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“Uma oportunidade perdida.

” A frase é de Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, definindo


as Olimpíadas de 2016 na cidade. De fato, apesar das inúmeras obras e mudanças na
organização carioca, os investimentos em problemas reais do país, como a educação, a saúde e o
próprio meio ambiente, parecem ter ficado de lado. Nesse sentido, é importante questionar até
que ponto as novidades alcançadas com os megaeventos são, realmente, um legado para o
Brasil.
Em primeiro lugar, é válido destacar que as transformações no país podem, sim, ser bem
utilizadas nos próximos anos. Isso porque, com o investimento certo, estádios, parques e
apartamentos destinados aos atletas são bons candidatos a novas escolas, hospitais, moradias
populares e, é claro, sede de mais eventos. Diversas arenas construídas para a Copa do Mundo
de 2014, por exemplo, ainda são utilizados em jogos e shows, promovendo, inclusive, uma
integração nacional. Muitos candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro, na campanha pós-
Olimpíada, discutem a utilização desses locais como centros de treinamento e parques culturais.
Parece, porém, que a prioridade não é aproveitar esses espaços. De acordo com reportagem do
Jornal da Globo de 2015, os estádios mais distantes das capitais brasileiras receberam quase
nenhum evento depois da Copa. Em outras cidades-sede dos jogos olímpicos, obras importantes
estão abandonadas, sem qualquer utilidade. Isso comprova que investimentos de bilhões de
reais, que poderiam ser aplicados a outras áreas importantes da cidade e do país, acabam sendo
jogados fora em prol de uma visibilidade que não dura mais de um ano.
Vale ressaltar, nesse contexto, as necessidades básicas deixadas de lado nesses momentos pré-
eventos. Em outra declaração polêmica, Eduardo Paes afirmou que a poluição e a zika não são
problemas Olímpicos, fazendo referência às dificuldades com a Baía de Guanabara e ao surto do
vírus na cidade. Durante os jogos, a vitória não passava dos estádios: filas quilométricas nos
hospitais, escolas em ocupação permanente, assaltos em todos os lugares do Rio de Janeiro,
presidente afastada em Brasília. Isso comprova que, em tempos de megaeventos, as prioridades
são outras.
É possível perceber, portanto, que o legado não passa de um conjunto de problemas alimentados
pela negligência do governo. Buscando resolver isso, com foco nos novos eventos e no que já
está pronto, as empresas podem, em parceria com esse poder público, investir no
reaproveitamento dos espaços utilizados nos jogos, promovendo shows, festivais e até
cerimônias, arrecadando recursos e mantendo os locais ativos. Podem, também, transformá-los
parques e áreas de construção de hospitais e moradias. A mídia pode trabalhar divulgando essas
obras e estimulando o turismo. Deve, além disso, denunciar o inacabado e mal utilizado, a fim
de chamar a população à cobrança. Só assim, revendo e investindo, será possível reconhecer um
verdadeiro legado olímpico para todo o Brasil.

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