EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CÍVEL
(JUIZADO ESPECIAL) DA COMARCA DE CIDADE–ESTADO
… (nome completo em negrito do reclamante), … (nacionalidade), … (estado civil), … (profissã o), portador do CPF/MF nº …, com Documento de Identidade de nº …, residente e domiciliado na Rua …, n. …, … (bairro), CEP: …, … (Município – UF), vem respeitosamente perante a Vossa Excelência propor: AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO E NEGATÓRIA DE PATERNIDADE C/C ANULAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. em face de … (nome em negrito do reclamado), … (indicar se é pessoa física ou jurídica), com CPF/CNPJ de n. …, com sede na Rua …, n. …, … (bairro), CEP: …, … (Município– UF), pelas razõ es de fato e de direito que passa a aduzir e no final requer.: DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA Inicialmente pleiteia o requerente a concessã o dos benefícios da justiça gratuita, na forma da Lei n. 1060/1950, por atualmente encontrar-se desempregado e ser pessoa economicamente pobre, na acepçã o jurídica do termo. DOS FATOS Em (data), o Requerente reconheceu a paternidade sobre o Requerido, ao registrá - lo no Cartó rio competente, sem qualquer tipo de prova que comprovasse sua verdadeira paternidade. Apenas com base na presunçã o pater is est e na confiança em sua relaçã o com sua convivente. Em momento algum o Requerente teve um relacionamento amoroso, o que ocorreu foi uma coisa de momento, apenas aconteceu em três ocasiõ es, e o mesmo sempre usava preservativo, já por conhecer da sua fama que nã o era das “melhores”. Vale ressaltar que o Requerente em momento algum conviveu com a genitora da Requerida. Ressalta-se, portanto, que a mã e do Requerido nunca fez questã o de que os dois tivessem uma relaçã o entre pai e filho, agradá vel, saudá vel e pró xima, inclusive esta, vem substituindo a figura paternal da criança por seu atual namorado que reside com a mesma. O Requerente nã o possui nenhum contato afetivo com o Requerido, que hoje tem (mencionar a idade) e nã o reconhece no Requerente a figura paterna. Apesar disso, o Requerente cumpre suas obrigaçõ es paternas com relaçã o à s necessidades materiais da criança, ajudando-a com seus pró prios benefícios (mesmo que esteja desempregado no momento), em que tange ao pagamento das despesas referente à s necessidades da criança, ajudando-a da melhor maneira possível no momento. Convém notar que, desde o nascimento do Requerido, vá rias pessoas comentavam para o Requerente e sua família, que o mesmo nã o poderia ser seu filho, já que nã o havia qualquer semelhança entre os dois, e principalmente por uma suposta infidelidade de sua companheira na época da concepçã o. Intrigado com a série de comentá rios, o Requerente resolveu entã o por conta pró pria se submeter ao Exame de DNA, para sanar qualquer dú vida acerca da paternidade. Todavia, em busca da realizaçã o do exame, este, nã o obteve sucesso, uma vez que o custo para a realizaçã o do procedimento é de elevado valor, e, o mesmo, nã o se encontra com nenhuma fonte de renda. O Requerente, tentou mediante o SUS fazer o referido exame, mas nã o obteve êxito, pois informaram-lhe que só seria possível através de ordem judicial. Posto isso, esta é a razã o pela qual vem amparar-se no Judiciá rio para que todas as providências legais sejam tomadas a fim de que se resolva a questã o que ora se apresenta. DO DIREITO O artigo 1.601 do Có digo Civil embasa o fundamento da presente, onde estabelece que: Art. 1.601. “Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher sendo tal ação imprescritível.” Complementando o dispositivo acima acrescenta-se o art. 1.604 do Có digo Civil: Art. 1604. Ninguém pode vindicar estado contrá rio ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro. Alega-se na demanda o erro substancial nos moldes do art. 139 do Có digo Civil, posto que como o autor nunca criou vínculos afetivos com relaçã o a mã e ou a criança, notá vel se faz a ideia de que o mesmo somente a registrou devido a sua aparente paternidade, guiado pelo sentimento de boa-fé, moral e bons costumes. Art. 139. O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negó cio, ao objeto principal da declaraçã o, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaraçã o de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e nã o implicando recusa à aplicaçã o da lei, for o motivo ú nico ou principal do negó cio jurídico. Desta forma, salienta-se também o art. 138 da Lei em pauta, em virtude de que o autor apenas procedeu com o registro da menor impú bere em decorrência de sua aparente paternidade, posto que, caso soubesse da realidade acerca da questã o, o pró prio nã o procederia da mesma maneira. Art. 138 do CC: Sã o anulá veis os negó cios jurídicos, quando as declaraçõ es de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâ ncias do negó cio. Portanto, sendo o reconhecimento do filho um ato jurídico “stricto sensu”, e tendo ele sido praticado em funçã o de erro substancial, está sujeito à desconstituiçã o por vício de consentimento. No mesmo sentido decidiu o STJ: RECURSO ESPECIAL. AÇÃ O NEGATÓ RIA DE PATERNIDADE. EXAME DE DNA. Tem-se como perfeitamente demonstrado o vício de consentimento a que foi levado a incorrer o suposto pai, quando induzido a erro ao proceder ao registro da criança, acreditando se tratar de filho bioló gico. A realizaçã o do exame pelo método DNA a comprovar cientificamente a inexistência do vínculo genético, confere ao marido a possibilidade de obter, por meio de açã o negató ria de paternidade, a anulaçã o do registro ocorrido com vício de consentimento. Nã o pode prevalecer a verdade fictícia quando maculada pela verdade real e incontestá vel, calcada em prova de robusta certeza, como o é o exame genético pelo método DNA. E mesmo considerando a prevalência dos interesses da criança que deve nortear a conduçã o do processo em que se discute de um lado o direito do pai de negar a paternidade em razã o do estabelecimento da verdade bioló gica e,de outro, o direito da criança de ter preservado seu estado de filiaçã o, verifica-se que nã o há prejuízo para esta, porquanto à menor socorre o direito de perseguir a verdade real em açã o investigató ria de paternidade, para valer-se, aí sim, do direito indisponível de reconhecimento do estado de filiaçã o e das consequências, inclusive materiais, daí advindas. Recurso especial conhecido e provido. ( REsp 878954 / RS RECURSO ESPECIAL 2006/0182349-0, Terceira Turma, RELATORA Ministra NANCY ANDRIGHI.) Dispõ e o art. 3º, VI da Lei 1.060/50: Art. 3º. A assistência judiciá ria compreende as seguintes isençõ es: [..] VI – das despesas com a realizaçã o do exame de có digo genético – DNA que for requisitado pela autoridade judiciá ria nas açõ es de investigaçã o de paternidade ou maternidade. Consoante o artigo retro citado, resta claro o permissivo legal para a realizaçã o do exame pretendido, uma vez que é prova imprescindível para o julgamento do feito. Importante salientar que a prova material que exclui a paternidade do Requerente sobre o Requerido (exame de DNA), só vem concretizar o que já é um fato para os mesmos: A completa ausência de relaçã o afetiva entre, o até entã o pai, e seu filho. Motivo pelo qual requer a liberação de todas as obrigações a que vem se submetendo até o presente e que são inerentes da paternidade; qual seja a de continuar prestando alimentos ao Requerido, que, como será comprovado de forma inquestionável que não é seu descendente. Sendo assim não existe nenhum vínculo que justifique a manutenção das obrigações alimentares Neste sentido, a jurisprudência tem seguido pelo caminho da desconstituiçã o da paternidade, vejamos: APELAÇÃ O CÍVEL. AÇÃ O NEGATÓ RIA DE PATERNIDADE. EXAME DE DNA. AUSÊ NCIA DE AFETIVIDADE ENTRE PAI REGISTRAL E FILHO. ANULAÇÃ O DE REGISTRO DE NASCIMENTO. POSSIBILIDADE, NA HIPÓ TESE. No caso, nã o há razã o para se prestigiar uma paternidade registrada em estado de erro, principalmente quando inexistente paternidade socioafetiva e ausente a paternidade bioló gica, confirmada por exame de DNA. Recurso desprovido. (Apelaçã o Cível Nº 70026016311, Sétima Câ mara Cível, Tribunal de Justiça do RS.) É vá lido também, ressaltar a necessidade da presente demanda para que o direito do Requerido de obter a verdade de sua real filiaçã o seja respeitado por todas as partes envolvidas no caso. O Estado já se posiciona no sentido de que nã o há qualquer benefício para a criança, a manutençã o de uma paternidade apenas jurídica, in verbis: AÇÃ O NEGATORIA DE PATERNIDADE. ANULACAO DE REGISTRO DE NASCIMENTO. PRESUNCAO PATER EST. PRINCIPIO DA VERDADE REAL. PREVALENCIA DA PATERNIDADE BIOLOGICA. Apelaçã o Cível. Direito de Família. Açã o negató ria de paternidade c/c anulaçã o de registro de nascimento. Dois exames de DNA que afastam, em definitivo, a paternidade. Autor que registrou a menor em seu nome, sob o manto da presunçã o “pater est”. Inexiste qualquer benefício para a criança a manutençã o de uma paternidade exclusivamente jurídica, permeada por sentimentos de rejeiçã o, traiçã o e má goa. O autor, embora tenha criado a menor como se fosse sua filha, desde que descobriu a traiçã o, a vê como a materializaçã o do adultério, com todos os sentimentos negativos que a situaçã o envolve. Direito da criança de perseguir a verdade real acerca de sua filiaçã o, através de açã o investigató ria de paternidade. Prevalência da paternidade bioló gica sobre a afetiva. Sentença que se mantém, desprovendo-se o recurso. (TJRJ. APELAÇÃ O CÍVEL – 2007.001.15172. JULGADO EM 21/08/2007. DECIMA SEGUNDA CÂ MARA CIVEL – Unanime. RELATORA: DESEMBARGADORADENISE LEVY TREDLER). Quanto à desconstituiçã o do Registro Pú blico, além de jurídico, o pedido é justo em que pese à necessidade de que os registros pú blicos reflitam a verdade real, como é a do presente caso. Nessa vertente, apó s as diligências e provas, requer ainda a retificaçã o do Registro Pú blico para que este seja compatível com a realidade atual, com a declaraçã o de nulidade do assento de nascimento do Requerido, bem como a exclusã o do nome do Requerente e dos avó s paternos. DOS PEDIDOS Diante dos fatos e fundamentos da presente açã o, seguem os pedidos a ela pertinentes: · Requer a concessã o dos benefícios da Assistência Judiciá ria Gratuita nos termos da Lei n.1060/1950; · Seja deferida a realizaçã o do exame de DNA, a fim de que os resultados possam instruir os autos da açã o proposta, mediante os benefícios concedidos pela justiça gratuita, nos expressos termos do art. 3º, VI da Lei nº 1.060/50; · A intimaçã o do representante do Ministério Pú blico; · A citaçã o do Requerido na pessoa de sua representante legal, para apresentar defesa, sob pena dos efeitos da revelia e confissã o quanto à matéria de fato, e, ao final aguarda a PROCEDÊNCIA da açã o, com a consequente declaraçã o de que o Requerente nã o é o pai bioló gico do Requerido; · A declaraçã o de nulidade do assento de nascimento do Requerido bem como a exclusã o do nome dos avó s paternos; · Condenaçã o do Requerido na pessoa de sua representante legal, no pagamento das custas processuais, verbas honorá rias na forma do artigo 20 do CPC e demais encargos; e · Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, especialmente pelo depoimento pessoal da genitora, provas testemunhais, perícia, juntada de documentos e demais provas que se fizerem necessá rias, e que desde já ficam requeridas. Dá -se a causa o valor de R$ xxxx (xxxx reais). Nestes termos, pede e espera deferimento. … (Município – UF), … (dia) de … (mês) de … (ano). ADVOGADA OAB nº …. – UF