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PRELIMINARES (1500-1530)
1. O meio geográfico
Prado no início do livro descreve o palco sobre o qual se desenrolou a história
econômica brasileira, o seu meio geográfico. Inicialmente, afirma que o litoral
brasileiro, por ter poucas reentrâncias, não é propício para navegação. Mesmo assim, o
país volta-se para o Atlântico, único oceano que possui acesso. O Oeste é barrado pelos
Andes, com terrenos agrestes e de penetração e ocupação difíceis.
A faixa litorânea foi a primeira ocupada e é a mais importante. Os solos
próximos ao litoral são férteis e propícios à agricultura tropical (base econômica do país
desde a colonização).
Quanto à fixação da população, Prado afirma que os terrenos semiáridos,
imprestáveis à agricultura corrente, do Nordeste, mantiveram a população no litoral,
dentro do possível.
No Sudeste, o relevo impede e opõe a penetração, já na Amazônia, composta
por florestas semiaquáticas, o interior se abre para o mar pelos rios, com as povoações
se fixando no leito dos rios. Já o planalto Centro-Meridional oferecia ótimas condições
para a instalação do homem, a saber, solo fértil, clima temperado e rios normais. Região
com bom potencial mineral.
Acerca do centro-sul, Caio Prado o dividiu em três setores: 1) setentrional, de
grande altitude e relevo acidentado (Minas Gerais); 2) meridional, de relevo uniforme,
florestas e campos naturais (de São Paulo ao Rio Grande do Sul) e 3) ocidental, com
planícies herbosas e terrenos alagadiços, sem grandes recursos naturais, onde no futuro
se desenvolveria a pecuária.
No Extremo-Norte, há o contato com o Atlântico pela bacia amazônica, imenso
sistema hidrográfico. A ocupação dessa região se deu mais às margens dos rios, devido
à dificuldade de se adentrar na mata densa.
Em relação aos habitantes originários, pode-se dizer que os indígenas
brasileiros, diferentemente dos andinos e mexicanos, não tinha um nível de organização
avançado. Por isso, não se adaptaram ao modo sedentário do trabalho escravo
português. Bons nômades, eles preferiram morrer brigando a se adaptar. Certamente,
esse foi um dos fatores que influenciaram na ocupação demorada do território brasileiro.
5. Atividades acessórias
Ao lado da agricultura exportadora desenvolveram-se atividades subsidiárias
para tornar possível a realização desse objetivo principal, economia de subsistência,
para suprir os colonos. Elas foram principalmente encontradas nos próprios domínios da
lavoura açucareira, em terrenos a parte e entremeados. Foi marca do período colonial o
fato de a sociedade viver num estado contínuo de subnutrição.
Os centros urbanos, especialmente, careceram dos gêneros básicos para a
alimentação. Alguns proprietários foram inclusive, a contragosto, obrigados a plantar
mandioca para atender as condições mínimas de alimentação. Por isso, em alguns
lugares criaram-se plantações especializadas. No início, eles recorriam aos índios para o
trabalho nessas plantações, mas com a fixação deste na cidade e sua consequente
sedentarização terminou por engrossar a classe intermediária (caboclos) entre a servil e
a senhoril. Entre os hábitos alimentares do povo estava largamente a fruta, sendo as
verduras pouco consumidas dada a abundância das primeiras.
Essencial: produzir gêneros tropicais de grande expressão econômica para a
Europa. Secundária: alimentar os trabalhadores da colônia.
Nesse setor de subsistência, compreende-se a pecuária. As fazendas pecuárias no
período inicial da ocupação do Brasil multiplicaram-se rapidamente por dois motivos
principais: o consumo crescente de carne e a facilidade em se levantar uma fazenda. A
atividade, dada a sua baixa densidade de renda e o seu caráter subsidiário, foi empurrada
ao interior pela cultura da cana. No Nordeste, o senhor era absentista e a fazenda era
dirigida pelo vaqueiro. Na primeira fase de ocupação, o Rio de Janeiro era abastecido
pelo Campo dos Goitacazes e São Paulo recebia dos Campos Gerais.
APOGEU DA COLÔNIA (1770 a 1808)
O período que marca o apogeu da colônia foi ditado pelo contexto externo que
se desenvolveu. Foi nessa época que Portugal coloca em prática plena o pacto colonial.
Primeiro, tomava força na Inglaterra a revolução industrial, com o incremento do
comércio e das atividades econômicas, o aumento da população europeia e a
consequente valorização dos produtos colônias por causa das guerras e do colapso das
Antilhas em 1792, apesar de as índias ocidentais holandesas levarem vantagem sobre
nós por serem mais recentes. Portugal por ter ficado neutro nos conflitos que se
desenrolaram na Europa durante o século XVIII pode concentrar-se mais em colocar em
prática a política do pacto colonial do Brasil, servindo-se do contexto externo favorável
para tal.
O algodão serviu também como moeda de troca, e preferiu o interior ao litoral,
como Caxias no Maranhão, o agreste e a Bacia do Jaguaribe no Ceará. Não exigia mão-
de-obra abundante. A partir de 1760 saiu do Maranhão passando a ser cultivado em
várias outras regiões em menor escala. Continuando o traço brasileiro de economia
exportadora. Deu-se inclusive a criação da Companhia de Comércio do Pará e
Maranhão, que foi extinta em 1777. A produção algodoeira caiu com a concorrência
internacional e o não aperfeiçoamento técnico brasileiro nessa produção e a consequente
queda no preço, provocando um colapso nas regiões produtoras.
O açúcar, graças ao contexto externo fez reerguerem-se a Bahia e Pernambuco,
além de surgirem novos produtores, os Campos dos Goitacazes e o litoral de São Paulo,
bem como e principalmente no seu planalto no final do século. Começa aqui o começo
da prosperidade de São Paulo.
O Arroz também teve destaque, chegou a ser o segundo produto mais exportado
pela colônia. O indigoeiro também teve destaque, mas representou pouco na exportação
brasileira e logo desapareceu, devido à péssima qualidade do anil brasileiro.
No final do século XVIII, o café começou a ser produzido em larga escala.
Internamente, as regiões mineradoras voltaram-se para a agricultura e para a
pecuária. Minas se tornou a melhor região pecuária, iniciando-se também na produção
de queijo e desenvolvendo plantações de tabaco na região do Sul de Minas. O Rio
Grande do Sul superou o sertão nordestino, que entrou em queda livre com as secas.
O centro econômico saiu do interior e voltou-se novamente para a faixa
litorânea, região mais propícia à agricultura. Coube à pecuária e à mineração a
interiorização do território brasileiro.
Analisemos as técnicas segundo as quais se desenvolveram nossas atividades
econômicas. Nessa época, já se sentiam os efeitos devastadores causados pelos
processos bárbaros e destrutivos empregados até então no cultivo do solo, como o uso
indiscriminado da lenha, as queimadas, o não aproveitamento do bagaço da cana e a
separação entre a agricultura e pecuária, que havia privado o solo do adubo. Assim,
contamos apenas com os solos férteis e com os recursos naturais abundantes para
obtermos nossos produtos agrícolas. Além disso, os processos eram altamente
improdutivos, o colono, pelo próprio sistema, era isolado do mundo, não tinha
oportunidade de conhecer novas tecnologias. A força hidráulica não era comum,
dependendo-se da força do homem e dos animais.
11. Incorporação do Rio Grande do Sul – estabelecimento da pecuária
A região no extremo-sul do país apenas começará a contar economicamente a
partir de 1750. Para a integração dessa região no eixo colonial o governo tomou
algumas ações depois do fim da União Ibérica, com o aumento das tensões entre
portugueses e espanhóis. A primeira foi fundação da Colônia de Sacramento em 1680,
tendo-a perdido de acordo com o Tratado de Madri em 1750. Também, procedeu à
colonização por açorianos. Enviou também à região uma corrente migratória que veio
de São Paulo, além da vinda de tropas de defesa. De certa forma, difere do restante da
ocupação do território, pois o Estado pagou o transporte, loteou as terras em pequenas
áreas e forneceu maquinário e sementes.
A principal atividade econômica na região foi a pecuária. Inicialmente, se
baseava na exploração do couro, cuja carne era desprezada e que até o final do século
seria a maior mercadoria de exportação e as charqueadas, que se iniciaram em 1780,
coincidindo com a decadência da pecuária nordestina. A técnica seria semelhante a do
interior nordestino, baixa, mas as condições naturais são bem melhores. Depois,
também se baseou na venda de cavalos e muares, que forneciam às Minas, apesar de
utilizarem os cavalos como bestas de carga. A pecuária sulina não tinha nada de
cuidadosa, apenas desenvolveu-se graças às generosas condições naturais de que
gozava.
A propriedade fundiária assumiu gigantes latifúndios, sob a forma de estâncias,
levadas por capatazes e peões, cujos hábitos eram nômades dada a natureza dispersa dos
animais. Era forte também o elemento militar na região, sendo a relação entre o
estancieiro e os peões mais como de chefe militar e soldado. Depois do Tratado de
Santo Idelfonso em 1777, que acertou as fronteiras nacionais a região se pacificou.
12. Súmula geral econômica no fim da era colonial
A Era Colonial termina propriamente em 1808, com a vinda da família real para
o Brasil, e não em 1822, o que trouxe mudanças efetivas no rumo da economia
brasileira. Vimos no final da era colonial três núcleos de importância: Bahia,
Pernambuco e Rio de Janeiro. Em segundo plano estava o Pará e o Maranhão e São
Paulo começava a se destacar na produção de açúcar.
Como já vimos, a economia brasileira no momento da autonomia política e
administrativa girava em torno da exportação de produtos tropicais de alto valor
mercantil, metais e pedras preciosas. As demais atividades eram secundárias e serviam
de suporte para a realização das atividades principais.
O comércio entre o Brasil e os mercados de consumo foi intermediado sempre
por Portugal, mas uma forte característica dessa atividade foi o contrabando,
principalmente por ingleses. O ramo mais importante, responsável por três quartos do
volume de negócios, foi o tráfego negreiro. Com o desenvolvimento da navegação a
vapor intensificou-se a cabotagem do comércio, inclusive do charque.
Os transportes e as comunicações contribuíram para a sedimentação dos
povoamentos interiores no momento em que lhes garantiam o consumo de bens
importados e o escoamento de sua produção. Essas comunicações tendiam a convergir
para o interior, principalmente no Nordeste. O transporte de cargas se fazia
principalmente no dorso de animais, que encarecia os artigos volumosos e pesados. O
principal eixo se dava no litoral.
A navegação no Brasil é muito complicada, os rios possuem forte correnteza,
quedas e corredeiras. Além disso, muitos são irregulares/temporários. A maior parte da
movimentação das cargas se dá pelo mar.
Havia também pequenas manufaturas na colônia. Poucas, pois essa era
centralizada na metrópole. As artes e manufaturas foram simples acessórios da
mineração ou dos estabelecimentos agrícolas quando desenvolvidas longe dos centros
urbanos. Sua existência completava a autonomia dos grandes domínios rurais. Nos
centros urbanos surgiram as corporações, levadas por homens livres, que eram em geral
mulatos ou mestiços e eram auxiliados por escravos. Isso dispensou a aprendizagem de
meninos e adolescentes, que sofreriam no futuro com a exclusão econômica.
Os principais setores foram a cerâmica, a têxtil e de ferro. A cerâmica foi mais
comum nas regiões do gado, e a cordoaria na Amazônia. As manufaturas têxteis
tendiam a se tornarem autônomas no Rio e em Minas, mas foram sufocadas pela Coroa
sob Dona Maria em 1785, quando mandou extinguir tal indústria. O ferro contava com
matéria prima abundante a amplo mercado, mas não foi aproveitado como deveria, não
desenvolvendo o potencial que tinha por conta das dificuldades impostas. Assim,
quando a conjuntura se tornou favorável preferiram não assumir os riscos de novas
restrições do governo colonial.
No campo extrativista, além da mineração de ouro e diamantes, e da coleta de
produtos naturais na Amazônia, destacaram-se também a extração de madeira (para
moradias e embarcações), da pesca da baleia, do sal, da erva-mate e do salitre.
Explorou-se a madeira para a construção naval com estaleiros na Bahia e no Maranhão,
mas tornou-se mais intensa a sua exploração depois de 1810 com os ingleses. A pesca
da baleia desenvolveu-se pela faixa litorânea que ia da Bahia até Santa Catarina,
decaindo futuramente com a concorrência americana e inglesa nas Ilhas Falkland. O sal
era monopólio da Coroa, o que não nos permitiu aproveitar as jazidas de sal do Rio
Grande do Norte, apenas o marinho, do Maranhão até o Rio. O salitre foi explorado por
iniciativa particular num afluente do São Francisco, na Bahia e no norte de Minas. A
erva-mate foi produzida no Paraná e também por jesuítas nas missões, mas foi mais
apreciada em regiões platinas como Montevidéu e Buenos Aires.