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Maringá
2006
SOLANGE FAVERO OENNING
Maringá
2006
SOLANGE FAVERO OENNING
Aprovado em
BANCA EXAMINADORA
1º Examinador:
Prof. Dr. Washington Luis Pacheco de Carvalho ______________________________
Unesp Campus de Ilha Solteira
2º Examinadora:
Profª. Drª. Regina Maria Pavanello ______________________________
PCM – Universidade Estadual de Maringá
Dedico este trabalho
deste trabalho;
Agradeço, em especial, ao meu orientador, ao profº Dr. Marcos Cesar Danhoni Neves.
[...] é verdade que o mundo é o que vemos e que, contudo,
This study aims at investigating the phenomenon "What is this, Mathematics ?", according
to 8th Grade students' conception of a Public Fundamental School in Maringá - state of
Paraná, Brazil. The subject of the study is based on uncountable complaints and anguish
which were lost in teachers' eventuality of living in school context and that are related to a
portion of students' behavior in the classroom. In order to accomplish the work, the
qualitative-phenomenological research method was used, focusing the individual's
existence in his/her lebenswelt. The phenomenon in its own essence was unveiled,
searching the individual's sense of living. Interviews with individuals who experimented
that phenomenon were carried out in order to collect the data, The students under research
were considered to be "uninterested" by the teachers and by the pedagogical team -
students who did not take part in the classroom activities as expected, disrupting the class,
making the classroom work more difficult, according to the school vision as an institution.
The interviews were taped and transcribed in the individuals' language, in order do describe
their real ingenuity, without a previous analysis. After that, ideographic and nomothetic
analyses were performed, followed by the phenomenologic reduction, searching for the
invariables which ground the intended phenomenon. Results show that there is a lack of
interest towards both Mathematics and the whole school structure, expressed by the
behavior entitled "mess", although it is not understood as such. Finally, students'
conceptions of school and Mathematics were interpreted according to their school context
and to their own existence.
INTRODUÇÃO................................................................................................................. 10
CAPÍTULO I: A FENOMENOLOGIA COMO FONTE DE INVESTIGAÇÃO
PARA A PESQUISA EM EDUCAÇÃO: PROCEDIMENTOS TEÓRICOS E
METODOLÓGICOS.................................................................................................. 12
CAPÍTULO II: A MATEMÁTICA NA CONCEPÇÃO DOS PESQUISADORES
EM
EDUCAÇÃO................................................................................................................ 22
CAPÍTULO III: A ESCOLA E OS JOVENS: BUSCANDO SIGNIFICAÇÕES NA
ESCOLARIZAÇÃO MATEMÁTICA DE ALUNOS DE 8ª SÉRIE DO ENSINO
FUNDAMENTAL ............................................................................................................ 28
3.1 SITUANDO OS SUJEITOS EM SEU AMBIENTE
ESCOLAR.......................................................................................................................... 28
3.2 OS DISCURSOS DOS ALUNOS DE 8ª SÉRIE DO ENSINO
FUNDAMENTAL.............................................................................................................. 30
3.2.1 Discurso do Sujeito A ............................................................................................... 30
3.2.2 Discurso do Sujeito B................................................................................................ 36
3.2.3 Discurso do Sujeito C................................................................................................ 46
3.2.4 Discurso do Sujeito D................................................................................................ 56
3.2.5 Discurso do Sujeito E................................................................................................. 63
3.2.6 Discurso do Sujeito F................................................................................................. 70
CAPÍTULO IV: ANÁLISE DOS DISCURSOS DOS ALUNOS DE 8ª SÉRIE DO
ENSINO FUNDAMENTAL............................................................................................. 75
4.1 DESCRIÇÃO IDEOGRÁFICA E NOMOTÉTICA..................................................... 75
4.2 ANÁLISE IDEOGRÁFICA DOS DISCURSOS DOS ALUNOS – AS
UNIDADES DE SIGNIFICADO....................................................................................... 77
4.2.1 Análise ideográfica do sujeito A ............................................................................... 78
4.2.2 Análise ideográfica do sujeito B................................................................................ 91
4.2.3 Análise ideográfica do sujeito C................................................................................ 105
4.2.4 Análise ideográfica do sujeito D................................................................................ 117
4.2.5 Análise ideográfica do sujeito E ............................................................................... 127
4.2.6 Análise ideográfica do sujeito F................................................................................ 140
4.3 ANÁLISE NOMOTÉTICA.......................................................................................... 146
4.3.1 Categorias iniciais...................................................................................................... 146
4.3.2 Categorias amplas ..................................................................................................... 149
4.3.3 Interpretação das categorias....................................................................................... 150
CAPÍTULO V: ALUNOS, ESCOLA E A MATEMÁTICA EM
PERSPECTIVA................................................................................................................ 156
REFERÊNCIAS................................................................................................................ 158
INTRODUÇÃO
Fundamental de uma escola pública estadual de Maringá, PR, acerca do “o que é isto, a
matemática?”, para compreendermos os motivos e/ou razões pelas quais esses alunos
pesquisa foi realizada. Os discursos dos sujeitos referentes ao tema “O que é isto, a
sujeitos, destacando as unidades de significados que emergem dos discursos, que são as
idéias que fazem sentido para o pesquisador, à luz de uma interrogação que permeia a
categorias elaboradas significativamente nos discursos dos alunos. Chegamos, então, a uma
do Ensino Fundamental.
CAPÍTULO I – A FENOMENOLOGIA COMO FONTE DE
INVESTIGAÇÃO PARA A PESQUISA EM EDUCAÇÃO:
PROCEDIMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
encontrados por nós, professores, no dia-a-dia dessa prática. Dentre os obstáculos, o que me
causava maior inquietação era o desinteresse de muitos de nossos alunos pela formação
Instigada por uma busca na compreensão deste estado de coisas, percebi que era
necessário um olhar diferenciado, não sendo suficiente, porém, apontar os “culpados” por
situação desse gênero. Portanto, tornava-se necessário tentar descobrir o que conduzia
nossos alunos a essas atitudes. Nasceu, assim, a problemática desse trabalho, com o
escola pública estadual de Maringá (Pr), acerca do “o que é isto, a matemática?” para
compreendermos os motivos e/ou razões pelas quais esses alunos apresentam essas atitudes
que o trabalho científico deve ser “pessoal, no sentido de que a temática deve ser realmente
alunos pela escola e pela aprendizagem escolar, optamos pela busca do desvelar das
das concepções que estes alunos apresentam no dia-a-dia escolar. Conforme Segurado,
Montevalar e Ponte (2005) “[...] a importância das concepções reside no fato de elas
8ª série do Ensino Fundamental, de uma Escola Pública Estadual de Maringá, recai sobre
sala de aula ou fora dela, e, além disso, dificultam o desenvolvimento das aulas.
cotidiano escolar.
na essência, na experiência tal como é vivida pelos sujeitos, os alunos, o que é vivenciado e
sentido por eles nessa relação aluno-Matemática. Esse entendimento das concepções de
matemática dos alunos de 8ª série do Ensino Fundamental pode encontrar sua razão de ser
buscando entender quais as concepções que os animam. Os discursos dos alunos, sujeitos
da pesquisa, adquirem importância fundamental na perspectiva fenomenológica. Ouvindo-
os, torna-se possível desvendar as concepções que estamos buscando acerca da matemática
Fundamental.
investigação com critérios de rigor, para garantir a exatidão das afirmações emitidas pelos
conceitos que estabelecem o que é para ser visto, como se faz em algumas teorias
positivistas (NEVES, 2002; EZZY, 2000), evitando, assim, uma concepção prévia de
generalizações envolvidas nas suas atividades lógicas, “[...] em considerar os fatos fora de
simplificam, mas sempre os deformam” (GILLES, 1975, p. 19). Para tanto, o pesquisador
deve trabalhar com alguns aspectos que se destacam em seu campo perceptual e o
na existência das coisas do mundo. É, ainda, a totalidade das percepções vividas pelo
forma cada vez mais indestrutível. “Com a colocação entre parênteses dos princípios
sobre sua vivência acerca desse fenômeno, pois a finalidade consiste em ser e permanecer
BICUDO, 1989).
Fundamental serão interpretadas pelo pesquisador à luz de uma interrogação que conduzirá
matemática escolar e a forma como eles próprios interpretam essa vivência a partir dos
relatos por eles expostos, visto que “a fenomenologia tem como foco a vivência das pessoas
do sentido que levam a uma compreensão ou aclaramento das percepções dos sentidos e
significados das palavras e sentenças do texto, às quais são expressas pelo sujeito que as
compreensão dos fenômenos pode ser entendida como uma capacidade própria do homem,
múltiplas formas em suas intenções com os semelhantes, aos quais conhece em graus
diversos de intimidades e de normas, do qual é parte ativa e do qual não pode dissociar-se.
estes que devem ser bem percorridos para que possamos efetivamente chegar à
os relatos ingênuos (MARTINS; BICUDO, 1989), ou seja, as idéias não interpretadas pelo
sujeito que vivencia o fenômeno, e que expressam, de maneira oculta, realidades múltiplas
sujeito pesquisado, sendo condição necessária para termos acesso ao nível dos dados puros,
Martins, “a descrição é um relato de alguém que sabe alguma coisa para alguém que não
sabe” (MARTINS, 1990, p. 43); o ato de descrever pressupõe, por conseguinte, uma
audiência.
Durante o relato do sujeito, o pesquisador não deve interromper; deve, apenas, dar
uma seqüência no assunto tratado, se for o caso, com questões do tipo ‘porquê?’, ‘como?’,
a fim de não influenciar os discursos dos sujeitos. Quando não é possível a descrição do
comentários sobre suas vivências, o pesquisador recorre à entrevista, sempre com cautela
Os discursos doados pelos sujeitos são lidos e relidos pelo pesquisador, que deve
voltar a esses relatos várias vezes, a fim de identificar as essências (eidos) que brotam
(BICUDO, 2000). A essência é sempre igual a si própria (MARTINS et al., 1990); sendo
(1990, p. 37). A essência (ou a estrutura) do fenômeno não é o fim da análise, mas o meio
pelo qual se pode trazer à luz o que as relações vividas apresentam de essencial.
essencial para que se aclare o que é essencial. Nessa busca da essência das coisas, o espírito
deve ser primeiramente animado por uma vontade de conhecer, de sentir essa atração para o
Ensino Fundamental.
Fundamental, a atração para esse mundo como vivido pelos sujeitos, surge de algumas
pedagógica e em relação a alguns estudos realizados por autores tais como D’Ambrósio
vivências acerca da matemática escolar. Para isso foram utilizadas entrevistas semi-
estruturadas, objetivando que os alunos pudessem expor, através de relatos orais, o que
sentiam em relação ao fenômeno em estudo. Procuramos ouvir seis sujeitos, os quais são
Maringá, PR, considerados pelos professores e equipe pedagógica da escola como “alunos-
somente seis alunos, pois a pesquisa fenomenológica, em geral, trabalha com um número
reduzido de sujeitos, buscando uma compreensão plena do ser do sujeito. Não houve
eles. Os alunos que participaram dos diálogos foram aqueles que, após o convite,
A pesquisa conduzida buscou uma interpretação dos motivos que contribuem para a
tomada de atitudes de muitos de nossos alunos, que os lançam num terreno de exclusão
visto que “[...] a indisciplina é uma das formas de violência presente atualmente nas
das escolas, como responsável pelo fracasso escolar” (REBELO, 2003, p. 15).
Os alunos que participaram desta pesquisa são estudantes dos períodos matutino e
os alunos, precisávamos a todo instante instigá-los a expor mais claramente os relatos, pois,
muitas vezes, eles não se expunham o suficiente para dar-nos subsídios para uma análise
efetiva das vivências desses alunos. Diante disso, as conversas foram norteadas por alguns
itens que consideramos relevantes para a questão inicial “O que é isto, a matemática?”, para
que pudéssemos, dessa maneira, obter dados mais claros acerca das experiências
vivenciadas pelos alunos em sala de aula. As questões norteadoras desta pesquisa,
transcritos, lidos e analisados pela pesquisadora. Essa fase de leituras e análises, de acordo
com a pesquisa fenomenológica, deve ser realizada em várias etapas, para que sejam
medida que as descrições são lidas e relidas pelo pesquisador com olhar atento, dirigido
pela interrogação inicial da pesquisa. De acordo com Martins e Bicudo (1989, p. 99), as
unidades significativas
aluno, obtivemos as análises ideográficas, que são as análises de cada sujeito, livres de
preconceitos. A partir daí, pudemos alicerçar uma compreensão mais geral, nomotética, da
pelos personagens institucionais que compõem a complexa trama da escola atual. Esta
refere a esse aspecto: “[...] não há necessidade de vagar demais para colher exemplos de
beleza matemática: elas existem em abundância no chão”. Enfatiza ainda que: “[...] ela [a
[...] elas [as figuras simples] escondem relações, cuja descoberta pode
tornar-se uma fonte de prazer para o matemático de talento bem modesto.
É o descobrimento destas relações insuspeitadas, com suas pequenas
surpresas e prazeres de realização menores, que constitui parte do fascínio
da matemática (HUNTLEY, 1985, p. 67).
Dienes (1967, p. 16), sobre a questão do valor das ‘idéias’, assevera que: “[...] o
aprendizado de idéias matemáticas pode contribuir para a realização pessoal mais do que a
prática das artes”. Ainda para o autor “[...] o principal motivo do aprendizado de
matemática ainda deve ser a emoção da descoberta, não a dúbia finalidade de conseguir
graus mais altos que algum outro aluno ou a glória de um prêmio” (DIENES, 1967, p. 21).
Em contrapartida, existe uma afirmação que tem se tornado muito comum na área de
educação e da própria ciência atualmente: “o ensino da matemática não vai bem!”. Dienes
(1967, p. 15) argumenta que “Há um número demasiado grande de crianças que não gosta
de matemática – sentimento que cresce com a idade – e muitos são os que encontram
grandes dificuldades com o que é muito simples”. O “muito simples” aqui ganha contornos
de quase “irrealidade” uma vez que sabemos que o fenômeno “escola” não pode ser
(NEVES, 2005).
A prática contingencial docente tem mostrado que boa parte das crianças não
matemática é considerada difícil e ardilosa para muitas de nossas crianças. “[...] Muitos
alunos sentem desorientação e medo diante da matemática” (COLL; SOLÉ, 2004, p. 332).
somente nos países subdesenvolvidos: “A Matemática tem sido quase sempre responsável
pelos mais baixos níveis de rendimento escolar no mundo todo” (BARRETO; NETO,
profissionais das mais diversas áreas educacionais que buscam opções para superar as
contradições e percalços que marcam o seu ensino. Muito se tem produzido a respeito da
2002), definidos para a área da Matemática. Embora dificuldades escolares não sejam de
importância “por todos os governos de todos os países e incluída, por conseguinte, como
séries do Ensino Fundamental, não tem garantido que as dificuldades dos alunos em
(PRADO, 2005).
(BRASIL, 1998).
reformas metodológicas que tornassem seu ensino mais efetivo” (PRADO, 2005).
O desenvolvimento da Educação Matemática recebeu um impulso nas últimas
décadas, dando origem a várias tendências, cada qual valorizando certas referências para o
especialmente nos últimos 10 anos, e considera que essas mudanças têm implicações
básica: “Por que se ensina matemática nas escolas com tal universalidade e intensidade?”.
E, em seguida, destaca algumas das respostas que mais tradicionalmente são apontadas na
reflexão:
lógica e raciocínio também ajudam a pensar com clareza e raciocinar melhor. Dienes (1970,
p. 23), ao tratar sobre aprendizagem para treinar a mente, postula: “Longe de treinar a
mente, treinam as crianças a serem hipócritas”. Por que, então, é dada a esta disciplina uma
Santo Agostinho, sabemos o que é a matemática, mas se nos perguntam, não sabemos mais
....
Compreender como se alicerça ou não seus fundamentos para aqueles que habitam os
Para a realização desta pesquisa, trabalhamos com seis alunos da 8ª série do Ensino
equipe pedagógica como alunos problemáticos. Ou seja, alunos que, aparentemente, não
participavam das aulas como desejado pelos professores, não realizavam as atividades
apresentam mais dificuldades (BARRETO; NETO, 2005). Para compreendermos o ser que
(lebenswelt).
Os alunos sujeitos desta pesquisa são estudantes dos períodos matutino e vespertino,
normas, dentre elas a convocação dos pais à escola para um diálogo entre pais,alunos,
equipe pedagógica e direção, nos casos em que não era possível uma solução do
“problema” somente entre a equipe pedagógica e os alunos envolvidos, problema esse que,
dificuldades no trabalho com os alunos da escola em que foi realizada a pesquisa devido às
dia-a-dia da prática escolar, estavam: divisão de trabalhos entre a equipe diretiva da escola,
professores e alunos; a falta de apoio e incentivo pela equipe pedagógica em relação aos
em que a escola está inserida, pois os pais não eram convocados nem convidados a
acompanhamento mais direto de seus filhos, com intuito de realizar um trabalho conjunto
entre a escola e a família. Em síntese, a escola percebeu que havia problemas disciplinares
e sentiu que não estavam sendo atingidos os objetivos esperados em seu trabalho. Nesse
contexto, os alunos de 8ª série que participaram desta pesquisa vivem e apresentam seus
Sexo: Masculino
Idade: 14 Anos
A - Sim, no P.
A - No outro colégio não tinha tanta bagunça. Nesse colégio tem bem mais bagunça do que
nos outros.
P - Você?
A - É.
P – Por quê?
A - Ah, sei lá, porque certos tipos de matéria eu bagunço, outras eu presto mais atenção
A - Ciências, história.
A - Não, é porque eu tenho dificuldade pra entender a matemática, eu não gosto, não me
A - No geral.
A - A única professora que nós temos que consegue fazer eu aprender matemática é a
professora S., é a única matéria mais ou menos, ela sabe explicar que eu consigo entender
um pouco. A matéria dela. Os outros professores mesmo que eu tive, eu não conseguia
entender nada.
A - A bagunça.
P - Você disse que nesse colégio tem mais bagunça que nos outros.
A - Tem, Mas é que essa professora sabe explicar melhor. E também porque as regras do
A - Desde o início do ano, apesar de que no começo do ano quando eu comecei aqui era
A - Aqui nesse colégio as aulas de matemática na sala antes das regras que inventaram
agora eram bastante bagunçadas. A professora não conseguia explicar e praticamente até
desistia no meio da aula. Ela sai porque a gente não deixa ela dar aula. E no outro colégio
A - Não. Só matemática.
P - Atividades escritas?
A - É.
P - Como você gostaria que fosse uma aula de matemática?O que você acha que precisaria
A - Bem, pra mim que não gosto de matemática não tem nem como falar, mas, sei lá.
P - Pra mudar essa opinião, como é que você gostaria que fosse?
A - Não sei. Poderia fazer não só matemática assim, outras coisas ligadas à matemática só
que, tipo diferente, né. Tipo teatro sobre a matemática, assistir filme, assim, sobre a
matemática.
A – Mau.
P - Que tipo?
A - Eu atrapalho a aula deles e eles não gostam de mim. A S. é uma que se dá mais ou
A - À bagunça, eu acho.
A - Não.
P - Em nenhuma situação?
A - Uma situação... (pausa). Certos tipos de situação assim, eu faço curso de computação,
P - E além do curso?
A - Não.
A - O ensino de matemática aqui nesse colégio é bom, é mais puxado. No outro colégio de
onde eu vim, no P. mesmo, a matemática era péssima, era ruim pra caramba, aqui nesse
colégio é bom.
P - Como você se sente quando vem ao colégio sabendo que terá aula de matemática?
A - Passa pela minha cabeça que vai ser a mesma aula de todo dia, aula chata. Eu não gosto
da aula e eu não me interesso por nada e praticamente eu não faço nada nessa aula.
A - Não.
P - Você pode relatar algum fato que tenha ocorrido em alguma aula de matemática?
A - Bom, uma vez eu fui expulso de um colégio por causa da aula de matemática.
A - A professora discutiu comigo e eu acabei falando coisas que não devia ter falado.
A - Eu estava bagunçando.Ela pediu para mim sair da sala eu falei que não ia sair.
P - O que você pensou? O que você passou a achar? Chegou a alguma conclusão?
P - Dos dois. Como você se sente quando o professor pede pra você se retirar?
A - Bom, vergonha eu vou falar que não sinto porque a sala inteira bagunça já é normal,
todo mundo, a gente não sente nada. E é ruim quando a gente é expulso do colégio porque a
gente chega em outro colégio a matéria é diferente. Aqui mesmo a matéria é totalmente
diferente do outro colégio de onde eu vim, é mais puxado. Perde um pouco a matéria e não
consegue acompanhar depois acaba reprovando. Da sala de aula é como se fosse normal
até. É todo dia quase, na boa. Todo dia alguém sai da sala.
A - Não.
P - E o que você acha do professor chegar e pedir pra você sair?
A - Eu acho certo. Quando está fazendo bagunça e ela não consegue dar aula, o certo é tirar
o aluno da sala.
P – Por que isso muitas vezes não muda o que aluno pensa?
P - Quem?
quando o aluno sair chamar o pai, porque eles nunca chamam pai aqui. Olha lá quando
ligam.
A - Eu acho.
P – Por quê?
A - Eles talvez poderiam, tipo castigo, sei lá. Eu acho que pelo menos por mim eu pensaria
...
Sexo: Masculino
Idade: 13 Anos
B - 9 anos
P - Desde que série?
B- Pré.
B - Moro.
B - É.
B - Bom. Não tenho o que reclamar, mas também não tenho o que falar que é ...(pausa)
P - O que seria um colégio normal? O que você classifica como sendo normal?
B - Ah, não sei; tipo, vamos dizer, pessoas fumando, até hoje eu não tive problemas com a
P - E o que precisaria ter para ser considerado um colégio ótimo pra você? Você acabou de
dizer que ele não é ótimo, não é? O que você acha que falta?
B - Isso.
P – Por quê?
B - Eu estou falando de outras pessoas, eu não fico falando de mim porque, assim, eu sou
bagunceiro e tal, mas não adianta o professor ver que eu estou fazendo bagunça e o
professor dizer por favor, pára. Eu não vou parar se chegar e falar assim comigo.
B - Não sei.
P - E o que você acha, então, que ele teria que fazer para você parar?
B - Não fazer...(pausa), também não fazer aquele escândalo. Aí todo mundo começa dar
risada e vai piorar. Chegar e falar com respeito, né? Chegar: O, se você vai pra fora, por
favor.(o aluno fez essa colocação com voz firme). Não chegar assim: por favor, (essa
colocação foi lenta e com muita calma), quase pegar você no colo.
B - Falta de interesse.
P - De quem?
B - Dos alunos.
P - E porque existe essa falta de interesse? Qual o motivo que leva a isso?
B - Em determinadas aulas.
B - Ciências, tipo assim, coisas que a gente fala que não vai usar na nossa vida. Por
exemplo: ciências. Por que a gente vai usar ciências na nossa vida? História. Assim, por
exemplo, a aula de matemática, português. Agora ciências com o outro professor está tudo
B - É (pausa) bom, assim. É boa. Até hoje eu tive um professor de matemática que eu não
P - E você acha que o fato de não gostar do professor atrapalha alguma coisa?
B - Sim.
B - Pô, se fala, eu vou tentar atrapalhar ele (o professor) para ele não conseguir desenvolver
P - E o que seria um motivo no professor que leve você a não gostar dele?Como você sabe
B - Talvez a primeira aula que faz, sei lá. O professor dá a primeira aula já (não concluiu a
fala).
P - Uma característica, alguma coisa que aconteça na primeira aula ou que ele tenha que
P - Chegar brigando?
B - Sim.
P - E assim, o que você acha que vocês aprendem e que é interessante de matemática?
B - De conteúdo?
P - Pode ser.
B - Ah, o que a gente está estudando agora é bom, é legal aquilo lá.
P- O que vocês estão estudando agora?
B- Teorema de Pitágoras.
B - Ah, pelo fato de ter coisa mais assim, tem que calcular a área.
B - Bom.
B - Não.
B - Sei lá, a aula de matemática na sala é muito quieta. A gente deixa ele explicar.
B - Minoria.
P - Mas se a aula é boa, você me disse que é boa, porque existe bagunça?
B - Sim.
P - E poucos participam?
B - Sim.
B - Sim.
B - Sim.
P - O que você gostaria que vocês estudassem em matemática?
B - Não sei.
B - Ah, não sei. Até agora pra mim acho que tudo foi importante em matemática.
B - Álgebra.
B- Não.
B - Matemática Básica.
P - Em que situações?
B - Ah, quando você vai fazer alguma conta, assim. Você vai comprar alguma coisa, assim,
matemática básica.
P - Certo. E o que você acha no geral dos professores de matemática? Você já comentou
alguma coisa sobre isso. Os que você conhece, às vezes alguém que não deu aula pra você,
B - Legais.
matemática, assim, todos os professores são legais, mas não em sala de aula.
B - Não.
P - O que você acha que diferencia um professor fora e dentro? Por que existe essa
diferença?
B - Porque dentro ele tem que fazer papel de professor, fora (não concluiu a fala).
B- Dar aula.
P- Se você encontrar um professor na rua, num supermercado, numa festa, ele não é
B- Na, ele continua sendo meu professor, mas eu não sei se, ele não precisa me tratar como
P - Você acha que existe alguma diferença no tratamento, assim? É necessária essa
diferença?
P - Mas por que você destacou que dentro da sala de aula ele age... (o aluno começou a
falar)
B - Porque eu acho que não pode tratar as pessoas dentro da, tipo você dentro da sala tratar
P – Por que você acha que tem que tratar de outro jeito?
P - Mas em sala de aula, por exemplo, o professor poderia tratar você como trata fora?
B - Ah, tem professor que se me tratar do jeito que me trata na sala de aula eu vou brigar
com ele.
P - Ah, é? Mas por quê? O que eles fazem com vocês em sala de aula?
B - Nossa! Por exemplo, tinha uma professora, a L., ela saiu da nossa sala, né. Ela, não
comigo, mas tinha os outros alunos que ela xingava, ela até chorou dentro da sala de aula.
P – Por quê?
B - Não.
P - Você disse antes pra mim que o conteúdo de ciências você não iria usar. E agora com o
B - Não, que esse outro professor ele sabe manter a nossa atenção.
B - É a mesma coisa.
B - Sim.
P - O que você estuda em Ciências que não, em conteúdos, o que você acha que nunca vai
usar?
B - Coisa. Agora a gente está estudando um pouco de química. Isso eu não vou usar.
P - Você tem alguma, você já pensou o que quer ser depois que terminar o Ensino Médio?
B - Química.
B - É.
P - Que área?
B - Químico.
P – E você acha que nessa área de químico você não vai usar?
B - Mas eu não vou, vamos dizer, aprender isso aqui quando chegar lá. Aprende (pausa)
isso aí vai ser, nem uma base do que eu vou aprender lá.
B - Pra mim é. Pra outras pessoas (pausa). Por exemplo, história eu não vou usar mesmo.
Mas para outras pessoas a química não vai usar. Pra minha área eu vou.
P - Você comentou alguma coisa de bagunça na sala. E comentou também que você
participa dessa bagunça. Existe alguma atitude em relação a isso que você acharia
necessário se tomar para melhorar isso? Você comentou também de os professores terem
mais pulso.
B - Não.
P - E comentou também que se alguns professores tratassem você fora da sala de aula
como tratam na sala iria dar problema, não é? E esse fato de você ser tratado assim, o que
B - Como assim?
P - Você comentou que o professor não trata bem você na sala de aula. O que você pensa
em relação a isso?
B - Ah, porque o cara (o professor), pra ele não estar me respeitando eu também não
P - Deu a entender que é você que começa porque você falou que: se ele não está
respeitando é porque eu não respeitei. Existe possibilidade de você respeitar para ser
respeitado?
B - É.
P - Está tentando fazer? E você sente alguma forma de exclusão com esse problema de
relacionamento? Você acha que isso faz com que o aluno fique taxado de alguma maneira
B - Com alguns.
B - Não.
B - Não.
B - Para os outros.
B - Não sei.
P - Mas já achou?
B - Sim.
B - Talvez eu tive coragem de discutir com o professor. Talvez eu achava isso uma virtude.
B - Não.
P - Tem algum fato que você gostaria de relatar em relação à escola, à matemática,
não gostava de mim porque eu bagunçava na sala, uma vez eu faltei na aula e ela falou que
tinha me visto matando aula. Aí ligaram para minha casa e eu que atendi de manhã. Ah, só
isso. Aí deu problema com ela e daí ela teve que sair da nossa sala.
Sexo: Masculino
Idade: 14 Anos
C - 3 anos
C - Daqui mesmo.
C - Ah, porque falaram que era uma escola muito boa e aí minha mãe resolveu colocar eu
aqui.
C - Concordo.
P - O que você acha, o que precisa pra ser uma escola boa? Por que é uma escola boa?
outras escolas.
P - Como são as avaliações aqui e como eram na outra escola? O que você vê de
diferente?
C - A primeira diferença é que a nota é...(pausa), que aqui é trimestre e nas outras era
bimestre. E a maneira de avaliação que aqui é, não é por nota: CD, SD, PD. 1
P - Por que aprende mais? Por que você acha que aprende mais?
C - Porque sei lá. Aí vai depender pra aprender depende do aluno e do professor; a
C - Interfere bastante, porque se ele vai na frente da sala, chega e explica a matéria uma vez
e várias pessoas não entenderam e pedir pra explicar de novo, ele fala que não, daí fica
difícil.
P - Tá. No sentido de depender do aluno. Como depende do aluno?O que é necessário para
C - Só cooperar, não fazer muita bagunça, respeitar o professor, respeitar quem ta na sala.
1
A escola utiliza conceitos para as avaliações, em que CD = aluno com dificuldades de aprendizagem; PD =
aluno com pouca dificuldade de aprendizagem; SD = aluno sem dificuldades de aprendizagem.
P - Por que você não presta muita atenção?
P - E essa falta de vontade você atribui a isso ou algum motivo (o aluno respondeu)
C - Por enquanto só assim, que as outras aulas eu faço as coisas. Matemática eu não faço
nada.
P - Nada?
C - Nada.
C - Eu não faço exatamente nada. Só presto mais atenção nas explicações da professora
C - Tudo CD.
C - Várias pessoas.
P - E no outro colégio que você estudou, que você falou que tinha diferença, como eram as
aulas?
C - Bom, era mais...(pausa), era difícil de entender as coisas porque era muita bagunça.
P - Na outra escola?
C - Ele dá uma aula assim, tipo hoje ele pega um conteúdo, se não entendeu repete o
assunto novamente. Se entendeu passa pra outro, explica tudo certo, assim, direitinho.
P - Assim, desde que você entrou na pré-escola ou na primeira série (o aluno respondeu)
C - Entrei na pré-escola.
P - Do que você lembra das aulas de matemática, vocês já utilizaram materiais diferentes?
C - Já.
C - Por um lado é bom porque você tem, você faz a aula prática, não só teórica. Então por
C - Não.
C - Eu tô.
C - Que ela é, tipo assim: ela não ta nem aí. Se abriu a boca ela manda pra fora da sala, ela
é assim.Não pode fazer nada. Se pede uma explicação ela tira fora da sala.
P - Como você, do que você vivencia, o que você diria sobre o ensino?
C - Como assim?
P - Quando a gente fala de escola, a gente fala de ensino. Tem alguma coisa, o que você
C - Aí depende da escola porque...(pausa), tipo, aqui eu acho que tem que melhorar alguns
professores. Que alguns são bons outros são...(pausa). E questão do aluno também. O aluno
tem que melhorar muito porque os alunos daqui fazem muita bagunça.
C - Sei lá, é...(pausa). Como eu posso falar? (pausa). Explicar melhor as matérias, assim.
P - Questão de o professor saber, você acha que tem que melhorar ou acha que o professor
C - Não. O professor sabe. Só que ele não está conseguindo colocar isso na sala. Ele não
P - Expor?
C - É.
aprendeu, quando alguém fala pra você: matemática. O que você acha disso?
C - Gostava. Era a matéria que eu sempre tirava dez. Agora eu só tiro zero.
P - E você tem assim, se você for pensar alguma coisa que motivou a isso, que deu essa
Na quinta série eu fazia tudo em matemática, era a matéria que eu sempre ia melhor. E na
P - E você sabe me dizer se foi questão de conteúdo, se foi o professor que te levou a isso?
C - Ah, foi mais os professores porque não ajudaram. Então ia acumulando a...(pausa) a
C - Ah, tudo. Se você for ver bem, hoje tudo precisa de matemática.
C - Como assim?
P - Um exemplo assim, de uma situação que você usa matemática.Que você acha que ela é
importante. Você falou que em tudo, né? Cita um exemplo. Alguma situação que você
C - Fazer uma conta, assim. Por exemplo, no mercado tem determinado tanto assim de
dinheiro e você tem que ir somando assim o que você vai gastar. Então já precisa da
matemática.
P - Certo. Além de supermercado, compras, assim no geral, existe alguma outra situação?
marcenaria, vai ser, fazer essas coisas, mexer com madeira, você precisa de
P - Frigorífico?
C - Ah, a gente vai pedindo a dica de outros colegas de trabalho e assim vai.
P - Você gosta?
C - Gosto.
C - Então, minha mãe também trabalha com isso. Ela tava pretendendo montar uma facção,
P - Quando alguém fala de matemática, assim, o que você acha?Quando você vem pra
C - Eu penso que aquele dia vai ser um dia eu não vou aproveitar muita coisa. Não vai ser o
C - Meio difícil. Às vezes só quando começa a bagunçar na sala, daí eu não faço nada,
forma, por isso, por esses motivos, você é excluído de alguma maneira?
C - Ah, nas aulas de matemática a professora deixa a gente mais de canto, não só eu, tem
C - Também.
P - Também? O que mais, por exemplo? O que mais pode interferir para esse professor
C - O professor não fala nada, vai pedir explicação pra ele, ele simplesmente vira a cara e
vai explicar pra outro. Aí a gente fica até com raiva e começa a brigar. Daí, brigar com o
C - Ele vai, a professora vai dando atividade e explicando. Ela faz uma conta, faz e depois
explica.
C - Já, já. Tipo assim, a gente num...(pausa). Mais bagunça, no meu caso eu bagunço nas
aulas de matemática. Então você vai perguntar pra ela, ela te ignora, ela continua a
C - Essa situação só depende de mim. É só eu estudar, ter mais vontade nas aulas de
matemática.
C - Eu acho que sim. Quer dizer, se ele num, se ele visse que eu mudei, quem sabe ele
poderia mudar.
C - No momento sim.
P - Com relação à escola, orientação. Você acha que existe exclusão por parte do
P - E com relação aos seus colegas de sala, em relação à bagunça, você sente alguma
Sexo: Masculino
Idade: 14 Anos
P - Eu queria que você falasse primeiro há quanto tempo você estuda aqui no Colégio.
D - De matemática, só?
P - Não, necessariamente. Pode falar no geral ou especificar também de matemática.
D - Ah, tem algumas aulas que são mais legal. A de química é um pouquinho melhor, mas
as de matemática eu não acho muito legal porque às vezes você vai falar alguma coisa a
professora já grita. Ou se você ta prestando atenção, daí você fala alguma coisa com o
colega aqui do lado aí você pergunta pra ela outra coisa, ela fala que você tava conversando
e não explica.
D - Não. A maioria das professoras, sempre foi uma, né, agora que a gente entrou depois da
P - E essa questão que você acabou de colocar de não explicar, de achar que vocês estão
bagunçando, de estar conversando com alguém, é agora mais específico da oitava série?
D - É.
P - E o que seria um professor legal? Você disse que algumas aulas são mais legais. O que
é legal?
D - Ah, o professor não grita muito, não bota você pra baixo, ou tira nota sua. E também
explicam mais, num vai dando matéria assim, sem explicar muito.
D - Ah, é que ...(pausa). Eles fizeram um negócio assim, que como a nossa sala conversa
bastante, se a gente tiver conversando muito, manda pra uma salinha que tem uma mulher.
Aí fica fazendo exercício que a professora manda. Daí o nome dessa pessoa é anotado. Daí
D- Sim.
P - Você comentou que existe bagunça na sala. É... por que existe essa bagunça?
D - Ah, por causa das aulas, mesmo, da aula de matemática que a gente não gosta muito.
Por causa da professora. E a aula de português também não é muito boa. Depois que mudou
D - É.
D - Ah, a professora era meio brava, mas ela era legal e todo mundo ficava quieto, prestava
D - Ah,...(pausa) o professor que explica bastante, não fica anotando seu nome, ligando pra
mãe, assim, quando você fica falando alguma coisinha ou também não ficar enchendo,
assim, você; se você não faz alguma coisa dá tarefa extra pra você, ou esquece uma tarefa.
D - Ah, matemática a professora num, num, brigasse muito assim que nem ela faz, ela
chama muito a atenção. Aí tem uma aula que ela pega e fala que não tem mais recuperação,
então ela já vai ligar pra mãe. Tinha que ser mais calma ela. Não ficar brigando assim. Ela
podia chamar a atenção, assim, mas não já ir direto assim e ligar pra mãe.
assim. Falar normal. Que a maioria das vezes ela pega e fala que a gente entrou na fila da
chatice.
P - Você acha que a professora atualmente chama a atenção de uma forma que deixa o
D - Ãhã.
P - E seu relacionamento com os professores em geral, como é? Você comentou que existe
uma bagunça. Você faz parte desse grupo dessa bagunça ou não?
D - Ah, eu to assim, um pouco no meio, assim. Mas no meio da aula eu não entro. Agora
D - Sim, ãhã.
D - Ah, não é muito...(pausa), assim, bom assim que nem com outros lá que ficam bem
quietinhos pra dar aula, então é mais ou menos. Mas tem alguns que, a de matemática, não,
acho que ela não gosta muito. Ela, assim, com a maioria da sala ela num...(pausa) fala com
a gente.
D - Acho que é por causa da conversa, assim; ou porque às vezes um tá conversando daí ela
D - A matéria de matemática?
D - Ajuda.
D - Ah, até em jogos de computador, assim. Ela ajuda em jogos de estratégia, assim, pra
você calcular o tanto de linha que você tem, pra você comprar comida pro povo do jogo
P - E quando você vem pra escola sabendo que vai ter aula de matemática, o que você
pensa?
D - Sim.
P - Você comentou que estava no grupo da bagunça. Você acha que existe alguma forma
D - Ah, um pouco.
ali que tá na bagunça. Aí você pede uma explicação ela já recusa, fala que a gente tava
conversando, fala que não vai explicar, e se a gente quiser vai procurar no livro, ela não vai
mais explicar.
D - Ah, prejudicado. Tudo bem que a gente conversa, mas ela podia chamar a atenção,
trocar a gente de lugar quando ta conversando pra tentar melhorar isso, não deixar a gente
sem aprender.
D - Ãhã.
D - É.
P - E você como aluno, poderia estar fazendo alguma coisa pra mudar?
D - É mais fácil a gente parar de conversar, mas também ela pode mudar. Se ela vê que a
P - E com relação aos seus colegas de sala, você sente alguma exclusão por causa dessa
questão?
D - Não.
D - Sim.
P - Ela não chegou a falar isso pra alguém, vocês percebem pelo jeito dela?
D - É, dá a impressão.
D - Ah, ...(pausa), é uma das matérias mais importantes, assim. De todas ali é uma das mais
importantes, e que é difícil, mas, se você prestar atenção você...(pausa). Só que assim, não é
muita gente que se interessa por ela. A maioria das pessoas acham que a ...Mas é...Ruim de
aprender, então, que ela é uma disciplina importante pra vida futura, ela e mais outras.
P - Outras disciplinas?
D - Ãhã.
P - Você disse que veio pra essa escola na terceira série. Por que você veio pra cá?Você
D - Porque o meu irmão já estudava aqui e meu pai e minha mãe achava ela boa. Todo
P - Você acha que essa escola é boa como todo mundo diz?
D - É...(pausa). Até a sexta série, assim eu achava ela boa, não que agora eu não to achando
mais, agora tem umas matérias que eu acho que não ta muito legal.
acaba aprendendo alguma coisa ainda senão...(pausa). Tem algumas outras aí que, que o
aluno bagunça, ta bagunçando e não aprende nada, nada mesmo, né. Uma boa é quando o
aluno dá uma bagunçada, mas ele ainda vai aprendendo, pelo menos alguma coisa, 50% da
matéria.
P - Tem algum fato que já ocorreu na escola que você conhece ou vivenciou que você
gostaria de relatar?
Sexo: Masculino
Idade: 14 Anos
P - Então, R.., a gente vai começar pelo seguinte: há quanto tempo você está nessa escola?
E - Uns três anos. Agora em agosto vai fazer três anos. Comecei na quinta série.
E - Porque minha mãe achou essa escola melhor que tem aqui perto de casa. Porque eu
moro aqui perto do colégio. Aí ela achou o melhor colégio que tem aqui na redondeza.
P - E você acha que é o melhor colégio? Você concorda que é o melhor colégio?
E - Porque além da segurança aqui no colégio também tem, bastante segurança no colégio,
aqui tudo garantido, faculdade, ah, sei lá. O vestibular da Universidade é um dos mais
valorizados, é isso.
E - As aulas? Ah, tem algumas aulas que é meio complicada, que sei lá. A professora
chega, já, nem fala ah, oi R., oi turma. Chega assim: Oi turma, abre o livro na página sei lá
quanto, e façam assim as questões 1,2,3,10, e...(pausa), e é isso. E depois acaba a aula e a
professora vai embora. A gente não tem um, sei lá, um contato com a professora, não se
E - As aulas de matemática eu gosto, a professora explica direito, só que sei lá, a professora
precisa de... (pausa), sei lá, se focar direito no aluno, né. Porque ela explica, aí o aluno não
ouviu, né, aí o aluno vai perguntar de novo e ela: “ah, não, você não prestou atenção, então
você vai ter que se virar”. Aí eu acho isso errado. Pra mim isso...(pausa) se você não ouviu
é porque...(pausa). Tem uma bagunça gigante na minha sala assim, né. Aí às vezes você
não escuta, “você não prestou atenção em mim, você não ouviu eu falando, agora você se
vira”.
P - Você faz parte dessa bagunça?Você fica fazendo bagunça ou você só está próximo?
P-E com essa melhora que você disse que está ocorrendo, continua acontecendo isso de
E - É.
P - Então você acha que quando ela falava que não ia explicar de novo era porque você
E - Isso.
P - Você acha que mesmo bagunçando o professor tem que voltar, explicar?
P - Como você gostaria que fossem as aulas?O que você gostaria que tivesse para que
fossem mais produtivas? Não, primeiro por que você acha que existe tanta bagunça na
sala? Você comentou que é uma bagunça grande na sala. Por que você acha que existe
essa bagunça?
E - Ah, porque o aluno não quer nada com a vida, não presta atenção no professor, porque
sei lá, ele fala que...(pausa). Tem aluno lá que bagunça o dia inteiro, não faz nada e quando
vai ver no boletim tem as notas dele tudo ok e não faz nada. Tem outros não. Tem outros
que tem, que faz a bagunça depois vê lá tudo errado. Depois faz de novo, depois ta tudo
P - Você comentou comigo que já fez parte desse grupo da bagunça. Não faz mais, ta
melhor, fazem tudo o que eu quero e eu não dou, não presto atenção no colégio, que é tudo
E - Eu mesmo. Sentei, parei e aí pensei, e aí veio na minha cabeça que eles não pedem pra
mim trabalhar, não pedem pra mim cuidar dos meus irmãos, servir de babá, nada. Eles só
pede pra mim estudar, eu só faço estudar na minha vida, e mesmo assim não fazer direito,
P - E sobre as aulas, o que você gostaria que tivesse, o que você acha que seria importante
para se tornarem mais interessantes? Como você gostaria que fossem as aulas na escola?
E - Era bom se tivesse mais contato com a gente. Chegasse: “oi turma”, sei lá. “Como foi
sua, seu dia?”, aí “vamos fazer juntos né, o exercício, vamos explicar junto, aí vocês fazem
os exercícios”. Aí depois ter alguma coisa diferente, sei lá, “vamos, vamos fazer, exercícios
lá fora, vamos”, sei lá, uma sala diferente, vamos no museu, não sei.
E - Agora tá melhorando. Eu comecei parar de, me juntar com a, com a turminha que
E - Acho que tá bom assim. Tem coisas que eu converso com meus colegas de outros
colégios, né, aí eu converso e eles “ah, esse negócio é chato” e não sei o que, e eu falo: “ah,
não, isso aí a gente já estudou, a gente ta nisso, tal, nesse negócio aqui, é legal”.
E - Eu acho que me ajuda quando eu sento com a minha mãe, assim e a gente vai fazer
contas de supermercado, ou conta de banco. A gente faz as contas assim e tal, vários tipos
P - Existe alguma outra situação que você pode usar assim, além dessas?
E - Eu acho que tem, assim. Toda hora usa matemática, né! Eu posso não ta lembrando tipo
assim, eu to chegando, assim, quantas pessoas tem no, coisa. Eu vejo de manhã, aí depois
eu chego á tarde, tem outro tanto de pessoa. Aí eu vou somando, aí eu divido pelas pessoas
P - E quando você vem pra escola sabendo que tem aula de matemática, o que você
minha, tranqüilo. Antigamente eu falava um monte: “Ah, a aula de matemÁtica pra que eu
vou precisar isso, eu não preciso de matemática, do que ela ensina pra mim. Eu não vou
E - É um suplemento.
P - Como assim?
P - Você comentou que já fez parte do grupo da bagunça. Isso fazia com que você se
era o tal; era o cara, fazendo bagunça, lá, tal; tinha respeito, não sei o que. Aí eu vi que isso
E - Sei lá, dos alunos, assim. Sei lá, oh, o R. é um cara legal, ele é um cara gente boa
porque bagunça com nós, tal. Aí eu comecei a não pensar nos meus alunos. Meus alunos,
não, nos meus câmaras. Comecei pensar mais em mim porque eu que to me prejudicando
fazendo isso. Eles não, eles não vão me dar nada, não vão me dar futuro, aí eu comecei...
E - Eu acho que eles me olhavam de um jeito diferente. Se você, se você trata bem uma
pessoa, ela vai te tratar bem. Se você trata mal, ela olha de um jeito diferente. Ela não
precisa te tratar mal, mas bem também ela não vai tratar.
P - Agora o que eu gostaria de saber é se essa bagunça que você disse que existe na sala é
possível melhorar? Você já disse que deixou de fazer. Existe uma possibilidade de a turma
melhorar?
E - Acho que sim, né. É só eles acordar pra vida. Mas é muito difícil.
P - Depende de quem?
E - Depende do, sei lá, do...(pausa). Acho que depende, sei lá, dá uma advertência, chamar
os alunos, chamar os pais, sei lá, conversar. Porque eles falaram que iam fazer um negócio,
ia ter uma advertência. Na segunda uma advertência, na terceira uma advertência e iam
chamar os pais, se não melhorasse ia ser submetido a, iam convidar a mudar de colégio. Aí
teve aluno que teve uma advertência, teve outra, teve outra, já teve sete advertência, oito
(risos), e continua a mesma coisa. E hoje eu chego dentro da sala ta a mesma coisa, tacando
papelzinho.
P - Tem algum acontecimento que tenha ocorrido na escola que você gostaria de relatar?
E - Ah, um dia eu tava jogando bola lá com uns camara, ali, ano passado ou retrasado, não
sei, acho que ano passado. Aí tava jogando bola aí uns colega nosso chegou, ele era grande,
né, ele tinha, tava no terceiro, segundo, não sei. Aí entrou pra jogar bola com a gente, tal,
tava jogando, aí chegou uns cara, rodeou a, o campinho ali, parou eles e falou assim: “Ah,
aí rapaz, você tava me tirando, tinha falado um negócio de mim, aí”, e cobrou um negócio,
chegou, tirou um soco inglês da, do bolso assim, e deu um soco no cara lá, e, aí saiu, aí...
E - Era.
P - Em horário de aula?
E - Sim. No recreio.
E - Era da escola.
E - Não. Ninguém nem ficou sabendo. Nem a direção ficou sabendo. Ficou só entre a gente.
Sexo: Feminino
Idade: 13 Anos
P - Há quanto tempo você estuda aqui nesse colégio?
F - Desde o pré.
F - Porque meus pais sempre falam que esse colégio é bom, eu moro aqui perto também, e é
fácil vir.
F - Concordo.
P - E o que tem, assim, que faz com que o colégio seja bom?
F - Os professores, o jeito que eles explicam, apesar de a gente ser bagunceiro, né (risos).
F - Sim.
F - Ah, (pausa).
F - É porque eu tenho intimidade, acaba tendo intimidade com a sala, você vai
conversando, vai se envolvendo na conversa dos outros, você escuta, aí você vai no meio.
P - Gosta de conversar?
F - É bom, né (risos).
F - É que às vezes um assunto que o professor acaba falando, acaba...(pausa), gerando outro
F - Ah, você enjoa de estudar (risos). Não é tão legal, não. Você sabe que é pro seu futuro,
F - É difícil, mas...(pausa). Pode até ser, mas tem que pensar muito.
P - Do que você conhece, você tem alguma sugestão pra estar melhorando essas aulas?
F - (pausa). É difícil. Tentar a gente tenta, mas só que...(pausa). A gente pensa uma coisa,
F - Ah, depende (risos). Tem uns professores que são legais, assim, que a gente acaba tendo
mais afinidade, mas agora tem outro que...(pausa), são mais...(pausa), mais secos, assim, na
F - Professor legal? É, ah, que entende você, assim, sabe. Na hora que você precisa ele vai
F - Bom, assim em tudo. Mas depende mais dos alunos, né, pra se tornar melhor, assim.
F - Com certeza.
P - Em que situações ou de que forma?
F - Ah, eu acho que na maioria das formas, né. Em tudo você precisa matemática,
praticamente.
P - Exemplos.
F - Deixa eu ver (risos). Quando você vai ver horário, é uma situação também. Vai
fazer...(pausa), por exemplo: você é cozinheira. Quando você precisa de uma quantidade, a
F - Matemática? Ah, é um monte de números (risos) e contas. Ah, eu não sei explicar certo,
P - Quando você vem pra escola sabendo que vai ter aula de matemática, o que você pensa?
P - O que tem na matemática que você acha que ela é “um saquinho?”.
F - É que são tantas coisas, né, pra ficar ouvindo. Ah, é a matéria, mesmo.
F - É, ahã.
P - Você sente alguma forma de exclusão em relação ao professor, aos alunos ou à equipe
F - Com os professores. Porque assim, quando a gente tenta, daí, estudar mesmo, que a
gente senta e fala: “não, eu vou ter que estudar, hoje”, o professor acaba meio, assim: “ah,
você ta ali, então hoje eu não vou te explicar”. É mais ou menos assim.
P - Então você sente alguma coisa aí?
F - Ahã.
F - Aí se você acaba prestando muita atenção na aula, aí eles começa falar: “nossa, você
não tava aí falando com a gente, você prefere estudar, né”. Fica meio chato aí também. De
P - Você acaba participando da conversa por causa dessa opinião dos colegas?
F - Não.
F - Matemática?
P - É.
F-Meio ruinzinho.
F - É porque eu não presto muita atenção na aula, né. Daí vem a prova e eu não sei nada,
realmente.
F - Não, isso mudou. Acho que desde o ano passado que eu comecei a piorar um pouco.
P - E tem alguma coisa a que você atribui essa mudança de comportamento, seu
desenvolvimento?
F - Como assim?
P - O que fez com que você, que disse que vinha bem até aí, aí mudou. O que fez você
mudar?
F - A conversa.
F - Não. Eu participava, assim, só que eu preferia mais estudar. Eu ficava num canto mais
entre os CDF’s que eles falavam, né. Agora daí eu fui pro grupo.
colocado diante dos olhos para investigação. Para Martins (1990, p. 36):
Os fenômenos sempre estão em uma situação que lhes permite que se mostrem
fenômeno (DARTIGUES, 1973, p. 28). A análise das descrições, nesta pesquisa, é uma
individual por meio das descrições. Esses fenômenos podem ser agrupados por
pesquisador deve ter cuidados especiais ao ler as descrições para buscar as convergências
da análise nomotética.
individual para o geral da manifestação do fenômeno, sendo essa estrutura psicológica geral
alunos, destacando-se as ideologias expressas por eles nos discursos transcritos, sendo
dado a elas; caso contrário, não poderão ser consideradas unidades de significados e o
pesquisador deve fazer uma nova análise do relato. Essas unidades de significado existem
em relação a uma disposição do pesquisador, e não estão prontas no texto. Somente são
descrições: No primeiro momento, o pesquisador faz uma leitura geral, sem enfatizar
nenhuma unidade ou atributo, para chegar a um sentido geral do que está descrito.
psicologia etc., tentando focalizar o fenômeno que está sendo pesquisado. Após esse
significado contido nelas, o encontro intersubjetivo, “um mundo estranho a mim, existente
para cada um, acessível a cada um” (VALENTINI, 1984, p. 43). Finalmente, o pesquisador
(BELLO, 2004).
SIGNIFICADO
Fragmento 5: [bagunça nas A6. “Bagunça” nas aulas de O fato de não gostar da
aulas de ciência e história?] matemática porque não gosta matemática, gera
Não; eu gosto, presto de matemática. indisciplina. Existe uma
atenção. Matemática mesmo insatisfação diante do ensino
eu bagunço, eu não gosto. A7. Gosta de ciências e tal como se apresenta. O
história e, portanto, não aluno parece exigir aqui um
“bagunça” nessas aulas. repensar dos conteúdos a
serem ensinados.
Os conteúdos não estão
sendo utilizados, e
conseqüentemente, não
existe interesse por parte dos
alunos em prende-los. Essa
falta de interesse pode estar
sendo gerada pela própria
escola, que não satisfaz o
interesse da criança,
oferecendo-lhes coisas que
não lhe interessam.
Fragmento 9: Tem [mais A14. Mesmo com Nota-se uma divergência nas
bagunça nesse colégio que “bagunça”, pode ocorrer idéias do aluno. A
nos outros]. Mas é que essa entendimento, se o professorindisciplina impede o
professora sabe explicar souber explicar bem. entendimento, atrapalha, mas
melhor. E também porque as mesmo assim, se a professora
regras do colégio agora A15. As regras e normas do souber explicar, o
mudaram. colégio auxiliam na entendimento pode ocorrer.
organização e aprendizagem. Para que isso aconteça, deve
haver organização na sala de
aula, pois o aluno refere-se à
mudança de regras que houve
no colégio há poucos dias.
Subentende-se também, que,
nos outros colégios nenhum
professor sabia explicar a
matéria.
Fragmento 11: Aqui nesse A17. As aulas eram Existe aqui uma indisciplina,
colégio as aulas de “bagunçadas”. que tornam as aulas
matemática na sala antes das “bagunçadas”, impedem a
regras que inventaram agora, A18. A professora não professora de explicar,
eram bastante bagunçadas. A conseguia explicar. fazendo com que ela desista
professora não conseguia de dar aula, porque os alunos
explicar e praticamente até A19. A professora até não deixam. Isso não
desistia no meio da aula. Ela desistia de dar aulas no meio acontece somente neste
sai porque a gente não deixa da aula. colégio, pois no outro
ela dar aula. E no outro também ocorria esse fato,
colégio era a mesma coisa. A20. Os alunos não deixam a mesmo não tendo no colégio
professora dar aula. anterior tanta indisciplina
como neste colégio em que o
A21. No outro colégio era a aluno está agora.
mesma coisa, também existia
“bagunça”.
Fragmento 12: Não A22. Nas aulas de A aula de matemática é vista
[fazemos atividades matemática, é feito só unicamente como contas,
diferenciadas]. Só matemática. trabalhos e atividades
matemática. escritas.
Bem [é] conta, trabalho sobre A23. Matemática é conta, Atividades diferenciadas não
matemática. trabalho sobre matemática. são consideradas matemática,
[...] É [atividades escritas]. assim como nas aulas de
matemática, não se propõem
atividades diferenciadas.
Fragmento 13: Bem, pra A24. Matemática não poderia Existe a necessidade de uma
mim que não gosto de ser só contas. mudança no ensino da
matemática não tem nem matemática, para que esta
como falar [como seria uma A25. Poderia se fazer coisas não seja somente conteúdos
boa aula de matemática], diferentes ligadas à formalizados, contas e
mas, sei lá. matemática, como teatro, atividades escritas.
Não sei [como gostaria que filmes, sobre a matemática.
fosse a aula]. Poderia fazer
não só matemática, assim, A26. Atividades
outras coisas ligadas à diferenciadas não acontecem
matemática só que, tipo na matemática ou nas aulas
diferente, né. Tipo teatro de matemática.
sobre a matemática, assistir
filme assim sobre a
matemática.
Não [isso acontece], sobre
matemática, não.
Fragmento 18: Não [saberia A38. O aluno não sabe dizer A matemática não tem
dizer o que é matemática]. o que pensa sobre significado para o aluno, e
matemática. esta é uma das causa do
desinteresse dos alunos.
Fragmento 19: Uma vez eu A39. Expulsão do colégio O fato da expulsão corrobora
fui expulso de um colégio por causa da aula de na insatisfação com a
por causa da aula de matemática. matemática. A matemática
matemática. foi a causa da expulsão.
Fragmento 20: A professora A40. A professora discutiu Inicialmente é a professora a
discutiu comigo e eu acabei com o aluno. causadora do
falando coisas que não devia desentendimento entre o
ter falado. A41. O aluno falou coisas aluno e a professora. Ela é
[...] Eu estava bagunçando. que não deveria ter falado. quem discutiu e com isso o
Ela pediu para mim sair da aluno teve uma atitude que
sala eu falei que não ia sair. A42. Estava “bagunçando”. não deveria ter. Isso
contribuiu para a expulsão.
A43. Deveria ter se retirado O aluno deveria ter
da sala quando a professora obedecido a professora
solicitou, mas se recusou a quando ela solicitou. O não
atender a “ordem” da cumprimento da ordem da
professora. professora significa dizer
coisas que não deveria,
desafiar o professor. O aluno
se recusou a sair da sala de
aula, o que gerou uma
discussão e culminou com a
expulsão dele do colégio. A
indisciplina não foi
apresentada inicialmente
como a causa da expulsão, e
sim, o fato de a professora ter
discutido com ele. Só depois
de uma interrogação sobre o
motivo da expulsão, é que o
mesmo foi exposto.
Fragmento 21: Por causa de A44. O aluno se sentiu Com a expulsão, o aluno se
ser expulso do colégio me péssimo com a expulsão, o sentiu péssimo e com isso
senti péssimo. que deve ter sido gerado após passou a repensar um pouco
[...] Depois que aconteceu uma reflexão da situação. na hora de “bagunçar”, mas
isso eu manerei um pouco na ainda há vestígios claros de
bagunça. Eu parei um pouco. A45. Maneirou um pouco na que a punição não resolveu o
Se o professor pedir pra sair, “bagunça”. problema. A punição serviu
eu saio. apenas para que o aluno
A46. Obedece ao professor, obedecesse ao professor
atendendo seu pedido, pois quando lhe solicita algo. Não
sabe que se desafiá-lo, pode existe uma obediência no
ter problemas. sentido de não ser
indisciplinado.
Fragmento 22: Bom, [sinto] A47. Não sente vergonha Ser expulso do colégio ou da
vergonha [de ter sido quando o professor solicita sala de aula é normal, porque
expulso] eu vou falar que não para que se retire da sala todo mundo sai. Percebe-se
sinto porque a sala inteira durante a aula, porque é aqui, a influência dos iguais,
bagunça, já é normal, todo normal, todo mundo sai. mas neste caso, uma
mundo, a gente não sente influência de forma negativa
nada. E é ruim quando a A48. Ser expulso do colégio quanto ao comportamento
gente é expulso do colégio é péssimo porque a matéria é em sala de aula. A
porque a gente chega em diferente de um colégio para insatisfação parece ser
outro colégio a matéria é outro e isso pode culminar generalizada. Isso pode
diferente. Aqui mesmo a com a reprovação. causar problemas mais sérios
matéria é totalmente como a reprovação ou não
diferente do outro colégio de A49. A matéria é totalmente causar absolutamente nada,
onde eu vim, é mais puxado. diferente entre os colégios. nem uma reflexão sobre as
Perde um pouco a matéria e atitudes. As matérias entre as
não consegue acompanhar, A50. Numa escola a matéria escolas são totalmente
depois acaba reprovando. Da é mais puxada que no outro. diferentes, o que impede um
sala de aula é como se fosse bom desempenho nas aulas
normal, até. É todo dia A51. Todo dia alguém tem quando ocorre a troca de
quase, na boa. Todo dia que sair da sala de aula, a colégios devido à expulsão.
alguém sai da sala. pedido do professor, pela
Já. Uma vez [eu saí daqui] ‘bagunça’.
Não [isso de sair da sala não
muda nada]. A52. O aluno já saiu neste
colégio, apesar de ter sido
expulso de outro e ter
maneirado na “bagunça”.
Fragmento 23: Eu acho A54. O aluno considera uma A opressão parece ser o
certo [quando o professor atitude certa do professor melhor caminho para a
pede para sair]. Quando está quando este pedir para que se solução dos problemas na
fazendo bagunça e ela não retire da sala. concepção do aluno, que não
consegue dar aula, o certo é vê a possibilidade de resolver
tirar o aluno da sala. a situação com um diálogo,
entendimento, discussão para
resolução dos problemas
encontrados.
Fragmento 24: [a expulsão A55. Falta de rigor nas O aluno vê a punição como
não muda nada]. Porque atitudes da escola. uma possível solução dos
tinham [os professores] que problemas em sala de aula, e
ser mais rigorosos. A56. O colégio, a direção, os mesmo assim, diverge ao
Em geral. O colégio, a professores precisam saber o relatar que mesmo saindo da
direção, os professores. Se que querem, precisam fazer sala os problemas não são
eles fizessem alguma coisa, alguma coisa. resolvidos. Solicita a tomada
tipo quando o aluno sair de atitudes rigorosas da
chamar o pai, porque eles A57. Precisam chamar os escola e o envolvimento da
nunca chamam pai aqui. pais. família no ambiente escolar,
Olha lá quando ligam. [...] como uma possível solução
Eu acho [que deveriam A58. Nunca chamam os pais; de alguns problemas e
chamar os pais]. raramente ligam. destaca a falha na falta de
envolvimento da família.
A59. O aluno acha Solicita que lhe sejam dados
necessário uma postura e o limites.
envolvimento da família no
ambiente escolar.
Fragmento 25: Eles [os pais] A60. O castigo imposto pela Existe uma desorganização
talvez poderiam, tipo castigo, família pode ser a solução no sistema educacional num
sei lá. Eu acho que pelo dos problemas. âmbito geral. Ninguém
menos por mim eu pensaria parece estar sabendo como
duas vezes antes de fazer de A61. O aluno pensaria duas agir, que atitudes tomar. O
novo. vezes antes de “bagunçar”. aluno solicita claramente a
presença dos pais na escola.
A família é importante,
mesmo que seja para punir.
A indisciplina pode estar
sendo um meio de chamar a
atenção dos pais e da equipe
pedagógica da escola para a
existência do aluno enquanto
ser humano, que precisa de
cuidados e atenção. A família
tem importância fundamental
na vida escolar dos alunos. A
escola trabalha isolada e os
pais nem estão sabendo o que
está ocorrendo com os filhos
naquele ambiente. Destaca-se
aqui a consciência do aluno
acerca de uma educação
integrada e além dos muros
da escola.
Percebe-se aqui a
necessidade de limites que os
próprios alunos estão
percebendo e solicitando. A
escola não está atendendo a
essas necessidades, está
desorganizada,
desestruturada e a família
está distante, sem saber o que
está ocorrendo. A
indisciplina pode estar sendo
uma solução encontrada
pelos alunos para que os pais
percebam os filhos enquanto
sujeitos pensantes.
QUADRO 1 – Análise Ideográfica do Sujeito A
PERFIL IDEOGRÁFICO DO SUJEITO A
pela sociedade. Há uma busca por um ensino de qualidade por parte dos pais dos alunos.
Embora considerado um bom colégio, o aluno alerta que a indisciplina na atual escola é
existente, pois não gosta de algumas disciplinas. Parece que está insatisfeito. Nas
disciplinas que gosta, é por causa do professor; daí costuma prestar atenção. A indisciplina
gerada por ele e seus colegas é considerada normal, porque ninguém impõe limites. Afirma
que não gosta da matéria porque não a compreende, tampouco se interessa pela mesma.
aprendizagem. Isto pode estar ocorrendo porque a escola oferece aos alunos coisas que não
considera que é a professora que o faz aprender, pois ela sabe explicar, e ele, agora,
compreende. Percebemos aqui, que o professor é o único responsável pelo entendimento ou
entendimento se o professor souber explicar. Para que haja esse entendimento, além do
professor saber explicar, é necessário haver organização na sala de aula. Ele destaca, aqui,
algumas regras que foram impostas devido à indisciplina que existia na sala de aula. Outra
divergência existente no relato do aluno, é que no início deste ano, mesmo com outra
Antes de serem propostas as novas regras na sala de aula pela equipe pedagógica e
sendo bagunçadas, destacando que a professora não conseguia explicar, desistia de dar
apenas matemática, ou seja, conta e trabalho sobre matemática. Para o aluno, matemática
não deveria ser somente contas. E frisa que seria interessante fazer coisas diferentes, como
teatro ou filmes, mas que essas atividades diferenciadas não acontecem nas aulas.
aluno alega que isso ocorre porque ele atrapalha as aulas deles, ou seja, só se dá bem com
os professores se não for indisciplinado nas aulas. Verificamos que o aluno não faz parte da
Para o sujeito A, a matemática não ajuda no dia-a-dia, mas acha que ela pode ser
como bom.
aula de matemática desencadeia alguns problemas, tais como aula chata, desgosto,
desinteresse e leva o aluno a não fazer nada na aula. Diante desse quadro, percebemos que a
matemática não tem significado para o aluno, pois este não sabe expor o que pensa sobre a
matemática.
Um fato marcante para o aluno foi a expulsão que ocorreu num colégio.
ele se retirasse da sala. Ele desobedeceu e discutiu, e este fato culminou com a expulsão.
Esse acontecimento causou uma insatisfação diante do ensino, e fez com que ele refletisse
sobre a questão, embora essa punição não tenha resolvido o problema da indisciplina.
para eles, porque muitos são convidados pelos professores a se retirarem. A insatisfação
apresenta diante do ensino, o aluno considera a punição como uma possível solução dos
família no ambiente escolar, mesmo que seja para uma punição pelas atitudes consideradas
incorretas pela escola. Parece que a indisciplina é um aviso de que existe um problema que
não está sendo solucionado, nem pela escola, nem pelos professores, e nem pela família.
Com isso, os alunos estão se sentindo “abandonados à própria sorte”, e solicitando uma
quanto familiar.
4.2.2 Análise Ideográfica do Sujeito B
Fragmento 3: Ah, não sei [o B5. Um colégio normal O fato de o colégio ser bom
que seria um colégio significa não ter pessoas está relacionado com a
normal]; tipo, vamos dizer, fumando, o aluno não ter segurança, umas das grandes
pessoas fumando, até hoje eu problemas com a diretora. preocupações da sociedade
não tive problemas com a atual. Não ter pessoas
diretora, sei lá. Pra mim é fumando é um fato positivo,
normal. portanto, colabora para a
conceituação do colégio. Até
o momento não se destaca
um ensino de qualidade
como fator importante nessa
conceituação.
Fragmento 4: Talvez [falta] B6. Para que o colégio seja Os professores são fatores
mais responsabilidade dos ótimo, os professores devem que influenciam no conceito
professores [para ser um ter mais responsabilidade, no do colégio. Professores com
colégio ótimo] . Eu acho, sentido de terem mais pulso objetivos e atitudes definidas
pelo menos. com os alunos. auxiliam no bom
[...] mais pulso com a gente. funcionamento do colégio.
Conseqüentemente, a falta de
critérios desclassifica o
colégio ou o ensino. Não se
considera, ainda, o fator
qualidade do ensino.
Fragmento 8: [Falta B12. Assuntos que não serão Os alunos não se interessam
interesse porque] Ciências, utilizados na vida são por conteúdos que não serão
tipo assim, coisas que a gente assuntos desinteressantes utilizados na vida. Questiona
fala que não vai usar na para os alunos. a utilização das disciplinas
nossa vida. Por exemplo: escolares, dentre elas
ciências. Por que a gente vai B13. Para que se vai usar ciências, matemática,
usar ciências na nossa vida? ciências, história, história, português.
História. Assim, por matemática, português (?).
exemplo, a aula de
matemática, português
Fragmento 11: Talvez a B17. A primeira aula que o A primeira aula pode ser
primeira aula que faz, sei lá professor faz pode determinante para o bom
[para saber se gosta do determinar o futuro relacionamento
professor]. O professor dá a relacionamento aluno/professor ou não.
primeira aula já... (não aluno/professor. Desde o princípio, o aluno
concluiu a fala). está analisando o professor
para conhecê-lo. O aluno
destaca que o professor “faz”
a aula. Ele recebe
conhecimentos prontos, e só
o que precisa fazer é
assimilá-lo, ou seja, é um
sujeito passivo na sala de
aula. Isto parece indicar que
o aluno está fora da aula, ou
seja, não participa no
desenvolvimento da aula,
nem na construção do
conhecimento que pode
ocorrer na sala de aula.
Fragmento 13: [como são as B19. As aulas de matemática O aluno considera que as
aulas de matemática?] são boas. aulas de matemática são
Bom. boas.
Fragmento 14: Não [não B20. O aluno não participa As aulas de matemática são
participa das aulas, porque] das aulas de matemática, só quietas porque os alunos
Sei lá, a aula de matemática ouve o que o professor “deixam” o professor
na sala é muito quieta. A explica. explicar a matéria. Poucos
gente deixa ele explicar. participam fazendo
[existe participação] de B21. Os alunos “deixam” o colocações ou perguntas,
alguns lá da frente. professor explicar. geralmente os alunos que
[...] Minoria [participa]. sentam-se nas primeiras
B22. Existe mais posições em sala, que são a
participação somente de minoria. O professor
alguns alunos da frente, a consegue dar aulas se os
minoria. alunos “deixarem”.
Novamente descreve-se a
aula como sendo do
professor.
Fragmento 17: Algumas B26. Algumas coisas que se Dos conteúdos estudados,
coisas, não [não utiliza na estuda em matemática não se alguns não são utilizados na
vida]. utiliza na vida, dentre elas a vida, dentre elas a álgebra.
[...] Álgebra [não utiliza]. álgebra.
Fragmento 20: Ah, até hoje B30. Até hoje todos os O aluno afirmou que todos os
todos [foram legais], menos professores foram legais, professores de matemática
aquela professora... (pausa) somente uma delas não foi. são “legais”, porém não em
todos os professores de sala de aula. Ele destaca uma
matemática, assim, todos os B31. Os professores são professora que não foi
professores são legais, mas legais, mas não em sala de “legal”.
não em sala de aula. aula.
Fragmento 21: [diferença B32. Dentro da sala o Para o aluno, existe uma
dentro e fora da sala] professor tem que fazer papel diferença no professor
Porque dentro ele tem que de professor. quando está dentro ou fora da
fazer papel de professor, sala de aula. Dentro da sala,
fora... (não concluiu a fala). B33. O papel do professor é ele deve fazer o papel de
[...] Dar aula [papel do dar aula. professor que é dar aula. A
professor]. aula é vista aqui como uma
situação separada da
realidade e que só pode
ocorrer dentro da sala de
aula. Parece que não pode
haver aprendizagem fora da
sala. Talvez a aula seja vista
como uma aula tradicional,
visão esta que pode estar
relacionada com a formação
dos pais, que influenciam nas
concepções dos alunos.
Ainda sobre a aula, ela é
“dada”, não parece haver
aqui a concepção de
conhecimentos construídos
com participação dos alunos
e professor, e sim, algo
“dado”, de forma acabada, ou
seja, o conteúdo pelo
conteúdo. O sujeito tem
atitude passiva nesse
processo.
Fragmento 22: [fora da B34. O professor na rua, no O professor em outros
sala] ele continua sendo meu supermercado, numa festa ambientes fora da escola,
professor, mas eu não sei se, continua sendo professor, continua sendo professor,
ele não precisa me tratar mas não precisa tratar o mas o aluno não deseja ser
como ele me trata na sala de aluno da mesma forma como tratado da mesma forma
aula e eu não trato ele assim. na sala de aula. como o é em sala de aula. O
Não, da minha parte, não aluno não o trata de forma
[necessário diferença no B35. Da parte do aluno, não diferente, embora deixa
tratamento dentro/fora da existe diferença no transparecer que o professor
sala]. tratamento dele em relação tem essa atitude. A vida e a
ao professor fora da sala de escola são vistas como dois
aula. mundos separados,
diferentes.
Fragmento 24: Ah, tem B37. O aluno vai brigar com O aluno se dispõe a brigar
professor que se me tratar determinados professores se com o professor caso trate-o
[fora] do jeito que me trata tratarem fora da sala de aula fora de sala da mesma
na sala de aula eu vou brigar como se estivessem em sala. maneira como o trata dentro
com ele. da sala de aula.
Fragmento 25: [a professora B38. A professora chorou na Numa determinada aula, a
chorou em sala] sala de aula porque os alunos professora (de ciências)
Porque a gente fez bagunça. “bagunçaram”. chorou em sala de aula
[porquê?] Porque não estava devido à indisciplina na sala,
interessante [a aula]. B39. Os alunos e isto ocorria porque o
“bagunçaram” porque a aula assunto não estava
não estava interessante. interessante.
Fragmento 26: [pretende B40. O aluno pretende fazer O aluno faz uma distinção
fazer] Química. faculdade de Química. muito clara entre a escola e a
Não, eu sei [se vai usar vida, a faculdade e a vida, o
química] Eu digo na minha B41. O aluno acha que não trabalho e a vida. Além
vida, não pra minha vai usar os conteúdos na disso, separa também a
faculdade. vida, só na faculdade. escola (Ensino Fundamental
Eu sei, dentro da faculdade e Médio) da faculdade. É
[não vai usar]. B42. O aluno terá um como se fossem duas coisas
É [terá um trabalho]. trabalho na área de química. distintas. Existe aí uma
Químico. ruptura no Ensino, na
Mas eu não vou, vamos B43. O aluno não vai concepção do aluno. Deixa
dizer, aprender isso aqui aprender esse conteúdo do claro que o que vai aprender
quando chegar lá. Aprende ensino fundamental e médio e usar na escola, na faculdade
(pausa) isso aí vai ser, nem quando chegar lá na e no trabalho, não usará na
uma base do que eu vou faculdade. vida, pois considera as coisas
aprender lá. de forma separadas.
Não [nem uma base]. Nem B44. O que aprende até o Acrescenta, também, que o
um terço. ensino médio não vai ser que aprende na escola não
nem uma base do que vai será nem uma base para o
aprender na faculdade. que vai precisar e aprender
na faculdade. Demonstra,
B45. Esses conteúdos não aqui, que espera muito da
serão nem um terço do que faculdade que pretende fazer.
vai aprender. Ou seja, o que aprende na
vida não serve, ou serve
muito pouco na escola e
vice-versa.
Fragmento 27: Pra mim é B46. Química é importante O aluno faz uma comparação
[necessário]. Pra outras pra mim, mas não para outras entre as disciplinas que vai
pessoas...(pausa). Por pessoas. “utilizar”. A Química servirá
exemplo, história eu não vou para ele que pretende cursar
usar mesmo. Mas para outras química, mas não para outros
pessoas a química não vai B47. História eu não vou que seguirão outras áreas. A
usar. Pra minha área eu vou. usar(!). mesma comparação realiza
com a história. E subentende-
se que o mesmo deve
acontecer com outras
disciplinas, dentre elas a
matemática.
Fragmento 28: Ah, é muito B48. O aluno acha ruim O aluno destaca a
ruim [o professor não tratar quando o professor não o importância do bom
bem na sala de aula]. trata bem em sala de aula. relacionamento
[...] porque o cara (o professor/aluno, destacando
professor), pra ele não estar B49. O aluno tem que é ruim quando o
me respeitando eu também consciência que se o professor não o trata bem em
não respeitei ele. Ah, professor não está sala de aula. E considera que
então...( não concluiu a fala). respeitando, é porque ele (o se o professor age dessa
aluno) não respeitou. forma, é porque o próprio
aluno agiu assim, ou seja, “o
professor não respeita porque
eu não respeitei”. O aluno
assume aqui a
responsabilidade pelo
tratamento dispensado pelo
professor, sente-se
responsável pela atitude do
professor em relação a ele
próprio, ou seja, vê o
professor como dono da
razão, embora isso nem
sempre leve a uma
obediência por parte do
aluno.
Fragmento 29: Acho que B50. O mau relacionamento Não existe exclusão por parte
sim [sente exclusão]. pode causar um desconforto dos colegas pelo mau
Com alguns [professores]. em relação a alguns relacionamento/tratamento
[...] Não [com os colegas]. professores, mas em relação entre aluno/professor, existe
aos colegas isso não apenas entre o aluno e alguns
acontece. professores.
Fragmento 30: Não [tem B51. O mau relacionamento No fragmento anterior o
problema com os colegas]. com o professor não significa aluno destaca que o mau
Pra eles isso é legal. problema para o aluno. relacionamento com o
Para os outros [colegas]. professor pode causar um
desconforto diante de alguns
B52. Para os colegas, é legal professores, mas acredita que
quando alguém tem atritos isso não tem problema. Para
com o professor. os colegas, afirma que
realmente não tem
problemas, destacando,
inclusive, que para estes, essa
atitude é “legal”, ou seja,
pode ser considerada normal,
ou até desejável.
Fragmento 31: Não sei B53. O aluno não sabe Não sabe explicar porque
[porque os colegas porque os colegas esse fato é “legal” diante dos
consideram legal]. consideram legal o mau colegas. Em outros
Você considera isso legal relacionamento com o momentos, o próprio aluno já
quando acontece com professor. considerou isso “legal”, o
alguém? que não está mais ocorrendo
Eu não acho mais legal. B54. O aluno não acha atualmente.
Mas já achou? muito legal quando acontece
Sim. com os outros. Já achou legal
essa situação.
Fragmento 32: Mas o que B55. A coragem de discutir O aluno considera que
levava você a achar legal? com o professor pode ser discutir com o professor pode
Talvez eu tive coragem de uma virtude para o aluno. ser uma virtude para
discutir com o professor. determinados alunos. Essa
Talvez eu achava isso uma B56. Atualmente, o aluno idéia não é a que prevalece
virtude. Mas... (não concluiu não discute mais com o atualmente, pois o aluno
a fala). professor. destaca que não discute mais
Hoje não faz mais? com o professor.
Não.
Fragmento 33: Tem algum B57. O aluno não gostava de O aluno não gostava de uma
fato que você gostaria de uma professora. professora e tem certeza que
relatar em relação à escola, ela também não gostava dele,
à matemática, alguma coisa B58. O aluno tem certeza que pois diz que era
que já ocorreu? a professora não gostava dele indisciplinado nas aulas. A
Só uma professora que eu porque ele ‘bagunçava’ na professora teve uma atitude
não gostava dela. Assim, ela sala de aula. equivocada ao acusar o aluno
também eu tenho certeza que de estar “matando” aula, e foi
não gostava de mim porque infeliz ao constatarem o
eu bagunçava na sala, uma B59. A professora acusou o equívoco, o que resultou
vez eu faltei na aula e ela aluno de ter “matado” aula. numa necessidade de
falou que tinha me visto abandono da turma.
matando aula. Aí ligaram B60. Deu problema com a
para minha casa e eu que professora e ela teve que
atendi de manhã. Ah, só isso. deixar a turma.
Aí deu problema com ela e
daí ela teve que sair da nossa
sala.
de Maringá-Pr. Parece que há uma busca por um ensino de qualidade pelos pais dos alunos.
Ao mesmo tempo em que o sujeito B diz não poder reclamar do colégio, ele não o
considera ótimo. Considera-o, apenas, normal. Normal, porque não tem pessoas fumando e
ele não tem problemas com a diretora. Para que seja ótimo, o sujeito B crê que os
professores precisam ter mais “pulso” com os alunos. Parece-lhe que não há na sua escola
uma organização na sua escola muito clara. Os professores, segundo o aluno, têm grande
Para o sujeito B, há bagunça na sala de aula, que não é resolvida pelos professores
por falta de rigor em suas atitudes. O docente, segundo sua visão, deve exigir a disciplina,
mas com moderação e convicção, e não deve fazer isso apenas tentando agradar o aluno.
Na verdade, o sujeito B indica a necessidade de o professor impor limites aos seus alunos.
na situação da sala de aula, que pode ser resolvida ou dificultada, de acordo com a conduta
do docente. A bagunça reflete a falta de interesse dos alunos quanto aos conteúdos
trabalhados. São, segundo ele, assuntos que não são utilizados na vida, e, portanto, são
matemática, história e português. Na matemática, ele pontua que alguns conteúdos não são
utilizados, dentre eles a álgebra. Já a matemática básica é utilizada no dia-a-dia, pela vida
inteira, para fazer contas, ou nas compras. O sujeito B descreve que em uma das aulas nessa
turma, uma professora chorou em sala de aula porque os alunos estavam indisciplinados.
As aulas de matemática são consideradas boas pelo sujeito B, embora ele só ouça o que o
professor explica, como a maioria dos outros alunos da turma. Poucos deles participam das
aulas. Os alunos “deixam” o professor explicar. O aluno não sabe dizer o que poderia ser
importante estudar em matemática e acha que tudo o que já estudou foi importante.
Entre os professores de matemática, o aluno B alega que apenas um não foi legal.
Ao mesmo tempo, comenta que os professores são legais, mas não em sala de aula. O aluno
percebe a sala de aula como um ambiente à parte, separado da vida, e afirma que dentro da
sala o professor deve fazer o papel de professor, que é dar aula. Parece que a aula só pode
ocorrer na sala de aula, e que situações fora da escola e da sala na são consideradas
ambientes de aprendizagem. Em outros locais, fora da sala, o professor continua sendo
visto como professor, mas não deve agir como tal, ou seja, não precisa tratar o aluno da
mesma forma como na sala de aula. Assinala, ainda, que pode até brigar com determinados
do professor uma postura diferente daquela da sala de aula, e acha ruim quando o professor
não o trata bem em sala. Em contrapartida, aponta que da parte dele não existe diferença no
que não ocorre em relação aos colegas de sala. Outra contradição surge quando o aluno
afirma que o mau relacionamento aluno/professor não significa problema para ele.
Esse mau relacionamento é considerado legal por alguns colegas, mas o aluno não
sabe porque, embora ele próprio já tenha considerado legal essa situação de atrito com o
professor. O aluno tem certeza, também, que se bagunçar não se dará bem com o professor,
ou seja, o bom relacionamento professor/aluno só pode existir se o aluno não bagunçar nas
aulas.
Existe uma distinção, ainda, por parte do aluno, em relação à faculdade e à vida, ao
trabalho e à vida, e a escolaridade até o ensino médio e a vida. Ele relata que alguns
conteúdos (de química) não serão utilizados em sua vida, somente na faculdade. Os
conteúdos do ensino fundamental e médio não serão úteis na faculdade, ou seja, não
percebe a seqüência na sua formação (que deveria existir), desvinculando essa etapa de sua
Fragmento 7: Ah, eu não C11. O aluno não presta Devido à falta de vontade do
presto muita atenção. muita atenção devido à falta aluno, ele não presta muita
[...] Pela...(pausa), falta de de vontade. atenção nas aulas.
vontade.
Fragmento 11: Bom, [no C20. No outro colégio era A indisciplina não existe só
outro colégio] era mais, era difícil de entender os neste colégio onde foi
difícil de entender as coisas conteúdos porque tinha muita realizado o estudo. No outro
porque era muita bagunça. “bagunça”. colégio em que o aluno
estudava também havia
dificuldades no entendimento
da matéria porque existia
muita indisciplina.
Fragmento 13: [Para ser C22. Para que o professor O aluno demonstra uma
bom professor é necessário seja bom, ele deve retornar preocupação com o
que] Ele dá uma aula assim, ao conteúdo já estudado aprendizado do conteúdo,
tipo hoje ele pega um quando os alunos não considerando necessário que
conteúdo, se não entendeu entenderem. o professor volte ao conteúdo
repete o assunto novamente. quando o aluno não
Se entendeu passa pra outro, entendeu.
explica tudo certo, assim,
direitinho.
Fragmento 15: Ah, [são C24. Já utilizaram objetos Nas aulas de matemática já
utilizados] objetos tipo, geométricos, formas foram utilizados alguns
objetos geométricos, formas geométricas nas aulas de materiais geométricos, tais
geométricas. matemática. como objetos geométricos e
formas geométricas.
Fragmento 16: Por um lado C25. Utilizar materiais A utilização de materiais
é bom [material diferentes é bom porque o diferentes torna a aula prática
diversificado] porque você aluno faz aula prática, não só e isso contribui para um
tem, você faz a aula prática, aula teórica. Com isso aprendizado mais eficiente e
não só teórica. Então por um aprende melhor e mais de forma mais rápida.
lado aprende melhor, aprende rápido.
mais rápido assim que a
teórica.
Fragmento 21: [Pra C30. Para melhorar o ensino, Para melhorar o ensino é
melhorar o ensino] depende tem que mudar alguns necessário que haja uma
da escola porque...(pausa), professores porque alguns mudança de alguns
tipo, aqui eu acho que tem são bons. professores, embora os
que melhorar alguns alunos também precisem
professores. Que alguns são C31. O aluno na escola tem melhorar porque são
bons outros são...(pausa). E que mudar para melhorar o responsáveis pela
questão do aluno também. O ensino porque os alunos do indisciplina que existe no
aluno tem que melhorar colégio fazem muita colégio.
muito porque os alunos daqui “bagunça”.
fazem muita bagunça.
Fragmento 23: [Os C33. Para melhorar o ensino, Além dos alunos, os
professores tem que] explicar os professores devem mudar professores devem explicar
melhor as matérias, assim. no sentido de explicar melhor melhor o conteúdo e auxiliá-
Ajudar mais o aluno. a matéria e ajudar mais o los mais nas aulas para que o
aluno. ensino seja mais eficiente.
Fragmento 25: Pra, na C36. Em matemática, O aluno não sabe dizer o que
verdade...(pausa), dificilmente o aluno faz significa a matemática para
matemática pra mim alguma coisa. ele, pois diz que dificilmente
é...(pausa), dificilmente eu faz alguma coisa durante as
faço alguma coisa. Então, eu C37. Não soube dizer o que aulas dessa disciplina.
não...(o aluno não concluiu a acha da matemática.
fala).
Fragmento 28: Ah, foi mais C48. O desgosto pela O professor é considerado
os professores porque não matemática se deu pelo fato culpado pelo fracasso escolar
ajudaram. Então ia de os professores não terem do aluno, pois ele destaca
acumulando a...(pausa) a ajudado. que o professor não
matéria assim. Ele não explicava direito os
explicava direito então ia C49. Foi acumulando conteúdos na sexta série, e
desanimando. conteúdo sem ter sido isso contribuiu com um
aprendido pelos alunos. desânimo do aluno em
relação à matemática; houve
C50. O professor não um acúmulo de conteúdos
explicava direito, o que não aprendidos e isso
contribuiu para um desânimo dificultou a aprendizagem de
em relação aos estudos. outros conteúdos. Destaca-se
a visão de uma matemática
sequencial, que necessita de
pré-requisitos para a
aprendizagem de novos
conteúdos.
Fragmento 29: [A C51. A matemática ajuda A matemática é vista como
matemática] Ajuda, ajuda muito no dia-a-dia, porque uma ferramenta utilitarista,
muito. tudo precisa de matemática. pois, de acordo com o aluno,
[...] Ah, tudo. Se você for ver em tudo precisamos de
bem, hoje tudo precisa de matemática.
matemática.
Fragmento 30: Fazer uma C52. Utiliza matemática para A matemática pode ser
conta, assim. Por exemplo, fazer conta no mercado para utilizada para se fazer contas
no mercado tem determinado saber se o dinheiro que tem de mercado.
tanto assim de dinheiro e será suficiente para a
você tem que ir somando compra.
assim o que você vai gastar.
Então já precisa da
matemática.
Fragmento 33: [quando sabe C58. Quando tem aula de A aula de matemática não é
que terá aula de matemática] matemática, é um dia em que aproveitada para nada. O dia
Eu penso que aquele dia vai o aluno não vai aproveitar desta aula é considerado um
ser um dia eu não vou muita coisa. dia sem aproveitamento.
aproveitar muita coisa. Não
vai ser o aproveitamento
inteiro de toda aula, de todas
as aulas.
Fragmento 34: Não faço a C59. Não faz a mínima idéia Matemática não tem
mínima idéia [do que é a do que seja matemática. significado para o aluno.
matemática].
Fragmento 39: Não. Dessa C67. O aluno não sente O aluno não se percebe
parte eu não tenho o que exclusão por parte da excluído por parte da equipe
reclamar. coordenação e equipe pedagógica do colégio, nem
[...] Não. De sala não. pedagógica, nem por parte por parte dos colegas de sala
dos colegas de sala. de aula.
QUADRO 3 – Análise Ideográfica do Sujeito C
um ensino de qualidade. O aluno C considera o colégio bom porque diz que o aprendizado
avaliações são trimestrais, não são utilizadas notas pelo desempenho escolar, apenas
conceitos, o que, segundo o aluno, facilita o aprendizado. O aluno C relata que a
aprendizagem depende do interesse do aluno, que deve cooperar, ser disciplinado, respeitar
O aluno C relata que não presta muita atenção nas aulas de matemática pela falta de
vontade; alega, ainda, que não gosta de matemática, portanto, não faz absolutamente nada
nas aulas. Esse desinteresse, segundo ele, acontece somente nas aulas de matemática. Como
conseqüência dessa atitude, obtém o conceito CD nas avaliações escolares, que significa
aluno tem consciência de que pode reprovar na disciplina, e afirma, portanto, que precisa se
esforçar.
O aluno C afirma que no outro colégio onde estudava a aprendizagem era dificultada
pela indisciplina na sala, apesar de os professores serem considerados bons pelo aluno. Para
que seja considerado bom, na concepção do aluno C, o professor deve explicar o conteúdo,
repetindo o assunto quando houver dificuldades e só depois passar para outro assunto.
durante as aulas de matemática, mas que já utilizou objetos geométricos em outras séries.
Ele considera que atividades desse tipo são boas porque as aulas se tornam práticas e, com
isso, se pode aprender melhor e mais rápido. Essas atividades com materiais diversificados
com a maioria deles, mas que a turma não se relaciona muito bem com uma professora. O
aluno C relata que a professora manda os alunos para fora da sala de aula por motivos
que os alunos também precisam mudar, pois são indisciplinados e devem colaborar mais
com os professores. Ele acrescenta que os professores têm conhecimento dos conteúdos,
mas não estão conseguindo expor isso em sala de aula devido à indisciplina.
O aluno C não sabe definir o significado de matemática, pois dificilmente faz alguma
coisa nessa disciplina. Ele assinala que em outros momentos ele gostava de matemática,
sempre tinha bons resultados nas avaliações, e que isso vem mudando desde a passagem da
quinta para a sexta série do Ensino Fundamental, e ultimamente “só tira zero”. Essa
professor não explicava direito e isso causou desânimo ao aluno. Parece, aqui, que o
ter aula de matemática, o aluno considera que será um dia em que ele não aproveitará muita
coisa.
Quanto à utilidade da matemática no dia-a-dia, o aluno comenta que ela ajuda muito,
pois tudo depende da matemática. Quando instigado a exemplificar uma situação, ele
profissões, como na marcenaria. Acrescenta que algumas coisas que não aprendeu na escola
fazem falta em seu trabalho, mas esse problema é resolvido facilmente, pois solicita auxílio
dos colegas de trabalho. Nessa perspectiva, o aluno parece dispensar a função da escola,
pois pode aprender em seu cotidiano, com outras pessoas, o que é necessário para
O aluno C relata que existe exclusão por parte dos professores, haja vista que não
dispensam muita atenção aos alunos indisciplinados, o que contribui para gerar mais
indisciplina em sala de aula. Pode haver mudança na conduta do professor com relação ao
aluno. Para o aluno C, essa mudança só depende dele mesmo, e conseguirá isso se estudar
Quanto à equipe pedagógica e aos colegas de sala, o aluno não se sente excluído
devido à bagunça.
Fragmento 2: [Professor D4. Professor legal é quando Para que o professor seja
legal é] Ah, o professor não não grita muito, não bota o considerado legal, ele não
grita muito, não bota você aluno pra baixo ou tira nota. deve gritar muito com o
pra baixo, ou tira nota sua. E aluno (chamar-lhe a atenção),
também explicam mais, num D5. Professor legal é aquele não colocar o aluno “pra
vai dando matéria assim, sem que explica bastante. baixo” e explicar a matéria
explicar muito. sempre que este solicitar.
Fragmento 9: [gostaria que D17. O aluno gostaria que a Ao mesmo tempo que o
nas aulas] de matemática a professora de matemática aluno não quer punição,
professora num, num, não brigasse muito; ela aceita a mesma quando diz
brigasse muito assim que chama muito a atenção. que pode chamar a atenção,
nem ela faz, ela chama muito sem ligar para a mãe. Ou
a atenção. Aí tem uma aula D18. A professora de seja, solicita limites, mas não
que ela pega e fala que não matemática deveria ser mais aceita exageros.
tem mais recuperação, então calma.
ela já vai ligar pra mãe.
Tinha que ser mais calma D19. A professora deveria
ela. Não ficar brigando chamar a atenção, mas não ir
assim. Ela podia chamar a direto e ligar pra mãe.
atenção, assim, mas não já ir
direto assim e ligar pra mãe.
Fragmento 11: Ah, eu to D23. O aluno está um pouco O aluno diz que à vezes
assim, um pouco no meio, no meio da “bagunça”. contribui com a indisciplina,
assim [da bagunça]. Mas no principalmente quando já
meio da aula eu não entro. D24. Quando está sabendo sabe a matéria que está sendo
Agora quando eu to sabendo bastante da matéria, o aluno dada pelo professor.
bastante assim da matéria eu “bagunça” um pouco.
do uma bagunçada.
Fragmento 12: Sim, ãhã D25. Quando não sabe a O aluno destaca que quando
[bagunça quando sabe a matéria, procura parar um não sabe a matéria, procura
matéria. Quando não sabe] pouco a “bagunça” e prestar prestar atenção, e quando
Ah, eu procuro parar um atenção. sabe, conseqüentemente,
pouco, assim, prestar contribui para a indisciplina,
atenção. conversando e atrapalhando a
aula.
Fragmento 17: [quando sabe D32. Aula de matemática Pensar na aula de matemática
que vai ter aula de causa certo desânimo porque causa no aluno um certo
matemática] Ah, dá um certo a matemática é difícil e por desânimo, pois a matemática
desânimo. causa da professora. é difícil e a professora pode
Ah, porque a matemática é não estar contribuindo de
muito difícil e por causa da forma positiva para o
professora também. interesse pela disciplina.
Sim [Existe influência do
professor na aula e no
relacionamento].
Fragmento 20: Ãhã [o luar D37. O lugar em que o aluno O aluno considera que a
em que permanece na sala de se posiciona na sala de aula posição em que ele está na
aula influencia no influencia na ‘bagunça’. sala de aula influencia no
comportamento]. comportamento,
É [o professor tem que fazer D38. O professor tem que provavelmente pelos colegas
alguma coisa pra mudar trocar o aluno de lugar. que ficam próximos, e
isso]. considera que a professora
Acho que [como aluno D39. O aluno acha que pode deveria tomar alguma atitude
poderia fazer alguma coisa] parar de conversar, de fazer para mudar a situação que
também, parar um pouco, “bagunça” para mudar a contribui para a indisciplina.
parar de conversar, fazer situação. Concorda que o aluno pode
bagunça. mudar a situação parando de
É mais fácil a gente parar de D40. A professora também conversar e atrapalhar a aula,
conversar, mas também ela pode mudar a postura. mas acha que se isso não
[a professora] pode mudar. acontecer, a professora deve
Se ela vê que a gente não ta mudá-los de lugar.
parando, então é melhor ela Novamente o aluno exige
mudar a gente de lugar. “punição” por seus atos,
imposição de limites pela
professora, embora critique
as atitudes da mesma,
dizendo que fica “enchendo”.
Fragmento 21: Não. [Não D41. O aluno não sente O aluno não se sente
sente exclusão em relação exclusão por parte dos excluído por parte dos
aos colegas de sala]. colegas. colegas de sala devido à
indisciplina.
Fragmento 22: Ah, é, a D42. O aluno não sente Inicialmente, o aluno diz que
coordenadora, ela não [não exclusão por parte das não se sente excluído por
sente exclusão] Ela, quando coordenadoras. parte da coordenadora, mas
ela entra assim, ela já olha relata que percebe um olhar
pra alguns alunos, ela já olha D43. Quando a coordenadora diferenciado quando ela entra
de um jeito assim, que é mais entra na sala, ela olha de na sala de aula, de forma que
bagunceiro, assim. maneira diferente para alguns eles percebem que o olhar é
[...] Ah, o jeito que ela olha, alunos que são mais para aqueles que são mais
assim dá pra ver. “bagunceiros”. indisciplinados, embora ela
[...] É, dá a impressão. nunca tenha falado isso. Eles
D44. O olhar da têm a impressão de que isso
coordenadora faz com que os ocorre.
alunos percebam que estão
fazendo “coisa errada”.
Fragmento 24: [Veio para D51. O aluno mudou-se para O aluno mudou para essa
essa escola] Porque o meu o colégio citado porque o escola porque tinha um irmão
irmão já estudava aqui e meu irmão estudava aqui. que estudava na escola, os
pai e minha mãe achava ela pais achavam uma escola boa
boa. Todo mundo fala bem D52. O pai e a mãe e todo mundo fala bem dela.
dela. Aí minha mãe me consideram um colégio bom.
colocou aqui.
D53. A sociedade considera
um colégio bom.
Fragmento 25: É...(pausa). D54. Até a sexta série o O aluno considerava a escola
Até a sexta série, assim eu aluno considerava a escola boa até o período em que
achava ela boa, não que boa. estudava na sexta série. Tem
agora eu não to achando algumas matérias que não
mais, agora tem umas D55. Algumas matérias não são muito legais e isso
matérias que eu acho que não são consideradas “legais” contribuiu para que o aluno
ta muito legal. pelo aluno. tenha mudado em parte sua
opinião.
Fragmento 26: [Escola boa] D56. Uma escola é boa A escola é considerada boa
Ah, uma que mesmo que quando o aluno aprende quando o aluno aprende
mesmo que o aluno bagunce, alguma coisa, pelo menos alguma coisa, pelo menos
que é conversador, ele 50% da matéria, mesmo que 50% da matéria, mesmo que
aprenda, acaba aprendendo seja um aluno que ‘bagunce’. atrapalhe as aulas.
alguma coisa ainda
senão...(pausa). Tem
algumas outras aí que, que o
aluno bagunça, ta
bagunçando e não aprende
nada, nada mesmo, né. Uma
boa é quando o aluno dá uma
bagunçada, mas ele ainda vai
aprendendo, pelo menos
alguma coisa, 50% da
matéria.
O aluno D iniciou seus estudos no colégio em que foi realizada a pesquisa porque os
pais, assim como a comunidade, consideravam que era uma escola boa. O aluno afirma que
até a sexta série também concordava com essa opinião, mas atualmente isso tem mudado,
pois alega que tem algumas disciplinas que não acha “muito legal”. Parece que o conceito
da escola, na opinião desse aluno, tem a ver com a maneira como são desenvolvidas as
aulas. Para ele, a escola é boa quando existe a aprendizagem do aluno, mesmo que este seja
indisciplinado. Conforme o aluno D, é necessário que o aluno aprenda pelo menos 50% da
matéria. Subentende-se, aqui, que atualmente o aluno não está atingindo nem 50% da
aprendizagem. O aluno D considera que algumas aulas são “legais”, mas as de matemática,
não, pois, segundo ele, quando o aluno faz alguma pergunta, o professor já grita; e, além
disso, se o aluno estiver atento e falar com o colega, ela não auxilia porque diz que o aluno
estava conversando. Ele define como professor “legal” quando “não grita muito, não bota
você pra baixo, ou tira nota sua”. E, ainda, quando explica bem os conteúdos.
O aluno D atribui sua indisciplina ao fato de não gostar das aulas e dos professores.
O professor que tem autoridade faz com que os alunos participem da aula e até gostem da
exige demais do aluno, e, de acordo com o aluno D, quando o professor “não fica
enchendo”.
O aluno D salienta que o professor pode até chamar sua atenção, mas de forma
moderada, de modo a não deixá-lo sem graça diante dos colegas. Ademais, o professor
deveria ser mais calmo. O aluno D pontua que quando sabe o conteúdo, aproveita para
conversar com os colegas, o que contribui com a indisciplina; mas quando não sabe, ouve e
tenta entender. Com isso, seu relacionamento com os professores não é muito bom como o
relacionamento dos alunos que não são indisciplinados. Ele denuncia que o professor de
matemática não gosta muito dele e dos alunos indisciplinados. E, muitas vezes, o professor
ele assinala que o ensino está bom, mas que os professores de matemática e história
em jogos de estratégia, contribui para o futuro, para a vida profissional, para uma vida boa.
E, mesmo assim, alega que sente desânimo nos dias em que terá aula de matemática, por
considerar que esta é uma disciplina muito difícil e também por causa da professora.
percebida por ele nos momentos em que o professor se recusa a dar alguma explicação,
alegando que o mesmo estava conversando e deve, então, procurar entender pelos livros.
Com isso, o aluno sente-se prejudicado, pois acredita que o professor deveria buscar outras
formas de resolver o problema da indisciplina, mas não deixar os alunos sem aprenderem.
de o aluno D considerar que os próprios alunos podem contribuir com isso, trocando de
lugar na sala de aula e deixando de conversar. O aluno D comenta que não sente exclusão
por parte da coordenação, mas percebe um olhar diferenciado da coordenadora em relação
aos alunos indisciplinados nos momentos em que ela entra em sala de aula. Com relação à
matemática, o aluno acredita que essa disciplina seja uma das mais importantes, mas que é
difícil e muitos não se interessam por ela porque consideram que é ruim aprender
matemática. E continua afirmando que ela é muito importante para a vida futura.
Fragmento 3: Porque além E4. No colégio tem bastante Um fator importante para o
da segurança aqui no segurança e o ensino é conceito da escola é a
colégio também tem, muito bom. segurança que a mesma oferece
bastante segurança no aos alunos, além de um ensino
colégio, o ensino é muito bom. Destaca-se aqui a
bom. Acho que é isso. preocupação da sociedade atual
com a segurança.
Fragmento 5: Ah, tem E7. Algumas aulas são Falta um relacionamento mais
algumas aulas que é meio consideradas meio pessoal entre professor/aluno. A
complicada, que sei lá. A complicadas, pois os alunos professora não “se importa”
professora chega, já, nem não têm contato com a com os alunos, como estão;
fala ah, oi R., oi turma. professora. apenas diz “oi”, passa
Chega assim: Oi turma, abre atividades e depois vai embora.
o livro na página sei lá Parece que o professor dá a
quanto, e façam assim as E8. A professora chega e já aula. Não se percebe interação
questões 1,2,3,10, dá atividades, não conversa. professor/aluno durante o
e...(pausa), e é isso. E processo de aprendizagem.
depois acaba a aula e a E9. A professora dá a aula e
professora vai embora. A vai embora.
gente não tem um, sei lá,
um contato com a
professora, não se relaciona
direito com a professora.
Fragmento 6: As aulas de E10. O aluno gosta das O aluno gosta das aulas de
matemática eu gosto, a aulas de matemática. matemática, mas acha que a
professora explica direito, professora precisa se focar mais
só que sei lá, a professora E10. A professora precisa no aluno, atendendo-lhe quando
precisa de... (pausa), sei lá, focar sua atenção no aluno. não ouvir ou não entender a
se focar direito no aluno, né. explicação, devido à
Porque ela explica, aí o E11. O aluno acha que indisciplina existente na sala de
aluno não ouviu, né, aí o quando não entendeu o aula. Acha errado quando a
aluno vai perguntar de novo conteúdo, a professora deve professora nega explicação
e ela: “ah, não, você não explicar novamente. devido à indisciplina dos
prestou atenção, então você alunos.
vai ter que se virar”. Aí eu E12. Tem uma bagunça
acho isso errado. Pra mim gigante na sala de aula.
isso...(pausa) se você não
ouviu é porque...(pausa).
Tem uma bagunça gigante
na minha sala assim, né. Aí
às vezes você não escuta,
“você não prestou atenção
em mim, você não ouviu eu
falando, agora você se
vira”.
Fragmento 7: Eu já fiz E13. O aluno já fez parte da O aluno já fez parte do grupo
parte [da bagunça], agora eu “bagunça”, mas está que gera indisciplina na sala de
to melhorando. melhorando. aula, mas está mudando o
comportamento, a participação.
Fragmento 9: Isso [quando E15. Antes a professora não Quando o aluno era
ela não explicava era por explicava novamente indisciplinado, a professora não
causa da bagunça]. porque o aluno estava dava atendimento individual, o
“bagunçando”. que vem mudando devido à
mudança de atitudes do aluno.
E16. O aluno não concorda Mesmo reconhecendo os
com as atitudes da motivos das atitudes da
professora. professora, o aluno não
concordava com as mesmas.
Fragmento 10: É [o E17. A professora tem que Mesmo que o professor tenha
professor tem que explicar explicar mesmo que o aluno motivos para tomar certas
mesmo que o aluno esteja esteja “bagunçando”. atitudes, ele deve explicar
bagunçando]. Porque é a quantas vezes for necessário
obrigação dele, ele ta aí pra E18. A obrigação do para o aluno, pois a obrigação
dar aula. professor é dar aula. do professor é dar aula. O aluno
conhece os deveres do
professor e exige que o mesmo
cumpra esses deveres.
Fragmento 11: Aprender, E19. A obrigação do aluno O aluno conhece seus deveres,
estudar, prestar atenção [é é aprender, estudar, prestar mas mesmo tendo consciência
obrigação do aluno]. atenção. de que não os cumpre, exige
seus direitos. Demonstra o
interesse pelo cumprimento de
seus direitos, mas não no
cumprimento dos seus deveres.
Fragmento 12: Aí [se não E20. Se o aluno não O não cumprimento dos
prestar atenção] o professor cumprir seus deveres, o deveres pelo aluno, desobriga o
não tem a mínima (risos) professor não tem professor de cumprir os
obrigação de... ensinar. obrigação de cumprir os próprios deveres, os quais são
dele. direitos dos alunos. Essa
colocação divergiu da
colocação inicial, pois o aluno
não considerou a sua parte. E
percebeu a “armadilha” em que
se deparou, por falta de
argumentos reais.
Fragmento 13: Ah, [existe E21. Alguns alunos não Os alunos que são
bagunça] porque o aluno querem nada com a vida, indisciplinados não querem
não quer nada com a vida, não prestam atenção na nada com a vida. Alguns
não presta atenção no professora. alunos, mesmo com a
professor, porque sei lá, ele indisciplina, obtém notas boas,
fala que...(pausa). Tem E22. Tem alunos que não enquanto outros que também
aluno lá que bagunça o dia fazem nada, “bagunçam” e são indisciplinados não
inteiro, não faz nada e têm notas boas no boletim. conseguem, fazem tudo errado
quando vai ver no boletim e parece que não percebem a
tem as notas dele tudo ok e E23. Tem alguns alunos necessidade de mudanças. A
não faz nada. Tem outros que fazem “bagunça” e aprendizagem, na concepção
não. Tem outros que tem, depois erram tudo, fazem e deste aluno, parece estar
que faz a bagunça depois vê erram novamente. relacionada com o
lá tudo errado. Depois faz comportamento em sala de
de novo, depois ta tudo E24. Parece que os alunos aula. A aprendizagem parece
errado, aí parece que não se “não se tocam”, não ser o resultado de um bom
toca, sei lá. percebem o que estão comportamento em sala de
fazendo de “errado”. aula.
Fragmento 14: Ah, E25. O aluno acha que O aluno concluiu que deveria
[começou melhorar porque] “bagunçar” na sala de aula é melhorar seu comportamento e
acho que é injusto com os ser injusto com os pais. sua aprendizagem como forma
maus pais. Meus pais de gratidão aos pais que
trabalham para em dar uma E26. Os pais trabalham para trabalham para lhe dar uma
vida melhor, fazem tudo o dar uma vida melhor e vida melhor, que fazem tudo o
que eu quero e eu não dou, fazem tudo o que o aluno que ele pede. Se não
não presto atenção no quer, portanto, ele deve colaborasse, estaria sendo
colégio, que é tudo o que obedecer. injusto com os pais. As atitudes
eles pedem pra mim. do aluno são uma retribuição
E27. Por que não prestar pelo esforço dos pais.
atenção?
Fragmento 15: Eu mesmo E28. O aluno parou, sentou O aluno, mediante análises e
[cheguei à essa conclusão]. e pensou; aí resolveu reflexões próprias, percebeu
Sentei, parei e aí pensei, e aí mudar. que deveria ser grato aos pais
veio na minha cabeça que tendo um bom comportamento
eles não pedem pra mim E29. Os pais não pedem na escola, pois é a única
trabalhar, não pedem pra para o aluno trabalhar, nem exigência que os pais lhe
mim cuidar dos meus cuidar dos irmãos, só fazem, já que ele não precisa
irmãos, servir de babá, pedem para estudar. nem trabalhar, nem cuidar dos
nada. Eles só pede pra mim irmãos.
estudar, eu só faço estudar E30. Se não estudar direito,
na minha vida, e mesmo é meio complicado, pois é
assim não fazer direito, aí só o que os pais querem do
é...(pausa) meio aluno.
complicado.
Fragmento 16: Era bom se E31. O aluno sente Percebe-se uma carência afetiva
[a professora] tivesse mais necessidade de que os por parte do aluno, a
contato com a gente [nas professores tenham mais necessidade de atenção do
aulas] Chegasse: “oi contato com os alunos, professor com relação a ele.
turma”, sei lá. “Como foi conversando mais e se Destaca a necessidade de o
sua, seu dia?”, aí “vamos interessando por eles. professor demonstrar interesse
fazer juntos né, o exercício, por ele e seus colegas, mediante
vamos explicar junto, aí E32. Realizar atividades conversas com os mesmos.
vocês fazem os exercícios”. juntamente com os alunos, Além disso, sugere atividades
Aí depois ter alguma coisa auxiliando-os quando fora da sala ou em salas
diferente, sei lá, “vamos, necessário. diferentes e passeios a museus.
vamos fazer, exercícios lá Percebe-se a necessidade de
fora, vamos”, sei lá, uma E33. O aluno sugere que sair da rotina que a sala de aula
sala diferente, vamos no tenham “coisas” diferentes, proporciona, a busca por
museu, não sei. fazer atividades fora da situações/ambientes diferentes e
sala, ir ao museu. mais interessantes.
Fragmento 17: [O E34. O relacionamento do A indisciplina interfere no
relacionamento com os aluno com os professores relacionamento com o
professores] Agora tá está melhorando, pois parou professor. Como o aluno
melhorando. Eu comecei de se juntar com a turma melhorou o comportamento em
parar de, me juntar com a, que “bagunça”. sala de aula, conseqüentemente
com a turminha que o relacionamento
bagunça então eu não aluno/professor também está
bagunço. melhorando.
Fragmento 18: Acho que [o E35. O aluno acha que o O aluno acha que o ensino está
ensino] tá bom assim. Tem ensino está bom. bom, mesmo ouvindo colegas
coisas que eu converso com de outros colégios
meus colegas de outros “reclamando” de certos
colégios, né, aí eu converso conteúdos, e procura incentivá-
e eles “ah, esse negócio é los dizendo que o conteúdo é
chato” e não sei o que, e eu legal. Existe uma contradição,
falo: “ah, não, isso aí a pois o aluno aponta vários
gente já estudou, a gente ta problemas no colégio e com
nisso, tal, nesse negócio relação às disciplinas; e ao
aqui, é legal”. mesmo tempo considera que
esteja bom.
Fragmento 19: Eu acho E36. O aluno acha que a O aluno acha que a matemática
[que a matemática ajuda no matemática ajuda no dia-a- ajuda no dia-a-dia, pois sabe
dia-a-dia]. Acho que toda dia. que em várias profissões
profissão que, que, que eu utiliza-se matemática. A visão é
posso pensar em seguir tem E37. Toda profissão usa de uma matemática utilitarista,
matemática. Engenheiro usa matemática. quando diz que as profissões
matemática, médico usa “usam” matemática. A
matemática. princípio, não vê uma utilização
da matemática no seu dia-a-dia,
e sim, no futuro.
Fragmento 20: Eu acho que E 38. A matemática ajuda A matemática é utilizada por
me ajuda quando eu sento nos cálculos de situações ele e a família – mãe – nos
com a minha mãe, assim e a diárias, como contas de cálculos do dia-a-dia.
gente vai fazer contas de supermercado, de banco. Novamente percebe-se a visão
supermercado, ou conta de de uma matemática utilitarista.
banco. A gente faz as contas
assim e tal, vários tipos de
contas. Eu acho que ajuda
muito bem no dia-a-dia,
assim.
Fragmento 21: [Quando E 39. O aluno entra na sala, Quando tem aula de
tem aula de matemática] espera a professora chegar, matemática, o aluno entra na
Eu...(pausa). Eu entro, dar aula e “fico na minha”. sala, espera a professora chegar,
espero a professora chegar, dar a aula e “fica na dele’.
aí dá aula e eu fico na E40. O aluno achava que Deixa clara a idéia de que a
minha, tranqüilo. não precisaria de professora dá aula. Não
Antigamente eu falava um matemática na vida, mas demonstra, aqui, uma
monte: “Ah, a aula de mudou a concepção. participação ou envolvimento
matemÁtica pra que eu vou dele ou da turma; parece que
precisar isso, eu não preciso E41. Viu que a matemática assistem aula. Pensava
de matemática, do que ela é uma coisa essencial. inicialmente que a matemática
ensina pra mim. Eu não vou não lhe serviria, mas mudou sua
precisar de matemática no concepção acerca da
meu dia-a-dia”. Aí agora eu matemática, achando-a
mudei a minha estimativa, essencial. Essa mudança pode
né, porque eu vi que é uma ser fruto da análise e reflexão já
coisa essencial. descritas pelo aluno.
Fragmento 23: Acho que E43. Não se sentia excluído A indisciplina era sinônimo de
não [sentia exclusão quando porque entrava pra status para o aluno. Fazendo
bagunçava] eu, tipo assim: “bagunça” geral. parte desse grupo, se sentia “o
eu entrava pra bagunça tal”, “o cara”, e conquistava o
geral, eu pensava que, sei E44. Pensava que era o tal respeito dos colegas. Até que
lá, eu era o tal; era o cara, quando estava na percebeu que isso não era bem
fazendo bagunça, lá, tal; “bagunça”. assim, e sentiu necessidade de
tinha respeito, não sei o que. mudanças.
Aí eu vi que isso era E45. Era o cara, fazendo
diferente. Não adianta “bagunça”.
ser...(pausa e não completou
a frase). E46. Tinha respeito.
Fragmento 24: Sei lá, E48. Tinha o respeito dos Ser indisciplinado, juntamente
[tinha o respeito] dos alunos enquanto participava com seus colegas, gera status e
alunos, assim. Sei lá, oh, o da “bagunça”. respeito por parte dos colegas,
R. é um cara legal, ele é um pois passa a ser considerado um
cara gente boa porque E49. Era considerado pelos “cara legal” e “gente boa” no
bagunça com nós, tal. Aí eu colegas como um “cara grupo. Os colegas identifican-se
comecei a não pensar nos legal”, “gente boa”, porque entre si pela indisciplina, e esta
meus alunos. Meus alunos, “bagunçava” junto com passa a ser um elo de ligação
não, nos meus camaras. eles. entre eles. Os
Comecei pensar mais em alunos/adolescentes que não se
mim porque eu que to me E50. Começou a não pensar identificam com o grupo,
prejudicando fazendo isso. nos “camaras”, mas em si tendem a ser excluídos. A partir
Eles não, eles não vão me mesmo e percebeu que de reflexões, o aluno percebeu
dar nada, não vão me dar estava se prejudicando, pois que essas atitudes não lhe
futuro, aí eu comecei... os colegas não vão lhe dar trazem vantagens e ele próprio
nada, nem futuro. se prejudica, porque os colegas
não vão lhe dar nada, nem
futuro. Registra-se, aqui, a
preocupação com o futuro, o
que gera uma mudança de
comportamento e atitudes.
Fragmento 26: Não. Acho E54. Não sente exclusão O aluno não percebe exclusão
que não [sentia exclusão em por parte da equipe por parte da equipe e direção do
relação à equipe pedagógica pedagógica e direção do colégio.
e direção escolar]. colégio.
Fragmento 27: Acho que E55. Para melhorar a A indisciplina pode ser
sim, né [é possível melhorar “bagunça” na sala, é só os melhorada se os alunos
a bagunça]. É só eles alunos “acordarem pra “acordarem pra vida”, embora
acordar pra vida. Mas é vida”. Mas isso é muito seja considerada uma atitude
muito difícil. difícil. difícil na visão do aluno.
Fragmento 28: [Para E56. Melhorar a A melhora na sala de aula
melhorar] Depende do, sei participação depende de depende principalmente da
lá, do...(pausa). Acho que advertência, punição, equipe – direção, professores,
depende, sei lá, dá uma chamar os pais. coordenação – pois é necessário
advertência, chamar os instituir-se regras, advertir
alunos, chamar os pais, sei E 57. O colégio precisa ter quando for o caso, cumprindo
lá, conversar. Porque eles atitudes claras e definidas, as atitudes que foram pré-
falaram que iam fazer um regras. definidas. O aluno deixa clara
negócio, ia ter uma aqui a necessidade de limites
advertência. Na segunda que estão sendo deixados de
uma advertência, na terceira lado pela escola e pela família,
uma advertência e iam que estão desestruturadas. A
chamar os pais, se não falta clareza está deixando os
melhorasse ia ser submetido alunos livres, e eles nem
a, iam convidar a mudar de sempre sabem como agir. A
colégio. Aí teve aluno que indisciplina parece ser uma
teve uma advertência, teve forma de chamar a atenção para
outra, teve outra, já teve algo que não está funcionando
sete advertência, oito bem. Destaca-se novamente, a
(risos), e continua a mesma necessidade da presença da
coisa. E hoje eu chego família na escola, até mesmo
dentro da sala ta a mesma para uma “punição” do aluno.
coisa, tacando papelzinho. A família está distante e não
está tomando conhecimento do
que está ocorrendo na escola,
como se esta estivesse separada
da sociedade.
Fragmento 29: Não [foi E58. Acontecem problemas Apesar de o aluno considerar
tomada nenhuma atitude em na escola que algumas que a escola tem segurança,
relação à briga que vezes a direção nem fica destaca um
aconteceu no colégio]. sabendo. acontecimento/desentendimento
Ninguém nem ficou que ocorreu na própria escola e
sabendo. Nem a direção que a direção nem ficou
ficou sabendo. Ficou só sabendo. Até onde existe essa
entre a gente. segurança relatada no início da
entrevista?
O aluno E estuda no colégio porque a família o considera bom e por ser próximo à
uma briga séria entre dois grupos e a direção do colégio não soube desse conflito.
O ensino é considerado bom pelo aluno visto que ele acredita que o vestibular seja
auxiliando-os. O aluno sente-se como mero expectador em sala de aula. Apesar de gostar
das aulas de matemática, acha que a professora precisa dar mais atenção e ajuda aos alunos,
principalmente quando estes não entenderam o que se discute devido à “bagunça gigante”
na sala de aula.
A atitude da professora de não explicar como punição pela bagunça não é
considerada correta por esse aluno, que está mudando sua conduta na sala de aula. Ou seja,
não está mais participando da bagunça com os colegas porque acredita que fazer isso é ser
injusto com os pais. Seus pais, segundo ele, o ajudam nos estudos e não exigem mais nada
dele além de estudar. Sua reflexão levou-o a mudar sua conduta em sala de aula. Com essa
mudança de atitude, o aluno percebeu que a professora lhe presta atendimento sempre que
necessário, pois existe reciprocidade entre o aluno e a professora de matemática. Com isso,
o aluno percebe o preconceito da professora em relação aos alunos que são indisciplinados.
Mesmo com a indisciplina na sala de aula, o aluno considera que a professora deve
explicar sempre que necessário, pois essa é a obrigação do professor. Quando questionado
sobre a obrigação do aluno, ele diz, em contrapartida, que é a de aprender, estudar e prestar
atenção. O não cumprimento dos deveres do aluno pode implicar o não cumprimento dos
deveres pelos professores. De acordo com o sujeito E, os alunos que são indisciplinados
Existe uma percepção do aluno em relação a seus colegas no que diz respeito ao
comportamento e aos resultados finais atingidos por eles. Ele assevera que alguns alunos
não fazem nada em sala e são indisciplinados, e, mesmo assim, apresentam notas boas,
enquanto outros que também são indisciplinados erram tudo, e quando tentam novamente,
erram de novo. E que, mesmo assim, eles não percebem a necessidade de mudança de
atitude.
bagunçam por parte dos professores. A exclusão é percebida pelo olhar diferenciado dos
Apesar dos problemas apresentados pelo aluno E, ele considera que o ensino está
bom. O aluno E julga que a matemática ajuda no dia-a-dia porque é utilizada em várias
supermercados, de bancos. Até pouco tempo, considerava que não precisaria de matemática
coerente com a expectativa dos pais e professores na vida, mas mudou sua concepção e
relata que entra na sala, espera a professora chegar, dar aula e “fica na dele”. O sujeito é
Com relação aos colegas, o aluno não percebe nenhuma forma de exclusão porque
pensava que “era o tal, era o cara, era um cara legal, gente boa”, tinha o respeito dos
colegas desse grupo. Houve um amadurecimento e percebeu que essa atitude não era em
relação a ele. Começou, então, a pensar mais em si mesmo e percebeu que estava se
exclusão.
Para ele, uma mudança de atitude em sala de aula significa que os alunos “acordem
pra vida”. Mas o aluno E considera uma atitude difícil de ser tomada pelos colegas. Para
isso, ele acha que é necessário punição, tais como advertência, conversa com os pais,
adoção de regras claras e definidas e que sejam cumpridas, ou seja, imposição de limites
que parecem não estarem sendo cobrados, deixando os alunos “abandonados à própria
sorte”, de forma que não estão sabendo os rumos que devem ser seguidos.
Fragmento 6: [Às vezes é F9. As aulas às vezes são Apesar de ter consciência de
chatinho porque] você enjoa “chatinhas” porque enjoa de que estudar é importante, a
de estudar (risos). Não é tão estudar, mesmo sabendo que aluna deixa de estudar
legal, não. Você sabe que é os estudos servem para o porque às vezes enjoa de
pro seu futuro, né, mas... futuro. estudar e não é tão legal. A
(não completou a frase). importância do estudo está
F10. Estudar não é tão legal. sempre no futuro.
Fragmento 8: Tem uns F14. Tem alguns professores Os alunos têm mais
professores que são legais, que são “legais” e os alunos afinidades com os
assim, que a gente acaba acabam tendo mais professores considerados
tendo mais afinidade, mas afinidades. “legais”.
agora tem outros que
...(pausa), são mais...(pausa), F15. Alguns professores são Outros professores são mais
mais secos, assim, na hora da mais “secos”. rudes com os alunos.
gente conversar que
não...(não completou a
frase).
Fragmento 9: Professor F16. Professor “legal” é Para que o professor seja
legal? É, ah, que entende aquele que entende os alunos considerado “legal”, ele deve
você, assim, sabe. Na hora e ajuda quando eles entender os alunos e ajudá-
que você precisa ele vai lá, te precisam. los quando eles precisam.
ajuda, mais ou menos isso,
assim.
Fragmento 10: [O ensino F17. O ensino está bom em O ensino está bom, mas pode
está] Bom, assim em tudo. tudo. se tornar melhor se os alunos
Mas depende mais dos tiverem mais interesse em
alunos, né, pra se tornar F18. Para se tornar melhor, o estudar, pois o interesse é o
melhor, assim. ensino depende dos alunos. motivo principal para que o
[Para o ensino se tornar ensino seja melhor.
melhor os alunos podem] Ter F19. Os alunos devem ter
mais vontade de estudar, né. mais vontade de estudar.
Isso é o principal.
F20. Vontade de estudar é o
principal para o ensino ser
melhor.
Fragmento 11: Com certeza F21. A matemática ajuda no A matemática tem utilidade
[a matemática ajuda no dia-a- dia-a-dia. no dia-a-dia.
dia.
Fragmento 12: Ah, eu acho F22. As pessoas precisam da A aluna considera que a
que [a matemática ajuda] na matemática em tudo. matemática ajuda no dia-a-
maioria das formas, né. Em dia, pois as pessoas precisam
tudo você precisa F23. A utilidade da de matemática em tudo. A
matemática, praticamente. matemática se destaca em matemática tem um sentido
Exemplos. diferentes situações: nos utilitarista.
Deixa eu ver (risos). Quando horários, a cozinheira para
você vai ver horário, é um saber a quantidade que
situação também. Vai precisa.
fazer...(pausa), por exemplo:
você é cozinheira. Quando
você precisa de uma
quantidade, a matemática
sempre ta envolvida nisso.
Fragmento 13: Matemática? F24. A matemática é um A aluna não sabe explicar ao
Ah, [Pra mim] é um monte monte de números e contas. certo o que é a matemática,
de números (risos) e contas. mas considera que ela seja
Ah, eu não sei explicar certo, F25. A aluna não sabe um monte de “números e
é mais ou menos isso pra explicar certo o que é contas”.
mim (risos). matemática.
Fragmento 14: [Sobre a F26. Matemática é a pior A matemática é a pior aula
aula de matemática] aula do dia. Matemática é do dia, sendo considerada até
Ah, a pior aula do dia, né um saquinho (!). mesmo “um saquinho”.
(risos). Porque matemática é Talvez isso se deva ao fato
um saquinho. É que são de a matemática, segundo os
tantas coisas, né, pra ficar alunos, ser um assunto a ser
ouvindo. Ah, é a matéria, memorizado, o que faz com
mesmo. que nossos alunos não
precisem pensar muito para
resolver problemas, já que as
respostas esperadas pelos
professores geralmente são
únicas.
Fragmento 16: [Sente F28. A aluna destaca A aluna sente exclusão por
exclusão devido à bagunça] exclusão por parte dos parte dos professores durante
Com os professores. Porque professores, devido à sua a prática pedagógica devido à
assim, quando a gente tenta, participação na conversa em sua participação nas
daí, estudar mesmo, que a sala. conversas em sala de aula, o
gente senta e fala: “não, eu que se reflete quando solicita
vou ter que estudar, hoje”, o F29. A exclusão é percebida auxílio para a realização das
professor acaba meio, assim: quando ela tenta estudar e a atividades e a professora se
“ah, você ta ali, então hoje eu professora não explica recusa a explicar.
não vou te explicar”. É mais devido à participação da
ou menos assim. aluna na “bagunça”.
Fragmento 17: Aí se você F30. Se prestar muita atenção
A aluna faz a opção de
acaba prestando muita na aula os colegas fazem participar da conversa com
atenção na aula, aí eles [os “cobranças”, dizendo que elaos colegas em sala de aula
colegas] começa falar: prefere estudar. porque sente uma cobrança
“nossa, você não tava aí deles em relação a ela
falando com a gente, você F31. Se preferir estudar, a quando resolve estudar mais
prefere estudar, né”. Fica aluna não se sente bem em do que conversar, com isso
meio chato aí também. De relação aos colegas. não se sente muito bem em
vez em quando tem que relação a eles.
(risos e não terminou a fala).
Fragmento 18: Não [não F32. A aluna afirma que não Apesar de afirmar que não
participa da conversa só por participa da conversa por participa da conversa só por
causa da opinião dos causa dos colegas. influência dos colegas, a
colegas]. aluna destaca que se ficar
interessada na aula, existe
uma cobrança por parte deles
quanto à sua decisão, e que
isso fica chato. Ela se
contradiz na resposta, mas
parece que um dos motivos
que a influenciam é
exatamente esse. Pode-se
destacar aqui, a questão da
não aceitação do adolescente
no grupo, devido a
comportamentos que não são
comuns a todos.
Fragmento 20: [Ruinzinho] F34. A aluna não presta A aluna não presta muita
É porque eu não presto muita muita atenção na aula de atenção nas aulas de
atenção na aula, né. Daí vem matemática. matemática;
a prova e eu não sei nada, conseqüentemente, não sabe
realmente. F35. Nas avaliações, não fazer as atividades nas provas
sabe nada porque participou e com isso não está muito
da “bagunça”, por isso não bem nos conceitos.
está muito bem.
Fragmento 21: Não, isso F36. Antes o A aluna tinha mais facilidade
mudou [nem sempre foi desenvolvimento em em matemática, e essa
assim ruinzinho]. Acho que matemática não era assim. situação começou a mudar
desde o ano passado que eu desde o ano passado, 2004.
comecei a piorar um pouco. F37. A aluna começou a
“piorar” desde a sétima série.
Fragmento 22: A conversa F38. A conversa foi o motivo A participação da aluna nas
[contribuiu para a mudança que fez a aluna mudar suas conversas em grupos, onde
de atitudes em relação à atitudes em relação à os assuntos são mais
matemática]. matemática. interessantes, contribuiu para
que ela mudasse as atitudes
em relação à matemática.
O aluno ou a aluna F estuda no colégio porque a família o considera bom por ser
próximo a sua residência. O aluno F avalia o ensino como bom, haja vista que os
professores explicam bem, apesar da indisciplina na sala de aula. Essa indisciplina é gerada
porque os alunos se envolvem nas conversas de outros alunos em sala, o que, muitas vezes,
O aluno F considera que às vezes as aulas são legais, outras vezes são ‘chatas’ e os
alunos enjoam de estudar, mesmo sabendo que o estudo é importante para o futuro. Parece
que o ensino é algo maçante para os alunos, pois não consegue despertar-lhes interesse, e,
além disso, é visto sempre numa perspectiva de futuro. O aluno F não vê possibilidade para
afinidades com alguns professores porque são legais. O professor legal, para o aluno F, é
aquele que auxilia o aluno quando necessário, que entende o aluno. Outros professores são
mais “secos” e parece não haver afinidades entre ele e seus alunos.
O aluno F afirma que o ensino está bom, mas que depende dos alunos demonstrarem
Nesta etapa da pesquisa, são utilizados os dados obtidos na análise ideográfica dos
discursos dos sujeitos, para passar do nível individual para o geral, em que as unidades de
que são as idéias que alicerçam os discursos dos alunos de 8ª série do Ensino Fundamental,
na busca das concepções sobre a questão que permeia este trabalho, “o que é isto, a
matemática?”.
2. Indisciplina como atividade normal A2, A3, A17, A18, A19, A20, A21, A51,
• do indivíduo B8, B38, C31, D6, D11, D24, D25, D56,
• do colégio E14, E15, E17, E19, E26, F5, F6, F7
3. Indisciplina como súplica de atenção C29, C35, D3, D15, D27, D32, E10, E33,
pelos alunos em relação à: E58, E59, E60
• professores
ausentes/descompromissados
• escola:professores, equipe e
direção desestruturada e
ausente
• família ausente da realidade
escolar
4. Indisciplina como A4, A5, A6, A7, A24, A25, A42, A51, B11,
insatisfação/desmotivação B12, B39, C62, C63, D24, D25, D32
• diante dos conteúdos
6. Não apreciação de determinados A4, A5, A6, A7C11, C12, C13, C15, C36,
conteúdos (não necessariamente de D12, D32, F8, F25, F26
matemática) e indisciplina.
7. O não despertar do aluno A4, A5, A7, A8, A33, A35, A36, A42, B11,
• não despertado pelo professor B20, C13, C36, C58, D13, D27, D32, D48,
• não despertado pelo conteúdo D49, F8, F9, F18, F19, F25, F26, F33, F34,
• não despertado pela escola F35
9. Matemática como ciência prática A31, B27, B28, C51, C52, C53, C54, C55,
(sentido utilitarista da ciência) D30, D31, F9, F21, F22, F23, E38, E40
10. Aula de matemática: A22, A23, A26, A34, A35, A37, B14, B19,
• sempre igual C12, C23, C36, C38, C39, C65, F8, F9, F24,
• aula chata F25
• contas
• o aluno não faz nada
• aulas boas
11. Aula do professor B20, B21, B22, B23, C16, C64, F27
• não participação do aluno
(aluno como expectador)
12. Punição vista pelos alunos como A39, A52, A53, A54, D19, D20, D36, D38
pedagogia
14. Professor responsável/culpado pelo A9, A10, A11, A12, B15, B16, C7, C8, C9,
aprendizado ou não aprendizado do aluno C22, C30, C48, C50, D35, E34, F3, F4
15. Relacionamento: A27, A28, A29, A30, A40, A47, B50, B51,
• com os professores (mal) B52, B53, B54, B55, C26, C28, C62, C67,
• com os colegas (bom) D26, D41, D42, D43, E36, F14, F15
• com a equipe pedagógica
(bom)
16. Obediência/desobediência ao professor e A28, A30, A40, A41, A43, A46, C32
às regras
18. Exclusão A44, A51, C60, C61, D33, D34, E45, E48,
• por parte dos professores E51, E53, E54, E55, E56, F28, F29
(sim)
• por parte da equipe (não)
• por parte dos colegas (não)
6. Aula do professor, que é responsável e/ou A9, A10, A11, A12, B15, B16, B20, B21,
culpado pela aprendizagem ou pelo fracasso B22, B23, C7, C8, C9, C16, C22, C30, C48,
escolar. C50, C64, D35, F3, F4, F27
7. Punição vista como pedagogia, falta de A28, A30, A39, A40, A41, A43, A45, A46,
cobranças dos professores, da escola e da A52, A53, A54, C29, C32, D19, D20, D36,
família, obediência e/ou desobediência ao D38
professor e às regras, mudança ou não de
conduta por parte do aluno.
8. Relacionamento com professores, equipe A27, A28, A29, A30, A40, A47, B50, B51,
pedagógica e os colegas de sala de aula. B52, B53, B54, B55, C26, C28, C62, C67,
D26, D41, D42, D43, E36, F14, F15
9. Exclusão ou não por parte dos A44, A51, C60, C61, D33, D34, E45, E48,
professores, da equipe pedagógica e dos E51, E53, E54, E55, E56, F28, F29
colegas.
Nos discursos de cada um dos sujeitos entrevistados foi possível constatar que todos
fizeram a opção pelo colégio pesquisado porque era considerado “um colégio bom” pela
Entretanto, apesar dessa referência, uma contingência emergiu nos relatos sobre a
vivência dos alunos com relação à matemática escolar. Com grande freqüência, essa
contingência, a indisciplina, ocupou grande parte dos discursos, sem exceção. Essa
indisciplina tem-se caracterizado como uma atividade “normal” em sala de aula, na escola,
fazendo parte da cotidianidade da vida do Colégio, tal qual a paisagem de fundo de sua
existência.
“conteúdo apresentado” foi assim considerado nos discursos dos alunos que destacam ainda
ambiente “chato”, sem alegrias (RUIZ; BELLINI, 1998), onde, segundo Neves e Gallerani
(1989), o aluno vai para aprender ou fazer de conta que aprende, os professores fazem de
conta que ensinam, os pais fingem que seus filhos estão sendo bem educados e a sociedade
finge que os homens que suas escolas formam estão aptos para alguma coisa.
colégio, da sociedade e da família, mas continuam fazendo parte dela, como autores e/ou
co-autores. Ela parece estar sendo utilizada pelos alunos como uma alternativa para revelar
que não estão interessados na aula, nos conteúdos, na escola. Essa atitude pode ser
interpretada como uma súplica, um pedido de atenção para um problema que os alunos
estão vivenciando, ao qual não está sendo dada a atenção necessária e/ou suficiente nem
pelos professores, nem pela equipe pedagógica, nem pela escola, e nem pela família ou pelo
governo. Esses atores institucionais, muitas vezes, interpretam a indisciplina dos alunos
como desrespeito, desinteresse total pelos estudos e pela escola, ausência de projetos de
vida. O que parece estar ocorrendo é que os alunos não são tão desinteressados. Eles
percebem que a escola não vai bem, percebem boa parte do que está ocorrendo na escola e
nas relações existentes em torno dela; percebem ainda que muitos conteúdos, assim como a
didática de alguns professores estão ultrapassados. Os alunos estão querendo mudanças das
práticas educativas, da organização escolar e de novos objetivos para a educação, mas isso
uma lacuna imensa às críticas dos alunos, que apontam, e com razão, a falta de regras,
normas, objetivos, atitudes. A impressão que subjaz aos discursos é que aquilo que
poderíamos batizar de “presença didática” parece não estar existindo e o que é oferecido
sentimentos contraditórios: aversão e beleza. Essa contradição também pode ser verificada
nos discursos dos alunos, porque enquanto alguns afirmam que gostam de matemática,
outros afirmam não gostarem dessa disciplina. O não gostar da disciplina está relacionado,
de acordo com os alunos, com o não gostar do professor, parecendo que a aversão ao
professor repensar sua prática cotidiana, e tentar buscar soluções para a situação. Salienta-
se que parece existir uma necessidade de mudanças não somente com relação às práticas
docentes, mas em relação ao sistema de ensino. Sendo assim, parece necessário que os
prática educativa, pois as mudanças começam na sala de aula, e não a partir de uma decisão
matemática e não se interessam por ela, pois consideram que não utilizam a matemática na
vida.
e consideram-se fora dela, como expectadores. Não parece existir uma construção do
conhecimento em que o professor seja um dos agentes que participa dessa construção
juntamente com os alunos. Existe uma relação distinta professor/aluno e, em alguns casos,
sujeito E, não há interação entre eles no processo de aprendizagem, não há nem mesmo
Os alunos, como pôde-se depreender dos relatos, não gostam de punições, não
gostam que o professor lhes chame a atenção, mas consideram esses itens necessários no
que parece não ser feito nem pela família, nem pela escola. Em contrapartida, eles destacam
que a imposição, da forma utilizada pela escola (tirar da sala de aula, chamar a atenção),
não está surtindo os efeitos desejados pela mesma, ou seja, as possíveis soluções
encontradas na escola não são as mais indicadas para atingir os objetivos esperados, nesse
caso, que o aluno participe das aulas sem indisciplina. Isso nos leva a perceber que o ensino
não está bom, as soluções encontradas não são as mais sensatas; faz-se necessário repensá-
Esse é um dos fatos que parece ser o ponto-chave da discussão aqui apresentada: a
mudança. Quando preconizamos a mudança, não é apenas de atitudes, mas uma mudança
do currículo, objetivos, conduta dos professores, escola, família e sociedade. Além disso,
não se apresentam aqui quais as mudanças cabíveis, mas acredita-se que é necessário que
Fundamental, está desgastado; os professores não conseguem realizar seu trabalho porque,
segundo os alunos, eles “não deixam”, ou seja, os alunos definem o que deve ser feito, e
ninguém lhes mostra ou cobra os limites, apontados por eles próprios como necessários.
principalmente porque existe uma identidade de grupos, como afirma Moreno (2004), que
predomina no relacionamento entre eles; grupos que ditam as regras e normas e, de acordo
com estas, acolhem e/ou excluem os integrantes dos mesmos. Essa identidade de grupos
como sendo bom; isso se deve, talvez, à própria ausência da equipe no dia-a-dia da sala de
aula no que diz respeito ao apoio ao trabalho do professor, ou pela falta de cobranças desta
discursos. Delval (1998) explica que o professor, que é o adulto nessa relação, é a
autoridade, manda e os alunos, que são os futuros adultos, obedecem. Se isso não ocorrer (e
não está ocorrendo), o aluno pode ser castigado, como se observa no discurso do sujeito A.
como solução dos problemas, e, além disso, o desafio sempre ‘se impõe’ porque sabem que
nada ou muito pouco vai lhes acontecer. Nessa concepção, não haverá, pois, imposição de
limites a nenhuma das partes envolvidas. Alguns alunos indicam que mudaram ou tentaram
mudar suas condutas em sala de aula porque consideraram necessário, devido às atitudes
acordo com os alunos, que o relacionamento entre alunos e professores depende quase
professores e, em alguns casos, a própria equipe pedagógica, excluem os alunos que não
estão dentro das normas e padrões exigidos pela escola, ou seja, que não são obedientes; e
essa exclusão se dá principalmente no relacionamento entre eles. Os alunos percebem e
vivenciam essa exclusão, e devido a ela, em alguns casos, optam por atrapalhar ainda mais
as aulas, gerando assim, a indisciplina escolar. Rebelo (2003), por razões semelhantes,
conclui que os alunos não são os únicos responsáveis pela indisciplina escolar.
CAPÍTULO V: ALUNOS, ESCOLA E A MATEMÁTICA EM
PERSPECTIVA
A partir das reflexões dos discursos dos alunos de 8ª série do Ensino Fundamental
Não parece ser suficiente, nas concepções dos alunos de 8ª série do Ensino
Fundamental entrevistados, deixar que eles descubram por si só, sem parâmetros de
matemática?”, não emerge em sua sinonímia. O que resta são fragmentos de discursos e
uma severa crítica ao sistema educacional como um todo, podendo, inclusive, valer para as
busca do desconhecido. Não atendem, por conseguinte, as suas necessidades básicas, o que
acaba distanciando a escola de seu objetivo fundamental, que é a formação do cidadão para
infelizmente, a escola no rodapé desse processo. Conforme Kuhn (2003), essas mudanças
são lentas, longas e de difícil aceitação. A escola, com uma inércia que lhe é característica,
para que possa, assim, buscar novas formas de atender às necessidades desses jovens
sociais, seletiva, acomodando-se ao que aí está. Esse comportamento acaba por mascarar
resistência quase individual, mas a escola resiste, há muito tempo, às mudanças. Para
referencial da escola de hoje. A pergunta que fica, portanto, é: até quando irá essa
CARVALHO, M. P. de. Quem são os meninos que fracassam na escola? Cad. Pesqui., v.
34, n. 121, p. 11-40, jan./abr. 2004.
PALACIOS, J.; OLIVA, A. A adolescência e seu significado evolutivo. In: COLL, C.;
MARCHESI, A.; PALACIOS, J. (Org.). Desenvolvimento psicológico e educação:
psicologia evolutiva. Porto Alegre: Artmed, 2004. v. 2.