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3 INTERVENÇÃO ERGONÔMICA.................................................................................. 25
3.1 Apreciação Ergonômica ............................................................................. 25
3.2 Diagnose Ergonômica ................................................................................ 25
3.3 Projetação Ergonômica .............................................................................. 26
3.4 Avaliação, Validação e/ou Testes Ergonômicos ............................................ 26
3.5 Detalhamento Ergonômico e Otimização ..................................................... 26
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 2
4.7.2 A Priorização e Consolidação do Problema ........................................... 49
4.7.3 Referencial Teórico ............................................................................ 50
4.7.4 Predições .......................................................................................... 50
4.7.5 As Sugestões Preliminares de Melhorias............................................... 50
4.7.6 O Quadro do Parecer Ergonômico: Formulação do Problema e
Sugestões Preliminares de Melhorias............................................................ 50
5 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 52
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 3
1 Origens e Conceituação da Ergonomia
De acordo com dados da Ergonomics Research Society, Inglaterra apud IIDA (1991), “(...)
Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamento e
ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia
na solução dos problemas surgidos desse relacionamento”.
Tendo suas origens na II Guerra Mundial, surge a ergonomia, segundo IIDA (1991), “com os
objetivos práticos de segurança, satisfação e bem-estar dos trabalhadores no seu relacionamento
com sistemas produtivos. A eficiência virá como resultado. (...) a ergonomia visa, em primeiro
lugar, o bem-estar do trabalhador. (...) a ergonomia parte do conhecimento do homem para
fazer o projeto do trabalho, ajustando-o às capacidades e limitações humanas.”
“(...) A ergonomia tem data ‘oficial’ de nascimento: 12 de julho de 1949. Nesse dia, reuniram-se,
pela primeira vez, na Inglaterra, um grupo de cientistas e pesquisadores interessados em discutir
e formalizar a existência desse novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência” (IIDA, 1991).
“O termo Ergonomia é derivado das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (regras, normas).”
(DUL et alli, 1995). Esse termo foi adotado nos principais países europeus, onde se fundou a
Associação Internacional de Ergonomia, que realizou o seu primeiro congresso em Estocolmo, em
1961. Nos Estados Unidos foi criada a Human Factors Society em 1957 e até hoje o termo mais
usual naquele país continua sendo human factors (fatores humanos), embora Ergonomia já seja
aceito como sinônimo. (IIDA, 1991)
Teve como um de seus precursores Federick Winslow Taylor, pai da administração científica do
trabalho. Taylor foi o primeiro a realizar a análise do trabalho com o objetivo de mudá-lo. Teve
seus objetivos diferentes dos da ergonomia, pois só visava o aumento da produção, mesmo que
com isso levasse o trabalhador a constrangimentos.
Segundo DUL et alli (1995), “a ergonomia estuda vários aspectos: a postura e os movimentos
corporais (sentado, de pé, empurrando, puxando e levantando pesos), fatores ambientais
(ruídos, vibrações, iluminação, clima, agentes químicos), informação (informações captadas pela
visão, audição e outros sentidos), controles, relações entre mostradores e controles, bem como
cargos e tarefas (tarefas adequadas, cargos interessantes). A conjugação adequada desses
fatores permite projetar ambientes seguros, saudáveis, confortáveis e eficientes, tanto no
trabalho quanto na vida cotidiana.”
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A ergonomia, de acordo com IIDA (1991), estuda diversos aspectos do comportamento humano
no trabalho e outros fatores importantes para o projeto de sistemas de trabalho, que são:
MORAES & SOARES (1989) diz que "a ergonomia seja no enfoque francês, ou no americano,
lança mão de métodos e técnicas de pesquisa já consagrados por outras ciências e disciplinas
tecnológicas, seu objeto - o trabalhador trabalhando no seu local de trabalho - também é o foco
da engenharia de produção e do estudo de métodos. A ergonomia também divide seu objetivo,
quer seja adaptar o trabalho, maquinária e equipamentos às características e capacidades
humanas, ou seja melhorar as condições específicas do trabalho humano, como a higiene e
segurança do trabalho. A singularidade da ergonomia está justamente na sua práxis que integra
as pesquisas sobre o homem, como os estudos tecnológicos e com a proteção e avaliação de
sistemas, interfaces e componentes, sempre a partir das variáveis fisiológicas e cognitivas
humanas e segundo critérios que privilegiam o conforto, a segurança e o bem-estar do homem".
A ergonomia situa-se como mediadora entre as ciências, que estudam os diversos aspectos do
ser humano, e as diversas tecnologias projetuais, para as quais fornece recomendações
ergonômicas que viabilizam projetos e ambientes humanos. Na figura 1, MORAES (1992),
apresenta-nos um quadro da Ergonomia com suas etapas de intervenção e finalidades.
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Figura 1 – Fronteiras da Ergonomia, Ciência e Tecnologia: Projetos Ergonômicos (MORAES, 1992)
Várias são as definições da ergonomia. Alguns autores a classificam como ciência, outros como
tecnologia. Alguns destacam os aspectos sistemáticos e comunicacionais, enquanto outros
focalizam a questão da adaptação da máquina ao homem. No entanto, a questão onde aparecem
mais divergências é, sem dúvida, o caráter científico da ergonomia. Muitos que afirmam que
Ergonomia é uma ciência imaginam que dessa maneira tornam a ergonomia uma disciplina mais
séria e importante – afinal ela é uma ciência!
Cabe ressaltar, em primeiro lugar, que assim se comete um equívoco sobre o que é a tecnologia
e sobre suas relações com a ergonomia. Cumpre enfatizar que a tecnologia utiliza os métodos
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científicos. Consideram-se as definições de tecnologia substantiva e operativa de Mario Bunge, a
diferença de arte, técnica, tecnologia e ciência. Ao final propõe-se uma definição que considera a
ergonomia como a tecnologia projetual das comunicações nas interfaces humano-tecnologia.
O tema se mostra mais atual quando a IEA – International Ergonomics Association – em seu
último congresso trienal acaba de propor uma nova definição para Ergonomia. Discute-se o
conceito de tecnologia para argumentar e definir a Ergonomia como uma tecnologia substantiva
e operativa.
Durante a reunião do Conselho Executivo da IEA, nos dias 29 e 30 de julho de 2000, antes do
14º Congresso Trienal de Ergonomia, que ocorreu até 4 de agosto, em San Diego, Califórnia,
aconteceu uma saudável discussão sobre ajustes na definição de Ergonomia, proposta pela IEA.
Estavam presentes cerca de 50 representantes das várias associações e sociedades de
Ergonomia existentes na América, na Europa, na Ásia e na África. Um dos itens que provocou
mais debates foi a definição de Ergonomia. Levantaram-se preocupações relativas à falta de
referência para a pesquisa e o ensino no que tange ao papel da Ergonomia.
Esta aplicação destaca-se como uma arte, como a arte do engenheiro ou do médico, porque
ele trata de colocar em jogo um conjunto de conhecimentos técnicos e práticos para produzir
realizações particulares. (Laville, 1998). “A definição de Ergonomia poderia ser simplesmente
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“ciência do trabalho”. Uma ciência que não consideraria as fronteiras convencionais impostas
pelas práticas da direção da empresa, às quais fazem eco os discursos dos especialistas. O
engenheiro que concebe as máquinas, os organizadores que repartem as funções, o agente
de organização e métodos que fixa os tempos e movimentos, o médico do trabalho
preocupado com a higiene, o responsável pela segurança que só pensa em acidentes aqueles
que tratam da qualidade preocupados com a fiabilidade humana, o diretor de pessoal que
recruta e negocia as remunerações, os sindicalistas, que lutam contra os licenciamentos...
Todos se ocupam do trabalho e do trabalhador, mas seus enfoques são parciais e talvez
contraditórios: a segurança pode se opor à produtividade, uma organização muito restritiva
pode impedir as iniciativas, e as qualificações contradizerem as competências...Uma ciência do
trabalho digna deste nome deverá poder superar estas contradições”. (de Montmollin, 1996).
“Esta é a razão por que também não propusemos uma definição normativa da ergonomia.
Esta de fato não constitui um campo disciplinar homogêneo, estabelecido, onde os conteúdos
e as fronteiras sejam objeto de um consenso majoritário (sabemos por exemplo que as
instituições universitárias francesas não reconhecem a ergonomia como uma disciplina).
(...) Mas o território e as fronteiras não têm nada de definitivo. A ergonomia vive hoje uma
crise de crescimento e se interroga sobre sua identidade. Até onde nós podemos ou devemos
assumir o “mundo do trabalho”? (de Montmollin, 1997).
(...) “Esta a razão por que se prefere, aqui, Ergonomias (no plural). (...) Parece impossível
definir a ergonomia no singular, como se faz com as disciplinas cuja historia determinou
fronteiras maioritariamente reconhecidas, como a física, a psicologia ou a sociologia. O plural
é, no entanto, modesto: pretende-se distinguir, na história, como nos conceitos e práticas,
dois principais conjuntos de ergonomias, que se referem a dois grandes modelos, ou quadros
teóricos gerais. (de Montmollin, 1997).
“O primeiro corresponde à ergonomia clássica, mundialmente majoritária, liderada pelos
americanos e britânicos, que qualificaremos como centrado no componente humano dos
sistemas homem-máquina. O segundo, antes isolado sobretudo nos países francófonos
(França, Bélgica, Quebec), mas que felizmente tende a se universalizar, que qualificaremos
como a ergonomia centrada noa atividade humana e, mais precisamente, atividade situada.
(de Montmollin, 1997).
“Estas duas grandes correntes não estão em oposição (mesmo se talvez os ergonomistas que
as representam estão...), mas se complementam. Esta dicotomia entre a duas principais
famílias de ergonomias repousa sobre os quadros teóricos, os modelos e os métodos
diferentes (de Montmollin, 1997).
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“(...) Hoje, são sobretudo, mas não exclusivamente, as atividades ditas cognitivas que são
estudadas (a ergonomia cognitiva se constitui assim como uma certa autonomia). Quer dizer,
para ser rápido, as atividades onde o essencial é constituído pela compreensão, pelo
operador, de situações às quais ele dá uma significação. As situações que comportam quase
sempre uma dimensão coletiva”. (Montmollin, 1997).
A Ergonomia é uma disciplina científica um pouco especial. Ela é constituída por várias
disciplinas, mais exatamente por partes de disciplinas, que concorrem para o conhecimento
científico de homem no trabalho, sobre os diversos aspectos fisiológicos, psicológicos,
sociológicos e médicos do trabalho humano. Este conhecimento científico visa um objetivo
prático que condiciona e justifica a própria existência da Ergonomia: a adaptação do trabalho
ao homem. Não é suficiente estudar o trabalho humano para que o estudo possa ser
qualificado de ergonômico. É necessário que o objetivo do estudo seja explicitamente a
adaptação do trabalho às diversas características dos homens que trabalham numa
determinada situação, (Sperandio, 1988).
“Pode-se definir Ergonomia como o estudo das habilidades e características humanas que
afetam o design de equipamentos, sistemas e trabalhos. Ela é uma atividade interdisciplinar
com base na engenharia, psicologia, anatomia, fisiologia, e estudos organizacionais. Seu
objetivo é melhorar a eficiência, a segurança e o bem-estar do operador”. (Corllet & Clark,
1995).
“Para muitas pessoas a ergonomia é um conceito, uma idéia. É uma maneira de olhar o
mundo, de pensar sobre as pessoas e como elas interagem com todos os aspectos do seu
ambiente, seus equipamentos e sua situação de trabalho. A Ergonomia tem como foco central
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a proposição que desde que as pessoas habitaram este mundo muito antes das máquinas (na
verdades, as pessoas inventaram as máquinas) e desde que desejamos que nossa interação
com nosso ambiente seja efetiva é fundamental que nós nos mantenhamos no total controle
das operações do sistema no qual trabalhamos. (Oborne, 1995).
“Para garantir este resultado e para assegurar ótima interação, as “máquinas” e o ambiente
de trabalho no qual elas operam devem ser projetados para se adaptar aos pensamentos,
desejos e habilidades das pessoas”. (Oborne, 1995).
A palavra ‘trabalho’ pode ser usada em sentido amplo e restrito. No sentido estrito ela se
refere às coisas que fazemos para ganhos econômicos – ou seja para ganhar a vida. (...) Mas,
em sentido, amplo ‘trabalho’ se refere a quase todas as espécies de atividades humanas, que
envolvem um propósito ou esforço. (...) A ciência da Ergonomia lida com o trabalho no
sentido amplo, embora o trabalho em sentido estrito tenha sido fundamental para o seu
desenvolvimento.
“O trabalho geralmente envolve o uso de máquinas ou ferramentas. (...) De algum modo faz
mais sentido definir ergonomia em termos do seu papel no processo de design. Tende-se,
assim, a refletir mais acuradamente o que os ergonomistas profissionais realmente fazem. A
Ergonomia é a aplicação da informação científica relativa ao ser humano ao design de objetos,
sistemas, e ambiente para uso humano. (Pheasant, 1991)”.
“Quando um objeto é projetado para uso humano ele deve necessariamente ser usado com
algum propósito. Este propósito pode (em sentido amplo) ser chamado trabalho.
Os dois enfoques da ergonomia podem ser sintetizados na seguinte frase, que é mais um
“slogan do que uma definição: A Ergonomia é a ciência de adequar o trabalho aos
trabalhadores e os produtos aos usuários”.
“Uma ação efetiva da ergonomia é aquela que otimiza: a eficiência no trabalho (performance,
produtividade, etc,); saúde e segurança; conforto e usabilidade (fácil de usar)” (Pheasant,
1991).
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Nos Estados Unidos, o termo equivalente foi “fatores humanos”, mas ergonomistas em todos
o mundo consideravam esta denominação como sinônimo de ergonomia e, mesmo nos
Estados Unidos, sua sociedade profissional é agora conhecida como “Human Factors and
Ergonomics Society” (Wilson, 1995).
“Ergonomia (ou human factors) é a disciplina científica que trata de entender as interações
em humanos e outros elementos de um sistema; é a profissão que aplica teoria, princípios,
dados e métodos para projetar de modo a otimizar o bem-estar humano e a performance
total do sistema”. (Conselho Executivo da IEA, 2000).
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Cabe ressaltar, em primeiro lugar, que assim se comete um equívoco sobre o que é a
tecnologia e sobre suas relações com a ergonomia. Cumpre enfatizar que a tecnologia utiliza
os métodos científicos. Consideram-se as definições de tecnologia substantiva e operativa de
Mario Bunge, a diferença de arte, técnica, tecnologia e ciência. Ao final propõe-se uma
definição que considera a ergonomia como a tecnologia projetual das comunicações nas
interfaces humano-tecnologia.
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2) é empregado para controlar, transformar ou criar coisas ou processos, naturais ou sociais".
(BUNGE, 1980)
Observe-se que, segundo esta definição, uma tecnologia pode ter ou não uma interseção com
alguma ciência. Todas as tecnologias tradicionais - as engenharias e as tecnologias biológicas
- têm algo em comum com a ciência, à parte o método. Ao contrário, algumas das tecnologias
novas, tais como a pesquisa operacional e a informática, apenas partilham com a ciência seu
método. Logo, compreende-se como tecnologia todas as disciplinas orientadas para a prática,
sempre que usem o método científico.
Bunge (1969) observa que uma teoria tecnológica pode ser relevante para a ação, seja
porque forneça conhecimento sobre os objetos da ação (máquinas, por exemplo) seja porque
trate da própria ação (por exemplo, as decisões que precedem e controlam a fabricação ou o
uso das máquinas). Os dois tipos de teoria consistem em teorias tecnológicas.
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1.6 Conclusões
Apesar das diferenças entre ciência, estudo científico e tecnologia, todos os ergonomistas,
entretanto, consideram os seguintes aspectos:
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“Human Factors/ Ergonomia sempre foi desafiadora, frustrante algumas vezes, gratificante em
outros momentos, mas nunca insípida. Eu posso honestamente afirmar, como retrospecto,
que eu tive uma vida plena – uma vida excitante – e que eu gostei de falar às pessoas sobre a
ergonomia, educando estudantes e outros para continuar, quando eu tiver que sair, e lutando
corpo a corpo com os problemas, tentando fazer nosso mundo material mais seguro, mais
confortável, e fácil de enfrentar”. (Chapanis, 1999).
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2 O Pensamento / O Enfoque Sistêmico
A ABORDAGEM SISTÊMICA
Apareceram máquinas auto controladas, desde o humilde termostato doméstico até os mísseis
autoguiados da Segunda Guerra Mundial e os mísseis imensamente aperfeiçoados de nossos
dias. A tecnologia foi levada a pensar não em termos de máquinas isoladas, mas em termos
de “sistemas”.
Esta evolução seria simplesmente mais uma das múltiplas facetas da modificação que se
passa em nossa sociedade tecnológica se não fosse a existência de um importante fator que
pode não ser devidamente compreendido pelas técnicas altamente complicadas e
necessariamente especializadas da ciência dos computadores, da engenharia dos sistemas e
campos relacionados com estas últimas.
Não é apenas a tendência da tecnologia de fazer as coisas maiores e melhores, ou mais
lucrativas, destruidoras, ou ambas. Trata-se de uma transformação nas categorias básicas de
pensamento da qual as complexidades da moderna tecnologia são apenas uma – e
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possivelmente não a mais importante – manifestação. De uma maneira ou de outra, somos
forçados a tratar com complexos, com “totalidades” ou “sistemas” em todos os campos do
conhecimento.
Pode-se afirmar com Reis (1980, apud MORAES, 2000), que a abordagem de sistemas “nada
mais é do que um modo de pensar, uma maneira lógica de desenvolver o raciocínio, quando
trabalhamos com problemas amplos, nos quais necessitamos desta visão global. (...) Através
de uma série de passos, através de um conjunto de regras, procuramos guiar e construir
linhas básicas para o desenvolvimento do nosso raciocínio e intuição em problemas
complexos”.
Ou, como explicita Mendonça (1972, apud Moraes, 2000), “a abordagem de sistemas procura
disciplinar nosso raciocínio e nossa intuição, através de um processo lógico e de uma análise
formal e global do problema”.
Churchman (1972, apud MORAES, 2000), declara: “O enfoque sistêmico terá de perturbar
processos mentais típicos e sugerir alguns enfoques radicais para pensar. Na verdade, pode
ser já uma atitude de todo radical para alguém pensar primeiro sobre o objetivo global e em
seguida começar a descrever o sistema em função deste objetivo global”.
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Este homem que via o mundo como uma máquina tratou de desenvolver máquinas que
fizessem o trabalho do homem.
A mecanização permitiu substituir o homem por uma máquina como fonte de trabalho físico.
O próprio trabalho acabou parcelado em elementos cada vez menores que eram definidos
para máquinas e homens e então conjugados em modernas linhas de produção. A
produtividade aumentou e o trabalho se desumanizou. O processo que substituiu o homem
por máquinas acarretou que o homem se comportasse como uma máquina e desempenhasse
tarefas simples, repetitivas e monótonas.
Após a 2a. Guerra Mundial desenvolve-se uma nova maneira não mecanicista de abordar o
mundo - é a Idade dos Sistemas. Um sistema é um todo que não pode ser separado em
partes sem perda de suas características essenciais e que deve ser estudado como um todo.
Em vez de explicar o todo em temos de suas partes, as partes começam a ser explicadas em
termos do todo. Mais ainda, as coisas a serem explicadas são vistas como partes do todo mais
amplos em vez de serem consideradas como todos as serem divididos em partes. Em vez de
pensar no homem como similar da máquina, começa-se a pensar na máquina em temos
humanos.
A Idade dos Sistemas desencadeou a Revolução Pós-Industrial. Esta revolução muito recente
baseia-se em máquinas que podem observar (gerar dados), comunicar dados, e manipula-los
logicamente. Tais máquinas propiciam a mecanização do trabalho mental, a automação.
A Abordagem de Sistemas vai mais longe e recusa a separação entre ciência e humanidades.
O enfoque sistêmico considera que ciência e humanidades podem ser vistas e discutidas
separadamente, mas não podem ser separadas. À ciência cabe buscar a similaridade entre
coisas que parecem ser diferentes; a humanidade compete buscar diferenças entre coisas que
parecem ser iguais. Ambas são necessárias.
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2.2 Homens e Sistemas
Como afirma Chapanis (1972, apud MORAES, 2000), em quaisquer sistemas de equipamentos
utilizam-se ou envolvem-se pessoas, pois os sistemas de equipamentos são sempre
elaborados com algum objetivo humano:
eles existem para atender a determinada necessidade humana;
eles são planejados e construídos pelo ser humano;
são criaturas humanas que os manejam, supervisionando-os, observando-lhes o
funcionamento e cuidando de sua manutenção.
O sistema de sinais de trânsito que regula o fluxo de veículos de qualquer grande cidade
funciona independentemente de operadores humanos. Depois que se instalam os sinais e
seus mecanismos reguladores, os sinais passam a acender e a apagar, automaticamente. Em
sistemas desse tipo, o papel do homem é de projetista, construtor e manutenidor.
Por outro lado, o automóvel é um bom exemplo de sistema altamente complexo, em que o
operador desempenha ativo papel de comando e intervém diretamente no sistema a cada
momento. Um automóvel pode andar durante algum tempo sem motorista, mas, para servir
ao seu propósito básico, como veículo para transportar algo ou alguém de um ponto a outro,
a atuação constante de um motorista é absolutamente indispensável.
De acordo com Meister (1989, apud MORAES, 2000), o conceito de sistema não é uma crença
nativa, que outras disciplinas usavam antes da ergonomia utilizá-lo. Sua aplicação na
ergonomia possibilitou o desenvolvimento de uma estrutura conceitual formal. No contexto da
ergonomia, o conceito de sistema significa que o desempenho humano no trabalho só pode
ser corretamente conceituado em termos de todos organizados e que para o desempenho do
trabalho este todo organizado é o sistema homem-máquina.
Atualmente, falam-se maravilhas da automação e sonha-se com o dia em que as máquinas
possam fazer tudo sozinhas. O fato é que muitos sistemas automáticos têm que utilizar
sempre o homem, seja de uma forma ou de outra. Na verdade, as pessoas se enganam
freqüentemente a respeito do montante de trabalho que os operadores humanos executam
em sistemas automáticos. Embora a proporção de homens para cada unidade mecânica seja
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bem maior do que em sistemas automáticos, há operadores trabalhando e participando
ativamente da manipulação e do controle dos sistemas automatizados.
Mais ainda: a partir do enfoque sistêmico, e com a visão do sistema homem + máquina como
um sistema aberto, o ergonomista considera as injunções da tecnologia, do quadro sócio-
econômico e da maturidade sindical. Aí reside sua originalidade, assim como a origem da sua
eficiência - o ergonomista estuda o trabalho numa perspectiva centrada no sistema - no
sistema homem-máquina - e sempre ressalta os requisitos humanos de segurança, conforto e
bem-estar.
De acordo com REIS (1980), tal definição ainda guarda certo grau de generalidade. Cabe
adicionar algo que, poderíamos dizer, seriam requisitos para qualquer entidade 'lato sensu' ser
considerada um sistema:
Implica que a modificação em uma ou mais resulta em alteração em pelo menos uma
outra parte do todo.
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2.3.2 Segundo um Plano ou Princípio
Uma definição comumente aceita para sistema, segundo Schoderbek (1990), apud
MORAES (2000), é que um sistema é um conjunto de objetos junto com as relações
entre os objetos e entre seus atributos relacionados uns com os outros e com o
ambiente deles de modo a formar um todo.
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Objetos são os elementos do sistema. Do ponto de vista estático, os objetos de um
sistema seriam as partes que formam o sistema. Entretanto, a partir da visão funcional,
os objetos do sistema são as funções básicas desempenhadas pelas partes do sistema.
Importam, portanto, não as partes em si mas sim as funções das partes.
Cabe às relações ligar os objetos e mante-los juntos. Embora cada relação seja única e
deva ser considerada no contexto de um dado conjunto de objetos, as relações
encontradas no mundo empírico pertencem a uma das três categorias: simbiótica,
sinergética, redundante.
A relação sinergética, embora não seja funcionalmente necessária, é útil porque sua
presença é fundamental para o desempenho do sistema. Sinergia implica "ações
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integradas". Na nomenclatura de sistemas, entretanto, o termo significa mais que o
esforço cooperativo. A relação sinergética é a ação integrada de subsistemas semi-
independente que considerados em conjunto produz uma saída total maior que a soma
de suas saídas tomadas independentemente. Uma expressão coloquial e conveniente da
sinergia é dizer que 2 + 2 = 5 ou 1 + 1 > 2.
Relação redundante é aquela que duplica outra relação. A razão para a redundância é a
confiabilidade. Relações redundantes aumentam a probabilidade de que o sistema opere
como foi projetado para funcionar - satélites, naves espaciais, aviões, computadores.
Quanto maior a redundância maio a confiabilidade, mas maior também o custo.
Atributos são propriedades de relações e objetos. Eles manifestam o modo como algo é
conhecido, observado ou introduzido em um processo. Uma máquina, por exemplo, pode
ter como seus atributos as seguintes características: um número, uma capacidade, uma
corrente elétrica requerida, x anos de garantia etc.
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A fronteira de um sistema depende das variáveis consideradas. Pode-se ajustar a
fronteira para que determinadas variáveis fiquem dentro ou fora do sistema. Um sistema
visto a partir de diferentes níveis pode ter diferentes fronteiras. O perigo é que, sem um
entendimento do sistema, determine-se uma fronteira muito estreita, o que impede que
surjam soluções significativas. Tratam-se os sintomas, mas não as verdadeiras causas.
Ao contrário, uma fronteira muito ampla pode eliminar qualquer possibilidade de solução.
No que se refere ao ambiente, pode-se afirmar que cada sistema possui algo interno ou
externo a ele. O que é externo pertence ao ambiente do sistema e não ao próprio
sistema. No entanto, o ambiente do sistema inclui não somente aquilo que se situa fora
do completo controle do sistema, mas também aquilo que, ao mesmo tempo, determina
de algum modo o desempenho do sistema. Por esta razão, o ambiente pode ser
considerado como fixo ou um dado a ser incorporado ao problema do sistema.
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3 Intervenção Ergonomizadora: (Moraes e Mont’Alvão, 2000)
Apreciação ergonômica;
Diagnose ergonômica;
Projetação ergonômica;
Avaliação, validação e/ ou testes ergonômicos;
Detalhamento ergonômico e otimização
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Registram-se freqüências, seqüências e/ou duração de posturas assumidas, tomadas de
informações, acionamentos, comunicações e/ou deslocamentos. Os níveis, amplitude e
profundidade dos levantamentos de dados e das análises dependem das prioridades
definidas, dos prazos disponíveis e dos recursos orçamentários. Esta etapa se encerra
com o diagnóstico ergonômico que compreende a confirmação ou a refutação de
predições e/ou hipóteses. Conclui-se com: o quadro da revisão da literatura, as
recomendações ergonômicas em termos de ambiente, arranjo e conformação de postos
de trabalho, seus subsistemas e componentes, programação da tarefa - enriquecimento,
pausas, etc.
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as especificações ergonômicas para os subsistemas e componentes interfaciais,
instrumentais, informacionais, acionais, comunicacionais, interacionais, instrucionais,
movimentacionais, espaciais e físico-ambientais.
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Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 28
4 Alguns Conceitos para Modelagem do Sistema Homem-
Tarefa-Máquina
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objeto físico, dispositivo, equipamento, facilidade, coisa, ou seja lá o que for que as
pessoas usam para realizar alguma atividade que objetiva alcançar algum propósito
desejado ou para desempenhar alguma função. (...)
"A natureza essencial do envolvimento das pessoas nos sistemas refere-se a um papel
ativo, interagindo com o sistema para realizar a função para a qual o sistema foi
projetado".
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4.2 Caracterização dos Sistemas Homens-Máquinas
Embora estas definições possam parecer muito genéricas e pouco precisas, elas sugerem
certas características comuns aos sistemas. A partir de MEISTER & RABIDEAU (1965), tem-
se que:
2) Tanto homens quanto máquinas são necessários para o desempenho do sistema. Não
existe sistema completamente automático ou completamente manual; mesmo nos sistemas
conhecidos como completamente automáticos (como os que podem ser encontrados em
refinarias de produtos químicos), homens são necessários para realizarem tarefas diretivas,
de monitoração, de controle, de regulação e de manutenção.
Nas sociedades primitivas, ou mesmo certos canteiros da construção civil, onde o trabalho
manual é amplamente realizado, alguns instrumentos são sempre utilizados.
4) O objetivo do sistema é efetuar mudanças ambientais a curto, médio e/ou longo prazos.
O sistema funciona de maneira a modificar o seu ambiente externo (ou para modificar as
suas relações com o seu ambiente) e o seu próprio ambiente interno, quando ocorrem
disfunções, ou para cumprir instruções de manutenção preventiva.
5) O sistema possui tanto um ambiente interno quanto um externo. É óbvio que um sistema
não pode ser conceituado sem a definição do seu ambiente, pois este diferencia as coisas
que são do sistema daquelas que não são. A definição daquilo que constitui um ambiente
para um sistema em particular depende de que objetos devem ou não ser considerados
como parte do sistema.
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 31
A demarcação entre o sistema e o seu ambiente externo, no entanto, pode apresentar
dificuldades. O sistema também é considerado como tendo um ambiente interno constituído
pelos componentes que fazem parte do sistema. Em relação ao sistema como um todo, os
equipamentos individuais, as fiações interconectadas e os operadores de equipamentos
constituem o ambiente interno do sistema.
De acordo com MEISTER (1989), a ergonomia busca entender e explicar como determinadas
varáveis afetam o desempenho humano no trabalho. Deste modo, a ergonomia diferencia-se
de outras ciências a partir da sua ênfase sobre o trabalho.
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 32
Funções do sistema: a função é o objetivo de unia ação, implica na consecução de um
requisito do sistema e é desempenhada por um subsistema ou componente. As funções
implementam os requisitos. O ponto de partida para a determinação das funções do sistema
é a análise dos requisitos do sistema. Deve-se sempre definir a função por um verbo
(atuando sobre algo) e um substantivo (objeto sobre o qual o verbo atua).
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 33
Saídas (resultados esperados): correspondem aos resultados do processo de
transformação das entradas. As entradas devidamente processadas e convertidas em
resultados são exportadas de novo para o ambiente, na forma de informações, produtos,
serviços ou novos comportamentos. As saídas devem apresentar coerência com a meta do
sistema. Para facilitar o controle e avaliação do sistema. Para facilitar o controle e avaliação
do sistema, as saídas devem ser quantificáveis, de acordo com parâmetros previamente
fixados - os padrões de desempenho.
Objetivo geral: corresponde ao resultado final que se pretende atingir quanto à obtenção
do sistema (planejamento e projetação).
De posse dos conceitos básicos necessários à modelagem verbal do sistema parte-se para a
construção dos modelos do sistema operando.
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 34
a) Caracterização do sistema
Compreende a definição:
O sistema-alvo situa-se numa posição serial e recebe entradas de um sistema que lhe é
anterior - o sistema alimentador - e, por sua vez, produz saídas para um sistema que lhe
é posterior - o sistema ulterior. As entradas são processadas pelo processo característico
do sistema alvo (figura 3).
c) Ordenação hierárquica
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 35
Figura 3 – Caracterização e posição serial do sistema
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 36
d) Expansão do sistema
Uma das principais noções que a abordagem sistêmica propõe é a de expansionismo dos
sistemas. Todo sistema apresenta outros sistemas paralelos a ele próprio e recebe como
entrada produtos provenientes de sistema serial que o antecede e produz saídas que o
sucede. Existem ainda os sistemas redundantes que replicam o sistema alvo. Tem-se,
portanto, uma ordem hierárquica e uma posição em série, (figura 05)
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 37
Figura 6 – Modelagem comunicacional do sistema
Fun./Oper.
Atividade
alternativa
Função Função Fun./Oper.
Operação Operação Atividade
Atividade Atividade em série
Fun./Oper.
Atividade
alternativa
Fun./Oper.
Atividade
simultâneas
Função Função Função
Operação Operação Operação
Atividade Atividade Atividade
Fun./Oper.
Atividade
simultâneas
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 38
INÍCIO Todo fluxograma é iniciado com uma seta com a palavra início.
O final do fluxograma deve ser indicado com uma linha simples e a palavra
FIM fim.
Todas as atividades devem aparecer dentro de uma caixa com seu número
que corresponde à posição dela no fluxograma.
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 39
Exemplo:
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 40
g) Tabela de função - informação - ação
Esta técnica aperfeiçoa cada função ou ação do diagrama de fluxo funcional pela
identificação da informação que é requerida para que cada ação ou decisão ocorra. Esta
análise é geralmente complementada com fontes de dados, problemas potenciais,
incidência de fatores associados à indução ao erro ou acidente em cada função ou ação
(Chapanis, 1996).
Como resultado, tem-se uma lista detalhada de requisitos de informação e de ação para
interfaces operador-sistema, que pode prever a necessidade de requisitos de suporte,
problemas potenciais, e prováveis soluções. A análise pode produzir sugestões para a
melhoria do design de hardware, software e procedimentos.
Informação Ação
Função Informações Fontes de Objetos da(s)
Dificuldades Ação (ões) Dificuldades
requeridas informação ação(ões)
7.2.3 1. Tipo de 1. Manual do 1. Dirigir-se à 1. Bomba de
Preparação combustível proprietário bomba de combustível
para encher o requerido combustível
tanque de (álcool, 2. Atendente do
combustí-vel gasolina, diesel) posto de
2. Localização combustível Pode não estar
da tampa do aparente e o
tanque de 3. Odor do motorista pode
combustível combustível parar do lado
(lado direito, errado da
lado esquerdo, bomba de
atrás da placa combustível
do carro)
3. Forma de 1. Destravar a 1. Chave da Existência de
travamento da tampa do trava travas anti-furto
tampa de tanque não aparente
combustível 2. Tampa
2. Tirar a tampa
do tanque
Tabela 1 – Tabela de função - informação - ação
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 41
4.4 Problematização do Sistema Homem-Tarefa-Máquina
Como afirmam Reis et alli (1980), a primeira etapa do processo de engenharia de sistemas
compreende a identificação da situação. E uma tarefa difícil, mas da qual dependem todos os
passos posteriores. Na identificação da situação, procura-se levantar a maior quantidade de
informação possível sobre a situação, de forma a permitir, em primeiro lugar, uma definição
clara e objetiva do problema; em segundo lugar, a análise do meio ambiente; e, finalmente, a
delimitação da área de atuação.
Ackoff (1974) ressalta que uma solução bem sucedida para qualquer problema só é possível
se encontrarmos a solução certa para o problema certo: E mais freqüente errar porque se
solucionou o problema errado do que errar porque se adotou uma solução errada para o
problema certo. Para resolver um problema, utilizamos instrumentos provenientes da ciência e
da tecnologia, mas a identificação destes problemas, tem muito pouco a ver com isso: esta
identificação depende de nossa filosofia e visão do mundo. E isto, como observa o autor,
"depende dos conceitos e idéias que usamos e como os usamos para organizar nossa
percepção do mundo".
Como diz Dewey (apud King, 1981) "não formular o problema é andar às cegas, no escuro". A
maneira pela qual se concebe o problema é que possibilita decidir o que se deve considerar
ou desprezar, que elementos selecionar ou rejeitar, e qual o critério para a relevância ou não
da hipótese e da estruturação dos conceitos. Vera (1974), por sua vez, diz que "formalmente,
um problema é um enunciado ou uma fórmula. Do ponto de vista semântico, é uma
dificuldade, ainda sem solução, que é mister determinar com precisão para intentar, em
seguida, seu exame, avaliação, crítica e solução". De acordo com Rudio (1986),
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 42
"Quando se diz que toda pesquisa tem início com algum tipo de problema, torna-se
conveniente esclarecer o significado desce termo. Uma acepção bastante corrente identifica o
problema com questão que dá margem a hesitação ou perplexidade, por difícil de explicar ou
resolver. Outra acepção identifica problema com algo que provoca desequilíbrio, mal-estar,
sofrimento ou constrangimento às pessoas. Contudo, na acepção científica, o problema é
qualquer questão não resolvida e que é objeto de discussão, em qualquer domínio do
conhecimento. (...) um problema científico é [estável cientificamente quando envolve variáveis
que podem ser observadas ou manipuladas".
"O problema é uma defasagem entre o que é e o que deveria ser, ao se considerar um
determinado aspecto da realidade; e que, para ser o que deveria, requer um reajustamento
(solução), capaz de mudar os aspectos problemáticos.
O fato, por exemplo, de um motor estar parado não constitui um problema; mas o dele estar
parado quando deveria estar funcionando é um problema e requer solução, pois causará
dificuldades a alguém. Identicamente, se o motor funciona quando deveria estar parado, tal
implica uma situação problemática. A queda das folhas das plantas não nos diz muito, mas se
esse fato baixa a produção e a produtividade agrícola, configura-se uma situação
problemática. A falta de mercado para uma economia com excesso de produção ou a falta de
produtos para atender à demanda do mercado em expansão são situações problemáticas".
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 43
Figura 8 - Representação da situação problemática
Para melhor apreender os problemas quando das primeiras visitas ao local de trabalho,
durante a apreciação ergonômica cumpre ter como orientação categorias de problemas que
compreendem deficiências e faltas e falhas específicas. Com as categorias de problemas em
mente, torna-se mais fácil e eficiente para o ergonomista realizar observações assistemáticas
em campo e propor questões durante a entrevista focalizada.
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 44
Cumpre observar que os problemas que determinam constrangimentos para o usuário /
operador / trabalhador / consumidor / manutenidor também impedem a implementação dos
requisitos do sistema e implicam óbices para o atingimento da sua meta do sistema alvo. O
ergonomista, no entanto, não deve negligenciar as questões da operação, do processo
produtivo e da tecnologia. Deste modo, as questões de resultados despropositados do
sistema, incidentes e paradas, baixo rendimento do trabalho, baixa produtividade da empresa
e comprometimento da qualidade dos produtos, são indicadores que o ergonomista deve
considerar durante a apreciação e o diagnóstico do sistema homem-tarefa-máquina.
Mais ainda, cabe observar: as entradas que, devido à não conformidade, gerarão problemas
para o processamento e, conseqüentemente, para o operador; as saídas / resultados
despropositados explicitam disfunções do sistema.
Problemas Caracterização
Interfaciais posturas prejudiciais resultante de inadequações do campo de visão / tomada de
informações, do envoltório acional / alcances, do posicionamento de componentes
comunicacionais, com prejuízos para os sistemas muscular e esquelético
Instrumentais arranjos físicos incongruentes de painéis de informações e de comandos, que
acarretam dificuldades de tomada de informações e de acionamentos, em face de
inconsistências de navegação e de exploração visual, com prejuízos para a
memorização e para a aprendizagem
Informacionais / deficiências na detecção, discriminação e identificação de informações, em telas,
Visuais painéis, mostradores e placas de sinalização, resultantes da má visibilidade,
legibilidade e compreensibilidade de signos visuais, com prejuízos para a
percepção e para a tomada de decisões
Acionais: constrangimentos biomecânicos no ataque acional a comandos e empunhaduras;
Manuais / ângulos, movimentação e aceleração, que agravam as lesões por traumas
Pediosos repetitivos
dimensões, conformação e acabamento, que prejudicam a apreensão e acarretam
pressões localizadas e calos
Comunicacionais: falta de dispositivos de comunicação a distância
Orais / Gestuais ruídos na transmissão de informações sonoras ou gestuais
má audibilidade das mensagens radiofônicas e/ou telefônicas
Cognitivos dificuldade de decodificação, aprendizagem, memorização, em face de
inconsistências lógicas e de navegação dos subsistemas comunicacionais e
dialogais
resultam perturbações para a seleção de informações, para as estratégias
cognoscitivas, para a resolução de problemas e para a tomada de decisões
Interacionais dificuldades no diálogo computadorizado, provocadas pela navegação, pelo
encadeamento e pela apresentação de informações em telas de programas
problemas de utilidade (realização da tarefa), usabilidade (diálogo) e
amigabilidade (apresentação das telas), de interfaces informatizadas
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 45
Movimentacio- excesso de peso, distância do curso da carga, freqüência de movimentação dos
nais objetos a levantar ou transportar
desrespeito aos limites recomendados de movimentação manual de materiais,
com riscos para os sistemas muscular e esquelético
De deslocamento excesso de caminhamentos e deambulações
grandes distâncias a serem percorridas para a realização das atividades da tarefa
De acessibilidade despreocupação com a independência e a autonomia dos usuários portadores de
deficiência, dos idosos e das crianças, considerando locomoção e acessos, nas
ruas e edificações e nos sistemas de transporte
má acessibilidade, espaços inadequados para movimentação de cadeiras de
rodas, falta de apoios para utilização de equipamentos
Urbanísticos deficiência na circulação dos usuários no espaço da cidade
ausência de pontos e/ou marcos de referência que auxiliem a circulação e
orientação dos usuários no espaço urbano
falta de áreas públicas de lazer e integração.
Espaciais / deficiência de fluxo, circulação, isolamento; má aeração, insolação, iluminação,
arquiteturais de isolamento acústico, térmico, radioativo
Interiores falta de otimização luminosa, da cor, da ambiência gráfica, do paisagismo
Físico-ambientais temperatura, ruído, iluminação, vibração, radiação, acima ou abaixo dos níveis
recomendados
Químico- partículas, elementos tóxicos e aero-dispersóides em concentração no ar acima
ambientais dos limites permitidos
Biológicos falta de higiene e assepsia, o que permite a proliferação de germes patogênicos
(bactérias c vírus), fungos e outros microorganismos
Naturais exposição às intempéries
exposição excessiva ao sol
Acidentários comprometem os requisitos secretários que envolvem a segurança do trabalho,
em casa, e no ambiente
falta de dispositivos de proteção das máquinas precariedade do solo, de
andaimes, rampas e escadas
manutenção insuficiente
deficiência de rotinas e equipamentos para emergências e incêndios
Operacionais ritmo intenso, repetitividade e monotonia
pressão de prazos de produção e de controles
Organizacionais parcelamento taylorizado do trabalho, falta de objetivação, responsabilidade,
autonomia e participação
Gerenciais inexistência de uma gestão participativa, desconsiderando opiniões e sugestões
dos funcionários
centralização de decisões; excesso de níveis hierárquicos; falta de transparência
nas comunicações das decisões, prioridades e estratégias
falta de política de cargos e salários coerente
Instrucionais desconsideração das atividades concretas da tarefa durante o treinamento
manuais de instrução confusos que privilegiam a lógica de funcionamento em
detrimento das estratégias de utilização
Psicossociais conflitos entre indivíduos e grupos sociais
dificuldades de comunicações e interações interpessoais
falta de opções de repouso, alimentação, descontração e lazer no ambiente de
trabalho
Securitários controle de riscos e acidentes através de atividade prevencionistas, pela
manutenção de máquinas e equipamentos, pela utilização de dispositivos de
proteção coletiva e, em último caso, pelo uso de equipamentos de proteção
individual adequados, pela supervisão constante de instalação de dutos, alarmes
e da planta industrial em geral.
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 46
4.6 Disfunções Sistêmicas do Sistema Homem-Tarefa-Máquina
Problemas Caracterização
Entradas falta de padronização e conformidade das matérias-primas
deficiência no armazenamento e na estocagem
deficiência no planejamento do estoque e da reposição
Saídas / número das unidades abaixo do planejamento
resultados descumprimento de prazos
despropositados falta de qualidade dos produtos acabados
excesso de peças refugadas
Disposição dos falta de ordem, desarrumação de ferramentas, instrumentos,
elementos matérias-primas
resultam prejuízos para a agilidade e qualidade do trabalho e para o
desempenho da tarefa
Funcionamento / deficiências no desempenho do sistema que não atinge a capacidade
confiabilidade esperada; baixa confiabilidade de subsistemas e componentes
Manutenção / descuido com a limpeza e manutenção dos componentes
Conservação obsolência dos equipamentos
das máquinas irregularidades de reparos e reposição das peças
depredação precoce por uso incorreto
Entorno entulho e sujeira no ambiente de trabalho, desconsideração da
limpeza do ambiente e da conservação do espaço arquitetural
Rendimento de deficiência no desempenho da tarefa
trabalho acarretam lentidão, erros e paradas, com prejuízo para o ritmo de
trabalho
resultando irritação, acomodação e desmotivação para o trabalhador
Desempenho do deficiências no desempenho do sistema que não atinge a capacidade
sistema / esperada
Confiabilidade baixa confiabilidade de subsistemas e componentes
problemas com saídas do sistema seja em Termos de:
a) efetividade - produção / número de itens previstos e produzidos
b) eficiência - produtividade (produção com economia de recursos)
c) qualidade e conformidade
Ecológicas despejo de resíduos, refugos e subprodutos na atmosfera, em rios,
lagos e mares
depredação do ambiente com a destruição das florestas e o
esgotamento de reservas não renováveis
Ambiente incompatibilidade das prioridades de investimento com as
externo necessidades da sociedade
insuficiência dos recursos disponíveis para a atualização e inovação
tecnológica em face das políticas governamentais e/ou
organizacionais
instabilidade institucional e política
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 47
Esta fase exploratória conclui-se com o parecer ergonômico, responsável pela passagem da
Apreciação Ergonômica para a Diagnose Ergonômica.
Cabe ressaltar que o Parecer Ergonômico é etapa imprescindível para a determinação dos
passos que se seguirão na Diagnose Ergonômica. De um bom Parecer depende a construção
dos instrumentos que serão aplicados: questionários, entrevistas, verbalizações, registros de
comportamento, escalas de avaliação. Só assim saberemos o que perguntar e o que observar.
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 48
possibilidades tecnológicas e as decisões do decisor. Nesta etapa faz-se uma ilustração
mais detalhada destas situações e apresentam-se os argumentos para sua seleção.
4.7.4 Predições
As Predições são fundamentais para Diagnose Ergonômica. São elas que fornecem
interpretações para as causas dos problemas. Estas causas serão futuramente
investigadas durante a Diagnose Ergonômica. Nesta fase também deve-se buscar
referências na literatura que permitirão fundamentar as predições e constituirão o
Referencial Teórico.
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 49
as disfunções do sistema - que são as conseqüências para a produtividade e
qualidade do sistema e do trabalho, resultantes dos constrangimentos da tarefa
e custos humanos;
as sugestões preliminares de melhoria - que são propostas verbais, ainda muito
incipientes, para a solução dos problemas e atendimento aos requisitos do
sistema;
as restrições - que são os elementos presentes no ambiente do sistema que
impedem que os problemas sejam solucionados.
Uma técnica proposta por Kepner e Tregoe, chamada GUT (Gravidade, Urgência, Tendência)
visa facilitar esta priorização. Para priorizar as ações a serem implementadas, fazem-se três
perguntas a respeito de cada problema encontrado:
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 50
4.8.2 Qual a urgência de se eliminar o problema ?
(relacionando com o tempo disponível para resolvê-lo)
A técnica propõe que o analista/ ergonomista proceda com a avaliação GUT com todos (ou
com o maior número possível) os operadores/ usuários do sistema.
Isto permite uma avaliação participativa e fornece subsídios para as sugestões e conclusões
da etapa da Apreciação Ergonômica. O ergonomista solicita que cada
operador/usuário responda a cada uma das perguntas anteriores e pontue, segundo os
valores apresentados na tabela a seguir.
Ergonomia e Usabilidade – Interação com o Usuário, Suzi Marino Pequini e Anamaria de Moraes 51
5 Referências
PEQUINI, Suzi Mariño. Origens da Ergonomia. Salvador: UNEB, 2000, apostila da disciplina de
Ergonomia dos cursos de Desenho Industrial.
PEQUINI, Suzi Mariño. Ergonomia aplicada ao design de produtos: Um estudo de caso sobre o
design de bicicletas. 2005. 675 f. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo,
2005.
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