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Evangelho de Lucas 15

As características do amor de Deus pelos perdidos

Quem escreve este Evangelho é Lucas, seu nome é de origem grega. Sabemos pelo
Apóstolo Paulo que ele era médico e um dos discípulos do Senhor, outras
evidências mostram que Lucas era de Antioquia e isso faz dele um gentio, ou seja,
um não Judeu puro sangue, alguém por quem o Judeu nutria ódio de inimigo.

Lucas escreve este evangelho para Teófilo que era grego e possivelmente de alta
posição social (Lucas 1.3 - excelentíssimo). Então, o que nós temos aqui é um
gentio falando do evangelho para outro gentio. É por este motivo que nós temos
no evangelho de Lucas um foco maior sobre o cuidado de Jesus com as pessoas
marginalizadas e rejeitadas.

Aqueles que eram considerados a escória da sociedade, são acolhidos e amados


por Jesus, e assim, Lucas evidencia o caráter abrangente da salvação. A salvação
não é endereçada apenas aos Judeus, mas também, e sobretudo, aos gentios, aos
samaritanos, aos leprosos, as mulheres – todos estes que eram os párias da
sociedade para um Judeu, poderiam ser alcançados pela graça salvadora por mais
corrompidos que estivessem (LOPES, 2017, pg. 12, 21).

Neste momento Lucas fala sobre publicanos. Seu nome já dá evidências de quem
eles são. Estamos falando de uma espécie de “funcionário público”, alguém que
estava a serviço do império Romano, especificamente no que diz respeito a coleta
de impostos. Roma costumava firmar uma espécie de contrato com um líder para
cuidar das cobranças de uma determinada região.

É possível que Zaqueu o publicano seja líder para cobrar os impostos de uma
região – nós lemos em Lucas 19.2 “E eis que havia ali um homem chamado
Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico”. Esta liderança formava
uma equipe de cobradores de impostos e entre eles poderiam estar judeus.
Neste aspecto contratual entre Roma e a liderança da Região, Roma não repassa
dinheiro pelo contrato, a liderança deveria retirar seu pagamento da cobrança de
impostos e como não havia fiscalização por parte do império Romano haviam
excessos nestas cobranças. Além do mais, os amigos dos cobradores de impostos
poderiam receber benefícios – o que tornava as ações dos cobradores de impostos
extremamente injustos, uns pagavam mais e poderiam ser pobres, outros pagavam
menos e poderiam ser ricos.

Agora aqui está o motivo dos judeus odiarem os publicanos, principalmente se


fossem judeus – este é um trabalho onde se é fácil pecar contra o próximo, é um
local escorregadio e propenso a fazer com que o pecado fosse cometido e a quebra
do 8º mandamento “não furtarás” ficava evidente.

Talvez você esteja neste exato momento da sua vida em lugar pouco seguro, um
lugar escorregadio, um lugar é fácil pecar contra o Senhor e contra o próximo, veja,
se você sabe que este lugar é bastante complicado e você não vai conseguir resistir
você deve deixar este lugar o mais rápido possível, considere um novo local de
trabalho, ainda que o salário não seja tão bom, sua consciência ficará em paz diante
do Deus de toda a misericórdia.

Kennet Barker diz que quando Jesus aparece sentado à mesa com esta classe de
pecadores ele os reconhece e os aceita naquele momento como pecadores. Jesus
não está aceitando o pecado deles, mais está aceitando que eles venham para ele
no estado de pecado que eles estão. É como quando cantamos o hino 74 do novo
cântico presbiteriano, veja:

Jesus Senhor, me achego a ti, Tua ira santa mereci; O teu favor estende aqui! Aceita
um pecador! Eu venho como estou! Sim, venho como estou! Porque Jesus por mim
morreu, Eu venho como estou! As minhas culpas grandes são, Mas Tu, que não
morreste em vão, Me podes conceder perdão! Aceita um pecador! Oh! Vem agora
Salvador, Livrar-me por teu grande amor, Pois Tu, Jesus, és meu Senhor, Aceita um
pecador. Amém.
Algo revolucionário está acontecendo aqui, um judeu só se senta à mesa com
amigos e pessoas íntimas. Jesus está dizendo neste momento que Deus exerce
misericórdia com esta classe de ladrões que oprimem também o povo da aliança.
Isso deixaria os fariseus e doutores da lei realmente impactados e descontentes
como eles estão agora (Lucas 15.2)1.

Jesus então percebe a murmuração escondida destes fariseus e dos doutores da lei
contra aquilo que Jesus estava realizando publicamente. Enquanto Jesus torna as
suas obras públicas para que Deus seja glorificado, aqueles homens cometem seus
pecados de murmuração as escondidas, é assim que o pecado geralmente se
manifesta entre os homens, escondido, em trevas.

Aqui está o motivo pelo qual Jesus conta as três parábolas em sequência, ele
percebe a murmuração e a falta de amor e misericórdia dos fariseus e doutores da
lei. Geralmente existem aquelas pessoas que pensam que o amor de Deus é como
o meu e o seu, ou então, elas igualam o amor de Deus ao amor daquelas pessoas
severas e pensam que o amor de Deus é um amor severo, assim como o dos
fariseus. Funciona mais ou menos assim, as pessoas olham para nós os que cremos
em Deus na perspectiva de conhecer um pouco sobre Deus, perceba como isso traz
alguma responsabilidade sobre todos nós os que cremos.

Antes que os pecadores a mesa pensem que o amor de Deus é como o amor dos
fariseus e doutores da lei – Jesus se adianta. Portanto, as parábolas contadas por
Jesus procuram responder a seguinte pergunta: Como é o amor de Deus pelos
perdidos? De que forma Deus olha para aqueles pecadores miseráveis sentados
ali na mesa.

Esta pergunta central faz com que o capítulo 15 do evangelho segundo Lucas seja
tratada como uma só unidade, ou seja, este capítulo deveria ser lido e ensinado

1
Bíblia NVI, 2003, p. 1760
sempre junto sem divisões, ainda que em algumas versões bíblicas estas parábolas
apareçam separadas.

Perceba que em cada uma das parábolas algo se perde. Na primeira parábola uma
ovelha se perde (Lucas 15.3-7), na segunda parábola uma dracma se perde (Lucas
15.8-10), na última parábola um filho se perde (Lucas 15.11-32). Além disso, em
todas elas você observa que existe alegria e festa quando se recupera o que se havia
perdido.

Outro aspecto que podemos observar é o da proporcionalidade. Perceba a


proporção do maior para o menor, de cem ovelhas uma se perde, de dez dracmas
uma se perde, de dois filhos um se perde. O que Jesus está fazendo aqui é
caminhando para o ápice, o assunto central da parábola não são bens terrenos, o
assunto é mais importante do que bens materiais, o assunto central em Lucas 15
são pessoas perdidas e como Deus está envolvido ativamente neste processo
(Magalhães, 2020)

Todos estes detalhes são provas suficientes para mantermos a unidade de todo o
capítulo 15.

Note bem que Jesus está informando publicamente por ação e também por
parábolas que da parte de Deus existe graça e espaço na família da fé para o
arrependimento de homens marginalizados e pecadores.

Agora, nem sempre entre os religiosos existe a mesma inclinação para o exercício
do perdão e da misericórdia. Devemos sondar os nossos corações e nos perguntar
se existe espaço em nossas famílias e no nosso próprio coração para o
arrependimento de tais classes de pessoas pecadoras.

Pois bem, creio ter ficado evidente que Deus exerce misericórdia com pessoas
realmente pecadoras. Em síntese, o amor de Deus pelos perdidos que lhe
pertencem, sempre coloca Deus em movimento e na direção desta classe de
pessoas, é um amor eficaz para trazer a comunhão aqueles filhos que estavam
perdidos e, por fim, Deus e os céus ficam felizes com a presença e a comunhão de
um de seus filhos perdidos (cf. Lucas 15.7; 15.10; 15.22-24; 15.32).

Agora devemos responder aquela pergunta desconcertante: Como é o amor de


Deus por pessoas que estão perdidas?

O amor que Deus tem pelos perdidos o coloca na direção dos pecadores que lhe
pertencem. Deus sempre aparece indo ativamente na direção daquele que está
perdido.

Observe a figura de pastoreio em 15.1-7 – Observe que o pastor deixa as noventa


e nova ovelhas e vai em direção a ovelha perdida. Aqui está uma figura muito
conhecida por todos os presentes, a figura do pastor, eles pertencem a uma
sociedade agrícola, e assim, a figura do pastor para eles é como a figura do
motorista de ônibus da cidade, todos sabem quem é e qual serviço presta. Pois bem,
naquela sociedade, todo bom pastor vai atrás da ovelha que se perdeu. Jesus mostra
que o amor de Deus é como o a ação daquele pastor que perdeu a ovelha, é um
amor que coloca Deus em movimento na direção do que foi perdido.

Jesus então continua, e traz para a conversa uma mulher que tinha dez dracmas e
perdeu uma em sua própria casa. A dracma romana era uma moeda com o maior
valor para a época, seu valor era equivalente a um dia de trabalho. É possível que
esta dracma tenha um valor sentimental para esta mulher, geralmente uma mulher
ganhava uma bolsa com dez moedas ao casar-se, é como se fosse a aliança de
casamento. O problema é que esta mulher perdeu uma destas moedas que tem um
grande valor sentimental para ela. Você então pensa: Como pode alguém perder
uma moeda dentro da sua própria casa?

Isso é realmente interessante. Pense por um instante sobre as casas do antigo


oriente, em alguns lugares ainda são assim. São casas de chão batido, as paredes
de blocos de pedra ou barro e geralmente sem janelas, isso tornava esta casa um
tanto escura, daí a necessidade da lamparina e da vassoura para encontrar a dracma,
era uma procura diligente, os sentimentos estavam envolvidos. Aqui está o ensino
de Jesus, ele mostra que o amor de Deus é como o a ação daquela mulher que
perdeu a dracma, Deus está em movimento, indo na direção do que foi perdido e
existem sentimentos envolvidos porque algo significativo se perdeu.

Agora Jesus traz uma nova parábola – nós a conhecemos como a parábola do filho
pródigo. Eis ali um filho que quebra muitos dos mandamentos de Deus, ele pede
sua parte na herança para poder partir para longe dos domínios do seu pai e ter a
sua própria liberdade.

John Macarthur nos diz que é algo incomum o filho mais novo pedir sua parte da
herança com o pai ainda vivo, é possível que o filho aqui tenha pensado, preciso
partir logo e como meu pai não morre, ou então, como ele vai demorar a morrer é
melhor pedir minha parte2. Este filho tem direito a 1/3 da herança, o filho mais
velho a 2/3.

Pois bem, Jesus está colocando diante dos fariseus e doutores da lei um pecador
que está quebrando o quinto mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que
se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá” (Êxodo 20.12).

Segundo a lei, este filho deveria ser morto, veja:

"Quando alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedecer à voz de seu
pai e à voz de sua mãe, e, castigando-o eles, lhes não der ouvidos, então seu pai e sua
mãe pegarão nele, e o levarão aos anciãos da sua cidade, e à porta do seu lugar; e dirão
aos anciãos da cidade: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa
voz; é um comilão e um beberrão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão,
até que morra; e tirarás o mal do meio de ti, e todo o Israel ouvirá e temerá
(Deuteronômio 21:18-21).

Nós nos perguntamos, qual o motivo de tanta severidade com o filho? A resposta
está no que os pais representam dentro do lar. Os pais representam a autoridade do

2
Bíblia de estudos John Macarthur, p.1500
próprio Deus dentro da casa. Por exemplo, João diz que Se alguém diz amar Deus,
porém, odiar a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão a quem vê
continuamente, como pode amar a Deus, a quem não viu? (1 João 4:20). Quero
que você aplique o mesmo princípio, ninguém pode amar a Deus honrar a Deus se
não se submete a direção dos pais. Se submeter aos pais é uma demonstração de
amor a Deus.

Se você ouviu bem, este filho pecador era digno de morte, porém, o pai responde
com graça e misericórdia. O pai poderia chamar o apedrejamento por conta da
desonra, o que ele faz é dar a parte que o filho quer, indicando assim que existem
momentos que Deus permite certos erros de seus filhos com o propósito
pedagógico de ensinar-lhes alguma coisa que dê fruto.

Este filho parte para terras ao longe e então gasta a sua parte dissolutamente, ou
seja, levando uma vida de “irresponsabilidade“, “devassidão” ou “prostituição”
(Lucas 15.13; 15.30). Pois bem, ele gasta tudo o que tinha recebido da sua parte
na herança e é aqui que surge a palavra pródigo, significa “aquele que é gastador”,
“esbanjador”.

Eis aí um jovem que não pensa no dia de amanhã, ele gastou tudo e não havia
reservas. Problemas sempre acontecem, neste mundo não existe segurança. A fome
se abate e aquele jovem está despreparado. Agora com fome, sem dinheiro e sem
trabalho, o que lhe resta é ser pastor de porcos, um trabalho realmente impuro e
indigno para um judeu se consideramos a lei cerimonial judaica.

A situação se torna tão caótica que o jovem queria se alimentar da alfarroba, o


fruto da alfarrobeira, uma espécie de vagem comestível, dentro dela tem algumas
sementes adocicadas e pouco menores que o feijão, estas sementes são comestíveis
por animais e pouco indicada para pessoas. Em época de crise estas alfarrobas eram
dadas aos porcos e, porcos alimentam pessoas.
Estando ele ainda a caminho e ao longe, o pai sai em sua direção, o pai vai ao seu
encontro (Lucas 15.20).

Aqui está o ensino de Jesus, ele mostra que o amor de Deus é como a ação daquele
pai que se alegra quando o filho que quebrou a comunhão retorna para o seio da
família. Deus está em movimento, indo na direção do que foi perdido e existe muita
alegria e festa com a restauração da comunhão. Jesus está mostrando aos fariseus
que o que ele está fazendo está de acordo com o amor de Deus, a iniciativa na
direção do pecador que se perdeu é sempre de Deus, não é do ser humano.

Isso parece óbvio para todos nós, agora Jesus está contando esta parábola para
incentivar homens religiosos a fazerem o mesmo, a serem eles uma expressão mais
precisa do amor e da misericórdia de Deus em relação aqueles que estão perdidos.

Observe que o amor que Deus tem pelos perdidos é um amor que traz
eficazmente para si aquele que estava perdido. Deus sempre aparece indo
ativamente na direção daquele que está perdido, e em todos os aspectos Deus
retorna triunfante.

Em todas as parábolas existe esta eficácia, a ovelha é encontrada, a dracma é


encontrada e o filho que se perdeu foi achado.

Quero que você observe a simbologia que vem a seguir, o amor de Deus pelo
pecador faz de cada um de nós filhos livres e que tem autoridade.

O pai vai ao seu encontro, abraça, beija, coloca a melhor roupa, ou seja, restaura
a sua filiação. O pai também coloca um anel no dedo que indica autoridade, cartas
antigas eram lacradas com este tipo de anel. Por fim, o pai manda colocar sandálias
nos pés o que indica liberdade - os escravos ficavam descalços e com pouca roupa,
os homens livres utilizam sandálias e geralmente estavam bem vestidos.

O ensino de Jesus aqui é que o amor de Deus pelo pecador os torna filhos livres e
que tem autoridade. Jesus iguala o pai da parábola ao Pai celestial, sempre que um
perdido retorna humilhado de sua vida passada este pai o recebe de braços abertos.

Por fim, observe que o amor de Deus é um amor que fica feliz. O irmão mais
velho na parábola são os fariseus, este irmão mais velho fica com ciúmes. Perceba
que Jesus passa de noventa e nove ovelhas para noventa e nove justos. Estes
homens eram altivos, pensavam que por serem filhos de Abraão já estavam salvos.

O pastor ficou feliz ao achar a ovelha, a mulher reuniu as amigas e se alegrou por
encontrar a dracma, o pai reuniu os seus e se alegrou pelo retorno do filho (v.23-
24). Você então olha e vê que o outro filho estava irado contra o seu pai.

Mais errado é aquele que está presente, está errado e não se arrepende do que
aquele que rompe a comunhão e volta arrependido.

Agora observe que Jesus abre uma janela através das parábolas e nós podemos
contemplar o raio de sol (v.7; 10; 32). Deus tem alegria quando um pecador se
arrepende.

O amor de Deus é um amor que busca o pecador, é um amor que traz eficazmente
o pecador para si e o amor de Deus fica feliz com o arrependimento.

APLICAÇÃO
As vezes carregamos conosco um evangelho que é como o dos fariseus, quando
alguém erra o fariseu gostaria que ele permanecesse na mesma posição, perdido e
enviado a condenação. Deus colocou pessoas ao nosso redor e aqueles que
pertencem ao Senhor ouvirão o evangelho sendo pregado por mim e por você e se
renderão ao supremo pastor e então haverá festa no ceú.

Atitudes que quebram a lei de Deus sempre traz sobre nós sofrimento e angústias
tais que devem nos conduzir ao arrependimento. Muitas das dificuldades da nossa
vida são mensageiros da graça, é Deus nos chamando ao arrependimento. Além
disso, certas atitudes que começam errado podem terminar bem se houver
arrependimento e retorno a comunhão com Deus.

BIOGRAFIA
https://www.youtube.com/watch?v=T0JLtz6jSW4, Acesso em 02/02/2020 as 16:00.

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