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Maryanne Duarte.
2.a. Da aplicação do direito à espécie (violação dos arts. 1.658, 1.659, 1.661 e 1.829,
I, todos do CC/02)
20. No particular, o TJ/MG confirmou a partilha que atribuiu à viúva, Maria Aparecida
da Silva, a fração ideal de 1/9 dos bens particulares relacionados, garantida a meação
de um veículo (fls. 299/300, e-STJ), em contrariedade, pois, à interpretação a ser dada
ao art. 1.829, I, do CC/02, e ao disposto nos arts. 1.658, 1.659 e 1.661 do mesmo
diploma legal. 21. Deve, pois, ser corrigida a partilha para excluir do quinhão de Maria
Aparecida da Silva – e acrescer ao dos demais herdeiros – a fração incidente sobre os
bens particulares do de cujus e, ao mesmo tempo, a par da meação da viúva, incluir
em seu quinhão a fração correspondente ao bem comum, observada a concorrência
com os filhos não renunciantes.
STJ – Viúva que era casada em comunhão parcial entra apenas na herança dos bens
comuns
O cônjuge sobrevivente que era casado sob o regime da comunhão parcial de bens não
concorre com os descendentes na partilha de bens particulares do falecido, mas, além
de ter direito à meação, não pode ser excluído da sucessão dos bens comuns, em
concorrência com os demais herdeiros. O entendimento é da Terceira Turma do
Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Na ação de inventário que deu origem ao recurso especial, o juízo de primeiro grau
considerou que uma viúva que fora casada em regime de comunhão parcial, além da
meação a que tinha direito (metade do patrimônio conjunto adquirido durante o
casamento), deveria entrar na divisão dos bens particulares do marido (aqueles que
ele tinha antes de casar), concorrendo na herança com os descendentes dele.
A decisão foi mantida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Diante disso, o espólio
do falecido recorreu ao STJ para pedir a exclusão da viúva na partilha dos bens
particulares.
Os ministros decidiram o caso com base na interpretação do artigo 1.829, inciso I, do
Código Civil de 2002 (CC/02), segundo o qual, “o cônjuge supérstite casado sob o
regime da comunhão parcial de bens integra o rol dos herdeiros necessários do de
cujus, quando este deixa patrimônio particular, em concorrência com os
descendentes”.
Bens exclusivos
A ministra Nancy Andrighi, relatora do recurso especial, lembrou que, antes da Lei do
Divórcio, o regime natural de bens era o da comunhão universal, “que confere ao
cônjuge a meação sobre a totalidade do patrimônio do casal, ficando excluído o
consorte da concorrência à herança”.
A partir da vigência da Lei 6.515/77, o regime natural passou a ser o da comunhão
parcial, “segundo o qual se comunicam os bens que sobrevierem ao casal, na
constância do casamento, consideradas as exceções legais”, afirmou.
Segundo a ministra, essa mudança, que foi confirmada pelo CC/02, fez surgir uma
preocupação, porque seria injustificável passar do regime da comunhão universal, no
qual todos os bens presentes e futuros dos cônjuges são comunicáveis, para o regime
da comunhão parcial – sem dar ao cônjuge sobrevivente o direito de concorrer com
descendentes e ascendentes na herança.
Por essa razão, o cônjuge passou a ser considerado herdeiro necessário. Para Andrighi,
“o espírito dessa mudança foi evitar que um consorte fique ao desamparo com a
morte do outro”.
Apesar disso, ela considera que, na comunhão parcial, os bens exclusivos de um
cônjuge não devem ser partilhados com o outro após a sua morte, “sob pena de
infringir o que ficou acordado entre os nubentes no momento em que decidiram se
unir em matrimônio” (artigos 1.659 e 1.661 do CC).
Para a relatora, a interpretação mais justa do artigo 1.829, inciso I, do CC é aquela que
permite que o sobrevivente herde, em concorrência com os descendentes, a parte do
patrimônio que ele próprio construiu com o falecido, “porque é com a respectiva
metade desses bens comuns que ele pode contar na falta do outro, assim na morte
como no divórcio”.
Melhor interpretação
Em seu entendimento, a interpretação de parte da doutrina de que o cônjuge herda,
em concorrência com os descendentes, tanto os bens comuns quanto os particulares,
representa “a transmutação do regime escolhido em vida”. Além disso, para ela, essa
interpretação conflita com os princípios da dignidade da pessoa humana, autonomia
privada, autorresponsabilidade, confiança legítima, boa-fé e eticidade.
Por fim, a ministra ressaltou que “afastar o cônjuge da concorrência hereditária no que
toca aos bens comuns, simplesmente porque já é meeiro, é igualar dois institutos que
têm naturezas absolutamente distintas”: a meação e a herança.
Andrighi disse que a meação já é do viúvo em virtude da dissolução do casamento pela
morte, enquanto a herança “é composta apenas dos bens do falecido, estes sim
distribuídos aos seus sucessores, dentre os quais se inclui o consorte sobrevivente”.
Processos: REsp 1377084
Respostas
1. Qual o efeito jurídico para o cônjuge da separação fática no Direito das
Sucessões? A culpa tem relevância para a participação do cônjuge sobrevivente?
A separação meramente de fato do casal, para as sucessões abertas antes da vigência do
Código atual, visto que, os requisitos a vocação se apuram segundo a lei vigente no momento
da morte. Sendo superior a 2 anos, na data da abertura da sucessão, a separação de fato
afasta a vocação do cônjuge, beneficiando, conforme o caso, os descendentes, os ascendentes
ou os parentes colaterais. Tal separação pode resultar de determinação judicial quando for
decretada como medida cautelar, desde que a abertura da sucessão tenha ocorrido mais de
um biênio após sua execução.
Art. 1.562. Antes de mover a ação de nulidade do casamento, a de anulação, a de separação
judicial, a de divórcio direto ou a de dissolução de união estável, poderá requerer a parte,
comprovando sua necessidade, a separação de corpos, que será concedida pelo juiz com a
possível brevidade.
Se, no entanto, a convivência cessara sem culpa do sobrevivente, será ele chamado a suceder
o de cujus. O ônus da prova das circunstâncias em que se iniciou a separação de fato recai
sobre o cônjuge que reivindique para a qualidade de sucessor.
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da
morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois
anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do
sobrevivente.
2. A existência de mais de um imóvel residencial no inventário pode impossibilitar o
reconhecimento do direito real de habitação (art. 1.831)? Existe divergência
jurisprudencial ou doutrinária? Um novo casamento ou a constituição de nova
união estável pode extinguir o direito real de habitação?
O direito real de habitação sobre imóvel residencial familiar, continua sujeito a umas das
condições do direito anterior, desde que seja o único daquela natureza a inventariar, mas
passa a ser reconhecido em favor do cônjuge, qualquer que seja o regime de bens, e não
somente no de comunhão universal.
O STJ entendeu que, o titular do direito real de habitação pode valer-se dos interditos
possessórios, inclusive contra algum compossuidor (REsp. nº 616.027-SC);
A constituição desse direito independe de registro (REsp’s nº 74.729, Lex STJ 107/18, e
565.820-PR);
O diploma traçou clara linha divisória entre as figuras da união estável, entendida como aquela
entre homem e a mulher, configurada na convivência pública, continua e duradora e
estabelecida com o objetivo de constituição de família, art. 1.723, CC/2002.
Já o concubinato, são as relações não eventuais entre homem e a mulher, impedidos de casar-
se.
A concubina, falta, segundo a lei nova, vocação hereditária, no terreno da sucessão legítima; e
no da testamentária, em princípio, não se reconhece á concubina do de cujus legitimação para
suceder o testador casado, ressalvada apenas a hipótese em que o ultimo, sem culpa sua,
esteja separado de fato do cônjuge por período superior a 5 anos, art. 1.801, III; em se
tratando, porém, de testador desimpedido, solteiro, divorciado ou viúvo, a concubina pode ser
instituído herdeiro ou legatário, por manifestação de ultima vontade.
De acordo com o art. 227, §6º, da Constituição Federal, dispõe: “Os filhos, havidos ou não da
relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.”
A doação propter nuptias como a que se beneficias a prole de determinado casal, concilia-se
o instituto da doação com a sucessão por morte, porque poderão os seus efeitos ocorrer
depois da abertura da sucessão do doador. Nesse caso, a doação se realiza com o caráter
mortis causa, mas vem subordinada a condição legal, requisito, de se lhe seguirem as bodas,
o efeito posterior a morte do doador será, portanto, mera coincidência, que não interfere
com a natureza jurídica do ato.