que se
comprometer a comparecer em juízo.

Logicamente que as atribuições da Polícia Militar cessam e passam à Polícia


Civil, a partir do momento de que não conseguimos localizar o infrator, o que nos
obriga a comunicá-la da ocorrência, ela que é a responsável pela investigação e
apuração dos delitos, como vimos acima.

O que se comprova pragmaticamente com o exemplo acima é que: se o


policial militar tem o dever legal de prender em flagrante (flagrante compulsório), a
Polícia Militar, por decorrência legal, tem também atribuição para lavrar (autuar) a
situação de flagrante, quer seja por Auto de Prisão em Flagrante Delito (APFD), Auto
de Apreensão de Adolescente Infrator (AAAI), ou, atendendo o objeto do nosso
estudo, o Termo Circunstanciado de Ocorrências (TCO).

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A teoria jurídico-doutrinaria apresentada já nos dá embasamento para


inferir que:

- a Polícia Militar deve atuar não só na prevenção e manutenção da ordem


pública, mas também na fase inicial da persecução penal (repressão imediata);

- que esta atuação deve ocorrer imediatamente após a eclosão do delito, e


perdurar até a última possibilidade de prisão em flagrante delito do infrator (flagrante
próprio, impróprio e presumido)!
O Ciclo Completo de Polícia a partir da ocorrência do ilícito penal
fundamenta, portanto a atuação da PM para elaboração dos registros da
flagrância delitiva, quer seja por meio do Auto de Prisão em Flagrante Delito
(APFD), AAAI (Auto de Apreensão de Adolescente Infrator, ou dos Termos
Circunstanciados de Ocorrências (TCOs)!

5. A implantação do Ciclo Completo de Polícia

O referencial da Polícia Militar para implantação do Ciclo Completo de


Polícia deve ser o pragmático. Daí ser essencial que a implantação leve em conta
aspectos como:

- o aproveitamento das estruturas físicas existentes;

- racionalização;

- economia;
- simplicidade; -

- utilidade;

- eliminação dos conflitos de atribuição; e

- o menor nível de tensão institucional entre PM/PC.


Atendidas tais premissas certamente alcançaremos a tão almejada
EFICIÊNCIA DO NOVO MODELO POLICIAL!

6. A finalidade da implantação do Ciclo Completo de Polícia

A premissa básica em termos de finalidade da implantação do Ciclo


Completo de Polícia pela Polícia Militar é, portanto, o respeito ao Princípio da
Eficiência, que, em suma, é aquele que impõe ao administrador público o dever de
servir com perfeição e alto rendimento ao usuário (Emenda Constitucional nº 19, de
1988; art. 37 CF). Da mesma forma pretende-se a obediência ao Princípio do
Serviço Público Adequado que impõe as condições de regularidade, continuidade,
eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas (art. 6º, § 1º, da CF/88).
Assim, pretende-se resolver a equação em que se verifica a Polícia Militar
batendo recordes de produtividade operacional e a Polícia Civil apresentando

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péssimos resultados na área investigativa e de apuração criminal, como já


pontuaram várias pesquisas e estudiosos do assunto.

Nesse sentido nos ensina Michel Misse em aprofundado estudo intitulado O


Inquérito Policial no Brasil: uma Pesquisa Empírica, do Núcleo de Estudos da
Cidadania, Conflitos e Violência Urbana da UFRJ, onde aduz: “[...] verificou-se que
grande parte dos crimes que apresentam melhor taxa de elucidação resultam de
flagrantes, isto é, do trabalho das Polícias Militares e não de investigações da Polícia
Civil (MISSE, 2010, apud CANDIDO, Fábio Rogério in Direito Policial: o Ciclo
Completo de Polícia. Curitiba: Juruá, 2016, p. 106).
Na mesma seara extraímos o que consta do Mapa da Violência (2013), o
qual revela que o “índice de elucidação dos crimes de homicídio no país variou entre
5% e 8%”, e que normalmente a elucidação de tais crimes estão atrelados à prisão
em flagrante elaborada, via de regra, pela Polícia Militar (Apud CANDIDO, Fábio
Rogério in Direito Policial: o Ciclo Completo de Polícia. Curitiba: Juruá, 2016, p.
107).

7. Conclusões

Assim, Senhores Policiais Militares, chegamos às seguintes


CONCLUSÕES:
- inexorável é a necessidade de que a Polícia Militar passe a colaborar com
sua coirmã no desiderato de atuar nos registros dos casos em que não haja campo
para a investigação, livrando-a de tal incumbência;

- a melhor solução para tanto é a adoção de um modelo de Ciclo Completo


de Polícia, fundamentado no registro do flagrante delito (APFD, AAAI e TCO) por
parte da Polícia Militar, pois apresenta o maior número de vantagens objetivas;
- experiências exitosas fundamentadas na autonomia da autoridade de
polícia de preservação da ordem pública demonstram a capacidade jurídica, técnica
e operacional das Polícias Militares; e

- as Polícias Militares têm expertise suficiente para que se dê este passo


mais elástico rumo ao Ciclo Completo de Polícia, bem como afiançam diversos
benefícios ao cidadão, que é o destinatário final dos serviços policiais mais
eficientes.

8. O Ciclo Completo de Polícia fundamentado na elaboração do TCO


pela Polícia Militar

Para finalizarmos é importante que a nossa Polícia Militar dê o primeiro


passo diante da concepção de CICLO COMPLETO DE POLÍCIA que já foi adotado
por nós. Trata-se do chamado tecnicamente Ciclo Completo de Polícia “MITIGADO”,
que nada mais é do que a elaboração do Termo Circunstanciado de Ocorrências
– TCO pelo Senhor, autoridade policial-militar!

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Lembre-se que tais ocorrências representam mais da metade de tudo


que o Senhor atende durante seu turno de serviço, daí a importância de
entenderem e se aperfeiçoarem para esse primeiro, mas importante passo!

Vamos verificar, apenas de início, quais são os principais benefícios ao


cidadão que essa nova sistemática vai proporcionar:

- a permanência da unidade de serviço no local da ocorrência;

- aumento da sensação de segurança, pela imediata aplicação da lei;

- diminuição da subnotificação de delitos de menor potencial ofensivo;


- expectativa de redução de indicadores criminais pela maior presença do
patrulhamento;
- agilidade no atendimento da vítima;

- maior sensação de punibilidade para o autor; entre outras.


Sem contar que a implantação do TCO/PM proporcionará um ASPECTO
INSTITUCIONAL DECISIVO em seu benefício, assim como da Polícia Militar
como um todo, qual seja: o EMPODERAMENTO DO POLICIAL MILITAR!!!

Vejamos alguns aspectos que revelam este empoderamento:


- haverá uma qualificação profissional ainda melhor, como esta que estamos
realizando;
- uma maior importância a quem atua na base da Polícia Militar (ao Senhor
patrulheiro);
- independência funcional do Polícia Militar em relação à Polícia Civil;

- reconhecimento do Senhor Policial Militar como autoridade policial;

- emprego mais racional e ágil das unidades de serviço que o Senhor


compõe;

- economia de recursos que podem passar a ser investidos no Senhor


Policial Militar;

- a simplicidade dos registros com o TCO eletrônico, que proporcionará mais


facilidade, rapidez, evitará erros, dando-lhe mais segurança para agir;

- maior efetividade e eficácia da sua atuação, pois todos os registros de


TCO/PM serão levados à Justiça, diretamente, sem intermediários.
E o mais importante: a sua valorização, Senhor Policial Militar!

Ao exercer a efetiva autoridade policial-militar na elaboração do TCO,


confiamos que o Senhor revelará todo conhecimento adquirido e o seu
inerente poder de decisão. Teremos, assim, um grande argumento para
pleitearmos a evolução dos seus direitos e prerrogativas!!!

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REFERÊNCIAS
CANDIDO, Fábio Rogério. Direito Policial: o Ciclo Completo de Polícia. Curitiba:
Juruá, 2016.
______Ciclo Completo de Polícia: o “Poupatempo” da Segurança Pública.
Revista A Força Policial. 2ª Edição. São Paulo: Polícia Militar do Estado de São
Paulo, setembro de 2016.

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AULA 2

ASSUNTO: FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS

As Leis Federais 9.099/95 e 10.259/01 tem respaldo na


Constituição Federal, em seus artigos 24, inciso XI e 98,
inciso I (alterado pela Emenda Complementar n° 22/98).
Tais dispositivos constitucionais estabelecem a criação de
Juizados Especiais, com a finalidade do julgamento e a
execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações de menor potencial
ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo.
"Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados
criarão: I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de
menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os
procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;"
O texto constitucional revela os princípios fundamentais de todo o
procedimento envolvendo a Infração Penal de Menor Potencial Ofensivo (IMPO),
que são o uso da informalidade, por meio da oralidade e de atos sumários, sem o
uso burocracia desnecessária, buscando tornar mais eficiente a prestação
jurisdicional e evitar a prescrição de delitos com sanções penais diminutas.
Outro aspecto importante figura no fato de que, de acordo com os
princípios do Direito Penal Mínimo, a possibilidade de transação penal objetiva a
reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de
liberdade (parte final do art. 62 da Lei 9.099/95), assim haverá um procedimento
simplificado para casos em que dificilmente o autor do farto será mantido preso.
O dispositivo constitucional traz em seu corpo um novo sistema, com
filosofia e princípios próprios. Com base nestes parâmetros têm-se que o Boletim de
Ocorrência, atendida as formalidades legais, serve como autuação sumária,
caracterizando-se como Termo Circunstanciado, no qual não existe função
investigatória nem atividade de polícia judiciária.
O Termo Circunstanciado trata-se de um breve, embora circunstanciado,
registro oficial de ocorrência, sem qualquer necessidade de tipificação legal do fato,
bastando a probabilidade de que constitua alguma infração penal. Jesus, Damásio
E., Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada, Editora Saraiva, 7ª e., São Paulo,
2002, p. 47.
A elaboração do Termo Circunstanciado no local dos fatos atende ao
princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, considerando que será
conferido um tratamento mais digno ao ofendido, testemunhas e ao próprio autor do
fato, que não terão que ser conduzidos em viatura policial, economia de tempo,
obtenção da pronta solução do problema com menor ônus social possível, afasta-se
a sensação de impunidade considerando que as pessoas são cientificadas de que o
fato será levado ao conhecimento do juiz natural (art. 5º, LIII, da CF), bem como

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garante a efetividade do exercício jurisdicional (art. 5º, XXXV, da CF). Garantido-se o


exercício de diversos direitos fundamentais.
Questão relevante, também, é a controvérsia de cunho constitucional em
torno das competências constitucionais fixadas para a Polícia Civil e Polícia Militar
pelo artigo : "Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: [...] IV -
polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.[....]§ 4º Às
polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações
penais, exceto as militares. § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a
preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das
atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.[...]"
O entendimento de que o Policial Militar é considerado Autoridade Policial
para lavratura do Termo Circunstanciado, foi discutida pelo Supremo Tribunal
Federal, diversas vezes, em Ação Direta de Inconstitucionalidade, na quais se
alegava, que em termos constitucionais, Autoridade Policial é somente o Delegado
de Polícia, e que ao passar tal competência aos Policiais Militares haveria invasão
da competência de Polícia Judiciária.
A discussão tem por base o artigo 69 da Lei 9.099/95 dispõe que “a
autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará ao juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários”. A primeira
polêmica surgida, quando foi sancionada a lei, era definir qual agente público
poderia ser considerado “autoridade policial”; se somente o Delegado de Polícia,
conforme entendimento de alguns, ou os agentes públicos encarregados da
atividade policial, entre esses o policial militar.
Em outros Estados do Brasil a interpretação do conceito autoridade
policial foi a mais coerente, ou seja, reconheceu-se que o policial militar está
revestido de autoridade policial para elaborar o termo circunstanciado e apresentá-lo
ao juizado, porém, em nosso Estado de São Paulo, por força de uma Resolução da
Secretaria de Segurança Pública, a autoridade policial encarregada do registro era o
Delegado de Polícia, até o surgimento do Provimento n.º 758, de 28.03.01 e
Provimento 806, de 04.08.03, do Conselho Superior da Magistratura do TJ/SP, hoje
os Provimentos nº 50/1989 e 30/2013 da Corregedoria Geral da Justiça do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo, que fixam as normas de serviço ofícios de
justiça, Tomo I, em seu art. 671; que acertadamente estendeu o conceito de
“autoridade policial” para os fins previstos na Lei 9.099/95, ao agente do Poder
Público investido legalmente para intervir na vida da pessoa natural, atuando no
policiamento ostensivo ou investigatório, entre esses o policial militar:
O professor Damásio Evangelista de Jesus afirma que “seria uma
superposição de esforços e uma ofensa à celeridade e economia processual,
sugerir que o policial militar, após lavrar o respectivo talão de ocorrência, fosse
obrigado a encaminhá-lo para o Distrito Policial, repartição cujo trabalho se quis
aliviar, a fim de que o Delegado repetisse idêntico relato através do Boletim de
Ocorrência. O policial militar perderia tempo para deslocar-se ao Distrito e o
Delegado de Polícia teria que repetir os registros em outro formulário”. Jesus,

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Damásio E., Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada, Editora Saraiva, 7ª e.,
São Paulo, 2002, p.69
O Partido Liberal ajuizou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade nº
2862-6/600, julgada em 26 de março de 2008, tentando a impugnação do
Provimento 758/01 do Egrégio Tribunal de Justiça e da Resolução SSP. 403/01 da
Secretaria de Segurança Pública, ambos do Estado de São Paulo. Estes antigos
atos, emanados dos Poderes Judiciário e Executivo, respectivamente, reconheciam
e ratificavam a condição de autoridade policial aos integrantes da Polícia Militar para
fins de lavratura do Termo Circunstanciado de que trata o artigo 69 da Lei 9.099/95.
Das conclusões do Parecer emitido pela Relatora do Processo, Sra.
Ministra Ellen Gracie, ressaltamos os seguintes trechos: “A doutrina autorizada e
precedentes do STJ são uníssonos em interpretar a expressão “autoridade
policial”da Lei 9099/95, de forma a se admitir a validade da lavratura do termo
circunstanciado por Oficiais da Polícia Militar, na conformidade do procedimento
oral e sumaríssimo programado no artigo 98, I, da Constituição Federal. [...]
Pretender uma obrigatória intermediação das Delegacias de Polícia entre o cidadão
e os Juizados Especiais Criminais dissente das finalidades visadas na lei das
infrações penais de menor potencial ofensivo, regida por procedimentos oral e
sumaríssimo previstos na Constituição”.
Em seu voto o Ministro Cézar Peluso aduziu que: "[...] Ademais e a
despeito de tudo, ainda que, para argumentar, se pudesse ultrapassar o plano de
estreita legalidade, não veria inconstitucionalidade alguma, uma vez que na verdade,
não se trata de ato de polícia judiciária, mas de ato típico da chamada polícia
ostensiva e de preservação da ordem pública - de que trata o § 5º do artigo 144 -,
atos típicos do exercício de competência própria da polícia militar, e que está em
lavar boletim de ocorrência e, em caso de flagrante, encaminhar o autor e as vítimas
à autoridade, seja policial, quando o seja o caso, seja judiciária, quando a lei o
prevê."
Em seu voto o Ministro Carlos Brito, afirmou: "E se essa documentação
pura e simples não significa nenhum ato de investigação, porque na investigação,
primeiro se investiga e, depois, documenta-se o que foi investigado."
Na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1618/Paraná, com julgamento
em 03/05/2002, o Ministro Carlos Veloso, decidiu: "[...] No concernente ao mérito,
também, não assiste razão ao Partido requerente, porquanto inexiste afronta ao art.
22, inciso I, da Constituição Federal, visto que o texto impugnado não dispõe sobre
direito processual ao atribuir à autoridade policial militar competência para lavrar
termo circunstanciado a ser comunicado ao juizado especial. Não se vislumbra,
ainda, nem mesmo afronta ao disposto nos incisos IV e V, e §§ 4º e 5º, do art. 144
da Constituição Federal, em razão de não estar configurada ofensa à repartição
constitucional de competências entre as polícias civil e militar, além de tratar,
especificamente, de segurança nacional."
A pretensão de que o termo “autoridade policial” se restringisse a
delegados de polícia, não sendo extensível aos Policiais Militares, nem sequer foi
julgada, porque o ação não foi conhecida, mas os votos emanados dos Ministros do
Supremo, demonstram a legalidade dessa interpretação ao "caput" do artigo 69 da
Lei 9.099/95.

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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Dessa forma, estão os atos dessa natureza praticados pelos


componentes da PM perfeitamente enquadrados na legislação competente, por mais
polêmicas que se queiram levantar ao redor disso, sendo certo que não há qualquer
invasão da competência investigativa da Polícia Civil, porque não haverá
investigação, mas sim mero ato de polícia ostensiva, ao registrar o fato do qual
tomou conhecimento por conta da repressão imediata (zona conjunta de atribuição
da Polícia Militar e da Polícia Civil).
Por fim, desbordando para as atividades de Polícia Administrativa e
campo do Direito Administrativo, não há de se esquecer que o "caput" do art. 37
elenca os dentre os princípios da Administração Pública a Eficiência, assim ao se
adotar a possibilidade de elaboração do Termo Circunstanciado pelo Policial Militar
este princípio está sendo atendido, porque: a) evita o prejuízo ao policiamento
ostensivo com deslocamentos desnecessários e perda de tempo; b) acúmulo
injustificado de serviço para a repartição policial; c) evita tornos injustificados para as
partes e testemunhas, sem retardar a solução do problema; d) liberação do
Delegado de Polícia para apuração de delitos de maior potencial ofensivo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo, Malheiros
Editores, 32ª e., São Paulo, 2014.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.
__________. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº
2862-6/600, 03mai2002.
__________. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº
2862-6/600, 26mar2008.
JESUS, Damásio E., Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada, Editora Saraiva,
7ª e., São Paulo, 2002.
MENDES, Gilmar Ferreira e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito
Constitucional, Editora Saraiva, 10ª e. São Paulo, 2015.
SÃO PAULO.Tribunal de Justiça. Provimento n.º 758, do Conselho Superior da
Magistratura, de 28mar01.
_________. Tribunal de Justiça. Provimento 806 do Conselho Superior da
Magistratura, de 04ago03.
_________. Tribunal de Justiça. TJ/SP, Provimentos nº 50/1989 e 30/2013 da
Corregedoria Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que
fixam as normas de serviço ofícios de justiça, Tomo I.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, Malheiros Editores,
11ª e. São Paulo, 1996.
SILVA JÚNIOR, Azor Lopes da. Manual de apoio jurídico operacional TCO, 2007.

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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

AULA 4

ASSUNTOS: SITUAÇÕES PARA A QUAL NÃO SE APLICA A LEI - EXEMPLO LEI


MARIA DA PENHA

NATUREZA: Lei 9099/95 – NARIA DA PENHA

Em sentido amplo, lato sensu, Autoridade Policial pode


ser conceituado como sendo todo servidor público dotado
do poder legal de submeter pessoas ao exercício da
atividade de policiamento [1].

O PROCEDIMENTO PROCESSUAL PENAL SUMARÍSSIMO

1.

Lei que Dispõe sobre os juizados especiais Cíveis e CRIMINAIS, o que no momento
será o cerne de nossa abordagem.

Também institui o Procedimento Processual Sumaríssimo, dentro do qual esta


incluída a elaboração de Termo Circunstanciado.

2. Aplicabilidade da Lei 9099/95

O artigo 60 da lei 9099/95 define que O Juizado Especial Criminal tem competência
nas infrações penais de menor potencial ofensivo. Nesse mesmo sentido o artigo 61
da mesma lei considera infrações penais de menor potencial ofensivo, para os
efeitos da referida Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena
máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

Dessa forma, a lei se aplica para crimes cuja pena máxima culminada seja de 02
(dois) anos ou menos.

3. Exceções.

Agora abordaremos as exceções as regras já estudadas, no tocante a aplicação da


lei 9099/95.

3.1. Crimes Militares

O artigo 90-A (incluído pela Lei nº 9.839, de 27.9.1999) da própria lei 9099/95
estabelece que as disposições da referida lei não se aplicam no âmbito da justiça
militar.

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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Portanto, em casos de crimes militares, mesmo que a pena máxima culminada para
tais crimes seja de 2 (anos) ou menos, não caberá as providências pertinentes ao
rito sumaríssimo que a lei 9099/95 nos trás, como por exemplo a elaboração do
Termo Circunstanciado.

3.2. Lei Maria da Penha

O artigo 41 da Lei 11340/06, conhecida como lei Maria da Penha, estabelece a


previsão expressa de que os crimes praticados com violência doméstica e familiar
contra a mulher, independente da pena prevista, não se aplica a lei 9099/95.

3.3. Estatuto do Idoso

A lei 10741/03 ( estatuto do idoso) trás em seu artigo 94 a determinação da


aplicação dos procedimentos e benefícios relativos aos Juizados Especiais aos
crimes cometidos contra idosos, cuja pena máxima não ultrapasse quatro anos.

No entanto, em junho de 2010, foi julgada uma Ação Direta de Inconstitucionalidade


(ADI 3096), estabelecendo que aquele que violar o direito do idoso não poderá fazer
uso dos benefícios da lei 9099/95.

No tocante a atuação Policial Militar, no caso de crimes contra o idoso, será


elaborado Termo Circunstanciado quando for o caso, pois gera celeridade ao
processo, o que se torna um beneficio para o Idoso.

4. Conclusão (resumo)

CRIMES MILITARES : não elaboraremos Termo Circunstanciado e ocorrência será


apresentada no PPJM.

CRIMES PRATICADOS COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A


MULHER: não será elaborado Termo Circunstanciado e deverá ser apresentado no
Distrito Policial ou em uma delegacia da Mulher também para adoção do rito
processual ordinário.

CRIMES CONTRA IDOSOS : será elaborado o Termo Circunstanciado por ser


uma medida que beneficia o idoso que teve seu direito violado poi s gera celeridade
à conclusão do processo.

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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

AULA 5

ASSUNTOS: TEORIA GERAL DA INFRAÇÃO PENAL DE MENOR POTENCIAL


OFENSIVO

O Policial Militar ao tomar conhecimento ou visualizar um


determinado fato, como Autoridade Policial, deverá avaliar
e decidir se está ou não diante de uma infração penal e
adotar as medidas legais cabíveis, assim o que é Infração
Penal ?
Os Crimes e as Contravenções Penais são espécies de Infrações Penais,
portanto não há diferença substancial, de essência; a única diferença está na
gravidade da infração, assim infração de menor gravidade a punição será menos
severa. A contravenção penal é uma infração menos grave do que o crime.
As Infrações Penais de Menor Potencial Ofensivo (IMPO) englobam todas
as contravenções penais e os crimes com pena máxima de até dois anos (art. 61 da
Lei 9.099/95)
Para determinar se um fato é ou não uma infração penal o Policial Militar
deverá verificar se este fato preenche determinados requisitos que o caracterizam,
se contém determinados elementos, considerando se está diante de um Fato Típico,
Antijurídico e Culpável (Conceito Formal ou Analítico do Crime).
O Fato Típico é composto de: conduta humana voluntária, tipicidade,
nexo de causalidade, resultado e conduta dolosa ou culposa. Se faltar qualquer
elemento o fato é um indiferente penal, é um fato atípico.
Assim, Policial Militar, haverá fato típico quando houver:
1. Conduta humana voluntária: um comportamento humano, ação ou
omissão, consciente e dirigida a determina finalidade;
2. Resultado: efeito do comportamento, modificação do mundo exterior
provocada pelo comportamento humano voluntário;
3. Nexo de causalidade: relação de causa e efeito entre a conduta e o
resultado, isto é se o resultado decore diretamente da ação ou omissão;
4. Tipicidade: correspondência entre o fato praticado pelo autor e o
modelo legal contido na lei penal incriminadora, isto é o fato do mundo real deve ter
os mesmos elementos que constam do fato descrito na lei penal. Ex: homicídio: Tipo
legal: matar alguém; quando alguém na vida real tira a vida de alguém, há o crime
de homicídio.
5. Conduta Dolosa ou Culposa
5.1. Dolo: o dolo está a princípio implícito em todo tipo incriminador, a
culpa tem que estar expressa no tipo legal. Dolo é consciência e vontade,
consciência do que estava fazendo e vontade de o fazer. (Dolo natural, Dolo
psicológico).
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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

“O dolo é a intenção mais ou menos perfeita de praticar um fato que se


conhece contrário à lei.” Ocorre quando há a pratica de um comportamento visando
uma finalidade, o resultado obtido da conduta era o desejado, por exemplo quando a
pessoa agride uma pessoa querendo machucá-lo, assim tenho dolo de praticar uma
lesão corporal.
5.1.. Dolo Direto - o autor do fato tem previsão que sua conduta pode
gerar um determinado resultado e ele quer este resultado, sua conduta é
desenvolvida para atingir este resultado.
5.1.2. Dolo Eventual - o autor do fato prevê o resultado e tolera, aceita
sua ocorrência; há indiferença para com o resultado, tanto faz o resultado e age do
mesmo jeito. Exemplo: o condutor de um veículo quer dirigir acima da velocidade
permitida e passa despercebido nos cruzamentos, prevendo que pode causar um
acidente de trânsito mas se este ocorre isto lhe é indiferente.
Age dolosamente o autor que tem consciência da conduta (sabe o que
está fazendo) e do resultado (sabe o que pode acontecer), bem como consciência
que da sua conduta pode gerar o resultado, sabe que há uma relação de causa
(conduta) e efeito (resultado), mesmo assim age com vontade de realizar a conduta
e produzir o resultado.
5.2. Fato típico culposo (somente quando houver expressa previsão
legal):
5.2.1. Inobservância do cuidado objetivo ou do dever de diligência:
Culpa é a quebra de um dever geral de cuidado, isto é, para vivermos em
sociedade todos devem agir com cuidado, dever mínimo e geral de cuidado, agir
como uma pessoa dotada de discernimento e prudência; pode estar previsto em lei,
como por exemplo no art. 29 e seguintes do Código de Trânsito, ou pode ser um
costume, uma convenção cultural, assim todas as pessoas tem uma ideia
consensual de que certas condutas são cuidadosas ou não.
Formas de quebra da inobservância do cuidado objetivo:
Imprudência: agir sem as cautelas devidas, é uma conduta ativa, quebra
do dever de cuidado agindo perigosamente; descuido comissivo, agir descuidado.
Exemplo fazer uma ultrapassagem em local proibido;
Negligência: comportamento negativo, é uma conduta omissiva, deixa de
fazer algo que devia fazer, por exemplo o condutor que conduz um veículo com os
pneus lisos; descuido omissivo, não tomar o cuidado devido;
Imperícia: quando a pessoa não sabe fazer,; falta de talento ou
conhecimento específico para profissão, arte e ofício; não conhece determinada
regra e específica de determinada técnica
5.2.2. Previsibilidade objetiva: o resultado deve ser objetivamente
previsível, da conduta tida como descuidada o resultado deve ser um resultado
comum ou esperado; o resultado produzido era previsível para um homem comum,
nas circunstâncias em que o autor realizou a conduta; possibilidade de antevisão do
resultado;
5.2.3. Ausência de previsão: o autor não tenha previsto o resultado, o
resultado era previsível, mas não foi previsto pelo autor; por isso culpa é a
imprevisão do previsível;
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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

5.2.4. Resultado involuntário: produção involuntária do resultado, o


autor não deseja a realização do resultado;
5.2.5. Soma-se a estes os já citados: conduta humana voluntária, nexo de
causalidade e tipicidade.
Para que haja uma infração Penal, além de o fato ser típico ele deve ser
Antijurídico, mas o que é Antijuridicidade?
Trata-se da ilicitude, da contrariedade ao direito. “É a contradição do fato,
eventualmente adequado ao modelo legal, com a ordem jurídica, constituindo a
lesão de um interesse protegido.” “O fato típico é também antijurídico, salvo se
concorre qualquer causa de exclusão da ilicitude.”
Causas de Exclusão da Ilicitude: Legítima Defesa, Estado de
Necessidade, Exercício Regular de Direito, Estrito Cumprimento de Dever Legal (art.
23 do Código Penal) e para a doutrina e Jurisprudência - o consentimento do
ofendido funciona como causa supralegal de exclusão da ilicitude.
Por fim deve haver a culpabilidade do autor, que é a reprovabilidade da
conduta, sendo possível e positivo o juízo de reprovação, sendo seus elementos,
normativos, puros juízos de valoração, sem conteúdo psicológico : Imputabilidade
(Capacidade Penal), Potencial Consciência da Ilicitude e Exigibilidade de Conduta
Diversa. (JESUS, 2003, 462 a 464).
Para caracterizar a culpabilidade no delito culposo deve haver a
Previsibilidade subjetiva: a possibilidade do autor de acordo com suas aptidões
pessoais e na medida do seu poder individual, assim quando era previsível para o
autor há a reprovabilidade da conduta.
Em apertada síntese, estes são os elementos que caracterizam um fato
como infração penal, assim ao observar sua ocorrência o Policial Militar, deve fazer
o registro circunstanciado, constando a provas colhidas no local, como períciais e
testemunhas, que dão suporte ao que foi registrado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JESUS, Damásio E. Direito Penal, Parte Geral, v. 1. , Editora Saraiva, 27ª ed., São
Paulo, 2003.
SUMAVIVA, Paulo. Programa Prova Final da TV Justiça. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=TV6HRBf-uy0>. Acesso em: 01 de mai. de 2017.
MACHADO, Eduardo. Programa Prova Final da TV Justiça. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=wRM9X9nj4sU>. Acesso em: 01 de mai. de
2017.

21
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

FLAGRANTE DELITO

O Policial Militar, como Autoridade Policial, deverá analisar e decidir se o


autor do fato estava ou não em situação de Flagrante Delito, decorrendo desta
situação as medidas legais cabíveis, uma vez que somente poderá ser preso o autor
do fato, , mesmo que se recuse a comparecer em juízo, se caracterizada esta
situação.
Ademais, nos termos do art. 301, parte final, do Código de Processo
Penal (CPP), os policiais integrantes dos orgãos de segurança pública (art. 144 da
CF), quando em serviço têm o dever de efetuar a prisão em flagrante, sempre que a
hipótese se apresente.
Mas em que situação pode se considerar que alguém está em situação de
Flagrante Delito? A doutrina elenca, dentre outras, algumas espécies de flagrante
que interessam ao nosso estudo, quais sejam: FLAGRANTE PRÓPRIO,
IMPRÓPRIO e PRESUMIDO.
Flagrante significa tanto o que é manifesto ou eviendente, quanto o ato
que se pode observar no exato momento em que se ocorre. Prisão em Flagrante é a
modalidade de prisão cautelar, de natureza administrativa, realizada no instante
emque se desenvolve ou termina de se concluir a infração penal (NUCCI, 2008, p.
587).
O FLAGRANTE PRÓPRIO, propriamente dito, verdadeiro, perfeito ou real,
e tem sua previsão legal no artigo 302, incisos I e II, do CPP. Está em situação de
flagrante verdadeiro aquele que é surpreendido praticando a infração ou acaba de
cometê-la. Nesse caso, o agente é encontrado executando o delito ou
imediatamente após praticá-lo, havendo uma relação de absoluta imediatidade
(rectius: sem intervalo de tempo) entre a prática do delito e o momento em que é
surpreendido. (NAGIMA, 2014)
“caracteriza-se quando o agente está cometendo a infração penal ou
acabou de cometê-la. [...] a expressão ‘acaba de cometê-la’ deve ser interpretada de
forma totalmente restritiva, contemplando a hipótese do indivíduo que,
imediatamente após a consumação da infração, vale dizer, sem o decurso de
qualquer intervalo temporal, é surpreendido no cenário da prática delituosa”
(AVENA, p. 779).
Como exemplo, temos a situação em que o Policial Militar, em
patrulhamento, visualiza uma pessoa desferindo soco em outra, do qual resulta
vítimas com lesões corporais, atuando durante as agressões e prendendo o autor do
fato. Na outra hipótese, após a agressão, antes de fugir, Policiais Militares, o
prendem ainda no sítio do fato. Assim, na primeira situação a IMPO está ainda em
execução, na segunda mesmo que findada a conduta, o autor é preso quase que
instantaneamente, ainda no local dos fatos, ou em suas proximidades.
O FLAGRANTE IMPRÓPRIO, também chamado de imperfeito, quase-
flagrante ou irreal. É a situação descrita no inciso III, do artigo 302 do Código de
Processo Penal: “o agente é perseguido pela autoridade, pelo ofendido ou por
qualquer outra pessoa logo após a prática do fato delituoso, em situação que faça
presumir ser autor da infração”. Há uma presunção de autoria da infração

22
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

equiparada à certeza advinda da prisão durante o cometimento do crime.


(MIRABETE, p. 372).
Para que ocorra esse tipo de flagrante, é imprescindível que a) haja
perseguição do agente logo após a prática do delito; b) esteja em situação que faça
presumir sua autoria. Nas palavras de Renato Brasileiro de Lima, trata-se de
requisitos de atividade/temporal e circunstancial (p. 1278). Já Paulo Rangel (p. 591)
entende que são três outros os requisitos para caracterização do flagrante irreal: a)
volitivo (vontade das pessoas mencionadas no artigo), b) temporal (logo após) e o
fático (o agente se encontre em situação que faça presumi-lo autor da infração).
(NAGIMA, 2014)
A expressão “logo após”, segundo Mirabete (1998, p.372), é o tempo que
corre entre a prática do delito e acolheira de informações a respeito da identificação
do autor que pssa a ser imediatamente a ser perseguido após essa rápida
investigação.
Eugênio Pacelli de Oliveira prefere adotar a aplicabilidade da expressão
no caso concreto, desde que configure a imediatidade entre a prática do crime e a
prisão do agente: “O que deve ser decisivo aqui é a imediatidade da perseguição (...)
para fim de caracterizar a situação de flagrante. Não há um critério legal objetivo
para definir o que seja o logo após, devendo a questão ser examinada sempre a
partir do caso concreto, pelo sopesamento das circunstâncias do crime, das
informações acerca da fuga e da presteza da diligência persecutória” (p. 526).
Considera-se como perseguição mesmo que o perseguido tenh sido
"perdido de vista" ou que o perseguidor, por indícios ou informações fideginas, saiba
que tenha passa há pouco tempo, em tal direção, pelo lugar em que o procura, for
no seu rastro. (MIRABETE, p. 373).
Segundo a jurisprudência, no que se refere ao quase-flagrante: “Prisão
em flagrante. Flagrante impróprio, no qual a autoridade perseguiu os acusados ao
longo de estrada de rodagem, até os alcançar já detidos por policiais rodoviários
(CPP, 302, III)”. (STF. RHC 66.444/SP. Rel. Min. Carlos Madeira. 2ª T. Julg.
17.06.1988), não importanto o tempo decorrido, que pode extrapolar em 24 horas,
desde haja uma cotínua perseguição, é possível a prisão em flagrante, a qualquer
momento, do agente em situação que faça presumir ser o autor do fato.
O FLAGRANTE PRESUMIDO ou ficto, segundo o qual o agente é
encontrado logo depois da prática delituosa com instrumentos, objetos, armas ou
qualquer coisa que faça presumir ser ele o autor da infração, sendo desnecessária a
existência de perseguição. Três, portanto, são os elementos desse flagrante: a)
encontrar o agente (atividade), b) logo depois (temporal), c) presunção de autoria,
com armas ou objetos do crime. (NAGIMA, 2014)
Nestor Távora e Fábio Roque de Araújo, ao comentar o inciso IV do artigo
302 do Código de Processo Penal, ensinam que “Neste caso, não é necessário que
haja perseguição. O lapso temporal entre a infração penal e a efetivação da prisão
pode ser ainda mais elastecido do que o flagrante impróprio” (p. 379). Destarte,
embora posicionamentos diversos (vide Renato Brasileiro de Lima, p. 1281), a
doutrina majoritária tem entendido que a expressão logo após e logo depois não são
sinônimas (Tourinho Filho, p. 456), atribuindo um lapso de tempo maior para o caso
de “logo depois”, a ser verificada no caso concreto. (NAGIMA, 2014).

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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Para Nucci (2008, 592), logo depois, trata-se de uma situação imediadta,
que não comporta mais que lagumas horas para findar-se, devendo ser interpretada
de forma restritiva por conta da fragilidade da prova, assim as diligências eventuais e
causais feitas pela polícia não podem ser consideradas para consolidar a prisão em
flagrante.
O Supremo Tribunal Federal, em precedentes, dispensa, inclusive, em
casos de flagrante presumido, que a prisão seja efetuada na mesma comarca. In
verbis: “Em se tratando de flagrante presumido (art. 302, IV, do CPP), como no caso
sub judice, a prisão pode ocorrer em localidade diversa daquela onde o crime
consumou” (STF. HC 102646/PR. Rel. Min. Luiz Fux. 1ª T. Julg. 02.08.2011).
(NAGIMA, 2014)
Pode ser citado um exemplo, de acidente de trânsito em houve lesão
corporal, em que o autor do delito foge do distrito da culpa, e com a chegada do
Policial Militar, após colher informações sobre o veículo, faz pesquisa no sistema, e
passa a patrulhar em locais frequentemente usado pelo autor do fato, encontrando-o
com o veículo danificado por conta do acidente, mesmo que horas depois.
Enfim, resume a jurisprudência essas três primeiras espécies de flagrante:
“Para fins de prisão em flagrante delito, nos termos do art. 302 do CPP, é preciso
que o acusado esteja cometendo o crime ou tenha acabado de cometê-lo (flagrante
próprio); tenha sido perseguido, logo após, pela autoridade, pela vítima ou por
qualquer pessoa, em situação que se fizesse presumir ser o autor da infração
(flagrante impróprio); ou seja encontrado, logo depois, com instrumento, armas,
objetos ou papéis que fizessem presumi-lo ser o autor da infração (flagrante
presumido)”. (STJ. RHC 24.027/PI. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima. T5. Julg.
14.10.2008). (NAGIMA, 2014)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2009.
CAPEZ, Fernando. Processo Penal . Editora Damásio de Jesus. 16ª ed. São Paulo,
2006.
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Impetus. Niteroi, 2011. v. 1.
LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal . Editora Saraiva. 9ª ed. São Paulo,
2012. NAGIMA, Irving Marc Shikasho. Das Espécies de Prisão em Flagrante.
Universo Jurídico, Juiz de Fora, ano XI, 19 de mar. de 2014. Disponível em:
<http://uj.novaprolink.com.br/doutrina/9614/das_especies_de_prisao_em_flagrante>.
Acesso em: 03 de mai. de 2017.
MIRABETE, Júlio FAbbrini. Processo Penal. Editora Atlas. 8ª ed. São Paulo, 1998.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. Editora
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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

OLIVEIRA, Eugenio Pacelli de. Curso de Processo Penal . 16ª ed. Altas. São Paulo,
2012.
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal . Lumen Iuris. 12ª ed. Rio de Janeiro,
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TÁVORA, Nestor. ARAÚJO, Fábio Roque. Código de Processo Penal Para
Concursos. Jus Podivm. Salvador, 2010.

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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

AULA 6

ASSUNTOS: CONCEITO DE AUTORIDADADE POLICIAL; COMPETÊNCIA PARA


A ELABORAÇÃO DO TCO; DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA.

NATUREZA: CONCEITO DE AUTORIDADADE


POLICIAL.

Em sentido amplo, lato sensu, Autoridade Policial pode


ser conceituado como sendo todo servidor público dotado
do poder legal de submeter pessoas ao exercício da atividade de policiamento [1].

Para Álvaro Lazzarini, [2] Autoridade Policial é um agente administrativo que


exerce atividade policial, tendo o poder de se impor a outrem nos termos a lei,
conforme o consenso daqueles mesmos sobre os quais a sua autoridade é exercida,
consenso esse que se resume nos poderes que lhe são atribuídos pela mesma lei,
emanada do Estado em nome dos concidadãos [3].

O mesmo processualista, tratando da matéria, lembra que a atividade policial é


exercida pelos órgãos administrativos dotados de poder de polícia, entendido este
como o conjunto de atribuições da Administração Pública, indelegáveis aos
particulares, tendentes ao controle dos direitos e liberdades das pessoas, incidentes
não só sobre elas, como também em seus bens e atividades.

Feita as considerações acima, cumpre salientar, que o artigo 69 da lei 9.099/95,


estabelece:

A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo


circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a
vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se
imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica,
o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio
ou local de convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de
13.5.2002).

Como vemos o disposto na lei, não trouxe uma definição do que vem a ser
autoridade policial, desde modo a celeuma reside no fato de que uma minoria de
doutrinadores e estudiosos entende que o policial militar não seria competente para

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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

lavrar o termo circunstanciado de ocorrência [TCO] de que trata a Lei nº 9.099, de


1995.

A fim de reforçar o entendimento doutrinário sobre autoridade policial, observa-se


que de maneira alguma se resume na pessoa do Delegado de Polícia, podendo
perfeitamente englobar no conceito policial militar.

O tribunal de São Paulo, por exemplo, foi um dos pioneiros no entendimento de que
autoridade policial também é o policial militar, conforme provimento 806/03.

Para aqueles[3] que consideram somente o Delegado de Polícia Autoridade Policial,


para os fins da Lei dos Juizados, olvidam o fato de que, para a lavratura do termo
circunstanciado, não é necessária à função investigatória nem atividade de polícia
judiciária, porquanto se trata apenas de um registro sumário de fato configurado,
prima facie, como infração de menor potencial ofensivo, que servirá de peça
informativa ao órgão do Ministério Público, seja para os fins de transação ou
denúncia oral.

Destaca-se que a própria CF/88, no seu art. 144, § 4º, dispõe:

“às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,


ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares”.

Vejamos que o CPP, em seu artigo. 4º parágrafo único estabelece que lei poderá
estabelecer competência para autoridades administrativas exercer atividade de
polícia judiciária.

Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de


suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da
sua autoria. (Redação dada pela Lei nº 9.043, de 9.5.1995).

Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades


administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.

O conceito de Autoridade Policial, portanto deve corroborar-se teleologicamente com


o contexto inovador de justiça consensual, informal, célere, oral, simples e
econômica sob pena de retornarmos aos nefastos primórdios do processo comum.

2. COMPETÊNCIA LEGAL PARA ELABORAÇÃO DO TERMO


CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA (TCO).

Superada a fase sobre a conceituação de autoridade policial, cabe analisar que os


princípios e rito processual da lei em comento são diferenciados. Neste contexto,
inquérito policial e o termo circunstanciado possuem peculiaridades distintas,
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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

enquanto o primeiro busca informações precisas para identificar a infração penal e


confirmar o possível autor, o segundo transcreve o histórico da ocorrência e
identifica o fato e as pessoas envolvidas.

Veja que em momento algum, o policial militar está invadindo a missão


constitucional da Polícia Civil, pois como fora esclarecido, o inquérito policial
demanda de investigação, enquanto que o termo circunstanciado restringe-se a um
boletim formal da ocorrência sem que haja a necessidade de constar a tipificação
penal.

Destarte, a lavratura do termo circunstanciado por policial militar está em


consonância com os princípios aplicáveis a Lei 9.099/95, minimiza a burocratização
e diminui a demanda da Polícia Civil, que poderá apresentar maior dedicação na
função essencial de polícia judiciária, ou seja, a apuração de infrações penais de
maior gravidade.

Segue abaixo de forma sucinta os principais posicionamentos jurisprudenciais sobre


o tema:

No ano de 2001, o Conselho Superior da Magistratura aprovou o provimento nº 758


que regulamentou a fase preliminar do procedimento dos juizados especiais
criminais, permitindo desta forma, que policiais militares pudessem elaborar TC.

Por meio desse ato o Órgão Judicial fixou o entendimento de que a Autoridade
Policial, referida no art.69 da lei 9.099/95, é " o agente do poder público investido
legalmente para intervir na vida da pessoa natural, atuando no policiamento
ostensivo ou investigatório" (art. 1º). No seu art. 2º, autorização para os magistrados
tomarem ciência dos termos circunstanciados elaborados por policiais militares,
condicionando-os tão somente à rubrica do oficial. Por fim, permitiu o
encaminhamento de autor e/ou vítima por policiais militares aos órgãos de polícia
técnica-científica, quando houver necessária e urgente feitura de exame pericial,
conforme art. 3º e, ao depois, regula a remessa dos feitos a juízo (art.4º).

Nossa corte suprema, qual seja, o STF, através de ADin nº 2862, analisou a
questão em tela, e por unanimidade, o pleno da suprema corte arquivou, a Ação
Direta de Inconstitucionalidade, ajuizada pelo Partido da República (PR) contra o
Provimento 758/2001, do Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça
de São Paulo, e a Resolução SSP 403/2001, prorrogada pela Resolução
SSP 517/2002, ambas do Secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo,
que facultam aos magistrados dos Juizados Especiais Criminais aceitarem termos
circunstanciados lavrados por policiais militares.

O partido político citado argumentou que os atos normativos impugnados teriam


usurpado competência legislativa da União para legislar sobre direito processual;
28
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

ofendido o princípio da legalidade; atribuído à Polícia Militar (PM) competência da


Polícia Civil e, por fim, violado o princípio da separação dos Poderes.

A relatora da ação, Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, entendeu que não se
trata de ato normativo primário (com fundamento na Constituição), mas sim de ato
secundário (com fundamento em lei). Isso significa que não há violação a nenhum
dispositivo constitucional, e sim, quando muito, uma inconstitucionalidade reflexa ou
oblíqua, que não pode ser contestada via ADI.

Entretanto, está em curso o andamento a ADI 5637, a qual questiona a


constitucionalidade da lei 22.257/2016 do estado de Minas Gerais, senão vejamos:

EMENTA: Trata-se de Ação Direta de Inconstitucionalidade, com pedido de medida


cautelar, proposta pela Associação dos Delegados de Polícia do Brasil - ADEPOL,
cujo objeto é o artigo 191 da Lei nº 22.257, de 27 de julho de 2016, do Estado de
Minas Gerais, que dispõe sobre a competência para a lavratura de Termo
Circunstanciado de Ocorrência. Eis o teor do dispositivo impugnado: Art. 191 – O
termo circunstanciado de ocorrência, de que trata a Lei Federal nº 9.099, de 26 de
setembro de 1995, poderá ser lavrado por todos os integrantes dos órgãos a que se
referem os incisos IV e V do caput do art. 144 da Constituição da República.
Sustenta a inconstitucionalidade formal e material do artigo impugnado em virtude
da existência de ofensa aos arts. 5º II, 24, X e §§ 1º e 4º e 144, §§ 4º e 5º, do Texto
Constitucional. Afirma, em síntese (eDOC 1, p.1): “O art. 144 da CF/88, no seu art.
4º, dispõe a todas as letras, sem margem para interpretação que não seja a
declarativa, incumbir às policias civis, obviamente estaduais, ressalvada tão
somente a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares’, inexistindo dúvida de que se está, aí, diante de
princípio cuja observância não se podem furtar as unidades federadas, a teor da
norma do art. 25 da própria Carta Federal, inexistindo, consequentemente, qualquer
espaço que comporte a instituição, por ato normativo local, de outras funções que
venham a permitir que os encargos constitucionais da Polícia Civil, no ponto, sejam
atribuídos aos policiais militares estaduais, ainda que de modo restrito à execução
do serviço de lavratura de Termos Circunstanciados, a cargo das Delegacias
Policiais, o qual, portanto, há de presumir-se como implicitamente compreendido,
outrossim, nas atividades de polícia judiciária.” Afirma que o Governador do Estado
decidiu vetar o art. 191 da citada lei ante a inconstitucionalidade do dispositivo.
Informa que a Comissão Especial da Assembleia Legislativa do Estado de Minas
Gerais, ao analisar o veto, entendeu pela sua manutenção em virtude de tratar-se de
competência legislativa privativa da União. Todavia, quando da sua apreciação pela
Casa Legislativa, o veto relativo ao art. 191 da Lei nº 22.257/2016 foi rejeitado.
Entende, ademais, estarem presentes os requisitos autorizativos da medida cautelar
em virtude dos argumentos deduzidos na petição inicial ( fumus boni juris) e ante a

29
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

inabilitação técnica da Polícia Militar para a lavratura de termos circunstanciados,


bem como o consequente prejuízo à justiça, ao jurisdicionado penal e a
possibilidade de desavenças entre as duas corporações policiais ( periculum in
mora). Tendo em vista a relevância da matéria debatida nos presentes autos e sua
importância para a ordem social e segurança jurídica, adoto o rito previsto no arti go
12 da Lei nº 9.868/1999, a fim de possibilitar ao Supremo Tribunal Federal a análise
definitiva da questão. Desse modo, requisitem-se as informações no prazo de 10
(dez) dias à Câmara Legislativa e ao Governador do Estado de Minas Gerais e,
após, colham-se as manifestações da Advogada-Geral da União e do Procurador-
Geral da República, sucessivamente, no prazo de 5 (cinco) dias. Publique-se.
Brasília, 06 de fevereiro de 2017. Ministro Edson Fachin Relator Documento
assinado digitalmente

(STF - MC ADI: 5637 MG - MINAS GERAIS 0064157-


34.2016.1.00.0000, Relator: Min. EDSON FACHIN, Data
de Julgamento: 06/02/2017, Data de Publicação: DJe-025
09/02/2017)

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

O policial militar possui a missão constitucional de preservação de ordem pública,


sendo que a lavratura do termo circunstanciado será mais uma de suas atividades, o
que não caracteriza como entende uma minoria, invasão na missão de qualquer
outro órgão de segurança pública.

A atuação do policial militar na lavratura do termo circunstanciado diminui a “cifra


negra[04]”, também denominada criminalidade oculta, ou seja, o conjunto de
informações reais que não chegam às estatísticas dos órgãos de segurança pública,
em virtude de o cidadão ter registrado ou não a ocorrência em um Distrito Policial.

Na esteira da atualização sobre o tema, observa-se que está em tramitação no


Senado, o projeto de lei Nº 395, de 2015 que visa alterar o art. 69 da Lei no 9.099,
de 26 de setembro de 1995, para permitir que qualquer policial lavre termo
circunstanciado de ocorrência.

Art. 1º O art. 69 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, passa a vigorar com a


seguinte redação: “Art. 69. O policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará
termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do
fato e a vítima.

.....................................................................” (NR)

30
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Segue abaixo, as justificativas da PLS:

Os policiais, no exercício de suas atribuições, deparam-se, muitas vezes, com o


cometimento de crimes, principalmente infrações de menor potencial ofensivo.
Esses crimes, em regra, são de constatação imediata e de fácil esclarecimento,
razão pela qual se dispensa o inquérito policial para o oferecimento da denúncia (art.
77, § 1º, da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995).

Não obstante preponderar na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que


qualquer policial seria competente para lavrar o termo circunstanciado de ocorrência
(TCO) de que trata o art. 69 da Lei nº 9.099, de 1995, essa matéria tem ensejado
relevante insegurança jurídica. A principal controvérsia reside no fato de a expressão
“autoridade policial”, constante do art. 69 da Lei nº 9.099, de 1995, ser utilizada de
forma distinta em outros dispositivos legais.

No Código de Processo Penal, por exemplo, prevalece o entendimento de que a


expressão “autoridade policial” corresponde ao delegado de polícia. Já no caso da
Lei nº 9.099, de 1995, apesar de a expressão utilizada ser a mesma, prepondera o
entendimento de que sua acepção é ampla, de forma a abranger não apenas o
delegado de polícia, mas também os demais agentes públicos investidos em função
policial.

Entre os principais motivos para a diversidade de entendimento, destacam se os


princípios da oralidade, da informalidade e da celeridade, que regem o procedimento
nos juizados especiais.

Com o objetivo de encerrar definitivamente essa controvérsia, apresentamos o


presente projeto de lei, que altera o art. 69 da Lei nº 9.099, de 1995, para esclarecer
que qualquer policial pode lavrar TCO. Por todos esses motivos, contamos com o
apoio dos Pares para sua rápida aprovação.

Observa-se que o Parecer do Relator, na Comissão de Constituição, Justiça e


Cidadania, senador José Medeiros, não vislumbrou vícios de inconstitucionalidade
ou ilegalidade e propôs emenda que previu a possibilidade de "informar à
autoridade judiciária sobre necessidade de realização dos exames periciais
necessários.

31
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

EXERCÍCIOS

De acordo com o entendimento jurisprudencial e doutrinário majoritários, a


autoridade policial que trata a lei 9.099/95, pode ser:

a) Apenas o Delegado de Polícia.


Errada, pois não é apenas o Delegado de Polícia que constitui autoridade policial
que trata a lei em comento.
b) Apenas o Delegado de Polícia civil e o Delegado da Polícia Federal.
Errada, pois prevalece o entendimento que não são apenas esses agentes públicos
que são consideradas autoridades policias.
c) O conceito abrange magistrado.
Errada, pois magistrados são considerados autoridades judiciárias, não se
confundindo com a policial.
d) O policial militar é considerado também autoridade policial.
Verdadeira, a lei em comento não definiu quem seria autoridade policial, coube a
doutrina e a jurisprudência construir o conceito, cujo entendimento que tem
prevalecido é a de que o PM é autoridade policial para fins da lei 9.099/95.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
Errada, conforme justificativa da resposta da assertiva ´´d´´.

De acordo com a lei 9.099/95 e a jurisprudência majoritária, assinale a


alternativa correta, quanto à competência da lavratura do termo
circunstanciado.
a) Apenas o Juiz de Direito.
Errada, pois é competência da autoridade policial e não da autoridade judiciária.
b) Apenas o Delegado da Polícia Civil.
Errada, pois a lei em comento não restringiu e tão pouco mencionou quem seria
autoridade policial, e sim, que ela tomasse as providencias cabíveis quando da
constatação de infração de menor potencial ofensivo.
c) O Policial Militar também é competente para lavrar o termo
circunstanciado.
Verdadeira, uma vez que a lei em comento, em seu art. 69 trata apenas de
referenciar a competência da autoridade policial. Quanto o posicionamento
jurisprudencial majoritário, o entendimento que tem prevalecido é pela legalidade do
PM lavrar o TC.
d) O membro do Ministério Público também é considerado autoridade policial.
Errada, membro do MP possui competência para analisar o fato, após o registro do
TC, decidindo nos casos de ação penal pública pelo oferecimento ou não dos
institutos da Transação Penal, suspensão condicional do processo, denúncia etc.
d) Nenhuma das alternativas está correta.
Errada, conforme alternativa ´´c´´.

32
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

FONTES DE PESQUISA:

[1] JESUS, Damásio Evangelista, Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada, 5.
ed., São Paulo: Saraiva, 2000, p. 36.
[2]https://jus.com.br/artigos/8927/conceito-extensivo-de-autoridade-policial-no-
contexto-da-lei-n-9-099-95
[2] LAZZARINI, Álvaro, Do poder de polícia, Justitia, São Paulo, 73:45 e 52.
[3] MIRABETE, op. cit., p. 84 – 85.
[04] Thompson, Augusto. Quem são os criminosos? Crime e criminosos: entes
políticos, p. 19, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 1998.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm

33
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

AULA 8

ASSUNTOS: REQUISIÇÕES DE PERÍCIAS; APREENSÕS DE OBJETOS;


DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA.

NATUREZA: REQUISIÇÕES DE PERÍCIAS.

Neste tópico, será abordada a previsão legal, a diferença


de crimes quanto ao resultado e a necessidade da medida,
a fim de que o policial militar tenha condições de avaliar
sua requisição.

Assim, de acordo com o Artigo 158 e 167 do Código de Processo Penal, nos crimes
em que deixarem vestígios, deve o policial militar que atender a ocorrência de
infração de menor potencial ofensivo, solicitar perícia, mesmo que o acusado
confesse ter realizado tal crime, porém, é admitido caso desapareça os vestígios
que a falta da prova técnica (material) seja suprida pela prova testemunhal.

Art. 158 do CPP. Quando a infração deixar vestígios será indispensável o exame de
corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Art. 167 do CPP. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Cabe salientar, que exame de corpo de delito, via de regra, só pode ser feito por
peritos oficias, conforme a inteligência do art. 159 do CPP.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito
oficial, portador de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de
2008).

Feita essa observação, é de suma importância o policial militar saiba diferenciar os


delitos quanto ao resultado, qual seja, material, formal e de mera conduta.

De uma forma simplificada, segue abaixo a noção de que vem a ser essa
classificação doutrinária de crimes, quanto ao resultado produzido pelo delito:

Crime material é aquele que só se consuma com a produção do resultado


naturalístico, exemplo é a lesão corporal.

34
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Na aplicação direta da Lei 9.099/95, em sendo necessário, caberá ao policial


(atendente ou oficial gestor, conforme o caso) a solicitação da perícia para que se
possa produzir prova da materialidade do crime. A principal prova pericial é o exame
de corpo delito, pois é o conjunto de elementos que materializam o crime, podendo
ser direto (quando a ação criminosa deixa vestígios) ou indireto (quando não os
deixa e deve ser suprida por outra prova, normalmente a testemunhal). No caso de
lesões corporais, o laudo pericial deverá definir o tipo de lesão, o instrumento que a
produziu e o tempo em que o ofendido ficará incapacitado para as suas ocupações
habituais. Para efeitos da Lei 9099/95, na falta do Exame de Corpo de Delito, este
pode ser suprido pelo boletim de atendimento médico ou mesmo o prontuário de
atendimento hospitalar. Referente ao instrumento que produziu a lesão, esse deve
ser apreendido e encaminhado até a OPM para que sirva como elemento da
materialidade do crime. (POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA, 2013).

Crime formal, por sua vez, não exige a produção do resultado para a consumação
do crime, ainda que possível que ele ocorra. Exemplo de crime formal é a ameaça:

Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses,
ou multa.

Neste caso, o crime se consuma com a ocorrência da ameaça, podendo ou não


produzir o temor na vítima em se sentir amedrontada com a ameaça de mal injusto.

Crime de mera conduta o resultado naturalístico não só não precisa ocorrer para a
consumação do delito, como ele é mesmo impossível, exemplo é o crime de
violação de domicílio, previsto no art. 150 do CP.

Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a


vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

Observação, neste caso, pela simples violação a casa alheia nos termos do art. 150
do CP, o crime já está consumado.

O policial militar, portanto, não deverá requisitar exame pericial, para todas as
infrações de menor potencial ofensivo, salvo aquelas que deixarem vestígios, tal
como nos crimes materiais, devendo preencher a Requisição para Exame de Corpo
de Delito Direto e depois de preenchido será entregue ao ofendido para que este se
dirija ao departamento especializado da Polícia técnico cientifica, a fim e que seja
realizada a perícia em seu objeto.

35
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

NATUREZA: APREENSÕES DE OBJETOS.

Assunto que reclama regulamentação pela Polícia Militar, pois em vários casos, será
necessário fazer a apreensão do(s) objetos(s) utilizados na ação criminosa, e o
questionamento que surge, reside no fato de onde será armazenado esse material?.

Entretanto, há casos, por exemplo, como o delito previsto no art. 28 da lei


antidrogas, lei nº 11.343/06, que tipifica a conduta de portar droga ilícita para
consumo pessoal, que o policial militar, fará a apreensão da droga no local do
flagrante e logo após será conduzida a substância ao Instituto de Criminalística para
constatação, cujo laudo servirá de prova técnica para a elaboração do TCO.

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;


II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

A lei estadual paulista nº 16.049/2016 que dispõe sobre a emissão de ruídos


sonoros provenientes de aparelhos de som portáteis ou instalados em veículos
automotores estacionados, prevê que aparelho de som poderá ser objeto de
apreensão.

Artigo 3º - Além da aplicação da penalidade prevista no artigo 2º desta lei, em caso


de recusa do atendimento da ordem de abaixar o som, adequando-o aos padrões
estabelecidos pela legislação vigente mais restritiva, a autoridade responsável
pela fiscalização apreenderá provisoriamente o aparelho de som ou o veículo no
qual ele estiver instalado.
Parágrafo único - O proprietário do veículo responderá por eventuais custas de
remoção e estadia.

A autoridade responsável pela fiscalização que trata esta lei é o policial militar, por
força do disposto no art. 23 III do CTB que estabelece a competência para
fiscalização de trânsito, combinado com a Resolução nº 371/2010 e Resolução nº
624/2016, ambas do CONTRAN.

A infração denominada (som alto) que trata o art. 228 do CTB, deverá ser observado
quanto ao disposto na lei 16.049/16, cuja regulamentação quanto a recolha de som
alto precisa ocorrer, a fim de que haja efetividade no cumprimento do disposto que
trata da apreensão.
36
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Art. 228. Usar no veículo equipamento com som em volume ou freqüência que não
sejam autorizados pelo CONTRAN:
Infração - grave;
Penalidade - multa;
Medida administrativa - retenção do veículo para regularização.

Há que se observar, que a conduta do condutor, proprietário ou possuidor do veículo


automotor, de deixar o (som alto) poderá ensejar em contravenção penal, qual seja:

Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheio:


I – com gritaria ou algazarra;
II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições
legais;
III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;
IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que
tem a guarda:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis
a dois contos de réis.

PERTURBAÇÃO DO TRABALHO OU DO SOSSEGO ALHEIOS – Agente que


mantém som em seu estabelecimento em volume tal que perturba o repouso de
terceiros – Configuração – Intolerância dos órgãos de Fiscalização – Irrelevância: -
Inteligência: art. 42, III da Lei das Contravenções Penais. 92 – Incorre nas penas do
art. 42, III, da LCP, o agente que mantém som em seu estabelecimento em volume
tal, que perturba o repouso alheio, sendo certo que, a eventual inoperância de
órgãos de Fiscalização não confere direitos ao infrator nem inibe a reprovação por
parte de outros. (Apelação nº 852.927/9, Julgado em 29/06/1.995, 1ª Câmara,
Relator: - Di Rissio Barbosa, RJDTACRIM 28/203) no mesmo sentido (Apelação nº
720.669/1, Julgado em 14/09/1.992, 12ª Câmara, Relator: - Gonzaga Franceschini,
RJDTACRIM 15/140).

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

A compreensão dos assuntos ora expostos serão de suma importância para a


operacionalização do termo circunstanciado de ocorrência, cujo policial militar será
responsável pela elaboração.

Ressalta-se que um dos desafios será a correta subsunção do fato, qual seja, a
ocorrência atendida pela Unidade de Serviço, a norma prevista na legislação,
seguida das medidas legais cabíveis.

37
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

EXERCÍCIO

Suponha que uma Unidade de Serviço Policial Militar ao atender uma ocorrência de
desinteligência entre vizinhos, por motivos de divergências quanto a time de futebol,
precise separar as partes conflitantes que entraram em vias de fatos, evidenciado
por empurrões, os quais não chegaram a lesionar ninguém. Pergunta-se qual seria a
medida legal cabível.

Lavrar o TCO, qualificando as partes envolvidas e testemunhas se houverem,


encaminhando-as ao Juizado Especial Criminal ou colher os compromissos de
comparecerem em juízo, pelas contravenções penais do art. 21, a qual tipifica o
delito de vias de fato.

FONTES DE PESQUISA:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3688.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm
http://www.pm.sc.gov.br/fmanager/pmsc/upload/929753/ART_929753_2013_07_30_
171018_da_lavratu.pdf
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9503.htm
http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2015/lei-16049-10.12.2015.html
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm

38
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

PARTE ESPECÍFICA - TRÂNSITO


AULA 11

ASSUNTO - Parte Geral dos Crimes de Trânsito no Código de Trânsito


Brasileiro aplicável aos crimes de Menor Potencial Ofensivo.

INTRODUÇÃO

Neste material trataremos de dois aspectos


específicos sobre a Parte Geral dos Crimes de Trânsito
no Código de Trânsito Brasileiro aplicável aos crimes de
Menor Potencial Ofensivo:

1. Aplicabilidade geral da Lei 9.099 aos crimes de trânsito (artigo 291, do CTB);

2. A lesão corporal culposa na direção de veículos e as circunstâncias que excluem


a aplicabilidade da Lei 9.099.

Estes dois pontos são importantes para o Policial Militar que atua no
Policiamento de Trânsito, seja urbano ou rodoviário, já que uma das atividades mais
comuns neste campo de ação da Polícia Militar é o atendimento de acidente de
trânsito que tenha gerado vítimas.
Muito embora seja forte a atuação preventiva do CPTran e do CPRv, mas os
acidentes com vítimas ocorrem nas vias constantemente o que acarreta
providências por parte do efetivo policial-militar destas Unidades.

CRIME DE TRÂNSITO E A LEI 9.099

Partimos então para a apresentação do conceito de Crime de Trânsito, que


extraímos da parte inicial do artigo 291 do CTB, como sendo aqueles cometidos na
direção de veículos automotores e tipificados no CTB, especificamente no Capítulo
XIX.
Por este panorama, podemos entender que não se enquadram neste conceito
as condutas que geram danos ou lesões cometidas durante a pilotagem ou
condução de veículos de propulsão humana (bicicletas ou carros de mão) ou de
tração animal (charretes ou carroças).
Assim, por exemplo, o atropelamento de um pedestre, que lhe ocasionou
lesões, cometido por um ciclista na via pública, embora seja acidente de trânsito
com vítima, pois não deixa de ser um evento não premeditado que envolve veículo
na via pública e do qual resultou lesão à pessoa, não será considerado crime de
trânsito por não haver o emprego de veículo automotor, devendo ser tratado como
crime comum, já que não há crime previsto especificamente no CTB para este caso.
39
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Percebemos a importância do conceito de crime de trânsito quando analisamos


a possibilidade de aplicabilidade dos dispositivos da Lei 9.099 a tais delitos.
Assim, embora os crimes de trânsito sejam tratados de forma específica no
CTB, o Direito de Trânsito possui diversas correlações com outros pontos do mundo
jurídico e, especificamente no campo penal, o artigo 291, do CTB, transmite que a
todo crime de trânsito que se enquadre como menor potencial são aplicáveis os
dispositivos da Lei 9.099, possuindo a seguinte redação:

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos


automotores, previstos neste Código, aplicam-se as
normas gerais do Código Penal e do Código de
Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de
modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de
setembro de 1995, no que couber.

Podemos entender então, que a todos os crimes de trânsito que se


enquadrarem como menor potencial ofensivo serão aplicáveis os dispositivos da Lei
9.099, exceto se o próprio CTB dispuser de modo diverso.
Voltamos então ao exemplo anterior, se o mesmo fato tivesse ocorrido não com
um ciclista, mas com um condutor de ciclomotor, que é um veículo de duas ou três
rodas, provido de um motor de combustão interna, cuja cilindrada não exceda a
cinquenta centímetros cúbicos (3,05 polegadas cúbicas) e cuja velocidade máxima
de fabricação não exceda a cinquenta quilômetros por hora, teríamos o crime de
trânsito previsto no artigo 303 do CTB (praticar lesão corporal culposa na direção de
veículo automotor) e, por força do artigo 291 do CTB, também teríamos que avaliar a
aplicabilidade da Lei 9.099 ao caso.

A LESÃO CORPORAL CULPOSA NA DIREÇÃO DE VEÍCULOS

Ao avaliarmos os crimes de trânsito, notamos que o Direito de Trânsito deu


destaque ao crime de trânsito de lesão corporal culposa, previsto no artigo 303 do
CTB, o qual possui pena máxima de até 2 anos, o que autoriza a aplicabilidade da
Lei 9.099 de forma plena neste primeiro momento.
No entanto, ocorrendo alguma causa de aumento de pena prevista no § 1º do
artigo 302 do CTB, o que afastaria o uso da Lei 9.099, o legislador entendeu manter
a aplicabilidade daquela lei, contudo de forma restrita tão somente aos artigos 74
(composição civil dos danos), 76 (transação penal) e 88 (necessidade de
representação), conforme regra estabelecida no § 1º, do artigo 291, do CTB.
Seguindo nesta esteira, notamos que o próprio CTB, no mesmo no § 1º, do
artigo 291, define exceções à possibilidade de aplicação da Lei 9.099 ao crime de
lesão corporal culposa, trazendo, taxativamente, que ela não será usada quando o
agente estiver:
I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que
determine dependência; (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)

40
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição


automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo
automotor, não autorizada pela autoridade competente; (Incluído pela Lei nº 11.705,
de 2008)
III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50
km/h. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
Em tais situações, a ocorrência deverá ser apresentada no Distrito Policial da
área dos fatos.
Lembrando que caberá a lavratura do auto de infração sempre que constatado,
por meio de fiscalização específica, o cometimento de alguma das irregularidades
descritas, ou seja:
I – artigo 165 do CTB quando constatada a ingestão de álcool ou substância
psicoativa que determine dependência;
II – artigos 173, 174, 175 e 244 inciso III do CTB em relação à corrida; a evento
ou a disputa; e para a exibição de manobras (respectivamente);
III – artigo 218 do CTB quanto à velocidade.
Também, existem crimes de trânsito específicos para a influência de
álcool/substância (art. 306 do CTB) e disputa de corrida (art. 308 do CTB), o que por
si só já afastaria de pronto a aplicabilidade da Lei 9.099, pois ambos possuem pena
máxima de até 3 anos.

CONCLUSÃO

Findando este trabalho, podemos entender que a Lei 9.099 é aplicável a todos
os crimes de trânsito que se enquadrarem como menor potencial ofensivo.
Ficam excluídos desta possibilidade os crimes de trânsito de homicídio culposo
(artigo 302, do CTB), de alcoolemia/substância psicoativa (artigo 306, do CTB) e
participação em corrida ou competição não autorizada (artigo 308 do CTB).
Quanto à lesão corporal culposa na direção de veículo automotor (artigo 303,
do CTB), notamos que:
1. há a possibilidade de aplicação plena, desde que sem a existência de causa
de aumento de pena;
2. ocorrendo causa de aumento de pena, somente serão aplicados alguns
dispositivos da Lei 9.099 e desde que o agente não esteja:
2.1. sob a influência de álcool/substância psicoativa;
2.2. em na disputa de corrida ou efetuando manobras/exibição;
2.3. em mais de 50km/h da velocidade máxima da via.

41
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

AULA 12

LESÃO CORPORAL (ART.129 CP)

Conceito: Toda e qualquer ofensa causada à


integridade física ou à saúde mental de outrem, desde
que o objetivo não seja a prática de outro crime.

Sujeito Passivo:

Pessoa humana viva e que se encontra fora do meio intrauterino.

Exemplo: não temos lesão corporal contra cadáveres.

Existem 6 tipos de lesão corporal:

a. Lesão Corporal leve ou simples;


b. Lesão Corporal grave;
c. Lesão Corporal gravíssima;
d. Lesão Corporal seguida de morte;
e. Lesão Corporal culposa;
f. Lesão Corporal decorrente de violência doméstica.

Lesão corporal leve ou simples:

Ofensa à integridade física ou à saúde de outrem que não venha a acarretar maiores
danos ou consequências à vítima, não trazendo nenhuma das circunstâncias que
permitam caracterizar a conduta, por exemplo, como lesão grave ou gravíssima.

Lesão Corporal grave:

Impede a vítima das ocupações habituais por mais de 30 dias, causa debilidade
permanente de membro, sentido ou função; causa aceleração de parto ou causa
risco de morte no ofendido.

Lesão Corporal gravíssima:

Causa incapacidade permanente para o trabalho, perda ou inutilização de membro,


sentido ou função; aborto, enfermidade incurável ou deformidade permanente.

42
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Lesão Corporal seguida de morte:

A intenção inicial era provocar o resultado lesão corporal, todavia, sua conduta
acaba por trazer o resultado morte.

Lesão Corporal culposa:

O autor acaba provocando dano à integridade física ou à saúde de outrem em


decorrência de uma imprudência, negligência ou imperícia.

Lesão Corporal decorrente de violência doméstica:

Espécie de lesão corporal prevista na Lei nº 11.340/2006, mais conhecida como Lei
Maria da Penha. Ocorre no ambiente familiar e é dirigida contra ascendente,
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, etc.

* O processo não correrá perante os juizados especiais criminais.

Lesões corporais leves ou culposas:

As lesões leves e as culposas, pela regra do Art. 88 da Lei 9.099/95, procedem


mediante representação (ação penal pública condicionada à representação).

Questões importantes: A prova da lesão é feita mediante o exame de corpo de


delito, laudo pericial. O crime de lesão corporal leve é de menor potencial ofensivo,
pois sua pena máxima não ultrapassa 1 ano.

As lesões graves e gravíssimas têm sanções maiores, o que exclui ambos os casos
do conceito legal de crimes do juizado. A natureza da lesão importa, também, para a
ação penal.

A lesão dolosa leve é de ação penal pública condicionada à representação (art. 88


da Lei nº 9.099/95). Na lesão grave, ou gravíssima, a ação penal é pública
incondicionada.

No juizado especial criminal, se a materialidade da lesão já estiver presente em


boletim médico ou prova equivalente, é possível denunciar o autor sem o exame de
corpo de delito (Art. 77, parágrafo 1º, da Lei nº. 9099/95.

Na lesão corporal culposa, que advém de imprudência, negligência ou imperícia (at.


18, II, CP), não faz diferença para a tipificação do crime a natureza da lesão (leve,

43
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

grave ou gravíssima); no entanto, o juiz deve levá-la em consideração para a fixação


da pena (art. 59 do CP).

HISTÓRICO - MODELO

Vítima de lesões corporais, declarou que: nesta data, por volta das
__:__horas, foi agredido pelo autor do fato já qualificado; que estava sentado
no bar (descreva onde estava e o que fazia); que o autor o agrediu com
uma paulada nas costas (descreva qual o instrumento e a região do corpo
atingida); que o motivo foi uma discussão que tiveram no dia de ontem
(descreva o motivo ou, sendo desconhecido: “que não sabe o motivo da
agressão”); que também agrediu o autor com um soco; que testemunharam
os fatos o Sr. Joaquim e a Sra. Matilde (o declarante deve indicar as
testemunhas); que, neste ato, recebe a primeira via do requisitório de Exame
de Corpo de Delito, ciente de que deverá submeter-se ao exame no N.P.M.L.

Autor de lesões corporais declarou que: nesta data, por volta das
__:__horas, agrediu a vítima já qualificada com uma paulada nas costas; que
estava sentado no bar (descreva onde estava e o que fazia); que o motivo
foi uma discussão que tiveram no dia de ontem (descreva o motivo); que
também foi agredido com um soco pela vítima; que testemunharam os fatos o
Sr. Joaquim e a Sra. Matilde (o declarante deve indicar as testemunhas);
que, neste ato, recebe a primeira via do requisitório de Exame de Corpo de
Delito, ciente de que deverá submeter-se ao exame no N.P.M.L. local, situado
na Rua Silva Jardim, nº 1831, Boa Vista; que compromete-se a comparecer
no JECRIM quando intimado; NADA MAIS.

Testemunha compromissada, declarou que: nesta data, por volta das


__:__horas, viu o autor do fato começar a briga, agredindo a vítima, já
qualificada, com uma paulada nas costas ; que o depoente estava sentado
no bar (descreva onde estava e o que fazia); que não sabe o motivo da
agressão(descreva o motivo se a testemunha souber); que viu também,
logo em seguida, a vítima agredir o autor com um soco; que também
testemunharam os fatos o Sr. Marinaldo e a Sra. Matilde (o declarante deve
indicar outras testemunhas); NADA MAIS.

44
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

CRIMES DE TRÂNSITO (ART. 303)

Conceito: Praticar lesão corporal culposa na direção de


veículo automotor:

Sujeito ativo:

O condutor do veículo automotor: qualquer pessoa, habilitada ou não.

Sujeito passivo:

Qualquer pessoa.

Autolesão culposa:

Não é punível.

Na direção:

O fato não será considerado crime, se cometido quando o autor não se encontra
conduzindo veículo.

Exemplo: desligado o motor por defeito, há atropelamento e lesões corporais na


vítima no ato de empurrar o automóvel.

Nesse caso, subsiste a lesão corporal culposa comum (CP, art.129, parágrafo 6º)

Veículo automotor (Convenção de Viena):

Por “veículo automotor” entende-se todo veículo motorizado que serve normalmente
para o transporte viário de pessoas ou de coisas ou para a tração, compreendendo
os ônibus elétricos.

Grau da lesão:

É irrelevante, que seja leve, grave ou gravíssima.

45
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Consumação:

Ocorre com a efetiva ofensa à integridade corporal ou à saúde física ou mental da


vítima.

Importante (tipo agravado):

I – não possuir permissão para dirigir ou carteira de habilitação;

II- praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

III – deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima
do acidente;

IV – no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de


transporte de passageiros.

Ação Penal: Pública condicionada à representação.

HISTÓRICO - (MODELO)

Vítima de acidente de trânsito, Declarou que: nesta data, por volta das
__:__horas, conduzia seu veículo, Ford-Escort BTE-XXXX, pela Rodovia
Anhanguera, sentido Ribeirão Preto a São Paulo, altura do Km 305; que o
veículo do autor do fato, Fiat-Tempra BRE-XXXX seguia pela mesma
Rodovia, porém em sentido contrário; que o autor do fato invadiu a pista
contrária, após perder o controle da direção de seu veículo e colidiu
frontalmente contra o veículo da vítima; que sofreu lesões corporais no braço
direito e cabeça (descreva as lesões reclamadas); que foi socorrido pelo
“RESGATE” do Corpo de Bombeiros ao hospital Sta. Casa (em caso de
socorro indique quem o prestou e para onde); que recebe neste ato
requisitório de exame de corpo de delito direto, a ser apresentado no N.P.M.L.
para realização de perícia; que recebe neste ato requisitório de exame pericial
de veículo, a ser apresentado no setor de perícia veicular do N.P.Crim.; que
deseja representar contra o autor do fato; NADA MAIS.

Autor do fato, declarou que: nesta data, por volta das __:__horas, conduzia
seu veículo, Fiat-Tempra BRE-XXXX, pela Rodovia Anhanguera, altura do Km
305, no sentido Cravinhos a Ribeirão Preto; que a vítima seguia com seu
veículo, Ford-Escort BTE-XXXX, pela mesma Rodovia, porém no sentido
contrário; que atravessou o canteiro central e colidiu frontalmente contra o
46
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

veículo da vítima, pois o pneu dianteiro do lado esquerdo do seu veículo


furou, o que gerou a perda da dirigibilidade do mesmo; que também sofreu
lesões corporais no supercílio (descreva as lesões reclamadas); (em caso
de socorro indique quem o prestou e para onde); que recebe neste ato
requisitório de exame de corpo de delito direto, a ser apresentado no N.P.M.L.
para realização de perícia; que recebe neste ato requisitório de exame pericial
de veículo, a ser apresentado no setor de perícia veicular do N.P.Crim.; que
se compromete a comparecer no JECRIM quando intimado. NADA MAIS.

Testemunha compromissada, declarou que: nesta data, por volta das


__:__hora estava caminhando defronte ao prédio do Km 305 da Rodovia
Anhanguera;(INDIQUE ONDE A TESTEMUNHA ESTAVA); que viu um Ford-
Escort BTE-XXXX, seguindo pela Rodovia Anhanguera, no sentido Ribeirão
Preto a São Paulo; que o outro veículo, Fiat-Tempra BRE-XXXX seguia pela
mesma Rodovia, porém no sentido contrário; que o autor do fato perdeu o
controle da direção de seu veículo, atravessou o canteiro central e colidiu
frontalmente contra o veículo da vítima, porém não sabe se o pneu do veículo
do autor furou ou não; que os feridos foram socorridos pelo “RESGATE” do
Corpo de Bombeiros ao hospital Sta. Casa (em caso de socorro indique
quem o prestou); que também testemunharam o acidente os senhores
(questione a existência de outras testemunhas); NADA MAIS.

47
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

AULA 13

Análise sobre o Contido no Art. 304

(Lei 9503/97 Código de Trânsito Brasileiro)

Conceito: Deixar o condutor do veículo, na


ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à
vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de
solicitar auxílio da autoridade pública.

Penas: detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir


elemento de crime mais grave.

Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do


veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima
com morte instantânea ou com ferimentos leves.

A análise deste artigo do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) indica que, a conduta a
ser criminalizada, é a omissão deliberada na prestação de socorro à pessoa vítima
de acidente de trânsito, sendo certo que:

Deve haver uma justa causa para que o condutor não preste o socorro diretamente e
solicite auxílio da autoridade pública, todavia, há casos em que há um atendimento
muito mais eficaz quando a vítima do acidente seja amparada por uma pessoa com
conhecimentos médicos especializados. Desta forma, não incorre no crime deste
Artigo o condutor do veículo que embora não tenha prestado imediato socorro à
vítima, permanece no local em que outra pessoa em melhores condições do que as
suas, presta o imediato socorro (Ex: médico, enfermeiro, socorrista, etc).

Também, segundo o doutrinador Cap da PMESP Julyver Modesto de Araújo “não se


exige que um condutor coloque a vítima em seu próprio veículo, para levar ao
hospital (aliás, isto é até perigoso), mas o que não pode ocorrer é uma total inércia
daquele que tem a obrigação legal de tomar atitude” http://www.ctbdigital.com.br
acessado em 19ABR17.

O Crime de trânsito previsto neste Artigo se consuma com a concretização dos


seguintes elementos:

1) acidente de trânsito, com vítima, independentemente de sua gravidade, o


condutor de veículo deixar de prestar imediato socorro à vítima;

48
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

2) acidente de trânsito, com vítima, independentemente de sua gravidade, o


condutor de veículo deixar de solicitar auxílio da autoridade pública, quando não for
possível prestar a assistência pessoalmente por motivo justificável (Ex: risco de
linchamento).

3) a omissão seja praticada pelo condutor do veículo envolvido no acidente. Desta


forma, qualquer outra pessoa que omita o socorro, quando possível fazê-lo, incorre
em outro crime previsto no artigo 135 do Código Penal: “Deixar de prestar
assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou
extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública”

4) o condutor do veículo, polo ativo deste crime, apesar de envolvido no acidente de


trânsito, não seja o causador da morte e/ou lesão, pois neste caso, estamos diante
de um crime mais grave (Art. 303 ou 302 do CTB), desta forma, temos que “O crime
do artigo 304 é subsidiário, o que é previsto na própria pena a ele aplicável, em sua
parte final (“se o fato não constituir elemento de crime mais grave”); isto é, somente
responde pelo crime de omissão de socorro, de maneira isolada, o condutor que não
deu causa à vítima de trânsito, já que, sendo o autor do homicídio ou da lesão
corporal, a omissão caracterizará uma causa de aumento de pena (artigo 302,
parágrafo único, inciso III; e 303, parágrafo único” Julyver Modesto de Araújo,
http://www.ctbdigital.com.br acessado em 19ABR17.

O que se tenta coibir é claramente a conduta omissiva por parte do condutor de


veículo que se envolva em acidente de trânsito e não presta nenhum tipo de
assistência à vítima.

Segundo a Jurisprudência:

“O crime de omissão de socorro previsto no art. 304 do CTB é


crime subsidiário, ou seja, somente pode ser aplicado caso não
ocorra delito mais grave. Assim, praticada
a omissão de socorro após ter o agente ter cometido lesão
corporal culposa na direção de veículo automotor, mister a
absolvição da conduta prevista no art. 304 do CTB , pela
aplicação do Princípio da Subsidiariedade, reconhecendo, por
conseguinte, a majorante constante do art. 302 , parágrafo
único , inciso III , do Código de Trânsito Brasileiro.” TJ-MG -
Apelação Criminal APR 10109110017083001 MG (TJ-MG).

Desta forma, saliento aos Policiais Militares que ao condutor causador de outro
crime mais grave, mesmo que de trânsito (Ex: Art. 302 homicídio culposo, ou Art.
303 lesão corporal culposa, tudo do CTB), não incorre no crime do Art. 304, mas
49
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

sim, sua conduta (mais grave) é agravada pela omissão, conforme inciso III do § 1º
do Art. 302 do CTB, aplicável também ao Art. 303.

A análise do parágrafo único do artigo 304 do CTB, nos mostra que ainda que a
omissão seja suprida por terceiro ou se trate de morte instantânea, o condutor do
veículo ainda incorre no cometimento deste crime, desta forma, se observa o
expresso combate a omissão de socorro, sendo certo que a regra a ser observada
por todos é a prestação de socorro, a preservação da integridade física e a
preocupação com a vítima em todos os seus aspectos.

Não há que se falar em prestação de socorro à pessoa com morte inquestionável,


todavia o descaso com a vida, com a ausência do local do acidente, pelo presente
dispositivo legal enseja o cometimento do crime.

Tal aspecto pode ser objeto de entendimentos jurídicos diversos, no entanto o


dispositivo é bem claro com relação a conduta a ser criminalizada.

Modelo de histórico para ocorrências com base no Art. 304 do CTB

(Omissão de socorro em acidente de trânsito)

Durante o atendimento de ocorrência de acidente de trânsito com vítima(s),


constatei que o condutor identificado como (constar apenas o nome do
condutor), que conduzia o veículo já qualificado em campo próprio, e também
envolvido no acidente, deixou de prestar socorro à(s) vítimas(s) (constar o
primeiro nome de cada vítima), já qualificadas em campo próprio, de maneira
deliberada e sem justo motivo que o autorizasse se ausentar do local, tampouco
acionou auxílio da autoridade pública para que realizasse o socorro.

Dados do autor (indiciado), conseguido por meio de (constar a forma que o PM


teve conhecimento dos dados do condutor ausente) testemunhas já qualificadas
que anotaram as placas do veículo que se evadiu do local, desta forma, equipes
policiais localizaram o veículo e condutor, durante patrulhamento.

IMPORTANTE: o autor do presente crime não pode ser o condutor de veículo


causador do acidente e que tenha dado causa a morte e/ou lesões corporais, visto
que o crime cometido (homicídio culposo ou lesão corporal culposa) absorvem o
crime do art. 304 (crime subsidiário), sendo a omissão de socorro, uma circunstancia
agravante do crime cometido (art. 302 ou 303 do CTB).
50
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Análise sobre o Contido no Art. 305

(Lei 9503/97 Código de Trânsito Brasileiro)

Conceito: Afastar-se o condutor do veículo do


local do acidente, para fugir à responsabilidade
penal ou civil que lhe possa ser atribuída:

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

A análise do crime previsto no Artigo 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) nos
remete a um dispositivo legal muito questionado, pois, segundo alguns juristas,
desrespeita com sua previsão legal, vários preceitos inseridos em nosso
ordenamento jurídico como direitos e garantias fundamentais da pessoa, fato que
motivou o Supremo Tribunal Federal (STF) a decidir pela análise de sua
constitucionalidade. Conforme o doutrinador Cap PMESP Julyver Modesto de Araújo
“O artigo 305 versa sobre um crime polêmico: o de fuga do local de ocorrência de
trânsito. A polêmica se deve ao fato de que a lei pretendeu punir, criminalmente,
aquele que se afasta do local, com uma intenção específica: a de não ser
responsabilizado, seja por um crime cometido ou por uma eventual indenização que
tenha de arcar, se for considerado culpado pelo acontecimento fatídico (ou seja,
pressupõe-se, antecipadamente, que o condutor pode ser culpado e, por este
motivo, deve permanecer no local, para a devida apuração dos fatos). Quanto à
responsabilidade penal, o dispositivo viola a presunção de inocência (artigo 5º, inciso
LVII, da Constituição Federal – “ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória”) e o direito de não-incriminação, que se
assenta tanto no direito constitucional do preso, em se manter calado (artigo 5º,
inciso LXIII, da CF – “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”),
quanto na garantia internacional de não ser obrigado a depor contra si mesmo,
quando for acusado de um delito (artigo 8º, inciso 2, letra ‘g’ da Convenção
Americana de Direitos Humanos – Pacto de São José, da Costa Rica – “Toda
pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto
não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem
direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: ... direito de não ser
obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada&quot;).”

http://www.ctbdigital.com.br/?p=Comentarios&amp;Registro=23&amp;campo_busca
=&amp;artigo=305 acessado em 19ABR17

Devido a todos esses questionamentos legais o STF se pronunciou conforme se


verifica na matéria abaixo: O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) vai
51
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

analisar a constitucionalidade do artigo 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB),


que tipifica como crime a fuga do local de acidente. A matéria será debatida no
Recurso Extraordinário (RE) 971959, de relatoria do ministro Luiz Fux, que teve
repercussão geral reconhecida, por unanimidade, no Plenário Virtual da Corte. No
caso dos autos, um condutor fugiu do local em que colidiu com outro veículo e foi
condenado, com base no artigo 305 do CTB, a 8 meses de detenção, pena
substituída por restritiva de direitos. E recurso de apelação, o Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul (TJ-RS) se pronunciou pela absolvição, sob o entendimento de
quem ninguém é obrigado a produzir provas contra si. Segundo o acórdão do TJ-RS,
o dispositivo do CTB é inconstitucional, pois a simples presença no local do acidente
representaria violação da garantia de não autoincriminação, prevista no artigo 5º,
inciso LXIII, da Constituição Federal. No acórdão ficou ressalvado que a não
permanência, no caso dos autos, não representou omissão de socorro, prevista no
artigo 304 do Código de Trânsito. O Ministério Público do Rio Grande do Sul interpôs
o recurso extraordinário argumentando que o dispositivo constitucional não
representa obstáculo à imputação do crime de fuga, pois os direitos à não
autoincriminação e ao silêncio permaneciam incólumes. Sustenta no RE, ainda, que
a permanência do condutor no local em que ocorreu o acidente não se confunde
com confissão de autoria ou reconhecimento de culpa, mas visa proteger a
administração da justiça, já que é determinante para a apuração dos fatos e
identificação dos envolvidos. Destaca, ainda, o dever de cidadania de prestar auxílio
a quem porventura venha a ser injuriado por ocasião de um acidente. Ao se
manifestar pelo reconhecimento da repercussão geral do tema, o ministro Luiz Fux
observou que, além do TJ-RS, os Tribunais de Justiça de São Paulo, Minas Gerais e
o Tribunal Regional Federal da 4ª Região possuem decisões no sentido da
inconstitucionalidade do dispositivo legal do CTB, consignando que a simples
permanência na cena do crime já seria suficiente para caracterizar ofensa ao direito
ao silêncio e de que obrigar o condutor a permanecer no local do fato, e com isso
fazer prova contra si, afrontaria ainda o disposto no artigo 8º, inciso II, alínea g, do
Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos), do
qual o Brasil é signatário. ‘Nesse contexto, ressoa recomendável que esta Suprema
Corte se pronuncie sobre o tema da constitucionalidade, ou não, do artigo 305 do
Código de Trânsito Brasileiro, uma vez que a matéria transcende interesse das
partes envolvidas, sendo relevante do ponto de vista social e jurídico, porquanto
mister se faz debruçar sobre tema, no afã de traçar os limites dos direitos
constitucionais ao silêncio e ao de não produzir prova contra si’, ressaltou o ministro
Fux. O relator salientou que controvérsia semelhante foi submetida ao STF por meio
da Ação Declaratória de Constitucionalidade 35, sob relatoria do ministro Marco
Aurélio.

http://www.ctbdigital.com.br/?p=Comentarios&amp;Registro=23&amp;campo_busca
=&amp;artigo=305 acessado em 19ABR17

52
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Diante de todo o exposto, chegamos a conclusão de que a matéria é muito polêmica


e está em análise para que se verifique a sua constitucionalidade pelo STF. Certo é
que, até que o Supremo se pronuncie o crime continua existindo e produzindo seus
efeitos. Para a caracterização do presente delito são exigíveis alguns elementos que
passo a discorrer:

1) Existência de acidente de trânsito com ou sem vítimas, independentemente de


sua gravidade;

2) Condutor envolvido no acidente afastar-se do local para fugir a responsabilidade


penal ou civil. Muito embora, tanto no artigo 304 (Omissão de socorro em acidente
de trânsito), quanto no 305 do CTB, exista a conduta de ausentar-se do local de
acidente de trânsito, os crimes não se confundem, devido ao fato de que o condutor
pode se ausentar e não cometer a omissão, por exemplo, se ausentando após
prestar a assistência a vítima e esta ser atendida no local, ou socorrida pela
autoridade pública responsável, bem como, pode ocorrer em casos de acidente de
trânsito sem vítimas, em que o condutor se ausenta para se eximir de eventual
responsabilidade cível pelos danos causados a outro veículo ou a patrimônio público
ou privado. Desta forma, se deixar de prestar socorro à vítima do acidente, o
condutor comete o crime do 304, já se ausentar-se do local, mesmo após prestar
socorro, todavia para se eximir de responsabilidade penal ou cível, comete o crime
do Art. 305. Para o cometimento deste tipo penal, o condutor tem que,
obrigatoriamente ter alguma responsabilidade no acidente, seja ela penal ou cível.
Com relação a responsabilidade cível o Doutrinador Cap PMESP Julyver Modesto
de Araújo escreve: “No tocante à responsabilidade civil, o delito do artigo 305 é
ainda mais esdrúxulo, pois contempla como crime a simples possibilidade do dever
de indenizar, quando é princípio garantido de nosso direito constitucional de que não
haverá prisão civil por dívida (artigo 5º, inciso LXVII, da CF – “não haverá prisão civil
por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
obrigação alimentícia e a do depositário infiel”), exceto nos casos de não pagamento
da pensão alimentícia ou de depositário infiel (este último, aliás, já foi considerado
pelo Supremo Tribunal Federal como inaplicável, desde 2008, em julgamento
histórico que compatibilizou a regra brasileira à constante do Pacto de São José,
que prevê a prisão civil apenas para os casos de pensão alimentícia).”

http://www.ctbdigital.com.br/?p=Comentarios&amp;Registro=23&amp;campo_busca
=&amp;artigo=305 acessado em 19ABR17

Notório que o artigo procura preservar a segurança jurídica nas relações humanas,
todavia fica claro ao analisarmos de forma mais cuidadosa que o artigo fere outros
preceitos jurídicos também preservados por nosso ordenamento jurídico, no entanto
à Policia Militar cumpre a rigorosa observância das normas em vigor, desta forma,
53
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

até que o STF se pronuncie sobre a constitucionalidade do Art. 305 do CTB,


deveremos observar o seu cumprimento.

Modelo de histórico para ocorrências com base no Art. 305 do CTB

(afastar-se de local de acidente para fugir à responsabilidade penal ou civil)

Durante o atendimento de ocorrência de acidente de trânsito (com ou sem


vítima(s)), constatei que o condutor identificado como (constar apenas o nome do
condutor, pois já está qualificado em campo próprio), que conduzia o veículo já
qualificado em campo próprio, envolvido no acidente, afastou-se do local da
ocorrência, claramente com a intenção de fugir à eventuais responsabilidades
penais e/ou cíveis relativas ao evento, visto que o veículo que conduzia colidiu
contra 03 (três) veículos que estavam devidamente estacionados, tendo
arrancado de maneira brusca para fugir do local da ocorrência após as colisões
(descrever o envolvimento do condutor no acidente de forma a deixar clara e
inequívoca a conclusão do PM de que o autor aparentemente possui
responsabilidade no presente crime, fato que motivou sua ausência).

Dados do autor (indiciado), conseguido por meio de (constar a forma que o PM


teve conhecimento dos dados do condutor ausente) testemunhas já qualificadas
que anotaram as placas do veículo que se evadiu do local, desta forma, equipes
policiais localizaram o veículo e condutor, durante patrulhamento.

IMPORTANTE: O AUTOR DO PRESENTE CRIME PODE SER O CONDUTOR DE


QUALQUER VEÍCULO ENVOLVIDO EM ACIDENTE QUE TENHA SE AFASTADO
DO LOCAL COM A INTENÇÃO DE FUGIR AS SUAS RESPONSABILIDADES,
SENDO CERTO QUE A EVENTUAL RESPONSABILIDADE PENAL E/OU CIVIL
QUE MOTIVOU A AUSÊNCIA, DEVE ESTAR CLARA MEDIANTE ANÁLISE DAS
INFORMAÇÕES CONSTATADAS NO LOCAL DA OCORRÊNCIA, BEM COMO
ESTAREM MINUCIOSAMENTE DETALHADAS NO HISTÓRICO DA
OCORRÊNCIA.

54
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

AULA 14
ASSUNTOS: INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO:
ESTUDO DOS TIPOS PENAIS MAIS INCIDENTES
CRIMES DE TRÂNSITO

1. VIOLAÇÃO DA SUSPENSÃO OU PROIBIÇÃO


DE SE OBTER A PERMISSÃO OU HABILITAÇÃO
PARA DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR
O crime de violar a suspensão ou proibição de se obter
a permissão ou habilitação para dirigir veículo
automotor está previsto no Art. 307 do CTB:

Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação


para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código:
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional
de idêntico prazo de suspensão ou de proibição.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar,
no prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de
Habilitação.

Existem dois tipos de suspensão do direito de dirigir previstos no CTB: a suspensão


administrativa, que está prevista no Art. 261 do referido codex, que pode ser
aplicada por um período de no mínimo um mês e até o máximo de um ano, que será
aplicada pelo órgão ou entidade executivo estadual de trânsito, sempre que o
infrator atingir a contagem de vinte pontos, ou nos casos em que o infrator cometer
uma infração de trânsito que preveja esta sanção de maneira direta:
Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir será
imposta nos seguintes casos:
I - sempre que o infrator atingir a contagem de 20 (vinte)
pontos, no período de 12 (doze) meses, conforme a pontuação
prevista no art. 259;
II - por transgressão às normas estabelecidas neste Código,
cujas infrações preveem, de forma específica, a penalidade de
suspensão do direito de dirigir.

O descumprimento da suspensão do direito de dirigir imposta pela autoridade de


trânsito, configura infração de trânsito, sujeitando o infrator às medidas
administrativas e penalidades previstas no Art. 162, inciso II do CTB:
Art. 162. Dirigir veículo:
II - com Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão
para Dirigir cassada ou com suspensão do direito de dirigir:
55
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (cinco vezes) e apreensão do veículo;
Medida administrativa – recolhimento do documento de
habilitação e retenção do veículo até a apresentação de
condutor habilitado;

Já a suspensão criminal do direito de dirigir, prevista nos Art. 292 a 296 do CTB,
poderá ser aplicada pela autoridade judiciária, isolada ou cumulativamente, com
outras penalidades, por um período de no mínimo dois meses e no máximo cinco
anos:
Art. 291 A suspensão ou a proibição de se obter a permissão
ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser imposta
isolada ou cumulativamente com outras penalidades.

Art. 292 A penalidade de suspensão ou de proibição de se


obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo
automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos.

§ 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será


intimado a entregar à autoridade judiciária, em quarenta e oito
horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.

Desta forma, para aquele infrator que viola a suspensão administrativa do direito de
dirigir, a consequência jurídica será a aplicação de multa de trânsito, pela infração
de trânsito do artigo 162, inciso II do CTB.
Já o crime de trânsito previsto no Art. 307 do CTB, restará configurado, somente nos
casos em o infrator viola a suspensão judicial anteriormente imposta.
Tal entendimento foi referendado pelo CONTRAN, por meio da Resolução nº
561/15, que aprovou o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, Volume II, que
tem o objetivo de padronizar os procedimentos para a fiscalização de trânsito em
relação às infrações de trânsito de competência estadual, em todo território nacional.
Nas mesmas penas incorre, aquele infrator que deixa de cumprir o prazo de
quarenta e oito horas para entregar a CNH ou a Permissão para Dirigir à autoridade
judiciária, após ter transitado e julgado a sentença condenatória e o réu ter sido
citado, conforme previsto no § 1º do Art. 292 do CTB.

2. TRANSITAR COM VELOCIDADE INCOMPATÍVEL COM A SEGURANÇA


DO TRÂNSITO
O crime de trânsito de transitar com velocidade incompatível com a segurança de
trânsito em determinados locais, está previsto no Art. 311 do CTB:
Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a
segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de
embarque e desembarque de passageiros, logradouros
estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração
de pessoas, gerando perigo de dano:
56
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

O crime de trânsito previsto no artigo 311 do CTB, por trafegar em velocidade


incompatível em determinados locais, está relacionado à infração de trânsito
discriminada no artigo 220, em especial, os incisos I e XIV:
Art. 220. Deixar de reduzir a velocidade do veículo de forma
compatível com a segurança do trânsito:
I - quando se aproximar de passeatas, aglomerações, cortejos,
préstitos e desfiles:
XIV - nas proximidades de escolas, hospitais, estações de
embarque e desembarque de passageiros ou onde haja
intensa movimentação de pedestres:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa.

Diferentemente do que ocorre em relação à fiscalização da infração de trânsito de


transitar com velocidade superior à máxima permitida para determinadas vias,
prevista no Art. 218 do CTB, para a configuração da infração do artigo 220 e do
crime do artigo 311, não há a necessidade de medição da velocidade do veículo no
momento dos fatos, sendo necessária a análise circunstancial; assim, uma
velocidade de 30, 40 ou 50 km/h, por exemplo, pode ou não ser compatível com a
segurança em determinado local e horário, o que exige, do policial militar, uma
avaliação criteriosa.
De acordo com os princípios de Direção defensiva, velocidade compatível com a
segurança, é aquela que possibilita o condutor ter perfeito domínio de seu veículo, a
fim de evitar risco às outras pessoas, independente das condições adversas,
conseguindo frear ou desviar a tempo, frente a um obstáculo inesperado.
Podemos citar como exemplos de velocidade incompatível com a segurança, a
situação em que o condutor freia bruscamente seu veículo, quase atropela alguém
(ou chega a atropelar), ou desvia abruptamente de um obstáculo na via pública,
perdendo temporariamente o controle da direção, entre outras.
Para que se configure o crime previsto no Art. 311 do CTB, é necessário que o
condutor infrator esteja gerando, com a sua conduta, o perigo de dano concreto, ou
seja, nos casos em que o condutor transitar com velocidade incompatível com a
segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e
desembarque e logradouros estreitos, e tais locais estiverem desprovidos de
pessoas, restará admitida apenas a infração de trânsito prevista no Art. 220 do CTB,
pois não haverá o perigo de dano presente, o que descaracterizaria a infração penal
do Art. 311 do CTB.

3. FRAUDE PROCESSUAL NO TRÂNSITO

O crime de trânsito de fraude processual está previsto no Art. 312 do CTB:


Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente
automobilístico com vítima, na pendência do respectivo
procedimento policial preparatório, inquérito policial ou

57
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a


fim de induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que
não iniciados, quando da inovação, o procedimento
preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.

O crime de trânsito capitulado no artigo 312 pode ser denominado de Fraude


Processual no Trânsito.
Este crime de trânsito está relacionado com a infração de trânsito prevista no Art.
176, inciso III do CTB:

Art. 176. Deixar o condutor envolvido em acidente com vítima:


III - de preservar o local, de forma a facilitar os trabalhos da
polícia e da perícia;
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de
dirigir;
Medida administrativa - recolhimento do documento de
habilitação.

Somente estará configurado o crime de Fraude Processual no Trânsito, se o artifício


for utilizado para ludibriar a persecução criminal, em ocorrências de acidentes de
trânsito com vítima.
O crime somente ocorre na modalidade dolosa, com a intenção específica de induzir
a erro o agente policial, o perito, ou juiz.
A simples não preservação do local da ocorrência de acidentes não estará
abrangida pela infração penal, estando sujeita, entretanto, ao cometimento da
infração de trânsito do Art. 176, inciso III do CTB
O autor deste crime pode ser pessoa diversa do responsável pela lesão corporal ou
homicídio ocorridos na condução de veículo automotor, desde que seu intento seja
atrapalhar a investigação criminal e apuração da culpabilidade;
A conduta típica consiste na inovação artificiosa de estado de:
Estado de Lugar: alterando a cena do crime, para se fazer supor que o fato tenha
ocorrido em local diverso de onde realmente aconteceu (Ex: retirar a sinalização da
via);
Estado de Coisa: retirando vestígios que induzam à responsabilidade pela
ocorrência ou modificando peças automotivas para se isentar de culpa (Ex: retirar o
veículo do local do acidente);
Estado de Pessoa: fazendo alguém se passar pelo motorista, para acobertar o fato
de o condutor não ser habilitado ou estar sob influência de álcool.
Por fim, cabe destacar que, de acordo com o parágrafo único, do Art. 312 do CTB,
pune-se o autor da fraude processual, ainda que não se tenha iniciado qualquer

58
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

procedimento para apuração da responsabilidade pela lesão ou homicídio


decorrentes, ou seja, se houver qualquer alteração fraudulenta, no momento da
ocorrência de trânsito e antes da chegada da polícia, estará configurado o crime de
Fraude Processual no Trânsito.

REFERÊNCIAS:

1. ARAUJO, Julyver Modesto de. Código de Trânsito Brasileiro anotado e


comentado, com os 2 Volumes do Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito. SP:
6ª edição. Editora Letras Jurídicas, 2016.
2. BRASIL. Lei Federal nº 9.503. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. 23 de
setembro de 1997.
3. ______. DENATRAN. Resolução n° 561. Aprova o Manual Brasileiro de
Fiscalização de Trânsito, Volume II – Infrações de competência dos órgãos e
entidades executivos estaduais de trânsito e rodoviários.

59
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

AULA 15
ASSUNTOS: CRIMES DE TRÂNSITO (Artigos 309 e 310, da Lei 9.503/97 – Código
de Trânsito Brasileiro, CTB)

Análise sobre o Contido no Art. 309

(Lei 9503/97 Código de Trânsito Brasileiro)

Conceito: Dirigir veículo automotor, em via


pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou
Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:

Penas: detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Objetividade jurídica: a segurança viária.

Sujeito ativo: condutor de veículo automotor.

Sujeito passivo: coletividade.

Elemento espacial do tipo: a via pública.

Veículo automotor: é elementar do tipo.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

1. Inicialmente se faz necessário observar que foi revogado parcialmente o artigo 32


da Lei das Contravenções Penais (“Dirigir, sem a devida habilitação, veículos em via
pública ou embarcação a motor em águas públicas”) pelo artigo 309 do CTB e,
assim, não mais se aplica à direção de veículos automotores, mas somente a
embarcações a motor em águas públicas, que é infração de perigo abstrato ou
presumido (pune-se o agente simplesmente pelo fato de agir de maneira que se
presume que haja um perigo, ainda que nada aconteça, buscando-se evitar o mal
maior). Assim, na contravenção derrogada (art. 32), o legislador punia quem
dirigisse sem habilitação, mesmo que o fizesse de forma segura e não resultassem
acidentes, pois pressupunha que quem não é habilitado não dirige bem e, assim,
expõe a perigo a incolumidade pública.

2. Conforme dicção do atual Código de Trânsito Brasileiro, a conduta inabilitada,


isoladamente, conduz só à infração administrativa e, transforma-se em crime,
somente quando o motorista dirige de forma anormal, perigosa, rebaixando o nível

60
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

de segurança exigido pelo Estado e, assim, expondo um número indeterminado de


pessoas a perigo de dano.

3. Todavia, para caracterização do Art. 309 do CTB, há que se observar a existência


de uma situação de efetivo perigo, sem a necessidade de produzir um dano efetivo,
mas com a possibilidade de que esse venha a ocorrer, colocando em perigo o bem
jurídico protegido. Trata-se, desta maneira, de um perigo concreto ou real, ou seja,
se continua punindo pelo perigo, mas não um perigo possível, presumido, mas
aquele que realmente acontece e pode ser demonstrado e provado. O Supremo
Tribunal Federal também já posicionou quanto ao tema, exigindo a existência do
perigo concreto para a configuração do crime descrito no art. 309 do Código de
Trânsito, sendo, inclusive, editada a Súmula nº 720.

4. Logo, a caracterização da infração penal do artigo 309, ocorrerá quando o Policial


Militar constatar, além das infrações aos artigos 162, inciso I (condutor inabilitado);
art. 162, inciso II (quando cassado o direito de dirigir) ou art. 162, inciso V
(habilitação vencida), do CTB, também constatar que o motorista dirige de maneira
perigosa (ziguezagueando, excedendo a velocidade, transpondo calçadas etc),
adotando-se neste caso o seguinte procedimento:

4.1. constatando-se a infração aos artigos 162, inciso I, art. 162, inciso II (quando
cassado o direito de dirigir) ou art. 162, inciso V, do CTB, deverá lavrar o
competente AIT, como também lavrar o AIT no artigo correspondente à conduta
praticada na condução, que irá revelar o perigo de dano gerado;

4.2. se presentes testemunhas sobre o fato, obrigatoriamente deverão ser arroladas;

4.3. elaborar o BOPM/TC descrevendo sucintamente o fato e registrando as


providências adotadas na esfera administrativa;

4.4. por se tratar de crime de ação penal pública incondicionada, tratando-se de


infração de menor potencial ofensivo, incidem as disposições da Lei 9.099/95,
devendo-se apresentar o infrator no plantão do JeCrim (caso exista, ou não
existindo, o BOPM/TC será encaminhado pela OPM no primeiro expediente útil);

4.5. em se tratando de criança ou adolescente dirigindo com perigo de dano, o caso


deverá ser encaminhado à Delegacia de Polícia Civil, pois cabe aos Delegados de
Polícia Civil apurar atos infracionais, por força do art. 172 da Lei 8.069/90 (ECA);

4.6. o uso de CNH ou Permissão Para Dirigir com suspeita de inautenticidade


(documentos falsos ou adulterados), além de serem apreendidas por força do
disposto no Art. 272, do CTB, deve-se adotar providências quanto à prática de crime
capitulado no art. 304 (Uso de documento falso) ou no art. 297 (Falsificação de
documento público), tudo do Código Penal, tipos penais em que não se aplica
Termos Circunstanciados, devendo o caso ser conduzido à Polícia Civil, pois suas
penas enquadram-se como reclusão de 02 (dois) a 06 (seis) anos.

61
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

5. Conduzir ciclomotor em via pública sem a ACC, mesmo gerando perigo de dano,
não constitui crime do art. 309, do CTB, pois não há na descrição objetiva do tipo
penal expressa referência ao ato administrativo “autorização”. O art. 309 se refere
apenas a “habilitação” ou “permissão para dirigir”, não sendo possível na esfera de
direito penal, ampliar o tipo objetivo em prejuízo ao autor do fato. Portanto, tal
conduta caracteriza apenas infração administrativa ao art. 162, inciso I do CTB, e
respectiva infração técnica, conforme o caso concreto.

JURISPRUDÊNCIA DE FALTA DE HABILITAÇÃO OU PERMISSÃO PARA


DIRIGIR VEÍCULOS AUTOMOTORES:

RECURSO ESPECIAL. PENAL. DIREÇÃO SEM HABILITAÇÃO. ART. 32 DA LEI DE


CONTRAVENÇÃO PENAL E ART. 309 DA LEI 9.503/97. As Cortes Superiores
sedimentaram o entendimento no sentido de que a direção de veículos automotores
sem habilitação, nas vias terrestres, pode constituir crime, nos termos do art. 309 do
CTB, ou infração administrativa, consoante o art. 162, inciso I, do CTB, a depender
da ocorrência ou não de perigo concreto de dano, restando, pois, derrogado o art. 32
da Lei de Contravenções Penais. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte,
provido. (REsp nº 331.104/SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em
1º/4/2004, DJ 17.5.2004 p. 266)

HABEAS CORPUS . DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR SEM HABILITAÇÃO.


DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
PERIGO CONCRETO. INEXISTÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA. O trancamento da
ação penal por ausência de justa causa, medida de exceção que é, somente pode
ter lugar, quando o motivo legal invocado mostrar-se na luz da evidência, primus
ictus oculi. Tratando a denúncia de fato penalmente atípico, à falta de perigo de
dano a pessoa, resultado de que depende a caracterização do delito tipificado no
artigo 309 da Lei nº 9.503/97, mostra-se de rigor o trancamento da ação penal.
Ordem concedida. (HC nº 28.500/SP, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Sexta
Turma, julgado em 30/5/2006, DJ 4/9/2006)

HABEAS CORPUS. ART. 309 DA LEI Nº 9.503/97. CRIME DE PERIGO


CONCRETO. INOCORRÊNCIA. 1. O art. 309 da Lei nº 9.503/97 textualmente exige
que, para restar caracterizado o crime de direção sem permissão ou habilitação, é
necessária a ocorrência de perigo real ou concreto (Precedentes do STF e desta
Corte). 2. Ordem concedida para absolver o ora paciente, com base no art. 386,
inciso III, do Código de Processo Penal. (HC nº 150.397/SP, Rel. Ministro Felix
Fischer, Quinta Turma, julgado em 13/4/2010, DJe 31/5/2010)

62
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. SÚMULA Nº 720: O ART. 309 DO CÓDIGO DE


TRÂNSITO BRASILEIRO, QUE RECLAMA DECORRA DO FATO PERIGO DE
DANO, DERROGOU O ART. 32 DA LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS NO
TOCANTE À DIREÇÃO SEM HABILITAÇÃO EM VIAS TERRESTRES. Em tese,
constituir o fato infração administrativa não afasta, por si só, que simultaneamente
configure infração penal. No Código de Trânsito Brasileiro, entretanto, conforme
expressamente disposto no seu art. 161 - e, cuidando-se de um código, já decorreria
do art. 2º, § 1º, in fine, LICC - o ilícito administrativo só caracterizará infração penal
se nele mesmo tipificado como crime, no Capítulo XIX do diploma. 3. Cingindo-se o
CTB, art. 309, a incriminar a direção sem habilitação, quando gerar "perigo de dano",
ficou derrogado, portanto, no âmbito normativo da lei nova - o trânsito nas vias
terrestres - o art. 32 LCP, que tipificava a conduta como contravenção penal de
perigo abstrato ou presumido. A solução que restringe à órbita da infração
administrativa a direção de veículo automotor sem habilitação, quando inexistente o
perigo concreto de dano - já evidente pelas razões puramente dogmáticas
anteriormente expostas -, é a que melhor corresponde ao histórico do processo
legislativo do novo Código de Trânsito, assim como às inspirações da melhor
doutrina penal contemporânea, decididamente avessa às infrações penais de perigo
presumido ou abstrato. (HC 84.377, Rel. Ministro Sepúlveda Pertence, Primeira
Turma, julgado em 29/6/2004, DJ 27/8/2004)

EXERCÍCIOS DO ARTIGO 309, DO CTB

Durante bloqueio policial, após sinal de parada do Policial Militar para uma
motocicleta que por ali passava, o condutor desobedeceu a ordem recebida,
empreendendo fuga do local, conduzindo-a perigosamente pelas ruas e avenidas.
Após abordagem, constata-se que o motociclista não possuía Carteira Nacional de
Habilitação ou Permissão para Dirigir. Nessa situação, e conforme estabelece o
Código de Trânsito Brasileiro, é correto afirmar que:

a) apenas cometeu crime por desobediência.

(ERRADA: a desobediência à ordem de parada do agente configura infração de


trânsito capitulada no artigo 208, do CTB)

b) apenas cometeu crime por dirigir sem possuir habilitação ou permissão.

(CORRETA: conforme artigo 309, do CTB, caracteriza o crime quando o motorista


dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou
Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano)

c) haveria crime apenas e tão somente se tivesse se envolvido em acidente de


trânsito.

63
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

(ERRADA: para caracterização do Art. 309 do CTB basta a existência de uma


situação de efetivo perigo, sem a necessidade de produzir um dano efetivo, mas
com a possibilidade de que esse venha a ocorrer, colocando em perigo o bem
jurídico protegido)

d) não há crime algum pois inexiste o crime de fuga.

(ERRADA: embora inexista a previsão legal do crime de fuga, restou caracterizado o


artigo 309, do CTB)

Durante a Operação Direção Segura Integrada (ODSI), realizada na Avenida


Paulista, na cidade de São Paulo/SP, condutor sem habilitação, adolescente, na
condução de veículo de seu pai, foi abordado por Policiais Militares. Embora
estivesse dirigindo regularmente, sem comprometer o nível de segurança do
trânsito, foi submetido ao teste em aparelho de ar alveolar pulmonar (etilômetro), e
constatou-se que o condutor não apresentava sinais de ingestão de álcool. Com
base nesses dados, é correto afirmar:

a) incorre em atos infracionais de embriaguez ao volante (art. 306 do CTB) e falta de


habilitação para dirigir (art.309 do CTB) somente o motorista.

(ERRADA: consta que o teste etilométrico não acusou ingestão de álcool, bem como
não comprometia o nível de segurança viária durante a direção do veículo)

b) incorre em ato infracional de falta de habilitação para dirigir (art. 309 do CTB) o
motorista e de entregar à pessoa não habilitada veículo automotor (art. 310 do CTB),
o pai do menor.

(ERRADA: o adolescente dirigia sem comprometer o nível de segurança viária)

c) incorre somente no crime de entregar à pessoa não habilitada veículo automotor


(art. 310 do CTB), o pai do menor.

(CORRETA: constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de


veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em
qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da
ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo.)

d) incorre somente no crime de falta de habilitação para dirigir veículo automotor o


motociclista (art. 309 do CTB).

(ERRADA: o adolescente não comprometia o nível de segurança viária durante a


direção do veículo)

64
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

MODELO PROPOSTO DE COLETA DE VERSÃO DO AUTOR DO FATO,


TESTEMUNHA E RELATÓRIO DA AUTORIDADE POLICIAL MILITAR

CONDIÇÃO: AUTOR (A)

Autor do fato declarou que dirigia o veículo sem


habilitação ou permissão pois... (explique o motivo, por
mais que não justifique a conduta; por exemplo: “... pois
não tem dinheiro para habilitar-se; ...pois já foi (ou não)
aprovado nos exames para obtenção da habilitação/permissão,
mas ainda não recebeu o documento); que ziguezagueou com
o... (automóvel, motocicleta, caminhão etc.), mas tinha
pleno domínio da direção; que se compromete a comparecer no
JECRIM quando intimado. NADA MAIS. (se o autor alegar que
dirigia porque alguém lhe deu o volante ou lhe permitiu
dirigir, lembre-se que esta pessoa que o autorizou
responderá pelo crime do art. 310, do CTB)

CONDIÇÃO: TESTEMUNHA (T)

Testemunha compromissada, declarou que notou o veículo...


(identificar o veículo) ziguezaguear pela
Rua/Rodovia...(descrever o logradouro); que o veículo quase
subiu sobre a calçada (ou “... quase atropelou um pedestre;
quase chocou-se contra um poste; quase chocou-se ou colidiu
com outros veículos; ou seja, procure demonstrar o perigo
de dano gerado pelo motorista não habilitado). Nada mais.

65
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

CONDIÇÃO: TESTEMUNHA (T)

Testemunha compromissada, declarou que patrulhava pela


Rua/Rodovia... (descrever o logradouro) e sinalizou
determinando a parada do veículo... (identificar o veículo)
conduzido pelo autor do fato; que o autor desobedeceu a
ordem de parada e empreendeu fuga; que durante a fuga, em
velocidade incompatível com a via, o autor quase colidiu
com outros veículos (ou “... quase atropelou pedestres; ou,
...quase chocou-se contra um poste”, etc.); que abordado e
inquirido, o autor confessou ter fugido por não ser
habilitado. Nada mais.

RELATÓRIO DA AUTORIDADE POLICIAL MILITAR

Tratou-se de crime de direção não habilitada de veículo


automotor. O autor do fato, abordado e inquirido a respeito
confessou não possuir habilitação ou permissão para
dirigir. O autor dirigia o veículo de forma perigosa pois
ziguezagueava na pista (ou “... quase atropelou o pedestre
arrolado como testemunha; ou, ...quase chocou-se contra um
poste”; ou, ...quase colidiu durante a fuga empreendida
contra outros veículos, etc.). O perigo gerado foi
testemunhado pelas testemunhas arroladas neste termo (ou,
“... o perigo gerado foi presenciado por esta autoridade
policial militar”). O autor comprometeu-se a comparecer no
JECRIM quando intimado. Foram tomadas as seguintes medidas
administrativas (relacione AIT e CR conforme o caso).
Ocorrência apresentada ao Sr. Tenente PM (nome completo do
Oficial de Serviço). Era o que havia a relatar.

66
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

NATUREZA: ENTREGA DE DIREÇÃO À PESSOA NÃO HABILITADA/DIRIGIR


SEM ESTAR HABILITADO (ARTIGOS 310 E 309, AMBOS DO CTB)

Artigo 310 do CTB: Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a


pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso,
ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez,
não esteja em condições de conduzi-lo com segurança:

Penas: detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Objetividade jurídica: segurança viária.

Sujeito ativo: qualquer pessoa que possa permitir, confiar ou entregar o veículo a
outrem.

Sujeito passivo: a coletividade.

Veículo automotor: é elementar do tipo.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
1. Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo
automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das
situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão
ou de perigo de dano concreto na condução do veículo (SÚMULA STJ nº 575,
PUBLICADA EM 27/06/16).

2. São as condutas de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a


alguém, as quais possuem praticamente o mesmo significado. Entregar significa
passar o veículo às mãos ou à posse de alguém. Nas modalidades permitir e confiar,
o agente expressa ou tacitamente consente no uso do veículo. Assim, responde pelo
crime o pai que abertamente autoriza o filho não habilitado (maior o menor de idade)
a utilizar o seu veículo e aquele que, ciente de que o filho irá sair com o veículo, não
toma qualquer providência no sentido de impedi-lo.

67
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

3. Portanto, o crime pode ser praticado por ação ou omissão.

4. Assim, constatando-se a infração aos artigos 162, inciso I (não possuir


habilitação); II (habilitação cassada ou suspensa), art. 165 (dirigir sob influência de
álcool) e 252, inciso III (dirigir com incapacidade física ou mental temporária), todos
do CTB, o Policial Militar deverá diligenciar no sentido de discernir se a direção foi
confiada, entregue ou se alguém permitiu ao condutor infrator que conduzisse o
veículo.

5. Caso confirmado tais circunstâncias e devidamente identificada a pessoa, deverá


lavrar o AIT por infração aos artigos 163, 164 (na hipótese do condutor ter infringi do
o art. 162, inciso I ou o art. 162, inciso II) ou 166 (na hipótese do condutor ter
infringido o art. 165 ou 252, inciso III), todos do CTB, além de lançar no “campo de
observações” do AIT os dados de quem dirigia e nº do AIT lavrado no condutor.

6. Obtida a confirmação sobre o cometimento deste crime e o infrator estiver


devidamente identificado, o Policial Militar deverá lavrar também o AIT por infração
específica, conforme o caso concreto.

7. Quanto às providências alusivas à matéria penal, o Policial Militar deverá atentar


quanto ao seguinte:

7.1. como se trata de crime de perigo abstrato ou presumido, independe do


cometimento dos crimes capitulados nos art. 306, 307 e 309, tudo do CTB, que são
todos de perigo concreto;

7.2. também constitui este crime, a entrega da direção a condutor que esteja com
habilitação cassada e com o direito de dirigir suspenso (penalidades impostas pelos
órgãos ou entidades executivos de trânsito), condutas não contempladas na redação
do art. 307;

7.3. elaborar o BO-PM/TC descrevendo sucintamente o fato registrando as


providências adotadas na esfera administrativa;

7.4. por se tratar de crime de ação penal pública incondicionada, tratando-se de


infração de menor potencial ofensivo, incidem as disposições da Lei 9.099/95,
devendo-se apresentar o infrator no plantão do JeCrim (caso exista, ou não
existindo, o BOPM/TC será encaminhado pela OPM no primeiro expediente útil);
68
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

7.5. na impossibilidade de identificar a autoria do delito, nos termos da Resolução


SSP/SP nº 057/15, encaminhar a cópia do BOPM/TC no primeiro expediente útil à
delegacia de polícia local para fins das demais medidas de polícia judiciária
decorrentes.

JURISPRUDÊNCIA DO CRIME DE ENTREGA DE DIREÇÃO À PESSOA


INABILITADA:

DIREITO PENAL. CARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE ENTREGA DE DIREÇÃO DE


VEÍCULO AUTOMOTOR A PESSOA NÃO HABILITADA. RECURSO REPETITIVO
(ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 901. Precedentes citados: RHC
48.817-MG, Quinta Turma, DJe 28/11/2014; e AgRg no RHC 41.922-MG, Quinta
Turma, DJe 15/4/2014. REsp 1.485.830-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel.
para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 11/3/2015, DJe
29/5/2015.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. HABEAS CORPUS.


TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ART. 310 CTB. ENTREGAR A DIREÇÃO DE
VEÍCULO AUTOMOTOR A PESSOA INABILITADA. CRIME DE PERIGO
ABSTRATO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. O delito descrito no art. 310 do CTB é crime de perigo abstrato, não se exigindo
dano concreto ou mesmo potencial. 2. A matéria objeto do presente recurso foi
objeto de análise pela 3ª Seção - Resp n. 1485830/MG - admitido como
representativo de controvéria. 3. Agravo regimental improvido.

SÚMULA 575 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Órgão Julgador TERCEIRA


SEÇÃO Data da Decisão 22/06/2016 Fonte: DJE DATA:27/06/2016, página 754 de
768
Ementa: Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de
veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em
qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da
ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo.

69
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

EXERCÍCIOS DO ARTIGO 310, DO CTB

I. Durante bloqueio policial, após sinal de parada do Policial Militar foi abordado
veículo automotor tendo em seu interior um casal. Após abordagem, constata-se que
a motorista se tratava da esposa do passageiro (dono do automóvel), sendo
confirmado que a esposa não possuía Carteira Nacional de Habilitação ou
Permissão para Dirigir. Nessa situação, é correto afirmar:
a) inexiste crime, e sim mera infração administrativa.
(ERRADA: está caracterizado o crime do artigo 310, do CTB)
b) apenas cometeu crime por dirigir sem possuir habilitação ou permissão.
(ERRADA: conforme artigo 309, do CTB, caracteriza o crime quando o motorista
dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou
Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano)
c) haveria crime apenas e tão somente se tivesse se envolvido em acidente de
trânsito.
(ERRADA: para caracterização do Art. 309 do CTB basta a existência de uma
situação de efetivo perigo, sem a necessidade de produzir um dano efetivo, mas
com a possibilidade de que esse venha a ocorrer, colocando em perigo o bem
jurídico protegido)
d) o marido incorre no crime de entregar à pessoa não habilitada veículo automotor
(art. 310 do CTB).
(CORRETA: constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de
veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em
qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da
ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo.)

II. Durante patrulhamento, foi abordado um menor na condução de veículo


automotor que alegou estar indo à farmácia comprar remédio para familiar enfermo.
Não se verificou que estivesse o adolescente dirigindo de maneira à comprometer o
nível de segurança do trânsito. Com base nesses dados, é correto afirmar:
a) incorre em ato infracional de falta de habilitação para dirigir.

70
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

(ERRADA: consta que não comprometia o nível de segurança viária durante a


direção do veículo, restando ao motorista somente infração administrativa)
b) incorre em ato infracional de falta de habilitação para dirigir o motorista e crime de
confiar ou permitir que pessoa não habilitada conduzisse veículo automotor na via
pública.
(ERRADA: o adolescente dirigia sem comprometer o nível de segurança viária)
c) incorre somente no crime de permitir ou confiar à pessoa não habilitada veículo
automotor.
(CORRETA: constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de
veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em
qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da
ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo.)
d) incorre somente em infração administrativa aquele que permitiu ou confiou a
direção de veículo automotor ao menor inabilitado (art. 163 ou 164 do CTB).
(ERRADA: constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de
veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em
qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da
ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo.)

MODELO PROPOSTO DE COLETA DE VERSÃO DO AUTOR DO FATO,


TESTEMUNHA E RELATÓRIO DA AUTORIDADE POLICIAL MILITAR

CONDIÇÃO: AUTOR (A)


(neste caso trata-se da versão do motorista inabilitado)

Autor de direção não habilitada, declarou que seu pai lhe


permitiu dirigir até ao lava-rápido para lavar o carro; que
está providenciando sua habilitação no Centro de Formação
de Condutores, mas ainda não passou em todos os exames; que
fugiu da polícia por não ser habilitado; que perdeu a
direção do veículo durante a fuga mas não feriu ninguém;
que se compromete a comparecer no JECRIM quando intimado.
NADA MAIS.

71
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

CONDIÇÃO: AUTOR (A)


(neste mesmo TCO qualificar e ouvir o autor do crime de entrega da direção à
pessoa não habilitada)

Autor do crime de entrega de veículo direção não


habilitada, declarou que permitiu que seu filho dirigisse
seu veículo até o lava-rápido pois, apesar de não possuir
habilitação é bom motorista e está sendo habilitado; que se
compromete a comparecer no JECRIM quando intimado. NADA
MAIS. (ou, “... que não sabia que seu filho tinha pegado
seu veículo; que não o autorizou a dirigir o carro”); mesmo
que a pessoa não assuma ter permitido a direção, diante da
versão apresentada pelo motorista, deverá ser qualificado
como autor para que, em juízo, prove sua inocência.

CONDIÇÃO: TESTEMUNHA (T)


(no caso de abordagem ou acompanhamento e cerco policial o patrulheiro poderá
ser qualificado como testemunha)

Testemunha compromissada, declarou que realizava bloqueio


policial quando viu o veículo sendo conduzido pelo autor
Fulano de Tal (procure evitar referências “autor 1”,
prefira nominar) empreender fuga; que acompanhou o veículo
por aproximadamente cinco quilômetros (quarteirões etc),
sinalizando e determinando a parada do veículo...
(identificar o veículo); que durante a fuga o autor
empreendia grande velocidade e quase causou acidentes pois
desobedecia os sinais de parada obrigatório e dos
semáforos; que, interceptado, o autor confessou ter fugido
por não possuir habilitação e que, por isso, fugiu;
confessou, ainda, que seu pai lhe permitiu dirigir até o
lava-rápido. Nada mais.

72
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

RELATÓRIO DA AUTORIDADE POLICIAL MILITAR

Trata-se do delito de entrega de veículo à pessoa não


habilitada em conexão com o delito de dirigir sem estar
habilitado. Durante a realização de bloqueio policial o
veículo conduzido pelo autor Fulano de Tal (não utilizar
“autor 1”) empreendeu fuga. Iniciado acompanhamento e cerco
policial ao veículo se estendeu por aproximadamente cinco
quilômetros. Durante a fuga o autor empreendia grande
velocidade e quase causou acidentes, pois desobedecia aos
sinais de parada e dos semáforos. Interceptado, o autor
confessou não possuir habilitação e que, por isso, fugira.
Aduziu, ainda, que seu pai, autor (nominar), lhe permitiu
dirigir até o lava-rápido. Ouvido o Sr. (autor do delito de
entrega do veículo) confessou ter permitido seu filho
dirigir o veículo. Os autores foram qualificados mediante a
exibição de seus documentos de identidade e comprometeram-
se a comparecer no JECRIM quando intimados. Foram tomadas
as seguintes medidas administrativas (relacione AIT e CR
conforme o caso). Ocorrência apresentada ao Sr. Tenente PM
(nome completo do Oficial de Serviço). Era o que havia a
relatar.

FONTES DE PESQUISA:

SILVA JÚNIOR, Azor Lopes da. Manual de Apoio Jurídico Operacional: Termo
Circunstanciado de Ocorrência. 2003.
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Legislação penal especial 4. 9. Ed. São
Paulo, Saraiva, 2014.

73
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

AULA 18

ASSUNTO: INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

ESTUDO DOS TIPOS PENAIS MAIS INCIDENTES

Análise sobre o Contido no Art. 163

(Decreto-Lei nº 2.848 - Código Penal)

Conceito de DANO: Destruir, inutilizar ou


deteriorar coisa alheia:

Dano: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Objetividade jurídica: patrimônio alheio.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: qualquer pessoa.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

1. O crime de dano somente existe na forma dolosa.

2. Acidentes que levam a danificação de patrimônio alheio constituem ilícito civil e


não criminal (por exemplo: carro que manobra e colide com bomba de combustível
em auto posto; carro que, em manobra, atinge outro carro; carro que ao manobrar
derruba muro, poste, luminária, etc. de terceiro; nestes casos o policial não lavrará
Termo Circunstanciado mas BOPM).

3. Se o agente destrói, inutiliza ou deteriora obstáculo para praticar furto, não haverá
crime de dano, mas furto qualificado pelo rompimento ou destruição de obstáculo.

4. Se o dano é contra patrimônio público (monumentos, prédios, viaturas,


equipamentos de radar, lâmpadas, jardins, bancos de praças, etc.) ou de
74
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

concessionária de serviço público (postes, cabinas telefônicas ou aparelho, fiação


elétrica ou telefônica, etc.), o crime é qualificado e deve-se proceder a Inquérito
Policial e não Termo Circunstanciado.

5. Sendo crime que se move por ação penal privada, somente se procederá
mediante queixa-crime intentada por advogado do querelante no prazo de seis
meses sob pena de decadência. Assim, não se colhe representação da vítima, mas
seu requerimento para lavratura do Termo Circunstanciado, cientificando-se a vítima
desta formalidade.

6. Sempre deverá ser requisitado exame pericial do Núcleo de Perícias


Criminalística, para comprovar a materialidade do crime.

7. Um Oficial deverá acompanhar a lavratura ou auditá-la ao final, subscrevendo o


Termo Circunstanciado em campo próprio.

TIPO PENAL E COMENTÁRIOS SOBRE O CRIME DE DANO:

1. Dano – Art. 163 – Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena – detenção,
de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

2. Dano qualificado Parágrafo único – Se o crime é cometido: I – com violência à


pessoa ou grave ameaça; II – com emprego de substância inflamável ou explosiva,
se o fato não constitui crime mais grave; III – contra o patrimônio da União, Estado,
Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia
mista; IV – por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: Pena –
detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa, além da pena correspondente
à violência.

3. O dano enquanto crime não se confunde com o ilícito civil; ainda que ambos
objetivem proteger o patrimônio alheio dos prejuízos causados por terceiros, o crime
somente existirá quando a destruição (a coisa desaparece), inutilização (a coisa
perde suas propriedades para utilização mas continua existindo) ou a deterioração
(a coisa é diminuída em sua qualidade, mas permanece funcional e existente) forem

75
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

dolosas. A destruição, inutilização ou deterioração provocadas por culpa


(imprudência, imperícia ou negligência) serão enquadradas exclusivamente como
ilícito civil passíveis de indenização ou ressarcimento.

4. A ação penal será privada, dependendo de formal queixa-crime, nos casos do


caput (dano simples) e do inciso IV (dano qualificado praticado por motivo egoístico
ou com prejuízo considerável para a vítima), enquanto as formas previstas nos
incisos I, II e III, a ação será publica incondicionada.

5. Nos primeiros casos em que a ação é privada, importa trazer à lembrança o que o
Código de Processo Penal (art. 5º, § 5º) fala que a ação dependerá de prévio
requerimento do ofendido; este requerimento não se confunde com a representação
que é condição de procedibilidade. Bastará, como requerimento, ao ofendido
manifestar-se ao agente do Estado no sentido de que deseja o registro do fato e a
preservação das provas (a coisa danificada deverá ser periciada pela Polícia
Técnico-Científica), seja por meio de Termo Circunstanciado (cabível no caso do
caput) seja através de Inquérito Policial (cabível no caso do inciso IV), sendo
descabido exigir-se requerimento formal e escrito, especialmente no registro por
Termo Circunstanciado, sendo recomendável, todavia, consignar em sua versão que
o ofendido o requer.

6. É interessante apontar que, por medida de política criminal, o artigo 181 do CP


isenta de pena, reconhecendo a existência do crime mas deixando de punir, o
agente em algumas situações (Art. 181 – É isento de pena quem comete qualquer
dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I – do cônjuge, na constância da
sociedade conjugal; II – de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo
ou ilegítimo, seja civil ou natural.) o que não afasta a necessidade de registro policial
e a submissão do caso ao Poder Judiciário que, somente na ocasião da sentença,
poderá declarar a isenção de pena.

7. Ainda neste tocante, é necessário apontar que partícipes (aqueles auxiliam na


preparação do crime) ou coautores (aqueles que auxiliam na execução do crime)
não serão beneficiados com a isenção de pena aplicável ao cônjuge (marido, mulher
ou aqueles em união estável há mais de dois anos) , ascendente (pais, avós) ou
descendente (filhos, netos, bisnetos), à vista do que dispõe o artigo 30 do CP

76
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

(Circunstâncias incomunicáveis – Art. 30 – Não se comunicam as circunstâncias e


as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.); ora, a
relação familiar é de caráter pessoal e não é elementar neste crime. Desta forma,
suponha-se que o marido leve para casa um amigo de botequim e lá ambos
destruam a casa ou os bens que a guarnecem, o marido ficará isento de pena já seu
amigo será condenado pelo crime de dano.

8. O inciso I trata do crime praticado com violência ou grave ameaça à pessoa; aqui
não se trata de violência à coisa destruída mas a qualquer pessoa que interfira para
impedir a danificação, seja proprietário, possuidor ou agente de proteção
patrimonial. O inciso III trata do crime qualificado (observe-se que a pena é superior
e assim não será objeto de registro por T.C.) quando o bem for público ou de
propriedade de concessionária de serviço público (concessionária é a empresa que
realiza serviço público por contrato de concessão ou permissão firmado com o poder
público; por exemplo as empresas de telefonia pública) ou, ainda, de sociedade de
economia mista (são empresas em que o Estado tem participação majoritária no
capital acionário; por exemplo a Caixa Econômica Estadual). Aqui o que o legislador
quis proteger não foi o patrimônio da empresa em si, mas aquilo que, direta ou
indiretamente, é patrimônio do povo ou é de utilidade pública e não particular, eis a
razão da pena majorada e da ação ser pública incondicionada.

JURISPRUDÊNCIA SOBRE O CRIME DE DANO SIMPLES

DANO – Deterioração causada pela simples retirada de benfeitorias que o locatário


se comprometera a deixar no imóvel, em virtude de acordo celebrado em Ação de
Despejo – Configuração – Inocorrência: - Inteligência: art. 163 do Código Penal. 117
– Inocorre o crime do art. 163 do CP, mas tão-somente ilícito civil, na simples
retirada de benfeitorias que o locatário se comprometera a deixar no imóvel, em
virtude de acordo celebrado em Ação de Despejo, uma vez que os danos são
natural decorrência do levantamento efetuado, não o objetivo dele, sendo certo que
referido delito exige o dolo específico, isto é a vontade livre e consciente de destruir,
inutilizar ou deteriorar coisa alheia, com o fito de prejudicar. (Recurso em Sentido
77
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Estrito nº 1.148.085/3, Julgado em 17/06/1.999, 8ª Câmara, Relator: Roberto


Midolla, RJTACRIM 44/369)
DANO – Agente que ingressa na residência da esposa e desfere tiros contra objetos
– Configuração – Alegação de ser casado com a vítima – Irrelevância: - Inteligência:
art. 163, parágrafo único, I do Código Penal. 62 – Incorre nas penas do art. 163,
parágrafo único, I, do CP, o agente que adentra na residência da vítima e desfere
tiros contra os objetos, não o socorrendo a alegação de que estaria
descaracterizado o delito por ser casado no Civil com a ofendida, pois os danos
teriam ocorrido pela meação dos bens em comum do casal, salvo a existência de
regime de separação de bens em condições especiais. (Apelação nº 900.601/1,
Julgado em 20/10/1.994, 15ª Câmara, Relator: - Décio Barretti, RJDTACRIM 24/125)

DANO – Ato praticado contra empresa de ônibus permissionária da execução de


serviços de utilidade pública – Provocação do Juízo por meio de queixa-crime –
Necessidade: - Inteligência: art. 163, caput do Código Penal, art. 167 do Código
Penal. 64 – A provocação da prestação jurisdicional no crime de dano praticado
contra ônibus de empresa particular, permissionária da execução de serviço de
utilidade pública, deve ser realizada por meio de queixa-crime, vez que não se pode
confundir a concessão prevista no art. 163, parágrafo único, III, do CP, com a
permissão, que ao contrário da primeira, é um ato unilateral do Poder Público, que
compreende uma licença para prestação de serviço de utilidade pública sem
nenhuma exclusividade. (Apelação nº 887.643/5, Julgado em 13/12/1.994, 14ª
Câmara, Relator: - Oldemar Azevedo, RJDTACRIM 24/128)

ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE OUTRO MEIO DE TRANSPORTE –


Agente que atira bolas de gude contra o parabrisa de coletivo, impedindo-o de
prestar serviço público – Caracterização – Absorção do crime de dano –
Entendimento: - Inteligência: art. 163 do Código Penal, art. 262 do Código Penal. 36
– Inocorre crime de dano na conduta do agente que atira, com um estilingue, bolas
de gude contra o parabrisa de coletivo, quebrando-o e impedindo-o de continuar a
prestar serviço público, e sim o delito previsto no art. 262 do CP, sendo certo que, a
figura do art. 163, do mesmo “Codex, fica por aquele absorvida. (Apelação nº

78
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

843.955/2, Julgado em 11/08/1.994, 1ª Câmara, Relator: - Damião Cogan,


RJDTACRIM 23/86)

PROVA – Queixa-crime – Laudo pericial não apresentado – Inadmissibilidade da


instauração de ação penal – Inteligência: art. 163 do Código Penal, art. 44 do Código
de Processo Penal – Writ concedido – Inteligência: art. 163 do Código Penal

EXERCÍCIOS DO ARTIGO 163, DO CP

I. Suponha-se que José, de forma imprudente na condução de veículo automotor,


venha a colidir numa viatura da PMESP, destruindo-a de forma parcial, cujo veículo
oficial se encontrava parado e os policiais militares desembarcados. Neste caso, é
correto afirmar:
A) Responderá pelo crime de dano culposo.
(ERRADA: inexiste o crime de dano na modalidade culposa.)
B) Responderá pelo crime de dano qualificado, haja vista que a viatura pertence ao
estado de São Paulo.
(CORRETA: quando a coisa alheia pertencer ao estado o crime será qualificado.)
C) Responderá pelo crime de dano simples, previsto no art. 163 caput do CP.
(ERRADA: quando a coisa alheia pertencer ao estado o crime será qualificado.)
D) Não praticou delito de dano.
(ERRADA: trata-se do delito de dano qualificado haja vista a coisa alheia pertencer
ao estado.)

II. Assinale a alternativa correta, quanto ao crime de dano, previsto no art. 163,
caput, do decreto-lei nº 2848/40 (Código Penal).
A) Em regra, pode cometer este crime, o proprietário da coisa.
(ERRADA: pune-se somente se a coisa pertencer a outrem.)
B) Há previsão apenas na modalidade dolosa.
(CORRETA: inexiste o crime na modalidade culposa, mas somente ilícito civil.)
C) Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada.

79
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

(ERRADA: trata-se de crime de ação penal privada.)


D) Comete este crime, o agente que destrói o vidro de veículo para subtraí-lo.
(ERRADA: trata-se de furto qualificado quando a intenção era a subtração da coisa
alheia.)
Modelo proposto de coleta de versão do autor do fato, vítima, testemunha
e relatório da autoridade policial militar:

CONDIÇÃO: VÍTIMA (V)

Vítima de dano simples, declarou que: nesta data, por volta


das __:__horas, estava trabalhando em seu bar (descreva
onde estava e o que fazia); que o autor do fato, discutiu
consigo por causa de troco e quebrou o vidro do balcão
(descreva o bem danificado e motivo do dano, se conhecido );
que requer a lavratura do presente termo, ciente de que
deverá constituir advogado para oferecimento de queixa-
crime. Nada mais.

CONDIÇÃO: AUTOR (A)

Autor de dano simples, declarou que: que nesta data, por


volta das __:__horas, estava no bar da vítima tomando uma
cerveja; que a vítima lhe deu troco errado; que argumentou
com a vítima mas ela não concordou e, por isto, quebrou o
vidro do balcão (descreva onde estava/o que fazia/descreva
o motivo); que compromete-se a comparecer no JECRIM quando
intimado; NADA MAIS.

CONDIÇÃO: TESTEMUNHA (T)

Testemunha compromissada, declarou que: nesta data, por


volta das __:__horas, estava no bar da vítima fazendo
compras; que ouviu uma discussão entre a vítima e o autor;
que ouviu que o motivo era em razão de troco(descreva o
motivo se conhecido, caso contrários: “...que desconhece o
motivo...”; que viu o autor ficar nervoso e chutar o vidro
do balcão quebrando-o. Nada mais.

80
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

RELATÓRIO DA AUTORIDADE POLICIAL MILITAR

Tratou-se de dano simples. O autor do fato, discutiu com a


vítima, dono de um bar, por motivo de troco e, irritado,
quebrou o vidro do balcão com um chute. O autor
comprometeu-se a comparecer no JECRIM quando intimado. A
vítima requereu a lavratura deste termo, cientificada de
que deverá constituir advogado, dentro do prazo decadencial
de seis meses, para oferecimento de queixa-crime. Foi
requisitado ao Núcleo de Perícias Criminalística local
exame pericial no bem danificado. Pesquisados os
antecedentes policiais do autor e da vítima, através do
sistema PRODESP, foi informado “nada consta” (caso haja
registros positivos, pedir ao CAD a impressão e juntá-la ao
T.C.: “... foi informado constarem os registros descritos
no documento incluso ...). Ocorrência apresentada ao Sr.
Tenente PM (nome completo do Oficial Comandante Força
Patrulha). Era o que havia a relatar.

FONTES DE PESQUISA:

SILVA JÚNIOR, Azor Lopes da. Manual de Apoio Jurídico Operacional: Termo
Circunstanciado de Ocorrência. 2003.

81
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Análise sobre o contido no Art. 31

(Decreto-Lei nº 2.848 - LCP)

Conceito de OMISSÃO DE CAUTELA NA


GUARDA OU CONDUÇÃO DE ANIMAIS: Deixar
em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou não guardar com a
devida cautela animal perigoso:

Pena: prisão simples, de dez dias a dois meses, ou multa, de cem mil réis a um
conto de réis.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
a) na via pública, abandona animal de tiro, carga ou corrida, ou o confia à pessoa
inexperiente;
b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia;
c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo a segurança alheia.

Objetividade jurídica: a incolumidade pública.

Sujeito ativo: aquele que deixou em liberdade, confiou à guarda de pessoa


inexperiente, ou não guardou com a devida cautela animal perigoso.

Sujeito passivo: a coletividade.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

1. Diz a Lei das Contravenções Penais: Art. 31 – Deixar em liberdade, confiar à


guarda de pessoa inexperiente, ou não guardar com a devida cautela animal
perigoso: Pena – prisão simples, de 10 (dez) dias a 2 (dois) meses, ou multa.
Parágrafo único – Incorre na mesma pena quem: a) na via pública, abandona animal
de tiro, carga ou corrida, ou o confia a pessoa inexperiente; b) excita ou irrita animal,
expondo a perigo a segurança alheia; c) conduz animal, na via pública, pondo em
perigo a segurança alheia.
82
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

2. Não há a necessidade de ocorrência de vítimas, bastando o perigo gerado; neste


caso a vítima é “A SOCIEDADE”; desta forma, não há que se perguntar sobre o
desejo ou não de representação, pois a contravenção é de ação penal pública
incondicionada.

3. Se alguma pessoa é atacada e ferida o caso será de registro de Termo


Circunstanciado por Lesão Corporal Culposa (art. 129, § 6º, CP), pois o proprietário
do animal foi imprudente na guarda ou condução do animal; neste caso teremos que
a pessoa ferida será qualificada como vítima e lhe será questionado se deseja
representar contra o proprietário do animal.

4. No modelo acima, exemplificamos duas espécies de conduta omissiva: em


relação à guarda e outra em relação à condução do animal.

5. Observe-se que animais de carga (cavalos, mulas, bovinos, etc.) deixados em via
pública, fatos comuns em vias rurais ou urbanas periféricas, implicam a mesma
contravenção (vide acima o disposto na alínea “a”, do parágrafo único, do art. 31, da
LCP, cabendo lavratura de Termo Circunstanciado se identificado o proprietário do
animal.

TIPO PENAL E COMENTÁRIOS SOBRE A CONTRAVENÇÃO DE OMISSÃO DE


CAUTELA NA GUARDA E CONDUÇÃO DE ANIMAIS

1. LCP - Omissão de cautela na guarda ou condução de animais - Art. 31 - Deixar


em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou não guardar com a devida
cautela animal perigoso: Pena - prisão simples, de 10 (dez) dias a 2 (dois) meses,
ou multa. Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem: a) na via pública,
abandona animal de tiro, carga ou corrida, ou o confia a pessoa inexperiente; b)
excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia; c) conduz animal, na
via pública, pondo em perigo a segurança alheia.

2. Trata-se, como visto, de uma contravenção de perigo concreto ou real, não


presumido. 3. Não é qualquer animal que aqui é tratado, mas aquele que oferece
perigo à segurança alheia, tanto que esta contravenção se acha inserida no C apítulo
83
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

III da Lei das Contravenções Penais que trata “Das contravenções referentes à
incolumidade pública”.

4. Já o Código Civil de 1.916, estabelecia em seu artigo 1527: “O dono, ou detentor,


do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar: I – que o guardava e
vigiava com cuidado preciso. II – que o animal foi provocado por outro. III – que
houve imprudência do ofendido. IV – que o fato resultou de caso fortuito, ou força
maior” (art. 936 do NOVO CÓDIGO CIVIL).

5. A guarda (custódia, confinamento) destes animais merece cuidados do


proprietário para que não fujam e ataquem outras pessoas. Não se justifica ao
proprietário alegar que o animal se pôs livre contra sua vontade, pois compete-lhe,
na ação de guarda, manter, por qualquer meio eficaz, a vigilância do animal.

6. Logo o termo guarda engloba não só o confinamento, mas também a vigilância.


Muros baixos, cercas que permitam ao animal projetar seu ataque extra muros (para
fora da propriedade), cordas, coleiras ou amarrios frágeis, são típicos casos de
omissão de cautela na guarda do animal.

7. O tipo penal fala também na omissão na condução do animal, punindo-a de igual


forma (temos aqui uma contravenção de ação múltipla). De idêntica maneira, para
proteger a incolumidade pública, exige-se do proprietário que conduza o animal de
maneira segura.

8. São comuns ataques, especialmente de cães, contra pessoas em passeios


públicos.

9. Importa ressaltar que nem todos os animais são passíveis de guarda doméstica,
nos termos da Lei nº 9605, 12.02.98 (Lei do Meio Ambiente), ocasiões em que
caberão a apreensão do animal e lavratura de Termo Circunstanciado por infração
penal ambiental prevista no art. 29, além de Auto de Infração Ambiental para
imposição das penalidades administrativas previstas no artigo 72 da mesma Lei: Art.
29 - Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos
ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da
autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção de seis
meses a um ano, e multa. § 1º - Incorre nas mesmas penas: III - quem vende, expõe

84
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou


transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota
migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros
não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente. § 2º - No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não
considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias,
deixar de aplicar a pena.

10. Relativamente aos animais, é de se lembrar que o artigo 64, da Lei das
Contravenções Penais, foi revogado pelo artigo da 32, da Lei do Meio Ambiente
(caso de registro por Termo Circunstanciado): Art. 32 - Praticar ato de abuso, maus-
tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou
exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

11. Caso o animal, qualquer que seja, ataque pessoa resultando ferimentos, esta
contravenção dará lugar, em desfavor ao seu proprietário, ao crime de lesão
corporal (art. 129, CP) a título de dolo, caso o animal tenha sido instigado para o
ataque, ou culpa, se houve o proprietário com imprudência, imperícia ou negligência
em sua guarda ou condução do animal.

JURISPRUDÊNCIA SOBRE A CONTRAVENÇÃO DE OMISSÃO DE CAUTELA NA


GUARDA E CONDUÇÃO DE ANIMAIS

LESÃO CORPORAL CULPOSA – Proprietário de cachorros que não procede de


forma a evitar ataques contra a integridade física alheia – Configuração: -
Inteligência: art. 129, § 6º do Código Penal. 67 – Ementa oficial: Lesão corporal
culposa. Caso em que um ou mais cães, de propriedade da ré, atacaram duas
vítimas, com resultantes lesões corporais. Arguição defensiva de que a propriedade
de cães não é proibida, nem se pode inibir tenham esses animais potência para
morder, razão por que a condenação da acusada violaria o princípio da legalidade
criminal. Em contrário, porém, esse princípio, que teve origem, para honra dos povos
hispanocêntricos, com a outorga do Rei Dom Alfonso IX, de León e de Galicia, às
Cortes leonesas, em 1188 (antes, pois, da edição da Magna Charta inglesa, datada
85
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

de 1215, à qual, de maneira mítica, se lhe atribui, equivocadamente, a gênese),


repete-se: esse princípio foi observado na espécie, pois a denúncia e a condenação
não concernem à situação civil do domínio ou ao fato da natureza canina, mas à
negligência da ré quanto ao cuidado de impedir o ataque dos cães. Prova suficiente
à condenação. Negativa de provimento ao recurso da defesa. (Apelação nº
971.255/1, Julgado em 22/04/1.996, 11ª Câmara, Relator: - Ricardo Dip, RJTACRIM
32/256)

OMISSÃO DE CAUTELA NA GUARDA DE ANIMAIS – Agente que deixa cachorro


solto – Caracterização – Ocorrência – Inteligência: art. 31 da Lei das Contravenções
Penais. 59 – Incorre nas sanções do art. 31 da LCP o agente que deixa em
liberdade cachorro feroz de sua propriedade, sem guardálo com a devida cautela,
pois, para a concretização da figura contravencional não há a necessidade de dano
efetivo, bastando a situação de perigo. (Apelação nº 728.161/4, Julgado em
13/01/1.993, 10ª Câmara, Relator: - Sérgio Pitombo, RJDTACRIM 17/122)

LESÃO CORPORAL CULPOSA – Cão bravio mantido amarrado com corda –


Rompimento com os dentes – Negligência do proprietário – Configuração. 47 –
Procede com negligência o proprietário de cão sabidamente bravio que o mantém
amarrado com corda e não com corrente, como se impõe. Eis que previsível a
possibilidade de rompimento da corda pelo animal com os seus dentes e sua fuga
para a via pública. (Apelação nº 609.777/7, Julgado em 06/12/1.990, 2ª Câmara,
Relator: - Ribeiro Machado, RJDTACRIM 10/97)

LESÃO CORPORAL CULPOSA – Mordida de cão como causa da lesão –


Negligência na guarda do animal caracterizada – Responsabilidade penal do
proprietário – Inteligência: art. 129, § 6º do Código Penal. 83 – Responde por lesão
corporal culposa quem negligencia na guarda de animal useiro e vezeiro em fugir de
casa, por vezes para, na via pública, atacar transeuntes. (Apelação nº 554.675/8,
Julgado em 20/11/1.989, 12ª Câmara, Relator: - Gonzaga Franceschini,
RJDTACRIM 8/130).

CONTRAVENÇÃO PENAL – Omissão de cautela na guarda ou condução de


animal – Cão mantido solto em propriedade rural que vem a matar outro de menor
porte pertencente a vizinho – Não caracterização – Absolvição decretada. 50(b) –

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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Para configuração do art. 31 da LCP é necessário prova segura de que é perigoso à


incolumidade pública o animal deixado em liberdade. (Apelação nº 605.101/7,
Julgado em 29/03/1.990, 2ª Câmara, Relator: - Ribeiro Machado, RJDTACRIM 7/64)

LESÃO CORPORAL CULPOSA – Negligência na guarda de animal que invade


rodovia, vindo a acarretar acidente – culpa configurada – condenação mantida. 95 –
A quem tem, pelo menos, a posse de animal incumbe a vigilância, principalmente
agir com os cuidados necessários, verificando o cercado, tomando as medidas de
conservação para a proteção de terceiros, até porque previsível a fuga de bovino e
dada a proximidade de estrada, a ocorrência de acidente. (Apelação nº 584.411/3,
Julgado em 13/09/1.989, 5ª Câmara, Relator: - Ribeiro dos Santos, RJDTACRIM
6/107)

EXERCÍCIOS DO ARTIGO 31, DA LCP

Assinale a alternativa correta, quanto à contravenção penal que trata da omissão de


cautela na guarda de animais, previsto no art. 31 do Decreto-lei 3668/41.
A) É atípica a conduta de passear com animal perigoso solto na rua.
(ERRADA: caracteriza o tipo contravencional previsto no caput do artigo 31.)
B) É atípica a conduta de deixar um cavalo solto próximo de rodovia, desde que seja
o costume da localidade.
(ERRADA: caracteriza o tipo contravencional previsto no parágrafo único, alínea a,
do artigo 31.)
C) Corrida de cavalos em via pública, não constitui contravenção penal.
(ERRADA: caracteriza o tipo contravencional previsto no parágrafo único, alínea c,
do artigo 31.)
D) Abandonar um cavalo próximo de via pública constitui contravenção penal.
(CORRETA: caracteriza o tipo contravencional previsto no parágrafo único, alínea a,
do artigo 31.)

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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Assinale a alternativa correta, quanto à contravenção penal que trata da omissão de


cautela na guarda de animais, previsto no art. 31 do Decreto-lei 3668/41.
A) Trata-se de delito, de ação penal privada.
(ERRADA: trata-se de delito, de ação penal pública incondicionada.)
B) Será sujeito ativo da contravenção somente o proprietário do animal.
(ERRADA: poderá figurar como sujeito ativo tanto o proprietário quanto aquele que
detenha temporariamente e pratique as condutas descritas no dispositivo
contravencional.)
C) É contravenção penal, a conduta de conduzir animal, na via pública, pondo em
perigo a segurança alheia.
(CORRETA: caracteriza o tipo contravencional previsto no artigo 31.)
D) Não é de competência do Juizado Especial Criminal (JECrim).
(ERRADA: trata-se de infração de menor potencial ofensivo, porquanto está prevista
a pena de prisão simples, de dez a dois meses, ou multa.)

MODELO PROPOSTO DE COLETA DE VERSÃO DO AUTOR DO FATO,


TESTEMUNHA E RELATÓRIO DA AUTORIDADE POLICIAL MILITAR:

CONDIÇÃO: AUTOR (A)

Autor de omissão na guarda de animais, declarou que: é


proprietário de um cão de raça “Pit-Bull”; que nesta data
seu animal saltou o muro de sua casa e atacou o cão de um
vizinho; que o cão atacado estava dentro do quintal do
vizinho, porém o portão estava aberto; que foi até o local
e apartou os animais; que o cão não atacou nenhuma pessoa;
que é a primeira vez que isto ocorre; que se compromete a
comparecer no JECRIM quando intimado. Nada mais. (ou “Autor
de omissão na condução de animais, declarou que: é
proprietário de um cão de raça “Pit-Bull”; que passeava com
o animal preso em uma guia apropriada; que, ao passar por outra
pessoa acompanhada por outro animal, seu cão se perturbou e
conseguiu soltar-se da guia; que conteve seu animal que não
chegou a atacar qualquer pessoa ou animal; que se compromete a
comparecer no JECRIM quando intimado. Nada mais.)
CONDIÇÃO: TESTEMUNHA (T)

88
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

CONDIÇÃO: TESTEMUNHA (T)

Testemunha compromissada, declarou que: é vizinho do autor


do fato; que o autor possui um cão da raça “Pit-Bull”
extremamente instável e violento; que o muro frontal da casa
de seu vizinho é muito baixo (cerca de um metro) e o cão
sempre salta para a rua e ataca pessoas ou outros animais;
que nesta data, o animal entrou em seu quintal, enquanto o
portão era aberto, e atacou seu cachorro; que o autor
apartou os animais e recolheu o seu; que acionou a polícia
militar pelo perigo constante gerado pelo animal. Nada mais.
(ou “Testemunha compromissada, declarou que: passeava com
seu cão quando o animal do autor se perturbou, desvencilhou-
se da guia e investiu contra seu animal; que o animal não
causou lesões na testemunha ou em seu cão. Nada mais.)

CONDIÇÃO: TESTEMUNHA (T)

Testemunha compromissada, declarou que: é vizinho do autor


do fato; que tem conhecimento de que o cão de propriedade
do autor do fato já, por várias vezes, saltou por sobre o
muro e atacou pessoas e outros animais; que não presenciou
o acontecimento registrado neste termo circunstanciado m as
faz questão de depor pois teme pela insegurança causada
pelo animal de propriedade de seu vizinho. Nada mais. (ou
“que fazia caminhada quando viu um animal de raça “Pit-
Bull” soltar-se da guia de seu dono e atacar um outro cão;
que ninguém se feriu mas houve o perigo. Nada mais.

89
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

RELATÓRIO DA AUTORIDADE POLICIAL MILITAR

Tratou-se de omissão na guarda de animais. O autor do fato


possui um cão da raça “Pit-Bull” que permanece guardado em
sua propriedade mas constantemente foge, pois o muro é
baixo. Relatou a testemunha Fulano que hoje o dito animal
fugiu, adentrou em seu quintal e atacou seu cão que estava
preso. A testemunha Ciclano, vizinha do autor, relatou que
são constantes as fugas e ataques por parte do animal. Não
houve vítimas mas ficou claro o perigo gerado pela omissão
na guarda. (ou “Tratou-se de omissão na condução de
animais. O autor trazia o animal preso por uma guia mas
descuidou-se na condução e o animal soltou-se, vindo a
atacar outro. Não houve vítimas mas ficou claro o perigo
gerado pela omissão na condução.) Ocorrência apresentada ao
Sr. Tenente (nome completo do Oficial Comandante de Força
Patrulha). Era o que havia a relatar.

FONTES DE PESQUISA:

SILVA JÚNIOR, Azor Lopes da. Manual de Apoio Jurídico Operacional: Termo
Circunstanciado de Ocorrência. 2003.
PARIZATTO, João Roberto. Das contravenções penais: doutrina e jurisprudência.
Campinas. Ed. Copola, 1995.

90
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

AULA 19

Análise sobre o Contido no Art. 329 (Resistência),


Art. 330 (Desobediência) e Art.
331 (Desacato)

(Decreto-Lei 2848/40 Código Penal)

Resistência

Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a


funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:

Pena - detenção, de dois meses a dois anos.

§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:

Pena - reclusão, de um a três anos.

§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à


violência.

A prática do crime sem sua qualificadora do §1º se caracteriza crime de menor


potencial ofensivo e passível de atendimento pela Polícia Militar e consequente
elaboração de TCO.

Este crime trata do conflito entre o particular e a autoridade no momento em que


cumpre suas funções. Ocorre com o uso de violência ou ameaça contra o
funcionário ou quem o está auxiliando.

É preciso que a oposição se realize através de uma ação positiva.


O ato deve ser legal, ou seja, revestido pelo princípio da legalidade e de
competência do funcionário público que figura no polo passivo da resistência, bem
como alguém que o esteja auxiliando. Caso o ato praticado pelo funcionário público
for ilegal, não há que se falar no cometimento deste crime. Ex: Policial Militar,
durante fiscalização de trânsito, ao solicitar documentos de porte obrigatório, o
condutor do veículo passa a desferir socos e chutes no Policial Militar. Neste caso
há, claramente o cometimento do crime de resistência, pois a pessoa se opôs a ato
legal (apresentação dos documentos de porte obrigatório), resistindo de forma
positiva, desferindo chutes e socos contra o Policial Militar, que é funcionário público
competente para realizar aquela tarefa, outro exemplo: Policial Militar, durante
realização de prisão em flagrante pelo crime de Roubo (Art. 157 do CP), a pessoa
que está sendo presa resiste desferindo chutes e socos contra o PM, que por sua

91
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

vez a contém, algema e conduz ao Distrito Policial. Neste caso há, além do crime de
Roubo, também a prática do crime de Resistência, pois a pessoa se opôs a ato legal
(prisão em flagrante) e Resistiu de forma positiva, desferindo chutes e socos contra
o Policial Militar.

O Artigo 327 do Código Penal define a figura do funcionário público para efeitos
penais “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.”

A Resistência passiva não configura crime, tanto que é preciso a VIOLÊNCIA ou a


AMEAÇA para que se configure o crime de Resistência, desta forma e, com base
nos exemplos já citados, temos as seguintes situações:

Caso o condutor submetido a fiscalização de trânsito se recusasse a fornecer seus


documentos, não apresentando qualquer ato de violência ou ameaça ao Policial
Militar, este aplicaria a Lei 9503/97 (Código de Trânsito Brasileiro-CTB) em seu
artigo 238 que prevê: “Recusar-se a entregar à autoridade de trânsito ou a seus
agentes, mediante recibo, os documentos de habilitação, de registro, de
licenciamento de veículo e outros exigidos por lei, para averiguação de sua
autenticidade:
Infração – gravíssima;
Penalidade – multa e apreensão do veículo;
Medida administrativa – remoção do veículo.

Desta forma, a resistência passiva apenas ensejaria a lavratura de auto de infração


de trânsito e adoção de medidas administrativas legais, mas não haveria nenhuma
conduta criminosa a ser analisada.

No caso do segundo exemplo, a pessoa presa em flagrante delito pelo crime de


Roubo, caso se agarrasse a um poste de energia elétrica e se recusasse a ser
conduzida ao Distrito Policial, os Policiais Militares, deveriam utilizar os meios
moderados e necessários para vencer a resistência passiva e realizar a condução
coercitiva da pessoa, todavia essa ação passiva da pessoa a ser conduzida não
seria classificada como crime.

No caso de ameaça essa precisa cumprir alguns requisitos:

O mal tem que ser futuro, não é preciso ser grave (grave ameaça);

É preciso causar temor. A ameaça pode ser verbal ou real (empunhar algum
material que possa ser utilizado para a prática de violência).
No caso de existir a qualificadora do §1º, o crime deixa de ser de menor potencial
ofensivo e passa a ser obrigatória a apresentação no Distrito Policial.

No caso do DESACATO e da DESOBEDIÊNCIA e também assim os delitos


CONTRA A HONRA, FICAM ABSORVIDOS PELA RESISTÊNCIA.

92
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

A consumação se dá com a VIOLÊNCIA ou com a AMEAÇA, independentemente de


qualquer resultado. Assim, configura-se como CRIME FORMAL.
FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto. Código penal comentado. 2007, Malheiros.

Desobediência

Art. 330 - Desobedecer a ORDEM LEGAL de funcionário público:


Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

Policial Militar, a análise deste tipo penal, traz à tona várias dúvidas com relação ao
cometimento desta crime, em suma, qual o Funcionário Público (todos)? No estrito
exercício da função? Que tipo de ordem? Como se consuma?, entre vários outros
questionamentos.
Certo é que em diversos países não existe este tipo penal, pois a consequência da
desobediência é não adquirir o direito pleiteado, ficando assim compelido a cumprir
a determinação legal do funcionário público, sob pena de não ter seu direito
atendido, pois este prevê o cumprimento de requisitos para que seja atendido.
Para alguns se confunde com a resistência, no entanto após uma análise superficial,
se observa que a resistência é mais grave pois pressupõe comportamento positivo
com relação a violência e ameaça, bem como, devido as diferenças, a pena da
desobediência é menor do que a cominada para a resistência.
Desta forma, vamos passar para a análise do tipo penal e sua aplicação ao serviço
policial militar quando da elaboração de Termos Circunstanciados.
QUAL FUNCIONÁRIO PÚBLICO? O funcionário público stricto sensu, descrito no
artigo 327, caput: “Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos
penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública.” Outrora era chamada de RESISTÊNCIA PACÍFICA.
Resume-se no não cumprimento de ordem legal lançada por funcionário
competente.
É um crime comum. Qualquer pessoa pode cometê-lo.
A desobediência à lei, ao regulamento, as instruções, etc, não configura o crime de
desobediência. A ordem legal deve ser formalmente legal e pessoal. A
desobediência tem que ser a uma ordem emanada de tal pessoa, de maneira
inequívoca, e tem que haver a prova de que foi intimado pessoalmente, senão não
haverá a caracterização do crime de desobediência.
Não basta o pedido. É necessário que seja o descumprimento a uma ordem. Se
houver sanção administrativa prevista em lei para o descumprimento, não resta
caracterizado o crime. Ex: Art. 195 da Lei 9503/97 Código de Trânsito Brasileiro
(CTB).

REQUISITOS:
1) A pessoa a quem a ordem é dirigida tem o DEVER de obedecer;
2) a ordem deve ser LEGAL;
93
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

3) FORMAL;
4) a intimação deve dar-se PESSOALMENTE;
5) não pode envolver SANÇÃO ADMINISTRATIVA. A sanção administrativa, neste
caso, é o preço da desobediência.
O ébrio não possui o dolo para cometimento deste crime, pois tem que haver a
ciência inequívoca da ordem – escutar e entender.
O ato de desobedecer significa não se submeter, não cumprir.
Presta-se tanto para a ação de fazer, como para a ação de deixar de fazer.
AÇÃO DE FAZER, o agente faz o que lhe foi proibido. Consuma-se com a prática do
ato.
AÇÃO DE NÃO FAZER, o agente não faz o que lhe é ordenado. Consuma-se com o
ato de não fazer.
ERRO DE TIPO É o erro sobre a legalidade da ordem. Exclui o dolo.
ERRO DE PROIBIÇÃO é o erro sobre o dever jurídico de obedecer, quando o
agente sabe o que faz, mas imagina ser permitido: isenta de pena ou a reduz de um
sexto a um terço (art. 21).
Não há a modalidade culposa.

Fonte:- aulas expositivas - FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto. Código penal


comentado. 2007, Malheiros.

94
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Desacato

Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em


razão dela:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

Desacatar é faltar ao respeito ao funcionário, insultar, humilhar,


menoscabar, achincalhar, afrontar. A conduta pode se desenvolver por palavras,
gestos, risos, gritos, imitação de vozes de animais, vias de fato aviltantes, como um
tapa no rosto, etc. É atribuir de forma injusta e caluniosa algo contra funcionário
público típico que esteja no exercício de suas funções ou que seja feito em razão
destas funções.
Não é outra coisa senão uma forma especial de crime contra a honra,
que tem por motivo ou ocasião a função pública exercida pela vítima (Antolisei,
Manuale, PE, II, p. 363).
Como as palavras e gestos têm significados diferentes e até
antagônicos, conforme os sujeitos envolvidos, as circunstâncias, o tom usado e a
causa determinante, pode ser que alguém profira um palavrão, com a intenção de
agradar, e incida em erro de tipo, e pode ocorrer que um funcionário escute um
vitupério e o tome como manifestação de apreço. O fato será, então, atípico.
Assim, o para que o conteúdo seja considerado ofensivo, deve passar
por três filtros:

a) o significado corrente da expressão empregada;


b) a intenção do agente ao emprega-la;
c) a compreensão da vítima.

A presença do ofendido é pressuposto essencial que a ofensa seja


realizada na presença física do funcionário/vítima, embora desnecessário que
estejam também outras pessoas presentes.
A ofensa à distância, seja por carta, telefone, fac-símile, e-mail,
telégrafo, ou qualquer outro meio, constitui crime comum contra a honra (calúnia,
difamação ou injúria). Não é necessário, no entanto, que o desacato seja lançado
frente a frente, podendo haver alguma distância ou mesmo até um biombo entre o
ofensor e o ofendido. O importante é que o ambiente seja o mesmo e que o
desacatado tenha conhecimento direto e imediato do desacato, isto é, que possa
diretamente ouvi-lo ou presenciá-lo de alguma forma, logo que proferido.
É um crime comum, que pode ser praticado por qualquer particular e
sua execução é exclusivamente pessoal, exigindo-se a presença do ofendido no
momento do crime.
Admite-se o funcionário no polo ativo somente quando estiver agindo
como particular, mas este ponto é controverso, e muitos autores reconhecem o
95
ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

desacato proferido por funcionário público dentro ou fora das funções, haja ou não
hierarquia entre o ofensor e o ofendido.
O entendimento majoritário dá conta de que, a ofensa atribuída por
funcionário em serviço, representando a administração pública, contra outro
funcionário, também representando a administração, será crime comum contra a
honra do funcionário ofendido, nunca contra a Administração Pública. Isto porque
ninguém pode ofender a si mesmo. Cuide-se que o crime de desacato está inserido
entre os crimes elencados como CONTRA A ADMINISTRAÇÃO, COMETIDOS POR
PARTICULAR.
O advogado pode cometer o crime de desacato, como qualquer outra
pessoa.
Para efeito deste crime, considera-se a definição de funcionário público
do atr. 327 do CP “Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos
penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública.”
A expressão “NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO” refere-se ao chamado
desacato in officio, ou seja, o desacato é proferido na ocasião em que o funcionário
está desempenhando suas atividades funcionais.
Por exemplo, ofender o policial militar no momento em que está fazendo o
patrulhamento.
É irrelevante o motivo da ofensa e se ela se relaciona com a função da
vítima, basta que ela esteja desempenhando seu trabalho na ocasião do desacato.
Há ainda o caso em que o funcionário público é ofendido por causa de
suas funções, nesta hipótese, fica claro que a ofensa se deu em razão das
FUNÇÕES do desacatado. Ex: chamar o Policial Militar de Gambé (rato de esgoto),
Coxinha (termo pejorativo).
No entanto, se o achincalhe não guardar relação com o ofício, e se o
ofendido não estiver em serviço, o caso será de CRIME COMUM CONTRA A
HONRA PESSOAL.
Além do DOLO GENÉRICO de praticar a conduta típica (prevista no
Art. 331), a melhor doutrina exige a presença do elemento subjetivo do injusto
(DOLO ESPECÍFICO), consistente no fim de DESRESPEITAR o funcionário público,
ou seja, na intenção ultrajante.

NÃO HAVERÁ DESACATO


a) com intenção de CRITICAR;
b) em manifestação de VIVACIDADE;
c) durante um ACESSO DE CÓLERA ou exaltação contra o serviço público;
d) em decorrência de FALTA DE EDUCAÇÃO;
e) em RETORSÃO IMEDIATA À OFENSA do funcionário;
f) nos EXCESSOS DE LINGUAGEM cometidos por pessoa EMBRIAGADA.

Não há modalidade culposa.

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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

AÇÃO X OMISSÃO
Em princípio, exige-se uma ação para o preenchimento da figura típica.
Mas não será impossível o desacato por omissão, como por exemplo, o não
cumprimentar o funcionário que lhe estende a mão ou manter-se sentado
acintosamente diante da chegada de uma autoridade superior no recinto.
O desacato é crime formal, consumado no instante em que o sujeito
passivo percebe a ofensa, independentemente de sentir-se ultrajado, e até do seu
eventual perdão. Isto porque o que está em jogo é a dignidade da função, e não a do
funcionário (Hungria, Comentários). Contudo, se a vítima considerar que as palavras
ou gestos não são aviltantes ou desairosos, o fato será atípico, pela ausência de
desacato.
Há posição doutrinária identificando o momento da consumação com
aquele em que foi PROFERIDO o desacato. Sem razão, pois enquanto a vítima não
CONHECER DA OFENSA estaremos ainda no inconclusivo terreno da TENTATIVA.
O bem jurídico que se tenta proteger é a Administração Pública,
especialmente os aspectos relacionados ao seu prestígio junto aos administrados
(sua dignidade e respeito).
CRÍTICA À INSTITUIÇÃO, não configura desacato.
CRÍTICA AO SERVIÇO se a referência dirige-se à maneira de
administrar e à falta de sensibilidade do funcionário público, não há o dolo específico
de macular e humilhar a honra.
Se as críticas, genéricas, são dirigidas ao órgão público, não tipificam o
crime.
Há a necessidade da verbalização do conteúdo no registro dos fatos
para mensuração da afronta, visto que se a peça se refere a “palavras de baixo
calão”, é o caso de nulidade.
O caso do advogado que, ao lhe ser solicitada pelo juiz a exibição de
carteira profissional, indaga-lhe se não pretende examinar também o CIC, a Cédula
do RG e o atestado de vacina, constitui mero desabafo, sem a intenção deliberada
de ultrajar, que constitui elemento subjetivo do tipo penal (não há crime).
Dizer ao promotor não teme-lo e nem à polícia, importa menosprezo ou
desprestígio, configurando tratamento pouco cordial, mas não incorre na tipificação
do crime de desacato (não há crime).
A alteração de voz por parte de advogado com escrivão de cartório que
não certificou o trânsito em julgado de decisão prolatada há mais de 10 dias:
ausência do ânimo calmo e refletido e da intenção de humilhar.
No entanto, há decisões entendendo que o descontrole emocional é irrelevante para
a caracterização de delito.
Se as expressões desrespeitosas forem dirigidas a funcionário que não
se encontrava no exercício de função pública, não resta configurado o crime.
Se o agente, ao ser lavrado contra seu estabelecimento auto de
infração, arrebata-o das mãos da autoridade, amassa-o e o joga ao chão, incide no
crime de desacato.

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ELABORAÇÃO DE BOPM-TC (BASE TEÓRICA/EAD)

Há julgado considerando sujeito passivo do delito o empregado de


empresa prestadora de serviços que exerce função em órgão público, que é
considerado funcionário público para efeitos penais.

Fonte:
- aulas expositivas
- FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto. Código penal comentado. 2007, Malheiros.

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