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HILDA HILST: A IMAGEM DO AMOR NA LÍRICA CONTEMPORÂNEA1

KARYNE PIMENTA DE MOURA2 , Profª. Drª. ENIVALDA NUNES FREITAS E


SOUZA3

RESUMO:

O presente artigo aborda aspectos da vida, obra e criação poética da


escritora brasileira Hilda Hilst (1930-2004), no prospecto da temática do
erotismo segundo a visão da mulher contemporânea. A pesquisa se orienta
pela explanação do erotismo como uma busca psicológica, sua importância
para a humanidade e sua relação com a poética hilstiana. Além disso, esse
trabalho se remete a textos teóricos acerca do gênero, da linguagem e da
importância da imagem para o texto lírico, no intuito de corroborar com a
análise dos dois poemas de cunho amoroso-erótico da autora, previamente
selecionados.

PALAVRAS-CHAVE: 1) Hilda Hilst; 2) Literatura Brasileira; 3) Gênero Lírico; 4)


Erotismo; 5) Mulher

ABSTRACT: HILDA HILST: THE IMAGE OF LOVE IN CONTEMPORARY LYRIC

This work approaches aspects of life, work and poetical creation of the
Brazilian writer Hilda Hilst (1930-2004). The theme focused is eroticism
having in mind the contemporary woman point of view. We will be
explaining this eroticism as a psychological phenomenon, its importance
for mankind and its relation to hilstian poetry. Moreover, this article
points out some theoretical background knowledge about genre, language
and importance of image in the lyric text, aiming at corroborating with
the analysis of two Hilda Hilst’s lover-erotic poems.

1 Artigo de conclusão de pesquisa de Iniciação Científica pela Universidade Federal de Uberlândia e


pelo Instituto de Letras e Lingüística, com o financiamento da Fundação do Amparo à Pesquisa de
Minas Gerais (FAPEMIG).
2 Bolsista. Unidade Acadêmica: Instituto de Letras e Lingüística/UFU. E-mail:
karynepdm@yahoo.com.br
3 Professora Orientadora. Unidade Acadêmica: Instituto de Letras e Lingüística/UFU. E-mail:

eni@ufu.br

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WORDS KEY: 1) Hilda Hilst; 2) Brazilian Literature; 3) Lyric genre; 4) Eroticism; 5)


Woman
erotismo em acordo com a visão da
INTRODUÇÃO: mulher contemporânea que se vê, no
chamamento erótico, princípio,
Hilda Hilst é considerada pela expansão e duração do homem no
crítica como um dos principais nomes tempo.
da literatura brasileira contemporânea, A escritora se mostrou polêmica
uma vez que sua criação se estende desde a juventude: escandalizou a alta
pelos três gêneros literários existentes, sociedade paulistana da segunda
o que lhe confere o cunho de poeta, metade do século vinte com um
dramaturga e ficcionista. Além disso, comportamento dito avançado para a
Hilst caracterizou sua obra com a época. Boêmia, romântica e cortejada
marca da erudição, recorrendo a por ter uma beleza estonteante,
premissas filosóficas, religiosas e mostra-se defensora da liberdade
míticas, o que revela a densidade de feminina quando manifesta suas
sua obra na língua portuguesa. Por paixões e anseios através da literatura.
outro lado, ela retoma em sua lírica Publica seu primeiro livro de poesias,
questões atuais e desconsertantes que Presságio, com apenas vinte anos.
se remetem aos mais profundos e Contudo, ainda nos dias de hoje, a
recorrentes assuntos que envolvem o escritora é pouco conhecida entre o
pensamento do homem público em geral. Isso se deve à má
contemporâneo. Esses aspectos circulação de seus textos pois, antes da
justificam o fato das inúmeras obras de publicação de sua obra completa pela
Hilda terem sido traduzidas para os Editora Globo, eles eram publicados
idiomas francês, inglês, italiano e em exíguas tiragens de editoras
alemão, bem como os importantes pequenas. Mas o interesse pela análise
prêmios concedidos pelo seu fantástico da literatura hilstiana tem se
talento literário. intensificado nos dias atuais, o que é
Hilst é, dessa maneira, uma comprovado por teses, cursos, estudos
escritora de notória importância para a universitários, documentários e textos
história de nossa literatura. É uma críticos. Outro fator que contribui para
poeta perspicaz que exprime o esse empenho é o fato de seu legado

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literário ter começado a ser relançado De um total de quarenta obras


desde 2001 pela Editora Globo. reconhecidas pela crítica, as que mais
Estima-se que seu trabalho esteja se destacam pelo enlevo polêmico são
reeditado até 2006, quando suas peças as pertencentes à sua tetralogia erótica,
teatrais serão publicadas pela editora. composta pelas ficções: O Caderno
Isso se deu com a organização das Rosa de Lori Lamby (1990), Contos de
Obras Reunidas de Hilda Hilst, por escárnio: Textos grotescos (1992),
Alcir Pécora, crítico e professor de Cartas de um sedutor (1991) e pela
literatura da Unicamp. obra poética satírica Bufólicas (1992).
Acreditamos que a publicação de O que a levou a transladar por essa
suas obras pela Editora Globo forma curiosa de criação, que de fato
aproximará a autora dos leitores, surpreendeu a todos, foi o desejo pelo
contudo reconhecemos as limitações lucro e pela receptividade de um
da massa brasileira perante a aquisição público-leitor consumista e interessado
de obras literárias, especialmente as de em pornografia. Conforme afirma
escritores contemporâneos pouco Grando (2003),
conhecidos, tais como Hilda Hilst. Isso
se deve ao alto custo de tais obras para Com a publicação da
Literatura Obscena, Hilda
a renda dessa camada da população e à passou a ser mais lida, mas
falta de incentivo do ensino brasileiro não atingiu o público leitor da
forma como ela desejava. Só
em despertar nos alunos a importância mais tarde, com a reedição da
obra de Hilda pela Editora
de se manter contato enfático com o Globo, a escritora sente-se
texto literário e à ausência de tempo satisfeita com a quantidade de
leitores de seus livros.
que tais cidadãos enfrentam no que se
refere à leitura de livros diferentes Dessa forma, a autora enfrenta um
daqueles exigidos no ensino impasse: quando elabora uma obra
fundamental, médio, superior e em estimada pela crítica, não atinge os
vestibulares. leitores que a vêem como hermética.
Tais fatores distanciam a autora do Entretanto, quando produz textos mais
grande público leitor, já que é preciso próximos do público comum, é
ter um mínimo de erudição e veementemente criticada por grande
sensibilidade poética para perceber a parte da crítica. Apesar dessa fase
singularidade da linguagem da autora. erótica totalizar menos de dez por
cento de sua bibliografia, uma crítica

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equivocada e escandalizada dá à religiosidade, a vida, o tempo, o amor e


escritora o cunho de escritora o erotismo. Nesse trabalho,
essencialmente pornográfica, sendo desenvolvemos a temática do erotismo
que, pelo contrário, trata-se de uma como instrumento da união amorosa
escritora com destaque em todos os no texto lírico da autora, expresso aí de
gêneros literários e capaz de tratar a modo velado e imagético. Tomaremos
existência humana em obras que por base a obra Cantares (2002) e
refletem seu talento singular – ainda alguns trechos de Júbilo, Memória,
que tidas como herméticas. Noviciado da Paixão (2001).
As imagens presentes nesses livros, A lírica hilstiana de cunho
segundo Blumberg (2003, p. 50), “de amoroso/erótico é manifestada por um
tão obscenas, chegam a ser hilárias, eu feminino que se põe em busca de
metaforizam de maneira humorística o sua completude e continuidade através
absurdo existencial e social”, revelando do chamamento erótico. Sendo assim,
em Hilst uma estratégia refinada de o eu se descobre como elemento
chamar os leitores a si através do fundamental dessa busca.
aspecto sexual. Pécora (2002, p. 8) Abordaremos o erotismo como
comenta que Hilda recolhe aí uma busca psicológica que eleva o
(...) gemas da matéria baixa, homem a uma continuidade perdida.
como antes já fizeram em
Língua Portuguesa, autores Por sua vez, a poesia é também um
excelentes como Gregório de caminho para esse estado de
Matos, Tomás Pinto Brandão,
Bocage, Nicolau Torentino, completude e continuidade, conforme
Bernardo Guimarães etc.
comprovaremos na poética hilstiana. A

Contudo, vale ressaltar que sua literatura se mostra, nesse sentido,

obra pornográfica focaliza o mercado como um instrumento para esse

editorial, a relação entre autor e despertar.

editores, o contexto histórico-social e Hilda Hilst nasce em Jaú/SP, em

“a pornografia como um produto de abril de 1930, única filha de Bedecilda

consumo manipulado pela indústria Vaz Cardoso e do fazendeiro, poeta e

cultural”, segundo pontua Azevedo escritor Apolônio de Almeida Prado

Filho (1996, p. 6). Hilst. Seus pais se separam logo após

Vemos na obra hilstiana a presença seu nascimento e a escritora passa a

recorrente das questões que mais viver com a mãe em Santos. O pai,

inquietam a humanidade: a morte, a

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sofrendo de esquizofrenia, é internado desperta paixões em empresários,


num sanatório em Campinas. poetas e artistas em geral, namorando
A escritora é aluna interna no Vinícius de Moraes e Dean Martin
Colégio Santa Marcelina, em São Paulo (ator americano). Encanta os poetas
e depois ingressa no Curso Clássico da Manuel Bandeira e Carlos Drummond
Escola Mackenzie. Sua educação de Andrade, quem lhe dedica um belo
religiosa a orienta para uma obra poema. Viaja para a América e Europa.
mítica. Em 1946, visita o pai pela Passa a ser amiga de várias
primeira vez em sua fazenda em Jaú e personalidades do gênero artístico:
é confundida com a mãe. Lygia Fagundes Telles, Clarice
De 1948 a 1952 cursa Direito na Lispector, Nelida Piñon, Jô Soares,
Faculdade do Largo São Francisco / Fernanda Montenegro, José Wilker e
USP, iniciando assim uma fase de outros.
intenso convívio social, o que a leva a Em 1950, lança sua primeira obra,
uma vida boêmia, pois a mesma se Presságio, volume de poemas,
comporta de modo muito avançado, o estreando no cenário literário
que escandaliza a alta sociedade contemporâneo brasileiro. Seus
paulistana. Nesse tempo, segundo poemas inspiram os compositores
pontua Blumberg (2003, p. 46), a Adoniran Barbosa e Gilberto Mendes.
escritora: Além da beleza, Hilda Hilst tinha
como características a inteligência e a
(...) se manifesta em público a erudição. Era leitora de clássicos
favor da liberdade feminina,
tanto no âmbito profissional e filosóficos: Nietzsche, Schopenhauer,
artístico, como no âmbito Husserl, Wittgenstein, Kierkegaard,
amoroso e erótico. Opta
conscientemente contra uma Heidegger, Hegel; literários: Joyce,
vida de mãe e dona de casa
quando este ainda era o único Vintila Horia, Kazantizakis, Kafka,
papel aceitável para uma Virgínia Woolf, Drummond, Poe,
moça de boa família.
Catulo, Beckett, Marcial; e
É considerada, durante esse psicanalíticos: Freud, Bataille, Jung e
período, uma das mais belas e sensuais outros. Seus conhecimentos se
mulheres de sua geração, sendo estendiam até mesmo à física: J.
comparada a divas do cinema Oppenheimer e Mário Schemberg. Sua
americano, tais como Ingrid Bergman erudição perpassava também pela
e Rita Hayworth. Devido a isso,

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música clássica, pois apreciava Mahler, psicopombos, ou seja, condutores das


Mozart e Beethoven. almas após a morte, segundo o
Essas leituras são presenças pensamento grego - e à realização de
fecundantes em sua força criadora, estudos sobre a imortalidade da alma.
pois muitos de seus textos dialogam Em 1968, sua mãe é internada em
com tais obras. um sanatório e Hilda se casa com
Sua vida é radicalmente mudada Dante Casarini. Não tem filhos, pois
após a leitura de Carta a El Greco, de teme que venham a ser vítimas de
Kazantizakis, obra que defende a esquizofrenia. Em 1982, passa a
necessidade do isolamento para tornar participar do Programa do Artista
possível o conhecimento do ser Residente pela Unicamp. Três anos
humano. O teor dessa obra a leva à mais tarde, divorcia-se de Dante
abdicação da vida de intenso convívio Casarini. Entre 1990 e 1992, produz
social para se dedicar integralmente à sua tetralogia erótica. Nesse ano atua
literatura, fato ocorrido em 1966, ano como cronista no jornal Correio
de falecimento de seu pai. Se afasta da Popular de Campinas. Já em 1995, seu
cidade porque sabia que tinha um arquivo pessoal (textos críticos e
trabalho a fazer e sua vida em São comentários a respeito de Hilst,
Paulo era muito divertida. Sendo anotações em cadernos, cartas de
assim, se muda para a fazenda de sua amigos, fotos e demais informações) é
mãe (situada a 11 quilômetros de comprado pelo Centro de
Campinas), onde constrói a Casa do Documentação Alexandre Eulálio, na
Sol, espaço parecido com um convento Unicamp. Em 2001, a Editora Globo
espanhol. Contudo, Hilda não se afasta passa a publicar suas obras completas.
nem do mundo nem das pessoas, pois Em 4 de fevereiro de 2004, a escritora
era freqüentemente visitada por morre em Campinas, aos 73 anos,
amigos, artistas e intelectuais das mais devido a problemas cardíacos e
diversas áreas. Na Casa do Sol se respiratórios, deixando uma obra
dedica exclusivamente à criação instigante, porém pouco conhecida. No
literária, ao contato com leitura final de sua vida, ainda admite sonhar
intensiva (lê aproximadamente oito com o prêmio Nobel, se mostra
horas por dia, em português, espanhol, otimista em relação ao futuro da
inglês ou francês), à criação de vários humanidade e não mais se preocupa
cães - considerados pela mesma

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com a obscuridade de sua obra em (1985, p. 14): “um texto como o meu
relação ao público. que tenta fazer um esboço mais nítido
O legado literário hilstiano soma do ser humano pode realmente
um total de quarenta obras, produzidas provocar pânico nas pessoas.”
de 1950 a 1995. A autora revive os Além disso, notamos que o
textos clássicos da tradição literária, exercício da escritura, em Hilda Hilst,
permeia a criação de estruturas
dialogando com várias formas complexas e densas a partir de
fixas de poemas – ode, trova,
soneto, balada, elegia, estruturas paralelas simples. Ou seja,
cantares e fábulas – às vezes “as palavras simples vão abrindo
aceitando-as, normalmente
inovando-as, espaço para o uso de palavras raras e
estrangeiras e para a diversidade de
segundo diz Grando (2004, p. 6). Sua
vocábulos.” Grando (2003, p. 41). E
produção é caracterizada pelo
essa conquista é o mais importante
amadurecimento e pelo progresso
legado de Hilst para a língua
criativo paulatino, tão significativos em
portuguesa: a renovação de nossa
sua trajetória literária. Conforme
linguagem pelo fluir de uma escritura
vemos em Coelho (2002, p. 265 ),
que registra um intenso trabalho de
aprimoramento nesse aspecto. E mais,
De título para título vai-se
aprofundando na poética a autora renova também a estrutura
hilstiana a função mediadora
(ou demiúrgica) da poesia, lírica convencional quando cria os
religando o homem chamados “paralelismos aprimorados”,
prisioneiro da civilização
tecnicista aos impulsos conforme explica Grando (2003, p. 41-
primitivos/naturais do ser, e
despertando nele a 42): “a escritora deixa de seguir tão à
consciência terrestre. risca a estrutura do verso que serve de
paradigma para a criação de outros
Essa trajetória é a busca da
versos.” Com esse recurso a poeta
revelação de nosso verdadeiro rosto a
“evita a simplicidade rítmica.”
partir do desmascarar de nossos
A obra hilstiana é dividida em oito
ícones, parafraseando Fuentes (1998,
fases por Cristiane Grando, especialista
p. 4). Portanto, a autora revela a
em sua obra: Primeira fase: Poesia –
verdadeira essência do homem, o que
Primeiros versos (1950-1955); Segunda
contribui no seu afastamento do
fase: Poesia – Exercícios (1959-1967);
público leitor, aspecto que ela mesma
Terceira fase: Dramaturgia (1967-
confirma em entrevista a Vasconcelos

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1969); Quarta fase: Prosa poética São Paulo; Poemas malditos, gozosos e
(1970-1973); Quinta fase: Poesia – Da devotos (1984); Sobre a tua grande
intensidade e Prosa poética (1974- face (1986) – obra traduzida para o
1984); Sexta fase: Poesia – Da Francês; Amavisse (1989); Alcoólicas
intensidade plena e Prosa poética (1990); Bufólicas (1992); Do desejo
(1986-1990); Sétima fase: A literatura (1992); Cantares do sem nome e de
obscena: trilogia em prosa e uma obra partidas (1995); Do amor (1999).
a mais em versos (1990-1992); Oitava Na Prosa: Fluxo-Floema (1970);
fase: Poesia – Da intensidade plena Qadós (1973); Ficções (1977) - Prêmio
(continuação da sexta fase), Crônica e APCA de melhor livro do ano pela
Prosa poética (1992-1997). Associação Paulista dos Críticos de
A seguir, arrolamos as obras Arte e Grande Prêmio da Crítica para o
publicadas por Hilda Hilst, bem como Conjunto da Obra; Tu não te moves de
as respectivas premiações, traduções e ti (1980); A obscena senhora D (1982)
datas da primeira publicação: – obra traduzida para o Francês; Com
Na Poesia4: Presságio (1950); os meus olhos de cão e outras novelas
Balada de Alzira (1951); Balada do (1986); O caderno rosa de Lori Lamby
festival (1955); Roteiro do silêncio (1990) – obra traduzida para o
(1959); Trovas de muito amor para Italiano; Contos d’escárnio: Textos
um amado senhor (1960); Ode grotescos (1990) – obra traduzida para
fragmentária (1961); Sete cantos do o Francês; Cartas de um sedutor
poeta para o anjo (1962) - Prêmio (1991) – obra traduzida para o Alemão;
PEN Clube de São Paulo; Poesia Rútilo nada (1993) - Prêmio Jabuti /
(1959/1967); Júbilo, Memória, Câmara Brasileira do Livro – obra
Noviciado da Paixão (1974); Poesia traduzida para o Alemão, Espanhol e
(1959/1979); Da morte. Odes mínimas Inglês; Estar sendo. Ter sido (2000);
(1980) – obra traduzida para o Alemão Cascos e carícias: crônicas reunidas
e Francês; Cantares de perda e (1992/1995) (2000).
predileção (1983) - Prêmio Jabuti / No Teatro (1967-1969)5: A
Câmara Brasileira do Livro e Prêmio possessa; O rato no muro; O visitante;
Cassiano Ricardo / Clube de Poesia de

4 A poesia de Hilda Hilst é dividida por Grando intensidade” (1974-1984); “Da intensidade
(2003) em quatro fases: “Primeiros versos” plena” (1986-1995).
5 Segundo Grando (2003), essas peças teatrais
(1950-1955); “Exercícios” (1959-1967); “Da
refletem um alerta à sociedade brasileira
perante os desmandos do período de ditadura

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Auto da barca de camiri; O novo suas experiências vividas. Para o autor,


sistema; Aves da noite; O verdugo - a poesia é inerente à condição humana.
Prêmio Anchieta, um dos mais Assim como Borges, Paz (1976, p.
importantes do país na época; A morte 57) afirma que o poema se coloca
de patriarca. inacabado e depende da visão
Pontuaremos, a seguir, questões particular de cada leitor: “O poema é
pertinentes ao gênero e linguagem do uma obra sempre inacabada, sempre
texto lírico, as quais corroborarão para disposta a ser completada e vivida por
a análise de dois poemas hilstianos de um leitor novo.” Paz também acredita
valor amoroso-erótico. no fato de a poesia ser pertencente à
De todos os gêneros literários pelos existência humana:
quais percorrem o imaginário humano,
Não há povos sem poesia,
o Lírico é o mais expressivo e subjetivo. mas existem os que não têm
Rosenfeld (1986, p. 17) assim define o prosa. (...) A poesia ignora o
progresso ou a evolução e
gênero Lírico, distinguindo-o do Épico suas origens e seu fim se
confundem com os da
e do Dramático: linguagem. (PAZ, 1976, p.
12).

Pertencerá à Lírica todo


poema de extensão menor, na Assim, o poema trata a condição
medida em que nele não se
última do homem e é um testemunho
cristalizarem personagens
nítidos e em que, ao contrário, histórico, de expressão social. Além
uma voz central – quase
sempre um ‘Eu’ – nele disso, o crítico literário discorre sobre
exprimir seu próprio estado o caráter indizível do poema:
de alma.

Borges o define da seguinte Um poema puro seria aquele


em que as palavras
maneira: “Poesia é a expressão do belo abandonassem seus
por meio de palavras habilmente significados particulares e
suas referências a isto ou
entretecidas.” Borges (2002, p. 26). Ele aquilo, para significar
somente o ato de poetizar.
vê a poesia como manifestação da arte, (PAZ, 1976, p. 51).
é um caminho que nos leva ao prazer e
ao sonho. Além disso, cada leitor Já Pignatari (2005, p. 10) acredita
dialoga com a mesma, lhe conferindo que a poesia cria e recria a linguagem.
um determinado sentido pautado por Assim, ele afirma que “o poeta não
trabalha com o signo, o poeta trabalha
militar no país. É, portanto, uma denúncia a
esse momento político. o signo verbal”. Concordamos com o

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ensaísta, uma vez que a poesia tem a


particularidade de propor uma Sua obscuridade [da lírica
moderna] o fascina [o leitor],
inovação lingüística, já que por ela na mesma medida em que o
transitam, além de outros elementos, desconcerta. A magia de sua
palavra e seu sentido de
neologismos, arcaísmos, recursos mistério agem
profundamente, embora a
sonoros, comparativos e estruturais. compreensão permaneça
Por exemplo, Hilda Hilst, em seu desorientada. “A poesia pode
comunicar-se, ainda antes de
processo de criação poética, retoma um ser compreendida”, observou
T. S. Elliot em seus ensaios.
vocabulário raro, termos estrangeiros e
Esta junção de
neologismos: “Nos outeiros do espaço incompreensibilidade e de
fascinação pode ser chamada
/ O rugido da vida.” (HILST, 2002, p. de dissonância, pois gera uma
49) “Impermissivo // Esse que era / tensão que tende mais à
inquietude que à serenidade.
O cantar da morta.” (HILST, 2001, p. A tensão dissonante é um
objetivo das artes modernas
86). Essa desestruturação da em geral.
linguagem na obra da autora retrata o
seu desejo em reformular o Acreditamos que é essa dissonância

comportamento da sociedade. Além do que exerce em nós o fascínio frente à

mais, é um recurso que reflete sua lírica contemporânea, primada pela

época, conforme ela pontua em imagem. Bosi (2001, p. 31) comenta

entrevista a Vasconcelos (1985, p. 15). que a imagem, para Baudelaire,


seria a criação de uma
Nessa desordem, a autora visa
percepção especial da
“traduzir as perguntas que se faz todo o realidade, em que o visível de
certa forma se interioriza e o
tempo.” (VASCONCELOS, 1977, p. 21). subjetivo se concretiza. (...) faz
Ora, essa desestruturação é a mais fiel parte do aspecto simbolizante
da poesia, que, como já
manifestação da inovação da dissera Hegel, é o luzir ou
transparecer sensível da idéia.
linguagem proposta por Hilda Hilst
para a língua portuguesa. Vemos a imagem como o cerne do
A criação poética hilstiana é tida poema. Tem a capacidade de unir
como obscura pelo público leitor em elementos que parecem distantes uns
geral, logo não consegue adquirir o dos outros e de violar as leis do
retorno do mesmo. Segundo esse pensamento: “(...) toda imagem
aspecto, o filólogo Friedrich (1978, p. aproxima ou conjuga realidades
15) comenta sobre a linguagem difícil opostas, indiferentes ou distanciadas
da lírica contemporânea: entre si.” (PAZ, 1976, p. 38). Mas essa

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dialética visa salvar os princípios “Cavalo, búfalo, cavalinha / Te


lógicos da contradição. Paz define a amo, amiga, morte minha” (HILST,
imagem poética: 2002, p. 42). “Uns barcos bordados /
No último vestido / (...) Porque
Ora, a imagem é uma frase em guardei palavras numa grande arca” –
que a pluralidade de
significados não desaparece. A (HILST, 2002, p. 67) – Trechos dos
imagem recolhe e exalta todos poemas X, XVI e XXXIX de Odes
os valores das palavras, sem
excluir os significados mínimas. “Hei de querer-vos / Tão
primários e secundários.
(PAZ, 1976, p. 45). clara / Com tais enlevos / Que se um
dia / Vos lembrardes / De mim // Há
Assim, a poesia tem a de ser nos trevos.” (HILST, 2002, p.
particularidade de revelar imagens que 177 e 178). “Um bater de asa / Um só
dizem o que a linguagem é incapaz de caminho / Da minha à vossa / Casa...”
dizer. O sentido da imagem é ela (HILST, 2002, p. 179) – Trechos dos
mesma, já que ela se explica e resgata a poemas III e IV de Trovas de muito
riqueza original da pluralidade dos amor para um amado Senhor. “A
significados – a volta das palavras a idéia, Túlio, foi se fazendo / Em mim.
sua primeira natureza. Não explica, Era alta a lua, e aberta / A porta
recria. Dessa maneira, a poesia recria a escura da minha casa vazia.”
realidade, enquanto que a linguagem (HILST, 2001, p. 51) “Dentro do
representa tal realidade por meio de círculo / Faço-me extensa.” (HILST,
imagens: 2001, p. 92). “Acorda a tua palavra. /
“E batalhamos. / Dois tigres / Usa o chicote / Antes que eu me faça
Colados de um só deleite” (HILST, escura.” (HILST, 2001, p. 93) –
2002, p. 46). “Barcas / Carregando a Trechos dos poemas I de Moderato
vida / Descendo as águas.” (HILST, cantabile, XII e XIII de Árias
2002, p. 65). “De sol e lua / De fogo e pequenas. Para bandolim.
ventre / Te enlaço.” (HILST, 2002, p.
101). – Trechos dos poemas XIII, XXXI MATERIAL E MÉTODOS:
e LXIV de Cantares de perda e
predileção. “De sandálias de palha / Como procedimento utilizado no
Pães pretos e esteira // Um dia para decorrer de nossa pesquisa,
recebê-la / (...) A palavra de ouro, de ressaltamos nossas consultas
cereja.” (HILST, 2002, p. 38). bibliográficas no intuito de corroborar

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com a compreensão da lírica da Sade (1999) e de Moraes: O corpo


escritora estudada, com sua concepção impossível (2002). Tais obras foram
da temática do amor/erótico, assim fundamentais na compreensão e
como o gênero e a linguagem do texto discussão desse tema na poética da
lírico. autora pesquisada, assim como nos
Percorremos textos poéticos de fizeram ter um contato científico com
Hilda Hilst, presentes em Cantares essa questão tão desconcertante para o
(2002) – obra central de nosso estudo pensamento do homem
e que contém os dois poemas contemporâneo.
analisados; Júbilo, Memória, Visando uma melhor apreensão
Noviciado da Paixão (2001); do que se refere ao gênero e à
Exercícios (2002); Da morte. Odes linguagem do texto lírico, recorremos a
mínimas (2002), todos reeditados pela intensas leituras acerca da teoria
Editora Globo. poética e da análise crítica, tais como a
Incluímos também a leitura de obra de Rosenfeld: Teoria dos gêneros
uma ficção pertencente à tetralogia (1986), de Cândido: Na Sala de Aula
erótica hilstiana, Contos d’escárnio: (1985) e de Bosi: Leitura de poesia
Textos grotescos (2002), obra que nos (1996). Sobre a imagem poética,
auxiliou tanto na compreensão do tom pesquisamos Bosi: O ser e o tempo da
erótico abordado por Hilda como na poesia (1977), Viviana Bosi et alli (org):
crítica da autora perante a sociedade e O poema: leitores e leituras (2001) e a
o mercado editorial brasileiros. Lemos obra de Paz: Signos em Rotação
ainda outra obra pertencente a essa (1976). A respeito da concepção poética
fase, Bufólicas (2002), que contém contemporânea, consultamos
poemas satíricos bem-humorados. Friedrich: Estrutura da lírica
Além disso, para o fluir de nossa moderna (1978); Spitzer: Três poemas
pesquisa, procedemos à leitura de sobre o êxtase (2003) e Borges: Esse
estudos condizentes à temática do ofício do verso (2000). Para melhor
erotismo, que nos esclareceram sobre compreensão de aspectos inerentes à
esse tema tão recorrente no imaginário análise poética, buscamos informações
hilstiano. De Bataille, lemos O em Pignatari: O que é comunicação
erotismo (1968); de Barthes: poética (2005).
Fragmentos de um discurso amoroso Comprovamos o vínculo da
(1990); de Paz: Um mais além erótico: autora com a filosofia a partir de uma

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breve noção do pensamento de Sentimos, ainda, necessidade


Friedrich Nietzsche e de Arthur em termos um contato direto com
Schopenhauer, quando analisamos a outros textos críticos acerca da
posição deste último sobre o amor e a escritora Hilda Hilst. Para tanto,
morte. recorremos à pesquisa de jornais,
Além disso, lemos importantes revistas, ensaios, teses e endereços
estudos acadêmicos a respeito da eletrônicos para melhor nos
autora e sua obra: a Dissertação de informarmos sobre a vida, a obra, as
Mestrado defendida por Deneval curiosidades e os comentários de
Siqueira de Azevedo Filho: Holocausto amigos, especialistas e críticos da obra
das fadas: a trilogia obscena e o de Hilst, o que deu ao nosso trabalho
carmelo bufólico de Hilda Hilst (1996), um tom não apenas científico, mas
que nos forneceu uma noção do também prazeroso, pois, de alguma
itinerário erótico hilstiano em suas três forma, nos sentimos envolvidos pelo
obras ficcionais pornográficas, seu universo literário e pela sua vida
revelando nelas um estilo literário tão intensa.
híbrido e o questionamento da pseudo- Concomitante a isso, lemos e
pornografia nessas obras. Estudamos analisamos atentamente dois poemas
também a Dissertação de Mestrado da extensa obra poética hilstiana,
defendida por Alessandra Souza Vieira: buscando reconhecer a importância
O erotismo em Brejo das almas e das imagens aí presentes em sua
Farewell: vida e morte (2003), a qual abordagem erótica e seus efeitos para o
nos esclareceu a respeito dos vários poema. Para tanto, nos pautamos no
teóricos do erotismo e da correlação conhecimento que obtivemos no
existente entre esse tema e a morte. E decorrer dessas leituras prévias.
lemos, ainda, a Tese de Doutorado O exercício da anotação
defendida por Cristiane Grando: permeou nossos estudos desde os
Obscena Senhora Morte – Odes primórdios de nossa pesquisa, o que
Mínimas dos Processos Criativos de possibilitou a compreensão e a
Hilda Hilst (2003), que nos permitiu o organização mais efetiva dos aspectos
amadurecimento de nossa visão acerca pesquisados.
da constituição lírica de Hilst, bem Além da leitura e reflexão
como sua posição na poética referentes ao numeroso insumo
contemporânea. teórico, realizamos encontros semanais

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com a orientadora Profª Drª Enivalda


Nunes Freitas e Souza, bem como RESULTADOS:
discutimos as questões levantadas pelo
Projeto de Pesquisa proposto pela Tendo em vista os aspectos até
professora, Gênero e Linguagem do então analisados sobre vida e criação
Texto Lírico6, o que foi realizado com o literária de Hilda Hilst, bem como
Grupo de Estudos da Poesia. Aí, lemos estudos acerca do erotismo segundo
e analisamos fragmentos das obras: diferentes visões de especialistas no
Cantares; Da morte. Odes mínimas; assunto, o gênero lírico e as diversas
Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão metáforas referentes ao amor-erótico
e Exercícios e refletimos sobre textos na poeta estudada, acreditamos que a
teóricos pertinentes ao estudo do texto presente pesquisa é necessária para a
lírico. apresentação da obra e do pensamento
Outro importante e necessário de Hilst entre a comunidade
método de pesquisa foi nossa acadêmica.
participação em eventos científicos Isso porque a escritora aborda
ocorridos nessa comunidade os assuntos que questionam a
acadêmica, objetivando apresentar à existência do homem contemporâneo e
mesma a progressão de nossos estudos. sua função nesse ambiente competitivo
Finalmente, procedemos à e marcado pela incompletude. Assim,
produção do presente artigo, Hilda Hilst se faz notável na literatura
elaborado, por sua vez, em duas brasileira do século XX, daí a
versões: a primeira, mais necessidade da mesma ser conhecida
generalizante, a qual incluíra nossas pelos leitores em geral, não só pela
primeiras atribuições a respeito dessa temática do erotismo, como também
pesquisa, muitas delas baseadas em em todo o seu universo criativo. A nova
nossas primeiras participações em geração não só pode como deve
eventos científicos; e a segunda, mais reverter o epíteto lhe atribuído de
específica, com considerações mais obscura e sem penetração pública
amadurecidas e embasadas quando, na verdade, trata-se de uma
teoricamente. autora ousada e inovadora. Não
podemos deixar de compreender o
6 Os principais propósitos desse Projeto de valor de uma escritora da dimensão de
Pesquisa são a investigação e a compreensão
da linguagem e dos elementos específicos do Hilda na literatura universal, posto que
texto lírico.

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a profunda inquietude que assolou seu predileção. (HILST, 2002, p.


44).
pensamento perante a essência do
homem e dos elementos que o Há também a nuança ser
rodeiam, gerou o fluir de suas obras, as humano/morte, conforme apresentado
quais suscitam um retrato de como é o em um dos mais belos poemas da
homem e revelam o “essencial de que autora, o XVII, de Júbilo, Memória,
nos esquecemos” (COLI, 1996). Noviciado da Paixão que conforme
Além disso, acreditamos que pontua Léo Gilson Ribeiro (1981, p. 9),
nossa intenção de difundir a leitura e a trata-se de um poema que busca o
discussão dos poemas hilstianos de cultivo da morte, como se houvesse um
cunho amoroso/erótico entre a pacto do eu com Ela, tentando dilatar
comunidade acadêmica foi realizada seus dias humanos de gozo. Além
com sucesso, o que notamos nos disso, vemos que esse poema aborda,
trabalhos apresentados à comunidade, ainda, a temática da fluidez do tempo,
que se mostrou receptiva e interessada tido aqui como inimigo:
na vida e obra de Hilda Hilst.
Em nossos estudos, notamos Morte, minha irmã: / Que se
dados surpreendentes. Um deles é a faça mais tarde tua visita. /
Agora nunca. Porque o amor
existência de um erotismo retratado de de Túlio / O vermelho da vida,
pela primeira vez / Se anuncia
modo múltiplo por Hilst em suas fecundo. Diante da luz do sol /
poesias, marcado não apenas por um O meu rosto noturno de poeta
te suplica / Que te demores
erotismo homem/mulher: muito contemplando o mundo
/ Que te detenhas ali, entre a
roseira / E o junco, / Ou
Faremos deste modo / Para talvez, para o teu conforto,
que as mãos não cometam / assim, te estendas / À sombra
Os atos derradeiros: // das paineiras, sonolenta. /
Envolveremos as facas e os Morte, contempla. Poupa,
espelhos / Nas lãs dobradas, quem, por amor, / Em tantos
grossas. / E de alongadas versos, também te fez rainha.
nódoas, o ressentimento. // / Esquece o poeta. Porque o
Pintadas as caras num matiz amor de Túlio / O vermelho
de gesso / Recobriremos da vida, pela primeira vez /
corpo, carne / Na tentativa Secreto, se avizinha. – Poema
cálida, multiforme / Na rubra XVII de O poeta inventa
pastosidade // De um toque viagem, retorno, e e sofre de
sem sofrimento. // E afinal / saudade. (HILST, 2001, p.
Cara a cara (espelho e faca) / 47).
De nossas duplas fomes / Não
diremos. – Poema XI de
Cantares de perda e Além disso, notamos o erotismo
entre o ser humano e Deus, visto aqui

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como a representação batailliana do predileção. (HILST, 2002, p.


81).
chamado Erotismo Sagrado, como
sendo a busca do eu pelo amor de Essa pluralidade de concepções
Deus, visto como cruel e indiferente: eróticas comprova a riqueza imagética
e o talento intelectual de Hilda Hilst.
De sacrifício / De Outro aspecto também foi
conhecimento / Da carne
machucada // Os joelhos percebido no decorrer dessa pesquisa.
dobrados / Frente ao Cristo //
Meu canto compassado / De
O tom erótico abordado por Hilst nos
mulher-trovador. // Ai. poemas se difere daquele apresentado
Descuidado / Que palavras
altas / Que montanha de nas obras pertencentes a sua tetralogia.
mágoas / Que águas / De um
Nas ficções eróticas e em Bufólicas, a
venenoso lago / Tu
derramaste / Nos meus autora concebe o erotismo a partir de
ferimentos. // Que simetria,
justeza / Para ferir-me a mim imagens pudentas, tratadas com
/ Como se a cruz quisesse / De humor, objetivando o reconhecimento
mim ser a moradia. // E eu
canto / Porque é esse o dos leitores e uma crítica à obscena
destino / Da minha garganta.
/ E canto // Porque criança condição humana. Em contrapartida,
aprendi / Nas feiras: ave e os poemas amorosos revelam uma
mulher / Cantam melhor na
cegueira. - Poema XXVI de produção criativa única e subjetiva.
Cantares de perda e
predileção. (HILST, 2002, p.
Nessas obras, a autora revela um
59-60). erotismo velado, apresentando
imagens insinuantes e metáforas sutis.
Vemos também o erotismo entre
Isso pode ser demonstrado nos dois
o poeta e a criação poética, aqui tratada
trechos seguintes, os quais revelam de
como elemento erotizado:
modos distintos essa visão erótica. Os
fragmentos são respectivamente
Que no poema ao menos /
Viscosidade e luz / De nós extraídos das obras Júbilo, Memória,
dois, criaturas, recriem seu
Noviciado da Paixão – revelando um
momento. // Que da
desordem / De dois erotismo sutil e imagético – e de
encantamentos / Do visgo, do
vidro / De palavras duras // Contos d’escárnio: Textos grotescos –
Coabitem / O tosco e o onde notamos um erotismo
transparente. // E desconforto
e gosto / Disciplina e paixão / pornográfico:
Discursivo e ciência //
Construam pelo menos no
poema / A vizinhança dessas Antes que o mundo acabe,
aparências. – Poema XLV de Túlio, / Deita-te e prova /
Cantares de perda e Esse milagre do gosto / Que se

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fez na minha boca / Enquanto de limitação, daí a busca erótica como


o mundo grita / Belicoso. E ao
meu lado / Te fazes árabe, me instrumento da completude
faço israelita / E nos cobrimos existencial. Nessa busca, o eu se revela,
de beijos / E de flores // Antes
que o mundo se acabe / Antes muitas vezes, suscetível a auto-torturas
que acabe em nós / Nosso
desejo. – Poema XI de Árias por um amor muitas das vezes
pequenas. Para bandolim. solitário. É um cenário envolto por
(HILST, 2001, p. 91).
imagens que refletem o sofrimento e a
Ia empurrando o tecido da solidão de um eu envolto em um
calcinha para a virilha da
mulher e esticava os pentelhos contexto de tensão e desespero. Ora,
devagar. Depois tirava a isso reflete a realidade da mulher
calcinha e começava a
examinar a boceta. Vejam, ele contemporânea, que, apesar de tanto
dizia, esta é de cona gorda,
peitudinha de boca. Os
esforço por sua liberdade e
homens se inclinavam. independência, se vê carente dos
Alguém dizia: deixa eu dar
uma lambida, Liló? Calma, referenciais amorosos. Nessa carência,
cara, o assunto é comigo
se lança em uma busca amorosa
agora. Algumas ficavam logo
molhadas e aí ele gostava desesperada, tantas vezes
muito, punha o dedo lá dentro
e mostrava: vê, gente, já tá avassaladora, conforme observamos na
empapada. (...) E Liló visão de Hilst um amor tirano
começava o trabalho. De início
dava uma grande lambida e retratado de modo vulcânico, com um
parava. (HILST, 2002, p. 28-
29). erotismo veemente.
Além disso, pontuamos uma das Essa questão é recorrente nos
mais inquietantes conclusões a qual seguintes excertos da obra Cantares:
chegamos. A obra poética hilstiana de
temática amorosa/erótica não revela Me vias / Partida ao meio. / A
cara das emboscadas / Dizias
uma manifestação subjetiva
/ Essa era a cara do meu
meramente feminista, apesar do eu ser desejo. // (...) Sobre o teu vale
eu passava / Em chagas, sem
feminino. A nós não nos parece que parceria. // Passava, sim. /
haja uma nuance emancipatória no eu Mas nua, queimada / Do amor
que tu me tiravas.
hilstiano, ainda que a busca amorosa (Fragmentos do poema V de
Cantares de perda e
exercida por esse eu revele uma predileção) Soberbo /
tentativa de união plena eu-outro. Libertas sobre o meu peito /
Teu cavalo cego. / E pontas e
Trata-se, entretanto, de uma patas / Tentam enlaçadas /
Furtar-se às águas / Do
manifestação lírica engajada no sentimento. (Fragmentos do
contexto de anulação e reconhecimento poema XX de Cantares de
perda e predileção) (...) Faz

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de mim tua sombra / E cobre / De visgo, de vergonha


injuria, sangra / Essa que te / Enterra seu bandolim /
descansa / Na tua soberba Artimanha do sonho // Tem o
escalada ao meio-dia. / corpo de luto / E o rosto de giz
Golpeia / Para amansar tua // Porque Túlio não ama. –
fina presa. (Fragmentos do Poema XVII de Árias
poema XXIX de Cantares de pequenas. Para bandolim.
perda e predileção) (HILST, 2001, p. 97)
Escreveste meu nome / Sobre
a água? / A fogo, na alma /
Desenhei o teu. (Fragmentos Nossa pesquisa nos levou para o
do poema XXXIX de Cantares reconhecimento de outra característica
de perda e predileção) Talvez
eu seja / O sonho de mim na obra da poeta: a inovação da
mesma. / Criatura-ninguém /
Espelhismo de outra linguagem por neologismos e emprego
(Fragmentos do poema XLVI de vocabulário raro. Para
de Cantares de perda e
predileção) (HILST, 2002, p. reconhecermos esses elementos na
37, 53, 63, 73, 82).
obra da autora, fizemos um
levantamento das expressões para nós
Notamos semelhante reflexo na
desconhecidas e recorremos à pesquisa
obra Júbilo, Memória, Noviciado da
em dicionários, no intuito de
Paixão (2001):
comprovar a origem daquele
vocabulário e sua existência ou não no
Esquivança, amigo. / É o que
se faz em ti. / Frígido, esquivo léxico português.
/ Da benquerença de mim //
Quanto mais te persigo / Mais Nesse sentido, detectamos que
te vejo / De mim o fugitivo / em Cantares há um total de 38
Córrego correndo / E eu
desesperança / Me fazendo vocábulos para nós desconhecidos.
antiga. // Crescem verdores /
À minha volta. / Ramas Desses, notamos um neologismo:
votivas / Se interdizendo: / “janelas baças” (p. 18); uma palavra
Cubra-se a morta / Porque o
amante / Se faz esquivo. / de origem árabe: “alfafas” (p. 23);
Feche-se a porta / Porque é de
pedra // Impermissivo // Esse quatro vocábulos de origem latina:
que era / O cantar da morta. – “corolas” [corolla – pequena coroa](p.
Poema VII de Árias pequenas.
Para bandolim. (HILST, 40), “apetecida” [appetescere,
2001, p. 86).
incoativo de appetere – desejar] (p.
O poeta se fez / Água de fonte 48), “hausto” [haustu – sorvo,
/ Infância / Circunsoante /
Madeira leve / Límpida aspiração] (p. 61), “caligem” [ caligine
caravela // E Túlio não quis. – escuridão] (p. 92) e três são
// O poeta se fez / Aroma /
Voz inflamante / Vestido / formados por prefixação e
Metalescente / Insânia // E
Túlio não quis. // O poeta se substantivação: “sumidouro” (p. 36)

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[sumi + (d)ouro], “imerecido” (p. 85) [i mera actividade sexual, que


torna aquele uma busca
+ -merecido], “caliça” (p. 89) [do psicológica, independente do
adjetivo caliço, de cal]. Há ainda a fim natural dado pela
reprodução e pela
presença de vocábulos raros e eruditos: preocupação de procriar.
(BATAILLE, 1968, p. 13).
“tomos”, “rocio” (p. 18), “marulhoso”,
“reversivo” (p. 19), “sabenças” (p. 23), Para o autor, o homem tem a
“áspide” (p. 24), “ascese” (p. 25), nostalgia da continuidade, e chega a
“treliças” (p. 36), “outeiros” (p. 49), ela através da morte e do erotismo. O
“flanco” (p. 85), “cordame” (p. 92), termo se correlaciona tanto com a
“mogorim” (p. 94), “álbidas” (p. 99). história do trabalho como com a
Esses dados comprovam a criação poética e eleva o homem de um
inovação exercida pela escritora estado de descontinuidade para um
perante a língua portuguesa. nível de continuidade.

DISCUSSÃO: A poesia leva-nos ao mesmo


ponto a que nos conduz cada
uma das formas de erotismo:
Algumas das obras hilstianas a indistinção, a confusão dos
objetos distintos. Conduz-nos
revelam a visão da autora perante a
à eternidade, conduz-nos à
temática do erotismo, amplamente morte, e, pela morte, à
continuidade. (BATAILLE,
tocada por diversos teóricos. 1968, p. 24).
Georges Bataille (1968) é um
estudioso do erotismo e sua relação O escritor afirma que somos

com a existência humana. Conforme descontínuos porque somos distintos

retrata em sua obra, o erotismo é uma uns dos outros, cada um é individual,

busca psicológica que se difere do ato único e singular. Dessa maneira, há um

sexual, uma vez que não depende da imenso abismo entre cada um de nós:

tentativa de perpetuação da espécie, já uma descontinuidade. Eis aqui a

que, pelo contrário, visa a elevação do correlação entre a morte e o erotismo:

homem a uma continuidade perdida: essa descontinuidade é como a morte,

A actividade [atividade] sexual eroticamente fascinante e vertiginosa.


da reprodução é comum aos A morte, assim como o erotismo,
animais sexuados e aos
homens, mas, aparentemente, quebra nossa descontinuidade e nos
só os homens transformaram
a actividade sexual em transporta para a continuidade
actividade erótica. Donde a perdida.
diferença entre o erotismo e a

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Éramos contínuos enquanto portanto, capaz de portar o sentimento


zigotos, pois simbolizávamos a de amor através da busca erótica
passagem à continuidade. Ao incessante:
nascermos, nos tornamos Para tua fome // Eu teria
colocado meu coração / Entre
descontínuos, pois perdemos aquela os ciprestes e o cedro // E tu o
continuidade. Devido a isso, temos encontrarias / Na tua ronda
de luta e incoesão: / A ronda
uma nostalgia dessa continuidade que persegues. // Para tua
sede / As nascentes da
perdida, e a buscamos de maneira infância: / Um molhado de
obsessiva, o que nos leva às três formas fadas e sorvetes. // E abriria
em mim mesma / Uma nova
de erotismo – dos corpos, dos corações ferida // Para tua vida. –
Poema XVIII de Cantares de
e o sagrado, sabiamente focalizados Perda e Predileção (HILST,
por Vieira (2003, p. 21-22): 2002, p. 51).

Para se conhecer o erotismo, é


O corpo da mulher que é
violado na relação sexual é necessário entendermos a
como um animal ou um
homem que é sacrificado a um interdependência entre a proibição e a
deus, sendo, assim, sagrado; e transgressão discorridas por Bataille
o erotismo dos corações
também implica sacrifício; (1968, p. 33), e que parafraseamos a
para aquele que sente a
seguir. A proibição se fundamenta no
paixão, esta pode ter um
sentido mais violento do que o desejo em eliminar o impulso sexual,
erotismo dos corpos; antes de
ser uma felicidade, é violência uma vez que visa à conservação do
e sofrimento; o ser, muitas trabalho - o desejo sexual pode
vezes, sacrifica a si mesmo.
comprometer o curso do trabalho.
É nesse ponto que vemos em Hilst Uma proibição só é permitida salvo
a manifestação de um eu que se anula e regras. No caso do assassinato e do
se sacrifica para satisfazer as sexo, eles são aceitos apenas em caso
necessidades, para não dizermos de guerra e após o casamento. Já a
prazeres de seu amado. É um eu ciente transgressão representa a violação de
de sua não correspondência, de sua uma proibição. O erotismo associa a
incompletude, mas que ainda sob essa idéia do prazer sexual com o proibido,
condição, se arrisca de todas as formas uma vez que o ato sexual é praticado de
numa entrega incessante, pois se vê modo afastado.
como elemento que ama, e sendo Na poesia de Hilst, notamos que
Mulher, reconhece sua importância na quando o eu feminino emprega sutis
humanidade, ou seja, como amante e, metáforas que insinuam o convite à

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21

união erótica, está lúcida a (...) o corpo humano figura


como suporte original das
transgressão da proibição da metamorfoses: ele contém, em
sexualidade contida para manifestar si, a capacidade de desdobrar-
se em outros e,
seu sentimento de desejo de conseqüentemente, de
projetar-se fora de si. (...) o
continuidade, conforme os primeiros homem recorre às forças
versos do poema XXII de Cantares de bestiais.

perda e predileção: “Toma para teu


Está claro, tanto nesse poema como
gozo / Este rio de saudade.” (HILST,
em “De ossos”, um meandro de
2002, p. 55). Assim, o erotismo
violência, posto que, ainda sob a luz de
hilstiano se contrapõe às convenções
Moraes, Sade inspirou o pensamento
de ordem descontínua, é uma intensa
de Bataille e Breton quando discorre
busca erótica pelo amor do outro e
que a potência do desejo está
revela os momentos de união carnal:
relacionada à violência.
Focalizamos agora o pensamento
E batalhamos. / Dois tigres /
Colados de um só deleite / de Octávio Paz (1999), que se sente
Estilhaçando suas armaduras
atraído pelo pensamento polêmico de
/ Amor e fúria / Carícia, garra
// Tua luz // E a centelha rara marquês de Sade, tido como o “filósofo
/ De um corpo e duas
batalhas. – Poema XIII de libertino”. Sade via na civilização a
Cantares de perda e origem dos males da sociedade e
predileção. (HILST, 2002, p.
46). sugere a substituição do crime público
pelo crime privado. O ensaísta chileno
De ossos / De altos pomos /
De ódio e ouro // Doloso // reconhece que o erotismo e a
Teu rosto / Sobre a minha
sexualidade se comunicam, mas não se
cara / Crepuscular // Gozoso /
Sobre o meu corpo // Criando fundem. O primeiro é singular, e o
magia e ponta // Para morrer
/ E fazer matar. – Poema XXI outro é particular. A sexualidade é
de Cantares de perda e instintiva, mas passa por um sistema
predileção. (HILST, 2002, p.
54). de regras, convenções e proibições. Já
o erotismo é essa sexualidade
Vemos no poema “E batalhamos” a
socializada, é visto como um fato
comprovação do que Moraes (2002, p.
social. Paz define a dupla face do
134) comenta sobre a concepção
erotismo, sendo que,
batailliana de que

o que diferencia o ato sexual


de um ato erótico é que no

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22

primeiro a natureza serve-se os atos humanos, a “Vontade de vida,


da espécie, enquanto no
segundo a espécie, a sociedade cuja principal manifestação é
humana, serve-se da natureza. exatamente a sexualidade”
(PAZ, 1999, p. 25).
(GUEROULT, 2000, p. X). Para ele, é
Assim, o erotismo é essa vontade que justifica o impulso
simultaneamente “o freio e a espora da sexual. Trata-se de uma necessidade da
sexualidade”. O poema XXX da obra natureza em preservar a espécie
Cantares revela a relação do eu com o humana e em constituir as
Tempo – tido aqui como força erótica características e qualidades da raça
– que da mesma forma que impede a vindoura. Assim, quando uma mulher
união erótica desse eu com seu amado, se apaixona por um homem e tenta
uma vez que separa os amantes, transpor todas as barreiras que
permite e instiga essa união, quando se impedem sua união com o amado, ela
remete à questão do carpe-diem, ingenuamente acredita se unir a ele
exercendo, dessa maneira, a devido a um elevado sentimento de
simultânea função de freio e espora da amor e completude afetiva, quando na
união sexual: verdade está se servindo à perpetuação
da espécie, à “(...) composição da
O Tempo e sua fome. / geração futura, da qual dependem, por
Volúpia e Esquecimento /
Sobre os arcos da vida. / Rigor sua vez, inumeráveis ouras gerações.”
sobre o nosso momento. // O (GUEROULT, 2000, p. 9). Ou seja, se
Tempo e sua mandíbula. /
Musgo e furor / Sobre os uma mulher se sente atraída a um
nossos altares. / Um dia,
homem pela sua saúde, beleza, rigor
geometrias de luz. / Mais dia
nada somos. // Tempo e físico, força e virilidade, isso se dá
humildade. / Nossos nomes.
Carne. / Devora-me, meu porque o macho deve apresentar
ódio-amor, / Sob o clarão características positivas para que os
cruel das despedidas. –
Poema XXX de Cantares de descendentes sejam fortes, saudáveis e
perda e predileção. (HILST,
2002, p. 64). capazes de procriar. Em contrapartida,
se um casal sente aversão um pelo
Perpassemos agora pelo século outro, isso indica que a criança que
XIX, com o filósofo alemão Arthur poderiam procriar apresentaria
Schopenhauer. Esse pensador desarmonias. O filósofo também
apresenta, na obra Metafísica do defende nossa busca, no outro, por
amor, um elemento que fundamenta aquilo que nos falta. Quem é baixo

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busca alguém alto, de modo a superar prova de abandono.


(BARTHES, 1990, p. 27)
sua baixa estatura. Portanto,
convivemos com uma necessidade de Languidez: “Estado sutil do desejo
procriação em prol da evolução e da amoroso, experiência da sua falta, fora
preservação da espécie. A vontade da de qualquer querer-possuir.”
espécie suprime a do indivíduo, assim, (BARTHES, 1990, p. 136) estão
a atração sexual visa à cópula. Dessa evidentes no poema XXXV:
forma, Schopenhauer desconsidera a
importância do erotismo para o Desgarrada de ti / Sou a
homem, se mostrando, portanto, sombra da Amada. / Das
madeiras da casa / Farei
positivista, cientificista, determinista e barcas côncavas // E tingirei
de negro / Os lençóis de fogo /
evolucionista. Onde nos deitávamos // Velas
Já Barthes, na obra Fragmentos de / Bandeira para minhas
barcas. // E de dureza e arrojo
um discurso amoroso, busca resgatar o / Hei de chegar a um porto /
De pedras frias. // Memória e
discurso amoroso, pois esse passa na
fidelidade / Meu corpo-barca
contemporaneidade por uma fase de / Esmago contra as escarpas.
// De luto e choros um dia /
“intensa solidão”, uma vez que vem Verei tua boca beijando as
sido ignorado, depreciado e ironizado. águas / Teu corpo-barca.
Minha trilha. – Cantares de
Dessa maneira, o tema da obra é a perda e predileção. (HILST,
2002, p. 69).
tentativa de afirmação desse discurso.
O recurso que notamos é a descrição Já no poema LII de Hilst notamos,
do mesmo pela manifestação dos além da Ausência e da Languidez, a
sentimentos de um eu que enuncia temática da União, conforme descrita
seus recorrentes, variados e por Barthes: “União: sonho de total
necessários aspectos de maneira união com o ser amado”. (BARTHES,
estrutural e dramática. Relacionamos 1990, p. 194). Tal poema também se
aqui alguns desses numerosos aspectos vincula à visão batailliana de
a poemas hilstianos da obra Cantares. continuidade e descontinuidade, em
Os termos Ausência e Languidez: que o homem transita incessantemente
do sentimento de continuidade para o
Ausência: Todo episódio de de descontinuidade e vice-versa, na
linguagem que põe em cena a
ausência do objeto amado – intensa luta entre os contrários, que de
quaisquer que sejam a causa e
a duração – e tende a alguma forma gera harmonia. Nesse
transformar essa ausência em poema, a terceira estrofe revela que os

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amantes se unem – continuidade – É um eu que se afirma divergente


mas por um instante apenas, pois nos do papel feminino tradicional. Segundo
últimos versos está clara a idéia da Blumberg (2003, p. 47),
desilusão e do abandono –
descontinuidade: Nas Trovas de Muito Amor
para um Amado Senhor
(1960), retomada da poesia
Eu era parte da noite e medieval trovadoresca, a voz
caminhava / Adusta e austera feminina se apropria da fonte
/ Sem luz e aventurança. / Tu do discurso amoroso
eras praia e dia / Um fogo masculino para investir-se do
branco / O rosto da montanha direito à própria iniciativa e
sobre a terra. // E juntamos a expressão lírico-amorosa.
treva / Ao mar do meio-dia. /
Cristas aguadas, pontas /
Trilhas fosforescentes / Na Essa assertiva está evidente nos
vastidão das sombras // Mas
um instante apenas. // trechos do poema LXIII dessa obra,
Porisso é que caminho como por sua vez publicada pela Editora
antes / Adulta e austera. /
Acrescida de véus me mostro Globo em Exercícios:
aos viajantes: / Vês a mulher,
aquela? / Dizem que a cara é
de caliça e pedra. / Que a luz Senhor, se a mim me
das ilusões passou por ela. – acrescento / Flores e renda,
Cantares de perda e cetins, / Se solto o cabelo ao
predileção. (HILST, 2002, p. vento / É bem por vós, não
89). por mim. // Tenho dois olhos
contentes / E a boca fresca e
rosada. / E a vaidade só
Comprovamos, nesse sentido, que
consente / Vaidades, se
Hilda Hilst manifesta a metáfora do desejada. – Trovas de muito
amor para um amado senhor.
amor de maneira erotizante e a vincula (HILST, 2002, p. 188).
ao pensamento contemporâneo
O erotismo presente na obra
(caracterizado pelas questões do
poética hilstiana se remete à questão
homem que teve a Palavra Reveladora
da mulher se redescobrindo como algo
de Deus negada pela Ciência,
essencial, por ser princípio, expansão e
evidenciado pela perda do sentido
duração do homem no tempo. A autora
último da vida e de sua presença no
reflete essa temática através de uma
mundo) no que se refere à natureza
exortação amorosa, evidenciada por
física (psíquica-erótica), centrada na
uma linguagem metafórica, cujo eu age
Mulher, cujo eu se funde com o outro,
como uma sacerdotisa a cumprir um
buscando em si a verdadeira imagem
ritual amoroso, convidando
feminina e seu possível lugar no
eroticamente o outro para a união, já
mundo.

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que esse mesmo eu é caracterizado (15) Me importa mais


pela descontinuidade e pela (16) O que a ausência traz
incompletude. (17) E a boca não explica.
Portanto, no erotismo, a
experiência de comunhão plena eu- (18) Toma-me anônima
outro parte do corpo, atinge as raízes (19) Se quiseres. Eu outra
metafísicas do ser e o faz sentir-se (20) Ou fictícia. Até rapaz.
participante da totalidade. (21) É sempre a mim que tomas.
(22) Tanto faz. (HILST, 2002, p.
CONCLUSÃO: 72)

Com a intenção de reafirmar os Trata-se de um poema que


aspectos relacionados ao erotismo em manifesta a incompletude do eu, que,
Hilda Hilst, abordados nesta pesquisa, por sua vez, busca sua junção com o
passemos à análise de dois poemas da outro. Comprovamos isso a partir da
obra Cantares (2002). expressão que inicia o poema: “Toma-
Vejamos o poema XXXVIII: me”, o que efetiva o chamamento
erótico e evidencia o convite amoroso
(1) Toma-me ao menos do eu, como um momento de exortação
(2) Na tua vigília. do amado à união. É um eu submisso,
(3) Nos entressonhos. que aceita trocar sua identidade em
(4) Que eu faça parte favor da satisfação do amado: versos 19
(5) Das dores empoçadas e 20, mas que é ávido pela união,
(6) De um estendido de outono conforme a expressão “ao menos”, no
primeiro verso. A partir desse aspecto,
(7) Do estar ali e largar-se questionamos: será que esse amado a
(8) Da tua vida. toma como ela espera que fosse
tomada?
(9) Toma-me Nos três primeiros versos, notamos
(10) Porque me agrada que o eu busca ser o motivo da insônia
(11) Meu ser cativo do teu sono. do amado, pois quer estar presente
(12) Corporifica mesmo em seus momentos de pouca
(13) Boca e malícia. lucidez, conforme observamos nas
(14) Tatos. expressões “vigília”, “entressonhos”.

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Nos versos de 4 a 6, notamos seus caráter corporal: “tatos”. Vemos, nesse


desejos quanto à velhice, uma vez que sentido, que mesmo que não haja um
espera passar a vida com esse amado, o entendimento na alma, haverá um
que será comprovado pela imagem do entendimento carnal.
outono, sugerindo o fim da juventude, A última estrofe retoma o elemento
a fase da vida quando as folhas caem, sono, em que o eu persiste na idéia de
ou seja, a terceira idade. estar no subconsciente e no coração do
Na segunda estrofe, esse eu revela amado, desejando estar aí presente
uma inconstância a partir de seu medo mesmo nos momentos em que ele se
em perder o amado, em se separar do relacionar com outras pessoas, pois
mesmo: 7º e 8º versos. Há aí um jogo permanecerá sempre em seu
com o tempo, como se esse eu fosse pensamento. Aí, o eu se desfaz de seu
capaz de controlá-lo. ego para ocupar o espaço no coração e
Já a terceira estrofe apresenta a na memória do amado, mas,
intenção do eu em estar no simultaneamente, reconhece que o
subconsciente do amado, como se seu princípio está em si, já que pode trocar
sono fosse o proprietário da existência sua identidade, visto que, já que se esse
desse eu: 10º e 11º versos. Isso eu não satisfaz o amado, que ele a
representa uma absoluta entrega transforme.
amorosa. Notamos o clímax do poema Portanto, tal poema revela a visão
nos seis próximos versos. É como se erótica de um eu feminino, que
houvesse a saída do campo da alma manifesta sua incompletude e
(até então expresso pelo sono do descontinuidade e busca sua totalidade
amado) para o do corpo. Aí, o erotismo através da busca da união eu-outro. É
dos corpos é evidenciado de maneira um eu ciente de sua condição
intensa, uma vez que há imagens claras incompleta, portanto se revela
do convite erótico: “corporifica”, inconformado e ansioso por
“boca”, “malícia”, “tatos”. Notamos aí completude, vendo no erotismo um
uma evolução do processo que envolve caminho para sua continuidade.
o erotismo: do toque dos lábios ao Partimos agora para a análise do
encontro dos corpos. Ora, “malícia” poema LVI, notório no que diz respeito
revela o elemento picante do processo à busca amorosa incessante da obra
amoroso, e observamos aí um Cantares:
elemento sinestésico, intensificando o

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(1) Areia, vou sorvendo possui de maneira antitética, ora


(2) A água do teu rio. minúscula, ora extensa, sendo que esse
(3) E sendo rio eu permite tal inconstância. Além
(4) Tu podes me tomar disso, o eu age eroticamente em
(5) Minúscula, extensa relação ao seu amado, o que está
(6) Ampulheta guardada refletido nos versos 6 e 7. Temos aqui
(7) Esteira, desafio. uma analogia com a imagem da
(8) Areia, encharcada ampulheta, simbolizando a intimidade
(9) Recebo tuas palavras d’água do eu com esse objeto. Trata-se de uma
(10) Sumidouro, aguaça tentativa do eu em dilatar o tempo para
(11) Em água-mel te prendo. que possa acompanhar a extensão do
(12) Areia, vou te tomando vasta “rio”, visto como a inspiração, e,
(13) Ou milimétrica, lenta portanto, a fluidez dessa conquista
erótica.
(14) Um rio de areia e caça Na segunda estrofe, o erotismo
(15) Luminescente, tua. metalingüístico torna-se ainda mais
(16) Uma presa de água. evidente, uma vez que o amado “água”
(HILST, 2002, p. 93) oferece “palavras d’água”, sendo que aí
temos uma analogia com a
Trata-se de um poema que permanência da terra “recebo” e a
exalta o erotismo metalingüístico. O eu mutabilidade da água, que flui suas
busca o amor da criação poética. palavras. Ainda nessa estrofe, notamos
Ressalta a imagem da “água”, elemento a expressão “te prendo”, o que revela a
masculino, a criação poética conquista amorosa, o erotismo
fecundadora e “areia”, simbolizando a presente no poema, quando o eu
terra, elemento feminino que busca a devora o outro, tratando-o como
fecundação, como continuadora da cativo. Ao mesmo tempo que o eu
humanidade, ou seja, o poeta. Então, devora, é devorado, manifestando
as duas imagens centrais desse poema assim a competição erótica dos entes,
são “areia” e “água”. conforme verificamos nos versos 5 e
Na primeira estrofe, o eu “areia” 13. E ainda, é um eu que
recolhe, ou seja, sorve aos poucos a simultaneamente se esvanece num
“água” oferecida pelo amado, nesse jogo de recebimento e de detenção.
caso a criação poética. O amado a Assim como o amado toma esse eu de

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modo antitético na primeira estrofe, dentro de um universo solitário e


aqui o eu também o faz, conforme ansioso de respostas, uma vez que a
notamos nos versos 12 e 13. autora trata questões de existência,
Já a última estrofe revela a pessoalismo, interioridade, reflexão,
união amorosa da areia com a água, o questões que por envolverem o
rio, sendo que o eu se mostra pensamento, se tornam complexas.
encharcado pela água (ungido pela Nesse sentido, o material aqui
criação poética) propriedade dela: analisado é de uma escritora que
“tua”, “presa”. manifesta os anseios de toda uma
É, portanto, um poema que trata época e de toda uma posteridade, daí
da união erótica eu – outro, nesse caso, pensarmos em escrita cifrada e
poeta – criação poética. Aí, a poeta internalizada.
revela sua astúcia com o emprego de
imagens que à primeira vista soam REFERÊNCIAS
herméticas e difusas: “areia”, elemento BIBLIOGRÁFICAS:
feminino, “água”, elemento masculino,
“rio”, “ampulheta”, “esteira”, “água- AZEVEDO FILHO, Deneval Siqueira
mel”, “caça”, “presa”. Após um apuro de. Holocausto das fadas: a
interpretativo, tais imagens revelam trilogia obscena e o carmelo
toda sabedoria e tino poético dignos de bufólico de Hilda Hilst.
uma mulher que trata a língua Campinas. Dissertação –
portuguesa e seu potencial intelectual (Mestrado em Teoria Literária).
como uma verdadeira artista escolhida Universidade Estadual de
por Deus para manifestar o Campinas, 1996. 112 p.
pensamento contemporâneo referente BARTHES, Roland. Fragmentos de um
ao amor, tema que nos move para discurso amoroso. Rio de
aquela completude que um dia Janeiro: Francisco Alves, 1990.
perdemos. BATAILLE, Georges. O erotismo. Rio
Para entendermos Hilda, não de Janeiro: Moraes Editores,
basta tentarmos compreender a 1968.
construção de seus textos e a evocação BLUMBERG, Mechthild. Hilda Hilst:
de suas imagens. É necessário irmos paixão e perversão no texto
além, ou seja, atingirmos a feminino. D.O. Leitura, São
complexidade de seu pensamento

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