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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Butturi Junior, Atilio. / Lara, Camila de Almeida. / d’Ávila, Denise Ayres. /


Silva, Fábio Lopes da (Orgs.)

Biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências


Atilio Butturi Junior / Camila de Almeida Lara / Denise Ayres d’Ávila /
Fábio Lopes da Silva (Orgs.)
Campinas, SP : Pontes Editores, 2019

Bibliografia.
ISBN 97885-217-0107-1

1. I. Título

Índices para catálogo sistemático:


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2019 - Impresso no Brasil


SUMÁRIO

DISCURSOS BIOPOLÍTICOS, DISCURSO E BIOPOLÍTICA:


UMA APRESENTAÇÃO.................................................................................. 7
Atilio Butturi Junior
Camila de Almeida Lara
Denise Ayres d’Ávila
Fábio Lopes da Silva

É A BIOPOLÍTICA UM PROBLEMA DE LINGUAGEM?...........................15


Atilio Butturi Junior

INCONTÁVEIS TONS DE CINZA: UMA TENTATIVA DE LEITURA


RADICAL DE PRIMO LEVI............................................................................ 33
Fábio Lopes da Silva

ESTRATÉGIAS E MECANISMOS BIOPOLÍTICOS: O PACTO DE SEGURANÇA


NO VESTIBULAR DOS POVOS INDÍGENAS NO PARANÁ......................65
Ismara Tasso
Luana Vitoriano-Gonçalves
Raquel Fregadolli Gonçalves

CORPO COMO LUGAR DA BIOPOLÍTICA OPRESSÃO


OU RESISTÊNCIA?......................................................................................... 95
Luís Antonio Bitante Fernandes

BIOPOLÍTICA OU A LÓGICA DO “FAZER MORRER” MODERNO........119


Fábio Feltrin de Souza

MELHORAMENTO COGNITIVO E “LIBERDADE DE ESCOLHA”..........143


Fabíola Stolf Brzozowski
CORPO, DESEJO E HOMOEROTISMO NO CONTO BRASILEIRO
CONTEMPORÂNEO........................................................................................ 165
Flávio Pereira Camargo

MOLDANDO “O BIPOLAR” - OS DISCURSOS DA PSIQUIATRIA


E A PRODUÇÃO DE SUJEITOS..................................................................... 191
Camila de Almeida Lara

“SE EU NÃO INTERNAR, ELE MORRE!?”: RESISTÊNCIA, BIOPOLÍTICA


E BIOPODER NA PRODUÇÃO DO ALCOOLISMO E DA INTERNAÇÃO
COMPULSÓRIA............................................................................................... 223
Juliana Deboni

NAS LINHAS DO DISPOSITIVO JURÍDICO: O ARQUIVO DO CRIME


DE TRÁFICO DE DROGAS BRASILEIRO E A EMERGÊNCIA DO
“SUJEITO-TRAFICANTE”.............................................................................. 245
Marcos Massiero Kaminski

ESTILHAS: UM ESTUDO, POR MEIO DE ANÁLISE DE DISCURSO,


ACERCA DE OFICIOS DA REDE DE PROTEÇÃO EM TRANSBORDE
COM PODER JUDICIÁRIO EM UM CASO DE PEDIDO DE PERDA
DE PODER FAMILIAR.................................................................................... 289
Denise Ayres d’Avila

SUBJETIVIDADES DOENTIZADAS: O OBESO COMO ALVO


BIOPOLÍTICO.................................................................................................. 311
João Marcelo Faxina

BIOPODER E GENOCÍDIO MODERNO........................................................333


Dan Stone
Tradução: André Cechinel e Fábio Lopes da Silva

SOBRE OS ORGANIZADORES..................................................................... 361

SOBRE OS AUTORES..................................................................................... 363


biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

DISCURSOS BIOPOLÍTICOS, DISCURSO E BIOPOLÍTICA:


UMA APRESENTAÇÃO1

Atilio Butturi Junior


Camila de Almeida Lara
Denise Ayres d’Ávila
Fábio Lopes da Silva

Este Biopolíticas – Discursos, Dispositivos e Resistências parte


de um questionamento central: a biopolítica, conforme pensada por Mi-
chel Foucault e atualmente tematizada por autores tão distintos quanto
Agamben, Esposito, Negri, Laval, Butler, Mbembe, é afeta às discussões
sobre o discurso e a linguagem? Dito de outro modo, é legítimo pensar
uma análise ao mesmo tempo da linguagem e da biopolítica?
Primeira resposta: a biopolítica, conforme pensada por Michel
Foucault, aparece como conceito na condição de pertencer à uma teoria
arqueogenealógica, o que a implica em uma rede ao mesmo tempo dis-
cursiva e não-discursiva, sustentata pelo conceito político e semiótico
de dispositivo.
Segunda resposta: as problematizações sobre a vida, na contem-
poraneidade, têm como pressuposto a leitura ampliada da disciplina
na forma de um controle sobre a vida, nos moldes de Deleuze, naquele
seu Pós-scriputm sobre as sociedades de controle. Nessa espécie de
biopolítica ampliada, duas questões aparecem, axiais: o borramento da
fornteira entre o discursivo e o não-discursivo. Por um lado, e a assunção
1 Este livro contou com o apoio da CAPES, por meio do programa PROEX e dos recursos do
Programa de Pós-Graduação em Linguística, a quem agradecemos.

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

da modalidade discursiva como ponto-chaves do governo pela vida. É


sobretudo no segundo caso que a linguagem ganha espaço.
Os trezes textos que aqui reunimos partem, de pontos de vista distin-
tos e segundo a ordem da interdisciplinaridade, desse solo compartilhado
e produzem uma reflexão discursiva sobre as modalidades pelas quais a
vida é colocada nos jogos de poder e nos jogos com a linguagem. Em seus
vértices, o movimento comum entre eles é apontar para as topologias de
exceção e para a reinscrição dos corpos e dos sujeitos em formas mais
ou menos livres de existência. É justamente na linguagem – aqui lida
como discurso – que cisões, tensões e lutas se inscrevem, se materializam.
O livro abre com o texto É a biopolítica um problema de lingua-
gem?, no qual Atilio Butturi Junior evoca as relações entre o pensamento
sobre a vida e o pensamento sobre a linguagem, na forma de dispositivos
de exceção constitutivos.
No segundo capítlo, Incontáveis tons de cinza: uma tentativa de
leitura radical de Primo Levi, Fábio Lopes da Silva articula as obser-
vações do historiador americano Timothy Snyder sobre o Holocausto a
uma leitura radical da obra de Primo Levi. Resulta daí a problematização
de um dos elementos formadores do conceito de biopolítica: a ideia de
que (a) o extermínio dos judeus europeus é um desdobramento da dia-
lética do Iluminismo e (b) Auschwitz é uma metonímia do Holocausto.
Estratégias e mecanismos biopolíticos: o pacto de segurança no
vestibular dos povos indígenas no Paraná, terceiro dos capítulos e escrito
por Ismara Tasso, Luana Vitoriano-Gonçalves e Raquel Fregadolli
Gonçalves, materializa os discursos de exceção que têm espaço quan-
do a língua escrita produz formas de subjetivação. As autoras refletem
sobre a língua portuguesa na modalidade de um dispositivo de exclusão
para o indígena. Por meio de estudo teórico analítico e subsidiado por
pressupostos teóricos da Análise do Discurso de linha francesa e de seus
desdobramentos no Brasil, em consonância com a Linguística Aplicada e
os Novos Estudos do Letramento, elas pretendem compreender as séries
enunciativas extraídas das redações do IV Vestibular dos Povos Indíge-
nas no Paraná, edição 2005, localizando potencialidades de resistência

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

e subjetivação a uma racionalidade de cultura outra para dela usufruir


de “suporte” que o levassem a garantir sua própria identidade e espaço.
No quarto capítulo – Corpo como lugar da biopolítica – opressão ou
resistência? – Luís Antonio Bitante Fernandes debate as corporalida-
des disssidentes, notadamente dos homossexuais masculinos, aventando
os limites de produção de inscrições de resistência. O autor considera
algumas formas de como a teoria e o pensamento queer se voltam para
Foucault, em um diálogo que aborda a biopolítica como regime central das
políticas sociais na modernidade, seus discursos e seus desdobramentos.
Fernandes resgata ainda momentos discursivos de uma entrevista com
Lady, num processo de desconstrução, que, por um lado, demonstra a
ruptura da identidade dissidente assumida da identidade compulsória
que a circunscreve.
Biopolítica ou a lógica do “fazer morrer” moderno, de Fábio Fel-
trin de Souza, examina a relação entre a noção de biopolítica, a guerra
contra o indígena e a constituição nacional da Argentina no século XIX.
Para essa empresa, o autor parte da concepção foucaultiana de biopolítica
e procura cotejá-la e expandi-la com os escritos de Giorgio Agamben
e a noção de necropolítica, cunhada por Achille Mbembe. A hipótese
de Souza é que, ao contrário de criar ações concatenadas de preserva-
ção da vida, o Estado argentino teria criado uma política de eliminação
sistemática dos indígenas, um “fazer morrer” que moldou todo discurso
nacional argentino naquele século, antes de qualquer implementação de
garantia sistemática das vidas que importavam. Feltrin de Souza iden-
tifica, no caso argentino, a constituição de uma máquina de morte que
visou a destruição material dos corpos e populações humanos julgados
como descartáveis e supérfluos - os indígenas, os gaúchos, os caudilhos,
ou seja, as vidas que não mereciam viver.
Em Melhoramento cognitivo e “liberdade de escolha”, sexto
capítulo deste livro, Fabíola Stolf Brzozowski argumenta que, numa
sociedade liberal ou neoliberal, há uma ilusão de liberdade de escolha,
um tipo de imposição para seguir determinados padrões “cientifica-
mente comprovados”, baseado nas regras morais do autocuidado e do

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

discurso científico. O capítulo tem então o objetivo refletir sobre as


razões e mecanismos que levam os indivíduos a fazerem uso de me-
lhoradores cognitivos farmacológicos, utilizando como referenciais
de análise as ideias de Nicolas Rose e Michel Foucault – os conceitos
de governo, dispositivo e biopolítica. A autora apresenta dados sobre
alguns melhoradores cognitivos para, em seguida, discutir questões
éticas de seu uso. Brzozowski defende que uma suposta liberdade
de escolha no uso de nootrópicos tem origem em uma nova forma de
governo, vinculada a novas formas de exercício do poder e delimita
esses melhoradores como uma estratégia biopolítica, na medida que
seu uso ampliado estabeleceria uma nova norma com vistas a otimizar
um estado de vida baseado na produtividade.
Por sua vez, em Corpo, desejo e homoerotismo no conto brasileiro
contemporâneo, Flávio Pereira Camargo, questiona as representa-
ções do corpo queer no campo literário, advogando que ali surgem
modos de dizer indicativos de modalidades de vida em cujos afectos
residem resistências. Camargo propõe evidenciar alguns dos elementos
constitutivos de uma subjetividade gay a partir de um recorte sobre as
configurações homoeróticas presentes no conto brasileiro contempo-
râneo, considerando para esse propósito, dois contos de Antonio de
Pádua: Passional ao extremo, inserido na primeira parte do livro Sobre
rapazes e homens (2006) e Obs-ceno, que está na primeira parte de
Abjetos: desejos (2010).
Camila de Almeida Lara, no sétimo capítulo – Moldando “o
bipolar” – os discursos da psiquiatria e a produção de sujeitos – , ob-
jetiva analisar o horizonte epistemológico e ontológico dentro do qual
um surge um tipo específico de sujeito: o bipolar. Para tanto, parte das
discussões sobre a produção de modos de subjetivação específicos, a
normatização da vida, a governamentalização e a biopolítica e analisa
artigos médico-psiquiátricos e também algumas das versões do Manual
de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM). A partir
das análises, a autora aponta que o grande obstáculo Psiquiatria contem-
porânea, parece ser a questão nosográfica da doença bipolar. Ou seja,
uma doença “inclassificável”, que demanda cada vez mais esforços e

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

critérios diagnósticos rígidos para que possa figurar dentro de um quadro


específico o que acaba por colocar um grande número de sujeitos sobre
as práticas de vigilância e suspeição.
“Se eu não internar, ele morre!?”: resistência, biopolítica e
biopoder na produção do alcoolismo e da internação compulsória, de
Juliana Deboni, é um estudo sobre as implicações do dispositivo da
segurança nas subjetividades dos alcoolistas, submetidos à inscrição
dos laudos mpedico-jurídicos e de seus efeitos tanatopolíticos. Diante
disso, Deboni descreve as relações de controle e resistência construídas
a partir dos discursos profissionais nas indicações de internações com-
pulsórias, realizadas pelo CAPSad, no município de Erechim, interior
do Rio Grande do Sul, de 01 de janeiro de 2010 até 31 de dezembro de
2016. A autora observando não apenas a confluência dos diversos jogos
de poder e resistência dos profissionais e suas respectivas tomadas de
decisão sobre a indicação ou não da necessidade do tratamento hospita-
lar coercitivo, mas atenta para a existência ou não de transformação na
dinâmica dos critérios norteadores das decisões de internação hospitalar,
que corroboram estrategicamente (ou não) para a ascensão do discurso
desinstitucionalizante da reforma psiquiátrica brasileira
O texto seguinte, Nas linhas do dispositivo jurídico: o arquivo
do crime de tráfico de drogas brasileiro e a emergência do “sujeito-
traficante”, de Marcos Massiero Kaminski, volta-se para a produção da
delinquência no Brasil, num itinerário médico-jurídico que assambarca
cerca de oitenta anos. Kaminiski busca, a partir da problemática da
criminalização e suas categorias, tornar visível elementos da mecânica
e dos efeitos de um poder “ubuesco”, que se materializa no discurso
jurídico-legal de drogas. O autor mostra como O crime do tráfico de dro-
gas situa-se no âmbito da “gestão dos ilegalismos” havendo necessidade,
portanto, de se desconstruir o discurso de verdade existente através da lei
criminal de drogas. Kaminski ainda persegue o discurso jurídico-legal do
tráfico de drogas e o processo de constituição dos “sujeito-traficantes” no
Brasil, mais detidamente na segunda metade do século XX, período em
que a política criminal se deslocou incorporando a “guerra às drogas” à
lei brasileira, provocando alterações substanciais nas práticas disciplina-

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

res e biopolíticas e na sua relação com a construção das subjetividades


envolvidas nessa trama.
Indo adiante, o capítulo Estilhas: um estudo, por meio de análise de
discurso, acerca de oficios da rede de proteção em transborde com poder
judiciário em um caso de pedido de perda de poder familiar, de Denise
Ayres d’Ávila, reflete sobre as relações entre a proteção e o controle,
tendo em vista a precariedade das vidas daqueles que estão submetidos
aos dispositivos de fazer viver. D’Avila apresenta uma discussão, por
meio de análise do discurso, acerca do material de interlocução presente
em arquivo e gerado pela rede de proteção social. Para isso, a autora
tem como norte o pensamento foucaultiano e sua arqueogenealogia
observando as estratégias e táticas de produzir verdades sobre as vidas
acompanhadas. O trabalho é embasado por leituras teóricas de autores
preocupados com as chamadas vidas precarizadas, ou vidas passíveis de
luto, e a eleição de uma família acompanhada para estudo das práticas
de produção discursiva.
Subjetividades doentizadas: o obeso como alvo biopolítico, de João
Marcelo Faxina , é um texto sobre os corpos e seus limites. Baseado em
pesquisa de campo, o capítulo descreve o jogo entre os saberes sobre a
vida e o corpo, ubuescos, e as modalidades de vida, que resistem. Faxina
reflete como uma iniciativa estatal – o programa Vida e Saúde – retoma
e reescreve localmente os discursos sobre o corpo obeso, sobretudo em
sua relação com concepções de saúde e normalidade correntes, inserindo
a preocupação com a obesidade em dispositivos de saúde já existentes
e fazendo circular processos de doentização sobre os sujeitos por ela
apreendidos. Partindo da premissa arqueogenealógica, o autor segue o
panorama no qual a obesidade é tematizada no dispositivo Vida e Saúde
tendo em conta delimitações caras ao projeto global de uma biopolítica,
a saber, aquelas que instituem o que é normal/saudável e aquilo que, em
contrapartida, é repetidamente relacionado à doença e a seu universo.
Fecha o livro a tradução de André Cechinel e Fábio Lopes da
Silva do texto Biopoder e genocídio moderno, do professor Dan Stone,
da Universidade de Londres. Stone recorre à sua longa experiência como

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

historiador do Holocausto para relativizar a ideia de que o extermínio dos


judeus europeus pelo nazismo possa, sem mais, ser reduzido à biopolíti-
ca. Para ele, se é verdade que o Holocausto atualiza um projeto massivo
“de reordenamento do mundo”, é também verdade que sua consecução
mobilizou “crenças em muitos casos não inteiramente compatíveis com
a contabilidade burocrática”.
Apresentados os trezes escritos, esperamos que a leitura possa pro-
vocar tanto o desconforto diante das inflexões cada vez mais perigosas da
exceção biopolitica quanto o apelo para pensar os encontros entre vida e
linguagem, dispositivos e soberania, biopolítica e discurso.

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

É A BIOPOLÍTICA UM PROBLEMA DE LINGUAGEM?

Atilio Butturi Junior1

Onde se faz violência ao homem também se faz à língua.


Primo Levi – Os afogados e os sobreviventes

INTRODUÇÃO

Numa entrevista concedida em maio de 1984 a François Ewald (pu-


blicada na Magazine Litteráire), Foucault (2010a, p. 242), ao responder
sobre o caráter de “historiador positivo” que então teria adotado para os
dois últimos volumes de sua História da Sexualidade, afirma que o que
une os seus estudos é a noção de problematização que, embora jamais
isolada, estava em funcionamento desde a História da Loucura, que ele
então define:

Problematização não quer dizer representação de um objeto


preexistente, nem tampouco a criação pelo discurso de um obje-
to que não existe. É o conjunto das práticas discursivas ou não
discursivas que faz alguma coisa entrar no jogo do verdadeiro
e do falso e o constitui como objeto para o pensamento (seja
sob a forma da reflexão moral, do conhecimento científico, da
análise política etc.).

1 Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSC e do Mestrado


Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFFS. E-mail: atilio.butturi@ufsc.br.

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

No mesmo ano, em março, foi publicada uma entrevista que Fou-


cault (2014a) concedeu em 1981, quando ministrava suas conferências
na Escola de Criminologia da Universidade Católica de Louvain – e
que, mais tarde, se tornariam o seu Mal faire, dire vrai. Naquela altura,
Foucault (2014a, p.238) respondia que sempre havia se esforçado “[...]
em compreender como a verdade atinge as coisas e como certo número
de domínios se integram pouco a pouco com a problemática da pesquisa
da verdade.”. Indo adiante, o francês vai colocar em questão os modos
pelos quais fomos capazes de nos interrogar sobre a verdade do eu, seja
por via da loucura, do crime ou da sexualidade.
Ora, vejamos: aquilo que Foucault descreve como uma problema-
tização ou como a emergência de uma rede de interrogações possíveis,
que opera segundo uma definição entre o verdadeiro e o falso de uma
determinada época, corresponde, em linhas gerais, às preocupações que
ele levantava quando, já no primeiro volume da História da Sexualidade,
descreveu como um dispositivo: rede de elementos heterogêneos que
respondiam a determinadas urgências históricas, máquinas de produção
de regimes de objetividade e de formas de subjetivação (FOUCAULT,
2009a).
Poderíamos dizer que é no interior dos dispositivos que uma pro-
blematização têm suas condições de emergência. Neste caso, tomemos
o dispositivo da sexualidade e sua relação com a biopolítica: a sexuali-
dade, segundo Foucault (2009a), funcionou como um quadro geral para
o desenvolvimento da biopolítica, porque ao mesmo tempo em que se
voltou para as disciplinas individuais e para o corpo dos sujeitos, tornou
possível engendrar estratégias gerais relativas ao corpo social – sobre-
tudo ao produzir a possibilidade de um cuidado político com a vida da
população. Note-se, ainda, que é no interior de uma discussão sobre a
biopolítica que o próprio conceito de dispositivo aparece.
Na senda de uma problematização que obedece a urgências histó-
ricas específicas, neste capítulo eu gostaria de entender a biopolítica,
como fizeram autores variados em leituras específicas, como uma pro-
blematização candente e que diz respeito ao que somos nós na atualidade

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

(LAZZARATO, 2017, 2006; ESPOSITO, 2007; PRECIADO, 2008;


NEGRI, 2016; MBEMBE, 2011; HARDT; NEGRI, 2001; BUTLER,
2016, 2014). Nesse sentido, e dito de outra maneira, assumo que a vida
e as relações que hoje tece com a tecnologia, os limites entre uma vida
biológica e uma vida maquínica, conformam uma topologia de práticas,
de saberes e de relações de poder específicas, sobretudo sustentada em
formas de cisão inscritas em discurso: entre as vidas que se pode matar e
as que se deve preservar, entre as vidas mais ou menos dignas de serem
vividas, entre as mortes que se pode ou não prantear.
Ora, o que pode a linguagem no interior dessa rede que se insinua e
se inscreve no centro da vontade de saber? Eis aqui o ponto de inflexão
que me interessa, qual seja: na problematização sobre a vida, entre os
dispositivos biopolíticos, qual o papel que desempenha a linguagem e,
no limite, o estudo no campo da linguagem e da língua? Ou, ainda, qual
a relação entre o discursivo, o tecnológico e a biopolítica?
Para pensar essa problematização, divido o texto em dois momentos.
No primeiro, faço uma discussão sobre a língua(gem) e biopolítica; de-
pois, a partir de Butturi Junior (2018), retomo o debate de uma linguagem
como dispositivo e finalizo o texto pensando sobre as possibilidades de
utilização do conceito de tecnobiodiscursivo no interior do campo da
análise do discurso.

A LINGUAGEM, A VIDA, A POLÍTICA

Inicio esta seção de forma um tanto tradicional, indo ao corte


saussuriano – menos pela crença teleológica e mais pelas tarefas que
o genebrino vislumbrou para a Linguística : a descrição, a dedução de
leis gerais e aquela que aqui me interessa: “[...] delimitar-se e definir-se
a si própria” (p.19). Saussure, depois de anunciar a tarefa, afirma que
a Linguística tem “[...] relações bastante estreitas com outras ciências
[...]” (SAUSSURE, 1971, p.19), tanto as sociais quanto as naturais.
Todavia, seria preciso, segundo ele, distinguir aquilo que lhe é próprio
– e o Cours é um esforço monumental no sentido dede produzir a auto-

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

nomia da Linguística. É justamente a partir da tarefa – ainda aberta, ao


que parece – de delimitar e definir uma ciência que Saussure vale-se de
uma espécie de metáfora, muito comum para aqueles inícios de século:
“Pode-se, então, conceber uma ciência que estude a vida dos signos no
seio da vida social.” (SAUSSURE, 1971, p.24).
Os grifos, como se sabe, são do Cours. Saussure logo depois arre-
mata com a constatação de uma ciência vindoura, a Semiologia. Porém,
diante do aparecimento da Semiologia e das discussões profícuas que
já produziu, gostaria de retomar os grifos saussureanos e fazer notar as
duas aparições da vida: a vida dos signos e a vida social. Primeiramente,
porque se trata de colocar a vida em funcionamento, ainda que a língua
tenha sido, anteriormente, descrita como “[...] produto social da faculdade
de linguagem [...]” (SAUSSURE, 1971, p.17). Depois, porque o pro-
blema da vida emergia, na mesma época, como centro de preocupações
políticas, epistemológicas e sociais (ESPOSITO, 2007).
Ora, aqui gostaria de assinalar uma inscrição, qual seja: a da vida
no debate sobre a língua que produz a linguística moderna. Ao que
parece, pouca atenção tem se dado para o papel da vida no corte saus-
sureano e, mais, para a promessa de açambarcamento da vida operando
na futurologia que perfaz a Semiologia. Essa intersecção entre a vida
e a linguagem, como se sabe, vem à tona desde muito no pensamento
ocidental. Remonta, de fato, à Grécia. Num já célebre trecho da Política,
Aristóteles vai descrever uma divisão fundamental nas modalidades de
vida a partir da linguagem, retomada por Agamben:

Só o homem entre os viventes possui a linguagem. A voz,


de fato, é sinal da dor e do prazer e, por isto, ela pertence
também aos outros viventes (a natureza deles, de fato, che-
gou até a sensação da dor e do prazer e a representá-los entre
si), mas a linguagem serve para manifestar o conveniente
e o inconveniente, assim como também o justo e o injusto;
isto é próprio do homem com relação aos outros viventes
[...] (ARISTÓTELES 1253a, 10-18 apud AGAMBEN, 2010
[1995], p. 15, grifos meus).

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

Na divisão entre as vidas, aparecem os conceitos de bíos e zoé:


a primeira, a vida qualificada dos cidadãos com acesso ao logos pela
linguagem; a segunda, a vida natural (de mulheres, crianças e escra-
vos), da desordem, do grito, da hybris. Como gostaria Saussure, muito
mais tarde, uma cisão opera entre a organização de uma estrutura
inteligível e aquilo que, heteróclito, deve ser expulso. É justamente
dessa relação entre linguagem e vida que, em Aristóteles, vemos
inaugurado um acontecimento caro a Michel Foucault: a produção
de uma política da vida.
Assim, se em A Vontade de Saber (FOUCAULT, 2009a [1976])
ele aponta que a vida natural passa a ser reivindicada como objeto de
problematização e de cálculo do Estado governamentalizado, transfor-
mando política em biopolítca. Foucault (2009a [1976], p.133) vai pensar
exatamente a relação aristotélica entre vida e política. Faz notar que é
na modernidade que a vida biológica (digamos, zoé), entra na ordem da
qualificação da bíos:

[...] o que se poderia chamar de “limiar de modernidade


biológica” de uma sociedade se situa no momento em que a
espécie entra como algo em jogo em suas próprias estratégias
políticas. O homem, durante milênios, permaneceu o que
era para Aristóteles: um animal vivo e, além disso, capaz de
existência política; o homem moderno é um animal, em cuja
política, sua vida de ser vivo está em questão.

É preciso atentar para a divisão e aquilo que a linguagem põe em seu


funcionamento. Jacques Rancière, no seu O Desentendimento, volta-se
para a questão do dano fundante da política e nele observa, assim como
Foucault ou Agamben, que há uma correspondência entre dano e desen-
tendimento político e a linguagem. Se o dano é “disputa sobre o que
quer dizer falar” (RANCIÈRE, 1996, p.12), o litígio inaugural da política
se inscreve na linguagem, condição. Como em Aristóteles, a política se
funda pela divisão, assim descrita por Rancière (1996, p.32): uns têm a
posse do logos e participam da comunidade da linguagem (aisthesis);
outros apenas participam da comunidade da linguagem, mas não a pos-

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

suem (hexis). Rancière se pergunta: afinal, qual a natureza política do


homem aristotélico?
A primeira, a presença do logos, da linguagem organizada que
transcende a voz e o grito – afinal, a palavra manifesta a verdade e torna
evidente o que é justo e o que é injusto. A segunda, a possibilidade de
participar do sensível de uma forma distinta, segundo “uma politicidade
superior” (RANCIÈRE, 1996, p.18), cuja possibilidade de existência é
a linguagem.
Não obstante as diferenças teóricas que não cabe aqui destacar,
interesso-me pelo caráter axial da relação política-vida-linguagem que
tanto Agamben2 quanto Foucault ou Rancière retomam. Faço notar, como
Agamben (2010 [1995], p.16) e, que o homem, de acordo com a política
aristotélica, é aquele que “[...] na linguagem, separa e opõe a si próprio a
vida nua e, ao mesmo tempo, se mantém em relação a ela numa exclusão
inclusiva”. É na “instância do falar” que se reconhece a qualificação da
vida. Um problema, certamente, da linguagem.
Se assumo a relação entre política-linguagem-vida, gostaria de
postular: i), que é em A Vontade de Saber que opera, pela primeira
vez, o conceito de dispositivo, para dar conta daquilo que é há um
só tempo da ordem da linguagem e da ordem do não-discursivo
(FOUCAULT, 2009a); ii) tendo em vista i), a intricada relação entre
a vida como um problema central, a linguagem como elemento de
diferenciação de modalidades de vida e uma teoria dos dispositivos
não deve ser minorado.

2 Agamben vai se utilizar de Hannah Arendt (2007 [1958]),que no seu A Condição Humana
tornou célebre a distinção aristotélica da Política entre a bíos e a zoé para se referir à vida.
Arendt retoma a dualidade da vida na Antiguidade para dar conta da série de duplos nos quais
o homem se constitui: a oposição entre a privado e a necessidade, por um lado, e o público e
a liberdade, por outro; a oposição entre o desprezo pelo labor (físico) e o trabalho do cidadão,
na pólis. A rede de oposições que Arendt tornava explícita a divisão entre uma vida privada,
escondida no lar e da qual poderiam tomar parte escravos, mulheres e crianças e, na luz do
público, uma vida de trabalho e de cidadania, específica, da ordem da bíos.

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

A LINGUAGEM, O DISPOSITIVO, A BIOPOLÍTICA

Tendo em vista a relação postulada anteriormente, qual seja, entre


política, vida e linguagem, quero aqui, a partir de Butturi Junior (2018)3,
colocar uma questão: e se a linguagem fosse tomada como um dispositivo,
conforme pensada por Agamben (2014a [2005], p.39-40)? Isso implicaria
retomar aquilo que aparece como uma marca: a vida no pensamento sobre
a linguagem ou, dito de modo mais preciso: a qualificação da vida via
linguagem na produção da política.
O conceito de dispositivo aparece em Foucault nos anos setenta. Sua
potência para a pesquisa diz respeito à possibilidade de dar conta daquilo
que, numa arqueogenealogia, diz respeito aos elementos discursivos e
não-discursivos. É, pois, como espaço de heterogeneidade que ele se
funda. Ademais, o dispositivo se sustenta numa relação política: todo
dispositivo é plástico e responde a uma urgência histórica (FOUCAULT,
2009b, p.244). Se, desde a Arqueologia do Saber (2012 [1969], p.148),
Foucault afirmava que a existência dos discursos era uma questão po-
lítica – o discurso era “[...] o objeto de uma luta, e uma luta política” –,
o aparecimento dos dispositivos sugere um aprofundamento do caráter
interseccional entre a linguagem (tomada como discurso) e a miríade de
aparelhos, técnicas, desejos, estratégias etc que perfazem o campo do
não-discursivo. No dispositivo, eu diria, surge a instância híbrida e rela-
cional que, como tento afirmar até aqui, está em funcionamento quando
se discute política-linguagem-vida.
É nesse espaço em que a linguagem (de uma perspectiva discursiva)
e o mundo (de uma perspectiva genealógica) se encontram, se evocam
e conjuram um ao outro que um dispositivo pode surgir, como rede de
captura e produção de sujeitos. Giorgio Agamben foi um dos que, a partir
de Foucault, valeu-se do conceito – que tomou como central para definir
a arqueogenealogia – para pensar justamente essa produção de sujeitos
no interior de tecnologias disciplinares e tecnologias biopolíticas de go-
verno. Agamben (2014a [2005]) fará uma conferência na Universidade
3 A partir daqui, recorro a partes de um ensaio publicado na Revista da Abralin – ver Butturi
Junior (2018) – a quem agradeço pela cessão dos direitos autorais.

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

Federal de Santa Catarina, em 2005 ( e atualmente muito célebre) cujo


título era O que é um dispositivo?.
Não me deterei nas discussões que ele tece ao descrever o dispositivo
como um vértice entre os viventes e o mundo, cujo resultado é a produ-
ção de sujeitos – viventes sempre capturados. No entanto, dois pontos
precisam ser considerados: o primeiro, que Agamben sustenta que à
proliferação dos dispositivos corresponde, a um só tempo, a multiplicação
de modalidades de subjetivação e de dessubjetivação – não há garantia
de usos corretos dos dispositivos e, portanto, nem do controle irrestrito
e nem de um sujeito saturado de identidade. Segundo, o que aqui me
interessa diretamente, a sugestão de que a linguagem4 funcionaria como
um dispositivo. Cito o italiano:

Generalizando posteriormente a já bastante ampla classe dos


dispositivos foucaultianos, chamarei literalmente de disposi-
tivo qualquer coisa que tenha de algum modo a capacidade de
capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar
e assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos
dos seres viventes. Não somente [e ele cita os clássicos de
Foucault], mas também a caneta, a escritura, a literatura, a fi-
losofia, a agricultura, o cigarro, a navegação, os computadores,
os telefones celulares e – por que não – a própria linguagem,
que talvez é o mais antigo dos dispositivos, em que há
milhares e milhares de anos um primata – provavelmente
sem se dar conta das consequências que se seguiram – teve
a inconsciência de se deixar capturar. (AGAMBEN, 2014a
[2005], p.39-40, grifos meus)

Se há na modernidade uma pulverização dos dispositivos, que


passam a ser recorrentes e ubíquos, a questão lançada é: por que não
pensar a própria a linguagem como dispositivo, já que é ela a condição
de subjetivação incontornável a que nossubmetemos? Na genealogia
agambeniana, entre os viventes e o mundo estão os dispositivos como
4 Linguagem e língua não são sempre distinguidas em Agamben, que parece se preocupar me-
nos com uma ciência linguística per se, mas com os efeitos que a linguagem pode estabelecer
(como dispositivo, ela seria a um só tempo autônoma é constituída pela exterioridade, afinal)
nos sujeitos e no mundo.

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

garantia de captura e condição de existência. Dessa perspectiva, os


deslocamentos que a linguagem ofereceu para o próprio conceito de
vivo devem ser levados em consideração, na forma em que aparecem
em Agamben (2010 [1995]), quando o autor apresenta suas conhecidas
cisões: entre zoé e bios, uma vida natural não-qualificada e outra, política
e humana; entre a voz que pertence a todos os viventes e sua passagem
para a qualificação humana da linguagem; entre o grito caótico e a ordem
sintagmática da fala.
Pensar a linguagem nesse dispositivo de produção de subjetividade,
em Agamben, será operar na dimensão da exceção, a exclusão inclusiva
das modalidades de vida: zoé, ao mesmo tempo que desqualificada e
excluída do ordenamento jurídico e político porque vida nua, é capturada
na exceção tanatopolítica; bios é tornada vida capaz de linguagem e de
logos, qualificada na cidade dos homens. Essa dimensão da soberania na
origem da política – a exclusão inclusiva – não seria uma condição de
pensar os modos pelos quais podemos e pudemos nos tornar sujeito? Ser
sujeito, nesse caso, é uma possibilidade que apenas a linguagem oferece?
Dito de outro modo e a partir da indagação do presente capítulo: se a
linguagem é o mais antigo dos dispositivos, ela significa sempre exclusão
e manutenção da fissura inaugural, ou seja, a assunção da ordem e da
estrutura da política se inscreve na linguagem mas, em contrapartida,
coloca em funcionamento fantasmático aquilo que é da ordem da zoé,
da voz e do grito?
Para pensar essas questões com Agamben, volto-me a dois textos: o
Homo sacer I, de 1995; O que resta de Auschwitz (o Sacer 3), de 2008.
Estou aqui considerando a provocação de Agamben (2014a [2005]), qual
seja, a de que linguagem é um dispositivo, a fim de ler o problema político
que reaparece nas muitas ocasiões em que o filósofo pretende refletir
sobre ela – ao que parece, no esforço de deslindar seu funcionamento e
aquilo que oferece como modos de captura para viventes.
Em Homo Sacer, o problema da linguagem vai ser perscrutado
segundo uma leitura da soberania. Trata-se de pensar a ambiguidade
constitutiva da invenção do dispositivo no campo da ciência. Com Sch-

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

mitt, Agamben vai descrever a soberania como a capacidade de produzir


exceção. Assim, lendo os contratualistas, como Hobbes, a fundação do
governo só existia pela criação do Leviatã a partir do desejo dos súdi-
tos, o que, por conseguinte, redundaria numa exceção constitutiva – os
súditos passam a ter outra qualidade, o soberano passa a operar sobre
ele, precedendo-os e criando o direito que, no limite, é de morte. É esse
paradoxo de algo que está, ao mesmo tempo, dentro e fora da lei, o que
constituiria tanto o direito soberano quanto as relações extremas de um
ordenamento rompido desde a origem – e daí o paradigma é o do campo
de concentração, postulado de Agamben (2010b [1995]).
O funcionamento da norma jurídica como exceção é, então, apro-
ximado da langue saussureana. No funcionamento do sistema proposto
por Saussure5, segundo Agamben (2010b [1995]), aquilo que é paradoxal
na soberania revela-se na condição de existência da linguística moderna.
Ora, o não-linguístico opera como aquilo que, de outra natureza (como o
Leviatã) mantém o próprio linguístico (a estrutura). Aqui, é o não-jurídico
(a soberania como estado absoluto) que funda a lei, ainda que o esforço
seja o de expulsar o caráter referencial. É a exceção de uma estrutura
de exclusão-inclusiva, que Hegel (novamente ele) já havia apontado: a
linguagem está sempre dentro e fora de si mesma.
Interessa a Agamben, na ligação entre direito e linguagem, obser-
var que, no nosso tempo, é a exceção a estrutura fundamental, em sua
ambiguidade assassina. A dramática da linguagem é o seu modo paulino
do “como se”6: a metafísica que pretende fazer coincidir sentido e refe-
rente ou fazer crer numa langue que só existe na condição soberana da
exceção que inventa suas normas. Agamben (2010b [1995], p.28, grifos
meus) arremata que há, por conseguinte, um vínculo entre uma norma
biopolítica e o dizer – o que evoca, por sua vez, sua provocação acerca
de um dispositivo da linguagem no qual a aporia entre o linguístico e o
não-linguístico é axial:
5 Cabe notar em Agamben (2010b [1995]) uma leitura da Linguística saussureana que oblitera
a cisão entre langue e parole e a pensa em sua ambiguidade. Quando diz linguagem, o autor
remete ao irresolvível em Saussure, aquilo que se mostra na modalidade da dobra.
6 O modo paulino do “como se”, estrutura de dizer e de viver de uma estética da existência e
uma resistência pode ser lido em Agamben (2014b, 2000).

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

A linguagem é o soberano que, em permanente estado de ex-


ceção, declara que não existe um fora da língua, que ela está
sempre além de si mesma. A estrutura particular do direito tem
seu fundamento nesta estrutura pressuponente da linguagem
humana. Ela exprime o vínculo de exclusão inclusiva ao qual
está sujeita uma coisa pelo fato de encontrar-se na linguagem,
de ser nominada. Dizer, neste sentido, é sempre jus dicere.

Essa linguagem e o direito, o direito de dizer na constituição da


norma – que é exceção e, no limite, tecnologia da tanatopolítica –, eis
o que gostaria de retomar, mais esta vez, na modalidade do dispositivo.
No Homo Sacer, a descrição da linguagem sausssureana, defendo, exige
o pressuposto da relação ambígua entre linguístico e o não-linguístico.
Mais ainda: segundo a captura do vivente e de acordo com um desloca-
mento da desordem para a ordem, esse dispositivo é sempre um vértice
entre a política e a vida. Viver e dizer, pois, são elos do dispositivo da
linguagem que apontam para a exceção soberana, cindindo modalidades
de vida, modalidades de dizer e de produzir sentido.
Passo à segunda leitura de Agamben, empreendida ema O que
resta de Auschwitz, seu texto sobre a possibilidade do testemunho, so-
bre a exceção, sobre Primo Levi e sobre esse paradigma do campo em
que vivemos – muçulmanos ou não (o muçulmano, esse vivente cuja
subjetividade está posta em xeque na tanatopolítica). Agamben (2008)
recorre à vergonha para pensar na figura do sobrevivente do campo,
cuja vida perdeu a dignidade diante do ocaso da morte e da impossibili-
dade do testemunho. O autor problematiza a vergonha do sobrevivente
do campo e usa, para tanto (entre muitos, como Kant, Heidegger ou a
experiência SM), um texto de Levinas, de 1935, para quem a vergonha,
o ruborizar-se, é a condição radical da presença de si a si mesmo. No
limite, é nossa incapacidade de nos desssolidarizarmos conosco, mas
uma nudez de si que implica um olhar para si, sem controle. Similar à
estrutura da exceção, a vergonha traz no bojo um inassumível, algo que
nos exige numa exclusão inclusiva, qual seja: uma dessubjetivação que
reside em nós mesmos: “[...] este inassumível não é algo exterior, mas
provém da nossa intimidade; é aquilo que em nós existe de mais íntimo

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

(por exemplo, a nossa própria vida fisiológica.” (AGAMBEN, 2008,


p.110, grifos meus). A vergonha seria a modalidade de subjetivação des-
subjetivada. Um movimento de desconcerto e de deslocamento dos efeitos
de identidade que rondam o sujeito. Mais, ainda, seria – e o exemplo de
Agamben não é sem motivo – algo que retoma a ambiguidade entre as
modalidades de vida, bíos qualificada e zoé fisiológica que vem à tona
apontando a ambiguidade de nossas capturas por dispositivos.
Por que a vergonha, aqui, quando o que faço é ler a possibilidade
de um dispositivo da linguagem? A estrutura da vergonha reaparecerá na
linguagem. Ao tratar da criação poética, Agambem (2008, p.118) retoma
a dessubjetivação na composição, talvez, de “todo ato de palavra”. Logo
a seguir, ele se vale da Carta de Paulo aos Coríntios e à glossolalia:
o acontecimento da palavra misteriosa, o falante que enuncia “coisas
misteriosas” que não controla, porque sua origem está num outro. É
o bárbaro que funda essa glossolalia. Bárbaro, como ensina Agamben
(2008), é aquele que é sem logos (da ordem do grito, da voz e da zoé), o
estrangeiro que habita a capacidade de enunciação e que aponta: i) para
o acontecimento de uma dessubjetivação; ii) para um fracasso em toda
tentativa de estruturação da linguagem.
É, pois, de um fracasso e um rubor que, ao retomar o problema es-
truturalista, Agamben vai observar na teoria enunciativa de Benveniste.
É a dessubjetivação que interessa a Agamben (2008): a vergonha e a
falta de controle de uma enunciação que se vê nua; e, mais importante,
a cisão entre língua e discurso de Emile Benveniste. Para Benveniste,
como é de muito sabido, os embreantes, o sistema dêitico, no mesmo
golpe em que marcam a dependência do sujeito que habita na linguagem
(é, afinal, eu quem cria o tempo e o espaço), estabelece um paradoxo
de muito conhecido, similar ao apontado por Hegel: passar da língua ao
discurso, o sujeito passa a existir apenas na condição de falar na língua.
Essa expropriação, segundo Agamben (2008), é a marca da glossolalia
, digamos, original.
Leiamos Benveniste (2005 [1958], p.288, 2005), que fala de uma
“revelação da subjetividade na linguagem”. Agamben (2008), por sua

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

vez, afirma que Eu falo, nos termos de Benveniste, traz no bojo a res-
ponsabilidade do dizer mas, em contrapartida e ambiguamente, o funcio-
namento de uma vergonha: falo no interior de um diz-se7. Sou sujeito
na expropriação, barrado, porque meu dizer exige a dessubjetivação na
linguagem. Quando Benveniste pretende que o eu refere-se apenas “[a]
algo muito singular, que é exclusivamente lingüístico [...]” (BENVE-
NISTE (2005 [1958], p.288, grifos meus), o que temos, para Agamben
(2008), é a experiência radical da glossolalia e daquela exclusão inclusiva
produzida na (bio)política. No discurso, aquilo que a linguística saus-
sureana materializava como um problema a conjurar se materializa na
coincidência entre subjetividade e dessubjetivação. No discurso, ainda,
o vivo e o enunciável se confundem até o limite do silêncio:

No presente absoluto da instância do discurso, subjetivação


e dessubjetivação coincidem em todos os pontos, e tanto o
indivíduo em carne e osso quanto o sujeito da enunciação se
calam totalmente. Isso também pode ser expresso dizendo
que quem fala não é o indivíduo, mas a língua; isso, porém,
nada mais significa senão que – não se sabe como – a palavra
atingiu uma impossibilidade de falar. (AGAMBEN, 2008, p.
121, grifos meus)

É na instância desse “não se sabe como” que operam os poetas: uma


responsabilidade diante do dizer e ser sujeito na língua; uma vergonha
da constituição pela língua, da qual não é possível se desvincular e que
torna toda enunciação, a um só tempo, pertença e não pertença. Agamben
(2008, p.123) assevera que é a poesia moderna o terreno em que emerge
a dessubjetivação cuja estrutura é a do discurso. Fernando Pessoa marca-
ria um percurso de despersonalização e de retorno a si mesmo, pois sua
heteronomia solicita que possa “[...] responder por sua dessubjetivação.”
Ora, aqui a topologia dos textos de Agamben pode ser retomada,
num itinerário: primeiro, a constatação de que a linguagem, conforme
7 Em Benveniste (2005 [1958], p. 288-289): “ A linguagem está de tal forma organizada que
permite a cada locutor apropriar-se da língua toda designando-se como eu.” [...] “A linguagem
é, pois, possibilidade da subjetividade, pelo fato de conter sempre as formas lingüísticas [sic]
apropriadas à sua expressão; e o discurso provoca a emergência da subjetividade [...]”.

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

pensada na linguística saussureana, guarda em si a estrutura da exceção


soberana; por fim, o discurso e a presença de sujeito como resto entre a
captura da linguagem. Nos dois casos, o que está em jogo é justamente
aquela cisão que torna possível toda a política, qual seja: entre as moda-
lidades de vida, bíos e zoé, e a consequente produção da exceção. Nos
dois casos, é na linguagem que se inscreve, como condição da hetero-
geneidade do dispositivo que ela perfaz, as separações que, no limite,
incidem sobre a vida.
A possibilidade de matar – de sacrificar o insacrificável – e de
produzir a vida nua, como tentei até aqui mostrar, é um problema da
norma jurídica, desde que essa é também direito a dizer. Nesse cadinho,
os viventes, as normas e a linguagem guardam relações não irrelevantes.
Para uma teoria biopolítica, um dispositivo da linguagem. Isso equivale
a pensar a dobra, a exceção e o rubor. Dessubjetivado, tornado corpo
político (e corporalizando os sujeitos que falam e que cometem discur-
so), é como dispositivo que essa língua(gem) pode ser pensado. Numa
biopolítica, portanto.

UM TECNOBIODISCURSIVO?

Na discussão sobre o corpo e a vida, tem ganhado espaço um “novo


materialismo”, que coloca em xeque a centralidade do linguistic turn e do
paradigma da linguagem. Repensando, por exemplo, o papel da lingua-
gem na teoria queer, autoras como Hannah Meissner (2017), a partir do
queer e desse materialismo, faz uma crítica a viragem discursiva: se há
uma série de tecnologias e de relações naturais que atuam sobre o “nós”,
nem a categoria de humanidade pode ser lida apenas pelo viés discursivo
e nem a linguagem poderá ser a única entrada para inteligir essas subje-
tividades. No caso dos feminismos e da teoria queer, tal viragem dirá
respeito não apenas à colocação em xeque da genealogia do conceito de
gênero como tecnologia de normalização inventada por John Money –
que exige, como aponta Preciado (2008), um pós-monismo de fluxos,
pirataria, hormônios e silicone –, mas, ainda mais profundamente, para
a relação entre esse ciborguismo e uma nova forma de abordagem do

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

material. Nos termos de Alaimo (2017, p.916): “[...] material-semiótica,


intercorporal, performativa, agencial, até letrada.”
Esse novo materialismo solicita um outro modelo para pensar a lin-
guagem e seu acontecimento é contemporâneo do que venho chamando de
“biopolítica ampliada” (BUTTURI JUNIOR, 2019), presente em vários
debates. Assim, conforme Lazzarato (2006), há tanto signos e máquinas
de expressão quanto “agenciamentos maquínicos”. Trata-se, portanto,
não de uma negação da centralidade da linguagem e do discurso, mas
de toma-la em suas intersecções com as técnicas e com o próprio vivo.
Desde o ciborgue de Haraway (2009 [1985]) até as discussões sobre o
Chtuluceno8 (2016), o empreendimento teórico é questionar os limites
disciplinares e, mais ainda, colocar em xeque o próprio conceito de vida.
É no interior da vida tomada como tecno-vida e em relação com os
seres não-humanos ou abióticos, respectivamente em Preciado (2008) e
sua sexofarmacopolítica e em Haraway (2015), que penso, reside uma
nova topologia possível para os estudos da linguagem. Como dispositivo,
gostaria de sugerir sua potência naquilo que o próprio Preciado (2008)
definiu como a necessidade de pensar um vértice semiótico-técnico da
representação e da intervenção sobre os corpos.
Trata-se, por fim de incluir a política na linguagem, desta feita a
partir de suas relações, ao mesmo tempo sempre técnicas, ao mesmo tem-
po sempre racializantes, nos termos de Foucault (2010b): numa relação
intrincada com as tecnologias não-discursivas de fazer morrer e viver
e que, desde o século XIX, impõem-se como problematização. É, pois,
nesse modelo que venho chamando de tecnobiodiscursivo (BUTTURI
JUNIOR, 2019), que se poderia vislumbrar respostas para a cisão aris-
totélica que, ainda na contemporaneidade, permite que se mate ou que
se exclua nos dispositivos a um só tempo discursivos e não-discursivos.

8 Haraway (2016, p.139), problematizando a vida e o conceito de antropoceno, colocar em xeque


o que chama de “roteiros Ocidentais modernos” . É diante de um problema do refúgio que
Cthulu (ser mitológico lido no século XIX por Lovecraft) reaparece. Sua força é subterrânea e
diz respeito à inclusão dos mais-que-humanos, outros-que-não-humanos, desumanos – aqueles
que rompem as cisões com que se opera para inteligir a vida.

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biopolíticas – discursos, dispositivos e resistências

REFERÊNCIAS

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