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Introduç~9

"
/(Â historia é ordenada culturahnente de diferentes modos nas
diversas sociedades, de acordo corn os esquemas dc significaçao
das coisas , 0 contrario também é verdadeiro: esquemas cultmais
sao ,Jrdenados historicamente 'porque, em maior ou menor 'grau,
os significados sao reavaJiados quando reaJizadosna pratica i A
sintese desses contrarios desdohra-se nas açoes criativas do;"'su-
jeitos historieos, ou seja, as pessoas 'cnvolvidas. ' Porque, por um
......Iado, as pessoas organizam seus projetas e dao sentiào aoSô-b}ë='
tOSY2r1i!,.(jg.-9aLCQmp;ç,ens_açLPreexlstentes 'd a on:ÏëJÏ1ëül1Ü!'u1.
a)
,fusses termos, a cuHum é historicamente rep~fdana âÇâCl~
l'-:1üis . adiantc, cita üma observaçao àc- Clüforù Gcertz, paru
:, qU~~ · Uill. cvcnto é ~ma ~.tu-aIizaçao u~ica de UID Ie~ôp.l~no gcraI,
\,
:

:: . l ," uma realizaçaoconùngente do padrao cultnral - '0 que. podêriu


• "~ 1 :.,;it;[... ; "} : (,r, .:" .,'- ~,~; 1 ;'·b· ~7 ser ..'\lm. boa -caracterizaçao tout court . da pr6pria hist6ria. Egr
\ . '/ j";:'. !'J ::::: ),": ~;i'fj!' "', 'outro ·Jado; entretanto, coma as I.drcunstâncias éOll!ingcn!c~ dll (I~
". ' .~ -' ~': .
\ açao :naD se conÏormam necessariamente ' aos significad9uuc_lllc
j~>; ~ , : ,:~r ") ~r.:!..:·~rtl; < ~ Isao atribufdos por ~pos especificos, ' sabe-se guc os hOtnCWl
,. ", " ,
1

:"J:_'~ ' ! ·· ·. , ·,!~··fi ~ : :'~/;" '·; Ilcriativamente repensam seus ' esquemas convencionai~. g nesses
ntermos que a cuitura é aiterr.0a }lh:t('\ricamente na açao. pot!cda ..
" ' '.
'.
. ;-----~ --------------- ..
mc~ at~ fa1:u- d~ "transfo,l'maç~o cstrutur.a l~', pois n altcrûç!\o ,do
l
, Jalguns . senhdos muda. a relaçao . de poslç.ao e~lr~ uS cnteuolllI
', culturals, havendo asslm uma "mudança Slstémlcll .
. Sao ossas as idéias principais dos ensaios nqui rcunlduH Il
quo 'podern ser iesu11lidos pela scguinto ofil'l11U\ifio: 0 quo (lM 1111-
8 ilh S-d~t6rja , intr6duç50 9

trop610gos chamam de "estrutur - as relaçaes simb6licas de questaes hist6rieas nao sao, nem longinquamente, tao cx6ticas
ordem cultural - é um 0 Je 0 hist6rico. quanto tais ocorrências possam sugerir.
" Essa afirmaçaoêaru;ëja de modo ~xpIfcito a oposlçao de ,, o rncsmo tipo de mudança cultural, induzida por forças ex-
.noçao, encontrada por tada parte nas ciências humanas, entre ternas mas orquestrado de modo nativo, 'faffi ocorremla ha mi-
"estrutL!ra~' e "hist6ria H • Tenno observado en ire te6ricos do :lsis~ 1 lênios. Nao somente porque as chamadas sociedadcs primitivas
tema mundial" a seguin te proposiçao: dado que as sociedades jamais foram tao isoladas quanta --; ;-~r~pologia cm SCliS pfi-
tradicionais que os antrop610gos habitualmente estudam sac sub- m6rdios, obcecada pelo interesse evolucionista corn 0 antigo,
mctidas a mudanças radicais, impostas exteruamente pela ex- 1 _go st~ria de acr~d~tar _(cf. Wolf, 1982) . Os elementos dinâmicos
pansao capitalista ocidental, nao é possivel manter a premissa de em funcion amento - incluindo 0 confronto corn um munda ex-
que 0 funcionamento dessas sociedades esta baseado em uma terno, que tem determinaçaes imperiosas pr6prias e com outros
rlogica cultura\, autônoma. Es~a proposiçao rçs~lta.de_y~~ 5 on -
1
1
povos, que têm suas pr6prias intcnç5es paroquiais - estao pre-
: fusao entre , um" siste!"a ,aberto e , a total ausenCla <le._sls\el1!~, 1 sentes por toda a experiência humana, A historia é construida
'torn~;;do-nQsJicap~~s, de d~ÜQnta -da ' aivëts"iQade AiJ:~spostas da mesma maneira geral tanto no inte;ior de uma sociedade,
, quanto entre sociedades: " --
lo-;;;~a~istema mundial, em especial daquelas q'!.'ô._~ons,eguem
?-ersi~Ir errÇ~e~ -;~str~: _A p~6pria (éëria d~ .sistema ffiWldial faz
. . . . If . A meu ver, a quesHio maior destcs ensaios residc na exis-
, ., 'li' constituida
1
tência e na interaçao dual entre a ordem cultural enquanto
concess5es a preservaçao das culturas sate!ltes enquanto metOs
de n\produçao de capital na crdem dominante européia. Mas se
i na sociedade e enquanto vivenciada pelas pessoas:
1 " , a estrutura na convençao e na ,açao, enqu~nt9 virtualidade e
.ssim for, e adotando 0 ponto de vista alternativo dos chamados : 1 enquanto realidade. Os homens em seus P.!.9.ietos .Pi.a!Ïcos _e.el1!
po~os dominados, a riqueza européia esta atrelada à reproduçao 1
1 seus arra!)jQ~0.Eiais, inf~~_~~ ,por, ~g'!.jj'i9'A9s_ge eoisas e, de
e até mesmo à transformaçao criativa da ordem cultural desses ! pessoas, submetem as categorias culturais a riscos _empfricos. Na
povos. ' ':medida cm que "0's'jÏÔli6lico é, deste mod~, pragmatico, 0 sis-
, 1 A questao surge por ,meu livro ser, em grande parte, sobre tema é, no tempo, a sintese da l'eproduçao e da variaçao, ,'.
encontros distantes, ocorrências do sistema mundial nos mares do Se a cultura for, como querem os antrop610gos, uma ordem
Sul. k ve~~s 'parec~ra ' que a autonomia das culturas nativas s6 de significaçao, mesmo assim cs shmificados s~o colocadcs em
erugmas
.;:. ·demollstrada 'pelos das resoostas hist6ricas. Tomemos. rjsco na açao. Sao postos em risco;'~por exemplo, po~ef~-;'ênci3-
~onio exemplo;' a' resistê~cia miio.:praÎica de Hone Heke, 0 her6i às coisas (L e., por extensao). As coisas nao 56 têm sua raisoll

l' .
rnaori.;' Bm ' 1845; iHon'e cHeke '-mobilizou ,seus guerreiros para
tomar ," de" assalto~i-= e"irivolUlitariamente'
,,
subjugar -- - - 0 maior
. assentamènio- colonIal. aa',Nova Zelândia, apenas coma uma 'ma-
, nobrade diversificaçiio::: isto :é;.como :meio de atingir ' 0 objetivo
que: Héke :, seinpre ' considerou l'mais , fund.amental, e que foi 'al-
cançado--em 'quatro :ocasi5es, diferentes:' a delTUbada de 'um ,certo
1 d'être pr6pria, independente do , que as pessoas 'possam fazer corn
elas, como sao inevitavelmente desproporcionais aos sentidos dos
signos pelos quais sao apreendidas. 'As coisas saocontextual-
mente mais partieulares e potencialmente ,mais gerais que os
signos e 0 sac por serem;:os signos, 'classes de significados ("li-
vres de est(muio"), nao estando 'restritos camo conceitos , a um
mastto ',de , bandeirà .que cis ,britâuicos .tinham 'erigido ,na IDcali- referente particnl~.r. Portante, us coisas sfio · l"elacio.Il,!ù~a_~cus
qad~: .HLutemos", dis.se ele, ,"apGnas pela · mastro." Para que, pos- ~!g!lqs__enquantc~.n:Ü~.1~~~s_.PË!:P!r;cos par,! .~.J.ipos culturais. Po-
ea1l?'os', .dccûdificar . a pteocupaçao oe Heke· corn 0 tal m.a~tro, J~m, ,~ao ,'mais gerais_gue__os _ signës _ pQi_ap!es~~~Il! ais pro-
sera nccessario voltarrnos às 'origens do _universo. ,Assim sendo, _ ,_prieda~es (mais_' "realidade"->_ do __ ql!e-::II.~_dis!ipç§es _ c_ val ores
deixarei,a esteSria mais ' detalhada para 0 Capitulo 2. Mas esses de- ,~e!:Y,Ldos_ p.or
estes. , A cultura é uma aposta feita com a naturcza,
~a1pes,~ s~~ao desuport~par.l\ ', a posiçao_: que aqui tomo: as durante a quaI voluntaria ou involuntariamente - para parofrn-
10 iihas de hist6ria introduçao 11

sear 'Marc Bloch - os ' nomes , antigos, que estao na boca de tunidad e de se tornarem gerais ou consensuais, da rnaneira como
todos, adqu irem novas conotaç5es, muito distantes de seus sen: forem retomad as pela ordem sociolôgica conente. Os ._~lg~in~3-:: .
lidos originais. Esse é um dos processos hlstôricos que chamarel dos .. sâo, cm ûltima instância, submetidos a riscos subjetivos,
fi de "a reava1iaçac Ïunclonal de categOlias". q~.a.:î~G as pcssoas; à medida que. se toma!!! soc!alm.cu"[e cavazes,
. Aqui temos mais um processo dependente daquilo que é _deb::am de ser t:scravos de seus con'ceÎtos panl·· se
torna~ê~ seüs
chamado por Hilary Putnam (1975) de "a divisao do trabalho senhores. "A gue-stâo é", disse ' Àlicë;··"se podes'fàiêr ·conl
·qu~ -'
lingüfstico". N cle, mais uma vez, observam-se certas diferenças uma palavra gueira dizer tantas coisas diferentes," "A qucsHio
entre sionificado e referência entre a intençao do signo e sua é", disse Humply Dumply, "quem sera 0 senhor - somente
I ,extensâ; 0 sentido d~g;;O') (0 valor saussu.riano) é definido isto. "
, . por suas relaç5es de contraste com outros slgnos do Slstema. Ainda assim, como em um outrc dialogo célebre sobre as
Portanto, ele' ~ô _é. completa e _sistem"tico na sociedade (ou na relaç5es entre dominador e dominado, este dominio envolve uma
comunidade de falantes) como um todo. Qualquer uso real de ,.-'::erta servidao. Nao temos, por exemplo, a liberdade de sairmos
um signoem referência, seja por uma pessoa, seja por um grupo, por ai nomeando as coisas "simplesmente pelo modo qlïe 'elas
emprega apenas uma parte, uma pequena fraçao, do sentido co- sao", r'')ffiO fez Adao, "parecia-se cOrn um leao e rugia como
letivo. Afora as influências do contexto, essa divisao do trabalho um leâo, portanto ochamei de 'leao'." As improvisaç5es (rea- (
significativo ê, de um modo geral, funçao das diferenças de ex- v~liaçô:s funcionais) dependem das possibilidades dadas de sig-
periência social e dos interesses entre ~s pessoas. 0 que. para mflcaçao, mesmo porque, de outro modo, seriam · ininteligiveis e
/ mim é "um passaro (de qualquer espécle) voando corn diflcul- incomunicâveis. Dal. .9,..nnPlric.Q2l,~g~1'1'Y!l~nhecido en-
dade", é para 0 ornit61ogo "um gavHio doente" e talvez seja .9.ua'!!!2.....~a],__.'!!as enquant~LlllJ!.L~nific".l'~o cultural~ente ' r~ië:.
' ainda "um coitadinho" para terceiros (membros da sociedade . .v.ant~ e 0 a ntig~s}stem.a~.!Qieta_dOiidi,lîi~"s~ii -,;o;;;~ form.a~:
'protetora de animais; Stern, 1968). 0 capitâo Cook aparece 2~lli'-Se dai qu_e..~~dens culturais 'diversas te_nham niO<!2LPlo~
~omo um deus ancestral par·a os sacerdotes havaianos, enquanto / 'pp()s_de pr2Q.uçaoJÛ.s.!6rJ.ea. , ' , .. " ' ,
para os chefes é" mais parecido com um . guerreiro divino c, , çu1tu,a~ dife[~p.teW,i §.l!?.rt.cidades..<!ifer~fltes . É esse a ponto
obviamente, outra cois a qualquer e menor para homens e mu- principal do segundo capitulo, onde faço 0 contraste ent~e as
I/lheres "comuns (Capitulo 4): ~gi~do a partir de .p~rspe_ctiva s 1 h~sto.ria: ~cr6icas das ~?ber~ia~ di~inas e a "nova hist6ria~'; de

t
diferentes e com poderes soclals dlversos para a objetlvaçao de
sua"s:"in!erpretaçëes, as pessoas chegam a dife.rentes conc1us~es
e as sociedades ,elaboram os consensos, cada quaI a sua manerra.
k 'comunicaçao social ' é um risco tao grande quanta as referên-
das "materiais. ' - ,
',' ' Os efeitos desses riscos podem ser' inovaç5es . radicais. Afi~
J
1

J,.:
Q
1
' dlstnbU1çao populista" a hlst6na vmda de baixo". Tento ..mos- ,
tr';'1" por que, para sociedades de um certo tipo; as histonas.. de
reIs e batalhas sao privilegiadas , historiograficamente . . A . razâo
disso élIma , es~rutura que ge?eraliza ,as aç5es do "7e:iJcamo sendo
a forma ,e 0 cestmo da socIedade. No mesmo ,ensaio, :faço um

.rial, no e~contro contradit6rio entre pessoas e coisas, os signos


l .
' 1
co~traste entre a mito-praxe dos pavas, da . Polinésia ' e. 0 , utili-
tar1.smo desencantad? d? nossa, propria , consciê?cia. his:6ric~. Ou,
sac passlveis ·de senim retomados pelos poderes originaisde sua " ," mms , umavez, 0 pnmerro capltulo,. sobre a eficac13 hist6nca do
cliaçae, ou seja, pela ccnscie~::u simbélica hTI!!!~na. Ora na~a i' aIDor no Havaf, é mais lim exe·rc.fdo de . !'e!ativk!ade ~ com
é tabu em termes de prindpio intelectual - nem mesmo 0- pro-
7
'
•...
mu subtexto, que tulvez rnereça maÎore-s cGmcntanos,
.
sobre e:; ..
. ! - .
prio concoito de "tabu" coma aprenderemos corn a historia ha- ., tnrtu.ras ' 'performativas'' e "prescritivas". .. ~ . ' " ,
vniana (nos Capltulos 1 c 5) . Metâforas, analogias, abstraç6es, 1 il • E s.sa é uma discussao ,ideal-tipiéa sobre E2EliU!~~ tf)lIUI."M
cnpeclnli7.uçOes: todos os tipos de improvisaçoes semânticas sâo se-!~~':'l...!.'? _inte!i()ulLo.!9J<I!L9IJturR.e_a~ do c~<L 1111-
~:'~ Sob certos aspectos a distinçao entre prescritivo 0 per-
1 It C\III Ntllllt.lnln. t""tlo li N 1\11I1\1I,nçOos cotidinnns da culluro opor-
i2 ilflOS de ' historia inlr.oduçiio . "/
! 13
formativo forma um paralelo Com 0 contraste lévi-straussiano sli_~ so~i"dad~L~'fro!!,,~eilte ~ ,S.I,rutlIIàdas". Os efeitos sac sis-
entre Inodelos mecânicos e modelos estatistieos (Lévi-Strauss, temalicos, naD importando se os arranjos institucionais sac cria-
1963). · 0 problema esta centrado nas relaç6cs entre as formas dos. '~estatisticamente" por açoes adequadas, ou se a açüo é me-
sociais e os atos aprûpriados. Sugiro a possibilidade, que parece c~mcamc ii ta p.rcssüposta pela forma,
ser ra ras vezes considerada, de que tais relaçaes sejam reversi- " . Nao. obsta.nte, "as estruturas performativas e as" prescritivas
veis: que tipas de açôes usuais padern precipitar formas sociais J t~f1am ?,stonc,dadcs dlVersas. Podedamos falar que elas estao
ou vice-versa. N as ciências sociais geralmente damos prioridade dlferencJalmente ."bertas para a hist6ria. As ordens p-,,;:f.9.!:IEa_ti~" . (
às formas socl;;i;;··s;'brë · as. praticas a elas associadas, e apenas ~.~ten.de";~. a_..aSSlffiIlar":se_ àS~ir~un._ st~n~~as coIl!L~eE.~s,. ~n.qlla~to
nèssa direçao: 0 comportamento dos grupos envolvidos derivando
de uma relaçiïo preexistente. A amizade produz 0 auxHio ma-
terial:" 0 relacionamento normalmente (e normativamente) pres-
creve um modo apropriado de interaçao. Entretanto, se "os ami-
gas eriam presentes", "os presentes também eriam amigos", ou
talvez como melhor diriam os esquirr:5s, "dadivas eriam escravos 1
,
,./
i
/'01 ~s p_r_~~~.~.~y~§_ ";~~n<~"cm" ~ a~~,!s~slmlla~ _~s..=.~c?~"~~~_c~~_a ela~ . ~es~
.:n~!".p()rum upo.de. negaçao d" seu can\te~ contingente e cvcn-
..tual. 0 que teriho em mente é um coiiiiaste7"idëal ent~e ~ H~vai,
onde .~ "p~renlesc"o, a posiçao social, os direitos de propriedade
e a flhaçao 10~al sao abertos a negociaçao, e 0 padrao médio
radchffe-browmano de estrntura social, corn grupos corporados
- "como os chicotes eriam cachorros". A forma cultural (ou :f-J de. ~escendência, st~tus designados e regras matrimoniais pres-
morfologil!. social) pode seI. produzida ao âve sso":··aaçiici- ëfiando crltlvas (por exemplO, os abodgines australianos) . No casa ha-
-areïàçao adequada, performativarnente, exatamente como em vaiano acontedrnentos circunstanciais sac freqüentemente assina-
J

ëei"los"{,;-,,-;ôSos· atos de discurso: "Eu vos dec1aro marido e mu- lados "e valorizados por suas diferença!i, "pelo" afastamenlo ew
lher~tt . relaçad aos arranjos existentes, podendo as pessoas entao "agir
E: ' assim "tarnbém no Havai, onde é posslvel lornar-se nativo sobre "esses arranjos para reconstruir suas condiç6es sociais. En-
pela açgo certa. Tendo morado um certo tempo na comunidade, quanto a sociedade assim se- organiza J ela conhece a si m~sma
até estranhos tornam-se "filhos da terra'" (kama'aina);, este ter"':' com~ ~ ~ .forma institucional dos acontecimentos histôricos. Bm
; mo nao é: de "'emprego exclusivo "daqueles que la nascerarn. 0 um ~r:n Q.del.~ p.~~s9"I~ivà) no entanto, na~a é "nova 011J pela )nenos ,
; exemplo mepermite argumentar que a propria intercambialidade os" acoulecimentos sao valorizados por :sua "similaridade "com 0
e~ tie "0 sei" è""a pnitica dépende das comunidades "de si2nifica- sistema constituldo. 0 que 'ocorre nesse casa é a "nToiecao da
çao;: portanto,a: deterininaçao <ie' quàlquer umas das du';-s dire- ,ordem e&stente, mesmo quando" 0 que aconteee fO~~ se~~prece-~
j;Ôes.seraestruturàiménle rootivada: Um3 açao de" uro dado tipo dentes~":.e · sendo .. ou ~ nâo bem-sucedida' a interpretaçao recupera-
jJode- significar urri dadG' status,visto que os dois têrri" 0 " mesmo tiva. Aqui, tudo é e~jj,:i1!,;ao e repetis]E, ;assim coma 'na "pensée
sèritido\"fina( ' Para- os havaianos; : morar em "e alimentar-se "de s~uvage' "classica. Em termos comparativos, ,a "ordeJ1'l· havaiana é
iiiiia" Ce~ta porçao de terra; faz corn què as pessoas sejarn da lllstoricamente mais ativa, de duas maneiras.·-Em resposta às con-
fuesina' substâricia que esta "terra; ' da mesma · rrianeira que ,lina diç6es "mulaveis de sua existência - -como "as de produçab, de
erlanç{ "é da ~esma substânèia dé seus pais" "(no Havai isto pop-ulaçao ou de poder "- a ordem cultural se reproduz ""na mu-
;,~ori iece ;'50: $6 por nascimento maS tambéinpor criaçao). Dm dan ça"' e enquanto "tal. A "sua estabilidade é "uma "hist6ria volatil
iistranhd é assim Iïii tfimorroseadû em ·filhû da terra com dircitûs dos dc~tin.os !T!l.!Hi"'':.is des pessoas e dos grupos. Assim 6 mais
iguais nos dos ;:filhos reais". Conse~~~eth~p.te,.muit_~~:~.ociedades \ provavel que ela também seja passlvel de mu::!ança quando pasSa
como "a..havaian~-== 0.l\.1! esgl!im6, ..Q.~!!9.,ssa - "" onde muita~ poi" esta forma de reproduçao, pois, para exprimir esta questüo
9aL!'C!aÇ6e$_Sad :;COnstri.ti~a.U.ii!. ~s~2lha.;_p'or interesse, ou p~ do ""modo rriais geral, 0 sistema simb6lico é altamel1te em'pfrlco
a escjo, e através de"rneios tao · aleat6rios qùanto 0' arrior, nao e: 'slibmete continuaillente "as categorias"-recebidas: a r iscos mate-
-'sfiO; àpcsar "de ~udo isSQJ.oa~~.d§s'sëm:-::~r~iiifi, iÏèII!_11!!:§!!10 riais;""as inevitaveis "desproporç6es :entm signos ;e. coisas. Ao Jl1ea-
.,-::-.-,-::.- =

'/
14 ilhas dêmiWria ~-- 15

010 tempo permite aos sujeitos hist6ricos, especialmerite à aris· anenas um acontecimento caracterfstico do fenômeno mesmo
tocracia her6ica, traduzir de modo criativo os valores correntel. q~e, eriqua:nto fcnômeno, ~l~ Jenha forças ~ àtz6es p~6~rias, in-
Mais uma vez, em termos lévi-straussianÇls, a temperatura his .. 1 ;:..I!depend~ntes d~ . qunlqucr s~stema simb61ico. Dm ~~?I].!q~ _t~ans- __
térica é rclativam,;!lte Hquente". 1. (,--.,.;? forma-se na'lIIl~O 'lue lbe e dad:,-~oI1l~JnJ.e.rPretaç.i!o. Somente
Como jâ foi dito, estruturas performativas e prescritivas saD quando apropnado por, e . atraves do esquema cultural, é que
tipas ideais. As duas padern ser encontradas na mesma sociedade, ),I?~uire uma signif~cância hist6rica. Nao existe nenhuma adequa.
em varios locais da ordem global. Isso também implica que, em blhdade explanat6na entre 0 acidente com 0 mastro de proa do
uma dada sociedade, existirao certos pontos estratégicos de açao Resolution - forçando 0 r etorno de Cook ao Havai - por um
hist6rica, :lreas circunstancialmente quentes, e outras relativa- lado e, por outro, 0 sinistro ponto de vista dos ilhéus a esse res-
mente fcchadas . Nao aprofundo mais essa idéia nos ensaios se- ... peito - exceto nos termos da cuHura bavaiana. 0 evenlo é a _ "J
guintes, pois lalvez ja tenha dito 0 suficiente a favor do argu· i(relaçâo entre um acontecimento e a estrutura (ou estrq!)1ras): 0 '
mento de cutturas diferentes, historicidades diferentes: h fecbamento do fenômeno em si mesmo enquanto valûr significa- . .
Argumento também que os pr6prios acontecimentos hist6- ii tivo, ao quai se segue sua eficacia bist6rica especffica. Voltarei
ricos têm · assinaturas culiurais distil1tas. O · capitiio Cook. foi vi· a essa quesUio na discussao geral do capflulo final. 0 outro ma·
tima da manipulaçao das categorias bavaianas ou, paia ser mais viinenlo, que talvez seja mais original, é 0 de interpor um ter-
préciso, da interaçao destas · ultimas corn as suas pr6prias cate· ceiro termo entre a estrutura e 0 evento: a sfntese situacional dos
godas - que levou inadvcrtidamente a-"fiseas de referência" dois em uma Uestrutl!~a . da c~w.iIDl1tJJa~
0 0
perigosos. E assim poderia ser . feita a leitura do Capitulo A,
, o que quero dizer com ~DJ1u.ra_d.a_ c9,nj!1-'lt~ é a--I".aIi-
1
uCapiHio James Cook; ou 0 Deus Agonizante", onde .o famoso 1 zaçao prâtica das catejlorias cuHurais em um contexto bist6rico
navegador encontra seu Jim ·por transgredir · 0 status · ritual que i .ç.§pecifico, assim ëOillo se express a nas açaes - ;;;otivad~~OsageÎi~­
lbe foi concedido pelos havaianos: Este ensaio, que na sua versao tes bist6ricos, 0 que inclui a microssociologia de sua interaçâo.
original ·foi a palestra Frazer (de 1982), da muita atençao à A minha idéi~ do que seja uma estrutura de conjuntura difere,
teoria da soberania ..divina·. bavaiana que, juntamente corn a pd.- ,porlanto, da :de Braudel em certos aspectos importanles, en·
tica britâriica ·do imperialismo, produziu ésse "impacto fatal" . .quanto reminiscência da distinçao de Raymond Firth entre uma
Podemos sté mesmo oferecer, COrn bastanfe segurança, uma ·' S~ ."organiz,açâo social" de fa cto e oUma Hestrutura social" de jure
luçao para esse jâ antigomistério· de quem ·foi 0 assassino.·Sna ou subjacente (ver· nota 11 do Capftu!o 4; e Firth, 1959).- Assim '
identidade pode ser deduzida bem ao estilo de Shirlock Holmes, também é evitado 0 perigo implicito em nossa fenomenologia
partindo das categorias .elementares. Sob esses ·diversos.; aspectos,. ,da açao · simb6Iica .(cf, acima), isto é, 0 de ver 0 proeesso sim·
o interesse do ensaio estâ justamente no incômodo· problema da .b6Iico meramente coma uma versao mais elaborida da velha
rclaçao ent,e estrutma e evento. · .,;. ' ..".' . .• oposiçao entre individuo e sociedade. A estrutura conjuntural do
, Também leva em conta as compreensaes ùsuais ·de acidente .contato . britânicojbavaiano mostra ~ais complexidades neste
de ordcm nessa r elaçao: a , contingência· de eventos e il recor;' .exemplo do que em tratamentos anteriores (Sahlins, 1981) , e
,~nclll de· estruturas . . Qualquer uma das duas seria insuficiente .parece tomar o ·destino de Cook mais cûmpreenslvcl. Nias, ai ém
HO çOl1 sidcrada iscla damentc. Saber que Cook foi a ·"instancia.. da. 8:llalise de aC0!1tecimentos tâo inusitaàos, esta noçao de pra~
\: 0 "dt,) ccrtas categürias cui Lurais, ou que ele safria de ' vennes, xis, enquanto uma sociologia situacional do significado, pode ser
l'nnfn' llI e 0 diagn6stico hist6rico .recente de um médico · inglês, aplicada à compreensao geral de mudança cultural. ra uma des-
unn 6 Hurlaiente. Naü obitante, tento ir além da idéia imprecisa criçao do desenvolvimento social ~ e reavaliaçao funcion nl -
.1 urli ll dlnl6lica entre palavras e parasitas através de uma dupla -.,:d.e :sjgnificados na . açao, nao é necessariamente restrila fi circun R-
'",",ul"" Ic6ric8. Primeiro, insistindo em qùe ·Um evento nao é ;1~!1ci_as ,de contato interçultural., A estrutura da . conjunturn, cn.
16 ilhas- de hist6ria illlroduçiio 17

quanta conceito, possui )lm valor estratégico para detei:minaçao e periférica, As, transformaçaes sac mediadas pela entrega da
dos ' riscos simb6licos (por exemplo de referência) e das reifica- princesa nativa ao principe imigrante, 0 que pOOe ser altcrnativa-
çaes scletivas (por exemplo, pelos pederes ' estabelecidos), mente 0 matrimônio frutificador do estrangeiro corn a terra, ha-
A teoria polinésia da soberania divina, 0 que é 0 mesrno venda par esse motivo u ncutralizaçâo de se us sucessorcs. diTIas-
que dizer a teoria polinésia da vida cosmica tanto quanto so- ticos, enquanto descendência feminina do pova aut6ctone.. E
cial, é discutida de forma mais ampla no ensaio sobre 0 "Rei- assim vai: 0 desenvolvimento ulterior das categorias é acompa-
Estrangeiro" (Capitulo 3). Aqui destaco 0 sistema havaiano e / ,. nbado uo Capitulo 4,. Sugiro que deveriamos incorporar a _dia-
alguns , outros, ein especial 0 das ilbas Fiji, comparando-os às cronia interna as nossas noçôes de "cstrutura", eV1.tando assim
concepçaes indo-européias de soberania, reeorrendo aos eélebres certas diticuldades da visao saussuriana ou, ao menas, da ma-
estudos de Dumézil, Frazer e Hocar!. A comparaçao é reconhe- neir,a que é comumenle adaplada para os estudos antropol6gicos,
cidamente tipo16gica (em vez de genétiea), e aparentemente um / Vma sincronia saussuriana estrita embaraça-se nas famosas
pouco forçada; nao teria ousado fazê-Ia se j:i nao houvesse sido "instabilidades logieas" das categorias culturais. 0 Rei de Fij i é
explicita mente sugerida pelo pr6prio Dumézil, provavelmente de- masculino e feminino; sua natureza politica e ritual é dual ou,
vido a sua leitura de Hocart. Por outro lado, a digressao :car- contextualmente, uma ou outra, Tomando isso como uma des-
tesiana - c1aro que quero dizer ho-cartesiana '- por sua ênfase criçâo empfrica e sincrônica, nao ha muita 0 que se faxer corn
na orgânizaçao ritual enquanto um sistema vivifieante, faz uma ela; parece haver uma ."ambigüidade permanente" ou uma "con-
colocaçao interessante 'sobre 0 carater temporal da estmtura (a tradiçao inerente" ao sistema. Conluàa, · da posiçao da estrutura
'diacronia). " diacrônica, este é um efeito derivativo, tendo igualmente prin-
" 'Se Hocart foi um estruturalista antes de seu tempo, sua cfpio e 16gica. Hâ uma noçao mais geral de estrutura, neces-
/ idéia de estrutura era diferente da de Saussure.' Representa ela, sariamente temporal, pela quaI a contradiçao é de uma vez re-
daramente, um afastamento do principio saù5suriano do sistema solvida e restituida à inteligibilidade. Isto era possivel de se
com:o sendo um estado puraménte sincrônico, um conjunto de adivinhar, pela menos se estivéssemos nos baseando na 16gica,
'relaç6es mutuamente contrastantes e por isso mesmo, murua-
J
porque se existe uma ambigüidade recorrente é necessario que i
menie definidoras entre signos e um ' pIano de ' simultanCidade, haja uma forma consistente, nâo contradit6ria, de exprimi-la. ' A "
pois, 'na representaçao mais abstrata dos signes,. cu seja, ' na cos- estrutura, mesmo quando produz estes efeitos contraditôrios rc-
·mologia, eI~s sâo postes cm mo\t-imento; desdobra."'11-se através petidamente na empiria, naD é por si mesma contradit6ria.
,do tempo ' em um ' esquema global inspirador ' ou de reproduçao Podemos também, entiio, nos Iivrar do problema carolario.
(, 'n"tural , ecultu;al: ~trutura, possui' umadiacronia . interna, que se vern desenvolvendo nas forrnulaçaes atuais sabre "estru-
f-consistindo.' das 'relaçaes mutantes ..entre ' as categonas gerais ou, tura", isto é, as extensas listas de pares de contrario's ou pro-
"
como 'eu ' mesmo ' diri-;;:-ïïma''Vida' cultural ,dasformas ' elemen- porç6es saussurianas, Refiro-me às tabelas onde lemos: 0 mas-
L~~es". Nesse ~ ~esdobrar generativo,\~to;;-um-aosësqüémas ..pôn:.-· culino estâ para 0 feminino como 0 rei esta para 0 povo, a
nésios e indoceiIropeus, : 0'5 conceitos basicos sac conduzidos atra- culmra esta para a natureza, coma a vida esta para a morte,
'vés : de estagios ' sucessivos de combinaçao" e 'de recombinaçao, e 'p or ai vai - estruturalismo yin-yang sem um Livro das Mu-
'produzindo ao longo do caminho ' teml0S novas e sintéticos. As- taçôes. Essas proporç5es também san !ogicamente im:tâve:& e
'sim, 'na constinùçao da soberania e da ordcm cultural, os her6is ,
"
passfvcis de contradiçao. De um:l cutra pasiçâo, û rei é feminino
dim1sticos, . que de inicio sac invasores estrangeiros masculinos, em vez de masculino, ele é a natureza (feroz forasteiro) em vez
sao neutralizados e ' "feminilizados" pela populaçao, nativa. No • :ida cultura. Sendo essas as alternativas que nos restam, pOOemos
proéesso, os nativos, originalmente ' forças terrenas-reprodutivas ,. .. tentar ,desenvolver a eSl1]11IlIlL1LP.l\rliLd_L(OU como) UJlL,con-
femininas, ' sao transformados em uma força masculina protetora' junto indefinido de permufaçaes contextuais _ em certos COD-
~ - - - '- ,
lB i!lIas 4e. hist6ria illtroduçào 19
textos 0 rei é masculino, em outros,feminino, 0 que nâo_J_ .~pe~as doras, mas que também sac analiticamente debilitantes. Sao de--
iiîîïilScilïiç~9.~eselegante, mas provav'elmente desesperada. Ou, em bilitantes, se nao por outra razaa, porque outras civilizaç5es
~ste corn -esse esforço apoiéiico; podemos conceber a estru- compreenderam melbor a sua sfntese, e de maneiras diversas sin·
1!
tilla da maneira como ela se apresenta nos esquemas cosmol6- teüzam assim suas pnHicas hist6dcas. t neccssario fazer 0 l'eCQ- !
·.gicos abstratos. ühcciment~ t.earico, -encontrar 0 Iugar ·conèëltUâCdo··paSsado· ;;Q .
, Esta . ûltima soluçao é, ao menas logicamente, mais pade-
rosa, e assÎm podcmos dar conta da gênese das contradiç5es
presente, da superestrutura, na infruestrutura, do estatico no dinâ· 1
mico, da mudança na estabilidade.
como visées parciais ou situacionais da ordem global, yjs6es pro- . A antropologia tem algo a contribuir para a disciplina bis-
venientes de um!!. .po->i!,;aQ.1!!9Jivad~ (seja ela do etn6grafo, ou t6rica. E 0 inversa é igualmcnte valida. Mesmo assim DaO estou
~do P~yO em questao). Toma-se clara que qualquer proporçao apenas formulando um pcdido por- maior colaboraçiio enlre as
, dada (A:B::C:D) , é uma expressiio parcial e motivada da es- disciplinas. Mas coma jâ disse cm certo momento, "0 problema
trutura, e presume que baja algum espectador 'ou sujeito definido agora é de fazer explodir 0 conceito de historia pela ~xperiência
,em uma relaçao definida com a totalidade culturaL Ja a estru-
trau apr()priadamente se refere a essa totalidade: é ela em si mes-
antropD16gica da cultura". As conseqüências~p mais uma vez, naD
SaD unilaterais; certamr-~te uma experiência historica fara explo- 1
ma 0 sistemade relaçoes entre categorias, sem um sujeito dado
", (se nao 0 famoso sujeito transcendental). Além disso, esse con-
dir 0 conceito antrapol6gico de cultura - 'incluindo a eslrulura. ,1
l', ceito"tcm importância hist6rica, pois, se nos colocamos naquele o motivo desta extensa introduçao é . que os ensaios apresen-
\ local intelectual divino do sujeito transcendental, isto é, externos tados foram escritos para diferentes ocasioes, portanto, nâo acre-
. laq sist~ma enquanto comentar·istas, poderemos ver 0 funciona-
Imento ?a bist6~i~ através da seleçiio. n:otivada en~re as u:umeras
'possibihdades loglcas dos agentes SOClatS - que, e clara, mcluem
ditava que tivessem unidade suficiente para formarem <lm livra.
Basicamente pela mesma vontade de coerência, fiz algumas re--
visoes dos trabalbos aqui publicados. Espere , que as redundâri-
,1
i' as possibilidades contradit6rias apresentadas na ordem culturaL cius tenbam sido reduzidas (M também alguns esclarecimentos
Portanto, por exemplo, voltemos ao ensaio sobre Cook (Capl- e correçôes das versoes originais) . Assim mesmo, para urua ga-
. } tJlo 4): para os sacerdotes bavaianos, Cook sem pre foi 0 antigo rantia maiar· de unidade, sugeriria que se lesse 0 livra como se
deus Leno, mesmo quando retornou inesperadamente, enquanto fosse um cilindro e naD como uma projeçâo linear, isto é, ap6s
~ para 0 ' rei esse deus que aparece fora de época toma-se um o término da leitura, 0 IeHor voltarla a esta seçâo introd-ut6ria,
perigoso rivaL Os dois g~os bavaianos, partindode suas con- que seria igualmente UID sumario. .
cepç6es pl2Prias" CQ.!!ç'e!J.e..,-am .J:el.?ç~L~i~e!~s (prop.~rcion~is _)_ Se apesar de tudo bouver IUma coerênci:J. implfdtà;- como
.para ·o mesmo acontes:~~e dal provém seu comllto na es- gostaria de acreditar, é porque os ensaios foram escri~os durante
\ l r,utura da .conjuntura cujo resultado final foi a morte de Cook. f uni periodo relativamente breve; num afa de entusiasmo por des-
." .'- Essas ; sao algumas das idéias gerais ,dos ensaios que se se-- cobrir que os pavas do Padfico por miro estudados tinbam de
guem . No .capitulo final "Estrutura e Hist6ria", resumo essas ana- fato uma bist6ria. Por ter adotado a posiçao temporal medlocre
lises · ampIas;'. 'corn 0 objetivo de fazer uma reflexao critica so- do "presente etnogrâficD", um perigo ocupacional e te6rico, por
, bre ' algumas. das nossas 'pr6prias categorias acadêmicas. EStOil muito tempo estive funcionaimente ignorante quanto a essa his-
me referindo aos radicais contrastes bi~ârios pelas quais geral- toria. Atualmente é divertido· 1er num texte do · proprio Evans-
:mente se pensa a cultura e a hist6ria: passado e presente, esta- Pritchard, 0 grande, e qùase exclusivo defensor do método bis-
.tico... :e dinâmico, sistema e evento, infraestrutura e superestru- t6rico, 'uma observaçiio de que os: antrop610gos sociais "enquanto
Jura, e, outros~desse gênera intelectual dicotômico. Concluo que estivessem ' investigando' os ab origines australianos ' ou os nativos 1
i .essas , suposiçoes , nao sao apenas fenomenologicamente engana-.
, das ilbas dos mares do Sul, os quais nâo têm hist6ria registrac 1
4

1
,
20 ilhQS de hist6ria in.troduçiio 21
da . .. poderiam Cm sa conleiência ignorae a hist6ria" (195'4:59). Aproveito a oeasiao para agradecer calorosamente as pessoas • 1
Nao era uma consciêneia sa mas sim Um estado de falsa cons- que contribufram de forma especial para a realizaçao dessas pa-
ciência e, dada a riqueza dos arquivos, nao deveria ser assim
tao fae ilmente perdoavel. Nem penso agora que os historiadores ,- -
__ lestras: François Furet, presidente da ~ole des Hautes tltudes
en Sciences Sociales; Wiliiam Sturtcvant, ex-preside.n:e da Ame-
Dossam il!n crnr essas h~st6rias ex6ticas scmente por serenl cuitu- ;
riean Anthropologieal Association; Bruce Kaepferer e Chris , i
~almente - remotas e par terem os registras pouea profundidade
temporal. Justamente par tais .motivos, as hist6rias das ilhas dos
mares do Sul e de outras eivilizaç6es distantes merecem aten-
Hea!ey da Adelaide University; J.D.Y Peel e Neel Bowden da
Liverpool University; Jukka Siikala do Instituto de Sociologia , ...
na Finlândia.
çao espeeial: a proximidade temporal dos registras pode garantir Ha outros que também tiveram um papel vital par terem Il
i
uma abundâneia de arquivos, em muitos casos difieil de ser igua-
lada, par exemplo, pela Europa medieval, e os textos sao mara-
eopiado as palestras. Sou especialmente grata a Tina J olas, Doro- '"
thy Barrère e Greg Dening por seu apoio inteleetual e auxflio. "
,Il
vilhosamente surpreendentes exatamente par serem eulturalmente
rcmotas. '"
""
Esses ensaios sedia publicados (mais ou menas) simultaneamen- ,,'",. ~

te na França par Gallimard e Seuil, sob a patrodnio da Bcole


des Ha~tes Etudes en Sciences Sociales. Dois entre os einco
,-.
.
.~

ensaios sao inéditos. Todos foram escritos . originalmente a eon- ,m


vite ·para conferências, nas seguin tes ocasÎôes:
1••':"
-: . Capitula 1, ,"Suplemento ,à Viagem d e Cook; ou 'le calcul
sauvage' ", Palestra Marc Bloch, sob os auspieios da Bcole des
Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris, junho de 1981.
"
..
'"
1 :';'
(Inédito, )
,'"r
,.'.
Capitula 2, "Outras tlpocas, Outras Costumes: A Antro-
pologia da Hist6ria", Palestra à , American Anthropologieal As-
sociation, Washington D.C.) dezembro de 1982. (Publicado no
American Anthropologist 85:517-544, 1983 \ [reproduçao proi- ,' ..
bida].) "
Capitulo 3, ~'O Rei-Estrangeiro; ou Dumézil entre os Fiji",
.....••.
(
Conferêneia Presidencial, Seçao 'de .Antropologia, Australian New 'î1 '" 1
Zealand _Association' for the Advancement of Science, Adelaide,
maio ' de 1980.. (Publieado no lournal of Pacifie His/ory 16: 107-
i f..
!
32; 1981.) , \
Capitula 4" ":'Capitffo James Cook; ou 0 Deus Agonizan-
te"; Pnlestra Sir James G. Frazer, Liverpooi U niversity, maie de
"(T.tnem
~ "t
o ..)
.
1{\0.-.
'J.:JC':'.

Capitula 5, "Estrutura e Hist6ria", Palestra Edward Wes- ----- =


termarck, Aeademia- 'Finlandesa de Ciências, Helsfnqui, maio de
1983. (Publicado em Soumen Antropologi , 3:118-27, 1983.)

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