nas Organizações
Autora: Profa. Ma. Hely Aparecida Zavattaro
Colaboradores: Profa. Amarilis Tudela Nanias
Profa. Maria Francisca S. Vignoli
Professora conteudista: Ma. Hely Aparecida Zavattaro
Formada no curso de Psicologia pela Universidade Federal do Paraná em 1984, é consultora na área de
Desenvolvimento Institucional desde 1985, docente em cursos de graduação e pós-graduação, e pesquisadora na área
de Gestão de Pessoas há mais de 20 anos. É especialista em Administração de Recursos Humanos (CESULON – 1988),
Especialista em Metodologia do Ensino Superior (UEL.-1991) e especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho
(UEL.-1994); mestre em Psicologia Social e do Trabalho pela USP (1999).
Lecionou nos cursos de graduação em Administração, Comércio Exterior, Ciências Contábeis, Marketing, Turismo,
Pedagogia e Psicologia, nas universidades: CESULON, UEM – PR; UEL – PR; FIZO – Osasco/SP, UNIP/SP, UNIB/SP,
ANHEMBI-MORUMBI – SP. Atua como consultora na área de Desenvolvimento Individual (coaching e análise de
potencial) e Desenvolvimento Organizacional (treinamento, diagnóstico e reestruturação em processos, estrutura e
comportamento, planejamento estratégico) na R & H – Assessoria em Recursos Humanos.
CDU 658.3
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Virgínia Bilatto
Cristina Zordan
Sumário
Comportamento Humano nas Organizações
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8
Unidade I
1 AS RELAÇÕES DO INDIVÍDUO COM O TRABALHO E COM AS ORGANIZAÇÕES....................... 16
1.1 Raízes históricas da relação do homem com o trabalho...................................................... 16
1.2 A Administração Clássica e os princípios de gerência científica....................................... 22
1.3 A relação do indivíduo e a organização: diversidade das abordagens ........................... 36
1.4 Mudanças atuais na relação homem-trabalho......................................................................... 42
2 ASPECTOS INDIVIDUAIS DO COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES:
DIFERENÇAS INDIVIDUAIS E PERSONALIDADE, APRENDIZAGEM E PERCEPÇÃO DO
TRABALHADOR ...................................................................................................................................................... 50
2.1 Diferenças individuais e a formação da personalidade ........................................................ 50
2.1.1 Teoria do traço.......................................................................................................................................... 51
2.1.2 Teoria psicanalítica.................................................................................................................................. 53
2.1.3 Teoria da escola behaviorista.............................................................................................................. 54
2.1.4 Teoria da escola cognitiva.................................................................................................................... 55
2.2 Aprendizagem, atitudes, valores e percepção do trabalhador............................................ 55
2.2.1 Crenças e atitudes................................................................................................................................... 55
2.2.2 Aprendizagem........................................................................................................................................... 58
2.2.3 Percepção.................................................................................................................................................... 59
3 A MOTIVAÇÃO DO TRABALHADOR............................................................................................................ 63
3.1 O conceito de motivação nas organizações............................................................................... 64
3.2 Teorias motivacionais.......................................................................................................................... 66
3.2.1 Teoria das Necessidades segundo Maslow.................................................................................... 69
3.2.2 Análise dos motivos humanos- McClelland................................................................................. 71
3.2.3 Teoria X e Teoria Y – Douglas McGregor........................................................................................ 72
3.2.4 Teoria dos Fatores Higiênicos e Motivacionais de Frederick Herzberg............................... 73
3.3 A motivação nas organizações........................................................................................................ 75
4 BEM-ESTAR E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO.......................................................................... 76
4.1 O trabalho como condição ontológica e sua institucionalização..................................... 76
4.2 O trabalho do futuro e o futuro do trabalho: uma questão de tempo........................... 80
4.3 Qualidade de vida e saúde mental no trabalho........................................................................ 84
4.3.1 Estresse no trabalho............................................................................................................................... 85
4.3.2 Saúde mental no trabalho................................................................................................................... 89
4.3.3 Abordagem epidemiológica e/ou diagnóstica............................................................................. 90
4.3.4 Pesquisa em subjetividade e trabalho............................................................................................. 91
4.4 O papel do profissional de Serviço Social e de Psicologia na promoção da
qualidade de vida e saúde do trabalhador e na prevenção......................................................... 92
Unidade II
5 COMUNICAÇÃO E AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO TRABALHO.............................................101
5.1 A comunicação: conceito e processo..........................................................................................101
5.1.1 Barreiras à comunicação....................................................................................................................108
6 LIDERANÇA E PODER NAS ORGANIZAÇÕES........................................................................................118
6.1 O conceito de liderança....................................................................................................................119
6.2 Os tipos de poder e estilos de liderança....................................................................................122
6.3 As abordagens relativas à liderança............................................................................................126
6.3.1 Teoria dos traços................................................................................................................................... 126
6.3.2 Abordagem comportamental........................................................................................................... 127
6.3.3 Estudos de Michigan University..................................................................................................... 128
6.3.4 Grade gerencial ou grid gerencial.................................................................................................. 129
6.3.5 Abordagem contingencial..................................................................................................................131
6.3.6 Teoria Trajetória-Meta ou Caminho-Objetivo de House....................................................... 132
6.3.7 Modelo de liderança situacional de Hersey e Blanchard...................................................... 134
7 ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS E TRABALHO EM EQUIPE: DESAFIOS DA GESTÃO
NAS ORGANIZAÇÕES........................................................................................................................................137
7.1 Grupo ou equipe?................................................................................................................................138
7.2 Tipos de equipes de trabalho e seu desenvolvimento..........................................................143
7.3 Papel da equipe....................................................................................................................................146
7.4 A administração de conflitos..........................................................................................................154
8 CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL: DIMENSÕES DA DIVERSIDADE...................................166
8.1 O conceito e níveis de cultura organizacional........................................................................168
8.2 Elementos e funções da cultura organizacional ...................................................................171
8.2.1 Elementos da cultura organizacional .......................................................................................... 174
8.2.2 Funções da cultura organizacional................................................................................................ 177
8.3 A gestão da cultura organizacional ............................................................................................179
8.4 A diversidade e a cultura organizacional .................................................................................183
8.4.1 Cultura organizacional e cultura nacional................................................................................. 184
8.5 Analisando o papel profissional ...................................................................................................187
APRESENTAÇÃO
É preciso alcançar o comportamento individual para se tomar uma decisão assertiva rumo ao
desenvolvimento grupal e/ou organizacional, e vice-versa, pois reconhecemos que os três níveis são
interdependentes.
Neste momento você pode estar se perguntando: qual a relação desta disciplina com o meu
curso? O que posso aplicar do conhecimento sobre comportamento organizacional estando no papel
de assistente social, psicólogo ou de um profissional da área de ciências humanas?
7
Sem dúvida, a disciplina colabora substancialmente para os objetivos do curso, com a finalidade
de formar profissionais que atuem no escopo social, que sejam competentes e compromissados
com o planejamento, a implementação, a coordenação e a avaliação de políticas e projetos junto
a indivíduos, grupos, comunidades e instituições. Como profissional indispensável ao atendimento
dos grandes desafios da atualidade brasileira, a formação de um psicólogo, assistente social ou
qualquer outro profissional que atue em ciências humanas, implica essencialmente a compreensão
crítica dos problemas sociais e no domínio de um conjunto de teorias, métodos e procedimentos
para ação nos processos sociais. Em concomitância, de maneira a subsidiar a visão crítica e ação
social em instituições, a disciplina propõe justamente o conhecimento dos principais aspectos
envolvidos nos três âmbitos do comportamento humano nas organizações: individual, grupal e
organizacional.
• como se desenvolveu a história da relação do homem com o trabalho, incluindo seu significado;
Em cada uma das duas unidades desta disciplina, haverá uma breve apresentação do assunto, indicação
de material para leitura, atividades de estudo e exercícios de verificação da aprendizagem. Lembre-se
de que a mera realização dos exercícios não permitirá a aprendizagem dos temas. É imprescindível que
você leia o conteúdo e realize as atividades descritas em cada módulo.
Então, esperamos que tenha uma boa leitura e aproveite este conhecimento em seu trabalho!
INTRODUÇÃO
Quando nos referimos ao Comportamento Organizacional precisamos definir o termo e seu campo
de alcance. A disciplina relacionada ao comportamento humano nas organizações ou, em alguns casos,
também chamado de comportamento organizacional, “refere-se ao estudo sistemático das ações e
atitudes das pessoas dentro das organizações” (ROBBINS, 2004, p. 2).
Mas você pode neste momento estar pensando: como ocorre este estudo sistemático? Sobre quais
atitudes estamos falando? O que podemos definir como organização?
Estudar o comportamento humano nas organizações significa buscar usar evidências científicas
obtidas sob circunstâncias controladas e mensuradas com rigor e, por isso mesmo, suas teorias
8
e conclusões se baseiam em pesquisas sistematicamente elaboradas. Minhas atitudes e ações, meu
comportamento ou personalidade, estão intimamente relacionados com os coletivos sociais dos
quais participo. Considerando que nunca estamos sós, nós sempre interagimos com coletividades que
chamamos de grupos e organizações. Assim sendo, ao conceituarmos o termo organização sempre
precisaremos considerar a interação das pessoas e o agrupamento social.
Neste momento, você já pode perceber como o estudo sobre a relação indivíduo e organização tem
se tornado cada vez mais complexo e desafiador.
Considerando que pertencemos a diversas e diferentes redes sociais, que construímos e reconstruímos
nossas relações, precisamos compreender o comportamento social, pois nele se encontra a essência da
organização. Assim, a forma como é exercitada a interação social configura um sistema no qual as
pessoas contribuem para sua criação e manutenção, ao mesmo tempo em que são subordinadas ao
padrão estabelecido. Tanto o indivíduo influencia o grupo e a organização da qual faz parte, quanto é
influenciado por ambos.
Procure refletir sobre a sua relação com as instituições em geral, como se deu ao longo de
sua vida a transição pelos diversos grupos sociais a que pertenceu. Você acredita que obteve
aprendizagem junto a estes grupos sociais ou somente houve sua influência nas normas e valores
deles?
Lembrete
Ambiente externo
Pessoas
Organização
pessoas
Você provavelmente já começou a perceber a complexidade que envolve o estudo da relação entre
o comportamento humano e as organizações. Considerando a influência do ambiente, entende-se que
o comportamento organizacional compreende três níveis de análise: individual, grupal e organizacional,
também designados por Wagner e Hollenbeck (1999), respectivamente, de comportamento
microorganizacional, mesoorganizacional e macroorganizacional.
Saiba mais
11
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Unidade I
O indivíduo na esfera do trabalho e nas organizações
Sem dúvida, quando nos referimos à importância do comportamento humano nas organizações,
como uma ciência aplicada, precisamos ressaltar a influência das diversas disciplinas que auxiliaram em
seu estudo. As áreas predominantes consistem em: Psicologia, Sociologia, Psicologia Social, Antropologia
e Ciências Políticas. Podemos identificar, na figura 2, as principais contribuições que cada área ofereceu
ao estudo do comportamento humano nas organizações.
Como você pode perceber na figura 2 a seguir, a Psicologia tem em muito contribuído para o
conhecimento e análise do nível individual ou micro e as demais áreas têm auxiliado na compreensão
dos conceitos em nível macro, relativos aos processos grupais e organizacionais.
Ciências do Contribuição Unidade de análise Resultado
comportamento
Aprendizagem
Motivação
Personalidade
Emoções
Treinamento
Tomada de decisão individual
Psicologia Eficácia de liderança Indivíduo
Satisfação com o trabalho
Avaliação de desempenho
Mensuração de atitudes
Planejamento do trabalho
Estresse profissional Estudo do
Grupo comportamento
Dinâmica de grupo organizacional
Trabalho em equipe
Comunicação
Status
Poder
Conflitos
Sociologia
Teoria da organização formal
Tecnologia organizacional
Mudança organizacional
Cultura organizacional
Mudança comportamental
Mudança de atitude
Psicologia social Comunicação
Tomada de decisão em grupo
Processos grupais
13
Unidade I
Para melhor compreensão do comportamento organizacional, surge a Psicologia como ciência para
a explicação da conduta humana no ambiente laboral. A Psicologia se apresenta como a ciência que
estuda e analisa o comportamento humano. “A Psicologia se desenvolveu a partir da biologia e da
filosofia, com o objetivo de se tornar uma ciência que descreve e explica como pensamos, sentimos
e agimos” (MYERS, 1999, p. 1). O seu objeto de estudo consiste na subjetividade humana, como bem
define Bock (2002, p. 23):
Saiba mais
Neste contexto, a Psicologia não será estudada como ciência ou profissão em suas raízes e aplicações,
mas como base para promover reflexão sobre o comportamento humano nas organizações.
Observação
14
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
No entanto, sabemos que muito ainda precisa ser pesquisado sobre o comportamento humano nas
organizações, diante do universo complexo que se apresenta na atualidade.
Enquanto a Psicologia foca suas atenções sobre o indivíduo, a Sociologia estuda as pessoas em
relação umas às outras. Assim, a contribuição dos sociólogos correspondeu ao estudo do comportamento
dos grupos dentro das organizações, especialmente aquelas formais e complexas. A Sociologia em muito
contribuiu no entendimento da dinâmica do grupo, sobre a concepção de equipes de trabalho, cultura
organizacional, estrutura da organização formal, burocracia, comunicação, status, poder, conflitos, bem
como sobre o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. A Psicologia Social é uma área dentro da
Psicologia que combina conceitos da Psicologia como ciência e da Sociologia. Seu foco é a influência de
um indivíduo sobre o outro. Os temas mais investigados pela Psicologia social correspondem a atitudes,
padrões de comunicação, como as atividades em grupo podem satisfazer as necessidades individuais e o
processo de tomada de decisão em grupo. A Antropologia é o estudo das sociedades para compreender
os seres humanos e suas atividades. O trabalho dos antropólogos sobre culturas e ambientes contribui
para se compreender melhor as diferenças nos valores, atitudes e comportamentos fundamentais entre
pessoas em diferentes organizações. As Ciências Políticas estudam o comportamento dos indivíduos
e dos grupos dentro de um ambiente político. Alguns tópicos específicos dessa área são a estruturação
de conflitos, a alocação de poder e como as pessoas manipulam o poder para o atendimento de seus
próprios interesses.
Você pode estar pensando: mas em que isto pode ajudar um profissional ou uma organização?
Neste momento, procure refletir sobre a aplicabilidade desta área de conhecimento para seu curso.
Em que sentido conhecer sobre os aspectos que estão envolvidos no comportamento humano nas
organizações pode auxiliá-lo em suas ações profissionais?
15
Unidade I
O psicólogo, por sua vez, necessita entender o comportamento humano em todas as suas instâncias,
inclusive em sua relação com o trabalho e com a organização, para fazer frente às ações que visem à
melhoria da qualidade psíquica e social da vida humana.
Esperamos que esta leitura possa ser instigante e propicie reflexões, incrementando o interesse
por organizações e pelo desafio de “torná-las não somente eficientes, responsivas às transformações
ambientais, social e ambientalmente responsáveis, mas também propiciadoras do crescimento das
pessoas e da convivência dentro de padrões éticos” (ZANELLI, 2008, p. 13).
Na época do feudalismo a afetividade andava lado a lado com a racionalidade, sendo que as emoções
faziam parte integrante da relação do homem com seu trabalho e tal relação era mediada pela família
e orientada pela informalidade, integrando o cotidiano do trabalho.
Como Drake e Smith (1976) relatam, para saber o que uma pessoa fazia para ganhar o sustento antes
da Revolução Industrial, bastava conhecer a vida que levava, ou seja, o tipo de sua casa, o seu padrão
de existência e, por fim, a classe de indivíduos com quem seus filhos iriam se casar, o que dava uma
indicação tão clara quanto o conhecimento de sua ocupação. Outra diferença importante estava na
composição de seu serviço que, em grande parte, era executado em todas as suas etapas e consistia de
tarefas completas, executadas pela mesma pessoa. Assim, o carpinteiro, além de provavelmente ter de
vender o que fazia, deveria estar envolvido na preparação de sua matéria-prima, inclusive derrubando
árvores.
16
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Lembrete
Nos primeiros tempos da economia medieval, foram os comerciantes, e não os artesãos, que
indicaram o caminho para a comercialização de produtos, mas à medida que as condições se
desenvolveram, artesãos e profissionais começaram a ter grande importância. Enquanto as ligas de
comerciantes haviam sido formadas, primeiramente, para arrancar liberdades dos nobres feudais,
as ligas de profissionais se formaram para proteger os interesses dos produtores, no que tange aos
produtos, contra os distribuidores, em face da tirania dos comerciantes, dos quais dependiam para
seus mercados. Mas no limite de sua força, a liga de profissionais foi um instrumento bem sucedido
de manutenção da justiça econômica. “Para o profissional, o período de trabalho era frequentemente
longo, mas ele era seu próprio patrão, trabalhando quando precisava e tirando um descanso quando
julgasse necessário” (BROWN, 1976, pp. 26 - 27).
Em primeiro lugar, não nos esqueçamos de que os interesses econômicos eram subordinados a
aspectos religiosos (à salvação), e em segundo lugar, que tanto na conduta pessoal como na economia
as regras morais eram obrigatórias. A usura era proibida e os lucros não deviam exceder os ganhos do
trabalho profissional.
[...] A Idade Média deve-se dizer, não era em nenhum sentido, ideal. A
massa da população vivia em miseráveis habitações. O país era varrido
pelas pragas e a crueldade e a superstição eram elementos comuns da vida
diária. [...] Em uma sociedade em que o status é rigidamente definido e
onde a ascensão na escala social é rara e nunca inoportuna, o pedantismo
não pode infectar mais pessoas. Cada um conhece o seu lugar e percebe
a finalidade da sua posição; por isso, há menos motivo para pretensões
e ostentação, ambos originados da insegurança e da mobilidade social
(BROWN, 1976, p. 28).
17
Unidade I
Observação
Saiba mais
O início da era Paleotécnica pode ser datado de mais ou menos 1750, quando o aperfeiçoamento
do motor a vapor tornou possível, realmente, a fabricação em grande escala e demandou maiores
suprimentos de capital e trabalho. Segundo BROWN (1976), criaram-se novas regras de trabalho no
contexto social. Não sendo parte integrante da vida do operário e destituído de significado – uma
atividade odiosa – o trabalho passa a ser evitado sempre que possível. Tornou-se o lema da época que o
empregador não adquiria o trabalhador, e sim o seu trabalho, portanto a saúde ou as condições de vida
do trabalhador eram assunto pessoal deste.
18
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Paleotécnica
Fases Eotécnica ou medieval Neotécnica ou moderna
(Revolução Industrial)
Fonte: quadro elaborado por ZAVATTARO, 2003, p. 5, a partir dos dados apresentados por Lewin Munford (In: BROWN, 1976).
Durante os primeiros anos da Revolução Industrial, pelo menos as máquinas eram mais bem cuidadas
que os trabalhadores, visto que estes poderiam ser substituídos quando desgastados, enquanto aquelas
eram mais difíceis de repor. A partir de 1825 o sistema fabril estava em plena atividade em muitos países
europeus e, com o passar do tempo, as unidades industriais cresceram em tamanho, levando a um maior
desenvolvimento do sistema.
19
Unidade I
Aos poucos foram tomadas medidas para aliviar aquilo que se tinha tornado escorchante
para o trabalhador, que criava riquezas para os outros e não para si mesmo. Assim, reformas
foram instituídas por meio de legislação, que reconhecia direitos sobre horas de trabalho, idade
mínima para empregar-se, condições de salubridade, proteção dos desafortunados, provisões
para a educação, representação política e assim por diante. Essas melhorias, pelos padrões
atuais, eram mínimas, mas de fato representaram um significativo e importante começo
(DRAKE; SMITH, 1976).
20
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Sociais:
Econômicas:
- Exodo ruarl e urbanização.
- Crescimento do capitalismo Revolução
e da economia. Industrial - Surge a classe operária.
- Trabalho assalariado. - Enfraquecimento dos laços
familiares e economia.
No que concerne ao que se poderia chamar de pré-história de saúde mental dos trabalhadores,
Dejours (1991) vê emergir uma palavra de ordem que vai cobrir todo o século XIX: a redução da jornada
de trabalho para 8 horas por dia, constatando o efeito paradoxal desta medida sobre a produção, que
aumenta! Realmente, as condições de trabalho no início da Revolução Industrial eram desestruturantes
(física e mentalmente) para o trabalhador, pois causavam fadiga principalmente pelo ritmo de trabalho
empregado. Ao se concentrar em uma jornada de tempo menor, o trabalhador pode resgatar a energia
necessária às atividades laborais.
21
Unidade I
Podemos perceber agora mais claramente, as origens históricas de muitos dos problemas modernos.
Para expulsar a afetividade do trabalhador, a sociedade começa a ter uma estrutura definida com
ideia de privacidade (personalização da casa burguesa), restringindo o afeto às relações familiares e
destituindo-o do ambiente de trabalho.
Foi a forma de transformar o trabalho em mercadoria que ocasionou tal ruptura e talvez devido
a ela, atualmente, observamos uma série de estratégias defensivas sendo postas em prática pelos
trabalhadores, para conseguirem melhor sobrevivência em relação às exigências impostas pelo ambiente
de trabalho.
Exemplo de aplicação
Procure assistir ao filme Tempos Modernos de Charles Chaplin e faça uma reflexão sobre a influência
que a Revolução Industrial trouxe para a época e os resquícios que ainda encontramos em nossa
realidade atual.
Podemos observar com clareza a produção em massa do sistema fordista no filme Tempos Modernos,
de Charles Chaplin. Observa-se que o mesmo sistema de esteira favorece a divisão do trabalho, bem
como se percebe a imposição de um ritmo ao trabalhador.
Existem duas grandes transformações que precisam ser consideradas e que datam aproximadamente
do começo do século XX (embora suas origens possam remontar a períodos anteriores). A primeira é a
técnica de produção em massa, e a segunda, o crescimento da grande empresa industrial. A produção
em massa como conhecemos hoje, parece ter sido utilizada nos Estados Unidos pelos fins do século XIX,
na produção de vagões ferroviários de carga, mas o seu uso em escala realmente grande foi devido,
sem dúvida, a Henri Ford, quando, há mais de oitenta anos, utilizou este princípio na produção do seu
modelo T, numa fábrica em Detroit.
22
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Outra grande contribuição foi feita pelo grupo de teóricos e profissionais em administração da
América do Norte e da Europa, que estabeleceu as bases daquilo que é agora conhecido como “a Teoria
da Administração Clássica” e “Administração Científica”. Correspondendo com Weber, teóricos como
Henri Fayol e Lyndall Urwick advogaram firmemente a burocratização, devotando as suas energias à
identificação de princípios pormenorizados e métodos através dos quais esse tipo de administração
poderia ser atingido.
Observação
Grande parte dessa mudança na realização do trabalho foi analisada por Frederick Winslow Taylor
(1856-1915), “o pai da organização científica do trabalho”, que inicia os estudos da eficiência industrial,
contribuindo de forma bastante eficaz para o desenvolvimento industrial do século XX. Conhecemos por
Taylorismo o sistema de organização de trabalho proposto por Taylor, que se baseia em uma questão
bem simples: “Qual a melhor forma de fazer um determinado trabalho?”. Foi em busca de respostas para
esta questão que surgiram os métodos adequados para realizar e ensinar as condições para desenvolver
a tarefa.
23
Unidade I
Taylor desenvolveu diversos estudos no sentido de melhorar o desempenho no trabalho, sendo que
sua primeira apresentação científica ocorreu em 1895, na American Society of Mechanical Engineers.
Em 1911, publicou o livro Principles of Scientific Management (Princípios de Administração Científica),
que consiste na síntese dos estudos realizados por ele e na proposta de um modelo de maximização da
produção.
A contribuição real de Taylor consistiu na aplicação do método científico aos processos de produção,
substituindo os modelos rotineiros e assistemáticos. As implicações de sua proposta encontram-
se nas técnicas de análise do trabalho, estabelecimentos de chefias, estimação do tempo total gasto
na realização da tarefa etc. A originalidade de sua teoria não consiste na medição do tempo, mas
na decomposição da tarefa em movimentos elementares, ou seja, aqueles que não podem ser mais
divididos. Quanto à administração, a concepção taylorista impôs uma reorganização do trabalho,
acarretando a decomposição da antiga forma de administrar e atribuindo esta responsabilidade aos
especialistas. Assim, pode-se observar uma cisão entre o executar e o pensar, entre os que pensam e os
que executam. Finalmente, Taylor introduziu modificações na forma de pagamento, sob a justificativa
de que a motivação fundamental do trabalhador era o salário.
Desse modo, Taylor defendia cinco princípios básicos que podem ser condensados como se segue
(apud MORGAN, 1996, p. 32):
24
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Ao aplicar esses princípios, Taylor defendeu o uso de estudos de tempos e movimentos como meio
de analisar e padronizar as atividades de trabalho. O seu enfoque administrativo solicitava observação
detalhada e mensuração do trabalho, mesmo do mais rotineiro, para descobrir o melhor modo de fazer
as coisas. Sob o sistema de Taylor, atividades simples tais como as de carregadores de barras de ferro
e remoção de terra, tornaram-se objetos de ciência. Fundiu a perspectiva de um engenheiro com uma
obsessão pelo controle. É com referência ao Taylorismo, que Heloani (1994, p. 17) aponta:
Lembrete
Considerando-se tal concepção mecanicista de homem, podemos entender o que levou Taylor a
selecionar metodologicamente essas formas de controle sobre o trabalho humano e, neste sentido,
Heloani (1994, p. 20) expõe:
A obra de Taylor tinha como base a suposição de que o homem era um ser “econômico”; via o
desempenho do operário limitado apenas pela fadiga e aumentado por incentivos econômicos. Por isso,
suas técnicas de Administração Científica consistiam de métodos para simplificar e especializar tarefas
e de pagamento por peça produzida. Paradoxalmente, a aplicação do que Taylor desenvolveu sobre
métodos, os quais resultam em simplificação do trabalho e crescente utilização da mecanização, teve
como consequências: a) a redução do efeito do pagamento por incentivos, devido à impossibilidade
real que o trabalhador tem de, individualmente, influir de alguma maneira no cálculo de incentivo que
irá complementar o seu salário e, com referência à empresa, devido ao aumento de estoque e falta de
demanda no mercado relacionado ao produto; b) a insatisfação do trabalhador diante do desrespeito ao
seu ritmo individual; e c) a aplicação de estratégias coletivas de diminuição da produção por parte dos
trabalhadores, para evitar o desemprego da maioria.
25
Unidade I
Observação
Ainda que Taylor seja frequentemente visto como um vilão que criou a
Administração Científica, é importante ter em mente que ele foi realmente
parte de uma tendência social mais ampla, que envolve a mecanização
da vida de forma geral. Por exemplo, aqueles princípios ressaltados pelo
Taylorismo são agora encontrados no campo de futebol e nas atividades
esportivas, nos ginásios, bem como na forma pela qual racionalizamos e
rotinizamos a nossa vida pessoal.
Exemplo de aplicação
Neste momento, procure refletir sobre a aplicabilidade dessa ideia, pensando em que sentido o
Taylorismo está presente ainda hoje em suas ações profissionais e pessoais.
Muitos de nós impomos formas de Taylorismo sobre nós mesmos, à medida que treinamos e
desenvolvemos capacidades especializadas de pensamento e ação, bem como modelamos os nossos
organismos para se conformarem com ideais preconcebidos. Sob a influência do mesmo tipo de
mecanismo que tornou o Taylorismo tão poderoso, frequentemente buscamos tratar a nós mesmos
como se fôssemos máquinas. Procure observar como muitas vezes nos policiamos quanto à organização
excessiva de nossas atividades e como buscamos a perfeição em nossos processos.
Segundo nos aponta Morgan (1996) as forças apresentadas pelos enfoques mecanicistas da
organização funcionam bem somente sob condições nas quais as máquinas operam bem, ou seja,
quando:
Todavia, os enfoques mecanicistas da organização quase sempre têm severas limitações, pois
podem:
26
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
A passividade institucionalizada e a dependência dos trabalhadores podem até mesmo levar as pessoas
a fazer e justificar erros deliberados, sob a alegação de que estão obedecendo a ordens. A organização
hierárquica dos cargos alicerça-se na ideia de que o controle deve ser exercido sobre diferentes partes
da organização (para assegurar que estejam fazendo aquilo que foi planejado fazer), em lugar de ser
exercido sobre as partes em si mesmas. Supervisores e outras formas de controle hierárquico não só
monitoram o desempenho dos trabalhadores, como também tiram a responsabilidade dos trabalhadores,
devido ao fato de que a função destes realmente se torna operacional somente quando os problemas
aparecem. De forma semelhante, um sistema de controle da produção numa linha de montagem com
frequência institucionaliza a fabricação de produtos com defeito.
Observação
Essas ideias foram recebidas pelas organizações como a grande saída para a produção em massa,
sendo absorvida na sua totalidade. Entretanto, surgiram “efeitos colaterais”, alguns dos quais descritos
anteriormente, que remeteram alguns pesquisadores sociais a avaliarem as condições gerais de
trabalho. Basicamente, a não eficácia das formas de recompensa propostas por Taylor conduziram esses
pesquisadores a buscar respostas no ambiente de trabalho, que poderiam suprir essas deficiências.
O efeito da Administração Científica de Taylor no ambiente de trabalho tem sido enorme, aumentando
muito a produtividade, enquanto acelera a substituição de habilidades especializadas, por trabalhadores
não qualificados; no entanto, os problemas humanos que resultam de tais métodos de produção
tornaram-se evidentes desde quando começaram a ser introduzidos e, especialmente, quando aplicados
à tecnologia de linha de montagem. Por exemplo, quando Henry Ford estabeleceu sua primeira linha de
montagem para produzir o Modelo T, o giro de mão de obra subiu aproximadamente 380% num ano.
Somente dobrando os salários, por meio do seu famoso “$ 5 por dia”, foi capaz de estabilizar a situação
de trabalho e convencer os trabalhadores a aceitarem a nova tecnologia.
27
Unidade I
Segundo Heloani (1994), em certo espaço de tempo, na postura dos trabalhadores de recusa ao
ritmo da gestão fordista de produção generaliza-se um momento chamado “fuga do trabalho” (grifo do
autor). Para envolver novamente o trabalhador, mecanismos sofisticados de gestão da percepção e da
subjetividade são acionados. Mecanismos de “controle à distância” que se desenvolvem nas normas, na
linguagem, ou seja, nas formas de controle que se dirigem ao inconsciente dos trabalhadores.
28
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
são frequentemente programados pela política da companhia e ensaiados para produzirem resultados
autênticos.
Conforme nos apresenta Griffin (2006), somente no início do século XX, alguns pesquisadores
começaram a reconhecer a importância dos processos individuais e sociais nas organizações. Dentre
eles, o psicólogo alemão Hugo Munsterberg argumentou que o campo da Psicologia poderia fornecer
importantes caminhos de investigação em áreas correlatas, como motivação e contratação de novos
funcionários.
A inadequação do enfoque mecanicista do homem econômico levou ao que Drake e Smith (1976)
chamaram de “capitalismo de bem-estar”. As empresas tentaram chamar os trabalhadores para elas,
por meio do fornecimento de facilidades e condições tendentes a atrair e manter o empregado. Neste
sentido, a tentativa de manter este empregado, ou motivar a força de trabalho, estava localizada mais
no ambiente do que na própria tarefa.
Foi então a partir da década de 1930 que muitos autores da área do comportamento
organizacional preocuparam-se em oferecer referenciais para a aferição da motivação e satisfação
no trabalho, tais como Elton Mayo, Maslow, Herzberg, McGregor, Mclelland, entre outros. Neste
momento veem-se surgir palavras como: necessidades humanas, amor ao trabalho, sentimento
de segurança, confiança, pertencer a um grupo, entre outras. Tais termos passam a fazer parte do
discurso daqueles que em algum momento preocupam-se em estudar o comportamento humano
nas organizações.
Na década de 1930, nos EUA, surge uma crítica ao ideário taylorista, através da teoria das
Relações Humanas, desenvolvida por Elton Mayo, um psicólogo australiano. Elton Mayo se opôs
à visão taylorista do Homem Econômico e sua proposição baseou-se em que o trabalhador tem
uma necessidade de se dar bem com os outros, de precisar do convívio e do contato social, como
Homem Social. Os estudos de Mayo, especialmente aqueles vinculados à consultoria que prestou
ao programa de pesquisa da empresa General Electric, na sua fábrica de Hawthorne, Chicago, de
1927 a 1932, apontavam para a importância do terreno dos sentimentos e das relações humanas
entre o gerente e seus trabalhadores.
29
Unidade I
Assim, os estudos de Mayo (apud MORGAN, 1996) foram designados de Escola das Relações Humanas
e apontaram para as seguintes conclusões:
4. a falta de caminhos para a satisfação de outras necessidades que não as fisiológicas e de segurança,
levava à tensão, angústia e frustração. Tais sentimentos de impotência foram denominados por
Mayo de Anomia;
Ao comentar sobre esta abordagem, Spink (1996, p. 175) explica que as empresas precisavam levar
em consideração a dimensão social junto com a dimensão técnica – porém as duas são diferentes e
regidas por suas lógicas próprias. O lado técnico é necessário e determina a natureza dos postos e o
perfil de seleção e treinamento técnico, entretanto seus exageros precisam ser mantidos sob controle
pelo respeito exigido ao lado humano e aos processos de comunicação e liderança. O potencial de
conflito entre as duas tendências parecia real, porém na prática não aconteceu e os dois subcampos
acabaram por coexistir. Contrário à história mitificada, o movimento de Relações Humanas não
marcou o fim da influência Taylorista, porque na divisão crescente das novas funções de pessoal, os
dois não se cruzam.
Na Teoria de Relações Humanas, a ênfase está nas pessoas que trabalham nas organizações e não
na produção como na Teoria Clássica. O resultado almejado é a satisfação dos empregados, seres sociais
que reagem como membros de grupos sociais, entendendo que a organização somente conseguirá seus
objetivos se o trabalhador estiver feliz. Entretanto, apesar do predomínio da concepção de identidade
de interesses, sendo que quem detém o poder é a cúpula administrativa, uma das contribuições de Elton
Mayo foi, indubitavelmente, a consideração do lado informal da organização.
30
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Na verdade, a organização denominada formal consiste na hierarquia oficial como ela se apresenta
e em que toda autoridade é delegada aos sucessivos níveis, a partir de cima, cabendo ao presidente do
conselho de diretores a autoridade máxima, ordenada em uma hierarquia de poder. É uma pirâmide
com o presidente no topo e os operários na base. As ordens são passadas de cima para baixo, na escala,
e as informações sobre o que ocorre pelos vários departamentos caminham de baixo para cima, mas o
trânsito das ordens e informações é de mão única. Podemos definir três características da organização
formal: ela é impessoal, se baseia em relações ideais e na “hipótese de gentalha” sobre a natureza
humana.
Lembrete
Na hierarquia, apresentada em vários estratos de autoridade, com exceção do nível mais alto e do
mais baixo, cada um tem uma função mais ou menos definida e é responsável por algum trabalho que
alguém deseja que seja feito.
31
Unidade I
Quando nos referimos a este contexto informal, alguns conceitos como o de “status”, papéis e
prestígios são normalmente confundidos. De um modo geral, o status implica uma posição dentro
do grupo. O papel, em um comportamento adequado que se relaciona com essa posição e o prestígio
em algo mais pessoal que o indivíduo adiciona ao status e ao papel. Um médico, por exemplo, sempre
merecerá algum respeito pelo seu simples status oficial como tal, mas o seu prestígio poderá ser maior
ou menor, dependendo do fato de ser um bom ou mau médico. É simplesmente falso dizer-se, como
ocorre frequentemente, que todos desejam promoção no sentido de status formais mais elevados. O
que a pessoa realmente deseja é uma posição em que seja possível elevar-se em prestígio. Assim, um
profissional não deseja se tornar um supervisor ou um gerente; o que ele deseja é tornar-se melhor e
ser reconhecido como tal, isto é, deseja sentir que, se fizer melhor trabalho, o fato será reconhecido, não
só financeiramente, mas também em termos de mais privilégios.
O status é subdividido pelos antropologistas em dois tipos: status intrínsecos (ou funcionais) e status
derivados (ou não funcionais). No primeiro tipo, a pessoa merece referências na base de habilidade,
conhecimento ou atributos físicos – é o bom profissional ou a pessoa que executa primeiros socorros
com eficiência; no segundo tipo, o posto e o prestígio derivam do fato de a pessoa ocupar certa
posição na hierarquia formal – o diretor, o gerente, o supervisor. Segundo esse ponto de vista é mais
simples considerar o status intrínseco como pertencendo à organização informal e o status derivado,
à organização formal na fábrica, enquanto os dois podem ser combinados, não são necessariamente
relacionados (ZAVATTARO, 2003).
Naturalmente, existem outros pontos fracos, ignorados pela teoria da organização formal: os
problemas de coordenação e os problemas humanos. De acordo com Brown (apud ZAVATTARO, 2003) o
problema de coordenação é, em grande parte, um problema de comunicação, pois, sem comunicações
eficientes, nenhum esforço de coordenação é possível. Constitui uma fonte de dificuldades em uma
estrutura complexa como a indústria moderna, e quanto maior a indústria ou a empresa, mais esta
dificuldade tende a apresentar-se. As deficiências de comunicação podem ocorrer devido ao tempo,
espaço e às divisões naturais da estrutura.
tende a levar à situação anteriormente descrita, na qual cada departamento se julga o mais
importante, considerando os seus problemas muito mais prementes e urgentes do que aqueles
experimentados pelos outros.
Observação
O terceiro tipo de falhas nas comunicações surge quando os grupos de trabalho não conseguem
coordenar suas atividades por motivos descritos como as divisões naturais da estrutura, isto é, entre
unidades funcionalmente separadas, tais como divisões de departamentos, organizações em linha e
estado-maior ou vários departamentos e seções no mesmo nível horizontal. Falando de um modo geral,
é mais fácil coordenar as unidades que executam trabalho similar do que as que exercem funções
amplamente diferentes. Por isso, é fácil ver porque os conflitos devem surgir entre os vários níveis da
organização, uma vez que, neste caso, as funções diferem tão amplamente que é genuinamente difícil
aos membros de um nível apreciar o que os membros dos outros níveis estão tentando fazer. Imagine o
dilema do supervisor que se acha sob pressão de cima para produzir mais, e igualmente sob pressão de
baixo, no sentido de compreender os pontos de vista dos homens que controla e conservar a sua própria
lealdade. Sob tais circunstâncias, ele é um homem de duas faces, sujeito a agir de um modo às vezes
inconsciente. Na base dessa divergência de interesse está o outro dilema de cada seção, departamento
ou divisão que se acha sob pressão, não só da alta administração, mas de razões pessoais relacionadas
com o seu prestígio, a fim de conseguir boa produção. Cada um deve tentar impressionar os dirigentes
com a sua eficiência e o seu alto nível de produção, mas isso depende de íntima cooperação com outras
seções, departamento ou divisões. O chefe de um departamento que não está sendo adequadamente
suprido de trabalho por outro departamento, ficará ressentido se sua eficiência for questionada por um
problema que esteja fora do seu controle (BROWN apud ZAVATTARO, 2003).
Como um desejo natural de agradar, o gerente pode adversamente influenciar a comunicação efetiva:
o desejo de causar boa impressão faz com que as informações para cima sejam distorcidas. A gerência
é informada constantemente, de que tudo vai indo de acordo com os planos e quando as coisas vão
mal, tenta-se encobri-las na esperança de que as deficiências serão sanadas antes de serem descobertas.
Ordens de cima para baixo também podem ser distorcidas, embora de maneira diferente – o processo de
elaboração de tornar mais específicas as decisões gerais dos executivos, à medida que descem na linha
de autoridade, pode envolver erros, atrasos ou omissões.
Finalmente, com relação à existência de conflitos por diferenças culturais e sociais, em algumas
circunstâncias, as pessoas podem estar propensas a ignorar a importância das diferenças de
33
Unidade I
nacionalidade, de religião e de classe entre os empregados. Naturalmente, isto não deve ser tomado
como uma implicação de que todo empregado deve ser uma vítima em razão de sua religião, de
seu credo político, ou de outros credos, ou ainda devido à sua nacionalidade ou classe de origem.
O que importa é reconhecer que essa situação é real. Os problemas associados com comunicação
estão ligados com o segundo ponto fraco da organização formal, que, pela sua própria natureza,
tende a ignorar certos fatores emocionais de comportamento humano. Planejada precisamente para
ser racional e lógica e tornar mínima a influência do fator humano, se atrapalha quando enfrenta
os aspectos irracionais e emocionais da vida organizacional. Planejada para tratar do previsível, da
rotina e do típico, vê-se mal quando confrontada pelo imprevisto, pelo incomum, pelo ilógico. A mais
importante variável no organograma – as pessoas – está ausente. A organização formal considera as
pessoas que ocupam as diferentes repartições ou posições como constantes matemáticas e presumem
que todos os trabalhadores numa indústria não mantêm relações entre si, ou que essas relações são
as especificadas no organograma.
Embora a empresa esteja fundamentada em uma ideologia que exalta a competição, mais cedo ou
mais tarde a empresa perceberá que a pura competição não funciona. Administradores tentam inculcar
ideais de lealdade nas suas firmas, mas nunca fica claro onde termina a lealdade e onde começa o
processo pessoal. O resultado é um conjunto de atitudes conflitantes, que terminam por confundir todo
mundo e são, em grande parte, responsáveis pelo incremento na incidência de neuroses e infidelidade
pessoal na empresa.
Exemplo de Aplicação
Vamos refletir... Diante do simbolismo evidenciado nas instituições, como conciliar as atitudes
simultâneas de competição e cooperação? Como podemos administrar melhor os problemas de
comunicação existentes em uma estrutura organizacional?
A organização informal pode ser concebida como um conjunto de grupos menores. Os estudos
realizados pela Psicologia social já explicitam que os problemas de comunicação se tornam maiores à
medida que o grupo aumenta.
Considerando-se estes grupos menores que compõem a organização, devemos diferenciar dois tipos:
os pequenos grupos unitários naturais de que temos tratado constituem grupos primários ou face a
face, enquanto os corpos maiores dentro dos quais eles funcionam (a fábrica, o grupo de indústria, os
grupos de trabalho etc.) são chamados grupos secundários. Nos primeiros, os membros são interligados
34
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
por uma cadeia de relações pessoais, que podem ser de qualquer tipo ou grau, mas quando existe um
sentimento de apreciação, desgosto ou indiferença, cada membro assume uma atitude mais ou menos
clara com relação a cada um dos outros membros.
O grupo secundário é consideravelmente mais formal (tende a ser organizado por um propósito
formal) e as atitudes dos membros individuais em relação ao grupo tendem a ser determinadas
pelo grau em que os objetivos coincidem ou conflitam com aqueles do próprio grupo primário;
sua estrutura é mais ou menos racionalmente projetada na direção de um fim e seus membros não
se conhecem intimamente. O grupo primário pode ter um objetivo prático específico e, quando
visando a esse objetivo, se organizará, logicamente em relação a ele, mas essencialmente baseado
em satisfações sociais e na escolha pessoal e, à parte de qualquer objetivo prático, procurará
manter-se a si mesmo como uma unidade. Quando um grupo secundário não mais possui uma
função prática, tende a desintegrar-se, mas para o grupo primário a sua própria existência é um
objetivo adequado. As diferenças entre grupo primário e secundário podem ser visualizadas no
quadro 3.
Quando o trabalhador sentir que o interesse de sua empresa seja objeto de conflito com o do seu
grupo primário (neste caso, o seu grupo de trabalho), nenhuma propaganda, apelido ou disciplina fará
com que desenvolva sentimentos de lealdade para com a empresa. O grupo primário é o instrumento
da sociedade, por meio do qual em grande escala o indivíduo adquire suas atitudes, opiniões, objetivos
e ideais; é também uma das fontes fundamentais de disciplina e controles sociais. Embora algumas
atitudes e ideais do indivíduo sejam adquiridas do grupo primário, outros se originam na sua cultura
ou subcultura. Contudo, é por intermédio do grupo primário (especialmente a família) que eles são
impostos e aplicados.
35
Unidade I
Lembrete
Sob circunstâncias mais comuns, os membros de um grupo na indústria vêm juntar-se por motivos
óbvios: por serem empregados no mesmo trabalho, terem a mesma nacionalidade ou provirem da
mesma região, serem mais ou menos da mesma idade, serem do mesmo sexo ou do mesmo tempo
de empresa. Acima de tudo, juntam-se porque são colocados próximos uns dos outros, no local
de trabalho. É bem o caso, se a mobilidade for limitada pela natureza do trabalho. Uma vez que a
proximidade espacial é assim tão importante, segue-se que, até certo ponto, o grupo de trabalho
informal e o grupo formal coincidem. Por outro lado, há uma grande dose de superposição. Por
exemplo, o número de supervisores pode criar o seu próprio grupo informal, e, embora separados
durante as horas do serviço, podem tais superiores encontrar-se no refeitório, nos horários de
refeições, ou socialmente, após o expediente.
Muitas vezes, os gerentes podem dar ordens com base num conhecimento presumido, e caso essas
ordens fossem obedecidas completamente, resultariam em confusão, e a produção e a moral seriam
diminuídas. A fim de alcançar os objetivos da organização, os trabalhadores têm, muitas vezes, de violar
as ordens e apelar para sua própria maneira de fazer as coisas e passar por cima das linhas de autoridade.
Sem essa forma de sabotagem sistemática, muito trabalho não poderia ser feito. Esta sabotagem não
solicitada, na forma de desobediência e subterfúgio, muitas vezes é especialmente necessária para
permitir que uma burocracia complexa funcione com eficiência.
Neste momento você pode estar se perguntando: o que mais envolve a relação do ser humano com
a organização?
Você já pode perceber até então que, ao ser institucionalizado, o trabalho adquiriu um espaço
físico e regras específicas. O trabalho passa a ser realizado em um ambiente que passou por diversas
nomenclaturas: fábrica, indústria, organização, firma, entre outras. No que se refere ao conceito de
“organização”, Morgan (1996, p. 22) expõe que “raramente as organizações são propostas como um fim
em si mesmas”. São instrumentos criados para se atingirem outros fins. Isso é refletido pelas origens da
palavra “organização”, que deriva do grego “organon”, que significa uma ferramenta ou instrumento.
36
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Não é de admirar, portanto, que as ideias sobre tarefas, metas, propósitos e objetivos se tenham tornado
conceitos organizacionais tão fundamentais. Com efeito, ferramentas e instrumentos são dispositivos
mecânicos inventados e aperfeiçoados para facilitar na consecução de atividades orientadas para um
fim particular.
O contexto histórico tem determinado a representação do termo utilizado, como podemos evidenciar
por meio da exposição de Spink (1996, p. 176):
Na antropologia da mesma época, organização era usada de maneira genérica para se referir aos
processos sociais em agregações humanas, suas religiões, ritos, estrutura familiar e modo de vida.
Ninguém duvidava que estes processos sociais tivessem seu lado simbólico.
Lembrete
Observação
As teorias de administração não estão descoladas de suas realidades históricas e sociais. Refletem,
como analisou Tragtenberg (apud MORALLIS, 2002) os interesses dominantes, assumindo um caráter
ideológico, na medida em que se colocam como ideias independentes. As teorias de administração
contribuíram, em diferentes momentos, para legitimar as condições de exploração e dominação dos
indivíduos dentro das organizações.
não pela legitimação da autoridade (Teoria da Burocracia), mas se a obediência lhes traz alguma
vantagem.
Observação
Uma das ideias centrais é que os indivíduos estão parcialmente incluídos na organização e suas
funções não representam a totalidade de sua personalidade. O objetivo é integrar novas partes do
indivíduo, aumentar a identificação deles com a organização (MORALLIS, 2002).
No entanto, foi com o avanço das ciências biológicas e seus estudos sobre a dependência
e adaptabilidade dos seres vivos ao meio ambiente, que o conceito funcionalista de sociedade
passou a influenciar outras ciências, tais como: a Sociologia, a Psicologia, a Administração.
A abordagem funcionalista ou orgânica parte do princípio de que a estrutura é permanente,
podendo adaptar-se a algumas mudanças que não a afetem fundamentalmente. Em conjunto
à concepção darwiniana aplicada ao sistema social, já se admite as evoluções e as mudanças a
partir do potencial dos mais aptos.
E com relação ao papel do psicólogo ligado a essa concepção, nos expõe Jacques (1988) que na
abordagem organicista, as mudanças são apenas:
No que diz respeito ao assistente social é necessário compreender que também é extremamente
importante a inserção sobre o comportamento humano nas organizações. Nos termos postos, é necessário
destacar que tais conhecimentos são importantes em decorrência do fato do assistente social também
caracterizar-se como um trabalhador assalariado, inscrito em um processo de trabalho e, portanto,
também se depara com as relações organizacionais estabelecidas. No entanto, seu conhecimento ainda
se mostra relevante, ao passo que os assistentes sociais também atuam na gestão da força de trabalho,
influenciando no clima ou ambiente organizacional.
Dessa forma, o assistente social que atue em uma organização, pública ou privada, precisa sempre
ter como referência a compreensão de que o seu comportamento profissional adotado incidirá em
toda a organização. No caso, compete aos assistentes sociais, segundo o artigo 3° do Código de Ética
do assistente social: “a) desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade,
observando a legislação em vigor”, sendo que a nosso ver, seu comportamento, sua postura profissional
serão extremamente importantes nesse sentido, ou melhor dizendo, no sentido de garantir uma prática
de fato eficiente e responsável.
Por outro lado, o assistente social também tem sido chamado para atuar em empresas públicas
e com maior incidência em empresas privadas para integrar equipes de recursos humanos,
juntamente com Psicólogos e outros profissionais de diversas categorias, conforme nos dizem
Borralho e Souza (2011). Em tais espaços profissionais, os assistentes sociais, via de regra, orientam
sua atuação para a melhoria do clima organizacional tendo em vista que suas intervenções tendem
a melhorar a qualidade do serviço prestado. Por isso temos que evidenciar algumas colocações
sobre o trabalho na área de recursos humanos.
No Brasil, a introdução da designação coincide com a época de euforia que marcou os fins dos anos
1960 e o início dos anos 1970. A indústria brasileira encontrava-se em um crescimento acelerado e o
trabalho na área de recursos humanos era intensamente disputado.
40
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Observação
A área de comportamento organizacional (CO) considera certas situações de trabalho como alienantes
e explica a aparente satisfação dessas tarefas como reflexo incorreto das necessidades e potencialidades
do homem. Nessa visão, as organizações são concebidas como coisas independentes das definições e
propósitos de seus membros.
Neste momento, surge o movimento institucionalista, o qual evidencia a importância dos indivíduos
perceberem suas necessidades por meio da autoanálise e se organizarem para conseguir seus objetivos
por meio da autogestão.
Nessa mesma linha de compreensão de um novo indivíduo encontramos FOUCAULT (1995, p. 239):
Talvez, o objetivo hoje em dia não seja descobrir o que somos, mas recusar o
que somos. Temos que imaginar e construir o que poderíamos ser para nos
livrarmos deste “duplo constrangimento” que é a simultânea individualização
e totalização própria às estruturas do poder moderno.
Lembrete
41
Unidade I
Analisando este momento, parece ter sido iniciada a recuperação de algumas das questões relativas
à subjetividade da relação do homem com o trabalho...
Finalmente emerge uma questão: e como se configura o quadro da relação do homem com o
trabalho hoje?
Nós estamos em um período de evidente transição – e o nós aqui não se refere somente ao ocidente,
mas ao mundo todo. Estamos num momento de revolução, criando e alterando várias tradições em
função da globalização. Intensificaram-se os laços entre as diferentes culturas, causando um efeito
global. A decisão de se comprar um item de vestuário, por exemplo, tem manifestações e implicações
globais por se refletir na economia e cultura mundial. Passamos de uma tradição pré-industrial para
uma tradição pós-industrial.
Observação
As mudanças também repercutem na gestão de recursos humanos visto que as políticas adotadas
pelas empresas brasileiras nos últimos anos encontram-se baseadas nos modelos propostos pelas
empresas mais lucrativas do primeiro mundo que, por sua vez, têm encontrado no modelo japonês a sua
fonte máxima de inspiração.
Essa conjuntura nacional e internacional tem forçado as empresas a reformular suas estratégias de
negócios e estruturas organizacionais, buscando potencialmente uma redução de custos e uma maior
competitividade de seus produtos.
mais conhecidos no padrão tecnológico emergente, ao lado das mudanças organizacionais. As análises
sobre a reestruturação produtiva em curso mostram que não é possível tratar informática e automação
isoladas da questão organizacional.
Para a discussão das mudanças organizacionais em curso nas organizações, ao resumir os aspectos
salientados por Salerno (1994) encontramos:
Diante de tal quadro, a implantação de novos modelos administrativos tem se mostrado uma
alternativa em destaque no ambiente empresarial, como uma forma de racionalização de recursos,
redefinição de operações e funcionamento com estruturas mais horizontalizadas, enxutas e flexíveis.
No geral, busca-se modelar organizações com estruturas mais leves, com menor número de níveis
hierárquicos (downsizing), com maior descentralização e consequente autonomia das unidades
constituintes.
Historicamente, vimos que as relações de trabalho foram se tornando cada vez mais mecânicas e
impessoais, exigindo o aperfeiçoamento para aumentar a produção e evitar problemas. Diante de tal
quadro de mudanças, alguns aspectos parecem ser essenciais ao entendimento da complexa relação
homem-trabalho na era da “pós-modernidade”. Hoje a empresa precisa de resultados e só se envolve
43
Unidade I
com isso, considerando que o risco faz parte do negócio. Percebe-se que os problemas de crescimento
organizacional têm tido estreita ligação com os problemas de adaptação e gerência de mudança. A
mudança tecnológica que se processa com rapidez incrível, cria constantes problemas de obsolescência,
bem como as mudanças sociais e políticas criam uma constante demanda de novos serviços e expansão
dos serviços já existentes. Frente à imprevisibilidade das transformações no mundo do trabalho, as
organizações têm necessitado desenvolver flexibilidade e capacidade de enfrentar uma série de
problemas novos e, como sabemos, essas características residem em última análise na gestão de pessoas
das organizações.
Observação
Ainda, alguns pesquisadores (FREYSSENET, 1977; H. KERN e M. SCHUMANN,) cogitavam em 1980 que
a modernização tecnológica estaria criando de um lado uma massa de trabalhadores desqualificados e,
de outro, um punhado de trabalhadores superqualificados. As novas tecnologias reforçariam a divisão
do trabalho e a desqualificação da mão de obra. Uma ruptura se dá neste paradigma dominante de
qualificação em meados de 1980. Mais de vinte anos depois dos primeiros estudos sobre consequências
da introdução de novas tecnologias sobre a divisão do trabalho e a qualificação, autores como Freyssenet,
Coriat, Kern e Schumann constatam uma requalificação dos operadores, ou uma reprofissionalização,
com o aprofundamento da automatização de base microeletrônica nas indústrias (HIRATA, 1994, p. 131).
Diante de outro aspecto relevante a ser discutido quanto às novas tecnologias em curso, Daniellou
(apud SALERNO, 1994, p. 66) considera que a
Conforme essa visão, os níveis correntes de tecnologia não eliminam completamente a imprevisibilidade
e, portanto, a habilidade e o gênio dos humanos são o corretivo mais eficiente para essa incerteza.
Então, enquanto partes específicas do processo ficam mais automáticas, os homens (operários) retêm o
controle do sistema. E quanto maior o estoque, a variabilidade da produção e a dificuldade de reposição,
maior a importância dos trabalhadores na gestão dos imprevistos. Isto significa também que existe uma
necessidade a ser considerada: a possibilidade e o uso de tempo dos trabalhadores para a gestão dessa
variabilidade.
45
Unidade I
Percebemos que houve uma mudança do paradigma da Administração Científica, o qual exige um
controle sobre o processo (foco em como fazer), passando para um paradigma que evidencia o produto,
cobrando-se apenas o resultado, e na estratégia (porque fazer). O mecanismo básico de integração por
meio da relação de parceria é com o resultado e os próprios grupos têm de conhecer a determinância
do produto, assumindo a responsabilidade por tudo. A relação de parceria, de cooperação, envolve um
compromisso, no estabelecimento de competências a serviço do grupo. O modelo de competência é
aquele que assume a polivalência das pessoas, associada a um esquema cooperativo entre grupos de
trabalho.
Contudo, inegavelmente, o avanço da tecnologia e da informática tem sido uma realidade constante
e de enorme importância na atualidade. As tecnologias da informação e da informática não só causam
impacto na nossa relação com o ambiente que nos cerca, mas também nas condições de trabalho. Sem
dúvida, mesmo nos setores menos capitalizados, as relações de trabalho e sua forma de organização são
mais precários devido aos baixos salários e um maior desgaste, o que resulta em mortes e acidentes de
trabalho, incidência de doenças relacionadas ao trabalho, tais como LER, doenças de coluna, sofrimento
psíquico, hipertensão arterial e câncer.
Fica evidente que, além dos limites legais para o reconhecimento da doença
profissional, contribuem os entraves da burocracia da Previdência Social, o
desconhecimento e o despreparo dos profissionais de saúde para fazer o
diagnóstico da doença e o nexo com a atividade laboral do paciente, a falta
de apoio para exames complementares especializados, a desinformação dos
trabalhadores sobre os riscos a que estão expostos e de suas consequências
para a saúde, somados às lacunas existentes no conhecimento médico-
científico sobre a questão (MENDES, 1995, p. 207).
De outro lado, a existência de uma heterogeneidade no Brasil revela-se não só na distinção de raças,
credos, mas também na coexistência de tecnologias avançadas e primitivas. Coexistem categorias de
trabalhadores extremamente organizadas e politizadas com categorias desorganizadas e desinformadas;
o urbano e o rural; a indústria e os serviços, expressando gritante desigualdade.
Ainda, o uso do computador tem penetrado nas mais diversas áreas da atividade humana,
acrescentando o problema do desemprego e direcionando as pessoas a se adaptarem a uma nova forma
de pensar e de falar. Sobre este último aspecto, Mussio (apud UCHIDA, 1996, p. 92) coloca que “o uso de
um instrumento não só envolve aspectos tecnológicos, mas induz também ‘efeitos culturais’”.
O efeito destas novas tecnologias, segundo Rebechi (apud UCHIDA, 1998, p. 110), levam a uma
extensão do sistema taylorista, de um hiperTaylorismo, dizendo que:
O autor procura ressaltar que a informatização cristaliza-se no interior das organizações de trabalho
de uma forma em que os limites entre o trabalho manual e o intelectual tornam-se menos nítidos.
Lembrete
Dessa forma, as ideias dos teóricos da Administração Clássica podem estar sendo reforçadas sob o
disfarce de administração moderna. Isso frequentemente ocorre porque as pessoas que planejam esses
sistemas administrativos acabaram por pensar nas organizações de maneira mecanicista e não estão
conscientes de outras formas pelas quais essas técnicas poderiam ser utilizadas.
Lembrete
Percebe-se que os problemas de crescimento organizacional têm tido estreita ligação com os
problemas de adaptação e gerência de mudança. A mudança tecnológica que se processa com rapidez
incrível, cria constantes problemas de obsolescência, e as mudanças sociais e políticas criam uma
constante demanda de novos serviços e expansão dos serviços já existentes. Frente à imprevisibilidade
das transformações no mundo do trabalho, as organizações têm necessitado desenvolver flexibilidade e
capacidade de enfrentar uma série de problemas novos e, como sabemos, essas características residem
em última análise no comportamento humano das organizações.
Não podemos avaliar com exatidão qual será o futuro ambiente para as organizações nem mesmo
para a próxima década. O problema psicológico que se cria para a organização consiste, pois, em como
desenvolver no seu pessoal o tipo de flexibilidade e adaptabilidade que possa vir a ser necessário para a
organização sobreviver em face de um ambiente em constantes modificações.
Grande parte da atual mudança tecnológica e social é imprevisível. Nós sabemos que a capacidade
humana de lidar com a imprevisibilidade é limitada e muito mais no que se refere à sobrevivência.
Diante dessa situação de impossibilidade de previsão do futuro, o que os indivíduos sentem passa a ser
a ansiedade frente à sua própria perspectiva de desenvolvimento pessoal, profissional, de carreira e até
de permanência no emprego.
A busca pelo resultado e a evidência do autocontrole (ou controle interno) do homem no trabalho,
pode, de um lado, fazer com que o trabalho volte a ser criativo, pelo resgate da autonomia na relação
do homem com o trabalho e, de outro, aumentar a ansiedade e o estresse do trabalhador frente ao grau
de autoexigência e de competitividade existentes.
Uma medida de insatisfação pode apresentar-se pela não existência de uma teoria que simplifique
as formas de abordar o delineamento do trabalho e da mudança organizacional. Por isso, em cada
situação prática, somos forçados a lidar com a complexidade, com modelos explanatórios parciais e com
cada situação empírica.
Exemplo de Aplicação
Quais sentimentos de temor são mobilizados diante do receio de fracassar? Será que todos suportam
– mantendo seu equilíbrio psíquico e psicossomático – o desafio de ser “excelente” ou de cair na situação
de “funcionário descartável”?
48
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Exemplo de Aplicação
Vamos refletir... Como lidar com tamanha complexidade do contexto propagado pela “modernidade”
no nosso trabalho, como agentes de mudança, promotores de consciência, se nós mesmos nos sentimos
envoltos pela imprevisibilidade das mudanças? Como não sentir-se, muitas vezes, uma formiga diante
de um elefante?
À medida que o campo de atuação das ciências humanas (tal como a de serviço social e Psicologia) se
desenvolve, torna-se cada vez mais claro que a solidez e a eficiência de uma organização dependem, em
última instância, de sua capacidade de diagnosticar seus próprios problemas e desenvolver suas próprias
soluções. Torna-se necessário ao profissional desta área ser um agente de mudança. A humanização
do trabalho deve abranger também a busca de novas formas de organização do trabalho, em que
não seja necessário exercer controles rígidos sobre cada atividade, mas que se dê margem para que
o homem exercite suas habilidades, com o sentido de autorrealização, tornando a relação do homem
com seu trabalho mais criativa e saudável. Talvez este desafio possa nos fazer pensar na proposta de se
utilizar a flexibilidade das empresas como uma boa estratégia para humanizar o trabalho. Na verdade,
estamos diante de muitas visões diferenciadas existentes na atualidade, com interpretações diferentes
sobre um mesmo aspecto, nos indicando que, enquanto houver transição, novas estratégias poderão ser
desenvolvidas.
Exemplo de Aplicação
Diante de tanta imprevisibilidade, podemos ao menos prever que os profissionais desta área estejam
aptos para acompanhar, antever e responder às demandas sociais e políticas pela melhoria da qualidade
de vida no ambiente de trabalho?
49
Unidade I
Parece que só existe uma maneira de se construir uma nova relação do homem com o trabalho:
construindo-a. Conhecer a história e as formas configuradas na relação homem-trabalho é fundamental,
mas não basta para sua construção no futuro. É preciso perseguir um ideal, planejar e dispor dos
recursos e conhecimentos existentes para tal, e mesmo, criar e perseguir uma utopia... Algo tão em falta
atualmente.
Vamos iniciar nossa jornada em busca de maior conhecimento sobre os aspectos que envolvem
o comportamento humano nas organizações. Comecemos por visualizar as diferenças individuais e a
formação da personalidade.
Iniciamos este tópico entendendo que as pessoas são diferentes umas das outras, tornando
maior a complexidade do ser humano e das teorias que buscam explicar o seu comportamento. As
diferenças individuais se apresentam nas características físicas, psicológicas e emocionais. Levar em
conta as diferenças individuais e as contribuições dos funcionários, relacionando-as aos incentivos e aos
contextos, é um grande desafio para as organizações que procuram estabelecer contratos psicológicos
eficazes e adequar, da melhor maneira possível, as pessoas aos cargos (GRIFFIN, 2006).
Observação
para ressoar com a voz do ator, permitindo que fosse bem ouvida pelos espectadores, bem como para
dar ao ator a aparência que o papel exigia, conforme exemplificado na figura 8.
estabelecer relações entre diversos produtos, traços de personalidade dos consumidores e decisões
de compra como nos aponta Cobra (1992).
Âmbito
Hipocondria 1 clinicamente
(preocupação com os sintomas do corpo) significativo
Depressão 2
(pessimismo, desamparo) Depois do
Histeria 3 tratamento
(usa sintomas para resolver problemas) (nenhuma Antes do
pontuação num tratamento
Desvio pisicopático 4 (ansioso, deprimido,
(menosprezo aos padrões sociais) âmbito clinicamente com desvios de
Masculinidade/feminilidade 5 significativo) comportamento)
(interesses como os do outro sexo)
Paranóia 6
(ilusões, desconfiança)
Psicatenia 7
(sentimentos ansiosos e de culpa)
Esqizofrenia 8
(retraimento, pensamentos bizarros)
Hipomania 9
(retraimento, pensamentos bizarros)
Introversão social 10
(timida, inibida)
0 30 40 50 60 70 80
Os traços são medidos de acordo com a tendência de uma pessoa apresentar uma dada característica
como resposta a várias questões. Autores como Griffin (2006) e Robbins (2004) apresentam o teste de
personalidade MBTI (Myers-Briggs Type Indicator) como um os modelos de tipologia de personalidade
mais utilizada nas empresas, tanto em seleção quanto em avaliação de estilos de comunicação e
preferências de interação. No entanto ainda há dúvidas quanto à validade do MBTI na avaliação
de características de personalidade. Baseado na obra de Carl Yung, o teste diferencia as pessoas
quanto a quatro aspectos gerais: extroversão-introversão; racionalidade-intuição; lógica-emoção e
análise‑percepção.
Observação
Outro teste muito utilizado na atualidade e mencionado por Griffin (2006) e Robbins (2004) é
o conhecido por Big Five, identificando cinco traços de personalidade: sociabilidade, consciência,
estabilidade emocional, extroversão e abertura para experiências.
52
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Saiba mais
Freud, como pai da teoria psicanalítica, acreditava que os conflitos emocionais aparecem nos
indivíduos por causa da interação entre o impulso instintivo, o id, o qual representa a força motriz
subconsciente do animal, enquanto procura satisfazer impulsos (especialmente sexo); o superego, que
representa a consciência que procura anular o impulso instintivo do indivíduo; e o ego, que consiste na
força do consciente lógico, que dirige a libido às satisfações socialmente aceitáveis para conciliá-la com
o impulso instintivo do indivíduo.
Para melhor entendermos estes conceitos em sua relação com turismo e hotelaria, alguns exemplos
específicos poderão ser encontrados em Silva (2004). Um exemplo de um turista idílico (regido pelo
princípio do prazer, satisfazendo suas necessidades em primeiro lugar, em que o ego atende ao id)
pode ser encontrado na pessoa que ouve música em horário impróprio, dorme até quando acha
conveniente, sem levar em consideração os demais turistas ou regras do passeio. Um exemplo de
turista superegoico (em que o ego atende ao superego, regido por normas sociais) corresponde àquele
que, estando na piscina, procura reparar nos comportamentos e comentar sobre inadequações dos
banhistas, ao invés de divertir-se. Um turista ou hóspede egóico (com o seu ego em equilíbrio junto
ao id e superego em relação ao meio externo) pode corresponder àquele que ouve sua música no
volume máximo, mas em horário permitido ou, se perdesse o horário do café no hotel por dormir
demais, entenderia e não discutiria.
Muitos pesquisadores do comportamento humano nas organizações, não imaginavam que conteúdos
inconscientes pudessem auxiliar no entendimento de certas inadequações das pessoas em local de
trabalho. Apesar de nem tudo ser considerado como advindo de motivações inconscientes, algumas
condutas estáveis, inseguranças inexplicáveis, desajustes diante de obstáculos, podem esconder atrás
53
Unidade I
Um exemplo disso é a incapacidade de algumas pessoas assumirem uma atitude eficaz ao liderar
seguidores. Sabe-se que o sentido de autoridade é introjetado na personalidade humana por volta de
três a cinco anos, junto com a fase edipiana. Pais que dificilmente conseguiram manter sua palavra
diante dos filhos não ofereceram o conceito de autoridade que deveriam ter oferecido, fazendo com que,
quando adultos, não se julguem capazes de liderar seus subordinados. Assim, muitas das dificuldades
em assumir papéis de liderança, foram, portanto, introjetadas nesse momento da vida do líder ineficaz
(BERGAMINI, 2006, p. 62).
Este exemplo se refere ao comportamento adquirido por meio de aprendizagem por reforço,
o qual pode ser positivo quando existe uma ação repetida que se aplica a uma resposta com a
intenção de mantê-la, ou pode ser reforço negativo, quando se aplica a uma resposta com a intenção
de extingui‑la. No exemplo anterior podemos analisar o comportamento do turista que, enquanto
criança, ao responder arrogantemente, deve ter sido estimulado positivamente com elogios ou
qualquer outra forma de reforço recebido.
Observação
54
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Saiba mais
Para saber mais consulte:
BERGAMINI, C. W. Psicologia aplicada à administração de empresas:
Psicologia do comportamento organizacional. São Paulo: Atlas, 2006.
O conceito genérico das teorias de consistência cognitiva diz que “as várias cognições que as
pessoas mantêm devem ser consistentes umas com as outras. A inconsistência entre ideias causa
tensões e moções, que as pessoas são levadas a reduzir tornando consistentes as cognições sem
consistência. As pessoas fazem isso mudando uma das cognições, para torná-la coerente com outra”
(SHETH, 2001, p. 381).
Um exemplo que ilustra uma das teorias desta abordagem consiste na teoria da dissonância
cognitiva de Festinger. A maioria das pessoas passa pela situação de ter incerteza quanto a ter feito a
escolha certa, o que em Psicologia se denomina dissonância cognitiva, mas o que Festinger notou foi
que a avaliação que a pessoa faz desta decisão torna-se mais positiva após ter passado algum tempo
da decisão. “Assim, o cliente primeiro toma uma decisão com base em uma determinada avaliação do
objeto; em seguida, surge a dúvida pós-decisão. Finalmente, o cliente resolve a dúvida, atualizando a
avaliação na direção positiva” (SHETH, 2001, p. 381).
Normalmente fazemos coisas de que gostamos e evitamos as de que não gostamos. Se você gosta
de feijoada, provavelmente tem a intenção de consumir essa iguaria em algum momento no futuro.
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Unidade I
Conservar uma atitude favorável em relação a um produto é quase sempre um pré-requisito essencial
para manter um consumo ou uma intenção de compra útil, pois se você, como consumidor, não gosta
de um produto, provavelmente irá comprar um produto do concorrente.
Se você prefere um produto em vez de outro concorrente, isso não quer dizer que tenha a intenção
de comprar o produto preferido. Você pode preferir um automóvel da Honda e não ter a intenção de
comprá-lo. Talvez você não necessite de um carro novo ou provavelmente você não tenha dinheiro
suficiente para comprar um Honda. Ou quem sabe tenha dinheiro para pagar, mas recuse a ideia de
gastar tanto dinheiro em um carro.
Qual marca de pasta de dentes é mais eficiente para prevenir as cáries e o tártaro? Os altos
preços indicam alta qualidade? Os vendedores de automóveis são confiáveis? Você acha que a
economia vai melhorar, piorar ou ficar igual daqui a um ano? Você acredita que este livro tem
informações úteis?
Exemplo de Aplicação
Com relação ao comportamento humano, você acredita que um profissional da área de ciências
humanas, tal como um assistente social ou psicólogo pode oferecer um serviço de qualidade? Qual tipo
de profissional pode oferecer melhores serviços?
As crenças podem ser definidas como um julgamento subjetivo sobre o relacionamento entre duas
ou mais coisas. As crenças são baseadas em conhecimento.
Também é útil entender do que os colaboradores gostam e do que não gostam. As atitudes,
representando esses gostos e aversões, influenciam fortemente as nossas intenções e são formadas a
partir das crenças e sentimentos sobre o objeto avaliado (ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 2000).
56
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Outro aspecto importante a ser estudado são os valores, pois eles estabelecem a base para a
compreensão das atitudes e da motivação e influenciam na nossa percepção.
Segundo Robbins (2006), os valores representam convicções básicas que contêm um elemento de
julgamento baseado naquilo que a pessoa acredita ser correto, bom ou desejável. Os valores possuem
dois tipos de atributos: de conteúdo – determina que um modo de conduta é importante; e de
intensidade – determina o quanto é importante.
Quando entramos em uma organização, trazemos nossos valores e isso influenciará na forma de
vermos e lidarmos com as situações.
A cultura tem uma forte influência sobre nossos valores e é preciso entender que os valores variam de
cultura para cultura. As nossas atitudes estão diretamente relacionadas aos nossos valores e, de acordo
com Robbins (2004), as atitudes são afirmações avaliadoras favoráveis ou desfavoráveis e possuem
três componentes: cognição, afeto e comportamento. Algumas de nossas atitudes são aprendidas
por meio de nossas famílias, nossa cultura, mas, na grande maioria, elas são desenvolvidas por meio
de experiências vividas e observações. Por exemplo, a convicção de que “discriminar é errado” é uma
afirmação avaliadora. Essa opinião é o componente cognitivo de uma atitude, ou seja, a crença e o
conhecimento sobre um estímulo e avaliação que faço. O componente afetivo se refere ao sentimento
e às emoções, e o sentimento pode provocar resultados no comportamento, ou seja, a tendência a se
comportar de uma determinada maneira. Nossas atitudes são adquiridas por meio de diversos processos,
entre eles: nossa experiência, nossos preconceitos, pela observação de situações ou pessoas.
Se nossas atitudes não estiverem muito arraigadas em nós, será possível uma mudança de atitude
por meio de treinamento, educação e comunicação. É importante ressaltar que, apesar da atitude
levar a uma intenção de se comportar, pode ocorrer de uma atitude não passar da intenção, pois irá
depender da situação ou circunstância. Robbins (2004) e Griffin (2006) afirmam que as pessoas buscam
consistência em suas atitudes e seus comportamentos, de maneira que ambos pareçam racionais e
coerentes. Quando surge uma inconsistência, desencadeiam-se forças que levam o indivíduo de volta
ao estado de equilíbrio, para que as atitudes e o comportamento voltem a ser coerentes. Quando certas
circunstâncias provocam conflito vivido em relação às próprias atitudes se dá o nome de dissonância
cognitiva.
futuro próximo. Por outro lado, ela pode rever seu componente cognitivo
e concluir que trabalhar numa grande empresa é mais interessante do que
pensava (GRIFFIN, 2006, p. 78).
Lembrete
2.2.2 Aprendizagem
Observação
Também ocorre um fato interessante e condizente com a aprendizagem humana no que tange
ao entretenimento. Quantas vezes você assistiu na TV à exibição de um anúncio já conhecido apenas
porque o achava divertido? Provavelmente assistiu muitas vezes ao mesmo anúncio e achou graça
novamente. Isto ocorre porque os estímulos que nos entretêm e divertem chamam a nossa atenção,
mesmo quando vêm em formato de anúncios.
Além disso, podemos perceber que muitas pessoas assistem à final do campeonato de futebol ou da
novela preferida, curiosas para ver os comerciais transmitidos. Alguns estímulos atraem a nossa atenção
porque fomos ensinados ou condicionados a reagir a eles. O toque de um telefone ou da campainha de
uma porta, por exemplo, tipicamente evocam uma resposta imediata das pessoas. Esses sons costumam
ser incluídos em anúncios veiculados em rádio e televisão para atrair a nossa atenção, assim como certas
palavras ou frases também, porque nós, como consumidores, aprendemos ou fomos condicionados
a associá-las a objetos desejados. A palavra grátis é um bom exemplo disso, pois os consumidores
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COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
adoram coisas gratuitas e também adoram economizar. Procure perceber-se como cliente, circulando
por uma loja, você pode ser atraído por produtos sob cartazes com as frases “liquidação”, “promoção”
ou “desconto de 50%”.
Robbins (2006, p. 27) define aprendizagem como sendo “qualquer mudança relativamente
permanente no comportamento resultante de uma experiência.” Neste sentido, aprendizagem nos ajuda
na adaptação e a controlar nosso ambiente. Ela ocorre por meio da lei do efeito, o que significa que
nosso comportamento ocorre em função de suas consequências. O comportamento que for seguido
por uma consequência favorável tende a ser repetido, como no caso de você ser recompensado por
seu gestor (através de aumento salarial, promoção, um elogio ou mesmo um sorriso). O contrário pode
acontecer quando o resultado decorrente é desfavorável: ao receber críticas por suas ideias, você não
voltará mais a expressá-las.
2.2.3 Percepção
Visualize esta figura a seguir procure identificar o que vê primeiro: a taça ou os dois perfis.
Provavelmente você deve ter percebido uma figura e depois a outra, entre os dois perfis e a
taça. Isto ocorre porque nossa percepção é seletiva, onde apenas você assimilou parte do que viu.
Nós escolhemos seletivamente o que percebemos, conforme nossos interesses, conhecimentos
experiências e atitudes (ROBBINS, 2004). É através do aparelho sensorial que entramos em
contato com o mundo externo, em nossas experiências. Para experiências visuais, esse aparelho
inclui a retina do olho e os neurônios sensoriais que ligam a retina com as áreas visuais do córtex.
59
Unidade I
Os objetos refletem ondas que o atingem, estas ondas de luz atingem a retina, que através de
alterações físico-químicas estimulam os nervos visuais, provocando impulsos nervosos que são
transmitidos ao cérebro.
Exemplo de Aplicação
Será que este processo de tradução do sistema perceptivo é passivo (inteiramente determinado pelas
propriedades físicas dos objetos e pela estrutura do aparelho sensorial e do sistema nervoso sensorial)
ou ativo? O mundo apenas é revelado para nós, ou ao contrário, desempenhamos um papel ativo na
criação de nossas experiências?
Você pode ter observado então que: cada pessoa compreende a realidade de forma diferente; o
fato de um perceber de uma determinada forma não exclui a percepção do outro (certo ou errado);
a não percepção do ponto de vista do outro pode acarretar problemas nos níveis prático e relacional;
percepções diferentes podem aprofundar relacionamentos.
Lembrete
A capacidade do ser humano perceber a realidade exterior a si próprio é limitada. Esta limitação
decorre, em primeiro lugar, da imensa complexidade e do caráter dinâmico do mundo, que tornam
impossível conhecê-lo de forma integral. Em segundo lugar, decorre da própria natureza da
percepção, um processo psicológico que envolve outros processos, tais como pensamento, memória,
necessidades, sujeitos a variadas perturbações. E decorre finalmente das limitações dos órgãos
sensoriais, que, como vimos, são canais por meio dos quais a pessoa humana entra em contato com
o mundo, embora este se apresente com certa estabilidade, o que nos dá frequentemente a ilusão
de uma realidade acabada.
Observação
60
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
O indivíduo, portanto, projeta o seu mundo interior naquilo que está percebendo. Por esta razão,
diz-se que as pessoas percebem o que querem e não o que realmente existe. Pessoas diferentes podem
perceber de forma diferente o mesmo fenômeno. A seguir, verificamos este fenômeno na charge que
nos apresenta a influência das experiências anteriores na percepção da situação atual. A experiência
passada do indivíduo também estimula a percepção presente.
A este respeito, os estudos realizados por psicólogos sobre a influência da motivação no processo
de percepção identificam os fenômenos de vigilância e defesa. A estes fenômenos estão ligados as
dificuldades que os indivíduos têm para perceber estímulos geradores de ansiedade, tensões e angústia.
As expectativas de desprazer ou sofrimento podem diminuir a probabilidade de uma percepção, apesar
dos estímulos ou eventos constituírem uma clara indicação de suas propriedades.
A atenção seletiva consiste na filtragem da maioria dos estímulos, visto não ser possível uma pessoa
prestar atenção em todos os eventos ao seu redor. No entanto, é a tendência que o indivíduo tem de
transformar a informação em significados pessoais e interpretá-la de maneira que se adapte a seus
prejulgamentos. Também somos propensos a lembrar dos pontos positivos mencionados a respeito de um
produto de que gostamos e esquecer os pontos positivos expostos a respeito de produtos concorrentes,
por causa da retenção seletiva.
Observação
Vejamos, a distorção é o fenômeno pelo qual transformamos a realidade para que ela se adapte
à nossa cultura, crença, aos valores e até mesmo às impressões e intenções momentâneas. A seguir,
citamos algumas distorções de percepção, conforme apresentam Robbins (2004) e Griffin (2006):
• percepção seletiva – as pessoas selecionam o que veem, ouvem e falam, a partir de seus
antecedentes, atitudes, experiências e interesses;
61
Unidade I
• estereótipo – juízo formado a respeito da pessoa, segundo a percepção do grupo ao qual pertence;
As pessoas devem ter cuidado ao julgar as outras, pois podem cometer erros de julgamento, em
função das distorções apresentadas. Alguns processos sofrem o impacto da nossa percepção e, por isso,
devemos estar atentos às distorções para que eles sejam realizados com equidade, como por exemplo:
entrevistas de emprego, avaliação de desempenho, tomada de decisão, definição de estratégias, entre
outros.
Entre os fatores que influenciam em nossa percepção, temos os fatores internos, ou seja, os
fatores ligados ao observador. A forma como observo e interpreto uma situação, objeto ou pessoa
está intimamente ligada aos meus valores, crenças, experiências passadas, interesse, emoção e
motivação. Por exemplo, você pode passar todos os dias pela mesma rua e nunca ter reparado num
restaurante, mas, se você estiver com fome, com certeza notará. Outro ponto importante a ser
destacado é a respeito do conceito que cada um tem de si mesmo, ou seja, sua autopercepção, pois
ela influenciará fortemente a forma como vemos os objetos e as pessoas. Ela pode variar de acordo
com as relações que mantemos, o trabalho que desenvolvemos e em como lidamos com os nossos
sucessos e fracassos (ROBBINS, 2004).
Exemplo de Aplicação
Existem alguns cuidados que podemos desenvolver para minimizar o efeito das distorções, como,
por exemplo: aumentar a frequência de observações e em situações diferenciadas; coletar percepções
de outras pessoas, buscando o aumento de informações e confirmando ou não a sua percepção; estar
consciente das distorções perceptivas e da administração da impressão de si mesmo e dos outros; ter
consciência de que as relações interpessoais são influenciadas pela maneira como as pessoas se percebem
e interpretam as suas percepções. Enfim, quanto melhor a compreensão de si, maior a possibilidade de
compreensão do outro.
62
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
A natureza e a intensidade das tensões organizacionais são fatores que também podem modificar a
percepção dos membros de uma organização, na medida em que geram estados emocionais, que por
sua vez, influenciam a percepção de outras pessoas e situações.
As pressões grupais, por sua vez, são fatores que afetam diretamente o processo perceptivo. Os
membros de um grupo organizacional são levados a perceber eventos e pessoas em função da força
grupal. Em certas situações, as diferenças perceptivas entre diversos membros da organização podem
tornar-se um fator desintegrador se as lideranças não forem capazes de integrar construtivamente
diferentes percepções de um mesmo problema. Por outro lado, estas diferenças de percepção de um
mesmo problema podem vir a ser uma ameaça à segurança das lideranças. Como mecanismo de
sobrevivência, elas criam pressões no sentido de conter ou eliminar membros que percebam os problemas
diferentes delas (ROBBINS, 2004).
Entendemos um pouco a respeito do processo perceptivo, mas não podemos esquecer que a
motivação constitui um aspecto também crucial como um fator psicológico coadjuvante na influência
do comportamento humano nas organizações.
Lembrete
3 A MOTIVAÇÃO DO TRABALHADOR
Você já deve ter percebido que os humanos são seres complexos, apresentando comportamentos
nem sempre previsíveis ou fáceis de compreender.
Nossa experiência no mundo empresarial e nas atividades voltadas à excelência do ser humano
em projetos tem demonstrado que cada dia mais empresas investem na obtenção de uma dimensão
concreta, tanto com os clientes externos quanto com os seus talentos internos, visando administrar
de modo mais produtivo e qualitativo o desempenho de seus colaboradores quanto às estratégias de
desenvolvimento, em sintonia com o negócio da empresa. Para se atingir os clientes (internos e externos)
63
Unidade I
a motivação ainda é um grande desafio para o mercado empresarial e cada vez mais deve constituir sua
preocupação, pois é o combustível que nos move.
Pressões de
superior
Programas de
treinamento e Mudanças na
desenvolvimento tecnologia
Demandas da
família
Algumas das necessidades mais discutidas em geral pelos pesquisadores na atualidade consistem
em: necessidades fisiológicas (comida e bebida, por exemplo); necessidades de segurança e
de saúde (muitas vezes as pessoas evitam certas formas de transporte, como o avião, por exemplo,
ou mesmo de entretenimento, como saltar de paraquedas, porque se preocupam se vão sobreviver
à experiência); necessidade de amor e companhia (os seres humanos são criaturas sociais e
precisam de contato, muitas vezes apresentados nos serviços de encontros, clubes, bares, cruzeiros
e resorts); necessidade de recursos financeiros e de tranquilidade (o dinheiro funciona como
uma ferramenta que utilizamos para satisfazer a maioria de nossos desejos); necessidade de
prazer (mesmo as pessoas que vivem para o trabalho, precisam de alegria e diversão, muitas vezes
encontrados no teatro, televisão, cinema, música, livros, eventos esportivos, cruzeiros, dentre
outras atividades); necessidade de imagem social (desejamos que nossas famílias, amigos e
colegas tenham orgulho de nós, e para tal muitas vezes utilizamos produtos e serviços que nos
apresentem com uma imagem social positiva, bem sucedida); necessidade de possuir (muitas
vezes desejamos ter determinados produtos ou serviços para nosso conforto, por seu significado
histórico, dentre outros); necessidade de doar (não está limitada ao dinheiro, mas inclui a forma
de presentear); necessidade de informação (precisamos obter informações para tomada de
decisão, encontradas em livros, revistas, televisão, universidade, entre outros); necessidade de
variedade (a repetição pode desencantar o indivíduo).
64
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Em uma definição mais descritiva e menos substantiva, a motivação consistiria na disposição para
fazer alguma coisa e seria condicionada pela capacidade de essa ação satisfazer uma necessidade
do indivíduo. Necessidade neste contexto significa uma deficiência física ou psicológica que faz
determinado resultado parecer atraente (ROBBINS, 2004).
De acordo com Griffin (2006, p. 98) “motivação é um conjunto de forças que leva as pessoas a se
engajarem em uma atividade em vez de outra.” A exemplo, você provavelmente como estudante já
deve ter se deparado com a situação de passar a noite sem dormir para realizar um melhor trabalho,
vendedores que trabalham aos sábados para fazer frente à concorrência, e assim podemos enumerar
vários exemplos.
Aquele que desejar entender melhor o comportamento humano nas organizações já se atentou
que precisará desenvolver uma pesquisa motivacional. Nem sempre as explicações ou previsões óbvias
podem dar conta de compreender todo o contexto apresentado.
Neste sentido, a Psicologia é uma área de conhecimento que há muito tempo busca
compreender e explicar o comportamento humano, bem como suas motivações; ela favorece
um pano de fundo das teorias motivacionais. As questões referentes à motivação representam
há muito tempo grande parte das preocupações de psicólogos e, para eles, o comportamento
humano orienta-se basicamente para a consecução do objetivo ou pelo desejo de alcançar o
objetivo, mas nem sempre as pessoas têm consciência dos seus objetivos, e nem sempre nossa
mente vê conscientemente a razão das nossas ações.
Segundo Paul Hersey e Kenneth Blanchard (1986), a unidade básica do comportamento é a atividade,
porque todo comportamento compõe-se de uma série de atividades. Como seres humanos, estamos sempre
fazendo alguma coisa: andando, conversando, comendo, dormindo, trabalhando. Em muitos casos realizamos
mais de uma atividade simultaneamente – como, por exemplo, conversar e dirigir o automóvel.
Exemplo de Aplicação
A qualquer momento podemos decidir passar de uma atividade ou conjunto de atividades para outra.
Isso leva a algumas questões interessantes. Porque as pessoas se envolvem em certas atividades e não
em outras? Porque mudam de atividades? Para tanto, precisamos saber que motivos ou necessidades
das pessoas originam determinada ação em dado momento.
65
Unidade I
De acordo com Maximiano (2000), há dois grupos de motivos que influenciam o desempenho, que
são:
• motivos internos: são aqueles que surgem das próprias pessoas, como: aptidões, interesses,
valores e habilidades. São os impulsos interiores, de natureza fisiológica e psicológica, afetados
por fatores sociológicos, como os grupos ou a comunidade dos quais a pessoa faz parte;
• motivos externos: são aqueles criados pela situação ou ambiente em que a pessoa se encontra.
São estímulos ou incentivos que o ambiente oferece ou objetivos que a pessoa persegue porque
satisfazem a necessidades, despertam um sentimento de interesse ou representam a recompensa
a ser alcançada.
Podemos dizer que a motivação é intrínseca, mas as organizações podem fornecer estímulos ou
incentivos, com o objetivo de despertar o interesse ou a necessidade das pessoas.
De acordo com Bergamini (2006), o homem é um elemento com dinâmica própria, um elemento com
personalidade, que se modifica em seu comportamento psíquico pela sua maturação, transformando-se
com relação aos seus componentes físicos e fisiológicos, e que vai, no decorrer do tempo, acumulando
todo um lastro de experiência vivida, conforme os diferentes aspectos ambientais, culturais e sociais que
se lhe apresentem.
Os seres humanos são diferentes uns dos outros não só em termos de capacidade para execução
de determinadas tarefas, mas também pela sua vontade de fazer as coisas. A motivação depende
da intensidade dos seus motivos e estes podem ser definidos como necessidade, desejo, ou
impulsos oriundos e dirigidos para objetivos, e que podem ser diferenciados ainda em consciente
ou inconsciente.
Na teoria de Hersey e Blanchard (1986), os objetivos estão fora da pessoa. Às vezes são
chamados de “recompensa esperada”, para as quais se dirigem os motivos. Muitas vezes são
denominados incentivos pelos psicólogos. Os motivos ou necessidades são razões subjacentes ao
comportamento humano e todas as pessoas têm centenas de necessidade e todas estas competem
pelo seu comportamento. O que determinará a escolha do motivo que a pessoa tenderá satisfazer
66
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Os motivos internos consistem nas necessidades, aptidões, interesses pessoais e, os externos, são
estímulos ou incentivos que o ambiente oferece.
Segundo Chiavenato (2004), a motivação existe dentro das pessoas e se dinamiza por meio das
necessidades humanas. As necessidades humanas ou motivos são forças internas que impulsionam e
influenciam cada pessoa determinando seus pensamentos e direcionando o seu comportamento frente
às diversas situações da vida. As necessidades ou motivos constituem as fontes internas de motivação
da pessoa. Cada pessoa possui seus próprios e específicos motivos ou necessidades. Daí resulta que os
motivos ou necessidades são pessoais e individuais, pois são determinados pelos fatores que formam
a personalidade, pelos traços biológicos e psicológicos e pelas características adquiridas por meio da
experiência pessoal e aprendizagem de cada pessoa.
Você já deve estar percebendo a quantidade de teorias que analisam a motivação para o trabalho.
Além da teoria de Hersey e Blanchard sobre o comportamento e motivação, existem algumas abordagens
que merecem ser consideradas. Com referência às abordagens e teorias motivacionais, será feita uma
breve apresentação dos referenciais aos quais pertencem.
De acordo com Bergamini (2006), essas teorias concebem o homem como um ser racional, no sentido
de possuir desejos conscientes e que se serve das próprias capacidades para satisfazê-las. Para tanto,
a noção de vontade evidencia-se como básica, assumindo importante posição entre outras faculdades
mentais denominadas pensamento e sentimento. Pelo fato de controlar sua vontade, o homem pode
ser responsável por suas ações.
Examinando as teorias dos filósofos da antiguidade, Sócrates, Platão e Aristóteles e também posições
mais recentes, como a de Descartes, o aspecto que os une é a valorização da vontade. Os processos
cognitivos determinam a direção e os passos dados pela pessoa em sua tentativa de obter satisfação
das necessidades iniciais e incluem a percepção (caracteriza-se por ser individual e seletiva, porque é
distinta para cada indivíduo e porque nenhum indivíduo pode tomar todos os aspectos da realidade em
67
Unidade I
questão) e memória. Os indivíduos só se recordam do que lhes interessa e tendem a esquecer facilmente
o que lhes desagrada.
A teoria dos instintos teve sua inspiração no trabalho de Darwim e defendia o ponto de vista
de que algum comportamento mais simples, como os reflexos incondicionados, são herdados, mas
outras ações mais complexas podem ser denominadas como instintos, tendo como principal objetivo
a preservação da espécie. Psicólogos como Sigmund Freud, William Jamies, e William McDougla são
representantes desta teoria (BERGAMINI, 2006). Os motivos podem ser classificados em conscientes e
não conscientes. Quando a pessoa é levada a tomar determinada ação por fatores que dizem respeito
a motivos estranhos chamamos de motivos não conscientes ou inconscientes. Os impulsos que
determinam nossos padrões comportamentais, a personalidade, são em grande parte subconscientes,
e Sigmund Freud foi um dos primeiros a reconhecer a importância da motivação subconsciente. Pela
apresentação de Bergamini (2006) a conclusão é que ao motivar-se ou, mais propriamente, ao exibir um
comportamento motivacional, o indivíduo o faz como um todo e recorre aos três níveis topográficos de
sua personalidade: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente.
A Teoria dos impulsos, tendo se afigurado como uma das explicações sobre o comportamento
humano que mais contou com a aceitação dos psicólogos propõe a personalidade como um reduto de
forças básicas ou energia própria que orienta o comportamento em uma ou em outra direção. Segundo
a teoria do impulso, o homem possui sempre um estado de carência e seu comportamento se daria na
direção de obter aquilo que lhe falta para recuperar seu equilíbrio.
Observação
Cabe ressaltar que cada pessoa deve ser motivada de forma diferente,
pois cada qual tem necessidades e emoções distintas. O homem é um ser
68
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Um dos enfoques bem conhecidos nesta abordagem, para especificar a prioridade relativa dada a
diferentes necessidades, consiste na teoria de Abrahan Maslow. Mas também contamos com a teoria de
McClelland, McGregor e Herzberg, muito utilizadas pelas organizações e pesquisadores e, as quais lhe
serão apresentadas a seguir.
A teoria de Maslow é marcada por considerar o ser humano na sua totalidade dando ênfase
à integração dinâmica dos aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Maslow propõe em 1948
um tipo de classificação ou hierarquia dos motivos humanos, desenvolvendo um esquema para
explicar a intensidade de certas necessidades. Segundo esse teórico, parece existir uma hierarquia
em que se enquadram as necessidades humanas. Somente na medida em que as necessidades
inferiores da hierarquia são satisfeitas, pelos menos em parte, é que surgirão as necessidades
superiores da hierarquia. A figura a seguir exemplifica a sequência e hierarquia apresentada por
Maslow.
Autorrealização
Estima
Social
Segurança
Necessidades fisiológicas
A hierarquia de Maslow se tornou um conceito útil porque possibilita lembrar que as pessoas
atribuem diferentes prioridades para suas necessidades. Iremos agora entender cada um dos níveis
propostos na hierarquia.
69
Unidade I
fisiológicas das pessoas é o que o dinheiro pode comprar e não o dinheiro em si. Desta forma, a
característica mais sutil e mais importante do dinheiro é o seu poder como símbolo.
O dinheiro pode significar tudo o que as pessoas querem que ele signifique. No contexto
organizacional, correspondem a salário, férias, descanso, parada para almoço, entre outros exemplos.
Necessidade de segurança
Uma vez atendida a necessidade fisiológica, predomina a necessidade de segurança, que é a essencial
necessidade de estar livre do medo de perigo físico e da privação das necessidades fisiológicas básicas.
Em outras palavras, é a necessidade de autopreservação. Quando a segurança de uma pessoa corre
riscos, as outras coisas parecem sem importância. O favoritismo e a discriminação dentro das empresas
podem apresentar uma ameaça ao funcionário. No contexto empresarial, corresponde à segurança física
do trabalhador, envolvendo ações de prevenção de acidentes, como também segurança de manter-se
trabalhando, empregado.
Necessidades sociais
Necessidade de estima
Depois que conseguiu satisfazer a necessidade social, o indivíduo geralmente deseja ser mais que
um simples membro do grupo. Passa a sentir necessidade de estima, tanto de autoestima, como de
reconhecimento por parte dos outros.
A maioria das pessoas tem necessidades de uma elevada valorização de si mesmas firmemente
baseada na realidade, ou seja, no reconhecimento por parte dos outros. A satisfação dessa necessidade
de estima produz sentimento de confiança em si mesmo, de prestígio, de poder e controle. A pessoa
começa a sentir que é útil e tem influência no seu meio.
Necessidade de autorrealização
do atletismo. O que acontece normalmente é a falta de oportunidade para que os indivíduos possam
mostrar o que sabem.
Cabe salientar que essa ordem de manifestação das necessidades seria uma ordem universal, esperada,
partindo do que é mais premente para o ser humano, como sua sobrevivência (necessidades fisiológicas
e de segurança), passando pelas necessidades de naturezas sociais e psicológicas. A organização
hierárquica dessas necessidades segue o critério da não satisfação. Assim, a menos satisfeita é a que
prepondera em determinado momento, na busca de um equilíbrio. Trata-se de um equilíbrio dinâmico,
já que as necessidades satisfeitas e não satisfeitas revezam-se constantemente, permitindo que aquela
de nível mais baixo de satisfação influencie de maneira mais forte o indivíduo.
Exemplo de Aplicação
Você já parou para pensar em qual nível de necessidades se encontra atualmente? E as pessoas ao
seu redor, em seu local de trabalho ou na faculdade, como você as percebe?
Parece que pensar nessa hierarquia com flexibilidade é necessário, pois podemos sempre questionar
se a história individual, o meio em que o indivíduo está inserido e sua cultura não alteram a classificação
das necessidades, seguindo uma graduação de importância diferente. Certamente, o objeto que garante
a satisfação das necessidades é diferente, influenciado pelo contexto e pela história de vida de cada um.
Ao pensar no ser humano como um ser complexo, com necessidades de natureza ontológica, psicológica,
biológica e social, não podemos utilizar o modelo de forma simplista, entendendo os níveis hierárquicos
dessas necessidades como estanques e o comportamento do indivíduo, orientado pela busca dos objetos
que irão trazer a satisfação de suas necessidades, como linear e mecânico. Neste sentido, podemos
nos perguntar se não devemos pensar que as organizações poderiam possibilitar aos trabalhadores
de posições mais simples – que precisam de seus salários para atender basicamente à necessidade
de sobrevivência, sua e de sua família – condições de atenderem também à suas necessidades de
autorrealização.
71
Unidade I
ou um chope na sexta feira, reunindo outros membros da equipe constitui um grande fator
motivacional.
• necessidade de poder - trata-se das pessoas que buscam posições, prestígio, liderança. Gostam de
influenciar e de sentirem-se mentores dos grupos, adoram elogios em público diante dos colegas
e motivam-se pelo status que o cargo oferece.
• necessidade de realização - são pessoas que necessitam de metas desafiadoras, assumem riscos e
querem responsabilidades cada vez mais complexas.
McGregor acredita (como Maslow) que o homem em si mesmo é portador de necessidade, sendo
que, assim que uma delas seja satisfeita, logo surge outra em seu lugar. De acordo com Robbins (2004),
McGregor, após observar a maneira como o executivo tratava seus funcionários, propôs duas visões
distintas do ser humano: uma negativa, que chamou de Teoria X, e uma positiva, chamada Teoria Y.
Ao criticar o ponto de vista convencional da tarefa administrativa, o autor propõe alguns postulados
que parecem estar subjacentes a ele e os denomina Teoria “X”. Exemplo:
Baseado em sua teoria motivacional propõe outro postulado, o qual denomina Teoria Y. Neste
postulado, as premissas do executivo são:
Ainda segundo Robbins (2004), McGregor considerava as premissas da Teoria Y mais válidas do que
as da Teoria X e propôs ideias como processo decisório participativo, tarefas desafiadoras, entre outras.
72
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
TEORIA X TEORIA Y
O trabalho é intrinsecamente desagradável para a O trabalho é tão natural quanto o jogo, desde que
maioria das pessoas. as condições sejam favoráveis.
Poucas pessoas são ambiciosas, têm desejo de O autocontrole é indispensável para a realização dos
responsabilidade; a maioria prefere ser orientada objetivos da organização.
pelos outros.
A maioria das pessoas tem pouca capacidade A capacidade para a criatividade na solução de
para criatividade na solução de problemas da problemas da organização está muito distribuída na
organização. população.
A motivação ocorre no nível social, de estima e de
A motivação ocorre apenas nos níveis fisiológicos e autorrealização, bem como no nível fisiológico e de
de segurança. segurança.
Para a realização dos objetivos da organização,
a maioria das pessoas precisa ser estritamente
controlada e muitas vezes obrigada a buscar As pessoas podem orientar-se e ser criativas no
objetivos da organização. trabalho, desde que adequadamente motivadas.
Segundo Robbins (2004), Herzberg partiu da ideia de que a relação de uma pessoa com o seu trabalho
é básica e que essa atitude pode muito bem determinar o sucesso ou o fracasso, e investigou a seguinte
questão: “o que as pessoas desejam do seu trabalho?” Ele pediu para que as pessoas descrevessem com
detalhes situações nas quais se sentiriam excepcionalmente bem ou mal a respeito de seu trabalho.
Exemplo de Aplicação
Vamos refletir... Procure perceber o que mais te satisfaz no seu trabalho e o que menos te satisfaz em
seu trabalho. Vamos verificar como isto se relaciona com a teoria de Herzberg?
Analisando dados, Herzberg concluiu que as pessoas têm duas categorias diferentes de
necessidades, essencialmente independentes entre si e que influenciam o trabalho de maneira
diferente. Observou que quando as pessoas se sentiam insatisfeitas com o seu trabalho, estavam
preocupadas com o ambiente em que trabalhavam. Por outro lado, quando se sentiam bem no
trabalho, tratava-se do trabalho em si.
Fatores higiênicos são também denominados fatores extrínsecos ou ainda fatores ambientais.
Estão localizados no ambiente que rodeia as pessoas e abrange as condições dentro das quais elas
desempenham o seu trabalho.
Os principais fatores higiênicos são: salário, benefícios sociais, o tipo de gerência a que as pessoas
estão submetidas, as condições físicas do ambiente de trabalho, as políticas e diretrizes da empresa, o
clima organizacional, os regulamentos internos etc.
A principal característica dos fatores higiênicos é que quando eles são ótimos conseguem
apenas evitar a insatisfação das pessoas, pois são transitórios. Porém, quando são péssimos ou
precários, os fatores higiênicos provocam a insatisfação das pessoas. Devido a essa influência mais
voltada para a insatisfação, Herzberg (apud CHIAVENATO, 1997, p. 177) lhes dá o nome de fatores
insatisfacientes.
Fatores motivacionais são também apresentados como fatores intrínsecos, pois estão relacionados
com o conteúdo do cargo e com a natureza das tarefas que a pessoa executa. Assim sendo, fatores
motivacionais estão sob o controle da pessoa, pois estão relacionados com as atividades que são
desempenhadas.
Observação
Por que temos que estudar cada vez mais sobre a motivação humana?
O que esconde este tema, sendo ele tão importante e tão misterioso?
Podemos perceber que, apesar dos grandes esforços que as organizações e os profissionais têm
feito no que diz respeito à retenção do cliente interno e externo por meio da motivação, esta questão
é complexa e um desafio permanente, principalmente considerando o desejo e a satisfação como algo
que é insaciável.
74
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Saiba mais
Sugestão de filme:
A motivação ainda é um grande desafio para o ambiente empresarial e cada vez mais deve constituir
sua preocupação, pois é o combustível que nos faz funcionar. Por meio da motivação há melhoria nos
processos internos, dos produtos, envolvimento e comprometimento. Quando a empresa realiza uma
pesquisa de satisfação, é visível que a produtividade aumenta, quando as pessoas são motivadas e
motivam-se de forma particular, por meio do desenvolvimento de suas capacidades, do reconhecimento
dos objetivos, das tarefas e de seu valor. Podemos perceber que apesar dos grandes esforços que as
organizações têm feito no que diz respeito à retenção de talentos por meio da motivação, esta questão
é complexa e um desafio permanente, principalmente considerando o desejo e a satisfação como algo
que é insaciável.
Exemplo de Aplicação
Vamos refletir... Porque temos que estudar cada vez mais este assunto? O que esconde este tema,
sendo ele tão importante e tão misterioso?
Inúmeros estudiosos e observadores dedicaram grande parte dos seus estudos no sentido de
desmistificar este grande mistério que nada mais é do que a combinação equilibrada entre os fatores
motivacionais disponibilizados pelas empresas e seu real efeito no comportamento do trabalhador.
Parece que nossa missão como profissionais em ciências humanas (psicólogos ou assistentes sociais)
consiste em um maior entendimento do comportamento humano, na busca de identificar e saciar
as necessidades humanas no contexto empresarial, favorecendo assim um ambiente de trabalho mais
humanista, saudável, e propiciando a saúde mental do trabalhador e a satisfação tanto por parte do
empregador quanto dos empregados.
Estar envolvido, interessado, inteiro no que se faz como também sentir-se desafiado: isso é motivação.
Embora seja um movimento que venha de dentro, a motivação pode, como outras competências, ser
estimulada por meio de respeito humano, remuneração, benefícios, cursos, treinamentos, ou outras
ajudas externas como leitura, troca de experiências, enfim, tudo que estimule o campo da imaginação,
do sonho, da fantasia. A pessoa motivada é aquela que, seja qual for a situação, vê os obstáculos como
barreiras a serem transpostas e não como problemas a serem carregados como fardos.
75
Unidade I
É o diferencial daqueles que não esperam a distribuição de tarefas e partem em busca de novas
ações, conquistando melhores resultados tanto para si mesmos quanto para a empresa ou grupo de
trabalho ao qual estejam ligados. A motivação nasce do entusiasmo natural de estar vivo, de pulsar com
a vida. Assim, o indivíduo motivado tem perfil facilmente reconhecido: é positivo, entusiasmado com
seu trabalho, gosta do que faz, tem macrovisão das situações e está sempre buscando motivações extras.
Como é regido pela autorrealização, sente-se capaz, é criativo e está atento a tudo que acontece, com
uma visão abrangente. As pessoas motivadas geralmente são pragmáticas, pois têm uma alta capacidade
de não se deixar levar por caminhos ou discursos que levem à dispersão e, consequentemente, à perda
do foco a ser perseguido. Por estarem constantemente se autoconduzindo, são capazes de motivar e
comandar equipes, sem se impor ou ser autoritárias, pois são naturalmente respeitadas.
A produtividade está diretamente ligada à motivação. Embora muitas vezes possamos pensar que a
pessoa motivada é aquela que gosta do que faz e considera o dinheiro consequência positiva do trabalho
bem feito, isso não exclui a motivação que vem do reconhecimento por parte dos colegas, superiores
e até recompensas do ponto de vista econômico, bônus, prêmios, participação nos lucros. Entretanto,
quando a política de recompensas financeiras é mais difícil, a empresa pode investir em treinamento,
cursos, fortalecimento da autoestima dos funcionários. Neste momento, entra em cena a capacidade
dos dirigentes e líderes de serem criativos e descobrirem o que faz a diferença para manter as pessoas
unidas em torno de um projeto em situações adversas, iniciando por ouvir suas necessidades. Mas como
podemos entender o que pode auxiliar no bem-estar e felicidade do trabalhador?
Inicialmente, na busca da compreensão dos aspectos que envolvem a melhor qualidade de vida no
trabalho, necessitamos entender qual o significado do termo trabalho.
Ora, o homem não pode ser entendido sem o trabalho, e o trabalho em si mesmo reflete a condição
humana. Existe uma relação pré-determinada entre o homem e o trabalho. Considerando-se que o ser
humano se caracteriza pela indeterminação, uma condição biológica que o instrumentaliza, mas não
o programa, o trabalho e o desejo humano não podem existir separadamente. O homem é dotado de
consciência e inteligência, desejos e pulsões, que buscam espaço para elaboração nas atividades da vida
diária, entre elas o trabalho. Certamente, o trabalho imposto ao homem não responde sistematicamente
a esta exigência conceitual, podendo tornar-se alienante. Realmente, parece ser uma verdadeira missão,
a consciência que o homem tem de desempenhar na vida uma tarefa concreta e pessoal, derivada
de seu caráter único e irrepetível. No entanto, a partir do momento em que o trabalho passa a ser
institucionalizado, passa a apresentar-se uma nova configuração: a relação existente entre homem,
trabalho e organização.
O conceito de trabalho, relativizado a partir da condição humana, tem tomado diferentes formas ao
longo da história, por meio do processo de sua institucionalização. É difícil equacionar o que é e o que
não é trabalho, mas na medida em que se encontra uma forma de institucionalização, nos deparamos
76
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
com a definição de trabalho acoplada às determinações históricas. Ao longo da história, diversos tipos de
relação homem-trabalho foram e vão se criando (ou se recriando), enfrentando problemas e buscando
as mais variadas soluções.
Você conhece a origem da palavra trabalho? É interessante... A palavra trabalho tem sua origem
em uma raiz latina, com um sentido muito pouco propício para um ensaio otimista: ela se originou
da palavra Tripalium que quer dizer “castigo” e foi este o nome dado a um instrumento aplicado aos
escravos que não se esforçavam em seus deveres. Na idade média, travail, em francês, era a palavra
usada para se referir a um aparelho para conter animais durante a cirurgia. Também labore – a raiz
da palavra inglesa labour – era uma referência direta a uma situação penosa e de fadiga (GOGUELIN,
1980, apud SPINK, 1992). A origem da palavra trabalho parece nos remeter a uma atividade odiosa, sem
nobreza, uma atividade não saudável para a condição humana e, portanto, opostamente colocada ao
conceito e às condições da vida humana (ZAVATTARO,1999).
Quanto à conceituação social do trabalho (ou o valor que lhe é dado pela sociedade), observa-se
que ela esteve submetida a fortes transformações no decorrer da história, tanto quanto aquela parcela
de tempo disponível (horas dedicadas à recreação ou reprodução) reservada a atividades de trabalho.
Entretanto, com a institucionalização do trabalho, separou-se o que é trabalho (nos moldes de uma
indústria ou organização sujeita às regras específicas) e o que não é trabalho (atividades de lazer e de
prazer).
77
Unidade I
H. sapiens
sapiens
H. habilis
A. afarensis
Ancestral
No que diz respeito ao conteúdo do trabalho, podemos verificar uma transformação secular, que
vai da produção primitiva (agricultura, pesca e mineração) e do trabalho industrial, até a prestação de
serviços. Atualmente, considera-se típico dos estados que no setor de serviços estejam ocupadas cerca
de 50% das pessoas ativas, portanto muito mais do que na indústria. Da primitiva colheita e caça, do
trabalho industrial até o pós-industrial, as mudanças foram tão significativas que dificultam prever os
novos rumos.
De qualquer maneira, procuramos acreditar que haverá trabalho no futuro, mesmo que seja
simplesmente organizar o tempo ocioso, não é mesmo?
O ideal se coloca no funcionamento da mais perfeita divisão do trabalho com base na condição
biológica humana, mas a divisão do trabalho criada pela sociedade humana, ao contrário, tem produzido,
como podemos ver, sua condição de homem subjugado.
Observação
O primeiro fundamento do valor do trabalho é o próprio homem, seu sujeito – o trabalho está em
função do homem e não o homem em função do trabalho. O valor do trabalho não reside no fato de
que se façam coisas, mas em que coisas são feitas pelo homem e, portanto, as fontes de dignidade
do trabalho devem buscar-se, principalmente, não em sua dimensão objetiva, mas em sua dimensão
subjetiva (ZAVATTARO, 1999).
Mesmo que todos saibam o que é trabalho, esta categoria central da vida humana se subtrai de
uma definição ou operacionalização em todos os sentidos satisfatória. Evidenciamos diversas tentativas
78
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
apresentadas por autores das mais variadas disciplinas, particularmente das ciências sociais, a necessidade
de refletirmos criticamente a relação do homem com o trabalho na atualidade.
Exemplo de Aplicação
E como se configura o trabalho hoje? Como você percebe sua relação com seu trabalho? Como
percebe a relação das pessoas com seu trabalho atualmente?
A modernidade recusa a ideia clássica de que a contemplação, a teoria, seja a mais alta atividade
humana. Hoje se privilegia a ação ao pensar. A teoria é privada de sua posição dominante, sendo reduzida
a uma função problematizadora e crítica, quase sempre negativa. Com isso, as atividades tendem a
confundir-se e a reduzir-se a atividades transformadoras do mundo físico: a técnica, o trabalho produtivo.
Porém, não se trata de prescindir da técnica, mas sim discutir a validade de torná-la algo absoluto, que
pode obscurecer outras capacidades do homem, empobrecendo a qualidade da vida humana.
A relação do homem com o trabalho foi historicamente desenvolvida por mecanismos criados por
grupos, que hoje funcionam como meros reprodutores. A globalização se constitui numa realidade
concretizada e envolvida por valores econômicos. Lewis (et al, 1995, apud ZAVATTARO, 2003), discute
esta visão econômica, colocando como aspecto de significância a definição da relação do homem com o
trabalho e a questão das trocas (por que ocorrem, que valores permeiam). O homem vai depender mais
ou menos de sua condição de trabalho, a partir de uma estrutura de condicionalidade gerada por essas
trocas. As relações sociais têm-se constituído como relações de troca econômica e não mais afetivas ou
incondicionais.
O indivíduo tem potencialidade para o trabalho, mas a institucionalização do trabalho criou entraves
(regulamentou o acesso à natureza) por meio da propriedade privada e padrões de intervenção pela
tecnologia (a partir da educação mais complexa). A relação homem-trabalho foi institucionalizada para
condições coletivas, e talvez por isso, as comunidades podem ser fundamentais. Pode ser por meio delas
mesmo que consigamos reconstruir a relação do homem com o trabalho.
Somos estimulados pela sociedade no qual as pessoas perdem a relação de reciprocidade com a
natureza. Nunca perdemos tanta liberdade como hoje, pois os rituais e alternativas são rígidos, há um
controle sobre o que satisfaz a necessidade, valores, significados e símbolos, desejos e pulsões, os quais
vão mensurando o comportamento e, então, a fuga parece ser o único mecanismo de que se dispõe
principalmente na relação do homem com o trabalho. Esta fuga se apresenta como física, na forma
objetiva e concreta da recusa em trabalhar, e psicológica, pelo embotamento, alienação, neurotização
ou somatização.
O que se observa, é que na empresa nós caminhamos para um distanciamento destes problemas
e as pessoas estão preocupadas com o imediatismo da lucratividade. O Marketing está substituindo
79
Unidade I
a reflexão filosófica. Haja vista a preocupação com o cliente, a excelência de serviços, e tantos outros
slogans pregados nas empresas atualmente.
O ponto nevrálgico parece ser então o uso de estratégias de intervenção, em que é necessário
que cada profissional de RH, principalmente o psicólogo ou o assistente social, enxergue o que está
subliminarmente escrito, para poder auxiliar no desenvolvimento da consciência e do bem-estar na
relação homem-trabalho. O que a meu ver, constitui um dos principais desafios pertinentes às atividades
deste profissional atualmente, é tornar o trabalho prazeroso, ou seja, restituir o sentido real do trabalho.
O trabalho em si pode nos tornar mais criativos e desenvolver nossas capacidades, e neste sentido, é
estruturador da vida psíquica.
Ora, como vimos, antigamente, a diminuição do tempo de trabalho ajudava a incorporar os grandes
ganhos de produtividade gerados pela nova tecnologia. A média diária de trabalho caiu de 15 horas no
século XIX para menos de 8 horas. Hoje a semana comum de trabalho é de cinco dias em vez de seis
ou mais (típicos das gerações passadas). Mas, desde os anos 1950, os ganhos de produtividade trazidos
pela tecnologia não se traduziram em uma redução significativa do tempo de trabalho individual. A
situação só poderá piorar à medida que as empresas resolverem “cortar as gorduras” e a carga individual
de trabalho cresce enquanto as empresas diminuem de tamanho.
Exemplo de Aplicação
Para refletir: quanto tempo diário você dedica ao seu emprego? Percebemos que mesmo havendo a
legislação de 8 horas diárias de trabalho, as pessoas permanecem em atividade por muito mais tempo,
em virtude das exigências do mercado, de atualização do conhecimento e dupla jornada de trabalho
para sua subsistência.
Ainda, observamos como as pessoas têm se voltado para o mercado de trabalho informal, atividades
autônomas e trabalho a distância.
Desenvolvimentos tecnológicos que influem tanto na vida laboral quanto na vida privada, são
implementados cada vez mais ampla e rapidamente, tanto em relação à sua inovação quanto à sua difusão.
80
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
São considerados ilusórios na medida em que a satisfação que anunciam nunca poderá ser totalmente
atingida e essa impossibilidade permanente submete as pessoas a um salto no vazio, procurando uma
coerência e um sentido que na realidade não existem. O espaço em que ocorre a cena constitui-se de
um futuro que anuncia a posse de um produto apresentado como ligado a uma satisfação imediata e a
uma “felicidade” instantânea (ZAVATTARO, 2003).
Tal crítica não está atrelada à ideia do retorno a um sistema feudal ou pré-industrial e prescindir
da técnica. A técnica moderna, nós sabemos, é uma das mais fascinantes conquistas do homem.
Porém, torna-se necessário discutir a validade de torná-la algo absoluto, que pode obscurecer outras
capacidades humanas e empobrecer a qualidade de vida do homem.
O escritório do futuro também verifica novos impulsos pelos meios eletrônicos, entrelaçando a
técnica de escritório, o processamento de dados e a técnica de comunicação. A evolução futura parece
ir ao encontro da direção do terminal multifuncional, com sistemas interligados de postos de trabalho,
telefones com imagem, se aproximando da situação em que os mais variados processos de informação
e comunicação possam ser comandados por um posto de trabalho multifuncional. Neste contexto vale
mencionar o chamado teletrabalho, que transfere as atividades ligadas ao computador para fora da
empresa. Percebemos que determinados trabalhos estão sendo transferidos ao ambiente externo ao da
empresa e entregues a terceiros – as empresas de serviços independentes ou onde o posto de trabalho
é transferido aos domicílios dos funcionários (teletrabalho domiciliar).
Novas estruturas de produção e administração condicionam sempre mais campos de atividade. Por
exemplo, a categoria de atividade de produção diminuiu consideravelmente na Alemanha, no decorrer
dos anos. Pode-se deduzir de tudo isso que no futuro a parcela de serviços mais nobres e mais próximos
à produção aumentará ainda mais do que até agora, desenvolvendo-se uma dominância das tarefas de
infraestrutura, de venda e distribuição e de administração (RURUP, apud ZAVATTARO, 2003).
A tendência seguirá na direção dos serviços relacionados à produção e à empresa e cada vez mais
as funções serão integradas em sistemas técnicos. Isso pode produzir uma maior complexidade das
atividades laborais, tornando-se o trabalho mais abstrato. A importância do trabalho manual diminui em
grande escala, dando lugar ao comando de processos com ajuda de ordens abstratas, sinais e símbolos,
pressupondo um pensamento analítico e diferenciador. Espera-se que os modelos tradicionais de divisão
do trabalho sejam substituídos por postos de trabalhos globais e integrais.
81
Unidade I
As modernas tecnologias permitem que os profissionais liberais e os gerentes façam algumas tarefas
anteriormente relegadas a subordinados, o que significa que a mão de obra dos escritórios deixou de
crescer.
Exemplo de Aplicação
O que você percebe que está sendo modificado nos últimos anos na administração das empresas? O
que o mercado tem exigido em termos de perfil do funcionário?
Percebe-se ainda que a noção de tempo vem cada vez mais se modificando e resultando em
uma diferenciação entre o tempo ideal e o tempo real. As pessoas em geral estão se tornando mais
impacientes, ansiosas e, então, um minuto de espera passa a ser considerado uma eternidade. Percebe-
se que o avanço tecnológico tem produzido uma redução no tempo de trabalho.
Exemplo de Aplicação
Poderíamos então perguntar: mas com a redução de tempo de trabalho não estaríamos com maior
tempo livre para atividades de lazer? Será que a melhor saída consiste em empregar mais gente que
trabalhe menos? Investir em educação para garantir a força especializada necessária para modernos
locais de trabalho? Pagar remunerações mais altas para manter o poder de compra e usar algumas das
riquezas geradas pela tecnologia para permitir que se trabalhe menos tempo com remuneração por hora
mais elevada? Sem dúvida estes questionamentos não se esgotam por aqui.
82
COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Mesmo que muitas pessoas tenham pensado que a tecnologia avançada poderia otimizar
nosso tempo e nos dar mais espaço para realizarmos atividades de lazer, o que se observa na
realidade, é a utilização deste “tempo ocioso” para outras atividades que não as de lazer e sim
de um acréscimo de outras novas atividades ou tarefas aderidas pelo homem, tendendo mesmo
ao acúmulo de funções.
Outra tendência percebida consiste no fato de que no futuro o trabalhador exigirá cada vez mais
incentivos imateriais além das remunerações materiais, na forma de autonomia no trabalho e/ou
cursos de aperfeiçoamento. O lazer adquire cada vez mais valor e isto se manifestará no desejo de
jornadas de trabalho mais curtas e mais flexíveis. Acredita-se que a tendência de reduzir o tempo
de trabalho semanal continuará, devido à transformação dos valores e a orientação para o lazer
(ZAVATTARO, 2003).
Segundo Rurup (1994, apud ZAVATTARO, 2003), a dimensão temporal do trabalho possui um
componente cronométrico, isto é, de duração, e um componente cronológico, ou seja, a distribuição do
volume de trabalho pelo dia, semana, mês ou ano. Fica claro que, no futuro, cada redução cronométrica
de tempo de trabalho, por razões microeconômicas, deve ser harmoniosamente combinada com
medidas cronológicas de tempo de trabalho. A organização temporal do trabalho será decisiva para a
manutenção da prosperidade. Vários modelos de “jornada flexível” se difundirão. Mas não apenas na
indústria, como também no setor administrativo e de serviços, se processará um alongamento do tempo
de funcionamento das máquinas com consequente prolongação do tempo de trabalho da empresa.
Hoje, já é uma exigência que se impõe, pelo simples fato de que, com as possibilidades oferecidas pela
telecomunicação, muitas empresas que operam no mundo inteiro não podem mais se dar ao luxo de só
estarem à disposição do cliente algumas horas por dia.
Também já existe outra tendência que tem se concretizado cada vez mais: a terceirização (“autônomos
ou prestadores de serviço”). Um dos problemas advindos desta tendência consiste em que esses terceiros
costumam não estar suficientemente segurados para o caso de desemprego ou doença, ou então a
regulamentação do horário de trabalho, disposições de proteção no trabalho, sindicalismo, entre outros,
que ainda não estão suficientemente institucionalizados para essas novas formas de trabalho.
Prevê-se então que o trabalho do futuro será mais qualificado, mais complexo e mais orientado ao
processamento de informações. Também é certo que o futuro do trabalho não será mais caracterizado
pela nossa atual cultura de finais de semana livres, ou pela dominância do vínculo empregatício normal,
como base para uma vida de trabalho realizada.
Este momento exige a urgência de uma melhor compreensão, reflexão e atuação da Área de
Recursos Humanos (ARH) e todos os profissionais envolvidos, utilizando-se de sua expertise, em
direção a um melhor aprofundamento dessas questões e de objetivos de maior amplitude. Parece-me
83
Unidade I
ainda que a atuação da ARH em determinados momentos se encontra muito aquém das necessidades
de uma qualidade de vida melhor do trabalhador, algumas vezes em virtude da dominância do
“fazer algo” ou “mostrar serviço”, deixando de lado o pensar e a reflexão, de acordo com uma visão
imediatista e negociadora, ao invés de cooperativa e participativa. Outras vezes, pela ausência de
entendimento dessa nova realidade que se apresenta e mesmo, pela indeterminação e incompreensão
de seu próprio papel. Tal fato se comprova pela utilização de técnicas de relaxamento ou ginástica,
entre outros programas ou ações implantadas nas empresas pelos órgãos de RH, sem uma estratégia
global fundamentada. Não se discute aqui a eficiência ou os resultados dos programas implantados,
mas sim o planejamento e a elaboração de estratégias traçadas condizentes com os objetivos propostos
para a melhor qualidade de vida de todos os envolvidos, considerando a realidade emergente. Muitas
vezes, o caráter da Área de Recursos Humanos acaba, enfim, concentrando-se em tarefas de cunho
tecnicista e repetitivo, utilizando-se de uma ação reativa na maioria das vezes, em detrimento de uma
ação pró-ativa.
Valores em mudança, referentes à ética do trabalho, ao devido papel que o trabalho e a família
devem desempenhar na vida de uma pessoa, novas formas de organização do trabalho, vêm modificar
as expectativas dos homens no que tange à sua relação com o trabalho.
Esse dado parece ser evidenciado nos resultados de pesquisa de Domingos (apud ZAVATTARO, 2003,
p. 16), sobre a representação social do conceito de qualidade de vida, no qual o autor declara que:
Quando nos referimos aos aspectos envolvidos na saúde do trabalhador, existem referenciais teóricos
distintos.
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COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
O termo estresse, de origem na física para definir o desgaste de materiais submetidos a excessos de
peso, calor ou radiação, foi empregado pelo fisiologista austríaco Hans Selye, em 1936, para designar
uma “síndrome geral de adaptação”, constituída por três fases (reação de alarme, fase de adaptação,
fase de exaustão) e com nítida dimensão biológica.
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Unidade I
Alta
Baixa
Alarme Resistência Esgotamento
Resposta da pessoa com o decorrer do tempo
Sem dúvida alguma, como nos reforça Limongi-França (2008), uma das mais importantes
contribuições de Hans Selye é a Síndrome Geral de Adaptação, que se caracteriza por três fases:
• reação de alarme – fase em que mecanismos são mobilizados para manter a vida, a fim de que a
reação não se dissemine;
• fase de resistência – nessa fase a adaptação é obtida por meio do desenvolvimento adequado de
canais específicos de defesa. Podem surgir sintomas somáticos específicos. Em muitos casos, essa
pode ser a última fase;
• fase de exaustão ou esgotamento – caracterizada por reações de sobrecarga dos canais fisiológicos,
falhas dos mecanismos adaptativos.
A fase de alarme corresponde ao indivíduo identificar uma ameaça (física ou psicológica), com
consequentes alterações fisiológicas (adrenalina e noradrenalina), as quais retornam ao normal após a
fuga ou luta diante do estímulo eestresseor. A fase de resistência ocorre quando o indivíduo está diante
das causas do estresse de forma constante ou em ação de algum fator extremo, detonando aumento
dos níveis de hormônio secretado pela glândula pituitária e pelo córtex ad renal. Se a pressão do fator
eestresseante ainda continua, a pessoa pode alcançar a fase de esgotamento, com a atividade da
glândula pituitária e do córtex ad renal reduzida e dificuldade de se adaptar ao estresse contínuo. Então,
reaparecem os sintomas da fase de alarme e a pessoa pode chegar ao estado de exaustão, podendo
conduzi-la a um dano físico grave, incluindo morte por infarto, câncer ou doença cardíaca (WAGNER
III; HOLLENBECK, 1999).
Entretanto, o estresse pode ser positivo, pois pode estar associado a oportunidades ou desafios com
consequências positivas ao sujeito. Quem de nós não ficou eestresseado ao receber uma notícia boa
de um nascimento de um filho ou mesmo de estar próximo a alguma festa importante? Este tipo de
estresse é também chamado de euestresse (estresse positivo). O maior problema parece estar atrelado
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COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
ao estresse negativo, também chamado de diestresse, pois pode levar o indivíduo à exaustão, caso não
seja realizada alguma ação para minimizar os efeitos dos fatores eestresseores.
Pode-se dizer que os eestresseores advêm tanto do meio externo, como frio, calor e condições de
instabilidade, quanto do ambiente social, como trabalho. E do mundo interno, como os pensamentos e
as emoções: angústia, medo, alegria, tristeza entre outros. Em relação ao trabalho, o estresse é definido
como o sintoma que é desenvolvido por uma pessoa frente a uma situação na qual ela percebe seu
ambiente de trabalho como ameaçador às suas necessidades de realização pessoal e/ou profissional e/ou
à sua saúde física e/ou mental. Essa necessidade prejudica a interação da pessoa com o trabalho e afeta
ou é afetada pelo ambiente de trabalho, à medida que esse ambiente contém demandas excessivas a
ela, ou quando ela não se sente portadora de recursos adequados para enfrentar tais situações. Limongi-
França (2008), citando Rodrigues (1988) e Couto (1987), nos diz que o mesmo evento pode produzir
euestresse ou estresse positivo em duas pessoas diferentes, dependendo da interpretação que cada
uma lhe confere. Euestresse significa uma tensão que não leva à doença e diestresse designa reações
psicofisiológicas que podem desencadear situações de doenças.
O estresse herda da biologia, de onde veio, uma concepção de homem claramente homeostática:
o melhor dos mundos é aquele em que reina o equilíbrio. Casar-se ou divorciar-se tem o mesmo
peso em escalas de estresse, porque ambos rompem a dinâmica da vida, tal como estaria definida
(harmoniosamente) (CODO et al, apud ZANELLI, 2008, p. 296).
O estresse psicológico é uma aplicação do conceito para além da dimensão biológica e é definido
por Lazarus e Folkman (1984, apud JACQUES, 2003) como uma relação entre a pessoa e o ambiente que
é avaliado como prejudicial ao seu bem-estar.
Considera-se que o estresse não é uma doença, e sim uma tentativa de adaptação, relacionada
não somente ao trabalho, mas ao cotidiano experimentado pelo indivíduo. Entretanto, a importância
atribuída ao trabalho deve-se a sua relevância em tal cotidiano, o que faz dele um dos principais fatores
desencadeantes do estresse.
• fadiga – desgaste de energia física ou mental, que pode ser recuperada por meio de repouso,
alimentação ou orientação clínica especializada;
• depressão – uma combinação de sintomas em que prevalece a falta de ânimo, a descrença pela
vida e uma profunda sensação de abandono e solidão.
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COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
De acordo com Jacques (2003), esta tese é confirmada pela recomendação da Portaria 1339/99 do
Ministério do Trabalho do Brasil, que prevê a “Síndrome de Burnout” como relacionada ao trabalho, mas
a inclui no grupo II da classificação proposta, a qual corresponde à qualificação do trabalho como fator
contributivo, mas não necessário ao quadro clínico.
Exemplos de Aplicação
Poderíamos então perguntar: e as profissões das ciências humanas, cujo objeto de trabalho é
justamente o ser humano e que trabalham com contato junto a pessoas?
É preciso reconhecer os fatores eestresseores que atingem a cada profissão e saber qual estratégia
de coping poderá ser utilizada para minimizar seus efeitos, considerando-se a sua especificidade e a
singularidade do ser humano.
Nas organizações de trabalho em geral, as ações de prevenção e intervenção parecem estar voltadas,
preferencialmente, para o gerenciamento individual do estresse, por meio de mudanças cognitivas e
comportamentais, além de práticas de exercícios físicos e relaxamento. Muitas destas ações apresentam-
se em programas de qualidade de vida no trabalho (QVT), focalizadas no gerenciamento dos trabalhadores
e, com menor ênfase, na organização do trabalho.
Saiba mais
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Unidade I
dos aspectos psicopatológicos, embora a advertência inicial do autor era de que utilizava a expressão
inspirado nos estudos freudianos e não no sentido restritivo do doentio.
O campo da psicodinâmica do trabalho, conforme Dejours citado por Merlo (2002 apud JACQUES,
2003),
A abordagem epidemiológica possui suas raízes na lógica da epidemiologia geral, a qual se baseia
na produção de conhecimentos sobre o processo saúde/doença, o planejamento de ações de políticas
de saúde e a prevenção de doenças. Ela se baseia na premissa de haver a multicausalidade das doenças
e busca os seus determinantes. Possui influência da metodologia empregada por Le Guilant e busca sua
teoria em Leontiev e Marx (ZANELLI, 2004).
Com base na lógica da epidemiologia são reconhecidos e difundidos no Brasil os estudos de Codo e
colaboradores, no qual um dos objetivos consiste em identificar quadros psicopatológicos associados a
determinadas categorias profissionais. Codo (2002, p.185, apud JACQUES, 2003, p. 107) assim se refere:
“este método de investigação, com seus avanços e recuos, foi responsável pela descoberta da síndrome
do trabalho vazio entre bancários, paranoia entre digitadores, histeria em trabalhadores de creches e
burnout em educadores”.
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COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Os estudos sobre natureza e conteúdo das tarefas, estrutura temporal e densidade do trabalho,
e controle do processo, enquanto associados ao desgaste mental, se constituem objeto de pesquisa
sobre subjetividade e trabalho. Por exemplo, se os estudos privilegiam as experiências e vivências dos
trabalhadores frente à estrutura temporal do trabalho, incluem-se no estudo proposto por esta ênfase,
focando as pesquisas sobre a subjetividade do trabalhador.
Saiba mais
Podemos compreender melhor as diferenças entre essas abordagens de estudo sobre a saúde mental
e qualidade de vida do trabalhador, a partir do quadro a seguir.
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Unidade I
Sem dúvida alguma o tema mais desenvolvido pelos pesquisadores e profissionais da área de ciências
humanas tem sido o da saúde. E você deve estar se perguntando neste momento, qual é a prática
profissional que posso desenvolver frente à saúde do trabalhador e à melhoria de sua qualidade de vida?
Ao psicólogo, cabe a atuação estratégica no sentido de identificar ações que promovam a saúde
psíquica do trabalhador em todos os níveis hierárquicos, visando ao bem-estar biopsicossocial das
pessoas envolvidas na organização.
Em particular, o assistente social necessita se envolver com a compreensão crítica dos problemas
sociais e suas relações com movimentos e demandas populares. Além dessa compreensão, ao assistente
social cabe o domínio de um conjunto de teorias, métodos e procedimentos para ação nos processos
sociais, por meio da prevenção, integração social e ampliação da cidadania; com especial atenção à
população em situação de vulnerabilidade, garantindo os direitos sociais e os acessos aos serviços
básicos de saúde, educação, previdência social, habitação. Quando nos propomos a prática do bem-
estar e qualidade de vida do trabalhador, considerando o papel do assistente social nesse processo, cabe
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COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
destacar que essa compreensão interessa a todos os profissionais que atuam em equipes de recursos
humanos. Por conseguinte, agem de forma interdisciplinar junto ao trabalhador, com o objetivo de
fortalecer o processo produtivo e também de colaborar para a melhoria da qualidade de vida e do
bem-estar no trabalho. No caso, essa compreensão não interessa apenas ao Serviço Social, mas sim às
diversas categorias profissionais.
Neste sentido, Cesar (2008) nos diz que para compreender a relação estabelecida pelo Serviço Social
com a questão da qualidade de vida do trabalhador, precisamos também considerar o processo de
reestruturação produtiva, que traz impactos na adoção de determinadas políticas de recursos humanos
pelas empresas, sobretudo no que concerne a empresas privadas.
Lembrete
Cabe assim retomar que o processo de reestruturação produtiva foi iniciado na década de 1970,
no Brasil e em todo mundo, quando o modo de produção fordista até então hegemônico passou a ser
substituído pelo modo de produção toyotista. Segundo esse formato de produção, o processo produtivo
precisaria tornar-se mais flexível, assim como o trabalho, determinando, assim, que o trabalho formal
fosse paulatinamente substituído pelo trabalho flexível (ANTUNES, 2003).
Observação
O termo “just in time”, em sua tradução literal significa “na hora certa”.
Nesse sentido, faz-se fundamental a introdução da tecnologia que, cada vez mais, potencializa o
processo produtivo e passa também a potencializar o comércio dos produtos (ANTUNES, 2003).
A produção passa, segundo ANTUNES (2003), a ser condicionada pela demanda e não mais pela
perspectiva da produção em massa para o consumo em massa, como defendia Henry Ford. Passa também
a ser terceirizada, ou seja, cria-se uma empresa mãe ou holding e uma série de empresas menores, as
terceiras. Nessas empresas em que há a terceirização, o comum é que o trabalho formal inexista, sendo
que há uma predominância pelos contratos temporários.
o assistente social, chamado a intervir nas equipes de recursos humanos, desenvolvendo sua prática
profissional assentado em alguns parâmetros. Nesse sentido, a autora destaca como relevante o fato dos
assistentes sociais passarem a atuar de forma a estimular a concessão de benefícios de acordo com o
nível de escolaridade dos trabalhadores, bem como pelo fato de tais profissionais passarem a estimular
o reingresso escolar e a ascensão dos trabalhadores atrelada à escolarização.
No que diz respeito à questão da qualidade de vida no trabalho, temos que indicar a introdução
de uma série de benefícios e incentivos para o trabalhador, concedidos a partir da produção de cada
trabalhador, sendo que, grande parte das vezes compete ao Assistente Social realizar a avaliação acerca
do merecimento dos benefícios e serviços disponibilizados pelas empresas.
Saiba mais
No âmbito da qualidade de vida, de acordo com Cesar (2008) passam a ser desenvolvidas intervenções
com o objetivo de “melhorar” a vida do trabalhador, tais como as atividades recreativas e de lazer,
ampliadas para além do horário de trabalho. No caso, tais intervenções buscam qualificar a vida do
trabalhador, de forma positiva. Neste sentido, a autora destaca ainda que determinados benefícios e
serviços também são constituídos para melhorar a vida do trabalhador, e, por conseguinte também
trazem influência em seu processo produtivo, que tende a melhorar.
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COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
Vejamos a seguir a notícia em que é retratada uma intervenção pelo Serviço Social da Indústria
(SESI) em parceira com a Rede Globo e que demonstra uma intervenção voltada à qualidade de vida dos
trabalhadores.
Com entrada gratuita, acontece no próximo sábado (10), no Clube do Trabalhador, Zona
Leste, mais uma edição do Esporte Cidadania, realizado pelo Serviço Social da Indústria em
parceria com a Rede Globo. O evento é das 8h às 17h.
Estão sendo preparadas atividades recreativas, torneios de futsal, vôlei e natação, além
do circuito de saúde e bem-estar, com destaque para aferição de pressão arterial, avaliação
física, teste de glicemia e cálculo do IMC (Índice de Massa Corporal).
Os participantes também poderão se divertir nos jogos de salão e ainda receber orientação
sobre Carteira de Habilitação e Veículos e para as crianças Teatro de Fantoches - Educação
no Trânsito Infantil.
Exemplo de Aplicação
Reflita: qual é a relevância de ações dessa natureza para alcançar a qualidade de vida da classe
trabalhadora?
Mota e Amaral (2008) afirmam que o assistente social tem papel importantíssimo nesse processo de
concessão e administração dos benefícios, sendo que o desenvolvimento de intervenções profissionais,
por parte do assistente social, para que se alcance a qualidade de vida do trabalhador, passa a
constituir‑se em uma demanda de trabalho atualmente requerida a esse profissional. Entretanto,
essas intervenções, via de regra, são desenvolvidas pelo assistente social por meio do aporte a outros
serviços, benefícios e também outros profissionais que, de forma articulada e integrada, buscam
promover a qualidade de vida do trabalhador.
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Unidade I
Chegamos ao final da primeira unidade da disciplina. Espero que você esteja gostando das nossas
discussões e imaginando as possibilidades de influência desses fenômenos na área de Serviço Social e
Psicologia. Na próxima unidade abordaremos mais situações práticas relacionadas a esses fenômenos
e o quanto precisaremos estar atentos ao uso desses conceitos nas atividades diárias do profissional
atuante em ciências humanas.
Antes de passarmos aos itens seguintes, vamos recapitular alguns conceitos e aspectos importantes,
vistos nesta unidade.
Resumo
Sabemos que cada pessoa tem a sua percepção e se motiva por questões
diferentes. Tratamos aqui também das principais teorias motivacionais,
identificando que a probabilidade do comprometimento do funcionário
com o seu trabalho dependerá de suas necessidades, suas expectativas,
suas metas e, consequentemente, adotará comportamentos condizentes
com sua percepção e sua personalidade. Ao longo deste último século,
psicólogos buscaram identificar as necessidades do trabalhador e chegaram
à conclusão de que a motivação acima de tudo é individual e complexa.
Exercícios
Questão 1. De acordo com Moreno (2000), a percepção é uma conduta psicológica complexa que
corresponde a um quadro de referências particular, elaborado segundo a nossa experiência pessoal e
social, que interfere na forma como interpretamos o mundo e nos relacionamos com ele.
I – a percepção é algo individual, que influi na forma como as pessoas se comportam, e é a base para
o entendimento do comportamento humano nas organizações;
II – o processo perceptivo é pessoal e pode sofrer influência de vários fatores e gerar distorções,
interferindo na capacidade de percepção do sujeito;
III – os administradores devem ter cuidado ao julgar as outras pessoas, pois podem cometer erros de
julgamento em função das distorções de percepção.
A) I.
B) II.
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COMPORTAMENTO HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
C) III.
D) I e II.
E) I, II e III.
I) Afirmativa correta.
Justificativa: a percepção é algo individual, influi na forma como as pessoas se comportam e é a base
para o entendimento do comportamento humano nas organizações, especialmente se compreendermos
os fatores internos e externos que levam a moldá-la ou a distorcê-la.
Justificativa: sendo o processo perceptivo pessoal (individual), ele pode sofrer a influência de
vários fatores (internos e externos) e gerar distorções, interferindo na capacidade de percepção do
sujeito. Exemplos disso são fatores internos como os valores, as crenças, as experiências passadas,
o interesse e a motivação, que irão influenciar o processo de percepção do sujeito frente a uma
dada situação.
Justificativa: os administradores devem ter cuidado ao julgar as outras pessoas em situações como
entrevistas de emprego, avaliações de desempenho e tomadas de decisão em geral, pois podem cometer
erros de julgamento em função das distorções de percepção. Nesse sentido, o foco dos estudos sobre
a percepção está em como percebemos o outro (heteropercepção); está ligado à impressão que temos
a respeito do outro pelas suas ações (comportamento); e está nos relacionamentos interpessoais que
estabelecemos e nas atitudes que adotamos. Por isso algumas medidas devem ser tomadas no sentido
de minimizar as distorções de percepção e melhorar a capacidade de perceber as pessoas para, assim,
compreendermos a nós mesmos e aos outros de forma mais adequada.
Questão 2 (ENADE 2009). Saiu o resultado da pesquisa de clima organizacional da Bomtempo S.A.
Entretanto, os resultados relativos ao item Responsabilidade e Motivação com o Trabalho são os que
mais preocupam Jorge, o Diretor de Recursos Humanos. Estes são os resultados da pesquisa:
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