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Ano ____ Turma _____ Nº ______ Data ____/_____/____ Prof.ª Catarina Gualberto
I
O Tombo da Lua
Uma ocasião, quando desapareceu a Lua, eu estava lá e sei contar tudo.
Não me lembro da idade que então tinha e já na altura me não lembrava. Certo é
que a noite estava muito quente e repassada de azul, assim de tinta – sói dizer-se
– e a Lua tinha-se quieta, redonda e branca, brilhante como lhe competia.
Provavelmente, o Zé Metade cantava o fado, postado à soleira da porta,
enquanto acabava um saquinho de tremoços. O Zé Metade é assim chamado
desde que lhe aconteceu aquela infelicidade: quis separar o Manecas Canteiro do
Mota Cavaleiro quando eles se envolveram à facada na Esquina dos Eléctricos,
por causa de uma questão, segundo uns política, segundo outros de saias. Ambos
usavam grandes navalhas sevilhanas e o Zé caiu-lhes mesmo a meio dos
volteios. Ali ficou cortado em dois, sem conserto, busto para um lado, o resto
para o outro. Daí por diante ficou conhecido por Zé Metade, arrasta-se num
caixote de madeira com rodinhas e deu-lhe para cantar todas as manhãs um fado
melancólico e muito sentido: Ai a profunda desgraça! Em que me viste ó’nha
mãiiii...
Pois nesta altura, com tudo assim quieto e a fazer olho para dormir, que o
Andrade da Mula1 se chegou à janela e disse : “lá a calari...” e depois remirou em
volta a ver se alguém lhe ligava, o que não aconteceu.
Após, olhou para o Céu e bocejou um destes bocejos do tamanho de uma
casa, escancarando muito a bocarra que era considerada uma das mais
competitivas2 da zona oriental. E então aconteceu aquilo da Lua.
Deslocou-se um bocadinho, assim como quem se desequilibrou, entrou a
descer devagar, ressaltou numa ponta de nuvem que por ali pairava feita parva,
e foi enfiar-se inteirinha na boca do Andrade que só fez “gulp” e esbugalhou os
olhos muito. No sítio da Lua, lá no astro, ficou um vinco esbranquiçado como
dobra em papel de seda que logo se apagou e o céu tornou-se bem liso e
escorreito. O Beco ficou um tudo ou nada mais escuro e um gato passou a correr,
pardo, da cor dos outros.
Diz o Zé Metade, no fim de uma estrofe: - Ina cum caraças!
Vai o Andrade lá de cima e atira o maior arroto que jamais se ouviu naquele
Beco.
Era o Zé metade a berrar para dentro “ ’nha mãe, venha cá, senhora, c’o
Andrade engoliu a Lua” e o Andrade a olhar para nós, limpando a boca com as
costas da mão, um ar azamboado.
Seguiu-se o alvoroço costumeiro sempre que havia novidade. Ia um
corrupio de pessoal na rua a falar alto e um ror de gente em casa do Andrade que
estava sentado numa cadeira, pernas muito afastadas, pedindo muita água e
queixando-se que sentia a barriga um bocado pesada.
1
Alcunha que significa que a pessoa come imenso.
2
Outra referência ao facto de a personagem comer muito.
- Ele não teve culpa, ‘tadinho, que ela é que se lhe veio enfiar pela boca
dentro – comentava a mulher do Andrade, torcendo a ponta do avental.
- Mas foi ele que a desafiou... – gritava a mãe do Zé dando punhadas de
uma mão na palma da outra, - Pôr-se ali na janela aos bocejos, olha a farronca!
Agora vem esta a querer baralhar género humano com Manuel Germano. O meu
Zé viu tudo, óviste?
Não tardou, estava o presidente da Junta, muito hirto, no seu casaco de
pijama com flores:
- Isto o meu amigo o que fazia melhor era regurgitar a Lua, ou o Beco ainda
fica mal visto –observou com gravidade e voz de papo.
E o Andrade, moita, ali embasbacado, com os olhos no vago.
Deram-lhe azeite para o homem vomitar, mas nada. Limitou-se a produzir
uns sons equívocos e a esboçar um ar de enjoada repugnância.
- O pior é que se ela sai pelo outro lado nos parte a sanita nova –
abespinhava-se a filha do Andrade, toda de mão na anca – Que coisa mais
escanifobética...
- É levarem-no já para o hospital – gritava o Zé Metade da rua, ansioso por
se ver acompanhado na sua desgraça de vítima do escalpelo cirúrgico.
Mas o presidente da Junta considerou: Então depois a Lua onde é que a
punham? Quem lhes garantia que ela voltava ao sítio? E se os médicos
quisessem ficar com ela lá no hospital e a prantassem dentro dum frasco com
álcool? Que é que aquela gente ganhava com isso? Hã? E em faltando a Lua,
quais eram os inconvenientes? Hã?
- Acabam-se as marés – disse o Paulinho Marujo.
- Coisa de pouca monta – afirmou uma mulher – As marés nunca deram de
comer a ninguém. E quanto à luz, depois da electricidade...
- Então como é que o meu amigo se sente? – perguntava o presidente ao
Andrade.
- Menos mal, muito obrigado. Vai um pedacinho melhor...
- Então ficamos antes assim – recomendou presidente – Vossemecê agora
toma um bicarbonatozinho, um leitinho, e ala para a cama que amanhã é dia de
trabalho. E vocês todos, andor, para casa, em ordem, e não se pensa mais em tal
semelhante!
E assim foram fazendo, aos poucos e poucos.
No dia seguinte, a Humanidade toda estranhou muito o desaparecimento
da Lua e deu-se a grandes especulações.
Era com algum orgulho que a população do Beco via passar o Andrade.
Sempre gaiteiro, apenas um pouco mais gordo.
9. O Andrade
◊ acabou por vomitar a Lua.
◊ tentou, mas não conseguiu vomitar a Lua.
◊ nem sequer tentou vomitar a Lua.
◊ recusou-se a vomitar a Lua.
17. O texto que se segue não tem pontuação. Completa-o, inserindo nos
quadrados os sinais de pontuação correctos (podes usar , . -)
Os automobilistas que nessa manhã de Setembro entravam em Lisboa pela
Avenida Gago Coutinho◊ direitos ao Areeiro◊ começaram por apanhar um grande
susto◊ e◊ por instantes◊ foi◊ em toda aquela área, um estridente rumor de
motores desmultiplicados, travões aplicados a fundo◊ e uma sarabanda de
buzinas ensurdecedora◊ Tudo isto de mistura com retinir de metais◊ relinchos de
cavalos e imprecações guturais em alta grita◊
É que◊ nessa ocasião mesma◊ a tropa do almóada lbn-elMuftar◊ composta
de berberes◊ azenegues e árabes em número para cima de dez mil◊ vinha
sorrateira pelo valado◊ quase à beira do esteiro de rio que ali então
desembocava◊ com o propósito de pôr cerco às muralhas de Lixbuna◊ um ano
atrás assediada e tomada por hordas de nazarenos odiosos◊
Viu-se de repente o exército envolvido por milhares de carros de metal◊ de
cores faiscantes◊ no meio de um fragor estrondoso ◊ que veio substituir o suave
pipilar dos pássaros e o doce zunido dos moscardos ◊ e flanqueado por paredes
descomunais que por toda a parte se erguiam◊ cobertas de janelas brilhantes◊
Assustaram-se os beduínos◊ volteando assarapantados os cavalos◊ no estreito
espaço de manobra que lhes era deixado◊ e Ali-ben-Yussuf◊ lugar-tenente de
Muftar◊ homem piedoso e temente a Deus◊ quis ali mesmo apear-se para orar◊
depois de ter alçado as mãos ao céu e bradado que Alá era grande◊
Nome:
II
___________ 1. Nas orações seguintes, sublinha o SUJEITO
2ª Parte a) Era o Francisco o mais velho dos irmãos.
b) Juntavam-se à porta da cantina, alunos,
professores e os contínuos.
c) Tanto os mais novos como os mais velhos apreciaram a peça.
d) Ela acabava de chegar.
e) Nem um nem outro respondeu.
f) O culpado de tudo foi ele.
g) A Luciana deu as cartas.
V F
Orações coordenadas copulativas são as que se contrariam
entre si.
Orações coordenadas copulativas são as que se completam
ou acrescentam.
Orações coordenadas adversativas sãos as que se contrariam
entre si.
Orações coordenadas disjuntivas são as que se excluem uma
à outra,
Orações coordenadas conclusivas são as que se excluem uma
à outra.
O predicado tem que ter uma forma verbal conjugada.
O predicado só pode ter uma forma verbal.
O infinitivo pode formar predicado sozinho.
Os verbos como SER, FICAR ou PARECER exigem
complemento directo.
O verbo DAR pode ter complemento directo e complemento
indirecto.
Os verbos CONTINUAR e ESTAR exigem nome predicativo do
sujeito.
Há verbos que exigem complemento directo.
Há verbos que não podem ter complemento directo.
Há verbos que não podem ter sujeito.
Pode haver orações sem predicado.
7. Nos quadros seguintes, acaba de conjugar as formas verbais, preenchendo
as pessoas que faltam:
Eu Eu
Tu Tu
Ele/Ela interveio Ele/Ela dissesse
Nós Nós
Vós interviestes Vós dissésseis
Eles/El Eles/El
as as
Verbo ENCONTRAR
Eu
Tu encontres
Ele/Ela
Nós
Vós encontreis
Eles/El
as