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CONSUMO – UM
DIREITO PENAL
SIMBÓLICO
A SIMBOLIC CRIMINAL LAW - LAW OF
CONSUMER CRIMES
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VOXJuris | ANO 1, V. 1, N. 1, PÁG. 93-104, 2008
1. INTRODUÇÃO
1
Bravo, a respeito da legislação espanhola, que envolve uma mistura de
tutelas entre objetividades jurídico-penais que distinguimos em
economia popular e consumidor - (art 281 CP) Desabastecimento de
matérias primas ou produtos de primeira necessidade, (art 282 CP )
Falsa Publicidade, dentre outros tipos penais – afirma que a lei penal
espanhola “incluiu um grupo de hipóteses delitivas que podem ser
consideradas como autênticos delitos sócio-econômicos contra os
consumidores, em razão de haver um atentado contra os interesses
destes, enquanto um grupo coletivo, no âmbito do mercado” (tradução e
grifos nossos). BRAVO, Emilio Moreno y. Delitos Relativos al Mercado y
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3. ART 69 DO CPDC6
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Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que
dão base à publicidade: Pena - Detenção de um a seis meses ou multa.
7
A favor: GUIMARÃES, Sérgio Chastinet Duarte. Op. Cit. p.112. Contra:
PASSARELLI, Eliana. Dos Crimes contra as Relações de Consumo – Lei Federal
n. 8.078/90(CDC). São Paulo: Editora Saraiva, 2002, p.79; COSTA JR.,
Paulo José da. Crimes contra o Consumidor. São Paulo: Editora Jurídica
Brasileira, 1999, p.50; MARQUES, Cláudia Lima; BENJAMIN, Antônio
Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código de Defesa do
Consumidor – Arts. 1o. a 74 – Aspectos Materiais. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2004, p.842; PRADO, Luiz Regis Prado. Direito Penal
Econômico. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004, p.151.
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Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser
enganosa ou abusiva: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
Parágrafo único. (Vetado). Art. 68. Fazer ou promover publicidade que
sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar
de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança: Pena -
Detenção de seis meses a dois anos e multa
9
Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor,
fácil e imediatamente, a identifique como tal. Parágrafo único. O
fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em
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4. ART. 70 DO CPDC16
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JAKOBS, Günther. Derecho Penal – Parte General – Fundamentos y Teoría
de la imputación. Trad: Joaquin Cuello Contreras e Jose Luis Serrano
Gonzalez de Murillo. Madrid: Marcial Pons, 1997. p.44. p.45.
19
Sobre o citado tipo penal, afirma Passarelli: “já na condição de sujeito
passivo da infração penal figura a coletividade de consumidores”.
PASSARELLI, Eliana. Op. Cit. p.82.
20
PASSARELLI, Eliana. Op. Cit. p.83.
21
PASSARELLI, Eliana. Op. Cit. p.82.
22
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Especial.
Vol III. 3a.ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2006. p.277 e p.278.
23
Em terras espanholas, quanto à relação dos crimes de expedição de
fatura falsa em prejuízo do consumidor e de estelionato, Bravo expõe
que o critério da consunção não é aplicável, “já que não é possível
predicar um concurso aparente de normas porque entre os preceitos
existe uma diversidade tanto de bens jurídicos protegidos como de
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violação diga respeito ao “mesmo bem jurídico”24. Obviamente, partindo das premissas
de Passareli para o crime do art. 70 do CPDC, é equivocada a chamada do princípio
da consunção para resolver o conflito aparente de normas entre o citado tipo
penal e o do art. 171 do CP. Hungria consignava a existência da consunção de
uma norma por outra quando o crime previsto na primeira norma não passar de
uma “fase de realização do crime” previsto na segunda norma, vide a absorção da falsidade
ideológica pelo crime de bigamia, ou, ainda, se houver uma “necessária ou normal forma de
transição” (crime progressivo), veja-se o homicídio frente às lesões corporais que
lhe antecedem25.
Por outro lado, negando suas premissas, Sérgio Chastinet Guimarães afirma
que o fornecedor que obtém vantagem ilícita com prejuízo patrimonial relevante
ao consumidor cometerá o tipo penal do crime de estelionato, isto em razão do
princípio da subsidiariedade26. O erro de tal conclusão reside no fato de se defender
que o Estado é o sujeito passivo principal do crime previsto no artigo 70 do
CPDC, e que o bem jurídico, na hipótese, é “a intangibilidade da ordem econômica
incidente sobre o consumo, particularmente no aspecto da proteção do consumidor contra métodos
comerciais desleais e danos patrimoniais”27, o que deixa patente a escolha de soluções ad
hoc. Como pode haver a incidência do princípio da subsidiariedade entre crimes
com sujeitos passivos primários e bens jurídicos tão diversos? A lição de Fragoso
é clara ao somente admitir subsidiariedade quando a norma definidora de “crime
menos grave” estiver “abrangida pela norma que define crime mais grave, nas circunstâncias
concretas em que o fato ocorreu”, isto é, o crime definido por uma das normas em
conflito deve ser “elemento ou circunstância legal de outro crime”28.
Paulo José da Costa Jr. entende que o artigo 70 do CPDC possui o patrimônio
do consumidor como objetividade jurídica, sendo este o sujeito passivo da fraude
do fornecedor29. De forma lógica com suas premissas, expõe que o crime em tela
é uma espécie de estelionato, já que o sujeito ativo aufere vantagem indevida ao
empregar ardil ou ao manter o ofendido em erro30. Considerando que a intenção
do legislador foi, seguindo a Constituição, trazer proteção ao consumidor, podemos
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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXII - o Estado
promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; Art. 170. A ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) V -
defesa do consumidor;
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“Em termos gerais, o princípio non bis in idem consiste na proibição de
que um mesmo fato seja punido mais de uma vez. (...) não é possível a
aplicação conjunta de duas sanções penais a um mesmo fato” (tradução
nossa). MUÑOZ CONDE, Francisco; ARÁN, Mercedes García.
Derecho Penal – Parte General. 6ª.ed. Valência: Editora Tirant lo Blanch.
2004. p. 108 e p.110.
33
PRADO, Luiz Regis Prado. Op. Cit. p.154.
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assegurar a informação plena do consumidor34. Dessa forma, pode ser útil o critério
trazido, a contrario sensu, por Sérgio Chastinet Guimarães35 e que consiste na
verificação da relevância do prejuízo patrimonial. Isto é, caso a utilização de um
componente usado não traga prejuízo patrimonial ao consumidor, a hipótese legal
será a do artigo 70 do CPDC. Por outro lado, se houver prejuízo material, a
tipificação da conduta será, como defendido por Prado, a do artigo 171 do CP c/
c a do artigo 70 do CPDC, em concurso formal36, uma vez que há diversidade de
bens jurídicos primariamente protegidos.
No primeiro tipo, tutela-se a inviolabilidade do patrimônio e no segundo o
direito de informação e escolha do consumidor. Saliente-se que há o crime do
artigo 70 mesmo se, no caso concreto, o consumidor obtiver um acréscimo
patrimonial com o emprego da peça ou componente usado ao invés de um novo37.
Imagine se a peça nova escolhida pelo consumidor fosse uma de baixa qualidade
e de reduzido preço, enquanto que, apesar de usada, a utilizada pelo fornecedor,
sem o seu consentimento, fosse de melhor qualidade e de preço mais elevado,
ainda, assim, haveria o crime do artigo 70 do CPDC, o que significa que, mesmo
tendo o direito de informação e escolha do consumidor reflexo no patrimônio do
sujeito passivo, a informação e o poder de opção do consumidor possuem um
valor próprio que lhes erige à qualidade de um bem jurídico autônomo e diverso
da objetividade jurídica patrimônio.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
34
MARQUES, Cláudia Lima; BENJAMIN, Antônio Herman V.;
MIRAGEM, Bruno. Op. Cit. p.844.
35
GUIMARÃES, Sérgio Chastinet Duarte. Op. Cit. p.118.
36
PRADO, Luiz Regis Prado. Op. Cit. p.158.
37
Com posição similar: PRADO, Luiz Regis Prado. Op. Cit. p.157.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Especial. Vol III.
3a.ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2006.
BRAVO, Emilio Moreno y. Delitos Relativos al Mercado y a los Consumidores .in; Curso
de Derecho Penal Económico. 2ª.ed. Enrique Bacigalupo (Org). Madri: Marcial
Pons, 2005.
COSTA JR., Paulo José da. Crimes contra o Consumidor. São Paulo: Editora Jurídica
Brasileira, 1999.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. 7a.ed. Direito Administrativo. 7a.ed. São Paulo:
Editora Atlas, 1996.
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal – Parte Geral – Parte Geral.
16a.ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2003.
HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. Tomo II. Vol.1. 4a.ed. Rio de
Janeiro: Editora Forense, 1958.
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PASSARELLI, Eliana. Dos Crimes contra as Relações de Consumo – Lei Federal n. 8.078/
90(CDC). São Paulo: Editora Saraiva, 2002.
PRADO, Luiz Regis Prado. Direito Penal Econômico. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2004.
ZAFFARONI, E. Raúl; BATISTA, Nilo; et al. Direito Penal Brasileiro – I. 1a.ed. Rio
de Janeiro: Editora Revan, 2003.
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