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Abstract Introdução
1 Faculdade de Ci ê n c i a s Sexually transmitted diseases (STDs) are fre- Na adolescência as relações sexuais têm inicia-
M é d i c a s , Un i versidade do quent in adolescence and contribute to the in- do mais cedo e com um maior número de par-
Estado do Rio de Ja n e i ro,
Rio de Ja n e i ro, Bra s i l . c rease in the number of AIDS cases. E a rly sex- c e i ro s, o que contribui para aumentar a ocor-
2 Núcleo de Estudos de Saúde ual initiation, multiple sex part n e r s , and lack rência das DST 1,2. Entre adolescentes o uso de
do Ad o l e s c e n t e , Un i ve r s i d a d e
of condom use are considered risk factors and preservativos é baixo e a atividade sexual geral-
do Estado do Rio de Ja n e i ro,
Rio de Ja n e i ro, Bra s i l . a re influenced by a male-dominated gender mente não é pro g ramada. Estudos bra s i l e i ro s
s y s t e m . We interv i ewed 356 adolescent pa- revelam que apenas um terço deles ou menos
C o r re s p o n d ê n c i a
tients at the Adolescent Health Re s e a rch Ce n- usam pre s e rva t i vo sempre 3 , 4 , 5 . Segundo da-
Stella R. Ta q u e t t e ,
Faculdade de Ci ê n c i a s ter in Rio de Janeiro State University to identi- dos de pesquisas divulgados pelo Ministério da
M é d i c a s , Un i versidade fy possible STD risk factors in adolescence. Saúde (MS) 6, os mais baixos índices de uso se
do Estado do Rio de Ja n e i ro.
Av. Pro f. Manoel de Ab re u
Young men re p o rted more partners and earl y encontram entre 15 e 19 anos. No Brasil não há
4 4 4 , Rio de Ja n e i ro, RJ s exual initiation. Females used condoms less informações sobre a prevalência de DST entre
2 0 5 5 0 - 1 7 0 , Bra s i l . f requently and were more subject to sex u a l a d o l e s c e n t e s. As únicas DST de notificação
t a q u e t t e @ u e r j. b r
a b u s e . The results confirm a model sustained compulsória são a sífilis e a AIDS e, além disso,
by traditional gender values that demarc a t e cerca de 70% das pessoas com alguma DST bus-
the male and female sphere s , with male su- cam tratamento em farm á c i a s, o que faz com
p re m a c y. We conclude that to achieve more ef- que o número de casos notificados fique abai-
f e c t i ve STD contro l , it is necessary to ex p a n d xo da estimativa 5.
the discussion on culturally constructed pat- As DST favo recem a infecção pelo HIV. Do
terns of masculinity and femininity. total de casos de AIDS, segundo as categori a s
de exposição, a via de transmissão sexual é a
Sex u a l i t y ; Ad o l e s c e n c e ; Sexually Tra n s m i t t e d predominante (53%) 7. De acordo com o MS 5,
Diseases; Gender o maior número de notificações acumuladas
entre 1980 e 1999 (67.267 casos, ou seja, 43,23%
do total) concentra-se entre 15 e 24 anos. Co-
mo o tempo de latência da doença é longo, che-
gando até 11 anos, podemos inferir que grande
p a rte destes deve ter se infectado na adoles-
cência 8,9. Outra tendência da epidemia aponta
para sua feminização e heterossexualização.
com o tamanho do pênis são freqüentes. As mo- gem: privilegiamos de modo intencional os am-
ças, por sua vez, sentem-se pressionadas pelo bulatórios de DST, ginecologia e urologia, onde
grupo a iniciar a atividade sexual, pelo namo- a possibilidade de existirem pacientes sexual-
rado para dar “provas de amor” mediante con- mente ativos e port a d o res de DST era maior.
cessão ao coito e não conseguem se impor na Concomitantemente adolescentes eram entre-
negociação do uso do preservativo. vistados nos outros ambulatórios.
O objetivo do presente estudo foi conhecer Os casos de DST foram diagnosticados por
a população adolescente atendida no Núcleo critério clínico e/ou laboratorial, utilizando-se
de Estudos em Saúde do Adolescente (NESA), a abordagem sindrômica definida no manual
da Un i versidade do Estado do Rio de Ja n e i ro de DST do MS 30 e testes diagnósticos específi-
(UERJ), do ponto de vista da sexualidade e des- cos. Considerou-se no diagnóstico todas as pa-
crever possíveis fatores de risco às DST. O tra- tologias que podem ser transmitidas por meio
balho apresenta e discute estes fatores relacio- do ato sexual, incluindo aquelas que são essen-
nando-os a um modelo de sistema de gênero cialmente assim transmitidas (sífilis, gonorréia
que supõe uma supremacia masculina. e o HPV ), freq ü e nt em e nt e (uretrites não gono-
cócicas, candidíase, tricomoníase, herpes sim-
p l e s, hepatite B e o HIV ) e e ve nt u a lm e nte ( e s-
População estudada e método c a b i o s e, fitiríase), desde que houvesse sinto-
mas clínicos evidentes e/ou exames positivos e
Trata-se de um estudo observacional, do tipo relatos da anamnese que garantissem a trans-
t ra n s versal cuja população alvo foi o público missão sexual da doença 31.
adolescente que procurou atendimento médico O ro t e i ro de entrevista, composto de três
no NESA entre agosto de 2001 e julho de 2002. O partes, contava com perguntas abertas e fecha-
NESA é uma instituição pública cujo ambulató- das. A primeira investigava dados pessoais co-
rio atende adolescentes de 12 a 19 anos, a maio- mo idade, renda familiar, escolaridade, traba-
ria deles pertencente às classes de baixo poder lho, prática de exercícios, uso de bebidas alcoó-
aquisitivo, em diversas especialidades. l i c a s, tabaco e outras dro g a s. Co n s i d e ro u - s e
A amostra estudada foi de conveniência e a atraso escolar uma defasagem maior que dois
escolha dos participantes foi aleatória (não anos em relação à idade esperada para a série
probabilística) entre os adolescentes que aguar- freqüentada. Sobre a prática de exercícios, esta
davam atendimento em sala de espera. Desco- era considerada regular quando no mínimo três
nhecia-se de antemão o motivo da consulta e vezes por semana. O uso de álcool e de drogas
se o adolescente era ou não sexualmente ativo. foi classificado em uma vez na vida, no último
O instrumento utilizado foi uma entrevista se- mês ou seis vezes ou mais no último mês.
mi-estruturada que obedecia a um roteiro pre- Na segunda parte da entrevista perg u n t a-
viamente estabelecido e testado por um estudo mos detalhadamente sobre a família: com quem
piloto com vinte adolescentes, não incluídos m o ra va, opinião sobre o pai, a mãe, seu re l a-
na amostra do estudo. Todos os entre v i s t a d o- cionamento com cada um dos genitores e en-
res receberam treinamento por um único pes- t re eles. Estas perguntas eram abertas e o en-
quisador antes de ir ao campo e semanalmente trevistador cuidadoso no sentido de não suges-
eram feitas reuniões da equipe de pesquisa on- tionar as re s p o s t a s, como, por exemplo, per-
de os dados eram checados. A validade das in- guntar se o pai era bom.
f o rmações foi assegurada de várias maneira s. Na terc e i ra parte investigou-se o históri c o
Quando havia dúvida quanto à sua veracidade, pubertário e sexual do adolescente, a época da
o participante era excluído da amostra. Além menarca/semenarca e da primeira relação se-
disso, cerca de 5% das entrevistas foram repeti- xual. A respeito do pri m e i ro coito, com quem
das por outro entrevistador que obteve as mes- ocorreu, se com namorado/a, amigo/a ou pro-
mas re s p o s t a s. Cada pesquisador entre v i s t o u fissional do sexo; se a relação sexual aconteceu
uma proporção semelhante de homens, mu- de forma espontânea (com consentimento do en-
l h e res e port a d o res ou não de DST. Estes pro- trevistado), por pressão (quando o entrevistado
cedimentos foram efetuados no sentido de ga- foi coagido/a) ou forçada (à revelia do entrevista-
rantir uma homogeneidade interna. do). Em seguida, indagamos quanto à ocorrência
As entrevistas eram realizadas a sós com o de homossexualismo, prostituição, abuso sexual
a d o l e s c e n t e, após consentimento inform a d o. e gravidez. As últimas perguntas foram sobre o
Elas foram sendo realizadas sucessiva m e n t e número de parceiros sexuais; uso de preservati-
até completar-se cem casos de DST, o que ocor- vos, se nunca, às vezes, quase sempre ou sempre.
reu doze meses após seu início. Critérios para Na análise estatística das respostas às per-
inclusão e razões para escolha desta amostra- guntas estruturadas utilizamos o teste Qui-qua-
drado com nível de significância de 95% 32. As do sexo masculino e 71,9% do feminino. Den-
respostas às perguntas abertas foram lidas e re- t re estes, a idade média da semenarca foi 13
lidas exaustivamente e a partir disso fora m anos e da menarca 12 anos. A primeira relação
construídas categorias, depois quantificadas e sexual ocorreu em média aos 14,6 anos e aos 15
analisadas estatisticamente. e n t re os ra p a zes e moças, re s p e c t i va m e n t e. O
O projeto de pesquisa foi previamente ava- tempo médio decorrido entre a menarc a / s e-
liado e autorizado pelo Comitê de Ética em Pes- menarca e o primeiro coito foi de 1,6 anos en-
quisa do Hospital Universitário Pedro Ernesto t re os ra p a zes e 2,9 anos entre as moças. Ma i s
e cumpre os princípios éticos contidos na De- da metade dos adolescentes praticou o primei-
claração de Helsinki. O termo de consentimen- ro coito até um ano após a semenarca e em
to livre e esclarecido foi assinado antes da en- menos de um quarto das adolescentes ocorreu
trevista. o mesmo em relação à menarca, diferença es-
tatisticamente significativa. O primeiro inter-
curso sexual aconteceu com namorado/a para
Resultados 33,3% dos adolescentes e 90,7% das adolescen-
t e s. Por outro lado, 55,5% dos ra p a zes inicia-
Todas as entrevistas foram realizadas em am- ram o sexo com amigas e apenas 9,3% das mo-
biente com privacidade. O tempo médio de du- ças fize ram o mesmo. Nenhuma adolescente
ração de cada uma foi de 25 minutos. No total t e ve o pri m e i ro intercurso com pro f i s s i o n a i s
f o ram entrevistados 356 adolescentes. En t re do sexo e 11,7% dos rapazes relataram esta prá-
estes 109 eram sexualmente ativos portadores tica. O sexo ocorreu de forma espontânea para
de DST, 115 sexualmente ativos porém sem a maioria. O histórico de gra v i d ez e de abuso
DST e 132 ainda não tinham iniciado atividade sexual foi significativamente mais fre q ü e n t e
sexual. Adolescentes do sexo masculino com- e n t re as moças. Nos relatos de abuso sexual,
punham 29,5% da amostra e do sexo feminino, exceto um, o perpetrador era do sexo masculi-
70,5%. O predomínio de moças ocorreu devido n o. A prostituição foi maior entre os homens,
ao grande volume de atendimento do ambula- assim como as relações homossexuais. O nú-
tório de ginecologia. O percentual de homens e m e ro de parc e i ros foi maior do que dois para
mulheres em cada grupo foi semelhante. Estes 71,4% dos homens e 28,6% das mulheres, rela-
dados podem ser visualizados na Tabela 1. ção estatisticamente significativa. O uso de pre-
A idade média do grupo masculino foi de servativo nas relações sexuais foi significativa-
16,5 anos e do feminino 16,4. Todos os adoles- mente menos freqüente entre as moças.
centes pertenciam às camadas sociais de baixo Os diagnósticos mais comuns nos homens
poder aquisitivo. Os dados referentes à idade, foram as uretrites e nas mulheres as vulvovagini-
situação sócio-econômica, escolari d a d e, tra- tes. As uretrites foram confirmadas por exames
balho e atividade física se encontram na Tabela laboratoriais. Nas vulvovaginites o diagnóstico
2. Foram significativas as associações entre os foi predominantemente clínico. Não foi possível
homens e as va ri á veis: atraso escolar maior a coleta de secreção vaginal em todos os casos. O
que dois anos e atividade física regular. diagnóstico da sífilis foi feito pelo quadro/histó-
Na Tabela 3 estão descritos os dados referen- ria clínica e exame VDRL. Nos casos de HPV e de
tes ao uso de tabaco, álcool e drogas. Em rela- herpes genital o diagnóstico foi clínico. Houve
ção ao consumo de bebidas alcoólicas, a maio- quatro casos de HIV+ por transmissão sexual,
ria dos adolescentes já tinha feito uso pelo me- com diagnóstico sorológico realizado obedecen-
nos uma vez na vida. En t re os que usavam ou do-se ao fluxograma preconizado pelo MS 30,
já tinham feito uso de drogas pelo menos uma num adolescente masculino e em três femini-
vez na vida, observou-se um percentual signifi- nos. Verificamos um caso de hepatite B com IgM
cativamente maior de homens. p o s i t i va (Anti-HbcIgM) em um paciente com
Em relação à família, cerca de metade dos gonorréia, sem histórico de uso de injeções ou
adolescentes vivia com ambos os pais e 28,9% transfusões sangüíneas. Houve três casos de es-
com apenas um dos genitores, sendo na maio- cabiose em que o diagnóstico foi feito por meio
ria deles a mãe (8,7% pai e 91,3% mãe). Houve dos sintomas clínicos e teste terapêutico, após
um predomínio de depoimentos positivos a terem sido afastados outros diagnósticos utili-
respeito das mães. Segundo a opinião dos en- zando-se exames laboratoriais. Em alguns casos
trevistados, 45,5% de seus pais e 73,9% de suas houve concomitância de mais de uma DST. Na
mães tinham qualidades. Tabela 5 optou-se por descrever somente a dis-
Na Tabela 4 estão descritos os dados re f e- tribuição dos diagnósticos principais de DST.
rentes à sexualidade. Do total dos entre v i s t a-
dos, 224 eram sexualmente ativos, sendo 28,1%
Tabela 1
Tabela 2
n (105) % n (251) %
Histórico escolar
estão na escola 87 82,8 212 84,5 0,05 0,82
atraso escolar > 2 anos 43 40,9 72 28,7 4,55 0,03
Tabela 3
Distribuição dos participantes segundo sexo e o uso de bebidas alcoólicas, tabaco e outras drogas.
Uso de tabaco
Sim 12 11,4 32 12,7 0,03 0,86
Não 93 88,6 219 87,3
Tabela 4
Características do 1 o coito
Idade média (em anos) 14,6 15
Tempo médio entre a menarca/ 1,6 2,9
semenarca e o 1 o coito (em anos)
Menos de 1 ano após 35 55,5 39 24,2 18,70 0,00
a menarc a / s e m e n a rc a
Uso de preservativo
Nunca ou às vezes 29 46,0 112 64,5
Quase sempre ou sempre 34 54,0 49 35,5 9,77 0,00
Resumo
As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são fre- ras e iniciam a atividade sexual mais cedo. As moças,
qüentes na adolescência e podem contribuir no au- por sua ve z , usam menos pre s e rva t i vo e são vítimas
mento do número de casos de AIDS. A iniciação se- mais freqüentes de abuso sex u a l . Estes dados confir-
xual pre c o c e , a multiplicidade de parc e i ros e o não mam um modelo sustentado em valores tradicionais
uso de pre s e rva t i vo nas relações sexuais têm sido de gênero que demarcam as esferas masculina e femi-
apontados como fatores de risco, e são influenciados nina supondo uma supremacia da primeira .C o n c l u i -
por um sistema de gênero que se pauta na dominação se que para se ter um controle mais efetivo das DST é
m a s c u l i n a . Pa ra identificar possíveis fatores de risco necessário ampliar-se o debate em torno dos modelos
às DST na adolescência, foi feito um estudo com 356 de masculinidade e feminilidade culturalmente cons-
adolescentes atendidos no Núcleo de Estudos da Saú- truídos.
de do Adolescente da Un i versidade do Estado do Rio
de Janeiro, por meio de entrevistas semi-estruturadas. Sex u a l i d a d e ; Ad o l e s c ê n c i a ; Doenças Sex u a l m e n t e
Os principais resultados na população estudada mos- Transmissíveis;Gênero
t ra ram que os ra p a zes têm maior número de parc e i-
Colaboradores Agradecimentos
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