Você está na página 1de 77

lOMoARcPSD|4328694

Resumos-finais-de-Direito-Fiscal

Direito Fiscal (Universidade Catolica Portuguesa)

A StuDocu não é patrocinada ou endossada por nenhuma faculdade ou universidade


Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)
lOMoARcPSD|4328694

Principio garantista: principios de defender os individuos; Tenho de poder antecipar as


consequências de um comportamento em relação aos impostos.
ex: Ao comprar uma casa saber quanto vou pagar de impostos;

Principio da territorialidade: principio que permite estabelecer ou delimitar a à rea


geográfica em que um Estado exercerá a sua soberania. Aplicação das leis fiscais no
espaço: dentro de cada estado, situações que têm relevância entre países
(plurolocalização). Por vezes pode surgir conflitos. Qual dos países tributa o quê?

1. Finalidade dos impostos

O Direito Fiscal integra-se no Direito Financeiro Público, que rege toda a


atividade financeira do Estado. Tem por objeto a atividade financeira do Estado e
demais entes públicos.
Dentro do Direito Financeiro, interessa-nos, em especial, o Direito Tributário,
que tem por objeto a obtenção de receitas públicas, de caráter coativo (impostos) e
unilateral.
Já vimos que, de acordo com o recorte constitucional, temos presente a
existência do princípio do Estado social em conexão com o princípio do Estado fiscal,
através do qual podemos afirmar que o sistema fiscal tem finalidades estritamente
fiscais, mas também extrafiscais. A CRP assume que os impostos servem para obter
receitas e para outros fins.

Podemos, assim, dividir o art. 103.º/1, 1.ª parte CRP em duas partes:
- Fins fiscais (“satisfação das necessidades financeiras do Estado e outras
entidades públicas”): princípio do Estado fiscal;
- Fins extrafiscais (“repartição justa dos rendimentos e da riqueza”): princípio
do Estado social, que visa a correção das desigualdades.

Imposto = tributo unilateral

Tributos Contribuições financeiras

Taxas = tributo bilateral

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

2. Noção de imposto

2.1. Definição

É um conceito tipológico que:

Evolutivo: não é um conceito absoluto e está em permanente construção, porque


não procuramos defini-lo: é constituído pelo Tribunal Constitucional e pela doutrina
(surgindo por vezes dúvidas sobre tributos que verdadeiramente analisados são
impostos)

Descritivo: conceito que se limita a descrever a realidade e é moldado através da


realidade dos impostos que estão em vigor;

Quando queremos saber se uma determinada situação configura o conceito de


imposto, temos de ver se preenche as suas características. Para isso, a doutrina afirma
que se pode dividir em três elementos: objetivo, subjetivo e teleológico (ou finalístico).

O imposto é:
1) Prestação pecuniária
Elemento 2) Prestação definitiva
objetivo
3) Prestação coativa
4) Prestação unilateral
5) incide sobre titulares de manifestação de capacidade contributiva
Elemento
subjetivo 6) estabelecida a favor de entes públicos e privados a quem está atribuido por Lei
o exercicio de funções públicas
7) destinada a realização de fins públicos de caráter geral
Elemento
teleológico 8) sem natureza sancionária

2.2. Características

2.2.1. Elemento objetivo

2.2.1.1. Prestação

Vimos que o imposto é uma prestação que surge inserida numa relação
obrigacional de crédito, estabelecida entre sujeito ativo (credor) e sujeito passivo
(devedor). O dever primário da prestação traduz-se na obrigação de pagamento do
imposto. É também uma relação obrigacional complexa, porque, para além deste dever

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

principal, a lei identifica deveres secundários/laterais/acessórios, funcionalizados como


bem cumprimento do dever de pagamento.

Ex:
- Declaração anual de rendimentos;
- Declaração de comunicação de todos os contratos de compra e venda;
- Declaração de início de atividade.

2.2.1.2. Prestação pecuniária

A prestação pecuniária traduz-se na entrega de determinada quantia


em dinheiro.

Esta característica tem sido objeto de debate doutrinal:

● Alguns autores defendem que se deve usar uma designação mais ampla –
prestação patrimonial, ao invés de prestação pecuniária –, porque se é verdade que em
todas as situações a obrigação de pagamento é em dinheiro, há situações pontuais em
que o cumprimento se realiza através de prestação em espécie (entrega de bens
patrimoniais, suscetíveis de avaliação em dinheiro);

● Casalta Nabais: o único imposto em que a lei impõe a entrega de bens é na


exploração de produtos petrolíferos ou mineiros. Esta realidade não é um imposto, mas
sim uma taxa. Este dever de pagamento extingue-se com o seu cumprimento, mas
existem outras formas de cumprimento do pagamento (ex: obras de arte, imóveis),

propondo ao Estado entregar bens para se considerar extinta a obrigação (dação em


cumprimento). Ora, se as dívidas podem ser pagas por dação em cumprimento, mas
nada altera o seu caráter pecuniário. Por isso, não é preciso um conceito mais amplo de
imposto.
2.2.1.3. Prestação unilateral

A unilateralidade é a mais importante de todas as características. O imposto é


uma prestação inserida numa relação obrigacional, sem contraprestação – não é uma
relação bilateral ou sinalagmática – por não originar o direito a qualquer contraprestação

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

especifica a favor do contribuinte, nem se fundamenta num comportamento do s.p que


dê causa a uma contraprestação. As prestações estão sempre no mesmo sentido
(unilateralidade).
No imposto, o ente público ou privado, a quem esteja atribuído o exercício de
funções públicas, tem o direito de receber uma multiplicidade de prestações e o
contribuinte é obrigado a prestar.

Não dá origem a qualquer contraprestação: é a partir desta característica que


vamos distinguir os impostos das taxas, porque estas são prestações, pecuniárias,
definitivas, coativas, a favor de entes públicos, mas bilaterais (art. 4.º/2 LGT). As taxas
são pagas para se receber e beneficiar dum serviço ou bem público, porque é
individualizado (contraprestação específica).

Ex. de taxas: portagens, propinas, piscinas públicas.

A B
Credor (Direito) Devedor (Obrigação)
Sujeito Ativo Sujeito Passivo

2.2.1.4. Prestação definitiva

É uma prestação que, uma vez realizada nos termos da lei, não origina qualquer
reembolso ou restituição: é definitiva. Isto significa que, sempre que pagamos os
impostos devidos, não podemos ficar à espera que nos seja reembolsado ou restituído.
A verdade é que o IRS implica reembolso, por uma razão: as regras estão
definidas para cobrança, para o Estado se ir financiando ao longo do ano (ideia de
antecipar receitas – através de retenção na fonte ou pagamentos por conta). Todavia,
isto não coloca em causa a definitividade, pois, no caso do IRS, quando o ano civil
encerra, é preciso fazer o acerto das contas, e haverá situações em que o contribuinte

pagou mais do que aquilo que deveria ter pagado, ou o contrário. E é precisamente
quando se verifica que o Estado recebeu mais que há lugar a reembolso.

Com esta característica, distinguimos o imposto do empréstimo público forçado,


em que nos pode surgir uma prestação pecuniária, coativa, a favor de entidades a quem
está atribuído o exercício de funções públicas, para fins públicos, mas não tem caráter

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

definitivo: quando o Estado não tem capacidade para se financiar, impõe aos cidadãos a
indisponibilidade de certos bens (ex: congelamento das contas bancárias sob a forma de
lei e autoridade). Todavia, o empréstimo público forçado não é um imposto, porque,
findo o prazo nele estabelecido, o particular é reembolsado.
Tipico de paises pouco desenvolvidos e/ou autoritários; Os países evitam
recorrer ao empréstimo público forçado.

2.2.1.5. Prestação coativa


É uma prestação que tem por fonte a lei, ou seja, estabelecida por lei. A
obrigação de imposto surge, pois, exclusivamente por força do encontro do facto
tributário ou do pressuposto de facto do imposto com lei, que:

- é a única fonte da obrigação de imposto, imposta aos destinatários (coativa),


sem que a vontade destes concorra com aquela.

- modela a relação de imposto, modela o conteúdo, independentemente


portanto de qualquer manifestação de vontade do contribuinte nesse sentido (art 36º nº 1
e 2 da LGT), na medida em que dispõem que a relção jurídica tributária se constitui com
o facto tributários e os elementos essenciais da mesma não podendo ser alterados por
vontade das partes. É o preenchimento dos requisitos da lei que faz nascer o imposto.

Relação de Imposto
Obrigação (Devedor) / Crédito (Credor)

A relação de imposto caracteriza-se por:

- instransmissibilidade Exceto nos casos e nos termos expressamente


- inegociabilidade previstos na Lei; só a Lei (em sentido formal,
- imodificabilidade produzida pelo Governo mediante utilização
2.2.2. Elemento subjetivo
legislativa) tem conteúdo para modelar a relação de
imposto;

2.2.2.1. Prestação exigida a detentores de capacidade


contributiva

A capacidade contributiva é a manifestação do princípio da igualdade ou da


justiça fiscal (art. 13.º CRP), que se traduz, no direito fiscal, no princípio da capacidade
contributiva: se todos são iguais, todos têm de pagar impostos.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Esta capacidade é critério e pressuposto da tributação: isto significa que o art.


13.º CRP só impõe o pagamento de imposto, se o cidadão tiver capacidade contributiva;
havendo, já existe pressuposto para a tributação. Uma ideia que não deixa de ter agora
clara expressão no art. 4º, nº1 da LGT, que, a título de indicação dos "pressupostos dos
tributos", dispõe: "os impostos assentam essencialmente na capacidade contributiva
revelada, nos termos da lei, através do rendimento ou da sua utilização e do
património".
Impostos têm como pressuposto a capacidade contributiva
têm como critério a capacidade contributiva

Explicação do pressuposto
- só podem ficar obrigados ao pagamento de impostos as pessoas que revelem capacidade
contributiva;
- não se podem exigir pagamentos de impostos c/ base em factos que não revelem
capacidade contributiva;

Ex: impostos que incidem em casais casados há 4 anos e que não têm filhos (incentivar o
aumento da natalidade).
- O fiscalizador não pode incidir em factos que não revelem capacidade contributiva; ter
ou não filhos estando casados não revela capacidade contributiva.
- Só pode incidir sobre bens fiscais; não pode escolher bens não fiscais para incidir;

Obter rendimento é uma forma de capacidade contributiva; Contudo o imposto sobre


rendimento (IRS) não pode incidir sobre a parcela de rendimento que se destina ao
mínimo que é considerado essencial para viver = necessidades básicas.

Não revela capacidade contributiva

Logo tem aplicado:


- Príncipio exclusão de tributação do domínio existencial: o imposto não pode tributar
o min. essencial para as necessidades básicas
- Principio de proibição do confisco: o imposto não pode traduzir-se numa apropriação
excessiva de bens/património e rendimento de uma pessoa; Caso contrário já se considera
confisco (apropriação ilegitima de bens/património de outra pessoas).
Explicação do critério
Príncipio da igualdade em matéria fiscal: Têm de pagar o mesmo imposto aqueles que
têm a mesma capacidade contributiva;
Quem não pode (rendimento baixo) não paga; e quem pode o mesmo, paga o mesmo.

A B
20 000€ 20 000€
Solteiro, saudável e sem filhos Solteiro e com 2 filhos menores =
despesas de educação e saúde.

O sujeito B tem menor disponibidade financeira em relação a A.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

2 sujeitos passivos que recebem o mesmo rendimento, mas têm situações de vida
diferentes, logo têm diferentes capacidades contributivas.
A - tributado pelos 20 000€
B- tributado por 10 000€/15 000€

Nota:
Em Portugal pessoas não residentes que obtenham rendimento em Portugal são tributados
de igual forma, mesmo em pessoas com diferentes situações ou com outros rendimentos.
Só têm em conta o rendimento e não as pessoas, pois estas não moram no nosso país e não
têm ligação c/ o Estado português; Logo não se tem em conta a capacidade contributiva;
Mesmo pessoas c/ diferentes rendimentos (1º - 20 000€ e 2º - 10 000€) a taxa aplicável é a
mesma, logo não se usa escalões.

2.2.2.2. Prestação estabelecida a favor de entidades a quem está


atribuído o exercício de funções públicas de carácter geral

Do lado ativo, o imposto é estabelecido a favor de:


● Entidades públicas que exercem funções públicas;
● Ou a entes privados a quem está atribuído o exercício de funções públicas (ex:
as portagens que pagamos são pagas a entes privados).

Pretende-se por um lado, não limitar a titularidade ativa dos impostos exclusivamente às
pessoas coletivas públicas, admitindo-se assim a hipótese de impostos exigíveis também a
favor de pessoas privadas que exerçam funções públicas. O que ocorrerá por exemplo, das
empresas concessionárias de obras públicas, serviços públicos ou bens do domínio
público, na medida em que a lei lhe confira a qualidade de titulares de ativos de relações
jurídicas fiscais.

s.a = titularidade ativa do imposto: o sujeito ativo pode ser público ou privado.

Titularidade ativa em diferentes formas

Aqui, o critério é o da determinação do sujeito ativo. Sob o ponto de vista da


titularidade ativa do sujeito, a doutrina identifica quatro formas que aquela pode
assumir:

● Titularidade do poder tributário (poder normativo): poder para criar impostos


e alterar os seus elementos fundamentais. De acordo com o princípio da legalidade na
sua vertente formal (art. 165.º/1, i) CRP), a CRP permite que o legislador ordinário
atribua competência às autarquias locais. Ou seja, a lei reparte o

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

poder tributário pelas autarquias locais, que podem determinar um imposto num
determinado intervalo de tempo, consoante o prédio em causa e as receitas daquela. O
poder normativo cabe ao Estado, mas existem estas exceções.

Exs.: a taxa do IMT pode ser fixada pela autarquia local; a derrama
municipal é considerada um imposto cuja titularidade pertence aos
municípios (arts. 14.º/b) e 18.º da Lei n.º 73/2013, de 3 de setembro – Lei
das Finanças das Autarquias Locais).

Capacidade tributária ativa (qualidade de sujeito ativo ou credor na relação de


imposto/tributária): o direito do Estado é um direito de crédito, logo tem capacidade para
demandar em tribunal as situações em que o imposto não é pago. Muitas vezes, a receita é
destinada integralmente a institutos públicos, a autarquias locais, a entidades de regulação,
mas quem surge como credor do imposto é o Estado.

Exs.: o IMI é um imposto da titularidade da autarquia local, mas o Estado


é quem lança, liquida e cobra este imposto. O mesmo se pode dizer, p.
ex., do IMT.

● Competência tributária (gerir / administrar o imposto, realizar as tarefas de


lançamento, de liquidação e de cobrança do imposto): quem lança, liquida e cobra o
imposto é o Estado."Dar vida aos impostso". Isto determina que todos os impostos
sejam estaduais, mesmo os impostos regionais ou os impostos municipais.
Exs.: IMI, IMT, ou até mesmo a derrama municipal (cfr. art. 18.º, 15 e 16
da Lei n.º 73/2013, de 3 de Setembro

● Titularidade da receita do imposto: muitas vezes, a receita reverte a favor de


autarquias locais e de institutos públicos.

Ex: o IRS é estadual em todas as vertentes (1.ª, 2.ª, 3.ª e 4.ª


características). Mas, por vezes, existem divergências; quando tal
acontecer, devemos dizer que o imposto é estadual do ponto de vista das
Sujeito
ativo é 2.ª e 3.ª vertentes, mas não é estadual do ponto de vista das 1.ª e 4.ª
municipal
vertentes. Nestes casos o titular da receita do imposto é o Município.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Em suma, do ponto de vista da titularidade ativa do imposto (aferido, via de regra, pela
capacidade tributaria ativa), os impostos podem ser estaduais ou não estaduais,
consoante o seu titular ativo seja o Estado, ou outros entes públicos territoriais como as
regiões autónomas (impostos regionais) e as autarquias locais (impostos locais –
municipais), ou entes públicos não territoriais (impostos parafiscais, aos quais são
reconduzidas as contribuições para a segurança social, atualmente constituída pela “taxa
social única”, as “taxas para os organismos de coordenação económica”, presentemente
substituídas pelas taxas para as entidades de regulação e supervisão, e as quotas ou
quotizações para as associações públicas (que Casalta Nabais entende, nos dois
primeiros casos, tratar-se de verdadeiros impostos e, no último caso, serem impostos
especiais – “impostos associativos”).

2.2.3. Elemento teleológico ou finalístico – Prestação destinada à


realização de fins públicos (sem caráter sancionatório)

Está em causa a finalidade do imposto, destinado à realização de fins públicos, sem caráter
sancionatório. Só estamos perante um imposto quando a finalidade do imposto é: fins
públicos de caráter geral (realizar fins públicos para a comunidade geral). Se isto não se
cumprir ou não é um imposto ou estamos perante um imposto especial (quota de
advogados).
O que significa que o imposto pode ter por finalidade não apenas a finalidade financeira
ou fiscal, mas também outras, excluída a função sancionária.
Na verdade, se com o imposto se pretende aplicar uma sanção, então estaremos perante
uma multa, uma coima, um confisco, uma indeminização, mas nunca perante um imposto.
Duas notas importantes:

■ Quanto à realização de fins públicos de caráter geral:

● De acordo com a construção jurisprudencial, o TC, no seu Acórdão n.º


497/89, relativo aos tributos associativos, em especial às quotas para as ordens
profissionais, acolhido pela doutrina, mas não quanto a aspetos específicos,
afirma que, para estarmos perante um imposto no sentido jurídico-constitucional
(tributo sujeito a toda a proteção da CRP, nomeadamente ao princípio da

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

legalidade), deve obedecer-se ao critério da capacidade contributiva, ao modo


como o legislador legisla sobre aspetos essenciais;

● A AR tem competência relativa sobre esta matéria, determinando, o


mais possível, estes aspetos essenciais. Isto pressupõe uma determinada
conceção de imposto. Por isso, é preciso que o tributo seja destinado à realização
de fins públicos com caráter geral (comuns a toda a comunidade). Isto significa
que podemos ter tributos que poderiam ser unilaterais, mas que não estão afinal
sujeitos a todas as exigências da CRP;

● Naquele acórdão, discutiu-se o aumento significativo das quotas,


decidido pelo Conselho Geral da Ordem dos Advogados (“OA”). Houve um
advogado que veio, mais tarde, a ser Bastonário da Ordem dos Advogados, e
disse que o aumento se traduziu num imposto, porque as quotas pagas à OA
eram tributos unilaterais;

● O TC analisou a questão e afirmou que, de facto, as quotas são uma


figura que preenche todos os elementos de teleologia. Com efeito, do ponto de
vista da teleologia, o seu caráter é específico e não geral – para determinada
classe profissional. Por isso, o aumento das quotas não tem de ser da
competência da AR, mas sim do Conselho Geral da OA. Logo, o TC entendeu
que as quotas não são impostos, devido à falta de caráter geral, tendo sido bem
decidido o aumento das quotas;

● O TC tomou esta posição, salvaguardando o seguinte: quando falamos


do princípio da legalidade fiscal (na sua vertente formal, que se traduz na reserva
relativa da competência legislativa da AR em matéria de criação de impostos –
art. 165.º/1, al.- i) CRP), não se pode entender que a AR viola este princípio,
quando esta legisla sobre o imposto. Em regra, esta competência relativa da AR
é exercida pelo Governo, com autorização daquela: o fundamento do princípio
da legalidade é o da autotributação. Logo, para que possam ser criados impostos,
nós o povo, nós a vontade geral que os iremos pagar, temos que aceitar que nós
próprios a autotributamos;

10

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

● Assim, a matéria do imposto é reservada ao órgão, no qual, nós o povo,


estamos representados, ou seja, na AR. Portanto, o órgão competente da
soberania, que assegura a legalidade do imposto, tem de ser ouvido (no taxation
without representation). O TC responde assim no seu acórdão: o princípio da
autotributação traduz a ideia segundo a qual não pode haver cobrança de
impostos sem que aqueles que os vão pagar tenham sido ouvidos;

● Quando o TC diz que se trata de um tributo bilateral, não há


necessidade de ser a AR a legislar sobre a matéria (por não estar sujeito à reserva
da AR), porque é de caráter específico (estão em causa fins públicos
específicos). Logo, desde que seja um órgão representativo de categoria de
pessoas (de classe profissional), já está assegurado o princípio da legalidade
fiscal (o princípio da autotributação), não há, portanto, violação deste princípio,
embora não seja a AR a legislar sobre a matéria;

● Temos, então, um tributo que preenche todas as características; no


entanto, não está sujeito ao art. 165.º/1, al. i) CRP, porque o tributo não é
destinado a fins públicos de caráter geral, logo não é um imposto para efeitos
jurídico-constitucionais. Assim, decidiu o TC que as quotas não são um
verdadeiro imposto, mas sim um tributo com quase todas as características de
um imposto, logo não são inconstitucionais, visto que não tem de ser a AR a
legislar, desde que se respeite o princípio da autotributação – no caso, foi
respeitado, pois foi o Conselho Geral a criar as quotas, ou seja, um órgão
representativo dos advogados;

● Casalta Nabais é da opinião que não era preciso ir tão longe e que o
que o TC quis dizer é que estamos perante um imposto com características
específicas que se traduzem na aplicação do art. 165.º/1, al. i) CRP, em termos
restritos ;

● Em termos finais, o resultado é o mesmo, mas com contornos


diferentes.

■ no elemento teleológico, podemos distinguir:

11

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

● Verdadeiros impostos/impostos fiscais: servem, essencialmente, para


obter receitas, que permitem aos entes públicos a realização de fins públicos,
com caráter geral;

● No entanto, existem impostos que assumem como função essencial,


uma função não fiscal, que são basicamente instrumentos de
organização/orientação social, económica e política, que servem interesses
diferentes, cuja finalidade não é a obtenção de receitas. São os falsos
impostos/impostos extrafiscais, porque não pretendem obter receitas. Um
imposto que visa reduzir o consumo do tabaco ou proteger o ambiente, é um
imposto que não é guiado pelo objetivo de obter receitas, está sim pensado para
orientar determinados comportamentos dos indivíduos, e, se for eficiente, pode
permitir a obtenção de receitas. Se a receita for menor, significa que o imposto
está a funcionar melhor.

No sistema anglo-saxónico, são chamados impostos


destrutivos/sufocantes/suicidas, porque a doutrina chama à
atenção para isto: as normas constitucionais que protegem os
impostos devem apenas valer para os impostos fiscais, pois são os
que podem prejudicar os cidadãos – os impostos extrafiscais não
estão sujeitos aos mesmos princípios constitucionais. Nos falsos
impostos, o critério nunca poderia ser o da capacidade
contributiva; atende-se, sim, à proporcionalidade, isto é, quem
consome mais, tem de pagar mais, independentemente da sua
capacidade contributiva.

3. Figuras tributárias afins

3.1. Taxa

Classificação tripartida dos tributos (arts. 3.º/2 e 4.º/1, 2 e 3 LGT):


- Impostos;
- Taxas;

12

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

- Contribuições financeiras.

Casalta Nabais entende que a grande divisão dos tributos é


dicotómica/bipartida, ou seja, entre impostos e taxas: para efeitos constitucionais, os
impostos são unilaterais, sujeitos ao princípio da legalidade, enquanto as taxas
bilaterais, estão sujeitas a um outro regime. Já as contribuições financeiras estão a meio
caminho entre o imposto e a taxa: não são unilaterais, nem bilaterais.
Mas o TC é da opinião que não há meio caminho (adotando, por isso, uma
perspectiva dicotómica ou bipartida dos tributos, com base no disposto no art. 165.º/1, i)
CRP): se as contribuições financeiras não são bilaterais, estão sujeitas ao princípio da
legalidade, tendo vindo a mudar de posição, com fundamento no art. 4.º/3 LGT, onde
está previsto que as contribuições especiais são consideradas impostos.

Numa primeira aproximação, a taxa é, então, uma contraprestação paga ao


Estado ou a outro ente público (ou a um ente privado exercendo funções ou tarefas
públicas) pelos particulares em contrapartida de bens ou serviços especificamente
prestados por esses entes públicos (carácter bilateral), cujo valor se encontre numa
relação de proporcionalidade ou equivalência com os custos e os benefícios criados.
Para estarmos perante uma taxa estes 2 pontos têm de existir: Contraprestação e
principio proporcionalidade ou equivalencia na relação;

Para se considerar um tributo uma taxa, é necessário cumprirem-se 2 testes de


forma sucessiva e cumulativa:
- Bilateralidade em sentido estrito: ao pagamento da taxa (prest. pecuniária) corresponde
uma contraprestação específica.

- Fixação do quantitativo da taxa: Príncipio da proporcionalidade ou equivalência - tem


de existir proporcionalidade entre prestação e contraprestação.

Questão: existe voluntariedade no pagamento de uma taxa?

Não, porque existem taxas obrigatórias, mesmo que não as queiramos pagar. Ex:
a taxa de justiça é uma taxa aplicada, sempre que se recorre ao tribunal e é devida, quer
proponha uma ação (na qualidade de autor), quer não a proponha (aqui, enquanto réu),
uma vez que vou usufruir dos serviços judiciais.

13

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Logo, ao pagamento de uma taxa corresponde uma contraprestação específica,


que pode consistir (art. 4.º/2 LGT e o RGTAL, art 3º):
● Na prestação de um bem ou serviço público;
● Na utilização de um bem do domínio público;
● Na remoção de um limite jurídico à atividade do particular.

3.1.1. Prestação de um bem ou serviço público

Estão aqui em causa as chamadas taxas burocráticas, que visam satisfazer


necessidades coletivas, isto é, da coletividade.
Ex: taxas cobradas para a obtenção de serviços consulares (cartão de cidadão e
passaporte), ou por serviços de notariado, de registo civil, predial e comercial
(emolumentos) ou ainda de justiça (taxa de justiça).

Devemos distinguir dois tipos de situações:


1º) bens ou serviços tecnicamente públicos (bens ou serviços públicos
propriamente ditos) ou bens ou serviços tecnicamente semipúblicos (ou mistos).
2º) bens ou serviços financeiramente público ou semi-público

3.1.1.1. Bens ou serviços tecnicamente públicos

Estes visam satisfazer necessidades coletivas, mas a sua satisfação é


proporcionada em termos coletivos/gerais. Estes bens limitam-se, portanto, a satisfazer
necessidades coletivas.

O bem integridade das fronteiras do território (defesa nacional) um bem, cuja


satisfação ocorre na medida em que sabemos que existe um conjunto de pessoas que irá
garantir a integridade. A satisfação deste bem público realiza-se em termos coletivos,
pois todos usufruem dele: é um bem tecnicamente público.

Ex: Defesa nacional, Iluminação pública, existência de hospitais e universidades

3.1.1.2. Bens ou serviços tecnicamente semipúblicos

14

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Estes visam satisfazer necessidades coletivas, mas de forma individual ou


individualizada. Ou seja, satisfazem, simultaneamente, duas ordens de necessidade
(coletivas públicas e necessidades privadas).

O bem ensino é um bem público em sentido amplo (todos têm necessidade que
este serviço seja promovido); é um bem que pode ser proporcionado em termos
coletivos ou individualizado. Todavia, se eu quiser estudar, essa necessidade ser-me-á
satisfeita de forma individual. É sabido que nem todos os candidatos podem frequentar
o curso de Contabilidade ou de Direito, pois existe um determinado número de vagas no
ensino superior (princípio da exclusão, exclusividade e rivalidade). Por esta razão, este
bem não é totalmente público, mas sim tecnicamente semipúblico, uma vez que só
alguns podem usufruir dele. Consequentemente, apenas em relação a estes bens podem
ser exigidas taxas, através de propinas.
O mesmo acontece com a piscina municipal ou com a administração da justiça
(taxa de justiça)
Ex: Utilizar hospitais, piscinas, universidades.

3.1.1.3 Bens ou serviços financeiramente público/


semipúblicos

Público: satisfaz as necessidades de modo gratuito


Semi-público: satisfaz necessidades de modo oneroso

Só podem ser cobrados taxas em relação a este tipo de financiamento!

bens semi-públicos
Taxas são aplicadas em
financiamento semi-públicos
3.1.2. Utilização de um bem do domínio público

Exemplos:
- Portagens na autoestrada;
- Propinas no ensino público;
- Acostagem de navios;
- Taxas aeroportuárias;
- Quiosques;
- Publicidade nas paragens de autocarro.

3.1.3. Remoção de um limite jurídico à atividade do particular

15

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Estão aqui em causa as licenças, isto é, sempre que o particular necessite de


obter uma licença para exercer determinada atividade, o ente público concede uma
autorização (ato administrativo), através da qual afasta o obstáculo/limite jurídico.

O tema da remoção de um limite jurídico à atividade do particular tem sido alvo


de discussão.
Teixeira Ribeiro diz que, nestes casos, a contraprestação específica não pode
ser identificada na licença. Para sabermos se estamos perante uma taxa, temos de
perceber se este limite ou obstáculo é real ou artificial, porque, muitas vezes, são
impostos limites à atividade do particular, com a finalidade única de obter uma receita.
Quando os entes públicos precisam de obter receitas, têm a tentação de criar taxas,
impondo um limite à atividade jurídica do particular. Para isso, emitem licenças fiscais,
com o objetivo de obter receitas.

Caso de bilateralidade:
A Câmara Municipal de Guimarães criou uma taxa de publicidade, através de
um regulamento, adotando um limite à atividade do particular: todo o particular que
quisesse afixar publicidade em veículos de transporte tinha de obter um licenciamento
(acórdão do TC n.º 558/98 – publicidade em veículos – Guimarães). Nas outras
autarquias, essa taxa dizia respeito aos edifícios, ainda que a publicidade não ocupasse
algum volume no espaço público (acórdão do TC n.º 63/99 – publicidade em edifícios
– Lisboa).
Perante isto, o TC decidiu perguntar qual o limite jurídico, ou seja, quais as
razões que justificam impor um limite jurídico à atividade do particular. Até existiam
razões de interesse público, mas a atividade do ente público deve estar conexa com as
mesmas razões que o limite imposto ao particular. Verificou-se, neste caso, que o ente
público apenas concedia as licenças, mas mais nada fazia. Ora, quando se verificou que
as autarquias de Guimarães e de Lisboa não desenvolviam a atividade relacionada com
a dos particulares e que cobrava a taxa a todos que requeriam uma licença, o TC
afirmou existir um limite criado artificialmente para obter uma receita. Se é assim, isto
não é uma taxa, mas sim um verdadeiro imposto (pedia-se 200 licenças e eram emitidas
200 licenças).

16

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Temos de:
 Verificar se o limite existente é real:
- Há razões que justificam a sua existência;
- A atividade ( que verifica e fiscaliza se estão reunidas as condições para que o limite seja
removido) de remoção do obstáculo jurídico = emissão de licença.

 Razões para a licença:


- Razão do tipo estético (ordenamento estético)
- Razão de segurança ( afixação adequada dos outdoors)

Em resposta ao acórdão do TC n.º 558/98, estas autarquias rapidamente se


organizaram e criaram um serviço para desenvolver a atividade de verificação da do
particular. Para além disto, também criaram uma taxa pela renovação anual da licença.
Perante isto, o TC teve de intervir mais uma vez, porque, se inicialmente existia
uma prestação de serviços por parte da autarquia, não se percebia agora qual era a
prestação que a autarquia prestava na renovação. Surge, então, o acórdão do TC n.º
177/2010 (renovação de licenças), onde o tribunal inverte a sua posição e torna-se mais
sensível às situações concretas, à necessidade de obtenção de receitas. Assim, tendo
sido chamado a apreciar a questão da renovação de licença de publicidade, o TC
declarou que a remoção do limite à atividade do particular é, por si só, uma atividade
que justifica a cobrança de uma taxa ( não se pode exigir uma atividade de verificação,
senão passava a ser uma prestação de serviços); se o limite é real ou artificial não
interessa, porque qualquer publicidade afixada por um particular num edifício privado
ou num veículo traduz sempre a utilização do espaço público.
Deste este acórdão, o TC tem vindo a decidir sempre no mesmo sentido. Ou
seja: podem ser cobradas taxas e a contraprestação não tem de ser um bem ou um
serviço, mas pode ser a simples utilização do espaço público.

É importante percebermos que a distinção entre imposto e taxa é fundamental,


porque só os impostos estão sujeitos a um regime constitucional. Em termos de regime,
o do primeiro – imposto – está sujeito ao princípio da legalidade fiscal (art. 165.º/1, i)

17

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

CRP), enquanto o da segunda – taxa – é reservada à AR apenas a definição do seu


regime geral.
Outro parâmetro de distinção é a própria concretização do princípio da
igualdade: traduz-se, no imposto, no princípio da capacidade contributiva (pressuposto
e critério de tributação); no plano das taxas, o princípio da igualdade tem tradução
específica no princípio da proporcionalidade ou da equivalência, porque a relação entre
o particular e o ente público é bilateral.
E isto leva Casalta Nabais a afirmar que, para estarmos perante uma taxa, não
basta que haja bilateralidade; exige-se que esteja também cumprido o princípio da
proporcionalidade. Logo, um tributo se considerado taxa, tem de passar por dois testes:
● Bilateralidade: identificação da contraprestação específica;
● Proporcionalidade ou equivalência: medida da fixação do quantitativo do
imposto.

Caso de proporcionalidade ou equivalência:

A primeira vez que o TC foi chamado a pronunciar-se sobre este princípio da


proporcionalidade foi a propósito de um grande aumento das portagens da Ponto 25 de
abril. Nos anos 90, a Ponte só permitia o trânsito rodoviário. Mas, dois anos antes,
surgiram os projetos a proibir o trânsito ferroviário, tendo sido construída a Ponte Vasco
da Gama. Em consequência disto, as taxas da Ponte 25 de abril foram aumentadas em
500 %. É no acórdão do TC n.º 640/95 que se referiu este princípio, para distinguir o
imposto da taxa. Para que um tributo passe naqueles dois testes, não pode haver uma
manifesta desproporção entre o que se paga e o que se recebe, o que implica aplicar a
proibição do excesso, pois é uma equivalência jurídica (e não económica). Portanto,
temos de verificar se há proporcionalidade entre a prestação e a contraprestação.
O TC parte do caso, diz que só há excesso se não existir contraprestação
específica. Logo, acaba por dizer que só não estará cumprido o princípio da
proporcionalidade se houver uma manifesta desproporcionalidade – acaba por reduzir o
segundo pressuposto ao primeiro.

O acórdão do TC n.º 471/2007 (custas judiciais) fixa os critérios de pagamento


das taxas de justiça, em que o valor da ação era de sete milhões de euros e as custas
eram fixadas em relação àquele valor. Houve a necessidade de refletir sobre a
constitucionalidade da norma, cujas taxas de justiça eram elevadas só porque o valor da

18

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

ação também o era. Neste caso, embora o tribunal tivesse entendido não ter capacidade
para analisar a proporcionalidade económica, acabou por perceber que existia
desproporcionalidade: e quase aplicou o princípio da equivalência em sentido
económico (contrariamente àquilo que havia feito no acórdão n.º 640/95). O que há de
novo aqui é a possibilidade de o princípio da equivalência ser perspetivado sob o ponto
de vista económico.
Foi publicado, em 2006, o Regime Geral das Taxas das Autarquias Locais
(RGTAL), aprovado pela Lei n.º 53-E/2006, de 29 de dezembro, que já sofreu algumas
alterações legislativas. Entende-se que nele estão contidos os princípios fundamentais
da cobrança das taxas.
O art. 4.º, cuja epígrafe é o «princípio da equivalência jurídica», estabelece, no
seu n.º 1, que o valor das taxas das autarquias é fixado de acordo com o princípio da
proporcionalidade e não deve ultrapassar o custo da atividade pública ou o benefício
auferido pelo particular. O art. 8.º/2, c) obriga as autarquias a apresentar uma
fundamentação económico-financeira para fixação da taxa, sob pena de nulidade.

Logo, este princípio da equivalência é denominado, no art. 4.º RGTAL, por


equivalência jurídica, quando é, na realidade, um princípio de equivalência económica,
no art. 8.º RGTAL.

Limite máximo entre o custo de pretação bem/serviço da atividade em causa e o


beneficio proporcionado ao particular (Finalidade). Limite máximo que a taxa pode exigir
e a proporconalidade dependa da relação deste 2 pontos:

repartir o custo do bem/serviço pelos


utentes; ex: propinas univ. públicas
Parámetro de proporcionalidade RGTAL art4º e 8º
limitar a procura do bem/serviço em
causa; ex: taxa de justiça (custas)

Exemplo: Taxa em Lisboa que era inconstitucional durante 2 anos, e na verade não era
taxa. Na verdade era um imposto e não era conforme a Constituição
inconstitucional
Taxa de proteção civil criada com objetivo de fazer formação na área civil e preventiva;
taxa que incidia sobre os imóveis e tinha de ser paga pelos proprietários (0.25% sobre o
valor do património do imóvel).
Esta taxa tinha outro nome há 10 anos e o tribunal const. não tomou a posição de
insconstitucionalidade à data.

Nota:
A taxa não pode ter um preço que permita ao particular ou ao Estado ter lucro obter
proveito(receitas) sem justificação;

19

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Qual o critério para descobrir o valor da taxa?

custo = 100€
beneficio =1000€

1) O custo é 1º parametro a ter em conta para saber qual o preço da taxa;


Só depois vamos para o beneficio quando é dificil apurar através dos custos;

2) menor valor dos 2 parâmetros;

3) maior valor dos 2 parâmetros;

3.2. Contribuições especiais e financeiras modernas

Contribuições especiais de melhoria


tradicionais ou clássicas
Contribuição Art 4º nº 3, LGT
Financeira "consideram-se impostos" pelo maior desgaste ou maior
despesa

Contribuições financeiras modernas (de nova geração)


"TAXAS" de regulação e supervisão
ex: entidade reguladora de saúde, da imprensa; serve para pagar a
entidade que regula o setor;

Em rigor, este tributo deve ser tratado como um imposto, embora não seja
radicalmente unilateral, nem perfeitamente bilateral. Não é possível identificar uma
contraprestação especifica.

No nosso sistema tributário atual, encontramos dois tipos de contribuições entre


a figura dos impostos e a figura das taxas:

■ Contribuições especiais (na linha dos tributos unilaterais – art. 4.º/3 LGT):

● De melhoria: o particular é indireta e reflexamente beneficiado por


uma atividade desenvolvida por um ente público. Estes benefícios
produzem-se na esfera de um grupo homogéneo de particulares (Grupo=
grupo de pessoas que beneficia reflexamente da atividade pública). O
tributo não é radicalmente unilateral (conjunto de particulares), mas tem

20

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

compensações na esfera jurídica do particular (mas não é bilateral), muito


embora não procure beneficiá-lo. Por isso, é um imposto.

Ex: encargo de mais-valia: quando o ente público decide


construir uma ponte ou uma estrada, há prédios rústicos, cujo
valor aumenta em resultado dessas infraestruturas, sob o ponto de
vista objetivo: deve pagar-se uma contribuição especial, pelo
facto de uma casa passar a valer mais 50.000 €, em consequência
daquelas infraestruturas. O proprietário até pode ter vendido a
casa como uma diminuição, por ter perdido a tranquilidade, mas,
objetivamente, o prédio aumentou de valor.

Ex: Parque da cidade do Porto


Sempre que de uma obra pública surgem vantagens para
particulares, a taxa tem como objetivo compensar as vantagens que
os particulares c/ imóveis nessa zona obtiveram com esta obra;
Nestas situações as autarquias criaram este tipo de tributo mas
pediram à AR (Assembleia da Républica) para reconhecer a
legalidade deste tributo.
A taxa compensa o investimento; não é uma contraprestação
específica, é quase como um imposto; Mas neste caso não chega a
ser imposto porque sabemos porque estamos a pagar e para quê; ao
contrário do imposto.

● Pelo maior desgaste ou maior despesa: a atividade do particular, sem


implicar um custo, provoca um especial desgaste que tem de ser
compensado, através de uma contribuição especial.

Ex: encargo de compensação por parqueamento deficitário:


muitas vezes, os promotores imobiliários têm de respeitar uma
volumetria para habitação e para parqueamento. Sempre que, num
determinado local, é concedida uma licença para construção do
imóvel que vai implicar uma compensação, impõe-se que, para

21

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

cada área de habitação (100 m 2), tem de ser construída um


correspondente de estacionamento (20 m2).
por cada 100 m2 de edificado de habitação 1 lugar de garagem
por cada 100m2 de edificado de serviços/comércio 3/5
lugares de garagem
Se não for respeitada esta relação e o que não estiver construído
em parqueamento provocar um maior desgaste (ou sobrecarga)
será lançada, nestes casos, uma compensação por parqueamento
deficitário. O TC foi chamado a pronunciar-se sobre esta situação
e afirmou tratar-se de um imposto = regime especial, não
podendo, portanto, ser as autarquias locais a regular isto, mas sim
a lei (acórdão do TC n.º 582/99).

■ Contribuições financeiras em sentido estrito (na linha dos tributos bilaterais):


a favor das entidades de regulação e supervisão, visam financiar entidades de
regulação e de supervisão, que tendem a garantir o correto financiamento dos
serviços. Discutiu-se se o seu regime deveria ser o dos impostos: a maioria da
doutrina e da jurisprudência entende que estas contribuições devem seguir o
regime das taxas, porque são dirigidas a um grupo homogéneo, cuja atividade é a
própria atividade do grupo alvo de regulação e de supervisão.

Ex: o TC defendeu esta posição em relação à ERC, porque há um


enquadramento genérico, sempre que uma entidade de supervisão é
criada por lei, sendo esta a fixar a base de incidência de contribuição
(acórdão do TC n.º 365/2008). Não temos aqui uma contribuição de
melhoria, nem de maior desgaste, portanto, pode seguir um regime
diferente, com o fundamento do art. 165.º/1, i) CRP, que pode ser
dividido em duas partes:

- 1.ª parte: imposto;


- 2.ª parte: regime geral das taxas e demais contribuições
financeiras estabelecidas a favor do ente público.

22

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Desta norma resulta que as taxas estão relacionadas com as


contribuições financeiras.
Incidência sobre o volume de negócios das empresas que atuam no mercado sob.
regulação: 0.25% x volume de negócios

TC 2008 = Acordão ERC (entidade reguladora comunicação social): não são propriamente
taxas nem impostos. O Estado ao criar as entidades de regulação e supervisão dá lhes
autonomia para criar taxas até um máximo.
Num novo acordão definiram que estas não têm liberdade para escolher a % a pagar e de
alterar a fórmula .

Contribuições modernas "Taxas", que na verdade não são verdadeiras taxas


ou de nova geração

Quem tem poder para criar as contribuições especiais?


Segundo Casalta Nobais e Sérgio Vasques:
Assembleia Républica ou o Governo
Qualquer um deles pode legislar e
Lei Decreto Lei Simples concorrem entre si nestas matérias
Diferente de taxas ( pode ser criada por institutos, autarquias, freguesias)
Igual aos impostso ( só pode ser criado pela AR) ou Governo (DL)

Qual deve ser o critério para a fixação do quantitativo?


- Principio da proporcionalidade ou equivalência (taxa) principio que atualmente
parece ser mais usual;
- Principio da capacidade contributiva (imposto)

Não é muito razoável usar o 2º principio porque à partida não é por ter um maior volume
de negócios que tem maior capac. contributiva porque não sabemos os custos da empresa.

Ao olhar para a fórmula parece-nos uma típica de impostos (% do valor do lucro IRC; %
do valoatrimonial IMI): 0.25 x volume de negócios

23

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

uma empresa com maior volume de negócios gera maior regulação


e supervisão que uma empresa com menor volume de negócios; daí a a aceitação de uma
% consoante volume de negócios;
Diferença entre contribuições especiais e contribuições modernas
As contribuições especiais retira a vantagem de operar no mercado nas condições
estebelecidas por Lei;
A dúvida que tem surgido é se as contribuições modernas devem seguir o mesmo regime
de contribuições especiais ou aproximar-se mais dos impostos;

CRP =165º nº1 i)


Reserva relativa de competência legeslativa:
- criação de impostos e sistema fiscal ( e alteração de elementos especiais)
- definição do regime geral das taxas e de mais contribuições financeiras estebelecidas a
favor de entes públicos;

RGTAL ( lei onde diz em que silêncio do legilador; Ainda tem de


condições podem ser criadas as ser criado um reg. geral de
taxas); contribuições financeiras
As taxas podem ser criadas pelos
p.p entes públicos que os cobram -
Bilateralidade

4. Clasificação dos impostos


4.1. Impostos reais e impostos pessoais

Nos impostos pessoais a matéria coletável é subjetivada, porque aqueles


tributam tendo em consideração o volume da matéria coletável e a situação pessoal e
familiar do contribuinte, designadamente as despesas e encargos pessoais e familiares
que o contribuinte tem obrigatoriamente que suportar (ex.: IRS). Diefernciam as
pessoas.

Nos impostos reais, a matéria coletável é objetivada, porque estes tributam


considerando indiferente a situação pessoal e familiar do contribuinte (não atribuem
relevância); o que releva é, exclusivamente, o volume da matéria coletável (ex: IMI).

24

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

A B
20 000€ 20 000€
Solteiro, saudável e sem filhos Solteiro e com 2 filhos menores =
despesas de educação e saúde.

O individuo B tem despesas de educação e saúde, sendo estas socialmente relevantes que
diminuem a disponibilidade contributiva;
Se o imposto fosse real é irrelevante se A e B têm ou não filhos; Só interessa a
demonstração da capacidade contributiva; o imposto é "cego"; tributam segundo a
capacidade contributiva mas objetivada.
Se o imposto é pessoal, há diferenças entre as pessoas; tributa em função da situação
pessoal e familiar do s.p. Neste caso a capacidade contributiva é vista de forma
total/efetiva.

NOTA:
O IRS é um imposto pessoal nos s.p residentes em Portugal;
O IRS é um imposto real nos s.p não residentes em Portugal;

Contudo os residentes podem ser tributados c/ base num imposto real:


- obter apenas rendimentos de capital;
- obter apenas rendimentos prediais; OPCIONAL: se compensar em vez de
- obter apenas rendimentos MV imobiliários
conglomerar

Elementos de pessoalização (personalização)| Carcateristicas típicas dos impostos i.


pessoais

Os impostos pessoais apresentam características ou elementos de pessoalização,


que se tornam mais evidentes ao nível da tributação (IRS):

● Incidência sobre a totalidade do rendimento global de base mundial ( world


wide income principle): quando um Estado quer tributar um contribuinte, se esse
imposto for pessoal, o ponto de partida para que a pessoalização possa operar é a
totalidade do rendimento, independentemente de onde é gerado, indo contra o principio
da territorialidade). Qualquer imposto é tributado a quem tiver capacidade contributiva,
que é aferida em função da totalidade do rendimento do contribuinte.

Ex: o IRS é dirigido ao nível da sua incidência pessoal, tributa as pessoas


singulares e distingue os residentes dos não residentes. Para Portugal, o

25

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

elemento de conexão relevante para estabelecer a tributação é o da


residência ou da não residência:

○ Quanto aos residentes (13º remeter para º 16º), o imposto


incide sobre a totalidade do rendimento (imposto pessoal): uma
pessoa que resida em Portugal vai ser tributada em Portugal quer
obtenha rendimentos em Portugal ou fora (art. 15.º/1 CIRS);
○ Relativamente aos não residentes (13º), o Estado português só
os poderá tributar se eles adotarem comportamentos que
permitam a Portugal tributá-los, ou seja, se tiver uma conexão
(imposto real): o IRS do não residente incide apenas sobre os
rendimentos localizados em Portugal (art. 15.º/2 CIRS).

● Exclusão de tributação do mínimo de existência: o imposto pessoal tem de


reconhecer sempre que há rendimentos que não podem ser tributados. Aqueles
contribuintes que não ultrapassam um nível de rendimento considerado essencial para
satisfazer as necessidades essenciais não são tributados, porque não têm capacidade
contributiva para pagar impostos (art. 70.º CIRS).

Níveis de rendimento essenciais para satisfazer as necessidades vitais

com ponderação da composição se estes níveis de rendimento não forem


tributaçõesdo agregado familiar ultrapassados não pode haver tributações

direta= rendimento cat. A predominantemente


IRS
indireta 78º nº 1 a): prevê deduções à coleta ( aquele que dveria pagar) por cada
elemento dependente do agregado familiar;

● Dedutibilidade das despesas pessoais e familiares socialmente relevantes


(arts. 78.º a 88.º CIRS): estes encargos traduzem-se em despesas que o sujeito passivo
tem e que implica menor disponibilidade do rendimento. Podemos ter, em IRS, dois
sujeitos passivos, com o mesmo tipo de rendimento (quanto à categoria ou à fonte); no
entanto, podem ser tributados de modo diferente, porque um deles suporta encargos
pessoais e familiares, e o outro não.

26

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Dedutibilidade das despesas |pessoais e familiares | socialmente relevantes

Principio da capacidade contributiva, despesas de saúde; educação;


numa das sua manifestações do renda da casa; emprestimos para
principio do rendimento disponivel casa (juros); despesas com lares
de 3ª idade

1º nivel : correspondem a tarifas fundamentais do Estado; saúde; educação; encargos cm


lares. O estado deve garantir estes serviços para todos e a "horas" o que por vezes não
acontece; Logo são socialmente relevantes e deduzíveis.

2º Nível: correspondem a comportamentos que o Estado quer incentivar;

Em 2002 tornou se dedutivel os PC´s e internet para uso pessoal para incentivar
desenvolv. tecnológico.
Antes era dedutivel fundo de pensões; Apartir de um momento o incentivo desapareceu;
Ainda continua a ser dedutivel juros de emprestimos ( casa) ou ainda a aquisição de
equipamentos de energia renovaveis ( auto sustentável) e que consiga e que consiga
distribuir em serviços;

Nos últimos anos estas despesas dedutiveis têm vindo a sofrer uma diminuição acentuada;

Imperativo
Constitucional ● Progressividade das taxas ou dos impostos (art. 68.º CIRS – tabela de todas as
104º nº 1 CRP

Para ser
taxas progressivas): as taxas devem aumentar à medida que aumenta a matéria
pessoal tem de ser
único e progressivo coletável, ou seja, quanto maior for o rendimento, maior é a tributação (art. 104.º CRP).

Caracteristica imprescindivel em tempos anteriores, hoje em dia coloca-se este ponto 4º


de lado em vários paises europeus;

A lei limita-se a indicar as regras que permitem apurar o montante de imposto


a pagar, que varia em função da matéria coletável. Normalmente, a lei estabelece o valor
percentual – a taxa –, que permite calcular o montante a pagar. Esta taxa pode ser
proporcional, progressiva ou regressiva.

Da relação entre a percentagem (a taxa) e a matéria coletável, podemos


encontrar:

● Impostos proporcionais: são aqueles impostos cujo montante varia em função


da variação da matéria coletável, sendo que esta variação se consubstancia numa taxa
fixa (ex.: IMI, IVA);

27

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Ex 1: se o valor da matéria coletável for de 1.000 e a taxa de 20 %, o


imposto a pagar será de 1.000 x 20 % = 200.

Ex 2: se o valor da matéria coletável for de 10.000 e a taxa de 20 %, o


imposto a pagar será de 10.000 x 20 % = 2.000.

Aqui, a relação entre a matéria coletável e o imposto a pagar é sempre a


mesma, independentemente do quantitativo da matéria coletável. A taxa é
fixa, proporcional, constante, com a taxa de 20 %, enquanto o valor de
imposto aumenta à medida que a matéria coletável aumenta (flat tax).

● Impostos regressivos: é a própria taxa que varia em função da matéria


coletável, ou seja, à medida que a matéria coletável aumenta, diminui a taxa, logo,
sentido inverso. A taxa varia - que proporcionalmente c/ a variação do rendimento. Não
existe em Portugal impostos com esta natureza; mas na UE há políticas para tributar o
lucro das empresas societárias, de acordo com taxas regressivas acima de determinados
montantes. Ex: Aumentar investimento estrangeiro e evitar fugas de capitais de Portugal
(objetivo extra fiscal). Ponderou-se no periodo da queda do BES aplicar-se impostos
regressivos devido à desconfiança na Banca.

● Impostos progressivos: é a própria taxa que varia em função da matéria


coletável, ou seja, à medida que a matéria coletável aumenta, também aumenta a taxa do
imposto, não em termos proporcionais, mas progressivamente. A taxa varia mais que
proporcionlmente c/ o rendimento. Ao contrário do que acontece com os impostos
regressivos, nos impostos progressivos, a taxa aumenta no mesmo sentido (ex.: IRS).

Ex:
- Rendimento de 100-500: 10 %
- Rendimento de 501-1.000: 15 %
- Rendimento de 1.001-2.000: 20 %
- Rendimento de 2.001-4.000: 25 %
- Rendimento de 4.001 e mais: 30 %
-

28

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

4.2. Impostos principais e impostos acessórios

Impostos principais: existem por si próprios, têm existência autónoma, regras


próprias, não necessitam de outros impostos para existir.

Impostos acessórios: dependem de outros impostos na sua existência ou nos seus


elementos, falta-lhes sempre autonomia e regras próprias de determinação da matéria
coletável. Não existem por si próprios; existem por referencia a um imposto principal. Em
regra faltam aos i.acessórios regras/normas próprias de determinação da matéria coletável.
A matéria coletável do i. acessório é determinada por refêrencia ao i. principal;

Os impostos acessórios podem ter 2 modalidades:

● Adicionamentos: é um imposto acessório que não possui regras


próprias de determinação da matéria coletável, pois estas são feitas a partir do
imposto principal. A matéria coletável do imposto acessório é a matéria
coletável do imposto principal.

Ex: IRC - imposto principal


Derrama - imposto acessório do IRC

A sociedade X tem lucro tributável de 100 000€

IRC:
100 000 * 21% = 21 000
coleta provisório - (deduções coleta) = coleta final
21 000 - 20 000 = 1 000€
Coleta final pode ser 0 se as deduções forem igual a 21 000 ou
superior;

Segundo o adicionamento:
100 000 * 1.5% - É o caso das derramas (que acrescem ao IRC,
na percentagem de 1,5% sobre a matéria colectável ou o lucro
tributável sujeito e não isento de IRC, gerado na área do
município – art. 18.º da Lei n.º 73/2013, de 3 de setembro). Pode,
no entanto, haver derrama sem coleta de IRC (no caso de

29

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

deduções de prejuízos fiscais de anos anteriores – art. 52.º do


CIRC).

● Adicionais: a matéria coletável do imposto acessório é a coleta do


imposto principal.
Ex: A sociedade X tem lucro tributável de 100 000€

IRC:
100 000 * 21% = 21 000
coleta provisório - (deduções coleta) = coleta final
21 000 - 20 000 = 1 000€
Coleta final pode ser 0 se as deduções forem igual a 21 000 ou
superior; Aqui, os contribuintes podem, ou não, ter que pagar
qualquer coisa, porque o imposto acessório refere-se à coleta do
imposto principal e o contribuinte pode ter 0 de coleta, pois a lei
quer atingir aqueles que têm de pagar o imposto principal.

Segundo a modalidade adicional:

1000€ * 9%

Opção é guiada:
- o i. acessório atinge exatamente os mesmos contribuintes que pagam i.principal
- o i. acessório segue exatamente o mesmo destino que pagam i.principal Adicional

- o i. acessório tem relativa autonomia em relação ao i. principal, podendo


atingir um universo de contribuintes mais amplo do que aquele que pagaram Adicionamento
i. principal

Neste sentido, o imposto por adicionamento funciona como sobretaxa da matéria


coletável, enquanto o imposto adicional tem relativa autonomia em relação ao imposto
principal.
Derrama ( mecanismo de atribuição de receitas para as autarquias municipais) foi
inicialmente adicionamento e depois passou para adicional quase durante 20 anos; Apartir
de 2013 passou a ser novamente adicionamento.
Há autarquias que não cobram derrama e outras que cobram a totalidade, à taxa mais alta.
Isto gera dúvidas entre assembleia da republica e assembleias municipais.

5. Momentos da vida de um imposto

30

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Tendo em consideração os momentos em que se desdobra a vida do imposto, encontramos


três momentos essenciais:

Momento normativo – a incidência do imposto: momento da criação ou instituição dos


impostos; ou aletração dos seus elementos essenciais e da definição dos seus elementos
essenciais (art. 103.º/3 CRP), que tem como ator principal a AR (art. 165.º/1, i) CRP) e a
quem compete a determinação, em abstrato, daqueles elementos (lei geral e abstrata) –
sujeita ao princípio da legalidade (formal e material).
CRP 165º Nº1 i) -reserva relativa de competência legislativa a favor da Assembleia da
Républica ( só pode criar a Assembleia da Républica ou o Governo com lei de autorização
legislativa, que é a mesma coisa que decreto lei).

Definição em termos gerais e abstratos


1) dos sujeitos sobre os quais o imposto incide (em quem) = incidência
pessoal do imposto = CIRS art 13º : incide em pessoas singulares em território português
e em pessoas singulares não residentes que obtêm rendimentos em territorio português
2)dos factos/ situações visados pelo imposto = incidência real do imposto
( em quê) = CIRS art 1º rendimento anual: rendimentos previstos nos art 2º a 11º / 12º
3)Taxa: art 68º tabela de taxas progressivas
4)Regras de determinação da mat. coletável : art 25º a 51º

■ Momento administrativo ou procedimental (procedimento fiscal): traduz-se na


gestão do imposto e aplicação da lei aos casos concretos dos contribuintes.

Este momento admistrativo compete à Admistraçao tributária e cada vez mais aos próprios
contribuintes

Privatização da admistração dos impostos ( cabe aos próprios contribuintes a gestão e admistração
dos elementos que vamos ver)

 Liquidação em sentido amplo:


● Lançamento do imposto: identificação identificação dos sujeitos
passivos ( residentes, não residentes com rendimento aqui) e a identificação em concreto dos
factos/ situações (que rendimentos teve, como os obteve) a tributar. Hoje em dia é um auto
lançamento: como se identificam os sujeitos e os factos? através do envio das modelos respetivos
( IRS, IMT), cada sujeito identifica-se e preenche os pressupostos de incidencia pessoal e real;
○ Subjetivo: identificação do contribuinte;
○ Objetivo: determinação da matéria coletável e da taxa.

● Liquidação do imposto em sentido estrito: operação de


quantificação do montante do imposto a pagar por cada
contribuinte (isto é, de determinação da coleta);

31

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Operação de aplicação da taxa à M.C: determinação do quantitativo


Liquidação = MC * Taxa = coleta - deduções à coleta = coleta
definiitiva/final

negrito : liquidação tradicional


negrito + preto: liquidação atual dos impostos ao rendimento
IVA: é um imposto de auto liquidação

 Cobrança / pagamento (na perspetiva do contribuinte) do imposto:


cumprimento do dever de prestação, através do qual o contribuinte
vai fazer chegar o imposto ao Estado (cada vez mais “privatizada”, p.
ex., através de retenções na fonte ou pagamentos por conta). É A
arrecadação do imposto; também a cobrança compete ao sujeito
passivo, à A. Tributária e terceiros;
No caso do IRC na retenção da fonte, quem paga a retenção da fonte
é a entidade empregadora, mas o sujeito passivo (empregado) é que
sofre a incidência do imposto ( cobrança).

Esta cobrança pode ser:


● Voluntária;
● Coerciva – execução fiscal (AT com a participação dos
Tribunais)

6. Principio da legalidade fiscal

1ª vertente: Principio da legalidade fiscal na vertente formal (responde ao problema


de saber quem pode criar impostos)

Este princípio implica, em matéria de impostos, a necessidade de intervenção de


uma lei parlamentar, seja esta uma intervenção material a fixar a própria disciplina dos
impostos, seja uma intervenção de cariz meramente formal, autorizando o
Governolegislador a estabelecer essa disciplina. Traduz-se na reserva relativa da
competência legislativa da Assembleia da República, na criação de impostos e no sistema
fiscal (arts. 103.º/2 e 3, e 165.º/1, i) CRP, e art. 8.º LGT).

32

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Esta vertente responde-nos à questão de saber quem tem competência para legislar
sobre a matéria de impostos: trata-se da Assembleia da República. O fundamento essencial
desta competência reside no princípio da autotributação ou da representatividade, que vem
da Idade Média: ideia de que devem ser os parlamentos a criar os impostos e os próprios
contribuintes a decidir sobre que impostos hão-de ser tributados (ideia originária da Idade
Média e implícita também no princípio da no taxation without representation).

Mas a reserva é relativa, logo a Assembleia da República pode delegar esta


competência ao Governo (art. 165.º/1, i) CRP), às Assembleias Legislativas Regionais das
Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores (arts. 227.º, 1, i) e 232.º/1 CRP) ou às
Assembleias das Autarquias Locais (art. 238.º/4 CRP), para legislarem, através de lei de
autorização legislativa (Decretos Leis). Isto funciona como mecanismo de controlo do
Governo, pois a Assembleia da República não perde o controlo sobre estas matérias
(âmbito, objeto, extensão e duração da autorização).

Âmbito (aumentar ou diminuir); Objeto ( que imposto); a extensão ( fixar limites) e a


duração (fixar um limite temporal, quando caduca o prazo, o governo deixa de ter
autorização para legislar algo).
Ex: Lei orçamento de Estado ( devem estar as alterações legislativas, e as autorizações
legislativas para o Governo), outras vezes as autorizações legislativas estão fora do
Orçamento de Estado.
Ex: Derrama municipal IMI
Lei da AR: atribui competência de decisão sobre a taxa a aplicar 0 - 1.5% à Assembleia
municipal;

Questão: por que razão ainda hoje se mantém esta reserva, quando sabemos que, na
prática, é o Governo que acaba por legislar?

Porque existe o princípio da autoimposição, da autotributação ou da representatividade,


pois a Assembleia da República é o órgão (representativo) de soberania por excelência,
que toma decisões públicas, em que as minorias podem dar a sua opinião, onde estão
representados os contribuintes. Devem ser os próprios que pagam impostos a decidir sobre

33

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

as matérias mais importantes relativas aos impostos ( como cada um de nós não vai dizer
os impostos que quer, faz-se através de orgãos de representatividade ( dos seus
representantes).

Parlamentos:
- assegurar a representatividade das forças politicas + relevantes
- audição das minorias
- processos de deliberação são públicos

Esta vertente formal tem um âmbito concreto: o art. 165.º/1, i) CRP diz-nos que é
a “criação de impostos e sistema fiscal”, mas esta expressão pode traduzir-se na criação e
alteração dos elementos essenciais do imposto (art. 103.º/2 CRP). A lei “determina a
incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes”, que são os
elementos essenciais do imposto e o âmbito do principio da legalidade. Esta matéria está
reservada à Assembleia da República: isto significa que vale para a alteração do imposto
(maior sobrecarga para os contribuintes) e para desonerar o contribuinte (sentido vantajoso
e desvantajoso).

2ª vertente: Principio da legalidade fiscal na vertente material (conteudistica)/


conteudo ou Principio da Tipicidade ou Principo da Determinabilidade (responde à
questão saber como se deve legislar nas matérias reservadas)
Esta vertente responde-nos à questão de como se deve legislar em matéria de
elementos essenciais do imposto (conteúdo). Exige que a lei (lei da AR, decreto-lei
autorizado do Governo, decreto legislativo regional ou regulamento autárquico) contenha
a disciplina tão completa quanto possível da matéria reservada pela Constituição à lei.
Matéria essa que, nos termos do art. 103.º/2 CRP, integra, relativamente a cada imposto, a
incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes – que são
considerados os elementos essenciais do imposto
Quanto às garantias dos contribuintes, a reserva de lei apenas é exigida (quanto a
garantias não fundamentais e) se e na medida em que estas sejam objeto de restrição ou
condicionamento (já assim não será quando forem objeto de ampliação ou alargamento)
[as garantias fundamentais já se encontram sujeitas a reserva de lei nos termos do disposto
no art. 165.º/1/b) CRP] – de acordo com Casalta Nabais.

34

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

A lei deve, portanto, abranger todas as normas relativas à incidência real ou


objectiva, à incidência pessoal ou subjectiva, à taxa e aos benefícios fiscais. E deve fazê-lo
quer se trate da criação ou aumento dos impostos quer se trate da sua extinção ou
diminuição. Segundo Casalta Nabais, a reserva de lei decorrente do princípio da
legalidade fiscal, ínsito na CRP, não abrange qualquer outra matéria fiscal. Desde logo,
entende esse A. que este princípio constitucional não abrange os momentos da liquidação
e da cobrança dos impostos.
No entanto, o princípio da legalidade fiscal não se limita a exigir que a lei
contenha os elementos essenciais do imposto. Ele exige também que essa lei (ou decreto-
lei autorizado) leve a disciplina jurídica desses elementos essenciais (isto é, a disciplina
essencial de cada imposto) tão longe quanto possível. Ou seja, impõe que a lei densifique
a disciplina essencial de cada imposto o mais possível.
As leis que estabelecem os elementos essenciais do imposto devem descrever, de
modo mais exaustivo possível, os factos constitutivos do imposto. A certeza jurídica
traduz-se na previsibilidade, ou seja, é a capacidade de o contribuinte antecipar; por isso, a
norma tem de ser exaustiva. A técnica legislativa que nos surge como sendo a mais
frequente é aquela que garante mais segurança: regulamentação casuística (as cláusulas
gerais e os conceitos indeterminados devem ser evitados, pois criam incerteza). As normas
que criam os impostos têm de explicitar todo o conteúdo.

Ex: o art. 2.º CIRS diz-nos o que são rendimento de trabalho dependente, descrevendo
todas as formas de serem pagos estes rendimentos; aparece tudo tipificado e descrito num
elemento taxativo.
Esta visão do princípio da determinabilidade (ou da tipicidade) sobre o princípio da
legalidade tem vindo a alterar-se, no sentido de que o legislador deve criar tipos legais
fechados de impostos, criando exaustividade. Logo, tudo o que não estiver tipificado, tudo
o que não for subsumível àquele tipo legal, não pode ser tributado.
Mas quanto mais descritivo for o legislador, mais fácil é para os particulares
encontrarem formas/mecanismos para se furtarem do tributo, pois conseguem fazer algo
que não está previsto. Isto potencia a evasão fiscal. Temos aqui um problema importante:
esta segurança máxima como reverso potencia fortemente a evasão fiscal, pois, quanto
mais certo e exaustivo for o tipo legal, mais fácil é para o particular escapar do tipo legal,
logo não é tributado. Esta segurança em demasia acaba por gerar desigualdades que, por
sua vez, criam injustiças.

35

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Isto leva a que surgam riscos = instabilidade = porque aparecem sempre novas realidades
economicas e por isso o legislador anda sempre atrás destas novas realidades, porque
podem surgir riscos de injustiças.

Atualmente, este princípio da legalidade material não pode ser levado ao extremo.
Deve sim existir uma compatibilização entre certeza e segurança jurídicas, que se traduz
no princípio da praticabilidade, introduzindo conceitos indeterminados a serem
preenchidos pelos tribunais (isto ainda está a ser estudado). Neste momento, a doutrina
considera que é preciso criar algum espaço, que permita criar abertura, com alguma
certeza de previsibilidade. Mas ainda hoje, quando existe abertura, a lei é considerada
inconstitucional.
A justiça tem de ceder perante a segurança jurídica, imposta pela certeza jurídica.
Já no CIRS se podem ver determinadas soluções, mas a primeira reação é dizer que é
inconstitucional. Quanto maior for o elenco de situações no sistema fiscal, mais fácil é a
possibilidade de evasão fiscal.
Só pode legislar a AR ou o governo com autorização da AR .

1.1.4. Princípio da igualdade tributária – segundo o Principio da


capacidade contributiva

Este princípio é sinónimo do princípio da capacidade tributária, que não tem


consagração específica e expressa na nossa CRP (arts. 103.º/1 e 104.º/1 CRP), mas vai
ser sempre fundado no princípio da igualdade (art. 13.º CRP), onde se afirma que os
cidadãos são iguais perante a lei.

Do princípio da igualdade podemos retirar dois outros:


- Princípio da generalidade: todos devem pagar impostos;
- Princípio da uniformidade: todos, de acordo com o mesmo critério.

Todos devem pagar impostos e todos devem pagar segundo o mesmo critério, contudo,
só pagam impostos desde que tenham capacidade económica para ficarem sujeitos ao
pagamento.

O princípio da capacidade contributiva funciona, assim, como pressuposto e como critério


da tributação:

36

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

● Capacidade contributiva como pressuposto:


(1) Escolha da base tributável. O legislador deve escolher essa base em termos de tributação
ad valorem e não tributação especifica ou ad ren;
O que tributar?
-Rendimento
-Património Revelam Capacidade Contributiva
-Consumo
O Legislador deve fazer incidir os impostos sobre o valor e não fazer incidir sobre grandezas,
como por exemplo: peso, área, quantidade; Não deve incidir sobre o número de vezes que vou às
compras, ou o numero de casas que tenho; O imposto que incide sobre a cilindrada da mota usa ad
ren e não ad valorem.

Exemplo: O IMI é um imposto ad valorem, mas é uma forma complexa que inclui a área;
Considera a área para apuramento do valor do imóvel e isto não é contra o facto de se tratar uma
tributação ad valorem.

(2) Escolha/Seleção dos fatores/situações considerados como manifestações de capacidade


contributiva:

O legislador deve ter a preocupação por fazer incidir os impostos apenas sobre bens fiscais = bens
de natureza económica (indicadores reveladores) de capacidade para pagar o imposto.

Exemplo: incidir um imposto sobre casais com mais de 35 anos casados e sem filhos não é
revelador de capacidade contributiva. Pode antes optar por aumentar as deduções por despesas de
saúde e educação dos filhos para incentivar a natalidade.

(3) Exclusão de tributação do mínimo de existência (nos impostos sobre rendimentos)

Este mínimo corresponde ao salario mínimo nacional que deve ficar excluído de
tributação.

(4) Proibição de presunções absolutas de tributações (nos impostos sobre rendimentos) e


Proibição de presunções absolutas de obtenção de rendimento:

Apenas são admitidas presunções relativas; o “sempre” nunca pode ter o sentido de
sempre; tem de admitir que o contribuinte possa contrapor, como por exemplo, o valor do
bem estar mal atribuído. Há um procedimento a seguir pelo contribuinte para poder
comprovar o contrário daquilo que a lei estabelece.

37

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

● Capacidade contributiva como critério: tem consequências práticas ao nível


das regras de tributação:
◦ rejeita que o sistema fiscal (o conjunto de impostos) e cada imposto de
per si tenham por base outro critério;
◦ segundo Casalta Nabais, no que respeita ao quantum, ela não é a base
da progressividade dos impostos; indica antes a opção pela proporcionalidade dos
impostos.
◦ estão proibidas as presunções absolutas ou inilidíveis de rendimento e
património: retiramos esta proibição do princípio da igualdade. Ou seja, as
presunções em matéria fiscal devem ser relativas ou elidíveis, pois devem
sempre admitir prova em contrário (arts. 73.º LGT, 64.º CPPT, e 6.º CIRS; Acs.

do TC ns.º 348/97 e 211/2013, em que o TC julgou inconstitucional as


presunções inilidíveis de rendimento e património).
◦ a especial densidade deste manifesta-se nos impostos sobre o
rendimento.
(1) Neste sentido, a concepção do rendimento deve ser a mais
ampla possível (arts. 103.º/1 e 104.º/1 CRP):
▫ Deve ser mais amplo do que o conceito de rendimento-
produto – só podemos considerar aquilo que seja derivado
de factores produtivos (terra, trabalho, capital, risco,
factores empresariais): categorias tradicionais de obtenção
de rendimento, não integrando a generalidade de
rendimentos em espécie ou das aquisições a título gratuito;
▫ rendimento-acréscimo: não remunera um dos quatro
factores de tipos tradicionais, pois é rendimento todo e
qualquer acréscimo ou património indevido, inclui
rendimentos fortuitos, obtidos sem esforço (mais-valias,
rendimentos de jogo).
Por outro lado, implica quer o princípio do rendimento
líquido(2), a impor que a cada categoria de rendimento sejam
deduzidas as despesas específicas para sua obtenção, quer o
princípio do rendimento disponível(3), a exigir que à soma dos

38

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

rendimentos líquidos sejam abatidas as despesas privadas sejam


as imprescindíveis à própria existência do contribuinte (mínimo
de existência individual), sejam as necessárias à subsistência do
casal e sua família (mínimo de existência conjugal ou familiar) –
art. 6.º LGT.

(2) Princípio do rendimento líquido: não podem ser tributados rendimentos brutos; o
imposto sobre o rendimento só pode incidir sobre rendimento líquido, deve sempre
permitir a dedução ao rendimento bruto dos custos necessários para a obtenção dos
rendimentos.

Ex.: sou proprietária de um imóvel arrendado que produz 2.000 euros de renda, logo este
montante é rendimento bruto. Este ano, o telhado ficou danificado e tive de suportar a
despesa de 3.000 euros. Não posso ser tributada em 2.000 euros, pois a lei tem que
permitir deduzir o custo de 3.000 euros, o que dá: 2.000 - 3.000 = - 1.000 euros
(rendimento líquido).

(3) Princípio do rendimento disponível: a soma do rendimento a tributar deve considerar


a dedução das despesas socialmente relevantes (imprescindíveis à subsistência dos
contribuintes e família) que implicam menor disponibilidade do rendimento
(despesas de saúde, de seguro, de edução, etc.).

1.1.5. Princípio da Igualdade Fiscal em matéria de taxas de tributação

Alguns autores interpretam o art. 104.º/1 CRP como concretização do princípio


da igualdade: o imposto deve ser progressivo. Ora, esta progressividade não é referente
à igualdade.

Questão: então o que justifica a necessidade de progressividade nos impostos?

É precisamente o princípio do Estado social, que não tem consagração expressa


na CRP (art. 2.º CRP), que tem como objetivo a democracia económica e social (art.
81.º/b) CRP), ou seja, os impostos visam diminuir as desigualdades sociais. O imposto é
um instrumento tipo Robim dos Bosques (herói mítico inglês, um fora-de-lei que

39

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

roubava da nobreza para dar aos pobres, aos tempos do Rei Ricardo Coração de Leão).
Então, o IRS é progressivo – assim manda o princípio do Estado social, que visa
eliminar as desigualdades e que acaba por concretizar, deste modo, o princípio da
igualdade (arts. 103.º/1 segunda parte e 104.º/1 CRP).

1.1.1. Princípio da segurança jurídica

Está ligado ao princípio da legalidade e constitui uma decorrência do princípio


do Estado de Direito democrático, que tem assento no art. 2.º CRP.

Impõe-se fundamentalmente ao legislador, limitando a sua actuação em três sentidos:


- Na edição de normas retroactivas (desfavoráveis);
- Na livre revogabilidade e alterabilidade das leis fiscais (favoráveis);
- Na exigência de determinabilidade ou regulamentação casuística.

Mas este princípio aplica-se, também, aos operadores jurídicos concretos,


especialmente à Administração Tributária, se e na medida em que disponham de uma
margem legal de livre decisão, cujo parâmetro imediato seja a CRP.

Na sua primeira manifestação, o princípio da segurança jurídica encontra-se,


presentemente, absorvido, em larga medida, pelo princípio da não retroactividade da
lei fiscal, previsto no art. 103.º/3 parte final CRP (e que apenas foi incluído no texto
constitucional com a revisão constitucional de 1997).
Todavia, o princípio da segurança jurídica está longe de ter sido totalmente
absorvido pelo princípio da não retroactividade.
Este último princípio apenas se aplica (segundo a doutrina maioritária e
jurisprudência do Tribunal Constitucional) aos casos de retroatividade autêntica,
própria, forte ou verdadeira.

Já no que diz respeito a situações que configurem uma retroatividade


inautêntica, imprópria, fraca ou falsa ou ainda nas situações de retrospetividade ou
mesmo em casos em que se deva tutelar a confiança dos contribuintes depositada na
atuação dos órgãos do Estado, o princípio da segurança jurídica (na vertente de

40

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

proteçãoda confiança ou das expectativas legítimas dos cidadãos) pode ser chamado a
desempenhar uma papel fundamental na defesa e proteção da confiança legítima dos
contribuintes.
Assim sucederá, por exemplo, no caso de leis que contenham uma interpretação
autêntica, em que poderá ter que se ponderar entre a imperiosidade em obter receitas
fiscais (mesmo retroativas) e o interesse na proteção da confiança legítima dos
contribuintes. Uma ponderação a que se deverá proceder no caso de a administração ou
de o próprio legislador, através de imposição retroativa de uma interpretação correta da
lei fiscal, pretender recuperar impostos não cobrados em virtude de a interpretação
ilegal ou incorrecta da administração os excluir da zona de incidência ou os atirar para
os benefícios fiscais. Também a este venire contra factum proprium o princípio da
protecção da confiança impõe limites (Ac. do STA de 26/10/1997 – Rec. 17626).

Questão: qual é a retroatividade proibida?

Existem diferentes tipos (ou graus) de retroatividade. A questão é a de saber se a


proibição expressa da retroatividade é uma característica dos países subdesenvolvidos,
pois, nos desenvolvidos, não é preciso assegurar expressamente esta proibição (que foi
introduzida na nossa CRP em 1976). Há quem diga que isto foi um retrocesso, porque
nem todos os tipos de retroatividade são proibidos – apenas é proibida a retroatividade
própria/autêntica.

Uma outra manifestação deste princípio da segurança jurídica tem expressão


sobretudo numa certa constância de lei, que se traduz na limitação ou mesmo exclusão
da possibilidade de livre revogabilidade e alterabilidade das leis fiscais referentes a
benefícios fiscais (favoráveis).

Para além disso, este princípio postula também uma exigência de


determinabilidade ou de regulamentação casuística (que já vimos a propósito do
princípio da legalidade), como forma de garantia da certeza ou segurança jurídicas dos
contribuintes. Por fim, este princípio, na sua expressão de princípio da proteção da confiança,
operará igualmente em sede de taxas e contribuições (que não sejam consideradas impostos)
retroativas, bem como das normas relativas a elementos não essenciais dos impostos

41

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

(especialmente no domínio de obrigações fiscais acessórias), obstando a que os mesmos possam


ser agravados retroativamente.

1.1.1. Graus de retroatividade

Dois (três) tipos de retroatividade:

■ Autêntica / própria / forte: ocorre quando os efeitos da LN se projetam sobre


factos integralmente verificados antes da entrada em vigor da LN. A norma (LN) quer
alterar efeitos passados já produzidos antes de a norma entrar em vigor, quer provocar
efeitos novos (retroprovocação de efeitos). Ou seja, a LN vem sujeitar a tributação
acrescida os rendimentos do ano anterior, já plenamente formados (Sérgio Vasques):
este tipo de retroatividade é sempre proibida, é absolutamente inconstitucional;

Impostos periódicos e impostos de obrigação única

O critério de classificação é o da configuração do elemento temporal do facto


gerador sendo este o facto ou comportamento que preenche os pressupostos de facto de
uma norma de tributação e que, sob o ponto de vista temporal, pode ser instantâneo ou
duradouro. Aqui distinguimos:

● Imposto de obrigação única: tem um facto gerador de imposto instantâneo.


Traduz factos isolados geradores de uma obrigação de imposto.

Ex: o IMT incide sobre a alienação onerosa de imóveis, a qual se verifica


no momento da compra e venda, num determinado dia. O facto gerador é suscetível de
ser localizado num certo momento: compra e venda. O mesmo acontece, p. ex., com o
IVA.

● Imposto periódico: o facto gerador é duradouro, isto é, corresponde a uma


situação que se prolonga no tempo ou se renova ou apresenta uma periodicidade regular
(em regra, anual). O decurso do tempo determina a própria configuração do imposto.

Ex: o IRS (art. 1.º, 1 e 143.º CIRS) tem um facto gerador que se mantém
ao longo do tempo, que pode ter variações, e incide sobre a obtenção de rendimentos,

42

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

descritos nos arts. 2.º a 11.º CIRS. Os factos geradores que não se verificam num
preciso momento são factos geradores continuados, complexos e que estão em formação
ao longo do tempo. O imposto tem de criar artificialmente perímetros de tributação. O
facto gerador é de formação sucessiva/duradoura/continuada e, em relação ao qual, o
decurso do tempo é relevante.
O mesmo sucede, p. ex., com o IRC (art. 8.º/1 e 9 CIRC), o IMI ou o IUC.

Esta distinção tem consequências práticas importantes:

● Momento em que se inicia a contagem do prazo de caducidade e de prescrição


das obrigações tributárias (arts. 45.º, 48.º e 49.º LGT):

◦ A AT tem o prazo de quatro anos para liquidar o imposto ao


contribuinte (art. 45.º/1 LGT – caducidade do direito à liquidação). Decorrido
esse prazo, a AT perde o direito de liquidar o imposto. A preceito, diz que este
prazo é contado de modo diferente (art. 45.º/4 LGT), consoante estejamos
perante:
○ um imposto de obrigação única: a partir da verificação do facto
gerador instantâneo;

○ um imposto periódico: só está consolidado no último dia de


tributação (de 1 de janeiro a 31 de dezembro), e, portanto, o prazo
de caducidade só se conta, em princípio, a partir dessa data ou
desse momento (isto é, do termo do ano em que se verificou o
facto tributário).

◦ O mesmo acontece em relação à prescrição (art. 48.º LGT): se decorrer


o prazo de prescrição, o contribuinte pode recusar-se a pagar. No imposto de
obrigação única, conta-se a prescrição a partir da data em que o facto tributário

ocorreu; no imposto periódico, a prescrição conta-se, em princípio, do termo do


ano em que se verificou o facto tributário.

43

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

● Determinação do grau de retroatividade: a nossa CRP contém no art. 103.º/3


CRP uma proibição de retroatividade e distingue entre retroatividade própria e
retroatividade imprópria. Em matéria de aplicação das leis fiscais, distinguimos:

○ Imposto de obrigação única: temos retroatividade própria, que é


sempre proibida pelo art. 103.º/3 CRP, sempre que a lei nova quer
aplicar-se a um facto gerador instantâneo ocorrido antes da vigência da
lei nova;

○ Imposto periódico: se a lei nova pretende aplicar-se a factos geradores


que venham ocorrer, temos retroatividade imprópria, porque os factos
geradores ainda não estão consolidados, mas sim em formação. Logo,
não é completamente proibida pela CRP, porque se ficciona que o facto
gerador se forma em 31 de dezembro. Por isso, segundo a doutrina
maioritária e jurisprudência do Tribunal Constitucional, é permitida a
retroatividade da lei nova nestes casos.

■ Inautêntica / imprópria / fraca: verifica-se quando os efeitos da LN se


projetam sobre factos anteriores que ainda perduram aquando da entrada em vigor da
LN. A norma (LN) dá relevância a factos passados cujos efeitos ainda não se
produziram, sem provocar duplicação de efeitos (simples conexão a factos passados).
Isto é, a LN sujeita a tributação acrescida os rendimentos do ano em curso, ainda em
formação (Sérgio Vasques): para a doutrina maioritária e segundo a jurisprudência do
TC, a constitucionalidade deste tipo de retroatividade pode ser discutida, à luz dos
princípios da segurança jurídica e do Estado de Direito, que encontra assento
constitucional no art. 2.º CRP, mas há autores, como Sérgio Vasques, que se
pronunciam pela inconstitucionalidade desta forma ou grau de retroatividade;

RETROATIVIDADE AUTÊNTICA / PRÓPRIA / FORTE

A doutrina e o TC afirmam que este tipo de inconstitucionalidade está sempre


proibida, viola sempre o art. 103.º/3 CRP, porque ofende, de modo intolerável, o
princípio do Estado de Direito, da proteção da confiança ou das expectativas

44

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

legitimamente geradas nos contribuintes. Ou seja, perante esta situação, o TC deve


considerar a norma, que se aplica retroativamente, sempre inconstitucional.
A LN pretende aplicar-se a factos passados/consolidados antes do seu início de
vigência (ex: o FG já se verificou) e/ou a factos cujos efeitos já se produziram antes do
início de vigência da LN (ex: produção de rendimentos). É aqui que ganha relevo a
distinção entre imposto periódico (IP) e imposto de obrigação única (IOU):

■ nos IOU, o FG da obrigação tributária é instantâneo; quando a LN entra em


vigor, este já se verificou, logo a retroatividade é autêntica/própria, porque a obrigação
já se constituiu naquele momento passado (ex: IMT, IVA). Se o FG ainda não se
verificou, ainda não existe sequer retroatividade.

■ nos IP, o FG é, em princípio, de formação sucessiva, só se encontrando


consolidado no último dia do período de tributação, como acontece no IRS (arts. 1.º e
143.º CIRS) e no IRC (art. 8.º, 9 CIRC).

Ex.: em 31/06/2016, entrou em vigor uma lei (LN), que introduziu uma alteração
à tabela das taxas de IRS, sendo que a LN determina a sua aplicação aos rendimentos
obtidos desde 01/01/2016. Portanto, temos aqui uma situação de retroatividade; em
princípio, é inautêntica/imprópria, porque o FG está em formação ao longo do ano,
durante o qual podem existir alterações. Sempre que o legislador faz isto, é admissível?
Não. O TC tem de ser chamado a pronunciar-se sobre a sua (in)admissibilidade, à luz do
Estado de Direito e da confiança das expectativas depositada nos contribuintes.

O TC só vai dizer que a retroatividade imprópria viola a CRP, se a afetação das


expectativas dos contribuintes for intolerável, se violar grosseiramente o princípio da
proteção da confiança e das expectativas legítimas dos contribuintes. Por exemplo, se
surgir uma lei em dezembro de 2016, provavelmente só será intolerável que essa lei se
queira aplicar desde janeiro de 2016. O “provavelmente” não significa que seja sempre
assim, pois temos de analisar caso a caso.

RETROATIVIDADE INAUTÊNTICA / IMPRÓPRIA / FRACA

45

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

A doutrina maioritária e o TC dizem que esta situação tem que ser ponderada:
isto quer dizer que não viola sempre o art. 103.º/3 CRP. Poderá ser considerada
aceitável ou inaceitável (constitucional ou inconstitucional) em função da gravidade
da afetação da confiança ou das expectativas dos contribuintes. Aqui, o TC teve de
ponderar e, mediante essa ponderação, poderá a norma aceitável, ou pode entender que
a norma afeta as expectativas dos contribuintes. Nesta circunstância, o TC tem que
ponderar os interesses em disputa e, mediante essa ponderação, poderá julgar a norma
aceitável/constitucional, ou, pelo contrário, poderá entender que a norma afeta as
expectativas legítimas dos contribuintes, caso em que será julgada inconstitucinal. No
entanto, há autores, como Sérgio Vasques, que consideram que também esta forma ou

grau de retroatividade se encontra absolutamente proibido pela constituição, sendo, por


isso, inconstitucional.

A LN quer aplicar-se a factos que ainda estão a formar-se, cujos efeitos ainda
não estão produzidos e podendo acontecer que sejam atingidos factos verificados antes
do início de vigência da LN. A norma surge agora e vai ligar-se a factos que já
ocorreram antes, porque não eram definitivos, eram apenas parcelas.

Parece que nos IOU, estamos perante retroatividade própria, porque o FG é de


formação instantânea, enquanto nos IP, ocorrerá uma retroatividade imprópria, se a LN
pretender aplicar-se a factos ocorridos antes do seu início de vigência, em que o FG
ainda não se encontre completamente verificado; e estaremos perante uma
retroatividade autêntica, se a norma (LN) pretender aplicar-se a factos relativamente aos
quais o FG já se encontra concluído antes da sua entrada em vigor. Para esta última
situação (isto é, IP), para haver retroatividade própria teria de surgir uma norma que
pretende aplicar-se ao FG concluído.

Ex: a lei de 2016 que se aplica aos rendimentos obtidos em 2015.

Mas não é assim tão linear, porque, por vezes, dentro dos IP, especialmente
aqueles que incidem sobre o rendimento, temos elementos com contornos diferentes,
nomeadamente elementos de obrigação única (ex: taxas liberatórias de IRS e taxas de
tributação autónoma de IRS e IRC).

46

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Quando estudámos o art. 104.º CRP, dissemos que havia desvios / regimes
excecionais:

Ex: os juros de depósitos bancários são qualificados, no IRS, como rendimentos


de capital, mas escapam à regra geral do IRS.
Em IRS, os juros de depósitos bancários, pertencentes à categoria E (art. 5.º/2, b)
CIRS), são tributados através da taxa liberatória (o que configura um regime excecional
de tributação – art. 22.º, 3, b) e arts.71.º e 72.º CIRS): os juros não são englobados, não

47

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

são somados às restantes categorias e sofrem uma tributação separada (a menos que se
opte pelo englobamento dos rendimentos de capitais.)
Quer tenha 1.000 €, quer tenha 100.000 €, a taxa de tributação que se aplica é
sempre a mesma, aplicada através da retenção na fonte, ou seja, o Estado retira logo a
percentagem de imposto sobre aqueles juros. Esta taxa de tributação é definitiva, porque
o banco retém e nunca dará o que retém; mas, por outro lado, aquilo que sobra depois de
ser tributado (isto é, deduzido o imposto), o banco atribui-me e essa quantia não será
novamente tributada. Aliás, não tenho de declarar aquela quantia, porque foi
definitivamente tributada.

Ex: em 20/04/2016, o banco reteve na fonte do imposto à taxa liberatória de 10


%. Isto significa que, se hoje, 31/10/2016, entrar em vigor uma LN que afirma que os
juros dos depósitos bancários passam a ser tributados a 15 %, teríamos, em princípio,
uma retroatividade inautêntica, porque o IRS é um IP, dado que o FG só se consolida
em 31/12/2016. (esta é a regra). Porém, o IRS, para além de ser um IP, tem outros
elementos, nomeadamente elementos de obrigação única, que lhe são subjacentes e que
se encontram sujeitos a um regime distinto. Por conseguinte, esta tributação é definitiva.

Ex: a taxa liberatória (liberta a título definitivo de todas as obrigações principais


e acessórias em relação a este rendimento), que se aplica aos juros de depósitos
bancários, não atende à progressividade, nem à situação familiar do contribuinte. Então,
o IRS, em relação à taxa liberatória, funciona como um elemento de obrigação única,
logo, nesta circunstância, a LN padeceria de uma retroatividade é própria / autêntica, o
que seria proibido, por inconstitucionalidade (art. 103.º/3 CRP).

1.1.2. Acórdãos do Tribunal Constitucional

Os acórdãos do TC (Plenário) n.º 617/2012, de 13/01/2013, n.º 18/2011, de


janeiro de 2011, e n.º 310/2012, de junho de 2012, são relativos ao IRC (IP), que prevê
tributar o lucro de pessoas coletivas, logo o imposto é de base anual, porém ele também
possui um elemento específico que são as taxas de tributação autónomas (art. 88.º
CIRC1), as quais dizem respeito a:

1
Mas também existem no CIRS, no art.º73.º.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

● despesas de representação: despesas contabilizadas no IRC como custos que


têm que ver com a representação da imagem da empresa (almoços, brindes, caixas de
chocolate);
● despesas com viaturas: relativas a viaturas que ultrapassam determinado valor
(função de atribuir um estatuto).

Tudo isto são custos do exercício da atividade que têm de ser deduzidos. Por
exemplo, se a viatura ultrapassar os 35.000 €, a lei impõe que esta despesa seja tributada
de modo autónomo/isolado, porque são um sinal da capacidade contributiva da empresa.
A taxa de tributação autónoma, que lhes é aplicada, é proporcional, diz respeito à
tributação de despesas, e o valor que daqui resultar é somado ao IRC. Nesta situação, é
mais difícil perceber quando é que ocorreu o imposto, porque só se sabe quando é
estabelecido o IRC, embora a taxa de tributação seja autónoma. Esta dificuldade levou a
que, em 2008, quando surgiu essa lei, a aplicassem retroativamente a factos passados.
Problema colocado ao TC, que deu origem aos três acórdãos: a despesa foi
realizada em março de 2012. A lei foi alterada em dezembro de 2012. A taxa só vai
surgir depois de 2012.

Em 06/12/2008, surgiu uma LN, que veio aprovar as taxas de tributação


autónomas em matéria de IRC. Uma delas era de 5 % e passou para 10 %; e outra era de
20 % e passou para 30 %.
A LN dizia que se aplicaria às despesas sujeitas a tributação autónoma realizadas
desde 01/01/2008.
Isto gerou muita discussão sobre a questão de saber se a retroatividade era ou
não permitida.

O acórdão n.º 18/2011 afirmou que isto era inconstitucional, porque o IRC é
periódico, o FG é de formação sucessiva, logo temos uma retroatividade
imprópria/inautêntica, porque a taxa de tributação ainda não foi liquidada. Com base na
grave crise económico-financeira, o TC ponderou e decidiu que era constitucional.
Passado algum tempo, o TC, no acórdão n.º 310/2012, afirmou que era
inconstitucional, porque estamos perante uma situação de retroatividade
própria/autêntica, logo não há margem para ponderação. A retroatividade é proibida,

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

porque as taxas de tributação autónoma têm uma lógica própria: tributa-se cada empresa
e esta comprou um veículo prevendo que a taxa era de 5 % e não de 10 %.
Por fim, o acórdão n.º 617/2012 (ler este acórdão, porque faz a síntese dos
outros dois acórdãos) confirmou que era inconstitucional, porque a retroatividade é
própria. A taxa de tributação autónoma é um elemento de obrigação única, portanto o
seu FG é instantâneo. O que se faz depois, no fim, é juntar todas as despesas a liquidar
os impostos respetivos com o IRC.
Sérgio Vasques também considera que, no primeiro acórdão, o TC decidiu mal,
porque seria um caso de retroatividade, própria de um imposto de obrigação única.

2. Aplicação da lei fiscal no espaço

2.1. Princípio da territorialidade

■ Entendimento clássico / tradicional: este princípio tem uma conexão /


incidência real, segundo a qual o Estado só pode tributar factos / situações ocorridos /
localizados no seu território. Assim, este princípio está associado ao funcionamento de
elementos de conexão real (local de prestação de bens, serviços, trabalho, local do
pagamento, local do exercício da atividade, local da situação do imóvel / bem), isto é, o

facto / a situação tem de estar ligada ao território. Só que, se cada Estado fizer isto, é
necessário localizar os rendimentos e o património. O Estado pode tributar qualquer
sujeito, desde que esse sujeito possua um imóvel localizado no território do Estado.
Parece simples, mas depois com a internacionalização das trocas, do comércio e
da economia, com a desmaterialização dos factos / das operações, e ainda com a
personalização / pessoalização dos impostos, estes três fatores considerados tornaram a
análise mais complexa, que tem que ver com a plurilocalização dos factos, o que leva os
Estados, para procurar tributar, a aceitarem os elementos de conexão diferentes dos
tradicionais.

Exemplo relativo à prestação de trabalho:


- posso prestar serviço em Portugal;
- a empresa pagar-me em Espanha;

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

- a sede da empresa residir em França.

Onde se localiza o rendimento?

Para saber onde vai ser tributado o rendimento de acordo com o elemento
real, tem de se determinar o facto mais relevante de entre esses expostos.

■ Entendimento moderno: para além da conexão real, o princípio da


territorialidade reconhece o elemento de conexão pessoal. Este sentido moderno não
rejeita o entendimento tradicional: o que se diz é que, para além de ser legítimo tributar
o rendimento no Estado em cujo território o facto se verificou, também é legítimo que
exista uma conexão da pessoa ao território (o elemento de conexão é a residência e
nacionalidade, o local da sede ou de direção efetiva).
De acordo com esta conceção ampla, existe legitimidade para realizar a
tributação, quer com base em conexão real, quer com base em conexão pessoal (art.
13.º/1 e 2 LGT).

Ao nível da tributação do rendimento, isto significa que podemos ter um


concurso positivo de pretensões tributárias (dupla tributação), ou seja, vários países
tributam o mesmo elemento com conexões diferentes:

● Conexão pessoal: esta tributação é pessoalizante, logo os países que tributam,


de acordo com a conexão pessoal, tributam de acordo com o world wide income
principle (princípio do rendimento global de base mundial): pretensão de tipo global.

Ex: art. 13.º/1 CIRS: para o IRS, são tributados os residentes em Portugal (arts.
15.º/1 e 16.º CIRS) (ver também, p. ex., art. 4.º CIRC) – âmbito de sujeição.

● Conexão real: os países tributam de acordo com o source principle (princípio


da fonte – local da produção do rendimento), com a taxa (que) é proporcional: pretensão
de tipo limitada.

Ex: art. 13.º/1 CIRS: os não residentes que obtenham rendimentos em Portugal
podem ser tributados, de acordo com o:

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

- art. 18.º CIRS: que rendimentos são obtidos em Portugal;


- art. 15.º/2 CIRS: apenas os rendimentos que têm a sua fonte no
território português podem ser tributados (âmbito dos rendimentos).

Âmbito de sujeição:

■ Portugal vai assim tributar os rendimentos obtidos em Portugal, mas, para


além disto, vai “estender os seus braços” e vai tributar os rendimentos obtidos fora de
Portugal (desde que sejam obtidos por residentes em Portugal). Isto significa que os
Estados estão a ultrapassar as suas fronteiras, porque estão a tributar rendimentos
obtidos fora de Portugal. Mas o facto pode fazer isto, de acordo com o princípio da
conexão pessoal;
■ Mas o IRS incide também sobre os não residentes em Portugal. Ora, estes não
possuem uma conexão pessoal, mas se eles vierem a obter rendimentos em Portugal, o
Estado português também vai poder tributar estas pessoas, de acordo com o princípio
da conexão real.

Ex: António, português, obteve 10.000 € em Portugal.


António, português, obteve 2.000 € em Espanha.

- Espanha pode tributar com base na conexão real, mas vai tributar com uma
pretensão limitada (por exemplo, não vai atender à situação familiar). Espanha
não distingue entre os que obtiveram 2.000 €, tributa todos de igual modo, aplica
a mesma taxa; releva apenas o rendimento obtido.

- António descobre que já foi tributado em Espanha pelos 2.000 € e, quando


chega a Portugal, necessita de declarar novamente esses 2.000 €. E será agora
tributado em Portugal pelos 10.000 € obtidos em Portugal e pelos 2.000 €
obtidos em Espanha, que já foram tributados.

- Ou seja, o mesmo rendimento vai ser tributado duas vezes! Isto configura um
desincentivo à internacionalização.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

NOTA: podem existir conflitos negativos (ausência de tributação), mas o que nos
interessa é o conflito positivo de pretensões tributárias.

Ao nível da tributação do consumo, está em causa a transação de bens ou


serviços. Também é aqui necessário localizar a transação – existem dois critérios:
■ A transação pode ser localizada no país onde o bem foi consumido (território
do consumo do bem) – princípio do destino;
■ A transação pode ser localizada onde o bem foi originado (território da origem
do bem) – princípio da origem.

Aqui, a tributação é feita essencialmente com base no destino: é normalmente o


país de destino que tributa.

Ao nível da tributação do património, não há problemas, porque o imóvel é


facilmente localizável. Aqui, usa-se como elemento de conexão o local da situação do
bem.

Já vimos que, ao nível da tributação do rendimento, surgem aqui, por vezes,


problemas. Logo, temos de perceber como é que podem ser localizados ou, pelo menos,
atenuados.

2.2. Dupla tributação jurídica

Este problema coloca-se, especialmente, ao nível da tributação do rendimento.


Logo, temos de perceber como é que podem ser localizados os rendimentos e como
podem ser atenuadas as várias pretensões tributárias em conflito.

A dupla tributação configura uma situação de concurso de normas, isto é, uma


situação em que o mesmo facto tributário se integra na hipótese de incidência de duas
(ou mais) normas tributarias diferentes, o que implica, de um lado, a identidade do facto
tributário e, de outro lado, a pluralidade de normas tributárias.
Como requisito da identidade do facto tributário, costuma exigir-se a regra das
quatro identidades.
2.2.1. Identidades

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

A doutrina identifica esta situação, quando se verifica a regra das quatro


identidades:
1. Do objeto;
2. Do sujeito;
3. Do período de tributação;
4. Do imposto (título ou tipo do imposto).

Ex: António, docente no ISCAP, reside e exerce a sua atividade em Portugal, é


proprietário de imóveis e recebe cá um rendimento anual de 10.000 €. É
convidado para ir dar aulas a Espanha durante duas semanas, onde vai receber
2.1 €. Quemvai tributar esses 2.000 €?
De acordo com os elementos de conexão, António vai ter que tributar os 2.000 €
em Espanha e em Portugal.

Ambos os impostos têm:


- o mesmo objeto: 2.000 €;
- o mesmo sujeito: António;
- o mesmo período de tributação: duas semanas;
- o mesmo tipo de impost: IRS.

Para que estejamos perante uma dupla tributação jurídica, é necessário que se
verifiquem estas quatro identidades.
NOTA: existem situações de dupla tributação que não são jurídicas, mas sim
económicas.

Questão: como se pode atenuar ou eliminar esta dupla carga de tributação?

Existem mecanismos baseados em acordos convencionados entre Estados


(convenções bilaterais – convenções de dupla tributação); cada país pode optar por
mecanismos diferentes. Vamos estudar mecanismos simples que surgem do conflito
entre o país da residência e o país da fonte de rendimento.
Portugal
Espanha Portugal

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

(world wide income principle) (source principle)

NOTA: mas a dupla tributação pode surgir, porque a mesma pessoa pode ser considerada
residente de dois países. Pode, p. ex., uma pessoa ser considerada residente em dois
países e esses dois países usarem um elemento de conexão pessoal, querendo, assim,
tributar a globalidade do rendimento auferido por essa pessoa durante certo ano.
Também aqui é necessário que existam acordos / convenções entre países que resolvam
este problema.

Para se resolver isto, é necessário que os Estados estejam de acordo quanto ao


local de obtenção do rendimento. Mesmo que não existam dúvidas depois de
localizados o rendimento e a residência, é necessário ver quem pode tributar em caso
de conflito: o país da residência ou o país da fonte?

Se não existir convenção entre Portugal e Espanha, António vai ser tributado por
ambos os países pelos 2.000 € de rendimento, ou seja, em 12.000 € em Portugal e em
2.1 € em Espanha.

Se existir convenção entre Portugal e Espanha, podem optar por um modelo


(Convenção – Modelo da OCDE), através do qual os países escolhem aquilo que for
mais adequado à realidade para solucionar este tipo de conflito: nesta convenção,
estabelece-se quem cede. O princípio-base da Convenção-Modelo é o de que “quem
tem de ceder, é quem quer tributar situações / factos que estão fora do seu território”.
Isto é: quem cede é, assim, o país da residência, porque é aquele que está a tributar para
lá do seu território. Portanto, prevalece o princípio da residência do sujeito, embora isto
já seja discutido a nível internacional.

2.2.2. Métodos para atenuar ou eliminar a dupla tributação


internacional

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Dois métodos propostos pela Convenção-Modelo da OCDE para eliminar


ou atenuar a dupla tributação internacional (rendimento do país da residência VS.
rendimento do país da fonte):

■ Método de isenção (art. 23.º-A da Convenção-Modelo da OCDE): trabalha ao


nível da matéria coletável (MC). O país da residência isenta de tributação o rendimento
obtido no país da fonte de rendimento. Isto quer dizer que, na determinação da MC, o
rendimento obtido fora da residência é isento, não entra na MC.

Ex: Espanha tributa os 2.000 € à taxa de 20 %: 2.000 € x 20 % = 400 € (imposto


pago).
Se não existir convenção entre Portugal e Espanha, António é tributado pelos
2.1 € em Portugal e em Espanha.
Se existir convenção entre Portugal e Espanha, que adote o método de isenção,
Portugal só vai tributar os 10.000 € e vai isentar os 2.000 € obtidos em Espanha
(rendimento de fonte estrangeira).

● Isenção total / integral: o rendimento de fonte externa não é tido em


consideração seja para que efeito for em sede de tributação dos rendimentos de
fonte interna. Assim, Portugal tributa os 10.000 €, ignorando os 2.000 € obtidos
em Espanha.

● Isenção com progressividade: o rendimento de fonte externa é tomado


em consideração juntamente com os rendimentos de fonte interna, para efeitos
de determinação da taxa progressiva aplicável ao rendimento global (de fonte
interna). Desta forma, Portugal tributa os 10.000 €, mas vai tributar a uma taxa
correspondente ao world wide income principle, ou seja, a taxa a aplicar aos
10.000 € é a taxa correspondente a 10.000 + 2.000. Isto quer dizer que o
rendimento obtido em Portugal vai ser tributado ao nível da sua capacidade
contributiva: Portugal isenta tributar de 2.000 €, mas o rendimento obtido em
Portugal vai ser tributado com conexão pessoal. Ou seja, a taxa de tributação de
10.000 + 2.000 vai ser mais elevada.
Nesta situação, não se consegue uma eliminação total; existe apenas uma
atenuação.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

■ Método de imputação ou do crédito de imposto (tax credit) (art. 23.º-B da


Convenção-Modelo da OCDE): trabalha ao nível da coleta. Não isenta de tributação: o
rendimento obtido no país da fonte é sempre considerado na determinação da MC do
país da residência.

Ex: ○ Espanha: 2.000 € x 20 % = 400 € tributados.


○ Portugal vai tributar tudo (10.000 + 2.000), mas, à coleta do imposto
português, vai funcionar uma dedução à coleta: a esta vai ser-lhe imputado o
imposto pago em Espanha:
- MC = 10.000 + 2.000 = 12.000 €
- Coleta = 12.000 x aplicação da taxa progressiva do art. 68.º CIRS
- Na dedução à coleta, vai ser imputado o imposto pago em Espanha.

Exemplo concreto: 12.000 x 28,5 % = 3.420 €

Coleta do imposto português

Vamos imputar o imposto espanhol e (tentar) deduzir os 400 €.

3.420 € – 400 € = 3.020 € (valor final)


NOTA: o método de imputação não funciona sempre assim!

● Total / integral: o Estado da residência permite a dedução integral do


imposto efetivamente pago no país da fonte (estrangeiro), o que implica uma
eliminação da dupla tributação.
● Ordinária / limitada: o Estado de residência limita a dedução à fração
do seu próprio imposto correspondente aos rendimentos provenientes do país da
fonte.
Este é o método que tem sido adotado, em geral, pelo nosso direito, tanto
enquanto solução de direito internacional (nas CDT) como solução de direito
interno (cfr. art. 81.º CIRS e arts. 91.º e 91.º-A CIRC, exceto quanto à adoção do
método de isenção com progressividade aos chamados residentes não habituais

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

em Portugal (cfr. art. 81.º, 4 a 9 CIRS) e também no domínio do IRC, em que se


adotou o metido de isenção ou da participation exemption, nos termos dos arts.
51.º, ss. CIRC, relativamente aos lucros e reservas distribuídos a sociedades
residentes em território português quando estas detenham uma participação
qualificada (5% detida, pelo menos durante 24 meses) de sociedades ou
entidades que distribuem os lucros, de acordo com as regras dos arts. 51.º, ss..
O país da residência cede, mas não cede tudo, pois só cede dependendo
do juízo de racionalidade, aceitando deduzir tudo, se a taxa do outro país (da
fonte) for igual ou mais baixa, ou seja, quando os seus residentes tenham
rendimento com impostos iguais ou mais baixos do que Portugal (já não cede
quando o outro país tributar com taxas mais altas).
O país da residência aceita deduzir o imposto pago no país da fonte, mas
cede com um limite: o limite é igual à fração do imposto do país da residência
(Portugal), que incidiria sobre o rendimento de fonte estrangeira (400 €), se esse
rendimento fosse obtido isoladamente no país da residência.

Questão: quanto se pagaria de imposto no país de residência pela


obtenção dos 2.000 €, se aquele rendimento fosse obtido em Portugal?

3 Hipóteses:

1. País de residência com taxa de 10 %


2.000 € x 10 % = 200 € Aqui, a taxa é inferior
à taxa
do país da fonte.
Dos 400 € pagos em Espanha,
Portugal só aceitaria deduzir 200 €.

2. País de residência com taxa de 20 %


2.000 € x 20 % = 400 €

Dos 400 € pagos em Espanha, Aqui, a taxa é igual à


taxa

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Portugal aceitaria deduzir tudo, do país da fonte.


pois o limite máximo da dedução
é aquilo que se pagaria em Portugal (400 €).

3. País de residência com taxa de 30 %


2.000 € x 30 % = 600 €

António só pode deduzir 400 €, Aqui, a taxa é mais


alta do
porque era o que tinha pago em Espanha que a taxa do país da
fonte.
como imposto, e não pode deduzir mais
do que aquilo que já pagou.

CONCLUSÃO:
● Na imputação integral, temos eliminação da dupla tributação, quando a taxa
do país de residência é igual ou superior;
● Na imputação limitada, temos atenuação da dupla tributação, quando a taxa
do país de residência é inferior.

1. Substituição tributária

Verifica-se a substituição tributária, quando, por imposição da lei, a prestação


tributária é exigida a pessoa diferente do contribuinte. Aqui, o que acontece é que o
devedor primário e de todos ou alguns deveres secundários são impostos a uma
pessoa diferente do contribuinte a um terceiro (substituto), que é o devedor do
imposto.

Temos de saber distinguir o contribuinte do devedor do imposto (em regra,


estes conceitos são coincidentes, são a mesma pessoa, mas podem não sê-lo):

● O contribuinte é a pessoa singular ou a pessoa coletiva que preenche os


requisitos de facto da norma de tributação (incidência pessoal e real);

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Ex: no IRS, o contribuinte é o titular real dos rendimentos, é aquele


que a lei quer que suporte o encargo patrimonial inerente ao
pagamento do imposto.

A recebe 100 € de juros de depósito bancário a prazo em IRS


(categoria E – rendimentos de capitais – art. 5.º CIRS). A é o
contribuinte daquele rendimento, porque é dele que vai sair o dinheiro:
mas pode, ou não, ser o devedor do imposto.

● O devedor do imposto é aquele a quem a lei impõe o dever de realizar a


prestação principal e todos ou alguns dos deveres secundários.

Normalmente, o contribuinte é o devedor do imposto. Mas, nos casos de


substituição fiscal, tal não acontece, pois não temos uma coincidência entre o
contribuinte e o devedor do imposto: a lei impõe o dever principal a pessoa diferente
do contribuinte.

Ex: no âmbito de um contrato privado entre o Banco (entidade pagadora de


rendimento) e A (titular dos rendimentos), tendo como fonte 100 € de juros
(rendimento de A).

A lei aproveita-se desta relação para impor determinada obrigação ao


devedor desta relação. Então, o Banco vai aparecer como substituto
(devedor do imposto) e A como substituído (contribuinte) na relação
jurídica tributária: é A que obtém o rendimento, que fica sujeito ao IRS
pela obtenção de rendimento, só que, porque a lei separa contribuinte
de devedor de imposto, o Banco surge como substituto de A.

Ou seja, o Banco substitui A no cumprimento da obrigação fiscal. O


IRS relativo aos 100 € de juros é exigido pelo Estado ao Banco. Por
isso se diz que a relação de substituição cria uma relação triangular.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Isto surge devido a uma retenção na fonte: o Banco, ao invés de


entregar 100 € ao A, entrega apenas 80 €, pois o Banco retém 20 €
para os fazer chegar aos cofres do Estado. Embora estes 20 € sejam de
A, como o Banco é o substituto de A no cumprimento do dever, o
Banco tem de reter na fonte o valor de 20 €.
Se a lei não impusesse a substituição fiscal, o Banco teria de entregar
tudo ao A. Assim, o Banco torna-se devedor do imposto.

Veja-se ainda o disposto no art. 21.º CIRS.

1.1. Substituição total

O substituto é chamado por lei a cumprir o dever principal e todos os deveres


acessórios. O substituto substitui totalmente o titular dos rendimentos. Aqui, a
retenção na fonte é liberatória: isto significa que o pagamento do imposto é
definitivo; ocorre quando o contribuinte fica liberado de todas as obrigações fiscais
em relação ao rendimento (art. 71.º CIRS e art. 94.º/3 CIRC).

Ex do Banco e de A: refere-se a uma retenção na fonte com efeito


liberatório total, definitivo, logo a substituição é total.

1.2. Substituição parcial

O substituto é chamado por lei a cumprir o dever principal, mas não é


chamado ao cumprimento de todos os deveres acessórios. E, mesmo em relação ao
dever principal, o substituto pode ser chamado a cumpri-lo parcialmente.

Ex:

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Estado
(retenção na fonte de 20
€)
Bernardo Entidade empregadora
- titular do rendimento - entidade pagadora do rendimento
- contribuinte - devedor do imposto
- substituído - substituto

Existe um contrato de trabalho: B, em troca do seu trabalho, recebe

Contrato de trabalho: 100


100 € mensais. Estes 100 € pertencem à categoria A (rendimentos de trabalho


dependente) do IRS (art. 2.º CIRS). Isto quer dizer que B é o contribuinte.
Também a lei se aproveita aqui dessa relação de direito privado para impor à
entidade empregadora o cumprimento da obrigação fiscal. Mas aqui há uma
diferença na retenção na fonte, porque, sendo B residente em Portugal, aquela
não é feita a título liberatório, não tem caráter definitivo, tem sim a natureza
de pagamento por conta ou de simples adiantamento por conta do imposto
devido. Na sua declaração de IRS, B vai ter de declarar este rendimento e vai
ser descontado no final. Ou seja, os 20 € retidos na fonte são montante de
imposto adiantado. B tem de cumprir alguns dos deveres acessórios,
designadamente o de declaração.

Se B sofreu retenção de 20 € x 14 meses = 280 €, podemos chegar à


conclusão de que o imposto a pagar era apenas de 100 €. Logo, B adiantou
demais, por isso nasce o direito de reembolso; neste caso de 180 €. Mas
também pode ter adiantado de menos e ter que ser ele a pagar a diferença (ex.:
reteve 280
€, mas tinha que pagar 400 €, logo ainda tem que pagar 120 €).
B só foi substituído parcialmente em relação a 280 €, porque B ainda
tem de cumprir deveres acessórios.

O mesmo acontece na generalidade das retenções na fonte em sede de IRC.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

2. A responsabilidade tributária

2.1. Solidariedade tributária

Esta verifica-se, quando o credor do imposto pode exigir o cumprimento


integral da dívida tributária (em que se incluem os juros e demais encargos legais –
art. 22.º/1 LGT) tanto ao devedor como ao(s) responsável(eis).

Situações legais de solidariedade passiva tributária:

● quando os pressupostos do facto tributário se verifiquem em relação a mais


de uma pessoa, caso em que, salvo disposição da lei em contrário, todas são
solidariamente responsáveis pelo cumprimento da dívida tributária (art. 21.º/1 LGT);

● no caso de liquidação de sociedades de responsabilidade ilimitada ou de


outras entidades sujeitas ao mesmo regime de responsabilidade em que os sócios ou
membros são solidariamente responsáveis com aquelas e entre si pelos impostos em
dívida (art. 21.º/2 LGT), diversamente do seu regime societário (art. 175.º/1 CSC);

● na liquidação de qualquer sociedade, os liquidatários devem começar por


satisfazer as dívidas fiscais, sob pena de ficarem pessoal e solidariamente
responsáveis pelas importâncias respetivas (art. 26.º LGT);

● os gestores de bens ou direitos de não residentes sem estabelecimento


estável em território português são solidariamente responsáveis em relação a estes e
entre si por todas as contribuições e impostos dos não residentes relativos ao exercício
do seu cargo (art. 27.º LGT);
● quando existem vários devedores por uma mesma dívida aduaneira, estes
ficam obrigados ao pagamento dessa dívida a título solidário (art. 213.º Código
Aduaneiro Comunitário);

● no caso de responsabilidade das sociedades do grupo pelo imposto devido


pelo grupo (art. 118.º CIRC);

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

● nas hipóteses da responsabilidade das pessoas que intervenham nos atos ou


recebam papéis e dolosamente não tenham liquidado ou arrecadado o correspondente
imposto, bem como das pessoas que tenham autorizado o registo relativo a
transmissões gratuitas sem se certificarem de que o correspondente imposto se
encontrava liquidado (art. 42.º CIS);

● nos casos de responsabilidade solidária do adquirente dos bem sou serviços


e de sujeitos passivos que intervenham em operações realizadas ou declarados com a
intenção de não integrar o imposto (art. 79.º CIVA);

● quando vários devedores respondam pela mesma dívida de imposto especial


sobre o consumo, estes ficam obrigados ao pagamento dessa dívida a título solidário
(art. 4.º/3 CIEC).

2.2. Formas de responsabilidade tributária

A responsabilidade é, por via de regra, de natureza subsidiária em face do


devedor originário, embora possa ser subsidiária ou solidária na relação entre os
diversos responsáveis no caso de pluralidade de responsáveis tributários (arts. 22.º/4 e
23.º LGT, e arts. 159.º e 160.º CPPT).

Daí que a distinção, dentro desta responsabilidade subsidiária em face do


devedor originário, entre responsabilidade solidária e responsabilidade subsidiária
seja

relevante apenas quando haja pluralidade de responsáveis, pois, nesse caso, verificada
a inexistência ou insuficiência de bens penhoráveis do devedor e seus sucessores, a
execução reverte contra todos os responsáveis tributários se forem responsáveis
subsidiários a fim de apurar as quantias por que responde cada um deles, ou pode
reverter apenas contra uma deles, tratando-se de responsabilidade solidária.
O que parece posto em causa pelo art. 103.º/4 CIRS, ao estabelecer que,
quando se trata de rendimentos sujeitos a retenção que não tenham sido
contabilizados nem comunicados como tal aos respetivos beneficiários, o substituto
assume a responsabilidade solidária pelo imposto não retido.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

2.3. Alguns casos de responsabilidade tributária

Art. 24.º LGT – Responsabilidade dos administradores, diretores ou gerentes e


outras pessoas que exerçam funções de administração nas pessoas coletivas e estes
fiscalmente equiparados.

Este regime aplica-se em duas situações reguladas nas alíneas a) e b) do n.º 1 do art.
24.º LGT:
a) Pelas dívidas tributárias cujo facto constitutivo se tenha verificado no
período de exercício do seu cargo ou cujo prazo legal de pagamento ou
entrega tenha terminado depois deste, quando, em qualquer dos casos,
tiver sido por culpa sua que o património da pessoa colectiva ou ente
fiscalmente equiparado se tornou insuficiente para a sua satisfação;
b) Pelas dívidas tributárias cujo prazo legal de pagamento ou entrega
tenha terminado no período do exercício do seu cargo, quando não
provem que não lhes foi imputável a falta de pagamento.

Estas situações colocam importantes questões de ónus da prova (cfr. art. 74.º
LGT). Na situação prevista na al. a), o ónus da prova cabe à AT; enquanto na situação
contemplada na al. b), verifica-se uma inversão do ónus da prova (pois existe aí uma
presunção de culpa ilidível [art. 73.º LGT]), nos termos da qual compete aos
administradores, diretores e gestores a prova de ausência de culpa sua.

Responsabilidade subsidiária em face das pessoas coletivas e entes fiscalmente


equiparados e responsabilidade solidária entre os vários administradores ou gerentes.

Ex: a sociedade X é obrigada a pagar o IRC, mas não cumpre, logo é


devedora e contribuinte – estamos na fase patológica.
O art. 24.º LGT permite chamar terceiros que tenham uma ligação
especial com a sociedade X a cumprir a sua obrigação. É uma situação
diferente da substituição: em termos processuais (art. 23.º LGT), a

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

sociedade X é devedora, portanto vai ser executado o seu património.


No processo de execução fiscal, pode não haver bens suficientes da
sociedade X para pagar as dívidas, logo os gerentes ou administradores
são chamados a pagá-las com o seu próprio património, pois
respondem subsidiariamente.
Em termos processuais, são responsáveis os terceiros (gerentes ou
administradores), são chamados por reversão: o processo de execução
fiscal, que corria contra a sociedade X, reverte contra os gerentes e
administradores (ocorre uma modificação subjetiva do processo de
execução fiscal).

NOTAS:

1) Distinção entre gerência de facto / gerência de direito – o conceito


decisivo é o de gerência de facto. Para Casalta Nabais, a gerência de
facto presume- se iuris tantum (isto é, relativa, ilidível ou afastável
mediante prova em contrário) relativamente a quem seja titular da gerência
de direito (art. 73.º LGT). Contudo, a jurisprudência maioritária,
designadamente a do STA, entende que não há qualquer presunção (legal)
de gerência de facto que se possa inferir da existência de uma gerência de
direito. Assim, cabe à AT fazer prova da gerência de facto, competindo ao
gerente/administrador o ónus da prova do não exercício da mesma (art.
74.º LGT). No entanto, admite-se a possibilidade de se criar uma
presunção, judicial ou natural, nos termos do art. 351.º CC, presumindo-se,
pelas regras da experiência, dos factos trazidos/carreados para o processo,
que o gerente de direito é também

gerente de facto. Esta presunção pode ser afastada pelo oponente (i.é,
aquele contra quem a presunção é dirigida) mediante simples contraprova
(não sendo necessária prova do contrário), de acordo com o disposto no
art. 346.º CC.

2) Benefício da excussão prévia – para que se possa responsabilizar um


responsável subsidiário será necessário excutir o património do devedor

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

principal (e devedores com ele solidários), provando a fundada falta ou


insuficiência do património do devedor principal (e de devedores
solidários, se os houver) – art. 23.º/2 LGT.

3) Reversão – a efetivação da responsabilidade subsidiária dá-se através de


um procedimento de reversão da execução fiscal (cfr. art. 23.º LGT).
Assim, o decretamento da reversão contra os responsáveis e os meios de
defesa dos revertidos têm que se fazer valer através da oposição à
execução.

4) Responsabilidade de membros dos órgãos de fiscalização, ROC e


contabilistas certificados – o regime consagrado no art. 24.º LGT é
também aplicável aos membros dos órgãos de fiscalização, ROC e
contabilistas certificados, nos termos dos n.os 2 e 3 do art. 24.º LGT,
respetivamente. Nestes casos, o ónus da prova cabe à AT. Tenha-se em
atenção que pode haver, simultaneamente, responsabilidade de
gerentes/administradores e responsabilidade de membros dos órgãos de
fiscalização, ROC ou contabilistas certificados.

Art. 25.º LGT – Responsabilidade do titular do EIRL

Responsabilidade limitada aos bens afetos a este

Art.º 28.º LGT – Responsabilidade em caso de substituição tributária

Questão: O que acontece se a entidade empregadora

(substituto),
- Tiver retido os 20 € e não entregar aos cofres do
Estado? (B só recebeu 80 €; A não entregou os 20 € ao
Estado)

- Não tiver retido os 20 €?


(A não reteve, logo B recebeu integralmente os 100 €).

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Art. 28.º/1 LGT – a entidade empregadora é responsável pelas importâncias


retidas e não entregues.
Neste caso, o substituto é responsável pela importância retida e o contribuinte
fica desonerados de qualquer responsabilidade.

Art. 28.º/2 LGT – aqui, não houve retenção, mas sim retenção apenas com
natureza de pagamento por conta (natureza não definitiva) (SUBSTITUIÇÂO PARCIAL).
Neste caso, o substituído é o responsável originário pelo imposto não retido: B
recebeu 100 € em vez de 80 €, logo B é o responsável originário pelo montante que
devia ter sido retido e não foi. O substituto responde subsidiariamente
(responsabilidade por dívidas fiscais alheias).

Art. 28.º/3 LGT – não houve retenção total do valor devido e a


retenção tinha caráter definitivo e liberatório (SUBSTITUIÇÂO TOTAL) ou carácter de
pagamento por conta (não definitiva) (SUBSTITUIÇÂO PARCIAL).
Neste caso, o substituído é subsidiariamente responsável pelo montante que
devia ter sido retido e não foi. Isto também vale para os casos de substituição parcial.
No caso de a retenção ter sido inferior ao imposto por lei (B recebeu 90 €, quando só
devia ter recebido 80 €), o substituto é o responsável originário pelo montante retido
parcialmente.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

IRS

CRP – 104º nº 1: é um imposto único, progressivo e que tem a conta as necessidades


e rendimentos do agregado familiar;

O IRS tributa rendimentos ao longo do ano sobre pessoas singulares; sendo que estas
podem ser residentes (imposto pessoal com taxas progressivas) ou as que não sendo
residentes (imposto rela com taxas proporcionais) obtêm rendimentos em Portugal.
ART 13º

Neste momento existem as seguintes categorias: ART 1º


Categoria A: rendimentos de trabalho dependentes (trabalho)
Categoria B: rendimentos empresariais e profissionais (risco)
Categoria E: rendimentos de capitais (capital)
Categoria F: rendimentos prediais (terra)
Categoria G: incrementos patrimoniais (MV)
Categoria H: pensões

- Incorpora rendimento produto (A e H)


- Incorpora rendimento do acréscimo ( F e G), quer tributar rendimento acrescido do
rendimento do trabalho;

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

FASES DE APURAMENTO DO IRS:


1. Fase analítica
 Consiste na identificação dos rendimentos, isto é, no seu enquadramento nas
diferentes categorias na qualificação dos rendimentos obtidos; (ART 1º ao 11º)
 Apuramento do rendimento líquido é feito de categoria a categoria. (ART 25º ao
54º) – existem deduções especificas (custos que o titular incorreu para obter tais
rendimentos).

ANÁLISE DAS CATEGORIAS


CATEGORIA A – RENDIMENTO DO TRABALHO DEPENDENTE (trabalho
por conta de outrem)
ART 2º - Tipificação abrangente ( todas as formas tributárias)
 Rendimentos pagos para remunerar a prestação do trabalho ( salários
(rendimento em dinheiro), habitação ou carro dados pela entidade
empregadora (rendimentos em espécie – ART 24º)
 Rendimentos auferidos/pagos em razões da prestação de trabalho (creches,
seguro de saúde, grojetas, prémios, viagens sem ser em trabalho)

Como é que se apura o Rendimento Líquido nesta categoria?


ART 25º Deduções específicas (custos em que o titular dos rendimentos
incorreu para obtê-los). contribuição para a segurança social
e as quotas para a ordem
Vai de encontro ao princípio da capacidade contributiva, neste
caso, principio do rendimento liquido e ao principio de tributação de
rendimentos efetivos.

RL = RB - DESPESAS

ART 25º Nº1 alínea a)


Ao rendimento bruto deduz-se:
4104 €
ART 25º Nº2 – Se, porém, as contribuições para a seg. social forem superiores
ao valor referido acima, então as deduções serão iguais ao montante das
contribuições.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Contribuint Rendiment Rendiment


Deduções
e o Bruto o Líquido
António 3000 4104 >11%*3000=330 0
4104>3000
Bernardo 10000 4104>11%*10000=110 5896
0
Carlos 20000 4104>11%*20000=220 15896
0
Duarte 50000 11%*50000=5500>410 44500
4

Discriminação Qualitativa mais favorável para os rendimentos do trabalho


dependente Princípio do rendimento líquido.
CATEGORIA B– RENDIMENTOS EMPRESARIAIS E PROFISSIONAIS
ART 3º Nº 1 alínea a) Rendimentos empresariais = exercício por conta própria
de atividades comerciais, industriais, agrícolas, silvícolas e pecuárias (ART 4º)
ART 3º Nº 1 alínea b) Rendimentos profissionais = exercício por conta própria
de atividades predominantemente de prestação de serviços | algumas são as que
se encontram na lista anexa ao artigo 151º
ART 3º Nº 1 alínea c) Rendimentos profissionais = rendimentos dos direitos da
propriedade intelectual ou industrial, quando auferidos pelo titular originário
(rendimentos relativos a direitos de autor e patentes)
ART 3º Nº 2 São ainda havidos como rendimentos empresariais e profissionais:

Princípio da a) Rendimentos de capitais imputáveis ao exercício da atividade


atração ou b) Rendimentos prediais imputáveis ao exercício da atividade
descaracterização
de rendimentos c) Rendimentos de mais valias imputáveis ao exercício da atividade

Como é que se apura o Rendimento Líquido nesta categoria?

Existem dois regimes:

Regime simplificado ART 31º


Apura do rendimento líquido a partir de indicadores objetivos - coeficientes
estabelecidos pela lei em função da estrutura de custos típica de cada atividade.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

Presunção de Custos: RL=RB* coeficiente respetivo


Coeficientes (exprimem a margem por isso é que no caso dos profissionais
incidem um coeficiente mais alto do que nos empresariais)
ART 31º Nº 1 alínea a) 0,15 – rendimentos empresariais
ART 31º Nº 1 alínea b) 0,75 – rendimentos profissionais- lista anexa ao ART 151º

Exemplo relativo ao facto dos coeficientes exprimirem a margem:


Presunção de Custos –
RB RL Muitos custos, pouca
margem
10000€ 1500€ 85%
10000€ 7500€ 25%

ART 31º Nº 1 alínea c) 0,35 – prestação de serviços

Regime de Contabilidade ART 32º


Lucro é apurado segundo as regras do IRC
Apuramento do rendimento líquido em termos reais
Este regime é obrigatório para as sociedades que ultrapassem um volume de faturação
de 200000,00€.
Facultativa para as que tenham obtido volume de faturação inferior a 200000,00€.

CATEGORIA E– RENDIMENTOS DE CAPITAIS


ART 5º Nº1 e Nº2 – abrange mais capitais para tributar mais, como os juros.

Como é que se apura o Rendimento Líquido nesta categoria?

RB=RL (não há deduções)


ART 71º estão sujeitos a taxas liberatórias os rendimentos da categoria E (28%-
taxa proporcional fixa e constante)
Podemos (ART 71º Nº7) ou não englobar estes rendimentos

CATEGORIA F- RENDIMENTOS PREDIAIS

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

ART 8º - rendas dos prédios


ART 8º Nº4 - Exemplos: Inclui recheios casa (móveis); caso de ficar responsável por
limpar o condomínio recebendo um rendimento por isso; Qualquer bem imóvel (roulotte
ou um barco) que se cede exploração e que permaneça no mesmo sítio por um período
superior a 12 meses.

Como é que se apura o Rendimento Líquido nesta categoria?

ART 41º Nº1 – Deduções Específicas para obtenção do rendimento bruto com exceção:
-Encargos financeiros
-Mobiliário e decoração
-Depreciações
-Despesas de condomínio
-Conservação e Manutenção
-IMI de imóveis que estão arrendados
-Despesas com imobiliário (ERA/REMAX)

Os rendimentos desta categoria podem ser tributados segunda as regras da categoria B,


caso o contribuinte o queira (quando lhe traz vantagens). Nesse caso, e se na categoria B
s taxas do ART 68º

estivermos no regime simplificado: o coeficiente será de 0,95 ( ART 31º Nº1 alínea d))
Coeficiente(0,95) * RL da categoria F

(ART 31º Nº4 ART 41º (deduções especificas) Permite deduzir mais 5%)

ART 41º Nº7 dedutíveis as despesas de manutenção e conservação aplicadas a 24 meses


antes de arrendar o imóvel
À taxa especial ART 72º Nº1 alínea e),
Trata-se de uma taxa proporcional – ART 28º Nº1 alínea b)
Opção pelo englobamento ART 72º Nº8

CATEGORIA G- RENDIMENTOS DE INCREMENTOS PATRIMONIAIS


ART 9º Nº1 alínea a) (remissão para o ART 10º) – mais valias – wind fall gains
Elenco taxativo

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

A lei não quer tributar todas as mais valias, quer tributar as mais frequentes, mais
relevantes e as mais facilmente detetáveis

ART 10º Nº 1 alínea a) = mais valias imobiliárias = alienação onerosa de direitos reias
sobre imóveis.
ART 10º Nº 1 alínea b) = mais valias mobiliárias = alienação onerosa de participações
sociais e outros valores mobiliários.

Apenas mais valias reais, não são tributadas as mais valias nominais e as mais valias
latentes Principio da realização
 Determina o efeito de concentração da mais valia gerada ao longo de
vários anos
 Efeito de imobilização lock in

MV= VRealização (ART 44º) – ( VAquisição (ART 45º e ART 46º) * coeficiente
monetário (ART 50º) + Despesas inerentes de aquisição e alienação + despesas com
a valorização ( imóveis – ART 51º alínea a)e b) ) )

Englobamento de mais valias


MV IMOBILIÁRIAS
Englobamento obrigatório
Apenas em 50% do seu valor é tributável ART 43º Nº2

MV MOBILIÁRIAS
Tributadas à taca especial de 28% ART 72º Nº 1 alínea c)
Opção pelo englobamento em termos gerais ART 72º Nº 8

CATEGORIA H – PENSÕES – ART 11º


O tratamento desta categoria é muito parecido com o que se dá à categoria A.

2. Fase sintética
 Englobamento de rendimentos (ART 22º nº1), ou seja, soma dos rendimentos
líquidos das varias categorias, o que nos permite obter o rendimento global

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

líquido = rendimento coletável. A soma permite-nos medir a capacidade


contributiva
 Rendimento coletável x Tabela de Taxas progressivas (ART 68º) = COLETA

COLETA – Deduções à coleta (ART 78º) = Imposto a Pagar / Imposto a Receber

ART 78º nº1: Conjunto de deduções pessoalizantes.


Ex: j) dupla tributação internacional (quando não há acordos de convenção com o país
em questão)
l) adicional ao IMI

ART 78º nº2: São ainda deduzidos à coleta os pagamentos por conta e nas retenções na
fonte com a natureza de adiantamento por conta; Têm de ser respeitantes ao mesmo
período de tributação.

ART 78º nº3: Permite-nos perceber porque é que o nº1 e nº2 estão separados; Fazem-se
pela ordem indicada e apenas as do nº1 e nº2 originam direito a reembolso, ou seja,
mesmo que dê um valor negativo as do nº 1 não dão origem a reembolso.

ENGLOBAMENTO DE RENDIMENTOS (Quebram a unidade e a progressividade)


Existem desvios (exceções) – ART 22º Nº3 – rendimentos não englobados
 ART 71º - rendimentos sujeitos a taxas liberatórias
Rendimentos de capitais – Categoria E – 28%
 ART 72º - rendimentos sujeitos a taxas especiais (não funcionam por retenção
na fonte)
Rendimentos prediais – Categoria F – 28% (ART 72º Nº1 alínea e))
Rendimentos decorrentes de mais valias mobiliária – Categoria G - 28%
(ART 72 Nº1 alínea c))

OPÇÃO PELO ENGLOBAMENTO (ART 71º Nº6 E ART 72º Nº8)


Os sujeitos passivos têm opção de escolher se querem o englobar os rendimentos
provenientes das exceções referidas acima e que à partida não entrariam no
englobamento.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)


lOMoARcPSD|4328694

CONSEQUÊNCIAS DA OPÇÃO PELO ENGLOBAMENTO

Juros = 1000 * 28% = 280 (Retenção na fonte) | 720

Dividendos = 1000 * 28% = 280 (Retenção na fonte) | 720

No caso de não optar por englobar estes rendimentos, estamos perante uma situação de
substituição total, isto é, retenção de cárater definitivo

Caso opte por englobar:

 Terá de englobar todos os rendimentos da mesma categoria - ART 22º Nº5 – não
podem escolher englobar uns e não englobar outros rendimentos da mesma
categoria.
 ART 71º Nº7 – A retenção na fonte suportada passa a ter a natureza de
pagamento por conta (ART 79º Nº2)
Ex: Se o rendimento é de 1000€ e apenas recebe 720€, significa que está a
adiantar 280€, que irá depois puder deduzir à coleta.
 O rendimento é englobado pelo valor correspondente ao rendimento devido, pago
ou colocado à disposição do respetivo titular;
o Exceto no caso dos dividendos, uma vez que segundo o ART 40º-A, para
evitar a dupla tributação económica (tributar o sócio e a sociedade),
engloba apenas 50% dos rendimentos. (O IRS atenua a dupla tributação a
partir desta regra.

Baixado por Manuel Carvalho (nelodakiessengk@gmail.com)

Você também pode gostar